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PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS DA COMARCA DE NATAL E NÚCLEO DE CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL - NUCAP Rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, 110. Candelária. Natal/RN. CEP 59.065-555 - Fone (84) 3232-7015 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através das Promotorias de Investigações Criminais e do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (NUCAP), com sede no endereço constante do cabeçalho, neste ato representado pelos Promotores de Justiça adiante assinado, com amparo nos artigos 6º, 127, 129, inciso III, e 144, da Constituição Federal, artigos 5º, inciso I, e 25, inciso IV, alínea b, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 e demais leis atinentes à matéria, vem, respeitosamente, perante V. Ex.ª, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR, consistente na imposição de obrigação de fazer e não fazer, em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa jurídica de direito público interno (CC, art. 41, II), inscrito no CNPJ/MF sob o nº 08.241.788/0001-30, representado pela Procuradoria-Geral do Estado, com endereço para citação e intimações na Avenida Afonso Pena, nº 1.155, bairro do Tirol, Natal/RN, pelas razões e fundamentos abaixo expendidos.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE … Íntegra da ação... · 4 BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Celso Bastos Edito,

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO

DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL,

A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE, através das Promotorias de Investigações Criminais e do Núcleo de

Controle Externo da Atividade Policial (NUCAP), com sede no endereço

constante do cabeçalho, neste ato representado pelos Promotores de Justiça

adiante assinado, com amparo nos artigos 6º, 127, 129, inciso III, e 144,

da Constituição Federal, artigos 5º, inciso I, e 25, inciso IV, alínea b, da Lei

nº 7.347, de 24 de julho de 1985 e demais leis atinentes à matéria, vem,

respeitosamente, perante V. Ex.ª, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM

PEDIDO LIMINAR, consistente na imposição de obrigação de fazer e

não fazer, em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa

jurídica de direito público interno (CC, art. 41, II), inscrito no CNPJ/MF sob

o nº 08.241.788/0001-30, representado pela Procuradoria-Geral do Estado,

com endereço para citação e intimações na Avenida Afonso Pena, nº 1.155,

bairro do Tirol, Natal/RN, pelas razões e fundamentos abaixo expendidos.

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I – DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO

NA TUTELA DOS DIREITOS DIFUSOS

A Constituição Federal, em seu art. 129, ao tratar das funções

institucionais do Ministério Público, dispõe no inciso III, ser a instituição

parte legítima para promover o inquérito civil e a ação civil pública, para

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos, sendo incumbido, ainda, de defender a ordem

jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais

indisponíveis, em consonância com o estatuído no art. 127 da mesma Carta.

Essa mesma atribuição é consagrada no art. 25, inc. IV, da Lei

nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). A Lei nº 7.347,

de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública), por sua vez,

recepcionada pela Carta Magna de 1988, também agasalha o Ministério

Público como parte legítima para a proposição da ação civil pública.

No caso vertente, resta clara a legitimidade e o interesse do

Ministério Público no ajuizamento da presente ação, cujo escopo é

assegurar o gasto desarrazoado e irracional de verbas públicas na

contratação de serviços publicitários em detrimento da efetiva escassez de

investimentos na seara de serviços essenciais, conduta ilícita que prejudica,

dentre outros direitos sociais constitucionalmente previstos, o direito social

difuso à segurança pública.

II – DOS FATOS QUE DERAM ENSEJO AO AJUIZAMENTO DA

PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Em 28 de fevereiro de 2014 foi firmado contrato entre a

Assessoria de Comunicação Social do Estado do Rio Grande do Norte –

ASSECOM e diversas empresas do ramo da publicidade, para a prestação de

serviços de publicidade, conforme extrato do contrato publicado no Diário

Oficial do sábado que iniciava as festividades carnavalescas, 1º de março de

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20141.

O contrato foi firmado no vultoso montante de R$

25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais), valor proveniente das

verbas destinadas à divulgação de ações governamentais, com vigência

correspondente a 28 de fevereiro de 2014 a 27 de fevereiro de 2015.

Muito embora o Estado do Rio Grande do Norte esteja

passando por uma penosa situação de crise administrativa, mormente nas

áreas da saúde, educação, segurança pública (em sentido amplo,

abrangendo aqui também os sistemas socioeducativo e penitenciário),

somado à escassez de recursos hídricos2, o valor do contrato revela uma

inversão inaceitável de prioridades na destinação das verbas públicas.

No caso em tela, está evidenciada a preferência na

realização de gastos com publicidade em detrimento das despesas

prioritárias concretizadoras de direitos fundamentais e sociais.

Nunca é demais ressaltar que os gastos públicos devem ser

pautados pelo atendimento ao interesse público primário, os interesses da

coletividade como um todo. Nesse sentido, e de acordo com a doutrina

italiana3, os interesses secundários só podem ser atendidos quando

coincidentes com os interesses públicos primários.

O gestor deve sempre estar vinculado ao atendimento do

interesse público e aos princípios constitucionais, sobretudo aos da

razoabilidade e proporcionalidade, não podendo adotar medidas

absurdas e danosas ao interesse público, verdadeiras arbitrariedades

transvestidas sob o manto da discricionariedade.

Portanto, ainda que se alegue que a despesa é legal, do ponto

de vista formal, deve-se observar a legitimidade da despesa frente aos

valores mais caros à sociedade. É o que Celso Ribeiro Bastos destaca: “um

1 Foram contratadas as empresas ART & C Comunicação Integrada LTDA., Base Propaganda LTDA.,

Criola Propaganda LTDA., DOIS A Publicidade Eireli-EPP, FAZ Propaganda LTDA., RAF

Comunicação e Marketing LTDA, através do Processo nº 44.502/2013. 2 Decreto Estadual nº 23.801, de 18 de setembro de 2013.

3 ALESSI, Ricardo. Sistema Istituzionale del Diritto Amministrativo Italiano. 3ª ed. Milão, Giuffre

Editore, 1960, p. 167 apud BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito

Administrativo, 21ª Ed. São Paulo, Editora Malheiros 2006.

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dispêndio excessivo com atividades de representação ou mesmo com

cerimônias festivas, embora regulares do ponto de vista legal, visto que

financiados por verbas competentes do orçamento, podem ter a sua

legitimidade questionada4.

Diante da afirmação feita pelo Governo do Estado de que

inexistem recursos orçamentários suficientes para a efetiva prestação dos

serviços da área de Segurança Pública, clara está a necessidade de se

reforçar os recursos financeiros das ações e serviços fundamentais na

segurança pública – o que ora se requer com o pedido ao final formulado de

suspensão do pagamento do contrato, bloqueio do valor e o de

remanejamento dos recursos para a segurança pública.

Como sabido, preconiza nossa Carta Magna que são direitos

sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, bem

como a assistência aos desamparados.

Direitos esses que visam “garantir aos indivíduos o exercício e

usufruto de direitos fundamentais, em condições de igualdade, para que

tenham uma vida digna, por meio da proteção e garantias dadas

pelo Estado Democrático de Direito. Os direitos sociais foram

conquistados principalmente ao longo dos séculos, sendo a maioria deles no

século XX por meio da pressão de movimentos sociais e de trabalhadores.

Caracterizam-se por serem direitos fundamentais e

necessariamente sujeitos à observância do Estado”5.

Portanto, a garantia desses direitos se dá por meio de leis e,

muitas vezes, ações judiciais que proíbem do Estado certos procedimentos

lesivos ao ser humano. São imprescindíveis leis, regulamentos e medidas

públicas de promoção e fortalecimento desses direitos, pois os direitos

sociais somente poderão ser realizados por meio das políticas

públicas, que fixam, de maneira planejada, diretrizes e atitudes da

4 BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Celso Bastos Edito,

2002. p. 151. 5 RAMOS, Elisa Maria Rudge. Evolução histórica os direitos sociais. Disponível em

http://www.lfg.com.br. 19 de dezembro de 2008.

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ação do Poder Público perante da sociedade.

No Estado do Rio Grande do Norte, como em muitos Estados-

membros de nossa Federação, as políticas públicas que deveriam garantir a

prestação de serviços essenciais à população, assegurando o mínimo de

vida digna por meio de melhorias nas áreas de saúde, educação, segurança

e em outras searas sociais, vêm sendo cada dia mais esquecidas.

Como se sabe, o Rio Grande do Norte, nos últimos anos,

vivencia situação de precariedade em diversos setores, seja na saúde com a

greve de servidores e lotação de enfermos em hospitais públicos, na

educação pela falta de estrutura nas escolas e de professores, no

abastecimento de água, principalmente, no interior do Estado, aumento no

número de doenças graves como a AIDS, falta de saneamento básico em

diversos municípios, ruas e estradas em péssimas condições de acesso – e,

neste contexto, não podemos deixar de ressaltar o lamentável quadro na

segurança pública do Estado.

A “segurança pública” deve ser um processo, ou seja, uma

sequência contínua de fatos ou operações que apresentam certa unidade ou

que se reproduzem com certa regularidade, que compartilha uma visão

focada em componentes preventivos, repressivos, judiciais e de observância

à saúde e à realidade social. Um processo sistêmico, pela necessidade da

integração de um conjunto de conhecimentos e ferramentas estatais que

devem interagir a mesma visão, compromissos e objetivos. Deve ser

também otimizado, pois dependem de decisões rápidas, medidas

saneadoras e resultados imediatos. O processo de segurança pública se

inicia pela prevenção e finda na reparação do dano, no tratamento das

causas e na reinclusão na sociedade do autor do ilícito.

Porém, a tranquilidade e falta de compromisso do atual

Governo do Estado com tal política social é assustador. Diariamente

acompanhamos em jornais, artigos, notícias, redes sociais e até mesmo

vivenciamos as consequências de uma má administração na área de

segurança pública, que geram escassez de pessoal, delegacias com

péssimas estruturas, falta de materiais e equipamentos de trabalho (ao

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ponto de viaturas ficarem paradas por falta de combustível ou de troca de

óleo ou pneu), aumento da criminalidade, greves e fatores diversos que

acarretam prejuízos, muitas vezes irreversíveis à população potiguar e aos

que por aqui transitam a passeio ou a trabalho.

É notoriamente crescente a violência em todo o Rio Grande do

Norte. Em 2012 foram contabilizados 952 homicídios, uma média de 2,6

mortes por dia. No ano passado, a taxa diária de homicídios registrada no

Estado cresceu 50% em relação ao ano de 2012, de acordo com números

divulgados pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania

(COEDHUCI). Em apenas 66 (sessenta e seis) dias deste ano – 07 de março

de 2014 - o homicímetro no RN já registrou 300 assassinatos.

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O aumento da criminalidade na Capital e no interior tem

preocupado a todos e não existe nenhum tipo de investimento direcionado

ao combate desta crescente.

Observamos também dados e informações mais recentes

publicados em artigo, datado de 1º de março de 2014, por Ivenio Hermes e

Marcos Dionísio Medeiros Caldas6 mostrando que a realidade lastimável da

segurança pública no RN só se perpetua. A seguir:

“Segurança Pública Eclipsada: A Não Contratação Para as Polícias

Estaduais no RN. Ivenio Hermes e Marcos Dionísio Medeiros

Caldas

A COPA de Futebol 2014 se avizinha e nem isso faz com que a

segurança pública do RN seja tratada com a devida seriedade, resultando

em um crescente número de crimes em todas as esferas.

6 HERMES, Ivenio; CALDAS, Marcos Dionisio Medeiros. Segurança Pública Eclipsada: A Não

Contratação Para as Polícias Estaduais no RN. 2014. Disponível em: < http://j.mp/1hCxLyu >.

Publicado em: 26 fev. 2014.

SOBRE OS AUTORES:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio

literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos

Humanos, Direito e Ensino Policial.

Marcos Dionísio Medeiros Caldas, advogado e militante dos Direitos Humanos, Presidente do Conselho

Estadual de Direitos Humanos/RN e Coordenador do Comitê Popular da Copa – Natal 2014, com efetiva

participação em uma infinidade de grupos promotores dos direitos fundamentais, além de ser mediador

em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de uma forma geral.

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O ano de 2013 encerrou com 22 municípios do Rio

Grande do Norte com incidência acima de 10 crimes violentos

letais e intencionais, e já em apenas 56 dias de 2014, cinco

municípios já alcançaram esse número, sendo que Macaíba,

Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Mossoró, repetem

seus papeis na elevação da escala da violência.

Contrapondo aquilo que se espera de uma administração

pública humanista, voltada para os problemas sociais mais

emergentes, o Governo do RN age como se não percebesse a grande

ceifa que a morte colhe quase todos os dias nas terras de Poti, pois,

como diz o jornalista Cezar Alves, a Administração de Rosalba Ciarlini

“possui outras prioridades” diferentes daquelas que toda a população

anseia e o bom senso aconselha observar para o fortalecimento da

Democracia e do Estado de Direito.

Não é de hoje que a pauta da segurança da população é

apenas uma nota de rodapé, que serve apenas para constar, na

agenda das ações planejadas pelo atual governo, que vem preterindo

ações empreendedoras mais sustentáveis e condizentes com a nossa

triste realidade, desde a sua assunção em janeiro de 2011.

(...)

Ainda é possível citar outras mungangas do Governo do RN,

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como a Divisão de Homicídios que nunca sai do papel, as

diárias e as férias constantemente atrasadas dos policiais

militares e civis, atrasos verificados até nas diárias referente a

ações cujo sucesso, como no caso do feliz desfecho dos sequestros

dos Porcinos, são repetidos como um mantra nas veiculações da

mídia governista, como se o esforço e instrumentos particulares

investidos no episódio desobrigasse o Estado de realizar suas

obrigações.

Uma das controvérsias mais contundentes, está na falta de

interesse em ampliar o plantel de policiais, deixando de se

recrutar 824 dispostos candidatos aptos para o curso de

formação na Polícia Militar ou nomear os Concursados e

convocar novo curso de formação para os Suplentes da Polícia

Civil, um contrassenso da Governadora Rosalba Ciarlini, que

enquanto senadora, foi uma voraz defensora da nomeação de

concursados, e hoje age como se não lembrasse de suas palavras no

Congresso Nacional.

Quaisquer que fossem as motivações para deixar de contratar

policiais, elas não teriam lastro diante do genocídio em curso no Rio

Grande do Norte, que como costumamos dizer, se transformou num

Rio Grande de Morte, como podemos constatar no número de

assassinatos de crianças, adolescentes e jovens até 21 anos de idade

em 2013, e ainda restringindo os dados apenas aos bairros de Natal.

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Haveria certamente uma diminuição substancial na

violência homicida e nos outros crimes se o policiamento

ostensivo recebesse 824 novos policiais militares, e havendo

mais policiais no policiamento investigativo, poderíamos

vislumbrar um resgate da atividade da Polícia Civil no Estado,

que hoje sobrevive de operações pontuais ensejadas pelo empenho

de policiais cuja vontade de servir é maior do que a falta de respeito

com sua profissão.

O Governo do Estado insiste em encontrar em terceiros os

culpados pela sua desídia, ora assacando contra o Ministério Público

ora contra o Tribunal de Contas, bramindo a Lei de Responsabilidade

Fiscal para justificar a não contratação de policiais. Recorde-se que já

repetimos a exaustão, como já foi demonstrado em nossos textos

desde agosto de 2011 que a Lei de Responsabilidade Fiscal busca o

equilíbrio para assegurar a governabilidade e como tal, abraça

algumas exceções ao limite prudencial ao tratar de “decisões

judiciais” conforme podemos ler no artigo 19, § 1º.

(…)

E o descaso no trato com a segurança pública potiguar

se reflete, dentre outros aspectos, no quadro de mortes de

adolescentes e jovens até aos 21 anos de 2013, que já

começa a perversamente se repetir em 2014 num modo

contínuo.

(...)

Existe uma fartura de documentos jurídicos que respaldariam

o atual Governo do RN na busca pela minoração urgente dos índices

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criminais, mas tudo que se pode esperar atualmente são as

gambiarras disfarçadas de equipes especiais de investigação quando

há comoção pública ou desarticulações de ações como a Operação

Avante da Polícia Militar que já havia reduzido ou estabilizado as

ocorrências criminais em dadas áreas onde esteve atuando.

O Estado teve tempo, recursos e apoio da sociedade para se

preparar para sediar a Copa do Mundo.

Como legado do evento poderíamos sair com serviços públicos

mais qualificados, universais e democráticos.

Pela falta de ousadia e pela mediocridade perversa da

gestão, corremos o risco de perdermos investimentos em

materiais e equipamentos para a Segurança da ordem de R$

100 milhões, pela ausência de contrapartida de R$ 35

milhões, nos avizinhamos de perder igualmente cerca de R$

40 milhões iniciais do Brasil Mais Seguro, repetindo, aliás, o

gol contra da devolução dos R$ 12 milhões que deveriam ter

recuperados nossas delegacias de Polícia.

Com os elevados índices de homicídios e dentre esses, o

genocídio contra crianças, adolescentes e jovens, moradores de rua,

travestis e mulheres; a profusão de assaltos, agressões, roubos,

furtos, roubos de carros, o RN mal se preparou para receber a Copa

do Mundo em meio a uma guerra Civil.

Com o alastramento do funcionamento de Grupos de

Extermínio, de Justiceiros e sob o império da lei de Talião não está

sendo difícil a Guerra Civil Potiguar nos levar à pura Barbárie.”

Como bem ressaltado acima pelo Presidente do Conselho

Estadual de Direitos Humanos, a desastrosa Administração do Estado foi a

vice-líder na devolução de verbas federais que deveriam ter sido destinadas

a melhorias na segurança pública. Nos últimos três anos, o Estado do

Rio Grande do Norte devolveu R$ 12,08 milhões.

O Secretário de Segurança e Defesa Social explicou, na época,

que a devolução ocorreu devido a fatores burocráticos que ultrapassavam

os limites de atuação da Secretaria, tais como, regularização fundiária de

imóveis (terrenos onde estão construídas delegacias), contrapartidas de

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convênios (repasse não efetuados devido ao limite prudencial do

governo do estado), convênios vencidos de gestões anteriores, ações

aguardando pronunciamentos judiciais, bem como prestação de contas de

convênios anteriores.

A fim de apurar cometimento ou não de improbidade

administrativa pelo Secretário de Segurança, o Ministério Público instaurou

inquérito civil sob a responsabilidade da 60ª Promotoria de Justiça (defesa

do patrimônio público) com o auxílio de outros membros ministeriais.

Além disso, não bastassem os mais de R$12 milhões

perdidos, o Rio Grande do Norte corre o risco de perder mais

aproximadamente R$50 milhões de reais que seriam viabilizados

através do Programa Brasil Mais Seguro, do Governo Federal.

O Programa Brasil Mais Seguro integra o Plano Nacional de

Segurança Pública do Ministério da Justiça, que realiza ações voltadas para

o fortalecimento das fronteiras, o enfrentamento às drogas, o combate às

organizações criminosas, a melhoria do sistema prisional, a segurança

pública para grandes eventos, a criação do Sistema Nacional de Informação

em Segurança Pública e a redução da criminalidade violenta.

O Programa de Redução da Criminalidade Violenta tem como

objetivo induzir e promover a atuação qualificada e eficiente dos órgãos de

segurança pública e do sistema de justiça criminal, focado na qualificação

dos procedimentos investigativos e na maior cooperação e articulação entre

as Instituições de Segurança Pública e o Sistema de Justiça Criminal (Poder

Judiciário e Ministério Público).

Os recursos da União serão liberados mediante execução do

cronograma de metas por parte do Governo do Rio Grande do Norte.

Enquanto que a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJ)

auxilia no reaparelhamento das unidades operacionais do Estado, de forma

a qualificar a investigação criminal e enfrentar a impunidade, cabe ao

Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN/MJ) custear as ações de

aperfeiçoamento do sistema prisional.

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O aporte financeiro tem como foco a prevenção e o combate

aos crimes letais intencionais, como homicídios e latrocínios. O Brasil Mais

Seguro prevê a atuação qualificada das instituições de segurança pública do

RN e a melhoria da gestão da política local de enfrentamento à violência. O

programa também irá garantir à região metropolitana de Natal/RN ações de

capacitação, valorização profissional e articulação com o sistema de Justiça

Criminal.

Nesse contexto, segue abaixo tabela demonstrativa da relação

de alguns convênios assinados pelo Rio Grande do Norte para o Programa

Brasil Mais Seguro e que ainda não tiveram a contrapartida do governo do

Estado:

O RN é o terceiro Estado a receber as ações do Brasil Mais

Seguro, seguindo os passos da Paraíba, que aderiu ao programa no início do

mês de maio de 2013, e de Alagoas, onde o programa foi implantado, em

caráter piloto, em junho de 2012, alcançando resultados positivos para a

segurança pública. Com o pacto, foi registrada, até setembro de 2013, a

redução de 18% na taxa de homicídios de Alagoas e de 26% na de Maceió,

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durante um ano e três meses, desde que o programa foi lançado.7

Nesse prisma, a 19ª Promotoria de Justiça de Natal – Núcleo

de Controle Externo da Atividade Policial (NUCAP) – instaurou procedimento

para acompanhar o cumprimento e a execução, no Rio Grande do Norte, da

matriz de responsabilidade do programa do Governo Federal Brasil Mais

Seguro – PA nº 004/2014 – 19ªPmJN (NUCAP).

Entretanto, o Governo Estadual além de não se mostrar

faticamente preocupado com a possível perda de recursos federais,

somado aos já devolvidos, pasmem, absurdamente, celebra contrato

de prestação de serviços publicitários para divulgações de ações

governamentais, NO VALOR DE R$ 25.000.000,00 (VINTE E CINCO

MILHÕES REAIS), o que, conforme o dito popular, “seria cômico se

não fosse trágico”.

Pois é, no último dia 1º, do mês de março de 2014 (em pleno

sábado de carnaval), foi publicado no Diário Oficial do Rio Grande do Norte

o RESUMO DE CONTRATO firmado entre o Estado do Rio Grande do Norte,

através da Assessoria de Comunicação Social – ASSECOM, e as empresas

ART & C Comunicação Integrada LTDA, Base Propaganda LTDA, Criola

Propaganda LTDA, DOIS A Publicidade Eireli-EPP, FAZ Propaganda LTDA,

RAF Comunicação e Marketing LTDA, cujo objetivo é a prestação de serviços

de publicidade para divulgação de ações governamentais:

“ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – ASSECOM

RESUMO DE CONTRATO

CONTRATANTE: Assessoria de Comunicação Social – ASSECOM

CONTRATADO: ART & C Comunicação Integrada LTDA., Base Propaganda

LTDA., Criola Propaganda LTDA., DOIS A Publicidade Eireli-EPP, FAZ

Propaganda LTDA., RAF Comunicação e Marketing LTDA.

PROCESSO N°: 44.502/2013-6

OBJETIVO: Prestação de serviços de publicidade.

VALOR: R$ 25.000.000,00 (Vinte e cinco milhões de Reais)

DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA: 11.105.24.131.0100 – 0001

7 http://www.brasil247.com/pt/247/alagoas247/116203/Brasil-Mais-Seguro-gastou-R$-200-

milh%C3%B5es-em-Alagoas.htm

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Projeto de Atividade: 21.110 – Divulgação de Ações Governamentais

Elemento da despesa: 3390.39 – Outros Serviços de Terceiros Pessoa

Jurídica.

FONTE: 100 e 122

VIGÊNCIA: 28/02/2014 a 27/02/2015.

Natal/RN 28 de fevereiro de 2014.

Francisco de Paulo Araújo – CONTRATANTE

Arturo Silveira Dias de Arruda Câmara (ART & C Comunicação Integrada

LTDA.), Eurico Barbalho Simonetti Macedo (BASE Propaganda LTDA.),

Giordano Queiroz da Cunha (Criola Propaganda LTDA.), Lana Mendes

Cavalcante (DOIS A Publicidade Eirelli – EPP), Ricardo Antônio Rosado de

Holanda (FAZ Propaganda LTDA.), Rogério Nurmberger Nunes (RAF

Comunicação e Marketing LTDA.) – CONTRATADOS

Testemunhas: André Henrique Simões da Silva – CPF: 066.322.834-46

Wyannê Bezerra de Oliveira– CPF: 011.786.354-81”8

O referido contrato tem vigência de 01 (um) ano, período entre

28.02.2014 a 27.02.2015, e foi celebrado pelo valor de R$ 25.000.000,00

(vinte e cinco milhões de reais).

É evidente a significância de tal valor investido em publicidade

quando a segurança pública do Estado encontra-se falida. A população vive

com medo e insegura. O sentimento é de não ter a quem pedir socorro. E

esse valor, certamente, fará diferença relevante se destinado a esta

vertente.

Gestos desta natureza, de forma inequívoca, somente nos

comprovam que, infelizmente, os gestores públicos brasileiros ainda não se

deram conta da importância em priorizar investimentos na segurança

pública, pois, se do contrário fosse, recursos públicos somente seriam

destinados à contratação de serviços publicitários de divulgação de ações

governamentais, após resolução de problemas que gozam de prioridade,

como educação, saúde, segurança pública e transporte.

Frise-se que não estamos nos posicionando contrários à

8 http://187.60.79.2/dei/dorn/docview.aspx?id_jor=00000001&data=20140301&id_doc=451544

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publicidade das ações governamentais, mesmo porque é princípio

constitucional a ser respeitado. Mas se o mínimo existencial a ser prestado

à população não está sendo executado, quais as ações governamentais que

o Estado teria a publicar que justificasse o vultuoso valor de R$

25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais) em detrimento do

investimento necessário a serviços essenciais?

Realmente, a atual Administração do Estado “possui outras

prioridades” diferentes daquelas que toda a sociedade norteriograndense

anseia e o bom senso aconselha observar para o fortalecimento da

Democracia e do Estado de Direito.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

A) DA DISPONIBILIDADE FINANCEIRA-ORÇAMENTÁRIA

A Lei Orçamentária Anual – LOA é o instrumento de execução

do planejamento governamental, com a previsão de recursos financeiros e

sua utilização para o alcance das metas e objetivos planejados. Contém a

discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política

econômica financeira e o programa de trabalho do Governo.

Todos os programas e ações governamentais que geram

despesas devem ter previsão e adequação orçamentária na Lei

Orçamentária Anual – LOA, com dotação específica e suficiente9. Dessa

forma, são vedados o início de programas ou projetos não incluídos na LOA,

bem como a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas

que excedam os créditos orçamentários ou adicionais. De igual forma, não

se pode instituir um programa sem limitar o valor de sua dotação ou sem

detalhar a despesa, como decorrência do princípio da especificação10.

Diante de uma situação em que a despesa não possui previsão

9 Art. 16, II e §1º, I da LRF

10 Princípio reconhecido pela doutrina e extraído da leitura conjunta do Art. 5º da Lei 4.320/64 e Art. 5º,

§4º da LRF

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orçamentária ou que a sua estimativa for insuficiente, o gestor tem o

dever-poder de abrir créditos adicionais para autorizar essas despesas. Na

preciosa lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, o poder, meramente

instrumental, está subordinado ao dever de bem cumprir a finalidade do

atendimento ao interesse público ao qual o poder foi outorgado,

sobressaindo esse aspecto finalístico11.

Os créditos adicionais servem para realizar “ajustes

orçamentários” durante a sua execução, alterando o Orçamento Anual para

atender a necessidades supervenientes. Por ser instrumento de alteração da

Lei Orçamentária Anual, os créditos adicionais seguem o mesmo rito da LOA

quanto a sua apreciação e votação12 e o ato que o abrir – que pode ser o

decreto, lei ou medida provisória – deverá indicar a importância, a espécie e

a classificação da despesa até onde for possível, nos termos do art. 46 da

Lei nº 4.320/64.

Os créditos adicionais compreendem os créditos

suplementares, especiais e extraordinários, que são definidas pelo art. 41

da Lei nº 4.320/64:

Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em:

I - suplementares, os destinados a reforço de dotação

orçamentária;

II - especiais, os destinados a despesas para as quais não

haja dotação orçamentária específica;

III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e

imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou

calamidade pública.

Pois bem. Aqui tratar-se-á especificamente do crédito

suplementar, que é utilizado quando já existe uma despesa prevista no

orçamento que não possui dotação orçamentária suficiente para a execução

da ação governamental, necessitando, portanto de um reforço

orçamentário.

11

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, 21ª Ed. São Paulo,

Editora Malheiros 2006, p. 60. 12

No âmbito federal, o rito é previsto no art. 166 da CF. No Estado do Rio Grande do Norte, o rito é

previsto no Art. 107 da Constituição Estadual.

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A própria Lei Estadual nº 9.826/2014 – Lei Orçamentária Anual

do Estado do Rio Grande do Norte em 2014 – LOA 2014, contém uma

autorização para que o administrador proceda, através de decreto, a

abertura de crédito suplementar, que visa a reforçar a dotação

orçamentária, a fim de que sejam destinados mais recursos para a

realização das despesas. A autorização é prevista nos arts. 9º a 12, com

destaque ao art. 9º que autoriza a abertura de crédito suplementar no

limite de 5% do total de despesas fixadas no programa de trabalho,

correspondente ao valor de R$ 607.431.400,00 (seiscentos e sete

milhões, quatrocentos e trinta e hum mil e quatrocentos reais).

Se por um lado existe a possibilidade de abertura de créditos

suplementares por outro estes só poderão ser abertos se houver recursos

disponíveis para ocorrer a despesa. A Lei Federal nº 4.320/64 em seu art.

43 prevê quatro hipóteses de recursos para os créditos suplementares e

adicionais: i) superavit financeiro do exercício anterior; ii) excesso de

arrecadação; iii) anulação parcial ou total de dotação ou crédito adicional;

iv) operações de crédito, in verbis:

Art. 43. A abertura dos créditos suplementares e especiais

depende da existência de recursos disponíveis para ocorrer a

despesa e será precedida de exposição justificativa. (Veto

rejeitado no D.O. 05/05/1964)

§ 1º Consideram-se recursos para o fim deste artigo, desde

que não comprometidos: (Veto rejeitado no D.O.

05/05/1964)

I - o superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do

exercício anterior; (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)

II - os provenientes de excesso de arrecadação; (Veto

rejeitado no D.O. 05/05/1964)

III - os resultantes de anulação parcial ou total de dotações

orçamentárias ou de créditos adicionais, autorizados em Lei;

(Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)

IV - o produto de operações de crédito autorizadas, em

forma que juridicamente possibilite ao poder executivo

realizá-las. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)

§ 2º Entende-se por superávit financeiro a diferença positiva

entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, conjugando-

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se, ainda, os saldos dos créditos adicionais transferidos e as

operações de crédito a eles vinculadas. (Veto rejeitado no

D.O. 05/05/1964)

§ 3º Entende-se por excesso de arrecadação, para os fins

deste artigo, o saldo positivo das diferenças acumuladas mês

a mês entre a arrecadação prevista e a realizada,

considerando-se, ainda, a tendência do exercício. (Veto

rejeitado no D.O. 05/05/1964) (Vide Lei nº 6.343, de 1976)

§ 4° Para o fim de apurar os recursos utilizáveis,

provenientes de excesso de arrecadação, deduzir-se-á a

importância dos créditos extraordinários abertos no exercício.

(Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)

Essas hipóteses não são exaustivas, haja vista que existem

outras fontes corriqueiramente utilizadas para abertura de tais créditos,

quais sejam: i) utilização dos recursos provenientes de Convênio; ii) a

utilização de Reserva de Contingência; e iii) os recursos sem despesas

correspondentes.

No caso concreto, destacamos duas possíveis fontes de

recursos para o atendimento das necessidades prementes da área da

Segurança Pública.

a) a anulação parcial ou total de dotação prevista na

divulgação de ações governamentais (dotação

11.105.24.131.0100-0001; Projeto de Atividade:

21.110 – Divulgação de Ações governamentais) no

valor previsto pela Lei Orçamentária Anual do Estado do

Rio Grande do Norte em 2014, Lei Estadual

9.826/2014, de R$ 17.446.000,00 (dezessete

milhões, quatrocentos e quarenta e seis reais),

fonte de recursos da contratação realizada com a

Assessoria de Comunicação Social do Estado do Rio

Grande do Norte – ASSECOM, ora impugnada;

b) a anulação parcial ou total de dotação prevista na

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reserva de contingência (projeto de atividade: 99990 -

Reserva de Contingência), no valor previsto pela Lei

Orçamentária Anual do Estado do Rio Grande do Norte

em 2014, Lei Estadual 9.826/2014, de R$

33.445.000,00 (trinta e três milhões,

quatrocentos e quarenta e cinco mil reais).

A reserva de contingência é uma fonte de recursos utilizada

para abertura de créditos adicionais que tem por finalidade atender aos

passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos (Art. 5º,

III, b, LRF). Trata-se de uma dotação global que não é destinada a

determinado programa ou unidade orçamentária, e seus recursos serão

utilizados, seja para abertura de créditos suplementares ou especiais.

De acordo com a Lei Estadual nº 9.826/2014, LOA 2014,

destina-se a reserva de contingência a suplementar dotações orçamentárias

relativas a despesas de toda natureza, que no decorrer do exercício se

tornem insuficientes, seja em função da necessidade de ajuste orçamentário

ou outras de ordem econômica.

B) DO CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS NO USO DE VERBAS

PÚBLICAS - CONTRATAÇÃO COM EMPRESAS DE PUBLICIDADE EM

DETRIMENTO DA APLICAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL NO ÂMBITO

DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO.

A Democracia não pode e não deve ser apenas um

mandamento constitucional a reger politicamente uma nação, deve provir

de uma cultura cívica e possuir meios de controle que permitam verdadeira

justiciabilidade e coerência dos atos institucionais.

Assim, a mais moderna doutrina neoconstitucionalista e a atual

jurisprudência são no sentido de que o nosso Direito Constitucional impõe

que tenhamos como centro do ordenamento jurídico o valor da dignidade

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da pessoa humana e a consequente promoção dos direitos

fundamentais da população.

Desta forma, comenta com bastante propriedade Marcus

Aurélio Freitas de Barros13 a moderna doutrina da professora Ana Paula

Barcellos:

“Reconhece esta autora, portanto, que a Constituição deixa de

ser um documento meramente político, dotado de baixíssima

imperatividade, para ser elevada a norma jurídica suprema.

Seu conteúdo, ademais, deve ser privilegiado, ressaltando-se

as seguintes características: a) a incorporação explícita de

valores e opções políticas nos textos constitucionais, sobretudo

no que diz respeito à promoção da dignidade e dos direitos

fundamentais; e, b) a expansão de conflitos entre as opções

normativas e filosóficas existentes dentro do sistema.”

O esforço atual, pois, é tentar compatibilizar as noções de

normatividade, superioridade e centralidade da Constituição (traços

metodológicos-formais) com o objetivo de dar concreção aos fins, metas e

objetivos incorporados pela Carta Magna (aspecto material). Do conjunto

dessas nuances, é possível perceber nitidamente a grande missão do

neoconstitucionalismo: resguardar o espaço constitucional, efetivando

valores e opções políticas protegidos pela Lei Maior, onde seus princípios

deixaram o simples status de norma para então serem regras diretamente

aplicadas ao caso concreto.

Mandamentos que devem ser respeitados por todos os

Poderes, principalmente, pelo Poder Executivo, que como gestor da

Administração Pública, tem o dever de gerir seus atos com base nos

princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência, dentre tantos outros.

Assim, instituiu-se uma espécie de controle sobre os “planos”

13

Controle Jurisdicional de Políticas Públicas: parâmetros objetivos e tutela coletiva. Porto

Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2008, pág.42.

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da Administração Pública14 pelos poderes de Estado, com a finalidade de

assegurar que a mesma atue em consonância com os princípios que lhes

são impostos pelo ordenamento jurídico.15

O chamado “plano” é instrumento das políticas públicas, e

geralmente vem pré-determinado em lei, a qual estabelece os objetivos da

política, suas metas temporais, os instrumentos institucionais de sua

realização e outras condições de implementação com vista a garantir a

eficiência na Administração Pública.

O princípio constitucional da eficácia faz frente à existência de

resultados materiais das políticas públicas em relação aos investimentos de

cada setor social, dando-se a devida importância para o controle dos gastos

públicos.

Registre-se que a eficiência consignada como princípio

constitucional da administração pública não corresponde a simples busca

pela otimização dos resultados. Não se tem como foco uma eficiência

puramente econômica, mas uma eficiência contaminada por aspectos

políticos, uma eficiência que não prescinde da influência ética e valorativa

dos demais princípios constitucionais.

Ao estudar os aspectos de controle da administração pública,

estando o estado-membro nela incluído, observa-se que todos os atos do

administrador, sejam vinculados ou discricionários, de uma forma ou de

outra devem estar voltados à obediência dos direitos constitucionais

fundamentais – e neste aspecto é que o controle deverá ser realizado.

Nesse aspecto, agora em uma análise mais especializada e

recorrendo à seção IX, do título IV da Constituição Federal também é

possível verificar a existência de um sistema dual de controle aplicável à

esfera financeira, orçamentária e contábil, consistente em uma organização

interna e outra de cunho externo.

14

Conceito adotado em sentido amplo, abrangendo as decisões administrativas de todos os

poderes de Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário. 15

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.

586.

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A importância do controle financeiro deságua diretamente na

relação entre o emprego de verbas públicas e a implementação de direitos

sociais fundamentais, das políticas públicas e do controle da eficiência dos

gastos públicos, fato pelo qual essa fiscalização, em geral, atuará no sentido

de evitar o desperdício do dinheiro público a ser investido.

Nesta ótica, percebe-se que o direito à boa administração

constitucional decorre da interpretação do texto constitucional, fato pelo

qual, mesmo não estando regularmente escrito nas entrelinhas do texto de

nossa Carta Magna, opera efeitos por decorrer dele e é um direito

fundamental.

Atrelando essa ideia de boa administração ao controle

dos gastos públicos e ao dever de eficiência da administração,

mostra-se viável fundamentarmos a ideia de que, com a existência

de um padrão objetivo de conduta, que possa analisar o emprego

das verbas públicas quanto a sua materialidade no caso concreto,

teremos elementos suficientes para controlar a eficácia da

implementação dos recursos, objetivando a sua melhor eficiência

quando do seu emprego.

Diante do atual cenário político, econômico e social enfrentado

pelo Brasil alguns fatores têm se refletido diretamente na sociedade,

provocando a exclusão, a pobreza, o aumento na criminalidade e um mais

amplo nível de desigualdades.

De outro modo, percebe-se a incompetência de alguns

administradores públicos quanto à escolha das prioridades de

investimento, bem como quanto ao bom emprego do dinheiro

público, muitas vezes desviados em atos de corrupção ou em

questões que não demandam urgência ou interesse social.

O bom emprego do dinheiro público mostra-se primordial para

o desenvolvimento de uma boa administração eficiente e eficaz. A existência

de uma política pública e planos de investimentos pré-determinam as áreas

que carecem de maior atenção do ente federativo, principalmente a fim de

que este obre ativamente na redução das desigualdades sociais e da

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criminalidade e no crescimento sustentável.

Esse quadro nos leva à conclusão de que o que está em jogo,

na realidade, é a proteção do chamado “mínimo existencial”, assim

compreendido como o núcleo essencial de direitos a permitirem uma

existência minimamente digna por parte dos cidadãos (direitos básicos).

Em casos como esse, a ameaça a esse núcleo essencial

de direitos acaba por vincular a atuação do administrador,

reduzindo a sua margem de discricionariedade para que possa

atender, dentro dos limites da reserva do possível, as carências

apresentadas pela população.

Por isso é que, em casos como esses, a discricionariedade

administrativa deve ser restringida também pelo princípio da

proporcionalidade, no qual se buscará, através do melhor emprego possível

dos recursos públicos, sanar as necessidades mais urgentes da população.

Nessa lógica, manda a proporcionalidade que exista uma

racionalização dos recursos públicos, direcionando a sua alocação à

promoção de políticas públicas que melhor atendam ao mínimo

existencial da população.

Nesse sentido, cabe citar a doutrina percuciente de Ana Paula

Barcellos citada por Marcus Aurélio de Freitas Barros16:

“Ora, toda e qualquer ação estatal envolve gasto de dinheiro

público e os recursos públicos são limitados. Essas são

evidências fáticas e não teses jurídicas (…). As políticas

públicas, igualmente, envolvem gastos. Como não há recursos

ilimitados, será preciso priorizar e escolher em que o dinheiro

público será investido. Essas escolhas, portanto, recebem a

influência direta das opções constitucionais acerca dos fins que

devem ser perseguidos em caráter prioritário. Ou seja: as

escolhas em matéria de gastos públicos não constituem um

tema integralmente reservado à deliberação política; ao

contrário, o ponto recebe importante incidência de normas

16

Ob.Cit., pág.151

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jurídicas constitucionais.”

Ressalte-se que hoje em dia, é reconhecida como tão patente a

obrigação do Poder Público em oferecer prestações positivas com vista à

satisfação do “mínimo existencial”, que a jurisprudência pátria vem

sancionando o comportamento omissivo do administrador, intervindo no seu

âmbito de discricionariedade e compelindo o poder executivo a tomar as

medidas necessárias à satisfação dos interesses fundamentais.

Nesse sentido vem sendo a jurisprudência encampada pelo

Supremo Tribunal Federal:

“CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM

CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - SENTENÇA QUE OBRIGA O MUNICÍPIO

DE SÃO PAULO A MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO

INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE

TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA

DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DA

UTILIZAÇÃO DAS “ASTREINTES” CONTRA O PODER PÚBLICO -

DOUTRINA - JURISPRUDÊNCIA - OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR

OS DIREITOS DAS CRIANÇAS - EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO

ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART.

208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006) - COMPREENSÃO

GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER

JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO,

NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - LEGITIMIDADE

CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM

CASO DE OMISSÃO ESTATAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS

PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO - INOCORRÊNCIA DE

TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES -

PROTEÇÃO JUDICIAL DE DIREITOS SOCIAIS, ESCASSEZ DE

RECURSOS E A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS” - RESERVA

DO POSSÍVEL, MÍNIMO EXISTENCIAL, DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA E VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL - PRETENDIDA

EXONERAÇÃO DO ENCARGO CONSTITUCIONAL POR EFEITO DE

SUPERVENIÊNCIA DE NOVA REALIDADE FÁTICA - QUESTÃO QUE

SEQUER FOI SUSCITADA NAS RAZÕES DE RECURSO

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EXTRAORDINÁRIO -PRINCÍPIO “JURA NOVIT CURIA” - INVOCAÇÃO

EM SEDE DE APELO EXTREMO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DE

AGRAVO IMPROVIDO. POLÍTICAS PÚBLICAS, OMISSÃO ESTATAL

INJUSTIFICÁVEL E INTERVENÇÃO CONCRETIZADORA DO PODER

JUDICIÁRIO EM TEMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE

CONSTITUCIONAL. - A educação infantil representa prerrogativa

constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas

assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como

primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em

creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa

jurídica, em consequência, impõe, ao Estado, por efeito da alta

significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação

constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de

maneira concreta, em favor das “crianças até 5 (cinco) anos de

idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches

e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável

omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o

integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que

lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação

infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança,

não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações

meramente discricionárias da Administração Pública nem se

subordina a razões de puro pragmatismo governamental. - Os

Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e

na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do

mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi

outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que

representa fator de limitação da discricionariedade político-

administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do

atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem

ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de

simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse

direito básico de índole social. - Embora inquestionável que resida,

primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de

formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto,

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ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar,

especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela

própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os

órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-

-jurídicos que sobre eles incidem em caráter impositivo, vierem a

comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de

direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional.

DESCUMPRIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEFINIDAS EM SEDE

CONSTITUCIONAL: HIPÓTESE LEGITIMADORA DE INTERVENÇÃO

JURISDICIONAL. - O Poder Público - quando se abstém de cumprir,

total ou parcialmente, o dever de implementar políticas públicas

definidas no próprio texto constitucional - transgride, com esse

comportamento negativo, a própria integridade da Lei Fundamental,

estimulando, no âmbito do Estado, o preocupante fenômeno da

erosão da consciência constitucional. Precedentes: ADI 1.484/DF, Rel.

Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - A inércia estatal em adimplir as

imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela

autoridade da Constituição e configura, por isso mesmo,

comportamento que deve ser evitado. É que nada se revela mais

nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a

vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas

executá-la com o propósito subalterno de torná-la aplicável somente

nos pontos que se mostrarem ajustados à conveniência e aos

desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores

dos cidadãos. - A intervenção do Poder Judiciário, em tema de

implementação de políticas governamentais previstas e determinadas

no texto constitucional, notadamente na área da educação infantil

(RTJ 199/1219-1220), objetiva neutralizar os efeitos lesivos e

perversos, que, provocados pela omissão estatal, nada mais

traduzem senão inaceitável insulto a direitos básicos que a própria

Constituição da República assegura à generalidade das pessoas.

Precedentes. A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À “RESERVA DO

POSSÍVEL” E A INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: A

QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS”. - A destinação de recursos

públicos, sempre tão dramaticamente escassos, faz instaurar

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situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas

definidas no texto constitucional, quer, também, com a própria

implementação de direitos sociais assegurados pela Constituição da

República, daí resultando contextos de antagonismo que impõem, ao

Estado, o encargo de superá-los mediante opções por determinados

valores, em detrimento de outros igualmente relevantes, compelindo,

o Poder Público, em face dessa relação dilemática, causada pela

insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária, a proceder

a verdadeiras “escolhas trágicas”, em decisão governamental cujo

parâmetro, fundado na dignidade da pessoa humana, deverá ter em

perspectiva a intangibilidade do mínimo existencial, em ordem a

conferir real efetividade às normas programáticas positivadas na

própria Lei Fundamental. Magistério da doutrina. - A cláusula da

reserva do possível - que não pode ser invocada, pelo Poder Público,

com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a

implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição

- encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo

existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento

positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da

pessoa humana. Doutrina. Precedentes. - A noção de “mínimo

existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos

constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um

complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de

garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a

assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e,

também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras

da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à

educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o

direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, o

direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração Universal

dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). A PROIBIÇÃO

DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À

FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE

DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso

impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que

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sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou

pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o

retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado

(como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança

pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos

fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de

concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser

ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em

conseqüência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os

direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos,

mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto

constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante

supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados.

LEGITIMIDADE JURÍDICA DA IMPOSIÇÃO, AO PODER PÚBLICO, DAS

“ASTREINTES”. - Inexiste obstáculo jurídico-processual à utilização,

contra entidades de direito público, da multa cominatória prevista no

§ 5º do art. 461 do CPC. A “astreinte” - que se reveste de função

coercitiva - tem por finalidade específica compelir, legitimamente, o

devedor, mesmo que se cuide do Poder Público, a cumprir o preceito,

tal como definido no ato sentencial. Doutrina. Jurisprudência.”(STF,

ARE 639337 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda

Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC

15-09-2011 EMENT VOL-02587-01 PP-00125).

Também nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de

Justiça:

“ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. DIREITO SUBJETIVO.

PRIORIDADE. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS.

ESCASSEZ DE RECURSOS. DECISÃO POLÍTICA. RESERVA DO

POSSÍVEL. MÍNIMO EXISTENCIAL.

1. A vida, saúde e integridade físico-psíquica das pessoas é valor

ético-jurídico supremo no ordenamento brasileiro, que sobressai em

relação a todos os outros, tanto na ordem econômica, como na

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política e social.

2. O direito à saúde, expressamente previsto na Constituição Federal

de 1988 e em legislação especial, é garantia subjetiva do cidadão,

exigível de imediato, em oposição a omissões do Poder Público. O

legislador ordinário, ao disciplinar a matéria, impôs obrigações

positivas ao Estado, de maneira que está compelido a cumprir o

dever legal.

3. A falta de vagas em Unidades de Tratamento Intensivo - UTIs no

único hospital local viola o direito à saúde e afeta o mínimo

existencial de toda a população local, tratando-se, pois, de direito

difuso a ser protegido.

4. Em regra geral, descabe ao Judiciário imiscuir-se na formulação ou

execução de programas sociais ou econômicos. Entretanto, como

tudo no Estado de Direito, as políticas públicas se submetem a

controle de constitucionalidade e legalidade, mormente quando o que

se tem não é exatamente o exercício de uma política pública

qualquer, mas a sua completa ausência ou cumprimento meramente

perfunctório ou insuficiente.

5. A reserva do possível não configura carta de alforria para o

administrador incompetente, relapso ou insensível à degradação da

dignidade da pessoa humana, já que é impensável que possa

legitimar ou justificar a omissão estatal capaz de matar o cidadão de

fome ou por negação de apoio médico-hospitalar. A escusa da

"limitação de recursos orçamentários" frequentemente não passa de

biombo para esconder a opção do administrador pelas suas

prioridades particulares em vez daquelas estatuídas na Constituição e

nas leis, sobrepondo o interesse pessoal às necessidades mais

urgentes da coletividade. O absurdo e a aberração orçamentários, por

ultrapassarem e vilipendiarem os limites do razoável, as fronteiras do

bom-senso e até políticas públicas legisladas, são plenamente

sindicáveis pelo Judiciário, não compondo, em absoluto, a esfera da

discricionariedade do Administrador, nem indicando rompimento do

princípio da separação dos Poderes.

6. "A realização dos Direitos Fundamentais não é opção do

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governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser

encarada como tema que depende unicamente da vontade

política.Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade

humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta

é fruto das escolhas do administrador" (REsp. 1.185.474/SC, Rel.

Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 29.4.2010).

7. Recurso Especial provido.” (REsp 1068731/RS, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe

08/03/2012).

“ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –

OBRAS DE RECUPERAÇÃO EM PROL DO MEIO AMBIENTE – ATO

ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO

1.Na atualidade, a Administração Pública está submetida ao império

da lei, inclusive quanto à conveniência e oportunidade do ato

administrativo.

2.Comprovado tecnicamente ser imprescindível, para o meio

ambiente, a realização de obras de recuperação do dolo, tem o

Ministério Público a legitimidade para exigi-la.

3. O Poder Judiciário não mais se limita a examinar os aspectos

extrínsecos da administração, pois pode analisar, ainda, as razões de

conveniência e oportunidade, uma vez que essas razões devem

observar critérios de moralidade e razoabilidade.

4. Outorga de tutela específica para que a Administração destine do

orçamento verba própria para cumpri-la. 5. Recurso especial provido”

(STJ, SEGUNDA TURMA, REsp 429570/GO; Rel. Min. ELIANA

CALMON, DJ 22.03.2004, p. 277, RSTJ vol. 187, p. 219)

De igual modo, altamente sensível a tal evolução – da qual,

aliás, o TJRN foi visionário e pioneiro através do Des. Seabra Fagundes – a

composição atual da E. Corte admite cotidianamente o conhecimento e

controle de legalidade de ações e omissões do Poder Público através de

ações civis públicas. Neste sentido:

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“CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.

SERVIÇO PÚBLICO. TRANSPORTE URBANO DE PASSAGEIROS.

PERMISSÃO ANTERIOR À CF/88 E À LEI Nº 8.987/95. ATO JURÍDICO

PERFEITO. PRORROGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE LEGAL.

PRELIMINARES. REJEIÇÃO. EXPLORAÇÃO DE SERVIÇO DE

TRANSPORTE COLETIVO URBANO. LICITAÇÃO. APLICABILIDADE DO

CAPUT DO ART. 175, DA CARTA MAGNA. CONHECIMENTO E

IMPROVIMENTO DA REMESSA NECESSÁRIA, DO RECURSO

VOLUNTÁRIO E DOS ADESIVOS. I - O Ministério Público Estadual é

legitimado para propor a presente ação civil pública, consoante

disposição dos arts. 127 e 129, III, da Carta Magna, c/c o art. 25, IV,

da Lei nº 8.625/93 e Lei nº 7.347/85. II - In casu, a impossibilidade

jurídica do pedido não ocorre. É que a possibilidade jurídica do pedido

entende-se como a admissibilidade da pretensão do titular do direito

perante a legislação em vigor, ou seja, previsão ou ausência da

vedação, no ordenamento jurídico, do que se postula na causa. III -

Suprimida, na forma legal, a omissão de citação de uma das

empresas litisconsortes, a fim de integrar a lide, não se vislumbra a

pertinência dessa argumentação. IV - Inexiste óbice legal à

prorrogação de contrato de permissão anterior a CF/88 e a Lei

8.987/95, em face ao princípio constitucional do direito adquirido e ao

comando emanado do art. 42 da Lei de Licitações:As concessões de

serviços públicos outorgados anteriormente à entrada em vigor desta

lei, consideram-se válidos pelo prazo fixado no contrato ou ato de

outorga, observado o disposto no artigo 43 desta Lei. V - Deve-se

também observar os princípios da continuidade de serviço público

essencial e da equação econômica-financeira. O princípio do equilíbrio

econômico-financeiro do contrato transcende à sua definição no

direito positivo. VI - Consoante comando do caput do art. 175, da

Carta Magna, se impõe a abertura de processo de licitação pela

administração pública para exploração de serviço público. VII -

Viabilidade de licitação após minucioso estudo.” (TJRN – Apelação

Cível n.º 2002.000572-5 – 2ª. Câmara Cível j. em 06/06/2003 – Rel.

Des. João Rebouças, à época Juiz Convocado – DJ de 01/07/2003).

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TJRN: “AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DIREITO

AMBIENTAL - FEIRA LIVRE - OCORRÊNCIA DE POLUIÇÃO SONORA -

CONTROLE SANITÁRIO, DA SAÚDE E DO TRÁFEGO - GARANTIA DE

SEGURANÇA - RESPONSABILIDADE AFETA AO MUNICÍPIO -

INEXISTÊNCIA DE AFRONTA À DISCRICIONARIEDADE MUNICIPAL -

CONHECIMENTO E IMPROVIMENTO DO RECURSO. I - A

responsabilidade pela preservação do meio ambiente é tarefa comum

a União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Neste caso, ilegítima é

a pretensão edil que se furta a esta competência concorrente. II -

Para auxiliar na preservação ambiental, conta o município com

diversos instrumentos, dentre os quais a imposição de multas,

apreensão de produtos, solicitação de força policial, dentre outros. III

- A discricionariedade administrativa não existe quando ocorre

violação a disposições constitucionais e legais por parte do poder

público. IV - Conhecimento e improvimento do recurso.” (TJRN –

Apelação Cível n.º 2002.000480-0 – Rel. Des. Cristóvam Praxedes –

DJ de 29/12/2004).

Seguem julgados do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do

Estado do Rio Grande do Norte reconhecendo o mínimo existencial em

detrimento da alegação acerca da “reserva do possível:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. DIREITO À SEGURANÇA. PRECARIEDADE DO

SISTEMA PRISIONAL DO RN. POSSIBILIDADE DO CONTROLE E DA

INTERVENÇÃO DO JUDICIÁRIO EM MATÉRIA DE POLÍTICAS

PÚBLICAS QUANDO CONSTATADA INÉRCIA E ABUSIVIDADE

GOVERNAMENTAL. CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL QUE NÃO

SE PRESTA AO ÓBICE À GARANTIA DO NÚCLEO

CONSUBSTANCIADOR DO MÍNIMO EXISTENCIAL. MANUTENÇÃO DA

SENTENÇA OBJURGADA. (TJ-RN - AC: 64204 RN 2008.006420-4,

Relator: Des. Amaury Moura Sobrinho, Data de Julgamento:

28/08/2008, 3ª Câmara Cível)

AGRAVO DE INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL

– DECISÃO SINGULAR QUE DEFERIU PARCIALMENTE A TUTELA

ANTECIPADA PARA QUE O ESTADO ADOTE AS MEDIDAS

DESTINADAS À TRANSFERÊNCIA DE PRESOS DAS DELEGACIAS

DE POLÍCIA PARA UNIDADES PRISIONAIS – INDEVIDA

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CUSTÓDIA DE PRESOS TEMPORÁRIOS OU CONDENADOS EM

DELEGACIAS – DIREITO À SEGURANÇA PÚBLICA – RISCO À

POPULAÇÃO, INCLUSIVE AOS POLICIAIS E CUSTODIADOS –

POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA

SEARA ADMINISTRATIVA, DIANTE DA FLAGRANTE OMISSÃO

ESTATAL EM NÃO CUMPRIR O PREVISTO NO ARTIGO 144 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL - ARTIGO 5º, XXXV DA CF – LESÃO

OU AMEAÇA A DIREITO QUE POSSIBILITA A ATUAÇÃO DO

PODER JUDICIÁRIO NA ESFERA ADMINISTRATIVA NÃO

OCORRÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA SEPARAÇÃO

DOS PODERES E DA LEGALIDADE ORÇAMENTÁRIA – DEVER DO

ESTADO EM GARANTIR A SEGURANÇA DOS CIDADÃOS

DIREITO FUNDAMENTAL QUE DEVE SER ASSEGURADO

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS PRAZOS EXÍGUOS PARA

CUMPRIMENTO DE TODAS AS EXIGÊNCIAS – PRINCÍPIO DA

RAZOABILIDADE NECESSIDADE DE ESCLARECIMENTO ACERCA DA

REALIDADE CARCERÁRIA ATUAL – NECESSIDADE DE

IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS QUE VISEM A ELABORAÇÃO DE UM

PLANO DE TRANSFERÊNCIA DOS PRESOS, INCLUINDO-SE AÍ A

QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA PARA POSSÍVEL CONSTRUÇÃO DE NOVAS

UNIDADES PRISIONAIS, SE FOR O CASO – CONHECIMENTO E

PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO, PARA FIXAR A

RESPONSABILIDADE ESTATAL PARA ELABORAÇÃO DAS MEDIDAS DE

TRANSFERÊNCIA DOS PRESOS. (TJ-RN – AI: 788 RN 2010.000078-

8, Relator: Des. Aderson Silvino, Data de Julgamento: 05/10/2010, 2ª Câmara Cível)

Ora, no caso concreto, é exatamente esse tipo de escolha que

tem de fazer administrador, apresentado o diagnóstico da realidade da

segurança pública do Estado, este deveria dispender os recursos públicos na

execução, dentre outros, de serviço que visa garantir à segurança da

população, parte integrante do “mínimo existencial” dos direitos sociais

fundamentais previstos na Constituição Federal. No entanto, age como

quem dá preferência a outros direitos não tão essenciais.

C) A QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA – CONTINGENCIAMENTOS,

REMANEJAMENTOS E FALTA DOS REPASSES MÍNIMOS PARA A

MANUTENÇÃO DAS INSTITUIÇÕES AFETAS À SEGURANÇA PÚBLICA

– DÍVIDAS

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Somente no ano de 2013, foram anulados R$

23.092.344,5917 (vinte e três milhões, noventa e dois mil, trezentos e

quarenta e quatro reais e cinquenta em nove centavos) do orçamento que

fora destinado a investimentos na área de segurança pública, na qual

compreende a polícia civil, polícia militar, bombeiros militar, ITEP, além de

verbas que deveriam ter sido destinadas para a melhoria da própria

estrutura da Secretaria de Segurança Pública. E praticamente a totalidade

desse valor não foi remanejada para nenhum dos órgãos integrantes desse

serviço essencial.

Outra constatação preocupante que se verifica através de

dados colhidos pelo portal da transparência é que muitos dos valores

repassados por parte do Governo do Estado às instituições afetas à

segurança pública vêm se limitando apenas ao pagamento de restos a

pagar do exercício anterior. Isto só vem a corroborar a tese da complicada

situação financeira pela qual as instituições vêm passando, em que sequer

são integralmente adimplidas dívidas anteriores.

Na linha de fiscalização desta gestão orçamentária

indiscutivelmente deficitária, na 19ª Promotoria de Justiça da Comarca de

Natal (NUCAP) foi instaurado o Procedimento Preparatório nº 007/2013-

NUCAP, que segue em anexo. Vale destacar que sequer tem sido cumprido

o regular pagamento de dívidas, nem muito menos qualquer investimento.

E esta postura do governo é absurdamente incompatível com a crescente

criminalidade que assola o Estado.

Nos autos deste citado procedimento, foram encaminhados

ofícios aos comandantes militares e ao Delegado-Geral, os quais

informaram a situação conforme demonstrado abaixo, de forma concisa as

dívidas atuais de cada uma das respectivas instituições:

DA POLÍCIA CIVIL

Constam nos autos que, desde o ano passado (cf. Ofício

nº 0358/2013-GDG/PCRN – fls. 68/92 do PP nº 007/2013),

17

Fonte: Portal da Transparência – www.portaldatransparencia.gov.br.

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a Secretaria de Planejamento não tem repassado os recursos

necessários ao custeio da polícia civil. Desta forma, esta

última se encontra devedora de diversos fornecedores. Em

relação aos imóveis alugados, tem ocorrido o atraso no

pagamento, dificultando renovações de contratos. Houve

contingenciamento orçamentário no valor de R$

4.809.250,00 (quatro milhões, oitocentos e nove mil e

duzentos e cinquenta reais), que seriam utilizados em

investimentos, mediante anulação de dotação orçamentária,

ou seja, foram cancelados mais de 50% dos recursos que

haviam sidos destinados para o exercício de 2013 – quantia

esta que seria direcionada à reforma de prédios, aquisição

de viaturas, compra de armamentos, coletes balísticos

equipamentos de manutenção.

Em resposta ao ofício nº 044/19ªPmJN/NUCAP

(fls. 120 a 123 - PP nº 007/2013), encaminhado em

10/03/2014, o Delegado-Geral da Polícia Civil

(DEGEPOL), Dr. Ricardo Sérgio Costa de Oliveira,

informou que a Polícia Civil ATUALMENTE possui um

débito de R$ 3.748.167,47 (três milhões setecentos e

quarenta e oito mil cento e sessenta e sete reais e

quarenta e sete centavos) e 7 (sete) processos não

concluídos que estão apenas aguardando liberação de

recursos que juntos perfazem a quantia de R$

3.683.000,95 (três milhões seiscentos e oitenta e três

reais e cinco centavos), totalizando a quantia de R$

7.431.168,42 (sete milhões quatrocentos e trinta e um

cento e sessenta e oito reais e quarenta e dois

centavos).

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DA POLÍCIA MILITAR

Segundo informações anteriores prestadas pelo

Comandante Geral da Polícia Militar (CGPM), Coronel

Francisco Canindé de Araújo Silva, nos autos do citado

procedimento preparatório nº 007/2013-NUCAP (Ofício nº

456/2013-GCG – fls. 19/24), existiam débitos ainda do ano

de 2012, na ordem de R$ 2.699.709,99 (dois milhões,

seiscentos e noventa e nove mil, setecentos e nove reais e

noventa e nove centavos) e no ano de 2013, a dívida com

fornecedores estava em R$ 1.256.556,12 (um milhão,

duzentos e cinquenta e seis mil, quinhentos e cinquenta e

seis reais e doze centavos); envolvendo pagamentos de

veículos locados, fornecedores de peças automotivas,

revisões de veículos oficiais, revisões de motocicletas,

aquisição de pneus, óleos lubrificantes, medicamentos

veterinários, material de construção, uniformes, material de

limpeza, material de expediente, ração para semoventes,

material para o policiamento montado, além de diárias

operacionais.

Em resposta ao ofício nº 042/19ªPmJN/NUCAP

(fls. 124 a 172 – PP nº 007/2013), o Comandante

Geral da Polícia Militar informou que a Polícia Militar

possui um débito ATUAL da ordem de

R$10.734.147,82 (dez milhões setecentos e trinta e

quatro mil cento e quarenta e sete reais e oitenta e

dois centavos).

DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

Vale contextualizar que, no ano passado, o

Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRN),

Coronel Elizeu Lisboa Dantas, informou, nos autos do

procedimento preparatório nº 007/2013-NUCAP (Ofício nº

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470/2013-GAB CMDO CBMRN – fls. 58/63), débitos da

Corporação ainda do ano de 2010, na ordem de R$

125.000.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), bem como

ter havido um contingenciamento por parte da Secretaria de

Estadual de Planejamento e Finanças (SEPLAN) em torno de

R$ 358.250,00 (trezentos e cinquenta e oito mil e duzentos

e cinquenta reais), desde a abertura do orçamento em

março de 2013. Ademais, noticiou que havia débito de

energia referente ao mês de dezembro de 2012 junto à

COSERN e débitos ainda dos anos de 2010, 2011 e 2012,

referentes ao serviço de internet na ordem de R$56.000,00

(cinquenta e seis mil reais). Bem como que, no exercício de

2013, foram pagas as despesas somente até o mês de

março – importante registrar o histórico como forma de

contextualizar a falta de priorização da segurança pública

(serviço essencial) por parte do Executivo.

Em resposta ao ofício nº 043/19ªPmJN/NUCAP

(fls. 173/190 – PP nº 007/2013), encaminhado em

10/03/2014, o Comandante Geral dos Bombeiros

Militares informou que a referida instituição possui

HOJE um débito de R$ 380.718,44 (trezentos e oitenta

mil, setecentos e dezoito reais e quarenta e quatro

centavos).

Como se pode observar a partir das referidas informações

atualizadas, o somatório de dívidas destas 3 (três) instituições que

compõem a segurança pública – dentro da estrutura da SESED – perfaz o

VALOR TOTAL de R$18.546.034,68 (DEZOITO MILHÕES,

QUINHENTOS E QUARENTA E SEIS MIL E TRINTA E QUATRO REAIS E

SESSENTA E OITO CENTAVOS).

O fato é que o atual governo do Estado do Rio Grande do

Norte vem reiteradamente descumprindo o planejamento orçamentário

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destinado à área da Segurança Pública. Parecendo alheio a um

planejamento estratégico ou mesmo à necessidade de resposta imediata e

eficaz à população norte-rio-grandense em contraposição à inconteste

crescente dos índices de violência no Estado.

Pior, atualmente as instituições relacionadas à segurança

pública não estão tendo condições mínimas de trabalho devido à falta de

recursos financeiros. Vejamos:

.VIATURAS – A frota de viaturas próprias está sucateada, a

maioria encostada, quebrada, tendo em vista não possuírem

nenhum tipo de manutenção;

.VIATURAS LOCADAS – Atualmente boa parte da frota da PC

e PM corresponde a viaturas locadas. Diante da falta de

pagamento por parte do Estado do RN (na época, oito meses

sem pagamento), no dia 11.09.2013, um dos consórcios

decidiu bloquear as viaturas. Foram 20 viaturas do tipo

caminhoneta Ford Ranger impedidas de serem utilizadas pelas

forças policiais devido à desorganização financeira do Estado,

que sequer honra os compromissos com seus fornecedores;

.COMBUSTÍVEL – O Decreto nº 23.627/2013 do Governo do

Estado do Rio Grande do Norte determinou, em seu artigo 4º,

que a Secretaria de Estado da Administração e dos Recursos

Humanos (SEARH) “adotará providências para redução das

despesas com combustíveis da frota de veículos estaduais,

mediante a revisão das cotas de abastecimento”. Chega-se à

conclusão absurda de que, caso a viatura gaste a quantidade

de combustível para ela determinada, esta terá que parar,

independentemente de a população estar precisando ou não da

atuação da polícia;

.DIÁRIAS OPERACIONAIS – o Estado vem atrasando a

pagamento de diárias operacionais dos policiais civis, militares

e bombeiros militar, causando assim um enorme

constrangimento dentro das corporações para a execução de

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plantões (cujo serviço é voluntário), além de outras operações

de patrulhamento e prevenção realizadas durante feriadões por

parte da polícia militar e bombeiros. Diante do não pagamento

das diárias os policiais estão se recusando a tirar plantões,

causando um enorme prejuízo para a população.

.MATERIAL DE EXPEDIENTE – reiteradas são as notícias

veiculadas sobre a falta de material de expediente, como resma

de papel e até cartucho para impressora, tanto na polícia civil,

como na militar, no corpo de bombeiros e no ITEP;

.CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DAS UNIDADES DA PCRN E

DO ITEP - as condições estruturais da polícia civil e do ITEP

atualmente são péssimas. As sedes de delegacias de polícia no

interior são praticamente inexistentes.Sem falar na extrema

carência de efetivo que se evidencia pela necessidade de

judicialização de ações civis públicas para garantir a

interiorização de um serviço público essencial, ainda que com

uma estrutura mínima, aquém do ideal. Existem hoje 23 (vinte

e três) ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público

com o desiderato de interiorizar a polícia civil.

Ademais, em um exame à temática recursos materiais,

ratificando ainda mais a notória desestrutura da polícia estadual, consoante

destacado no Relatório Anual das Contas do Governo do Estado – Exercício

2012, do Tribunal de Contas do Estado – TCE/RN: “aproximadamente 50%

das unidades policiais da Polícia Civil do Estado não possuem acesso à

Internet. Ademais, não há integração entre os sistemas de registros

policiais das Polícias Civil e Militar.”

Processos relacionados à compra de armamento (processo

nº 39875/2013) e de coletes balísticos (processo nº 87392/2013) não

foram cumpridos em face de indisponibilidade financeira para tais despesas.

Isso dentro de uma realidade em que, segundo dados obtidos na Pesquisa

Perfil das Instituições de Segurança Pública do MJ/SENASP, 2013, a razão

entre o efetivo ativo e coletes balísticos é da ordem de 16 policiais para

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cada colete – sendo o Rio Grande do Norte a segunda pior entidade

federativa do país nesta proporção. E, no que se refere a proporção por

armas de fogo, a relação é de 1,42 armas por policial18.

Considerando esta abordagem de contenção de despesas,

faz-se imperioso contextualizar que do final de junho de 2013 até setembro

do mesmo ano, foram publicados diversos decretos relativos a

contingenciamentos, remanejamentos e falta de repasse

orçamentário para a Polícia Civil. Sem o devido repasse, a Instituição se

encontra devedora de diversos fornecedores e de várias dívidas de aluguel

de imóveis, bem como praticamente impossibilitada de reformar imóveis em

péssimo estado de conservação, adquirir viaturas, armamentos, coletes

balísticos e equipamentos de manutenção.

E esse caos generalizado, de falta de recursos para

custeio e investimentos nos mais variados setores, como segurança

pública e saúde (serviços essenciais), tem, sem sombra de dúvida,

dificultado a renovação e até a continuidade dos contratos firmados

pelo Estado, trazendo uma série de consequências negativas, como,

por exemplo, licitações desertas.

Para melhor contextualizar e exemplificar, apresenta-se, a

seguir, os decretos governamentais que impactaram direta e negativamente

no orçamento da Polícia Civil do RN e que foram publicados em pouco

menos de 8 (oito) meses:

1) Decreto 23.521/2013 - Este decreto publicado no

diário oficial do dia 27.06.13, anulou a dotação orçamentária

no valor de R$ 818.240,05 (oitocentos e dezoito mil,

duzentos e quarenta reais e cinco centavos) destinados à

Polícia Civil, para pagamento de servidores estaduais;

2) Decreto 23.569/2013 - Este decreto publicado no

diário oficial do dia 05.07.13, retirou mais de 50%

18

Fonte: Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública: Pesquisa Perfil das Instituições de

Segurança Pública, 2013.

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(cinquenta por cento) do orçamento previsto para

investimentos, o equivalente a R$4.809.250,00 (quatro

milhões, oitocentos e nove mil, duzentos e cinquenta reais)

e contingenciou o valor de R$2.192.250,00 (dois milhões,

cento e noventa e dois mil, duzentos e cinquenta reais),

destinados à Polícia Civil;

3) Decreto 23.613/2013 - Este decreto assinado no

dia 23.07.13, abriu crédito suplementar no valor de R$

50.519.883,38 (cinquenta milhões, quinhentos e dezenove

mil, oitocentos e oitenta e três reais e trinta e oito

centavos). Tal crédito foi criado com o objetivo de realizar

pagamento de folha de pessoal em detrimento de

investimentos na área de segurança pública, sistema

penitenciário e saúde. Retirou-se da SESED o valor de

R$5.908.113,62 (cinco milhões, novecentos e oito mil,

cento e treze reais e sessenta e dois centavos). Frise-se que

os valores retirados da segurança pública eram destinados

essencialmente à estruturação das instalações físicas e à

informatização;

4) Decreto 23.627/2013 - Este decreto assinado no

dia 02.08.13, teve por objetivo estabelecer medidas de

contenção de despesas públicas no âmbito da Administração

Pública Direta e Indireta estadual, suspendendo os

empenhos para novas despesas até o fim do ano de 2013,

inclusive despesas da SESED e da SEJUC. O decreto previu,

ainda, a suspensão por tempo indeterminado do provimento

de cargo público efetivo, ressalvada a reposição decorrente

de aposentadoria ou falecimento de servidores nas áreas de

Educação, Saúde e Segurança, bem como a tramitação de

processos administrativos que versem sobre a criação de

cargo, emprego ou função, alteração de estrutura de carreira

que implique aumento de despesa e a criação de vantagem,

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reajuste ou adequação de remuneração, a qualquer título

(art. 6º, II e III) – isso em completa dissociação com a

contrapartida assumida pelo Estado no Programa Brasil Mais

Seguro;

5) Decreto 23.704 - Este decreto publicado no diário

oficial do dia 23.08.2013, abriu crédito suplementar para fins

de transferência do CIOSP (PP nº anulando dotação

orçamentária no valor de R$ 2.555.566,15 – dois milhões

quinhentos e cinquenta e cinco mil, quinhentos e sessenta e

seis reais e quinze centavos) de recursos originários da

polícia civil, que seriam destinados a construção, reforma e

ampliação das estruturas físicas das unidades operacionais e

administrativas da polícia civil (Fonte 146); e

6) Decreto 23.732 - Este decreto publicado no diário

oficial do dia 31.08.2013, abriu crédito suplementar

anulando dotação orçamentária no valor de R$

1.000.000,00 (um milhão de reais) de recursos originários

da polícia civil, provenientes de arrecadação própria (Fonte

100), destinando-o inteiramente a outros serviços

(“Adequação e Modernização de Unidades Produtivas” e “Mão

Amiga”).

Como se pode efetivamente observar, foram retirados

R$6.883.046,20 (seis milhões, oitocentos e oitenta e três mil, quarenta e

seis reais e vinte centavos) do orçamento da Polícia Civil do Estado só nesse

início do segundo semestre de 2013.

Para efeito de contextualização da defasagem de

investimentos, conforme a Tabela 14 da Pesquisa Perfil das Instituições de

Segurança Pública do MJ/SENASP de 2013, foram gastos pouco mais que

R$10.000.000,00 (dez milhões) em custeio, exceto folha de pagamento, da

Polícia Civil no ano de 2011 e nada – zero – em investimento. E o total

acima apontado, anulado do orçamento da Instituição por meio de decretos

publicados em 3 (três) meses, corresponde a praticamente dois terços do

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executado no exercício anterior! E esta restrição orçamentária se deu

dentro de uma realidade, a se dizer, completamente caótica da polícia civil.

Segundo noticiado no ofício nº 58/2013 da ADEPOL/RN, “o

Governo, sem nenhuma comunicação prévia, ao pagar os salários dos

servidores da Polícia Civil no mês de julho, não pagou 1/3 de férias,

cortou as promoções que vinham sendo pagas desde outubro de

2010, descontou 1/3 de férias que tinham sido pagas em junho,

além de todas as representações de funções de Delegacias

Regionais, Diretores e todos que exercem funções de confiança”.

São inúmeros os problemas da Polícia Civil do Estado: de

ordem financeira, desestrutura física generalizada e extrema carência de

efetivo. E, dentro desta realidade, em face dos crescentes índices de

criminalidade, o Governo apresentou como resposta o

contingenciamento, anulação e falta de repasse de recursos

orçamentários, colaborando, assim, com o incremento abismal entre

a situação da Instituição (PCRN) em detrimento da criminalidade,

onde criminosos saem impune em face, também, da ausência de

uma investigação policial eficiente e que supra todas as

necessidades requeridas pelo Ministério Público e pelo Poder

Judiciário.

D) DA NECESSIDADE DE SE GARANTIR O PAGAMENTO DOS DÉBITOS

EXISTENTES NAS POLÍCIA CIVIL E MILITAR, NOS BOMBEIROS

MILITAR, NO ITEP E NA SESED ATRAVÉS DO BLOQUEIO DE VERBAS

DESTINADA PARA PUBLICIDADE.

Como bem verdade, sabemos que quanto mais dívidas tem um

órgão, uma instituição, ou mesmo um ente federativo pior se torna para a

efetivação de suas funções, atribuições e execução de atividades.

No caso concreto, a insuficiência do repasse de recursos

financeiros às Polícias Civil e Militar, ao Corpo de Bombeiros Militar, ao ITEP

e à SESED, por parte do Governo do Estado vem inviabilizando o

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pagamento de fornecedores e prejudicando as atividades-fim dessas

instituições de segurança pública, inclusive com a possibilidade de despejos

de prédios alugados, interrupção no fornecimento de materiais e serviços

diversos, racionamento de combustível, suspensão da distribuição de vales-

alimentação e outros fatos e circunstâncias que, verdadeiramente, colocam

em risco a eficiência do sistema estadual de segurança pública, afetando

diretamente a sociedade norte-rio-grandense.

O uso (incorreto) pelo Governo do RN do argumento da reserva

do possível, para a não concretização dos direitos fundamentais, como a

segurança pública, que são de aplicabilidade imediata, deve

necessariamente ser feita mediante comprovação objetiva da

impossibilidade de realização – prova ainda não demonstrada para justificar

inúmeros remanejamentos orçamentários, falta de investimentos,

sucateamento de instalações prediais e de acervo material etc.

Diante disso, em resumo, conforme as últimas

informações prestadas pelo Delegado Geral da Polícia Civil,

Comandante da Polícia Militar e pelo Comandante dos Bombeiros

Militares, atualmente os débitos destas instituições são:

1) POLÍCIA CIVIL – Possui um débito de R$ 3.748.167,47 (três

milhões setecentos e quarenta e oito mil cento e sessenta e

sete reais e quarenta e sete centavos) e 7 (sete) processos

não concluídos que estão apenas aguardando liberação de

recursos que juntos perfazem a quantia de R$ 3.683.000,95

(três milhões seiscentos e oitenta e três reais e cinco

centavos), totalizando a quantia de R$ 7.431.168,42 (sete

milhões quatrocentos e trinta e um cento e sessenta e oito

reais e quarenta e dois centavos);

2) POLÍCIA MILITAR – Possui um débito de R$ 10.734.147,82

(dez milhões setecentos e trinta e quatro mil cento e quarenta

e sete reais e oitenta e dois centavos); e

3) BOMBEIROS MILITAR – Possui um débito de R$ 380.718,44

(trezentos e oitenta mil, setecentos e dezoito reais e quarenta

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e quatro centavos).

Diante disto, o valor que se busca bloquear e se

repassar para as referidas instituições (Bombeiros Militar, Polícia

Militar e Polícia Civil) totaliza R$18.546.034,68 (DEZOITO MILHÕES,

QUINHENTOS E QUARENTA E SEIS MIL E TRINTA E QUATRO REAIS E

SESSENTA E OITO CENTAVOS).

IV. DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

Inicialmente cumpre pontuar que a concessão da tutela

antecipada no caso ora em debate é plenamente cabível, porquanto não

incidente nenhuma vedação elencada no artigo 1º da lei nº 9.494/97.

As vedações expressas na Lei nº 4.348/64 e na Lei º 5.021/66

revogadas pela Lei nº 12.016/2009 – que disciplina o mandado de

segurança -, e, ainda, na Lei nº 8.437/92, dizem respeito à reclassificação

ou equiparação de servidores públicos, concessão de aumento ou extensão

de vantagens pecuniárias, outorga ou acréscimo de vencimentos,

pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias a servidor público ou

esgotamento, total ou parcial, do objeto da ação desde que tal ação diga

respeito, exclusivamente, a qualquer das matérias acima referidas.

Fora essas hipóteses, aplicadas, inclusive, com alguns

temperamentos pelo Supremo Tribunal Federal, a concessão de tutela

antecipada contra a Fazenda Pública é autorizada pela legislação brasileira.

Esse é, aliás, o entendimento do Supremo Tribunal Federal explicitado na

Reclamação 5.205/RJ, Rel. Ministro Gilmar Mendes e na Reclamação

6.477/PI, Ministra Cármen Lúcia.

Transposta essa questão prévia, cumpre ressaltar, que o

legislador ordinário ao observar a frequente ocorrência de demora na

prestação jurisdicional, fato este que causava ineficácia no provimento final,

instituiu, na denominada reforma processual, o instituto da tutela

antecipada, impondo ao Estado-Juiz a concessão de plano do bem da vida

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postulado na exordial desde que preenchidos os requisitos previstos no

artigo 273 do Código de Processo Civil na forma do art. 12 da Lei Federal nº

7.347/85. Assim, uma vez comprovadas as condições gerais e particulares

exigidas pelo artigo 273 do Código de Processo Civil, a concessão da tutela

antecipada pleiteada se faz mister. Registre-se, ainda, a necessidade da

incidência das regras do parágrafo 3º do artigo 273, isto é, da fixação de

multa diária e se for o caso de medida equivalente para concretização da

tutela específica pleiteada, mormente no que tange a obrigação de

fazer/não fazer do réu.

Atente-se que a tutela específica positivada no §3º do artigo

273, tendo por objetivo proteger as obrigações de fazer e de não fazer que

decorrem ex contratuou ex lege, também permite que o juiz, a fim de

assegurar o resultado prático correspondente aos direitos previstos no

ordenamento jurídico, bem como a efetiva prevenção de danos ao cidadão,

estipule um fazer (mandatory injunction) ou um não-fazer (prohibitory

injunction) ao réu, salientando a natureza mandamental da sentença

coletiva.

Segundo Luiz Guilherme Marinoni ao comentar sobre o direito à

tutela jurisdicional efetiva e o poder do juiz “(...) a solução foi estabelecer

regras que conferissem maior poder ao juiz, dando-lhe a oportunidade de

conformar o processo segundo as peculiaridades dos casos concretos”.

Exemplo disso se encontra nos arts. 84 do CDC e 461 do CPC.

Como se sabe, tais artigos, voltando-se para a possibilidade de

imposição de um fazer ou de um não-fazer, permitem que o juiz conceda a

tutela específica ou determine providências que assegurem resultado

prático equivalente (caput). Além disso, dá-se ao juiz o poder de, segundo

as circunstâncias do caso concreto, ordenar sob pena de multa (§4º) ou

decretar medida de execução direta – que estão somente exemplificadas no

§5º, tanto no curso do processo (§3º) quanto na sentença (§4º).

Necessário, ainda, que a tutela seja antecipada sem a oitiva do

Estado do Rio Grande do Norte. O artigo 2º da Lei nº 8.437/92 dispõe que

na ação civil pública, a liminar será concedida após a audiência do

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representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se

pronunciar no prazo de setenta e duas horas.

Não obstante a dicção legal, o STJ tem firmado o entendimento

pela relativização do referido dispositivo em razão da possibilidade de

graves danos decorrentes da demora no cumprimento da liminar em caso

do cumprimento da referida norma. Vejamos:

EMENTA - STJ - ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

OBRIGAÇÃO DE FAZER. REATIVAÇÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR EM

ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE MUNICIPAIS. LIMINAR CONCEDIDA,

EXCEPCIONALMENTE, SEM OITIVA PRÉVIA DA PESSOA JURÍDICA DE

DIREITO PÚBLICO. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A

CONCESSÃO E AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO INTERESSE PÚBLICO.

INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 2º DA LEI N. 8.437/1992.

DESCUMPRIMENTO DO COMANDO DA SENTENÇA. MULTA

COMINATÓRIA DIÁRIA. AFASTAMENTO. PRETENSÃO DE REEXAME DE

PROVAS. SÚMULA 7/STJ. FIXAÇÃO DE ASTREINTES EM

ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. POSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE,

PARA EXECUÇÃO DA MULTA, DE DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO.

ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO ART. 333, I, DO CPC. ÔNUS DA PROVA.

DEFICIÊNCIA ARGUMENTATIVA. SÚMULA 284/STF. DECISÃO

MANTIDA. 1. Excepcionalmente, é possível conceder liminar sem

prévia oitiva da pessoa jurídica de direito público, desde que não

ocorra prejuízo a seus bens e interesses ou quando presentes os

requisitos legais para a concessão de medida liminar em ação civil

pública. Hipótese que não configura ofensa ao art. 2º da Lei n.

8.437/1992. Precedentes. AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº

1.372.950 - PB (2013/0064961-4) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO

MARTINS; AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA; ADVOGADO :

ALEXANDRE VIEIRA DE QUEIROZ E OUTRO(S); AGRAVADO :

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA; Brasília (DF), 11 de

junho de 2013(Data do Julgamento).

À vista da linha seguida pelo STJ sob este tema, impera o

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raciocínio de que a apreciação do pedido liminar deverá ocorrer mediante

dispensa da oitiva do Município. O TJMT igualmente já perfilhou este

pensamento no último dia 28 de janeiro do fluente ano, ao apreciar caso

análogo, verbis:

EMENTA – TJMT - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA

– LIMINAR – VAGA EM CRECHE - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE – APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 205 E 208 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL – DIREITO FUNDAMENTAL –

INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO À AUTONOMIA E SEPARAÇÃO DOS

PODERES – NECESSIDADE DE PRESTAÇÃO DA TUTELA

JURISDICIONAL INVOCADA – PRÉVIA OITIVA – NORMA NÃO

ABSOLUTA – RECURSO IMPROVIDO – DECISÃO MANTIDA. A

Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente

garantem o direito da criança de até 6 anos à educação infantil, em

creches ou pré-escola. Havendo ajuizamento de ação para assegurar

direito garantido por lei, a prestação da tutela jurisdicional é dever do

Poder Judiciário, não existindo violação à autonomia e separação dos

poderes. A prévia audiência da pessoa jurídica de direito público não

tem caráter absoluto, conforme entendimento do Colendo Superior

Tribunal de Justiça, AI, 31092/2013, DRA.VANDYMARA G. R. P.

ZANOLO, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data do Julgamento

28/01/2014, Data da publicação no DJE 03/02/2014.

Como cediço, para concessão antecipada da tutela se faz

necessária a presença do periculum in mora e do fumus boni iuris. Aquele é

presumido em lei. Este se encontra amplamente demonstrado.

Esses requisitos exigidos para a concessão da liminar são a

relevância da fundamentação da demanda, ou seja, o fumus boni iuris, e o

justificado receio de ineficácia do provimento final ou o fundado receio de

lesão grave e de difícil reparação, que se caracteriza como o periculum in

mora.

Na assertiva do eminente Professor Marcus Cláudio Acquaviva,

"In" Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva - Versão Informatizada, JB Data

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Ed. de Informática Jurídica Ltda., também acrescenta que:

"Fumus boni juris" é locução latina que significa indício,

possibilidade da existência de um direito ou, como assinala

Gilberto Caldas, presunção de legalidade. Da mesma forma

que, vulgarmente dizemos "onde há fumaça, há fogo", também

o jargão latino consagrou a "fumaça do bom direito",

advertindo aos juizes de que também o simples indício da

existência de um direito deve ser cuidadosamente observado, a

fim de que não ocorram lesões irreparáveis a um interesse

legítimo.

No caso vertente é de clareza meridiana a ocorrência do fumus

boni juris, um dos requisitos da tutela liminar, que vem a ser a previsão

mais do que razoável da existência do bom direito, a respaldar a pretensão

do requerente.

A propósito do tema, também disserta o Professor Marcus

Cláudio Acquaviva, ob. cit.:

"Periculum in mora" é locução latina que designa uma situação

de fato, caracterizada pela iminência de um dano, em face da

demora de uma providência que o impeça. Trata-se, portanto,

que um dano em potência, que ainda não se perfez”.

Pela argumentação acima exposta, entendemos satisfeitos

ambos os requisitos, uma vez que a ação está embasada na

indisponibilidade de verbas públicas tuteladas pela norma constitucional,

assim como no direito social difuso à segurança pública, ao passo que o

provimento jurisdicional buscado é da máxima urgência, pois visa a garantir

o mau uso de recursos, devendo esses serem investidos na prestação de

serviços essenciais à população, as quais não podem aguardar a prestação

jurisdicional definitiva, que, como é cediço em ações dessa natureza (ação

civil pública), pode demorar vários anos.

Ante o exposto, é imperioso que seja garantida a

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suspensão liminar do contrato de publicidade aqui invocado bem

como o bloqueio da quantia citada, assegurando-se, para tanto, a

abertura de crédito suplementar.

Por fim, é importante também ressaltar que o Ministério

Público não defende interesses dos credores do Estado, mas a

MANUTENÇÃO DO SERVIÇO DE SEGURANÇA PÚBLICA EM UM

PATAMAR MINIMAMENTE EFICIENTE, O QUE NÃO VEM

ACONTECENDO NOS DIAS ATUAIS, e que o bloqueio será o meio de

garantir o cumprimento dessa obrigação, destacando-se que, acaso

o Estado comprove o cumprimento desta, o mesmo poderá ser

suspenso. Busca-se com a quitação dos débitos aqui tratados,

assegurar a continuidade de serviço público essencial.

V – DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer o Ministério Público, EM CARÁTER

DE URGÊNCIA, a concessão de medida liminar MEDIDA LIMINAR, nos

seguintes termos:

1) Determine a imediata suspensão do pagamento do contrato

examinado nestes autos;

2) Determine o bloqueio do valor de R$18.546.034,68

(DEZOITO MILHÕES, QUINHENTOS E QUARENTA E SEIS

MIL E TRINTA E QUATRO REAIS E SESSENTA E OITO

CENTAVOS) das contas do Governo do Estado de onde se

originam os recursos para pagamento do contrato examinado

nestes autos, com amparo no art. 461, §5º, do CPC;

3) Determine ao Estado do Rio Grande do Norte a abertura do

crédito suplementar de R$18.546.034,68 (DEZOITO

MILHÕES, QUINHENTOS E QUARENTA E SEIS MIL E

TRINTA E QUATRO REAIS E SESSENTA E OITO

CENTAVOS), valor necessário para o pagamento das dívidas

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atuais na área de segurança pública, diretamente em favor da

Unidade Gestora Polícia Civil no total de R$ 7.431.168,42

(sete milhões quatrocentos e trinta e um cento e sessenta e

oito reais e quarenta e dois centavos), em favor da Unidade

Gestora Polícia Militar no valor de R$10.734.147,82 (dez

milhões setecentos e trinta e quatro mil cento e quarenta e

sete reais e oitenta e dois centavos), e em favor da Unidade

Gestora Corpo de Bombeiros Militar no valor de R$

380.718,44 (trezentos e oitenta mil, setecentos e dezoito

reais e quarenta e quatro centavos), com as seguintes fontes

de recursos garantidores do lastro orçamentário:

3.a) a anulação parcial ou total de dotação

prevista na divulgação de ações governamentais (dotação

11.105.24.131.0100-0001; Projeto de Atividade: 21.110 –

Divulgação de Ações governamentais) no valor previsto pela

Lei Orçamentária Anual do Estado do Rio Grande do Norte em

2014, Lei Estadual nº 9.826/2014, de R$ 17.446.000,00

(dezessete milhões, quatrocentos e quarenta e seis reais),

fonte de recursos da contratação realizada com a Assessoria de

Comunicação Social do Estado do Rio Grande do Norte –

ASSECOM, ora impugnada, ou;

3.b) ALTERNATIVAMENTE, a anulação parcial ou

total de dotação prevista na reserva de contingência (projeto

de atividade: 99990 - Reserva de Contingência), no valor

previsto pela Lei Orçamentária Anual do Estado do Rio Grande

do Norte em 2014, Lei Estadual 9.826/2014, de R$

33.445.000,00 (trinta e três milhões, quatrocentos e quarenta

e cinco mil reais).

Requer ainda que seja fixada multa diária, no valor de R$

10.000,00 (dez mil reais), para cada eventual caso de descumprimento

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(parcial ou total) do provimento jurisdicional, nos termos do § 2º do art. 12

da Lei nº 7.347/85 e art. 461, §§4.º e 5.º, do Código de Processo Civil,

multa a ser aplicada em caráter pessoal19 à Sra. Governadora do Estado.

Requer que o demandado informe nos autos as contas da

Assessoria de Comunicação Social do Estado do Rio Grande do Norte –

ASSECOM, da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar,

para fins de viabilizar o repasse dos valores mencionados.

NO MÉRITO, requer a PROCEDÊNCIA da presente Ação Civil

Pública para, confirmando-se a liminar deferida, em todos os seus termos,

obrigar o demandado a destinar a quantia de R$ 18.546.034,68

(DEZOITO MILHÕES, QUINHENTOS E QUARENTA E SEIS MIL E

TRINTA E QUATRO REAIS E SESSENTA E OITO CENTAVOS) do

contrato sob análise para o pagamento dos débitos referentes às

instituições afetas à Segurança Pública (Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo

de Bombeiros Militar), diante de toda argumentação jurídica aqui defendida.

Requer, a citação do demandado para, querendo, contestar a

presente ação e, ao final, sua condenação nas custas, no caso cabível.

Requer a notificação da mandatária, Exma. Governadora do

Estado, Rosalba Ciarlini Rosado, para fins de conhecimento acerca da

referida ação e imposição da multa pessoal, em caso de descumprimento.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em

direito admitidos, especialmente documental e testemunhal, na forma dos

arts. 440 a 443 do Código de Processo Civil.

Ação isenta de custas e emolumentos, na forma do art. 141,

19

Sobre multa pessoal aos Gestores Públicos, a doutrina do mestre HUGO DE BRITO MACHADO

(Descumprimento de Decisão Judicial e Responsabilidade Pessoal do Agente Publico in Revista Dialética de Direito

Tributário n. 86, p. 50 usque 59, Oliveira Rocha, São Paulo, 2002), defende que quando seja parte no processo a

Fazenda Pública, ou uma outra pessoa jurídica, a multa prevista no parágrafo único do art. 14, do Código de Processo

Civil, deve ser aplicada àquele que a corporifica, ao agente público, ao dirigente ou representante da pessoa jurídica

ao qual caiba a conduta a ser adotada em cumprimento da decisão judicial. “Não é razoável”, diz o mestre,

“sustentar-se, que, sendo o Estado responsável pela prestação jurisdicional, cuja presteza lhe cabe preservar,

tutelando e defendendo o interesse público primário, possa ele próprio, cometer um ato atentatório a dignidade da

jurisdição. Quem comete esse ato na verdade é o servidor público que não está realmente preparado para o

desempenho de suas atribuições em um Estado de Direito. A esse, portanto, cabe suportar a sanção correspondente.”

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§2º, da Lei nº 8.069/90.

Confia deferimento.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Leonardo Cartaxo Trigueiro

Promotor de Justiça

Fernando Batista Vasconcelos Promotor de Justiça

Isabela Lúcio Lima da Silva Promotor de Justiça

Emanuel Dhayan Bezerra de Almeida

Promotor de Justiça

Márcio Cardoso Santos Promotor de Justiça

Erickson Girley Barros dos Santos Promotor de Justiça

Edevaldo Alves Barbosa

Promotor de Justiça

Thibério César do Nascimento Fernandes

Promotor de Justiça

Maranto Filgueira Rodrigues de

Carvalho Promotor de Justiça

Silvio Roberto Souza Lima

Promotor de Justiça

Luiz Eduardo Marinho Costa Promotor de Justiça

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RELAÇÃO DE ANEXOS

1) Procedimento Preparatório nº 007/2013-NUCAP;

2) Matriz Consolidada e Repactuada do Programa Brasil Mais Seguro;

3) Decreto Estadual nº 23.801, de 18/09/2013;

4) Decreto Estadual nº 23.521, de 27/06/2013;

5) Decreto Estadual nº 23.569, de 05/07/2013;

6) Decreto Estadual nº 23.613, de 23/07/2013;

7) Decreto Estadual nº 23.627, de 02/08/2013;

8) Decreto Estadual nº 23.704, de 23/08/2013; e

9) Decreto Estadual nº 23.732, de 31/08/2013.