75
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE PARANAGUÁ-PR “(...) Para a implantação do Empreendimento em questão, haveria a necessidade de corte raso de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções em áreas de mangues e de preservação permanente no entorno de corpos hídricos, o que é vedado, não só pela Lei da Mata Atlântica, mas também pelo Código Florestal (arts. 3º e 4º), mesmo porque, o empreendimento aqui tratado não está se enquadrando nos casos de obras, planos, atividades ou projetos considerados de utilidade pública ou de interesse social. Além disto, existem alternativas locacionais para a sua implantação. Restou também constatado in loco, que todo o imóvel apresenta uma camada de material de origem vegetal, parcialmente decomposto denominado de ‘turfa’. A retirada deste material, implica na movimentação de solo, com posterior aterramento com materiais provenientes de outros locais/empréstimo, provocando sérias alterações de todo a dinâmica não só do local em si (necessário para abrigar um empreendimento), mas de todo o seu entorno. Fato idêntico, ocorreria em relação à abertura de estradas e com a construção de ponte para acessar o imóvel conforme previsto no EIA/RIMA, mesmo que parcialmente existentes. (...) Da própria leitura do EIA/RIMA, resta esclarecido que o local pretendido para a instalação do Empreendimento é caracterizada como uma importante ‘área de conservação’, visto abrigar espécimes de fauna ameaçados de extinção, as quais, evidentemente, com as intervenções no local, sofrerão ainda mais ameaças. Cabe destacar ainda que o local está inserido em zona de amortecimento de uma importante Unidade de Conservação do Estado do Paraná, qual seja, a Estação Ecológica Guaraguaçu (...) Assim, independentemente da demanda que discute, inclusive, a competência para o licenciamento em questão e em face das vedações legais e técnicas já citadas, opinamos pelo indeferimento do licenciamento pleiteado, com a conseqüente remessa dos procedimentos e do EIA/RIMA ao IBAMA para análise e considerações devidas” 1 . O MINISTÉRIO PÚBLICO, presentado pelos Promotores de Justiça representantes do Ministério Público do Estado do Paraná 2 e pelo Procurador da República representante do Ministério Público Federal 3 em Paranaguá, no exercício de suas atribuições legais, com arrimo no conjunto probatório colhido no procedimento administrativo de autos 1.25.007.000170/2010-80, vem, à presença de Vossa 1 Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010 do Instituto Ambiental do Paraná, emitido em 22 de julho de 2010. 2 2ª Promotoria de Justiça da comarca de Paranaguá, com endereço na avenida Gabriel de Lara, 771, Fórum, município de Paranaguá; e Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente em Curitiba, na rua Marechal Floriano, 1251, Rebouças, Curitiba/PR; 3 Procuradoria da República, com endereço na rua Rodrigues Alves, 800 – Conjunto 1004 – Centro Histórico – Paranaguá/PR.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

1

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SUBS EÇÃO

JUDICIÁRIA DE PARANAGUÁ-PR

“(...) Para a implantação do Empreendimento em questão, haveria a necessidade de corte raso de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções em áreas de mangues e de preservação permanente no entorno de corpos hídricos, o que é vedado, não só pela Lei da Mata Atlântica, mas também pelo Código Florestal (arts. 3º e 4º), mesmo porque, o empreendimento aqui tratado não está se enquadrando nos casos de obras, planos, atividades ou projetos considerados de utilidade pública ou de interesse social. Além disto, existem alternativas locacionais para a sua implantação. Restou também constatado in loco, que todo o imóvel apresenta uma camada de material de origem vegetal, parcialmente decomposto denominado de ‘turfa’. A retirada deste material, implica na movimentação de solo, com posterior aterramento com materiais provenientes de outros locais/empréstimo, provocando sérias alterações de todo a dinâmica não só do local em si (necessário para abrigar um empreendimento), mas de todo o seu entorno. Fato idêntico, ocorreria em relação à abertura de estradas e com a construção de ponte para acessar o imóvel conforme previsto no EIA/RIMA, mesmo que parcialmente existentes. (...) Da própria leitura do EIA/RIMA, resta esclarecido que o local pretendido para a instalação do Empreendimento é caracterizada como uma importante ‘área de conservação’, visto abrigar espécimes de fauna ameaçados de extinção, as quais, evidentemente, com as intervenções no local, sofrerão ainda mais ameaças. Cabe destacar ainda que o local está inserido em zona de amortecimento de uma importante Unidade de Conservação do Estado do Paraná, qual seja, a Estação Ecológica Guaraguaçu (...) Assim, independentemente da demanda que discute, inclusive, a competência para o licenciamento em questão e em face das vedações legais e técnicas já citadas, opinamos pelo indeferimento do licenciamento pleiteado, com a conseqüente remessa dos procedimentos e do EIA/RIMA ao IBAMA para análise e considerações devidas”1.

O MINISTÉRIO PÚBLICO, presentado pelos

Promotores de Justiça representantes do Ministério Público do

Estado do Paraná 2 e pelo Procurador da República

representante do Ministério Público Federal 3 em Paranaguá, no

exercício de suas atribuições legais, com arrimo no conjunto

probatório colhido no procedimento administrativo d e autos

nº 1.25.007.000170/2010-80, vem, à presença de Voss a

1 Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010 do Instituto Ambiental do Paraná, emitido em 22 de julho de 2010. 2 2ª Promotoria de Justiça da comarca de Paranaguá, com endereço na avenida Gabriel de Lara, 771, Fórum, município de Paranaguá; e Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente em Curitiba, na rua Marechal Floriano, 1251, Rebouças, Curitiba/PR; 3 Procuradoria da República, com endereço na rua Rodrigues Alves, 800 – Conjunto 1004 – Centro Histórico – Paranaguá/PR.

Page 2: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

2

Excelência, com fulcro nos artigos 127, 129 e 225 d a

Constituição Federal, Lei n.º 7.347/85, Lei n.º 6.9 38/81,

propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA , com pedido de

antecipação liminar dos efeitos das tutelas jurisdi cionais

pretendidas , em face de

SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA. ,

pessoa jurídica de direito privado,

inscrita no CNPJ MF sob o nº

04.954.351/0001-92, com sede em Niterói,

Estado do Rio de Janeiro, à rua

Engenheiro Fábio Goulart, nº 1555;

INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ,

pessoa jurídica de direito público, na

pessoa de seu Diretor-Presidente LUIZ

TARCÍSIO MOSSATO PINTO, com sede na rua

Engenheiro Rebouças, nº 1206, Curitiba –

Paraná;

MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ,

pessoa jurídica de direito público, com

sede na rua Engenheiro Rebouças, nº 1206,

Pontal do Paraná – Paraná;

Pelas razões de fato e de direito que se

passa a aduzir:

Page 3: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

3

I - DO OBJETO

1.1. DO OBJETO DA LIMINAR

Na presente Ação Civil Pública pleiteia o

Ministério Público provimento jurisdicional de cará ter

liminar e urgente consistente, dentre outros, na de terminação

de abstenção de qualquer obra ou atividade no imóve l em que a

empresa ré SUBSEA 7 pretende implantar uma Base de Montagem

de Tubos Rígidos para apoio à extração de petróleo e gás

natural, contendo um píer marítimo para navios de g rande

porte, para evitar a continuidade do flagrante desc umprimento

da legislação ambiental e urbanística e o advento d e danos

ambientais irreparáveis ou de difícil reparação (de ntre

outros o corte raso de aproximadamente 45 hectares de

Floresta Atlântica, abrangendo intervenções em área s de

preservação permanente – manguezais e entorno de co rpos

hídricos), além dos riscos causados pelo significat ivo

impacto degradador da implantação do empreendimento aos

biomas lá existentes.

Deduz, ainda, pedido de antecipação dos

efeitos da tutela pretendida para que seja declarad a,

liminarmente, a suspensão da validade dos licenciam entos

ambientais irregularmente concedidos pelo réu Instituto

Ambiental do Paraná (IAP) e das anuências prévias e alvarás

emitidos ilegalmente pelo requerido Município de Pontal do

Paraná .

Page 4: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

4

1.2. DO OBJETO PRINCIPAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

O objeto principal da presente Ação Civil

Pública é o de condenar a ré SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS

LTDA. na obrigação de não fazer consistente em se abster da

prática de qualquer obra ou atividade no imóvel em comento;

bem como, em qualquer caso e em responsabilidade so lidária e

integral com os réus INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ e

MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ, à obrigação de reparar

integralmente os danos ambientais e socioambientais causados,

conforme pedidos constantes alhures.

Ainda, no mérito, objetiva-se obter a

declaração de nulidade, em relação ao empreendiment o em

questão, de todos os procedimentos de licenciamento

ambiental realizados pelo réu IAP , e dos procedimentos

administrativos que originaram as anuências prévias e

alvarás emitidos pelo réu MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ , uma

vez que flagrantemente eivados de vícios.

Ressalta-se que a presente ação civil

pública, em termos de causa de pedir, enfoca princi palmente

os aspectos ambientais, haja vista que o componente indígena

e do patrimônio histórico serão objeto de apuratóri os

próprios, com eventuais ações civis públicas decorr entes,

sem considerar ações criminais e imputações de atos ímprobos

que serão objeto de ações próprias, conforme último despacho

lançado nos autos do Procedimento Administrativo.

II - DA ATUAÇÃO CONJUNTA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL

Page 5: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

5

Cumpre ressaltar ainda que a Lei 7.347/85

admite, em seu artigo 5º, §5º, a propositura de Açã o Civil

Pública conjunta entre o Ministério Público Federal e

Estadual:

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)

I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). (…) § 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990)

Nesse sentido já se posicionou o Superior

Tribunal de Justiça:

EMENTA - PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL - POSSIBILIDA DE - § 5º, DO ART. 5º DA LEI 7.347⁄85 - INOCORRÊNCIA DE VETO - PLENO VIGOR . 1. O veto presidencial aos arts. 82, § 3º, e 92, § único, do CDC, não atingiu o § 5º, do art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. Não há veto implícito. 2. Ainda que o dispositivo não estivesse em vigor, o litisconsórcio facultativo seria possível sempre que as circunstâncias do caso o recomendassem (CPC, art. 46). O litisconsórcio é instrumento de Economia Processual. 3. O Ministério Público é órgão uno e indivisível, antes de ser evitada, a atuação conjunta deve ser estimulada. As divisões existentes na Instituição não obstam trabalhos coligados. 4. É possível o litisconsórcio facultativo entre órgãos do Ministério Público federal e estadual⁄distrital. 5. Recurso provido. (STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 382.659 - RS (2001⁄0142564-5) - Dezembro de 2003 – RELATOR: MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS) (Grifamos)

Os signatários entendem que, não obstante

a Lei nº 7347/85 utilize da categoria jurídica

litisconsórcio, pelo princípio da unidade e indivis ibilidade

do Ministério Público, todas as manifestações serão

conjuntas, não havendo a necessidade de duplicidade nos

pronunciamentos e prazos processuais. No entanto, f orte no

princípio da independência funcional, ressalvam-se

Page 6: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6

entendimentos diversos de eventuais sucessores dos atuais

“Promotores naturais”.

III – DOS PRESSUPOSTOS FÁTICOS GERAIS

A ré SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA.

pretende instalar, em imóvel pertencente à União – vide anexo

ofício nº087/2010/DIIFI/SPU/PR – “terreno totalment e de

marinha, por tratar-se de ilha costeira” – (fl. 23 dos autos

principais) , situado na Ilha Guaraguaçu, no município de

Pontal do Paraná/PR, uma Base de Montagem de Tubos Rígidos

para apoio à extração de petróleo e gás natural, co ntendo um

píer marítimo para navios de grande porte. Consoant e o teor

do pleito de licença prévia apresentado pela empresa ré, a

pretensão é de ocupação de 45 hectares, o que equiv ale a

450.000 m2 (quatrocentos e cinqüenta mil metros qua drados).

Frise-se que essa extensão de área de ocupação pret endida

pela empresa ré corresponde aproximadamente à área total do

Porto de Antonina, somando-se as áreas do Terminal Barão de

Teffé e Terminal Ponta do Felix.

Por ser o local de relevante interesse de

preservação ambiental, seja pelos relevantes ecossi stemas que

o compõem, seja em decorrência de diversos e graves vícios no

Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de I mpacto

Ambiental (EPIA/RIMA) apresentado; seja pela conces são de

Licença Prévia ao empreendimento pelo ex-Diretor Pr esidente

do réu Instituto Ambiental do Paraná , contrariando Parecer

Técnico-Jurídico exarado por especialistas do própr io órgão;

seja pela afetação de Unidade de Conservação e pela pretensa

supressão de significativa extensão Floresta Atlânt ica em

Page 7: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

7

estágio médio e avançado de regeneração, além das p revistas

intervenções em áreas de preservação permanente – m anguezais,

restingas e entorno de corpos hídricos; pelo local albergar

vegetação do bioma Mata Atlântica e não ser o empre endimento

de utilidade pública ou de relevante interesse soci al; pela

região ser habitat natural de várias espécies ameaçadas de

extinção; dentre outras importantes razões a seguir expostas,

os presentes pleitos liminares objetivam que o proc esso de

licenciamento ambiental seja obstado e que o aludid o

empreendimento seja impedido de se instalar no luga r

almejado.

Já no mês de setembro de 2009, o

Ministério Público do Estado do Paraná recomendou a o

Instituto Ambiental do Paraná que negasse a licença ambiental

ao empreendimento sob análise, considerando, sobret udo:

I) que a ilha Guaraguaçu está inserida

em um importante remanescente de Mata Atlântica, bi oma que

constitui patrimônio nacional definido pela Constit uição

Federal;

II) o Decreto Estadual 2722/1984 que

define as ilhas fluviais como área de maior restriç ão para

ocupação;

III) que as faixas de terreno lindeiras à

linha de contorno da baía de Paranaguá também são á reas

definidas como de maior restrição de ocupação;

IV) a presença de sambaquis na região,

que delimita o uso do espaço;

V) a presença de populações

tradicionais no entorno;

Page 8: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

8

VI) que atividades industriais não são

permitidas em áreas de maior restrição no litoral d o Paraná,

como acima elencado;

VII) a importância do local para a

reprodução e sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção;

VIII) que o Plano Diretor do

Município de Pontal do Paraná não define o local co mo Zona

Industrial;

IX) a fragilidade ambiental do

ecossistema, reconhecida no RIMA;

Na mesma esteira, em maio de 2010 o

Ministério Público Federal redigiu Recomendação con junta com

o Ministério Público Estadual para que o processo d e

licenciamento da empresa ora requerida fosse encami nhado à

presidência do IBAMA, ressaltou-se a patente fragil idade

ambiental da área em comento e o caráter significat ivamente

degradador da implantação do empreendimento:

I) que há pretensão de corte raso de

Mata Atlântica e impacto em zona costeira, ambos pa trimônios

nacionais;

II) que o empreendimento prevê a

possibilidade de realização de dragagem de aprofund amento,

que compete ao IBAMA. Nesse sentido, o IAP dispõe n o

protocolo nº 07.410.775-3 que “Também poderá haver a

necessidade de dragagem durante a implantação ou op eração do

empreendimento” ;

III) que há relato da existência de

terras indígenas na área do empreendimento (Sambaqu i e Ilha

da Cotinga);

Page 9: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

9

IV) que foi registrada pelo IPHAN a

presença de 9 sambaquis, sendo que há 5 dentro dos limites da

propriedade da empresa;

Trata-se, assim, de pretenso

empreendimento portuário passível de causar signifi cativo

impacto ambiental, inclusive regional, o qual se pr etende

instalar em área de fragilidade ambiental.

A implantação e operação do

empreendimento gerará uma série de impactos ambient ais tanto

no meio físico quanto no meio biótico. Tais impacto s se

referem, principalmente, à modificação do ambiente natural,

com a supressão de significativa extensão de

vegetação/floresta, inclusive em áreas de preservaç ão

permanente, e construção de edificações e estrutura s

marítimas e de estradas de acesso, com a emissão de ruídos e

material particulado, além da criação de barreiras e risco de

atropelamento da fauna.

Transcrevemos alguns trechos do Estudo de

Impacto Ambiental que bem exemplificam tal situação :

“7.2.2 – Impactos relacionados ao meio biótico Diferentemente do meio físico, no qual, na fase

de operação, há uma tendência de estabilização dos ambientes alterados, os impactos relacionados ao meio biótico tenderão a permanecer durante a fase de operação, mesmo que com menos intensidade.

(...) Impactos relacionados à flora A mata a ser diretamente afetada é representada

por faixas onde predominam espécies nativas características de estágio inicial e médio de desenvolvimento, como regeneração de espécies. O impacto decorrente da supressão dessas faixas de mata nativa é de alta magnitude, pois, além de abranger área de preservação permanente, essa vegetação tem uma relação direta com a fauna local.

(...) Na porção submersa poderá haver distúrbios na

comunidade fitoplanctônica pela modificação da hidrodinâmica local e

Page 10: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

10

suspensão de sedimentos durante as obras de construção da ponte, cais, píer, o que pode interferir na qualidade da água estuarina.

Impactos relacionados à fauna Os impactos relacionados à fauna serão

observados primeiramente na área de implantação da Base de Soldagem Paranaguá – ADA - com reflexos na área de propriedade da Subsea 7 – AID. Os impactos previstos podem ser sofridos pela fauna estão relacionados principalmente ao afugentamento de animais, mudança na composição das comunidades e abundância das espécies, além da criação de barreiras”.

Submetido o EPIA/RIMA contratado pela

empresa ré Subsea 7 ao réu Instituto Ambiental do Paraná ,

este órgão público ambiental designou uma comissão

interdisciplinar técnica-jurídica para a sua apreci ação e

emissão de parecer sobre a eventual viabilidade de concessão

de Licença Prévia, que atestaria a eventual viabili dade

ambiental e locacional do empreendimento.

A comissão do próprio réu Instituto

Ambiental do Paraná, então, emitiu, em 22 de julho de 2010, o

Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010, o qual evidenciou a

absoluta inviabilidade ambiental e legal da implantação do

empreendimento no referido local. Senão vejamos:

“(...) a Lei Nº 11428, de 22 de dezembro de 2006 que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, é clara ao dispor que a sua supressão somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, quando inexistir alternativas técnicas e locacionais ao empreendimento proposto. Excepcionalmente, quando envolver pesquisas científicas e práticas preservacionistas (cf. arts. 14 e 20). Evidentemente, o empreendimento em questão não se enquadra nas disposições supra.

Para a implantação do Empreendimento em questão, haveria a necessidade de corte raso de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções em áreas de mangues e de preservação permanente no entorno de corpos hídricos, o que é vedado, não só pela Lei da Mata Atlântica, mas também pelo Código Florestal (arts. 3º e 4º), mesmo porque, o empreendimento aqui tratado não está se enquadrando nos casos de obras, planos, atividades ou projetos considerados de utilidade pública

Page 11: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

11

ou de interesse social. Além disto, existem alternativas locacionais para a sua implantação.

Restou também constatado in loco, que todo o imóvel apresenta uma camada de material de origem vegetal, parcialmente decomposto denominado de ‘turfa’. A retirada deste material, implica na movimentação de solo, com posterior aterramento com materiais provenientes de outros locais/empréstimo, provocando sérias alterações de todo a dinâmica não só do local em si (necessário para abrigar um empreendimento), mas de todo o seu entorno. Fato idêntico, ocorreria em relação à abertura de estradas e com a construção de ponte para acessar o imóvel conforme previsto no EIA/RIMA, mesmo que parcialmente existentes.

(...) Mesmo que se alegue que o imóvel atualmente

pertence ao Município de Pontal do Sul, o mesmo não perdeu as suas características.

(...) Da própria leitura do EIA/RIMA, resta

esclarecido que o local pretendido para a instalação do Empreendimento é caracterizada como uma importante ‘área de conservação’, visto abrigar espécimes de fauna ameaçados de extinção, as quais, evidentemente, com as intervenções no local, sofrerão ainda mais ameaças. Cabe destacar ainda que o local está inserido em zona de amortecimento de uma importante Unidade de Conservação do Estado do Paraná, qual seja, a Estação Ecológica Guaraguaçu (...).

(...) Assim, independentemente da demanda que

discute, inclusive, a competência para o licenciamento em questão e em face das vedações legais e técnicas já citadas, opinamos pelo indeferimento do licenciamento pleiteado, com a conseqüente remessa dos procedimentos e do EIA/RIMA ao IBAMA para análise e considerações devidas”. (destaque nosso)

Não bastasse o teor deste Parecer Técnico

Jurídico nº 001/2010, o Parecer Técnico DBio-Fauna 06/2010 ,

de 22 de julho de 2010, emitido pela Diretoria de

Biodiversidade e Áreas protegidas do réu Instituto Ambiental

do Paraná também concluiu pela absoluta inviabilidade

ambiental da implantação do empreendimento no referido local ,

em virtude dos seguintes fundamentos:

Page 12: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

12

“Com relação ao relatório final de fauna temos a opinar que a área a ser destinada ao empreendimento em questão é importante área de conservação onde foi observada a ocorrência de muitas espécies ameaçadas de extinção, tais como macuco, jaó-do-litoral, maçarico-acanelado, trinta-réis-real, papagaio da cara-roxa, Martinho, pica-pau-bufador, choquinha-cinzenta, bicudinho- do-brejo, macuquinho, Maria-da-restinga e outras espécies, que terão seus habitats restringidos ou suprimidos ou ainda submetidas as embarcações no rio, além do que o rio Guaranaçu é uma das áreas prioritárias de conservação de aves no Domínio mata Atlântica, acrescentando-se que a própria vegetação de restinga está protegida pela nossa legislação.

Ainda, considerando a localização na zona de amortecimento de uma unidade de conservação que está enquadrada numa categoria bastante restritiva de uso, como a Estação Ecológica do Guaraguaçu, opino pelo indeferimento da autorização”. (grifos nossos)

Registre-se que em 24 de agosto de 2010,

o réu Instituto Ambiental do Paraná enviou ofício 4 em mãos à

empresa ré solicitando que fossem apresentadas info rmações

técnicas quanto a não conformidade apontada pelo Pa recer

Técnico-Jurídico nº 01/2010. Tal fato causa-nos est ranheza,

visto que não é função do Diretor Presidente do órg ão

licenciador avisar a empresa interessada no conteúd o de sua

manifestação.

Na data de 9 de setembro de 2010, o então

Diretor Presidente do réu Instituto Ambiental do Paraná –

JOSÉ VOLNEI BISOGNIN, traça uma série de assertivas sem

quaisquer embasamentos técnicos à DIRAM (S.P.I.

07.07.071.657-7) 5. Alude que o parecer técnico-jurídico que

opinou pelo indeferimento do licenciamento seria intempestivo

e que não foi submetido à decisão da Direção do IAP ; que o

parecer é um ato intermediário opinativo, que não v incula a

pessoa jurídica de direito público; e QUE É DE SE R ECONHECER

QUE AS CONCLUSÕES DO PARECER TÉCNICO JURÍDICO SÃO TODAS

4 Ofício nº 500/2010/IAP/GP.

5 Anexo II do PA MPF.

Page 13: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

13

PRECOCES, POR ORA.

Segue anuência do Conselho de

Desenvolvimento Territorial do Litoral Paranaense-C OLIT,

datada de 22 de setembro de 2010, a mesma entidade que no

protocolo 10.182.206-0 havia deixado de emitir anuê ncia.

Da mesma forma, em outubro de 2010, o

IBAMA que dois meses antes havia firmado a competên cia,

rectius , atribuição para a condução do licenciamento, volt a

atrás e anui com a continuidade no procedimento no congênere

estadual.

Em setembro de 2010, através do ofício

467/2010, a prefeitura de Paranaguá faz juntar um p arecer

técnico em que, em cinco páginas demonstra uma séri e de

questionamentos e apresenta inúmeros riscos do

empreendimento, e, dois meses depois, o empreendedo r

encaminha para juntada ao procedimento administrati vo a

anuência prévia 050/2010 daquele município.

Em dezembro de 2010, por meio do ofício

nº 999/10, o Secretário de Meio Ambiente do Estado do Paraná,

o qual atendendo requisição do Ministério Público F ederal,

encaminhou cópia de documentos e informou textualme nte que

“até aquela data – 16 de dezembro de 2010 – não hav ia sido

emitida licença prévia” . Acontece que seis dias após, a

licença foi emitida, não sendo crível que aquela au toridade

não tivesse conhecimento da sua iminente emissão, s endo

duvidosa a intenção em prestar tal informação ao ór gão

ministerial.

Talvez não contasse com o fato que a

emissão da licença tenha sido veiculada pela impren sa local,

o que motivou uma inspeção ministerial, mesmo em pe ríodo de

Page 14: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

14

recesso forense, nas instalações da autarquia estad ual,

redundando na detecção das inúmeras injuridicidades apontadas

no auto de inspeção ministerial de folhas 90 e segu intes dos

autos principais do anexo.

Fato é que a licença prévia 25703, com

validade até 22/12/2012, foi emitida em 22 de dezem bro de

2010, com fundamentos questionáveis sob diversos as pectos,

alguns dos quais objeto da presente ação civil públ ica.

Destaque-se o ofício nº

0100/2011/IAP/PROJU, de 22 de fevereiro de 2011, da

Procuradoria Jurídica do IAP , que menciona as recomendações

emitidas pelo Ministério Público para a não concess ão da

Licença Prévia pelo IAP:

“Referidas recomendações, não foram objeto de analise e parecer de parte da Procuradoria Jurídica deste instituto Ambiental do Paraná – IAP. No entanto, a Comissão Multidisciplinar designada pela Portaria sob nº 136, de 20 de agosto de 2009, após vistoria in loco e análise do EIA/RIMA opinou pelo indeferimento daqueles estudos e, consequentemente, pela não expedição da Licença Prévia – LP (cf.. Parecer Técnico Jurídico nº 001/2010 – dc. Em anexo).

(...) Apesar das considerações supra, o ex-Diretor

Presidente deste IAP expediu a Licença Prévia sob nº 25703.” (destaque nosso)

Tão somente os fundamentos fáticos e de

direito expostos até aqui já são suficientes para a testar a

inviabilidade ambiental e legal da implantação e

funcionamento do empreendimento pretendido pela emp resa ré no

local em referência, assim como a conseqüente nulid ade da

Licença Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do

Paraná .

Contudo, conforme será exposto nos itens

seguintes, a estes fundamentos se somam diversas ou tras

Page 15: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

15

graves ilegalidades que, além de corroborar de modo

inequívoco a nulidade do licenciamento ambiental pr omovido

pelo réu IAP , importam, inclusive, na caracterização, em

tese, de práticas delituosas e de atos de improbida de

administrativa por representantes dos réus e da emp resa

contratada para a realização do EPIA/RIMA, que cert amente

serão objeto responsabilização pelo Ministério Públ ico em

separado.

A propósito, vale novamente consignar que

a presente ação civil pública, em termos de causa d e pedir,

enfoca principalmente os aspectos ambientais, haja vista que

o componente indígena e do patrimônio histórico ser ão objeto

de apuratórios próprios, com eventuais ações civis públicas

decorrentes, sem considerar ações criminais e imput ações de

atos ímprobos que serão objeto de ações próprias, c omo dito.

IV – DA IMPRESTABILIDADE E INVALIDADE DO

ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL E

RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL

(EPIA/RIMA) CONTRATADO PELA EMPRESA RÉ

Os itens apontados a seguir demonstram

que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatóri o de

Impacto Ambiental contratado pela empresa ré Subsea 7, além

de enganosos, não podem servir de base para qualque r decisão

administrativa de licenciamento .

IV.1 Da Enganosidade Do Estudo Prévio De

Impacto Ambiental E Relatório De Impacto

Ambiental (Epia/Rima)

Page 16: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

16

Em 28 de dezembro de 2010, o professor da

Universidade Federal do Paraná – o engenheiro flore stal Dr.

Carlos Velloso Roderjan, emitiu parecer técnico a p edido do

Ministério Público para avaliar o estágio de regene ração da

vegetação da Área Diretamente Afetada (ADA) e da Ár ea de

Influência Direta (AID), chegando às seguintes conc lusões:

“Com a análise feita em campo na data supracitada e com base nos dados do levantamento fitossociológico constante no EIA apresentado pelo empreendedor, é claro o enquadramento da cobertura vegetal predominante na ADA do empreendimento proposto (Quadrante 1) como Estágio médio de regeneração da Vegetação Arbórea de Restinga e, em determinados trechos, como Estágio Avançado de regeneração, discordante do enquadramento adotado no Mapa da Cobertura Vegetal da Área de Influência Direta do Empreendimento (figura 4.186), constante no EIA, como Estágio inicial de regeneração”.

As mesmas conclusões foram extraídas pela

equipe técnica do Centro de Apoio Operacional às Pr omotorias

de Proteção ao Meio Ambiente, a partir de vistoria realizada

no imóvel em questão na data de 11 de janeiro de 20 11:

“Em quase a totalidade da área vistoriada na ADA foi observada vegetação arbórea de restinga em estágio médio e avançado de regeneração, conforme fotos anexas.

(...) Em análise comparativa, entre os dados do

levantamento fitossociológico, constantes no EPIA/RIMA apresentado pelo empreendedor e observação em campo, percebe-se diversas discrepâncias dos enquadramentos e descrição da vegetação.

(...) Assim, o mapa de cobertura vegetal não

corresponde a realidade de campo, com os critérios definidos em resolução do CONAMA e literatura técnica. Portanto, o erro contido no EPIA/RIMA leva uma falsa informação e induz a um licenciamento ambiental para desmate em remanescente de vegetação da mata Atlântica vetada por Lei (...).

Outro aspecto que deve ser considerado são as várias nascentes na Área Diretamente Afetada (ADA), não informadas.

As conseqüências do aterramento estão intimamente ligadas ao rebaixamento do lençol freático e conforme descritos

Page 17: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

17

nos estudos de Hidrologia e Geomorfologia são ambientes de recarga hídrica com manutenção de água doce aos estuários. Neste caso de soterramento e impermeabilização, o manguezal do interior da ilha será o primeiro a sofrer com a deficiência hídrica.

Estas áreas são consideradas ‘Áreas úmidas’. Portanto, protegida por lei e o estado do Paraná baixou norma legal para a sua proteção (Resolução Conjunta IBAMA/SEMA/IAP nº 05/2008)” (grifos nossos).

A enganosidade do EIA/RIMA apresentado

pela empresa ré não somente se evidencia em relação ao

estágio sucessional da vegetação arbórea de resting a, como

também na omissão da existência de várias nascentes na Área

Diretamente Afetada.

Importante observar que a aludida

enganosidade, independentemente de subdimensionar a proteção

ambiental da área em comento, bem como as suas rest rições

legais, certamente vicia gravemente a licença prévi a emitida

pelo réu Instituto Ambiental do Paraná, que privile giou esse

estudo enganoso em detrimento do próprio parecer té cnico-

jurídico de sua instituição.

IV.2 - Da Invalidade Do Eia/Rima –

Ausência De Imparcialidade De

Profissionais Que Comandaram O Estudo.

A empresa ré Subsea 7 contratou a empresa

Aat Consultoria e Engenharia Ambiental para a reali zação do

Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de I mpacto

Ambiental (EPIA/RIMA) referente à pretensão daquela empresa

em implantar indústria de montagem de tubos rígidos para

plataformas de petróleo contendo píer marítimo. A r eferida

empresa de Consultoria, por sua vez, é coordenada p or Andréia

Page 18: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

18

Cristina Ferreira (Engenheira Agrônoma) e Annelissa Gobel

Donha (Engenheira Agrônoma) e composta por diversos outros

profissionais apontados no EPIA/RIMA e visualizados na

revista deste (documento anexo).

Tendo em vista que o EPIA/RIMA é um dos

principais documentos que o órgão público ambiental

competente analisa para decidir se emite ou nega o

licenciamento ambiental pleiteado pelo empreendedor , e

considerando o dever do EPIA/RIMA colacionar as ava liações

com o máximo de profundidade e abrangência, além da exatidão

dos dados, exige-se independência e impessoalidade da equipe

multidisciplinar que realiza os referidos estudos e m relação

à empresa que pretende implantar o empreendimento.

É o que explicita a Portaria IAP nº 038,

de 03 de março de 2010, que estabelece critérios pa ra

composição e qualificação de Equipe Técnica Multidi sciplinar

de Consultores e Empresas de Consultoria Ambiental,

responsáveis pela elaboração de Estudos Prévios de Impacto

Ambiental e Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambi ente:

“Artigo 5o. A equipe técnica multidisciplinar, com capacitação técnica compatível com as características do empreendimento / atividade, deve ter independência prevista em contrato celebrado com o empreendedor para elaboração do EPIA / RIMA.

Artigo 6o. Devido a importância, profundidade das análises e repercussões sobre a vida humana e aos recursos ambientais, a independência de manifestação da equipe técnica encarregada da elaboração do EPIA / RIMA deve atender aos mesmos princípios aplicáveis à administração pública direta e indireta, dispostos no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)” (grifos nossos)

Importante perceber que a legislação

emitida pelo próprio réu IAP determina a aplicação dos

Page 19: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

19

princípios da administração pública aos profissiona is que

integram a equipe técnica do EPIA/RIMA, incluindo

expressamente o dever de atendimento ao princípio da

impessoalidade .

No entanto, não é o que se verifica em

relação às seguintes profissionais Andréia Cristina Ferreira

(Engenheira Agrônoma) e Annelissa Gobel Donha (Enge nheira

Agrônoma), que, além de Coordenadoras Gerais, Coord enadoras

Técnicas e integrantes da equipe técnica de elabora ção do

EPIA/RIMA em meio físico, atuam como verdadeiras de spachantes

contratadas pela empresa ré Subsea 7 para defender os

interesses privados desta no seu pleito de licencia mento

ambiental.

Qual independência, imparcialidade e

impessoalidade que se espera de profissional (Annelisa Gobel

Donha) a quem é outorgado instrumento de procuração para

representar a empresa Subsea 7 do Brasil Serviços L tda. no

processo de licenciamento ambiental perante o Insti tuto

Ambiental do Paraná – IAP, “podendo tudo assinar, juntar e

retirar documentos e tudo o mais praticar para o bo m e fiel

cumprimento do presente mandato” (documento anexo, firmado em

Niterói, na data de 03 de março de 2010)???

Aliás, são diversos os atos e

solicitações da empresa ré Subsea 7 firmados justam ente pela

profissional Annelisa Gobel Donha . Dentre eles, cita-se

exemplificativamente o ofício firmado, em 10 de fev ereiro de

2009, por Annelisa Gobel Donha com timbre da empres a ré

Subsea7, solicitando Licença Prévia para o Empreend imento

Base de Montagem de Tubos Rígidos pela empresa Subs ea 7 do

Brasil Serviços Ltda..

Page 20: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

20

A mesma situação ocorre em relação ao

profissional Jorge Justi Junior, que integra a equi pe técnica

do EPIA/RIMA para o meio físico, por meio de Carta ao

Instituto Ambiental do Paraná, firmada em 23.07.201 0 por

Jorge Justi Junior, solicitando o prosseguimento do

licenciamento e designação de nova data de audiênci a pública,

diante da decisão emitida pelo Tribunal Regional Fe deral da

4ª Região.

Chama a atenção, também, a manifestação

acerca do Parecer Jurídico nº 01/2010 do IAP, assin ado por

Andréia Cristina Ferreira (Coordenadora Geral, Coordenadora

Técnica e integrante da equipe técnica de elaboraçã o do

EPIA/RIMA em meio físico) na data de 26 de agosto d e 2010, em

que esta profissional, que deveria guiar a sua atua ção com

independência e imparcialidade e com base no princí pio da

impessoalidade, diametralmente ao contrário advogou

ardorosamente os interesses da empresa Subsea 7 .

Destaca-se os seguintes trechos desta

manifestação:

“o Parecer, emitido em 22/07/10, opinou, surpreendente e intempestivamente, ‘pelo indeferimento do licenciamento (...)”; “(...) a questão da suposta proibição, no caso, de supressão de vegetação (...); (...) o empreendimento vai gerar emprego e renda, contribuindo para o desenvolvimento do litoral paranaense e de todo o Estado (...); (...) ainda sobre a suposta questão da tipologia de solos, ressalta-se que a MINEROPAR S.A. – cujos técnicos são especialistas nesta área e uma das instituições que recebeu o EIA encaminhado pelo IAP -, se manifestou a favor da instalação do empreendimento, sem, em qualquer momento, mencionar a questão do ‘solo de turfa’ (...); o suposto óbice turístico (...); (...) saliente-se que não é de nosso conhecimento a existência desse procedimento para enquadramento da área como de interesse turístico – até porque, para esta inclusão deverá haver a consulta ao SPU, APPA, órgãos estes que deverão anuir em breve à instalação do empreendimento, além de outras instituições governamentais. (...)” (grifos nossos); “(...) de resto, é de se enfatizar que a utilização de menos de 2% de uma área com mais de 2.600 hectares não significa, como é por

Page 21: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

21

demais evidente, que a mesma virá a perder suas características (...)” (grifos nossos); “(...) deve-se ponderar, desde logo, que descabe uma visão de sustentabilidade ambiental tão radical para este terreno (...)”; “(...) neste procedimento, o parecer é um ato intermediário, meramente opinativo, que não vincula a pessoa jurídica de direito público (IAP), enquanto não aprovado, na forma regimental – o que, no caso, inocorreu. (...)”; (...) por todas as razões expostas, pede-se, com o respeito devido, o desacolhimento , por intempestivo, do Parecer Jurídico nº 01/2010, e o prosseguimento do exame do pedido de licenciamento, com a breve designação de audiência pública, seguindo-se nos ulteriores termos até, pelo menos, a expedição da licença prévia (...)”. (grifos nossos)

É importante frisar que,

independentemente da possibilidade legal de respons abilização

(inclusive criminal) de profissionais que apresenta m estudos

no licenciamento ambiental contendo eventual engano sidade,

omissão e falsidade (ainda que parciais), a legislação

emitida pelo próprio réu IAP determina a obrigatori edade de

isenção e independência da equipe que integra do EP IA/RIMA em

relação à empresa que a contrata, o que efetivament e não

ocorre com a equipe contratada pela empresa Subsea 7.

A parcialidade e o comprometimento do

EIA/RIMA com interesses privados se potencializam a inda mais

no caso em comento, a partir da constatação de que as

profissionais Andréia Cristina Ferreira e Annelissa Gobel

Donha coordenaram todos os estudos ambientais e ass umiram a

condição de comando da representação da empresa jun to ao

Instituto Ambiental do Paraná.

Desta forma, o referido EIA/RIMA

coordenado por Andréia Cristina Ferreira e Anneliss a Gobel

Donha, além de absolutamente ilegal e inválido, apr esenta-se

absolutamente inapto para fins de licenciamento amb iental,

eis que é patente o seu comprometimento e parcialid ade em

relação à empresa ré Subsea 7. Consequentemente, a Licença

Page 22: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

22

Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Para ná também

é inválida, o que fundamenta a necessidade de sua i mediata

suspensão até o julgamento final, em que se pugna a

decretação de sua nulidade.

IV.3 - Da Invalidade Do Eia/Rima – Ilegal

Participação De Servidores Públicos Na

Equipe Multidisciplinar.

Dentre os profissionais contratados pela

empresa ré Subsea 7 para a realização do referido E studo

Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental

(EPIA/RIMA), constatou-se a ilegal e imoral partici pação de

servidores públicos em atividade em sua confecção, o que

contraria frontalmente os princípios da administraç ão

pública, especialmente os princípios da legalidade e da

moralidade. Mais do que isso, a participação de ser vidores

públicos da esfera federal, estadual ou municipal c omo

integrantes, orientadores ou consultores (permanent es ou

temporários) de um EPIA/RIMA causa a invalidade des te.

A referida Portaria IAP nº 038, de 03 de

março de 2010, que estabelece critérios para compos ição e

qualificação de Equipe Técnica Multidisciplinar de

Consultores e Empresas de Consultoria Ambiental, re sponsáveis

pela elaboração de Estudos Prévios de Impacto Ambie ntal e

Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente, veda

expressamente a participação de servidores públicos ou de

qualquer pessoa física que desempenhe funções, aind a que

comissionada, em qualquer órgão público e até mesmo nas

empresas públicas e sociedades de economia mista:

Page 23: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

23

“Artigo 6o. Devido a importância, profundidade das análises e repercussões sobre a vida humana e aos recursos ambientais, a independência de manifestação da equipe técnica encarregada da elaboração do EPIA / RIMA deve atender aos mesmos princípios aplicáveis à administração pública direta e indireta, dispostos no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988: princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...):

I. Vedação à participação, como integrantes e/ou orientadores e/ou consultores permanentes e temporários, em Equipes Técnicas Multidisciplinares e/ou Empresas Privadas de Consultoria Técnica Ambiental, de Servidores Públicos da Esfera Federal, Estadual e Municipal, à exceção daqueles que integram os Quadros Próprios de Professores / Pesquisadores de Universidades Públicas. A proibição de acumular estende-se, também, a empregados e qualquer pessoa física que desempenhe funções, mesmo que comissionada, em autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;

II. Não podem integrar / participar da elaboração de EPIA / RIMA, profissionais técnicos que integram o quadro de Servidores / Empregados de Órgãos Públicos integrantes do SISNAMA, mesmo que estejam em licença prêmio, férias e/ou licença especial com ou sem remuneração; (...)” (grifos nossos)

Conforme resultado de pesquisa solicitada

à Polícia Federal (documentos anexos), confirmou-se a

participação indevida e absolutamente ilegal dos se guintes

servidores públicos no EPIA/RIMA contratado pela em presa ré:

a) Vinícius Abilhoa – embora

Coordenador Técnico da equipe multidisciplinar do E PIA/RIMA e

integrante da equipe técnica para o meio biótico (B iólogo), é

servidor público da Prefeitura Municipal de Curitib a e, o que

torna essa ilegalidade ainda mais grave, é também integrante

de órgão público do SISNAMA (Secretaria Municipal d o Meio

Ambiente de Curitiba) 6;

6 Informação disponível em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/todos-os-funcionarios-da-prefeitura-secretaria-municipal-de-recursos-humanos/501 (acesso em 25.04.2011).

Page 24: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

24

b) Benno Henrique Weigert Doetzer –

embora integrante da equipe técnica para o meio fís ico do

EPIA/RIMA, é servidor público da EMATER (Instituto Paranaense

de Assistência Técnica e Extensão Rural), órgão do Estado do

Paraná;

c) Charles Carneiro - embora

integrante da equipe técnica para o meio físico do EPIA/RIMA,

é servidor da SANEPAR (Companhia de Saneamento do P araná) –

sociedade de economia mista sob o controle direto d o Estado

do Paraná;

d) Ernani Francisco da Rosa Filho -

embora integrante da equipe técnica para o meio fís ico do

EPIA/RIMA (Geólogo), foi servidor da SANEPAR (Compa nhia de

Saneamento do Paraná) – sociedade de economia mista – até o

mês de dezembro de 2009 (data em que o EPIA/RIMA já havia

sido protocolado no IAP);

e) Cláudia Ines Parellada - embora

integrante da equipe técnica para o meio antrópico do

EPIA/RIMA (Arqueóloga), é servidora pública da Secr etaria

Estadual de Cultura do Paraná;

f) João Gualberto Pinheiro Junior -

embora integrante da equipe técnica para o meio ant rópico do

EPIA/RIMA (Arqueóloga), foi servidor comissionado d a

Secretaria Estadual de Transportes do Paraná no ano de 2010;

g) Dionísio Rodrigues - embora

integrante da equipe técnica para o apoio técnico d o

EPIA/RIMA (Indígena), é servidor público da Secreta ria

Estadual de Educação do Paraná;

Desta forma, frente à ilegal e imoral

participação dos citados servidores públicos na ela boração do

Page 25: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

25

EPIA/RIMA, estes estudos são absolutamente ilegais e

inválidos e, portanto, apresentam-se absolutamente inaptos

para fins de licenciamento ambiental. Consequenteme nte, a

Licença Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Paraná

também por este motivo é inválida, o que fundamenta a

necessidade de sua imediata suspensão até o julgame nto final,

em que se pugna a decretação de sua nulidade.

IV.4 - Da Invalidade Do Eia/Rima –

Ausência de alternativa locacional.

Os estudos apresentados no procedimento

de licenciamento são nulos também por não apresenta rem ao

órgão licenciador, alternativas sobre o local do

empreendimento.

O objetivo principal do estudo, no

aspecto da alternativa locacional, é permitir ao ór gão

licenciador que analise e decida, com fundamentação e à vista

dos dados apresentados, se o local apresentado para a

instalação do empreendimento é adequado ou não, ten do por

parâmetro outros locais que eventualmente possam co mportar as

atividades, ou que por algum aspecto, apresente

características semelhantes.

O EIA/RIMA deve responder se não é

possível instalar o empreendimento em outro local, sem

maiores sacrifícios ambientais, sem perder de vista o aspecto

econômico do empreendimento (um dos aspectos do cha mado

desenvolvimento sustentável), sem descurar do indis pensável

confronto com a alternativa de não realização do

empreendimento.

Page 26: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

26

Ao lado da hipótese de não realização do

empreendimento, a alternativa locacional permite à autoridade

administrativa avaliar e contrastar o empreendiment o com o

não empreendimento, isto é, a não realização ou a fortirori a

sua realização em local diverso do pretendido.

Logicamente, não é preciso ser expert da

área ambiental para perceber que a apresentação de

alternativas, dentro do próprio terreno do empreend edor não

satisfaz, nem de longe, aos requisitos mínimos exig íveis para

o fator.

Ou seja, quando a normatização exige que

o estudo avalie alternativas locacionais, o faz ten do por

mote outras localidades que não, alternativas de

posicionamento das instalações dentro da área do pr óprio

empreendedor.

Por outro lado, antes de realizar o

Estudo Prévio e Impacto Ambiental propriamente dito , em

setembro de 2008, a empresa ré apresentou uma “cara cterização

técnica preliminar” onde aborda a questão. Ressalta -se que

esse estudo não serve para a avaliação da alternati va, do

ponto de vista normativo, primeiramente porque não consta no

Estudo de Impacto Ambiental, que é o estudo utiliza do por

base para as decisões quanto às licenças ambientais .

Além disso, salta aos olhos que a área de

Paranaguá/Pontal do Paraná foi escolhida, a frente de outras

áreas no Rio de Janeiro e Espírito Santo, por quest ões

econômicas, ou no mínimo fica evidente que o aspect o

econômico é o que prevaleceu.

E pior, o aspecto econômico prevaleceu em

detrimento da sensibilidade ambiental da área.

Page 27: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

27

O trecho que segue fala por si:

Sabe-se que todas as áreas costeiras possíveis no litoral Brasileiro apresentam restrições ambientais severas, fruto da legislação federal que considera manguezais e restingas como áreas de preservação permanente.

Não obstante, é forçoso reconhecer diferentes graus de interesse ecológico nas alternativas em tela, o que certamente coloca a área de Paranaguá em destaque, em função da riqueza de sua drenagem natural e da presença de manguezais pouco alterados em área abrigada.

Por outro lado, ao se conceber o terminal em cada alternativa, verifica-se inicialmente que Paranaguá dispensa quebra-mar, função das suas águas abrigadas, enquanto as duas outras alternativas exigem extensas proteções contra ondas, ventos e correntes.

(...) Mesmo considerando-se o maior valor ecológico

intrínseco da orla de Paranaguá, a disponibilidade de grande área costeira hoje designada para uso rural no Plano Diretor do Município e o interesse demonstrado pela Prefeitura de Paranaguá desde a fase de planejamento, combinados com a natureza não poluidora do empreendimento, contribuem para uma solução de engenharia que concilia os objetivos sócio-econômicos e ambientais, resultando em uma área diretamente afetada que não deverá ultrapassar vinte por cento da extensão da propriedade, com o restando destinado à preservação ambiental .

No caso em comento, não há, de fato, uma

escolha a ser realizada, já que a única proposta lo cacional

existente é justamente aquela escolhida pela própri a empresa

Subsea7.

Conforme explicação da 4ª Câmara de

Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal 7:

(...) A indicação das alternativas locacionais e tecnológicas é fundamental, pois é pré-requisito para a definição dos ambientes a serem submetidos aos impactos, bem como dos processos construtivos e industriais, e, por conseguinte, dos recursos utilizados e dos rejeitos gerados pelo projeto. (...)

Quanto às alternativas locacionais, Paulo

Affonso Leme Machado ensina que não basta a sua sim ples

7 In: Deficiência em Estudos de Impacto Ambiental. ESMPU (Escola Superior do Ministério Público da União)

Page 28: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

28

apresentação, já que essas alternativas devem ter u ma

razoável viabilidade 8:

(...) seria falsear o espírito da lei se, para forçar a escolha de um projeto, se apresentassem opções manifestamente inexequíveis. (...)

V - DA ALTERAÇÃO IRREGULAR DO ZONEAMENTO

MUNICIPAL DE PONTAL DO PARANÁ – DA

ILEGALIDADE À INSCONSTITUCIONALIDADE.

Na data de 04 de fevereiro de 2009, o

Prefeito Municipal de Pontal do Paraná firmou, a pe dido da

empresa ré Subsea 7, a seguinte declaração para ins truir o

pleito de licenciamento ambiental formulado por est a:

“Declaramos para fins de obtenção de Licença Prévia junto ao INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ – IAP, atendendo ao requerimento da empresa Subsea7 do Brasil Serviços Ltda. para a instalação da sua Base Off-Shore em Pontal do Paraná, que o Município de Pontal do Paraná nada tem a se opor em relação a instalação do empreendimento no município. Atualmente o terreno se encontra em área destinada a conservação ambiental, porém desde que haja o atendimento dos requisitos legais pertinentes e o comprometimento da empresa com a conservação e uso sustentável de área, o Município se compromete a criar um ‘Setor de Ocupação Especial’, através de Decreto Municipal, conforme prevê o artigo 43 da Lei Complementar nº 001/2007 que trata do Plano Diretor, visto que o empreendimento se enquadra como uso especial de interesse estratégico e relevante ao Município.”

Isto porque a própria lei do plano

diretor do réu Município de Pontal do Paraná estatu i a

destinação de preservação ambiental à região em que se situa

o imóvel em que a empresa ré Subsea 7 pretende se i nstalar.

8 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 166.

Page 29: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

29

Senão vejamos o que define a Lei Complementar Munic ipal nº

001/2007:

“Art. 44. A organização do espaço contido nos limites do Perímetro Rural Municipal é definida por esta Lei em Áreas, Setores e Zonas, de acordo com os limites estabelecidos no Mapa 02 – Zoneamento Ambiental Rural, e assim dividida:

(...) II – Setor Especial do Maciel – Comunidade

Tradicional Pesqueira; III – Zona de Conservação Ambiental Rural; IV – Unidade Ambiental de Planície de Restinga; V – Unidade Ambiental de Planície Aluvial; VI – Unidade de Proteção ao Manancial; VII – Área de Proteção ao Entorno de Bem

Tombado; e VIII – Unidade Ambiental do Mangue.

§ 1° As Unidades Ambiental do Mangue, de Planícies Aluviais e de Planícies de Restinga e a Unidade de Proteção ao Manancial são sujeitas a controle de uso por parte dos órgãos competentes do Estado e da União, e seu uso e ocupação devem seguir a legislação ambiental pertinente.”

Ainda no âmbito da legislação municipal,

a Lei Orgânica do Município de Pontal do Paraná também

determina que são áreas de proteção permanente os manguezais,

a mata atlântica, as áreas que abriguem espécimes r aros

ameaçados de extinção ou insuficientemente conhecid os da

flora e da fauna, bem como aqueles que sirvam como local de

pouso, abrigo e reprodução de espécies, e ainda, ár eas de

reconhecido valor arqueológico, as paisagens notáve is e os

sambaquis ( todas existentes no imóvel em que a empresa ré

pretende se instalar ), proibindo quaisquer atividades que

contribuam para descaracterizar ou prejudicar seus atributos

e funções essenciais, excetuadas aquelas destinadas a

Page 30: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

30

recuperá-las e, assegurar sua proteção, mediante pr évia

autorização dos órgãos municipais competentes 9.

Não obstante a clara previsão legal de

preservação ambiental da área em testilha na própri a

legislação municipal, o Prefeito Municipal de Ponta l do

Paraná, imbuído do intuito de atender os interesses

particulares do empreendimento pretendido pela ré S ubsea 7 e

de tentar atribuir a este aparência de legalidade, expediu,

em 22 de maio de 2009, o Decreto nº 3319, que insti tui a zona

especial de desenvolvimento sustentável de atividad es

industriais não-poluentes, no trecho compreendido e ntre os

rios Maciel e Guaraguaçu, sob os argumentos de cria ção de

novos empregos e aumento de arrecadação de impostos .

Em outras palavras, o referido Decreto

Municipal altera os parâmetros e usos de solos perm itidos

estabelecidos na Lei Complementar nº 001/2007, torn ando,

assim, “permissível” a instalação de indústrias em Áreas de

Preservação Permanente, Floresta Atlântica e Área d e Especial

Interesse Turístico.

Primeiramente, vislumbra-se a

inconstitucionalidade formal na alteração de zoneam ento

definido em Plano Diretor por meio da emissão de um mero

Decreto firmado pelo Prefeito Municipal, já que, co nforme

estatui a Lei Orgânica do Município de Pontal do Pa raná, a

9 Art. 240 Constituem áreas de proteção permanente: I - os manguezais, os mananciais, as praias, os costões e a mata atlântica; II - as áreas que abriguem espécimes raros ameaçados de extinção ou insuficientemente conhecidos da flora e da fauna, bem como aqueles que sirvam como local de pouso, abrigo e reprodução de espécies, e ainda, áreas de reconhecido valor arqueológico; III - as paisagens notáveis; V - os sambaquis; V - as áreas das nascentes dos rios; (...) VII - aquelas assim declaradas por lei. Parágrafo Único - Nas áreas de preservação permanente não serão permitidas atividades que, contribuam para descaracterizar ou prejudicar seus atributos e funções essenciais, excetuadas aquelas destinadas a recuperá-las e, assegurar sua proteção, mediante prévia autorização dos órgãos municipais competentes. (Lei Orgânica do Município de Pontal do Paraná)

Page 31: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

31

alteração de leis de zoneamento e uso do solo não s omente

exige a edição de lei 10, mas a aprovação desta por quórum de

maioria absoluta e sob a forma de lei complementar 11. Nesse

particular, salta aos olhos a afronta do artigo 43 da Lei

Complementar nº 001/2007, utilizado como fundamento para a

edição do citado Decreto, em relação à Lei Orgânica do

Município de Pontal do Paraná (hierarquicamente sup erior à

Lei Complementar), justamente porque outorga indevi da

liberdade e discricionariedade ao Prefeito Municipa l para

criação de espaços de expansão urbana sem qualquer submissão

a prévios estudos e processo legislativo de alteraç ão de lei

complementar.

De outro vértice, apresenta-se patente

que o referido Decreto nº 3319 é materialmente

inconstitucional, diante do frontal desrespeito à p rópria Lei

Orgânica do Município de Pontal do Paraná (hierarqu icamente

superior às demais leis municipais), à Constituição Federal,

e à legislação federal e estadual pertinentes.

O Município não pode estabelecer normas

menos rígidas que aquelas estabelecidas por leis fe derais ou

estaduais, bem como não contém autonomia para delib erar, por

exemplo, a respeito de qualquer obra em Área de Pre servação

Permanente, como pretende de modo absolutamente ind evido o

Prefeito Municipal de Pontal do Paraná. Neste ínter im,

10 Art. 14 Compete a Câmara Municipal deliberar, sob forma de projetos de lei, sujeitos à sanção do Prefeito, sobre as matérias de competência do Município, especialmente sobre: (...) II - matéria urbanística, especialmente o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, matéria relativa ao uso e ocupação do solo, parcelamento, edificações, denominação de logradouros públicos e estabelecimento do perímetro da zona e expansão urbana; 11 “Art. 38 (...) § 3º - Dependerá de voto favorável da maioria absoluta dos membros da Câmara: III - a aprovação de leis complementares; (...) Art. 45 (...) Parágrafo Único - As leis complementares versarão, dentre outras, sobre as seguintes matérias: (...) IV - Código de Zoneamento; V - Código de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo;”

Page 32: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

32

salutar a análise dos anexos ofícios do IBAMA e do próprio

IAP (Instituto Ambiental do Paraná), esclarecendo a

supremacia das normas estabelecidas pelo Código Flo restal

sobre a competência municipal para legislar sobre a ssuntos de

interesse local e a imprescindibilidade da observaç ão

rigorosa do que estabelece o Código Florestal (Lei Federal nº

4.771/65) no tocante às faixas de preservação perma nente,

sejam em áreas urbanas, rurais ou região litorânea.

Paulo Affonso Leme Machado 12 expõe a

impossibilidade do município editar normas que auto rizem a

intervenção em área de preservação permanente: “Ressalte-se que

nem o princípio de autonomia municipal possibilita o município autorizar obras públicas

ou privadas nas áreas destinadas a florestas de preservação permanente, pois estaria

derrogando e invadindo a competência da União, que estabeleceu normas gerais.”

O mesmo raciocínio se aplica no que

concerne à proteção ambiental erigida na Lei Federa l nº

11.428/2006 (Mata Atlântica) e na Lei Estadual nº 7 389/80

(Áreas de Especial Interesse Turístico), consoante já exposto

em item anterior.

O referido Decreto Municipal mostra-se

inconstitucional, mesmo que o Município de Pontal d o Paraná

alegasse que legislou sobre assuntos de interesse l ocal,

conforme dita o inciso I do artigo 30 da Constituiç ão

Federal. Tal entendimento se justifica, tendo em vi sta que a

Constituição Federal, além de estabelecer ser compe tência

concorrente da União, Estados e Distrito Federal le gislar

sobre meio ambiente (art. 24) , estabelece, em seu art. 30 ,

inciso II, que compete aos Municípios suplementar a

12 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 5ªed. Editora Malheiros. São Paulo, 1996. p. 489.

Page 33: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

33

legislação federal e estadual no que couber e desde que não

estabeleça critérios ou padrões menos restritivos d o que

aqueles determinados pelas legislações federal e es tadual.

Nessa toada, o Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná já declarou inconstitucional alter ação de

lei municipal de zoneamento urbano que poderia inte rferir em

área de proteção de manancial de abastecimento públ ico:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI COMPLEMENTAR - MAPA DE ZONEAMENTO DE USO DO SOLO E OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO - LOCALIZAÇÃO E LIMITES DAS ZONAS - ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAL DE ABASTECIMENTO PÚBLICO E REGIÃO SUPERIOR DE ‘FUNDO DE VALE’ - AFRONTA AO ECOSSISTEMA - ATOS LEGISLATIVOS AUTORIZATÓRIOS - LOTEAMENTO - INSTALAÇÃO - DECLARAÇÃO. Lei Complementar Municipal nº 18/93 editada pelo Poder Legislativo de Foz de Iguaçu, que altera o mapa de zoneamento de uso e ocupação do solo urbano e a localização de loteamentos populares de elevada densidade populacional em área de proteção de manancial de abastecimento público e região superior de ‘fundo de vale’. Preceito contido no art. 207 da Constituição do Estado do Paraná. A proteção aos mananciais objetiva através de restrições profundas ao uso do solo, manter incólume as fontes de alimentação de água potável para as cidades. Restabelecimento da ordem ambiental pela declaração de inconstitucionalidade da Lei Complementar por seus efeitos danosos ao ecossistema. (Acórdão nº 2211 - Órgão Especial – TJPR)

No caso em tela, não se trata de afastar

a competência municipal para legislar sobre o orden amento

territorial, mas de se fazer respeitar a ordem

constitucional que determina que, se criado um espa ço

ambiental protegido pela União ou pelo Estado (como na

hipótese versada na presente ação civil pública), a

competência do ente local é meramente suplementar 13 e não

13 SILVA, José Afonso da. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 230.

Page 34: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

34

pode contrariar ou modificar os atributos que justi ficam

a sua proteção 14.

Recentemente, em situação análoga, o

Superior Tribunal de Justiça esclareceu a predominâ ncia

da legislação paranaense, que define Áreas Especiai s de

Interesse Turístico (Lei Estadual nº 7389/80) sobre uma

lei municipal de Guaratuba/PR que permitia construç ão em

desacordo com a mencionada Lei Estadual 15. No voto-vista

da Ministra Denise Arruda, frisou-se:

“(...) Por certo, o referido dispositivo deve ser interpretado sistematicamente, de modo a não desprover de sentido o mencionado art. 24 da Constituição Federal. Tratando-se de matéria cuja competência legislativa é concorrente da União e dos Estados, não há como o município simplesmente invocar a permissão contida no citado inciso I do art. 30 da Carta Magna a fim de exercer sua competência privativa para legislar sobre assuntos de interesse local, ignorando a existência de normas estaduais e federais sobre o tema. Nesse caso, a competência municipal, quando couber, enquadra-se na previsão do inciso II do dispositivo constitucional, cumprindo-lhe apenas suplementar as normas já editadas. In casu, tem-se que a Lei Estadual 7.389/80, destinada a ordenar a ocupação e uso do solo no litoral paranaense, não interferiu na autonomia municipal, já que o interesse na preservação do patrimônio ecológico e paisagístico do Estado, por óbvio, extrapola os limites do que poderia ser considerado como interesse local do município, para fins de caracterização de sua competência privativa. (...)”.

14 Art. 225, § 1°, inciso III, CF. 15 (...) 2. A teor dos disposto nos arts. 24 e 30 da Constituição Federal, aos Municípios, no âmbito do exercício da competência legislativa, cumpre a observância das normas editadas pela União e pelos Estados, como as referentes à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente, não podendo contrariá-las, mas tão-somente legislar em circunstâncias remanescentes. (...) 4. A Lei Municipal nº 05/89, que instituiu diretrizes para o zoneamento e uso do solo no Município de Guaratuba, possibilitando a expedição de alvará de licença municipal para a construção de edifícios com gabarito acima do permitido para o local, está em desacordo com as limitações urbanísticas impostas pelas legislações estaduais então em vigor e fora dos parâmetros autorizados pelo Conselho do Litoral, o que enseja a imposição de medidas administrativas coercitivas prescritas pelo Decreto Estadual nº 6.274, de 09 de março de 1983. Precedentes: RMS 9.279/PR, Min. Francisco Falcão, DJ de 9.279/PR, 1ª T., Min. Francisco Falcão, DJ de 28.02.2000; RMS 13.252/PR, 2ª T., Min. Francisco Peçanha Martins, DJ de 03.11.2003. 5. Ação rescisória procedente. (Ação Rescisória nº 756/PR (1998/0025286-0), 1ª Seção do STJ, Rel. Teori Albino Zavascki. j. 27.02.2008, maioria, DJ 14.04.2008).

Page 35: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

35

Relevante destacar, por fim, que a

ilegalidade/inconstitucionalidade do citado Decreto Municipal

também se evidencia porque a Lei Orgânica do Municí pio de

Pontal do Paraná (a Lei Maior de uma municipalidade )

determina expressamente, levando em consideração a vocação de

proteção ambiental e do turismo da municipalidade, a

obrigação do Poder Público Municipal, frente a um R elatório

de Impacto Ambiental, SEMPRE decidir pelo interesse da

preservação ambiental no confronto com outros aspec tos

(inclusive o econômico):

“Art. 241 O Relatório de Impacto Ambiental poderá sofrer questionamento por qualquer pessoa, devendo o Poder Público Municipal sempre decidir pelo interesse da preservação ambiental no confronto com outros aspectos, compreendido o econômico.” (grifos nossos)

Importante destacar que essa conduta

ilegal, inconstitucional e imoral do réu Município de Pontal

do Paraná foi acompanhada e até mesmo incentivada p elo

Conselho do Litoral e Instituto Ambiental do Paraná , já que

estes, expressamente, apontaram a necessidade de al teração da

lei de zoneamento para que não houvesse óbice para a empresa

ré se instalar no citado imóvel:

“(...) faz-se necessário a manifestação de parte Prefeitura de Pontal do Paraná, que, inclusive, teria que promover modificações do respectivo zoneamento municipal, no sentido de permitir a implantação do pretendido empreendimento. (...)” (Informação nº 3733/2008/PROJU, de 29 de dezembro de 2008 – Instituto Ambiental do Paraná)

“(...) A emissão desta Anuência Prévia, fica

condicionada a aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de Pontal do Paraná neste Conselho, o qual defina a área como apta a recepção da atividade pretendida. (...)” (Anuência Prévia nº 007/2010 Indústria – Conselho do Litoral).

Page 36: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

36

VI - DA NULIDADE DA ANUÊNCIA PRÉVIA

EMITIDA PELO MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ

FRENTE À AUSÊNCIA DE ESTUDO DE IMPACTO DE

VIZINHANÇA.

Mesmo que a alteração de zoneamento

promovida pelo réu Município de Pontal do Paraná fo sse válida

(o que não é o caso) , a Anuência Prévia emitida pelo réu

Município de Pontal do Paraná em favor da ré Subsea 7 para a

implantação de seu empreendimento também viola fron talmente a

legislação municipal e se apresenta patentemente nu la, porque

desconsiderou a obrigatoriedade legal de realização prévia do

Estudo do Impacto de Vizinhança.

O Estudo de Impacto de Vizinhança é um

instrumento de execução da política urbana da Const ituição

Federal, previsto no Estatuto da Cidade (Lei Federa l nº

10257/2001) e que visa regular o uso da propriedade urbana em

prol do bem coletivo, do bem-estar dos cidadãos, be m como do

equilíbrio ambiental e da ordem urbanística.

Os artigos 4º e 36 e seguintes da Lei

Federal nº 10257/2003 (Estatuto da Cidade) prevêem a

necessidade de prévia realização do Estudo do Impac to de

Vizinhança para determinadas atividades ou empreend imentos,

em que se deve contemplar o estudo dos seus os efei tos

positivos e negativos quanto à qualidade de vida da população

residente na área e suas proximidades e no que conc erne aos

impactos à ordem urbanística, oportunizando-se a pa rticipação

da população interessada:

“Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: (...) VI - estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). (...)

Page 37: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

37

Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal. Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões:

I - adensamento populacional; II - equipamentos urbanos e comunitários; III - uso e ocupação do solo; IV - valorização imobiliária; V - geração de tráfego e demanda por transporte

público; VI - ventilação e iluminação; VII - paisagem urbana e patrimônio natural e

cultural. Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos

documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público municipal, por qualquer interessado.”

Veja-se que não há que se falar em

inexistência de legislação municipal que regula o t ema em

comento, pois a Lei Municipal nº 002/2007 de Pontal do Paran á

veio regulamentar a obrigatoriedade da apresentação , por

parte do empreendedor, à administração pública, do Estudo de

Impacto de Vizinhança (EIV) como pré-requisito para concessão

de licenças, autorizações e alvarás de construção,

localização e funcionamento relativos a empreendime ntos que

industriais que ocupem mais de 1.000 m2 (um mil met ros

quadrados) 16. O EIA/RIMA e o pleito de licença prévia

16 Art. 6° A área urbana municipal fica subdividida em Setores Especiais de Ocupação e Zonas Urbanas, dentro do zoneamento indicado no Mapa de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, parte integrante desta Lei, conforme súmula nos incisos a seguir: (...) II – Setor Especial Industrial (SEI): caracterizado pelo espaço urbano reservado às indústrias não poluentes, cujo licenciamento será precedido de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para edificações com área igual ou superior a 1000,00m² (mil metros quadrados). Os parâmetros de uso e ocupação do solo para o Setor Especial Industrial são os constantes das Tabelas 01 e 02;

Page 38: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

38

apresentado pela empresa ré afirma a pretensão de o cupação de

45 hectares, o que equivale a 450.000 m2 (quatrocen tos e

cinqüenta mil metros quadrados). Frise-se que essa extensão

de área de ocupação pretendida pela empresa ré corr esponde

aproximadamente à área total do Porto de Antonina, somando-se

as áreas do Terminal Barão de Teffé e Terminal Pont a do

Felix.

Em adição a isto, a Lei Complementar, nº

05/2007, que define o Código de Obras do Município de Pontal

do Paraná, também exige a prévia realização de Estu do de

Impacto de Vizinhança nas seguintes situações també m

correspondentes às pretensões da empresa ré Subsea 7:

“Art. 20. Todas as obras e serviços de construção, realizadas sobre o território do município de Pontal do Paraná, serão executadas, obrigatoriamente, mediante licença ou Alvará prévios, expedidos pela Prefeitura Municipal, obedecidas as normas desta Lei e das Leis Estaduais e Federais aplicáveis.

(...) Art. 71. São obras de transformação ambiental: I – Serviços de terraplenagem com área superior

a 5.000 m² (cinco mil metros quadrados) ou que, com qualquer dimensão contenha divisa com rio ou cursos d'água, elemento(s) notável (eis) de paisagem, valor ambiental ou histórico;

(...) III – Serviços de mineração ou extração mineral,

de desmatamento ou extração vegetal e de modificação notória de conformação físico-territorial de ecossistemas faunísticos e florísticos em geral, assim enquadrado por notificação de técnico do órgão municipal competente;

(...) Art. 72. Ficam sujeitas à elaboração do Estudo de

Impacto de Vizinhança (EIV) as obras mencionadas no Art. 71. § 1° O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)

deve ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades.

§ 2° Será exigido o EIA-RIMA quando assim a legislação estadual ou federal exigir.”

Page 39: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

39

Note-se que o réu município de Pontal do

Paraná não exigiu qualquer estudo da empresa ré, as sim como

não estabeleceu qualquer condicionante para mitigar ou

compensar os impactos da implantação do seu empreen dimento.

Aliás, a conduta do réu Município de Pontal do Para ná se

apresenta tão risível, que se sequer exigiu alvará de

construção para a pretensa ampliação do empreendime nto.

Veja-se que a Lei Municipal claramente

enumerou atividades/empreendimentos que possuem pre sunção de

potencial impacto, e, portanto, exige a OBRIGATORIE DADE (e

não faculdade) de realização de Estudo de Impacto d e

Vizinhança (EIV), como pré-requisito para concessão de

anuências, licenças, autorizações e alvarás de cons trução.

De forma incompreensível e intolerável, a

administração pública de Pontal do Paraná omitiu-se em fazer

cumprir a legislação urbanística. O Município de Po ntal do

Paraná, como órgão público que é, deveria primar pe lo

princípio constitucional da legalidade, juntamente com o da

finalidade administrativa, o qual explicita que o a gente

público somente pode fazer o que está autorizado e se for de

acordo com o direito.

Desta forma, considerando que a Anuência

Prévia emitida pelo réu Município de Pontal do Para ná em

favor da ré Subsea 7 para a implantação de seu empr eendimento

também viola frontalmente a legislação municipal e se

apresenta patentemente nula, consequentemente a Lic ença

Prévia emitida pelo réu Instituto Ambiental do Para ná, e que

se baseou na referida Anuência Prévia, também é ple namente

nula.

Page 40: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

40

VII- DA FRAGILIDADE E IMPORTÂNCIA

AMBIENTAL DA ÁREA EM COMENTO.

VII.1 – O entorno da Estação Ecológica do

Guaraguaçu.

Em 2008 o Departamento Jurídico do IAP

informa no protocolo nº 7.071.657-7:

“No caso em questão, percebe-se que o empreendimento está inserido no entorno da Estação Ecológica do Guaraguaçu, unidade de conservação ambiental criada pelo Decreto estadual nº 1230, de 27 de março de 1992, ou seja, na zona de amortecimento (...).

Sobre a Estação Ecológica de Guaraguaçu

colacionamos texto elaborado por técnico do próprio IAP 17:

“Pertencente ao domínio da Floresta Atlântica e com expressiva área de remanescentes florestais, a Unidade de Conservação contemplada neste mês pelo EcoNotícias é a Estação Ecológica do Guaraguaçu. Situada na planície costeira do litoral paranaense, a área dispõe de aproximadamente 1150 hectares de formações ecológicas bem conservadas, abrigando ambientes característicos como manguezais, restingas, caxetais e florestas de terras baixas.

Em função do terreno relativamente plano, a Floresta Atlântica da planície litorânea sofre alta pressão antrópica por parte das comunidades existentes na região. Quanto mais plano for o terreno, mais fácil é a sua ocupação e exploração.

Seja através da caça, do corte ilegal de espécies florestais ou da substituição por assentamentos, a biodiversidade remanescente encontra-se em risco. Mesmo assim, a Estação Ecológica do Guaraguaçu constitui uma das últimas áreas ao longo do litoral paranaense que apresenta ambientes com características primitivas ainda mantidas.

A área apresenta espécies da flora, da fauna e de outros grupos biológicos de importância ecológica, sendo que resguarda também espécies ameaçadas de extinção como o palmito (Euterpe edulis

17 Extraído do site: http://www.ecossistema.bio.br/econoticias/32/newsletter32-02.htm. Em 17 de março de 2011.

Page 41: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

41

Mart.) e a caxeta (Tabebuia cassinoides [Lam.] D.C.). Outrora, estas espécies ocorriam de forma abundante em toda a planície, mas ao longo do processo de ocupação tiveram suas populações reduzidas drasticamente.

Entre a fauna existente, destaca-se a presença do jacaré-do-papo-amarelo, do jáú-do-litoral e do papagaio-da-cara-roxa. Destaca-se também a presença de inúmeras espécies endêmicas de animais viventes dentro e no entorno da Unidade.

A existência de sambaquis no perímetro da Estação Ecológica do Guaraguaçu chama a atenção para a área, sob o ponto de vista arqueológico. Tal presença permite compreender um pouco da história de ocupação da planície litorânea do Paraná.

A Unidade ainda representa importante estratégia na conexão com populações naturais de remanescentes próximos. Tal fato consiste em verdade em função da existência de outras Unidades de Conservação na região, tanto de uso direto quanto de uso indireto. Próximo à Estação Ecológica do Guaraguaçu ainda encontra-se a Floresta Estadual do Palmito, que apresenta as mesmas formações ecológicas da primeira. Sendo assim, as comunidades viventes na região conseguem ampliar sua área de distribuição e evitar o cruzamento de indivíduos aparentados.

Apesar do entorno da Estação Ecológica do Guaraguaçu ser caracterizado por ambientes não florestais, degradados ou de composição vegetal diferente, tal Unidade resguarda importante banco de diversidade de espécies, genômica e de ambientes naturais – daí a importância de resguardar este resquício de Floresta Atlântica”.

Transcrevemos também outra narrativa

sobre a importância da Unidade de Conservação em pa uta 18:

“Estação Ecológica de Guaraguaçu - O maior remanescente da Mata Atlântica brasileira, onde a Estação Ecológica de Guaraguaçu está inserida, encontra-se entre as 25 mais importantes áreas para a preservação da biodiversidade no mundo, com índices críticos de risco, conforme estudo recente (Stattersfield et al.)

Localizada na planície costeira do Estado do Paraná, no município de Paranaguá, com uma extensão de 1150 hectares, a Estação Ecológica de Guaraguaçu mantém em seus limites ambientes ainda satisfatoriamente conservados, constituídos por Floresta Atlântica das terras baixas e por ecossistemas pioneiros de restingas arbóreas, manguezais, caxetais e brejos. O entorno desta unidade de conservação,

18

http://ambientes.ambientebrasil.com.br/unidades_de_conservacao/artigos_ucs/estacao_ecologica_de_guaraguacu.html.

Page 42: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

42

também chamada de zona de amortecimento, engloba áreas dos municípios de Pontal do Paraná, Matinhos e Paranaguá.

Estudos e diagnósticos iniciais indicam que a EE de Guaraguaçu constitui-se em uma das últimas áreas ao longo do litoral paranaense que apresenta ambientes com características primitivas ainda mantidas. O grau de conservação desses ambientes os caracterizam como verdadeiros patrimônios naturais, configurando esta Unidade de Conservação como uma das mais relevantes dentro do Sistema de Unidades de Conservação do Paraná.

A presença de espécies vegetais ameaçadas de extinção, citando entre outras o palmito-jiçara (Euterpe edulis), a caxeta (Tabebuia cassinoides), além de bromélias e orquídeas ornamentais, outrora abundantes e que atualmente encontram-se com os estoques naturais bastante reduzidos devido à intensa exploração que sofreram, são alguns exemplos de representantes do patrimônio natural nela contidos.

Entre a fauna ameaçada, a presença de espécies como o jaó-do-litoral (Crypturellus noctivagus), o jacaré-de-papo-amarelo (Caimam latirostris), a onça-parda (Puma concolor), a jaguatirica (Felis pardalis), a lontra (Lontra longicaudis), o bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) e o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), estes dois últimos endêmicos de uma área geográfica bastante restrita, demostram a importância que esta unidade de conservação representa para a sobrevivência destas espécies.

O maior remanescente da Mata Atlântica brasileira, onde a Estação Ecológica de Guaraguaçu está inserida, encontra-se entre as 25 mais importantes áreas para a preservação da biodiversidade no mundo, com índices críticos de risco, conforme estudo recente (Stattersfield et al.).

A importância da existência desta área de preservação máxima é corroborada pela situação de pressão antrópica a qual se submete juntamente com sua região de entorno. Pode-se citar o extrativismo de palmito-jiçara e de cipó-imbé, a caça, a pesca predatória, a derrubada da floresta para dar lugar a atividades ditas "produtivas", a forte pressão imobiliária da região das praias e a expansão urbana de Paranaguá, além de atividades que envolvem o manejo precário de espécies exóticas como a bubalinocultura, piscicultura, o plantio de pinus e eucalipto. Além disso, a contaminação e degradação dos rios Guaraguaçu e Pequeno por mineração e por efluentes urbanos também compromete a saúde dos ecossistemas que naturalmente se interrelacionam com os regimes hídricos.

(...) Por ter sido enquadrada na categoria de

manejo de "estação ecológica", a mais restritiva quanto ao uso, a EE de Guaraguaçu tem por objetivos primordiais a preservação máxima dos ambientes e da biodiversidade neles contida, a pesquisa científica e a educação

Page 43: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

43

ambiental. Não é permitida a visitação ou qualquer outra atividade de turismo dentro dos limites desta Unidade de Conservação”. (destaque nosso)

Para MURPHY (1997), as reduções na

diversidade biológica local também são resultantes de perdas

de áreas de hábitat e do isolamento de habitats

remanescentes. A fragmentação ou ruptura de corredores de

hábitat natural entre grandes extensões de habitats pode

levar à perda de espécies. (...) A conservação de t oda a

cadeia de diversidade biológica urbana necessita de proteção

das maiores extensões possíveis de habitat natural. (...) as

considerações políticas e econômicas nas áreas urba nas tornam

a preservação particularmente difícil.

Claro, portanto, que qualquer obra no

local almejado (considerado de extrema fragilidade) trará

danos ambientais irreparáveis a todos esses ecossis temas.

Importante assinalar que os manguezais

que compõem grande parte da região formam um ecossi stema

muito peculiar, uma vez que atua na geração e produ ção da

vida animal marinha.

Sua importância cresce mais se

considerarmos que tem ainda relevantes funções como : formar

barreira de proteção das áreas ribeirinhas, diminui ndo as

inundações; proteger a terra onde a força do mar, r etendo

segmentos do solo; filtrar os poluentes, reduzindo a

contaminação das praias; é uma grande fonte de alim ento para

a população ribeirinha; fornece proteção dos alevin os; grande

fonte alimentar aos peixes, moluscos e crustáceos,

Page 44: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

44

principalmente; constitui-se em um enorme gerador d e

plâncton. 19

Ora, como foi atestado pelo próprio

EIA/RIMA e por todos os pareceres técnicos iniciais , o

empreendimento situa-se em área de amortecimento da apontada

Estação Ecológica, o que demonstra mais uma vez a

inviabilidade ambiental para a instalação do empree ndimento

no local almejado.

VII.2 – Do Bioma Mata Atlântica e as

restingas.

A importância da preservação da Mata

Atlântica não se justifica apenas pelo seu valor

paisagístico, mas sobretudo para evitar que se afet e a vida

de grande parte da população brasileira, que vive n a área

original desse ecossistema. Além de regular o fluxo dos

recursos hídricos, ela é essencial para o controle do clima e

a estabilidade de escarpas e encostas. A Mata Atlân tica

constitui-se em um ecossistema de aproximadamente 4 0 milhões

de anos. Nela surgiram as primeiras espécies vegeta is do

Universo que temos conhecimento. Em seu ecossistema , a vida

resistiu há dois milhões e meio de anos, ao período de

glaciação do Pleistoceno, período em que as geleira s cobriram

quase todas as formas de vida do planeta. Some-se a isso, o

fato de que a Mata Atlântica abriga a maior biodive rsidade de

árvores do planeta, além do que 39% dos mamíferos q ue vivem

na Mata Atlântica são nativos, e ainda habitam nela mais de

15 espécies de primatas. A destruição desse ecossis tema tem

19 SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro. A importância e a proteção jurídica dos manguezais. In: Revista de

Direito Ambiental nº 5, Ano 02, jan-março de 1997. Ed. RT, p. 105.

Page 45: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

45

levado espécies de animais brasileiros à ameaça de extinção.

Por exemplo, das 202 espécies ameaçadas no Brasil, 171 são

originários da Mata Atlântica.

Por outro lado, além da perda dos

recursos naturais, a destruição da Mata Atlântica a tinge um

patrimônio cultural, histórico, arqueológico e arqu itetônico,

construídos ao longo de séculos pelas comunidades

tradicionais que vivem na mata (como os indígenas, os

caiçaras, os quilombos e os caboclos), que correm r isco de

desaparecer, por descaracterização ou expulsão de s eu

ambiente.

Segundo livro editado pelo Instituto

Ambiental do Paraná em 2005, da preservação da Flor esta

Atlântica depende a manutenção do microclima region al, a

qualidade dos mananciais que abastecem os município s do

litoral e da Região metropolitana de Curitiba e ain da a

proteção do porto de Paranaguá e do terceiro maior estuário

marinho do mundo, situado no litoral paranaense. 20

Ainda, segundo o supracitado Atlas, a

Floresta Atlântica, denominada tecnicamente Florest a

Ombrófila Densa, é a tipologia vegetacional que ori ginalmente

predominava na região costeira do Brasil. E ainda:

“DETENTOR DE UMA DAS ÚLTIMAS PORÇÕES CONTÍNUAS DE

FLORESTA OMBRÓFILA DENSA EXTRA-AMAZÔNICA NO PAÍS, O ESTADO DO

PARANÁ VEM ASSUMINDO A CONDIÇÃO DE ALVO PRIORITÁRIO PARA

CONSERVAÇÃO DESTES REMANESCENTES DE GRANDE IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA. A FLORESTA ATLÂNTICA OCORRE NA PORÇÃO LESTE DO ESTADO, SENDO

DELIMITADA PRATICAMENTE EM TODA SUA EXTENSÃO PELA CADEIA

MONTANHOSA DA SERRA DO MAR” . 21

20 Atlas da Floresta Atlântica do Paraná – cood. Técnica Paulo de Tarso de Lara Pires, Antonio Luiz

Zilli, Christopher Thomas Blum. Curitiba: SEMA/Programa Proteção da Floresta Atlântica – Pró-Atlântica, 2005. 21 Atlas da Floresta Atlântica do Paraná – cood. Técnica Paulo de Tarso de Lara Pires, Antonio Luiz

Zilli, Christopher Thomas Blum. Curitiba: SEMA/Programa Proteção da Floresta Atlântica – Pró-Atlântica,

Page 46: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

46

A Floresta Ombrófila Densa das Terras

Baixas, vegetação esta do caso em debate, compõe o Sistema

Primário de Vegetação. A Floresta Ombrófila Densa é definida

por muitos autores como a tipologia vegetal mais pu jante,

heterogênea e complexa do sul do País. Estima-se qu e a flora

arbórea deste tipo de vegetação seja representada p or mais de

700 espécies. A esta fantástica riqueza florística, somam-se

também inúmeras espécies de herbáceas terrícolas, l iana e

epífitas, formas de vida extremamente abundantes ne ste

Subgrupo de Formação 22.

Está-se, portanto, discutindo o impacto

de uma formação florestal de extrema importância.

Ainda sobre a Floresta Ombrófila Densa

das Terras Baixas infere-se:

“NO PARANÁ ESTA FORMAÇÃO RESTRINGE-SE ÀS

PLANÍCIES COSTEIRAS DE ORIGEM QUATERNÁRIA, APRESENTANDO-SE EM LOCAIS

SITUADOS POUCO ACIMA DO NÍVEL DO MAR E ATÉ APROXIMADAMENTE 20

METROS DE ALTITUDE. APRESENTA CARACTERÍSTICAS MARCANTES, TAIS COMO A

OCORRÊNCIA SOBRE SOLOS POUCO DESENVOLVIDOS E A ALTA SUSCETIBILIDADE

A ALAGAMENTO DECORRENTES DA ASCENSÃO DO LENÇOL FREÁTICO DURANTE OS

PERÍODOS MAIS CHUVOSOS. ESTES FATORES DETERMINAM UMA COMPOSIÇÃO

FLORÍSTICA E ESTRUTURAL BASTANTE TÍPICA”.

Novamente importante se faz colacionar

trecho do Atlas da Floresta Atlântica do Estado que destaca a

importância da preservação da Floresta Ombrófila De nsa:

“AINDA QUE PORÇÕES SIGNIFICATIVAS DA ÁREA

EM QUESTÃO AINDA ENCONTREM-SE EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO, DEVEM

SER CONSIDERADOS OS INÚMEROS VETORES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL QUE

AMEAÇAM SOBRETUDO A MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE DESTE RICO

CONJUNTO VEGETACIONAL. O PRINCIPAL FATOR DE DEGRADAÇÃO, EM MAIOR OU

MENOS INTENSIDADE DE ACORDO COM A CADA REGIÃO, CONTINUA SENDO A

2005. 22 Idem.

Page 47: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

47

SUBSTITUIÇÃO DE COMUNIDADE VEGETAIS AUTÓCTONES POR SISTEMAS

AGROPECUÁRIOS, ÁREAS URBANAS E INDUSTRIAIS. O DESFLORESTAMENTO

OCASIONA UMA BRUSCA REDUÇÃO NA BIODIVERSIDADE LOCAL ACARRETANDO

EM DESEQUILÍBRIOS NAS COMUNIDADES FAUNÍSTICAS, INTENSIFICAÇÃO DE

PROCESSOS EROSIVOS E ATÉ ALTERAÇÕES MICROCLIMÁTICAS”.

E ainda:

“A SUBSTITUIÇÃO DAS COMUNIDADES VEGETAIS

NATIVAS AINDA ABRE ESPAÇO PARA OUTROS FATORES DE DEGRADAÇÃO COMO: O

ENVENENAMENTO DA BIOTA DECORRENTE DO USO INDISCRIMINADO DE

AGROTÓXICOS E DA DISPOSIÇÃO INDEVIDA DOS RESÍDUOS URBANOS; A

CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA ATRAVÉS DA PROLIFERAÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS

INVASORAS; E AS ALTERAÇÕES NO REGIME HÍDRICO DO SOLO OCASIONADAS POR

PRÁTICAS DE REAFEIÇOAMENTO DO TERRENO E PELA INSTALAÇÃO DE SISTEMAS

ARTIFICIAIS DE DRENAGEM. POR FIM, SÃO AINDA RELEVANTES NO PROCESSO DE

PERDA DA BIODIVERSIDADE AS ATIVIDADES DE CAÇA E EXTRATIVISMO VEGETAL

PREDATÓRIO ONDE ESPÉCIES DA FAUNA E DA FLORA ÚTEIS AO SER HUMANO SÃO

EXAUSTIVAMENTE EXPLORADAS EM SEUS AMBIENTES NATURAIS DE

OCORRÊNCIA, OCASIONANDO DESEQUILÍBRIOS SIGNIFICATIVOS EM SUAS

POPULAÇÕES E CONSEQÜENTEMENTE REDUZINDO SUA BASE GENÉTICA”.

V.3 – Dos Manguezais.

Os manguezais formam um ecossistema único

e especial, tendo fundamental importância na geraçã o e

produção de vida animal, principalmente marinha, se ndo

considerados no mundo científico como berçários da vida

marinha.

O Juiz de Direito Antônio Silveira

Ribeiro dos Santos, em sua exposição sobre a import ância e

proteção jurídica dos manguezais, cita informações técnicas

da especialista em mangues Schaefer-Novelli:

“...o fato do manguezal ser o aparador do mar e o elo de ligação entre este e a terra firme, faz com que receba riquíssimos compostos orgânicos(...) O ecossistema manguezal possui, além de forte base energética solar, subsídios de outras fontes naturais de energia, sendo um sistema que produz excedente de matéria orgânica (...) Sua importância cresce mais se considerarmos que tem ainda relevantes funções como: formar barreira de proteção das áreas ribeirinhas, diminuindo as

Page 48: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

48

inundações; proteger a terra ante a força do mar, retendo segmentos do solo; filtrar os poluentes, reduzindo a contaminação das praias; é uma grande fonte de alimento para a população ribeirinha; fornece proteção aos alevinos; grande fonte alimentar aos peixes, moluscos e crustáceos, principalmente; constitui-se em um enorme gerador de plâncton.” (SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro dos. A importância e a proteção jurídica dos manguezais. In: Revista de Direito Ambiental nº 05, Ano 2, jan – março de 1997. Editora RT.p.105)

No Brasil, os manguezais possuem ampla

previsão legal para sua preservação, faltando, cont udo, maior

consciência de sua importância e aplicação efetiva de suas

normas protetivas.

Élio Wanderley de Siqueira Filho, Juiz

Federal, ensina que há várias limitações legais que devem ser

respeitadas, tanto pelo particular, como pelo Poder Público

na defesa dos manguezais:

“É imperioso salientar que, a despeito da possibilidade da União dispor do domínio útil dos terrenos de marinha, e, por conseguinte, conferi-lo a particulares, isto não significa que os mesmos possam, livremente, usar gozar e dispor do aludido domínio, explorando abusivamente ou suprimindo a vegetação peculiar aos mangues. A propriedade e o domínio útil, como, de resto, qualquer direito real sobre bem imóvel, estão sujeitos a limitações impostas pelo ordenamento jurídico, ditadas por exigências decorrentes do bem comum. Assim, é perfeitamente legítimo impedir que o particular ou, mesmo, o próprio Poder Público deixe de observá-las e cause lesão grave ao equilíbrio ambiental.” (SIQUEIRA FILHO, Élio Wanderley de. Mangues- Importância e Proteção Jurídica. in: Direito Ambiental em Evolução. org. Vladimir Passos de Freitas. Ed. Juruá. Curitiba, 1998. p.515)

VII.3 – Das áreas úmidas e entornos de

corpos hídricos.

As Áreas de Preservação Permanente, como

o próprio nome evidencia, são locais, ecossistemas e funções

imprescindíveis para o equilíbrio ecológico, para a tutela

dos recursos naturais (flora, fauna, solo, águas) e para a

Page 49: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

49

garantia de qualidade de vida das presentes e futur as

gerações, tanto que a legislação ambiental brasilei ra veda

expressamente intervenções ou supressões nessas áre as.

Além dos entornos dos corpos hídricos, o

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e

SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paran á),

editaram a RESOLUÇÃO CONJUNTA IBAMA/SEMA/IAP Nº 005 , DE 28 DE

MARÇO DE 2008, que define critérios para avaliação das áreas

úmidas e seus entornos protetivos, estabelece que e stas áreas

são de preservação prioritária e proíbe expressamen te

intervenções que possam causar as suas degradações:

“Art. 3º - Devido aos escassos remanescentes de áreas úmidas conservadas, tais áreas e seus entornos protetivos são considerados prioritários para a preservação, sendo proibidos licenciamentos ou autorizações para quaisquer finalidades ou intervenções que determinem ou possam vir a causar a sua degradação.

Parágrafo único - A intervenção de que trata o caput deste Artigo é qualquer ação de natureza física, química e/ou biológica que possa descaracterizar as áreas úmidas e seus entornos protetivos.

Art. 4º - Excepcionalmente, poderá ser admitida intervenção em áreas úmidas e em seus entornos protetivos, observada a normativa vigente e quando comprovada, através de estudos, a inexistência de alternativas técnicas e locacionais para a execução de obras, atividades ou empreendimentos de utilidade pública ou de interesse social, desde que não prejudique a função ecológica da área, a exceção de atividades de segurança nacional.” (grifos nossos)

VII.4 – Da área litorânea e o ecossistema

marinho.

A importância de preservação dos mares e

zonas costeiras é expressada pelos especialistas no tema:

“Embora os recursos dos mares não sejam inesgotáveis, representam, no entanto, uma biomassa considerável, de que o homem tira proveito desde épocas muito remotas. As águas salgadas, consideradas em seu conjunto, encontram-se entre os meios naturais de mais

Page 50: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

50

alta produtividade; aliás, boa parte das proteínas naturais consumidas pela humanidade provém delas.

(...) Nenhuma parte das águas salgadas é desprovida

de vida; esta, pelo contrário, é extremamente abundante,(...) (...) A biomassa total dos vegetais e dos animais

marinhos, de que já se descreveram verdadeiras galáxias, não é, por este motivo, comparável às biomassas terrestres. As águas marinhas formam biocenoses extraordinariamente complexas e particularmente prósperas, com cadeias alimentares inumeráveis, das algas microscópicas e dos pequenos animais do plâncton, aos gigantes dos mares, peixes, polvos e baleias.” (DORST, Jean. Antes que a natureza morra: por uma ecologia política; tradução de Rita Buongermino. 5ªed. Ed. Edgar Blücher. São Paulo, 1995. p. 300)

“O oceano ajuda a manter o equilíbrio global, promovendo constantemente uma distribuição mais uniforme de temperaturas”. (GORE, Albert. A Terra em Balanço. tradução de Elenice Mazzilli. Ed. Augustus. São Paulo, 1993. p. 111)

“ Os ecossistemas estuarinos são considerados

altamente produtivos, ecologicamente complexos e estáveis. Exportam detritos, nutrientes e organismos a ecossistemas vizinhos, contribuindo significativamente para a produtividade costeira marinha.” ( Teal, 1962, Schelske e E.P.Odum, 1962 in YANEZ-ARANCIBIA, 1987)

Os recursos marinhos, considerados em seu

conjunto, foram e ainda são objeto de uma exploraçã o

irracional, que põe em perigo a sua própria perenid ade.

Convém lembrar que, geralmente, tem-se definido a Z ona

Costeira de forma simplista, sem considerar aspecto s

relevantes como os processos ecológicos e hidrológi cos.

Assim, quando se discute a respeito do impacto ambi ental de

determinada obra na Zona Costeira, deve-se atentar para a

área biofísica, no que se refere á formação geológi ca e seus

substratos, os processos dos ecossistemas, a químic a, a

hidrologia, a distribuição das espécies; e também s e atentar

Page 51: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

51

para a área sócio-econômica, no tocante ao impacto da

extração dos recursos, a contaminação, o prejuízo p ara a

exploração pesqueira, etc.

A área litorânea em questão transcende os

limites dos municípios de Pontal do Paraná e Parana guá e é

tida como patrimônio da humanidade. Os reflexos dos danos que

a ela venham a ser causados estendem-se a todos os

brasileiros e não apenas aos que habitam naquela re gião.

Foi cabalmente demonstrado que o

empreendimento pretendido pela empresa ré possui a previsão

de séria e grave afetação de todos esses ecossistem as e

biomas, além do ecossistema marinho, não somente na fase de

implantação, mas também na fase do seu funcionament o.

Oportuno ainda afirmar que ao Poder

Público é atribuído o poder-dever de exercer o cont role de

atividades potencialmente causadoras de impactos am bientais

significativos e de, quando necessário, obstar o ex ercício de

atividades danosas ao meio ambiente. É explicitamen te

confiado ao Poder Público o poder-dever de proteger os

ecossistemas, a fauna e a flora, vedadas as ativida des que

coloquem risco suas funções ecológicas ou causem a extinção

de espécies, principalmente nos ecossistemas declar ados

Patrimônio Nacional e reconhecida como Reserva da B iosfera

pela UNESCO em 1991, como no caso objeto desta ação .

VIII – DO DIREITO

O artigo 225 da Constituição Federal

exerce a função de principal norteador do meio ambi ente,

devido a seu complexo teor de direitos, mensurado p ela

Page 52: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

52

obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de u m meio

ambiente ecologicamente equilibrado, já que se trat a de um

bem de uso comum do povo que deve ser preservado e mantido

para as presentes e futuras gerações. O parágrafo 1 º, inciso

III, do referido artigo constitucional traz a segui nte

redação:

“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;.” (grifos nossos)

Neste diapasão, a noção constitucional

de espaços territoriais protegidos abrange não some nte as

unidades de conservação, mas também as áreas de pre servação

permanente, a reserva legal, as reservas da biosfer a e biomas

como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serr a do Mar,

o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, previs tos no

art. 225, §4º, da CF/88.

Não se pode olvidar que outros

dispositivos constitucionais manifestam a opção do legislador

constituinte em considerar a preservação do meio am biente

como um dos pilares fundamentais da ordem constituc ional,

como pode ser deduzido de leitura sistemática do re ferido

texto legal. Os artigos 170, IV, que enquadra o me io

ambiente no rol dos Princípios Gerais da Atividade Econômica,

e 186, II, que, ao atribuir à propriedade determina da função

social, condiciona seu cumprimento à "utilização adequada dos

recursos naturais disponíveis e à preservação do me io

ambiente" , são expressões significativas da penetração desta

Page 53: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

53

perspectiva no interior de institutos de relevante

importância social e jurídica.

Conforme explicitado na presente exordial

e nos documentos anexos, a empresa ré pretende, par a a

implantação do empreendimento em questão, promover o corte

raso de aproximadamente 45,17 hectares de tipologia s

florestais diversas, englobando Floresta Atlântica e restinga

em estágio avançado de regeneração, manguezais, ent orno de

corpos hídricos e áreas úmidas, o que é expressamen te vedado

pela legislação ambiental vigente. Em adição a isto , desde já

se afirma que, claramente, o empreendimento almejad o pela ré

Subsea 7 não se enquadra nos casos de obras, planos ,

atividades ou projetos considerados de utilidade pú blica ou

de interesse social, assim como o EPIA/RIMA realiza do não

apresentou a avaliação de alternativas locacionais.

O Código Florestal (Lei Federal nº

4.771/65) aponta os manguezais, as restingas, as na scentes e

córregos com suas vegetações situadas no seu entorn o e as

florestas e vegetações situadas nas margens das rod ovias,

todos existentes no imóvel pretendido para a implan tação do

empreendimento da empresa ré:

“Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura: (...) c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água, qualquer que seja sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; (...) f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: (...) c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;” (grifos nossos)

Page 54: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

54

Adicionando-se a isto, o IBAMA (Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e SEMA

(Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paraná), e ditaram a

RESOLUÇÃO CONJUNTA IBAMA/SEMA/IAP Nº 005, DE 28 DE MARÇO DE

2008, que define critérios para avaliação das áreas úmidas e

seus entornos protetivos, estabelece que estas área s são de

preservação prioritária e proíbe expressamente inte rvenções

que possam causar as suas degradações:

“Art. 3º - Devido aos escassos remanescentes de áreas úmidas conservadas, tais áreas e seus entornos protetivos são considerados prioritários para a preservação, sendo proibidos licenciamentos ou autorizações para quaisquer finalidades ou intervenções que determinem ou possam vir a causar a sua degradação.

Parágrafo único - A intervenção de que trata o caput deste Artigo é qualquer ação de natureza física, química e/ou biológica que possa descaracterizar as áreas úmidas e seus entornos protetivos.

Art. 4º - Excepcionalmente, poderá ser admitida intervenção em áreas úmidas e em seus entornos protetivos, observada a normativa vigente e quando comprovada, através de estudos, a inexistência de alternativas técnicas e locacionais para a execução de obras, atividades ou empreendimentos de utilidade pública ou de interesse social, desde que não prejudique a função ecológica da área, a exceção de atividades de segurança nacional.” (grifos nossos)

Por sua vez, a Lei Federal nº 4.771/65 ,

visando à proteção total das Áreas de Preservação P ermanente,

determinou a expressa proibição de sua supressão,

ressalvando-se essa possibilidade, excepcionalmente , nas

hipóteses de interesse social ou utilidade pública apontados

no artigo 1º, § 2º, incisos IV e V do citado diplom a

legislativo 23 (que o empreendimento pretendido pela empresa

23 Art. 1º (...) § 2º Para os efeitos deste Código, entende-se por: IV - Utilidade pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e

Page 55: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

55

ré patentemente não se enquadra) , e desde que devidamente

caracterizado em procedimento administrativo própri o e

demonstrada a ausência de outra alternativa locacio nal , o que

também não foi respeitado pelo réu Instituto Ambien tal do

Paraná :

“Art. 3º. (...) § 1° A supressão total ou parcial de florestas de

preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social.

(...) Art. 4º A supressão de vegetação em área de

preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.” (grifos nossos).

Assim, nos termos do supracitado artigo

3º, § 1º, da Lei Federal nº 4.771/65, e do artigo 4 º da

Resolução Conjunta IBAMA/SEMA/IAP Nº 005, de 28 de março de

2008, evidentemente não se mostram presentes o interesse

social ou a utilidade pública , pelo contrário, os atos

administrativos ilegais, ora contestados, visaram apenas

atender a interesses eminentemente particulares , o que

contraria finalidade da administração pública em ze lar pela

proteção e preponderância do interesse coletivo, be m como

energia; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos previstos em resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA; V - Interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do CONAMA;

Page 56: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

56

desrespeita o disposto nos artigos 3º e 4º da Lei F ederal nº

4.771/65.

De outro lado, apresenta-se teratológica

a invocação, pelos responsáveis pela elaboração do EPIA/RIMA

parcial e enganoso, da Resolução CONAMA nº 369, de 2006, que

dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pú blica,

interesse social ou baixo impacto ambiental, que po ssibilitam

a intervenção ou supressão de vegetação em Área de

Preservação Permanente.

No que tange à Floresta Atlântica, o

Artigo 225 da Constituição Federal, em seu parágrafo 4º,

determina que: “§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata

Atlântica , a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zon a

Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,

na forma da lei, dentro de condições que assegurem a

preservação do meio ambiente , inclusive quanto ao uso dos

recursos naturais.” (grifos nossos)

A Lei da Mata Atlântica, Lei nº

11.428/2006, dispõe em seu artigo 23, inciso I, que o corte,

a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio

médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica soment e serão

autorizados: “I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras,

atividades ou projetos de utilidade pública ou de interesse social, pesquisa científica e

práticas preservacionistas;”

Em outros dispositivos ainda estabelece:

“Art. 7º - A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica far-se-ão dentro de condições que assegurem:

I – a manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e regime hídrico do Bioma Mata Atlântica para as presentes e futuras gerações;

II – o estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável da vegetação e à formação de uma

Page 57: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

57

consciência pública sobre a necessidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas;

III – o fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manutenção do equilíbrio ecológico;

IV – o disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico com a manutenção do equilíbrio ecológico.

(...) Art. 11- O corte e a supressão de vegetação

primária ou nos estágios avançados e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando:

I – a vegetação: a) abrigar espécies da flora e da fauna

silvestres ameaçadas de extinção, em território nacional ou no âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;

b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;

c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio avançado de regeneração;

d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou

e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA;

(...) Parágrafo único. Verificada a ocorrência do

previsto na alínea ‘a’ do inciso I deste artigo, os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas necessárias para proteger as espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção caso existam fatores que o exijam, ou fomentarão e apoiarão as ações e os proprietários de áreas que estejam mantendo ou sustentando a sobrevivência dessas espécies”.(grifo nosso)

Já o artigo 12 preconiza que “ Os novos

empreendimentos que impliquem o corte ou a supressã o de

vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser impla ntados

preferencialmente em áreas já substancialmente alte radas ou

degradadas” .

O § 3º artigo 14 também é de extrema

relevância, pois nele se contemplam irregularidades do

processo de licenciamento da empresa requerida, uma vez que

Page 58: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

58

há a pretensão de supressão de espécies de Mata Atl ântica em

estágio avançado de regeneração , obviamente, sem configurar

qualquer questão de utilidade pública.

“Art. 14 – A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (...).

§3º - Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do inciso VIII do art. 3º desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma detalhada a alta relevância e interesse nacional”. (Grifo nosso)

A atuação tanto do IAP quanto da empresa

requerida incide-os no artigo 42 da Lei da Mata Atl ântica,

que prevê as penalidades no caso de ação ou omissão das

pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservâ ncia aos

preceitos da lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à

flora, à fauna e aos demais atributos naturais. Foi o que

ocorreu no caso em tela.

Desrespeitou ainda o IAP, como o órgão

responsável pela proteção ambiental do nosso Estado ,

principalmente de biomas ameaçados, o artigo 46 da Lei da

Mata Atlântica, que assim dispõe:

“Os órgãos competentes adotarão as providências necessárias para o rigoroso e fiel cumprimento desta Lei, e estimularão estudos técnicos e científicos visando à conservação e ao manejo racional do Bioma Mata Atlântica e de sua biodiversidade”.

Em outras palavras, é patente a vedação

legal para o corte de Floresta Atlântica e da insta lação do

empreendimento pretendido pela empresa ré no local em

comento.

Page 59: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

59

IX – DA NULIDADE DO LICENCIAMENTO

AMBIENTAL CONDUZIDO PELO RÉU INSTITUTO

AMBIENTAL DO PARANÁ

O licenciamento ambiental é, nos termos

do artigo 9º da Lei Federal 6.938/81, entre outros, um dos

instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

"Artigo 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: (...)

IV - O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras."

O Decreto n.º 99274 de 06 de junho de

1990, estabelece em seu artigo 19:

"Artigo 19 - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia - LP, na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação, e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo;

II - Licença de Instalação - LI, autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado;

III - Licença de Operação - LO, autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação”.

A emissão do licenciamento ambiental pelo

Instituto Ambiental do Paraná, contrário ao seu pró prio

parecer técnico-jurídico, baseado num EPIA/RIMA eng anoso e

repleto de falhas e omissões, e, ainda, em frontal

desrespeito à legislação ambiental pertinente, cond uz à uma

patente nulidade.

Page 60: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

60

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP)

agiu contra a natureza e os fins da administração p ública, e,

além disto, feriu frontalmente um princípio básico da

administração, qual seja o princípio da legalidade.

Atualmente, não se pode cogitar em submissão a proj etos de

desenvolvimento econômico, sem que exista uma

compatibilização deste desenvolvimento com a manute nção da

qualidade ambiental e da produtividade dos recursos naturais.

Se a administração pública assim o permitir e consi derar,

estará traindo a verdadeira vontade do titular dos interesses

administrativos – o povo.

Assim se manifesta o mestre em Direito

Administrativo, Hely Lopes Meirelles:

“A natureza da administração pública é a de um múnus público para quem a exerce, isto é, a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade. (...) Daí o dever indeclinável de o administrador público agir segundo os preceitos do Direito e da moral administrativa, porque tais preceitos é que expressam a vontade do titular dos interesses administrativos – o povo – e condicionam os atos a serem praticados no desempenho do múnus público que lhe é confiado. (...) Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 17ªed. Malheiros. São Paulo, 1992. p.81-82)

Trata-se o aludido licenciamento de ato

nulo, não passível de convalidação, conforme ensina mentos da

majoritária doutrina:

“ Para Hely Lopes Meirelles, não existem atos administrativos anuláveis, pela ‘impossibilidade de preponderar o interesse privado sobre atos ilegais, ainda que assim o desejem as partes, porque a isto se opõe a exigência de legalidade administrativa. (...) Em relação à finalidade, se o ato foi praticado contra o interesse público ou com finalidade diversa da que decorre da lei, também não é possível a sua correção;” (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 6ª.ed. Atlas. São Paulo, 1996. p. 202-204.)

Page 61: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

61

X - DO ÔNUS DA PROVA

Pelo princípio da prevenção, norteador de

todo o Direito Ambiental, que se fundamenta nas

características de irreversibilidade e de difícil

quantificação e reparação dos danos ambientais,

consubstanciada na velha máxima de que prevenir é m elhor do

que remediar, não se deve autorizar um empreendimento sem que

se tenha certeza absoluta da não ocorrência de degr adação

ambiental .

Em virtude da natureza difusa do

interesse ao meio ambiente ecologicamente equilibra do, a

supremacia desse interesse público condiciona que a busca da

certeza da não ocorrência dos danos recaia sobre os

Requeridos e não sobre a coletividade, isto é, ocor re a

inversão do ônus da prova, devendo a empresa ré Subsea 7

apresentar os estudos que comprovem a não ocorrênci a de danos

e irregularidades/ilegalidades aqui apontadas.

Sobre o ônus do empreendedor, vale

colacionar o seguinte escólio:

“Outra questão a ser enfrentada para uma correta compreensão do princípio da precaução consiste em se estabelecer a quem cabe o ônus de demonstrar se existe ou não certeza científica suficiente sobre o curso de ação a ser adotado, se o impactos negativos a eles associados são considerados significativos e se as medidas de prevenção propostas são ou não economicamente viáveis. A Declaração do Rio não menciona especificamente que esse ônus recai sobre quem se propõe a desenvolver uma obra ou atividade qualquer da qual decorrem riscos ambientais significativos. Não obstante, outras articulações do princípio da precaução no plano internacional afirmam de forma bem específica que cabe ao proponente da obra ou atividade o ônus da prova dos fatos relevantes associados à sua implementação. Correspondendo a uma sensível alteração nas diretrizes que, por muito tempo, orientaram a formulação de medidas de política ambiental em muitos países, esse

Page 62: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

62

entendimento assenta-se no reconhecimento, obtido no curso da própria adoção do princípio da precaução, de que impactos ambientais negativos graves encontram-se inerentemente associados a muitos projetos e atividades de diferente natureza e magnitude, razão pela qual o ônus da demonstração de sua viabilidade ambiental deve recair sobre aqueles que se beneficiarão de sua implantação, criando os riscos que devem ser evitados.”24

XI – DOS PEDIDOS

XI.1 - DO CABIMENTO DE MANDADO LIMINAR

SEM JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA

A Lei 7.347/85, da Ação Civil Pública,

assim dispõe em seu artigo 11: "Na ação que tenha por objeto

o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz

determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou

a cessação da atividade nociva, sob pena de execuçã o

específica, ou de cominação de multa diária, se est a for

suficiente ou compatível, independentemente de requ erimento

do autor." A mesma Lei faculta ao juiz conceder o mandado

liminar com ou sem justificação prévia: “Art. 12. Poderá o

juiz conceder mandado liminar, com ou sem justifica ção

prévia, em decisão sujeita a agravo.”

Na presente hipótese, a cessação da

atividade nociva e a prestação de atividades devida s mediante

concessão de liminar sem justificação prévia se faz

imprescindível como forma de conferir efetiva prote ção ao bem

da vida vindicado, garantindo a não superveniência de danos

ambientais de reparação cada vez mais difícil, já q ue a

empresa ré, confiada na teoria do fato consumado, p ode

24 Princípios de Direito Ambiental na Dimensão Internacional e Comparada, José Adércio Leite Sampaio, Chris Wold e Afrânio Nardy, Editora Del Rey, pág. 21.

Page 63: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

63

iniciar/continuar a implantação do seu pretenso

empreendimento em Áreas de Preservação Permanente,

Manguezais, Restinga e Floresta Atlântica em área d e entorno

de Unidade de Conservação, sem a regular

autorização/licenciamento ambiental, uma vez que a Licença

Prévia emitida pelo réu IAP, e a anuência e alvará emitidos

pelo município de Pontal do Paraná estão eivadas d e diversos

vícios (nulidades), ferindo os princípios da admini stração

pública e proporcionando a iminente ocorrência de s érios e

irreversíveis danos ambientais.

Em razão da patente nulidade da Licença

Prévia/Alvará/Anuências concedidas, a partir das di versas

ilegalidades apontadas, e pelo fato da empresa ré SubSea 7 ,

com suas atividades de instalação, causarem degrada ção

ambiental e social de caráter irreversível na regiã o, a

concessão de MEDIDA LIMINAR é imprescindível para q ue se

impeçam os danos e não acarrete prejuízos irreversí veis ao

meio ambiente e à coletividade.

A medida liminar tem, assim, perfeita

aplicabilidade ao caso em questão, pois, a suspensã o imediata

dos citados atos administrativos e a determinação d e não

realização de qualquer atividade no local pretendid o pela

empresa ré é a única forma real de se garantir a

sobrevivência dos recursos naturais apontados e do respeito

às comunidades afetadas.

O artigo 12 da Lei 7.347/85 sujeita a

concessão de medida liminar ao atendimento de dois

pressupostos, quais sejam, periculum in mora e fumus boni

iuris.

Page 64: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

64

Importante lembrar que, diante da

iminente possibilidade de graves lesões ao meio amb iente e às

comunidades afetadas, resta clara a necessidade de aplicação

de princípio basilar do Direito Ambiental: o Princí pio da

Precaução.

O Princípio da Precaução dirige os rumos

do Direito Ambiental, estipulando como premissa pri mordial a

necessidade de empenhar esforços para prever, conhe cer e

mitigar os futuros danos ambientais do empreendimen to. O

Prof. Álvaro Luiz Valery Mirra define o princípio d a

Precaução da seguinte forma:

“No dizer de Cristiane Derani, “O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir desta premissa, deve-se também considerar não só o risco iminente de uma determinada atividade como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade. (...) “A precaução” – adverte Paulo Affonso Leme Machado – “age no presente para não se ter que chorar e lastimar no futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental, através da prevenção no tempo certo”.25

O princípio em tela está previsto no

Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro Sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento de 1992, abaixo transcri to:

“Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como

25 Direito ambiental: o princípio da precaução e sua aplicação judicial, artigo publicado na Revista de Direito Ambiental, n. 21, janeiro/março de 2001.

Page 65: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

65

razão para o adiamento de medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.

XI.2 - DO FUMUS BONI JURIS

O fumus boni iuris é a plausibilidade do

direito substancial invocado por quem pretende a de cisão de

mérito favorável para a concessão de tutela antecipada, que

está materializado na prova demonstrada de que todo o

procedimento administrativo que originou a Licença Prévia

emitida pelo réu IAP em prol da empresa requerida S ubSea7 foi

cercado de flagrantes ilegalidades , dentre outras a flagrante

afronta com a legislação ambiental pertinente, a

enganosidade, parcialidade e nulidade do EPIA/RIMA, a

contrariedade em relação ao próprio parecer técnico -jurídico

emitido pelo próprio requerido IAP e a desconsidera ção de

outras alternativas locacionais.

Da mesma forma, o alvará e anuência

emitida pelo município de Pontal do Paraná também s e encontra

cercado de ilegalidades e de desrespeito à toda a p opulação.

Ao longo de todos os itens anteriores,

evidenciou-se a plausibilidade do direito ora invoc ado nas

normas enumeradas, no qual se expõem os fundamentos jurídicos

da presente demanda, normas estas que vem sendo

flagrantemente descumpridas pelos Requeridos. Deflu i, ainda,

do princípio basilar do direito ambiental, que é o da

prevenção.

Cumpre enfatizar que os citados atos

administrativos, além de ilegais e nulos, importam em

verdadeiros “cheques em branco” para iminentes atos de

gravíssima degradação ambiental e social, já que o aludido

empreendimento pretende se implantar indevidamente em local

Page 66: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

66

de extrema fragilidade ambiental.

A argumentação da degradação do meio

ambiente ser justificada pelo atendimento ao intere sse

público sob o pretexto de geração de empregos també m deve ser

refutada de plano, conforme nos ensina o Juiz Paulo Afonso

Brum Vaz: “Situação muito comum nos dias de hoje, por conta

dos altos índices de desemprego, é o argumento de q ue o

empreendimento produtivo, ainda que prejudicial ao meio

ambiente, deve ser autorizado. Tal raciocínio não v em,

felizmente, obtendo êxito junto ao Judiciário, que na análise

do problema tem levado em conta muito mais os inter esses

gerais da sociedade do que o do grupo teoricamente favorecido

por tais iniciativas.” (VAZ, Paulo Afonso Brum. in Revista da

Associação dos Juízes Federais do Brasil - Direito Ambiental

- Ano 16 - Número 55 – Maio-Julho - 1997. p. 15)

XI.3 - DO PERICULUM IN MORA

A palavra de ordem no Direito Ambiental

deve ser a prevenção, vez que o dano ambiental cara cteriza-se

pela irreversibilidade e irreparabilidade, sendo qu e a tutela

antecipada, nesse âmbito, visa evitar a consumação de danos

ambientais irreversíveis. Ressalte-se, ainda, que o art. 225,

caput , da Constituição Federal, confere inviolabilidade ao

meio ambiente ao atribuir ao Poder Público e à cole tividade o

dever de proteger e preservar o meio ambiente para as

presentes e futuras gerações. No art. 2º, incisos V I e IX, da

Lei 6.938/81, de Política Nacional do Meio Ambiente , o

princípio da prevenção é consagrado, pois antes mes mo do

advento da CF/88, já adotava o princípio da proteçã o dos

Page 67: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

67

recursos ambientais e o da proteção das áreas ameaç adas de

degradação. Sem sombra de dúvidas, a tutela jurisdi cional

adequada à proteção do meio ambiente é aquela apta a prevenir

danos e garantir sua inviolabilidade, sobretudo qua ndo o meio

ambiente é posto sob um risco concreto e iminente, como se

verifica na presente hipótese, na qual a legislação ambiental

é descumprida acintosamente, uma vez que o empreend imento em

questão vem sendo implantado sem licenciamento ambi ental

válido.

O periculum in mora traduz-se no risco

de se implantar a teoria do fato consumado, concern ente no

fato de que, se aguardarmos o julgamento final da p resente

ação, a implantação do empreendimento poderá ter to mado

proporções irreversíveis. O perigo da demora de uma decisão

favorável é evidente, face ao fundado receio de dan o

irreparável ou de difícil reparação ao meio ambient e.

Ora, permitir a empresa requerida Subsea

7 inicie as atividades de supressão de Floresta Atlâ ntica,

manguezais, restinga, áreas úmidas e entorno de cor pos

hídricos e de Unidades de Conservação), em que há v edação

expressa na legislação ambiental pertinente, e, ain da,

baseado em EPIA/RIMA enganoso e parcial e em proces so de

licenciamento ambiental flagrantemente nulo, até o fim do

presente processo , que pode durar vários anos, importa em

admitir a verdadeira perpetuação de degradação e po luição

ambiental em larga escala e em expressa violação ao direito

de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibr ado, cuja

higidez é de interesse difuso, além da afronta aos princípios

da administração pública.

Dito em outras palavras, permitir o

Page 68: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

68

início/continuidade da instalação ilegal de um empr eendimento

para tão-somente na sentença final da ação civil pú blica

reconhecer a nulidade do licenciamento ambiental, i mporta em

esvaziar o cunho preventivo das ações judiciais de proteção

ao meio ambiente e tornar as degradações ambientais

submetidas a meras indenizações ao final das demand as.

Segundo leciona a doutrina, havendo

conhecimento da superveniência de um dano ambiental , este

deve ser evitado, em consonância com o princípio da

prevenção. É este princípio que, em face do Poder J udiciário,

fundamenta as ações preventivas ambientais, pois di ante da

inviolabilidade do bem jurídico tutelado, de nada a diantaria

uma prestação jurisdicional após a superveniência d o dano.

Diante disto, e justamente para evitar

essa teoria do fato consumado, em respeito ao coman do

constitucional do artigo 225, o controle judicial s obre os

atos danosos à coletividade assume papel fundamenta l :

“Para bem cumprir as tarefas dele exigíveis nessa peculiaríssima área, o juiz deverá se submeter a um refletido exame de consciência. (...) Ele não é espectador isento, desvinculado do destino da demanda. (...) Não sobrepaira, incólume à transformação do ambiente por ele autorizada. Integra a comunidade dos interessados e nenhuma imunidade o privilegiará. Deverá, portanto, se desvestir de dogmas clássicos como o da neutralidade, bastando a tanto desenvolver sua consciência de ser humano a partilhar o destino dos semelhantes, sem proteção especial a não ser a intensificação de seu senso de ética ambiental. (...) O magistrado será intérprete do interesse comunitário, devendo saber distinguir entre valores momentaneamente perseguidos por grupos e aqueles permanentes, a serem garantidos como pressuposto de sobrevivência para as futuras gerações. Para isso, poderá exercer controle judicial sobre o mérito dos atos administrativos, consoante já prelecionou, com a autoridade de especialista no tema, o juiz ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA: ‘...a partir do momento em que o meio ambiente passa a ser considerado como um bem de uso comum do povo, não se der de modo satisfatório, segundo o juízo da comunidade, caberá a esta, valendo-se de seus legítimos representantes, buscar o estabelecimento da boa

Page 69: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

69

gestão ambiental, por intermédio, se for o caso, do Poder Judiciário’”26.

Destarte, uma vez concluídas as obras de

supressão de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Mata

Atlântica e de terraplanagem, os danos assumirão pr oporções

de difícil reversibilidade. Didier, ao discorrer so bre a

antecipação de tutela, outra espécie de medida caut elar que

guarda similitude com a que ora se pleiteia, lecion a que “na

antecipação de tutela assecuratória, antecipa-se po r

segurança, para impedir que, durante o processo, o bem da

vida vindicado sofra um dano irreversível ou difici lmente

reversível ”. Conforme leciona Luciene Gonçalves Tessler 27,

o processo tem por fim fazer valer os direitos atri buídos aos

cidadãos por meio das normas de direito material. O direito à

prevenção ambiental, antes de ser um direito proces sual, é

verdadeiro direito material. A Constituição Federal , no art.

225, traduz direito fundamental à inviolabilidade a mbiental.

Portanto, todos os cidadãos têm direito à tutela pr eventiva e

idônea do meio ambiente, capaz de assegurar sua int egridade.

O perigo da demora em uma situação como

esta equivale, nas palavras emprestadas do Promotor Jacson

Correa 28: “além do respaldo à própria ilegalidade, a um

verdadeiro estímulo à destruição da natureza, permi tindo

também que persistam as reiteradas agressões à saúd e humana,

provocando por si só a irreparabilidade do dano fac e a

impossibilidade de mensurá-lo concreta suficienteme nte, uma

vez que o meio ambiente sadio, e por conta disso to da a

26 NATALINI, José Renato. in: Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. jan/dez.1996.(45/46).p.144 27 In Tutelas Jurisdicionais do Meio Ambiente, RT, 2004. 28 Revista de Direito Ambiental - Ed. Revista dos Tribunais nº 1 - pág. 277.

Page 70: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

70

natureza representam um patrimônio que pertence a t odos,

indistintamente”

Não se pode permitir que a coletividade

seja ferida por vários anos, de forma descabida, em seus

direitos assegurados constitucionalmente, tais como o meio

ambiente ecologicamente equilibrado, à saúde, à qua lidade de

vida e à vida, para, tão somente, buscar-se a

responsabilização dos réus por todos os danos já ca usados e

que continuam sendo causados, pelo que há que se ga rantir a

impossibilidade de início/continuação das atividade s ilegais

desenvolvidas pela empresa ré Subsea7 para que os danos não

se tornem irreversíveis.

Ademais, o ora postulado pelo Ministério

Público também tem amparo no disposto no art. 84 do Código de

Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90 (aplicável às Aç ões Civis

Públicas) e seu parágrafo terceiro: “Na ação que tenha por

objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não f azer, o

juiz concederá a tutela específica da obrigação ou

determinará providências que assegurem o resultado prático

equivalente ao do adimplemento”. (grifamos) O parágrafo

referido, por outro lado, dispõe: “Sendo relevante o

fundamento da demanda e havendo justificado receio de

ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz co nceder a

tutela liminarmente ou após justificação prévia, ci tado o

réu”.

Ao tempo de ser imprescindível à

instrumentalidade do processo a concessão da medida liminar

para determinar a proibição de início das obras, nã o existe

periculum in mora in reverso . É que o reconhecimento de

eventual direito dos requeridos viabilizará o iníci o/retomada

Page 71: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

71

(das obras) sem maiores prejuízos aos demandados ou , ao

menos, num juízo de ponderação, em prejuízos menore s àqueles

causados pela instalação da empresa requerida Subsea7 ao meio

ambiente – estes, sim, irreparáveis .

XI.4 - DOS PEDIDOS LIMINARES

Posto isso, caracterizados o fumus boni

juris e o periculum in mora , no intuito de prevenir o advento

de novos danos ao meio ambiente e evitar a intensif icação dos

já verificados, cuja reparação se torna mais difíci l com o

tempo, requer o Ministério Público a concessão, INAUDITA

ALTERA PARS, das seguintes MEDIDAS LIMINARES, com fulcro no

que estabelece o art. 12 da Lei nº 7.347/85, com imposição de

multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) no ca so de

descumprimento, a ser revertido em prol do Fundo de

Restauração do Bioma Mata Atlântica, nos termos do artigo 11

da já citada lei, sem necessidade de justificação prévia,

determinando:

a) à empresa requerida Subsea7 a

abstenção de realização, incontinenti , de quaisquer

atividades ou obras de supressão de vegetação ou fl oresta,

aterro, terraplanagem, instalação e implantação de Base de

Montagem de Tubos Rígidos para apoio à extração de petróleo e

gás natural, contendo um píer marítimo para navios de grande

porte, bem como qualquer alteração ao ambiente na á rea objeto

da presente ação;

b) a suspensão da validade dos

licenciamentos ambientais irregularmente concedidos pelo réu

Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da anuência p révia e

Page 72: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

72

alvará emitido ilegalmente pelo requerido Município de Pontal

do Paraná.

c) aos réus Instituto Ambiental do Paraná

e Municípios de Pontal do Paraná que se abstenham d e emitir

qualquer espécie de licença/autorização/alvará/anuê ncia no

local, especialmente em favor da empresa Subsea 7 n o local em

comento;

d) a determinação de registro/anotação

anotação da limitação aos poderes de domínio útil na SPU

(RIP 0870.0100069-76, PROCESSO ADMINISTRATIVO

04936.005137/2007-35);

XI.5 – DOS PEDIDOS DEFINITIVOS

ANTE O EXPOSTO, requer o Ministério

Público, havendo substanciosa adequação entre o fat o e o

direito, que:

a) - seja a presente Ação Civil Pública

recebida, autuada e processada na forma e no rito

preconizado;

b) – Digne-se sejam as partes Requeridas

citadas na pessoa de seus Representantes Legais, pa ra,

querendo, virem responder aos termos da presente aç ão no

prazo legal, sob pena de aplicação dos consectários jurídicos

legais da revelia, o que desde já requer, produzind o as

provas que porventura possuir, acompanhando-a até f inal

julgamento, facultando ao Oficial de Justiça para a

comunicação processual, a permissão estampada no ar tigo 172,

§ 2°, do Código de Processo Civil;

Page 73: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

73

c) - Quanto ao MÉRITO, requer:

1) sejam confirmadas, no que forem

pertinentes, as medidas liminares pugnadas;

2) seja o réu Instituto Ambiental do

Paraná condenado na obrigação de não fazer, consistente n a

proibição de fornecer qualquer autorização ou licen ça

ambiental relativa à instalação de qualquer empreen dimento

potencialmente poluidor na área em discussão;

3) seja declarada a nulidade de todo o

processo de autorização/licenciamento ambiental rea lizado

pelo Instituto Ambiental do Paraná em prol da empresa

requerida Subsea7, em especial da Licença Prévia nº 25703 ;

4) seja declarada a nulidade do alvará e

anuências emitidas pelos Município de Pontal do Paraná em

prol da empresa requerida Subsea7 ;

5) seja a empresa ré condenada à

proibição da realização de quaisquer obras de supre ssão de

vegetação ou floresta, aterro, terraplanagem, insta lação e

implantação de Base de Montagem de Tubos Rígidos pa ra apoio à

extração de petróleo e gás natural, contendo um píe r marítimo

para navios de grande porte, bem como qualquer alte ração ao

ambiente na área objeto da presente ação;

6) seja a empresa requerida Subsea7

condenada a desocupar a área objeto da presente açã o e a

promover a demolição das edificações eventualmente

implantadas;

7) sejam todos os réus condenados a

recuperar qualquer degradação da área degradada e t odo o

passivo ambiental formado, visando à restauração do ambiente

Page 74: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

74

ao status quo ante , mediante projeto técnico a ser

apresentado, que atenderá às exigências técnicas de finidas em

perícia a ser realizada;

8) sejam todos os réus condenados a

indenizar pelos danos causados, sejam de natureza m aterial ou

extrapatrimonial, incluindo-se os danos morais cole tivos

causados, decorrentes da implantação dos empreendim entos em

questão, cuja dimensão, caracterização e valoração serão

estipulados em liquidação de sentença;

9) - a procedência in totum dos pedidos

liminares, da antecipação de tutela e da ação propo sta, com o

julgamento definitivo de modo a satisfazer todos os objetivos

expostos na presente peça vestibular inicial, fixan do-se para

isto prazo para o seu cumprimento, bem como cominaç ão de

sanção pecuniária, para o caso de descumprimento no prazo

estipulado, nos termos do artigo 11 da Lei nº 7.347 /85;

10) - a intimação da União, IBAMA e

município de Paranaguá, para se manifestarem acerca do

interesse de compor o pólo ativo da ação e, acaso m anifeste

desinteresse em compor o pólo ativo da demanda, req uer-se

vistas para verificar a situação processual dos res pectivos

entes;

11) – A publicação de Edital para dar

conhecimento a terceiros interessados e à coletivid ade,

considerando o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;

12) - Requer e protesta, ainda, provar o

alegado por qualquer meio de prova admitida em dire ito,

máxime provas testemunhais, periciais, documentais e inspeção

judicial, e, inclusive pelo depoimento pessoal dos

Representantes Legais dos Requeridos, pleiteando, d esde já, a

Page 75: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ...de aproximadamente 45,17 hectares daquelas tipologias florestais anteriormente citadas, englobando neste montante, intervenções

M INISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL M INISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

75

juntada dos documentos anexos;

13) - Requer, desde já, a inversão do

ônus da prova que, em matéria ambiental, está expre sso no

princípio da responsabilidade objetiva e consubstan ciado em

diversos textos legais, a partir da Constituição Fe deral,

art. 225, § 3º;

14) – Protesta-se, ainda, por eventual

emenda, retificação e/ou complementação da presente exordial,

caso necessário;

15) – Sejam condenados as partes

Requeridas ao pagamento da custas e demais cominaçõ es legais;

16) - Na forma do art. 18, da Lei Federal

7347/85, requer a dispensa do adiantamento e pagame nto de

custas, emolumentos, honorários periciais, e outros encargos.

Conquanto de valor inestimável, dá-se à

causa, para os efeitos legais, o valor de R$ 10.000 .000,00

(dez milhões de reais), ressalvando, no entanto, qu e este é

um valor estimativo e formal, não impedindo o arbit ramento de

eventual indenização em nível superior.

Paranaguá, 17 de setembro de 2011.

ALEXANDRE GAIO SÉRGIO LUIZ C ORDONI

Promotor de Justiça Promotor de Justiça

ALESSANDRO JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA

Procurador da República