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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E CONCORDATAS, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, PARANÁ Distribuição por dependência: Autos nº 9.281/2010, da 3ª Vara da Fazenda Pública desta Capital O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , por seus membros abaixo assinados 1 , com base no inquérito civil anexo e com fundamento nos artigos 37, 127 e 129, III, da Constituição Federal, nos artigos 27 e 120, III, da Constituição do Estado do Paraná, no artigo 25, IV, a, da Lei nº 8.625/93, na Lei nº 7.347/85 e na Lei nº 8.429/92; vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor o presente pedido de provimento jurisdicional de AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de 1 - Durante as investigações, os membros do Ministério Público que assinam esta petição atuavam por delegação do Procurador-Geral de Justiça, face ao previsto no artigo 29, VIII, da Lei nº 8.625/93, assim como no artigo 19, VIII, da Lei Completar Estadual nº 85/99, uma vez que o réu Nelson Justus era Presidente da Assembleia Legislativa e o réu Hermas Brandão era Presidente do Tribunal de Contas, razão pela qual a atribuição era do Procurador-Geral de Justiça. Como tais réus deixaram o respectivo cargo, a presente inicial está assinada pelo Promotor de Justiça natural, assim como por todos os membros do Ministério Público que atuaram, por delegação, na investigação. 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · especialmente pela série de reportagens denominada Diários Secretos, fls. 410 e 703-1207 do inquérito civil. Cópia

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E CONCORDATAS, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, PARANÁ

Distribuição por dependência: Autos nº 9.281/2010, da 3ª Vara da Fazenda Pública desta Capital

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus

membros abaixo assinados1, com base no inquérito civil anexo e com fundamento nos

artigos 37, 127 e 129, III, da Constituição Federal, nos artigos 27 e 120, III, da

Constituição do Estado do Paraná, no artigo 25, IV, a, da Lei nº 8.625/93, na Lei nº

7.347/85 e na Lei nº 8.429/92; vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,

propor o presente pedido de provimento jurisdicional de

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em face de

1 - Durante as investigações, os membros do Ministério Público que assinam esta petição atuavam por delegação do Procurador-Geral de Justiça, face ao previsto no artigo 29, VIII, da Lei nº 8.625/93, assim como no artigo 19, VIII, da Lei Completar Estadual nº 85/99, uma vez que o réu Nelson Justus era Presidente da Assembleia Legislativa e o réu Hermas Brandão era Presidente do Tribunal de Contas, razão pela qual a atribuição era do Procurador-Geral de Justiça. Como tais réus deixaram o respectivo cargo, a presente inicial está assinada pelo Promotor de Justiça natural, assim como por todos os membros do Ministério Público que atuaram, por delegação, na investigação.

1

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NELSON ROBERTO PLÁCIDO SILVA JUSTUS, brasileiro,

casado, Deputado Estadual, ex-Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do

Paraná, RG nº 537.731-5/PR, CPF nº 085.204.889-00, residente e domiciliado nesta

Capital, à rua Fagundes Varela nº 360, bairro Jardim Social, com endereço profissional

na sede da Poder Legislativo Estadual, Praça Nossa Senhora de Salete, s/nº, Centro

Cívico.

ALEXANDRE MARANHÃO KHURY, intitulado também

ALEXANDRE CURI, brasileiro, casado, Deputado Estadual, ex-Primeiro Secretário da

Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, CPF nº 274.438.399-60, residente e

domiciliado nesta Capital, à rua Prefeito Ângelo Lopes nº 2579, apto. nº 401, bairro

Hugo Lange, com endereço profissional na sede do Poder Legislativo Estadual, Praça

Nossa Senhora de Salete, s/nº, Centro Cívico.

HERMAS EURÍDES BRANDÃO, brasileiro, casado, serventuário

da Justiça, atualmente exercendo o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas, ex-

Deputado Estadual e ex-Presidente da Assembléia Legislativa, RG nº 1.567.659/PR,

CPF nº 402.060.920-00, residente e domiciliado nesta Capital, na Alameda D. Pedro II,

nº 570, Apto. nº 201, bairro Batel, com endereço profissional no Tribunal de Contas do

Estado do Paraná, à Praça Nossa Senhora de Salete, s/nº, Centro Cívico.

NEREU ALVES DE MOURA, brasileiro, casado, atualmente

exercendo o cargo de Deputado Estadual, ex-Primeiro Secretário da Assembléia

Legislativa do Estado do Paraná, portador do RG nº 3.460.714/PR, inscrito no CPF sob

o nº 372.029.369-68, residente e domiciliado nesta Capital, na Rua Marechal Hermes,

nº 1265, apto. 601, bairro Centro Cívico, com endereço profissional na sede do Poder

Legislativa do Estadual, Praça Nossa Senhora de Salete, s/nº, Centro Cívico.

GERALDO CARTÁRIO RIBEIRO, brasileiro, casado, ex-Deputado

Estadual, ex-Segundo Secretário da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná,

2

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portador do RG nº 382.970, inscrito no CPF sob o nº 002.298.909-97, residente e

domiciliado nesta Capital, à rua Visconde de Guarapuava, nº 4977.

ABIB MIGUEL (BIBINHO), brasileiro, casado, funcionário público,

ex-Diretor Geral da Assembléia Legislativa, portador do R.G. nº 30.163-5 e do CPF nº

027.501.049-04, residente e domiciliado nesta Capital, à rua Jesuíno Lopes, nº 430.

CLÁUDIO MARQUES DA SILVA, brasileiro, separado, ex-Diretor

de Pessoal da Assembléia Legislativa, portador do R.G. nº 3.023.725-0 e do CPF o nº

356.322.579-49, residente e domiciliado nesta Capital, à rua Martin Afonso, nº 2169,

apto. 401, bairro Bigorrilho.

CINTHIA BEATRIZ FERNANDES LUIZ MOLINARI, brasileira, viúva,

funcionária pública, portadora do RG nº 1.101.882-3 e do CPF nº 485.877.619-00,

residente e domiciliada nesta Capital, à av. Nossa Sra. da Luz, nº 210, ap. 610, Cabral.

LUIZ CARLOS MONTEIRO, brasileiro, casado, servidor público

aposentado, portador do RG nº 497.272-4 e inscrito no CPF sob nº 110.541.909-60,

residente e domiciliado nesta Capital, à rua Álvaro Alvin, nº 490, bairro Seminário.

CLÉIA LÚCIA PEREIRA CARAZZAI, brasileira, casada, servidora

pública, portadora do RG nº 5.144.764-6/PR e do CPF nº 496.594.309-06, residente e

domiciliada nesta Capital, à rua Urbano Lopes, nº 60, Apto. 1702, com endereço

profissional na sede do Poder Legislativo do Estadual.

TAIS SERAFIM SOUZA DA COSTA, brasileira, casada, portadora

da cédula de identidade nº 7.158.247-7/PR e do CPF nº 007.112.559-03, residente e

domiciliada nesta Capital, à rua Abóbora, nº 510, bairro Uberaba.

em razão dos fatos e fundamentos que passa a expor.

1. INTRODUÇÃO

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A Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público da

Comarca de Curitiba há muito tempo desenvolve investigações acerca de ilicitudes que

ocorreram no âmbito da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná. Muitos foram os

procedimentos instaurados e, conforme se pode verificar no Anexo I, diversas ações

cíveis e penais foram propostas2. Contudo, um panorama mais claro, dando idéia da

enorme dimensão dos ilícitos ocorridos no Parlamento Estadual somente foi possível

de ser vislumbrado no ano de 2010, principalmente depois que os escândalos

explodiram na mídia e que foi expedido judicialmente mandado de busca e apreensão

de documentos naquela Casa de Leis3. É que, antes disso, imperava a mais absoluta

falta de transparência na Assembléia Legislativa, quando até mesmo o Ministério

Público tinha extremas dificuldades em obter o mais simples e público dos documentos,

como estampa o Anexo II, onde são relacionados alguns dos ofícios não respondidos,

respondidos com muito atraso e/ou de maneira incompleta4.

O panorama descortinado a partir de 2010 permitiu concluir que,

infelizmente, o Parlamento Estadual constituiu-se, em grande parte, num reduto de

corrupção, enriquecimento ilícito, malversação de recursos públicos, desmandos e

péssimas práticas administrativas, onde imperou a mais absoluta falta de

transparência. Também é possível concluir que essa situação, que traz conseqüências

nefastas, sentidas por toda população, como a insegurança descontrolada, a educação

precária, a saúde sofrível e as crianças que têm fome, foi conscientemente tolerada e

aperfeiçoada pela então alta direção do Poder Legislativo Estadual5.

Os ilícitos, em tese, cometidos, até agora identificados, de forma

não taxativa referem-se a: (a) funcionários fantasmas; (b) uso de servidores públicos 2 - Relação de procedimentos investigatórios, fls. 1210-1237 do inquérito civil.3 - O escândalo sobre ilícitos ocorridos na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná foi noticiado especialmente pela série de reportagens denominada Diários Secretos, fls. 410 e 703-1207 do inquérito civil. Cópia dos mandados de busca e apreensão, do pedido e da concessão do compartilhamento de provas, assim como dos termos de apreensão relacionados aos documentos juntados, fls. 1562-1576 do inquérito civil. Relação de procedimentos investigatórios instaurados pelo Ministério Público, fls. 1210-1237 do inquérito civil.4 - Documentação referente ao Anexo II, Apenso 122 ao inquérito civil.5 - Em relação aos períodos anteriores a 2001 a punição para os atos de improbidade administrativa em tese cometidos estão prescritos, razão pela qual a presente demanda não aborda períodos anteriores.

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para serviços particulares, inclusive com fins eleitoreiros; (c) remunerações acima do

teto constitucional e legal; (d) atos de investidura em desacordo com as normas

constitucionais; (e) cessão de servidores nomeados para cargos de provimento em

comissão; (f) nepotismo, inclusive com violação às balizas da Súmula Vinculante nº 13

do Supremo Tribunal Federal; (g) aposentadorias irregulares, etc. Ao lado desses

ilícitos, objetos de outras e específicas demandas judiciais, pôde-se verificar a prática

de atos de improbidade relacionados com uma consciente e maliciosa intenção de manter absoluta falta de transparência, o que constitui o objeto desta ação.

Como exposto adiante, a obscuridade que imperou no Parlamento

paranaense não foi um mero erro ou desorganização administrativa. Ao revés, tal falta

de transparência esteve calcada em várias condutas - comissivas e omissivas - que

revelam a consciente intenção de evitar que a população, a imprensa e os demais

órgãos públicos tivessem acesso a atos e decisões da Assembléia Legislativa.

Essas condutas são reveladas, em síntese, pela: ausência de

publicação dos atos no Diário Oficial do Estado e na internet, como impõe a Lei

Estadual nº 14.603/2004 (item 3); inacessibilidade ao Diário da Assembléia (item 4);

inserção de atos de investidura e exoneração em edições avulsas do Diário da

Assembléia (item 5); diários avulsos confeccionados com datas falsas e retroativas

(item 6); confecção, registro e assinatura de atos com datas falsas e retroativas, bem

como adulterações, rasuras e inserção de informações inverídicas em documentos

públicos (item 7); “publicação” de atos com muito atraso e/ou com longos efeitos

retroativos (item 8); ausência de “publicação” de atos (item 9); omissão, por muitos

anos, da publicação da lista dos servidores, seus cargos, funções e locais de exercício,

como exige o artigo 234 da Constituição Estadual (item 10); divulgação incompleta e

insuficiente dessa lista em 2009, pois omitidos cargos, funções e locais de exercício

(item 11); manipulação dessa lista em 2009, pois muitos “servidores” foram exonerados

entre janeiro e março e, em seguida, entre abril e agosto, readmitidos (item 12).

Deve-se registrar que, em face das situações adiante expostas,

não se pode considerar que os atos oficiais do Poder Legislativo do Estado do Paraná

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eram publicados. Alguns até constavam de um impresso denominado Diário da

Assembléia, o qual não chegava ao conhecimento público, razão pela qual não pode

ser considerado veículo de divulgação. Por isso, ao longo desta petição inicial utilizar-

se-á os vocábulos “publicação” e “divulgação” entre aspas quando se referirem à

inserção de atos oficiais nesse tablóide interno.

2. DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

POR SUAS VIOLAÇÕES

2.1. O artigo 37 da Constituição Federal prescreve que “a

administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

O artigo 27 da Constituição do Estado do Paraná também consigna

a necessidade de respeito a tais princípios.

A lei ordinária seguiu o mesmo caminho ao prever, no artigo 4º da

Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são obrigados a velar pela estrita observância

dos princípios esculpidos no artigo 37 da Carta Magna.

O ordenamento jurídico brasileiro adota, como um dos pilares

informadores do regime jurídico administrativo, que o aparta do regime privado, o

princípio da estrita legalidade. Na sistemática pátria, enquanto para os particulares o

princípio da legalidade funciona como uma garantia, permitindo fazer tudo que a lei não

proíba; para a Administração Pública funciona como um dever, pois somente permite

aos agentes públicos fazer o que a lei expressamente autoriza6.

6 - A respeito: citação de HANS KELSEN, feita por BILAC PINTO no Recurso Extraordinário nº 79.102, publicado na RDA nº 128, p. 184. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Curso de Direito Administrativo, 9ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1997, p. 58 e 63; assim como Discricionariedade e Controle Jurisdicional, 2ª ed., São Paulo: Malheiros, ed., 1993, p. 12-13. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 25ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 2000, p. 82. MARIA SYLVIA

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O princípio da publicidade é essencial ao regime democrático,

enfatiza a necessidade de transparência, não admite que o Poder Público esconda atos

e decisões. Por isso, impõe a divulgação dos atos da Administração Pública com o fito

de permitir conhecimento e controle. Ademais, “a publicação oficial é exigência de

executoriedade do ato que tenha de produzir efeitos externos”7.

O princípio da moralidade deve mesclar a moral jurídica, expressa

nas regras internas da Administração, com a moral comum, representada pelos

standards comportamentais que a sociedade deseja. Para respeitar esse princípio deve

o agente público conduzir-se como bom administrador, agir com lealdade e boa-fé, com

proporcionalidade e razoabilidade, observar a lei e os padrões éticos que a sociedade

espera, sempre visando o bem comum8 .

2.2. Os princípios constituem a base do ordenamento jurídico, são os

mandamentos nucleares do sistema9. Por isso, “violar um princípio é muito mais grave

que transgredir uma norma qualquer ... é a mais grave forma de ilegalidade ou de ZANELLA DI PIETRO, Direito Administrativo, 6ª ed., São Paulo, Ed. Atlas, 1996, p. 61. DIOGENES GASPARINI, Direito Administrativo, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1993, p. 6. LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, Curso de Direito Administrativo, São Paulo, Malheiros Ed., 1994, p. 32. MIGUEL REALE, Revogação e Anulamento do Ato Administrativo, 2ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1980, p. 29. PINTO FERREIRA, Comentários à Constituição Brasileira, 2º vol., São Paulo: Ed. Saraiva, 1990, p. 362. CELSO RIBEIRO BASTOS, Comentários à Constituição do Brasil, 3º vol., tomo III, São Paulo: Ed. Saraiva, 1992, p. 25-26 e 32. ALEXANDRE DE MORAES, Direito Constitucional, 5ª ed, São Paulo: Ed. Atlas, 1999, p. 288. JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO, Princípios Constitucionais da Administração Pública, in: Os Dez anos da Constituição Federal, coord. Alexandre de Moraes, Ed. Atlas, 1999, p. 153. 7 - Sobre o tema: CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Curso de Direito Administrativo, 26ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 2008, p. 114. JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO, Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com a Emenda Constitucional nº 19/98), In: Os Dez Anos da Constituição Federal, Coordenador Alexandre de Moraes, São Paulo: Ed. Atlas, 1999 p. 159. MARINO PAZZAGLINI FILHO, MÁRCIO FERNANDO ELIAS ROSA e WALDO FAZZIO JÚNIOR, Improbidade Administrativa, Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público, São Paulo: Ed. Atlas, 1996, p. 51. JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1993, p. 572.8 - Neste sentido: MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, Direito Administrativo, 6ª ed., São Paulo: Ed. Atlas, 1996, p. 71. LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros Ed., 1994, p. 45. DIOGENES GASPARINI, Direito Administrativo, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1993, p. 7. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Direito Administrativo, 5ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1994, p. 59-60. ALEXANDRE DE MORAIS, Direito Constitucional, 10ª ed., São Paulo: Ed. Atlas, 2001, p. 307.9 - LUÍS ROBERTO BARROSO, citando Celso Antônio B. de Mello, Interpretação e Aplicação da Constituição, 3ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1999, p. 148-149. CELSO RIBEIRO BASTOS, Curso de Direito Constitucional, 12ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1990, p. 138. MÁRCIA HAYDÉE PORTO DE CARVALHO, Hermenêutica Constitucional, Florianópolis: Ed. Obra Jurídica, 1997, p. 57.

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inconstitucionalidade”10. Ciente dessa gravidade, o legislador, integrando o § 4º, do

artigo 37, da Constituição Federal, não só repetiu, no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, a

necessidade de observância dos princípios que regem a Administração Pública, como

caracterizou a violação dos mesmos como ato de improbidade administrativa, conforme

se pode constatar no artigo 11 da mesma lei.

Por óbvio, a ofensa ao princípio da legalidade importa violação ao

dever de legalidade; o desrespeito ao princípio da moralidade caracteriza atentado ao

dever de honestidade; e, a ofensa aos princípios da legalidade, moralidade e

publicidade constitui violação ao dever de lealdade às instituições, de modo que o

atentado a tais princípios implica ofensa aos aludidos deveres e, via de conseqüência,

em ato de improbidade administrativa previsto no artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

2.3. Não obstante cada uma das situações descritas nos itens 3 a 12

caracterize ilícitos autônomos, é o conjunto delas que evidencia a ciência e má intenção

dos réus em manter a falta de transparência na Assembléia Legislativa do Estado do

Paraná. Analisando o conjunto dos atos praticados pelos requeridos fica claro que todos

eles, consciente e dolosamente, praticaram condutas comissivas e omissivas que foram

decisivas para ocultar diversos atos oficiais do Poder Legislativo Estadual.

Destarte, como passa a ser detalhado, no exercício de cargos com

funções administrativas os requeridos violaram os princípios da legalidade, moralidade

e publicidade e, por conseqüência, atentaram contra os deveres de legalidade,

honestidade e lealdade às instituições. Assim sendo, cometeram, por várias vezes,

atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

3. DA NÃO PUBLICAÇÃO DOS ATOS OFICIAIS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA NO SÍTIO OFICIAL DO ESTADO NA INTERNET E NO DIÁRIO OFICIAL DO

ESTADO, COMO DETERMINA A LEI ESTADUAL N º 14.603/04

10 - CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Curso de Direito Administrativo, 26ª ed., São Paulo: Malheiros, Ed., 2008, p. 949.

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3.1. Desde 28 de dezembro de 2004, a Lei Estadual nº 14.603/04, em

especial pelo disposto em seu artigo 2º, impõe que todos os atos dos Poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário sejam publicados no Diário Oficial do Estado e no sítio oficial do

Estado do Paraná na internet11.

Todavia, somente depois que a falta de transparência da Assembléia

Legislativa do Estado do Paraná foi veiculada na imprensa e após a propositura de ação

civil pública com preceito cominatório para cumprimento dessa e de outras obrigações

legais, inclusive com concessão de medida liminar, é que os então altos dirigentes do

Parlamento Estadual cogitaram em cumprir a Lei Estadual nº 14.603/0412.

Apenas em 20 de abril de 2010, através da Resolução nº 005/10, que

previa vacacio legis de sessenta dias, a anterior alta direção do Parlamento Estadual

instituiu como veículo de publicação de seus atos o Diário Oficial Eletrônico da

Assembléia Legislativa do Estado do Paraná. Mas, somente a partir de 31 de maio de

2010 os Diários da Assembléia passaram a ser inseridos no sítio do Poder Legislativo na

internet, e, somente depois de 14 de junho do mesmo ano é que todos os atos daquela

Casa de Leis começaram a ser publicados no Diário Oficial do Estado, como manda a Lei

Estadual nº 14.603/200413.

3.2. O desrespeito a essa lei estadual deve ser imputado aos

requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel.

É que os réus Hermas Brandão e Nereu Moura exerceram,

respectivamente, os cargos de Presidente e Primeiro Secretário da Assembléia

Legislativa nas legislaturas de 2003 a 2006; os requeridos Nelson Justus e Alexandre Curi ocuparam, respectivamente, os mesmos cargos nas legislaturas de 2007 a 2010;

11 - Lei Estadual 14.603/04, às fls. 405-406 do inquérito civil e www.pr.gov.br, link legislação. 12 - Cópias de reportagens às fls. 17-20, 358-363, 410, 606-636 e 703-1207 do inquérito civil. Cópia da inicial e da decisão liminar de ação civil pública, Autos nº 9281/2010, da 3ª Vara da Fazenda Pública, às fls. 642-692 e 693-698 do inquérito civil. 13 - Resolução 005/10, às fls. 483 do inquérito civil.

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e o réu Abib Miguel deteve o cargo de Diretor-Geral entre 1991 e 201014; razão pela

qual, eram as autoridades que deveriam ter tomado medidas para o cumprimento da

aludida lei durante os anos que a mesma foi descumprida - Hermas Brandão, Nereu Moura e Abib Miguel entre dezembro de 2004 e janeiro de 2007; Nelson Justus,

Alexandre Curi e Abib Miguel entre fevereiro de 2007 e junho de 2010.

O artigo 3º do Decreto Legislativo nº 52/84 prevê que o Presidente

e o Primeiro Secretário integram a Comissão Executiva da Assembléia Legislativa. Os

artigos 5º, II; 6º, 7º e 8º, XI, XII e XIII do Decreto Legislativo nº 52/84, bem como os

artigos 18, II, e, 20 do Regimento Interno, atribuem o comando e o dever de administrar

o Poder Legislativo à Comissão Executiva, ao Presidente e ao Primeiro Secretário15.

O artigo 8º do Decreto Legislativo nº 52/84 prescreve que ao

Diretor Geral incumbe o planejamento, a coordenação, o controle e a fiscalização de

todas as atividades administrativas da Assembléia Legislativa, em acordo com as

determinações da Comissão Executiva e normas vigentes, inclusive mantendo

contatos com o Presidente e o Primeiro Secretário16.

Destarte, por tais deveres/poderes legais, e pela própria natureza

dos cargos ocupados, tomar as medidas para fazer cumprir a Lei Estadual nº 14.603/04

competia aos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel.

Mas, não obstante tivessem essas obrigações legais, os réus

Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, nos

períodos que administraram o Parlamento Estadual, omitiram-se em tomar as decisões

administrativas que lhes competiam.

14 - Fls. 1671-1674 e 1680-1730, assim como Diários da Assembléia onde esses réus são nominados nesses cargos: Diário 66, de 1/9/2003, fls. 2 do Apenso 10; Diário 82, de 7/8/2006, fls. 164 do Apenso 39; Diário 85, de 1/8/2007, fls. 2 do Apenso 50; Diário 96, de 24/8/2009, fls. 170 do Apenso 80; Diário Avulso de 21/2/1994, fls. 4 do Apenso 91; Diário 104, de 17/11/2004, fls. 2 do Apenso 20; Diário 21/22 de 17/3/2010, fls. 136 do Apenso 88.15 - Decreto Legislativo às fls. 367-384 e Regimento Interno às fls. 1403-1439 do inquérito civil.16 - Decreto Legislativo às fls. 367-384.

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3.3. Não se pode olvidar que esse descumprimento foi consciente,

não simples esquecimento ou incompetência administrativa. De fato, pois há muito

tempo os questionamentos sobre a falta de transparência, assim como sobre a

ocorrência de ilícitos facilitados pela opacidade do Parlamento Estadual, chegaram ao

conhecimento da alta direção da Casa de Leis deste Estado17.

Ressalte-se que, se numa época normal o desempenho diligente e

correto das importantes funções detidas por tais requeridos já seria uma exigência

natural dos cargos por eles ocupados, a conjuntura em questão, na qual tinham ciência

de tão graves irregularidades, exigia diligências e precauções redobradas.

Ademais, a lei desrespeitada foi votada no próprio Parlamento onde

os quatro primeiros requeridos exerciam mandatos de Deputado Estadual e o sexto era

Diretor-Geral. Ora, se a ninguém é dado escusar-se do cumprimento de uma obrigação

legal por desconhecer a lei, muito menos membros do próprio Parlamento onde foi

votada e aprovada a norma em questão.

Portanto, apesar de alertados, os requeridos Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, conscientemente,

omitiram-se em cumprir suas obrigações legais.

3.4. Essa dolosa omissão importou em reiterada ofensa ao princípio

da legalidade e ao dever de legalidade, na medida em que foi desobedecido um

comando normativo cogente, não se fazendo o que a lei exigia que fosse feito.

Essa omissão proposital implicou em reiterado atentado ao princípio da publicidade, pois através dela, conscientemente, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel negaram

publicidade a atos oficiais, preferindo manter a falta de transparência que imperava

naquele Parlamento, dificultando o conhecimento e controle dos atos, ações e decisões

administrativas daquela Casa pelos órgãos estatais e por toda sociedade.17 - Reportagens, fls. 18, 20, 359-360, 363, 633-635,1246-1248, 1486-1505, 1507-1528 e 1662-1665 do inquérito civil. Ofícios do Ministério Público e respostas, Apenso 122 ao inquérito civil.

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Obviamente descumprir conscientemente uma lei, afrontando o

princípio da publicidade, é conduta que não está de acordo com as regras internas da

Administração Pública, tampouco com os standards comportamentais que a sociedade

deseja. Portanto, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel não se conduziram como bons administradores, não agiram com

lealdade e boa-fé, assim como não observaram a lei e padrões éticos exigidos pela

sociedade. Dessa maneira, fica patente que seus comportamentos não estão de

acordo com a moral jurídica nem com a moral comum, tais condutas implicam em

reiterada ofensa ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade.

Por óbvio, essa proposital omissão não foi leal para com as

instituições que esses réus deveriam servir, razão pela qual caracterizou reiterado atentado ao dever de lealdade às instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, ao deixar de publicar os atos no Diário Oficial do Estado e no

sítio do Estado do Paraná na internet, os ex-Presidentes, os ex-Primeiros Secretários e

o então Diretor Geral do Parlamento Estadual desobedeceram determinação legal

imposta pelo artigo 2º da Lei Estadual nº 14.603/04, como deixaram de praticar

obrigações previstas nos artigos artigo 5º, II; 6º; 7º e 8º do Decreto Legislativo nº 52/84,

e nos artigos 18, II, e, 20, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa. Assim, os

réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel praticaram ato visando fim proibido em lei; deixaram, indevidamente, de praticar atos

de ofícios; bem como negaram publicidade a atos oficiais.

3.5. Portanto, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, nos períodos que administraram a Assembléia Legislativa, por várias vezes, de forma omissiva, conscientemente, cometeram atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

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4. DA INACESSIBILIDADE DO DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA

4.1. Como apontado no item 3, até o dia 14 de junho de 2010 quase

todos os atos do Poder Legislativo eram “publicados” apenas num tablóide interno,

denominado Diário da Assembléia. Acontece que, como passa a ser detalhado, até 31 de maio de 2010 o Diário da Assembléia era propositalmente mantido inacessível para a população, para a imprensa e para os demais órgãos e agentes públicos.

4.2. Essa inacessibilidade começava pela falta de circulação externa,

pois o referido periódico oficial não era colocado à venda, não era distribuído para as

principais bibliotecas do Estado e não estava acessível na internet.

Até o primeiro semestre de 2010, o Arquivo Público, a Biblioteca do

Ministério Público, o Centro de Documentação do Tribunal de Justiça e a Biblioteca do

Tribunal de Contas não recebiam e não tinham exemplares do Diário da Assembléia. A

Biblioteca Pública do Paraná, que também não estava recebendo o aludido periódico,

só tinha os Anais de 1936, 1947, 1951, 1952, 1959 a 1964, 1968 a 1985, 1989 e 1990,

e, a partir de 1991 tinha poucas edições esparsas, de 6 de junho de 2001, 19 de

fevereiro de 2002, 18 de novembro de 2003 e de 10 de maio de 200618. Portanto,

descontados os quatro exemplares esparsos, a partir de 1986 interrompeu-se a

remessa dos Diários da Assembléia para a Biblioteca Pública, prática retomada durante

breve período, entre 1989 e 1990, mas definitivamente suspensa depois de 1991, não

por acaso, época em que o réu Abib Miguel assumiu a Direção Geral.

O certo é que desde 1991 o Diário da Assembléia não pode ser encontrado fora das dependências do Poder Legislativo Estadual.

Vários servidores confirmam que o Diário da Assembléia não tinha

circulação externa, que a diminuta tiragem tinha apenas distribuição interna, restrita

aos Deputados e alguns setores daquela Casa de Leis - isso para os diários que

18 - Fls. 51, 52, 53, 80, 81 e 356-357 do inquérito civil.

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tinham, pelo menos, a pífia distribuição interna, pois, como será visto nos itens 5 e 6,

muitas edições avulsas não tinham sequer essa tímida circulação19.

Não obstante o Coordenador da Gráfica e o responsável pela

Portaria tenham dito que alguns diários lá ficavam para consulta popular, das pessoas

ouvidas pelo Ministério Público só uma referiu-se a tal situação, enquanto mais de vinte

afirmaram nunca ter visto Diários da Assembléia para consulta na Portaria20.

Não havia justificativa para que o Diário da Assembléia não

estivesse na internet e não tivesse circulação externa, principalmente quando se

constata que o Jornal da Assembléia - periódico de divulgação de atividades

parlamentares - já tinha suas edições no sítio oficial da Casa (www.alep.gov.br/jornal-

da-assembleia), e, que o Parlamento Estadual paga, como verba de ressarcimento aos

Deputados, despesas com divulgação das atividades parlamentares - gastos que só

em dezembro de 2009, ainda pendentes algumas prestações de contas, atingiram a

cifra aproximada de R$ 200.000,0021. Portanto, está claro que enquanto havia interesse

em divulgar as atuações dos Deputados Estaduais, os atos oficiais ficavam escondidos.

Restou comprovado que até 31 de maio de 2010 o Diário da

Assembléia limitava-se a uma restrita distribuição interna e, como declarou o Presidente da OAB/PR: “divulgar apenas dentro da Assembléia não é

publicidade, como manda a lei” 22.

19 - Depoimentos às fls. 84-97 e 321-323, 257-258, 259-261, 270-272, 273-274, 275-278, 282-283, 284-286, 287-289, 290-291, 292-293, 294-296, 297-299, 305-307, 311-312, 313-314, 315-317, 318-320, 327, 330 e 332 do inquérito civil. A imprensa já noticiava essa ausência de circulação externa do Diário da Assembléia, fls. 20, 363, 410, 703-1207, 1518 e 1528 do inquérito civil.20 - Depoimento do Coordenador da Gráfica, fls. 99-101. Depoimento do responsável pela Portaria, fls. 147-150; da única pessoa que afirmou ter visto diários na Portaria, fls. 279-281. Depoimentos das pessoas que disseram nunca ter visto diários na Portaria para consulta, fls. 84-97 e 321-323, 257-258, 259-261, 270-272, 273-274, 275-278, 282-283, 284-286, 287-289, 290-291, 292-293, 294-296, 297-299, 305-307, 311-312, 313-314, 315-317, 318-320, 327, 330 e 332 do inquérito civil. Além desses depoimentos, a responsável pela Biblioteca disse que às vezes os diários não vinham, pois após a distribuição para os Gabinetes e Diretorias faltavam exemplares, e tinham que ir atrás (fls. 106-108 do inquérito civil), razão pela qual nada sobraria para ficar na Portaria à disposição da população.21 - Além da verificação na internet, a divulgação do Jornal da Assembléia pode ser conferida no CD anexo (fls. 411 do inquérito civil) e pelas cópias juntadas nos Apensos 93 e 94. Sobre o reembolso de despesas com divulgação de atividades parlamentares, ver www.alep.gov.br.22 - Entrevista de José Lúcio Glomb, fls. 721 do inquérito civil em anexo.

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4.3. A inacessibilidade do Diário da Assembléia também passava pela ínfima tiragem.

Embora o aludido periódico não mencione a tiragem, apurou-se

que, a cada edição, eram impressos pouco mais de cem exemplares destinados à distribuição interna. Detectou-se, também, que tal distribuição era feita pela Portaria,

que encaminhava um exemplar para cada Deputado Estadual, assim como para as

Diretorias, Lideranças Partidárias e outros órgãos da própria Casa de Leis23.

Considerando que entre 2003 e 2009 eram cinqüenta e quatro

Deputados Estaduais, dez Diretorias e de onze a treze Lideranças Partidárias, só com

esses setores eram consumidos aproximadamente setenta e seis exemplares, pelo que

restariam em torno de vinte e quatro dos cerca de cem feitos para distribuição. Porém,

como muito provavelmente outros órgãos, como a Presidência, as Vice-Presidências,

Secretarias e Comissões, também recebessem exemplares, a distribuição interna

extinguiria toda tiragem24.

Então, nada sobrava na Portaria à disposição do povo25!

23 - Apesar de informações um tanto díspares sobre a quantidade de diários impressos (entre 80 e 250), através de depoimentos de servidores (fls. 99-101, 147-149, 257-258, 273-274, 275-278, 297-299 e 321-323 do inquérito civil) foi possível concluir que devido a perdas (folhas que borravam ou amassavam) eram feitos cerca de 250 exemplares por edição, para aproveitar 106 para fazer os anais e 106 para a distribuição interna mencionada; de forma que descontados os dez que ficavam na Gráfica, restavam cerca de cem exemplares para distribuição interna. A imprensa já mencionava essa pequena quantidade, fls. 18 do inquérito civil. Depoimentos sobre a forma de distribuição, fls. 292-293, 300-301, 305-307, 313-314 e 318-319 do inquérito civil. Esse sistema é descrito em mais detalhes na inicial da ação pública com pedido cominatório, fls. 642-683, especialmente fls. 652-654 do inquérito civil.24 - A respeito do número de Deputados, sítio da Assembléia Legislativa: www.alep.gov.br. O artigo 4º do Decreto Legislativo nº 52/84 prevê dez Diretorias (fls. 369 do inquérito civil). Quanto ao número de lideranças partidárias, consultar os diários das épocas respectivas, observando-se que ente 2003 e 2009 o número variou entre 11 e 13 (fls. 2 do Apenso 10, fls. 2 do Apenso 29, fls. 2 do Apenso 34, fls. 198 do Apenso 47; fls. 202 e 213 do Apenso 73 do inquérito civil). 25 - Aliás, isso se deduz do depoimento da responsável pela Biblioteca, a qual afirmou que muitas vezes os diários não vinham, pois após a distribuição para os Gabinetes e Diretores faltavam exemplares (fls. 106-108 do inquérito civil). Essa falta de diários também é mencionada por ex-funcionário da Higiserv que trabalhava no Arquivo (fls. 1319 do inquérito civil).

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Admitindo-se, apenas para argumentar, a não comprovada e

infirmada existência de diários na Portaria à disposição da população, ainda que fosse

verdade, não restariam mais que quinze exemplares nessa condição26. Como nessa

época a Assembléia Legislativa tinha cerca de dois mil e quatrocentos servidores27,

bastaria que pouco mais de meio por cento deles apanhasse um exemplar - o que seria

perfeitamente natural dada “publicação” de assuntos de seus interesses - para que os

tais diários da portaria sumissem em instantes, nada sobrando à disposição do público externo.

A ínfima tiragem não era medida de economia, pois, conforme foi

comentado no item anterior, o Parlamento Estadual paga, como verba de

ressarcimento aos Deputados Estaduais, despesas com divulgação da atividade

parlamentar28, e, publica o Jornal da Assembléia, o qual contém “notícias” sobre a

atuação dos Deputados Estaduais.

Portanto, a conclusão é que a tiragem de cerca de cem exemplares, equivalente a menos de cinco por cento do exagerado número de servidores do Poder Legislativo Estadual, era notoriamente insuficiente para que a população, a imprensa e os demais órgãos públicos pudessem ter acesso ao referido tablóide oficial.

4.4. A inacessibilidade do Diário da Assembléia se completava com o impedimento para consulta de seus exemplares.

Ao contrário do alegado pelo então Diretor-Geral na falsa e serôdia

resposta dada ao Ministério Público29, os Diários da Assembléia não estavam

disponíveis na Biblioteca da Casa de Leis. Na verdade, a consulta a tais periódicos não

era livre, era dificultada, quando não impossibilitada, como se passa a demonstrar.

26 - O responsável pela Portaria disse que recebia de 80 a 90 exemplares, restando de 12 a 15 após o envio para Deputados, Diretorias, Coordenadorias e Lideranças (fls. 147-149 do inquérito civil). 27 - Número de servidores: Diário Avulso de 31/3/2009, p. 2-23 (fls. 202-212, ap. 73, do inquérito civil).28 - Gasto que somente no mês de dezembro de 2009 atingiu a cifra aproximada de R$ 200.000,00 sem computar todas as prestações de contas (www.alep.gov.br).29 - Como exemplos, fls. 14-15 do inquérito civil.

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Vários jornalistas não conseguiram consultar Diários da

Assembléia naquele Parlamento. Diversos os impedimentos e desculpas. A justificativa

mais freqüente foi que os diários tinham sido recolhidos para digitalização e/ou

encadernação e não teriam voltado30. Alguns servidores do Setor e o Diretor Legislativo

admitiram que os Diários da Assembléia foram retirados da Biblioteca daquela Casa de

Leis em 2008 e somente retornaram em abril de 201031.

Contudo, nada disso justifica toda essa ofensa à publicidade. A

uma porque um processo de digitalização e/ou encadernação não demora tanto. A

duas porque, como visto no item 4.3., cerca de cem exemplares de cada edição eram

separados para montar os anais, que ao fim de cada ano eram distribuídos para os

30 - Reportagens, fls. 18, 20, 359-360, 363, 633-635,1246-1248, 1486-1505 e 1507-1528 do inquérito civil. O Relatório de Ultimação da Comissão de Sindicância levada a efeito pela própria Casa insistiu na desculpa de que os diários não estavam na Biblioteca porque haviam sido levados para digitalização, visando sua inclusão no Portal da transparência (fls. 401 do inquérito civil). Dentre as várias reportagens, muito esclarecedoras são as veiculada pelo Jornal Gazeta do Povo de 12/7/2009: “Os atos secretos do Senado ganharam as manchetes dos jornais de todo o país nas últimas semanas, mas não é só em Brasília que medidas oficiais ficam escondidas da população. Na Assembléia Legislativa do Paraná, há um mistério acerca do paradeiro dos Diários Oficiais, inacessíveis aos cidadãos desde agosto de 2008, transforma todos os atos da Casa em segredo. Há 11 meses, todos os documentos de 2008 e anteriores a esse ano foram retirados da biblioteca da Assembléia e encaminhados para encadernação. Desde então, estão inacessíveis à população , junto com todas as decisões gerenciais e políticas da Casa. A direção da Assembléia não informa onde estão os Diários – apenas que ‘foram encaminhados a uma gráfica terceirizada`. Os Diários Oficiais referentes a 2009, que continuam a ser impressos na gráfica da própria Assembléia, também não são encontrados na biblioteca da Casa. E nem em qualquer grande biblioteca do estado ou de outro órgão público. As informações sobre o paradeiro dos documentos são desencontradas. Segundo funcionários da gráfica da Assembléia, situada no subsolo do prédio do plenário, são impressos apenas 200 exemplares por edição. A circulação é restrita aos gabinetes dos deputados e uma parte da tiragem seria colocada na portaria da Assembléia para distribuição aos cidadãos que tiverem interesse. Numa das portarias, no entanto, foi informado à reportagem que existem apenas 54 de cada edição – um para cada deputado estadual. Na entrada principal, a informação é de que os documentos não ficam ali para distribuição. ... A dificuldade de acesso aos Diários Oficiais e a inexistência de arquivos destes documentos em locais públicos – como a Biblioteca do Estado e da própria Casa – dificulta o controle público sobre o Legislativo e levanta dúvidas sobre a licitude da administração da Assembléia.” (grifou-se e destacou-se, fls. 18 do inquérito civil); e pela Folha de Londrina de 20/7/2008: “A Folha esteve na Assembléia para concluir a pesquisa referente às publicações de 2007, mas foi impedida de consultar os documentos na Biblioteca ...” (fls. 1503-1504 do inquérito civil).31 - Depoimentos às fls. 106-108, 333, 335-336, 84-97 e 321-323 do inquérito civil. O Procurador-Geral da Assembléia Legislativa preferiu tergiversar, alegou que a negativa de vista aos diários se devia a necessidade de digitalização ou a falta de prática das moças (fls. 144-145). Porém, as moças a que se refere trabalham há muito tempo no setor, conforme depoimentos de fls. 106-108, 84-97 e 321-323, 333 e 335-336 do inquérito civil. Lembre-se que foi em 2008 que a imprensa publicou várias notícias sobre a existência de funcionários fantasmas (fls. 606-607, 611-617, 619-621, 626-627, 628-630 e 1248 do inquérito civil); bem como foi em março de 2010 que iniciou a série de reportagens Diários Secretos (fls. 410 e 703-1207 do inquérito civil).

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Gabinetes e Departamentos da Casa, além do que dez exemplares de cada edição

ficavam na Gráfica, de modo que um processo de digitalização ou encadernação não

ocuparia todos os anais, a ponto da Biblioteca ficar sem nada. A três porque, como

dito, a colocação dos Diários da Assembléia no Portal da Transparência só ocorreu em

maio de 2010, após ação civil pública com pedido a esse respeito, não obstante a Lei

Estadual nº 14.603/04 exigisse a divulgação dos atos oficiais na internet desde 200432.

O Ministério Público também não conseguiu consultar os Diários da

Assembléia naquela Casa de Leis. Dois de seus estagiários não tiveram acesso aos

mesmos, foram informados que a consulta só poderia ser feita mediante requerimento

explicando o fim da pesquisa e indicando da edição a ser consultada33.

Um funcionário terceirizado, que trabalhava na Coordenadoria de

Expediente e Arquivo, confirmou que havia ordens para não fornecer os Diários da

Assembléia, especialmente para imprensa. Disse que na Biblioteca não havia diários

para consulta e para ver tais periódicos era necessária autorização do Diretor-Geral,34.

Até um Deputado Estadual teve dificuldade de obter Diários da

Assembléia, precisando requerer à Mesa Executiva acesso a edições avulsas35.

O certo é que a consulta aos Diários da Assembléia não era livre. Era vedada, obstada pelos mais variados pretextos. Não se conseguia examinar seus exemplares na Biblioteca, no Arquivo, na Gráfica ou em qualquer outro lugar da Casa de Leis deste Estado. E, tais periódicos não existiam fora daquele Parlamento, sendo impossível qualquer acesso aos mesmos.

32 - Uma das servidoras da Biblioteca informou que até 2008 sempre eram feitas encadernações dos anais do ano anterior, o que demorava cerca de um mês (fls. 335-336 do inquérito civil), razão pela qual os anais anteriores a 2007 já estavam encadernados, nada justificando a demora de um ano e meio para tal procedimento. Depoimentos destacando que cerca de cem exemplares de cada edição eram separados para montagem dos anais, fls. 292-293, 300-301, 305-306, 313-314 e 318-320 do inquérito civil. Depoimentos mencionando que dez exemplares de cada edição ficavam na Gráfica, fls. 292-293, 297-299, 313-314 e 318-320 do inquérito civil. Cópia da inicial e da decisão liminar de ação civil pública, Autos nº 9281/2010, da 3ª Vara da Fazenda Pública, às fls. 642-692 e 693-698 do inquérito civil.33 - Certidão encartada às fls. 82 do inquérito civil.34 - Depoimento, às fls. 1317-1320 do inquérito civil.35 - Jornal Gazeta do Povo de 23 de março de 2010, fls. 761 do inquérito civil.

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4.5. A inacessibilidade do periódico oficial do Poder Legislativo

Estadual, acima demonstrada, deve ser imputada aos requeridos Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel.

É que, como destacado no item 3.2., os requeridos Hermas Brandão, Nelson Justus, Nereu Moura e Alexandre Curi exerceram os cargos de

Presidente e Primeiro Secretário da Assembléia Legislativa nos períodos mencionados;

e o réu Abib Miguel deteve o cargo de Diretor-Geral entre 1991 e 2010. Assim sendo,

como também foi enfatizado no item 3, tinham a incumbência de administrar o Poder

Legislativo, de forma que eram eles as autoridades que deveriam ter tomado medidas

para que o Diário da Assembléia fosse acessível a quaisquer pessoas.

Porém, esses réus deixaram de cumprir suas obrigações legais.

Por suas ações e omissões, o Diário da Assembléia continuou inacessível para a

população, para a imprensa e para os demais órgãos públicos.

4.6. Registre-se que a manutenção do Diário da Assembléia inacessível

foi consciente, não simples erro ou incompetência administrativa. De fato, pois como

ressaltado no item 3.3., há muito tempo indagações sobre a falta de transparência,

inclusive quanto à inacessibilidade dos periódicos oficiais da Casa de Leis deste

Estado, assim como sobre a ocorrência de ilícitos facilitados por tal opacidade,

chegaram ao conhecimento da alta direção do Poder Legislativo36.

Como também enfatizado no item 3.3., se numa época normal o

desempenho diligente e correto das importantes funções detidas por tais requeridos já

seria uma exigência natural dos cargos por eles ocupados, a conjuntura em questão,

na qual tinham inequívoca ciência de tão graves irregularidades, por óbvio, exigia

diligências e precauções extras. Em tal situação pessoas probas e minimamente

36 - Reportagens, fls. 18, 20, 359-360, 363, 633-635,1246-1248, 1486-1505, 1507-1528 e 1662-1665 do inquérito civil. Ofícios expedidos pelo Ministério Público e respostas, Apenso 122 ao inquérito civil. Relação de ações propostas pelo Ministério Público em razão de ilícitos ocorridos na Assembléia Legislativa, Anexo I. Destaque-se que o Inquérito Civil nº 194/2008 foi instaurado em 11 de novembro de 2008 exatamente para apurar notícia de inacessibilidade do Diário da Assembléia, fls. 7.

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comprometidas com a boa gestão da coisa pública, por certo, tomariam atitudes para

resolver os problemas apontados, assim como se cercariam de cuidados redobrados

na fiscalização e administração da Casa de Leis.

Apesar de alertados da falta transparência e ocorrência de ilícitos

na Assembléia Legislativa, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel nada fizeram para resolver a questão. Ao revés, não só

mantiveram os problemas de que foram avisados, como os agravaram, pois, como será

detalhado, em especial nos itens 5, 6, 7, 10, 11 e 12, adotaram e permitiram que

fossem tomadas medidas ilícitas que aumentaram a opacidade do Parlamento

Estadual, o que possibilitou esconder vários atos e decisões daquela Casa de Leis.

Portanto, nos períodos que administraram o Parlamento Estadual,

os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e

Abib Miguel, dolosamente, mantiveram o tablóide oficial inacessível para a população,

para a imprensa e para os demais órgãos públicos.

4.7. Além da referência ao princípio da publicidade, constante do artigo

37 da Constituição Federal e do artigo 27 da Constituição Estadual, o artigo 2º, V, da

Lei nº 9.784/99, impõe a necessidade de divulgação oficial dos atos administrativos.

Como salientado no item 1, diante da demonstrada inacessibilidade

do Diário da Assembléia e de outras situações que serão narradas, a inserção de um

ato oficial num exemplar desse tablóide interno não pode ser considerada publicação,

pois tal periódico não estava ao alcance do povo, da imprensa e dos demais órgãos e

agentes públicos.

Ora, se não existiu divulgação, os requeridos Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel desrespeitaram a

norma prevista no artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99. Assim sendo, as dolosas condutas,

comissivas e omissivas, que mantiveram o Diário da Assembléia inacessível importou,

por parte de tais requeridos, em reiterada ofensa ao princípio da legalidade e ao

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dever de legalidade, na medida em que houve contrariedade não somente à

Constituição Federal, expressão máxima da lei, como também ao comando emanado

do artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99.

As condutas implicaram em reiterado atentado ao princípio da

publicidade, pois, conscientemente, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel negaram publicidade a atos oficiais, preferindo

manter a falta de transparência que imperava naquele Parlamento, dificultando o

conhecimento e o controle dos atos e decisões daquela Casa de Leis.

Por evidente que, propositalmente, manter o periódico oficial

inacessível para a população, para a imprensa e para os demais órgãos públicos,

simulando uma publicação que em verdade não acontecia, é conduta que não está de

acordo com as regras internas da Administração Pública, tampouco com os standards

comportamentais que a sociedade deseja. Portanto, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel não se conduziram como bons

administradores, não agiram com lealdade e boa-fé, não observaram a lei e padrões

éticos. Dessa maneira, fica patente que seus comportamentos não estão de acordo

com a moral jurídica nem com a moral comum, razão pela qual as condutas que

praticaram por ações e omissões implicaram em reiterada ofensa ao princípio da

moralidade e ao dever de honestidade.

Obviamente, essas propositais e reiteradas condutas, comissivas e

omissivas, não foram leais para com as instituições que esses requeridos deveriam

servir, de forma que caracterizaram reiterado atentado ao dever de lealdade às

instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, o que já caracteriza ato de improbidade administrativa, ao

consciente e reiteradamente manter o Diário da Assembléia inacessível, com o

desiderato de esconder atos oficiais, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel desobedeceram determinação legal

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imposta pelo artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99, assim como deixaram de praticar

corretamente as obrigações previstas nos artigos artigo 5º, II; 6º; 7º e 8º, XI, XII e XIII

do Decreto Legislativo nº 52/84, e nos artigos 18, II, e, 20, do Regimento Interno da

Assembléia Legislativa. Assim, tais os requeridos praticaram ato visando fim proibido

em lei; deixaram, indevidamente, de praticar atos de ofícios; bem como negaram

publicidade a atos oficiais.

4.8. Portanto, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, nos períodos que administraram a Assembléia Legislativa, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

5. DA CONFECÇÃO DE EDIÇÕES AVULSAS DO DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA E DA INSERÇÃO DE ATOS DE INVESTIDURA E EXONERAÇÃO DE SERVIDORES

NESSES DIÁRIOS AVULSOS

5.1. A par das edições normais, datadas e numeradas, o Diário da

Assembléia também tinha edições soltas, sem numeração e critério de periodicidade.

Essas edições, os chamados diários avulsos, foram detectadas com a mesma data de

uma edição numerada e em dias que não havia diário numerado. Também foi

observado que houve dias com mais de um diário avulso37.

Tanto pela ausência de numeração, como pela falta absoluta de

critério de periodicidade, não era possível saber quantos diários avulsos existiam,

tampouco quando e se eram distribuídos, ainda que apenas internamente.

37 - Por exemplo: em 3/2/2009 houve diário numerado (Diário 01/2009) e diário avulso (fls. 8-29 e 30-47, apenso 71); em 31/3/2009 houve um diário numerado (Diário 026-027/09 e dois diários avulsos (fls. 175-201; 202-212; e 213-227 do Apenso 73); ao passo que em 27/2/2009 e 3/4/2009 houve só diário avulso (fls. 2-17 do Apenso 72 e 39-61 do Apenso 74). Todas indicações do inquérito civil.

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Com efeito, os diários avulsos iludiam qualquer forma de controle

sobre os atos neles inseridos, pois como não era possível saber quantas dessas

edições soltas existiam não havia como ter certeza que um ato não constou de um

Diário da Assembléia. Realmente, ainda que um ato não fosse encontrado numa

pesquisa feita em todos os exemplares disponíveis poderia surgir uma edição solta

contendo a sua “publicação”, conforme se constata nos exemplos a seguir referidos.

a) Se alguém não encontrasse um ato em todos os Diários da

Assembléia de certo ano, ainda assim, não poderia ter certeza que tal ato não existia,

pois ele poderia “aparecer” num diário avulso que a pessoa não teve acesso. É que,

como essas edições soltas não tinham data e critério de periodicidade, não era

possível saber quantas delas existiam, e, assim, a qualquer momento poderia surgir

outro diário avulso daquele ano com referido ato.

Foi o que aconteceu com o Diário Avulso XII/2003, datado de 22 de

outubro de 2003, e com um dos Diários Avulsos datados de 18 de maio de 2006,

confeccionados, respectivamente, em 8 de junho de 2004 e 11 de dezembro de 2007.

Com efeito, esses dois diários avulsos não estavam entre os exemplares

encaminhados ao Ministério Público em resposta ao ofício que requisitou os Diários da

Assembléia de 1994 a abril de 2010, numa indicação que não existiam. Contudo,

depois que o Ministério Público detectou a existência dos mesmos e os requisitou, eles

apareceram, demonstrando que “existiram”38.

Além dos aludidos diários avulsos não terem sido entregues ao

Ministério Público em resposta à requisição de todos os Diários da Assembléia de 1994

a abril de 2010, revelando que era impossível saber quantos diários avulsos existiam,

deve ser destacado que, levando em consideração a data de confecção dos mesmos,

38 - Sobre as datas de formatação dos diários, ver item 6, Anexos IV e V e cadernos de controle de confecção de Diários Avulsos da Gráfica, fls. 196 e 225 do Apenso 4 ao inquérito civil. Ofícios requisitando exemplares dos Diários da Assembléia entre 1994 e 2010, suas reiterações, e respostas, fls. 37, 46, 153, 157 e 161 do inquérito civil. Diários da Assembléia de 2003 a abril de 2010 encaminhados ao Ministério Público em resposta àquelas requisições, Apensos 5 a 92. Relação de Diários da Assembléia enviados ao Ministério Público em resposta aos ofícios mencionados, fls. 166-240 do inquérito civil. Ofícios requisitando esses dois diários avulsos, as respostas e os exemplares dos mesmos, fls. 1269-1271vº, 1584 e 1641-1644 do inquérito civil.

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eles não existiam no ano de suas datas. De fato, pois como consignado acima o Diário

Avulso XII/2003, datado de 22 de outubro de 2003, somente foi feito em 8 de junho de

2004; e o Diário Avulso de 18 de maio de 2006 em questão39 foi confeccionado apenas

em 11 de dezembro de 2007. Então a pessoa que procurasse esses diários ao final dos

anos grafados nos respectivos jornais - 2003 e 2006 - não encontraria as respectivas

“publicações”, concluindo que os atos ali inseridos não existiam.

b) Se alguém lesse o Diário 29, de 2 de abril de 2009, e, o Diário 30,

de 6 de abril 2009, concluiria não haver outros exemplares entre os dois, portanto que

pesquisou todos os atos “publicados” entre 2 e 6 de abril de 2009, de modo que o

conteúdo do Diário Avulso de 3 de abril de 2009 esteve fora de seu alcance. Ademais,

como se verá no item 6, essa situação fica mais evidente quando se descobre que o

Diário Avulso de 3 de abril de 2009 somente foi confeccionado muito tempo depois, em

3 de agosto de 2009. Então, embora datado de 3 de abril, não existia mesmo entre abril

e julho de 200940.

O Presidente da OAB/PR não usou meias palavras, foi taxativo e

declarou que: “diário avulso é absurdo e irregular” 41.

5.2. Embora os diários avulsos existam há algum tempo na Assembléia

Legislativa do Estado do Paraná até 2003 não eram usados para “publicar” atos de

investidura e exoneração de servidores. Com efeito, até 2002 o único ato dessa

natureza encontrado em diário avulso foi a exoneração da servidora efetiva Joselita

39 - Por incrível que pareça, existem dois diários avulsos datados de 18 de maio de 2006. Um foi inicialmente entregue ao Ministério Público, está às fls. 264-287 do Apenso 37. O outro é o que se está a tratar, só foi entregue depois de novamente requisitado, fls. 1584 e 1641-1644 do inquérito civil. 40 - Esses diários existem como consta do exemplo (fls. 235 do inquérito civil e fls. 24-78 do Apenso 74). Decifrando o criptograma constante ao final do Diário Avulso de 3/4/2009 (fls. 61vº do Apenso 74), assim como analisando os cadernos de controle de confecção de Diários Avulsos da Gráfica (fls. 229 do Apenso 4), conclui-se que o mesmo foi impresso em 3/8/2009, de modo que, com certeza, tal diário não circulou entre abril e agosto de 2009, razão pela qual a pessoa que procurasse os atos ali inseridos jamais os encontraria, mas os réus poderiam apresentar a “publicação” dos mesmos num diário de 3/4/2009, o que é uma falsidade. Sobre as datas de formatação dos diários avulsos, ver item 6 e Anexos IV e V. Algumas reportagens foram bastante claras ao explicar como os diários avulsos possibilitavam a “fabricação” de atos com datas e efeitos retroativos, pois essas edições soltas e não numeradas tornavam os atos ali inseridos inacessíveis, inviabilizando os controles, fls. 410 do inquérito civil. A síntese dessas matérias foram narradas na inicial da ação civil pública, fls. 659-661 do inquérito civil.41 - Entrevista de José Lúcio Glomb, fls. 721 do inquérito civil.

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Fernandes Costa, “publicado” no Diário Avulso de 20 de dezembro de 1999; e, com

data de 2003 somente no Diário Avulso XII/2003, de 22 de outubro de 2003,

inicialmente não entregue ao Ministério Público, é que foram encontrados atos dessa

natureza, duas anulações e o provimento de Hemerson Caraçato42.

Não se pode esquecer que o Diário Avulso XII/2003, embora

datado de 22 de outubro de 2003, somente foi confeccionado no dia 8 de junho de

2004, portanto na mesma época em que foram formatados os Diários Avulsos III e

V/2004, que embora datados de 22 de março e 20 de abril de 2004, somente foram

confeccionados entre 29 de abril e 21 de junho de 2004. São esses dois, feitos na

gestão Hermas/Nereu, os primeiros diários avulsos a conter grande quantidade de

atos de investidura e exoneração de servidores43.

Então, fica demonstrado que a prática de inserir atos de investidura e exoneração de servidores em diários avulsos, inclusive confeccionados com datas retroativas, iniciou-se entre os dias 29 de abril e 21 de junho de 2004, como se pode verificar no Anexo III.

5.3. Outrossim, como também retrata o Anexo III, deve ser destacada a

elevação do número de diários avulsos e, principalmente, o início e o aumento da

inserção de atos de investidura e exoneração nessas edições soltas, ocorrida a partir de 2004. De fato, verificando os diários avulsos entre 1994 e 2002 detectou-se só uma

exoneração; em 2003 uma investidura, ressaltado-se que tal diário foi formatado em 42 - Até 2003 os cadernos de controle de confecção de Diários da Assembléia, indicam que só esses dois diários avulsos continham atos da Comissão Executiva (fls. 148-203 do Apenso 4). Diário Avulso de 20/12/1999, às fls. 102-105 do Apenso 91. Diário Avulso XII, de 22/10/2003, às fls. 1271 e vº do inquérito civil. Listagem de diários enviados ao Ministério Público, às fls. 158-159 e 166-240 do inquérito civil. Ofício requisitório do Diário Avulso XII/2003 e resposta, fls. 1269-1271vº. Quanto à data de formatação deste diário, ver item 6, caderno de controle de confecção de Diários da Assembléia (fls. 196 do Apenso 4) e Anexo V a esta petição. 43 - Sobre as datas de formatação desses diários ver item 6, caderno de controle de confecção de Diários da Assembléia (fls. 196 e 197 do Apenso 4) e Anexo V. No referido caderno o Diário Solene VI, de 5/4/2004, foi feito em 29/4/2004, em seguida aparecem sete diários onde não estão consignadas as datas de formatação, após é registrado o Diário Solene X, de 1/6/2004, feito em 21/6/2004, de modo que aqueles sete diários, incluídos os Diários Avulsos III e V, foram confeccionados nesse intervalo. Note-se, também, que com exceção dos três avulsos ali inseridos havia uma coerência nas datas, apenas nos três avulsos é que se detecta um retrocesso na numeração (fls. 197 do Apenso 4). Quanto ao conteúdo dos Diários Avulsos III e V, além da indicação no caderno da Gráfica (fls. 197 do Apenso 4), pode-se ver os próprios diários, fls. 33-38 do Apenso 15, e, fls. 13-17vº do Apenso 16.

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2004, como dito acima; em 2004 apurou-se quase setecentas

investiduras/exonerações; em 2005 mais de duas mil; em 2006 mais de setecentas;

em 2007 mais de quinhentas; em 2008 mais de mil e duzentas; e, nos diários avulsos

de 2009 mais de duas mil.

Ou seja: nos dez anos compreendidos entre 1994 e 2003 praticamente não se detectou atos de investidura e exoneração “publicados” em diário avulso, prática que passou a ser largamente utilizada nos seis anos compreendidos entre 2004 e 2009, onde foi encontrada a gigantesca quantia de mais sete mil investiduras/exonerações em diários avulsos!

5.4. Registre-se que a mesma servidora que tentou acabar com os

diários avulsos, entre março de 2003 e maio de 2005 passou a numerar essas edições

soltas com algarismos romanos, o que facilitaria a localização desses periódicos.

Porém, recebeu ordem do requerido Luiz Carlos Monteiro para cessar tal conduta 44.

5.5. Destarte, está cabalmente comprovado que foram confeccionados

injustificáveis diários avulsos sem numeração ou qualquer critério de periodicidade; que

a falta de numeração dessas edições soltas era proposital; e, que, a partir de 2004,

esses diários avulsos foram utilizados para “publicar” atos de investidura e exoneração

de funcionários. Tais atitudes importam em proposital falta de transparência e

revelaram-se ilícitas, ainda mais quando somadas à inacessibilidade dos Diários da

Assembléia (item 4) e ao fato de haver diários avulsos confeccionados com datas

retroativas (item 6).

5.6. À toda evidência, como salientado nos itens 3.2. e 4.5., em razão

dos deveres/poderes de administração que detinham, acabar com os diários avulsos e/ou

proibir a inserção de atos de investidura e exoneração de servidores nessas edições

44 - O primeiro diário avulso numerado foi o Diário Avulso nº IV, de 18/3/2003, e, o último foi Diário Avulso nº VIII, de 18/5/2005 (fls. 162 do Apenso 5 e fls. 167 do Apenso 25, do inquérito civil. Depoimentos da servidora às fls. 275-278 e 1301-1303 e do Coordenador da Gráfica às fls. 1604-1607 do inquérito civil.

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soltas eram decisões que competiam aos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel.

Ainda como foi destacado nos itens 3.3. e 4.6., os requeridos

Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel estavam mais do que alertados sobre a falta de transparência vigente no Poder

Legislativo, assim como acerca dos problemas relacionados a funcionários fantasmas,

ilícitos facilitados pela opacidade do Parlamento Estadual.

Mas, apesar de cientes desses graves fatos, além de não tomarem

as obrigatórias decisões de acabar com os diários avulsos e/ou proibir a inserção de atos

de investidura e exoneração de servidores nessas edições soltas, esses requeridos

concorreram para que a situação piorasse. Primeiro porque, como dito neste item, foi a

partir de 2004, na administração dos requeridos Hermas Brandão e Nereu Moura, que

atos de investidura e exoneração de servidores passaram a ser inseridos em diários

avulsos, o que tornou a “divulgação” de tais atos ainda mais opaca e facilitou a prática

e ocultação de ilícitos. Segundo porque, como detalhado nos itens 4, 6 e 7, os réus

estiveram coniventes com medidas ilícitas que aumentaram a opacidade do

Parlamento Estadual. Terceiro porque combinado com as condutas violadoras da

publicidade narradas nos itens 3, 4, 6, 7 e 10 o diário avulso representou importante

elemento para esconder atos e decisões da Assembléia Legislativa. Quarto porque os

requeridos Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel manipularam a incompleta,

e omitida por vários anos, publicação da lista de servidores exigida pelo artigo 234 da

Constituição do Estado do Paraná, itens 11 e 12.

Tudo isso evidencia a consciência e vontade desses requeridos em

esconder atos e decisões oficiais do Poder Legislativo, em manter e aperfeiçoar uma

proposital falta de transparência na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná.

5.7. Considerando que o diário avulso representou importante elemento

para esconder atos e decisões da Assembléia Legislativa, pelos mesmos motivos

expostos nos itens 3 e 4, a consciência e vontade desses requeridos em manter essas

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edições soltas, inclusive com a inovação de usá-las para “publicar” atos de investidura

e exoneração de servidores, aperfeiçoando a proposital falta de transparência na

Assembléia Legislativa, importa em persistente violação aos princípios da

legalidade, publicidade e moralidade, via de conseqüência aos deveres de

legalidade, honestidade e lealdade às instituições.

Também pelos mesmos fundamentos consignados nos itens 3 e 4,

essas condutas comissivas e omissivas importaram na prática reiterada de atos

visando fim proibido em lei; na repetida omissão indevida de praticar atos de ofício e na

persistente negativa de publicidade a atos oficiais.

5.8. Portanto, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, nos períodos que administraram a Assembléia Legislativa, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

6. DA CONFECÇÃO DE EDIÇÕES AVULSAS DO DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA COM DATAS FALSAS E RETROATIVAS

6.1. Constatou-se que vários diários avulsos foram confeccionados com datas falsas e retroativas. Esse fato, que caracteriza fraude, restou esclarecido

quando foi decifrado o criptograma grafado ao final de alguns Diários da Assembléia,

assim como pelas anotações em agendas e cadernos de controle de confecção de

diários apreendidos na Gráfica do Parlamento Estadual, pois em tais documentos estão

registradas as datas de formatação desses periódicos45.

Algum tempo depois que fora ordenada a parar de numerar os

diários avulsos com algarismos romanos - fato comentado no item anterior -, uma

45 - Depoimentos de fls. 275-278, 284-286, 1301-1303, 1304-1306 e 1604-1607. Documentos apreendidos na Gráfica, Apenso 4.

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funcionária da Gráfica do Parlamento Estadual passou a inserir um criptograma ao final

dos Diários da Assembléia. Tal código é revelado ao substituir a fonte ZapfDingbats BT

por uma fonte legível, quando aparece a data que o diário foi digitado e o nome da

pessoa que o formatou, conforme está ilustrado no Anexo IV46.

Como exemplo, pode-se citar os Diários Avulsos datados de 31 de

outubro de 2006, 31 de março de 2008 e 3 de fevereiro de 2009, confeccionados

respectivamente em 11 de dezembro de 2006, 20 de junho de 2008 e 3 de agosto de

2009. Estas datas são reveladas pelos criptogramas e confirmadas nos cadernos de

controle da Gráfica. A propósito, veja-se esses detalhes do Anexo IV:

DIÁRIO DATA CRIPTOGRAMA SIGNIFICADO

AVULSO 31/10/06 11.12.06 - Editora: Fátima Roos

AVULSO 31/03/08

20.06.08 - Editora: Fátima Roos / Joseani Amaral

AVULSO 03/02/09

03/08/09 ? Editora: Fátima Piazentin Rolim Roos

O interessante é que mesmo depois de descoberto o uso dos

criptogramas - fato revelado quando ajuizamento de Ação Civil Pública nº 9.281/2010

da 3ª Vara da Fazenda Pública desta Capital - esses sinais continuaram a ser escritos

nos Diários da Assembléia, como se vê no Diário Avulso de 16 de agosto de 2010. O

mais incrível foi a desfaçatez, pois logo após o código veio consignado: “a criptografia

acima serve para identificar o diagramador e a data da diagramação do Diário. Tal

procedimento visa a segurança para evitar adulterações e publicações posteriores” 47.

Descaramento semelhante aconteceu num dos depoimentos do

requerido Luiz Carlos Monteiro, pois o mesmo, contradizendo depoimento anterior,

teve o desplante de afirmar que “os criptogramas foram lançados nos diários por volta

46 - A respeito, depoimentos de fls. 275-278, 284-286 e 1304-1306 do inquérito civil. Último diário avulso numerado, Diário Avulso VIII, de 18/5/2005 (fls. 167 do Apenso 25, do inquérito civil), primeiro diário com o criptograma, Diário 22/23, de 29/3/2006 (fls. 29-40vº do Apenso 36 do inquérito civil). 47 - Diário às fls. 1558-1559 do inquérito civil.

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de 2003, por iniciativa do depoente”48. Ora, como visto acima, esses códigos só foram

inseridos a partir do início de 2006, por iniciativa de uma servidora da Gráfica, a qual foi

impedida pelo próprio réu Luiz Monteiro de continuar numerando os diários avulsos.

Ademais, como destacado nos Anexos IV e V, vários diários avulsos foram

confeccionados com datas retroativas em mais de um mês, ainda que tivessem os

criptogramas que, portanto, em nada serviam para evitar fraudes.

Desvendando esses códigos e analisando as agendas e cadernos

de controle apreendidos na Gráfica da Assembléia Legislativa foi possível confirmar

que: entre 29 de abril de 2004 e 23 de fevereiro de 2010 nada menos que cinqüenta e seis edições avulsas, contendo mais de cinco mil investiduras/exonerações de servidores, foram feitas com datas retroativas em mais de um mês, indicando que nunca circularam, como detalha o Anexo V.

Das mais de sete mil investiduras/exonerações de servidores encontradas em diários avulsos entre 2004 e 2009, mais de cinco mil estão inseridas em edições soltas formatadas mais de trinta dias depois da data que neles está registrada, o que indica aperfeiçoamento da falta de transparência que a

alta direção da Casa estava alertada, portanto má-fé e clara intenção de ocultar atos

oficiais do Poder Legislativo.

Outra prova da confecção de diários avulsos com datas falsas e

retroativas é a anotação na agenda usada por servidores da Gráfica da Assembléia

Legislativa, grafada no dia o dia 12 de agosto de 2009: “Quando for fazer capa de

avulso de data antiga, localize um DA daquela data ou próxima e use a capa, por

causa das mudanças de liderança, entre e sai de Deputado, etc.” (grifou-se) 49

Depois de mentir no primeiro depoimento prestado ao Ministério

Público, o próprio coordenador da Gráfica, requerido Luiz Monteiro, admite que

48 - Fls. 1475 e 1606. 49 - Anotação constante das linhas 13 a 15 do dia 12/8/2009, da citada agenda, fls. 67 do Apenso 4.

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“alguns atos de nomeação, movimentação e exoneração de pessoal, chegavam à

gráfica da AL com ordem expressa do Diretor de Pessoal Cláudio Marques da Silva, ou

do Diretor Geral Abib Miguel para serem publicados em Diários avulsos datados de

dois a três meses anteriores a data em que os mesmos tinham sido encaminhados a

gráfica.”50. Outros servidores também admitiram que havia diários avulsos

confeccionados com datas retroativas51.

A ilicitude era tanta que, como evidenciado nos Anexos IV e V,

num mesmo dia foram confeccionados mais de um diário avulso, com datas distintas:

(a) em 20 de junho de 2008 foram formatados três diários avulsos, com datas de 31 de

março, 30 de abril e 30 de maio de 2008; (b) em 26 de agosto de 2008 foram

confeccionados os diários avulsos de 30 de junho e 31 de julho de 2008; (c) em 3 de

agosto de 2009 foram formatados quatro diários avulsos com datas atrasadas, 3 de

fevereiro, 27 de fevereiro, 3 de abril e 30 de abril de 2009; (d) em 5 de outubro de 2009

foram feitos os diários avulsos de 31 de julho e 31 de agosto de 2009.

Situação também calamitosa foi a ocorrida entre o final do mês de

julho e início do mês de agosto de 2009, que resultou na produção, entre os dias 3 e 13

de agosto, de sete diários avulsos com datas falsas e retroativas, contendo mais de mil

e seiscentas investiduras e exonerações de servidores, conforme já comentado e como

está ilustrado nos Anexos IV e V.

Além dos inúmeros diários avulsos contendo atos de investidura e

exoneração de servidores confeccionados com muito atraso, dois exemplos

demonstram que essa ilicitude não ocorria apenas com atos relativos à movimentação de pessoal.

O primeiro exemplo refere-se ao Diário Avulso XI/2003, datado de

10 de novembro de 2003, contendo o relatório final de CPI sobre o Paranacidade.

50 - Depoimentos do réu Luiz Carlos Monteiro, fls. 99-101, 1475-1476 e 1606. 51 - Depoimentos de fls. 275-278, 284-286, 1301-1303, 1304-1306 e 1604-1607 do inquérito civil.

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Como se vê nos cadernos de controle da Gráfica, esse periódico foi formatado mais de

quatro meses depois de sua data formal, no dia 24 de março de 200452.

O segundo exemplo refere-se aos Diários Avulsos de 18 de maio

de 2006 e 2 de julho de 2007. Como está registrado nos referidos cadernos da Gráfica,

esses tablóides foram feitos em 11 de dezembro de 2007, respectivamente mais de um

ano e meio e mais de seis meses depois. O interessante é que o Diário Avulso de 18

de maio de 2006 - inicialmente não entregue ao Ministério Público - “publicou” resumo

de contrato relativo ao Protocolo 449/06, e o segundo “divulgou” aditivo contratual

relativo ao mesmo protocolo. Ou seja, os jornais onde estão “publicados” um contrato e

seu aditivo foram feitos no mesmo dia, e com datas retroativas. Fica evidente que nada

divulgaram, que foram instrumentos para disfarçar a ocultação desses contratos53.

Portanto, está comprovado que existiram diários avulsos

feitos com datas falsas e retroativas, numa evidência que não tiveram sequer a circulação interna mencionada nos itens 4.2. e 4.3.

Enfim, confirma-se o que disse o Chefe do Arquivo da Assembléia Legislativa, em gravação feita pela RPC TV: “se de repente é

obrigado você publicar alguma coisa, mas não quer que os outros tenham

acesso, então eles fazem ali dez, dez fica pra alguns, mão segura. Os outros não

têm acesso, daí se um dia falar assim: não, foi publicado, não sei porque não

receberam, tá entendendo?” 54.

6.2. Esses fatos devem ser imputados principalmente aos réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel. É que, como

52 - Diário Avulso XII/2003, fls. fls. 1271 e vº do inquérito civil. Sobre as datas de formatação dos diários, ver item 6, Anexos IV e V e cadernos de controle de confecção de Diários da Assembléia referente a 07/10/98 a 01/02/07 da Gráfica, fls. 196 do Apenso 4 ao inquérito civil.53 - O Diário Avulso de 18/5/06, contendo o resumo de contrato do Protocolo 449/06, fls. 1643-1644 do inquérito civil, só enviado depois de requisitado (fls. 1531 do inquérito civil). O Diário Avulso de 2/7/07, fls. 59-60 do Apenso 49. Sobre as datas de formatação dos diários, ver item 6, Anexos IV e V e cadernos de controle de confecção de Diários Avulsos da Assembléia da Gráfica, fls. 225 do Apenso 4 ao inquérito civil.54 - Fls. 410 e 709 do inquérito civil.

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salientado nos itens 3.2., 4.5. e 5.6., em face dos deveres/poderes que detinham, coibir

a confecção de diários avulsos com datas retroativas eram decisões que competiam a

tais réus. Eles deveriam exigir que os Diários da Assembléia fossem impressos e

circulassem no mesmo dia, ou, pelo menos, no mesmo período declinado em suas

edições.

Não se esqueça que, como dito nos itens 3.3., 4.6. a 5.6., esses

réus estavam alertados sobre a falta de transparência do Legislativo paranaense e

sobre a ocorrência de ilícitos facilitados pela opacidade do Parlamento Estadual55.

Como também enfatizado nos itens 3.3. e 4.6., se numa época

normal o desempenho diligente e correto das importantes funções detidas por tais

requeridos já seria uma exigência natural dos cargos por eles ocupados, a conjuntura

em questão, na qual tinham inequívoca ciência de tão graves irregularidades, por

óbvio, exigia diligências e precauções extras.

Assim, se numa situação de normalidade já não seria crível que tais

requeridos vissem diários oficiais “circulando” muitos dias, até meses, após as datas

neles impressas e achassem esse descalabro normal, imagine quando advertidos que

não havia transparência no órgão que administravam e que neste ente estatal estavam

acontecendo ilícitos facilitados pela ocultação de atos oficiais.

Nessas circunstâncias qualquer pessoa minimamente responsável

que não estivesse conivente com os ilícitos, imediatamente procuraria saber o por quê

diários avulsos “circulavam” com muito atraso em relação às datas neles impressas e,

no mesmo instante, determinaria o encerramento dessa absurda e manifestamente

ilícita prática.

55 - Reportagens, fls. 18, 20, 359-360, 363, 633-635,1246-1248, 1486-1505 e 1507-1528 do inquérito civil. Ofícios expedidos pelo Ministério Público e respostas, Apenso 122 ao inquérito civil em anexo. Relação de ações propostas pelo Ministério Público em razão de ilícitos ocorridos na Assembléia Legislativa, Anexo I.

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Portanto, estando os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel reiteradamente avisados sobre os

problemas citados, ao não impedirem a confecção de diários avulsos com datas falsas

e retroativas está evidente que desejavam manter a falta de transparência que

imperava no Poder Legislativo Estadual e que propiciava esconder diversos atos e

decisões administrativas daquela Casa de Leis.

Aliás, tais requeridos não somente nada estavam fazendo para

resolver os problemas de que eram alertados, como, a cada aviso, compactuavam com

o aperfeiçoamento da dolosa falta de transparência, inclusive com expedientes escusos

como os diários avulsos com datas falsas e retroativas, os quais obviamente não

circulavam sequer internamente. O fato desses diários serem confeccionados muito

tempo depois das datas neles impressas revela um estratagema malicioso e

fraudulento para simular uma “publicação” que, na verdade, nunca houve.

Ademais, obviamente, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel sabiam da utilização dos diários

avulsos para inserção de atos de investidura e exoneração de servidores, assim como

que várias dessas edições soltas foram feitas com datas retroativas em muito tempo:

a uma, porque tal prática teve início na gestão dos réus Hermas Brandão e Nereu Moura e continuou com os réus Nelson Justus e Alexandre Curi;

a duas porque como os principais membros da Comissão

Executiva e responsáveis por assinar os atos de investidura e exoneração de

servidores sabiam onde os mesmos estavam sendo “publicados”;

a três porque, evidentemente, liam os aludidos periódicos oficiais;

a quatro porque não se trata de pessoas ingênuas ou neófitos na

política, pelo contrário.

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Em relação aos réus Nelson Justus e Alexandre Curi, tem-se,

também, o ocorrido com os Diários Avulsos de 3 e 27 de fevereiro, 31 de março, 3 e 30

de abril, 29 de maio e 30 de junho de 2009, todos feitos entre 3 e 13 de agosto de

2009, como evidenciado nos Anexos IV e V. Nesses tablóides foram inseridos atos

com mais de mil e seiscentas investiduras e exonerações de servidores com datas do

passado, entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2009, e que, como detalha o Anexo XIV e o item 12, serviram para manipulação da lista de servidores exigida pelo artigo 234

da Constituição Estadual, “publicada” em 31 de março de 2009. Isso evidencia que

esses réus não podiam ignorar o que se passava56.

6.3. Os réus Cinthia Molinari e Cláudio Marques ocuparam o cargo

de Diretor de Pessoal da Assembléia Legislativa. A primeira entre 1º de fevereiro de

1991 e 1º de fevereiro de 2007. O segundo no período de 1º de fevereiro de 2007 a 31

de março de 201057.

Dentre as atribuições do Diretor de Pessoal, o Decreto Legislativo

nº 52/84 arrola o encaminhamento, para efeito de publicação, dos atos oficiais

referentes ao Pessoal (artigo 15, II, c); e, a manutenção das fichas funcionais em

ordem e atualizadas (artigo 15, II, d e s). Então, incumbia a esses réus, nos períodos

que ocuparam tais cargos, velar para que os atos da Comissão Executiva, relativos a

pessoal, estivessem na mais perfeita correção, sendo elaborados e publicados nas

datas apropriadas58.

Além disso, como será visto no item 7, era na Diretoria de Pessoal,

sob a supervisão do réu Cláudio Marques, que vários atos foram feitos com datas

falsas e retroativas, de modo que a inserção dos mesmos em diários avulsos com

datas do passado não poderia ser ignorada por esse requerido.

56 - Diário Avulso de 3/2/2009, fls. 30-47 do Apenso 71; Diário avulso de 27/2/2009, fls. 2-17 e vº do Apenso 72; Diários avulso de 31/3/2009, fls. 213-227 do Apenso 73; Diário avulso de 3/4/2009, fls. 39-61 do Apenso 74; Diário avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75; Diário avulso de 29/5/2009, fls. 02-15 do Ap. 77; Diário avulso de 30/6/2009, fls. 2-14 do Apenso 79 ao Inquérito Civil.57 - Fls. 1716 e 1708 do inquérito civil.58 - Decreto Legislativo 052/84 às fls. 367-384 do inquérito civil.

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O então Coordenador da Gráfica, requerido Luiz Carlos Monteiro e uma servidora da Assembléia Legislativa afirmaram que, para inserção nos Diários

da Assembléia, os atos relativos a servidores vinham diretamente da Diretoria de

Pessoal para a Gráfica, já com a indicação para “publicação” em certo diário, de determinada data59.

Destarte, os réus Cinthia Molinari e Cláudio Marques também

têm responsabilidade na confecção de diários avulsos com datas falsas e retroativas,

pois, conscientemente, praticaram atos que deram ensejo a tal conduta ilícita.

6.4. O requerido Luiz Carlos Monteiro era Coordenador da Gráfica da

Assembléia Legislativa do Estado do Paraná há muito tempo, desde aproximadamente

197660.

Nesta condição, conforme previsão do artigo 14, VII, do Decreto

Legislativo nº 52/84, tinha dentre suas atribuições “a coordenação e supervisão das

matérias destinadas à impressão do Diário da Assembléia, Avulsos e Ordem do Dia e

demais publicações devidamente autorizadas pela Diretoria de Serviços Especiais ou

pela Mesa da Assembléia, e na ausência dos mesmos, pelo coordenador” 61.

Portanto, deveria o requerido Luiz Carlos Monteiro, obviamente

com observância dos princípios constitucionais que regem a Administração Pública,

deveria zelar pela correta impressão dos Diários da Assembléia. Deveria velar para que

cada edição desse periódico oficial fosse impressa com a data correta, do dia ou, pelo

menos, do período de dias em que efetivamente circulasse. Jamais poderia permitir

que edições avulsas fossem confeccionadas com datas falsas e retroativas, numa

evidente fraude, ainda que estivesse obedecendo ordens superiores, pois estas seriam

manifestamente ilegais.

59 - Depoimentos de fls. 1304-1306, 1475-1476 e 1604-1607 do inquérito civil. 60 - Depoimentos do réu Luiz Carlos Monteiro, fls. 99-101 e 1604-1607 do inquérito civil.61 - Decreto Legislativo 052/84 às fls. 367-384 do inquérito civil.

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Mas, não foi isso que aconteceu. Como visto acima, na Gráfica da

Assembléia Legislativa, sob a supervisão do réu Luiz Monteiro, vários diários avulsos,

contendo inúmeros atos oficiais, foram confeccionados com datas falsas e retroativas62.

Saliente-se que o réu Luiz Monteiro sempre colaborou com os

demais requeridos, pois, como destacado no item 5, ordenou que a numeração dos

diários avulsos com algarismos romanos, o que aumentava um pouco a transparência

da “publicação” dos atos do Poder Legislativo, fosse interrompida. Isso evidencia que o

mesmo também estava conivente com a opacidade do Parlamento Estadual63.

Destarte, o réu Luiz Monteiro tem responsabilidade na confecção

de diários avulsos com datas falsas e retroativas, pois, conscientemente, praticou atos

que deram ensejo à tal conduta ilícita.

6.5. Essa dolosa prática importou em reiterada ofensa ao princípio da

legalidade e ao dever de legalidade, pois, obviamente, é proibido por lei confeccionar

documentos públicos com datas falsas e retroativas. Ainda mais quando essa falsidade

tinha o objetivo de simular uma publicação que, em verdade, não acontecia. Com

efeito, pois tal conduta ilícita também importou em descumprimento da exigência

constitucional de publicidade, prevista no artigo 37 da Carta Magna, e ao previsto no

artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99, que exige a divulgação oficial dos atos administrativos.

A mesma conduta ilícita implicou em reiterado atentado ao princípio da publicidade, pois através dela, dolosamente, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari, Cláudio Marques e Luiz Carlos Monteiro contribuíram para negar

publicidade a atos oficiais, preferindo manter a falta de transparência que imperava

naquele Parlamento, dificultando o conhecimento e o controle dos atos e decisões

administrativas.

62 - Depoimentos de fls. 1301-1303, 1304-1306 e 1604-1607 do inquérito civil. 63 - Depoimentos da servidora da Gráfica, às fls. 275-278 e 1301-1303, do inquérito civil.

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Inclusive pelo alto grau de reprovabilidade, tal conduta ilícita e

fraudulenta não está de acordo com as regras internas da Administração Pública,

tampouco com os standards comportamentais que a sociedade deseja. Portanto, os

réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari, Cláudio Marques e Luiz Monteiro não se conduziram como bons

administradores, não agiram com lealdade e boa-fé, assim como não observaram a lei

e padrões éticos exigidos pela sociedade. Dessa forma, seus comportamentos não

estão de acordo com a moral jurídica nem com a moral comum, constituem reiterada ofensa ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade.

Por óbvio, essas condutas caracterizaram atentado ao dever de

lealdade às instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, ao permitir a confecção de diários avulsos com datas retroativas

e falsas, com o objetivo de esconder atos e decisões da Assembléia Legislativa,

quando, respectivamente, no exercício dos cargos de Presidente, Primeiro Secretário,

Diretor Geral, Diretor de Pessoal e Coordenador da Gráfica, os réus Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari, Cláudio Marques e Luiz Monteiro contrariaram normas constitucionais e legais, assim

como deixaram de praticar corretamente suas obrigações previstas nos artigos artigo

5º, II; 6º; 7º; 8º; 14, VII; e 15 do Decreto Legislativo nº 52/84, e nos artigos 18, II, e, 20,

do Regimento Interno da Assembléia Legislativa. Então, estes réus praticaram ato

visando fim proibido em lei; deixaram, indevidamente, de praticar atos de ofícios; bem

como negaram publicidade a atos oficiais.

6.6. Portanto, os réus Hermas Brandão, Nelson Justus, Nereu Moura, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari, Cláudio Marques e Luiz Monteiro, nos períodos que ocuparam os cargos de direção e chefia acima referidos, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

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7. DA CONFECÇÃO DE ATOS OFICIAIS COM DATAS FALSAS E RETROATIVAS E DAS FRAUDES COMETIDAS PARA REALIZAR TAL CONDUTA ILÍCITA

7.1. Outrossim, apurou-se que vários atos oficiais foram “fabricados” com datas falsas e retroativas. Essas condutas, que caracterizam

fraudes, também importam em falta de transparência, na medida em que tais atos não

existiam nas datas que neles estão gravadas, pois foram feitos tempos depois, razão

pela qual são atos secretos ou foram secretos por algum tempo.

A falta de transparência causada pelas condutas descritas nos

itens 3 a 6 e 8 a 12, já indicavam a “fabricação” de atos oficiais com datas falsas e

retroativas. Com o aprofundamento das investigações foi possível ter certeza dessa

ilicitude, conforme ilustrado nos Anexos VI, VII, VIII, IX, X e XI, até porque nas pastas

de controle da Diretoria de Pessoal constatou-se registros de atos oficiais fora da

seqüência cronológica, sobre adulterações com corretivos líquidos, em entrelinhas e no

interior de lacunas prévia e maliciosamente reservadas para esta finalidade64.

A seguir, são citados alguns exemplos que demonstram o uso que

se fazia dessa prática ilícita.

7.2. Em vários casos, quando havia “necessidade” de criar um ato com

data retroativa o mesmo era simplesmente lançado no controle da Diretoria de Pessoal

na seqüência numérica normal, mas fora da ordem cronológica, conforme se pode

ver no Anexo VI. Como exemplo, os Atos 347 a 361/04 e o Ato 420/03.

a) Os registros de atos de 2004 tinham acabado, foram encerrados

com o registro do Ato 346/04, datado de 7 de dezembro de 2004. Entretanto, como

havia “necessidade” de editar outros atos com datas anteriores a 7 de dezembro de

64 - As cópias das pastas de controle de atos apreendidos na Diretoria de Pessoal estão nos Apensos 1 a 3. Cópia dos mandados de busca e apreensão, do pedido e da concessão do compartilhamento de provas, assim como dos termos de apreensão relacionados aos documentos juntados, fls. 1562-1576 do inquérito civil. Algumas situações são visíveis somente nos documentos originais, daí a necessidade de inspeção judicial (item 13).

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2004, após o Ato 346/04, a requerida Taís Serafim, sob orientação do requerido

Cláudio Marques, inseriu na pasta de registro da Diretoria de Pessoal outros quinze

atos, com datas entre 1º de abril a 30 de novembro de 2004: Atos 347 a 361/0465.

Pela própria numeração fica evidenciado que tais atos, embora

datados de 1º de abril a 30 de novembro de 2004, somente foram confeccionados

depois do dia 7 de dezembro de 2004. São, portanto, atos “fabricados” com datas

falsas e retroativas.

Dentre esses, os Atos 347, 349, 350, 352 a 356, 358 e 359/04

estão assinados pelos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura e Geraldo Cartário, razão pela qual está demonstrado que tais requeridos assinaram atos oficiais fraudulentamente, com datas falsas e retroativas. Conforme informou a

Assembléia Legislativa, os Atos 348, 351, 357, 360 e 361/04 foram localizados em

arquivos eletrônicos, mas não foram encontradas cópias físicas assinadas66.

Apenas isso é suficiente para evidenciar as fraudes. Mas, a

situação é ainda pior, pois esses atos, datados de 2004, foram “fabricados” muito tempo depois, somente no ano de 2008. Foi o que admitiram as requeridas Cléia Carazzai e Taís Serafim, servidoras encarregadas de elaborar e registrar os atos na

pastas da Diretoria de Pessoal. Isso fica patente também porque foi a requerida Taís Serafim, sob supervisão do requerido Cláudio Marques da Silva, acatando ordem

manifestamente ilegal, a pessoa que lançou os falsos registros na pasta de controle da

Diretoria de Pessoal do ano de 2004, e a mesma somente foi admitida na Assembléia

Legislativa do Estado do Paraná em julho de 2007 e somente passou a registrar atos

nas mencionadas pastas a partir do ano de 200867.

65 - Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 81-82 do Apenso 1. O Ato 346/04 foi “publicado” no Diário 1, de 16/2/2005, fls. 77vº-78 do Apenso 21 do inquérito civil.66 - Cópia desses atos às fls. 41-48 do Apenso 97, fls. 201-205 do Apenso 98. 67 - Depoimentos às fls. 1307-1311, 1312-1314, 1587-1588 e 1589-1591 do inquérito civil. Ficha funcional de Taís Serafim, fls. 2 do Apenso 99 ao inquérito civil.

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Os Atos 347 a 361/04 não constam de qualquer dos Diários da

Assembléia enviados ao Ministério Público em resposta ao oficio que requisitou todos os exemplares desse tablóide entre 1994 e 2010, são absolutamente secretos68.

Consigna-se que, apesar de se tratar de atos criados com datas

falsas e retroativas, e não publicados, foram registrados nas fichas funcionais e as

pessoas referidas tinham seus nomes inseridos na folha de pagamentos, de forma que

eram despendidas verbas públicas a título de remuneração para as mesmas. Ou seja,

os atos secretos geraram efeitos, dentre eles o de fundamentar despesas públicas69.

b) Outro exemplo, de peculiar interesse, é o Ato 420/03.

Os lançamentos de atos do ano de 2003 haviam terminado, tinham

sido encerrados com o Ato 417/03, datado de 11 de dezembro de 2003. Entretanto,

como havia “necessidade” de editar outros atos com datas anteriores ao dia 11 de

dezembro de 2003, após o Ato 417/03, a requerida Taís Serafim, sob orientação do

réu Cláudio Marques, inseriu na pasta de registros da Diretoria de Pessoal outros

dezoito atos, com datas entre os dias 1º de fevereiro a 1º de dezembro de 2003: os

Atos 418 a 433, 435 e 463/03. Dentre estes o 420/0370.

A situação desse ato é a mesma que dos Atos 347 a 361/04, acima

citados, pois tanto a numeração quanto os depoimentos das requeridas Cléia Carazzai e Taís Serafim demonstram que o Ato 420/03 foi confeccionado com data falsa e

retroativa. Portanto, também se trata de ato fraudulentamente assinado pelos

requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura e Geraldo Cartário, na medida em que tal

ato nunca existiu na data que nele está consignada71.

68 - Ofício requisitando exemplares de todos os Diários da Assembléia entre 1994 e 2010, suas reiterações, resposta e edições encaminhadas pelo Poder Legislativo, fls. 37, 46, 153, 157, 161 e 166-240 do inquérito civil. Diários da Assembléia de 2003 a abril de 2010, Apensos 5 a 92.69 - Fichas funcionais, financeiras e contra-cheques dessas pessoas, fls. 2-205 do Apenso 99, fls. 2-217 do Apenso 100 e fls. 2-217 do Apenso 101. 70 - Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 68 do Apenso 1. O Ato 417/03 foi Diário 8-9, de 3/3/2004, fls. 126 do Apenso 14 do inquérito civil. 71 - Depoimento às fls. 1307-1311 e 1312-1314. Cópia do Ato 420/03 às fls. 20 do Apenso 97.

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Nesse caso há outra evidência que deixa claro que tal ato foi feito e

assinado com data falsa e retroativa. É que, analisando a ficha funcional de Leozir

Bueno Meiga, nota-se que o mesmo já era funcionário da Assembléia Legislativa desde

2002, mas, apesar disso, pelo Ato 261/03, registrado na pasta de controle da Diretoria

de Pessoal na seqüência numérica e cronológica normal, foi novamente nomeado a

partir de 2 de junho de 2003. Detectada a incoerência houve a “necessidade” de

“fabricar” um ato de exoneração anterior a 2 de junho de 2003. Então, após 11 de

dezembro de 2003 confeccionou-se, com data de 1º de fevereiro de 2003, o Ato

420/03. A fraude fica evidente porque mesmo tendo número superior, o Ato 420/03 tem

data anterior ao Ato 261/0372.

Fica, portanto, cabalmente demonstrado que, sob supervisão do réu Cláudio Marques, o Ato 420/03 foi fraudulentamente confeccionado pelas requeridas Cléia Carazzai e Taís Serafim, que acataram ordens manifestamente

ilegais, e foi assinado pelos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura e Geraldo Cartário com datas falsas e retroativas.

7.3. Em outras situações, “precisando” criar atos com datas retroativas,

para compatibilizar a seqüência numérica com a cronológica, as requeridas Cléia Carazzai ou Taís Serafim, sob supervisão do réu Cláudio Marques, rasuravam o

controle da Diretoria de Pessoal mediante a cobertura do registro anterior com corretivo

líquido, e, sobre este, laçavam registro de outro ato com data atrasada, conforme se

pode verificar no Anexo VII. A título ilustrativo, a situação do Ato 330/05.

Nesse caso, analisando o controle da Diretoria de Pessoal nota-se

que: (a) o registro original trazia como conteúdo do Ato 330/05, de 1º de agosto de

2005, retificação referente a Laertes Antônio Alves, o que apesar de encoberto por

corretivo líquido pode ser visto examinando a página na contraluz; (b) sobre o corretivo,

a requerida Cléia Carazzai gravou como objeto do Ato 330/05 situações referentes aos

72 - Ficha funcional, ficha financeira e contracheques dessa pessoa, fls. 218-245 do Apenso 101. Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 63 e 68 do Apenso 1 ao inquérito civil. Cópia do Ato 420/03 às fls. 20 do Apenso 97 ao inquérito civil.

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Gabinetes dos Deputados Nelson Justus e Ademar Traiano; (c) o conteúdo original do

Ato 330 foi transferido para o Ato 367/05, mantendo-se a data de 1º agosto de 200573.

Verificando os Diários da Assembléia percebe-se que o Ato 330/05

que foi “publicado” é datado de 1º de julho de 2005 e se refere a investiduras e

exonerações nos Gabinetes dos Deputados Estaduais acima referidos. Mencionado ato

está inserido no Diário Avulso de 13 de julho de 2005, que foi confeccionado somente

em 13 de setembro do mesmo ano, numa evidência de que nunca circulou. Todos os

atos de números 330 a 366/05, este imediatamente anterior ao citado Ato 367/05, para

onde foi transferido o conteúdo original do Ato 330/05, estão insertos nos Diários

Avulsos de 13 de julho e 23 de agosto de 2005, formatados em 13 e 20 de setembro

daquele ano, ao passo que o Ato 367/05, mesmo tendo numeração e data posteriores,

foi publicado no Diário 80, de 10 de agosto, que foi confeccionado em 22 de agosto de

200574.

Assim sendo, fica evidente que após 1º de agosto de 2005, já

tendo sido lançado o Ato 330/05 original com aquela data, o mesmo estava

atrapalhando a “necessidade” de inserir atos com datas anteriores. Assim, adulterou-se

o registro do Ato 330/05, inserindo-se toda a seqüência dos Atos 330 a 366/05, lançados depois de agosto com datas retroativas a julho, ao passo que o conteúdo

do Ato 330/05 original foi transportado para depois da seqüência referida, lançado

como Ato 367/05.

7.4. Em outros casos, quando havia “necessidade” de fabricar um ato

com data falsa e retroativa, lançava-se o registro do mesmo em entrelinhas na

numeração do controle da Diretoria de Pessoal, o que normalmente era feito a lápis,

como se pode verificar no Anexo VIII. Esta situação ocorreu, por exemplo, com os

Atos 064-A/04 e 713-A/07.

73 - Pasta de registro da Diretoria de Pessoal, fls. 94 e 95 do Apenso 1 ao inquérito civil - algumas situações relatadas, visíveis somente no original, daí a necessidade de inspeção judicial (item 13).74 - Diário Avulso de 13/7/2005, fls. 204vº do Apenso 27 ao inquérito civil. Diário Avulso de 23/8/2005, fls. 2-7vº do Apenso 29 do inquérito civil. Diário 80, de 10/8/2005, fls. 93 do Apenso 28 ao inquérito civil. Quanto às datas de formatação dos diários, item 6 e Anexos IV e V.

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7.4.1. O Ato 064-A/04 foi inserido pela ré Taís Serafim, sob supervisão

do réu Cláudio Marques, na entrelinha dos Atos 063 e 064/04, indicando a nomeação

de Gregório Honczarick. A Assembléia Legislativa informa que esse ato não foi

“publicado”, não o encontrou assinado, só localizou o mesmo em arquivo eletrônico75.

Analisando a ficha funcional de Gregório verifica-se o seguinte76:

Ato Conteúdo do Ato Publicação052/95 Exoneração a partir de 31/1/1995 Não verificada061/95 Provimento a partir de 1/2/1995 Não verificada076/01 Exoneração a partir de 1/2/2001 Não verificada064/04 Provimento a partir de 1/3/2004 Não houve1119/09 Exoneração a partir de 1/3/2009 Diário Avulso de 3/4/20091325/09 Provimento a partir de 1/4/2009 Diário Avulso de 30/4/2009444/10 Exoneração a partir de 2/3/2010 Diário 32, de 6/4/201077

Ou seja, a ficha funcional confirma os efeitos do ato lançado a lápis

em entrelinha, o provimento de Gregório Honczarick no Gabinete da Presidência,

apenas suprimindo a letra “A”. A ficha financeira e os contracheques revelam que entre

março de 2004 e fevereiro de 2009, assim como entre abril e dezembro de 2009, houve

desembolso de verba pública destinada a remunerar esse “servidor”78.

Porém, o Ato 064/04 que foi “publicado” não se refere à nomeação

de Gregório Honczarik, mas à concessão de pensão à Manoela Caetano, conteúdo que

consta da pasta de controle da Diretoria de Pessoal79.

Seja com o nº 064 ou 064-A/04, o ato de provimento de Gregório

no Gabinete da Presidência, registrado na ficha funcional, não foi publicado.

75 - Fls. 2, 10-11 e 198 do Apenso 98. Sobre a entrelinha, fls. 72 do Apenso 1 ao inquérito civil. 76 - Ficha funcional de Gregório Honczarik, fls. 2 do Apenso 102 ao inquérito civil. 77 - Atos 052 e 061/95, fls. 1450-1453 do inquérito civil. Diário Avulso de 3/4/2009, às fls. 59 do Apenso 74 ao inquérito civil. Diário Avulso de 30/4/2009, às fls. 109 vº do Apenso 75 ao inquérito civil. Lembre-se que esse os Diários Avulsos de 3 e 30 de abril de 2009 são da “safra” de agosto de 2009, pois feitos em 3/8/2009, como evidencia o criptograma grafado ao seu final e os controles da Gráfica, como destacam os Anexos IV e V.78 - Ficha financeira e contra-cheques de Gregório, fls. 3-99 do Apenso 102 ao inquérito civil. 79 - Diário 24/25, de 6/12 de abril de 2004, fls. 158 do Apenso 15. Pasta de controle de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 72 do Apenso 1 ao inquérito civil.

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As rés Cléia Carazzai e Tais Serafim, servidoras que faziam os

registros nas pastas de controle da Diretoria de Pessoal admitiram que a citada

entrelinha foi inserida em 2008, até porque quem a escreveu foi a ré Tais Serafim que,

como dito, somente foi admitida na Assembléia Legislativa em julho de 2007 e passou

a lançar atos nos controles apenas em 200880.

Logo, embora faça referência a um ato não publicado, citada

entrelinha não foi por acaso. Trata-se de maliciosa intenção de formalizar uma

situação: como o nome de Gregório estava na folha de pagamentos desde março de

2004, sem que existisse ato de investidura, em 2008 resolveu-se “fabricar” tal ato com

data retroativa. Então, a ré Taís Serafim, sob orientação do réu Cláudio Marques,

lançou o ato numa entrelinha em época compatível e registrou o mesmo na ficha

funcional. Todavia, como a data era muito distante, não se publicou o ato, ocultando a

situação, esperando que isso jamais viesse a público.

Como se isso não bastasse, a exoneração de Gregório a partir de

1º de março de 2009 teve o desiderato de omitir o nome dessa pessoa da relação de

funcionários exigida pelo artigo 234 da Constituição Estadual, “publicada” em 31 de

março de 2009, como será comentado nos itens 10 a 12. A fraude fica evidente não só

porque Gregório foi novamente nomeado na mesma função apenas um mês depois,

como porque os atos da suposta exoneração (Ato 1119/09) e da nova investidura (Ato

1325/09) foram inseridos em diários avulsos confeccionados no dia 3 de agosto de

2009, mais de três meses depois das datas impressas nos referidos diários secretos81.

Também não pode ser olvidado que em janeiro de 1995,

acompanhando o ex-Deputado Aníbal Khury, avô do requerido Alexandre Khury,

80 - Depoimentos das servidoras que lançavam atos nas pastas de controle da Diretoria de Pessoal, fls. 1307-1311, 1312-1314, 1587-1588 e 1589-1591 do inquérito civil. Ficha funcional de Taís, fls. 2 do Apenso 99 ao inquérito civil.81 - Diário Avulso de 31/3/2009 contendo referida lista, fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil. Diários Avulsos de 3/4/2009 e 30/4/2009, às fls. 39-61 do Apenso 74, e, às fls. 100-110 do Apenso 75, do inquérito civil, respectivamente. Sobre a data em que, de fato, foram feitos os diários avulsos, ver criptogramas ao final de cada diário e cadernos de controle de confecção de diários (fls. 229 do Apenso 4 do inquérito civil), conforme estampado no item 6 e Anexos IV e V.

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Gregório migrou da 1ª Secretaria para a Presidência da Assembléia Legislativa,

conforme se pode notar pelos Atos 052 e 061/95 constantes da ficha funcional82.

7.4.2. O Ato 713-A foi inserido pela requerida Taís Serafim, sob

supervisão do réu Cláudio Marques, na entrelinha dos Atos 713 e 714/07, referindo-se

ao provimento de Carlos Roberto Andrade83.

Analisando a ficha financeira e os contracheques de Carlos

constata-se que o nome dele estava na folha de pagamentos desde março de 2007,

mas até agosto de 2009 não havia ato de investidura dessa pessoa, muito menos

“publicado”. Apenas no Diário 101, de 1º de setembro de 2009, é que aparece o Ato

713-A/07, datado de 2 de fevereiro de 2007, com vigência a partir do dia anterior, cujo

conteúdo é a nomeação de Carlos Roberto Andrade no Gabinete da Presidência84.

Mas, não se trata “apenas” de um ato “divulgado” dois anos e meio

depois. A questão é mais grave. Verificando as listagens de atos enviados para

“publicação”, na entrelinha dos Atos 713 e 714/07 nota-se inscrição a lápis do Ato 713-A. Analisando os Diários da Assembléia percebe-se que o Ato 713/07 original, que

tem por objeto o provimento de José Ramos no Gabinete da Presidência a partir de 1º

de fevereiro de 2007, foi “publicado” no Diário 29, de 16 de abril de 200785. Então, fica

claro que, como entre março de 2007 e agosto de 2009 houve desembolso de verba

pública para remunerar o “servidor” Carlos Roberto Andrade, mas não havia ato formal

de investidura, tampouco publicação deste, houve a “necessidade” de “criar” tal ato.

Assim, Taís Serafim, obedecendo ordem manifestamente ilegal do

réu Cláudio Marques, inseriu o registro do ato em entrelinha, “fabricou” o mesmo com

82 - Ficha funcional fls. 2 do Apenso 102. Atos nºs. 052 e 061/95, os quais formalizaram a migração de servidores da 1ª Secretária para o Gabinete da Presidência, acompanhando o ex-Deputado Aníbal Khury, fls. 1450-1453 do inquérito civil. Diários evidenciando cargos do ex-Deputado Aníbal Khury, fls. 19 e 26 do Apenso 91 ao inquérito civil. 83 - Fls. 27 do Apenso 2 ao inquérito civil. 84 - Ficha financeira e contra-cheques de Carlos Roberto Andrade, fls. 101-144 do Apenso 102. Diário 101, de 1/9/2009, fls. 71 do Apenso 81 do inquérito civil.85 - Listagens de atos encaminhados para “publicação”, fls. 27 do Apenso 2. Diário 29, de 16/4/2007, fls. 45 do Apenso 46 do inquérito civil.

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data retroativa e consignou a situação na ficha funcional sem a letra “A”, dando

aparência que tudo transcorrera normalmente.

Por sua vez, os requeridos Nelson Justus e Alexandre Curi assinaram o Ato 713-A/07 com data falsa e retroativa.

Apesar de ser objeto de outro procedimento investigatório, não se

pode deixar de mencionar que, não obstante lotado no Gabinete da Presidência,

Carlos Roberto Andrade reside na cidade de Ivaiporã, cerca de quatrocentos

quilômetros da Capital do Estado, como declarou na Promotoria de Justiça daquela

comarca, onde acabou revelando que seu “trabalho” em nada se relaciona com as

atividades administrativas da Presidência da Assembléia Legislativa ou mesmo com o

interesse público, que se trata de um “cabo eleitoral” do Deputado Nelson Justus pago

com o dinheiro público:

“... exerce o cargo em comissão de Assessor Político junto ao Gabinete do

Deputado Nelson Justus; que representa politicamente o referido Deputado na

região do Vale do Ivaí; que percebe o valor líquido de R$ 1.920,00; ...; que

exerce este cargo desde 01 de fevereiro de 2007, até o momento; ...; que desde

há muito tempo trabalha politicamente para o Deputado Nelson Justus, razão

pela qual foi nomeado para o cargo que hoje exerce ...”

(grifou-se)86.

7.5. Como houve a “necessidade” de dar aparência de legalidade a uma

enorme quantidade de situações do passado “precisou-se” “fabricar” muitos atos com

datas atrasadas, em conseqüência do que houve grande número de registros de atos

fora da seqüência cronológica, em entrelinhas e sobre rasuras, como se viu nos

exemplos citados acima e como está ilustrado nos Anexos VI, VII e VIII.

Então, para que tais ocorrências que deixavam vestígios não

viessem a se repetir, por orientação do réu Cláudio Marques, as requeridas Cléia

86 - Depoimento de Carlos Roberto Andrade, fls. 1274 do inquérito civil em anexo.

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Carazzai e Taís Serafim, obedecendo ordem manifestamente ilegal, passaram a

deixar lacunas na numeração dos atos, as quais eram posteriormente usadas para

registrar atos com datas atrasadas.

Os atos inseridos nessas lacunas eram, conscientemente,

assinados com datas falsas e retroativas pelos réus Nelson Justus e Alexandre Curi.

Essa astuta e ilícita conduta foi admitida por alguns servidores da

Assembléia Legislativa, inclusive pelas rés Cléia Carazzai e Taís Serafim, e pode ser

percebida quando se analisa as pastas de registros de atos da Diretoria de Pessoal dos

anos de 2008 e 2009, assim como quando se verificam as datas em que, efetivamente,

foram confeccionados muitos dos Diários da Assembléia, especialmente edições

avulsas87.

7.5.1. A título de exemplo, pode-se verificar que na pasta de registro de

atos da Diretoria de Pessoal do ano de 2009 os números 1324, 1392, 1445, 1486, 1541, 1559, 1570, 1596, 1636, 1641, 1749, 1762, 1826, 1829, 1855, 1882, 2004, 2012, 2040, 2073, 2094, 2107, 2146 e 2167/09, dentre outros, permanecem em branco,

revelando a existência das maliciosas lacunas88.

Nesses casos, os espaços ainda não haviam sido usados, estavam

aguardando a “necessidade” de “fabricar” atos com datas que se encaixassem na

seqüência cronológica respectiva, mas os requeridos não tiveram tempo para isso, uma

vez que o escândalo foi divulgado na imprensa89.

87 - Depoimentos de alguns servidores da Assembléia Legislativa, fls. 265-267, 275-278, 284-286, 287-288-290-291, 294-296, 302-304, 305-307, 1307-1311, 1312-1314 e 1604-1607 do inquérito civil. Pastas de registro de atos da Diretoria de Pessoal, Apenso 1. Sobre as datas de formatação dos diários, ver criptogramas ao final de cada um deles, assim como caderno de controle de confecção de diários, feitos pela Gráfica (fls. 148-231 do Apenso 4) e agendas usadas pelas funcionárias da Gráfica (fls. 2-147 do Apenso 4), conforme descrito no item 6 e nos Anexos IV e V.88 - Pasta de controle de atos da Diretoria de Pessoal, (fls. 210-231 do Apenso 1 ao inquérito civil).89 - Especialmente com a série Diários Secretos, fls. 410 e 712-1207 do inquérito civil.

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7.5.2. A existência dessas lacunas também fica evidente quando se

verifica que no controle de atos do ano de 2009 havia linhas sinuosas a lápis, indicando

que tais números não deveriam ser usados.

a) Um dos exemplos dessas linhas ainda existe na sua forma

original, podendo ser visualizado entre os números 2202 a 2218/09, que permanecem

em branco, embora os números 2219/09 em diante já estejam utilizados. Contudo,

analisando os Diários da Assembléia verifica-se que os Atos 2202 a 2218/09 foram

inseridos no Diário Avulso de 30 de outubro de 2009, o qual somente foi confeccionado

em 4 de fevereiro de 201090.

Destarte, percebe-se que inicialmente os espaços correspondentes aos registros de números 2202 a 2218/09 foram propositalmente deixados em branco. Posteriormente esses números foram usados, pois foram criados atos com datas falsas e retroativas, os quais foram inseridos num diário

avulso confeccionado em fevereiro de 2010, mas com data de outubro do ano anterior, indicando que nunca circulou.

O passo seguinte seria registrar tais atos no respectivo controle da

Diretoria de Pessoal, justamente naquele espaço prévia e dolosamente preparado para

isso. Porém, não houve tempo, pois em março de 2010 o escândalo dos diários

secretos assumiu grandes proporções91.

b) Outro exemplo dessas linhas pode ser observado entre os

números 007 a 113/09. Nesse caso a linha foi posteriormente apagada e depois os

espaços foram preenchidos à caneta com o registro dos atos respectivos. Entretanto,

analisando-se com atenção a pasta de controle da Diretoria de Pessoal ainda é

possível visualizar o sulco deixado no papel pela maliciosa linha92.

90 - Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 232 do Apenso 1. Diário Avulso de 30/10/2009, fls. 2-7vº do Apenso 84 ao inquérito civil. 91 - Especialmente com a série Diários Secretos, fls. 410 e 712-1207 do inquérito civil. 92 - Pasta de registro da Diretoria de Pessoal, fls. 178-179 do Apenso 1 - Visível somente no original. Diário Avulso de 30/10/2009, 2-7vº do Apenso 84 ao inquérito civil.

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Esses números faziam parte de uma lacuna que depois foi usada,

sendo os atos correspondentes inseridos no Diário Avulso de 3 de fevereiro de 2009,

confeccionado em 3 de agosto do mesmo ano, como será detalhado no item seguinte.

c) Essa situação também pode ser observada em vários outros “lotes

de lacunas”, pelo menos entre os Atos 201 a 208, 281 a 327, 333 a 383, 521 a 588,

729 a 779, 918 a 958, 1108 a 1173, 1450 a 1466, 1628 a 1631, 1721 a 1736, 2041 a

2069, 2169 a 2195, 2199 a 2218/09.

7.5.3. Conforme foi comentado no item 6 e ilustrado nos Anexos IV e V,

entre 3 e 13 de agosto de 2009 foram feitos sete diários avulsos com datas retroativas:

3 e 27 de fevereiro, 31 de março, 3 e 30 de abril, 29 de maio e 30 de junho, nos quais

foram inseridos atos com mais de mil e seiscentas investiduras e exonerações de

servidores, também com datas do passado, entre 21 de janeiro e 30 de junho de 2009.

a) Para fazer a “publicação” de tantos atos com datas retroativas e

compatibilizar a seqüência numérica com a cronológica, diminuindo os vestígios da

manipulação dos atos oficiais, fez-se largo uso da imensa quantidade de lacunas

propositalmente deixadas na numeração dos atos em tal período, como passa a ser

exemplificado com o acontecido com os Atos 007 a 106, 111 a 208, 211 a 225, 228 a

229, 233 a 236, 239, 242 a 253, 255 a 274 e 302 a 304/2009, todos com datas

anteriores a 30 de janeiro e inseridos do Diário Avulso de 3 de fevereiro de 2009.

Os Atos 001 a 006/09, datados de 5 de janeiro, foram “publicados”

nos Diários 1 e 3, de 3 e 4 de fevereiro de 2009, feitos em 17 de fevereiro. Então,

considerando as datas impressas nos Diários da Assembléia , em 5 de fevereiro os Atos

001 a 106, 111 a 208, 211 a 225, 228 a 229, 233 a 236, 239, 242 a 253, 255 a 274, 302

a 304 e 460 a 463/2009 já estavam feitos e “publicados”, os seis primeiros nos Diários

1 e 3, de 3 e 4 de fevereiro, e os demais no Diário Avulso de 3 de fevereiro de 200993.

93 - Diário 1, de 3/2/2009, fls. 8-29vº; Diário 3, de 4/2/2009, fls. 67-73vº; Diários avulso de 3/2/2009, fls. 30 a 47; todos do Apenso 71 ao inquérito civil.

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Portanto, a impressão é que seriam lacunas os números 107 a

110/09, 209 a 210/09, 226 a 227/09, 230 a 232/09, 237 a 238/2009, 240 a 241/09,

254/09, 275 a 301/09 e 305 a 459/09, pois embora anteriores ao 460/09 não estão

incluídos em qualquer diário com data anterior a 5 de fevereiro de 200994.

Porém, quando se descobre que o Diário Avulso de 3 de fevereiro

de 2009 só foi feito em 3 de agosto do mesmo ano, nota-se que muitos dos atos que

faltavam nesse diário haviam sido “publicados” em diários que já tinham sido feitos, de

modo que os atos inseridos no Diário Avulso de 3 de fevereiro de 2009 é que eram lacunas, usadas quando o mesmo foi feito, como se vê nos Anexos IX e X95.

Com efeito, (a) os Atos 107 a 110 e 209/09 estão no Diário 11, de 2

de março, feito em 10 de março de 2009; (b) os Atos 230 a 232/09 e 241/09 estão no

Diário 15, de 9 de março, confeccionado em 20 de março de 2009; (c) os Atos 237 a

238, 275 e 330 a 331/09 estão no Diário 21, de 18 de março, formatado em 1º de abril

de 2009; (d) o Ato 458/09 está no Diário 25, de 30 de março, feito em 7 de abril de

2009; (e) os Atos 455 a 457 e 459/09 estão no Diário 34, de 14 de abril, confeccionado

em 30 de abril de 2009; e, (f) os Atos 226 e 227/09 estão no Diário 67, de 22 de junho,

formatado em 8 de julho de 200996.

Logo, na realidade, até o dia 8 de julho de 2009, os Atos 001 a

006, 107 a 110, 209, 226 a 227, 230 a 232, 237 a 238, 241, 275, 330 a 331 e 455 a

459/09 já estavam editados e publicados, ao passo que os Atos 007 a 106, 111 a 208,

211 a 225, 228 a 229, 233 a 236, 239, 242 a 253, 255 a 274, 302 a 304/09, embora

tivessem numeração inferior ao 459/09 não poderiam ser vistos em quaisquer dos 94 - Diários da Assembléia de 2009, com datas anteriores a 5 de fevereiro, inclusive o Diário Avulso datado de 3/2/2009, fls. 2-73vº do Apenso 71 ao inquérito civil.95 - A data de formatação desse diário é confirmada pelo criptograma e pelos cadernos de controle de confecção de diários, feitos pela Gráfica (fls. 229 do Apenso 4), como destacado no item 6 e Anexos IV e V. Além disso, no dia 3/8/2009 houve grande produção de diários avulsos com datas retroativas, datados de 3/2/2009, 27/2/2009, 3/4/2009 e 30/4/2009.96 - Diários 11, de 2/3/2009, fls. 32vº-33 do Apenso 72; Diários 15, de 9/3/2009, fls. 131 do Apenso 72; Diários 21, de 18/3/2009, fls. 68 e vº do Apenso 73; Diários 25, de 30/3/2009, fls. 172vº do Apenso 73; Diários 34, 14/4/2009, fls. 169 e vº do Apenso 74; Diários 67, de 22/6/2009, fls. 70 do Apenso 78; todos do inquérito civil anexo. Sobre as datas de formatação desses diários, ver criptogramas ao final dos mesmos e cadernos de controle de confecção de diários, feitos pela Gráfica (fls. 216 e 217 do Apenso 4 ao inquérito), como descrito no item 6 e nos Anexos IV e V.

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Diários da Assembléia existentes de verdade até aquele momento, haja vista que,

como dito acima, o Diário Avulso de 3 de fevereiro, onde estão inseridos, somente foi

confeccionado em 3 de agosto de 2009.

Registre-se, também, que os atos que seriam do mês julho de 2009

já iam além do nº 1500/09, como se vê na pasta de registro de atos da Diretoria de

Pessoal, pois o Ato 1597/09 é de 8 de julho e foi “publicado” no Diário 80, de 13 de

julho, formatado em 28 de julho de 200997.

Considerando só a numeração até 460/09, os Atos 254/09, 276 a

301, 305 a 328, 333 a 406, 408 a 454/09 também eram lacunas, como vê nos Anexos IX e X. É que, embora tivessem número inferior ao Ato 459/09, “publicado” no Diário

34, de 14 de abril, feito em 30 de abril de 2009; até o dia 8 de julho de 2009 não

poderiam ser vistos em quaisquer dos Diários da Assembléia existentes de verdade até aquele momento, pois estão inseridos nos Diários Avulsos de 27 de fevereiro, 3 de

abril e 29 de maio de 2009, feitos apenas em 3 de agosto de 200998.

Essa bárbara ilicitude fica cabalmente comprovada quando se lê a

anotação manuscrita constante do dia 29 de julho de 2009 na agenda usada por

servidoras da Gráfica: “Josi, como você viu, chegou mais uma pilha de atos. Anotei até

o 190 (o que não anotei ta separado por um clip. Por favor termine de anotar o 1º

avulso (03/02), numere e passe para as meninas. Enqto isso, elas digitam os solenes.

Sacou? Qualquer coisa, tô em casa.” (grifou-se)99.

97 - A propósito, pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 216 do Apenso 1. Diário 80, de 13/7/2009, contendo a “publicação do Ato 1597/09, fls. 137 do Apenso 79. Sobre a data de formatação desse diário, ver caderno de controle de confecção de diários (fls. 218 do Apenso 4).98 - Diários avulso de 27/2/2009, fls. 2-17 e vº do Apenso 72; Diários avulso de 3/4/2009, fls. 39-61vº do Apenso 74; Diários avulso de 29/5/2009, fls. 2-15 do Apenso 77; todos do inquérito civil. Sobre as datas de formatação desses diários, ver criptogramas ao final dos mesmos e caderno de controle de confecção de diários, feitos pela Gráfica (fls. 229 do Apenso 4), conforme relatado nos Anexos IV e V. Os Atos 210, 240, 332 e 407/09 correspondem a números em branco ou rasurados na pasta de registro da Diretoria de Pessoal (fls. 182, 185 e 187 do Apenso 1), indicando que não foram usados, e, não se encontrou “publicação” referente a tais números. O Ato 254/09, embora apareça rasurado na pasta de registro da Diretoria de Pessoal (fls. 183 do Apenso 1) foi inserido no Diário Avulso de 3/4/2009 (fls. 39-61 do Apenso 74). O Ato 329/09, apesar estar preenchido na pasta de registro da Diretoria de Pessoal (fls. 185 do Apenso 1) não foi “publicado”.99 - Anotação na agenda às fls. 61 do Apenso 4 ao inquérito civil.

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Note-se que o nº 190/09 refere-se a ato datado de 30 de janeiro, que apenas em 29 de julho de 2009 estava sendo inserido num Diário Avulso com data de 3 de fevereiro de 2009, que só foi concluído em 3 de agosto daquele ano,

devido ao volume de atos retroativos que estavam sendo colocados em diários avulsos

com datas do passado nesta “safra” de agosto de 2009, como já comentado100.

A existência dessas lacunas também fica evidente quando se

verifica que havia uma linha sinuosa a lápis entre os números 007 a 113/09, 201 a 208,

281 a 327 e 333 a 383/09, indicando que não deveriam ser usados. Apesar de apagada

e sobreposta com o registro dos atos à caneta, tal linha deixou sulco visível, que ainda

pode ser visto, como comentado no item anterior101.

b) Um exemplo, que demonstra cabalmente a confecção de atos com

datas falsas e retroativas nessa época é o ocorrido com os Atos 1120 e 1326/09, de

exoneração e posterior nomeação de Eduardo Cleverton Bandeira, cujo desiderato era

ocultar o nome desta pessoa da lista de servidores “publicada” em 31 de março de

2009, como será comentado no item 12102.

Através do Ato 1120/09, de 31 de março de 2009, “publicado” no

Diário Avulso de 3 de abril do mesmo ano, Eduardo Bandeira foi exonerado, a partir de

1º de março. Logo em seguida, pelo Ato 1326/09, de 30 de abril de 2009, “publicado”

no Diário Avulso da mesma data, Eduardo Bandeira foi novamente nomeado, a partir

de 1º de abril. Sabe-se, também, que os Diários Avulsos de 3 e 30 de abril de 2009

somente foram confeccionados em 3 de agosto daquele ano. Fica claro, portanto, que

a exoneração teve o apenas o escopo acima mencionado103.

100 - Diários avulso de 3/2/2009, fls. 42 do Apenso 71 ao inquérito civil.101 - Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 178-179, 182 e 184-186 do Apenso 1. 102 - Listagem de funcionários exigida pelo artigo 234 da Constituição Estadual, obrigação cumprida apenas parcialmente, e com fraudes, pela “publicação” num dos Diários Avulsos de 31 de março de 2009, como destacado nos itens 10, 11 e 12.103 - Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil. Diários Avulsos de 3/4/2009 e 30/4/2009, às fls. 39-61vº do Apenso 74, e, às fls. 100-110 do Apenso 75, do inquérito civil, respectivamente. Sobre a data em que, de fato, foram feitos os diários avulsos, item 6 e Anexos IV e V.

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Isso já evidencia que os Atos 1120 e 1326/09 tinham sido feitos

com datas retroativas. Mas, analisando esses dois atos, a situação fica muita clara,

pois embora sejam datados de 31 de março e 30 de abril de 2009, ambos tiveram por base o Protocolo nº 6.988, de 26 de maio de 2009104.

Interessante é que o Protocolo nº 6.988/09 pede a nomeação de

Eduardo Cleverton Bandeira, mas foi usado, também, para servir de base à anterior

exoneração deste “funcionário”.

Ou seja, em 30 de março de 2009, os requeridos Nelson Justus e

Alexandre Curi, com base num protocolo que viria a existir apenas em 26 de maio de

2009, o qual pedia nomeação de uma pessoa que já era “servidor” da Casa, assinaram

o Ato 1120/09, exonerando essa pessoa. Logo após, em 30 de abril de 2009, esses

requeridos, com base no mesmo e futuro protocolo, nomearam tal pessoa para o

mesmo cargo do qual pretensamente o haviam exonerado um mês antes, justamente

no dia da “publicação” da lista de servidores exigida pelo artigo 234 da Constituição

Estadual. Quase incompreensível, mas foi isso que ocorreu.

Então, está absolutamente comprovado que depois de 26 de maio

de 2009 foram “fabricados”, com datas falsas e retroativas, os atos de exoneração e

nomeação de Eduardo, os quais foram inseridos em diários avulsos confeccionados em

3 de agosto de 2009, também com datas retroativas a 3 e 30 de abril de 2009.

Assim, demonstrado que depois de 26 de maio de 2009, as requeridas Cléia Carazzai e Tais Serafim, por orientação do réu Cláudio Marques, usando os espaços maliciosamente deixados em branco, “fabricaram” atos com datas falsas e retroativas, os quais foram assinados pelos requeridos Nelson Justus e Alexandre Curi e “publicados” em diários avulsos também confeccionados com datas falsas do passado.

104 - Ato 1120/09, fls. 1600 do inquérito civil e fls. 58 do Apenso 119. Ato 1326/09, fls. 1601 do inquérito civil e fls. 57 do Apenso 119. Protocolo nº 6.998/09, fls. 1597 do inquérito civil e fls. 52 do Apenso 119.

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7.5.4. Diferentes situações aconteceram com essas lacunas.

a) Num primeiro caso os espaços deixados vazios foram usados

para registrar atos com datas falsas e retroativas, mas os atos correspondentes a tais

números não foram “publicados”. São absolutamente secretos. Como exemplos, os

Atos 314 a 322 e 324 a 333/08, referentes a provimento de várias pessoas105.

Como retrata o Anexo XI, em abril de 2008 os Atos 312 e 356/08 já estavam prontos e “publicados”, enquanto os campos de 313 a 355/08

permaneciam em branco, formando uma grande lacuna, indicando que tais atos não

tinham sido encaminhados para publicação; em junho os Atos 314 a 322 e 324 a 333/08, que faziam parte daquela lacuna, passaram a contemplar anotações a lápis

dos atos respectivos; de agosto em diante os espaços referentes a tais atos voltaram a

ficar em branco, indicando que os mesmos não foram enviados para “publicação”106.

E, de fato, tais atos nunca foram “publicados”, pois não constam de

nenhum dos Diários da Assembléia enviados ao Ministério Público, são atos

absolutamente secretos, como será visto no item 9 e está destacado no Anexo XIII.

Ressalte-se que, não obstante a ausência de “publicação”, à

exceção do Ato 318/08, correspondente à nomeação de Cacilda Henrique de Oliveira,

a indicação desses atos consta das fichas funcionais das respectivas pessoas, assim

como do registro de atos da Diretoria de Pessoal, indicando que se destinavam a

produzir efeitos correspondentes às respectivas investiduras, o que se pode notar

porque houve dispêndio de recursos públicos referentes aos pagamentos das

remunerações formalmente destinadas para tais indivíduos107.

105 - Atos às fls. 193-211 do Apenso 97 ao inquérito civil.106 - O Ato 312/08 é de 1/4/2008, consta do Diário 28, de 3/4/2008, formatado em 11/4/2008; o Ato 356/08 é de 7/4/2008, está no Diário 31, de 9/4/2008, formatado em 16/4/2008 (fls. 184 do Apenso 59 e fls. 20 do Apenso 60, todos do inquérito civil em anexo. Sobre a data de formatação desses diários, ver cadernos de controle de confecção de diários, fls. 211 do Apenso 4. Listagens parciais de atos encaminhados a “publicação”, fls. 249-250, 279, 302, 339 e 360 do Apenso 3 ao inquérito civil.107 - Fichas funcionais, fichas financeiras e contra-cheques dessas pessoas, fls. 145 do Apenso 102 até fls. 55 do Apenso 114 ao inquérito civil.

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Ao que tudo indica as pessoas nomeadas por tais atos eram

“funcionários fantasmas”, pois em relação a várias há evidências disso, como, v.g.,

Erick Salles, Lorete Prevedello Pequeno, Wilson Schabatura, Aguinaldo Pereira Lima

Neto, Nadir Thibes, José Devanir Bordignon Filho, Nerci do Luiz Thibes Scheleder,

Viviane Bastos Pequeno, Solange Alves Nogueira e Jermina Maria Leal da Silva108.

Interessante é a situação relativa a Erick Salles. Vale a pena

descrevê-la, para se ter idéia do desmando que imperava na Assembléia Legislativa.

Além de “funcionário fantasma”, que tinha elevada remuneração

formalmente destinada a sua pessoa (entre R$ 8.775,42 e R$ 36.589,40 mensais), o

único ato referente a Erick Salles localizado nos Diários da Assembléia foi o 134/10, de

1º de março de 2010, que, a pedido, o exonera, a partir daquela data, de um

indeterminado e possivelmente inexistente cargo em comissão “junto à Administração”.

Este ato está no Diário 31, de 5 de abril de 2010109.

Porém, a ficha funcional de Erick, documento público, contempla o

Ato 315/08, nomeação naquele cargo “junto à Administração”; e, o Ato 281/08, que o

exonera de cargo em comissão no Gabinete da Presidência a partir de 1º de fevereiro

de 2008. Também registra que em janeiro de 1995, acompanhando o ex-Deputado

Aníbal Khury, avô do réu Alexandre Khury, Erick Salles teria migrado da 1ª Secretaria

para a Presidência da Assembléia Legislativa, conforme Atos 052 e 061/95110.

108 - Reportagens de fls. 410, 703, 708, 714-717, 721, 723-725, 728, 733, 735, 744, 748, 802, 803, 865, 871, 883, 887, 892, 897, 898, 939, 940, 948, 960, 961, 999, 1000, 1003, 1005, 1011, 1067, 1068, 1148. Depoimento de Douglas Bastos Pequeno, fls. 1324-1328 do inquérito civil. Petição inicial de ação civil pública por atos de improbidade administrativa, em relação ao caso de desvios de dinheiro público da folha de pagamentos da Assembléia Legislativa, usando nomes da Família Leal, fls. 1331-1397 do inquérito civil. 109 - Ficha financeira e contra-cheques de Erick Salles, fls. 81-179 do Apenso 103. Evidências que Erick era funcionário fantasma, reportagens de fls. 871 e 1011 e extrato de Vínculos Empregatícios da Previdência Social revela que o mesmo teve vínculos com empresas privadas, entre 1º de 2005 a 8 de fevereiro de 2006, 13 de agosto de 2007 a 9 de janeiro de 2009 e desde 15 de março de 2010, fls. 78-79 do Apenso 103. Diário 31, de 5/4/2010, fls. 94vº do Apenso 89 ao inquérito civil. O nome de Erick constou de um dos Diários Avulsos de 31/3/2009, que “publicou” a lista de servidores exigida pelo art. 234 da Constituição Estadual, fls. 202-212, especificamente fls. 206, do Apenso 73 ao inquérito civil.110 - Ato 281/08, fls. 192 do Apenso 97. Ato 315/08, fls. 194 do Apenso 97. Ficha funcional de Erick Salles, fls. 80 do Apenso 103 ao inquérito civil.

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Da ficha financeira de Erick Salles, também documento público,

constam pagamentos desde janeiro de 1994111.

Portanto, se as informações lançadas na ficha funcional e na ficha

financeira, documentos públicos oficiais, fossem verdadeiras, Erick Salles seria

funcionário público com dez anos de idade, uma vez que, conforme consta de sua ficha

funcional, nasceu em 8 de março de 1984112.

Verificando os contracheques relativos à matrícula 1070, constata-

se que as informações constantes na ficha funcional e na ficha financeira de Erick

Salles são falsas. Com efeito, é que houve um reaproveitamento de matrícula.

Analisando os contracheques da matricula 1070, observa-se que os

pagamentos em nome de Erick Salles iniciam em maio de 2003, até abril de 2003

tinham como destinatária formal a sua mãe, Gina Prevedelo Pequeno, irmã de Lorete

Prevedelo Pequeno113. Registre-se que tanto Gina, quanto Lorete, ambas residentes a

mais de duzentos quilômetros desta Capital, na cidade de Balneário Camboriu-SC,

também eram funcionárias fantasmas, e foram elas que acompanharam o ex-Deputado

Aníbal Khury da 1ª Secretaria para a Presidência, conforme Atos 052 e 061/95114.

Posteriormente, pelo Ato 2115/07, Gina foi nomeada, a partir de 1º

de outubro de 2007, para cargo em comissão da 1ª Secretaria, já ocupada pelo réu

Alexandre Curi, do qual, descontada a manobra para ocultar o seu nome da lista de

servidores “publicada” em 31 de março de 2009 (Atos 1133/09 e 178/09, “publicados”

nos Diários Avulsos de 3 de abril e 30 de junho de 2009), só foi exonerada, “a pedido”,

pelo Ato 135/10, inserido no Diário 31, de 5 de abril de 2010, depois que sua condição 111 - Ficha financeira de Erick Salles, fls. 81-91 do Apenso 103. ao inquérito civil.112 - Ficha funcional de Erick Salles, fls. 80 do Apenso 103.113 - Ficha financeira e contra-cheques de Erick Salles, fls. 81-179 do Apenso 103. Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Gina, assim como de outras pessoas que usaram a mesma matrícula, fls. 93-229 do Apenso 114 ao inquérito civil.114 - A respeito de Gina e Lorete, reportagens, de fls. 410, 714, 715, 733, 748, 871, 897, 986 e 987 do inquérito civil e depoimento de Douglas Bastos Pequeno, fls. 1324-1328 do inquérito civil. Atos nºs. 052 e 061/95, com a migração de Gina e Lorete da 1ª Secretaria para a Presidência, acompanhando o ex-Deputado Aníbal Khury, fls. 1450-1453. Diários evidenciando cargos do ex-Deputado Aníbal Khury, fls. 19 e 26 do Apenso 91.

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de funcionária fantasma havia sido exposta na imprensa, numa evidência que este

último ato também foi feito com data retroativa115.

Esse descalabro demonstra que o requerido Alexandre Curi estava perfeitamente ciente da situação, pois a família de Gina, Lorete e Erick Salles é

ligada à sua família há muito tempo, a ponto de Gina ter sido servidora fantasma de

seu avô e posteriormente dele. Não há como negar o conhecimento total dos fatos.

Os réus Hermas Brandão e Nelson Justus também não podem

alegar desconhecimento dos fatos. É que, Erick Salles e/ou Gina Prevedelo Pequeno,

ou seja, quem usava a Matrícula 1070, foi “servidor” do Gabinete da Presidência até

1º de fevereiro de 2008116. Ademais, como se vê pelo rasurado Ato 077/08, que será

comentado adiante, na letra e, Lorete também foi “funcionária” do Gabinete da Presidência até 1º de fevereiro de 2008, e, pelos contracheques, a mesma, como se

viu acima, “recebia”, pelo menos, desde janeiro de 2000117. Ora, esses réus não podem

alegar desconhecer a situação de um “servidor” do próprio gabinete que titularizavam,

a menos que fossem pessoas extremamente ingênuas, o que não eram.

b) Numa segunda situação, os espaços deixados vazios (lacunas)

foram posteriormente usados para inserir atos com datas retroativas, os quais, via de

regra, eram “publicados” em diários avulsos também com datas atrasadas. Como exemplo, o caso dos Atos 335, 423 a 441, 443 a 449, 451 a 454/08, todos referentes a

investiduras nos Gabinetes da Presidência e 1ª Secretária da Assembléia

Legislativa. Dentre esses, o Ato 434/08, referente à nomeação da funcionária fantasma

Tereza Ferreira Alves para o Gabinete da Presidência118.

115 - Ato 2115/07, “publicado” no Diário 153, de 27/11/2007 (fls. 187 do Apenso 54). Atos 1133/09 e 178/09, “publicados” nos Diários Avulsos de 3/4/2009 e 30/6/2009 (fls. 39-61vº do Apenso 74 e 2-14 do Apenso 79). Ato 135/10, “publicado” no Diário 31, de 5/4/2010 (fls. 94vº do Apenso 89 ao inquérito civil). 116 - Ficha funcional, Ficha financeira e contracheques de Erick Salles, fls. fls. 80-179 do Apenso 103. Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Gina, assim como de outras pessoas que usaram a mesma matrícula, fls. 93-229 do Apenso 114 ao inquérito civil.117 - Ato 077/08 às fls. 189 do Apenso 97. Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Lorete, fls. 2-143 do Apenso 104 ao inquérito civil.118 - Reportagens evidenciado condição de fantasma de Tereza, fls. 841, 844, 845, 851, 872, 877 e 907 do inquérito civil.

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Como retrata o Anexo XI, em abril de 2008 os Atos 312 e 356/08 já

estavam editados e “publicados”, mas o Ato 335/08 não havia sido enviado para

“publicação”, estava numa lacuna. Em maio de 2008 os Atos 406 e 517/08 já estavam

confeccionados e “publicados”, mas os números 407 a 516/08 permaneciam em

branco, formando uma grande lacuna, indicando que os atos correspondentes não

tinham sido encaminhados para publicação. Em junho a listagem de atos

encaminhados para “publicação” contempla o registro dos Atos 335, 423 a 441, 443 a 449, 451 a 454/08, que faziam parte das lacunas referidas acima, situação que se

repete de agosto em diante119.

O Ato 335/08 está no Diário Avulso de 31 de março de 2008; o Ato

423/08 foi inserido no Diário Avulso de 30 de maio de 2008; e, os Atos 424 a 441, 443

a 449, 451 a 454/08 foram “publicados” no Diário Avulso de 30 de abril de 2008. Não

por acaso, os Diários Avulsos de 31 de março, 30 de abril e 30 de maio de 2008 foram

confeccionados no mesmo dia, 20 de junho de 2008, como se pode verificar pelos

criptogramas e pelos cadernos de controle da Gráfica120.

Isso tudo evidencia que os Atos 335/08, 423 a 441, 443 a 449 e 451 a 454/08, tinham seus números não utilizados, caracterizando lacunas na numeração dos atos oficiais, bem como que tais atos foram produzidos com datas falsas e retroativas e inseridos em diários avulsos com datas do passado.

119 - Com efeito, o Ato 312/08 é de 1/4/2008, consta do Diário 28, de 3/4/2008, formatado em 11/4/2008; o Ato 356/08 é de 7/4/2008, está no Diário 31, de 9/4/2008, feito em 16/4/2008, são, portanto atos de abril; mas o Ato 335/08, apesar de datado de 31/3/2008 e inserido num diário avulso da mesma data, é de junho de 2008, pois referido diário avulso só foi feito em 20/6/2008, como se vê nos Anexos IV e V. O Ato 406/08 é de 22/4/2008, foi “publicado” no Diário 37, de 23/4/2008, formatado em 30/4/2008; o Ato 517/08 é de 5/5/2008 e foi inserido no Diário 48, de 8/5/2008, feito em 20/5/2008; os Atos 424 a 441, 443 a 449 e 451 a 454/08 são de 30/4/2008, encaixando-se na lacuna antes preparada, constam de um diário avulso com a mesma data, mas só confeccionado em 20/6/2008; o Ato 423/08 é de 1/5/2008, está inserido no Diário Avulso de 30/5/2008, feito em 20/6/2008, como se pode notar nos Anexos IV e V. Diários com as referidas “publicações” nas fls. 147 e 184 do Apenso 59, fls. 20, 148vº e 207-225 do Apenso 60, fls. 102 do Apenso 61, fls. 76-91 do Apenso 62. Listagens de controle de atos encaminhados à Gráfica para publicação, fls. 249-251, 262-265, 267, 279-280, 282-283 e 285 do Apenso 3, e, cadernos de controle de confecção de diários, fls. 211, 212 e 227 Apenso 4 do inquérito civil em anexo.120 - Diário Avulso de 31/3/2008, fls. 131-148 do Apenso 59; Diário Avulso de 30/4/2008, fls. 207-225 do Apenso 60; Diário Avulso de 30/5/2008, fls. 76-91 do Apenso 62; todos do inquérito civil anexo. Sobre a data de confecção dos diários avulsos, ver item 6 e Anexos IV e V.

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c) Num terceiro caso, as lacunas propositalmente deixadas em

branco não foram usadas, permaneceram sem preenchimento nas pastas de controle

de atos da Diretoria de Pessoal, e, também não se achou qualquer “publicação” de atos

com tais números. Como exemplo, os números 415, 450, 470 e 506/08.

Em maio de 2008 os Atos 406 e 517/08 já estavam editados e

“publicados”, mas os números 415, 450, 470 e 506/08 permaneciam em branco,

estavam insertos numa lacuna, como demonstrado no item anterior e estampado nos

Anexos IX a XI. E assim permaneceram121.

d) Numa quarta situação, os números foram inicialmente usados,

depois rasurados, tornando-se lacunas que não foram utilizadas. Foi o que aconteceu,

por exemplo, com o número 442/08.

Na pasta de registro da Diretoria de Pessoal o conteúdo do Ato

442/09 está coberto com corretivo líquido. Olhando a folha na contraluz é possível

verificar que por baixo do corretivo constava inscrição referente à investidura de Carla

Mendes Hidalgo de Oliveira em 1º de abril de 2008. Após a rasura o nº 442/08

permaneceu em branco, caracterizando uma lacuna sem uso, como destacado nos

Anexos IX a XI122.

Analisando os Diários da Assembléia pode-se verificar que pelo Ato

2108/07, “publicado” no Diário 153, de 27 de novembro de 2007, Carla de Oliveira foi

nomeada para cargo em comissão no Gabinete da Presidência a partir de 1º de

novembro daquele ano. Pelos Atos Ato 659 e 660/08, ambos insertos no Diário Avulso

de 30 de maio de 2008, formatado em 20 de junho de 2008, a partir de 1º de maio de

2008, Carla de Oliveira foi exonerada do Gabinete da Presidência e nomeada para

exercer cargo em comissão na 1ª Secretaria123.

121 - Pasta de registro de Atos da Diretoria de Pessoal, fls. 147-149, do Apenso 1 ao inquérito civil.122 - Pasta de registro de Atos da Diretoria de Pessoal, fls. 147 do Apenso 1 ao inquérito civil - sobreposição de corretivo somente visível no original, daí a necessidade de inspeção judicial (item 13).123 - Diário Avulso de 30/5/2008, fls. 76-91 do Apenso 62 do inquérito civil anexo. Sobre a data de confecção dos diários avulsos, item 6 e Anexos IV e V.

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e) Num quinto caso, os números foram usados, depois rasurados,

tornando-se espaços vazios, que foram reutilizados para registrar outros atos, feitos

com datas falsas e retroativas e que não foram “publicados”, são absolutamente

secretos. Como exemplo, o Ato 077/08, exoneração de Lorete Prevedelo Pequeno do

Gabinete da Presidência, a partir de 1º de fevereiro de 2008124.

Na listagem de atos enviados para “publicação”, meses de março a

maio de 2008, o nº 077/08 está em branco, ao passo que os Atos 076 e 078/08 já

estavam lançados, revelando que tinham sido “publicados”. Em junho, o nº 077/08

contém inscrição a lápis, indicando a exoneração de Lorete. Nos meses de agosto a

outubro o nº 077/08 volta a estar em branco, demonstrando que não fora publicado125.

No controle da Diretoria de Pessoal o nº 077/08, através de

inscrição sobreposta a corretivo, indica a exoneração de Lorete, com data de 1º de

fevereiro de 2008, o que está fora da ordem cronológica, entre atos de 21 e 26 de

fevereiro. Olhando o papel na contraluz é possível ver que por baixo do corretivo o nº

077/08 consignava ato com data de 25 de fevereiro de 2008, portanto na seqüência

cronológica correta, referente à concessão de licença especial a Antônio Lopes126.

Continuando a análise observa-se que após a rasura no nº 077/08

o ato de licença para Antônio Lopes teve sua data modificada para 12 de dezembro de

2007 e foi encaixado numa lacuna correspondente ao nº 2248/07. Isso pode ser notado

pela inscrição a lápis no controle de atos encaminhados para publicação do mês de

dezembro de 2007. Além disso, a manobra fica evidenciada porque o Ato 2248/07 foi

“publicado” no Diário 10, de 27 de fevereiro, feito em 6 de março de 2008, ao passo

que todos os atos de 2235 a 2267/07 estão no Diário Avulso de 15 de janeiro, feito em

25 de janeiro de 2008, indicando que o Ato 2248/07 “ainda não estava pronto”127.

124 - Ato 077/08 às fls. 189 do Apenso 97 ao inquérito civil.125 - Listagens de controle de atos encaminhados à Gráfica para publicação, fls. 234, 242, 255, 271, 294, 334 e 356 do Apenso 3 do inquérito civil em anexo.126 - Fls. 139 do Apenso 1. Adulteração só visível do original, daí a necessidade de inspeção judicial.127 - Listagem de atos encaminhados para “publicação”, fls. 225 do Apenso 2. Diário 10, de 27/2/2008, fls. 39 do Apenso 58. Diário Avulso de 15/1/08, fls. 3vº-6 do Apenso 57. Sobre as datas de formatação dos diários ver cadernos de controle da Gráfica, fls. 211 e 227 do Apenso 4 ao inquérito civil.

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Analisando os Diários da Assembléia nota-se que o Ato 077/08 não

foi “publicado”. É secreto! A ficha funcional de Lorete consigna o Ato 077/08, como

exoneração do Gabinete da Presidência a partir de 1º de fevereiro de 2008128.

Portanto, é perceptível que, “precisando” de um número no início de 2008, para registrar um ato com data retroativa, com supervisão do réu Cláudio Marques, procedeu-se a seguinte operação: (a) a ré Tais Serafim rasurou o registro do nº 077/08 na pasta da Diretoria de Pessoal, pois este correspondia a um ato ainda não publicado; (b) a ré Cléia Carazzai alterou a data do Ato 077/08 original e transferiu seu conteúdo para o nº 2248/07, que era uma lacuna, onde o ato de concessão de licença especial de Antonio Lopes foi lançado com data retroativa; (c) a ré Taís Serafim sobrepôs a indicação do Ato 077/08 como exoneração de Lorete do Gabinete da Presidência, a partir de 1º de fevereiro de 2008; (d) os réus Nelson Justus e Alexandre Curi assinaram o “novo” Ato 077/08 com data falsa e retroativa; (e) não se publicou o referido ato.

A ficha funcional de Lorete também revela que apenas um mês

depois de sua exoneração do Gabinete da Presidência, ela foi nomeada num cargo

“junto à Administração”, a partir de 1º de março de 2008, como se vê do Ato 316/08,

datado de 31 de março de 2008. Esse ato também correspondia a uma lacuna, pois

além de ter sido inserido fora da seqüência cronológica - é de 31 de março, enquanto o

Ato 312/08, embora anterior, tem data posterior, 1º de abril de 2008 -, no controle de

atos encaminhados para “publicação” dos meses de abril e maio de 2008, estava em

branco, no mês de junho aparecia com inscrição a lápis e nos meses de agosto a

outubro voltou a ficar em branco, numa indicação que não fora publicado. E, de fato,

assim como o Ato 077/08, apesar de estar contemplado na sua ficha funcional, não foi

publicado, é mais um dos atos absolutamente secretos129.

128 - Ato 077/08 às fls. 189 do Apenso 97. Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Lorete, fls. 2-143 do Apenso 104 ao inquérito civil.129 - Ficha funcional de Lorete, fls. 2 do Apenso 104. Ato 316/08, fls. 195 do Apenso 97. A respeito, Anexos IX a XI, pasta da Diretoria de Pessoal, fls. 144 do Apenso 1. Listagem de atos encaminhados para “publicação”, fls. 249, 262, 279, 302, 339 e 360 do Apenso 3 ao inquérito civil.

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A ficha funcional ainda revela que, assim como Gregório

Honczarick e Gina Prevedelo Pequeno, em 1º de fevereiro de 1995, acompanhando o

ex-Deputado Aníbal Khury, avô do requerido Alexadre Khury, Lorete migrou da 1ª

Secretaria para a Presidência, como registram os Atos 052 e 061/95130.

A questão é que, apesar de ter ficado tanto tempo ocupando

importantes cargos em comissão na Assembléia Legislativa, inclusive muitos anos

junto à Presidência (1995 a 2008), aos quais correspondiam altíssimas remunerações

- entre R$ 12.000,00 e 35.308,00 - Lorete não era ótima ou assídua servidora. Ao

contrário, era funcionária fantasma, pois residia mais de duzentos quilômetros de

Curitiba, em Balneário Camboriu-SC. Aliás, é filha de Douglas Bastos Pequeno e

Mariles Prevedelo, irmã de Gina Prevedelo Pequeno e tia de Erick Salles. Douglas

confessou que tanto ele como a esposa forneceram documentos de parentes que se

tornaram funcionários fantasmas, os quais tinham seus nomes usados para desvios de

verbas públicas, pois não trabalhavam e não ficavam com os valores correspondentes

às suas remunerações131.

Outrossim, não se pode deixar de consignar que o único ato

referente a Lorete Pequeno que foi localizado nos Diários da Assembléia foi o Ato

241/10, datado de 30 de março de 2010, “publicado” no Diário 32, de 6 de abril de

2010, portanto depois que as notícias evidenciando sua condição de funcionária

fantasma foram amplamente divulgadas na imprensa. Por tal ato, Lorete foi exonerada,

“a pedido”, a partir de 1º de março de 2010. Ou seja, sua condição de “servidora” foi

escondida por muitos anos132.

130 - Ficha funcional de Lorete, fls. 2 do Apenso 104. Diários evidenciando cargos do ex-Deputado Aníbal Khury, fls. 19 e 26 do Apenso 91 ao inquérito civil. Atos 052 e 061/95, fls. 1450-1453 do inquérito civil.131 - Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Lorete, fls. 2-143 do Apenso 104. Reportagens evidenciando esse núcleo de funcionários fantasmas, fls. 410, 711, 713-715, 733, 748, 871, 897, 961, 985-987, 1004, 1005 e 1011 do inquérito civil. Depoimento de Douglas Bastos Pequeno, fls. 1324-1328 do inquérito civil. Conforme evidências colhidas até o momento, fazem parte desse grupo de funcionários fantasmas Douglas Bastos Pequeno, Mariles Prevedelo, Lorete Prevedelo Pequeno, Gina Prevedelo Pequeno, Josiane Bastos Pequeno, Viviane Bastos Pequeno, Erick Salles, Luana Salles, Thiago Cury, Karina Cury, Felipe Cury, Maria Advair Pinto Gomes Campos, Ivanir Terezinha Thibes Vieira, Nadir Thibes, Nerci do Luiz Thibes Scheleder, Derci Aparecida Schimidt e Luciano Galo. 132 - “Publicação” no Diário 32, de 6/4/10, às fls. 120vº do Apenso 89. Reportagens evidenciando a condição de funcionária fantasma de Lorete, fls. 410, 714, 715, 733, 748, 871 e 897 do inquérito civil.

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Como dito na letra a acima em relação a Erick Salles, os réus

Hermas Brandão e Nelson Justus não podem alegar desconhecimento dos fatos

relativos a Lorete, pois a mesma foi “servidora” do Gabinete da Presidência até 1º de

fevereiro de 2008133. O réu Alexandre Curi também estava ciente da situação, pois

como consignado na mesma letra a, a família Prevedelo Pequeno sempre esteve

ligada à sua família, Gina e Lorete já tinham sido servidoras fantasmas de seu avô.

7.5.5. Pelo que se viu, a malícia de deixar lacunas na numeração de atos,

para posterior preenchimento era prática corriqueira na Assembléia Legislativa.

Em muitos casos, inicialmente havia um grande lote de lacunas,

depois eram usados alguns números no interior desse lote, outros permaneciam em

branco, gerando outros blocos de lacunas dentro do lote inicial134.

Enfim, essas lacunas, deixadas deliberadamente, propiciavam todo

o tipo de fraude e manipulação, na medida em que, a qualquer tempo, era possível

“criar” um ato com data retroativa e conferir-lhe um número que encaixasse no espaço

propositalmente deixado vazio na seqüência numérica dos atos oficiais. Esse ato era

inserido num diário avulso com data do passado, atribuindo aparentemente

compatibilidade cronológica entre a edição do ato e sua “publicação”. Porém, tal

aparência se desfaz quando é verificado que o diário avulso foi feito em data bastante

posterior à que formalmente consta dele, como se vê no item 6 e nos Anexos IV e V.

7.5.6. O volume de atos criados com datas atrasadas superou a

quantidade de lacunas. Assim, apesar desses espaços deixados vazios, as

inconsistências cronológicas continuaram a acontecer em 2008 e 2009.

133 - Ato 077/08 às fls. 189 do Apenso 97. Ficha funcional, ficha financeira e contra-cheques de Lorete, fls. 2-143 do Apenso 104 ao inquérito civil.134 - A título de exemplo: em abril de 2008, dentre outros, foram editados os atos 312 e 356/2008, mas os números 313 a 355/2008 permaneceram em branco, num grande lote de lacunas. Posteriormente, em maio de 2008, foram usados os números 336 a 338/2008, mas não usados os números 313 a 335/2008 e 339 a 355/2008, que permaneceram em branco, formando sub-lacunas. A respeito, ver listagens de controle de atos encaminhados para publicação, fls. 249-250 e 262-263 do Apenso 3 ao inquérito civil.

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Por exemplo: os Atos 001 a 006/09 e 107 a 110/09 foram lançados

na pasta de registro da Diretoria de Pessoal na seqüência natural de criação e inserção

nos diários, 5 e 19 de janeiro e 11 de fevereiro de 2009, todos “publicados” no Diário

11, de 2 de março de 2009, feito em 10 de março. Nessa época os nºs 007 a 106/09

ficaram em branco. Depois houve “necessidade” de criar atos com datas retroativas,

mas, como as cem lacunas entre os nºs 007 a 106/09 eram insuficientes, também

foram usados os espaços dos nºs 111 a 208, 211 a 225 e 228 a 229/09. Todos os atos

registrados nessas lacunas estão no Diário Avulso de 3 de fevereiro de 2009, que só foi

confeccionado em 3 de agosto de 2009. Por isso, os Atos 111 a 208, 211 a 225 e 228 a

229/09, apesar dos espaços vazios, ficaram fora da seqüência cronológica135.

7.6. As requeridas Cléia Carazzai e Taís Serafim, na época eram

servidoras da Assembléia Legislativa lotadas na Diretoria de Pessoal. Além disso, a ré

Cléia Carazzai, a partir de 1º de abril de 2006, foi nomeada Coordenadora de Cadastro

Funcional, cargo que exerceu até 1º de setembro de 2009, quando passou a ser

Diretora Adjunta136.

Foram essas rés que pessoalmente materializaram as fraudes

descritas neste item 7, fizeram e registraram atos de investidura e exoneração de

servidores com datas falsas e retroativas. Como visto acima, foram elas que,

principalmente depois de 2008, anotaram atos nas pastas da Diretoria de Pessoal com

datas de 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007, inserindo os respectivos registros fora da

ordem cronológica, em entrelinhas, sobre rasuras e no interior de lacunas que elas

mesmas deixavam para esse fim, como estampado nos Anexos IX a XI. Foram elas

que digitaram os atos que depois eram assinados com datas falsas e retroativas.

Foram elas que, fraudulentamente, inseriram esses registros nas fichas funcionais.

135 - Pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 178-182 do Apenso 1. O Ato nº 210/2009 não existe, seu campo foi inutilizado, conforme controle de Atos da Diretoria de Pessoal (fls. 182 do Apenso 1). Diário 11, de 2/3/09, formatado em 10/3/09, fls. 18-33vº do Apenso 72; Diário Avulso de 3/2/09, confeccionado em 3/8/09, fls. 30-47 do Apenso 71. Sobre as datas de confecção dos diários, ver item 6, Anexos V e VI, e cadernos de controle de confecção de Diários, fls. 216 e 229 do Apenso 4.136 - Ficha funcional de Taís Serafim, fls. 2 do Apenso 99 ao inquérito civil. Ficha funcional de Cleia Carazzai, fls. 167 do Apenso 117. Atos de nomeação de Cléia, fls. 199vº do Apenso 39. O Ato 2008/09 que nomeou Cléia Diretora Adjunta não foi “publicado”, como se vê no item 9 e Anexo XIII..

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É verdade que Cléia Carazzai e Taís Serafim eram apenas

servidoras subalternas e, como disseram, materializaram as fraudes acatando ordens

de seu superior, o réu Cláudio Marques, então Diretor de Pessoal137. Contudo, embora

o poder hierárquico imponha ao servidor público o dever de obediência ao superior,

essa obrigação deixa de existir quando se trata de ordens manifestamente ilegais.

Nessa situação vigora o dever contrário, o de não obedecer tais ordens138.

Não se pode negar que as ordens em questão foram

manifestamente ilegais, pois nenhuma pessoa ignora que registrar e confeccionar ato

administrativo com data retroativa, criando uma situação que não existiu, seja uma

falsidade, uma conduta altamente irregular e ilícita.

Portanto, as ilicitudes arroladas neste item 7 também devem ser imputadas às requeridas Cleia Carazzai e Taís Serafim.

7.7. Como dito no item 6.3., o réu Cláudio Marques foi Diretor de

Pessoal da Assembléia Legislativa entre fevereiro de 2007 e março de 2010, e, a ré

Cinthia Molinari exerceu o mesmo cargo entre fevereiro de 1991 e janeiro de 2007.

Assim, como prevê o Decreto Legislativo nº 52/84, tinham dentre suas atribuições:

elaborar os atos da Comissão Executiva, inclusive de nomeação e exoneração de

servidores (artigo 15, II, a); informar os processos referentes a Pessoal (artigo 15, II, b);

encaminhar para efeito de publicação os atos referentes ao Pessoal (artigo 15, II, c);

encaminhar à Coordenadoria de Relações Trabalhistas alterações relativas à

remuneração de funcionários (artigo 15, II, d); manter em ordem e atualizadas as

fichas funcionais (artigo 15, II, d e s); manter listagem de pessoal por ordem

alfabética e por designação (artigo 15, II, u); organizar e manter atualizado fichário

das deliberações da Comissão Executiva (artigo 15, III, b); organizar mapa de

comparecimento, de férias e de licença de funcionários (artigo 15, III, c); providenciar

que as folhas de pagamento fossem encaminhadas em cumprimento às formalidades

legais (artigo 15, III, j)139 .

137 - Depoimentos às fls. 1307-1311, 1312-1314, 1587-1588 e 1589-1591 do inquérito civil. 138 - MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, Direito Administrativo, 8ª ed., São Paulo, Ed. Atlas, p. 77.139 - Decreto Legislativo 052/84 às fls. 367-384 do inquérito civil.

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Destarte, incumbia aos réus Cláudio Marques e Cinthia Molinari, pelo menos, velar para que os atos da Comissão Executiva relativos a pessoal,

estivessem na mais perfeita ordem e correção, sendo elaborados e publicados nas

datas apropriadas; zelar para que as fichas funcionais e financeiras, assim como as

informações destinadas à folha de pagamentos, estivessem atualizadas e precisas;

verificar a correta lotação e cumprimento de horário de servidores, registrando qualquer

ocorrência anormal.

Porém, nada disso acontecia. Tudo sempre esteve na mais completa

e proposital desordem. As fichas funcionais não registravam informações corretas

quantos aos servidores e não havia qualquer controle de freqüência dos mesmos. Por

isso, os requeridos Cinthia Molinari e Cláudio Marques colaboraram para a falta de

transparência ocorrida na Assembléia Legislativa, inclusive para a não publicação de

inúmeros atos relativos à pessoal, razão pela praticaram os ilícitos descritos nos 6, 8 e 9

desta petição inicial.

Além disso, a partir da gestão Nelson Justus e Alexandre Curi, quando o requerido Cláudio Marques da Silva foi alçado ao cargo de Diretor de Pessoal,

optou-se por formalizar muitas das situações ilícitas do passado, com o desiderato de

atribuir-lhes aparência de licitude. Assim sendo, muitos atos da Comissão Executiva

passaram a ser “fabricados” e registrados nas fichas funcionais com datas retroativas, o

que caracteriza fraude. Pior, para fazer os atos com datas falsas do passado, foram

praticadas várias adulterações em documentos oficiais, em especial nas fichas funcionais

e nas pastas de controle da Diretoria de Pessoal, onde foram inseridos registros com

datas falsas e retroativas, fora da seqüência cronológica em entrelinhas, sobre rasuras e

em lacunas preparadas para registrar atos oficiais com datas do passado, como ilustram

os Anexos VI a XI.

Registre-se que todo absurdo descrito neste item 7 não foi

“apenas” uma monstruosa incompetência. Todas as fraudes foram executadas com

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conhecimento do requerido Cláudio Marques, sob suas ordens e supervisão. Se as

próprias circunstâncias já evidenciavam isso, os depoimentos das requeridas Cléia Carazzai e Taís Serafim afastaram quaisquer dúvidas a esse respeito140.

7.8. Os fatos ilícitos descritos nesse item também devem ser imputados

ao réu Abib Miguel. É que, como dito nos itens 3.2., 4.5., 5.6. e 6.2., entre 1991 e 2010

o mesmo foi Diretor Geral da Assembléia Legislativa. Assim, tinha deveres/poderes de

planejamento, coordenação, controle e fiscalização de todas as atividades

administrativas como estabelece o artigo 8º do Decreto Legislativo nº 52/84.

Porém, da mesma forma que em relação aos itens 3 a 6, apesar de

completamente cientificado sobre a falta de transparência e os ilícitos relacionados a

funcionário fantasmas que vinham acontecendo no Parlamento Estadual, o réu Abib Miguel, conscientemente, omitiu-se. Como comentado nos itens anteriores, não só

deixou de tomar as medidas para sanar os problemas de que fora avisado, como

permitiu que os mesmos aumentassem.

Ademais, não se pode esquecer que era o réu Abib Miguel quem

levava os atos para colher as assinaturas dos membros da Comissão Executiva141.

O envolvimento do requerido Abib Miguel em desvios de recursos

públicos através da inserção de funcionários fantasmas na folha de pagamentos da

Assembléia Legislativa também demonstra que o mesmo não somente estava a par de

tudo que ocorria na Diretoria de Pessoal, como coordenava tais fatos142.

A serôdia, ambígua e incompleta forma com que, algumas vezes

substituindo-se ao Presidente do Parlamento Estadual com conhecimento deste,

respondia os ofícios do Ministério Público, obstaculizando e dificultando sua atuação, 140 - Depoimentos às fls. 1307-1311, 1312-1314, 1587-1588 e 1589-1591 do inquérito civil. 141 - Depoimento revelando que o réu Abib Miguel era quem levava os atos para colher a assinatura do Presidente e do Primeiro Secretário, fls. 1307-1311. 142 - Petição inicial referente ao caso de desvios de verbas públicas através da inserção de nomes de pessoas integrantes da Família Leal, na folha de pagamentos da Assembléia Legislativa. Os dados e documentos dessas pessoas eram obtidos por João Leal de Matos, pessoa extremamente vinculada e subordina ao requerido Abib Miguel, fls. 1331-1397 do inquérito civil.

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também evidencia que o requerido Abib Miguel estava ciente de tudo que acontecia

na Assembléia Legislativa, inclusive na Diretoria de Pessoal, e que tudo fazia para

manter a falta de transparência que imperava naquela Casa de Leis143.

Por isso, além de outros requeridos, o requerido Abib Miguel deve responder também por todos os fatos ilícitos e fraudulentos narrados neste item 7, pois de forma comissiva e omissiva concorreu para os mesmos.

7.9. Conforme relatado nos itens 3.2., 4.5., 5.6. e 6.2., face dos deveres/

poderes que detinham, coibir a feitura de atos com datas falsas e retroativas eram

decisões que cabiam aos réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus e

Alexandre Curi. Como também salientado naqueles itens, estes requeridos estavam

mais do que alertados sobre a falta de transparência do Poder Legislativo e acerca da

ocorrência de ilícitos facilitados pela opacidade do Parlamento Estadual, em especial

quanto ao desvio de recursos públicos com uso de pessoas para ser funcionários

fantasmas.

Entretanto, apesar disso, como também já foi enfatizado nos itens

4 a 6, além de nada fazer para melhorar a situação, inclusive permitiram que esta fosse

agravada, até mesmo com ações fraudulentas, como as descritas nos itens 6 e 7.

Conforme também foi enfatizado nos itens 3.3., 4.6. e 5.3., se numa

época normal o desempenho diligente e correto das funções detidas por tais requeridos

já seria uma exigência natural dos importantes cargos por eles ocupados, a conjuntura

em questão exigia diligências e precauções adicionais.

Com efeito, diante da inequívoca ciência de que havia desvios de

verbas através de funcionários fantasmas no órgão público que tinham o dever de

administrar e fiscalizar, assim como de estarem avisados da falta de transparência que

lá imperava, caso não estivessem coniventes, esses réus examinariam atentamente os

atos de investidura e exoneração que assinavam, tanto os conteúdos, os documentos

143 - Como exemplos, fls. 14-15 do inquérito civil e fls. 68-69 do Apenso 122 ao inquérito civil.

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que instruíam o procedimento administrativo, quanto as datas dos mesmos. Não é

crível que, naquela conjuntura, assinassem atos oficiais relacionados com as várias

notícias de ilícitos sem se importar com os seus conteúdos e datas. Somente a

conivência, o desejo de manter a falta de transparência, justifica que políticos tão

experientes assinassem vários atos administrativos com datas falsas e retroativas e

que não tomassem nenhuma atitude para verificar e reprimir as graves e fraudulentas

condutas narradas neste item. Portanto, a “desculpa” de assinar documentos sem ler

que numa situação normal não poderia ser alegada, no caso em tela é ridícula.

Não se pode olvidar que, como visto acima, as fraudes foram

executadas por funcionárias subalternas, mas sob as ordens e orientações de Diretores

“de confiança”, nomeados por esses requeridos.

Isso tudo revela a consciente e dolosa participação dos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus e Alexandre Curi em todos os fatos ilícitos descritos ao longo deste item 7.

7.10. O requerido Geraldo Cartário exerceu o cargo de Segundo

Secretário da Assembléia Legislativa entre fevereiro de 2001 e janeiro de 2007144.

Nessa condição também assinou atos administrativos de investidura e exoneração de

servidores com datas falsas e retroativas. Portanto, basicamente pelos mesmos

motivos destacados no item 7.9., o requerido Geraldo Cartário também deve

responder pelos ilícitos representados pela confecção dos atos administrativos com

datas falsas e retroativas que assinou.

7.11. Obviamente é proibido por lei confeccionar, registrar e assinar atos

administrativos com datas falsas e retroativas, até porque isso caracteriza conduta

fraudulenta. Também é vedado por lei rasurar, adulterar e inserir informações

inverídicas em documentos públicos, como foi feito com fichas funcionais e financeiras

de vários servidores da Assembléia Legislativa e com as pastas de registro de atos da

Diretoria de Pessoal. Consigne-se que nestas pastas houve lançamentos de registros 144 - Diários da Assembléia onde esse réu é nominado nesse cargo: Diário 66, de 1/9/2003, fls. 2 do Apenso 10; Diário 82, de 7/8/2006, fls. 164 do Apenso 39 ao inquérito civil.

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fora da ordem cronológica, sobre rasuras, em entrelinhas e no interior de lacunas

previamente e dolosamente preparadas para tal finalidade, conforme foi destacado

acima. Como tiveram alguma participação nesses fatos, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Geraldo Cartário, Abib Miguel, Cláudio Marques da Silva, Cléia Carazzai e Taís Serafim reiteradamente

ofenderam o princípio da legalidade e o dever de legalidade.

As mesmas condutas importaram em repetida violação ao princípio da publicidade. É que, em face delas os réus acima nominados,

deliberadamente, contribuíram para negar publicidade a atos oficiais, preferindo manter

a falta de transparência que imperava no Parlamento Estadual. Realmente, pois a

confecção e registro de atos com datas falsas e retroativas foi uma maneira de ocultar

atos e situações que ocorriam na Assembléia Legislativa, uma vez que essa estratégia

simulava ocorrência de fatos, dificultando o conhecimento e controle deles.

As ações ilícitas narradas neste item não estão de acordo com as

regras internas da Administração nem com os standards comportamentais que a

sociedade deseja. Portanto, tais réus não se conduziram como bons administradores,

não agiram com lealdade e boa-fé, não observaram a lei e padrões éticos. Suas ações

não estão de acordo com a moral jurídica nem com a moral comum, constituíram

reiterada ofensa ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade.

Com a prática comissiva e omissiva dessas condutas, os réus

acima nominados não foram leais com as instituições que deveriam servir, cometeram

repetidos atos atentado ao dever de lealdade às instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, as ações ilícitas e fraudulentas descritas neste item 7

importaram em violação aos deveres funcionais previstos nos artigos artigo 5º, II; 6º; 7º;

8º; e 15 do Decreto Legislativo nº 52/84, assim como nos artigos 18, II, e, 20, do

Regimento Interno da Assembléia Legislativa. Por isso, os réus Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Geraldo Cartário, Abib Miguel,

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Cláudio Marques, Cléia Carazzai e Taís Serafim, no exercício dos cargos públicos

que ocuparam, praticaram atos visando fim proibido em lei; bem como negaram

publicidade a atos oficiais.

Ao, conscientemente, omitirem-se de reprimir as condutas ilícitas e

fraudulentas descritas ao longo deste item 7, estampadas nos Anexos VI a XI, os réus

Hermas Brandão, Nelson Justus, Nereu Moura, Alexandre Curi, Abib Miguel e

Cláudio Marques deixaram, indevidamente, de praticar atos de ofícios.

7.12. Portanto, os requeridos Hermas Brandão, Nelson Justus, Nereu Moura, Alexandre Curi, Abib Miguel e Cláudio Marques, nos períodos em que ocuparam os cargos de direção e chefia acima referidos, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

Também pelo exposto neste item 7, os réus Geraldo Cartário, Cléia Carazzai e Taís Serafim, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa capitulados no artigo 11, caput e incisos I e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

8. DA “PUBLICAÇÃO” DE ATOS OFICIAIS COM MUITO ATRASO E/OU COM LONGOS EFEITOS RETROATIVOS

8.1. Apesar da existência de diários avulsos confeccionados com datas

falsas e pretéritas (itens 5 e 6), assim como da prática de editar atos oficiais com datas

falsas e retroativas (item 7), o que camufla a extemporaneidade das “publicações”,

vários atos foram “divulgados” com muito atraso e/ou com longos efeitos retroativos.

Como se pode ver no Anexo XII, entre 1º de janeiro de 2003 e 14

de abril de 2010, mais de mil e duzentos atos foram “publicados” com efeitos

retroativos em mais de seis meses, bem como mais de oitocentos atos foram inseridos

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no periódico oficial somente mais de seis meses depois de sua data. Desta maneira, no

mínimo, esses atos ficaram longo tempo sem sequer a “divulgação” meramente formal

representada pela inserção no inacessível Diário da Assembléia. Como exemplos dessas situações citam-se os Atos 100-A/04, 2303/07, 497-A/07 e 347/03.

a) O Ato 100-A/04 é datado de 15 de abril de 2004, refere-se ao

provimento de Maria da Glória Teixeira Pires num indeterminado e possivelmente

inexistente cargo junto à Administração, a partir de 1º de abril de 2004. Contudo, só foi

“publicado” no Diário 10, de 27 de fevereiro de 2008, quase quatro anos depois. Na

pasta da Diretoria de Pessoal não há registro do Ato 100-A/04, apenas do Ato 100/04,

que provê Cleonice Espada na 1ª Vice-Presidência, o qual foi “publicado” no Diário

Avulso V, de 20 de abril de 2004145.

Embora a ficha financeira registre pagamentos para Maria da Glória

entre janeiro de 2000 e janeiro de 2001, verificando os contracheques, nota-se que se

trata de reaproveitamento de matrícula, pois nesse período quem “recebia” as

remunerações inerentes à matrícula 1996 era Roger Teixeira. Analisando toda a

documentação, observa-se que entre abril de 2004 e março de 2010 foram

despendidos recursos públicos para remunerar Maria Glória146.

Portanto, o certo é que durante quase quatro anos, entre abril de 2004 e fevereiro de 2008, Maria da Glória recebeu remuneração dos cofres públicos sem que existisse qualquer ato de investidura “publicado”.

b) O Ato 2303/07 é de 1º de março de 2007, refere-se ao provimento

de Elias de Castro Oliveira na 1ª Secretaria, a partir de 1º de março de 2007. Porém,

só foi “publicado” no Diário Avulso de 30 de junho de 2008, um ano e quatro meses

145 - “Publicação” no Diário 10, de 27/2/2008, fls. 38 do Apenso 58. “Publicação” no Diário Avulso V, de 20/4/2004, fls. 16 do Apenso 16. Pasta de controle de atos da Diretoria de Pessoal, fls. 74 do Apenso 1 do inquérito civil. 146 - Ficha funcional, ficha financeira e contracheques de Maria da Glória, fls. 2-86 do Apenso 115. Contracheques de Roger Teixeira, fls. 87-113 do Apenso 115.

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depois. Ademais, o Diário Avulso de 30 de junho de 2008 foi feito apenas em 26 de

agosto de 2008, o que eleva o prazo para um ano e meio147.

Descontado o período relativo a vínculo anterior - 2003 a 2007 - a

ficha funcional, a ficha financeira e os contracheques de Elias revelam que entre março

de 2007 e março de 2010 foram despendidos recursos públicos para remunerá-lo148.

Então, o certo é que por um ano e meio, entre março de 2007 e agosto de 2008, Elias Oliveira foi remunerado sem qualquer ato de nomeação “publicado”.

c) O Ato 497-A/07 é de 26 de fevereiro de 2007, exonera José Odair

Bonacin de cargo em comissão no Gabinete da Presidência, a partir de 1º de

fevereiro de 2007. Entretanto, esse ato somente foi “publicado” no Diário 158, de 5 de dezembro de 2007, portanto com dez meses de atraso149.

d) O Ato 347/03 é de 15 de setembro de 2003, refere-se ao

provimento de Theresa Cristina Rauen Silvestre no Gabinete da Presidência; à

exoneração de Gassan Handar do Gabinete da Primeira Secretária; à nomeação de

Sandra Maria Marschall Romanelli do Gabinete da Primeira Secretaria; à exoneração

de Adilson Valentim do Gabinete do Deputado Padre Paulo Campos; à exoneração de

Fernanda do Prado Moraes do Gabinete do Deputado André Vargas; e, ao provimento

de Fábio Cesar Reali Lemos no Gabinete do Deputado André Vargas, a partir de 1º de

setembro de 2003. Porém, tal ato somente foi “publicado” no Diário 19, de 29 de março de 2004, com sete meses de atraso150.

147 - “Publicação” no Diário Avulso de 30/6/2008, fls. 147 do Apenso 63 do inquérito civil. Sobre a datas de formatação desse diário ver item 6 e caderno de controle da Gráfica (fls. 227 do Apenso 4). 148 - Ficha funcional, ficha financeira e contracheques, fls. 114-212 do Apenso 115 ao inquérito civil.149 - “Publicação” no Diário 158 de 5/12/2007, fls. 65 do Apenso 55.150 - “Publicação” no Diário 19, de 29 de março de 2004, fls. 84 verso do Apenso 15.

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As ficha funcionais, fichas financeiras e os contracheques de

Theresa, Sandra e Fábio revelam que entre setembro de 2003 e março de 2004 foram

despendidos recursos públicos para remunerar esses “servidores”151.

Destarte, durante sete meses tais “servidores” foram remunerados sem qualquer ato de investidura “publicado”.

8.2. Até seria aceitável uma publicação ocorrida um dia, dois dias, até

uma semana após o ato. Todavia, com mais de seis meses de atraso é algo

absolutamente inadmissível, foge de qualquer critério de razoabilidade, revela

finalidades ilícitas, ao menos a de ocultar atos oficiais152.

Registre-se que as nomeações de funcionários fantasmas, de

regra, não estão no Anexo XII, porque os atos respectivos, quando “publicados”, eram

inseridos em diários avulsos feitos com datas retroativas, o que compatibilizava as

datas dos atos com as datas dos diários, conforme exposto nos itens 6 e 7.

8.3. Como afirmado nos itens 3.2., 4.5., 5.6., e 7.9. os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, pelos cargos

de direção que ocuparam, tinham importantes funções de administração e fiscalização.

Assim, como enfatizado naqueles itens, tinham a incumbência de administrar o Poder

Legislativo, de forma que eram eles as autoridades que deveriam ter tomado medidas

para que os atos da Comissão Executiva fossem publicados na época oportuna.

Nos itens 3.3., 4.6., 5.6., 6.2. e 7.9. também foi consignado que

esses réus estavam bem alertados da falta de transparência do Poder Legislativo e

sobre a ocorrência de ilícitos facilitados por tal opacidade, especialmente os

relacionados a funcionários fantasmas. Como também enfatizado, se numa época

151 - Fichas funcionais, fichas financeiras e contracheques dessas pessoas, fls. 33-200 do Apenso 116 e fls. 2-12 do Apenso 117 ao inquérito civil.152 - Note-se que se está sendo compreensível, entendendo eventuais dificuldades administrativas que podem postergar a publicação de um ato, admitindo até razoável dias de atraso. Posição muito mais branda que a do Presidente da OAB/PR que declarou: “divulgar uma semana depois já não seria aceitável...”, (fls. 721 do inquérito civil).

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normal já tinham a obrigação de desempenhar suas funções com zelo e probidade, no

momento que se encontravam os réus, avisados da ocorrência de graves ilícitos no

órgão que administravam, tinham que ter o máximo cuidado, mormente com situações

ligadas aos ilícitos apontados - falta de transparência e movimentação de pessoal.

Mas, como também já destacado, esses requeridos, além de nada

fazerem para resolver os problemas suscitados, permitiram que os mesmos fossem

agravados, inclusive com expedientes altamente reprováveis, como os destacados nos

itens 6 e 7 - atos e diários avulsos confeccionados com datas falsas e retroativas.

Tudo isso evidencia que os réus Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel estavam coniventes, conscientemente

desejavam manter a falta de transparência que imperava na Assembléia Legislativa.

Assim, também são responsáveis pela ocorrência de vários atos “publicados” com

longos efeitos retroativos e/ou “divulgados” muito tempo depois de suas datas.

8.4. Como dito nos itens 6.3. e 7.7., o réu Cláudio Marques foi Diretor

de Pessoal da Assembléia Legislativa entre fevereiro de 2007 e março de 2010, ao

passo que a ré Cinthia Molinari exerceu o mesmo cargo entre fevereiro de 1991 e

janeiro de 2007. Portanto, tinham dentre suas atribuições o encaminhamento, para

efeito de publicação, dos atos oficiais referentes ao Pessoal (artigo 15, II, c, do Decreto

Legislativo nº 52/84); e, a manutenção das fichas funcionais em ordem e atualizadas

(artigo 15, II, d e s, do Decreto Legislativo acima citado) 153. Assim sendo, incumbia a

esses requeridos velar para que os atos da Comissão Executiva, relativos a pessoal,

estivessem na mais perfeita correção, sendo elaborados e publicados nas datas

apropriadas.

Destarte, se houve muitos atos “publicados” com muito atraso e/ou

com longos efeitos retroativos, como estampado no Anexo XII, os requeridos Cláudio Marques e Cinthia Molinari descumpriram suas obrigações funcionais e legais, não

podendo deixar de ser responsabilizados.

153 - Decreto Legislativo 052/84 às fls. 367-384 do inquérito civil.

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8.5. Conforme foi manifestado no item 4.7., além da obrigação de

respeito ao princípio da publicidade, estabelecido no artigo 37 da Constituição da

República e no artigo 27 da Constituição do Estado do Paraná, o artigo 2º, V, da Lei nº

9.784/99, impõe a necessidade de divulgação oficial dos atos administrativos.

Como vários atos foram “publicados” muito tempo depois de suas

datas e/ou foram “divulgados” com longos efeitos retroativos, ficaram grande período

sem sequer a “publicação” no obscuro Diário da Assembléia, razão pela qual, ao

menos nesse período, houve violação ao artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99, ao artigo 37

da Constituição Federal e ao artigo 27 da Constituição Estadual.

Ora, se houve contrariedade a normas positivadas no ordenamento

jurídico por várias vezes, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques da Silva,

reiteradamente, ofenderam o princípio e o dever de legalidade.

Obviamente, a ausência de “divulgação” de atos oficiais por longo

tempo, pelo menos no período correspondente ao atraso, caracterizou reiterado

atentado ao princípio da publicidade. Esse atraso foi decorrente de conscientes

ações e omissões dos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus,

Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthya Molinari e Cláudio Marques da Silva negaram publicidade a atos oficiais, preferindo manter a falta de transparência que

imperava naquele Parlamento, dificultando o conhecimento e o controle pelos órgãos

estatais e por toda sociedade.

Ao deixar de “publicar” atos oficiais por muito tempo, assim como

“divulgar” atos com longos efeitos retroativos, mormente nas circunstâncias em

questão, onde estavam muito bem alertados sobre a falta de transparência que

imperava na Assembléia Legislativa, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques

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praticaram comportamentos que caracterizaram ofensa ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade.

Por evidente, essas propositais e reiteradas condutas, comissivas e

omissivas, não foram leais para com as instituições que os requeridos acima

nominados deveriam servir, de forma que caracterizaram atentado ao dever de

lealdade às instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, o que já caracteriza ato de improbidade administrativa, as

condutas comissivas e omissivas descritas neste item 8, praticadas com a intenção de

manter a falta de transparência que imperava na Assembléia Legislativa, importou em

desobediência a determinações constitucionais e legais, assim como na deliberada

omissão de desempenhar as obrigações previstas nos artigos artigo 5º, II; 6º; 7º e 8º,

XI, XII e XIII; e, 15 do Decreto Legislativo nº 52/84, e, nos artigos 18, II, e, 20, do

Regimento Interno da Assembléia Legislativa. Desta maneira, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques praticaram atos visando fim proibido em lei; deixaram,

indevidamente, de praticar atos de ofícios; bem como negaram publicidade a atos

oficiais.

8.6. Portanto, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques, nos períodos em que exerceram cargos de direção e chefia na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa elencados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, ficando sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

9. DA NÃO “PUBLICAÇÃO” DE ATOS OFICIAIS SEQUER NOS OBSCUROS DIÁRIOS DA ASSEMBLÉIA - ATOS ABSOLUTAMENTE SECRETOS

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9.1. Analisando os Diários da Assembléia, os registros da Diretoria de

Pessoal e as listagens de atos enviados para “publicação”, conforme se pode observar

no Anexo XIII, entre 1º de janeiro de 2003 e 31 de dezembro de 2009 mais de

quatrocentos atos deixaram de ser “publicados”, ou seja, não constaram sequer dos

obscuros Diários da Assembleia, nem de diários avulsos. São atos totalmente secretos154.

A título de exemplo, além dos Atos 314 a 322 e 324 a 333/08,

referidos acima, onde estão formalizadas as nomeações de vários funcionários

fantasmas, pode-se citar os Atos 285-A/06, 428 a 432/06, 1385/08 e 010/10.

A própria Assembléia Legislativa confessa a ausência de “publicação” de vários desses atos155.

9.2. Na pasta da Diretoria de Pessoal do ano de 2006, o Ato 285/06

refere-se ao Gabinete do Deputado Estadual Nereu Moura. É a exoneração de Samira

Dallanora, e consta do Diário 38, de 26 de abril de 2006. Porém, na referida pasta, ao

lado do registro do Ato 285/06 há uma inscrição a lápis: Ato 285-A/06, provimento de

Douglas Bastos Pequeno. Este ato, confessadamente, não foi publicado em qualquer

Diário da Assembleia, é um ato absolutamente secreto156.

Analisando a ficha funcional de Douglas Bastos Pequeno verifica-

se o seguinte157:

Ato Conteúdo do Ato Publicação285/06 provimento a partir 1/3/2006 não houve1303/07 exoneração a partir de 1/4/2007 Diário 58, de 31/5/20071284/08 provimento a partir 1/9/2008 Diário Avulso de 30/9/2008

154 - Diários da Assembléia, Apensos 5 a 93 ao inquérito civil. Documentos apreendidos na Assembléia Legislativa, Apensos 1 a 4 ao inquérito civil.155 - Fls. 2, 10 e 11 do Apenso 98 ao inquérito civil. 156 - Pasta de registro da Diretoria de Pessoal, às fls. 110 do Apenso 1. Diário 38, de 26/4/06, fls. 100 do Apenso 37. Ato 285-A/06, fls. 145 do Apenso 98. Informação da Assembléia Legislativa admitindo que esse não foi publicado, fls. 2 e 10 do Apenso 98 ao inquérito civil.157 - Ficha funcional de Douglas, fls. 13 do Apenso 117.

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1123/09 exoneração a partir de 1/3/2009 Diário Avulso de 3/4/20091330/09 provimento a partir de 1/4/2009 Diário Avulso 30/4/20092171/09 exoneração a partir de 19/10/2009 Diário Avulso 30/10/2009010/10 provimento a partir de 1/1/2010 não houve158

Embora não conste da ficha funcional, existe o Ato 458/10, de 4 de

março de 2010, através do qual Douglas Bastos Pequeno foi exonerado, a pedido.

Trata-se de mais um ato com data retroativa, pois foi inserido no Diário 31, de 5 de abril

de 2010, portanto depois que sua condição de funcionário fantasma foi exposta na

imprensa159.

A ficha financeira e os contracheques de Douglas revelam que

entre março de 2006 e março de 2007, setembro de 2008 e fevereiro de 2009, abril e

setembro de 2009, assim como entre janeiro e fevereiro de 2010, foram destinados

recursos públicos a pretexto de remunerar esse “servidor”160.

Assim sendo, muito embora faça referência a um ato não

publicado, a mencionada observação a lápis na pasta de registro de atos da Diretoria

de Pessoal - Ato 285-A/06, nomeação de Douglas Bastos Pequeno - não foi gratuita,

mas maliciosa intenção de formalizar uma situação. Com efeito, pois não obstante

houvesse desembolso de verba pública destinada a remunerar esse “servidor” desde

março de 2006 não havia ato de nomeação, razão pela qual se resolveu “criar”, com

data retroativa, o ato de investidura de Douglas, a partir de 1º de março de 2006. A

idéia de “fabricação” do Ato 285-A/06 e os registros na pasta da Diretoria de Pessoal e

na ficha funcional ocorreram em 2008, como admitido pelas servidoras responsáveis,

rés Cléia Carazzai e Taís Serafim, até porque foi Taís quem escreveu a anotação a

lápis e ela foi admitida na Assembléia Legislativa em julho de 2007 e somente passou a

lançar atos em 2008. Então, o Ato 285-A/06, pretensamente de 31 de março de 2006,

158 - Diário 58, de 31/5/2007, fls. 273, do Apenso 47; Diários avulso de 30/9/2008, fls. 221 do Apenso 65; Diários avulso de 3 de abril de 2009, fls. 39-61 do Apenso 74; Diário avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75; Diário avulso de 30/10/2009, fls. 2-7vº do Apenso 84, ao Inquérito Civil159 - “Publicação” no Diário 31, de 5/4/10, fls. 101 do Apenso 89. Reportagens evidenciando a condição de funcionária fantasma de Douglas, fls. 410, 713, 714, 733, 748, 871, 897, 985, 986 e 1011 do inquérito civil em anexo.160 - Ficha financeira e contracheques de Douglas, fls. 14-47 do Apenso 117.

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não existia antes de 2008, de forma que foi assinado pelos réus Hermas Brandão, Nereu Moura e Geraldo Cartário com data falsa e retroativa161.

Por isso, e porque Douglas Bastos Pequeno confessadamente era funcionário fantasma que agenciou vários parentes para também ser servidores fantasmas da Assembleia Legislativa, é que o Ato 285-A/06 nunca foi “publicado”. Assim como este, o Ato 010/10, que novamente nomeou o funcionário fantasma Douglas Bastos Pequeno, também não foi “publicado”. Ambos são atos absolutamente secretos162.

Como se tudo isso não bastasse, assim como ocorrido em outros

casos, a exoneração de Douglas a partir de 1º de março de 2009 (Ato 1123/09) teve

apenas a finalidade de omitir o nome dessa pessoa da incompleta e manipulada lista

de servidores “publicada” em 31 de março de 2009, a pretexto de “cumprir” o artigo 234

da Constituição Estadual, pois Douglas foi nomeado para o mesmo cargo a partir do

mês seguinte (Ato 1330/09), sendo os atos de exoneração e provimento inseridos em

diários avulsos confeccionados no mesmo dia, na “safra” de 3 de agosto de 2009163.

9.3. Quanto aos Atos 428 a 430 e 432/06 nota-se que na pasta de

registro da Diretoria de Pessoal constam observações a lápis indicando “não

publicar”, evidenciando a consciente má intenção. A requerida Cleia Carazzai,

161 - Depoimentos das servidoras que lançavam atos nas pastas da Diretoria de Pessoal, fls. 1307-1311, 1312-1314, 1587-1588 e 1589-1591 do inquérito civil.162 - Depoimento de Douglas Bastos Pequeno, fls. 1324-1328 do inquérito civil. Dentre os parentes inseridos como funcionários fantasmas: Mariles Prevedelo, Lorete Prevedelo Pequeno, Gina Prevedelo Pequeno, Josiane Bastos Pequeno, Viviane Bastos Pequeno, Erick Salles, Luana Salles, Thiago Cury, Karina Cury, Felipe Cury, Maria Advair Pinto Gomes Campos, Ivanir Terezinha Thibes Vieira, Nadir Thibes, Nerci do Luiz Thibes Scheleder, Derci Aparecida Schimidt e Luciano Galo. Reportagens evidenciando a condição de funcionária fantasma de Douglas, fls. 410, 713, 714, 733, 748, 871, 897, 985, 986 e 1011 do inquérito civil em anexo. 163 - Diário Avulso de 3/4/2009, fls. 39-61vº do Apenso 74, Diário Avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75, do inquérito civil. Sobre as de formatação dos diários avulsos, item 6 e Anexos IV e V. Registre-se, também, que nos citados diários avulsos secretos de 3 e 30 de abril de 2009, feitos no mesmo dia, mais de três meses depois de suas datas, junto com a exoneração e nova investidura de Douglas Bastos Pequeno foram “exonerados” e novamente admitidos vários outros “funcionários fantasmas”, como, por exemplo: Clori de Oliveira Gbur, João Maria Vosilk e Pierre José Gbur.

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servidora que escreveu as observações, admitiu o fato, informando que recebeu ordens

do réu Cláudio Marques para assim proceder164.

Os Atos 428 e 429/06 são exonerações de Nilcéia Dias Bruno

Iensen e Paulo Falavinha Iensen do Gabinete do Deputado Vanderlei Falavinha Iensen,

donde se deduz que a intenção era ocultar que tal parlamentar tinha parentes

nomeados em seu Gabinete. Os Atos 430 e 432/06 referem-se aos provimentos de

Lordes Gallo Ferreira e Benvinda de Lima Brennensein na Diretoria-Geral165.

9.4. O Ato 1385/08 refere-se à nomeação do funcionário fantasma

Pierre José Gbur num cargo em comissão junto à Diretoria-Geral, a partir 1º de

outubro de 2008166.

Analisando a ficha funcional de Pierre José Gbur verifica-se a

seguinte situação167:

Ato Conteúdo do Ato Publicação1909/07 provimento a partir 1/9/2007 Diário 126, de 8/10/20071075/08 exoneração a partir de 1/8/2008 Diário Avulso de 29/8/20081385/08 provimento a partir 1/10/2008 Não houve1125/09 exoneração a partir de 1/3/2009 Diário Avulso de 3/4/20091332/09 provimento a partir de 1/4/2009 Diário Avulso 30/4/2009131/10 exoneração a partir de 1/3/2010 Diário 31, de 5/4/2010168

A ficha financeira de Pierre registra pagamentos desde julho de

1999. Porém, conferindo os contracheques nota-se que se trata de reaproveitamento

de matrícula, pois até janeiro de 2001 os créditos referentes à matrícula 2002 eram

feitos para Rui Camargo. Só depois de maio de 2002 é que passa a haver dispêndio de

164 - Observações na pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal, às fls. 115 do Apenso 1. Depoimento da servidora que escreveu as observações, às fls. 1310 do inquérito civil. 165 - Atos às fls. 22-25 do Apenso 95 ao inquérito civil.166 - Ato 1385/08 às fls. 255 do Apenso 97 ao inquérito civil.167 - Ficha funcional de Pierre, fls. 48 do Apenso 117 ao inquérito civil.168 - Diário 126, de 8/10/2007, fls. 199vº, do Apenso 52; Diários avulso de 29/8/2008, fls. 88 do Apenso 65; Diários avulso de 3 de abril de 2009, fls. 39-61vº do Apenso 74; Diário avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75; Diário 31 de 5/4/2010, fls. 94 e vº do Apenso 89, ao Inquérito Civil

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verba pública para remunerar Pierre, para quem há créditos de maio de 2002 a julho

2008, de outubro de 2008 a fevereiro de 2009 e de abril de 2009 a fevereiro de 2010169.

Logo, embora houvesse desembolso de verba pública destinada a

remunerar Pierre Gbur entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, não havia ato de

nomeação “publicado”. Entre maio de 2002 e agosto de 2007, não obstante recursos

públicos tenham sido destinados a remunerar esse funcionário fantasma, também não

foi localizado ato formal de provimento. Assim, até mesmo formalmente, a situação de

Pierre José Gbur foi irregular de maio de 2002 a agosto de 2007 e de outubro de 2008

a fevereiro de 2009.

Possivelmente a falta de “publicação” do Ato 1385/08 ocorreu porque Pierre José Gbur sempre foi um funcionário fantasma170.

Como ocorrido em outros casos, a exoneração de Pierre Gbur a

partir de 1º de março de 2009 (Ato 1125/09) teve apenas a finalidade de omitir o nome

deste funcionário fantasma da incompleta e manipulada lista de servidores “publicada”

em 31 de março de 2009, a pretexto de “cumprir” o artigo 234 da Constituição do

Estado do Paraná, pois Pierre Gbur foi nomeado para o mesmo cargo a partir do mês

seguinte (Ato 1332/09), sendo que os atos de exoneração e provimento foram inseridos

em diários avulsos feitos no mesmo dia, na “safra” de 3 de agosto de 2009171.

9.5. O Ato nº 1102/06, que tem por objeto a exoneração de Neuza

Batista da Silva de cargo em comissão na 4ª Secretária, também não foi “publicado”.

169 - Ficha financeira de Pierre, fls. 49-60 do Apenso 117. Contracheques de Pierre Gbur, fls. 62-160 do Apenso 117. Contracheque de Rui Camargo, fls. 61 do Apenso 117.170 - Reportagens evidenciando a condição de funcionário fantasma de Pierre, fls. 410, 723, 724, 725, 733, 747, 871, 897, 960, 1003, 1010 e 1061 do inquérito civil em anexo. 171 - Diário Avulso de 3/4/2009, fls. 39-61v° do Apenso 74, Diário Avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75, do inquérito civil. Sobre as de formatação dos diários avulsos, item 6 e Anexos IV e V. Registre-se, também, que nos citados diários avulsos secretos de 3 e 30 de abril de 2009, feitos no mesmo dia, mais de três meses depois de suas datas, junto com a exoneração e nova investidura de Douglas Bastos Pequeno foram “exonerados” e novamente admitidos vários “funcionários fantasmas”, como por exemplo: Clori de Oliveira Gbur, João Maria Vosilk e Douglas Bastos Pequeno.

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Analisando a ficha funcional verifica-se a seguinte situação172:

Ato Conteúdo do Ato Publicação075/03 provimento a partir 1/2/2003 Diário 65, de 27/8/20031102/06 exoneração a partir 1/12/2006 Não houve266/08 Provimento a partir de 1/3/2008 Diário Avulso de 31/3/2008935/08 exoneração a partir de 1/7/2008 Diário Avulso de 31/7/2008173

Portanto, fica claro que, como em 2008 a referida “funcionária” foi

nomeada para cargo em comissão junto à 1ª Secretaria mesmo já sendo “servidora”

desde 2003, houve a “necessidade” de “criar” um ato de exoneração, para

compatibilizar a situação funcional dessa pessoa na ficha funcional. Então, “fabricou-

se” o Ato 1102/06 e como o mesmo foi feito com data retroativa não se publicou.

Como se tratava de um ato do final do ano, o mesmo foi lançado

normalmente na pasta de registro de atos da Diretoria de Pessoal174.

Porém, a evidência de que esse ato foi feito com data retroativa é

que, embora datado de 15 de dezembro de 2006, é assinado pelos requeridos Nelson Justus e Alexandre Curi, os quais sequer eram membros da Comissão Executiva

naquela época. Portanto, fica claro que o referido ato foi digitado depois de 2007,

quando tais pessoas já ocupavam os cargos de Presidente e Primeiro Secretário da

Assembléia Legislativa. Ora, quem confeccionou esse ato - ou Cláudio Marques ou

Cléia Carazzai ou Taís Serafim - não poderia, em dezembro de 2006, adivinhar que

essas pessoas viriam a ocupar tais cargos a partir de fevereiro de 2007175.

Destarte, além de se tratar de ato secreto, não publicado, fica demonstrado que os réus Nelson Justus e Alexandre Curi, fraudulentamente, assinaram esse ato com data falsa e retroativa.

172 - Ficha funcional de Neuza, fls. 161 do Apenso 117.173 - Diário 65, de 27/8/2003, fls. 199vº-200 do Apenso 9; Diários avulso de 31/3/2008, fls. 141 do Apenso 59; Diários avulso de 31/7/2008, fls. 71 do Apenso 64 ao inquérito civil.174 - Fls. 136 do Apenso 1 ao inquérito civil175 - Ato 1102/06, às fls. 237 do Apenso 97 ao inquérito civil.

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9.6. Como dito nos itens 3.2., 4.5., 5.6., 6.2., 6.3., 7.7., 7.9., 8.3. e 8.4.,

em razão dos deveres/poderes que detinham, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura,

Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques,

tinham obrigação de verificar se os atos da Comissão Executiva eram “publicados”.

Ademais, como dito nos itens 3.3., 4.6., 5.6., 6.2., 7.9. e 8.3., esses

réus estavam alertados da falta de transparência vigente no Poder Legislativo, assim

como da prática de ilícitos facilitados por tal opacidade. Como também enfatizado, se

numa época normal já tinham a obrigação de desempenhar suas funções com zelo e

probidade, na situação que se encontravam, avisados de graves ilícitos no órgão que

administravam, tinham que redobrar a vigilância, tinham que verificar a “publicação”

dos atos oficiais, especialmente dos relacionados aos ilícitos de que eram alertados.

Porém, apesar de alertados, além de não tomarem as obrigatórias

decisões de supervisão que lhes competiam, concorreram para que a situação

piorasse, inclusive com a utilização de estratagemas fraudulentos, como os verificados

nos itens 6 e 7. Isso evidencia que esses réus não foram “apenas” irresponsáveis, mas

que estavam coniventes com os fatos ilícitos, que desejavam manter a absoluta falta

de transparência em que estava mergulhada a Assembléia Legislativa.

9.7. A existência de atos não “publicados” revela uma administração

não transparente, caracterizando violação ao princípio da publicidade. Ademais,

quando se verifica a quantidade de atos de investidura e exoneração não “divulgados”,

muitos dos quais se referem a funcionários fantasmas, a avalanche de notícias sobre

ilícitos em tese praticados na Assembléia Legislativa, assim como as condutas ilícitas

acima descritas, verifica-se que a questão é grave. Que não se trata de mero descuido

ou equívoco, mas de deliberada intenção de ocultar atos oficiais.

Como se viu nos itens 4.7., 6.5. e 8.5., a falta de “divulgação” de

atos oficiais caracteriza desrespeito ao artigo 37 da Constituição Federal, ao artigo 27

da Constituição Estadual e ao artigo 2º, V, da Lei nº 9.784/99. Assim, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia

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Molinari e Cláudio Marques, cada qual na sua época, violaram o princípio e o

dever de legalidade, ao não publicar os atos relacionados no Anexo XIII.

Pelos mesmos fundamentos arrolados nos itens 3.4., 4.7., 5.7.,

6.5., 7.11., e 8.5., essa dolosa omissão, que importou na proposital ocultação de mais

de quatrocentos atos oficiais, não está de acordo com os padrões éticos internos da

Administração Pública e esperados pela população, razão pela qual caracteriza

reiterado atentado ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade, praticado

pelos réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques.

Evidentemente que, com a prática de tais condutas ilícitas, esses

réus não foram leais às instituições que deveriam servir, de forma que, repetidamente,

ofenderam o dever de lealdade às instituições.

Também pelos fundamentos consignados nos itens 3.4., 4.7., 5.7.,

6.5., 7.11. e 8.5. essas condutas comissivas e omissivas importaram no cometimento

reiterado de atos visando fim proibido em lei; na repetida omissão indevida de praticar

atos de ofícios e na persistente negativa de dar publicidade a atos oficiais.

9.8. Portanto, ao não publicar os atos relacionados no Anexo XIII, os requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel, Cinthia Molinari e Cláudio Marques, nos períodos que exerceram cargos de chefia e direção na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, por várias vezes, cometeram atos de improbidade administrativa capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penalidades previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

10. DA OMISSÃO ATÉ MARÇO DE 2009 EM PUBLICAR A RELAÇÃO DE SERVIDORES, CARGOS, FUNÇÕES E LOCAIS DE TRABALHO,

COMO EXIGE O ARTIGO 234 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

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10.1. Embora o artigo 234 da Constituição Estadual, que está em vigor

desde 1989, prescreva que “o Estado publicará anualmente, no mês de março, a

relação completa dos servidores lotados por órgão ou entidade, da administração

pública direta, indireta e fundacional, em cada um de seus Poderes, indicando o cargo

ou função e o local de seu exercício, para fins de recenseamento e controle.”176, até o ano 2009 a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná não publicou tal lista, sequer no obscuro tablóide interno.

10.2. Como é óbvio, e conforme foi destacado nos itens 3.2., 4.5., 5.6.,

6.2., 7.9., 8.3. e 9.6., em face dos deveres/poderes de administração que detinham, a

determinação para publicação da aludida relação competia aos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus e Alexandre Curi, pois exerceram cargos de

Presidente e Primeiro Secretário, membros da Comissão Executiva daquela Casa de

Leis. Por seu turno, conforme enfatizado nos mesmos itens acima referidos, em razão

das obrigações de planejamento, coordenação, controle e fiscalização das atividades

administrativas inerentes ao cargo de Diretor Geral, o requerido Abib Miguel tinha o

dever de alertar aquelas autoridades sobre a obrigação legal de, anualmente, divulgar

a referida listagem, pois tal requerido exerceu esse importante cargo de direção entre

os anos de 1991 e 2010, apenas deixando a função quando os escândalos foram

divulgados pela imprensa.

Esses requeridos não podem alegar que não sabiam dessa

obrigação legal, até porque: (a) se a ninguém é dado escusar-se de responsabilidade

pelo desconhecimento da lei, muito menos Deputados e Diretor Geral podem alegar

ignorar dispositivo de uma Constituição aprovada no próprio Parlamento de que fazem

parte e exerceram altos cargos de direção, para eximir-se de obrigação a eles imposta

por tal norma; (b) como já enfatizado nos itens 3.3., 4.6., 5.6., 6.2., 7.9., 8.3. e 9.6., esses

réus estavam mais do que alertados sobre a falta de transparência que imperava na Casa

de Leis deste Estado, assim como sobre os ilícitos relacionados a funcionários fantasmas

que lá campeavam; (c) pelo menos desde de 2007, a imprensa e o Ministério Público

cobravam a publicação da mencionada listagem, de modo que aos réus Nelson Justus, 176 - O texto da Constituição Estadual pode ser encontrado no sítio oficial do Estado do Paraná na internet, www.pr.gov.br, link legislação.

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Alexandre Curi e Abib Miguel ainda foi reforçada a obrigação legal de divulgação da

mencionada relação177.

Mas, não obstante a inequívoca ciência que a alta direção da

Assembléia Legislativa tinha da obrigação legal de publicar a listagem exigida pelo artigo

234 da Constituição do Estado do Paraná, a omissão persistiu por vários anos. Não

houve a divulgação da referida lista até o ano de 2008.

Isso revela que a ilícita omissão dos requeridos Hermas Brandão,

Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel foi consciente, que

esses réus nunca desejaram transparência e controle na Assembléia Legislativa. Isto é,

que, dolosamente, tudo fizeram para manter a opacidade e dificuldade de controle que

imperava no Parlamento Estadual, inclusive com a intenção de ocultar a condição de

“servidores” públicos de várias pessoas, impondo obstáculo para que a sociedade, a

imprensa e os órgãos de fiscalização conhecessem as atividades praticadas naquela

Casa Legislativa. Isso, dentre outras atitudes, possibilitou não só a proliferação de

funcionários fantasmas, como também outras práticas ilícitas, como por exemplo, o

nepotismo e o clientelismo político.

Somente em 31 de março de 2009, sentido-se pressionada - ainda

assim de maneira incompleta e manipulada, como se verá nos itens 11 e 12 - é que a alta

direção da Assembléia Legislativa providenciou a “publicação” de um arremedo da

mencionada relação, num dos Diários Avulsos dessa data, como será visto adiante178.

10.3. A consciente e deliberada omissão em determinar uma

“publicação” exigida pela legislação, à toda evidência, caracteriza violação aos princípios da publicidade e da legalidade, assim como aos deveres de legalidade e

lealdade às instituições. De fato, pois além de importar em aberto e claro desrespeito

ao artigo 37 da Constituição Federal e aos artigos 27 e 234 da Constituição do Estado

177 - Cobrança de publicação da aludida lista pela imprensa e pelo Ministério Público, fls. 1489-1495, 1499-1505 e 1507-1508 do inquérito civil, e fls. 46, 48, 64 e 73-83 do Apenso 122 do inquérito civil.178 - Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil.

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do Paraná, não fazendo, o que a legislação exigia, a intenção era esconder a condição

de “servidores” de várias pessoas, era manter a falta de transparência e a dificuldade

de controles que reinavam no órgão que administravam.

Pelos mesmos fundamentos já anotados nos itens 3.4., 4.7., 5.7.,

6.5., 7.11., 8.5. e 9.6., essa consciente omissão, que importou em proposital ocultação,

por vários anos, da condição de “servidores” públicos de inúmeras pessoas, não está

de acordo com os padrões éticos internos da Administração Pública, nem com os

standards comportamentais esperados pela população, razão pela qual caracteriza

reiterado atentado ao princípio da moralidade e ao dever de honestidade, praticado

pelos requeridos Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e

Abib Miguel.

Evidentemente que, com a repetida prática desta conduta omissiva,

dolosa e ilícita, os requeridos acima nominados não foram leais com as instituições que

deveriam servir, de maneira que, por inúmeras vezes, ofenderam o dever de lealdade

às instituições.

Também pelos mesmos fundamentos consignados nos itens 3.4.,

4.7., 5.7., 6.5., 7.11., 8.5 e 9.6., a consciente relutância em publicar anualmente a

relação completa dos servidores do Poder Legislativo, indicando o cargo ou função e o

local de seu exercício, para fins de recenseamento e controle, conforme exige o artigo

234 da Constituição do Estado do Paraná, importou no cometimento, pelos requeridos

acima indicados, de reiterados atos visando fim proibido em lei e na repetida omissão

indevida de praticar atos de ofícios.

10.4. Portanto, até o ano de 2008, ao consciente e deliberadamente omitirem-se de publicar a listagem exigida pelo artigo 234 da Constituição Estadual, os réus Hermas Brandão, Nereu Moura, Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, nos períodos que exerceram importantes cargos de administração na Assembléia Legislativa, por várias vezes, cometeram atos de improbidade

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administrativa capitulados no artigo 11, caput e incisos I e II, da Lei nº 8.429/92, de modo que estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

11. DA “DIVULGAÇÃO” INCOMPLETA DA RELAÇÃO EXIGIDA PELO ARTIGO 234 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

11.1. Conforme consignado no item anterior, sentindo-se pressionados

pela insistência da imprensa e do Ministério Público, num dos diários avulsos de 31 de

março de 2009, foi “publicado” um arremedo da relação exigida no artigo 234 da

Constituição Estadual179.

Com efeito, a referida listagem foi incompleta, pois trouxe apenas o

nome dos servidores, sem indicar o cargo ou função e local de exercício, como

exige o artigo 234 da Constituição do Estado do Paraná.

Isto é, se mesmo alertados sobre a falta de transparência e sobre os

ilícitos relacionados a funcionários fantasmas, durante vários anos os altos dirigentes do

Poder Legislativo Estadual resistiram em apresentar a relação de funcionários, no ano

de 2009 deram cumprimento apenas parcial à Constituição do Estado do Paraná. Ou

seja, persistiram na intenção de ocultar o que podiam: se não era mais possível deixar

de “publicar” a relação de servidores determinada pela Carta Estadual, pelo menos

procuraram esconder os cargos, funções e locais de trabalho dos mais de dois mil e

quatrocentos “servidores” daquela Casa de Leis, dificultando os controles públicos e

sociais sobre o que acontecia no Parlamento Estadual.

11.2. Como justificativa para a incompletude da relação, com a omissão

da indicação dos respectivos cargos ou funções e locais de exercício, o requerido

Nelson Justus alegou que os dados exigidos pela Constituição Estadual não tinham

sido divulgados por uma “questão de segurança” 180.

179 - Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil. 180 - Fls. 1635-1636 do inquérito civil.

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Entretanto, a desculpa apresentada pelo requerido Nelson Justus não tem cabimento:

a) a uma, porque o descumprimento da obrigação trazida na Carta

Estadual somente poderia estar calcado numa suposta inconstitucionalidade, situação

que exigiria decisão fundamentada, o que não aconteceu, até porque tal

inconstitucionalidade não existe, pois tais informações estão abrangidas pelo princípio

da publicidade, previsto no artigo 37 da Lei Maior;

b) a duas, porque a indicação de cargos ou funções e locais de

trabalho não comprometeria a segurança dos servidores da Assembléia Legislativa,

pois os mesmos exercem funções meramente burocráticas, não desempenham

atribuições que os exponham a maiores riscos;

c) a três, porque a existência de diversos funcionários fantasmas,

práticas de nepotismo e clientelismo político-eleitoreiro, com pretensos “servidores”

trabalhando em verdadeiros comitês eleitorais travestidos de escritórios regionais,

evidenciam os reais motivos para a incompletude da referida listagem.

Portanto, está muito claro que o descumprimento da obrigação

prevista no artigo 234 da Constituição Estadual, com a omissão de divulgar cargos ou

funções e locais de trabalho dos mais de dois mil e quatrocentos “servidores” da

Assembléia Legislativa na relação “publicada” num dos Diários Avulsos de 31 de março

de 2009, foi consciente, teve o desiderato de esconder esses dados.

11.3. Como registrado nos itens 3.2., 4.5., 5.6., 6.2., 7.9., 8.3., 9.6. e 10.1.,

em razão dos deveres/poderes de administração enfeixados pelos respectivos cargos, a

determinação para publicação completa e correta da aludida relação compete ao

Presidente e ao Primeiro Secretário. Pelas funções de seu cargo, o Diretor Geral

também tem o dever de verificar a exatidão dessa listagem, inclusive alertando aqueles

membros da Comissão Executiva sobre incorreções e incompletudes no cumprimento

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das obrigações legais de cunho administrativo. Então, os requeridos Nelson Justus,

Alexandre Curi e Abib Miguel são os responsáveis pela dolosa incompletude da

relação de servidores “divulgada” num dos Diários Avulsos de 31 de março de 2009.

11.4. Pelos mesmos motivos elencados no item 10.3, a consciente e

deliberada omissão de divulgar cargos ou funções e locais de trabalho dos mais de

dois mil e quatrocentos “servidores” da Assembléia Legislativa, com a intenção de

esconder essas informações, dificultando os controles e mantendo a falta de

transparência, caracterizou violação aos princípios da legalidade, publicidade e

moralidade, assim como aos deveres de legalidade, honestidade e lealdade às

instituições. Também importou no cometimento de ato visando fim proibido em lei e

na omissão indevida de praticar ato de ofício.

11.5. Portanto, ao deliberadamente omitirem da relação exigida pelo artigo 234 da Constituição Estadual, “publicada” num dos diários avulsos de 31 de março de 2009, dados que dela deveriam obrigatoriamente constar, os réus Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, cometeram atos de improbidade administrativa previstos no artigo 11, caput e incisos I e II, da Lei nº 8.429/92, ficando sujeitos às penalidades previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

11.6. A relação “publicada” em 2010 também não satisfaz

completamente as exigências do artigo 234 da Constituição do Estadual, pois, embora

registre lotação e simbologias, não especifica com clareza cargo ou função e os locais

de trabalho. Porém, existem outras questões em relação a tal lista, que ainda estão

sendo investigadas. Assim, a presente ação não abrange a listagem de 2010.

12. DA “MANIPULAÇÃO” DA RELAÇÃO EXIGIDA PELO ARTIGO 234 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

“PUBLICADA” EM 31 DE MARÇO DE 2009

12.1. Além de incompleta, a relação de “servidores” constante de um dos

Diários Avulsos de 31 de março de 2009 foi maliciosamente preparada e

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manipulada, com a intenção de esconder a condição de “funcionários” da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná de diversas pessoas181.

É que, como retrata o Anexo XIV, setenta e dois “servidores” foram “exonerados” entre 1º de janeiro e 31 de março de 2009 e seus nomes não constaram da referida relação. Logo em seguida, entre 1º de abril e 30 de junho de 2009, esses setenta e dois servidores foram readmitidos. Ou seja, não podendo

mais deixar de “publicar” a relação dolosamente omitida durante vários anos, mas não

desejando revelar a condição de “servidores” daquelas setenta e duas pessoas e não

pretendendo exonerá-las, os requeridos Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel engendraram um malicioso artifício: exonerar tais pessoas, publicar a relação

sem os nomes delas e, logo em seguida, readmiti-las.

12.2. Além do fato das “exonerações” logo seguidas de readmissões já

evidenciar a intenção de ocultar da mencionada relação a condição de “servidores” das

setenta e duas pessoas listadas no Anexo XIV, diversas estratégias fraudulentas, a

seguir descritas, deixam ainda mais claro que o objetivo dos réus Nelson Justus,

Alexandre Curi e Abib Miguel era manter a opacidade do Parlamento Estadual e

ludibriar o povo paranaense.

12.2.1. Todas essas setenta e duas “exonerações” seguidas de novas

nomeações constam dos Diários Avulsos datados de 3 e 27 de fevereiro, 31 de março,

3 e 30 de abril, 29 de maio e 30 de junho de 2009, os quais somente foram

confeccionados entre 3 e 13 de agosto de 2009182.

181 - Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a lista “publicada” a pretexto de cumprir o artigo 234 da Constituição Estadual, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil. 182 - Diário Avulso de 3/2/2009, fls. 30-47 do Apenso 71; Diário avulso de 27/2/2009, fls. 2-17 e vº do Apenso 72; Diários avulso de 31/3/2009, fls. 213-227vº do Apenso 73; Diário avulso de 3/4/2009, fls. 39-61 do Apenso 74; Diário avulso de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75; Diário avulso de 29/5/2009, fls. 02-15 do Ap. 77; Diário avulso de 30/6/2009, fls. 02-14v° do Apenso 79 ao Inquérito Civil. Sobre a data de confecção desses diários, criptogramas grafados ao final, cadernos da Gráfica (fls. 229 do Apenso 4) e agenda usada por servidoras da Gráfica (fls. 61 do Apenso 4), conforme narrado no item 6 e ilustrado nos Anexos IV e V.

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Aliás, como se percebe, no dia 31 de março de 2009 existiram dois

diários avulsos. Um com a relação manipulada, impresso em 1º de abril de 2009, e

outro, contendo vários atos de “exoneração”, que só foi feito 13 de agosto de 2009183.

Qual a necessidade de dois diários avulsos com a mesma data?

Por que um foi feito no dia seguinte e outro somente meses depois?

Ora, está evidente que um deles, o que foi impresso no dia

seguinte, circulou ao menos internamente, pois através dele os requeridos nominados

neste item simularam o cumprimento do artigo 234 da Constituição Estadual; ao passo

que o outro, que tinha por objetivo preparar a aludida relação, só foi confeccionado

meses depois e nunca circulou, sequer internamente.

Portanto, esses fatos deixam claro que as “exonerações” e

readmissões foram montadas posteriormente, adequando-se à falsa relação

“publicada” em 31 de março de 2009, que teve o objetivo de ocultar da população, da

imprensa e dos demais órgãos públicos os nomes dessas pessoas.

12.2.2. Outra evidência que as “exonerações” e readmissões foram

montadas posteriormente, com o desiderato de fraudar a mencionada relação, é que

muitos dos atos de “exoneração” e nova nomeação dessas pessoas foram baseados

em protocolos datados de 26 de maio de 2009.

Além do caso de Eduardo Cleverson Bandeira, já mencionado no

item 7.5.3., letra b184, a mesma situação ocorreu com mais vinte e uma pessoas:

Carolina Pires dos Santos, Cintia Beal, Clori de Oliveira Gbur, Daniel Sutil de Oliveira,

Douglas Bastos Pequeno, Glória Sabino, Iara Rosane da Silva Matos, Ivanir Terezinha

Thibes, João Maria Vosilk, Joel Trevisan, José Devanir Bordignon, Leonardo Cleverson

Bandeira, Luciano Galo, Marlon Luccas Christian de Oliveira, Nair Tureta, Paulo

183 - Diários avulso de 31/3/2009, fls. 213-227vº do Apenso 73. Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civilSobre a data de confecção desses diários, ver cadernos da Gráfica às fls. 229 do Apenso 4.184 - Fls. 1597 e 1600-1601 do inquérito civil, assim como fls. 49-58 do Apenso 119 ao inquérito civil.

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Adriano Tavares, Pierre José Gbur, Rafaela Piekarki Hoebel Lopes do Santos,

Robinson Vicente Gradowski Rodrigues, Suzana Schripietcz R. Pires e Viviane Bastos

Pequeno185.

Assim sendo, fica claro que no dia 26 de maio de 2009, portanto

depois de “publicado” o simulacro da relação exigida pelo artigo 234 da Constituição do

Estado do Paraná, os requeridos Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel montaram a situação formal de várias das pessoas cujos nomes foram propositalmente

ocultados da aludida listagem.

12.2.3. Prova cabal que as “exonerações” e readmissões em questão

foram feitas com datas falsas e retroativas, é que em relação a, pelo menos, vinte e

cinco pessoas há incompatibilidade de datas, pois os atos de “exoneração” e/ou de nova nomeação são feitos com base em protocolos com datas futuras.

Além de Eduardo Cleverson Bandeira, referido no item 7.5.3., letra

b186, isso aconteceu, pelo menos, com mais vinte e quatro pessoas: Carolina Pires dos

Santos, Cecília Cobellache, Cintia Beal, Clori de Oliveira Gbur, Daniel Sutil de Oliveira,

Douglas Bastos Pequeno, Glória Sabino, Iara Rosane da Silva Matos, Ivanir Terezinha

Thibes, João Maria Vosilk, Joel Trevisan, José Devanir Bordignon, Juraci Cezar

Bezerra, Leonardo Cleverson Bandeira, Luciano Galo, Maria Lúcia Pereira, Marlon

Luccas Christian de Oliveira, Nair Tureta, Paulo Adriano Tavares, Pierre José Gbur,

Rafaela Piekarki Hoebel Lopes dos Santos, Robinson Vicente Gradowski Rodrigues,

Suzana Schripietcz R. Pires e Viviane Bastos Pequeno187.

185 - Fls. 89; fls. 124 e 135; fls. 157 e 161; fls. 185 do Apenso 118; fls. 22, 23 e 27; fls. 114 e 115; fls. 122, 123 e 126; fls. 131, 132 e 133; fls. 154; fls. 159 e 161; fls. 181, 183 e 184 do Apenso 119; fls. 47, 48 e 49; 69 e 70; fls. 158, 159 e 161; fls. 184 do Apenso 120; fls. 23, 24 e 25; fls. 32, 33 e 43; fls. 51 e 52; fls. 63 e 70; fls. 189 e 190; e, fls. 207, 208 e 215 do Apenso 121.186 - Fls. 1597 e 1600-1601 do inquérito civil, assim como fls. 49-58 do Apenso 119 ao inquérito civil. 187 - Fls. 89; fls. 103; fls. 124; fls. 161; fls. 185 do Apenso 118; fls. 22 e 23; fls. 114 e 115; fls. 122, 123 e 126; fls. 131, 132 e 133; fls. 146 e 154; fls. 161; fls. 181, 183 e 184 do Apenso 119; fls.18 e 19; fls. 47, 48 e 49; fls. 69 e 70; fls. 141; fls. 158, 159 e 161; fls. 184 do Apenso 120; fls. 23, 24 e 25; fls. 32, 33 e 43; fls. 51 e 52; fls. 63 e 70; fls. 189 e 190; e, fls. 207, 208 e 215 do Apenso 121.

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12.2.4. Em, pelo menos, dezesseis situações chegou-se a usar o mesmo

protocolo para “fundamentar” os atos de “exoneração” e readmissão.

Além de Eduardo Cleverson Bandeira, citado no item 7.5.3., letra

b188, isso ocorreu, pelo menos, como mais quinze pessoas: Cecília Cobellache,

Douglas Bastos Pequeno, Glória Sabino, Iara Rosane da Silva Matos, Ivanir Terezinha

Thibes, José Devanir Bordignon, Juraci Cezar Bezerra, Leonardo Cleverson Bandeira,

Luciano Galo, Maria Lúcia Pereira, Marlon Luccas Christian de Oliveira, Neilson

Rodrigues, Paulo Adriano Tavares, Pierre José Gbur e Viviane Bastos Pequeno189.

Ora, o fato da “exoneração” e readmissão estarem baseadas no

mesmo protocolo demonstra que ambas foram decidias no mesmo momento. Ou seja,

que a “exoneração” foi uma farsa, um estratagema ilícito para ocultar a condição de

“servidor” daquela pessoa.

12.2.5. Em pelo menos quatro casos a ausência de remuneração no mês

ou meses que a pessoa ficou fora da folha de pagamentos, para ter seu nome ocultado

da relação exigida pelo artigo 234 da Constituição Estadual, “publicada” em 31 de

março de 2009, foi compensada em meses seguintes.

a) Conforme se vislumbra de sua documentação, para que seu nome

não constasse da aludida relação, Carlos Eduardo Barreto de Souza foi “exonerado” a

partir de 1º de março de 2009 e readmitido um mês depois, a partir de 1º de abril de

2009, razão pela qual, como atesta sua ficha financeira, não recebeu a remuneração

inerente ao mês de março de 2009. Contudo, como a “exoneração” foi simulada, no

mês de maio de 2009, Carlos Eduardo recebeu R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos

reais) relativos à sua nova remuneração e mais R$ 2.000,00 (dois mil reais),

certamente correspondentes à remuneração de março de 2009190.

188 - Fls. 1597 e 1600-1601 do inquérito civil, assim como fls. 49-58 do Apenso 119. 189 - Fls. 102 e 103 do Apenso 118; fls. 22 e 23; fls. 114 e 115; fls. 122, 123 e 126; fls. 131, 132 e 133; fls. 181, 183 e 184 do Apenso 119; fls. 17 e 18; fls. 47, 48 e 49; fls. 69 e 70; fls. 140 e 141; fls. 158, 159 e 161 do Apenso 120; fls. 7; fls. 23, 24 e 25; fls. 32, 33 e 43; e, fls. 207, 208 e 215 do Apenso 121.190 - Fls. 80-83 do Apenso 118 ao inquérito civil.

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b) Flávio Berte da Costa Júnior foi “exonerado” de cargo em comissão

no Gabinete da Presidência, a partir de 1º de março de 2009 e não teve o nome

consignado na citada listagem. A partir de 1º maio de 2009 foi novamente nomeado,

agora na Primeira Secretária. Em junho retornou para o Gabinete da Presidência.

Ficou fora da folha de pagamentos nos meses de março e abril de 2009, mas a

ausência dessas remunerações foi parcialmente compensada no mês de junho de

2009191.

c) Para que seu nome não constasse da aludida relação, Juliano Gell

Pires foi “exonerado” a partir de 1º de março de 2009 e readmitido dois meses depois,

a partir de 1º de maio de 2009, num cargo em comissão no Gabinete da Presidência.

Não recebeu remuneração nos meses de março e abril de 2009. Entretanto, como a

“exoneração” foi uma fraude, nos meses de maio a junho de 2009, Juliano Gell Pires

recebeu a remuneração duplicada, sendo assim pagos os meses de março e abril de

2009192.

d) A partir de 1º de fevereiro de 2009, Rodrigo Rossi foi “exonerado”

de cargo em comissão na 1ª Secretaria. Mas, a partir de 1º de maio de 2009 foi

readmitido como servidor da Assembléia Legislativa. Não recebeu remunerações nos

meses de fevereiro, março e abril de 2009 e seu nome não constou na relação

“publicada” em 31 de março de 2009. Todavia, nos meses de maio, junho e julho teve

acréscimos de remuneração que demonstram ser compensações dos meses de

fevereiro, março e abril de 2009, quando formalmente não era servidor193.

Isso evidencia que as “exonerações” acima relacionadas, na

verdade, aconteceram apenas formalmente, que os atos administrativos que as

consignam são falsos, visaram apenas a manipulação da relação “publicada” em 31 de

março de 2009 a pretexto de cumprir o artigo 234 da Constituição Estadual.

191 - Fls. 87-91 do Apenso 119 ao inquérito civil.192 - Fls. 6-8 do Apenso 120 ao inquérito civil.193 - Fls. 76-87 do Apenso 121 ao inquérito civil.

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12.3. Registre-se, ainda, que em relação a quatro dessas pessoas os

atos de readmissão não foram publicados, sequer no obscuro Diário da Assembléia.

São os Atos nºs. 1327/09, provimento de Rafaela Piekarki Hoebel

Lopes dos Santos; 1334/09, provimento de José Devanir Bordignon na Diretoria Geral; 1335/09, provimento de Joel Trevisan; e, 1336/09, provimento de Suzana Schripietcz

R. Pires na Diretoria Geral; todos a partir de 1º de abril de 2009194.

12.4. Muito embora os motivos da ocultação dos nomes das setenta e

duas pessoas da relação de “servidores” “publicada” em 31 de março de 2009, a

pretexto de cumprir o disposto no artigo 234 da Constituição do Estado do Paraná,

sejam variados e não totalmente esclarecidos, o certo é que dentre tais pessoas estão

vários “funcionários fantasmas”, pelo menos: Carlos Girney Schabatura, Clori de

Oliveira Gbur, Douglas Bastos Pequeno, Eduardo Cleverton Bandeira, Gina Prevedelo

Pequeno, Iara Rosane da Silva Matos, Ivanir Terezinha Thibes Vieira, João Maria

Vosilk, José Devanir Bordignon, Leonardo Cleverson Bandeira, Luciano Galo, Marlon

Luccas Christian de Oliveira, Pierre José Gbur e Viviane Bastos Pequeno195.

12.5. Além de Gregório Honczarik, Eduardo Cleverton Bandeira, Gina

Prevedelo Pequeno, Douglas Bastos Pequeno e Pierre José Gbur, descritos nos itens

7.4.1., 7.5.3., 9.2. e 9.4., como exemplos dessa manipulação, cita-se os casos de

Clori de Oliveira Gbur, Cristine Nogueira Pinto Michelot e Giovana Maria Silva Campos.

12.5.1. A partir de 1º de setembro de 2007, pelo Ato 1907/07, Clori de

Oliveira Gbur foi nomeada para cargo em comissão na Diretoria Geral. Em 31 de

março de 2009, pelo Ato 1117/09, foi “exonerada” deste cargo a partir de 1º de março

de 2009. Seu nome não constou da relação de servidores “publicada” num dos diários

194 - Fls. 155 e 176 do Apenso 119; fls. 46 e 186 do Apenso 121 ao inquérito civil.195 - Reportagens de fls. 410, 713-717, 723-725, 733, 747, 748, 871, 897, 898, 939, 940, 948, 960, 961, 985, 986, 987, 960, 1003, 1005, 1010, 1011, 1061, 1067 e 1068 do inquérito civil. Depoimento de Douglas Bastos Pequeno, fls. 1324-1328 do inquérito civil. Petição inicial de ação civil pública por atos de improbidade administrativa, em relação ao caso de desvios de dinheiro público da folha de pagamentos da Assembléia Legislativa, usando nomes da Família Leal, fls. 1331-1397 do inquérito civil.

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avulsos de 31 de março de 2009. Apenas um mês depois, a partir de 1º de abril de

2009, foi readmitida como “servidora” da Assembléia Legislativa, pelo Ato 1319/09196.

O Ato 1117/09, que exonerou Clori a partir de 1º de março de 2009,

foi “publicado” no Diário Avulso de 3 de abril de 2009. O Ato 1319/09, que apenas um

mês depois nomeou novamente Clori “servidora” do Parlamento Estadual, foi inserido

no Diário Avulso de 30 de abril de 2009. Não por coincidência, os Diários Avulsos de 3

e 30 de abril de 2009 foram confeccionados no mesmo dia, 3 de agosto de 2009197.

12.5.2. A partir de 1º de janeiro de 2009, pelo Ato 122/09, Cristine

Nogueira Pinto Michelot foi nomeada para exercer cargo em comissão junto à Primeira Secretaria. Em 31 de março de 2009, através do Ato 1029/09, Cristine foi “exonerada”

deste cargo a partir de 1º de março de 2009. Seu nome não constou da relação de

servidores “publicada” num dos diários avulsos de 31 de março de 2009, a pretexto de

cumprir o artigo 234 da Constituição do Estado do Paraná. Apenas um mês depois, a

partir de 1º de abril de 2009, Cristine foi novamente nomeada como “servidora” da

Assembléia Legislativa, ainda na Primeira Secretaria, como se pode observar pelo Ato

1319/09198.

O Ato 1029/09, que exonerou Cristine Michelot a partir de 1º de

março de 2009, foi “publicado” no outro Diário Avulso do dia 31 de março de 2009. O

Ato 1257/09, pelo qual, apenas um mês depois, Cristine foi readmitida como “servidora”

do Parlamento Estadual, foi inserido no Diário Avulso datado de 30 de abril de 2009.

Conforme já enfatizado acima, o Diário Avulso de 30 de abril de 2009 foi confeccionado

apenas no dia 3 de agosto de 2009 e o Diário Avulso de 31 de março de 2009 somente

foi formatado em 13 de agosto de 2009199.196 - Fls. 152-163 do Apenso 118 ao inquérito civil. Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73.197 - Diários Avulsos de 3/4/2009 e 30/4/2009, às fls. 39-61v° do Apenso 74, e, às fls. 100-110 do Apenso 75, do inquérito civil, respectivamente. Sobre a data em que, de fato, foram feitos os diários avulsos, ver criptogramas ao final de cada diário e cadernos de controle de confecção de diários (fls. 229 do Apenso 4 do inquérito civil), conforme estampado no item 6 e Anexos IV e V.198 - Fls. 164-181 do Apenso 118 ao inquérito civil. Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil.199 - Diários Avulsos de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75. Diário Avulso de 31/3/2009, fls. 213-227 do Apenso 73. Sobre a data em que, de fato, foram feitos os diários avulsos, ver criptogramas ao final de

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12.5.3. A partir de 1º de fevereiro de 2007, conforme se pode notar pelo

Ato 675/07, Giovana Maria Silva Campos foi nomeada para exercer cargo em comissão

no Gabinete da Presidência. Em 31 de março de 2009, pelo Ato 1052/09, Giovana foi

“exonerada” deste cargo em comissão a partir de 1º de março de 2009. Seu nome não

constou da relação de servidores “publicada” num dos diários avulsos de 31 de março

de 2009. Apenas um mês depois, a partir de 1º de abril de 2009, Giovana foi readmitida

como “servidora” da Assembléia Legislativa, ainda no Gabinete da Presidência, como

se pode notar pelo Ato 1285/09200.

O Ato 1052/09, que “exonerou” Giovana a partir de 1º de março de

2009, foi “publicado” no outro Diário Avulso de 31 de março de 2009. O Ato 1285/09,

que um mês depois readmitiu Giovana, foi inserido no Diário Avulso de 30 de abril de

2009. Como salientado, o Diário Avulso de 30 de abril de 2009 foi feito em 3 de agosto

de 2009 e o Diário Avulso de 31 de março de 2009 em 13 de agosto de 2009201.

12.6. Como referido nos itens 10.2. e 11.3., a obrigação de publicar

corretamente essa relação e velar pela sua exatidão era dos réus Nelson Justus,

Alexandre Curi e Abib Miguel, pois entre janeiro e agosto de 2009 exerciam,

respectivamente, os cargos de Presidente, Primeiro Secretário e Diretor Geral da

Assembléia Legislativa. Portanto, são esses três os responsáveis pela fraude ocorrida

com a relação “publicada” em 31 de março de 2009, tratada neste item.

Os próprios fatos, aliados à já citada ciência sobre a falta de

transparência e a ocorrência de ilícitos relacionados a funcionários fantasmas que

campeavam na Assembléia Legislativa, já revelam a consciência e má-fé desses réus.

cada diário e cadernos de controle de confecção de diários (fls. 229 do Apenso 4 do inquérito civil), conforme estampado no item 6 e Anexos IV e V.200 - Fls. 106-111 do Apenso 119 ao inquérito civil. Diário Avulso de 31/3/2009, contendo a decantada “lista da transparência”, às fls. 202-212 do Apenso 73 ao inquérito civil.201 - Diários Avulsos de 30/4/2009, fls. 100-110 do Apenso 75. Diário Avulso de 31/3/2009, fls. 213-227v° do Apenso 73. Sobre a data em que, de fato, foram feitos os diários avulsos, ver criptogramas ao final de cada diário e cadernos de controle de confecção de diários (fls. 229 do Apenso 4 do inquérito civil), conforme estampado no item 6 e Anexos IV e V.

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Ademais, deve-se considerar que, das setenta e duas pessoas

cujos nomes foram propositalmente escondidos da relação “publicada” em 31 de março

de 2009, apenas nessa manobra, onze passaram pelo Gabinete da Presidência202,

treze pela 1ª Secretaria203 e nove pela Diretoria Geral204, conforme ilustra o Anexo XIV e demonstram os documentos encartados nos Apensos 118 a 121.

Outrossim, especificamente com relação ao requerido Nelson Justus deve-se acrescentar que o mesmo proferiu declarações jactando-se da

implantação de transparência no Parlamento Estadual, assim como sobre a relação de

servidores exigida pelo artigo 234 da Constituição do Estado do Paraná205.

O mesmo, ainda que tenha excluído da lista servidores de seu

próprio gabinete, portanto absolutamente ciente das ilícitas exclusões, chegou ao

cúmulo de argumentar que: “tornar a Assembléia transparente é uma questão de

honra, ‘fiz um discurso e assumi um compromisso que se não cumprir colocará minha

gestão em xeque, assumi um compromisso público que todo mundo viu, agora eu

tenho que fazer’ afirmou o Deputado”, “vai ser a Assembléia mais transparente do

país.”; e “nós estamos concluindo mais uma etapa do projeto de transparência da

Assembléia Legislativa e, dessa forma, cumprimos um preceito constitucional”206.

Aliás, o envolvimento do requerido Nelson Justus com a

preparação e “publicação” da mencionada relação de “servidores” era tanto que o

mesmo, esperançoso que as ilicitudes não fossem descobertas, chegou a dizer: “Deus

me ilumine que não tenha nenhum funcionário fora dessa lista”207. 202 - Carla Veridiana Silva Noll, Carlos Girney Schabatura, Celso Luiz de Souza Cordeiro, Edevanir Moreno Góis, Felipe Leopoldo Loyola, Flávio Berte da Costa Júnior, Giovana Maria Silva Campos, Gregório Honczarik, Juliano Gell Pires, Ricardo Alexandre Pagliaci e William Carlo Cordeiro.203 - Adriana Castelo Branco Vidal, Andréia Maria Sanson Corat, Cristine Nogueira Pinto Michelot, Daniela Savade de Carvalho, Flávio Meheb Calixto Barbosa, Flávio Berte da Costa Júnior, Gina Prevedelo Pequeno, Juraci Cezar Bezerra, Maérlio Fernandes Barbosa, Maurício Alves de Lima, Paola Spréa Carrijo, Robinson Vicente Gradowski Rodrigues, Rodrigo Rossi, Susan Liz Bordin e William Carlo Cordeiro.204 - Clori de Oliveira Gbur, Ivanir Terezinha Thibes Vieira, Joeli Machado, José Devanir Bordignon, Luciano Galo, Marlon Luccas Christian de Oliveira, Nielson Rodrigues, Pierre José Gbur e Suzana Schripietcz R. Pires.205 - Fls. 636, 1247, 1489-1495, 1505, 1636 e 1646 do inquérito civil. 206 - Fls. 1505, 1636 e 1646 do inquérito civil. 207 - Fls. 1646 do inquérito civil.

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12.7. Em face do explanado neste item, até pelos estratagemas

descritos, é fácil concluir que a “exoneração” de setenta e duas pessoas entre 1º de

janeiro e 31 de março de 2009, logo seguida de readmissão entre 1º de abril e 30 de

junho de 2009, teve a nítida intenção de esconder o nome destas pessoas da lista

“publicada” num dos diários avulsos de 31 de março de 2009, a pretexto de cumprir o

artigo 234 da Constituição Estadual. Assim, por evidente, esta maliciosa manobra que

importou em deliberada intenção de manter a falta de transparência que imperava na

Assembléia Legislativa caracterizou violação ao princípio da publicidade.

Obviamente, essa conduta é proibida por lei, até porque ofendeu

não só o artigo 234 da Constituição Estadual, que foi dolosamente contornado, como o

previsto no artigo 37 da Constituição Federal e no artigo 27 da Carta Paranaense.

Portanto, os requeridos Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, ofenderam o princípio e o dever de legalidade.

Inclusive pelo grau de má-fé, tal atitude ardilosa não está de acordo

com as regras internas da Administração nem com os standards comportamentais que

a sociedade deseja. Destarte, os réus acima citados não se conduziram como bons

administradores, não agiram com lealdade e boa-fé, não observaram a lei e padrões

éticos. Seus comportamentos não estão em conformidade com a moral jurídica,

tampouco com a moral comum, razão pela qual constituíram atentado ao princípio da

moralidade e ao dever de honestidade.

Com a prática dessas condutas fraudulentas, os réus acima

nominados também atentaram contra o dever de lealdade às instituições.

Além da violação aos princípios e deveres que regem a

Administração Pública, as condutas ilícitas e fraudulentas descritas neste item

importaram em desrespeito aos deveres funcionais previstos nos artigos artigo 5º, II; 6º;

7º e 8º; do Decreto Legislativo nº 52/84, assim como nos artigos 18, II, e, 20, do

Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná. Então, tais

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requeridos praticaram ato visando fim proibido em lei e deixaram indevidamente de

praticar atos de ofício.

12.8. Portanto, os requeridos Nelson Justus, Alexandre Curi e Abib Miguel, ao maliciosa e fraudulentamente manipularem a relação de servidores “publicada” num dos Diários Avulsos de 31 de março de 2009, a pretexto de cumprir o disposto no artigo 234 da Constituição Estadual, cometeram atos de improbidade administrativa capitulados no artigo 11, caput e incisos I e II, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual estão sujeitos às penas previstas no artigo 12, III, da mesma lei.

13. DA JUNTADA DE CÓPIA DOS DOCUMENTOS APREENDIDOS E DA NECESSIDADE DE INSPEÇÃO JUDICIAL NOS ORIGINAIS

Como consignado, o r. Juízo Criminal da Vara de Inquéritos

Policiais deferiu pedido de busca e apreensão nas dependências da Assembléia

Legislativa. Em cumprimento aos mandados, foram apreendidos documentos naquela

Casa de Leis. Dentre eles destacam-se pastas da Diretoria de Pessoal, onde eram

registrados atos da Comissão Executiva; cadernos da Gráfica, onde eram lançados os

Diários da Assembléia confeccionados, apontados suas datas e outras indicações;

listas de atos enviados para publicação e agendas usadas por servidoras da Gráfica

para anotar situações de trabalho. Foi requerido e deferido pedido de compartilhamento

de provas, tendo em vista que muitos dos documentos apreendidos interessam para

várias ações, inclusive para apuração de atos de improbidade administrativa208.

Algumas das situações descritas nesta inicial, como rasuras,

escritas por baixo de corretivos e sulcos de linhas sinuosas a lápis, só podem ser vistas

nos originais. Mas, como se disse, os documentos interessam a várias ações. Além

disso, não admitem uma autuação convencional, algumas anotações correm risco de

ser apagadas e há necessidade de envio de peças originais ao Instituto de

208 - Cópia dos mandados de busca e apreensão, do pedido e do deferimento do compartilhamento de provas, e, termos de apreensão dos documentos juntados, fls. 1562-1576 do inquérito civil.

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Criminalística para perícia grafotécnica. Assim, entendeu-se por bem juntar cópias dos

aludidos documentos, conservando-se os originais com o Ministério Público209.

Considerando tais peculiaridades, com fundamento nos artigos 440

e seguintes do Código de Processo Civil, se faz necessária a realização de inspeção judicial nos originais dos aludidos documentos. O autor coloca-se à disposição para,

quando houver determinação desse r. Juízo, levar os documentos apreendidos.

14. DA DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA

Conforme se pode observar na Portaria de instauração do inquérito

civil em anexo, o mesmo foi instaurado com base em vários documentos extraídos do

Inquérito Civil nº 194/2008, que deu origem à Ação Civil Pública nº 9.281/2010,

ajuizada perante o r. Juízo da 3ª Vara da Fazenda Pública desta Capital210.

Ademais, analisando a inicial da citada ação civil pública, nota-se

parcial identidade da causa de pedir, razão pela qual há conexão entre as demandas,

conforme prescreve o artigo 103 do Código de Processo Civil.

Vale dizer, a ilicitude que se apurou deu origem a duas ações

conexas. A primeira, ajuizada com o propósito de sanar problemas de falta de

transparência. A segunda, que ora se ajuíza, com o fim de punir os responsáveis pelas

mesmas ilicitudes. Daí a conexão e a necessidade de julgamento simultâneo.

15. DO PEDIDO

Diante do que foi exposto, o Ministério Público do Estado do

Paraná, lembrando que não obstante cada uma das situações descritas nos itens 3 a

12 caracterize ilícitos autônomos, é o conjunto delas que evidencia a total ciência e má

209 - Documentos constantes dos Apensos 1, 2, 3 e 4.210 - Portaria de instauração, fls. 2-3 do inquérito civil. cópia da inicial e da decisão liminar de ação civil pública, Autos nº 9281/2010, da 3ª Vara da Fazenda Pública, às fls. 642-692 e 693-698 do inquérito civil.

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intenção, portanto dolo, dos requeridos em manter a falta de transparência na

Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, no uso de suas atribuições

constitucionais e legais, requer o que segue.

15.1. A distribuição por dependência à 3ª Vara da Fazenda Pública

desta Capital, tendo em vista a conexão com os autos nº 9.281/10, de ação civil pública

em face da Assembléia Legislativa, como argumentado no item 14.

15.2. A notificação dos requeridos, para, querendo, oferecer

manifestação por escrito, no prazo de quinze dias, como preceitua o artigo 17, § 7°, da

Lei nº 8.429/92211.

Caso seja necessário, a aplicação das disposições do artigo 172, §

2º, do Código de Processo Civil.

15.3. Posteriormente, o recebimento da petição inicial, processando-se

o presente pedido pelo rito ordinário, como prevê o artigo 17, caput, da Lei nº 8.429/92.

15.4. A citação dos requeridos, por meio de Oficial de Justiça, para,

querendo, apresentar contestação, no prazo legal, sob pena de revelia, como dispõe o

artigo 17, § 9º, da Lei nº 8.429/92.

15.5. Na forma do disposto no artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92, a

notificação do Estado do Paraná, na condição de pessoa jurídica interessada, para

que, desejando, integre a lide.

15.6. A produção de todos os meios de prova em direito admitidos,

especialmente inspeção judicial nos documentos apreendidos (item 13); depoimento

pessoal dos requeridos; ouvida de testemunhas oportunamente arroladas; juntada de

laudos grafotécnicos a ser feitos pelo Instituto de Criminalística ou outra entidade

211 - Parágrafo acrescentado pela Medida Provisória 2.225-45/2001.

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habilitada; perícias e a juntada de novos documentos que, eventualmente, se fizerem

necessários.

15.7. Seja julgado procedente o presente pedido de provimento

jurisdicional, para:

a) em razão da reiterada omissão de publicação dos atos do Poder Legislativo paranaense no Diário Oficial do Estado e na internet, como impõe a Lei Estadual nº 14.603/2004, conforme descrito no item 3, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura e Abib Miguel nas penas previstas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, conscientemente, por várias vezes, praticaram condutas omissivas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

b) em virtude da inacessibilidade ao Diário da Assembléia, tablóide de “divulgação” dos atos do Poder Legislativo paranaense, conforme foi narrado no item 4, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura e Abib Miguel nas sanções elencadas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, dolosamente, por várias vezes, de maneira comissiva e/ou omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

c) em face da inserção de atos de investidura e exoneração de servidores em edições avulsas do Diário da Assembléia, conforme foi explanado no item 5, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura e Abib Miguel nas penalidades dispostas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo

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em vista que, propositalmente, por várias vezes, de maneira comissiva e/ou omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

d) em razão da confecção de edições avulsas do Diário da

Assembléia com datas falsas e retroativas, conforme foi descrito no item 6, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura, Abib Miguel, Cinthia Beatriz Fernandes Luiz Molinari, Cláudio Marques da Silva e Luiz Carlos Monteiro nas penalidades estabelecidas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, conscientemente, por várias vezes, de forma comissiva e/ou omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, descritos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

e) diante da confecção, registro e/ou assinatura de atos oficiais com datas falsas e retroativas, bem como de adulterações, rasuras e/ou inserções de informações inverídicas em documentos públicos, conforme foi narrado no item 7, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura, Abib Miguel e Cláudio Marques da Silva nas sanções elencadas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, dolosamente, por várias vezes, comissiva e/ou omissivamente, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

f) em razão da confecção, registro e/ou assinatura de atos com datas falsas e retroativas, bem como de adulterações, rasuras e/ou inserções de informações inverídicas em documentos públicos, conforme foi explanado no item 7, condenar os requeridos Geraldo Cartário Ribeiro, Cléia Lúcia Pereira Carazzai e Taís Serafim Souza da Costa nas penas estabelecidas no artigo 12, III,

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da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, propositalmente, por várias vezes, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I e IV, da Lei nº 8.429/92;

g) em virtude da “publicação” de atos oficiais com muito atraso e/ou com longos efeitos retroativos, como descrito no item 8, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura, Abib Miguel, Cinthia Beatriz Fernandes Luiz Molinari e Cláudio Marques da Silva nas penalidades elencadas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, conscientemente, por várias vezes, de maneira comissiva e/ou omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, descritos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

h) em face da ausência de publicação de atos oficias da Assembléia Legislativa, conforme foi narrado no item 9, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves de Moura, Abib Miguel, Cinthia Beatriz Fernandes Luiz Molinari e Cláudio Marques da Silva nas sanções previstas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, dolosamente, por várias vezes, de forma omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, previstos no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92;

i) diante da reiterada omissão em publicar a relação de “servidores” com indicação de cargos ou funções e locais de exercício, como exige o artigo 234 da Constituição Estadual, conforme foi explanado no item 10, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury, Hermas Eurídes Brandão, Nereu Alves Moura e Abib Miguel nas penalidades estabelecidas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que,

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propositalmente, praticaram condutas omissivas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I e II, da Lei nº 8.429/92;

i) em razão da incompletude e insuficiência da listagem “publicada” num dos diários avulsos datados de 31 de março de 2009, a pretexto de dar cumprimento ao disposto no artigo 234 da Constituição do Estado do Paraná, uma vez que foram omitidos os cargos ou funções e os locais de exercício dos respectivos “servidores’, conforme foi descrito no item 11, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury e Abib Miguel nas penas estabelecidas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, conscientemente, de forma comissiva e/ou omissiva, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, descritos no artigo 11, caput e incisos I e II, da Lei nº 8.429/92;

j) em virtude da manipulação da relação “publicada” em 31 de março de 2009, a pretexto de dar cumprimento ao disposto no artigo 234 da Constituição Estadual, conforme foi narrado item 12, condenar os requeridos Nelson Roberto Plácido Silva Justus, Alexandre Maranhão Khury e Abib Miguel nas sanções previstas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, tendo em vista que, dolosamente, de maneira comissiva e/ou omissivamente, praticaram condutas que caracterizam atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública, capitulados no artigo 11, caput e incisos I, II e IV, da Lei nº 8.429/92.

16. VALOR DA CAUSA

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Nestes termos,

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Page 110: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · especialmente pela série de reportagens denominada Diários Secretos, fls. 410 e 703-1207 do inquérito civil. Cópia

pede deferimento.

Curitiba, 10 de março de 2011.

Cláudio Smirne Diniz Maria Lúcia Figueiredo Moreira

Promotor de Justiça Promotora de Justiça

Mário Sérgio de Albuquerque Schirmer Paulo Ovídio dos Santos Lima

Procurador de Justiça Promotor de Justiça

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