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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___
VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio da Promotora de Justiça que esta subscreve, titular da 90ª Promotoria de Justiça do
Estado de Goiás, no uso de suas atribuições constitucionais, e com fulcro nos artigos 129,
inciso III, da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I, da Lei 7.347/85, na Lei Federal
8.429/92 e artigo 25, inciso IV, alínea “b” da Lei Federal 8.625/93, no artigo 46, inciso VI,
alínea “b”, da Lei Complementar Estadual n. 25/98, vem perante Vossa Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE ATOS
ADMINISTRATIVOS, IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER e RESTITUIÇÃO
AO ERÁRIO
observado o rito ordinário e disposições especiais previstas na Lei 7.347/85 contra
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO,
ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público,
inscrita no CNPJ com nº 01.409.580/001-38, representada pelo Procurador-Geral do Estado
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Alexandre Eduardo Felipe Tocantins, com sede no Palácio Pedro Ludovico Teixeira - Rua
82, S/N Setor Sul, CEP: 74088-900, Goiânia – GO;
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.
I – DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO
Objetiva o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
GOIÁS, com o exercício do poder de ação, obter um provimento jurisdicional que declare a
nulidade do vínculo de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO com a Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás, no cargo de Assistente Administrativo, posteriormente
nominado pela Resolução 1007/1999 – Assistente Legislativo – categoria funcional
Assistente Administrativo -, no período de 05/10/1988 a 24/11/2015, em razão de sua
violação ao disposto no artigo 37, inciso II da CF e artigo 19 do ADCT, bem como a
declaração de nulidade do ato de aposentadoria de VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO pelo Regime Próprio de Previdência Social, aposentadoria essa que lhe foi
concedida em razão do vínculo inexistente com a Administração Pública Estadual.
Subsidiariamente, caso não acolhidos os pedidos anteriores,
objetiva o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS a exclusão, dos proventos
de aposentadoria, da parcela da remuneração consubstanciada na VPNI – Vantagem Pessoal
Nominalmente Identificada -, fundada na Lei 15.614/2006, indevidamente incorporada aos
proventos de aposentadoria de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, por ter sido
julgada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, na ADI 274681-
82.2010.8.09.0000.
Também, objetiva o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE GOIÁS obter um provimento jurisdicional que condene VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO à restituição dos valores percebidos indevidamente, a título de VPNI – Vantagem
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Pessoal Nominalmente Identificada – a partir de 11/05/2010, data em que foram desfeitos os
atos concessórios, pela declaração de inconstitucionalidade da Lei 15.614/2006, nos autos da
ADI 274681-82.2010.8.09.0000, com efeitos ex tunc, corrigidos monetariamente, limitada a
restituição ao período de 05 (cinco) anos a contar da propositura da presente ação, nos termos
do artigo 54 da Lei 9.784/99.
Alfim, pretende o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE GOIÁS obter um pronunciamento jurisdicional que imponha ao ESTADO DE GOIÁS a
obrigação de fazer de identificar os beneficiários da Lei 15.614/2006 e excluir da sua
remuneração ou dos proventos de aposentadoria, caso já concedida, os valores que ainda
estiverem sendo pagos a título de VPNI, fundada na Lei 15.614/2006, julgada
inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, além da obrigação de fazer de
proceder ao desconto, a título de restituição, no contracheque dos beneficiários, dos valores
que tiverem sido pagos, de forma indevida, a partir de 11/05/2010, a título de VPNI, fundada
na Lei 15.614/2010, limitado ao período de 05 (cinco) anos, a contar da data da propositura
da presente ação, nos termos do artigo 54 da Lei 9.784/99.
II – DOS FATOS
Chegou ao conhecimento desta Promotora de Justiça, no âmbito
dos autos da “Operação Poltergeist”, notícia de irregularidades no exercício de cargo público
por parte de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, na Assembleia Legislativa do
Estado de Goiás (anexo I).
Segundo se apurou, a servidora VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO foi contratada, pelo regime celetista, sem submissão a concurso público, pela
Assembleia Legislativa do Estado de Goiás para, a partir de 12 de junho de 1986,
desempenhar a função de Pesquisador Legislativo, do Quadro Especial de Empregos
Permanentes, do Poder Legislativo, conforme Portaria 22.529/1986 (anexo II).
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Posteriormente, pelo Decreto Administrativo 1.275 de 12 de
maio de 1988, editado com base na Lei 10.458 de 22 de fevereiro de 1988, a referida
servidora foi enquadrada, por transposição e em caráter efetivo, no cargo de Assistente
Administrativo, referência A (anexo II).
Por força da Resolução 1.007/1999, foi editado o Decreto
Administrativo 1.821 de 10 de maio de 1999, por meio do qual a servidora VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO foi novamente enquadrada no cargo de Assistente
Legislativo, categoria funcional Assistente Administrativo (anexo II).
Promulgada a Constituição Federal de 1988, VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO foi mantida no cargo de Assistente Administrativo, em
“caráter efetivo” sem que se submetesse a concurso público, em flagrante violação ao
disposto no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, haja vista que, além de não ter se
submetido a concurso público antes ou depois da promulgação da Constituição Federal,
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO não fazia jus à estabilidade prevista no artigo 19
do ADCT, uma vez que sua admissão, pelo regime celetista, deu-se aos 12/06/1986. (anexo
III).
A “transposição” e a “efetivação” de VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILO no cargo de Assistente Administrativo, operada pelo Decreto
Administrativo 1.275 de 12 de maio de 1988, com base na Lei 10.458 de 22 de fevereiro de
1988, ambos editados antes da Constituição Federal de 1988, por estarem em total
desacordo com o disposto no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, não foram por esta
recepcionados.
Apesar de os atos de admissão sem concurso público, de
“transposição” para o cargo de Assistente Administrativo e de “efetivação”, operados antes da
promulgação da Constituição Federal de 1988, não terem sido recepcionados pela
Constituição Federal de 1988, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO foi mantida no
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
cargo e aos 24/11/2015 teve sua aposentadoria deferida pelo Presidente da Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás, no Regime Próprio de Previdência Social. (anexo IV).
O ato de aposentadoria foi apreciado pelo Tribunal de Contas do
Estado de Goiás no mês de dezembro de 2015, para fim de registro (anexo IV).
Segundo consta do ato de concessão de aposentadoria e de
registro, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO incorporou, aos proventos de
aposentadoria, VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada -, no valor de R$
7.602,53 (sete mil, seiscentos e dois reais e cinquenta e três centavos), obtida com base na Lei
15.614/2006, a qual foi julgada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
na ADI 274681-822010.8.09.0000 (201092746811) (anexo IV).
Nos autos do ICP de Registro Atena nº 201500143233, em que
se investigaram os fatos, foi expedida a Recomendação 10/2015-90ª PJ ao Presidente da
Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, antes mesmo que VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILLO requeresse a aposentadoria, para que, dentre outras providências
relativamente a outras irregularidades verificadas, não abarcadas pelo objeto da
presente ação, declarasse administrativamente a nulidade do vínculo da servidora com a
Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, por violação ao disposto no artigo 37, inciso II,
da CF e artigo 19 do ADCT (anexo V).
Em resposta, embasado em argumentos de segurança jurídica, o
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás não acatou Recomendação e,
posteriormente, em razão de requerimento da servidora, concedeu-lhe aposentadoria, com
proventos integrais, no Regime Próprio de Previdência Social (anexo V).
Nos proventos de aposentadoria, foi incorporada a parcela
relativa a VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável – no valor de R$ 7.602,53
(sete mil, seiscentos e dois reais e cinquenta e três centavos), embora julgada inconstitucional
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, nos autos da ADI 274681-82.2010.8.09.0000.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Nos autos de concessão de aposentadoria, resultou demonstrado
que, além de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO outros beneficiários da Lei
15.614/2006 continuaram a perceber a VPNI após 11/05/2010, data em que foram desfeitos
os atos concessórios em razão da declaração de inconstitucionalidade da referida lei e,
inclusive, incorporaram-na aos proventos de aposentadoria (anexo IV – fls. 988/989).
Em razão do exposto, necessária a intervenção do Poder
Judiciário para a correção dos atos administrativos inconstitucionais narrados e restituição
dos valores pagos indevidamente.
III – DO DIREITO
1. DA LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A legitimação do Ministério Público para promover a defesa do
patrimônio público por meio da Ação Civil Pública advém tanto da Constituição Federal
quanto da legislação infraconstitucional.
Ao tratar das funções institucionais do Ministério Público, assim
estabeleceu a Constituição Federal:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos;
A Constituição do Estado de Goiás, de seu turno, determina:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:
[…]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos;
[…].
A Lei n.º 7.347 de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação
civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, em seu artigo 5º,
inciso, I, com redação dada pela Lei n.º 11.448, de 15 de janeiro de 2007, estabelece:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação
cautelar: (Redação dada pela Lei n.º 11.448, de 2007)
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei n.º 11.448, de
2007)
[...]
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625 de
12 de fevereiro de 1993 – estabelece:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal
e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda,
ao Ministério Público:
[...]
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma
da lei:
a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio
ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico e a outros interesses
difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
b) anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público ou à moralidade administrativa do
Estado ou do Município, de suas administrações indiretas ou
fundacionais ou de entidades privadas de que participem.
Por fim, prevê a Lei Complementar nº 25/98 – Lei Orgânica do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Ministério Público do Estado de Goiás:
Art. 46. Além das funções previstas na constituição Federal, na
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na Constituição
Estadual e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério
Público:
[…]
VI – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma
da lei, para:
a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio
ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses
difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
b) anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público ou à moralidade administrativa do
Estado ou do Município, de suas administrações direta,
indireta ou fundacional ou de entidades privadas de que
participem.
Os atos normativos ora mencionados, especialmente a
Constituição Federal, evidenciam a atribuição do Ministério Público para o exercício da Ação
Civil Pública e assentam a adequação dessa via para a defesa do patrimônio público.
2. DA NULIDADE DA ADMISSÃO DE VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILLO SEM CONCURSO PÚBLICO. DA NULIDADE DA
TRANSPOSIÇÃO E DA EFETIVAÇÃO NO CARGO. NÃO-RECEPÇÃO PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 37, INCISO II, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AO ARTIGO 19 DO ADCT
Como é cediço, o Poder Constituinte Originário dá origem a
uma ordem jurídica que, uma vez instituída, constitui-se no fundamento de validade de todos
os atos, inclusive normativos, editados antes e após a sua instituição. Todos os atos,
administrativos ou normativos, que com a nova ordem constitucional não se compatibilizem,
perdem sua validade e, por isso, são considerados inexistentes diante da nova ordem
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constitucional. A questão, portanto, segundo Tavares1., situa-se no plano da existência: a lei
anterior à Constituição que com esta não se compatibilize não existe à luz da Constituição
anterior.
De outro lado, a nova ordem jurídica instituída revalida as
normas e atos jurídicos anteriores que com ela se harmonizam. É o que se chama recepção.
Feitos esses breves esclarecimentos, passemos à análise do caso
ora posto à apreciação do Poder Judiciário.
A fim de garantir e efetivar a impessoalidade, a transparência e
a eficiência no serviço público, o Constituinte Originário de 1988 estabeleceu no artigo 37 da
Constituição Federal de 1988:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
[…]
II – a investidura em cargo ou emprego público
depende da aprovação prévia e concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza
e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;
[…].
A referida disposição constitucional, além de impor a
1 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 11 ed. Rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013.
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obrigatoriedade de concurso público para a investidura em cargo público, vedou toda forma
de provimento derivado de cargos públicos no âmbito da Administração Pública. É dizer:
toda investidura em cargo depende da aprovação em concurso público de provas e títulos,
especificamente realizado para o provimento de determinado cargo público.
Como se vê pela expressa disposição constitucional, a
realização prévia de concurso público para a investidura nos cargos e empregos públicos da
Administração Pública Direta e Indireta passou a se constituir em regra no âmbito da
Administração Pública, regra essa que, além de dar o suporte de validade a todas as
investiduras que foram efetivadas após a promulgação da Constituição, retirou a
validade de todos os atos antes realizados, sem sua observância.
Vale lembrar, ainda, que a exigência de concurso público para o
ingresso em cargos públicos já constava do artigo 97, § 1º, da EC 01/1969 e foi reafirmada
pela norma do artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, razão por que as contratações
efetivadas antes da Constituição Federal de 1988, sem concurso público, já contrariavam a
ordem constitucional então vigente.
O Constituinte Originário de 1988, entretanto, ressalvou apenas
uma situação: no ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - garantiu a
“estabilidade” aos servidores que, embora contratados sem a prévia aprovação em
concurso público, já estivessem em exercício de cargo ou função pública havia mais de
05 (cinco) anos, na data da promulgação da Constituição Federal de 1988.
Eis o texto:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da
administração direta, autárquica e das fundações
públicas, em exercício na data da promulgação da
Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e
que não tenham sido admitidos na forma regulada no
artigo 37, da Constituição, são considerados estáveis no
serviço público.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
§ 1º. O tempo de serviço dos servidores referidos nesta
artigo será contado como título quando se submeterem
a concurso para fins de efetivação, na forma da lei.
[…].
Ou seja: aqueles servidores que, embora sem a prévia aprovação
em concurso público, tivessem sido contratados até 05/03/1983, poderiam permanecer no
exercício do cargo ou função pública, na condição de “estáveis”. Entretanto, embora tenha o
Constituinte Originário reconhecido a tais servidores a validade do vínculo laboral com a
Administração Pública, nem mesmo a eles foi atribuída a efetividade, a qual, pelo novo
regramento constitucional, decorre exclusivamente da aprovação em concurso público.
Isso resultou claro do disposto no §1º do referido artigo 19, ao
garantir, aos servidores estáveis, na forma do caput, o direito de contar como título o tempo
de serviço exercido como estáveis, em concurso público, indispensável à efetivação.
Em suma: após a promulgação da Constituição Federal de 1988,
ressalvadas as exceções constitucionais, toda investidura em cargo público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, resultando inválidos
e nulos de pleno direito todos os atos posteriores ou anteriores à Constituição
constituídos sem observância do novo regramento constitucional.
Nessa toada, ressoa evidente que a admissão de VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, aos
12/06/1986, sem concurso público, pelo regime celetista, para o exercício da função de
Pesquisador Legislativo perdeu seu eventual fundamento de validade com a ordem
constitucional de 1988, que impôs, para a investidura em cargos públicos, a aprovação prévia
em concurso público, nos termos do artigo 37, inciso II, da CF, razão por que o ato de
admissão é, à luz da Constituição Federal de 1988, inexistente.
De outra rama, também perderam seu fundamento de validade
e, por essa razão, são inexistentes, por não terem sido recepcionados pela Constituição
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Federal de 1988, os atos de “transposição” e de “efetivação” no cargo de Assistente
Administrativo, operados pelo Decreto 1.275 de 12 de maio de 1988, editado com base na Lei
10.458 de 22 de fevereiro de 1988, os quais, por não encontrarem fundamento de validade
na Constituição Federal de 1988 e contrariarem, flagrantemente, o artigo 37, inciso II,
da Constituição Federal, não foram por esta recepcionados.
Ainda, necessário pontuar que VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO foi admitida aos 12/06/1986, portanto, havia menos de 05 (cinco) anos da
promulgação da Constituição de 1988. Dessa forma, ausentes os requisitos constitucionais,
não lhe foi garantida a “estabilidade” prevista no artigo 19 do ADCT e, em consequência, o
direito de manter o vínculo laboral com a Administração Pública, de forma válida. E, não
tendo se submetido, após a promulgação da Constituição Federal, a concurso público para o
ingresso regular no cargo de Assistente Administrativo, posteriormente denominado
Assistente Legislativo – categoria funcional Assistente Administrativo (conforme Resolução
1.007/1999) – impositivo o reconhecimento da nulidade (inexistência) do vínculo laboral de
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO com a Administração Pública Estadual, assim
como o ato de aposentadoria pelo Regime Próprio de Previdência Social, nele fundado.
O Supremo Tribunal Federal, nas diversas ocasiões em que foi
chamado a se pronunciar sobre a validade de investiduras em cargos públicos realizadas antes
ou depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, sem concurso público, ausente a
situação excepcional descrita no artigo 19 do ADCT, reconheceu a nulidade de tais vínculos,
em razão da violação ao artigo 37, inciso II, da Constituição Federal. Em várias situações,
reconheceu a inconstitucionalidade de normas estaduais que ampliavam a exceção à regra da
exigência de concurso para o ingresso no serviço público já estabelecida no ADCT da
Constituição da República (ADI 100, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 09/09/2004, Plenário, DJ
01/10/2004; RE 356.612AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 31/08/2010, 2ªT, DJE
16/11/2010; ADI 114, Re. Min. Cármen Lúcia, j. 26/11/2009, Plenário, DJE 03/10/2011).
Recentemente, aos 08/04/2015, foi editada pelo Supremo
Tribunal Federal a Súmula Vinculante 43, in verbis:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Súmula Vinculante 43: É inconstitucional toda
modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, em cargo que
não integra a carreira na qual anteriormente
investido.
Após longa discussão encetada no âmbito daquele Tribunal,
consubstanciada em precedentes jurisprudenciais, conforme relatado pela Ministra Cármen
Lúcia, no seu voto exarado no MS 27.673/DF, firmou o Supremo Tribunal Federal, mais
recentemente, o entendimento no sentido de que o vício de ato administrativo
flagrantemente inconstitucional pode ser reconhecido a qualquer tempo. Afastou-se,
assim, a possibilidade de eventual convalidação do ato, fundada em argumentos de segurança
jurídica.
Esse posicionamento foi consolidado a partir da decisão exarada
no MS 26.860/DF, Rel. Min. Luís Fux, assim ementado:
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVENTIA
EXTRAJUDICIAL. INGRESSO. SUBSTITUTO
EFETIVADO COMO TITULAR DE SERVENTIA
APÓS A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO
ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. CONCURSO
PÚBLICO. EXIGÊNCIA. ARTIGO 236, § 3º, DA
CRFB/88. NORMA AUTOAPLICÁVEL.
DECADÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 54 DA
LEI 9.784/1999. INAPLICABILIDADE.
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. OFENSA DIRETA À
CARTA MAGNA. SEGURANÇA DENEGADA.
1. O postulado do concurso público traduz-se na
necessidade essencial de o Estado conferir efetividade
ao princípio constitucional da igualdade (CRFB/88, art.
5º, caput), vedando-se a prática intolerável do Poder
Público conceder privilégios a alguns, ou de dispensar
tratamento discriminatório e arbitrário a outros.
Precedentes: ADI 3978, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal
Pleno, DJe 11.12.2009; ADI 363, Rel. Min. Sydney
Sanches, Tribunal Pleno, DJ 03.05.1996.
2. O litisconsórcio ulterior, sob a modalidade de
assistência qualificada, após o deferimento da medida
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
liminar, fere os princípios do Juiz Natural e da livre
distribuição, insculpidos nos incisos XXXVII, LII do
art. 5º da Constituição da República. Precedentes do
Plenário: MS 24.569 AgR, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 26.082005; MS 24.414, Rel. Min. Cezar
Peluso, DJ 21.11.2003.
3. A delegação registral ou notarial, para legitimar-se
constitucionalmente, pressupõe a indispensável
aprovação em concurso público de provas e títulos, por
tratar-se de regra constitucional que decorre do texto
fundado no impositivo art. 236, § 3º, da Constituição da
República, o qual, indubitavelmente, constitui-se norma
de eficácia plena, independente, portanto, da edição de
qualquer lei para sua aplicação. Precedentes: RE
229.884 AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma,
DJ 05.08.2005; ADI 417, Rel. Min. Maurício Corrêa,
Tribunal Pleno, DJ 05.5.1998; ADI 126, Rel. Min.
Octavio Gallotti, Tribunal Pleno, DJ 05.6.1992.
4. In casu, a situação de flagrante inconstitucionalidade
não pode ser amparada em razão do decurso do tempo
ou da existência de leis locais que, supostamente,
agasalham a pretensão de perpetuação do ilícito.
5. A inconstitucionalidade prima facie evidente impede
que se consolide o ato administrativo acoimado desse
gravoso vício em função da decadência. Precedentes:
MS 28.371 AgR/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
Tribunal Pleno, DJe 27.02.2013; MS 28.273 AgR,
Relator Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno,
DJe 21.02.2013; MS 28.279, Relatora Min. Ellen
Gracie, Tribunal Pleno, DJe 29.04.2011.
6. Consectariamente, a edição de leis de ocasião para a
preservação de situações notoriamente
inconstitucionais, ainda que subsistam por longo
período de tempo, não ostentam o caráter de base da
confiança a legitimar a incidência do princípio da
proteção da confiança e, muito menos, terão o condão
de restringir o poder da Administração de rever seus
atos.
7. A redução da eficácia normativa do texto
constitucional, ínsita na aplicação do diploma legal, e a
consequente superação do vício pelo decurso do prazo
decadencial, permitindo, por via reflexa, o ingresso na
atividade notarial e registral sem a prévia aprovação em
concurso público de provas e títulos, traduz-se na
perpetuação de ato manifestamente inconstitucional,
mercê de sinalizar a possibilidade juridicamente
impensável de normas infraconstitucionais
normatizarem mandamentos constitucionais autônomos,
autoaplicáveis.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
8. O desrespeito à imposição constitucional da
necessidade de concurso público de provas e títulos
para ingresso da carreira notarial, além de gerar os
claros efeitos advindos da consequente nulidade do ato
(CRFB/88, art. 37, II e §2º, c/c art. 236, §3º), fere
frontalmente a Constituição da República de 1988,
restando a efetivação na titularidade dos cartórios por
outros meios um ato desprezível sob os ângulos
constitucional e moral.
9. Ordem denegada. (MS 26860, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 02/04/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 22-09-
2014 PUBLIC 23-09-2014)
Posteriormente, no MS 30.014/DF (anexo VI), Rel. Min. Dias
Toffoli, o Supremo Tribunal Federal, confirmando o posicionamento já consolidado, reiterou:
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE
SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA. DECISÃO QUE DETERMINA AO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
QUE PROMOVA O DESLIGAMENTO DE
SERVIDORES IRREGULARMENTE
ADMITIDOS SEM CONCURSO PÚBLICO APÓS
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
APLICAÇÃO DIRETA DO ART. 37, CAPUT, E
INCISO II, DA CF/88. DECADÊNCIA
ADMINISTRATIVA. ART. 54 DA LEI 9.784/1999.
INAPLICABILIDADE EM SITUAÇÕES
FLAGRANTEMENTE INCONSTITUCIONAIS.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O concurso público é elemento nuclear da formação
de vínculos estatutários efetivos com a Administração,
em quaisquer níveis.
2. Situações flagrantemente inconstitucionais como o
provimento de cargo na Administração Pública sem a
devida submissão a concurso público não podem e não
devem ser superadas pela simples incidência do que
dispõe o artigo 54 da Lei 9.784/1999, sob pena de
subversão das determinações insertas na Constituição
Federal. (Precedente: MS nº 28.297/DF, Relatora
Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJ de 29/4/11).
3. Agravo regimental não provido. (AG.REG. em MS
30014/DF, Rel. Ministro Dias Tofoli, Plenário, j.
18/12/2013)
No julgado acima ementado, o Relator, Ministro Dias Toffoli,
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
em seu voto, advertiu que:
[...] no que se refere ao problema da boa-fé e da eficácia
continuativa das relações jurídicas, não pode haver
usucapião de constitucionalidade. A obrigatoriedade
da Constituição deriva de sua vigência. Não é
possível entender que o tempo derrogue a força
obrigatória de seus preceitos por causa de ações
omissivas ou comissivas de autoridades públicas”
(Ag.Reg em MS 30014/DF, Rel. Ministro Dias Tofoli,
Plenário, j. 18/12/2013).
E sintetizou:
[…] ser impossível atribuir-se legitimidade a qualquer
investidura em cargo público não comissionado
realizada sem prévia aprovação em concurso público
após a promulgação da Constituição Federal de 1988,
sob pena de se transpor a ordem constitucional e de se
caminhar de encontro aos ditames preconizados pelo
Estado Democrático de Direito (Ag.Reg em MS
30.014/DF, Rel. Min. Dias Toffoli)
Mais recentemente, no MS 27.673/DF (anexo VI), Rel. Min.
Cármen Lúcia, no qual se questionou decisão do Conselho Nacional de Justiça que
determinou a exoneração de servidores admitidos sem concurso público, após a
Constituição Federal de 1988 e a revisão de aposentadorias concedidas a funcionários
não concursados do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, a Corte Suprema, mais uma
vez confirmando o entendimento consolidado anteriormente, assim se pronunciou:
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORES DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS.
INVESTIDURA DERIVADA EM CARGOS DE
PROVIMENTO EFETIVO. CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA: INOBSERVÂNCIA DO INC. II E DO
§ 2º DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. ALEGADA AFRONTA AO
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA.
DECADÊNCIA DO PODER-DEVER DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE REVER ATOS
ILEGAIS. INAPLICABILIDADE.
PRECEDENTES. DEVIDO PROCESSO LEGAL.
CITAÇÃO POR EDITAL. ATENDIMENTO POR
PARTE DOS INTERESSADOS. VALIDADE
PARCIAL DO ATO. MANDADO DE SEGURANÇA
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
PARCIALMENTE CONCEDIDO. 1. Não se há cogitar
de decadência do poder-dever de revisão pelo Conselho
Nacional de Justiça dos atos de investidura dos
Impetrantes, dependendo a estabilização das relações
jurídicas fundadas em patente desrespeito à
determinação expressa contida no inc. II e no § 2º do
art. 37 da Constituição da República da existência de
circunstâncias específicas e excepcionais, reveladoras
da boa-fé dos envolvidos, o que não se verifica na
espécie. Precedentes. 2. Não se há cogitar, na espécie
vertente, de contrariedade ao devido processo legal,
pois as normas legais e regimentais vigentes na data da
prática questionada foram cumpridas, incluído o art. 98
do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça,
declarado inconstitucional incidentalmente em
processo de natureza subjetiva posteriormente julgado.
3. Mandado de segurança denegado. (MS 27673,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma,
julgado em 24/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015)
No voto condutor, a Relatora Min. Cármen Lúcia, observou:
[…]
A situação dos absorvidos por ato administrativo de
provimento derivado configura flagrante desrespeito à
constituição da República, permitindo o afastamento do
prazo decadencial para o exercício do poder-dever de
autotutela realizado pelo Conselho Nacional de Justiça,
nos termos da conclusão do Plenário deste Supremo
Tribunal no julgamento do Mandado de Segurança n.
26.860.
Irrepreensíveis, portanto, os fundamentos do
Conselheiro Relator no voto condutor do ato tido como
coator , no sentido de que 'dar guarida à tese da
segurança jurídica ou da inviabilidade da anulação do
ato em virtude do interstício do prazo de 5 anos só faria
corroborar a atitude dos administradores que adotaram
tais práticas, frustrando justamente a moralidade que a
Constituição tanto quis ver observada”, pelo que essa
flagrante afronta ao texto constitucional não poderia ser
protegida pelo prazo decadencial do art. 54 da Lei
9.784/1999, o qual deveria ser contado apenas 'quando
do ato de aposentadoria que põe fim à relação do
servidor com o tribunal'.
De fato. Não é possível admitir que a postura de gestores
públicos, descomprometidos com a coisa pública e movidos por razões outras que não o
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interesse público, de manter uma situação flagrantemente inconstitucional, com o fim
único de atender a interesses particulares, tenha força derrogatória da Constituição e
possa ser invocada como argumento para, a pretexto de garantir uma falsa “segurança
jurídica” “convalidar” o ato inexistente à luz de uma ordem constitucional.
Isso, sem dúvida, seria negar a força normativa da Constituição
Federal, a obrigatoriedade de sua observância e a moralidade que deve nortear as relações
administrativas, com seríssimos prejuízos para o sistema constitucional brasileiro, pois estaria
o Poder Judiciário a chancelar e estimular a violação da Constituição para, uma vez
consolidada a ilegalidade, ser “convalidada” em razão do decurso do tempo!!!!
Manifesto absurdo!!!
Necessário relembrar, por oportuno, que o Poder Judiciário
é, por excelência, o guardião da Constituição!!!
Vale rememorar ainda que a obrigatoriedade de aprovação em
concurso público, na tipologia de normas constitucionais, caracteriza-se como regra. As
regras, segundo a doutrina constitucional brasileira, possuem caráter categórico e sujeitam-se
à lógica do tudo ou nada. É dizer: não há espaço, na aplicação das regras, para juízos de
ponderação para a sua aplicação em maior ou menor grau, de acordo com o caso concreto e
os interesses em conflito. Ou a regra é aplicada e observada será a Constituição ou lhe é
negada aplicação e consumada estará a violação à Constituição.
Assim, não há que falar, nessa seara, ou seja, de aplicação da
regra do concurso público, em juízos de ponderação para a garantia da segurança jurídica.
Aliás, falar em segurança jurídica no caso ora em discussão é negar o próprio conceito de
segurança jurídica, pois não há segurança jurídica em um sistema constitucional em que
as regras constitucionais são inobservadas pela recalcitrância do gestor público em fazer
valer a Constituição e manter, assim, situações flagrantemente inconstitucionais, com a
anuência do particular que da inconstitucionalidade se beneficia, para, após, ao
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argumento de “segurança jurídica”, ter a situação inconstitucional “convalidada”,
numa flagrante e inadmissível afronta à força normativa da Constituição.
Por outro lado, conforme bem pontuou o Conselho Nacional de
Justiça, na decisão impugnada por meio do MS 27.763/DF, para fundamentar a necessidade
de exoneração imediata dos servidores ilegalmente admitidos sem concurso público,“[...] a
nulidade dos atos de investidura não pode ser protegida pelo decurso do prazo porque
servem de fonte direta para o futuro da relação entre o servidor e a Administração”
(Procedimentos de Controle Administrativo de nº 200710000014437, 200710000012131 e
200810000003262).
De fato. Em razão do vínculo inconstitucionalmente mantido,
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO obteve, aos 24/11/2015, aposentadoria pelo
Regime Próprio de Previdência Social, em total afronta ao que estabelece o artigo 40 da
Constituição Federal de 1988, porquanto, em razão da nulidade (inexistência) do vínculo, não
fazia VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO jus à aposentadoria pelo Regime Próprio de
Previdência Social, com todas as vantagens dele decorrentes, especialmente a integralidade.
Por todas as razões expostas, inafastável a necessidade de
declaração de nulidade dos atos de admissão, de transposição e de efetivação de
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO no cargo de Assistente Administrativo,
posteriormente classificado pela Resolução 1.007/1999 como Assistente Legislativo –
categoria funcional – Assistente Administrativo, da Assembleia Legislativa do Estado de
Goiás, e do ato de aposentadoria pelo Regime Próprio de Previdência Social e seu
respectivo registro, como adiante será explanado.
3. DA NULIDADE DO ATO DE APOSENTADORIA
CONCEDIDA A VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO PELO REGIME PRÓPRIO
DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 40, estabeleceu:
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é
assegurado regime de previdência de caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do
respectivo ente público, dos servidores ativos e
inativos e dos pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o
disposto neste artigo.
[…].
No âmbito federal, foi editada a Lei 9.717/98, a qual estabelece
regras gerais para a organização dos regimes próprios de previdência social dos servidores
públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos
Estados e do Distrito Federal e dá outras providências.
Nos termos do artigo 1º, inciso V, da referida lei:
Art. 1º. Os regimes próprios de previdência social dos
servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e
do Distrito Federal deverão ser organizados, baseados
em normas gerais de contabilidade e atuária, de modo a
garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial,
observados os seguintes critérios:
[…]
V – cobertura exclusiva a servidores públicos
titulares de cargos efetivos e a militares, e a seus
respectivos dependentes, de cada ente estatal, vedado
o pagamento de benefícios, mediante convênios ou
consórcios entre Estados, entre Estados e Municípios e
entre Municípios;
[…].
No âmbito do Estado de Goiás, foi editada a Lei Complementar
nº 66 de 22 de janeiro de 2009, a qual instituiu a autarquia Goiás Previdência como entidade
gestora do Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos – RPPS – e do Regime
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Próprio de Previdência dos Militares do Estado de Goiás – RPPM.
Como se vê pelo disciplinamento constitucional e legal, o
Regime Próprio de Previdência Social destina-se à cobertura previdenciária de
servidores públicos titulares de cargos efetivos. As demais categorias de servidores
públicos (comissionados e temporários) e empregados públicos, sujeitam-se Regime Geral de
Previdência Social, nos termos do artigo 40, § 13, da CF.
Relativamente aos servidores estáveis, na forma do artigo 19 do
ADCT, por não ter VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO direito à estabilidade prevista
no artigo 19 do ADCT, uma vez que foi admitida aos 12/06/1986, não se fará, nesta peça,
maiores considerações sobre essa questão.
Como se vê, a natureza do vínculo do servidor público com a
Administração Pública condiciona o regime previdenciário a que se sujeitará o servidor, por
ocasião da aposentadoria.
Nesse rumo de intelecção, constata-se que a existência de um
vínculo efetivo válido, é dizer, decorrente da aprovação em concurso público, é condição
para que o servidor possa se filiar validamente ao Regime Próprio de Previdência Social e
obter os benefícios dele decorrentes.
Conforme se verificou dos relatos feitos nesta inicial, a
admissão da ré VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO para o exercício do cargo de
Pesquisador Legislativo na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, aos 12/06/1986, sem
concurso público, não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 e, em razão de sua
flagrante violação ao disposto no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal de 1988 e no
artigo 19 do ADCT, é inexistente diante da nova ordem constitucional.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Da mesma forma, o ato de “transposição” para o cargo de
Assistente Administrativo e de “efetivação” no referido cargo, operados pelo Decreto 1.275
de 12 de maio de 1988, editado com base na Lei 10.458 de 22 de fevereiro de 1988, também
são inexistentes, por violação, também, ao artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, que
vedou toda forma de provimento derivado de cargos públicos.
A nulidade (inexistência) do vínculo afasta toda e qualquer
possibilidade de que a ré VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO pudesse obter a
aposentadoria no Regime Próprio de Previdência Social. Nula a investidura no cargo
público, nulo também é o ato de concessão de aposentadoria fundado no vínculo
inexistente, por flagrante violação ao disposto no artigo 40, caput, da Constituição
Federal, no artigo 1º, inciso V, da Lei 9.717/98 e no artigo 1º, § 1º, inciso I, da LC
Estadual 66/2009.
Diante do exposto, imperiosa é, além da declaração de nulidade
do ato de admissão de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO no cargo de Pesquisador
Legislativo, do ato de transposição para o cargo de Assistente Administrativo e do ato de
efetivação no referido cargo, operados pelo Decreto 1.275 de 12 de maio de 1988, editado
com base na Lei 10.458 de 22 de fevereiro de 1988, seja declarada a nulidade do ato de
concessão de aposentadoria a VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO pelo Regime
Próprio de Previdência Social do Estado de Goiás, bem como do ato de registro
efetivado pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás.
Sobre a questão, assim tem se pronunciado o Superior Tribunal
de Justiça:
RMS. SERVIDOR PÚBLICO. ADCT - ART. 19.
ADMISSÃO EM 1985 SEM CONCURSO.
1. Servidor público, admitido no ano de 1985, sem
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
concurso, não está amparado pelo art. 19 do ADCT,
da Constituição Federal de 1988, seja quanto à
estabilidade ou à aplicação do regime jurídico único. 2. Recurso improvido.
(STJ - RMS 8.980/ES, Rel. Ministro LUIZ VICENTE
CERNICCHIARO, Rel. p/ Acórdão Ministro
FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA,
julgado em 18/10/1999, DJ 24/04/2000, p. 75)
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. SERVIDOR ESTADUAL NÃO
OCUPANTE DE CARGO EFETIVO.
APOSENTADORIA COM PROVENTOS
INTEGRAIS. IMPOSSIBILIDADE. SUJEIÇÃO
AO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL E AO RESPECTIVO TETO. 1. A sujeição dos servidores não efetivos ao regime
geral da previdência social, tal como prevista no art.
40, § 13, da Constituição Federal, é matéria pacífica
na jurisprudência desta Corte. Precedentes. 2. Não obstante o quanto alegado pelo recorrente, as
provas nos autos não validam o direito que disse ter
porque não é a norma constitucional que se curva ao
ato administrativo, mas este é que se submete ao
ordenamento jurídico, sob pena de nulidade. Inteligência do art. 2º, parágrafo único, alínea "c" da
Lei n. 4.717/1965.
3. Ainda que o ato de aposentação tenha, em tese,
assegurado proventos integrais, não poderia,
validamente, prevalecer sobre os ditames da legislação
que o autoriza, por isso que se revelou acertada sua
revisão.
4. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(STJ - RMS 31.986/MG, Rel. Ministro SÉRGIO
KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
13/08/2013, DJe 19/08/2013).
O direito à previdência social, como é cediço, é direito
fundamental expresso na Carta Magna. Entretanto, tal direito deve ser exercitado dentro dos
limites constitucionais e legais.
A nulidade do vínculo de VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO com a Administração Pública Estadual, após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, embora a impeça de obter a aposentadoria pelo Regime Próprio de
Previdência Social, em função da chapada afronta ao disposto no artigo 37, inciso II e artigo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
40, caput, ambos da Constituição Federal de 1988, não impede que o tempo de
contribuição efetivado no âmbito da Administração Pública seja contado, de forma
recíproca, no Regime Geral de Previdência Social – RGPS.
Isso porque, nos termos do artigo 201 da Constituição Federal:
Art. 201. a previdência social será organizada sob a
forma de regime geral, de caráter contribuitivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e atenderá,
nos termos da lei a:
I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e
idade avançada;
[…].
Apesar da nulidade do vínculo laboral com a Administração
Pública Estadual, certo é que VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, inicialmente
vinculada ao Regime Geral de Previdência Social, porquanto foi contratada para a
função de Pesquisador Legislativo, aos 12/06/1986, pelo regime celetista, efetivou
contribuições previdenciárias e, sendo o direito à previdência uma garantia fundamental e a
previdência social organizada na forma de regime geral de filiação obrigatória, irrecusável a
possibilidade de compensação financeira, na forma estatuída pelo artigo 201, § 9º, da
Constituição Federal, uma vez reconhecida a nulidade do ato de aposentadoria, pelo Regime
Próprio de Previdência Social. Eis o que dispõe o artigo 201, § 9º, da CF:
Art. 201. […]
§ 9º. Para efeito de aposentadoria, é assegurada a
contagem recíproca de tempo de contribuição na
administração pública e na atividade privada, rural e
urbana, hipótese em que os diversos regimes de
previdência social se compensarão financeiramente,
segundo critérios estabelecidos em lei.
A compensação financeira prevista no artigo 201, § 9º, da
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Constituição Federal foi disciplinada pela Lei Federal 9.796/99, a qual foi regulamentada,
dentre outros diplomas normativos, pelo Decreto 3.112/99, Portaria MPAS 6.209/99 e
Portaria Interministerial MPS-MF 410 de 29/07/2009.
Assim, uma vez declarada a nulidade do ato de aposentadoria
pelo Regime Próprio de Previdência Social, poderá VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO, após a devida compensação financeira, obter, caso preenchidos os requisitos
legais, a aposentadoria pelo Regime Geral de Previdência Social.
4. DA INDEVIDA INCORPORAÇÃO DE VPNI –
VANTAGEM PESSOAL NOMINALMENTE IDENTIFICADA - AOS PROVENTOS
DE APOSENTADORIA DE VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO
Conforme se extrai do processo de aposentadoria de VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO, de nº 201500047002758/204-01, que tramitou no Tribunal
de Contas do Estado de Goiás, a referida ré aposentou-se com proventos integrais,
consubstanciados nas seguintes parcelas:
PARCELAS VALOR
Vencimento base R$ 5.069,27
Grat. Adc. Tempo de Serviço = 10% (1); 5% (4) R$ 1.520,78
Grat. Adic. de Aperfeiçoamento = 20% R$ 1.013,85
V.P.N.I R$ 7.602,53
Fundo de Aposentadoria 13,25% R$ 2.014,85
Total bruto R$ 15.206,43
Dentre as parcelas que compunham a remuneração bruta da ré
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, no mês anterior à aposentadoria, estava a VPNI
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– Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - no valor de R$ 7.602,53 (sete mil,
seiscentos e dois reais e cinquenta e três centavos), concedida pela Lei 15.614/2006.
Entretanto, referida lei foi declarada inconstitucional pelo
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, na ADI nº 274681-82.2010.8.09.0000
(201092746811), proposta pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado de Goiás, por decisão
não mais sujeita a recurso.
No acórdão, o Tribunal de Justiça entendeu que a norma atacada
ofendia o princípio da impessoalidade, da isonomia e da moralidade administrativa, previstos
no caput do art. 92 da Constituição Estadual, por privilegiar indevidamente um grupo de
servidores, dentre estes, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO.
Eis a ementa do acórdão (anexo VI):
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
LEI ESTADUAL, GRATIFICAÇÃO,
INCORPORAÇÃO. PRIVILEGIAMENTO DE
DETERMINADOS SERVIDORES PÚBLICOS.
MALFERIMENTO DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE. ART. 92, CAPUT, DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS.
MODULAÇÃO DE EFEITOS.
I – É provida de inconstitucionalidade material, lei
estadual que institui vantagem remuneratória a
determinados servidores públicos, permitindo-lhes
agregar aos estipêndios gratificação de representação
especial – GRE, convertida em VPNI, percebida pelo
prazo mínimo de 18 (dezoito) meses, no período de 1º
de janeiro de 1999 a 31 de maio de 2003, quando o
benefício foi conferido a integrantes do serviço
público estadual identificados pela anterior
composição da administração do atual Governador
do Estado, privilegiando-os, em irrespondível
afronta ao princípio da impessoalidade, contrastado
ao artigo 92, caput, da Carta Política do Estado de
Goiás.
II – Modulação de efeitos. AÇÃO JULGADA
PROCEDENTE.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDA o
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pelos
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
integrantes da Corte Especial, à unanimidade, julgar
procedente a inconstitucionalidade da Lei nº 15.614/06,
nos termos do voto do Relator.
Sobre a modulação de efeitos, assim se pronunciou o Relator:
[…] Nessa perspectiva, proclamada a
inconstitucionalidade da Lei 14.059/01, fomento e
suporte para a edição da Lei 15.614/06, a modulação
dos efeitos declaratórios deve ser ex tunc, a partir da
publicação do acórdão proferido na ADI nº 219-
2/220 (11/05/2010, que tornou sem eficácia a base
legislativa para a norma impugnada, porquanto não
se torna viável a indicação de outro marco, posto
que o desfazimento do ato legislativo, fonte e
derivado, surgiu naquele julgamento, ao que se adota
a solução permitida pelo art. 27, da Lei nº 9.868/99,
nessa calibragem. Ao cabo do exposto, julgo procedente
a ação. É, pois, como voto. (Voto do Relator Des. Luiz
Cláudio Veiga Braga – ADI 274681-
82.2010.8.09.0000)
Conforme se extrai do texto do acórdão, a modulação de efeitos
operada ex tunc objetivou considerar o efeito declaratório da decisão, com o desfazimento do
ato de incorporação operado pela Lei 15.614/20006, a partir da data da publicação do acórdão
exarado na ADI 219-2/220, qual seja 11/05/2010.
Isso porque, na ADI 219-2/220 reconheceu-se a
inconstitucionalidade da Gratificação de Representação Especial – GRE – que a Lei
15.614/2006 determinou a incorporação.
O que foi determinado na decisão da ADI 274681-
82.2010.8.09.0000 foi a modulação dos efeitos declaratórios e desconstitutivos da decisão. É
dizer: o desfazimento do ato legislativo inconstitucional e das incorporações por ele
efetivadas operou-se a partir de 11/05/2010. A partir de então, todas as incorporações de
VPNI fundadas na Lei 15.614/06 foram desconstituídas, assim como os seus efeitos – os
pagamentos decorrentes da incorporação.
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Nessa linha de intelecção, a modulação de efeitos teve o condão
de considerar desfeitos todos os atos inconstitucionais fundados na Lei 15.614/2006, a partir
da publicação da decisão da ADI 219-2/220, ou seja, 11/05/2010, cessando, a partir daí, todos
os seus efeitos, inclusive os pagamentos decorrentes da incorporação inconstitucional.
Vale ressaltar que a lei impugnada - Lei 15.614/2006 - ao
conferir a um grupo determinado de servidores (aqueles que no período de 1º de janeiro de
1999 a 31 de maio de 2003 perceberam Gratificação de Representação Especial – GRE – por
prazo ininterrupto de pelo menos 18 meses) vantagem pecuniária a ser incorporada no
vencimento, muito se aproximou de um ato administrativo, dada a concretude de seus
efeitos. Como é cediço, leis de efeitos concretos não irradiam seus efeitos para o futuro, pois
não regulam, de modo abstrato, relações jurídicas futuras, mas constituem ou desconstituem
situações jurídicas concretas, de modo exauriente.
Nessa linha, a Lei 15.614/2006, sendo de efeitos concretos,
exauriu todos os seus efeitos com a sua simples publicação, pois quem preenchia os requisitos
exigidos pela lei, naquele momento, incorporou os valores ao vencimentos a título de VPNI.
Não poderia a lei alcançar situações futuras diante de seus efeitos concretos e exaurientes.
Cuidava-se de uma lei tipicamente de efeitos concretos e sem efeitos pro futuro.
Como é cediço, a decisão em controle abstrato de
constitucionalidade que declara a inconstitucionalidade de uma lei de efeitos concretos tem o
condão de, além de “declarar” a inconstitucionalidade da lei e retirá-la do ordenamento
jurídico, de desfazer os atos administrativos diretamente dela decorrentes. Com a declaração
de inconstitucionalidade da Lei 15.614/2006, além de ter sido reconhecida a sua
inconstitucionalidade e operada a sua extirpação do ordenamento jurídico, foram desfeitos
todos os atos administrativos diretamente dela decorrentes.
Assim sendo, no momento em que o Relator conferiu efeito ex
tunc à decisão, para retroagi-la a data da publicação do acórdão da ADI 219-2/220, aos
11/05/2010, o que se deu foi a retroação do desfazimento dos atos de incorporação
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decorrentes da Lei 15.614/2010, com a cessação dos efeitos da incorporação a partir de
11/05/2010, porquanto foi naquela ocasião que se reconheceu a inconstitucionalidade do
pagamento da gratificação que a Lei 15.614/2006 incorporou.
Por essa razão descabida a interpretação dada, no âmbito da
Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e do Tribunal de Contas do Estado de Goiás no
sentido de que, ao modular os efeitos, conferindo efeitos ex tunc à decisão, para retroagi-la à
data da publicação da decisão na ADI 219-2/220, em verdade o Tribunal de Justiça conferiu
efeito ex nunc à decisão e manteve íntegros os atos administrativos praticados antes da
declaração de inconstitucionalidade.
Isso porque, uma interpretação nesse sentido, considerando que
se cuidava de uma lei de efeitos concretos, que além de não ter efeito pro futuro, seus efeitos
exauriram-se com a sua publicação, entender que a declaração de inconstitucionalidade
somente pode alcançar as situações consolidadas após a declaração de inconstitucionalidade
seria a mesma coisa que dizer: a lei não tem efeitos para o futuro mas tudo o que se
constituir no futuro com base nela (ou seja, nada) será inválido!!!!
A prevalecer esse entendimento, a Lei 15.614/2006, de efeitos
concretos, tendo exaurido todos os seus efeitos com a sua publicação, os quais foram apenas
materializados em atos administrativos para a operacionalização da incorporação operada
com a publicação da lei, resultaria incólume, mesmo diante do reconhecimento de sua
inconstitucionalidade e nenhuma eficácia teria a jurisdição constitucional.
Nessa linha de intelecção laborou o Ministério Público de
Contas, por ocasião do registro da aposentadoria concedida a VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO, ao pronunciar-se pela glosa de referido valor dos proventos de aposentadoria.
Entretanto, o Tribunal de Contas do Estado de Goiás
entendendo que ao conferir efeito ex tunc à decisão, para retroagi-la a 11/05/2010, data da
publicação do acórdão da ADI 219-2/220, em verdade o Tribunal de Justiça conferiu efeito ex
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nunc e manteve incólume todos os atos praticados antes da declaração de
inconstitucionalidade, incorporou, aos proventos de aposentadoria de VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILLO a VPNI no valor de R$ 7.602,53 (sete mil, seiscentos e dois reais e
cinquenta e três centavos).
Pela decisão proferida na ADI 274681-82.2010.8.09.0000,
desde 11/05/2010 VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO não mais poderia ter percebido
a VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – e, além de tais pagamentos
terem sido efetivados de forma indevida no período de 11/05/2010 até 24/11/2015 (data
da aposentadoria), sua incorporação aos proventos de aposentadoria também padece de
inconstitucionalidade, por violação ao princípio da legalidade estrita, uma vez que a
vantagem incorporada não encontra amparo legal, bem como à coisa julgada.
Forte nessas considerações e uma vez não acolhido o pedido
de declaração de nulidade do vínculo laboral de VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO com a Administração Pública Estadual e, consequentemente, a nulidade da
aposentadoria concedida pelo Regime Próprio de Previdência Social e o respectivo
registro, impositiva é a exclusão, dos proventos de aposentadoria de VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILLO, da parcela relativa a VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente
Identificada – no valor de R$ 7.602,53 (sete mil, seiscentos e dois reais e cinquenta e três
centavos).
Em razão de ter VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO
percebido indevidamente, a partir de 11/05/2010 a parcela relativa a VPNI – Vantagem
pessoal Nominalmente Identificada – impositiva é a restituição dos valores recebidos
indevidamente à Administração Pública Estadual, limitada essa restituição ao período
de 05 (cinco) anos, a contar da propositura da presente ação, nos termos do artigo 54 da
Lei 9.784/99, os quais totalizam, na data da propositura da presente ação, devidamente
corrigidos monetariamente, R$ 378.235,81 (trezentos e setenta e oito reais, duzentos e
trinta e cinco mil e oitenta e um centavos), conforme planilha de cálculo (anexo VIII).
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Conforme resultou demonstrado nos autos, além de VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO, outros beneficiários da Lei 15.614/2006, julgada
inconstitucional, continuaram a perceber a VPNI após 11/05/2010 e, inclusive, incorporaram-
na aos proventos de aposentadoria, ao argumento de que em razão dos efeitos ex nunc da
decisão proferida nos autos da ADI 219-2/220, os atos de concessão das vantagens de que
tratavam os referidos atos normativos, aperfeiçoados antes da declaração de
inconstitucionalidade, não seriam alcançados por esta.
Os efeitos ex nunc em uma ação direta de inconstitucionalidade
que objetiva declarar a inconstitucionalidade de uma lei de efeito concreto, como já
enfatizado, tem o efeito de desconstituir, a partir da declaração (e não da própria
constituição do ato), os atos decorrentes da lei considerada inconstitucional, preservando
apenas os efeitos que até então foram produzidos.
Não obstante, nos autos do Processo nº 201100036004468
(Despacho 005790), 200300003001102 (Despacho AG nº 004009/2010) e Processo
201100025002800 (Despacho 005684), estes últimos mencionados no Despacho Ag 005790,
todos relativos a processos de aposentadoria, conforme documento acostado no anexo IV –
fls. 988/989 – ICP, foi reconhecido o direito de incorporação da VPNI aos proventos de
aposentadoria.
Diante da flagrante violação à decisão exarada nos autos da ADI
219-2/220 e na ADI 274681-82.2010.8.09.0000, necessário seja imposta ao ESTADO DE
GOIÁS a obrigação de fazer de identificar os beneficiários da Lei 15.614/2006 e excluir da
sua remuneração ou dos proventos de aposentadoria, caso já concedida, os valores que ainda
estiverem sendo pagos a título de VPNI, fundada na Lei 15.614/2006, julgada
inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, bem como a obrigação de
fazer de proceder ao desconto, a título de restituição, no contracheque dos beneficiários,
dos valores que tiverem sido pagos, de forma indevida, a partir de 11/05/2010, a título
de VPNI, fundada na Lei 15.614/2010, limitado ao período de 05 (cinco) anos, a contar
da data da propositura da presente ação, nos termos do artigo 54 da Lei 9.784/99.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
IV – DA TUTELA PROVISÓRIA
O novel CPC, reformulou, de forma substancial e mais
sistemática, a tutela provisória no sistema processual brasileiro.
De acordo com a nova disciplina processual, a tutela provisória
pode fundamentar-se na urgência ou na evidência.
Conforme lição de Didier,
Em situação de urgência, o tempo necessário para a
obtenção da tutela definitiva (satisfativa ou cautelar)
pode colocar em risco sua efetividade. Este é um dos
males do tempo do processo.
Em situação de mera evidência (sem urgência), o
tempo necessário para a obtenção da tutela
definitiva (satisfativa) não deve ser suportado pelo
titular do direito assentado em informações de fato
comprovadas, que se possam dizer evidentes.
Haveria, em tais casos, violação ao princípio da
igualdade (grifou-se).
[…].
A principal finalidade da tutela provisória é abrandar os
males do tempo e garantir a efetividade da jurisdição
(os efeitos da tutela). Serve então, para redistribuir,
em homenagem ao princípio da igualdade, o ônus
do tempo do processo, conforme célebre imagem de
Luiz Guilherme Marinoni. Se é inexorável que o
processo demore, é preciso que o peso do tempo seja
repartido entre as partes e não somente o
demandante arque com ele. (DIDIER JR., Freddie.
BRAGA, Paula Sarno.OLIVEIRA, Rafael Alexandria
de. Curso de direito processual civil. Teroria da prova,
direito probatório, decisão precedente, coisa julgada e
tutela provisória. 10 ed. Rev. ampl. atual. Salvador:
Editora Juspodivm, 2015, Vol. 2.)
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A tutela provisória de urgência funda-se, além de na
probabilidade do direito, a fumaça do bom direito, no perigo de dano ou de risco ao resultado
útil do processo, ou seja, o periculum in mora (artigo 300, NCPC). Como se vê, o NCPC
superou a distinção entre os requisitos da concessão para a tutela cautelar e para a tutela
satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo da demora a requisitos comuns
para a prestação de ambas as tutelas de forma antecipada (Enunciado 143 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis.
A tutela de evidência, como o próprio nome está a indicar,
funda-se na evidência. Como assere Didier,
A evidência é fato jurídico processual. É o estado
processual em que as afirmações de fato estão
comprovadas.
A evidência, enquanto um fato jurídico processual,
pode ser tutelada em juízo.
Perceba-se que a evidência não é um tipo de tutela
jurisdicional, a evidência é um fato jurídico processual
que autoriza que se conceda uma tutela jurisdicional
mediante técnica de tutela diferenciada. Evidência é um
pressuposto fático de uma técnica processual para a
obtenção da tutela. (DIDIER JR., Freddie. BRAGA,
Paula Sarno.OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso
de direito processual civil. Teroria da prova, direito
probatório, decisão precedente, coisa julgada e tutela
provisória. 10 ed. Rev. ampl. atual. Salvador: Editora
Juspodivm, 2015, Vol. 2.)
Ainda sobre a tutela provisória de evidência, ensina Didier,
[…] a evidência se caracteriza com conjugação de dois
pressupostos: prova das alegações de fato e
probabilidade de acolhimento da pretensão processual.
Dispensa-se a demonstração de urgência ou perigo. Por
isso, há quem prefira compreender a tutela provisória de
evidência simplesmente como aquela para cuja
concessão se dispensa a demonstração de perigo.
Seu objetivo é redistribuir o ônus que advém do tempo
necessário para transcurso de um processo e a
concessão de tutela definitiva. Isso é feito mediante a
concessão de uma tutela imediata e provisória para a
parte que revela o elevado grau de probabilidade de
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suas alegações (devidamente provadas), em detrimento
da parte adversa e a improbabilidade de êxito em sua
resistência – mesmo após a instrução processual.
Por essa razão se diz que o direito fundamental à
duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF)
exige que o ônus do tempo processual seja gerido
com comedimento e moderação, considerando-se
não só a razoabilidade do tempo necessário para
concessão da tutela definitiva, como também a
razoabilidade na escolha da parte que suportará o
estorvo decorrente, concedendo uma tutela
provisória para aquela cuja posição processual se
apresenta em estado de evidência e com mais
chances de sucesso.
Por exemplo, se as afirmações de fato e o direito do
autor se colocam em estado de evidência, a injustiça
que pode decorrer da sua espera por uma cognição
exauriente, necessária para a concessão de tutela
definitiva, é muito mais provável do que aquela que
vitimaria o réu com um eventual erro judiciário advindo
da apreciação superficial da causa, por uma cognição
sumária, que funde uma tutela provisória.
É nesses casos e com esse propósito que se propugna
pela concessão de tutela de evidência em favor do
autor, desestimulando a resistência do réu para
quem se tornará desvantajoso procrastinar o feito e
vantajoso cooperar para seu deslinde ou, talvez,
partir para mecanismos alternativos de solução do
conflito. (DIDIER JR., Freddie. BRAGA, Paula
Sarno.OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil. Teroria da prova, direito
probatório, decisão precedente, coisa julgada e tutela
provisória. 10 ed. Rev. ampl. atual. Salvador: Editora
Juspodivm, 2015, Vol. 2.)
Assim dispõe o artigo 311 do NCPC:
Art. 311. A tutela de evidência será concedida,
independentemente da demonstração de perigo de dano
ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
[…];
II – as alegações de fato puderem ser comprovadas
apenas documentalmente e houver tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante;
[…].
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
Nos termos do citado dispositivo legal, dois são os pressupostos
para a concessão da tutela provisória de evidência:
a) existência de prova das alegações de fato da parte requerente,
necessariamente documental ou documentada e que recaiam sobre fatos que justificam o
nascimento do direito afirmado;
b) probabilidade de acolhimento da pretensão processual, que se
configura exatamente em razão do fundamento normativo da demanda consistir em tese
jurídica já firmada em precedente obrigatório, mais especificamente em enunciado de súmula
vinculante ou em julgamento de demandas ou recursos repetitivos que vinculam o julgador e
devem ser por ele observados, inclusive liminarmente (art. 311, parágrafo único)2.
Segundo Didier,
A parte que postula com base em fatos provados por
documento e que sejam semelhantes àqueles que
ensejaram a criação de tese jurídica vinculante em
tribunal superior – tese esta invocada como fundamento
normativo de sua postulação 0 encontra-se em estado de
evidência. Demonstra não só a probabilidade de
acolhimento da sua pretensão processual como também
a improbabilidade de sucesso do adversário que se
limite a insistir em argumentos já rejeitados no processo
de formação do precedente, o que configuraria,
inclusive, litigância de má-fé (por defesa infundada ou
resistência injustificada, art. 80, NCPC). (DIDIER JR.,
Freddie. BRAGA, Paula Sarno.OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil.
Teroria da prova, direito probatório, decisão
precedente, coisa julgada e tutela provisória. 10 ed.
Rev. ampl. atual. Salvador: Editora Juspodivm, 2015,
2 Propõe Didier uma interpretação sistemática, teleológica e extensiva da regra para que se entenda que deve
ser possível a concessão de tutela de evidência também quando houver tese jurídica assentada em outros
precedentes obrigatórios, tais como aqueles previstos no art. 927, CPC. Seria o caso da tese fixada em
decisão do STF dada em sede de controle concentrado e dos enunciados das súmulas do Supremo Tribunal
Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional.
(DIDIER JR., Freddie. BRAGA, Paula Sarno.OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito
processual civil. Teroria da prova, direito probatório, decisão precedente, coisa julgada e tutela provisória.
10 ed. Rev. ampl. atual. Salvador: Editora Juspodivm, 2015, Vol. 2.)
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Vol. 2.)
Os documentos que instruem a presente inicial demonstram
irrefutavelmente que VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO foi admitida sem concurso
público, aos 12/06/1986, para a função de Pesquisador Legislativo da Assembleia Legislativa
do Estado de Goiás, foi transposta para o cargo de Assistente Administrativo, posteriormente,
pela Resolução 1.007/1999, classificado como Assistente Legislativo – categoria funcional –
Assistente Administrativo, bem como efetivada no referido cargo, pelo Decreto 1.275 de 12
de maio de 1988, editado com base na Lei 10.548 de 22 de fevereiro de 1986, em flagrante
violação ao artigo 37, inciso II, da Constituição Federal e artigo 19 do ADCT, razão por que
referidos atos administrativos não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988.
Os documentos acostados aos autos também evidenciam que,
posteriormente, aos 24/11/2015, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, em razão da
transposição e efetivação no cargo de Assistente Administrativo, obteve aposentadoria
pelo Regime Próprio de Previdência Social, em total afronta ao disposto no artigo 40 da
Constituição Federal, artigo 1º, inciso V, da Lei 9.717/98 e artigo 1º da LC Estadual 66/2009.
Também demonstram os documentos acostados aos autos que
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO obteve a incorporação ao seu vencimento de
VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – no valor de R$ 7.602,53 (sete mil,
seiscentos e dois reais e cinquenta e três centavos), por força da Lei 15.614/2006, a qual foi
julgada inconstitucional por decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás na ADI
274681-82.2010.8.09.0000. Apesar de o Tribunal de Justiça ter concedido efeito ex tunc à
decisão, para retroagir seus efeitos declaratórios e desconstitutivos a 11/05/2010, VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO continuou a perceber a referida vantagem até a data de sua
aposentadoria e incorporou-a aos proventos de aposentadoria, em total violação ao princípio
da legalidade, estampado no caput do artigo 37 da Constituição Federal e à coisa julgada.
Todas as ilegalidades acima noticiadas, além de configurarem
flagrante violação à Constituição Federal e comprometerem de modo grave a sua força
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normativa, estão a causar um prejuízo material ao erário estadual, pois, em razão delas, o
erário estadual está arcar com o pagamento de proventos de aposentadoria de forma indevida
a VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, em considerável valor, qual seja R$ 15.206,43
(quinze mil, duzentos e seis reais e quarenta e seis centavos), valor esse bem acima daquele
que ela auferiria se estivesse filiada ao Regime Geral de Previdência Social, caso já
preenchesse os requisitos legais para a aposentadoria nesse regime, o que não se verifica no
caso em debate, tendo em vista o fato de que VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO
conta apenas 53 (cinquenta e três) anos e os requisitos dispostos no artigo 201, § 7º, da
Constituição Federal.º
Por outro lado, a questão de fundo sobre a qual deverá se
pronunciar o Poder Judiciário no presente caso e que embasa toda situação de ilegalidade
noticiada – o provimento de cargos públicos sem concurso público - já foi objeto de
pronunciamento pelo Supremo Tribunal Federal, por meio, inclusive, da Súmula
Vinculante 43 e de outros reiterados pronunciamentos, pelo Supremo Tribunal Federal,
inclusive em controle concentrado de constitucionalidade, como exaustivamente
demonstrado nesta inicial.
Eis o teor da Súmula Vinculante 43 do STF:
Súmula Vinculante 43: É inconstitucional toda
modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, em cargo que
não integra a carreira na qual anteriormente
investido.
Diante da gravidade da violação à Constituição Federal de 1988,
fartamente comprovada pela prova documental acostada, corroborada pelo disposto na
Súmula Vinculante 43 do STF, bem como em razão da necessidade de fazer cessar a
situação inconstitucional e o dano experimentado pelo erário estadual, com o
restabelecimento da força normativa da Constituição Federal, imperiosa a concessão da
antecipação dos efeitos da tutela, fundada na evidência, para suspender os efeitos do
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Decreto de 24 de novembro de 2015, editado pelo Presidente da Assembleia Legislativa do
Estado de Goiás que concedeu a VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO a aposentadoria
integral pelo Regime Próprio de Previdência Social do Estado de Goiás, em decorrência de
um vínculo inexistente com a Administração Pública Estadual, bem como do respectivo
registro efetivado pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás.
Uma vez suspensos os efeitos do ato de aposentadoria e do
respectivo registro, necessário, ainda, com fundamento na evidência, sejam suspensos os
efeitos do ato de admissão de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO efetivada pela
Assembleia Legislativa do Estado de Goiás sem concurso público, bem como o ato de
transposição de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO para o cargo de provimento
efetivo de Assistente Administrativo, posteriormente classificado, pela Resolução
1.007/1999, como Assistente Legislativo – categoria funcional Assistente Administrativo - e
de efetivação no referido cargo, operados pelo Decreto 1.275 de 12 de maio de 1988,
editado com base na Lei 10.458 de 22 de fevereiro de 1988.
Isso porque, embora estivesse VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO, no momento da concessão da aposentadoria, em gozo de licença para interesse
particular (sem o direito de perceber remuneração pelos cofres públicos), suspensos os
efeitos do ato de aposentadoria, poderá ela retornar ao exercício do cargo, fazendo assim
perpetuar a violação à Constituição Federal, sabe-se lá por mais quanto tempo, até que a
questão seja definitivamente julgada pelo Poder Judiciário.
Razão não há para, evidenciada a violação, permitir que se
perpetue, com sérios prejuízos para o erário e para a força normativa da Constituição.
Vale lembrar, invocando novamente o escólio de Didier, que
impedimentos não há para a concessão de tutela provisória satisfativa (ou antecipada, na
terminologia da lei), no âmbito de ações constitutivas e declaratórias. Isso porque
[...] não se antecipa a própria tutela satisfativa
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(declaratória, constitutiva ou condenatória), mas, sim,
os efeitos delas provenientes. Pela decisão provisória,
apenas se permite que o requerente usufrua os efeitos
práticos (sociais, executivos) do direito que quer ver
tutelado, imediatamente, antes mesmo do seu
reconhecimento judicial.
Antecipa-se, pois, a eficácia social da sentença – seus
efeitos executivos – e, não, sua eficácia jurídico-formal.
Antecipar a tutela é satisfazer de imediato, na realidade
fática, o pleito do requerente.
É por isso que, no contexto da tutela provisória
satisfativa (ou antecipada, na terminologia da lei),
concedida em sede de ações constitutivas e
declaratórias, a antecipação que se opera não é da
declaração ou da constituição/desconstituição (efeito
jurídico-formal), vez que estas serão sempre definitivas
– e só assim serão úteis para a parte. O que pode ocorrer
é a antecipação dos efeitos fáticos, práticos, palpáveis
de tais tutelas (declaratória ou constitutiva). (DIDIER
JR., Freddie. BRAGA, Paula Sarno.OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil. Teroria
da prova, direito probatório, decisão precedente, coisa
julgada e tutela provisória. 10 ed. Rev. ampl. atual.
Salvador: Editora Juspodivm, 2015, Vol. 2.)
Necessário pontuar, ainda, que a possibilidade de concessão de
medida acautelatória liminar, em ação civil pública, é expressamente prevista no artigo 12 da
Lei 7.347/85:
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com
ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
Assim sendo, presentes os requisitos esculpidos no artigo 311
do NCPC, imperiosa a concessão da antecipação dos efeitos da tutela fundada na evidência,
conforme acima requerido.
Vale ressaltar que, além da evidência que favorece o
MINISTÉRIO PÚBLICO, o ônus a ser suportado por VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO com a concessão da tutela provisória de evidência ora requestada não a colocará
numa situação de vulnerabilidade a ensejar a aplicação das máximas da proporcionalidade.
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Isso porque, como é de conhecimento amplo e notório,
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO não depende dos proventos de aposentadoria
para sua subsistência e, antes de requerer sua aposentadoria, solicitou licença não
remunerada para tratar de assunto de interesse particular, abdicando, assim, da percepção de
remuneração (anexo V).
Por outro lado, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO
possui atualmente apenas 53 (cinquenta e três) anos de idade e, portanto, plena capacidade
laborativa. Tanto isso é verdadeiro, que VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO exerce,
segundo informação constante dos autos, a Presidência da OVG – Organização das
Voluntárias de Goiás – além de contribuir, segundo informação do Secretário de Estado da
Casa Civil e do próprio Governador do Estado de Goiás, ativamente, como Primeira-Dama do
Estado de Goiás, para a execução das políticas assistenciais do Estado (anexo V e anexo VII).
Ademais, se estivesse vinculada ao Regime Geral de
Previdência Social não teria, aos 53 (cinquenta e três) anos, obtido o benefício da
aposentadoria, em face dos requisitos explícitos no artigo 201, § 7º, da Constituição Federal.
Diante de todas essas circunstâncias, a concessão da tutela
provisória de evidência é medida que se impõe.
Importante ressaltar que, presentes os pressupostos de lei, o
juiz deverá conceder a tutela provisória. Não há discricionariedade judicial.
Não obstante, se assim não entender Vossa Excelência,
presentes estão também os requisitos do artigo 300 do NCPC para a concessão da tutela
provisória de urgência.
A probabilidade do direito resulta evidenciada pela
mesma prova documental que comprova os requisitos fáticos exigidos para a concessão da
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tutela provisória de evidência, conforme já demonstrado anteriormente, ou seja, que
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO foi admitida sem concurso público, aos
12/06/1986, para a função de Pesquisador Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado
de Goiás, foi transposta para o cargo de Assistente Administrativo, posteriormente, pela
Resolução 1.007/1999, classificado como Assistente Legislativo – categoria funcional –
Assistente Administrativo, bem como efetivada no referido cargo, pelo Decreto 1.275 de 12
de maio de 1988, editado com base na Lei 10.548 de 22 de fevereiro de 1986, em flagrante
violação ao artigo 37, inciso II, da Constituição Federal e artigo 19 do ADCT, razão por que
referidos atos administrativos não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988.
Ainda demonstram que, posteriormente, aos 24/11/2015,
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, em razão da transposição e efetivação no
cargo de Assistente Administrativo, obteve aposentadoria pelo Regime Próprio de
Previdência Social, em total afronta ao disposto no artigo 40 da Constituição Federal, artigo
1º, inciso V, da Lei 9.717/98 e artigo 1º da LC Estadual 66/2009.
Também demonstram os documentos acostados aos autos que
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO obteve a incorporação ao seu vencimento de
VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – no valor de R$ 7.602,53 (sete mil,
seiscentos e dois reais e cinquenta e três centavos), por força da Lei 15.614/2006, a qual foi
julgada inconstitucional por decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás na ADI
274681-82.2010.8.09.0000. Apesar de o Tribunal de Justiça ter concedido efeito ex tunc à
decisão, para retroagir seus efeitos declaratórios e desconstitutivos a 11/05/2010, VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO continuou a perceber a referida vantagem até a data de sua
aposentadoria e incorporou-a aos proventos de aposentadoria, em total violação ao princípio
da legalidade, estampado no caput do artigo 37 da Constituição Federal e à coisa julgada.
Assim sendo, patente a fumaça do bom direito necessária
ao deferimento da tutela provisória de urgência, na forma do artigo 300 do NCPC.
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Por outro lado, presente também se faz o perigo de dano.
Tal requisito, que materializa o periculum in mora,
encontra-se consubstanciado na possibilidade de perpetuação da situação inconstitucional,
com sérios prejuízos ao erário estadual, haja vista que, até que se julgue definitivamente o
pedido, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO perceberá, de forma totalmente
inconstitucional, proventos de aposentadoria pelo Regime Próprio de Previdência Social, de
forma integral, em expressivo valor, bem superior àquele que, porventura teria direito se
vinculada estivesse ao Regime Geral de Previdência Social, em razão de um vínculo
inexistente com a Administração Pública Estadual.
Por outro lado, se suspensos forem os efeitos do ato de
aposentadoria, necessário também que se suspendam os efeitos dos atos de admissão sem
concurso público, de transposição e de efetivação no cargo de Assistente Legislativo –
categoria funcional – Assistente Administrativo – a fim de evitar que VALÉRIA JAIME
PERILLO continue no exercício de cargo público, de forma totalmente ilegítima, ilegal e
inconstitucional, com a percepção de remuneração de forma indevida e com inegáveis
prejuízos à força normativa da Constituição.
Assim, com base nos fundamentos ora expendidos, bem como
forte nos argumentos expostos ao longo desta petição inicial, requer o MINISTÉRIO
PÚBLICO seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela, com fundamento na
evidência (artigo 311 NCPC) e apenas de forma subsidiária, com fundamento na
urgência (artigo 300 NCPC), após a ouvida do Estado de Goiás, no prazo de 72 horas, nos
termos do artigo 2º da Lei 8.437/92, a fim de:
a) suspender os efeitos do Decreto de 24 de novembro de 2015,
da lavra do Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, que concedeu
aposentadoria a VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO pelo Regime Próprio de
Previdência Social, bem como do seu registro efetivado pelo Tribunal de Contas do Estado de
Goiás;
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b) suspender os efeitos dos atos de admissão sem concurso
público de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO no cargo de Pesquisador Legislativo,
bem como dos atos de transposição para o cargo de Assistente Administrativo,
posteriormente classificado como Assistente Legislativo – categoria funcional – Assistente
Administrativo, da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, e de efetivação no referido
cargo, operados pelo Decreto 1.275 de 12 de maio de 1988.
Subsidiariamente, apenas na hipótese de não ser acolhido o
requerimento de tutela provisória (fundada na urgência ou na evidência), conforme requerido
anteriormente, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO, sejam antecipados os efeitos da tutela,
nos termos do artigo 300 do NCPC, a fim de:
a) suspender o pagamento, nos proventos de aposentadoria ou
da remuneração (na hipótese de ser acolhido em parte o requerimento anterior), de
VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, da parcela relativa a VPNI – Vantagem Pessoal
Nominalmente Identificada – porquanto seu pagamento, conforme já amplamente explanado
não encontra fundamento legal, uma vez que a Lei 15.614/2006, que a concedeu, foi
declarada inconstitucional na ADI 274681-82.2010.8.09.0000, em decisão não mais sujeita a
recurso.
O fumus boni iuris resulta demonstrado por toda prova
documental acostada aos autos que demonstra que o ato normativo que fundamentava a
concessão da VPNI – Lei 15.614/2006 - foi julgado inconstitucional na ADI 274681-
82.2010.8.09.0000, em decisão não mais sujeita a recurso e que, além de declarar a
inconstitucionalidade da norma, desconstituiu os atos administrativos de incorporação dela
decorrentes, a partir de 11/05/2010.
Por outro lado, presente também se faz o perigo de dano
exigido pelo referido artigo 300 do NCPC.
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Tal requisito, que materializa o periculum in mora,
encontra-se consubstanciado na possibilidade de sérios prejuízos ao erário estadual em
razão da perpetuação dos pagamentos, de forma inconstitucional e ilegal, haja vista que,
até que se julgue definitivamente o pedido, VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO
perceberá, de forma totalmente inconstitucional, nos proventos de aposentadoria, parcela de
VPNI, em expressivo valor, sem que encontre amparo legal e com flagrante violação à
coisa julgada.
Tendo em vista a existência nos autos de informações de que
outras pessoas, alcançadas pela Lei 15.614/2006, continuaram a receber, após 11/05/2010, a
VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada -, bem como incorporaram-na aos
proventos de aposentadoria, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,
com base no artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor – CDC – c/c artigo 21 da Lei
7.347/85, seja concedida a antecipação da tutela, a fim de:
a) impor ao ESTADO DE GOIÁS a obrigação de fazer
consistente em identificar todos os servidores públicos que se beneficiaram da Lei
15.614/2010 e glosar da remuneração ou dos proventos de aposentadoria, caso já deferida, a
parcela relativa a VPNI, julgada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás,
em cumprimento à decisão judicial exarada nos autos da ADI ADI 274681-
82.2010.8.09.0000;
b) impor ao ESTADO DE GOIÁS a obrigação de fazer
consistente em proceder ao desconto, a título de restituição, no contracheque dos
beneficiários, a dos valores que tiverem sido pagos, de forma indevida, a partir de
11/05/2010, a título de VPNI, fundada na Lei 15.614/2010, limitado ao período de 05
(cinco) anos, a contar da data da propositura da presente ação, nos termos do artigo 54 da Lei
9.784/99.
O fumus boni iuris para a concessão da medida consubstancia-
se, nos termos do artigo 84 do CDC, na relevância do fundamento da demanda, uma vez que
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a VPNI fundada na Lei 15.614/2006 já foi declarada inconstitucional e, entretanto, continua
sendo paga aos seus beneficiários, numa flagrante violação ao princípio da legalidade e à
coisa julgada.
O periculum in mora resulta consubstanciado no fato de que, se
não for antecipada a tutela específica da obrigação ora requestada, em caráter liminar, vários
servidores públicos continuarão a perceber de forma totalmente inconstitucional parcelas
incorporadas à remuneração ou aos proventos de aposentadoria, com sérios prejuízos ao
erário estadual.
Para o cumprimento da referida obrigação, deverá Vossa
Excelência fixar prazo razoável.
V – DOS REQUERIMENTOS FINAIS E DO PEDIDO
Em razão do exposto e de tudo o que dos autos consta, requer o
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS:
a) o recebimento da petição inicial;
b) a adoção do procedimento comum, nos termos do disposto no
artigo 19 da Lei 7.347/85 c/c artigo 318 e seguintes do NCPC – Lei 13.105/2015;
c) a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, nos termos
do artigo 311, inciso II (tutela de evidência), e do artigo 300 (tutela de urgência), ambos do
NCPC, bem como no artigo 84, § 3º do Código de Defesa do Consumidor, tudo conforme
requerimento formulado no item IV desta petição inicial, ouvido o Estado de Goiás, no
prazo de 72 horas, nos termos do artigo 2º da Lei 8.437/92;
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d) tendo em vista a natureza da questão controvertida e não
sendo cabível a autocomposição, a citação de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO e
do ESTADO DE GOIÁS, este na pessoa do Procurador-Geral do Estado de Goiás, para que
contestem o pedido no prazo legal;
f) a produção de todas as provas em direito admitidas, inclusive
testemunhal, cujo rol será oportunamente ofertado;
g) a isenção do pagamento de taxas e emolumentos,
adiantamentos de honorários periciais e quaisquer outras despesas processuais.
Postula, por fim, a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO para:
1) DECLARAR A NULIDADE, por não recepcionado pela
Constituição Federal de 1988, do ato de admissão de VALÉRIA JAIME PEIXOTO
PERILLO no cargo de Pesquisador Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado de
Goiás, sem concurso público, pelo regime celetista, do ato de transposição para o cargo de
Assistente Administrativo, posteriormente classificado como Assistente Legislativo –
categoria funcional – Assistente Administrativo, pela Resolução 1.007/1999 da Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás, bem como do ato de efetivação de VALÉRIA JAIME
PEIXOTO PERILLO no referido cargo, operados pelo Decreto 1.275 de 12 de maio de
1988;
2) DECLARAR A NULIDADE do Decreto de 24 de novembro
de 2015, da lavra do Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, que concedeu
aposentadoria a VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO, com proventos integrais, pelo
Regime Próprio de Previdência Social, bem como do respectivo registro efetivado pelo
Tribunal de Contas do Estado de Goiás;
3) subsidiariamente, não sendo acolhidos os pedidos
anteriores, DECLARAR a inconstitucionalidade e ilegalidade da incorporação, aos proventos
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de aposentadoria de VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO da parcela relativa a VPNI –
Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada -, no valor de R$ 7.602,53 (sete mil, seiscentos
e dois reais e cinquenta e três centavos), com a respectiva exclusão da parcela dos
proventos de aposentadoria;
4) IMPOR A OBRIGAÇÃO DE FAZER ao ESTADO DE
GOIÁS de identificar os beneficiários da Lei 15.614/2006 e excluir da sua remuneração ou
dos proventos de aposentadoria, caso já concedida, os valores que ainda estiverem sendo
pagos a título de VPNI, fundada na Lei 15.614/2006, julgada inconstitucional pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás;
5) IMPOR A OBRIGAÇÃO DE FAZER ao ESTADO DE
GOIÁS de proceder ao desconto, a título de restituição, no contracheque dos beneficiários, a
dos valores que tiverem sido pagos, de forma indevida, a partir de 11/05/2010, a título de
VPNI, fundada na Lei 15.614/2010, limitado ao período de 05 (cinco) anos, a contar da
data da propositura da presente ação, nos termos do artigo 54 da Lei 9.784/99;
6) CONDENAR VALÉRIA JAIME PEIXOTO PERILLO à
RESTITUIÇÃO ao ESTADO DE GOIÁS dos valores recebidos indevidamente, a título de
VPNI – Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – após 11/05/2010, data em que os
atos concessivos foram desfeitos, devidamente corrigidos monetariamente, limitados ao
período de 05 (cinco) anos, a contar da data da propositura da presente ação, nos
termos do artigo 54 da Lei 9.784/99, os quais totalizam, até a data da propositura da
ação R$ 378.235,81 (trezentos e setenta e oito mil, duzentos e trinta e cinco reais e
oitenta e um centavos) e de todos os valores que, porventura, forem pagos a VALÉRIA
JAIME PEIXOTO PERILLO, a título de VPNI, a partir da propositura da ação, todos
corrigidos monetariamente.
Dá à causa o valor de R$ 378.235,81 (trezentos e setenta e oito
mil, duzentos e trinta e cinco reais e oitenta e um centavos).
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A presente petição inicial é instruída com documentos que
integraram os autos de ICP de protocolo nº 201500143233, em 08 (oito) anexos.
Goiânia, 18 de março de 2016.
FABIANA LEMES ZAMALLOA DO PRADO RODRIGO CÉSAR BOLLELI FARIA
PROMOTORA DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA
FELIPE OLTRAMARI RAFAEL SIMONETTI DA SILVA
PROMOTOR DE JUSTIÇA PROMOTOR DE JUSTIÇA