74
1 Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda Pública da Comarca de Londrina, Estado do Paraná. Distribuição por prevenção dos autos 0045693- 61.2011.8.16.0014, de medida cautelar de busca e apreensão, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final subscreve, em exercício na Promotoria Especializada de Proteção ao Patrimônio Público, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, em face de 1. ROBERTO DIAS SIENA, brasileiro, casado, portador da cédula de identidade RG nº 4.427.651, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº 623.960.999-49, filho de Edison Siena e Dirce Moura Siena, nascido no dia 16/06/1969, residente e domiciliado na Rua Evaristo Camargo, nº. 1101, Tamarana-PR; 2. CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, brasileiro, casado, secretário de finanças do Município de Tamarana-Pr, portador da cédula de identidade RG nº.

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

1

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda Pública da

Comarca de Londrina, Estado do Paraná.

Distribuição por prevenção dos autos n° 0045693-

61.2011.8.16.0014, de medida cautelar de busca e apreensão,

em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu

Promotor de Justiça que ao final subscreve, em exercício na Promotoria Especializada de

Proteção ao Patrimônio Público, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nas

disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da Constituição da República, art. 120,

inciso III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art.

1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A

RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, em face de

1. ROBERTO DIAS SIENA, brasileiro, casado, portador da

cédula de identidade RG nº 4.427.651, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob

o nº 623.960.999-49, filho de Edison Siena e Dirce Moura Siena, nascido no dia

16/06/1969, residente e domiciliado na Rua Evaristo Camargo, nº. 1101, Tamarana-PR;

2. CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, brasileiro, casado, secretário de

finanças do Município de Tamarana-Pr, portador da cédula de identidade RG nº.

Page 2: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

2

3614988-4/Pr e inscrito no CPF sob o n° 522.617.009-20, filho de Sebastião Catai e

Laura Mariuson Catai, nascido no dia 05/08/1964, residente e domiciliado na Rua Rio

Branco, nº 72, Tamarana/PR;

3. ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, pessoa jurídica de direito

privado, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nome fantasia OBEF,

constituída em 28/09/2001, inscrita no CNPJ sob o nº 05.328.233/0001-31, sito à Rua

Bahia, nº 275, CEP 86.730-000, Astorga-PR;

4. MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, brasileira,

divorciada, advogada, servidora pública municipal do Município de Cambé, portadora do

RG nº. 16277770/Pr e CPF nº. 365.941.809-91, filha de Oswaldo Ricieri e Mafalda Lydia

Ruzzon Ricieri, nascida no dia 11/07/1959, natural de Cambé-Pr, residente e

domiciliada na Rua das Palmeiras, 159, Cambé-Pr;

5. LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, brasileira,

portadora do Título de Eleitor nº 00.212.799.706-71, inscrita no CPF nº 960.349.719-34,

residente e domiciliada na Rua Espanha, nº 542, Centro, CEP 86181-050, Cambé-PR;

6. JOSÉ LUCAS REIS, brasileiro, portador da RG nº

1.040.248, inscrito no CPF sob o nº 191.255.009-10, filho de Tereza Guerra dos Reis,

residente e domiciliado na Rua Presidente Epitácio nº 169, também podendo ser

encontrado no nº 681, CEP 86730-000, Astorga-PR;

7. JOÃO VITOR RUTHES DIAS, brasileiro, servidor público,

diretor do departamento de licitações e pregoeiro designado do Município de Tamarana-

Pr, portador do Título de Eleitor n° 00.890.467.106-47, inscrito no CPF n° 054.439.939-

09, filho de Eliane Aparecida Ruthes Dias, nascido no dia 23/06/1986, residente e

domiciliado na Rua Prof. Ivonete Cintra Alcântara, 55, Centro, CEP 86.125-000,

Tamarana-Pr;

8. MARIA ROSE SOARES, brasileira, servidora pública,

auditora de controle interno do departamento de licitações do Município de Tamarana,

portadora do Título de eleitor nº 00.441.655.206-80, inscrita no CPF nº 535.503.079-34,

filha de Maria de Lima Soares, nascida no dia 14/08/1969, residente e domiciliada na

Av. Guilherme de Almeida, 1615, Parque Ouro branco, CEP 86042-000, Londrina-PR;

Page 3: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

3

9. ALDO BOARETTO NETTO, brasileiro, Secretário de

administração e serviços públicos do Município de Tamarana, inscrito no CPF de nº

714.051.279-53 e no Título de Eleitor sob o nº 00.138.963.106-80, residente e

domiciliado na Rua Demétrio C. Siqueira, 756, CEP 86125-000, Tamarana-PR;

10. SAULO RIBEIRO RODRIGUES, brasileiro, casado,

servidor público, contador do Município de Tamarana, portador do RG nº. 4486263-8,

filho de Miguel Pinto Ribeiro e de Salvadilha Rodrigues Ribeiro, residente e domiciliado

na Rua João Ribeiro, nº. 315, Jd. Coliseu, Londrina-Pr;

11. DIONE CORDEIRO DA SILVA, brasileiro, servidor

público, portador do RG 1.298.303/MS, inscrita no CPF 007.279.281-71, podendo ser

encontrado na Sede da Prefeitura Municipal de Tamarana, Rua Izaltino José Silvestre, nº

643, CEP 86.125-000, Tamarana-PR;

12. ARMANDO DA SILVA SOUZA, brasileiro, membro da

comissão de licitações do Município de Tamarana, portador do título de eleitor

00.135.081.006-55, inscrito no CPF 515.245.629-04, nascido em 02/03/1965, filho de

Marlene da Silva Souza, residente e domiciliado na Rua Alcides Gomes de Siqueira, nº 6,

Conjunto Seb Moura Tresse, CEP 86.125-000, Tamarana-PR;

13. . VALDECIR AMADOR ALMERON, brasileiro, membro

da comissão de licitações e da equipe de apoio aos pregões do Município de Tamarana,

portador do título de eleitor 00.722.923.106-80, inscrito no CPF nº 028.850.099-77,

filho de Margaria Amador Almeron, residente e domiciliado na Rua Erenilda Maria de

Jesus, nº 308, Jd. Piazentin, CEP 86043-220, Londrina-PR;

14. LEONILDO LOPES, brasileiro, portador do RG

5.237.099-0/PR, inscrito no CPF 014.530.469-84, residente e domiciliado na Avenida

Eloi Nogueira Silva, 126, Distrito de Lerroville, CEP 86.123-000, Londrina-PR;

Pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

Page 4: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

4

I. DA PREVENÇÃO

Antes de adentrar o mérito da ação, insta evidenciar que já

tramita nesse douto Juízo a ação cautelar de busca e apreensão nº 0045693-

61.2011.8.16.0014, proposta por este órgão do Ministério Público, distribuída à 1ª Vara

da Fazenda Pública de Londrina1, e que apresenta objeto coincidente ao contido na

presente demanda – esquema de corrupção em curso no âmbito da administração direta

do Município de Tamarana que estaria beneficiando um grupo de empresas e seus

representantes legais.

Consoante se infere dos autos da ação cautelar, proposta em

desfavor dos ora Requeridos acima nominados, entre outros, a finalidade era obter

suporte probatório que embasasse a propositura da presente ação civil pública de

improbidade (art. 17, §6º, LIA), o que de fato ocorreu, já que os documentos apreendidos

comprovaram as denúncias de corrupção e desvios de recursos públicos então

noticiadas pela vereadora Luzia Suzukawa2.

Resta claro, portanto, que há identidade de objeto entre a

Ação Cautelar nº. 0045693-61.2011.8.16.0014 e a presente Ação Civil Pública.

Consoante o art. 2°, parágrafo único, da Lei 7.347/85 e do

art. 17, §5°, da Lei 8.429/92, a propositura da ação cautelar “prevenirá a jurisdição do

juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir

ou o mesmo objeto”.

Nesses termos, o Ministério Público pugna pela distribuição

do feito por prevenção ao Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública de Londrina, na forma

prescrita no art. 17 da Lei 8.429/92.

II. FATOS

1 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina. 2 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa.

Page 5: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

5

II. 1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Após as investigações realizadas por esta Promotoria de

Justiça, no âmbito do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000998-83, apurou-se a

existência de um grande esquema ilícito (corrupção, fraudes em licitações; aditivos

indevidos, etc.) arquitetado e executado por agentes públicos lotados na Prefeitura de

Tamarana que, em concurso com terceiros, tinham por objetivo desviar recursos

públicos e beneficiar indevidamente determinadas empresas e os próprios agentes.

Parte desse esquema ilícito envolveu a ORGANIZAÇÃO BEIJA

FLOR – OBEF, entidade sem fins lucrativos, qualificada como OSCIP – Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público, utilizada pelos Requeridos como importante

instrumento destinado a frustrar a licitude de procedimentos licitatórios, possibilitar o

desvio de recursos dos cofres públicos municipais e permitir o enriquecimento ilícito de

agentes públicos e particulares.

A ação ímproba dos Requeridos resultou em lesão ao erário,

no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil,

quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos), ensejando o enriquecimento

ilícito dos agentes públicos no valor de R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e

noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos)4,

consubstanciando, assim, atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º,

“caput”, incisos I, XI; 10º “caput”, incisos I, VIII e XII, e art. 11º, “caput” e inciso I, todos da

Lei 8.429/92, devendo ser condenados às sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e

III, todos da Lei 8.429/92.

Assim, propõe-se a presente Ação Civil Pública com o

propósito de:

3 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000998-8. 4 R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos), foram incorporados, indevidamente, ao patrimônio dos requeridos, assim, como os valores de R$ 224.329,67 (duzentos e vinta e quatro mil, trezentos e vinte e novo reais e sessenta e sete centavos), referente à indevida cobrança da taxa de administração e R$ 92.589,00 (noventa e dois mil, quinhentos e oitenta e nove reais), pagos diretamente ao requerido CLEUDEMIR CATAI. Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 6: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

6

- Assegurar o resultado útil do processo, por intermédio da

indisponibilidade dos bens dos Requeridos, no montante necessário para garantir o

ressarcimento integral dos danos materiais ao erário Municipal, o pagamento de multa

civil e o pagamento dos danos morais difusos, até o trânsito em julgado da sentença

condenatória;

- Impor as sanções decorrentes da prática dos Atos de

Improbidade Administrativa, encartadas no art. 12, I, II e III da Lei 8429/92, decorrentes

da prática previstos nos artigos 9º, ‘caput’, incisos I, XI; art. 10, ‘caput’, incisos I, VIII e XII,

e art. 11º, ‘caput’ e inciso I, todos da Lei 8.429/92.

II. 2. DO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO

Luzia Suzukawa, então vereadora do Município de

Tamarana5, prestou declarações à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, ocasião

em que descreveu, detalhadamente, a existência de um esquema de corrupção

orquestrado e dirigido pelo Prefeito BETO SIENA e seus asseclas.

No curso das investigações, o Setor de Auditoria do

Ministério Público constatou uma organização de empresas conectadas por seus

representantes legais a agentes públicos municipais, que se organizavam para fraudar

procedimentos licitatórios, além de outros delitos contra a Administração Pública.

À vista dos fortes indícios de fraude e de enriquecimento

ilícito desses agentes públicos lotados na Prefeitura de Tamarana, esta Promotoria de

Justiça formulou pedido de busca e apreensão6, requerendo a apreensão de todos os

procedimentos administrativos (licitações e/ou quaisquer contratações diretas) em

tramitação ou arquivados na Prefeitura Municipal de Tamarana, em que figurassem

como participantes quaisquer dos investigados (sócios das empresas ou agentes

públicos), assim como a apreensão de equipamentos eletrônicos relacionados aos fatos

5 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa 6 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina.

Page 7: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

7

investigados7.

Deferido o pedido cautelar pelo Juízo da 1ª Vara da Fazenda

Pública, inúmeros documentos, físicos e eletrônicos, foram apreendidos, quer na

Prefeitura do Município de Tamarana, quer na residência de alguns dos Requeridos8.

O setor de Auditoria, após minuciosa análise dos

documentos apreendidos, apontou inúmeras ilicitudes que, analisadas

sistematicamente, desvendou a existência de uma organização criminosa, tendo o então

prefeito BETO SIENA, como operacionalizador de fraudes em inúmeros procedimentos

licitatórios, valendo-se, para cumprir tal mister, de agentes públicos e de terceiros,

pessoas físicas e jurídicas.

O esquema de corrupção orquestrado pela referida

organização criminosa, pode ser dividido em quatro frentes de atuação, segundo o

respectivo objeto da prestação de serviço, a saber:

TRANSPORTE DE PASSAGEIROS, envolvendo as

empresas Gustavo Sebastião, Chaar, JWC, MCM, MCA, D. R de

Carmargo, Silmara ME e L. da Silva;

ALIMENTOS, envolvendo as empresas Tajima e

Walmar;

ROÇADA E LIMPEZA DE BUEIROS, envolvendo as

empresas M.M. Serviços de Terraplanagem Ltda, e L.R.;

SAÚDE, envolvendo a OSCIP Organização Beija Flor;

Para visualizar melhor o esquema de corrupção e as

empresas que atuavam em cada modalidade de prestação de serviços, tem-se o

seguinte fluxograma:

7 Discos, pen drive, computadores, notebooks, netbooks, ou quaisquer dispositivos que servem para acessar dados eletrônicos, agendas e documentos. 8 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão.

Page 8: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

8

Com o propósito de, a um só tempo, facilitar a compreensão

TRANSPORTE PASSAGEIROS

GRUPO 1

CHAAR & SOUZAJWC

GUSTAVO SEBASTIÃO

GRUPO 2

MCMMCA

GRUPO 3

SILMARAD.R. DE CAMARGO

CHAAR & SOUZAJWC

GUSTAVO SEBASTIÃOMCMMCA

SILMARAD.R. DE CAMARGO

L DA SILVA

ROÇADA E LIMPEZA DE BUEIROS

M.M. Serviços de Terraplanagem Ltda.

LR – Prestadora de Serviços SS Ltda.

ALIMENTOS

Tajima Walmar

SAÚDE

OSCIP BEIJA FLOR

Page 9: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

9

dos fatos investigados por esta Promotoria de Justiça, assim como otimizar a respectiva

apreciação por esse respeitável juízo, serão propostas 4 (quatro) ações civis públicas,

destinadas à responsabilização dos Requeridos, agentes públicos e terceiros, pela

prática de Atos de Improbidade Administrativa encartados na Lei n.º 8.429/92.

Desta forma, a presente ação civil pública visa

responsabilizar os requeridos pela prática de Atos de Improbidade

Administrativa, tendo por objeto a frustração da licitude de procedimentos

licitatórios destinados a prestação de serviços médicos, para atendimento em

postos de saúde e no Hospital Municipal de Tamarana, vencidos pela OSCIP

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR – OBEF.

É de conhecimento público que, nos atos ilícitos (crimes

contra a administração pública e atos de improbidade administrativa) praticados em

detrimento de bens e interesses das pessoas jurídicas de Direito Público Interno (União,

Estados, Município), verdadeiras organizações criminosas são engendradas por agentes

públicos e terceiros, pessoas físicas e jurídicas, que unem seus esforços e distribuem

tarefas para frustrarem a licitude de procedimentos licitatórios, desviarem recursos

públicos e possibilitarem o enriquecimento ilícito dos agentes públicos e terceiros.

Em alguns casos, pessoas jurídicas são constituídas,

simplesmente, para servirem aos fins ilícitos idealizados por seus sócios e agentes

públicos que, no exercício de suas funções, exercem fundamental contribuição para o

aperfeiçoamento dos ilícitos penais e ímprobos almejados pela organização.

Na espécie, os delitos e atos de improbidade administrativa

praticados no Município de Tamarana tiveram como mentor e idealizador o chefe do

Poder Executivo Municipal, o então Prefeito ROBERTO SIENA, a quem incumbiu a tarefa

de distribuir e determinar aos agentes públicos por ele cooptados que praticassem os

atos ilícitos em favor do grupo, em vários setores da administração pública municipal

(Financeiro, Secretaria de Obras, Licitações, etc.).

O sucesso desta empreitada criminosa e ímproba, jamais

teria sido possível sem a necessária e fundamental intervenção do então Prefeito

Roberto Siena e outros agentes públicos Municipais, pessoas de sua confiança que

exerceram papel de destaque no esquema ilícito:

Page 10: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

10

- ROBERTO DIAS SIENA, então prefeito de Tamarana,

comandou o esquema de favorecimento da organização Beija-Flor, alocando os agentes

públicos em posições-chave possibilitando-lhes administrar a ORGANIZAÇÃO BEIJA

FLOR no interior da prefeitura, bem como direcionar e gerir os “convênios/parcerias”

forjados pelo grupo;

- CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, era o homem de confiança do

prefeito e requerido ROBERTO DIAS SIENA, verdadeiro operador da organização

criminosa coordenada e operacionalizada dos bastidores da prefeitura pelo então chefe

do Executivo, também agindo como administrador de fato dos programas que deveriam

ser executados pela Beija-Flor;

- JOÃO VITOR RUTHES DIAS, diretor do departamento de

licitações e pregoeiro designado, solicitava indicação de dotação orçamentária,

elaborava as minutas dos editais, conduzia os pregões e assinava os termos de

adjudicação; MARIA ROSE SOARES, auditora de controle interno do departamento de

licitações, responsável por atestar a licitude e a falsa “veracidade” do procedimento

licitatório; SAULO RIBEIRO RODRIGUES, contador, fazia a indicação dos recursos,

auxiliava nos pregões e assinava como testemunha dos contratos; e, por fim, DIONE

CORDEIRO DA SILVA9, ARMANDO DA SILVA SOUZA10, VALDECIR AMADOR

ALMERON11 e LEONILDO LOPES12, membros da comissão permanente de licitações;

eram todos integrantes do departamento de licitações do Município, incumbindo-lhes

fiscalizar a lisura dos procedimentos licitatórios; todavia, ao revés, permitiam e eram

coniventes com os atos ilícitos engendrados pelo grupo, colaborando com o

direcionamento do certame à Organização Beija Flor, mesmo diante da flagrante

ilegalidade da cláusula restritiva do edital, da ilicitude das propostas que não atendiam

aos requisitos legais e continham previsão de lucros;

9 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 02/2009 e 04/2010); Atuou nas licitações modalidade PREGÃO n. 46/09 e 24/10. (DOC 14 – Portarias de nomeação). 10 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 03/2005 e 01/2006); Atuou na licitação modalidade TOMADA DE PREÇOS 01/2005. (DOC 14 – Portarias de nomeação). 11 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 03/2005 e 01/2006); Atuou na licitação modalidade PREGÃO 04/2006. (DOC 14 – Portarias de nomeação). 12 Membro da comissão permanente de licitações e pregoeiro designado do Município de Tamarana-Pr (Portaria n. 77/2007, 78/2007 e 01/2008). Atuou como PREGOEIRO nas licitações n° 53/07 E 43/07. (DOC 14 – Portarias de nomeação).

Page 11: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

11

- ALDO BOARETTO NETTO, era secretário de

administração, tendo atuado decisivamente nos fatos ilícitos realizados pela organização

criminosa comandada pelo então prefeito BETO SIENA, autorizando a abertura de todos

os procedimentos licitatórios ora impugnados, ciente do favorecimento da Beija Flor,

por intermédio desses procedimentos e a subsequente apropriação indevida dos

repasses pelos integrantes do grupo.

Identificou-se que os requeridos, em divisão de tarefas e

identidade de propósitos, sempre coordenados e orientados pelo então Prefeito BETO

SIENA, praticaram inúmeros atos ilícitos para favorecer indevidamente a OSCIP Beija

Flor na consecução de programas na área de saúde pública, permitindo a apropriação de

recursos públicos e o enriquecimento ilícito dos agentes públicos, por meio de:

a) Frustração da Licitude dos procedimentos licitatórios-

Favorecimento da OSCIP BEIJA-FLOR nas licitações

promovidas pelo Município de Tamarana;

b) Desvirtuamento do objetivo da parceria- OSCIP que

funcionava como mera intermediária para contratação de

mão de obra na área de saúde; Administração dos

programas pelos próprios servidores públicos e pelo

requerido CLEUDEMIR CATAI;

c) Falta de prestação de contas- documentação inidônea para

a demonstração de despesas relacionadas com a execução

dos Programas; Indevida taxa de administração-Lesão ao

erário;

d) Apropriação de recursos destinados à execução do

Programa; enriquecimento ilícito dos agentes públicos e da

OSCIP.

II. 3. DA FRUSTRAÇÃO DA LICITUDE DOS PROCESSOS

LICITATÓRIOS – EVIDENTE FAVORECIMENTO DA OSCIP

BEIJA-FLOR.

Page 12: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

12

Por meio do aludido Inquérito Civil Público nº MPPR-

0078.11.000998-813, instaurado com base nas declarações da vereadora Luzia Harue

Suzukawa, apurou-se que, ao longo dos anos de 2005 a 2011, os requeridos ROBERTO

DIAS SIENA, Prefeito de Tamarana; JOÃO VITOR RUTHES DIAS, pregoeiro e Diretor do

Departamento de Licitações do Município de Tamarana; MARIA ROSE SOARES,

Auditora de Controle Interno do dpto. de licitações do Município de Tamarana; ALDO

BOARETTO NETTO, Secretário de administração e serviços públicos do Município de

Tamarana; CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, Secretário de finanças e DIONE CORDEIRO,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES

integrantes da comissão permanente de licitações do Município de Tamarana; bem

como, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, ex-presidente da Organização Beija Flor,

tendo dirigido a instituição de 03/2003 a 06/2010; LAIDE MARIA FADEL DE

CAMARGO, ex-presidente da Organização Beija Flor, tendo dirigido a instituição de

06/2010 a 10/2010; e, JOSÉ LUCAS REIS14, atual presidente da Beija-flor, tendo

assumido a função a partir de 10/2010; todos agindo com identidade de propósitos e

divisão de tarefas, engendraram grandioso esquema de corrupção e dilapidação de

recursos públicos, envolvendo a OSCIP Beija Flor, que ensejou o enriquecimento ilícito

dos requeridos, todos agentes públicos em razão da função ou por equiparação (art.

2°, segunda parte, da Lei 8.429/92), causou lesão ao erário no valor de R$ 4.486.593,30

(quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três

reais e trinta centavos)15.

A prática dos atos de improbidade ocorreu, em síntese,

mediante o desvio e apropriação indevida de recursos públicos destinados à saúde no

Município de Tamarana justificada, artificiosamente, por intermédio de

convênios/parcerias celebradas com a OSCIP Beija Flor.

De efeito, apurou-se que a OSCIP não executava os

programas da área de saúde, sendo mera intermediária na contratação da mão de obra

especializada; que após o pagamento dos médicos contratados, ao invés de devolver o

restante do dinheiro para os cofres públicos, os membros da OSCIP retinham a sobra ou

13 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000998-8. 14 DOC. 15 – Ata de eleição de presidência de José Lucas Reis 15 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4).

Page 13: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

13

excedente dos recursos repassados pelo município e não utilizados na execução dos

contratos, quantificado em R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil,

quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos)16 ou 37,81% do total de repasses,

valores que foram apropriados e incorporados ao patrimônio particular dos requeridos;

que reteve, indevidamente, o percentual de 5%, a título de taxa de administração; que a

OSCIP não apresentou qualquer documento apto a comprovar as despesas destinadas à

consecução dos objetivos da parceria, deixando evidente o enriquecimento ilícito tanto

dos gestores dos recursos, responsáveis pela Organização Beija Flor (considerados

agentes públicos, nos termos do art. 2°, segunda parte, da Lei 8.429/92) como dos

agentes públicos vinculados ao Município de Tamarana, os quais, prevaleceram-se de

seus cargos para intermediar ou facilitar a operação do esquema de desvio de recursos

públicos.

A partir das declarações da vereadora Luzia Harue

Suzukawa17, em confronto com documentos apreendidos18, o Setor de Auditoria apontou

que, após a assunção do prefeito, ora requerido ROBERTO DIAS SIENA, à frente da

Prefeitura do Município de Tamarana, no ano de 2005, curiosamente o município passou

a terceirizar os serviços públicos de saúde para a Org. Beija Flor, que era controlada e

administrada pelos requeridos MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO; LAIDE MARIA

FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS REIS (todas pessoas vinculadas ao deputado

Durval Amaral, presidente do partido do ex-prefeito), a fim de possibilitar que a Org.

Beija Flor passasse a executar programas na área de saúde.

A Organização Beija Flor, também chamada de OBEF, tem

sede registrada junto a Receita Federal do Brasil na Rua Brasil nº 449, Sala 2, na cidade

de Cambe/PR19, foi constituída em 28/09/2001 e está registrada com CNPJ número

05.328.233/0001-3120.

Formalmente seria uma associação, sem fins lucrativos,

qualificada pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse

16 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4). 17 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa. 18 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão 19 Atualmente, de maneira não oficial, transferiu seu domicílio para o Município de Astorga, a fim de tentar se esquivar dos mandados judiciais de busca e apreensão. 20 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público.

Page 14: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

14

Público (OSCIP) desde 14/09/2005, sendo declarada, posteriormente, como entidade de

Utilidade Pública através da Lei Estadual do Paraná n. 15.033/200621 e pela Lei n.

2.056/2006, editada pelo Município de Cambé.

Durante o período investigado (2005 a 2011), a requerida

BEIJA FLOR, foi assim dirigida: Sra. Marcilene Ricieri Borges Leão presidiu de

21 Note-se que os membros e administradores da ONG Organização Beija Flor, ora requeridos MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, SALETE MARIA DE CAMARGO GASTALDI, e MARCO PAULO GASTALDI, estão diretamente ligados ao Deputado Estadual Durval Amaral, recém-eleito para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná, o qual é ex-presidente do diretório regional do Partido Democratas – DEM, cujo Prefeito do Município de Tamarana, ora requerido Sr. ROBERTO DIAS SIENA, também integra o mesmo partido. Ver relatório nº 064/12 do Setor de Auditoria do Ministério Público.

Tais circunstâncias indicam que a Organização Beija Flor, recebeu forte influência do então Deputado Durval Amaral e seu grupo político, na medida em que, desde a fundação, as funções administrativas da Beija Flor sempre foram exercidas com exclusividade por parentes próximos ou pessoas de sua extrema confiança.

Observa-se que, logo após a criação da Organização Beija Flor, a requerida MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, servidora pública concursada no município de Cambé, presidiu a OSCIP no período de 03/2003 a 06/2010, e após deixar a administração da ONG, em abril de 2011, passou a ocupar diversos cargos em comissão durante a administração do Deputado Estadual Durval Amaral como Chefe da Casa Civil no Estado do Paraná, o que demonstra a vinculação de Marcilene com Durval Amaral:

• Chefe de Seção de Unidade Hospitalar de Porte II – Símbolo 1-C, da Secretaria de Estado da Saúde;

• Assistente 5-c, da Casa Civil; • Assessor – Símbolo DAS-4, da Casa Civil, a partir de 1º de janeiro de 2012 do Estado

durante a gestão de Durval Amaral como chefe da Casa Civil. Após a saída formal de Marcilene Ricieri Borges Leão da presidência (já que continuou

interferindo decisivamente na ONG), a sogra do deputado, Laide Maria Fadel de Camargo, passou a ocupar o cargo de presidente da Organização Beija Flor (em 06/2010) até 10/2010, sempre auxiliada pela cunhada do deputado, Salete Maria de Camargo Gastaldi (filha de Laide, irmã de Seila Aparecida de Carvalho Amaral) e seu marido Marco Paulo Gastaldi, tudo sob a supervisão de Marcilene, pessoa da mais alta confiança do deputado.

Segundo o depoimento do contador da Instituição, Sr. David Garcia de Assis (fls. 10 a 12), Marco Paulo Gastaldi é um dos responsáveis pela OSCIP: “...Que o declarante fez a folha de pagamentos da entidade Beija Flor durante esse mesmo período (oito anos), tendo deixado de prestar serviços para tal OSCIP no mês de junho do corrente ano de 2011; que durante todo o período que o declarante prestou serviços para a endidade BEIJA FLOR, o declarante era procurado pelas pessoas de MARCILENE RICIERI e MARCO PAULO GASTALDI, os quais representavam a OSCIP chamada Beija Flor...”

E conforme depoimento de Marcilene Ricieri, Marco Paulo era fiscal na prestação de serviços ao Município de Tamarana (fls. 19 a 22). “...que o Instituto Beija Flor mantinha um funcionário de nome Marco Paulo Gastaldi incumbido de fiscalizar a execução da parceria com o Município de Tamarana; que Marcos Paulo ia semanalmente a Tamarana conferir se os prontuários, a frequência dos médicos, qualidade em serviço era compatível com o objeto da parceria estabelecida com o Município de Tamarana...”

Registre-se que foi o então Deputado Durval Amaral, no exercício de sua atividade legislativa, propôs o projeto de lei estadual nº 658/2005, que mais tarde se converteria na Lei n. 15.033/06, tornando a Org. Beija Flor de Utilidade Pública, e, com isso obtendo uma série de benefícios legais para facilitar a ação do grupo.

Page 15: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

15

03/2003 a 06/2010; a Sra. Laide Fadel de Camargo, presidiu a instituição de 06/2010

a 10/2010 e por fim o Sr. José Lucas dos Reis que assumiu a presidência desde então22.

MARCILENE LEÃO, na qualidade de presidente da OBEF, foi

responsável e instrumentalizou o favorecimento da OSCIP Beija Flor nas licitações

Tomara de Preços 01/2005 e respectivo aditivo; Pregão 04/2006 e respectivo aditivo;

Pregão 53/2007 e respectivo aditivo; Pregão 43/2008; Pregão 46/2009 e Pregão

24/2010.

LAIDE CAMARGO, na qualidade de presidente da OBEF, foi

responsável pela continuação dos desvios iniciados por MARCILENE na execução do

contrato referente ao Pregão 24/2010;

JOSÉ LUCAS REIS, na qualidade de atual presidente da

OBEF, compactuou com as ilicitudes anteriormente praticadas pela OSCIP mediante a

prorrogação do contrato 36/2010, tendo, inclusive, sido o responsável pela celebração

do 1º e 2º aditivos contratuais, bem como simulou o furto das provas e documentos

comprobatórios das ilicitudes pertencentes a Beija-flor, fazendo comunicação falsa do

furto constante do B.O. 2011/48774623, emitido pela Polícia Civil de Astorga (PR).

A partir de sua qualificação como OSCIP, deferida pelo

Ministério da Justiça em 14/09/2005, a Organização Beija Flor abriu caminho para

firmar parcerias com o poder público para promoção gratuita da saúde, nos termos do

art. 3° da Lei Federal nº 9.790 de 1.999, regulamentada pelo Decreto nº 3.100/1999,

desde que previamente obedecido o procedimento licitatório exigido pelo art. 116 da Lei

8.666/93.

Consoante se depreende do Relatório de Auditoria nº

64/201224 e do quadro demonstrativo abaixo25, no período de 01/06/05 a 30/12/2011,

a Organização Beija Flor sagrou-se vencedora de todas as licitações destinadas à

contratação de serviços médicos pelo Município de Tamarana, inclusive, tendo sido a

22 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público. 23 DOC. 11 – Boletim de Ocorrência 2011/487746 24 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público. 25 Quadro extraído do Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC. 6).

Page 16: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

16

única concorrente interessada em contratar com o poder público em cada um dos seis

procedimentos licitatórios, e seus respectivos aditivos, realizados no período:

Quadro 01:

Licitações Vencidas pela Organização Beija Flor no Município de Tamarana.

Licitação

Mod./ Nº

Início do

Contrato Objeto do Contrato

Valor

Contratual

Tomada de

Preços

1/2005

01/06/05

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de serviços, através de

convênio ou termo de parceria com

Organização não Governamental

(ONG), no desenvolvimento do

Programa Combate à Dengue e do

Programa Saúde da Família

480.087,09

Aditivo 30/06/06

Prestação de serviço de forma

satisfatória e continuação dos

serviços até que seja realizado

concurso público para provimento

dos cargos de emprego público

vinculado ao Programa, conforme

TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA

firmado entre Ministério Público

Federal e Município.

Pregão

04/2006

02/01/2007

31/12/2007

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de serviços médicos, para

atendimento ao Posto de Saúde no

desenvolvimento do PSF - Programa

Saúde da Família e prestação de

serviços no Hospital Municipal de

Tamarana, com uma equipe médica

349.500,00

Page 17: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

17

de plantonistas.

Aditivo 31/10/2007

De acordo com a Lei 8666/93 e suas

alterações. (Total atualizado do

contrato: R$ 699.000,00)

349.500,00

Pregão

53/2007

12/11/2007

11/04/2008

Constitui objeto desta licitação a

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de serviços médicos,

através de Convênio ou Termo de

Parceria, para atendimento ao Posto

de Saúde no desenvolvimento do

349.500,00

Aditivo 31/10/2008

Conforme Lei 8666/93 e suas

alterações – realizado concurso

não houve inscrição de médico.

522.900,00

Pregão

43/2008

29/10/2008

30/04/2009

Constitui objeto desta licitação a

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de serviços médicos, para

atendimento ao Posto de Saúde no

desenvolvimento do PSF - Programa

Saúde da Família e prestaç

448.200,00

Pregão

46/2009

19/05/2009

19/01/2010

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de serviços médicos,

através de Convênio ou Termo de

Parceria, para atendimento ao Posto

de Saúde no desenvolvimento do PSF

- Programa Saúde da Família e

670.500,00

Pregão

24/2010

29/04/2010

30/12/2011

Constitui objeto desta licitação a

Contratação de pessoa jurídica para

prestação de Serviços Médicos, para

atendimento ao Posto de Saúde no

1.707.400,00

Page 18: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

18

desenvolvimento do ESF - Estratégia

Saúde da Família e prest

1º Aditivo 29/02/12

CLÁUSULA PRIMEIRA O presente

Termo Aditivo tem por objetivo

aditar ao Contrato Original nº

036/2010 de 29/04/2010,

alterações na clausula quarta,

passando a vigorar com a seguinte

redação: CLÁUSULA QUARTA - DO

PRAZO DE DURAÇÃO E

PRORROGAÇÃO Fica aditado ao

Contrato Original, prorrogação do

prazo de prestação de serviços de

Janeiro/2012 à Fevereiro/2012.

CLÁUSULA SEGUNDA - DAS DEMAIS

CLÁUSULAS Permanecem em seu

inteiro teor, as demais cláusulas do

Contrato Originário.

170.740,00

2º Aditivo 31/03/2012

CLÁUSULA PRIMEIRA O presente

Termo Aditivo tem por objetivo

aditar ao Contrato Original nº

036/2010 de 29/04/2010,

alterações na clausula quarta,

passando a vigorar com a seguinte

redação: CLÁUSULA QUARTA - DO

PRAZO DE DURAÇÃO E

PRORROGAÇÃO Fica aditado ao

Contrato Original, prorrogação do

prazo de prestação de serviços para

o mês de Março/2012. CLÁUSULA

SEGUNDA - DAS DEMAIS

CLÁUSULAS Permanecem em seu

85.370,00

Page 19: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

19

inteiro teor, as demais cláusulas do

Contrato Originário.

Total dos Contratos 4.653.610,00

Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Paraná

As contratações entre a Beija Flor e o Município de

TAMARANA, desvirtuaram a finalidade da parceria (ou convênio, Ver Relatório 64/12 do

Setor de Auditoria) entre a referida OSCIP e o Poder Público, já que não se prestaram ao

fomento/promoção gratuita da saúde do município.

De efeito, a OSCIP não atuava paralelamente ao Estado em

seu próprio âmbito de atividade; ao contrário, substituía-se à própria Administração

Pública, como verdadeira empresa terceirizada para fornecimento de mão-de obra na

área de saúde pública, verificando-se que até mesmo parcela de lucro percebia do

município. 26

No curso das investigações, apurou-se que as parcerias

firmadas com a Organização Beija-Flor serviram para os propósitos ilícitos dos

requeridos, possibilitando a apropriação de recursos públicos destinados à execução dos

programas na área da saúde e enriquecimento ilícito dos agentes públicos, em

decorrência dos contratos firmados com a Organização Beija Flor, resultantes dos

procedimentos licitatórios: Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão

53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão 24/2010.

Os atos de improbidade administrativa envolvendo os

requeridos nesta ação se operacionalizavam da seguinte maneira:

O município, por intermédio do requerido ALDO

BOARETTO NETTO, secretário de administração, que de tudo sabia, autorizava a

abertura do processo licitatório.

26 Vide item 3.2 do Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.6)

Page 20: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

20

Em seguida, por meio da atuação do secretário de finanças,

o então requerido CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, que também agia como representante dos

interesses da OSCIP dentro da prefeitura, determinava a publicação dos editais

convocando os interessados a participar do certame.

Por outro lado, a requerida Organização Beija Flor, sob o

comando dos requeridos MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO; LAIDE MARIA FADEL

DE CAMARGO – sogra do então Deputado Durval Amaral presidente do mesmo partido

do prefeito ROBERTO DIAS SIENA – e de JOSÉ LUCAS REIS, atual presidente da OSCIP,

com vistas a encobrir ou ocultar a posterior subtração dos recursos públicos, ou seja,

tornar impossível aferir onde e como seria aplicado cada centavo repassado pelo

município, apresentava proposta simplória e genérica27 contendo até mesmo previsão

de parcela de lucro (não obstante a ONG não possuir fins lucrativos) e, ardilosa e

propositalmente, deixava de descriminar dados importantes como os custos,

percentuais referentes à administração, tributos ou qualquer outro tipo de despesa

necessária para execução do contrato, como pode ser visto nas “observações” das

propostas assinadas pela presidente da OSCIP, a requerida Marcilene Ricieri Borges

Leão, enviadas em cada uma das licitações.

Nesse especial aspecto, são oportunas as considerações

externadas pelo Auditor do Ministério Público (v. ítem 3.4 do Relatório 64/1228):

“Chama a atenção a simplicidade das propostas exigidas pelos editais dos

pregões, limitando-se a solicitar o “Valor da Proposta Mensal” e “Valor da

Proposta no Período”, não solicitando descrição de custos, taxa de

administração do serviço, tributos e demais despesas, impossibilitando, assim,

uma análise pela comissão de licitação da viabilidade da proposta apresentada,

dando margem a superfaturamento no valor da prestação de serviços, visto que

não é possível determinar a margem real de “taxa de administração” utilizada

pela OSCIP”.

27 DOC. 7 – Propostas de preços da BEIJA FLOR 28 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público

Page 21: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

21

“Pudemos demonstrar, ainda, indícios de que as licitações eram direcionadas,

já que nunca houve concorrente interessado em participar de qualquer dos

processos licitatórios os quais a OBEF tenha participado e vencido”.

Embora manifestamente contrária às exigências

estabelecidas pela legislação especial, art. 38 e art. 116, §1°, da Lei 8.666/93, a proposta

da Organização Beija Flor (inacreditavelmente, única participante do certame) era aceita

pelos integrantes da comissão de licitação, os requeridos JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA

SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, bem como pela auditora

de controle interno MARIA ROSE SOARES e pelo ex-secretário de finanças CLEUDEMIR

JOSÉ CATAI, que eram justamente os agentes públicos que, por dever de ofício,

deveriam se atentar para a ilicitude, desclassificar a proponente ou anular o

procedimento eivado de invalidades.

Entretanto, mesmo diante da singeleza da proposta, além da

incrível e recorrente ausência de concorrentes em todas as licitações, o procedimento

era homologado e assinado pelo prefeito ROBERTO DIAS SIENA que, também por dever

de ofício, era a autoridade máxima que deveria fiscalizar a lisura de todo o processo

licitatório. Ao contrário, grande operador do esquema ilícito (possuía, portanto, o

domínio do fato e do desenrolar dos comportamentos de seus subordinados),

sacramentava a fraude e determinava que se seguisse à assinatura dos contratos por ele

próprio e o representante legal da Beija Flor.

II. 4. DESVIRTUAMENTO DO OBJETIVO DA PARCERIA –

OSCIP QUE FUNCIONAVA COMO MERA INTERMEDIÁRIA

PARA CONTRATAÇÃO DE MÃO DE OBRA NA ÁREA DE

SAÚDE – INDEVIDA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO –

ADMINISTRAÇÃO DOS PROGRAMAS PELOS PRÓPRIOS

SERVIDORES PÚBLICOS E PELO REQUERIDO CLEUDEMIR

CATAI.

Page 22: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

22

Conforme as declarações da própria requerida MARCILENE

RICIERI29, ultimada a contratação com o Município, o papel da OSCIP BEIJA FLOR na

prestação de serviços de saúde à Administração Municipal de Tamarana era ínfimo ou

praticamente inexistente, servindo apenas como instrumento de enriquecimento ilícito

de agentes públicos e terceiros.

Com efeito, a OSCIP BEIJA FLOR foi idealizada como simples

instrumento para, a um só tempo, repassar valores do Município de Tamarana

destinados à saúde municipal e, como consequência, dificultar a fiscalização e

proporcionar, aos agentes públicos (coordenados e comandados por BETO SIENA) E

terceiros (representantes legais da BEIJA FLOR), enriquecerem, ilicitamente.

Frise-se que todo o trabalho para o qual a OSCIP BEIJA FLOR

foi contratada, na realidade era executado pela própria Administração Pública, através

da Secretaria de Saúde do Município de Tamarana em conjunto com o Escritório de

Contabilidade Aliança (que elaborava a folha de pagamento da Beija Flor) e o Secretário

de Finanças do Município, o requerido CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, cabendo à OSCIP e

seus administradores única e exclusivamente a função de assinar as cártulas de cheques

e entregá-las a CATAI, que era quem retirava todo o dinheiro diretamente na “boca do

caixa” para destiná-los a fins diversos daqueles estabelecidos na Parceria.

Deste modo, constatou-se o total desvio de finalidade dos

objetivos estabelecidos pela Lei 9.790/99 e das Parcerias/Convênios firmados com a

OSCIP BEIJA FLOR, que revelou ter por objetivo exclusivo o aperfeiçoamento do

esquema ilícito de dilapidação dos cofres públicos engendrado pelo prefeito ROBERTO

DIAS SIENA e pelo Secretário de Finanças CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, em conluio e o

auxílio dos agentes municipais ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES,

bem como os representantes da Beija Flor, requeridos MARCILENE RICIERI BORGES

LEÃO; LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS REIS.

Reforçando a assertiva de que a atuação da OSCIP nos

“Termos de Parceria” com o Município de Tamarana era de mera intermediadora na

29 DOC. 8 – Termos de declarações de Marcilene Ricieri.

Page 23: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

23

contratação de mão de obra e que as Parcerias foram utilizadas como instrumento para

dilapidação dos cofres públicos, a requerida MARCILE LEÃO30 declarou que embora a

organização da escala dos médicos contratados e controle de suas frequências

constituíssem obrigação contratual da BEIJA FLOR, era a própria Secretaria de Saúde

que promovia tais atividades e, em seguida, repassava os controles de frequência para o

Escritório de CONTABILIDADE ALIANÇA para a emissão das folhas de pagamento.

Corroboram estes fatos as declarações da requerida

MARCILENE31:

“...que a parceria atual com o Município de Tamarana tem por objetivo o

fornecimento de mão de obra médica para atender os plantões médicos no

município de Tamarana; que normalmente a indicação dos profissionais a

serem contratados pelo Instituto Beija Flor é feita pela própria Secretaria de

Saúde do Município de Tamarana, pelos próprios médicos, por indicação de

terceiros, mas que ao final, passava pela Secretaria de Saúde do Município de

Tamarana; que a secretaria também é responsável por organizar a escala de

plantões dos médicos; que a Secretaria de Saúde também fazia a fiscalização

dos cumprimentos do plantões prestados pelos médicos...”

(...)

“...que pelo que a declarante tem conhecimento, os pagamentos efetuados aos

médicos eram feitos pelo próprio Município de Tamarana, acompanhado pela

pessoa de Marcos Paulo; que a Secretaria de Saúde apresentava o controle de

freqüência dos médicos que servia de base para a emissão dos cheques de

pagamentos; que o Instituto Beija Flor emitia os cheques e os encaminhava

para o Cleudemir Catai, que se incumbia de fazer os repasses dos valores aos

médicos...”

(...)

“...que a declarante nunca teve qualquer contato com os médicos que prestam

serviços o Município de Tamarana; que a própria Secretaria de Saúde do

30 DOC. 8 – Termos de declarações de Marcilene Ricieri 31 DOC. 8 – Termos de declarações de Marcilene Ricieri

Page 24: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

24

Município é quem combinou os valores das remunerações dos médicos e que

repassa esses valores para o Instituto; que questionada qual é exatamente a

parte que incumbe ao Instituto Beija Flor na realização dos serviços constantes

da parceria, já que a contratação dos médicos , fiscalização dos plantões,

pagamentos dos profissionais, são realizados pelo próprio município de

Tamarana, a declarante afirmou que esses serviços são realizados com parceria

do Instituto...“

De acordo com esses depoimentos e o relatório de

auditoria32, o requerido CLEUDEMIR JOSÉ CATAI agia ativamente na administração da

Parceria estabelecida com a OSCIP BEIJA FLOR, já que recebia cheques que eram sacados

na “boca do caixa” das agências bancárias, efetivava pagamentos aos médicos

contratados em nome da OSCIP colhendo assinaturas dos mesmos em RPA’s,

representava a OSCIP resolvendo as situações relacionadas à prestação de serviços,

atuando como verdadeiro operador financeiro da OSCIP dentro da Prefeitura.

Analisando a documentação apreendida33, o Setor de

Auditoria do Ministério Público34 constatou que os pagamentos aos médicos dos

programas se davam da seguinte forma:

“(...) Parte através de cheques emitidos pela Organização Beija-Flor e entregues

pelo Secretário de Finanças do Município, Sr. Cleudemir José Catai;

Parte em dinheiro efetivado pelo então Secretário de Finanças do Município Sr.

Cleudemir José Catai, após o saque dos valores na “boca do caixa” junto às

instituições bancárias em que a Organização Beija-Flor possuía conta corrente;

Parte através de depósitos em dinheiro efetivado pelo Sr. Cleudemir José Catai

na conta corrente dos médicos prestadores de serviços.

Parte do pagamento através de transferências bancárias da conta corrente da

OBEF à conta corrente particular dos médicos prestadores de serviços”.

32 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público 33 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão 34 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público

Page 25: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

25

CLEUDEMIR CATAI, mais uma vez, aparece como homem de

confiança do Prefeito e requerido BETO SIENA, na consecução de fundamental tarefa do

grupo criminoso, ou seja, realizar saques na boca do caixa, e transferir parte dos valores

sacados aos médicos, apenas formalmente pagos pela OSCIP BEIJA FLOR.

É claro que o expediente de sacar cheques na boca do caixa

trata-se de modus operandi há muito conhecido dos órgãos de investigação Estatais, com

o nítido propósito de escamotear o destino de parte do dinheiro desviado.

Note-se que CLEUDEMIR CATAI, tinha várias tarefas na

organização criminosa dirigida por BETO SIENA, sendo a pessoa responsável por

administrar, de fato, a empresa MM SERVIÇOS DE TERRAPLANAGEM LTDA (FATO

DESCRITO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA PRÓPRIA), além de administrar, também de fato, os

serviços médicos que deveriam ser realizados por funcionários da BEIJA FLOR.

Ressalte-se que, durante a execução dos mandados de busca

e apreensão cumpridos na sede administrativa do Município de Tamarana, ao perceber

que as ilegalidades perpetradas pelo grupo de ímprobos tinham sido descobertas,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, Secretário de Finanças do Município, foi flagrado tentando

ocultar, no interior de sua sala, diversos comprovantes de pagamentos efetivados por

ele com recursos públicos destinados à OSCIP BEIJA FLOR35.

Na mesma ocasião, a agente pública EDVANDA CAMARGO

DE PAULA, servidora pública municipal de Tamarana, também foi flagrada rasgando e

amassando papéis36 que continham relação de nomes e valores pagos aos médicos

contratados pela OSCIP BEIJA FLOR, para a execução dos Termos de Parceria.

Outrossim, reforçando o caráter meramente “instrumental”

dos Termos de Parceria para permitir a consecução de propósitos ilícitos pelos

REQUERIDOS, o requerido CLEUDEMIR CATAI, Secretário de Finanças do Município de

Tamarana, em suas declarações prestadas a esta Promotoria de Justiça37, informou que

nunca houve qualquer tipo de prestação de contas da OSCIP BEIJA FLOR à Prefeitura de 35 Vide Item III do Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.6) 36 Vide Item III do Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.6) 37 DOC. 9 – Termo de declarações de Claudemir José Catai

Page 26: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

26

Tamarana, e que era ele quem, na verdade, prestava contas à OSCIP BEIJA FLOR dos

médicos que havia pago seguindo os valores contidos nas folhas de pagamento

confeccionadas pela CONTABILIDADE ALIANÇA:

“...que as RPAs apreendidas na Prefeitura referem-se a pagamentos feitos aos

médicos; que de posse dessas RPAs o Município pretendia encaminhar para a

ONG os valores pagos aos médicos para posteriormente a ONG apresentar a

prestação de contas; que a a Organização Beija Flor nunca prestou contas ao

Município de Tamarana dos valores recebidos para prestar serviços na área de

saúde...” (grifo nosso)

Também corroboram estes fatos as declarações prestadas,

nesta Promotoria de Justiça, por EDVANDA CAMARGO DE PAULA38, Diretora

Administrativa do Hospital São Francisco em Tamarana:

“...que é a declarante quem faz o controle de freqüência desses médicos; que de

posse desse controles manda para a secretaria de finanças do Município para o

Secretário Cleudemir...” (grifo nosso)

“...que a declarante não sabe onde fica a Beija-Flor; que não sabe o telefone da

Beija-Flor porque são sempre eles que ligam; que entretanto, quase todos os

problemas relacionados com a prestação de serviços da ONG são tratados como

próprio Cleudemir Catai... (grifo nosso)

“...que a declarante não sabe dizer exatamente qual o objeto da prestação de

serviços da Beija-Flor com o Município de Tamarana, já que é a declarante

quem faz o controle de freqüência dos médicos e o pagamento é feito por

intermédio da prefeitura...”

Ainda, tomando como base a declaração do então secretário

de finanças do município, conclui-se que ao invés de a ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR

prestar contas ao Município de Tamarana, era na verdade o Município de Tamarana, por

38 DOC. 10 – Termo de declarações de Edvanda Camargo de Paula.

Page 27: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

27

meio da pessoa de seu Secretário de Finanças, CLEUDEMIR CATAI, quem prestava

contas à OSCIP.

II. 5. FALTA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS –

DOCUMENTAÇÃO INIDÔNEA PARA A DEMONSTRAÇÃO

DE DESPESAS RELACIONADAS COM A EXECUÇÃO DOS

PROGRAMAS – INDEVIDA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO –

LESÃO AO ERÁRIO.

A Auditoria apurou que, entre fevereiro de 2006 e julho de

2011, a Beija-Flor recebeu R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e

seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos)39.

Para demonstrar detalhadamente a vultosa quantia desviada

dos cofres públicos municipais de Tamarana, a Auditoria do Ministério Público elaborou

quadro sinóptico, contendo levantamento dos repasses de recursos públicos do

Município para a OSCIP BEIJA FLOR e dos gastos comprovados pela OSCIP para a

administração dos Termos de Parceria, cujas informações foram obtidas a partir de

documentos apreendidos na sede da OSCIP e na Prefeitura Municipal de Tamarana,

conforme Relatório nº 64/2012.

Segue, o Quadro Sinóptico40, elaborado pelo Setor de

Auditoria do Ministério Público, contendo resumo de todos os Termos de Parceria

firmados com o Município de Tamarana:

Quadro 6:

Contrato/ano

Valor do repasse corrigido

(a)

Valor gasto com

pagamento a

Valor gasto com

pagamento a

Taxa de administraç

ão 5% - corrigida

Total de despesas corrigida

(b+c)

Excedente

corrigido a – (b+c)

39 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4) 40 Quadro extraído da Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)

Page 28: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

28

médicos médicos corrigido

(b)

(c)

143/2006 974.038,50 151.365,00 208.656,03 48.701,93 257.357,95 716.680,55

118/2007 612.697,45 268.935,22 341.305,19 30.634,87 371.940,07 240.757,38

049/2008 553.961,55 334.340,00 413.286,03 27.698,08 440.984,11 112.977,45

046/2009 996.597,73 494.643,33 600.372,68 49.829,89 650.202,57 346.395,16

036/2010 1.349.298,

07 885.733,38

1.002.216,58

67.464,90 1.069.681,

48 279.616,59

TOTAL GERAL:

4.486.593,30

2.135.016,93

2.565.836,51

224.329,67 2.790.166,18

1.696.427,12

Data da atualização dos valores: 12/2012

Indexador utilizado: INPC - IBGE

Ressalta-se que, para realizar o cálculo dos gastos realizados

pela OSCIP BEIJA FLOR, na administração dos Termos de Parceria, e para os recursos

públicos excedentes, o Setor de Auditoria do Ministério Público destacou que levou em

conta documentos financeiros (recibos, RPA’s, cheques, comprovantes de depósitos

bancários) apreendidos na sede da OSCIP e na Prefeitura de Tamarana, não se atendo,

todavia, à licitude ou idoneidade comprobatória de tais documentos, tomando todos

como supostamente válidos e reais.

Vale dizer, o Setor de Auditoria considerou os documentos

inidôneos para comprovar a efetiva execução das finalidades das parcerias estabelecidas

entre a Organização Beija Flor e o Município de Tamarana.

Constatou-se que nunca houve prestação de contas por parte

da Beija Flor ao Município de TAMARANA, quanto aos recursos destinados à área de

saúde, destacando-se que os requeridos fizeram várias tentativas de escamotear a

fiscalização da aplicação dos recursos repassados à entidade.

Além da tentativa de esconder documentos durante a

execução dos mandados de busca e apreensão cumpridos na sede da Prefeitura de

Page 29: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

29

Tamarana, conforme já mencionado, durante o cumprimento dos mandados de busca na

sede BEIJA FLOR, de posse do Sr. JOSÉ LUCAS DOS REIS, então presidente da ONG, havia

um Boletim de Ocorrência sob nº 2011/48774641, referente à comunicação de furto

simples de documentos pertencentes à OSCIP relacionados à execução dos Termos de

Parceria com o Município de Tamarana, tais como: talões de nota, balanços contábeis,

recibos, contratos de prestação de serviços, cópia do estatuto, notas fiscais de produtos,

acertos trabalhistas. No entanto, pasmem, na mesma caixa onde estava o B.O.,

também estavam os documentos noticiados como “furtados”! (v. Relatório nº

64/1242).

A falta de prestação de contas e a completa inidoneidade da

documentação mantida pela ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, relacionada às despesas com a

execução dos termos de parceria firmados com o Município de Tamarana, levaram o

Setor de Auditoria que não há documentação válida que comprove as despesas com a

execução das parcerias, devendo ser considerado como prejuízo aos cofres públicos o

valor total de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil,

quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos)43.

Observa-se, outrossim, que no cálculo dos gastos efetuados

pela OSCIP BEIJA FLOR na execução dos Termos de Parceria, considerou-se a Taxa de

Administração de 5% sobre o valor total repassado mensalmente pelo Município de

Tamarana, pois de acordo com declarações prestadas pela requerida MARCILENE LEÃO

nesta Promotoria de Justiça44, a referida porcentagem integrava as propostas de preço45

apresentadas pela BEIJA FLOR nos procedimentos licitatórios realizados pela Prefeitura

de Tamarana de que participou e sagrou-se vencedora, para a contratação de pessoa

jurídica para a prestação de serviços no âmbito da saúde de Tamarana.

Todavia, verificou-se a completa ilegalidade na inclusão da

referida “Taxa de Administração de 5%” pela OSCIP na execução dos Termos de

Parceria, pois a referida Taxa não foi prevista nos editais licitatórios ou contratos

41 DOC. 11 – Boletim de Ocorrência 2011/487746 42 DOC. 6 43 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4) 44 DOC. 8 – Termos de declarações de Marcilene Ricieri 45 DOC. 7 – Propostas de preços da BEIJA FLOR

Page 30: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

30

administrativos do Município de Tamarana, referente à contratação de pessoa jurídica

para a prestação de serviços médicos, que resultaram nas parcerias estabelecidas entre

a OSCIP BEIJA FLOR e o Poder Público.

Apurou-se, ainda, que eram os servidores da Secretaria de

Saúde do Município de Tamarana e o Secretário de Finanças, CLEUDEMIR CATAI, que

administravam, de fato, os programas da área de saúde constantes dos Termos de

Parceria firmados com a ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, não tendo a OSCIP se incumbido de

suas obrigações como ‘parceira’ do Município na execução dos Programas (v. Relatório

nº 64/12 do Setor de Auditoria46).

Assim, a “Taxa de Administração” sobre o Termo de

Parceria, no valor de R$ 224.329,67 (duzentos e vinte e quatro mil, trezentos e vinte

reais e sessenta e sete centavos)47 correspondente a 5% do montante total dos

recursos públicos repassados mensalmente pela Prefeitura de Tamarana à inclusão pela

OSCIP BEIJA FLOR, Organização “sem fins lucrativos”, foi indevidamente incorporado ao

patrimônio dos gestores de recursos públicos, causando a correspondente lesão ao

erário.

II. 6. APROPRIAÇÃO DE RECURSOS DESTINADOS À

EXECUÇÃO DO PROGRAMA – ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

DOS AGENTES PÚBLICOS E DA OSCIP.

Ademais, documentos apreendidos na referida busca,

revelaram que no período de 07/2010 a 04/2011, o requerido CLEUDEMIR CATAI

enriqueceu-se ilicitamente da quantia de R$ 92.589,00 reais, referentes a recursos

públicos transferidos por meio de 12 cheques emitidos pela OSCIP BEIJA FLOR,

subscritos por sua então presidente MARCILENE LEÃO, correspondente a recursos

públicos repassados pelo Município de Tamarana à ONG para a execução dos Termos de

Parceria, cujo valor era dissolvido pelos dirigentes da OSCIP no montante total dos

46 DOC. 6 47 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 31: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

31

demais gastos para a administração e desenvolvimento das atividades contratadas (v.

item 8 do Relatório 64/201248).

Com efeito, a partir da análise dos documentos apreendidos,

em especial dos canhotos de cheques emitidos pela BEIJA FLOR49, subscritos pela

requerida MARCILENE LEÃO, constatou-se que 12 cheques foram repassados

diretamente ao Secretário de Finanças CLEUDEMIR CATAI, conforme demonstra a

anotação nos canhotos das respectivas cártulas50.

Esses recursos públicos repassados pela OSCIP BEIJA FLOR

ao Secretário de Finanças CLEUDEMIR CATAI, por meio de cheques da OSCIP subscritos

por MARCILENE LEÃO, referiam-se ao seu “pagamento” pela participação no esquema

ilícito travado na Administração Pública Municipal de Tamarana, que deu desvirtuada

finalidade aos falsos “Termos de Parceria” para prestação de serviços de Saúde, cuja

execução servia como instrumento para aperfeiçoamento do esquema ilícito de

dilapidação dos cofres públicos.

O quadro51 elaborado pela Auditoria do Ministério Público

discrimina os cheques repassados ao requerido CLEUDEMIR CATAI e seus respectivos

valores, a partir da Busca e Apreensão dos canhotos dos cheques junto à OSCIP BEIJA

FLOR (canhotos e anotações nas figuras 15 a 23 do Relatório de Auditoria):

Quadro 8

Valores registrados com a anotação

“Cleudemir”

Data Nº da folha de

cheques Valor

05/07/2010 AA-001552 R$ 2.500,00

02/08/2010 AA-001567 R$ 5.000,00

48 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público 49 DOC. 12 – Relação de cheques apreendidos 50 DOC. 13 – Cheques repassados a Cleudemir Catai 51 Quadro extraído do Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC. 6)

Page 32: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

32

02/09/2010 AA-001577 R$ 5.000,00

29/09/2010 AA-001585 R$ 5.000,00

04/11/2010 AA-001603 R$ 5.000,00

02/12/2010 AA-001614 R$ 19.262,00

02/12/2010 AA-001615 R$ 5.000,00

22/12/2010 AA-001640 R$ 13.062,00

22/12/2010 AA-001641 R$ 5.000,00

03/03/2011 AA- 001691 R$ 15.265,00

07/02/2011 AA-001669 R$ 6.250,00

04/04/2011 AA-001709 R$ 6.250,00

Total R$ 92.589,00

O bloco de anotações e o canhoto dos cheques em anexo52,

emitidos por MARCILENE RICIERI (que reconheceu ser sua letra manuscrita nos

documentos apreendidos) comprovam que o agente público CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, na

qualidade de secretário municipal de finanças, recebeu pessoalmente parte do dinheiro

destinado á execução dos termos de Parceria, através de cheques da OBEF com valores

variáveis em seu nome, demonstrando cabalmente o enriquecimento ilícito deste agente

público e seu grupo formado pelos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, ALDO

BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO

RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, consubstanciando a prática de

ato de improbidade administrativa prevista no art. 9° da Lei de Improbidade.

Outrossim, o Setor de Auditoria apurou que, entre fevereiro

de 2006 e julho de 2011, a Organização Beija-Flor recebeu R$ 4.486.593,30 (quatro

52 DOC. 13 – Cheques repassados a Cleudemir Catai

Page 33: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

33

milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta

centavos) em recursos destinados a projetos na área da saúde do município de

Tamarana. Apurou-se, ainda, que do total do valor repassado, o montante de R$

1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais

e doze centavos) ou 37,81% do total de repasses, não tiveram a destinação apropriada,

passando a integrar o patrimônio particular dos requeridos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES,

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOÃO

LUCAS REIS.

Para demonstrar detalhadamente a vultosa quantia desviada

dos cofres públicos municipais de Tamarana, a Auditoria do Ministério Público elaborou

quadro sinóptico, contendo levantamento dos repasses de recursos públicos do

Município para a OSCIP BEIJA FLOR e dos gastos comprovados pela OSCIP para a

administração dos Termos de Parceria, cujas informações foram obtidas a partir de

documentos apreendidos na sede da OSCIP e na Prefeitura Municipal de Tamarana,

conforme Relatório nº 64/2012.

Destaca-se, no Quadro Sinóptico53, elaborado pelo Setor de

Auditoria do Ministério Público, contendo resumo de todos os Termos de Parceria

firmados com o Município de Tamarana, a demonstração do excedente de R$

1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte

sete reais e doze centavos), relativos a recursos públicos repassados pelo Município

para a OSCIP BEIJA FLOR, para a administração dos Termos de Parceria para Prestação

de serviços e desenvolvimento de programas na área de saúde da Cidade de Tamarana,

que foram apropriados pelos requeridos.

Quadro 6:

Contrato/ano

Valor do repasse

Valor gasto

Valor gasto

Taxa de administraç

Total de despesas

Excedente

53 Quadro extraído da Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)

Page 34: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

34

corrigido (a)

com pagamen

to a médicos

com pagamen

to a médicos corrigido

(b)

ão 5% - corrigida

(c)

corrigida (b+c)

corrigido a – (b+c)

143/2006 974.038,50 151.365,00 208.656,03 48.701,93 257.357,95 716.680,55

118/2007 612.697,45 268.935,22 341.305,19 30.634,87 371.940,07 240.757,38

049/2008 553.961,55 334.340,00 413.286,03 27.698,08 440.984,11 112.977,45

046/2009 996.597,73 494.643,33 600.372,68 49.829,89 650.202,57 346.395,16

036/2010 1.349.298,

07 885.733,38

1.002.216,58

67.464,90 1.069.681,

48 279.616,59

TOTAL GERAL:

4.486.593,30

2.135.016,93

2.565.836,51

224.329,67 2.790.166,18

1.696.427,12

Data da atualização dos valores: 12/2012

Indexador utilizado: INPC - IBGE

A apropriação dos recursos repassados à Oscip seguiu

sempre o mesmo modus operandi e pode ser observada claramente, de forma

sistemática, em todos os procedimentos referidos acima, por meio do cotejo dos dados

contidos no caderno de anotações de MARCILENE e os canhotos dos cheques54.

Com essa prática criminosa e ímproba, os requeridos

ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO

VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE

CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON,

LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE

CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, além de contribuírem para que a Organização Beija

Flor monopolizasse as licitações do Município de Tamarana, mediante a frustração da

licitude (direcionamento de fornecedor e aceitação de propostas inválidas) para

contemplá-la com o valor de R$ 4.486.593,30 dos cofres públicos em adjudicações dos

seus respectivos objetos, ainda concorreram para o enriquecimento ilícito de todos os 54 DOC. 12 – Relação de cheques

Page 35: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

35

requeridos, que incorporaram aos seus patrimônios a sobra ou excedente de valores

repassados à OBEF e não utilizados nos projetos, no valor total de R$ 1.696.427,12 (um

milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos),

consubstanciando a prática de ato de improbidade administrativa previsto no art. 9° da

Lei 8.429/92.

Assim agindo, durante os anos de 2005 a 2011, na cidade de

Tamarana/PR, os agentes públicos municipais ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR

JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE

SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA

SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, juntamente com

os agentes e gestores da OSCIP ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, formada por MARCILENE

RICIERI BORGES LEÃO; LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS,

em comunhão de esforços e vontades, dolosamente, frustraram a licitude dos

procedimentos licitatórios: Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão

53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão 24/2010, com o fim de desviar e se

apropriarem de recursos destinados à execução dos programas na área da saúde.

Com tais comportamentos, os requeridos causaram lesão ao

erário no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis

mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos), destacando-se que, desse

valor, R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e

vinte sete reais e doze centavos) foram incorporados, indevidamente, ao

patrimônio dos requeridos, assim, como os valores R$ 224.329,67 (duzentos e

vinte e quatro mil, trezentos e vinte reais e sessenta e sete centavos), referente à

indevida cobrança da taxa de administração55 e R$ 92.589,00 (noventa e dois mil,

quinhentos e oitenta e nove reais), pagos diretamente ao requerido CLEUDEMIR

CATAI, consubstanciando atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º,

“caput”, incisos I, XI; 10º “caput”, incisos I, VIII e XII, e art. 11º, “caput” e inciso I, todos da

Lei 8.429/92, devendo ser condenados ás sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e

III, todos da Lei 8.429/92.

55 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 36: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

36

III – DO DIREITO

Maria Sylvia Zanella Di Pietro56 pontifica que organizações

da sociedade civil de interesse público são entidades que prestam “atividade de

interesse público, por iniciativa privada, sem fins lucrativos; precisamente pelo

interesse público da atividade, recebe proteção e, em muitos casos, ajuda por parte do

Estado, dentro da atividade de fomento; para receber essa ajuda, tem que atender a

determinados requisitos impostos por lei que variam de um caso para outro; uma vez

preenchidos os requisitos, a entidade recebe um título, como o de utilidade pública, o

certificado de fins filantrópicos, a qualificação de organização social. Esse tipo de

entidade existe desde longa data, mas agora está adquirindo feição nova, especialmente

com a promulgação da Lei n° 9.790, de 22-3-99, que dispõe sobre as organizações da

sociedade civil de interesse público.”57.

A Lei 9.790/99 que “dispõe sobre a qualificação de pessoa

jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, como Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público e institui e disciplina o Termo de Parceria”, estabelece normas que visam

garantir a probidade na gestão dos recursos públicos.

Um dos requisitos exigidos por lei (art. 1º, § 1º, da lei

9.970/99) para a obtenção da qualificação de OSCIP é o de que a pessoa jurídica não

possua fins lucrativos, ou seja, que não distribua entre seus sócios ou associados,

conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais,

brutos ou líquidos; dividendos, bonificações, participações ou parcelas de seu

patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, devendo aplicá-los

integralmente na consecução do respectivo objeto social.

Ademais, ao se qualificar como OSCIP e ser contemplada

com repasse de recursos públicos a entidade, embora constituída sob as regras do

direito privado, submete-se às normas de direito público, sobretudo no que tange à

observância dos princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade,

Eficiência e Economicidade, conforme expressamente prevê o artigo 4º, inciso I da Lei

9.970/99. 56 Maria Sylvia Zanella Di Pietro. p. 501. 57 op. cit. p. 502.

Page 37: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

37

Já o artigo 4º, inciso II da mesma Lei, exige o emprego de

práticas de gestão que coíbam a obtenção de forma individual ou coletiva, de benefícios

ou vantagens pessoais, em decorrência da participação no respectivo processo decisório.

Esta disposição legal é regulamentada pelo art. 7º do

Decreto Federal 3.100/99 que explicita que, benefícios pessoais são aqueles obtidos por

meio da OSCIP, pelos dirigentes da entidade, seus cônjuges, companheiros e parentes

colaterais ou afins, bem como os obtidos por pessoas jurídicas das quais essas pessoas

sejam controladores ou detenham mais de dez por cento da participação societária.

A lei ainda dispõe sobre formas e mecanismos de controle e

fiscalização da gestão dos recursos repassados às Oscips, e submete os gestores de

recursos à responsabilização por improbidade administrativa (artigo 13 da Lei

9.790/99), reconhecendo sua condição de agentes públicos.

Todas essas disposições legais são plenamente aplicáveis à

Organização Beija Flor, cujos colaboradores, membros e dirigentes, para os fins da Lei de

Improbidade, se reputam agentes públicos por equiparação, conforme o disposto

no art, 2°, segunda parte, da Lei 8.429/9258.

Por fim, a Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92),

ao tempo em que estabelece, fundada nas disposições constitucionais, o dever de

probidade ao agente público, delineia os parâmetros da devida atuação do agente, ao

tipificar os atos de improbidade administrativa em três categorias distintas: atos que

ensejam o enriquecimento ilícito (art 9º); atos que causam lesão ao erário (art. 10º) e

atos que atentam contra os princípios regentes da administração pública (art. 11º),

estabelecendo sanções ao agente cujo comportamento se amolde a qualquer das

hipóteses previstas na Lei.

58 Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei. Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Page 38: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

38

Os fatos retratados nesta petição inicial evidenciam que no

período compreendido entre os meses de novembro e dezembro de 2010 até maio de

2011, os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO

BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO

RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, juntamente com os dirigentes da

Organização Beija Flor, os requeridos MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE

MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS REIS, agindo com identidade de propósitos

e em divisão de tarefas, praticaram atos de improbidade administrativa que ensejaram o

enriquecimento ilícito de agentes públicos, causaram lesão ao erário e violaram os

princípios que regem a administração pública.

Para a consecução dos propósitos ímprobos, os requeridos

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ

LUCAS DOS REIS, utilizaram-se da ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, nitidamente idealizada

pelos requeridos para servir aos seus propósitos ímprobos, sobretudo para possibilitar a

obtenção de vantagens pessoais por parte dos seus integrantes.

Observa-se, portanto, que a OSCIP BEIJA FLOR,

supostamente sem fins lucrativos, não passava de uma sociedade empresária familiar,

criada para atender aos interesses pessoais de seus integrantes e foi efetivamente

utilizada para possibilitar a obtenção de vantagens patrimoniais indevidas dos seus

dirigentes e colaboradores.

Conforme já exposto, as contratações da Organização Beija

Flor não se prestaram ao fomento/promoção gratuita da saúde do município, já que a

entidade não atuava paralelamente ao Estado em seu próprio âmbito de atividade, muito

pelo contrário, substituía-se à própria Administração Pública, como verdadeira empresa

terceirizada fornecedora de mão de obra (médicos), sendo que até mesmo parcela de

lucro percebia do município (v. item 3.2 do Relatório 64/201259). Além disso, verificou-

se que a execução da suposta parceria não passou de uma fraude, já que os programas

foram administrados por funcionário públicos dentro da própria Prefeitura do

Município de Tamarana.

59 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público

Page 39: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

39

Utilizando-se, destarte, da ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR e dos

contratos fraudulentos firmados com o Município de Tamarana, destinada à execução

dos Programas “Combate à Dengue e do Programa Saúde da Família”, “Saúde da Família

e prestação de serviços no Hospital Municipal de Tamarana” e, ainda, “prestação de

serviços médicos, através de Convênio ou Termo de Parceria, para atendimento ao Posto

de Saúde”, os Requeridos MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL

DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, valendo-se da condição de gestores dos

recursos públicos, agindo em concurso com os demais requeridos, causaram lesão ao

erário e obtiveram vantagem patrimonial indevida, mediante a apropriação de parte dos

valores repassados à OSCIP Beija Flor.

Da análise dos procedimentos licitatórios referidos nesta

ação, verificou-se que estes serviram apenas para conferir aparente legitimidade à

formalização das parcerias, de forma a dar concretude ao escopo ímprobo dos

requeridos.

Tais comportamentos afrontaram as disposições da Lei

9.790/99, regulamentada pelo Decreto Federal 3.100/99 e tipificaram as hipóteses de

improbidade administrativa previstas nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei n.º 8.429/92.

III. 1. DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE ENSEJARAM

ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DE AGENTES PÚBLICOS (ART.

9º DA LEI 8.429/92).

Os agentes públicos municipais ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES,

agindo em divisão de tarefas e identidade de propósitos com os dirigentes da

Organização Beija Flor, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE

CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, por intermédio da OSCIP BEIJA FLOR,

incorporaram, ilicitamente, aos seus patrimônios pessoais a importância de R$

1.754.225,07 (um milhão, setecentos e cinquenta e quatro mil, duzentos e vinte e

Page 40: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

40

dois reais e set centavos); R$ 205.439,00 (duzentos e cinco mil, quatrocentos e

trinta e nove reais), referente à indevida cobrança da taxa de administração e R$

92.589,00 (noventa e dois mil, quinhentos e oitenta e nove reais), pagos

diretamente ao requerido CLEUDEMIR CATAI, subsumindo seus comportamentos

às disposições legais encartadas no art. 9º, “caput”, incisos I, XI da Lei 8.429/92:

“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida

em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas

entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

I - Receber, para si ou pra outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel ou qualquer

outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão

percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou

indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente

das atribuições do agente público.”

(...)

XI- incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio de bens, rendas, verbas

ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no

art 1º desta lei;

Emerson Garcia60, ao comentar esta disposição legal,

esclarece que:

“A análise desse preceito legal permite concluir que, afora o elemento volitivo

do agente, o qual deve necessariamente se consubstanciar no dolo, são quatro

os elementos formadores do enriquecimento ilícito sob a ótica da improbidade

administrativa: a) o enriquecimento do agente; b) que se trate de agente que

ocupe cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades elencadas

no art. 1º, ou mesmo o extraneus que concorra para a prática do ato ou dele se

beneficie (arts. 3º e 6º); c) a ausência de justa causa, devendo se tratar de

60 Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 251, 3ª ed. Livraria e Editora Lumen Juris LTDA. 2005.

Page 41: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

41

vantagem indevida, sem qualquer correspondência com os subsídios ou

vencimentos recebidos pelo agente público; d) relação de vantagem de

causalidade entre a vantagem indevida e o exercício do cargo, pois a lei não

deixa margem a dúvidas ao falar em “vantagem patrimonial indevida em razão

do exercício de cargo...”.

Prossegue o autor61:

”Em um primeiro plano, observa-se que, aqui, o enriquecimento será sempre

fruto de uma ilicitude, já que ao agente público, no exercício de suas funções,

somente é permitido auferir as vantagens previstas em lei. Inexistindo previsão

legal, ilícito será o enriquecimento. No mais, diferentemente do que ocorre no

âmbito privado, em raras ocasiões o enriquecimento do agente público

importará no correlato empobrecimento patrimonial do sujeito passivo, o qual

é prescindível à configuração da tipologia legal prevista no caput do art. 9º.

A idéia de empobrecimento é substituída pela noção de vantagem patrimonial

indevida, sendo considerado ilícito todo enriquecimento relacionado ao

exercício da atividade pública e que não seja resultado da contraprestação

paga ao agente, o que demonstra de forma insofismável a infringência dos

princípios da legalidade e da moralidade, verdadeiros alicerces da atividade

estatal.”.

Mais adiante, complementa o autor62:

“Violado o dever jurídico de não enriquecer ilicitamente, ter-se-á configurado o

dolo, o que exige que a análise do elemento volitivo do agente não se mantenha

adstrita unicamente à sua conduta, mas, primordialmente, ao fato de ter

auferido vantagem não autorizada em lei.”

61 ob. cit., p.252. 62 ob. cit., p. 251.

Page 42: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

42

Apurou-se que o requerido BETO SIENA, no exercício do

cargo de prefeito do Município de Tamarana, teve importante papel na estrutura ilícita e

hierarquizada, por ele montada na Administração Pública Municipal. ROBERTO DIAS

SIENA, então prefeito de Tamarana, recebia apoio e apoiava a Organização Beija Flor,

possuindo pleno conhecimento do desenrolar dos comportamentos de seus inferiores

hierárquicos (CLEUDEMIR CATAI e outros);

Para cumprir tal mister, BETO SIENA distribuiu as tarefas de

cada integrante da organização criminosa, relembre-se:

- CLEUDEMIR CATAI, então Secretário de Finanças, administrava a execução

dos termos de parceria firmados com a OSCIP BEIJA FLOR. Também

gerenciava uma pessoa jurídica de direito privado na sala contínua à sala do

Prefeito BETO SIENA, fazendo a contabilidade da empresa, guardando os

documentos pessoais dos sócios e da empresa, fazendo a contabilidade dos

RPAS pagos aos funcionários da empresa MM., o que possibilitava à

organização desviar, ainda mais, parte do dinheiro recebido pela empresa

MM como contraprestação dos serviços prestados ao Município. Conforme já

frisado, estes fatos foram descritos em ação própria, sendo que sua menção

nesta ação apenas destina-se a minudenciar o modus de operação do grupo;

- JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO

RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, eram servidores do

departamento de licitação e integrantes da própria comissão de licitação,

incumbindo-lhes fiscalizar a lisura do procedimento licitatório; todavia, ao

revés, permitiam e eram coniventes com o direcionamento do certame à

Organização Beija Flor, mesmo cientes das propostas que não atendiam aos

requisitos legais e continham previsão de lucros.

- ALDO BOARETTO NETTO, era secretário de administração, tendo atuado

decisivamente na empreitada ímproba, autorizando a abertura de todos os

procedimentos licitatórios ora impugnados, mesmo ciente do

Page 43: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

43

direcionamento ilícito que seria dado ao procedimento de contratação e a

subsequente apropriação indevida dos repasses pelos integrantes do grupo;

Por outro lado, os dirigentes da BEIJA FLOR, MARCILENE

RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS,

utilizavam-se dessa OSCIP para recepcionar os valores repassados pelo Município e

desviar parte desse montante em benefício dos requeridos.

Portanto, os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES,

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ

LUCAS DOS REIS, e a ORGANIZAÇÃO BEIJA-FLOR, agindo em concurso entre si,

enriqueceram-se ilicitamente, em razão do exercício de cargo e atividades de interesse

público, auferindo vantagens patrimoniais indevidas, na importância R$ 1.696.427,12

(um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze

centavos), R$ 224.329,67 (duzentos e vinte e quatro mil, trezentos e vinte reais e

sessenta e sete centavos), referente à indevida cobrança da taxa de

administração63 e R$ 92.589,00 (noventa e dois mil, quinhentos e oitenta e nove

reais), pagos diretamente ao requerido CLEUDEMIR CATAI, devendo ser

solidariamente responsabilizados pela devolução da somatória desses valores,

totalizando a importância de R$ 2.013.345,79 (dois milhões, cento e três mil,

trezentos e quarenta e cinco reais e setenta e nove centavos), sendo certo que esse

valor também gerou o correspondente prejuízo ao erário, além das demais

sanções previstas no artigo 12, inciso I, da Lei 8.429/92.

III. 2. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE

ENSEJARAM LESÃO AO ERÁRIO (ART. 10º DA LEI

8.429/92). 63 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 44: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

44

Os comportamentos ímprobos dos requeridos ROBERTO

DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR

RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE

CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON

e LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE

CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS, e da própria ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, também

ensejaram lesão ao erário, tipificando atos de improbidade previstos no artigo 10 da Lei

8.429/92:

Art. 10 - constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

erário, qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou

haveres das entidades referidas no art. 1 desta Lei e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao

patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou

valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art 1º

desta lei;

(...)

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

(...)

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça

ilicitamente;

Esclarece Wallace Paiva Martins Júnior a respeito desta

disposição legal 64:

“Para a lei, lesão ao erário é qualquer das condutas explicitadas no art. 10,

caput: perda, desvio, apropriação, malbarateamento, ou dilapidação, por ação

64MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 205.

Page 45: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

45

ou omissão, dolosa ou culposa. A tônica central do art. 10 é fornecida pela

compreensão da noção de perda patrimonial, que é o efeito do ato comissivo ou

omissivo do agente, e expressa-se na redução ilícita de valores patrimoniais. A

ilicitude (aqui compreendida a imoralidade), é traço essencial à lesividade.

Esta é corolário daquela pro força de presunção legal absoluta, que nada

interfere na mensuração do dano. A análise da lei mostra, sem sombra de

dúvida, que o art. 10, caput, conceitua o prejuízo patrimonial, enquanto seus

incisos indicam situações ilícitas em que a lesão é elementar e decorrente

indissociavelmente. Nesse artigo cuida-se de hipóteses de atos lesivos ao

patrimônio público que, por obra do comportamento doloso ou culposo do

agente público, causaram bônus indevido ao particular e impuseram ônus

injusto ao erário, independente de o agente público obter vantagem indevida.

Esta, no art. 10, é angariada pelo particular, muito embora possam concorrer,

não necessariamente, o enriquecimento ilícito do agente (art. 9), e do

particular (art. 10). Combate-se, pois, o enriquecimento ilícito do particular, em

regra”.

Assim, consoante expresssa disposição legal, caracteriza ato

de Improbidade Administrativa, qualquer ação ilícita do agente público que enseje perda

patrimonial das pessoas jurídicas de direito público interno (na hipótese, recursos da

área de saúde repassados pelo Município de Tamarana à Organização Beija Flor).

Os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ

CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES,

SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA

SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI

BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS,

utilizando-se da OSCIP BEIJA FLOR, frustraram a licitude dos procedimentos licitatórios

Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão 53/2007, Pregão 43/2008, Pregão

46/2009 e Pregão 24/2010, para desviar recursos públicos e os utilizar para fins

diversos daqueles previstos no respectivo Termo de Parceria estabelecido com o

Município de Tamarana, causando lesão ao erário no importe total de R$ 4.486.593,30

Page 46: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

46

(quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três

reais e trinta centavos) em recursos destinados a projetos na área da saúde do

município de Tamarana65, tendo em vista o completo desvirtuamento da parceria

(inexecução das respectivas obrigações por parte da OSCIP), a absoluta inexistência de

prestação de contas por parte da organização e da falta de documentos hábeis que

demonstrassem a utilização devida dos recursos públicos, conforme informação

elaborada pelo Setor de Auditoria do Ministério Público66.

Por tais comportamentos, os requeridos devem ser

condenados, solidariamente, à devolução dos valores repassados à OSCIP

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR resultantes dos procedimentos licitatórios Tomada de

Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão 53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e

Pregão 24/2010, que totalizaram a importância de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões,

quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta

centavos), além das demais sanções encartadas no art. 12, inciso II, da Lei de

Improbidade Administrativa.

III. 3. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE

VIOLARAM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE

REGEM A ATIVIDADE ADMINISTRATIVA (ART. 11º DA

LEI 8.429/92).

Os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ

CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES,

SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA

SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI

BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS agindo

em concurso entre si, também afrontaram os Princípios que regem a Administração

Pública, notadamente o da Moralidade, Legalidade e Impessoalidade, consubstanciando

ato de improbidade administrativa previsto no artigo 11 da Lei 8.429/92.

65 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4) 66 DOC. 6 - Relatório nº 64/2012 da Auditoria do Ministério Público

Page 47: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

47

A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 37, que:

“A Administração Pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos

poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá

aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

também ao seguinte:..”

Enfatize-se que os Princípios consagrados, expressa ou

implicitamente, na Constituição Federal espraiam seus efeitos a todo o ordenamento

jurídico, vinculando, a um só tempo, as funções legislativa, executiva e jurisdicional, de

tal sorte que a interpretação, criação e execução de toda a legislação infraconstitucional

devem conformar-se à Constituição Federal. Neste sentido leciona Emerson Garcia:

“Os princípios a exemplo das regras, carregam consigo acentuado grau de

imperatividade, exigindo a necessária conformação de qualquer conduta aos

seus ditames, o que denota o seu caráter normativo (dever ser). Sendo cogente

a observância dos princípios, qualquer ato que deles destoe será inválido,

conseqüência esta que representa a sanção para a inobservância de um padrão

normativo cuja reverência é obrigatória”67.

Em relação aos princípios norteadores da Administração

Pública, preleciona Celso Antônio Bandeira de Mello68:

"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.

A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico

mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave

forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do

princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema,

subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu

arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-

lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada".

67 Garcia, Emerson. Improbidade Administrativa. 3ª ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro: 2006, pág. 39. 68 Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 451. 5ªed. Malheiros Editores, 1994.

Page 48: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

48

Os princípios constitucionais consubstanciam

intransponíveis barreiras ao exercício de qualquer função Estatal, servindo de diretivas

valorativas para a interpretação (função judiciária), criação (função legislativa) e

execução (função executiva) do Direito Positivo.

A lei de Improbidade Administrativa, em consonância com a

Constituição Federal, também estabeleceu limitações materiais ao exercício da atividade

funcional, limitações estas que, uma vez violadas, importa em improbidade

administrativa. Assim, dispõe o art. 11 da Lei n.º 8429/92:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os

deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições e,

notadamente (...)”.

Este dispositivo legal deve ser interpretado em consonância

com o artigo 4º da mesma lei, que dispõe:

“Art. 4°. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a

velar pela observância dos princípios da legalidade, da impessoalidade,

moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

A Lei 9.790/99, no artigo 4º, inciso I, por sua vez, submete as

OSCIPs à observância dos princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade,

Publicidade, Eficiência e Economicidade, ex vi legis:

“Art. 4° Atendido o disposto no art. 3°, exige-se ainda, para qualificarem-se

como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, que as pessoas

jurídicas interessadas sejam regidas por estatutos cujas normas expressamente

disponham sobre:

Page 49: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

49

I - a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade, economicidade e da eficiência;”

Os fatos acima descritos nesta petição inicial evidenciam que

os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO

NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO

RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR

AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE

MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, utilizando-se da OSCIP

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR e agindo em concurso entre si, apropriaram-se de R$

1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais

e doze centavos) dos cofres municipais, violando, dolosamente, os princípios

constitucionais que norteiam a atividade administrativa, especialmente, os princípios da

legalidade, moralidade e impessoalidade, na medida em que os recursos públicos

repassados a Organização Beija Flor serviu a finalidades completamente estranhas à

consecução dos interesses coletivos estabelecidos nas contratações firmadas com o

Município de Tamarana.

Tais comportamentos violaram expressas disposições legais

previstas no Código Penal, Lei de Licitações, art. 9º, 10º da Lei 8.429/92, art. 4º da lei

9.970/92 e art. 37, caput, da Constituição Federal.

Celso Antônio Bandeira de Mello69 consigna, nesse tocante,

que:

"(...) o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às

leis. Esta deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a

atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o

Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de

dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo

Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito brasileiro".

69 Ob. cit., p. 48.

Page 50: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

50

É induvidoso que a conduta de todo agente público70, deve

estribar-se nos termos e limites da lei. O particular pode fazer tudo o que a lei não

proíbe; ao administrador, em sentido inverso, apenas é admitido fazer o que a lei

expressamente autoriza. No caso vertente, os requeridos praticaram atos expressamente

proibidos por lei.

Além de ilegais, os comportamentos dos requeridos também

foram ostensivamente imorais, já que em total descompasso com o sentimento médio de

justiça, de honestidade e de boa fé exigido pelo senso comum.

Emerson Garcia71 delimita, apropriadamente, o princípio da

moralidade:

“O princípio da legalidade exige a adequação do ato à lei, enquanto que o da

moralidade torna obrigatório que o móvel do agente e o objetivo visado

estejam em harmonia com o dever de bem administrar.”

Não se pode conceber como moral a conduta de quem se

utiliza de entidade qualificada como sem fins lucrativos, na hipótese a Organização Beija

Flor, para obter vantagens patrimoniais indevidas, desviando recursos que deveriam ser

utilizados para a consecução da finalidade de interesse coletivo, no caso, para ao

desenvolvimento de programas importantes na área da saúde, em benefício pessoal ou

de terceiros. Os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI,

ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO

RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES

LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, agiram com a

mais absoluta má-fé e desonestidade, condutas totalmente avessas aos valores e

princípios constitucionais que devem pautar a atuação de todo e qualquer agente

público na condução dos interesses de ordem pública, principalmente, aqueles vitais

70 Conforme dispõe o art.2º da lei 8.429/92: “Reputa-se agente público para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição nomeação, designação contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.” 71 Ob. cit., p. 75 e 76.

Page 51: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

51

para as populações mais carentes, como no caso da prestação dos serviços públicos de

saúde.

Ressalte-se, outrossim, que os comportamentos dos

requeridos afrontaram o princípio da impessoalidade. Com efeito, exige-se do agente

público comportamento impessoal na condução dos negócios públicos.

Os requeridos afrontaram ostensivamente as disposições

legais (Lei 9.790/99 e Lei 8.429/92) que vedam a obtenção de vantagens pessoais por

parte daqueles que administram e gerem recursos públicos. Conforme apurado, os

agentes municipais ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO

BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO

RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES utilizaram-se de meios

fraudulentos (proposta em desacordo com as exigências legais) para beneficiar a

Organização Beija Flor, possibilitando a apropriação de recursos públicos destinados à

consecução dos projetos, em evidente quebra do princípio da impessoalidade.

Por sua vez, os gestores dos recursos públicos repassados a

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA

FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, também sujeitos à observância dos

princípios que regem o regime jurídico administrativo, ao invés de aplicarem

integralmente os recursos públicos em prol dos objetivos e finalidades públicas

estabelecidos no contrato administrativo deixaram de cumprir as obrigações constantes

da parceria, tornando-se mera intermediadora para a contratação de mão de obra, além

de reter valores destinados à execução dos programas, beneficiando-se desses recursos

e propiciando o enriquecimento ilícito dos demais agentes púbicos.

Hely Lopes Meirelles72, com habitual propriedade,

estabelece os limites da atuação administrativa, ao registrar que:

“O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37),

nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao

administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é

72 Citado por SUNDFELD, Carlos Ari. Princípio da impessoalidade e abuso do poder de legislar. In: Revista Trimestral de Direito Público, v. 05, 1994.

Page 52: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

52

unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente

como objetivo do ato, de forma impessoal”.

É inadmissível, portanto, valer-se da parceria estabelecida

com o Poder Público, voltada a fomentar o desenvolvimento de ações de interesse

coletivo, para suprir interesses individuais e desconformes com o interesse público.

Neste sentido, orienta-se Carlos Ari Sundfeld73:

“(...) A Constituição Nacional de 1988, na linha da vigorosa tradição jurídica

acumulada desde nossa Carta Imperial, sujeitou a Administração Pública ao

princípio da impessoalidade (art. 37, caput), em virtude do qual as funções

estatais se ligam a finalidades públicas impessoais, meta-individuais, objetivas.

Porque a atividade do Estado é impessoal, não pode ser orientada por

interesses pessoais, quer do agente, quer do particular, não pode estar

embebida de subjetividade, mas de objetividade, não pode privilegiar nem

amesquinhar”.

Restou demonstrado, portanto, que todos os requeridos,

cada um dentro da sua esfera de atuação no esquema, afrontaram os princípios da

legalidade, da moralidade administrativa e da impessoalidade, o que consubstancia

improbidade administrativa expressamente prevista no artigo 11, “caput”, da Lei

8.429/92.

Assim, os comportamentos de ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES,

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ

LUCAS DOS REIS de submetem-se às disposições contidas no art. 11, ‘caput’, Lei

73 SUNDFELD, Carlos Ari. Princípio da impessoalidade e abuso do poder de legislar. In: Revista Trimestral de Direito Público, v. 05, 1994.

Page 53: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

53

8429/92, devendo ser condenados às sanções previstas no art. 12, inciso III, da lei

8.429/92.

Solidariamente e na medida de suas responsabilidades, a ser

cabalmente apurada sob o manto do devido processo legal, os requeridos deverão

devolver os valores de origem pública desviados, que totalizou a importância de R$

4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e

noventa e três reais e trinta centavos)74, recebidos a partir das fraudes aos

procedimentos licitatórios Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão

53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão 24/2010, sem prejuízo das demais

sanções encartadas no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa.

Por fim, embora a lesão ao erário esteja plenamente

configurada, ainda que assim não fosse, importa consignar que as sanções previstas no

art. 12, III, da Lei de Improbidade, descritas no início deste item, independem da efetiva

ocorrência do dano ao patrimônio público, nos termos do art. 21, inciso I, da Lei n.º

8.429/92. Neste sentido leciona Maria Sílvia Zanella Di Pietro75:

“É exatamente o que ocorre ou pode ocorrer com os atos de improbidade

previstos no art. 11, por atentado aos princípios da Administração Pública. A

autoridade pode, por exemplo, praticar ato visando a fim proibido em lei

ou diverso daquele previsto na regra de competência (inciso I do art. 11);

esse ato pode não resultar em qualquer prejuízo para o patrimônio

público, mas ainda assim constituir ato de improbidade, porque fere o

patrimônio moral da instituição, que abrange as idéias de honestidade,

boa-fé, lealdade, imparcialidade. (...)”.

Quanto a esse aspecto, muito precisa é a lição de Marcelo

Figueiredo (1997:101), quando ensina: “Entendemos que se pretendeu afirmar que a lei

pune não somente o dano material à administração, como também qualquer sorte de lesão

ou violação à moralidade administrativa, havendo ou não prejuízo no sentido econômico.

74 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4) 75 4 In “Direito Administrativo”, Ed. Atlas, 16ª edição, págs. 687/688.

Page 54: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

54

De fato, pretende a lei, em seu conjunto, punir os agentes ímprobos, vedar comportamentos

e práticas usuais de ‘corrupção’ (sentido leigo).”

III. 4. DA NECESSÁRIA INVALIDAÇÃO DOS

PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS TOMADA DE PREÇOS

1/2005, PREGÃO 04/2006, PREGÃO 53/2007, PREGÃO

43/2008, PREGÃO 46/2009 E PREGÃO 24/2010.

Por tudo que aqui já foi dito e exaustivamente demonstrado,

não restam dúvidas que os requeridos entabularam grandioso esquema de dilapidação

de recursos públicos, utilizando-se de parcerias estabelecidas entre o Município de

Tamarana e a OSCIP BEIJA FLOR, decorrentes dos procedimentos licitatórios Tomada de

Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão 53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e

Pregão 24/2010.

A sequência de atos ilegais, praticados em concurso pelos

requeridos, contaminam a validade dos procedimentos licitatórios Tomada de Preços

1/2005, Pregão 04/2006, Pregão 53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão

24/2010, assim como todos os pagamentos realizados em favor da OSCIP

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, no valor global de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões,

quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta

centavos)76, os quais devem ser invalidados pelo Poder Judiciário, com a

correspondente condenação solidária de todos os requeridos na reparação de dano

causado ao erário.

Registre-se, a propósito, a lição de Fábio Osório Medina ao

preconizar a declaração de nulidade do ato administrativo fruto de improbidade:

“A improbidade administrativa, de fato, uma vez reconhecida, há de ensejar,

como regra, a nulidade absoluta do ato administrativo, com efeitos ex tunc e

demais consectários legais, dada a natureza significante e grave de ilicitude.

Nesse caso, fala-se na improbidade em qualquer de suas modalidades: 76 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 55: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

55

enriquecimento ilícito, dano ao erário ou violação aos princípios” (p. 132) .

Conforme já salientado, os pagamentos efetuados em favor

da BEIJA FLOR implicaram em prejuízo financeiro à Administração, caracterizando ato

de improbidade que causou enriquecimento ilícito e lesão ao erário. Consequentemente,

não restando dúvidas acerca da invalidade destes atos que autorizaram e resultaram nos

pagamentos ilícitos, o patrimônio Municipal de Tamarana deve ser recomposto ao status

quo ante:

“Como consequência da infração às normas vigentes, ter-se-á a nulidade do ato,

o qual será insuscetível de produzir efeitos jurídicos válidos. Tem-se, assim, que

qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido será ilícita,

pois “quod nullum est, nullum producit effectum”, culminando em caracterizar

o dano e o dever de ressarcir”.

Ressalta-se que a declaração de nulidade, com efeito

retroativo (ex tunc), dos atos administrativos e respectivos pagamentos exigirá a

devolução aos cofres públicos de todo o valor pago à ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR.

Registre-se que a ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, por

intermédio de seus representantes legais, gestores e dirigentes, participou de forma

fundamental para o aperfeiçoamento das ilegalidades descritas nesta ação.

Com efeito, a documentação acostada aos autos evidencia

que nos procedimentos Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006, Pregão 53/2007,

Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão 24/2010, inexistiram qualquer

concorrência; a proposta apresentada pela OSCIP (única concorrente) não preenchia os

requisitos legais; o contrato visava lucro, o que é vedado por lei; a ORGANIZAÇÃO BEIJA

FLOR desviou-se de seus objetivos estatutários e legais, não servindo à promoção

gratuita da saúde no Município de Tamarana, mas tão somente como instrumento ou

veículo para justificar a saída dos recursos públicos dos cofres públicos, possibilitando a

ação do grupo na apropriação do dinheiro público; a OSCIP não executou os termos da

parceria (a contratação, fiscalização, pagamento dos médicos eram realizadas pelo

Page 56: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

56

próprio município); a OSCIP não apresentou qualquer documento válido para a

comprovação das despesas relacionadas à consecução dos objetivos termos de parceria;

seus dirigentes apropriaram-se de parcela substancial dos recursos em benefício de

todos os requeridos.

A participação ativa dos dirigentes da Organização Beija

Flor, na concretização dos atos ilícitos não autoriza qualquer indenização em seu

benefício, exatamente porque concorreram para a sua consumação, sendo, portanto, de

direito a devolução de todos os recursos que lhes foram repassados a partir da

declaração da nulidade dos atos a eles imputável, nos termos da disposição contida no

artigo 59 da Lei 8.666/93, ex vi legis:

“Art. 59 – A declaração de nulidade do contrato administrativo opera

retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele,

ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já

produzidos.

Paragrafo único. A nulidade nao exonera a Administração do dever

de indenizar o contrato pelo que este houver executado até a data em

que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente

comprovados, contanto que nao lhe seja imputável, promovendo-

se a responsabilidade de quem lhe eu causa” (grifamos).

Na hipótese, o ressarcimento de tudo que foi gasto pelo

Município de TAMARANA, não lhe ocasionará enriquecimento ilícito, já que tal ente

público foi lesado quando os agentes públicos lhe subtraíram a oportunidade de

obtenção da proposta mais vantajosa, por meio de processo licitatório regular e

contribuíram para o enriquecimento ilícito da BEIJA FLOR, seus dirigentes e dos

próprios agentes, com a respectiva obtenção de vantagens patrimoniais indevidas.

Assim, não impor à OSCIP BEIJA FLOR e a todos aqueles que

contribuíram para a prática dos atos ímprobos descritos nesta ação, a obrigação de

devolução dos valores recebidos ilegalmente, implica permitir que se beneficiem da

própria torpeza, o que é inadmissível no ordenamento jurídico vigente.

Page 57: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

57

A propósito, anote-se a doutrina de Emerson Garcia e

Rogério Pacheco Alves:

“ Tratando-se de contratado que tenha agido com má-fé em coluio com o

agente público, praticando o ato em dissonância da lei e visando ao benefício

próprio em detrimento do interesse público, terá ele a obrigação de restituir

tudo o que recebeu em virtude do contrato. Em um primeiro plano,

vislumbra-se que a nulidade do contrato não resultou unicamente de um

comportamento da administração, já que o contratado também concorrera

para a prática do ato. Identificando o dolo do contratado e ainda que tenha

ele cumprido sua parte na avenca e a administração se beneficiado desta,

nao fará jus a qualquer indenização, sendo esta, a teor do art. 59 da Lei nº

8.666/93, a sanção pelo ilícito que praticara. Assim, por força de lei, tanto a

ação exclusiva do contratado, como o obrar concorrente, excluem o dever de

indenizar. É clara a Lei nº 8.666/93 ao estatuir as regras e os princípios que

devem reger o procedimento licitatório e a celebração dos contratos

administrativos, nao sendo dado ao contratado que compactuou com a

ilicitude alegar o desconhecimento da lei, sendo este um relevante indício de

consubstanciação da má-fé. Deve-se acrescer, ainda, o princípio de que a

ninguém é dado beneficiar-se com sua própria torpeza. Tratando-se de ato

ilegal e tendo o contratado concorrido para a sua prática, nada poderá

auferir com a sua desonestidade, tendo o dever de restituir o patrimônio

público ao status quo, terminando por arcar com o prejuízo que advirá do

não-pagamento da prestação que eventualmente cumprira ou com a

restituição do que efetivamente recebera. No que concerne a um possível

enriquecimento ilícito do Poder Público, é inevitável a constatação de que o

acolhimento deste entendimento acabaria por tornar legítimo o constante

descumprimento dos princípios da legalidade e da moralidade, fazendo com

que sejam sistematicamente suscitados os possíveis benefícios auferidos pelo

ente público, o que relegaria a infrigência dos vetores básicos da probidade a

plano secundário. Identificada a má-fé do contratado, nao haverá que se

falar em enriquecimento ilícito do Poder Público, já que se viu injustamente

espoliado. Estando demonstrado que o contratado concorrera para o

aperfeiçoamento do ato ilícito que gerou o enriquecimento de outrem, como

Page 58: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

58

seria possível sustentar a justiça de eventual recomposição patrimonial?

Preserva-se-iam a moralidade e a equidade premiando-se a perspicácia do

contratado de má-fé”

Enfatize-se, outrossim, que as parcerias firmadas com a

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, em flagrante afronta à legislação vigente, importa na

nulidade de todos os atos administrativos praticados a partir do procedimento

licitatório, consoante expressa previsão da Lei 4.717/65, que define os paradigmas de

invalidade do ato administrativo no Direito Positivo do Brasil. Neste sentido, anote-se:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no

artigo anterior, nos casos de:

(...)

e) desvio de finalidade.

Conforme enfatizado, os requeridos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES,

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ

LUCAS DOS REIS e a própria ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, todos na condição de

agentes públicos e/ou gestores de recursos públicos, ao desvirtuarem os objetivos das

parcerias e se apropriarem dos recursos públicos repassados à ORG. BEIJA FLOR, em

proveito próprio ou alheio, praticaram, indisfarçavelmente, ato diverso daquele previsto

na regra de competência administrativa (desvio de poder ou finalidade), pois incumbe

ao agente público ou gestor de recursos públicos a realização de atos administrativos

com vistas à satisfação de interesses públicos e não pessoais, tornando estes atos

incompatíveis com a Constituição Federal e com os princípios jurídico-administrativos

dela decorrentes, autorizando a sua invalidação pelo Poder Judiciário.

Os procedimentos administrativos que se pretendem

invalidar, porque eivados de vício irreparável, violam os ditames legais e acarretam

prejuízo aos cofres públicos, legitimando e exigindo o exercício do controle judicial do

Page 59: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

59

ato administrativo de forma a fazer prevalecer os princípios jurídicos expressamente

consagrados na Constituição Federal, sobretudo da Legalidade, Moralidade e

Impessoalidade.

Portanto, nos termos do art. 7º, § 6º, c/c arts. 49 e 59 da Lei

de Licitação, das disposições contidas na Lei 4.717/65 e na Lei 8.429/92, há que se

declarar inválidos os procedimentos Tomada de Preços 1/2005, Pregão 04/2006,

Pregão 53/2007, Pregão 43/2008, Pregão 46/2009 e Pregão 24/2010, assim como os

contratos e pagamentos deles decorrentes efetuados em favor da ORGANIZAÇÃO BEIJA

FLOR, no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil,

quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos)77, exigindo-se a devolução aos cofres

públicos de todo esse valor que lhes foi repassado, com a responsabilidade solidária de

todos os envolvidos no aperfeiçoamento dos atos ilícitos.

III. 5. DOS DANOS MORAIS DIFUSOS

Além dos danos materiais sofridos, o comportamento

ímprobo dos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO

BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO

RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA,

VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES

LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS e ORGANIZAÇÃO

BEIJA FLOR, também macularam gravemente a imagem da Administração Pública

Municipal, repercutindo negativamente perante toda a sociedade.

A moralidade na Administração é uma conquista da

sociedade e do processo democrático, paulatinamente construído. É evidente que

acontecimentos dessa magnitude contribuem para a desmoralização do ente público,

com o seu correspondente descrédito perante a população.

A superposição dos interesses pessoais e escusos dos

Requeridos em detrimento dos interesses coletivos comprometeu a imagem do Poder

77 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 60: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

60

Executivo Municipal, sobretudo no que tange aos serviços na área da saúde,

disponibilizados à população por meio da parceria estabelecida com a Organização Beija

Flor.

A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X, deixa

explícita a garantia do direito a indenização pelos danos morais decorrente da violação

do ordenamento jurídico:

“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,

assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de

sua violação;”

A indenização por danos morais difusos também está

prevista na Lei da Ação Civil Pública quando estabeleceu em seu artigo 1º:

“Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as

ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:”

(grifado)

Ao tratar do tema, Emerson Garcia78 esclarece que:

“a Lei nº 8.429/92 não se destina unicamente à proteção do erário, concebido

este como o patrimônio econômico dos sujeitos passivos dos atos de

improbidade, devendo alcançar, igualmente, o patrimônio público em sua

acepção mais ampla, incluindo o patrimônio moral”.

Prossegue o autor esclarecendo que o dano moral,

nesses casos, “será experimentado pelo próprio patrimônio público, concebido este

como o conjunto de direitos e deveres pertencentes, em última ratio, à coletividade”.

A condenação por danos morais tem como finalidade repor o

78 Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 444/445, 3ª ed. Livraria e Editora Lumen Juris LTDA. 2006.

Page 61: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

61

status do ente lesado e dar uma resposta ao povo, o titular do bem jurídico (patrimônio

público, material e moral) afetado, sobretudo no que diz respeito ao direito da

coletividade de exigir dos administradores uma conduta proba e compatível com os

princípios que regem a Administração Pública.

Enfatize-se, outrossim, que os Requeridos atuaram à

margem de todos os ditames legais, obtendo dolosamente, vantagem patrimonial

indevida em detrimento do erário, o que consubstancia improbidade administrativa.

Desta forma, impõe-se que além dos prejuízos materiais

causados aos entes públicos, os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ

CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES,

SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA

SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI

BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS e

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, sejam condenados a indenizar os danos morais difusos

causados ao Município e à própria população de Tamarana.

IV – PROVIDÊNCIAS CAUTELARES - INDISPONIBILIDADE

DE BENS.

Os fatos articulados nesta ação civil pública evidenciam a

concretização de atos de improbidade administrativa em desfavor da Administração

Pública Municipal de Tamarana, que ensejaram o enriquecimento ilícito de agentes

públicos e gestores de recursos públicos, causaram lesão ao erário e violaram os

princípios administrativos que regem a administração pública.

Os arts. 5º e 6º79 da Lei de Improbidade Administrativa

(8.429/92) dispõem sobre o dever de ressarcimento dos prejuízos causados ao erário ou

dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio do agente público ou do terceiro.

79 Art. 5º da Lei 8.429/92: Ocorrendo lesão ao patrimônio público, por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Art. 6º: No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou terceiro beneficiário, os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.

Page 62: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

62

A Lei prevê, ainda, medidas destinadas a assegurar a

reparação dos danos causados pelo agente público e terceiros em razão da prática de

improbidade administrativa. De efeito, estabelece o art. 7º da Lei nº. 8.429/92, que

“quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar

enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito

representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.”

Prevê o parágrafo único do mencionado dispositivo legal,

que a indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem integral ressarcimento, ou

sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Essa disposição atende à previsão do art. 37, § 4º da

Constituição Federal que preceitua:

Art. 37 § 4°: Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão

dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e

o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo

da ação penal cabível.

O artigo 13 da Lei 9.790/99 (Lei das Oscips), por sua vez,

prevê a decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e até o sequestro dos bens

dos seus dirigentes, agentes públicos e terceiros que se enriqueçam ilicitamente ou

causem lesão ao erário na gestão dos recursos repassados às Oscips.

Observa-se, portanto, que a medida de medida de

indisponibilidade de bens constitui importante instrumento destinado a impedir que o

agente ímprobo e terceiros envolvidos com atos de improbidade administrativa,

disponham de seu patrimônio, impossibilitando a execução da sentença condenatória

decorrente da prática de atos definidos na Lei nº. 8.429/92.

Na hipótese sub judice, demonstrou-se que os requeridos

causaram lesão ao erário no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos

e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos),

destacando-se que, desse valor, R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa

e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos), foram incorporados,

Page 63: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

63

indevidamente, ao patrimônio dos requeridos, assim, como os valores de R$

224.329,67 (duzentos e vinte e quatro mil, trezentos e vinte reais e sessenta e sete

centavos), referente à indevida cobrança da taxa de administração e R$ 92.589,00

(noventa e dois mil, quinhentos e oitenta e nove reais), pagos diretamente ao

requerido CLEUDEMIR CATAI, consubstanciando atos de improbidade administrativa

previstos nos artigos 9º, “caput”, incisos I, XI; 10º “caput”, incisos I, VIII e XII, e art. 11º,

“caput” e inciso I, todos da Lei 8.429/92, devendo ser condenados às sanções previstas

no artigo 12, incisos I, II e III, todos da Lei 8.429/92.

Com efeito, a improbidade na Administração verifica-se

quando se praticam atos dolosos ou culposos que ensejam enriquecimento ilícito,

causam prejuízo ao erário ou atentam contra os princípios da administração, definidos

no artigo 37, § 4°, da Constituição Federal, dentre os quais está incluída a moralidade,

legalidade, impessoalidade, além de outros que, mesmo não apontados, explicitamente,

no citado dispositivo, estão distribuídos por todo o texto constitucional.

Pela própria natureza da prestação cautelar, a cognição feita

pelo juiz da relação material subjacente não é exaustiva. Contenta-se com a mera

plausibilidade do direito afirmado.

Os fatos aqui enfocados são absolutamente plausíveis,

principalmente por estarem fundamentados em prova documental, que demonstra o

desvio de recursos públicos repassados à OSCIP BEIJA FLOR, que acabou revertendo em

benefício pessoal dos requeridos, agentes públicos da organização criminosa de BETO

SIENA e seus asseclas, e dos agentes públicos, em decorrência de gerirem recursos

públicos (que atuavam na OSCIP BEIJA FLOR).

Com vistas a assegurar o resultado útil do processo, é

necessário que seja assegurado o integral ressarcimento do dano provocado ao

patrimônio público, no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e

oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos)80

Assim, antes da final responsabilização dos requeridos com

o correspondente ressarcimento do erário, é necessário que seja decretada a 80 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 64: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

64

indisponibilidade dos seus bens, suficientes e proporcionais para assegurar o integral

ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público tamaranense, nos exatos

termos do art. 7o da Lei n.º. 8.429/92.

A medida ora pleiteada é indispensável porque se prevenirá

o possível perecimento ou dissipação dos bens dos requeridos, assegurando o integral

cumprimento da sentença que, certamente, determinará a perda dos valores acrescidos

ilicitamente ao patrimônio dos requeridos e o ressarcimento do dano (artigos 5o, 6o e 12

da Lei n.º 8.429/92).

A narrativa contida nesta inicial demonstra a presença do

fumus boni juris.

Em casos dessa natureza, em que se constata a prática de

atos de improbidade, o periculum in mora é presumido, conforme expresso na

Constituição Federal, que estatui em seu art. 37, § 4o, que “os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e

gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Indisponibilidade, naturalmente, não é sanção; é medida de

cautela, de garantia. Se o constituinte quisesse se referir às penalidades aplicáveis ao

autor de atos de improbidade, usaria a expressão “perda de bens”. A dicção

constitucional tem o evidente propósito de demonstrar a imprescindibilidade da medida

assecuratória da indisponibilidade de bens, quando propostas medidas tendentes à

condenação por ato de improbidade administrativa ou quando se tratar de providência

cautelar preparatória dessas mesmas medidas.

Em obediência ao dispositivo da Lei Maior, o art. 16 da Lei

n.º. 8.429/92 impôs como única condição à medida restritiva, a existência de “fundados

indícios de responsabilidade” (em outras palavras, a existência de fumus boni juris). Nem

poderia, é certo, exigir mais, para não atentar contra o mandamento constitucional.

De fato, se o gestor de recursos públicos não se mostra

zeloso quanto à gerência e conservação do patrimônio público, também não merecerá

Page 65: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

65

confiança para a preservação de seu próprio patrimônio pessoal, que é a única garantia

que a sociedade dispõe para ver efetivado o ressarcimento.

A observação do que comumente acontece e das regras de

experiência comum, autorizadas pelo art. 335 do Código de Processo Civil, permite

prever que os requeridos, venham a praticar atos prejudiciais à futura satisfação do

débito.

É indispensável proteger o patrimônio pessoal dos

requeridos não só de dilapidação, mas até de eventual má administração, com vistas à

satisfação do resultado útil do processo.

De qualquer forma, atendendo ao gizado no art. 7º da Lei

8.429/92 e já que os atos de improbidade ensejaram enriquecimento ilícito e causaram

lesão ao patrimônio público, a indisponibilidade dos bens dos requeridos é medida

inarredável, conforme reconhece o julgado ora destacado:

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LIMINAR TORNANDO INDISPONÍVEIS

OS BENS DOS AGENTES PÚBLICOS - IMPUTAÇÃO DE ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, PREVISTO NO ART. 10, XI,

DA LEI N.º. 8.429/92 - TIPO LEGAL QUE, POR DEFINIÇÃO

LEGISLATIVA, INCLUI-SE ENTRE OS QUE "CAUSAM

PREJUÍZOS AO ERÁRIO" - MEDIDA DE GARANTIA QUE SE

IMPÕE EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA AFETADA, POR

FORÇA DOS ARTS. 5º. E 7º. DA LEI MENCIONADA -

PERICULUM IN MORA E O FUMUS BONI IURIS CONFIRMADOS

- AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO PROVIDO - RECURSO

IMPROCEDENTE.

A liberação de verba pública sem a estrita observância das

normas pertinentes previstas no art. 10, XI, da Lei n.º

8.249/92, enquadra-se, pela própria Lei, entre os atos de

improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário.

Ocorrendo, por disposição legal, lesão ao patrimônio público,

por quebra do dever da probidade administrativa, culposa ou

dolosa, impõe-se ao juiz, a requerimento do Ministério Público,

Page 66: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

66

providenciar medidas de garantia, adequadas e eficazes, para

o integral ressarcimento do dano em favor da pessoa jurídica

afetada, entre as quais se inclui a indisponibilidade dos bens

dos agentes públicos, por atos de improbidade administrativa,

com fundamento nos casos mencionados nos arts. 9º. e 10º. da

Lei n.º. 8.429/92. Basta que o direito invocado seja plausível

(fumus boni iuris), porque a probabilidade do prejuízo

(periculum in mora) já vem prevista na própria legislação

incidente".81

Não é outro o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do

Paraná, o qual pode ser retratado através dos seguintes arestos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE

RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DECISÃO AGRAVADA

QUE CONCEDE A LIMINAR DE QUEBRA DE SIGILO

BANCÁRIO E DE INDISPONIBILIDADE DE BENS DOS

REQUERIDOS, LIMITADA AO VALOR DO DANO AO ERÁRIO,

BEM COMO DE AFASTAMENTO DO AGRAVANTE DO

EXERCÍCIO DO CARGO PARA O QUAL FOI NOMEADO, EM

DECORRÊNCIA DE SUA APROVAÇÃO EM CONCURSO

APARENTEMENTE FRAUDADO.PRETENSÃO DE REFORMA DA

DECISÃO AGRAVADA. ALEGAÇÃO DE OFENSA À ORDEM

DIPOSTA NOS §§ 7.º E 8.º DO ARTIGO 17 DA LEI 8429/92.

INOCORRÊNCIA. INDISPONIBILIDADE DE BENS QUE TRATA

DE PROVIDÊNCIA CAUTELAR OBRIGATÓRIA DO

JULGADOR, QUANDO VERIFICADOS RAZOÁVEIS

ELEMENTOS CONFIGURADORES DA LESÃO E OS

REQUISITOS PARA SUA CONCESSÃO. LIMINAR DE

INDISPONIBILIDADE DE BENS QUE SE FUNDAMENTOU NOS 81 (4ª. Câmara Cível - Ag. de Instrumento n.º.. 68.400 - Sertanópolis - Rel. Juiz Airvaldo Stela Alves - Informa Jurídico 12.0).

Page 67: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

67

REQUISITOS INDISPENSÁVEIS PARA A SUA CONCESSÃO.

PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS ACERCA DA PRÁTICA DE

ATO DE IMPROBIDADE, CONSUBSTANCIADO NA FRAUDE DE

CONCURSO PÚBLICO, COM A PARTICIPAÇÃO DO AGRAVANTE,

QUE IMPLICARAM EM INFRINGÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E EM PREJUÍZO AO ERÁRIO.

PERICULUM IN MORA DEMONSTRADO. RECEIO DE QUE OS

BENS SEJAM DESVIADOS, DIFICULTANDO EVENTUAL

RESSARCIMENTO. PRECEDENTES DO STJ.PEDIDO DE

LIMITAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE DE BENS.DECISÃO

AGRAVADA QUE LIMITOU A INDISPONIBILIDADE AO VALOR

APONTADO NA INICIAL.CUMPRIMENTO DA ORDEM QUE,

CONTUDO, SE DEU FORA DESSA LIMITAÇÃO, COM O

BLOQUEIO DE TODOS OS BENS DO AGRAVANTE. LIMITAÇÃO

QUE DEVE SER OBSERVADA, OPORTUNIZANDO-SE AO

AGRAVANTE A INDICAÇÃO DE BENS QUE VENHAM A

SATISFAZER A CAUTELA JUDICIAL, NOS TERMOS PROPOSTOS

NAS CONTRARRAZÕES AO RECURSO APRESENTADAS PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO AGRAVADO.RECURSO CONHECIDO E

PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 4ª C.Cível - AI 846205-7 -

Bocaiúva do Sul - Rel.: Maria Aparecida Blanco de Lima -

Unânime - J. 23.10.2012)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LIMINAR DE

INDISPONIBILIDADE DE BENS. DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO.

PERICULUM IN MORA IMPLÍCITO NA NORMA DO ART. 7º

DA LEI 8429/92. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE

LIMINAR PRESENTES. RECURSO DESPROVIDO.

(TJPR - 5ª C.Cível - AI 826826-0 - Paranavaí - Rel.: Edison de

Oliveira Macedo Filho - Unânime - J. 18.09.2012)

Page 68: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

68

Assim sendo, pleiteia o Ministério Público seja decretada

liminarmente a indisponibilidade dos bens dos requeridos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS,

MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON e LEONILDO LOPES,

MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ

LUCAS DOS REIS e da ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, limitada aos valores apontados

como prejuízo causado ao erário e que ensejaram o enriquecimento ilícito dos agentes

públicos.

V. DA NECESSÁRIA MEDIDA DE PERDA DA QUALIFICAÇÃO

DE ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL SEM FINS

LUCRATIVOS DA ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR.

Dispõe o artigo 4º do Decreto 3100/99, que regulamentou a

Lei 9.790/99 que:

“qualquer cidadão, vedado o anonimato e respeitadas as prerrogativas do

Ministério Público, desde que amparado por evidências de erro ou fraude, é parte

legítima para requerer, judicial ou administrativamente, a perda da qualificação

como organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

Parágrafo único. A perda da qualificação dar-se-á mediante decisão proferida em

processo administrativo, instaurado no Ministério da Justiça, ou judicial, de

iniciativa popular ou do Ministério Público, nos quais serão assegurados ampla

defesa e o contraditório.”

Os fatos retratados nesta ação evidenciam que a finalidade de

interesse público da OSCIP BEIJA FLOR foi completamente desvirtuada, já que serviu de

instrumento para a prática de ilícitos e obtenção de inúmeras vantagens pessoais dos seus

dirigentes, em convergência de vontades e divisão de tarefas, com agentes públicos lotados

na prefeitura do Município de Tamarana.

Page 69: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

69

A utilização da OSCIP BEIJA FLOR para a prática de crimes e os

atos de improbidade administrativa que se encontram detalhadamente descritos nesta

ação (e demonstrados com fartos elementos documentais e testemunhais, inclusive a

confissão dos dirigentes da OSCIP), autorizam, com base nos elementos fáticos e jurídicos

expostos, a perda da qualificação de OSCIP conferida à ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR, nos

termos da disposição contida no artigo 4º e parágrafo único do Decreto Federal nº

3.100/99.

VI. DOS PEDIDOS

Em razão de todo o exposto, requer-se:

Preliminarmente, seja conhecida prevenção desta Ação de

Improbidade Administrativa, com a Cautelar de Busca e Apreensão nº. 0045693-

61.2011.8.16.001482, em trâmite nesse Juízo;

1) Com fundamento do disposto no Provimento nº 223 de 20/01/2012, da

Corregedoria-geral de Justiça do Estado do Paraná, seções 2.21.3.4.3146 e

seguintes, em razão da impossibilidade de digitalização de documentos,

requer seja arquivado o DVD contendo arquivos digitais referentes aos

procedimentos de de Licitação e Pregões Presenciais, objetos desta ação;

2) com base no art. 796 e seguintes do C.P.C. e art. 12 da Lei n.º. 7.347/85, a

concessão de medida liminar, sem audiência prévia dos requeridos,

decretando-se a indisponibilidade dos bens imóveis e móveis (inclusive

aplicações financeiras) pertencentes aos requeridos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES

DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE

CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR

ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE

82 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina.

Page 70: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

70

MARIA FADEL DE CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS e ORGANIZAÇÃO

BEIJA-FLOR, até R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e

oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos)83,

e do enriquecimento ilícito no valor de R$ 1.696.427,12 (um milhão,

seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze

centavos), enquanto pender o julgamento definitivo do mérito da causa, tudo

com o objetivo de assegurar o ressarcimento do patrimônio público da

municipalidade de Tamarana, com esteio nos artigos 7o e parágrafo único, art.

16 e art. 18, todos da Lei n.º. 8.429/92, e no art. 37, § 4o da Constituição da

República, adotando-se as seguintes providências:

2.a) expedição de ofício à douta Corregedoria-Geral da Justiça deste Estado,

solicitando que a mesma comunique e determine a todos os Cartórios de

Registro de Imóveis do Paraná a indisponibilidade dos bens que pertençam a

quaisquer dos requeridos;

2.b) expedição de ofícios aos Cartórios de Registro Imobiliário da Comarca de

Londrina e Tamarana onde já se sabe que os requeridos possuem imóveis,

comunicando-se e determinando-se a indisponibilidade dos bens que a eles

pertençam;

2.c) expedição de ofício ao DETRAN do Estado do Paraná, comunicando-se e

determinando-se a indisponibilidade dos veículos que porventura estejam

registrados em nome dos requeridos;

2.d) a comunicação da decisão ao BANCO CENTRAL DO BRASIL,

determinando-se ao mesmo que seja oficiado a todas as instituições

bancárias que atuam no país para que providenciem o cumprimento da

decisão judicial, indisponibilizando as aplicações financeiras de qualquer

natureza que estejam em nomes dos requeridos até o valor da presente

ação de R$ 4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis

mil, quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos), e do

83 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 71: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

71

enriquecimento ilícito no valor de R$ 1.696.427,12 (um milhão,

seiscentos e noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze

centavos) 84

2.e) a expedição de ofício para a COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS,

comunicando-se a presente decisão e determinando-se a indisponibilização

de valores aplicados no mercado de ações em nome dos requeridos, até o

limite do valor da presente ação;

3) a notificação dos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ

CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA

ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO DA SILVA,

ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR ALMERON, LEONILDO

LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE MARIA FADEL DE

CAMARGO, JOSÉ LUCAS DOS REIS e ORGANIZAÇÃO BEIJA-FLOR, nos

termos do art. 17, §7º, da Lei no. 8.429/92, com a redação dada pela Medida

Provisória sob nº 2088/2000 (e suas reedições subseqüentes);

4) o recebimento da presente ação e a citação dos REQUERIDOS para se

defenderem da imputação de prática de ato de improbidade administrativa e,

querendo, apresentarem defesa no prazo legal, sob pena de revelia;

5) intimação do Município de Tamarana para que se posicione acerca do

gizado no art. 17, § 3º, da Lei n.º. 8.429/92;

6) a produção de prova por todos os meios possíveis, principalmente

documental, depoimento pessoal dos requeridos, oitiva de testemunhas a

serem oportunamente indicadas, juntada de novos documentos e exames

periciais que se fizerem necessários à instrução da causa;

7) o deferimento das prerrogativas estatuídas do art. 172, § 2º, do C.P.C., para

cumprimento das medidas judiciais de notificação, citação e/ou intimação;

84 Valores atualizados até 21/12/2012, conforme Informação nº 074/2012 da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)

Page 72: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

72

8) a condenação dos agentes públicos requeridos ROBERTO DIAS SIENA,

CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES

DIAS, MARIA ROSE SOARES, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE

CORDEIRO DA SILVA, ARMANDO DA SILVA SOUZA, VALDECIR AMADOR

ALMERON, LEONILDO LOPES, MARCILENE RICIERI BORGES LEÃO, LAIDE

MARIA FADEL DE CAMARGO e JOSÉ LUCAS DOS REIS, nas sanções do art.

12, incisos I, II e III da lei 8.429/92, cumulativamente, quais sejam: perda da

função pública, a suspensão dos direitos políticos, perda do valor

indevidamente acrescido aos seus patrimônios totalizando a importância de

R$ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e noventa e seis mil,

quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos), ressarcimento do

prejuízo causado ao erário no valor de R$ 4.486.593,30 (quatro

milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três

reais e trinta centavos), pagamento de multa civil, e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, em razão da prática dos atos de improbidade administrativa

previstos nos arts. 9º, “caput”, incisos I, XI; 10, “caput”, incisos I, VIII e XII, e

art. 11, “caput” e inciso I, todos da Lei 8.429/92;

9) condenação da OSCIP ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR nas sanções do art. 12,

incisos I, II e III da lei 8.429/92, cumulativamente, quais sejam: perda do

valor indevidamente acrescido ao patrimônio dos agentes públicos

totalizando a importância de $ 1.696.427,12 (um milhão, seiscentos e

noventa e seis mil, quatrocentos e vinte sete reais e doze centavos),

ressarcimento do prejuízo causado ao erário no valor de R$

4.486.593,30 (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil,

quinhentos e noventa e três reais e trinta centavos), pagamento de multa

civil, e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, em razão da prática dos atos de improbidade

administrativa previstos 9º, “caput”, incisos I, XI; 10º “caput”, incisos I, VIII e

XII, e art. 11º, “caput” e inciso I, todos da Lei 8.429/92;

Page 73: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

73

10) a condenação dos requeridos ao ressarcimento do dano moral

(correspondente ao dano material, ou a ser fixado por esse respeitável juízo),

causados ao erário do Município de Tamarana;

11) A perda da qualificação de OSCIP conferida à ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR,

nos termos da disposição contida no artigo 4º e parágrafo único do Decreto

Federal 3.100/99, com base nos elementos de fato e de direito que

fundamentam esta ação, comunicando-se o Ministério da Justiça;

12) A decretação de invalidade de todos procedimentos licitatórios TOMADA

DE PREÇOS 1/2005, PREGÃO 04/2006, PREGÃO 53/2007, PREGÃO

43/2008, PREGÃO 46/2009 E PREGÃO 24/2010 e todos os atos e

pagamentos deles decorrentes, em que se sagrou vencedora a OSCIP

ORGANIZAÇÃO BEIJA FLOR;

13) a comunicação ao Ministério da Fazenda para fazer constar do seu banco

de dados a proibição dos réus contratarem, diretamente ou por meio de

interposta pessoa, seja jurídica ou física, com o Poder Público, e receberem

benefício ou incentivos fiscais ou creditícios;

14) a notificação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que determine

aos Tribunais Regionais Eleitorais de todo o país que procedam às

averbações necessárias nos respectivos registros perante os Cartórios

Eleitorais, com vistas a dar efetividade à suspensão dos direitos políticos dos

réus;

15) a comunicação ao Ministério do Planejamento para fazer constar do seu

banco de dados a proibição dos réus contratarem diretamente ou por meio

de interposta pessoa, seja jurídica ou física, com o Poder Púbico, e receberem

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;

16) Condenação dos réus ao ônus da sucumbência;

Page 74: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de ...mppr.mp.br/arquivos/File/imprensa/2013/Londrina_AC...Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara de Fazenda

74

Atribui-se a presente causa o valor de R$ 4.486.593,30 (quatro

milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, quinhentos e noventa e três reais e

trinta centavos).

Londrina, 15 de janeiro de 2013.

Leila Schimiti Voltarelli Renato de Lima Castro

Promotora de Justiça Promotor de Justiça