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M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SUBS EÇÃO
JUDICIÁRIA DE PARANAGUÁ-PR
“(...) Para a implantação do Empreendimento em questão, haveria a necessidade de corte raso de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções em áreas de mangues e de preservação permanente no entorno de corpos hídricos, o que é vedado, não só pela Lei da Mata Atlântica, mas também pelo Código Florestal (arts. 3º e 4º), mesmo porque, o empreendimento aqui tratado não está se enquadrando nos casos de obras, planos, atividades ou projetos considerados de utilidade pública ou de interesse social. Além disto, existem alternativas locacionais para a sua implantação. Restou também constatado in loco, que todo o imóvel apresenta uma camada de material de origem vegetal, parcialmente decomposto denominado de ‘turfa’. A retirada deste material, implica na movimentação de solo, com posterior aterramento com materiais provenientes de outros locais/empréstimo, provocando sérias alterações de todo a dinâmica não só do local em si (necessário para abrigar um empreendimento), mas de todo o seu entorno. Fato idêntico, ocorreria em relação à abertura de estradas e com a construção de ponte para acessar o imóvel conforme previsto no EIA/RIMA, mesmo que parcialmente existentes. (...) Da própria leitura do EIA/RIMA, resta esclarecido que o local pretendido para a instalação do Empreendimento é caracterizada como uma importante ‘área de conservação’, visto abrigar espécimes de fauna ameaçados de extinção, as quais, evidentemente, com as intervenções no local, sofrerão ainda mais ameaças. Cabe destacar ainda que o local está inserido em zona de amortecimento de uma importante Unidade de Conservação do Estado do Paraná, qual seja, a Estação Ecológica Guaraguaçu (...) Assim, independentemente da demanda que discute, inclusive, a competência para o licenciamento em questão e em face das vedações legais e técnicas já citadas, opinamos pelo indeferimento do licenciamento pleiteado, com a conseqüente remessa dos procedimentos e do EIA/RIMA ao IBAMA para análise e considerações devidas”1.
O MINISTÉRIO PÚBLICO, presentado pelos
Promotores de Justiça representantes do Ministério Público do
Estado do Paraná 2 e pelo Procurador da República
representante do Ministério Público Federal 3 em Paranaguá, no
exercício de suas atribuições legais, com arrimo no conjunto
probatório colhido no procedimento administrativo d e autos
nº 1.25.007.000170/2010-80, vem, à presença de Voss a
1 Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010 do Instituto Ambiental do Paraná, emitido em 22 de julho de 2010. 2 2ª Promotoria de Justiça da comarca de Paranaguá, com endereço na avenida Gabriel de Lara, 771, Fórum, município de Paranaguá; e Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente em Curitiba, na rua Marechal Floriano, 1251, Rebouças, Curitiba/PR; 3 Procuradoria da República, com endereço na rua Rodrigues Alves, 800 – Conjunto 1004 – Centro Histórico – Paranaguá/PR.
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Excelência, com fulcro nos artigos 127, 129 e 225 d a
Constituição Federal, Lei n.º 7.347/85, Lei n.º 6.9 38/81,
propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA , com pedido de
antecipação liminar dos efeitos das tutelas jurisdi cionais
pretendidas , em face de
SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA. ,
pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ MF sob o nº
04.954.351/0001-92, com sede em Niterói,
Estado do Rio de Janeiro, à rua
Engenheiro Fábio Goulart, nº 1555;
INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ,
pessoa jurídica de direito público, na
pessoa de seu Diretor-Presidente LUIZ
TARCÍSIO MOSSATO PINTO, com sede na rua
Engenheiro Rebouças, nº 1206, Curitiba –
Paraná;
MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ,
pessoa jurídica de direito público, com
sede na rua Engenheiro Rebouças, nº 1206,
Pontal do Paraná – Paraná;
Pelas razões de fato e de direito que se
passa a aduzir:
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I - DO OBJETO
1.1. DO OBJETO DA LIMINAR
Na presente Ação Civil Pública pleiteia o
Ministério Público provimento jurisdicional de cará ter
liminar e urgente consistente, dentre outros, na de terminação
de abstenção de qualquer obra ou atividade no imóve l em que a
empresa ré SUBSEA 7 pretende implantar uma Base de Montagem
de Tubos Rígidos para apoio à extração de petróleo e gás
natural, contendo um píer marítimo para navios de g rande
porte, para evitar a continuidade do flagrante desc umprimento
da legislação ambiental e urbanística e o advento d e danos
ambientais irreparáveis ou de difícil reparação (de ntre
outros o corte raso de aproximadamente 45 hectares de
Floresta Atlântica, abrangendo intervenções em área s de
preservação permanente – manguezais e entorno de co rpos
hídricos), além dos riscos causados pelo significat ivo
impacto degradador da implantação do empreendimento aos
biomas lá existentes.
Deduz, ainda, pedido de antecipação dos
efeitos da tutela pretendida para que seja declarad a,
liminarmente, a suspensão da validade dos licenciam entos
ambientais irregularmente concedidos pelo réu Instituto
Ambiental do Paraná (IAP) e das anuências prévias e alvarás
emitidos ilegalmente pelo requerido Município de Pontal do
Paraná .
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1.2. DO OBJETO PRINCIPAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA
O objeto principal da presente Ação Civil
Pública é o de condenar a ré SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS
LTDA. na obrigação de não fazer consistente em se abster da
prática de qualquer obra ou atividade no imóvel em comento;
bem como, em qualquer caso e em responsabilidade so lidária e
integral com os réus INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ e
MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ, à obrigação de reparar
integralmente os danos ambientais e socioambientais causados,
conforme pedidos constantes alhures.
Ainda, no mérito, objetiva-se obter a
declaração de nulidade, em relação ao empreendiment o em
questão, de todos os procedimentos de licenciamento
ambiental realizados pelo réu IAP , e dos procedimentos
administrativos que originaram as anuências prévias e
alvarás emitidos pelo réu MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ , uma
vez que flagrantemente eivados de vícios.
Ressalta-se que a presente ação civil
pública, em termos de causa de pedir, enfoca princi palmente
os aspectos ambientais, haja vista que o componente indígena
e do patrimônio histórico serão objeto de apuratóri os
próprios, com eventuais ações civis públicas decorr entes,
sem considerar ações criminais e imputações de atos ímprobos
que serão objeto de ações próprias, conforme último despacho
lançado nos autos do Procedimento Administrativo.
II - DA ATUAÇÃO CONJUNTA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL
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Cumpre ressaltar ainda que a Lei 7.347/85
admite, em seu artigo 5º, §5º, a propositura de Açã o Civil
Pública conjunta entre o Ministério Público Federal e
Estadual:
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). (…) § 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990)
Nesse sentido já se posicionou o Superior
Tribunal de Justiça:
EMENTA - PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL - POSSIBILIDA DE - § 5º, DO ART. 5º DA LEI 7.347⁄85 - INOCORRÊNCIA DE VETO - PLENO VIGOR . 1. O veto presidencial aos arts. 82, § 3º, e 92, § único, do CDC, não atingiu o § 5º, do art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. Não há veto implícito. 2. Ainda que o dispositivo não estivesse em vigor, o litisconsórcio facultativo seria possível sempre que as circunstâncias do caso o recomendassem (CPC, art. 46). O litisconsórcio é instrumento de Economia Processual. 3. O Ministério Público é órgão uno e indivisível, antes de ser evitada, a atuação conjunta deve ser estimulada. As divisões existentes na Instituição não obstam trabalhos coligados. 4. É possível o litisconsórcio facultativo entre órgãos do Ministério Público federal e estadual⁄distrital. 5. Recurso provido. (STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 382.659 - RS (2001⁄0142564-5) - Dezembro de 2003 – RELATOR: MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS) (Grifamos)
Os signatários entendem que, não obstante
a Lei nº 7347/85 utilize da categoria jurídica
litisconsórcio, pelo princípio da unidade e indivis ibilidade
do Ministério Público, todas as manifestações serão
conjuntas, não havendo a necessidade de duplicidade nos
pronunciamentos e prazos processuais. No entanto, f orte no
princípio da independência funcional, ressalvam-se
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entendimentos diversos de eventuais sucessores dos atuais
“Promotores naturais”.
III – DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS GERAIS
A ré SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA.
pretende instalar, em imóvel pertencente à União – vide anexo
ofício nº087/2010/DIIFI/SPU/PR – “terreno totalment e de
marinha, por tratar-se de ilha costeira” – (fl. 23 dos autos
principais) , situado na Ilha Guaraguaçu, no município de
Pontal do Paraná/PR, uma Base de Montagem de Tubos Rígidos
para apoio à extração de petróleo e gás natural, co ntendo um
píer marítimo para navios de grande porte. Consoant e o teor
do pleito de licença prévia apresentado pela empresa ré, a
pretensão é de ocupação de 45 hectares, o que equiv ale a
450.000 m2 (quatrocentos e cinqüenta mil metros qua drados).
Frise-se que essa extensão de área de ocupação pret endida
pela empresa ré corresponde aproximadamente à área total do
Porto de Antonina, somando-se as áreas do Terminal Barão de
Teffé e Terminal Ponta do Felix.
Por ser o local de relevante interesse de
preservação ambiental, seja pelos relevantes ecossi stemas que
o compõem, seja em decorrência de diversos e graves vícios no
Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de I mpacto
Ambiental (EPIA/RIMA) apresentado; seja pela conces são de
Licença Prévia ao empreendimento pelo ex-Diretor Pr esidente
do réu Instituto Ambiental do Paraná , contrariando Parecer
Técnico-Jurídico exarado por especialistas do própr io órgão;
seja pela afetação de Unidade de Conservação e pela pretensa
supressão de significativa extensão Floresta Atlânt ica em
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estágio médio e avançado de regeneração, além das p revistas
intervenções em áreas de preservação permanente – m anguezais,
restingas e entorno de corpos hídricos; pelo local albergar
vegetação do bioma Mata Atlântica e não ser o empre endimento
de utilidade pública ou de relevante interesse soci al; pela
região ser habitat natural de várias espécies ameaçadas de
extinção; dentre outras importantes razões a seguir expostas,
os presentes pleitos liminares objetivam que o proc esso de
licenciamento ambiental seja obstado e que o aludid o
empreendimento seja impedido de se instalar no luga r
almejado.
Já no mês de setembro de 2009, o
Ministério Público do Estado do Paraná recomendou a o
Instituto Ambiental do Paraná que negasse a licença ambiental
ao empreendimento sob análise, considerando, sobret udo:
I) que a ilha Guaraguaçu está inserida
em um importante remanescente de Mata Atlântica, bi oma que
constitui patrimônio nacional definido pela Constit uição
Federal;
II) o Decreto Estadual 2722/1984 que
define as ilhas fluviais como área de maior restriç ão para
ocupação;
III) que as faixas de terreno lindeiras à
linha de contorno da baía de Paranaguá também são á reas
definidas como de maior restrição de ocupação;
IV) a presença de sambaquis na região,
que delimita o uso do espaço;
V) a presença de populações
tradicionais no entorno;
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VI) que atividades industriais não são
permitidas em áreas de maior restrição no litoral d o Paraná,
como acima elencado;
VII) a importância do local para a
reprodução e sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção;
VIII) que o Plano Diretor do
Município de Pontal do Paraná não define o local co mo Zona
Industrial;
IX) a fragilidade ambiental do
ecossistema, reconhecida no RIMA;
Na mesma esteira, em maio de 2010 o
Ministério Público Federal redigiu Recomendação con junta com
o Ministério Público Estadual para que o processo d e
licenciamento da empresa ora requerida fosse encami nhado à
presidência do IBAMA, ressaltou-se a patente fragil idade
ambiental da área em comento e o caráter significat ivamente
degradador da implantação do empreendimento:
I) que há pretensão de corte raso de
Mata Atlântica e impacto em zona costeira, ambos pa trimônios
nacionais;
II) que o empreendimento prevê a
possibilidade de realização de dragagem de aprofund amento,
que compete ao IBAMA. Nesse sentido, o IAP dispõe n o
protocolo nº 07.410.775-3 que “Também poderá haver a
necessidade de dragagem durante a implantação ou op eração do
empreendimento” ;
III) que há relato da existência de
terras indígenas na área do empreendimento (Sambaqu i e Ilha
da Cotinga);
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IV) que foi registrada pelo IPHAN a
presença de 9 sambaquis, sendo que há 5 dentro dos limites da
propriedade da empresa;
Trata-se, assim, de pretenso
empreendimento portuário passível de causar signifi cativo
impacto ambiental, inclusive regional, o qual se pr etende
instalar em área de fragilidade ambiental.
A implantação e operação do
empreendimento gerará uma série de impactos ambient ais tanto
no meio físico quanto no meio biótico. Tais impacto s se
referem, principalmente, à modificação do ambiente natural,
com a supressão de significativa extensão de
vegetação/floresta, inclusive em áreas de preservaç ão
permanente, e construção de edificações e estrutura s
marítimas e de estradas de acesso, com a emissão de ruídos e
material particulado, além da criação de barreiras e risco de
atropelamento da fauna.
Transcrevemos alguns trechos do Estudo de
Impacto Ambiental que bem exemplificam tal situação :
“7.2.2 – Impactos relacionados ao meio biótico Diferentemente do meio físico, no qual, na fase
de operação, há uma tendência de estabilização dos ambientes alterados, os impactos relacionados ao meio biótico tenderão a permanecer durante a fase de operação, mesmo que com menos intensidade.
(...) Impactos relacionados à flora A mata a ser diretamente afetada é representada
por faixas onde predominam espécies nativas características de estágio inicial e médio de desenvolvimento, como regeneração de espécies. O impacto decorrente da supressão dessas faixas de mata nativa é de alta magnitude, pois, além de abranger área de preservação permanente, essa vegetação tem uma relação direta com a fauna local.
(...) Na porção submersa poderá haver distúrbios na
comunidade fitoplanctônica pela modificação da hidrodinâmica local e
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suspensão de sedimentos durante as obras de construção da ponte, cais, píer, o que pode interferir na qualidade da água estuarina.
Impactos relacionados à fauna Os impactos relacionados à fauna serão
observados primeiramente na área de implantação da Base de Soldagem Paranaguá – ADA - com reflexos na área de propriedade da Subsea 7 – AID. Os impactos previstos podem ser sofridos pela fauna estão relacionados principalmente ao afugentamento de animais, mudança na composição das comunidades e abundância das espécies, além da criação de barreiras”.
Submetido o EPIA/RIMA contratado pela
empresa ré Subsea 7 ao réu Instituto Ambiental do Paraná ,
este órgão público ambiental designou uma comissão
interdisciplinar técnica-jurídica para a sua apreci ação e
emissão de parecer sobre a eventual viabilidade de concessão
de Licença Prévia, que atestaria a eventual viabili dade
ambiental e locacional do empreendimento.
A comissão do próprio réu Instituto
Ambiental do Paraná, então, emitiu, em 22 de julho de 2010, o
Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010, o qual evidenciou a
absoluta inviabilidade ambiental e legal da implantação do
empreendimento no referido local. Senão vejamos:
“(...) a Lei Nº 11428, de 22 de dezembro de 2006 que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, é clara ao dispor que a sua supressão somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, quando inexistir alternativas técnicas e locacionais ao empreendimento proposto. Excepcionalmente, quando envolver pesquisas científicas e práticas preservacionistas (cf. arts. 14 e 20). Evidentemente, o empreendimento em questão não se enquadra nas disposições supra.
Para a implantação do Empreendimento em questão, haveria a necessidade de corte raso de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções em áreas de mangues e de preservação permanente no entorno de corpos hídricos, o que é vedado, não só pela Lei da Mata Atlântica, mas também pelo Código Florestal (arts. 3º e 4º), mesmo porque, o empreendimento aqui tratado não está se enquadrando nos casos de obras, planos, atividades ou projetos considerados de utilidade pública
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ou de interesse social. Além disto, existem alternativas locacionais para a sua implantação.
Restou também constatado in loco, que todo o imóvel apresenta uma camada de material de origem vegetal, parcialmente decomposto denominado de ‘turfa’. A retirada deste material, implica na movimentação de solo, com posterior aterramento com materiais provenientes de outros locais/empréstimo, provocando sérias alterações de todo a dinâmica não só do local em si (necessário para abrigar um empreendimento), mas de todo o seu entorno. Fato idêntico, ocorreria em relação à abertura de estradas e com a construção de ponte para acessar o imóvel conforme previsto no EIA/RIMA, mesmo que parcialmente existentes.
(...) Mesmo que se alegue que o imóvel atualmente
pertence ao Município de Pontal do Sul, o mesmo não perdeu as suas características.
(...) Da própria leitura do EIA/RIMA, resta
esclarecido que o local pretendido para a instalação do Empreendimento é caracterizada como uma importante ‘área de conservação’, visto abrigar espécimes de fauna ameaçados de extinção, as quais, evidentemente, com as intervenções no local, sofrerão ainda mais ameaças. Cabe destacar ainda que o local está inserido em zona de amortecimento de uma importante Unidade de Conservação do Estado do Paraná, qual seja, a Estação Ecológica Guaraguaçu (...).
(...) Assim, independentemente da demanda que
discute, inclusive, a competência para o licenciamento em questão e em face das vedações legais e técnicas já citadas, opinamos pelo indeferimento do licenciamento pleiteado, com a conseqüente remessa dos procedimentos e do EIA/RIMA ao IBAMA para análise e considerações devidas”. (destaque nosso)
Não bastasse o teor deste Parecer Técnico
Jurídico nº 001/2010, o Parecer Técnico DBio-Fauna 06/2010 ,
de 22 de julho de 2010, emitido pela Diretoria de
Biodiversidade e Áreas protegidas do réu Instituto Ambiental
do Paraná também concluiu pela absoluta inviabilidade
ambiental da implantação do empreendimento no referido local ,
em virtude dos seguintes fundamentos:
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“Com relação ao relatório final de fauna temos a opinar que a área a ser destinada ao empreendimento em questão é importante área de conservação onde foi observada a ocorrência de muitas espécies ameaçadas de extinção, tais como macuco, jaó-do-litoral, maçarico-acanelado, trinta-réis-real, papagaio da cara-roxa, Martinho, pica-pau-bufador, choquinha-cinzenta, bicudinho- do-brejo, macuquinho, Maria-da-restinga e outras espécies, que terão seus habitats restringidos ou suprimidos ou ainda submetidas as embarcações no rio, além do que o rio Guaranaçu é uma das áreas prioritárias de conservação de aves no Domínio mata Atlântica, acrescentando-se que a própria vegetação de restinga está protegida pela nossa legislação.
Ainda, considerando a localização na zona de amortecimento de uma unidade de conservação que está enquadrada numa categoria bastante restritiva de uso, como a Estação Ecológica do Guaraguaçu, opino pelo indeferimento da autorização”. (grifos nossos)
Registre-se que em 24 de agosto de 2010,
o réu Instituto Ambiental do Paraná enviou ofício 4 em mãos à
empresa ré solicitando que fossem apresentadas info rmações
técnicas quanto a não conformidade apontada pelo Pa recer
Técnico-Jurídico nº 01/2010. Tal fato causa-nos est ranheza,
visto que não é função do Diretor Presidente do órg ão
licenciador avisar a empresa interessada no conteúd o de sua
manifestação.
Na data de 9 de setembro de 2010, o então
Diretor Presidente do réu Instituto Ambiental do Paraná –
JOSÉ VOLNEI BISOGNIN, traça uma série de assertivas sem
quaisquer embasamentos técnicos à DIRAM (S.P.I.
07.07.071.657-7) 5. Alude que o parecer técnico-jurídico que
opinou pelo indeferimento do licenciamento seria intempestivo
e que não foi submetido à decisão da Direção do IAP ; que o
parecer é um ato intermediário opinativo, que não v incula a
pessoa jurídica de direito público; e QUE É DE SE R ECONHECER
QUE AS CONCLUSÕES DO PARECER TÉCNICO JURÍDICO SÃO TODAS
4 Ofício nº 500/2010/IAP/GP.
5 Anexo II do PA MPF.
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PRECOCES, POR ORA.
Segue anuência do Conselho de
Desenvolvimento Territorial do Litoral Paranaense-C OLIT,
datada de 22 de setembro de 2010, a mesma entidade que no
protocolo 10.182.206-0 havia deixado de emitir anuê ncia.
Da mesma forma, em outubro de 2010, o
IBAMA que dois meses antes havia firmado a competên cia,
rectius , atribuição para a condução do licenciamento, volt a
atrás e anui com a continuidade no procedimento no congênere
estadual.
Em setembro de 2010, através do ofício
467/2010, a prefeitura de Paranaguá faz juntar um p arecer
técnico em que, em cinco páginas demonstra uma séri e de
questionamentos e apresenta inúmeros riscos do
empreendimento, e, dois meses depois, o empreendedo r
encaminha para juntada ao procedimento administrati vo a
anuência prévia 050/2010 daquele município.
Em dezembro de 2010, por meio do ofício
nº 999/10, o Secretário de Meio Ambiente do Estado do Paraná,
o qual atendendo requisição do Ministério Público F ederal,
encaminhou cópia de documentos e informou textualme nte que
“até aquela data – 16 de dezembro de 2010 – não hav ia sido
emitida licença prévia” . Acontece que seis dias após, a
licença foi emitida, não sendo crível que aquela au toridade
não tivesse conhecimento da sua iminente emissão, s endo
duvidosa a intenção em prestar tal informação ao ór gão
ministerial.
Talvez não contasse com o fato que a
emissão da licença tenha sido veiculada pela impren sa local,
o que motivou uma inspeção ministerial, mesmo em pe ríodo de
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recesso forense, nas instalações da autarquia estad ual,
redundando na detecção das inúmeras injuridicidades apontadas
no auto de inspeção ministerial de folhas 90 e segu intes dos
autos principais do anexo.
Fato é que a licença prévia 25703, com
validade até 22/12/2012, foi emitida em 22 de dezem bro de
2010, com fundamentos questionáveis sob diversos as pectos,
alguns dos quais objeto da presente ação civil públ ica.
Destaque-se o ofício nº
0100/2011/IAP/PROJU, de 22 de fevereiro de 2011, da
Procuradoria Jurídica do IAP , que menciona as recomendações
emitidas pelo Ministério Público para a não concess ão da
Licença Prévia pelo IAP:
“Referidas recomendações, não foram objeto de analise e parecer de parte da Procuradoria Jurídica deste instituto Ambiental do Paraná – IAP. No entanto, a Comissão Multidisciplinar designada pela Portaria sob nº 136, de 20 de agosto de 2009, após vistoria in loco e análise do EIA/RIMA opinou pelo indeferimento daqueles estudos e, consequentemente, pela não expedição da Licença Prévia – LP (cf.. Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010 – dc. Em anexo).
(...) Apesar das considerações supra, o ex-Diretor
Presidente deste IAP expediu a Licença Prévia sob nº 25703.” (destaque nosso)
Tão somente os fundamentos fáticos e de
direito expostos até aqui já são suficientes para a testar a
inviabilidade ambiental e legal da implantação e
funcionamento do empreendimento pretendido pela emp resa ré no
local em referência, assim como a conseqüente nulid ade da
Licença Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do
Paraná .
Contudo, conforme será exposto nos itens
seguintes, a estes fundamentos se somam diversas ou tras
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15
graves ilegalidades que, além de corroborar de modo
inequívoco a nulidade do licenciamento ambiental pr omovido
pelo réu IAP , importam, inclusive, na caracterização, em
tese, de práticas delituosas e de atos de improbida de
administrativa por representantes dos réus e da emp resa
contratada para a realização do EPIA/RIMA, que cert amente
serão objeto responsabilização pelo Ministério Públ ico em
separado.
A propósito, vale novamente consignar que
a presente ação civil pública, em termos de causa d e pedir,
enfoca principalmente os aspectos ambientais, haja vista que
o componente indígena e do patrimônio histórico ser ão objeto
de apuratórios próprios, com eventuais ações civis públicas
decorrentes, sem considerar ações criminais e imput ações de
atos ímprobos que serão objeto de ações próprias, c omo dito.
IV – DA IMPRESTABILIDADE E INVALIDADE DO
ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL E
RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL
(EPIA/RIMA) CONTRATADO PELA EMPRESA RÉ
Os itens apontados a seguir demonstram
que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatóri o de
Impacto Ambiental contratado pela empresa ré Subsea 7, além
de enganosos, não podem servir de base para qualque r decisão
administrativa de licenciamento .
IV.1 Da Enganosidade Do Estudo Prévio De
Impacto Ambiental E Relatório De Impacto
Ambiental (Epia/Rima)
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16
Em 28 de dezembro de 2010, o professor da
Universidade Federal do Paraná – o engenheiro flore stal Dr.
Carlos Velloso Roderjan, emitiu parecer técnico a p edido do
Ministério Público para avaliar o estágio de regene ração da
vegetação da Área Diretamente Afetada (ADA) e da Ár ea de
Influência Direta (AID), chegando às seguintes conc lusões:
“Com a análise feita em campo na data supracitada e com base nos dados do levantamento fitossociológico constante no EIA apresentado pelo empreendedor, é claro o enquadramento da cobertura vegetal predominante na ADA do empreendimento proposto (Quadrante 1) como Estágio médio de regeneração da Vegetação Arbórea de Restinga e, em determinados trechos, como Estágio Avançado de regeneração, discordante do enquadramento adotado no Mapa da Cobertura Vegetal da Área de Influência Direta do Empreendimento (figura 4.186), constante no EIA, como Estágio inicial de regeneração”.
As mesmas conclusões foram extraídas pela
equipe técnica do Centro de Apoio Operacional às Pr omotorias
de Proteção ao Meio Ambiente, a partir de vistoria realizada
no imóvel em questão na data de 11 de janeiro de 20 11:
“Em quase a totalidade da área vistoriada na ADA foi observada vegetação arbórea de restinga em estágio médio e avançado de regeneração, conforme fotos anexas.
(...) Em análise comparativa, entre os dados do
levantamento fitossociológico, constantes no EPIA/RIMA apresentado pelo empreendedor e observação em campo, percebe-se diversas discrepâncias dos enquadramentos e descrição da vegetação.
(...) Assim, o mapa de cobertura vegetal não
corresponde a realidade de campo, com os critérios definidos em resolução do CONAMA e literatura técnica. Portanto, o erro contido no EPIA/RIMA leva uma falsa informação e induz a um licenciamento ambiental para desmate em remanescente de vegetação da mata Atlântica vetada por Lei (...).
Outro aspecto que deve ser considerado são as várias nascentes na Área Diretamente Afetada (ADA), não informadas.
As conseqüências do aterramento estão intimamente ligadas ao rebaixamento do lençol freático e conforme descritos
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nos estudos de Hidrologia e Geomorfologia são ambientes de recarga hídrica com manutenção de água doce aos estuários. Neste caso de soterramento e impermeabilização, o manguezal do interior da ilha será o primeiro a sofrer com a deficiência hídrica.
Estas áreas são consideradas ‘Áreas úmidas’. Portanto, protegida por lei e o estado do Paraná baixou norma legal para a sua proteção (Resolução Conjunta IBAMA/SEMA/IAP nº 05/2008)” (grifos nossos).
A enganosidade do EIA/RIMA apresentado
pela empresa ré não somente se evidencia em relação ao
estágio sucessional da vegetação arbórea de resting a, como
também na omissão da existência de várias nascentes na Área
Diretamente Afetada.
Importante observar que a aludida
enganosidade, independentemente de subdimensionar a proteção
ambiental da área em comento, bem como as suas rest rições
legais, certamente vicia gravemente a licença prévi a emitida
pelo réu Instituto Ambiental do Paraná, que privile giou esse
estudo enganoso em detrimento do próprio parecer té cnico-
jurídico de sua instituição.
IV.2 - Da Invalidade Do Eia/Rima –
Ausência De Imparcialidade De
Profissionais Que Comandaram O Estudo.
A empresa ré Subsea 7 contratou a empresa
Aat Consultoria e Engenharia Ambiental para a reali zação do
Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de I mpacto
Ambiental (EPIA/RIMA) referente à pretensão daquela empresa
em implantar indústria de montagem de tubos rígidos para
plataformas de petróleo contendo píer marítimo. A r eferida
empresa de Consultoria, por sua vez, é coordenada p or Andréia
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Cristina Ferreira (Engenheira Agrônoma) e Annelissa Gobel
Donha (Engenheira Agrônoma) e composta por diversos outros
profissionais apontados no EPIA/RIMA e visualizados na
revista deste (documento anexo).
Tendo em vista que o EPIA/RIMA é um dos
principais documentos que o órgão público ambiental
competente analisa para decidir se emite ou nega o
licenciamento ambiental pleiteado pelo empreendedor , e
considerando o dever do EPIA/RIMA colacionar as ava liações
com o máximo de profundidade e abrangência, além da exatidão
dos dados, exige-se independência e impessoalidade da equipe
multidisciplinar que realiza os referidos estudos e m relação
à empresa que pretende implantar o empreendimento.
É o que explicita a Portaria IAP nº 038,
de 03 de março de 2010, que estabelece critérios pa ra
composição e qualificação de Equipe Técnica Multidi sciplinar
de Consultores e Empresas de Consultoria Ambiental,
responsáveis pela elaboração de Estudos Prévios de Impacto
Ambiental e Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambi ente:
“Artigo 5o. A equipe técnica multidisciplinar, com capacitação técnica compatível com as características do empreendimento / atividade, deve ter independência prevista em contrato celebrado com o empreendedor para elaboração do EPIA / RIMA.
Artigo 6o. Devido a importância, profundidade das análises e repercussões sobre a vida humana e aos recursos ambientais, a independência de manifestação da equipe técnica encarregada da elaboração do EPIA / RIMA deve atender aos mesmos princípios aplicáveis à administração pública direta e indireta, dispostos no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)” (grifos nossos)
Importante perceber que a legislação
emitida pelo próprio réu IAP determina a aplicação dos
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princípios da administração pública aos profissiona is que
integram a equipe técnica do EPIA/RIMA, incluindo
expressamente o dever de atendimento ao princípio da
impessoalidade .
No entanto, não é o que se verifica em
relação às seguintes profissionais Andréia Cristina Ferreira
(Engenheira Agrônoma) e Annelissa Gobel Donha (Enge nheira
Agrônoma), que, além de Coordenadoras Gerais, Coord enadoras
Técnicas e integrantes da equipe técnica de elabora ção do
EPIA/RIMA em meio físico, atuam como verdadeiras de spachantes
contratadas pela empresa ré Subsea 7 para defender os
interesses privados desta no seu pleito de licencia mento
ambiental.
Qual independência, imparcialidade e
impessoalidade que se espera de profissional (Annelisa Gobel
Donha) a quem é outorgado instrumento de procuração para
representar a empresa Subsea 7 do Brasil Serviços L tda. no
processo de licenciamento ambiental perante o Insti tuto
Ambiental do Paraná – IAP, “podendo tudo assinar, juntar e
retirar documentos e tudo o mais praticar para o bo m e fiel
cumprimento do presente mandato” (documento anexo, firmado em
Niterói, na data de 03 de março de 2010)???
Aliás, são diversos os atos e
solicitações da empresa ré Subsea 7 firmados justam ente pela
profissional Annelisa Gobel Donha . Dentre eles, cita-se
exemplificativamente o ofício firmado, em 10 de fev ereiro de
2009, por Annelisa Gobel Donha com timbre da empres a ré
Subsea7, solicitando Licença Prévia para o Empreend imento
Base de Montagem de Tubos Rígidos pela empresa Subs ea 7 do
Brasil Serviços Ltda..
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A mesma situação ocorre em relação ao
profissional Jorge Justi Junior, que integra a equi pe técnica
do EPIA/RIMA para o meio físico, por meio de Carta ao
Instituto Ambiental do Paraná, firmada em 23.07.201 0 por
Jorge Justi Junior, solicitando o prosseguimento do
licenciamento e designação de nova data de audiênci a pública,
diante da decisão emitida pelo Tribunal Regional Fe deral da
4ª Região.
Chama a atenção, também, a manifestação
acerca do Parecer Jurídico nº 01/2010 do IAP, assin ado por
Andréia Cristina Ferreira (Coordenadora Geral, Coordenadora
Técnica e integrante da equipe técnica de elaboraçã o do
EPIA/RIMA em meio físico) na data de 26 de agosto d e 2010, em
que esta profissional, que deveria guiar a sua atua ção com
independência e imparcialidade e com base no princí pio da
impessoalidade, diametralmente ao contrário advogou
ardorosamente os interesses da empresa Subsea 7 .
Destaca-se os seguintes trechos desta
manifestação:
“o Parecer, emitido em 22/07/10, opinou, surpreendente e intempestivamente, ‘pelo indeferimento do licenciamento (...)”; “(...) a questão da suposta proibição, no caso, de supressão de vegetação (...); (...) o empreendimento vai gerar emprego e renda, contribuindo para o desenvolvimento do litoral paranaense e de todo o Estado (...); (...) ainda sobre a suposta questão da tipologia de solos, ressalta-se que a MINEROPAR S.A. – cujos técnicos são especialistas nesta área e uma das instituições que recebeu o EIA encaminhado pelo IAP -, se manifestou a favor da instalação do empreendimento, sem, em qualquer momento, mencionar a questão do ‘solo de turfa’ (...); o suposto óbice turístico (...); (...) saliente-se que não é de nosso conhecimento a existência desse procedimento para enquadramento da área como de interesse turístico – até porque, para esta inclusão deverá haver a consulta ao SPU, APPA, órgãos estes que deverão anuir em breve à instalação do empreendimento, além de outras instituições governamentais. (...)” (grifos nossos); “(...) de resto, é de se enfatizar que a utilização de menos de 2% de uma área com mais de 2.600 hectares não significa, como é por
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demais evidente, que a mesma virá a perder suas características (...)” (grifos nossos); “(...) deve-se ponderar, desde logo, que descabe uma visão de sustentabilidade ambiental tão radical para este terreno (...)”; “(...) neste procedimento, o parecer é um ato intermediário, meramente opinativo, que não vincula a pessoa jurídica de direito público (IAP), enquanto não aprovado, na forma regimental – o que, no caso, inocorreu. (...)”; (...) por todas as razões expostas, pede-se, com o respeito devido, o desacolhimento , por intempestivo, do Parecer Jurídico nº 01/2010, e o prosseguimento do exame do pedido de licenciamento, com a breve designação de audiência pública, seguindo-se nos ulteriores termos até, pelo menos, a expedição da licença prévia (...)”. (grifos nossos)
É importante frisar que,
independentemente da possibilidade legal de respons abilização
(inclusive criminal) de profissionais que apresenta m estudos
no licenciamento ambiental contendo eventual engano sidade,
omissão e falsidade (ainda que parciais), a legislação
emitida pelo próprio réu IAP determina a obrigatori edade de
isenção e independência da equipe que integra do EP IA/RIMA em
relação à empresa que a contrata, o que efetivament e não
ocorre com a equipe contratada pela empresa Subsea 7.
A parcialidade e o comprometimento do
EIA/RIMA com interesses privados se potencializam a inda mais
no caso em comento, a partir da constatação de que as
profissionais Andréia Cristina Ferreira e Annelissa Gobel
Donha coordenaram todos os estudos ambientais e ass umiram a
condição de comando da representação da empresa jun to ao
Instituto Ambiental do Paraná.
Desta forma, o referido EIA/RIMA
coordenado por Andréia Cristina Ferreira e Anneliss a Gobel
Donha, além de absolutamente ilegal e inválido, apr esenta-se
absolutamente inapto para fins de licenciamento amb iental,
eis que é patente o seu comprometimento e parcialid ade em
relação à empresa ré Subsea 7. Consequentemente, a Licença
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Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Para ná também
é inválida, o que fundamenta a necessidade de sua i mediata
suspensão até o julgamento final, em que se pugna a
decretação de sua nulidade.
IV.3 - Da Invalidade Do Eia/Rima – Ilegal
Participação De Servidores Públicos Na
Equipe Multidisciplinar.
Dentre os profissionais contratados pela
empresa ré Subsea 7 para a realização do referido E studo
Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental
(EPIA/RIMA), constatou-se a ilegal e imoral partici pação de
servidores públicos em atividade em sua confecção, o que
contraria frontalmente os princípios da administraç ão
pública, especialmente os princípios da legalidade e da
moralidade. Mais do que isso, a participação de ser vidores
públicos da esfera federal, estadual ou municipal c omo
integrantes, orientadores ou consultores (permanent es ou
temporários) de um EPIA/RIMA causa a invalidade des te.
A referida Portaria IAP nº 038, de 03 de
março de 2010, que estabelece critérios para compos ição e
qualificação de Equipe Técnica Multidisciplinar de
Consultores e Empresas de Consultoria Ambiental, re sponsáveis
pela elaboração de Estudos Prévios de Impacto Ambie ntal e
Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente, veda
expressamente a participação de servidores públicos ou de
qualquer pessoa física que desempenhe funções, aind a que
comissionada, em qualquer órgão público e até mesmo nas
empresas públicas e sociedades de economia mista:
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“Artigo 6o. Devido a importância, profundidade das análises e repercussões sobre a vida humana e aos recursos ambientais, a independência de manifestação da equipe técnica encarregada da elaboração do EPIA / RIMA deve atender aos mesmos princípios aplicáveis à administração pública direta e indireta, dispostos no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...):
I. Vedação à participação, como integrantes e/ou orientadores e/ou consultores permanentes e temporários, em Equipes Técnicas Multidisciplinares e/ou Empresas Privadas de Consultoria Técnica Ambiental, de Servidores Públicos da Esfera Federal, Estadual e Municipal, à exceção daqueles que integram os Quadros Próprios de Professores / Pesquisadores de Universidades Públicas. A proibição de acumular estende-se, também, a empregados e qualquer pessoa física que desempenhe funções, mesmo que comissionada, em autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;
II. Não podem integrar / participar da elaboração de EPIA / RIMA, profissionais técnicos que integram o quadro de Servidores / Empregados de Órgãos Públicos integrantes do SISNAMA, mesmo que estejam em licença prêmio, férias e/ou licença especial com ou sem remuneração; (...)” (grifos nossos)
Conforme resultado de pesquisa solicitada
à Polícia Federal (documentos anexos), confirmou-se a
participação indevida e absolutamente ilegal dos se guintes
servidores públicos no EPIA/RIMA contratado pela em presa ré:
a) Vinícius Abilhoa – embora
Coordenador Técnico da equipe multidisciplinar do E PIA/RIMA e
integrante da equipe técnica para o meio biótico (B iólogo), é
servidor público da Prefeitura Municipal de Curitib a e, o que
torna essa ilegalidade ainda mais grave, é também integrante
de órgão público do SISNAMA (Secretaria Municipal d o Meio
Ambiente de Curitiba) 6;
6 Informação disponível em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/todos-os-funcionarios-da-prefeitura-secretaria-municipal-de-recursos-humanos/501 (acesso em 25.04.2011).
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b) Benno Henrique Weigert Doetzer –
embora integrante da equipe técnica para o meio fís ico do
EPIA/RIMA, é servidor público da EMATER (Instituto Paranaense
de Assistência Técnica e Extensão Rural), órgão do Estado do
Paraná;
c) Charles Carneiro - embora
integrante da equipe técnica para o meio físico do EPIA/RIMA,
é servidor da SANEPAR (Companhia de Saneamento do P araná) –
sociedade de economia mista sob o controle direto d o Estado
do Paraná;
d) Ernani Francisco da Rosa Filho -
embora integrante da equipe técnica para o meio fís ico do
EPIA/RIMA (Geólogo), foi servidor da SANEPAR (Compa nhia de
Saneamento do Paraná) – sociedade de economia mista – até o
mês de dezembro de 2009 (data em que o EPIA/RIMA já havia
sido protocolado no IAP);
e) Cláudia Ines Parellada - embora
integrante da equipe técnica para o meio antrópico do
EPIA/RIMA (Arqueóloga), é servidora pública da Secr etaria
Estadual de Cultura do Paraná;
f) João Gualberto Pinheiro Junior -
embora integrante da equipe técnica para o meio ant rópico do
EPIA/RIMA (Arqueóloga), foi servidor comissionado d a
Secretaria Estadual de Transportes do Paraná no ano de 2010;
g) Dionísio Rodrigues - embora
integrante da equipe técnica para o apoio técnico d o
EPIA/RIMA (Indígena), é servidor público da Secreta ria
Estadual de Educação do Paraná;
Desta forma, frente à ilegal e imoral
participação dos citados servidores públicos na ela boração do
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EPIA/RIMA, estes estudos são absolutamente ilegais e
inválidos e, portanto, apresentam-se absolutamente inaptos
para fins de licenciamento ambiental. Consequenteme nte, a
Licença Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Paraná
também por este motivo é inválida, o que fundamenta a
necessidade de sua imediata suspensão até o julgame nto final,
em que se pugna a decretação de sua nulidade.
IV.4 - Da Invalidade Do Eia/Rima –
Ausência de alternativa locacional.
Os estudos apresentados no procedimento
de licenciamento são nulos também por não apresenta rem ao
órgão licenciador, alternativas sobre o local do
empreendimento.
O objetivo principal do estudo, no
aspecto da alternativa locacional, é permitir ao ór gão
licenciador que analise e decida, com fundamentação e à vista
dos dados apresentados, se o local apresentado para a
instalação do empreendimento é adequado ou não, ten do por
parâmetro outros locais que eventualmente possam co mportar as
atividades, ou que por algum aspecto, apresente
características semelhantes.
O EIA/RIMA deve responder se não é
possível instalar o empreendimento em outro local, sem
maiores sacrifícios ambientais, sem perder de vista o aspecto
econômico do empreendimento (um dos aspectos do cha mado
desenvolvimento sustentável), sem descurar do indis pensável
confronto com a alternativa de não realização do
empreendimento.
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Ao lado da hipótese de não realização do
empreendimento, a alternativa locacional permite à autoridade
administrativa avaliar e contrastar o empreendiment o com o
não empreendimento, isto é, a não realização ou a fortirori a
sua realização em local diverso do pretendido.
Logicamente, não é preciso ser expert da
área ambiental para perceber que a apresentação de
alternativas, dentro do próprio terreno do empreend edor não
satisfaz, nem de longe, aos requisitos mínimos exig íveis para
o fator.
Ou seja, quando a normatização exige que
o estudo avalie alternativas locacionais, o faz ten do por
mote outras localidades que não, alternativas de
posicionamento das instalações dentro da área do pr óprio
empreendedor.
Por outro lado, antes de realizar o
Estudo Prévio e Impacto Ambiental propriamente dito , em
setembro de 2008, a empresa ré apresentou uma “cara cterização
técnica preliminar” onde aborda a questão. Ressalta -se que
esse estudo não serve para a avaliação da alternati va, do
ponto de vista normativo, primeiramente porque não consta no
Estudo de Impacto Ambiental, que é o estudo utiliza do por
base para as decisões quanto às licenças ambientais .
Além disso, salta aos olhos que a área de
Paranaguá/Pontal do Paraná foi escolhida, a frente de outras
áreas no Rio de Janeiro e Espírito Santo, por quest ões
econômicas, ou no mínimo fica evidente que o aspect o
econômico é o que prevaleceu.
E pior, o aspecto econômico prevaleceu em
detrimento da sensibilidade ambiental da área.
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O trecho que segue fala por si:
Sabe-se que todas as áreas costeiras possíveis no litoral Brasileiro apresentam restrições ambientais severas, fruto da legislação federal que considera manguezais e restingas como áreas de preservação permanente.
Não obstante, é forçoso reconhecer diferentes graus de interesse ecológico nas alternativas em tela, o que certamente coloca a área de Paranaguá em destaque, em função da riqueza de sua drenagem natural e da presença de manguezais pouco alterados em área abrigada.
Por outro lado, ao se conceber o terminal em cada alternativa, verifica-se inicialmente que Paranaguá dispensa quebra-mar, função das suas águas abrigadas, enquanto as duas outras alternativas exigem extensas proteções contra ondas, ventos e correntes.
(...) Mesmo considerando-se o maior valor ecológico
intrínseco da orla de Paranaguá, a disponibilidade de grande área costeira hoje designada para uso rural no Plano Diretor do Município e o interesse demonstrado pela Prefeitura de Paranaguá desde a fase de planejamento, combinados com a natureza não poluidora do empreendimento, contribuem para uma solução de engenharia que concilia os objetivos sócio-econômicos e ambientais, resultando em uma área diretamente afetada que não deverá ultrapassar vinte por cento da extensão da propriedade, com o restando destinado à preservação ambiental .
No caso em comento, não há, de fato, uma
escolha a ser realizada, já que a única proposta lo cacional
existente é justamente aquela escolhida pela própri a empresa
Subsea7.
Conforme explicação da 4ª Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal 7:
(...) A indicação das alternativas locacionais e tecnológicas é fundamental, pois é pré-requisito para a definição dos ambientes a serem submetidos aos impactos, bem como dos processos construtivos e industriais, e, por conseguinte, dos recursos utilizados e dos rejeitos gerados pelo projeto. (...)
Quanto às alternativas locacionais, Paulo
Affonso Leme Machado ensina que não basta a sua sim ples
7 In: Deficiência em Estudos de Impacto Ambiental. ESMPU (Escola Superior do Ministério Público da União)
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apresentação, já que essas alternativas devem ter u ma
razoável viabilidade 8:
(...) seria falsear o espírito da lei se, para forçar a escolha de um projeto, se apresentassem opções manifestamente inexequíveis. (...)
V - DA ALTERAÇÃO IRREGULAR DO ZONEAMENTO
MUNICIPAL DE PONTAL DO PARANÁ – DA
ILEGALIDADE À INSCONSTITUCIONALIDADE.
Na data de 04 de fevereiro de 2009, o
Prefeito Municipal de Pontal do Paraná firmou, a pe dido da
empresa ré Subsea 7, a seguinte declaração para ins truir o
pleito de licenciamento ambiental formulado por est a:
“Declaramos para fins de obtenção de Licença Prévia junto ao INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ – IAP, atendendo ao requerimento da empresa Subsea7 do Brasil Serviços Ltda. para a instalação da sua Base Off-Shore em Pontal do Paraná, que o Município de Pontal do Paraná nada tem a se opor em relação a instalação do empreendimento no município. Atualmente o terreno se encontra em área destinada a conservação ambiental, porém desde que haja o atendimento dos requisitos legais pertinentes e o comprometimento da empresa com a conservação e uso sustentável de área, o Município se compromete a criar um ‘Setor de Ocupação Especial’, através de Decreto Municipal, conforme prevê o artigo 43 da Lei Complementar nº 001/2007 que trata do Plano Diretor, visto que o empreendimento se enquadra como uso especial de interesse estratégico e relevante ao Município.”
Isto porque a própria lei do plano
diretor do réu Município de Pontal do Paraná estatu i a
destinação de preservação ambiental à região em que se situa
o imóvel em que a empresa ré Subsea 7 pretende se i nstalar.
8 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 166.
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Senão vejamos o que define a Lei Complementar Munic ipal nº
001/2007:
“Art. 44. A organização do espaço contido nos limites do Perímetro Rural Municipal é definida por esta Lei em Áreas, Setores e Zonas, de acordo com os limites estabelecidos no Mapa 02 – Zoneamento Ambiental Rural, e assim dividida:
(...) II – Setor Especial do Maciel – Comunidade
Tradicional Pesqueira; III – Zona de Conservação Ambiental Rural; IV – Unidade Ambiental de Planície de Restinga; V – Unidade Ambiental de Planície Aluvial; VI – Unidade de Proteção ao Manancial; VII – Área de Proteção ao Entorno de Bem
Tombado; e VIII – Unidade Ambiental do Mangue.
§ 1° As Unidades Ambiental do Mangue, de Planícies Aluviais e de Planícies de Restinga e a Unidade de Proteção ao Manancial são sujeitas a controle de uso por parte dos órgãos competentes do Estado e da União, e seu uso e ocupação devem seguir a legislação ambiental pertinente.”
Ainda no âmbito da legislação municipal,
a Lei Orgânica do Município de Pontal do Paraná também
determina que são áreas de proteção permanente os manguezais,
a mata atlântica, as áreas que abriguem espécimes r aros
ameaçados de extinção ou insuficientemente conhecid os da
flora e da fauna, bem como aqueles que sirvam como local de
pouso, abrigo e reprodução de espécies, e ainda, ár eas de
reconhecido valor arqueológico, as paisagens notáve is e os
sambaquis ( todas existentes no imóvel em que a empresa ré
pretende se instalar ), proibindo quaisquer atividades que
contribuam para descaracterizar ou prejudicar seus atributos
e funções essenciais, excetuadas aquelas destinadas a
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30
recuperá-las e, assegurar sua proteção, mediante pr évia
autorização dos órgãos municipais competentes 9.
Não obstante a clara previsão legal de
preservação ambiental da área em testilha na própri a
legislação municipal, o Prefeito Municipal de Ponta l do
Paraná, imbuído do intuito de atender os interesses
particulares do empreendimento pretendido pela ré S ubsea 7 e
de tentar atribuir a este aparência de legalidade, expediu,
em 22 de maio de 2009, o Decreto nº 3319, que insti tui a zona
especial de desenvolvimento sustentável de atividad es
industriais não-poluentes, no trecho compreendido e ntre os
rios Maciel e Guaraguaçu, sob os argumentos de cria ção de
novos empregos e aumento de arrecadação de impostos .
Em outras palavras, o referido Decreto
Municipal altera os parâmetros e usos de solos perm itidos
estabelecidos na Lei Complementar nº 001/2007, torn ando,
assim, “permissível” a instalação de indústrias em Áreas de
Preservação Permanente, Floresta Atlântica e Área d e Especial
Interesse Turístico.
Primeiramente, vislumbra-se a
inconstitucionalidade formal na alteração de zoneam ento
definido em Plano Diretor por meio da emissão de um mero
Decreto firmado pelo Prefeito Municipal, já que, co nforme
estatui a Lei Orgânica do Município de Pontal do Pa raná, a
9 Art. 240 Constituem áreas de proteção permanente: I - os manguezais, os mananciais, as praias, os costões e a mata atlântica; II - as áreas que abriguem espécimes raros ameaçados de extinção ou insuficientemente conhecidos da flora e da fauna, bem como aqueles que sirvam como local de pouso, abrigo e reprodução de espécies, e ainda, áreas de reconhecido valor arqueológico; III - as paisagens notáveis; V - os sambaquis; V - as áreas das nascentes dos rios; (...) VII - aquelas assim declaradas por lei. Parágrafo Único - Nas áreas de preservação permanente não serão permitidas atividades que, contribuam para descaracterizar ou prejudicar seus atributos e funções essenciais, excetuadas aquelas destinadas a recuperá-las e, assegurar sua proteção, mediante prévia autorização dos órgãos municipais competentes. (Lei Orgânica do Município de Pontal do Paraná)
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31
alteração de leis de zoneamento e uso do solo não s omente
exige a edição de lei 10, mas a aprovação desta por quórum de
maioria absoluta e sob a forma de lei complementar 11. Nesse
particular, salta aos olhos a afronta do artigo 43 da Lei
Complementar nº 001/2007, utilizado como fundamento para a
edição do citado Decreto, em relação à Lei Orgânica do
Município de Pontal do Paraná (hierarquicamente sup erior à
Lei Complementar), justamente porque outorga indevi da
liberdade e discricionariedade ao Prefeito Municipa l para
criação de espaços de expansão urbana sem qualquer submissão
a prévios estudos e processo legislativo de alteraç ão de lei
complementar.
De outro vértice, apresenta-se patente
que o referido Decreto nº 3319 é materialmente
inconstitucional, diante do frontal desrespeito à p rópria Lei
Orgânica do Município de Pontal do Paraná (hierarqu icamente
superior às demais leis municipais), à Constituição Federal,
e à legislação federal e estadual pertinentes.
O Município não pode estabelecer normas
menos rígidas que aquelas estabelecidas por leis fe derais ou
estaduais, bem como não contém autonomia para delib erar, por
exemplo, a respeito de qualquer obra em Área de Pre servação
Permanente, como pretende de modo absolutamente ind evido o
Prefeito Municipal de Pontal do Paraná. Neste ínter im,
10 Art. 14 Compete a Câmara Municipal deliberar, sob forma de projetos de lei, sujeitos à sanção do Prefeito, sobre as matérias de competência do Município, especialmente sobre: (...) II - matéria urbanística, especialmente o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, matéria relativa ao uso e ocupação do solo, parcelamento, edificações, denominação de logradouros públicos e estabelecimento do perímetro da zona e expansão urbana; 11 “Art. 38 (...) § 3º - Dependerá de voto favorável da maioria absoluta dos membros da Câmara: III - a aprovação de leis complementares; (...) Art. 45 (...) Parágrafo Único - As leis complementares versarão, dentre outras, sobre as seguintes matérias: (...) IV - Código de Zoneamento; V - Código de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo;”
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32
salutar a análise dos anexos ofícios do IBAMA e do próprio
IAP (Instituto Ambiental do Paraná), esclarecendo a
supremacia das normas estabelecidas pelo Código Flo restal
sobre a competência municipal para legislar sobre a ssuntos de
interesse local e a imprescindibilidade da observaç ão
rigorosa do que estabelece o Código Florestal (Lei Federal nº
4.771/65) no tocante às faixas de preservação perma nente,
sejam em áreas urbanas, rurais ou região litorânea.
Paulo Affonso Leme Machado 12 expõe a
impossibilidade do município editar normas que auto rizem a
intervenção em área de preservação permanente: “Ressalte-se que
nem o princípio de autonomia municipal possibilita o município autorizar obras públicas
ou privadas nas áreas destinadas a florestas de preservação permanente, pois estaria
derrogando e invadindo a competência da União, que estabeleceu normas gerais.”
O mesmo raciocínio se aplica no que
concerne à proteção ambiental erigida na Lei Federa l nº
11.428/2006 (Mata Atlântica) e na Lei Estadual nº 7 389/80
(Áreas de Especial Interesse Turístico), consoante já exposto
em item anterior.
O referido Decreto Municipal mostra-se
inconstitucional, mesmo que o Município de Pontal d o Paraná
alegasse que legislou sobre assuntos de interesse l ocal,
conforme dita o inciso I do artigo 30 da Constituiç ão
Federal. Tal entendimento se justifica, tendo em vi sta que a
Constituição Federal, além de estabelecer ser compe tência
concorrente da União, Estados e Distrito Federal le gislar
sobre meio ambiente (art. 24) , estabelece, em seu art. 30 ,
inciso II, que compete aos Municípios suplementar a
12 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 5ªed. Editora Malheiros. São Paulo, 1996. p. 489.
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legislação federal e estadual no que couber e desde que não
estabeleça critérios ou padrões menos restritivos d o que
aqueles determinados pelas legislações federal e es tadual.
Nessa toada, o Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná já declarou inconstitucional alter ação de
lei municipal de zoneamento urbano que poderia inte rferir em
área de proteção de manancial de abastecimento públ ico:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI COMPLEMENTAR - MAPA DE ZONEAMENTO DE USO DO SOLO E OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO - LOCALIZAÇÃO E LIMITES DAS ZONAS - ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAL DE ABASTECIMENTO PÚBLICO E REGIÃO SUPERIOR DE ‘FUNDO DE VALE’ - AFRONTA AO ECOSSISTEMA - ATOS LEGISLATIVOS AUTORIZATÓRIOS - LOTEAMENTO - INSTALAÇÃO - DECLARAÇÃO. Lei Complementar Municipal nº 18/93 editada pelo Poder Legislativo de Foz de Iguaçu, que altera o mapa de zoneamento de uso e ocupação do solo urbano e a localização de loteamentos populares de elevada densidade populacional em área de proteção de manancial de abastecimento público e região superior de ‘fundo de vale’. Preceito contido no art. 207 da Constituição do Estado do Paraná. A proteção aos mananciais objetiva através de restrições profundas ao uso do solo, manter incólume as fontes de alimentação de água potável para as cidades. Restabelecimento da ordem ambiental pela declaração de inconstitucionalidade da Lei Complementar por seus efeitos danosos ao ecossistema. (Acórdão nº 2211 - Órgão Especial – TJPR)
No caso em tela, não se trata de afastar
a competência municipal para legislar sobre o orden amento
territorial, mas de se fazer respeitar a ordem
constitucional que determina que, se criado um espa ço
ambiental protegido pela União ou pelo Estado (como na
hipótese versada na presente ação civil pública), a
competência do ente local é meramente suplementar 13 e não
13 SILVA, José Afonso da. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 230.
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34
pode contrariar ou modificar os atributos que justi ficam
a sua proteção 14.
Recentemente, em situação análoga, o
Superior Tribunal de Justiça esclareceu a predominâ ncia
da legislação paranaense, que define Áreas Especiai s de
Interesse Turístico (Lei Estadual nº 7389/80) sobre uma
lei municipal de Guaratuba/PR que permitia construç ão em
desacordo com a mencionada Lei Estadual 15. No voto-vista
da Ministra Denise Arruda, frisou-se:
“(...) Por certo, o referido dispositivo deve ser interpretado sistematicamente, de modo a não desprover de sentido o mencionado art. 24 da Constituição Federal. Tratando-se de matéria cuja competência legislativa é concorrente da União e dos Estados, não há como o município simplesmente invocar a permissão contida no citado inciso I do art. 30 da Carta Magna a fim de exercer sua competência privativa para legislar sobre assuntos de interesse local, ignorando a existência de normas estaduais e federais sobre o tema. Nesse caso, a competência municipal, quando couber, enquadra-se na previsão do inciso II do dispositivo constitucional, cumprindo-lhe apenas suplementar as normas já editadas. In casu, tem-se que a Lei Estadual 7.389/80, destinada a ordenar a ocupação e uso do solo no litoral paranaense, não interferiu na autonomia municipal, já que o interesse na preservação do patrimônio ecológico e paisagístico do Estado, por óbvio, extrapola os limites do que poderia ser considerado como interesse local do município, para fins de caracterização de sua competência privativa. (...)”.
14 Art. 225, § 1°, inciso III, CF. 15 (...) 2. A teor dos disposto nos arts. 24 e 30 da Constituição Federal, aos Municípios, no âmbito do exercício da competência legislativa, cumpre a observância das normas editadas pela União e pelos Estados, como as referentes à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente, não podendo contrariá-las, mas tão-somente legislar em circunstâncias remanescentes. (...) 4. A Lei Municipal nº 05/89, que instituiu diretrizes para o zoneamento e uso do solo no Município de Guaratuba, possibilitando a expedição de alvará de licença municipal para a construção de edifícios com gabarito acima do permitido para o local, está em desacordo com as limitações urbanísticas impostas pelas legislações estaduais então em vigor e fora dos parâmetros autorizados pelo Conselho do Litoral, o que enseja a imposição de medidas administrativas coercitivas prescritas pelo Decreto Estadual nº 6.274, de 09 de março de 1983. Precedentes: RMS 9.279/PR, Min. Francisco Falcão, DJ de 9.279/PR, 1ª T., Min. Francisco Falcão, DJ de 28.02.2000; RMS 13.252/PR, 2ª T., Min. Francisco Peçanha Martins, DJ de 03.11.2003. 5. Ação rescisória procedente. (Ação Rescisória nº 756/PR (1998/0025286-0), 1ª Seção do STJ, Rel. Teori Albino Zavascki. j. 27.02.2008, maioria, DJ 14.04.2008).
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35
Relevante destacar, por fim, que a
ilegalidade/inconstitucionalidade do citado Decreto Municipal
também se evidencia porque a Lei Orgânica do Municí pio de
Pontal do Paraná (a Lei Maior de uma municipalidade )
determina expressamente, levando em consideração a vocação de
proteção ambiental e do turismo da municipalidade, a
obrigação do Poder Público Municipal, frente a um R elatório
de Impacto Ambiental, SEMPRE decidir pelo interesse da
preservação ambiental no confronto com outros aspec tos
(inclusive o econômico):
“Art. 241 O Relatório de Impacto Ambiental poderá sofrer questionamento por qualquer pessoa, devendo o Poder Público Municipal sempre decidir pelo interesse da preservação ambiental no confronto com outros aspectos, compreendido o econômico.” (grifos nossos)
Importante destacar que essa conduta
ilegal, inconstitucional e imoral do réu Município de Pontal
do Paraná foi acompanhada e até mesmo incentivada p elo
Conselho do Litoral e Instituto Ambiental do Paraná , já que
estes, expressamente, apontaram a necessidade de al teração da
lei de zoneamento para que não houvesse óbice para a empresa
ré se instalar no citado imóvel:
“(...) faz-se necessário a manifestação de parte Prefeitura de Pontal do Paraná, que, inclusive, teria que promover modificações do respectivo zoneamento municipal, no sentido de permitir a implantação do pretendido empreendimento. (...)” (Informação nº 3733/2008/PROJU, de 29 de dezembro de 2008 – Instituto Ambiental do Paraná)
“(...) A emissão desta Anuência Prévia, fica
condicionada a aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de Pontal do Paraná neste Conselho, o qual defina a área como apta a recepção da atividade pretendida. (...)” (Anuência Prévia nº 007/2010 Indústria – Conselho do Litoral).
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VI - DA NULIDADE DA ANUÊNCIA PRÉVIA
EMITIDA PELO MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ
FRENTE À AUSÊNCIA DE ESTUDO DE IMPACTO DE
VIZINHANÇA.
Mesmo que a alteração de zoneamento
promovida pelo réu Município de Pontal do Paraná fo sse válida
(o que não é o caso) , a Anuência Prévia emitida pelo réu
Município de Pontal do Paraná em favor da ré Subsea 7 para a
implantação de seu empreendimento também viola fron talmente a
legislação municipal e se apresenta patentemente nu la, porque
desconsiderou a obrigatoriedade legal de realização prévia do
Estudo do Impacto de Vizinhança.
O Estudo de Impacto de Vizinhança é um
instrumento de execução da política urbana da Const ituição
Federal, previsto no Estatuto da Cidade (Lei Federa l nº
10257/2001) e que visa regular o uso da propriedade urbana em
prol do bem coletivo, do bem-estar dos cidadãos, be m como do
equilíbrio ambiental e da ordem urbanística.
Os artigos 4º e 36 e seguintes da Lei
Federal nº 10257/2003 (Estatuto da Cidade) prevêem a
necessidade de prévia realização do Estudo do Impac to de
Vizinhança para determinadas atividades ou empreend imentos,
em que se deve contemplar o estudo dos seus os efei tos
positivos e negativos quanto à qualidade de vida da população
residente na área e suas proximidades e no que conc erne aos
impactos à ordem urbanística, oportunizando-se a pa rticipação
da população interessada:
“Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: (...) VI - estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). (...)
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37
Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal. Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões:
I - adensamento populacional; II - equipamentos urbanos e comunitários; III - uso e ocupação do solo; IV - valorização imobiliária; V - geração de tráfego e demanda por transporte
público; VI - ventilação e iluminação; VII - paisagem urbana e patrimônio natural e
cultural. Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos
documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público municipal, por qualquer interessado.”
Veja-se que não há que se falar em
inexistência de legislação municipal que regula o t ema em
comento, pois a Lei Municipal nº 002/2007 de Pontal do Paran á
veio regulamentar a obrigatoriedade da apresentação , por
parte do empreendedor, à administração pública, do Estudo de
Impacto de Vizinhança (EIV) como pré-requisito para concessão
de licenças, autorizações e alvarás de construção,
localização e funcionamento relativos a empreendime ntos que
industriais que ocupem mais de 1.000 m2 (um mil met ros
quadrados) 16. O EIA/RIMA e o pleito de licença prévia
16 Art. 6° A área urbana municipal fica subdividida em Setores Especiais de Ocupação e Zonas Urbanas, dentro do zoneamento indicado no Mapa de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, parte integrante desta Lei, conforme súmula nos incisos a seguir: (...) II – Setor Especial Industrial (SEI): caracterizado pelo espaço urbano reservado às indústrias não poluentes, cujo licenciamento será precedido de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para edificações com área igual ou superior a 1000,00m² (mil metros quadrados). Os parâmetros de uso e ocupação do solo para o Setor Especial Industrial são os constantes das Tabelas 01 e 02;
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38
apresentado pela empresa ré afirma a pretensão de o cupação de
45 hectares, o que equivale a 450.000 m2 (quatrocen tos e
cinqüenta mil metros quadrados). Frise-se que essa extensão
de área de ocupação pretendida pela empresa ré corr esponde
aproximadamente à área total do Porto de Antonina, somando-se
as áreas do Terminal Barão de Teffé e Terminal Pont a do
Felix.
Em adição a isto, a Lei Complementar, nº
05/2007, que define o Código de Obras do Município de Pontal
do Paraná, também exige a prévia realização de Estu do de
Impacto de Vizinhança nas seguintes situações també m
correspondentes às pretensões da empresa ré Subsea 7:
“Art. 20. Todas as obras e serviços de construção, realizadas sobre o território do município de Pontal do Paraná, serão executadas, obrigatoriamente, mediante licença ou Alvará prévios, expedidos pela Prefeitura Municipal, obedecidas as normas desta Lei e das Leis Estaduais e Federais aplicáveis.
(...) Art. 71. São obras de transformação ambiental: I – Serviços de terraplenagem com área superior
a 5.000 m² (cinco mil metros quadrados) ou que, com qualquer dimensão contenha divisa com rio ou cursos d'água, elemento(s) notável (eis) de paisagem, valor ambiental ou histórico;
(...) III – Serviços de mineração ou extração mineral,
de desmatamento ou extração vegetal e de modificação notória de conformação físico-territorial de ecossistemas faunísticos e florísticos em geral, assim enquadrado por notificação de técnico do órgão municipal competente;
(...) Art. 72. Ficam sujeitas à elaboração do Estudo de
Impacto de Vizinhança (EIV) as obras mencionadas no Art. 71. § 1° O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)
deve ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades.
§ 2° Será exigido o EIA-RIMA quando assim a legislação estadual ou federal exigir.”
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Note-se que o réu município de Pontal do
Paraná não exigiu qualquer estudo da empresa ré, as sim como
não estabeleceu qualquer condicionante para mitigar ou
compensar os impactos da implantação do seu empreen dimento.
Aliás, a conduta do réu Município de Pontal do Para ná se
apresenta tão risível, que se sequer exigiu alvará de
construção para a pretensa ampliação do empreendime nto.
Veja-se que a Lei Municipal claramente
enumerou atividades/empreendimentos que possuem pre sunção de
potencial impacto, e, portanto, exige a OBRIGATORIE DADE (e
não faculdade) de realização de Estudo de Impacto d e
Vizinhança (EIV), como pré-requisito para concessão de
anuências, licenças, autorizações e alvarás de cons trução.
De forma incompreensível e intolerável, a
administração pública de Pontal do Paraná omitiu-se em fazer
cumprir a legislação urbanística. O Município de Po ntal do
Paraná, como órgão público que é, deveria primar pe lo
princípio constitucional da legalidade, juntamente com o da
finalidade administrativa, o qual explicita que o a gente
público somente pode fazer o que está autorizado e se for de
acordo com o direito.
Desta forma, considerando que a Anuência
Prévia emitida pelo réu Município de Pontal do Para ná em
favor da ré Subsea 7 para a implantação de seu empr eendimento
também viola frontalmente a legislação municipal e se
apresenta patentemente nula, consequentemente a Lic ença
Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Para ná, e que
se baseou na referida Anuência Prévia, também é ple namente
nula.
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VII- DA FRAGILIDADE E IMPORTÂNCIA
AMBIENTAL DA ÁREA EM COMENTO.
VII.1 – O entorno da Estação Ecológica do
Guaraguaçu.
Em 2008 o Departamento Jurídico do IAP
informa no protocolo nº 7.071.657-7:
“No caso em questão, percebe-se que o empreendimento está inserido no entorno da Estação Ecológica do Guaraguaçu, unidade de conservação ambiental criada pelo Decreto estadual nº 1230, de 27 de março de 1992, ou seja, na zona de amortecimento (...).
Sobre a Estação Ecológica de Guaraguaçu
colacionamos texto elaborado por técnico do próprio IAP 17:
“Pertencente ao domínio da Floresta Atlântica e com expressiva área de remanescentes florestais, a Unidade de Conservação contemplada neste mês pelo EcoNotícias é a Estação Ecológica do Guaraguaçu. Situada na planície costeira do litoral paranaense, a área dispõe de aproximadamente 1150 hectares de formações ecológicas bem conservadas, abrigando ambientes característicos como manguezais, restingas, caxetais e florestas de terras baixas.
Em função do terreno relativamente plano, a Floresta Atlântica da planície litorânea sofre alta pressão antrópica por parte das comunidades existentes na região. Quanto mais plano for o terreno, mais fácil é a sua ocupação e exploração.
Seja através da caça, do corte ilegal de espécies florestais ou da substituição por assentamentos, a biodiversidade remanescente encontra-se em risco. Mesmo assim, a Estação Ecológica do Guaraguaçu constitui uma das últimas áreas ao longo do litoral paranaense que apresenta ambientes com características primitivas ainda mantidas.
A área apresenta espécies da flora, da fauna e de outros grupos biológicos de importância ecológica, sendo que resguarda também espécies ameaçadas de extinção como o palmito (Euterpe edulis
17 Extraído do site: http://www.ecossistema.bio.br/econoticias/32/newsletter32-02.htm. Em 17 de março de 2011.
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Mart.) e a caxeta (Tabebuia cassinoides [Lam.] D.C.). Outrora, estas espécies ocorriam de forma abundante em toda a planície, mas ao longo do processo de ocupação tiveram suas populações reduzidas drasticamente.
Entre a fauna existente, destaca-se a presença do jacaré-do-papo-amarelo, do jáú-do-litoral e do papagaio-da-cara-roxa. Destaca-se também a presença de inúmeras espécies endêmicas de animais viventes dentro e no entorno da Unidade.
A existência de sambaquis no perímetro da Estação Ecológica do Guaraguaçu chama a atenção para a área, sob o ponto de vista arqueológico. Tal presença permite compreender um pouco da história de ocupação da planície litorânea do Paraná.
A Unidade ainda representa importante estratégia na conexão com populações naturais de remanescentes próximos. Tal fato consiste em verdade em função da existência de outras Unidades de Conservação na região, tanto de uso direto quanto de uso indireto. Próximo à Estação Ecológica do Guaraguaçu ainda encontra-se a Floresta Estadual do Palmito, que apresenta as mesmas formações ecológicas da primeira. Sendo assim, as comunidades viventes na região conseguem ampliar sua área de distribuição e evitar o cruzamento de indivíduos aparentados.
Apesar do entorno da Estação Ecológica do Guaraguaçu ser caracterizado por ambientes não florestais, degradados ou de composição vegetal diferente, tal Unidade resguarda importante banco de diversidade de espécies, genômica e de ambientes naturais – daí a importância de resguardar este resquício de Floresta Atlântica”.
Transcrevemos também outra narrativa
sobre a importância da Unidade de Conservação em pa uta 18:
“Estação Ecológica de Guaraguaçu - O maior remanescente da Mata Atlântica brasileira, onde a Estação Ecológica de Guaraguaçu está inserida, encontra-se entre as 25 mais importantes áreas para a preservação da biodiversidade no mundo, com índices críticos de risco, conforme estudo recente (Stattersfield et al.)
Localizada na planície costeira do Estado do Paraná, no município de Paranaguá, com uma extensão de 1150 hectares, a Estação Ecológica de Guaraguaçu mantém em seus limites ambientes ainda satisfatoriamente conservados, constituídos por Floresta Atlântica das terras baixas e por ecossistemas pioneiros de restingas arbóreas, manguezais, caxetais e brejos. O entorno desta unidade de conservação,
18
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/unidades_de_conservacao/artigos_ucs/estacao_ecologica_de_guaraguacu.html.
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42
também chamada de zona de amortecimento, engloba áreas dos municípios de Pontal do Paraná, Matinhos e Paranaguá.
Estudos e diagnósticos iniciais indicam que a EE de Guaraguaçu constitui-se em uma das últimas áreas ao longo do litoral paranaense que apresenta ambientes com características primitivas ainda mantidas. O grau de conservação desses ambientes os caracterizam como verdadeiros patrimônios naturais, configurando esta Unidade de Conservação como uma das mais relevantes dentro do Sistema de Unidades de Conservação do Paraná.
A presença de espécies vegetais ameaçadas de extinção, citando entre outras o palmito-jiçara (Euterpe edulis), a caxeta (Tabebuia cassinoides), além de bromélias e orquídeas ornamentais, outrora abundantes e que atualmente encontram-se com os estoques naturais bastante reduzidos devido à intensa exploração que sofreram, são alguns exemplos de representantes do patrimônio natural nela contidos.
Entre a fauna ameaçada, a presença de espécies como o jaó-do-litoral (Crypturellus noctivagus), o jacaré-de-papo-amarelo (Caimam latirostris), a onça-parda (Puma concolor), a jaguatirica (Felis pardalis), a lontra (Lontra longicaudis), o bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) e o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), estes dois últimos endêmicos de uma área geográfica bastante restrita, demostram a importância que esta unidade de conservação representa para a sobrevivência destas espécies.
O maior remanescente da Mata Atlântica brasileira, onde a Estação Ecológica de Guaraguaçu está inserida, encontra-se entre as 25 mais importantes áreas para a preservação da biodiversidade no mundo, com índices críticos de risco, conforme estudo recente (Stattersfield et al.).
A importância da existência desta área de preservação máxima é corroborada pela situação de pressão antrópica a qual se submete juntamente com sua região de entorno. Pode-se citar o extrativismo de palmito-jiçara e de cipó-imbé, a caça, a pesca predatória, a derrubada da floresta para dar lugar a atividades ditas "produtivas", a forte pressão imobiliária da região das praias e a expansão urbana de Paranaguá, além de atividades que envolvem o manejo precário de espécies exóticas como a bubalinocultura, piscicultura, o plantio de pinus e eucalipto. Além disso, a contaminação e degradação dos rios Guaraguaçu e Pequeno por mineração e por efluentes urbanos também compromete a saúde dos ecossistemas que naturalmente se interrelacionam com os regimes hídricos.
(...) Por ter sido enquadrada na categoria de
manejo de "estação ecológica", a mais restritiva quanto ao uso, a EE de Guaraguaçu tem por objetivos primordiais a preservação máxima dos ambientes e da biodiversidade neles contida, a pesquisa científica e a educação
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43
ambiental. Não é permitida a visitação ou qualquer outra atividade de turismo dentro dos limites desta Unidade de Conservação”. (destaque nosso)
Para MURPHY (1997), as reduções na
diversidade biológica local também são resultantes de perdas
de áreas de hábitat e do isolamento de habitats
remanescentes. A fragmentação ou ruptura de corredores de
hábitat natural entre grandes extensões de habitats pode
levar à perda de espécies. (...) A conservação de t oda a
cadeia de diversidade biológica urbana necessita de proteção
das maiores extensões possíveis de habitat natural. (...) as
considerações políticas e econômicas nas áreas urba nas tornam
a preservação particularmente difícil.
Claro, portanto, que qualquer obra no
local almejado (considerado de extrema fragilidade) trará
danos ambientais irreparáveis a todos esses ecossis temas.
Importante assinalar que os manguezais
que compõem grande parte da região formam um ecossi stema
muito peculiar, uma vez que atua na geração e produ ção da
vida animal marinha.
Sua importância cresce mais se
considerarmos que tem ainda relevantes funções como : formar
barreira de proteção das áreas ribeirinhas, diminui ndo as
inundações; proteger a terra onde a força do mar, r etendo
segmentos do solo; filtrar os poluentes, reduzindo a
contaminação das praias; é uma grande fonte de alim ento para
a população ribeirinha; fornece proteção dos alevin os; grande
fonte alimentar aos peixes, moluscos e crustáceos,
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44
principalmente; constitui-se em um enorme gerador d e
plâncton. 19
Ora, como foi atestado pelo próprio
EIA/RIMA e por todos os pareceres técnicos iniciais , o
empreendimento situa-se em área de amortecimento da apontada
Estação Ecológica, o que demonstra mais uma vez a
inviabilidade ambiental para a instalação do empree ndimento
no local almejado.
VII.2 – Do Bioma Mata Atlântica e as
restingas.
A importância da preservação da Mata
Atlântica não se justifica apenas pelo seu valor
paisagístico, mas sobretudo para evitar que se afet e a vida
de grande parte da população brasileira, que vive n a área
original desse ecossistema. Além de regular o fluxo dos
recursos hídricos, ela é essencial para o controle do clima e
a estabilidade de escarpas e encostas. A Mata Atlân tica
constitui-se em um ecossistema de aproximadamente 4 0 milhões
de anos. Nela surgiram as primeiras espécies vegeta is do
Universo que temos conhecimento. Em seu ecossistema , a vida
resistiu há dois milhões e meio de anos, ao período de
glaciação do Pleistoceno, período em que as geleira s cobriram
quase todas as formas de vida do planeta. Some-se a isso, o
fato de que a Mata Atlântica abriga a maior biodive rsidade de
árvores do planeta, além do que 39% dos mamíferos q ue vivem
na Mata Atlântica são nativos, e ainda habitam nela mais de
15 espécies de primatas. A destruição desse ecossis tema tem
19 SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro. A importância e a proteção jurídica dos manguezais. In: Revista de
Direito Ambiental nº 5, Ano 02, jan-março de 1997. Ed. RT, p. 105.
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45
levado espécies de animais brasileiros à ameaça de extinção.
Por exemplo, das 202 espécies ameaçadas no Brasil, 171 são
originários da Mata Atlântica.
Por outro lado, além da perda dos
recursos naturais, a destruição da Mata Atlântica a tinge um
patrimônio cultural, histórico, arqueológico e arqu itetônico,
construídos ao longo de séculos pelas comunidades
tradicionais que vivem na mata (como os indígenas, os
caiçaras, os quilombos e os caboclos), que correm r isco de
desaparecer, por descaracterização ou expulsão de s eu
ambiente.
Segundo livro editado pelo Instituto
Ambiental do Paraná em 2005, da preservação da Flor esta
Atlântica depende a manutenção do microclima region al, a
qualidade dos mananciais que abastecem os município s do
litoral e da Região metropolitana de Curitiba e ain da a
proteção do porto de Paranaguá e do terceiro maior estuário
marinho do mundo, situado no litoral paranaense. 20
Ainda, segundo o supracitado Atlas, a
Floresta Atlântica, denominada tecnicamente Florest a
Ombrófila Densa, é a tipologia vegetacional que ori ginalmente
predominava na região costeira do Brasil. E ainda:
“DETENTOR DE UMA DAS ÚLTIMAS PORÇÕES CONTÍNUAS DE
FLORESTA OMBRÓFILA DENSA EXTRA-AMAZÔNICA NO PAÍS, O ESTADO DO
PARANÁ VEM ASSUMINDO A CONDIÇÃO DE ALVO PRIORITÁRIO PARA
CONSERVAÇÃO DESTES REMANESCENTES DE GRANDE IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA. A FLORESTA ATLÂNTICA OCORRE NA PORÇÃO LESTE DO ESTADO, SENDO
DELIMITADA PRATICAMENTE EM TODA SUA EXTENSÃO PELA CADEIA
MONTANHOSA DA SERRA DO MAR” . 21
20 Atlas da Floresta Atlântica do Paraná – cood. Técnica Paulo de Tarso de Lara Pires, Antonio Luiz
Zilli, Christopher Thomas Blum. Curitiba: SEMA/Programa Proteção da Floresta Atlântica – Pró-Atlântica, 2005. 21 Atlas da Floresta Atlântica do Paraná – cood. Técnica Paulo de Tarso de Lara Pires, Antonio Luiz
Zilli, Christopher Thomas Blum. Curitiba: SEMA/Programa Proteção da Floresta Atlântica – Pró-Atlântica,
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46
A Floresta Ombrófila Densa das Terras
Baixas, vegetação esta do caso em debate, compõe o Sistema
Primário de Vegetação. A Floresta Ombrófila Densa é definida
por muitos autores como a tipologia vegetal mais pu jante,
heterogênea e complexa do sul do País. Estima-se qu e a flora
arbórea deste tipo de vegetação seja representada p or mais de
700 espécies. A esta fantástica riqueza florística, somam-se
também inúmeras espécies de herbáceas terrícolas, l iana e
epífitas, formas de vida extremamente abundantes ne ste
Subgrupo de Formação 22.
Está-se, portanto, discutindo o impacto
de uma formação florestal de extrema importância.
Ainda sobre a Floresta Ombrófila Densa
das Terras Baixas infere-se:
“NO PARANÁ ESTA FORMAÇÃO RESTRINGE-SE ÀS
PLANÍCIES COSTEIRAS DE ORIGEM QUATERNÁRIA, APRESENTANDO-SE EM LOCAIS
SITUADOS POUCO ACIMA DO NÍVEL DO MAR E ATÉ APROXIMADAMENTE 20
METROS DE ALTITUDE. APRESENTA CARACTERÍSTICAS MARCANTES, TAIS COMO A
OCORRÊNCIA SOBRE SOLOS POUCO DESENVOLVIDOS E A ALTA SUSCETIBILIDADE
A ALAGAMENTO DECORRENTES DA ASCENSÃO DO LENÇOL FREÁTICO DURANTE OS
PERÍODOS MAIS CHUVOSOS. ESTES FATORES DETERMINAM UMA COMPOSIÇÃO
FLORÍSTICA E ESTRUTURAL BASTANTE TÍPICA”.
Novamente importante se faz colacionar
trecho do Atlas da Floresta Atlântica do Estado que destaca a
importância da preservação da Floresta Ombrófila De nsa:
“AINDA QUE PORÇÕES SIGNIFICATIVAS DA ÁREA
EM QUESTÃO AINDA ENCONTREM-SE EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO, DEVEM
SER CONSIDERADOS OS INÚMEROS VETORES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL QUE
AMEAÇAM SOBRETUDO A MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE DESTE RICO
CONJUNTO VEGETACIONAL. O PRINCIPAL FATOR DE DEGRADAÇÃO, EM MAIOR OU
MENOS INTENSIDADE DE ACORDO COM A CADA REGIÃO, CONTINUA SENDO A
2005. 22 Idem.
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47
SUBSTITUIÇÃO DE COMUNIDADE VEGETAIS AUTÓCTONES POR SISTEMAS
AGROPECUÁRIOS, ÁREAS URBANAS E INDUSTRIAIS. O DESFLORESTAMENTO
OCASIONA UMA BRUSCA REDUÇÃO NA BIODIVERSIDADE LOCAL ACARRETANDO
EM DESEQUILÍBRIOS NAS COMUNIDADES FAUNÍSTICAS, INTENSIFICAÇÃO DE
PROCESSOS EROSIVOS E ATÉ ALTERAÇÕES MICROCLIMÁTICAS”.
E ainda:
“A SUBSTITUIÇÃO DAS COMUNIDADES VEGETAIS
NATIVAS AINDA ABRE ESPAÇO PARA OUTROS FATORES DE DEGRADAÇÃO COMO: O
ENVENENAMENTO DA BIOTA DECORRENTE DO USO INDISCRIMINADO DE
AGROTÓXICOS E DA DISPOSIÇÃO INDEVIDA DOS RESÍDUOS URBANOS; A
CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA ATRAVÉS DA PROLIFERAÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS
INVASORAS; E AS ALTERAÇÕES NO REGIME HÍDRICO DO SOLO OCASIONADAS POR
PRÁTICAS DE REAFEIÇOAMENTO DO TERRENO E PELA INSTALAÇÃO DE SISTEMAS
ARTIFICIAIS DE DRENAGEM. POR FIM, SÃO AINDA RELEVANTES NO PROCESSO DE
PERDA DA BIODIVERSIDADE AS ATIVIDADES DE CAÇA E EXTRATIVISMO VEGETAL
PREDATÓRIO ONDE ESPÉCIES DA FAUNA E DA FLORA ÚTEIS AO SER HUMANO SÃO
EXAUSTIVAMENTE EXPLORADAS EM SEUS AMBIENTES NATURAIS DE
OCORRÊNCIA, OCASIONANDO DESEQUILÍBRIOS SIGNIFICATIVOS EM SUAS
POPULAÇÕES E CONSEQÜENTEMENTE REDUZINDO SUA BASE GENÉTICA”.
V.3 – Dos Manguezais.
Os manguezais formam um ecossistema único
e especial, tendo fundamental importância na geraçã o e
produção de vida animal, principalmente marinha, se ndo
considerados no mundo científico como berçários da vida
marinha.
O Juiz de Direito Antônio Silveira
Ribeiro dos Santos, em sua exposição sobre a import ância e
proteção jurídica dos manguezais, cita informações técnicas
da especialista em mangues Schaefer-Novelli:
“...o fato do manguezal ser o aparador do mar e o elo de ligação entre este e a terra firme, faz com que receba riquíssimos compostos orgânicos(...) O ecossistema manguezal possui, além de forte base energética solar, subsídios de outras fontes naturais de energia, sendo um sistema que produz excedente de matéria orgânica (...) Sua importância cresce mais se considerarmos que tem ainda relevantes funções como: formar barreira de proteção das áreas ribeirinhas, diminuindo as
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48
inundações; proteger a terra ante a força do mar, retendo segmentos do solo; filtrar os poluentes, reduzindo a contaminação das praias; é uma grande fonte de alimento para a população ribeirinha; fornece proteção aos alevinos; grande fonte alimentar aos peixes, moluscos e crustáceos, principalmente; constitui-se em um enorme gerador de plâncton.” (SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro dos. A importância e a proteção jurídica dos manguezais. In: Revista de Direito Ambiental nº 05, Ano 2, jan – março de 1997. Editora RT.p.105)
No Brasil, os manguezais possuem ampla
previsão legal para sua preservação, faltando, cont udo, maior
consciência de sua importância e aplicação efetiva de suas
normas protetivas.
Élio Wanderley de Siqueira Filho, Juiz
Federal, ensina que há várias limitações legais que devem ser
respeitadas, tanto pelo particular, como pelo Poder Público
na defesa dos manguezais:
“É imperioso salientar que, a despeito da possibilidade da União dispor do domínio útil dos terrenos de marinha, e, por conseguinte, conferi-lo a particulares, isto não significa que os mesmos possam, livremente, usar gozar e dispor do aludido domínio, explorando abusivamente ou suprimindo a vegetação peculiar aos mangues. A propriedade e o domínio útil, como, de resto, qualquer direito real sobre bem imóvel, estão sujeitos a limitações impostas pelo ordenamento jurídico, ditadas por exigências decorrentes do bem comum. Assim, é perfeitamente legítimo impedir que o particular ou, mesmo, o próprio Poder Público deixe de observá-las e cause lesão grave ao equilíbrio ambiental.” (SIQUEIRA FILHO, Élio Wanderley de. Mangues- Importância e Proteção Jurídica. in: Direito Ambiental em Evolução. org. Vladimir Passos de Freitas. Ed. Juruá. Curitiba, 1998. p.515)
VII.3 – Das áreas úmidas e entornos de
corpos hídricos.
As Áreas de Preservação Permanente, como
o próprio nome evidencia, são locais, ecossistemas e funções
imprescindíveis para o equilíbrio ecológico, para a tutela
dos recursos naturais (flora, fauna, solo, águas) e para a
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49
garantia de qualidade de vida das presentes e futur as
gerações, tanto que a legislação ambiental brasilei ra veda
expressamente intervenções ou supressões nessas áre as.
Além dos entornos dos corpos hídricos, o
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e
SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paran á),
editaram a RESOLUÇÃO CONJUNTA IBAMA/SEMA/IAP Nº 005 , DE 28 DE
MARÇO DE 2008, que define critérios para avaliação das áreas
úmidas e seus entornos protetivos, estabelece que e stas áreas
são de preservação prioritária e proíbe expressamen te
intervenções que possam causar as suas degradações:
“Art. 3º - Devido aos escassos remanescentes de áreas úmidas conservadas, tais áreas e seus entornos protetivos são considerados prioritários para a preservação, sendo proibidos licenciamentos ou autorizações para quaisquer finalidades ou intervenções que determinem ou possam vir a causar a sua degradação.
Parágrafo único - A intervenção de que trata o caput deste Artigo é qualquer ação de natureza física, química e/ou biológica que possa descaracterizar as áreas úmidas e seus entornos protetivos.
Art. 4º - Excepcionalmente, poderá ser admitida intervenção em áreas úmidas e em seus entornos protetivos, observada a normativa vigente e quando comprovada, através de estudos, a inexistência de alternativas técnicas e locacionais para a execução de obras, atividades ou empreendimentos de utilidade pública ou de interesse social, desde que não prejudique a função ecológica da área, a exceção de atividades de segurança nacional.” (grifos nossos)
VII.4 – Da área litorânea e o ecossistema
marinho.
A importância de preservação dos mares e
zonas costeiras é expressada pelos especialistas no tema:
“Embora os recursos dos mares não sejam inesgotáveis, representam, no entanto, uma biomassa considerável, de que o homem tira proveito desde épocas muito remotas. As águas salgadas, consideradas em seu conjunto, encontram-se entre os meios naturais de mais
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alta produtividade; aliás, boa parte das proteínas naturais consumidas pela humanidade provém delas.
(...) Nenhuma parte das águas salgadas é desprovida
de vida; esta, pelo contrário, é extremamente abundante,(...) (...) A biomassa total dos vegetais e dos animais
marinhos, de que já se descreveram verdadeiras galáxias, não é, por este motivo, comparável às biomassas terrestres. As águas marinhas formam biocenoses extraordinariamente complexas e particularmente prósperas, com cadeias alimentares inumeráveis, das algas microscópicas e dos pequenos animais do plâncton, aos gigantes dos mares, peixes, polvos e baleias.” (DORST, Jean. Antes que a natureza morra: por uma ecologia política; tradução de Rita Buongermino. 5ªed. Ed. Edgar Blücher. São Paulo, 1995. p. 300)
“O oceano ajuda a manter o equilíbrio global, promovendo constantemente uma distribuição mais uniforme de temperaturas”. (GORE, Albert. A Terra em Balanço. tradução de Elenice Mazzilli. Ed. Augustus. São Paulo, 1993. p. 111)
“ Os ecossistemas estuarinos são considerados
altamente produtivos, ecologicamente complexos e estáveis. Exportam detritos, nutrientes e organismos a ecossistemas vizinhos, contribuindo significativamente para a produtividade costeira marinha.” ( Teal, 1962, Schelske e E.P.Odum, 1962 in YANEZ-ARANCIBIA, 1987)
Os recursos marinhos, considerados em seu
conjunto, foram e ainda são objeto de uma exploraçã o
irracional, que põe em perigo a sua própria perenid ade.
Convém lembrar que, geralmente, tem-se definido a Z ona
Costeira de forma simplista, sem considerar aspecto s
relevantes como os processos ecológicos e hidrológi cos.
Assim, quando se discute a respeito do impacto ambi ental de
determinada obra na Zona Costeira, deve-se atentar para a
área biofísica, no que se refere á formação geológi ca e seus
substratos, os processos dos ecossistemas, a químic a, a
hidrologia, a distribuição das espécies; e também s e atentar
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51
para a área sócio-econômica, no tocante ao impacto da
extração dos recursos, a contaminação, o prejuízo p ara a
exploração pesqueira, etc.
A área litorânea em questão transcende os
limites dos municípios de Pontal do Paraná e Parana guá e é
tida como patrimônio da humanidade. Os reflexos dos danos que
a ela venham a ser causados estendem-se a todos os
brasileiros e não apenas aos que habitam naquela re gião.
Foi cabalmente demonstrado que o
empreendimento pretendido pela empresa ré possui a previsão
de séria e grave afetação de todos esses ecossistem as e
biomas, além do ecossistema marinho, não somente na fase de
implantação, mas também na fase do seu funcionament o.
Oportuno ainda afirmar que ao Poder
Público é atribuído o poder-dever de exercer o cont role de
atividades potencialmente causadoras de impactos am bientais
significativos e de, quando necessário, obstar o ex ercício de
atividades danosas ao meio ambiente. É explicitamen te
confiado ao Poder Público o poder-dever de proteger os
ecossistemas, a fauna e a flora, vedadas as ativida des que
coloquem risco suas funções ecológicas ou causem a extinção
de espécies, principalmente nos ecossistemas declar ados
Patrimônio Nacional e reconhecida como Reserva da B iosfera
pela UNESCO em 1991, como no caso objeto desta ação .
VIII – DO DIREITO
O artigo 225 da Constituição Federal
exerce a função de principal norteador do meio ambi ente,
devido a seu complexo teor de direitos, mensurado p ela
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52
obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de u m meio
ambiente ecologicamente equilibrado, já que se trat a de um
bem de uso comum do povo que deve ser preservado e mantido
para as presentes e futuras gerações. O parágrafo 1 º, inciso
III, do referido artigo constitucional traz a segui nte
redação:
“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;.” (grifos nossos)
Neste diapasão, a noção constitucional
de espaços territoriais protegidos abrange não some nte as
unidades de conservação, mas também as áreas de pre servação
permanente, a reserva legal, as reservas da biosfer a e biomas
como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serr a do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, previs tos no
art. 225, §4º, da CF/88.
Não se pode olvidar que outros
dispositivos constitucionais manifestam a opção do legislador
constituinte em considerar a preservação do meio am biente
como um dos pilares fundamentais da ordem constituc ional,
como pode ser deduzido de leitura sistemática do re ferido
texto legal. Os artigos 170, IV, que enquadra o me io
ambiente no rol dos Princípios Gerais da Atividade Econômica,
e 186, II, que, ao atribuir à propriedade determina da função
social, condiciona seu cumprimento à "utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e à preservação do me io
ambiente" , são expressões significativas da penetração desta
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53
perspectiva no interior de institutos de relevante
importância social e jurídica.
Conforme explicitado na presente exordial
e nos documentos anexos, a empresa ré pretende, par a a
implantação do empreendimento em questão, promover o corte
raso de aproximadamente 45,17 hectares de tipologia s
florestais diversas, englobando Floresta Atlântica e restinga
em estágio avançado de regeneração, manguezais, ent orno de
corpos hídricos e áreas úmidas, o que é expressamen te vedado
pela legislação ambiental vigente. Em adição a isto , desde já
se afirma que, claramente, o empreendimento almejad o pela ré
Subsea 7 não se enquadra nos casos de obras, planos ,
atividades ou projetos considerados de utilidade pú blica ou
de interesse social, assim como o EPIA/RIMA realiza do não
apresentou a avaliação de alternativas locacionais.
O Código Florestal (Lei Federal nº
4.771/65) aponta os manguezais, as restingas, as na scentes e
córregos com suas vegetações situadas no seu entorn o e as
florestas e vegetações situadas nas margens das rod ovias,
todos existentes no imóvel pretendido para a implan tação do
empreendimento da empresa ré:
“Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura: (...) c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água, qualquer que seja sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; (...) f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: (...) c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;” (grifos nossos)
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54
Adicionando-se a isto, o IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e SEMA
(Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paraná), e ditaram a
RESOLUÇÃO CONJUNTA IBAMA/SEMA/IAP Nº 005, DE 28 DE MARÇO DE
2008, que define critérios para avaliação das áreas úmidas e
seus entornos protetivos, estabelece que estas área s são de
preservação prioritária e proíbe expressamente inte rvenções
que possam causar as suas degradações:
“Art. 3º - Devido aos escassos remanescentes de áreas úmidas conservadas, tais áreas e seus entornos protetivos são considerados prioritários para a preservação, sendo proibidos licenciamentos ou autorizações para quaisquer finalidades ou intervenções que determinem ou possam vir a causar a sua degradação.
Parágrafo único - A intervenção de que trata o caput deste Artigo é qualquer ação de natureza física, química e/ou biológica que possa descaracterizar as áreas úmidas e seus entornos protetivos.
Art. 4º - Excepcionalmente, poderá ser admitida intervenção em áreas úmidas e em seus entornos protetivos, observada a normativa vigente e quando comprovada, através de estudos, a inexistência de alternativas técnicas e locacionais para a execução de obras, atividades ou empreendimentos de utilidade pública ou de interesse social, desde que não prejudique a função ecológica da área, a exceção de atividades de segurança nacional.” (grifos nossos)
Por sua vez, a Lei Federal nº 4.771/65 ,
visando à proteção total das Áreas de Preservação P ermanente,
determinou a expressa proibição de sua supressão,
ressalvando-se essa possibilidade, excepcionalmente , nas
hipóteses de interesse social ou utilidade pública apontados
no artigo 1º, § 2º, incisos IV e V do citado diplom a
legislativo 23 (que o empreendimento pretendido pela empresa
23 Art. 1º (...) § 2º Para os efeitos deste Código, entende-se por: IV - Utilidade pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e
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55
ré patentemente não se enquadra) , e desde que devidamente
caracterizado em procedimento administrativo própri o e
demonstrada a ausência de outra alternativa locacio nal , o que
também não foi respeitado pelo réu Instituto Ambien tal do
Paraná :
“Art. 3º. (...) § 1° A supressão total ou parcial de florestas de
preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social.
(...) Art. 4º A supressão de vegetação em área de
preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.” (grifos nossos).
Assim, nos termos do supracitado artigo
3º, § 1º, da Lei Federal nº 4.771/65, e do artigo 4 º da
Resolução Conjunta IBAMA/SEMA/IAP Nº 005, de 28 de março de
2008, evidentemente não se mostram presentes o interesse
social ou a utilidade pública , pelo contrário, os atos
administrativos ilegais, ora contestados, visaram apenas
atender a interesses eminentemente particulares , o que
contraria finalidade da administração pública em ze lar pela
proteção e preponderância do interesse coletivo, be m como
energia; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos previstos em resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA; V - Interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do CONAMA;
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56
desrespeita o disposto nos artigos 3º e 4º da Lei F ederal nº
4.771/65.
De outro lado, apresenta-se teratológica
a invocação, pelos responsáveis pela elaboração do EPIA/RIMA
parcial e enganoso, da Resolução CONAMA nº 369, de 2006, que
dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pú blica,
interesse social ou baixo impacto ambiental, que po ssibilitam
a intervenção ou supressão de vegetação em Área de
Preservação Permanente.
No que tange à Floresta Atlântica, o
Artigo 225 da Constituição Federal, em seu parágrafo 4º,
determina que: “§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata
Atlântica , a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zon a
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente , inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais.” (grifos nossos)
A Lei da Mata Atlântica, Lei nº
11.428/2006, dispõe em seu artigo 23, inciso I, que o corte,
a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio
médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica soment e serão
autorizados: “I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras,
atividades ou projetos de utilidade pública ou de interesse social, pesquisa científica e
práticas preservacionistas;”
Em outros dispositivos ainda estabelece:
“Art. 7º - A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica far-se-ão dentro de condições que assegurem:
I – a manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e regime hídrico do Bioma Mata Atlântica para as presentes e futuras gerações;
II – o estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável da vegetação e à formação de uma
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57
consciência pública sobre a necessidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas;
III – o fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manutenção do equilíbrio ecológico;
IV – o disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico com a manutenção do equilíbrio ecológico.
(...) Art. 11- O corte e a supressão de vegetação
primária ou nos estágios avançados e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando:
I – a vegetação: a) abrigar espécies da flora e da fauna
silvestres ameaçadas de extinção, em território nacional ou no âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;
b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;
c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio avançado de regeneração;
d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou
e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA;
(...) Parágrafo único. Verificada a ocorrência do
previsto na alínea ‘a’ do inciso I deste artigo, os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas necessárias para proteger as espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção caso existam fatores que o exijam, ou fomentarão e apoiarão as ações e os proprietários de áreas que estejam mantendo ou sustentando a sobrevivência dessas espécies”.(grifo nosso)
Já o artigo 12 preconiza que “ Os novos
empreendimentos que impliquem o corte ou a supressã o de
vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser impla ntados
preferencialmente em áreas já substancialmente alte radas ou
degradadas” .
O § 3º artigo 14 também é de extrema
relevância, pois nele se contemplam irregularidades do
processo de licenciamento da empresa requerida, uma vez que
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58
há a pretensão de supressão de espécies de Mata Atl ântica em
estágio avançado de regeneração , obviamente, sem configurar
qualquer questão de utilidade pública.
“Art. 14 – A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (...).
§3º - Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do inciso VIII do art. 3º desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma detalhada a alta relevância e interesse nacional”. (Grifo nosso)
A atuação tanto do IAP quanto da empresa
requerida incide-os no artigo 42 da Lei da Mata Atl ântica,
que prevê as penalidades no caso de ação ou omissão das
pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservâ ncia aos
preceitos da lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à
flora, à fauna e aos demais atributos naturais. Foi o que
ocorreu no caso em tela.
Desrespeitou ainda o IAP, como o órgão
responsável pela proteção ambiental do nosso Estado ,
principalmente de biomas ameaçados, o artigo 46 da Lei da
Mata Atlântica, que assim dispõe:
“Os órgãos competentes adotarão as providências necessárias para o rigoroso e fiel cumprimento desta Lei, e estimularão estudos técnicos e científicos visando à conservação e ao manejo racional do Bioma Mata Atlântica e de sua biodiversidade”.
Em outras palavras, é patente a vedação
legal para o corte de Floresta Atlântica e da insta lação do
empreendimento pretendido pela empresa ré no local em
comento.
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IX – DA NULIDADE DO LICENCIAMENTO
AMBIENTAL CONDUZIDO PELO RÉU INSTITUTO
AMBIENTAL DO PARANÁ
O licenciamento ambiental é, nos termos
do artigo 9º da Lei Federal 6.938/81, entre outros, um dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
"Artigo 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: (...)
IV - O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras."
O Decreto n.º 99274 de 06 de junho de
1990, estabelece em seu artigo 19:
"Artigo 19 - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:
I - Licença Prévia - LP, na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação, e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo;
II - Licença de Instalação - LI, autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado;
III - Licença de Operação - LO, autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação”.
A emissão do licenciamento ambiental pelo
Instituto Ambiental do Paraná, contrário ao seu pró prio
parecer técnico-jurídico, baseado num EPIA/RIMA eng anoso e
repleto de falhas e omissões, e, ainda, em frontal
desrespeito à legislação ambiental pertinente, cond uz à uma
patente nulidade.
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60
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP)
agiu contra a natureza e os fins da administração p ública, e,
além disto, feriu frontalmente um princípio básico da
administração, qual seja o princípio da legalidade.
Atualmente, não se pode cogitar em submissão a proj etos de
desenvolvimento econômico, sem que exista uma
compatibilização deste desenvolvimento com a manute nção da
qualidade ambiental e da produtividade dos recursos naturais.
Se a administração pública assim o permitir e consi derar,
estará traindo a verdadeira vontade do titular dos interesses
administrativos – o povo.
Assim se manifesta o mestre em Direito
Administrativo, Hely Lopes Meirelles:
“A natureza da administração pública é a de um múnus público para quem a exerce, isto é, a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade. (...) Daí o dever indeclinável de o administrador público agir segundo os preceitos do Direito e da moral administrativa, porque tais preceitos é que expressam a vontade do titular dos interesses administrativos – o povo – e condicionam os atos a serem praticados no desempenho do múnus público que lhe é confiado. (...) Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 17ªed. Malheiros. São Paulo, 1992. p.81-82)
Trata-se o aludido licenciamento de ato
nulo, não passível de convalidação, conforme ensina mentos da
majoritária doutrina:
“ Para Hely Lopes Meirelles, não existem atos administrativos anuláveis, pela ‘impossibilidade de preponderar o interesse privado sobre atos ilegais, ainda que assim o desejem as partes, porque a isto se opõe a exigência de legalidade administrativa. (...) Em relação à finalidade, se o ato foi praticado contra o interesse público ou com finalidade diversa da que decorre da lei, também não é possível a sua correção;” (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 6ª.ed. Atlas. São Paulo, 1996. p. 202-204.)
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X - DO ÔNUS DA PROVA
Pelo princípio da prevenção, norteador de
todo o Direito Ambiental, que se fundamenta nas
características de irreversibilidade e de difícil
quantificação e reparação dos danos ambientais,
consubstanciada na velha máxima de que prevenir é m elhor do
que remediar, não se deve autorizar um empreendimento sem que
se tenha certeza absoluta da não ocorrência de degr adação
ambiental .
Em virtude da natureza difusa do
interesse ao meio ambiente ecologicamente equilibra do, a
supremacia desse interesse público condiciona que a busca da
certeza da não ocorrência dos danos recaia sobre os
Requeridos e não sobre a coletividade, isto é, ocor re a
inversão do ônus da prova, devendo a empresa ré Subsea 7
apresentar os estudos que comprovem a não ocorrênci a de danos
e irregularidades/ilegalidades aqui apontadas.
Sobre o ônus do empreendedor, vale
colacionar o seguinte escólio:
“Outra questão a ser enfrentada para uma correta compreensão do princípio da precaução consiste em se estabelecer a quem cabe o ônus de demonstrar se existe ou não certeza científica suficiente sobre o curso de ação a ser adotado, se o impactos negativos a eles associados são considerados significativos e se as medidas de prevenção propostas são ou não economicamente viáveis. A Declaração do Rio não menciona especificamente que esse ônus recai sobre quem se propõe a desenvolver uma obra ou atividade qualquer da qual decorrem riscos ambientais significativos. Não obstante, outras articulações do princípio da precaução no plano internacional afirmam de forma bem específica que cabe ao proponente da obra ou atividade o ônus da prova dos fatos relevantes associados à sua implementação. Correspondendo a uma sensível alteração nas diretrizes que, por muito tempo, orientaram a formulação de medidas de política ambiental em muitos países, esse
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entendimento assenta-se no reconhecimento, obtido no curso da própria adoção do princípio da precaução, de que impactos ambientais negativos graves encontram-se inerentemente associados a muitos projetos e atividades de diferente natureza e magnitude, razão pela qual o ônus da demonstração de sua viabilidade ambiental deve recair sobre aqueles que se beneficiarão de sua implantação, criando os riscos que devem ser evitados.”24
XI – DOS PEDIDOS
XI.1 - DO CABIMENTO DE MANDADO LIMINAR
SEM JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA
A Lei 7.347/85, da Ação Civil Pública,
assim dispõe em seu artigo 11: "Na ação que tenha por objeto
o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou
a cessação da atividade nociva, sob pena de execuçã o
específica, ou de cominação de multa diária, se est a for
suficiente ou compatível, independentemente de requ erimento
do autor." A mesma Lei faculta ao juiz conceder o mandado
liminar com ou sem justificação prévia: “Art. 12. Poderá o
juiz conceder mandado liminar, com ou sem justifica ção
prévia, em decisão sujeita a agravo.”
Na presente hipótese, a cessação da
atividade nociva e a prestação de atividades devida s mediante
concessão de liminar sem justificação prévia se faz
imprescindível como forma de conferir efetiva prote ção ao bem
da vida vindicado, garantindo a não superveniência de danos
ambientais de reparação cada vez mais difícil, já q ue a
empresa ré, confiada na teoria do fato consumado, p ode
24 Princípios de Direito Ambiental na Dimensão Internacional e Comparada, José Adércio Leite Sampaio, Chris Wold e Afrânio Nardy, Editora Del Rey, pág. 21.
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iniciar/continuar a implantação do seu pretenso
empreendimento em Áreas de Preservação Permanente,
Manguezais, Restinga e Floresta Atlântica em área d e entorno
de Unidade de Conservação, sem a regular
autorização/licenciamento ambiental, uma vez que a Licença
Prévia emitida pelo réu IAP, e a anuência e alvará emitidos
pelo município de Pontal do Paraná estão eivadas d e diversos
vícios (nulidades), ferindo os princípios da admini stração
pública e proporcionando a iminente ocorrência de s érios e
irreversíveis danos ambientais.
Em razão da patente nulidade da Licença
Prévia/Alvará/Anuências concedidas, a partir das di versas
ilegalidades apontadas, e pelo fato da empresa ré SubSea 7 ,
com suas atividades de instalação, causarem degrada ção
ambiental e social de caráter irreversível na regiã o, a
concessão de MEDIDA LIMINAR é imprescindível para q ue se
impeçam os danos e não acarrete prejuízos irreversí veis ao
meio ambiente e à coletividade.
A medida liminar tem, assim, perfeita
aplicabilidade ao caso em questão, pois, a suspensã o imediata
dos citados atos administrativos e a determinação d e não
realização de qualquer atividade no local pretendid o pela
empresa ré é a única forma real de se garantir a
sobrevivência dos recursos naturais apontados e do respeito
às comunidades afetadas.
O artigo 12 da Lei 7.347/85 sujeita a
concessão de medida liminar ao atendimento de dois
pressupostos, quais sejam, periculum in mora e fumus boni
iuris.
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Importante lembrar que, diante da
iminente possibilidade de graves lesões ao meio amb iente e às
comunidades afetadas, resta clara a necessidade de aplicação
de princípio basilar do Direito Ambiental: o Princí pio da
Precaução.
O Princípio da Precaução dirige os rumos
do Direito Ambiental, estipulando como premissa pri mordial a
necessidade de empenhar esforços para prever, conhe cer e
mitigar os futuros danos ambientais do empreendimen to. O
Prof. Álvaro Luiz Valery Mirra define o princípio d a
Precaução da seguinte forma:
“No dizer de Cristiane Derani, “O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir desta premissa, deve-se também considerar não só o risco iminente de uma determinada atividade como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade. (...) “A precaução” – adverte Paulo Affonso Leme Machado – “age no presente para não se ter que chorar e lastimar no futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental, através da prevenção no tempo certo”.25
O princípio em tela está previsto no
Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro Sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento de 1992, abaixo transcri to:
“Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como
25 Direito ambiental: o princípio da precaução e sua aplicação judicial, artigo publicado na Revista de Direito Ambiental, n. 21, janeiro/março de 2001.
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razão para o adiamento de medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.
XI.2 - DO FUMUS BONI JURIS
O fumus boni iuris é a plausibilidade do
direito substancial invocado por quem pretende a de cisão de
mérito favorável para a concessão de tutela antecipada, que
está materializado na prova demonstrada de que todo o
procedimento administrativo que originou a Licença Prévia
emitida pelo réu IAP em prol da empresa requerida S ubSea7 foi
cercado de flagrantes ilegalidades , dentre outras a flagrante
afronta com a legislação ambiental pertinente, a
enganosidade, parcialidade e nulidade do EPIA/RIMA, a
contrariedade em relação ao próprio parecer técnico -jurídico
emitido pelo próprio requerido IAP e a desconsidera ção de
outras alternativas locacionais.
Da mesma forma, o alvará e anuência
emitida pelo município de Pontal do Paraná também s e encontra
cercado de ilegalidades e de desrespeito à toda a p opulação.
Ao longo de todos os itens anteriores,
evidenciou-se a plausibilidade do direito ora invoc ado nas
normas enumeradas, no qual se expõem os fundamentos jurídicos
da presente demanda, normas estas que vem sendo
flagrantemente descumpridas pelos Requeridos. Deflu i, ainda,
do princípio basilar do direito ambiental, que é o da
prevenção.
Cumpre enfatizar que os citados atos
administrativos, além de ilegais e nulos, importam em
verdadeiros “cheques em branco” para iminentes atos de
gravíssima degradação ambiental e social, já que o aludido
empreendimento pretende se implantar indevidamente em local
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de extrema fragilidade ambiental.
A argumentação da degradação do meio
ambiente ser justificada pelo atendimento ao intere sse
público sob o pretexto de geração de empregos també m deve ser
refutada de plano, conforme nos ensina o Juiz Paulo Afonso
Brum Vaz: “Situação muito comum nos dias de hoje, por conta
dos altos índices de desemprego, é o argumento de q ue o
empreendimento produtivo, ainda que prejudicial ao meio
ambiente, deve ser autorizado. Tal raciocínio não v em,
felizmente, obtendo êxito junto ao Judiciário, que na análise
do problema tem levado em conta muito mais os inter esses
gerais da sociedade do que o do grupo teoricamente favorecido
por tais iniciativas.” (VAZ, Paulo Afonso Brum. in Revista da
Associação dos Juízes Federais do Brasil - Direito Ambiental
- Ano 16 - Número 55 – Maio-Julho - 1997. p. 15)
XI.3 - DO PERICULUM IN MORA
A palavra de ordem no Direito Ambiental
deve ser a prevenção, vez que o dano ambiental cara cteriza-se
pela irreversibilidade e irreparabilidade, sendo qu e a tutela
antecipada, nesse âmbito, visa evitar a consumação de danos
ambientais irreversíveis. Ressalte-se, ainda, que o art. 225,
caput , da Constituição Federal, confere inviolabilidade ao
meio ambiente ao atribuir ao Poder Público e à cole tividade o
dever de proteger e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações. No art. 2º, incisos V I e IX, da
Lei 6.938/81, de Política Nacional do Meio Ambiente , o
princípio da prevenção é consagrado, pois antes mes mo do
advento da CF/88, já adotava o princípio da proteçã o dos
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recursos ambientais e o da proteção das áreas ameaç adas de
degradação. Sem sombra de dúvidas, a tutela jurisdi cional
adequada à proteção do meio ambiente é aquela apta a prevenir
danos e garantir sua inviolabilidade, sobretudo qua ndo o meio
ambiente é posto sob um risco concreto e iminente, como se
verifica na presente hipótese, na qual a legislação ambiental
é descumprida acintosamente, uma vez que o empreend imento em
questão vem sendo implantado sem licenciamento ambi ental
válido.
O periculum in mora traduz-se no risco
de se implantar a teoria do fato consumado, concern ente no
fato de que, se aguardarmos o julgamento final da p resente
ação, a implantação do empreendimento poderá ter to mado
proporções irreversíveis. O perigo da demora de uma decisão
favorável é evidente, face ao fundado receio de dan o
irreparável ou de difícil reparação ao meio ambient e.
Ora, permitir a empresa requerida Subsea
7 inicie as atividades de supressão de Floresta Atlâ ntica,
manguezais, restinga, áreas úmidas e entorno de cor pos
hídricos e de Unidades de Conservação), em que há v edação
expressa na legislação ambiental pertinente, e, ain da,
baseado em EPIA/RIMA enganoso e parcial e em proces so de
licenciamento ambiental flagrantemente nulo, até o fim do
presente processo , que pode durar vários anos, importa em
admitir a verdadeira perpetuação de degradação e po luição
ambiental em larga escala e em expressa violação ao direito
de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibr ado, cuja
higidez é de interesse difuso, além da afronta aos princípios
da administração pública.
Dito em outras palavras, permitir o
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início/continuidade da instalação ilegal de um empr eendimento
para tão-somente na sentença final da ação civil pú blica
reconhecer a nulidade do licenciamento ambiental, i mporta em
esvaziar o cunho preventivo das ações judiciais de proteção
ao meio ambiente e tornar as degradações ambientais
submetidas a meras indenizações ao final das demand as.
Segundo leciona a doutrina, havendo
conhecimento da superveniência de um dano ambiental , este
deve ser evitado, em consonância com o princípio da
prevenção. É este princípio que, em face do Poder J udiciário,
fundamenta as ações preventivas ambientais, pois di ante da
inviolabilidade do bem jurídico tutelado, de nada a diantaria
uma prestação jurisdicional após a superveniência d o dano.
Diante disto, e justamente para evitar
essa teoria do fato consumado, em respeito ao coman do
constitucional do artigo 225, o controle judicial s obre os
atos danosos à coletividade assume papel fundamenta l :
“Para bem cumprir as tarefas dele exigíveis nessa peculiaríssima área, o juiz deverá se submeter a um refletido exame de consciência. (...) Ele não é espectador isento, desvinculado do destino da demanda. (...) Não sobrepaira, incólume à transformação do ambiente por ele autorizada. Integra a comunidade dos interessados e nenhuma imunidade o privilegiará. Deverá, portanto, se desvestir de dogmas clássicos como o da neutralidade, bastando a tanto desenvolver sua consciência de ser humano a partilhar o destino dos semelhantes, sem proteção especial a não ser a intensificação de seu senso de ética ambiental. (...) O magistrado será intérprete do interesse comunitário, devendo saber distinguir entre valores momentaneamente perseguidos por grupos e aqueles permanentes, a serem garantidos como pressuposto de sobrevivência para as futuras gerações. Para isso, poderá exercer controle judicial sobre o mérito dos atos administrativos, consoante já prelecionou, com a autoridade de especialista no tema, o juiz ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA: ‘...a partir do momento em que o meio ambiente passa a ser considerado como um bem de uso comum do povo, não se der de modo satisfatório, segundo o juízo da comunidade, caberá a esta, valendo-se de seus legítimos representantes, buscar o estabelecimento da boa
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gestão ambiental, por intermédio, se for o caso, do Poder Judiciário’”26.
Destarte, uma vez concluídas as obras de
supressão de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Mata
Atlântica e de terraplanagem, os danos assumirão pr oporções
de difícil reversibilidade. Didier, ao discorrer so bre a
antecipação de tutela, outra espécie de medida caut elar que
guarda similitude com a que ora se pleiteia, lecion a que “na
antecipação de tutela assecuratória, antecipa-se po r
segurança, para impedir que, durante o processo, o bem da
vida vindicado sofra um dano irreversível ou difici lmente
reversível ”. Conforme leciona Luciene Gonçalves Tessler 27,
o processo tem por fim fazer valer os direitos atri buídos aos
cidadãos por meio das normas de direito material. O direito à
prevenção ambiental, antes de ser um direito proces sual, é
verdadeiro direito material. A Constituição Federal , no art.
225, traduz direito fundamental à inviolabilidade a mbiental.
Portanto, todos os cidadãos têm direito à tutela pr eventiva e
idônea do meio ambiente, capaz de assegurar sua int egridade.
O perigo da demora em uma situação como
esta equivale, nas palavras emprestadas do Promotor Jacson
Correa 28: “além do respaldo à própria ilegalidade, a um
verdadeiro estímulo à destruição da natureza, permi tindo
também que persistam as reiteradas agressões à saúd e humana,
provocando por si só a irreparabilidade do dano fac e a
impossibilidade de mensurá-lo concreta suficienteme nte, uma
vez que o meio ambiente sadio, e por conta disso to da a
26 NATALINI, José Renato. in: Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. jan/dez.1996.(45/46).p.144 27 In Tutelas Jurisdicionais do Meio Ambiente, RT, 2004. 28 Revista de Direito Ambiental - Ed. Revista dos Tribunais nº 1 - pág. 277.
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70
natureza representam um patrimônio que pertence a t odos,
indistintamente”
Não se pode permitir que a coletividade
seja ferida por vários anos, de forma descabida, em seus
direitos assegurados constitucionalmente, tais como o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, à saúde, à qua lidade de
vida e à vida, para, tão somente, buscar-se a
responsabilização dos réus por todos os danos já ca usados e
que continuam sendo causados, pelo que há que se ga rantir a
impossibilidade de início/continuação das atividade s ilegais
desenvolvidas pela empresa ré Subsea7 para que os danos não
se tornem irreversíveis.
Ademais, o ora postulado pelo Ministério
Público também tem amparo no disposto no art. 84 do Código de
Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90 (aplicável às Aç ões Civis
Públicas) e seu parágrafo terceiro: “Na ação que tenha por
objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não f azer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento”. (grifamos) O parágrafo
referido, por outro lado, dispõe: “Sendo relevante o
fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz co nceder a
tutela liminarmente ou após justificação prévia, ci tado o
réu”.
Ao tempo de ser imprescindível à
instrumentalidade do processo a concessão da medida liminar
para determinar a proibição de início das obras, nã o existe
periculum in mora in reverso . É que o reconhecimento de
eventual direito dos requeridos viabilizará o iníci o/retomada
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71
(das obras) sem maiores prejuízos aos demandados ou , ao
menos, num juízo de ponderação, em prejuízos menore s àqueles
causados pela instalação da empresa requerida Subsea7 ao meio
ambiente – estes, sim, irreparáveis .
XI.4 - DOS PEDIDOS LIMINARES
Posto isso, caracterizados o fumus boni
juris e o periculum in mora , no intuito de prevenir o advento
de novos danos ao meio ambiente e evitar a intensif icação dos
já verificados, cuja reparação se torna mais difíci l com o
tempo, requer o Ministério Público a concessão, INAUDITA
ALTERA PARS, das seguintes MEDIDAS LIMINARES, com fulcro no
que estabelece o art. 12 da Lei nº 7.347/85, com imposição de
multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) no ca so de
descumprimento, a ser revertido em prol do Fundo de
Restauração do Bioma Mata Atlântica, nos termos do artigo 11
da já citada lei, sem necessidade de justificação prévia,
determinando:
a) à empresa requerida Subsea7 a
abstenção de realização, incontinenti , de quaisquer
atividades ou obras de supressão de vegetação ou fl oresta,
aterro, terraplanagem, instalação e implantação de Base de
Montagem de Tubos Rígidos para apoio à extração de petróleo e
gás natural, contendo um píer marítimo para navios de grande
porte, bem como qualquer alteração ao ambiente na á rea objeto
da presente ação;
b) a suspensão da validade dos
licenciamentos ambientais irregularmente concedidos pelo réu
Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da anuência p révia e
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alvará emitido ilegalmente pelo requerido Município de Pontal
do Paraná.
c) aos réus Instituto Ambiental do Paraná
e Municípios de Pontal do Paraná que se abstenham d e emitir
qualquer espécie de licença/autorização/alvará/anuê ncia no
local, especialmente em favor da empresa Subsea 7 n o local em
comento;
d) a determinação de registro/anotação
anotação da limitação aos poderes de domínio útil na SPU
(RIP 0870.0100069-76, PROCESSO ADMINISTRATIVO
04936.005137/2007-35);
XI.5 – DOS PEDIDOS DEFINITIVOS
ANTE O EXPOSTO, requer o Ministério
Público, havendo substanciosa adequação entre o fat o e o
direito, que:
a) - seja a presente Ação Civil Pública
recebida, autuada e processada na forma e no rito
preconizado;
b) – Digne-se sejam as partes Requeridas
citadas na pessoa de seus Representantes Legais, pa ra,
querendo, virem responder aos termos da presente aç ão no
prazo legal, sob pena de aplicação dos consectários jurídicos
legais da revelia, o que desde já requer, produzind o as
provas que porventura possuir, acompanhando-a até f inal
julgamento, facultando ao Oficial de Justiça para a
comunicação processual, a permissão estampada no ar tigo 172,
§ 2°, do Código de Processo Civil;
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73
c) - Quanto ao MÉRITO, requer:
1) sejam confirmadas, no que forem
pertinentes, as medidas liminares pugnadas;
2) seja o réu Instituto Ambiental do
Paraná condenado na obrigação de não fazer, consistente n a
proibição de fornecer qualquer autorização ou licen ça
ambiental relativa à instalação de qualquer empreen dimento
potencialmente poluidor na área em discussão;
3) seja declarada a nulidade de todo o
processo de autorização/licenciamento ambiental rea lizado
pelo Instituto Ambiental do Paraná em prol da empresa
requerida Subsea7, em especial da Licença Prévia nº 25703 ;
4) seja declarada a nulidade do alvará e
anuências emitidas pelos Município de Pontal do Paraná em
prol da empresa requerida Subsea7 ;
5) seja a empresa ré condenada à
proibição da realização de quaisquer obras de supre ssão de
vegetação ou floresta, aterro, terraplanagem, insta lação e
implantação de Base de Montagem de Tubos Rígidos pa ra apoio à
extração de petróleo e gás natural, contendo um píe r marítimo
para navios de grande porte, bem como qualquer alte ração ao
ambiente na área objeto da presente ação;
6) seja a empresa requerida Subsea7
condenada a desocupar a área objeto da presente açã o e a
promover a demolição das edificações eventualmente
implantadas;
7) sejam todos os réus condenados a
recuperar qualquer degradação da área degradada e t odo o
passivo ambiental formado, visando à restauração do ambiente
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74
ao status quo ante , mediante projeto técnico a ser
apresentado, que atenderá às exigências técnicas de finidas em
perícia a ser realizada;
8) sejam todos os réus condenados a
indenizar pelos danos causados, sejam de natureza m aterial ou
extrapatrimonial, incluindo-se os danos morais cole tivos
causados, decorrentes da implantação dos empreendim entos em
questão, cuja dimensão, caracterização e valoração serão
estipulados em liquidação de sentença;
9) - a procedência in totum dos pedidos
liminares, da antecipação de tutela e da ação propo sta, com o
julgamento definitivo de modo a satisfazer todos os objetivos
expostos na presente peça vestibular inicial, fixan do-se para
isto prazo para o seu cumprimento, bem como cominaç ão de
sanção pecuniária, para o caso de descumprimento no prazo
estipulado, nos termos do artigo 11 da Lei nº 7.347 /85;
10) - a intimação da União, IBAMA e
município de Paranaguá, para se manifestarem acerca do
interesse de compor o pólo ativo da ação e, acaso m anifeste
desinteresse em compor o pólo ativo da demanda, req uer-se
vistas para verificar a situação processual dos res pectivos
entes;
11) – A publicação de Edital para dar
conhecimento a terceiros interessados e à coletivid ade,
considerando o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;
12) - Requer e protesta, ainda, provar o
alegado por qualquer meio de prova admitida em dire ito,
máxime provas testemunhais, periciais, documentais e inspeção
judicial, e, inclusive pelo depoimento pessoal dos
Representantes Legais dos Requeridos, pleiteando, d esde já, a
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75
juntada dos documentos anexos;
13) - Requer, desde já, a inversão do
ônus da prova que, em matéria ambiental, está expre sso no
princípio da responsabilidade objetiva e consubstan ciado em
diversos textos legais, a partir da Constituição Fe deral,
art. 225, § 3º;
14) – Protesta-se, ainda, por eventual
emenda, retificação e/ou complementação da presente exordial,
caso necessário;
15) – Sejam condenados as partes
Requeridas ao pagamento da custas e demais cominaçõ es legais;
16) - Na forma do art. 18, da Lei Federal
7347/85, requer a dispensa do adiantamento e pagame nto de
custas, emolumentos, honorários periciais, e outros encargos.
Conquanto de valor inestimável, dá-se à
causa, para os efeitos legais, o valor de R$ 10.000 .000,00
(dez milhões de reais), ressalvando, no entanto, qu e este é
um valor estimativo e formal, não impedindo o arbit ramento de
eventual indenização em nível superior.
Paranaguá, 17 de setembro de 2011.
ALEXANDRE GAIO SÉRGIO LUIZ C ORDONI
Promotor de Justiça Promotor de Justiça
ALESSANDRO JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA
Procurador da República