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EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE LARANJEIRAS DO SUL – ESTADO DO PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ - em defesa do consumidores de Nova Laranjeiras/PR -, por seu Promotor de Justiça infra-assinado, com base nos artigos 5º, inciso XXXII, 127, caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e no artigos 81, parágrafo único, inciso III e art. 82, inciso I, da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA (AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO) COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA - c o n t r a – RODOVIA DAS CATARATAS S.A. (ECOCATARATAS) pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 02.228.721.0001/89, com endereço na BR-277, km 581, bairro Pavan, município e comarca de Cascavel/PR, pelos fundamentos de fato e de direito que se passa a expor:

EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

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EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA

CÍVEL DA COMARCA DE LARANJEIRAS DO SUL – ESTADO DO PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

PARANÁ - em defesa do consumidores de Nova Laranjeiras/PR -, por seu

Promotor de Justiça infra-assinado, com base nos artigos 5º, inciso XXXII, 127,

caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º,

inciso II, 3º, 5º caput, da Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e no artigos 81,

parágrafo único, inciso III e art. 82, inciso I, da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa

do Consumidor), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

(AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO)

COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

- c o n t r a –

RODOVIA DAS CATARATAS S.A.

(ECOCATARATAS) pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 02.228.721.0001/89,

com endereço na BR-277, km 581, bairro Pavan, município e comarca de

Cascavel/PR, pelos fundamentos de fato e de direito que se passa a expor:

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1. DOS FATOS.

Conforme apurado por esta 1ª Promotoria de Justiça da

Comarca de Laranjeiras do Sul, a empresa RODOVIA DAS CATARATAS S.A.,

concessionária da obra pública, pelo prazo de 24 (vinte e quatro) anos, para a

recuperação, o melhoramento, a manutenção, a conservação, a operação e a

exploração do pedágio na BR 277, situado no Município de Nova Laranjeiras,

sendo que no dia 30 de novembro de 1998, celebrou termo de compromisso com o

Município de Nova Laranjeiras, em que se comprometia, pelo prazo de 01 (um)

ano, a oferecer o montante de 4.000 (quatro mil) passagens por mês pelo preço unitário de

R$ 0,50 (cinquenta centavos), para ser utilizadas na praça de pedágio P3.4, situada entre os

município de Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul, pelos proprietários de veículos

residentes no Município de Nova Laranjeiras, em virtude da dependência deste município

em relação aos demais serviços públicos, privados, atendimento hospitalar, entre outros,

oferecidos na cidade de Laranjeiras do Sul.” (fs. 06/07-MPPR).

No dia 30 de novembro de 1999, a empresa ora

requerida renovou referido termo de compromisso por mais um ano (fls. 08/09-

MPPR).

Esgotado o prazo deste último termo de compromisso, a

requerida RODOVIA DAS CATARATAS S.A., manteve o benefício de cobrança

de tão-somente metade do valor do pedágio até o final de 2008 ou início de 2009,

ou seja, por mais 10 (dez) anos, conforme se depreende da leitura dos termos de

declarações prestados nesta Promotoria de Justiça às fls. 169/172-MPPR.

No dia 15 de abril de 1999, o Sr. Prefeito de Nova

Laranjeiras oficiou à empresa RODOVIA DAS CATARATAS S.A. com o intuito

de reestabelecer o desconto no pedágio para os munícipes de Nova Laranjeiras (f.

19-MPPR).

No dia 30 de novembro de 2009, foi designada

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audiência com a concessionária para tentar reestabelecer o benefício, porém, o seu

gerente afirmou não poder comparecer (f. 21-MPPR).

No dia 14 de dezembro de 2009, a mesma situação, o

gerente da concessionária disse que não poderia comparecer a reunião marcada

para o dia 14 de dezembro de 2009 (f. 22-MPPR).

No dia 18 de janeiro de 2010, a empresa concessionária

afirmou não poder mais conceder o referido benefício aos munícipes de Nova

Laranjeiras (fls. 24/26-MPPR).

Foi apresentado substancioso abaixo assinado em favor

do “Movimento – Pedágio – Valor Justo para Nova Laranjeiras” (fls. 29/77).

No dia 29 de março de 2010, foi apresentado

requerimento formulado ao Ministério Público de Laranjeiras do Sul, em que

solicitam “uma orientação e/ou pedido de providências” para solicionar o caso relativo

ao abatimento da tarifa do pedágio para os moradores de Nova Laranjeiras (fls.

84/85).

No dia 26 de maio de 2010, esta Promotoria de Justiça

determiou a requisição de documentos e o agendamento de reunião com a

concessionária, o Município de Nova Laranjeiras e os representantes comunitários

para julho de 2010 (f. 87).

No dia 07 de junho de 2010, foi apresentado pela

concessionária o documento requisitado pelo Ministério Público (fls. 89/159).

Tendo em conta a mudança de Promotor de Justiça, foi

neste ano realizada audiência informal com este Promotor de Justiça com o intuito

de obter uma solução para o caso.

Assim, após solicitação verbal deste Promotor de

Justiça, o Presidente da Câmara Municipal de Nova Laranjeiras, no dia 11 de julho

de 2011, apresentou rol dos serviços públicos e privados que apenas são oferecidos

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no Município de Laranjeiras do Sul, dependendo, assim, os munícipes de Nova

Laranjeiras da realização de viagem, com passagem pelo pedágio, para gozar de

tais serviços (fls. 161/162).

No dia 23 de agosto de 2011, foram colhidos

depoimentos de 03 (três) vereadores de Nova Laranjeiras a respeito do caso (fls.

164/165).

No dia 25 de agosto de 2011, foi colhido depoimento do

Prefeito Municipal de Nova Laranjeiras (fls. 166/167) e de outros cidadãos de

Nova Laranjeiras (fls. 169/172).

Diante desse contexto fático, é que vem o Ministério

Público do Estado do Paraná vem propor a presente Ação Civil Pública.

2. DOS FUNDAMENTOS JURIDÍCOS.

2.1. PRELIMINARES.

2.1.1. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

Cumpre, inicialmente, ressaltar que, a nosso aviso, a

competência para processar e julgar a presente Ação Civil Pública é da Justiça

Estadual.

Não se ignora que quando se trata de questões tarifárias

relativas à pedágios, tem se reconhecido o interesse da União e, consequentemente,

se tem firmado a competência da Justiça Federal.

Nesse sentido, já decidiu o egrégio Superior Tribunal de

Justiça:

“Tratando-se de majoração de pedágio ocorrida em

rodovia federal e autorizado pelo poder concedente, in

casu, a União, por meio de autarquia federal (DNER),

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há de ser observado o disposto no art. 109, inciso I, da

Carta Magna, para a determinação da competência

para processar e julgar as ações, mormente quando há

manifestação expressa interesse do ente Federal.”

(STJ - CC 34.199/RJ, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA,

PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/06/2002, DJ

19/08/2002 p. 139)

Ocorre, porém, que o presente caso trata de situação

distinta. Se está a discutir o direito dos consumidores de Nova Laranjeiras a obter o

abatimento no valor da tarifa do pedágio.

Assim, a questão restringe-se à análise da relação entre

concessionária-usuário, não atingido de qualquer forma o interesse jurídico do

poder concedente.

Em matéria de fixação do órgão jurisdicional

responsável pela demanda, como alerta Alexandre de Moraes, “a competência da

Justiça Federal vem taxativamente prevista na Constituição. Dessa forma,

conclui-se que a competência da Justiça comum (rectius: Justiça Comum Estadual)

é subsidiária.” (MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada. 4ª ed.

2004, pág. 1482)

Assim, se a competência da Justiça Federal é taxativa, as

ações cíveis, incluídas as ações civis públicas, somente serão processadas e julgadas

pela Justiça Federal quando a “União, entidade autárquica ou empresa pública

federal” forem “autoras, rés, assistentes ou oponentes”.

Muito embora seja corretíssima a advertência de Peter

Häberle, ao dizer que “las doctrinas de la interpretación sobreestiman siempre la

importancia del texto” (HÄBERLE, Peter. El Estado Constitucional. Universidad

Autónoma Del México, 2003, pág. 160), no presente caso, a literalidade do texto

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constitucional é de fundamental importância, posto que delimita, de modo

bastante claro, as causas que competem à Justiça Federal e, subsidiariamente, as

que competem à Justiça Estadual.

Desse modo, não há como se fazer interpretação

extensiva para abranger situações outras que não as expressamente previstas no

inciso I, do art. 109 da Constituição Federal (relativamente às ações civis de modo

geral, como é o caso da ação civil pública).

Ora, para a inclusão – no pólo ativo ou passivo - da

União, de autarquia federal ou de empresa pública federal é de rigor que exista

interesse jurídico direto ou indireto da dessas entidades

Sobre esse último tema – interesse jurídico -, assim

lecionam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, verbis:

“(...) de acordo com o impacto, maior ou menor, que a

decisão da causa imprimir à esfera jurídica de

qualquer pessoa, será ele admitido a participar, com

maior ou menor intensidade, no processo que se forma

para a resolução do conflito. Esse impacto se mede

pelo interesse jurídico, demonstrado pela parte frente

ao litígio e, especialmente, frente a ação de direito

material a ser exercida, em caso de procedência da ação

processual. Quanto maior a atuação direta da ação de

direito material sobre as relações jurídicas do sujeito,

tanto maior deverá ser sua possibilidade para

efetivamente participar da relação processual.

Contrariamente, quanto menor for esse impacto sobre

as relações jurídicas da pessoa, menor será sua

qualidade para participar (exercer poderes e

faculdades processuais) no processo formado,

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chegando ao limite em que o sujeito não será

diretamente atingido (prejudicado juridicamente) em

suas relações sociais por conta da atuação da ação de

direito material, sendo-lhe vedada a participação no

processo, ao menos na condição de sujeito parcial

(podendo, eventualmente, ser convocado a colaborar,

como testemunha, perito etc.).”

(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio

Cruz. Manual do Processo de Conhecimento. 3ª ed.,

2004, pág. 188)

Diante disso, não havendo qualquer interesse jurídico

direto ou indireto da União por não existir, nem de longe, atingimento de sua

esfera jurídica, não há que se falar em competência da Justiça Federal

Diante disso, é que o Ministério Público do Estado do

Paraná entende ser da Justiça Estadual a competência para processar e julgar a

presente Ação Civil Pública.

2.1.2. DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO

PÚBLICO, DA CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO

DE CONSUMO E DOS INTERESSES INDIVIDUAIS

HOMOGÊNEOS COM INTERESSE PÚBLICO E

SOCIAL.

Todas as pessoas, físicas ou jurídicas, que possuem

veículos que passam por rodovias pedagiadas são consumidoras, vez que se

enquadram visivelmente no conceito de consumidor, trazido pelo art. 2º do Código

de Defesa do Consumidor, posto que se utilizam dos serviços de conservação de

estradas como destinatários finais, que são prestados (fornecidos) pela requerida

RODOVIA DAS CATARATAS S.A. (ECOCATARATAS).

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Ressalte-se que os interesses que o Ministério Público -

com legitimação extraordinária (ou autônoma, como preferem alguns

doutrinadores) - ora vem buscar a tutela são os chamados interesses individuais

homogêneos (CDC, art. 81, III), posto que eles decorrem de origem comum

(relação de consumo com a requerida), são individuais (pode-se identificar cada

consumidor) e são divisíveis (pode-se identificar o dano a cada consumidor).

Além disso, verifica-se que - muito embora a discussão

trate de direito individual homogêneo - resta evidente o interesse social na

presente demanda (CR, art. 127, caput), pois, conforme já decidiu o egrégio

Superior Tribunal de Justiça, “impende reconhecer que a presente demanda

envolve a tutela de direitos dos consumidores usuários da rodovia objeto de

contrato de concessão, bem como a validade de ato administrativo, em razão de

eventual violação de princípios que regem a Administração. Tais circunstâncias,

logicamente, evidenciam a legitimação extraordinária do Órgão Ministerial para

propositura da demanda, em vista de manifesto interesse público. Mais a mais,

na linha do que restou decidido no REsp 417.804/PR, Rel. Ministro Garcia Vieira,

Rel. p/ Acórdão Ministro Humberto Gomes de Barros, DJU 10.03.2003, 'a ação

civil pública é via adequada para o Ministério Público pleitear a proteção do

direito do cidadão de transitar livremente por rodovia federal, sem pagar

pedágio', mormente quando não construída rodovia alternativa’.” (STJ - REsp

512.074/RS, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SEGUNDA TURMA, julgado em

16/11/2004, DJ 04/04/2005 p. 257)

Nesse sentido também o seguinte recente julgado:

“Mesmo que não se admitisse comprovado, na

hipótese, o relevante interesse social, doutrina e

jurisprudência são unânimes em admitir que o

Ministério Público tem legitimidade ativa de

interesses individuais homogêneos na seara do direito

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do consumidor, pois presume-se a importância da

discussão para a coletividade.“

(STJ - AgRg no REsp 856.378/MG, Rel. Ministro

MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,

julgado em 17/03/2009, DJe 16/04/2009)

Assim, patente está a existência de relação de consumo,

o interesse público e social em jogo e, consequentemente, a legitimidade do

Ministério Público de figurar no pólo passivo da presente relação jurídico

processual.

2.2. DO MÉRITO DA PRETENSÃO DEDUZIDA EM

JUÍZO.

2.2.1. DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA DO DIREITO

AO ABATIMENTO DA TARIFA DO PEDÁGIO.

Conforme já devidamente esclarecido quando da

exposição fática, os munícipes de Nova Laranjeiras beneficiaram-se do abatimento

da tarifa do pedágio existente entre referido Município e o Município de

Laranjeiras do Sul entre o dia 30 de novembro de 1998 (fls. 06/07-MPPR) até o

final de 2008 ou início de 2009 (fls. 169/172-MPPR).

Assim, verifica-se que os munícipes exerceram direito

ao abatimento do pedágio por período superior a 10 (dez) anos, sendo que – com

tal exercício de direito e pelo período que foi utilizado – incidiu à espécie

prescrição aquisitiva ao direito de abatimento do pedágio no valor de 50%

(cinquenta por cento) do valor aos munícipes de Nova Laranjeiras.

Sobre a possibilidade de prescrição aquisitiva de bens e

direitos incorpóros, veja-se o ensinamento de Miguel Reale e de Judith H. Martins

Costa:

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“No final do séc. XIX, Von Jhering, revolucionando a

noção de posse, afastou-a do poderio físico sobre a

coisa, centrando-a sobre a exterioridade do exercício

do direito, noção essa que - como demonstrou em tese

por vários motivos pioneira o mestre Vicente Rao17-

acabou ingressando não apenas no art. 485 do CC/1916

(LGL\1916\1): outras regras, como as dos arts. 488, 490,

493 e 520, par. ún., do CC/1916 (LGL\1916\1), aludem

de modo expresso à posse de direitos que se adquire,

nos termos do art. 493, pela apreensão da coisa ou pelo

exercício do direito. Tanto assim é que, em 1909, o STF,

pelo voto do eminente Pedro Lessa, admitiu:

"(...) é certo que, repellida a theoria da proteção

possessória das cousas incorpóreas, muitos direitos

individuaes hão de ficar fatalmente sem defesa (...) E

nem, perante o direito, são mais respeitáveis, e dignos

de protecção immediata, os direitos ligados à

propriedade ou à posse de cousas corpóreas do que aos

incorporeos; e porque é que só aquelles hão de

encontrar seguro asylo nos tribunaes?18

Traços das antigas concepções canonistas - que

misturam a corporis possessio e a iuris possessio - são

encontrados, por igual, e com ainda maior força, no

art. 1.379 doCC/2002 (LGL\2002\400) que, à diferença

do Código de 1916(art. 698 do CC/1916 (LGL\1916\1))

alude expressamente à usucapião do exercício de

servidão aparente. Digna de nota é a modificação do

texto, antes alusivo à "posse incontestada e contínua

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de uma servidão" e, agora, ao "exercício incontestado e

contínuo de uma servidão aparente". Também digna

de nota é a comparação entre o teor do

art. 1.260 do CC/2002 (LGL\2002\400) e o

art. 618 do CC/1916 (LGL\1916\1): ambos regulando a

usucapião de coisa móvel, a regra ora vigente alude

apenas à posse de coisa móvel (como pressuposto da

aquisição da propriedade), enquanto a regra revogada

referia-se à aquisição do domínio de coisa móvel.

Tudo está, pois, a sinalizar, que a posse - antes de ser

uma noção meramente naturalista - tem, para o

Direito, um sentido social, como há décadas tem

escrito o primeiro signatário desse parecer, aludindo,

por exemplo, à idéia de "posse-trabalho", hoje

positivada no Código Civil (LGL\2002\400).19”

(REALE, Miguel; MARTINS COSTA, Judith H. Da

prescrição aquisitiva de ações escriturais. Revista de

Direito Bancário e do Mercado de Capitais | vol. 27 | p.

13 | Jan / 2005 | DTR\2005\783) (grifou-se)

E continuam referidos autores:

“A exigência da corporeidade vem, de resto, afastada

pela jurisprudência que não apenas entende tipificado

o crime de furto de energia elétrica24como permite a

usucapião de linhas telefônicas (Súmula 193

(MIX\2010\1445) do STJ), bem demonstrando a

vigência do paralelismo entre a usucapião e a

propriedade há tantos séculos acenada: se hoje as

coisas incorpóreas são suscetíveis de propriedade,

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também o poderão ser de usucapião.” (op. cit) (grifou-

se)

Assim, conforme visto pela abalizada doutrina, é

perfeitamente possível que a posse de um bem incorpóreo (direito ao abatimento

da tarifa do pedágio) tenha como conseqüência jurídica a prescrição aquisitiva

desse direito.

Tal prescrição aquisitiva se dá com base no artigo 1.260

do Código Civil, verbis:

“Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua,

contínua e incontestadamente durante três anos, com

justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.”

Na espécie, o Município de Nova Laranjeiras exerceu

muito mais do que três anos desse direito, sendo que possuía justo título e estava

de boa-fé.

Mesmo que se entenda que não tinha o Município justo

título e boa-fé – o que parece incompatível com a prova dos autos – estaria

preenchido o requisito para a usucapião de bens móveis, prevista no art. 1.261 do

Código Civil, que estabelece que: “Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se

prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou

boa-fé.”

Mesmo que se entendesse incabível a possibilidade de

usucapião em hipóteses que tais – o que estaria em desacordo com a melhor

doutrina, em nosso sentir – estariam perfeitamente preenchidos os requisitos para

a concessão de uma servidão parcial, nos termos do art. 1.379 do Código Civil:

“Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de

uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do

art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu

nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título

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a sentença que julgar consumado a usucapião.

Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o

prazo da usucapião será de vinte anos.”

Veja-se que não é de se aplicar à espécie o parágrafo

único, pois o Município de Nova Laranjeiras, evidentemente, ostenta o título de tal

condição, expressado pela lei de criação do Município.

Diante de tudo o que foi exposto, é possível verificar-se

facilmente que houve a prescrição aquisitiva pelo Município de Nova Laranjeiras,

ante o exercício por seus munícipes do direito ao abatimento do pedágio, por mais

de 10 (dez) anos, sendo, portanto, de rigor a declaração de que os munícipes de

Nova Laranjeiras têm direito ao abatimento da tarifa do pedágio em 50%

(cinqüenta por cento).

2.2.2. O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA E O

INSTITUTO DA SURRECTIO COMO

GARANTIDORES DA MANUTENÇÃO DO

DIREITO AO ABATIMENTO DA TARIFA DO

PEDÁGIO.

Conforme já afirmado nesta petição inicial, existe uma

relação jurídica de consumo entre os munícipes de Nova Laranjeiras que são

usuários do pedágio e a concessionária ora requerida.

Desse modo, as relações contratuais devem ser

permeadas, dentre outros, pelo princípio da confiança.

Sobre as conseqüências desse princípio, veja-se a lição

de Gerson Luiz Carlos Branco:

“O estudo do modelo jurídico da confiança, mais

especificamente do princípio da confiança, é feito com

base nos três principais campos de sua aplicação no

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âmbito contratual, que são: (3.1 infra) a formação do

contrato e a responsabilidade pré-contratual; (3.2 infra)

as conseqüências da proteção da confiança em relação

aos efeitos do contrato, notadamente a proteção das

expectativas legítimas de qualidade e adequação dos

produtos e serviços; e (3.3 infra) a proteção da

confiança como instrumento para limitar o exercício

abusivo de posições jurídicas.”

(BRANCO, Gerson Luiz Carlos. A proteção das

expectativas legítimas derivadas das situações de

confiança: elementos formadores do princípio da

confiança e seus efeitos. Revista de Direito Privado |

vol. 12 | p. 169 | Out / 2002 | DTR\2002\459)

Do princípio da confiança e da boa-fé objetiva, surgem

os institutos da supressio e asurrectio, conforme afirma Luciano de Camargo

Penteado:

“A surrectio verifica-se nos casos em que o decurso do

tempo permite inferir o surgimento de uma posição

jurídica, pela regra da boa-fé. Normalmente, é figura

correlata à suppressio. A surreição consistiria no

surgimento de uma posição jurídica pelo

comportamento materialmente nela contido, sem a

correlata titularidade. Como efeito deste

comportamento, haveria, por força da necessidade de

manter um equilíbrio nas relações sociais, o

surgimento de uma pretensão.

Deste modo, por exemplo, se ocorre distribuição de

lucros diversa da prevista no contrato social, por longo

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tempo, esta deve prevalecer em homenagem à tutela

da boa-fé objetiva. Trata-se do surgimento do direito a

esta distribuição - surrectio - por conta da sua

existência na efetividade social.

(PENTEADO, Luciano de Camargo. figuras parcelares

da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium.

Revista de Direito Privado | vol. 27 | p. 252 | Jul / 2006

| DTR\2006\456)

Sobre a aplicação da supressio e surrectio, recentemente

decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“O princípio da boa-fé objetiva exercer três funções: (i)

instrumento hermenêutico; (ii) fonte de direitos e

deveres jurídicos; e (iii) limite ao exercício de direitos

subjetivos. A essa última função aplica-se a teoria do

adimplemento substancial das obrigações e a teoria

dos atos próprios, como meio de rever a amplitude e o

alcance dos deveres contratuais, daí derivando os

seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm

proprium, surrectio e supressio.

5. A supressio indica a possibilidade de redução do

conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de uma

das partes, ao longo da execução do contrato, em

exercer direito ou faculdade, criando para a outra a

legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela

prerrogativa.”

(STJ - REsp 1202514/RS, Rel. Ministra NANCY

ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

21/06/2011, DJe 30/06/2011) Nesse sentido, também:

Page 16: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

16

REsp 953.389/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe

15/03/2010)

Assim, verifica-se que a requerida, durante mais de 10

(dez) anos, criou a justa expectativa nos munícipes de Nova Laranjeiras de que

teriam direito ao abatimento na tarifa do pedágio, sendo que não é lícito agora a

concessionária simplesmente cassar tal benefício, frustrando as justas e fundadas

expectativas do povo novolaranjeirense.

Veja-se, ademais, que não é lícito a concessionária fazer

inúmeras promessas quando da instalação da praça de pedágio, desarticulando

assim movimentos contrários à sua instalação (nesse sentido, vide declarações de

fls. 166 e 169) e, após consolidada a situação de fato consistente na cobrança das

tarifas, simplesmente cassar sem justificativa o benefício de há muito concedido.

Desse modo, ante a incidência do instituto da boa-fé

objetiva, caracterizado pela surrectio, garantem a manutenção do abatimento da

tarifa do pedágio em 50% (cinqüenta por cento) para os munícipes de Nova

Laranjeiras.

2.2.3. DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO

CONTRATO.

Outro princípio que deve incidir, na opinião do

Ministério Público, à espécie, é o princípio da função social do contrato.

Ora, como se sabe muitas vezes a existência de um

contrato gera efeitos que vão muito além das partes contratantes, tais contratos

podem ter consequencias muito benéficas ou catastróficas a uma comunidade, a

um município ou a um grupo indeterminado de pessoas.

Nesse sentido, como bem leciona o professor Luiz

Page 17: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

17

Edson Fachin, ao falar sobre a função social do contrato:

“é imperioso apreender o tema dos contratos e da

responsabilidade civil que nessa ambivalência emerge

nas ponderações levadas a efeito presentemente no

Brasil à luz do direito contemporâneo. Anote-se que a

função social dos contratos é um preceito de ordem

pública. Inválido, por isso, pode ser considerado

qualquer negócio ou ato jurídico que contrariar esta

disposição, hoje inserida no direito brasileiro tanto

pelo art. 421 quanto pelo art. 2.035 do CC/2002

(LGL\2002\400).

Esse princípio legal é aplicável a todas as espécies de

relações jurídicas, quer contratuais, quer

extracontratuais, tanto de direito privado quanto de

direito público. É que no campo jurídico

contemporâneo não há mais espaço para a separação

absoluta entre o público e o privado.

(...)

Por conseguinte, aos contratos em geral se impõem os

limites da função social, que passa a ser o sentido

orientador da liberdade de contratar, pilar e espelho

da sociedade brasileira contemporânea. Novos tempos

traduzem outro modo de apreender tradicionais

institutos jurídicos.

Não se trata de aniquilar a autonomia privada, mas

sim de superar o ciclo histórico do individualismo

exacerbado, substituindo-o pela coexistencialidade.

Quem contrata não mais contrata apenas com quem

Page 18: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

18

contrata, eis aí o móvel que sinaliza, sob uma ética

contratual contemporânea, para a solidariedade social.

Probidade e boa-fé são princípios obrigatórios nas

propostas e negociações preliminares, na conclusão do

contrato, assim em sua execução, e mesmo depois do

término exclusivamente formal dos pactos. Deste

modo, quem contrata não mais contrata tão só

o que contrata, via que adota e oferta um novo modo

de ver a relação entre contrato e ordem pública.

O equilíbrio entre justiça e segurança jurídica provoca

a compreensão desse cenário jurídico. O desafio é

decodificá-lo para construir o futuro que não deve se

resumir a um requentar do passado. Assim, no debate

quanto à validade e à eficácia dos contratos no direito

brasileiro, está presente um sistema de valores que

contrapesa, no direito, a justiça e seu avesso.”

(FACHIN, Luiz Edson. Contratos e responsabilidade

civil: duas funcionalizações e seus traços. Revista dos

Tribunais | vol. 903 | p. 26 | Jan / 2011 |

DTR\2011\1089)

Na espécie, se está a falar dos efeitos da criação da praça

de pedágio cortando os municípios de Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul.

É sabido que o município de Nova Laranjeiras é um dos

mais pobres do Estado do Paraná, sendo que surgiu de um desmembramento do

Município de Laranjeiras do Sul. Além disso, é um município que tem situações

específicas, conforme se depreende da leitura o ofício de f. 19, subscrito pelo

Prefeito Municipal:

“o município de Nova Laranjeiras situa-se na região centro

Page 19: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

19

oeste do Paraná, com uma população de 11699 habitantes,

onde 9886 habitantes vivem no meio rural e 1813 habitantes

vivem no meio urbano com a economia calcada nas atividades

agrícolas e pecuárias desenvolvidos nos 2761 estabelecimentos

agrícolas compostos em sua predominância de pequenos

agricultores e assentados que têm como principal atividades a

produção de milho, soja, fumo e feijão e bovinocultura de leite.

Salienta-se que o município possuía a maior reserva indígena

do estado composta pelas etnias kaigangues, guaranis e xetás.

Segundo dados oficiais do IBGE, Nova Laranjeiras possui um

dos IDHM mais baixos do estado e, por conseguinte do país,

situando-se na ordem de 0,6 índices. Estes se refletem em uma

elevada taxa de analfabetismo e uma baixa capacidade de

desenvolvimento.

Informamos que o Município de Nova Laranjeiras encontra-se

a 18 km de Laranjeiras do Sul, sendo que, a maioria da

população necessita deslocar-se para Laranjeiras do Sul

diariamente, em virtude da dependência no atendimento a

serviços públicos, como: exames, consultas, atendimento

bancário, atendimento Receita Estadual e Federal,

atendimento no INSS, serviços privados e outros.

Salientamos que os serviços públicos citados acima não

existem no Município de Nova Laranjeiras tendo a

necessidade da população deslocar-se a Laranjeiras do Sul.” (f.

19)

Veja-se, ademais, que o Sr. Prefeito, em termo de

declarações prestados nesta Promotoria de Justiça, afirmou: “que o custo do pedágio é

de R$ 8,10; que a população em geral utiliza a estrada, que isso afaeta o desenvolvimento da

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20

cidade; que tem um grande efeito social, pois além dos prejuízos dos munícipes tem um caso

da empresa Brasil Foods que está fazendo estudo para instalar-se na ciadde, mais verifivou

que com o pedágio poderia prejudicar a instalação da empresa no Município” (f. 167-

MPPR).

Os serviços que existem tão-somente no Município de

Laranjeiras do Sul são os seguintes, conforme o presidente da Câmara Municipal:

“Agência do INSS; Receita Estadual; Receita Federal;

Delegacia de Polícia Civil; Fórum da Justiça Estadual; Fórum

Eleitoral; Vara de Trabalho; Cartório de Registro de Imóveis;

Agências Bancárias (em especial Caixa Econômica Federal),

Comércio em Geral (haja vista que o Município de Nova

Laranjeiras não dispõe de nenhuma loja de auto peças, por

exemplo); Núcleo Reginal de Ensino, Detran, Clínicas

Médicas e combustível 24 horas; SEAB – Secretaria de

Agricultura e do Abastecimento do Paraná (evidenciando que

este Município de Nova Laranjeiras tem sua econmia baseada

essencialmente na agricultura e agropecuária); Junta

Comercial, escritório da Copel, SENAC, dentre outros.

Salientamos ainda Excelência, que além dos serviços citados,

existem ainda caso de pessoas que residem neste Município de

Nova Laranjeiras que trabalham em Laranjeiras do Sul e vice

versa.” (f. 161-MPPR)

Diante desse contexto fático, verifica-se qua a instalação

da praça de pedágio entre os municípios de Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul

gerou grande efeito negativo no município de Nova Laranjeiras, prejudicando os

seus munícipes, já em grande parte prejudicados pela situação de pobreza da

região, e acarretando dificuldades no saudável desenvolvimento da população

novalaranjeirense.

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21

É inegável que a celebração do contrato de concessão e

fixação da praça de pedágio no referido muncípio geral efeitos que transbordam

fortemente o horizonte das cláusulas contratuais. Afetam toda uma população.

Ora, o modo mais adequado e com observância até ao

princípio da manutenção contratual, é o que a empresa requerida fez durante 10

(dez) anos, ou seja, a concessão de abatimento da tarifa do pedágio para os

moradores do Município de Nova Laranjeiras.

Não há como negar efeitos juríridos ao princípio da

função social do contrato, que impõe a harmonização dos interesses em jogo, que –

como já dito – pode ser feita mediante o abatimento da tarifa do pedágio em 50%

(cinqüenta por cento) para os munícipes de Nova Laranjeiras.

3. DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS

DECORRENTES DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA,

DO PRINCÍPIO DA CONFIANÇA E DO PRINCÍPIO

DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO.

3.1. DA DECLARAÇÃO DA PRESCRIÇÃO

AQUISITIVA.

Conforme argumentado acima, ocorreu a prescrição

aquisitiva do direito de ter o pedágio abatido em 50% (cinqüenta por cento).

Assim, no entender do Ministério Público, deve ser

declarada a prescrição aquisitiva do direito – em benefício do Município de Nova

Laranjeiras e de seus munícipes - ao abatimento de 50% (cinqüenta por cento)

sobre a tarifa cobradas dos demais usuários, no pedágio existente na BR 277,

município de Nova Laranjeiras;

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22

3.2. DA IMPOSIÇÃO À REQUERIDA DO DEVER

JURÍDICO DE ABATER O VALOR DO PEDÁGIO

EM 50% (CINQUENTA POR CENTO).

A tutela inibitória é um dos mais modernos

instrumentos de efetivação da tutela jurisdicional, tendo sido consagrada pelo art.

461 do Código de Processo Civil (também é trazida pelo art. 84 do CDC), que tem a

seguinte redação, verbis:

“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o

juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se

procedente o pedido, determinará providências que

assegurem o resultado prático equivalente ao do

adimplemento.

§ 1º A obrigação somente se converterá em perdas e

danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela

específica ou a obtenção do resultado prático

correspondente.

§ 2º A indenização por perdas e danos dar-se-á sem

prejuízo da multa (art. 287).

§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do

provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela

liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o

réu. A medida liminar poderá ser revogada ou

modificada, a qualquer tempo, em decisão

fundamentada.

§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior

ou na sentença, impor multa diária ao réu,

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23

independentemente de pedido do autor, se for

suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe

prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a

obtenção do resultado prático equivalente, poderá o

juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as

medidas necessárias, tais como a imposição de multa

por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de

pessoas e coisas, desfazimento de obras e

impedimento de atividade nociva, se necessário com

requisição de força policial.

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a

periodicidade da multa, caso verifique que se tornou

insuficiente ou excessiva.” (grifou-se)

A tutela inibitória traz um novo paradigma para o

direito processual civil, abandonando-se o excessivo apego à vetusta reparação do

dano, para concentrar-se na prevenção do ilícito.

Ninguém melhor do que Luis Guilherme Marinoni e o

co-autor Sérgio Cruz Arenhart, para explicar o tema, verbis:

“é necessário isolar uma tutela contra o ilícito

(compreendido como ato contrário ao direito), requer-

se a reconstrução do conceito de ilícito, que não pode

mais ser compreendido como sinônimo de fato

danoso.

A tutela inibitória é essencialmente preventiva, pois é

sempre voltada para o futuro, destinando-se a impedir

a prática de um ilícito, sua repetição ou continuação.

(...)

Page 24: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

24

A tutela inibitória não tem o dano entre seus

pressupostos. O seu alvo, como já foi dito, é o ilícito.

É preciso deixar claro que o dano é uma conseqüência

meramente eventual do ato contrário ao direito. O

dano é requisito indispensável para a configuração da

obrigação ressarcitória, mas não para a constituição do

ilícito.

Se o ilícito independe do dano, deve haver uma tutela

contra o ilícito em si, e assim uma tutela preventiva

que tenha como pressuposto a probabilidade do

ilícito, compreendido como o ato contrário ao direito.”

(grifou-se)

(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio

Cruz. Manual do Processo do Conhecimento. 3a ed.,

2004, p. 485)

Uma vez compreendido o conceito de tutela inibitória,

cumpre salientar uma de suas principais funções, a prevenção do dano e a

repetição do ilícito, como garantia do respeito às normas jurídicas.

Para auxiliar a entender o assunto, trazemos à colação,

novamente, os ensinamentos dos autores acima citados, verbis:

“(...) as normas que, visando garantir determinados

bens, vedam certos atos, têm função preventiva.

Portanto, se essas normas objetivam garantir bens

imprescindíveis à vida social, é claro que sua violação,

por si só, implica em transgressão que deve ser

imediatamente corrigida. Nas situações em que uma

dessas normas é violada, não importa o ressarcimento

do dano (não só porque dano pode ainda não ter

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25

ocorrido, como também porque a pretensão à correção

do ato contrário ao direito é independente da

pretensão do ressarcimento do dano) e a punição do

violador da norma. O que realmente interessa é dar

efetividade à norma não observada.” (grifou-se)

(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio

Cruz. Manual do Processo do Conhecimento. 3a ed.,

2004, p. 495 e 496)

Ora, a tutela inibitória, como visto, é o meio processual

que se amolda perfeitamente ao caso em exame, pois o que pretende o Ministério

Público é a coibir e prevenir a continuação da violação aos direitos dos munícipes

de Nova Laranjeiras, usuários do pedágio administrado pela requerida.

Isso porque, a cobrança do valor integral da tarifa do

pedágio aos moradores do Município de Nova Laranjeiras gera evidente ilicitude,

pois viola o princípio da confiança, o instituto da surrectio e o princípio da função

social do contrato.

Na espécie, o que se pretende é impedir a continuação

das práticas ilícitas, mediante a imposição do dever jurídico de abater a tarifa do

pedágio existente na BR 277, no município de Nova Laranjeiras, em 50%

(cinqüenta por cento) do valor cobrado para os demais usuários.

3.3. DA DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES

PAGOS PELO USO DO PEDÁGIO.

O Código de Defesa do Consumidor dispõe, em seu

artigo 42, parágrafo único, o seguinte:

“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor

inadimplente não será exposto a ridículo, nem será

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submetido a qualquer tipo de constrangimento ou

ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia

indevida tem direito à repetição do indébito, por valor

igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de

correção monetária e juros legais, salvo hipótese de

engano justificável.” (grifou-se)

Conforme já suficientemente fundamentado acima,

houve cobrança de quantia indevida dos consumidores pelo uso do pedágio.

Vale ressaltar que, para que se determine tal devolução,

é inclusive prescindível que se prove a má-fé, conforme já decidiu o egrégio

Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL -

ADMINISTRATIVO - FORNECIMENTO DE

ENERGIA ELÉTRICA - COBRANÇA INDEVIDA -

DEVOLUÇÃO EM DOBRO - ARTIGO 42,

PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC - CONFIGURAÇÃO

DE MÁ-FÉ - IRRELEVÂNCIA - AUSÊNCIA DE

DOLO OU DE CULPA NÃO COMPROVADA.

1. A jurisprudência do STJ tem firmado o

entendimento de que a devolução em dobro dos

valores indevidamente cobrados dos usuários de

serviços públicos essenciais dispensa a prova da

existência de má-fé.

2. Aplicação do artigo 42, parágrafo único, do CDC na

hipótese de erro.

3. A recorrente não se desincumbiu de demonstrar a

ausência de dolo ou de culpa na cobrança indevida.

Page 27: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

27

4. Recurso especial não provido.”

(STJ - REsp 1108498/PB, Rel. Ministra ELIANA

CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em

18/08/2009, DJe 08/09/2009)

Assim, devem os requeridos devolver a todos os

consumidores que efetuaram tais pagamentos pelo uso do pedágio em dobro,

acrescido de juros e correção monetária.

4. DO PEDIDO DE CONCESSÃO LIMINAR DE

ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

DEFINITIVA.

Cumpre trazer, no presente, tópico as razões que, a

nosso aviso, justificam a concessão de medida liminar.

O § 3º, do art. 461 do Código de Processo Civil prevê a

possibilidade de concessão de medida liminar e tem a seguinte redação, na parte

em que interessa, verbis:

“§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do

provimento final, é lícito ao juiz conceder tutela

liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o

réu.”

A antecipação dos efeitos da tutela na Ação Inibitória

tem fundamental importância, dada a sua relevância para, desde logo, debelar a

continuação do ilícito e prevenir seu acontecimento.

Nesse sentido, ensina Luiz Guilherme Marinoni, verbis:

“As ações inibitória e de remoção do ilícito, diante de

sua natureza, não podem dispensar a tutela

antecipatória. A técnica antecipatória é imprescindível

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28

para a estruturação de um procedimento efetivamente

capaz de prestar as tutelas inibitória e de remoção do

ilícito. Se a natureza dessas tutelas exige tal técnica,

não é difícil visualizar, na legislação processual, o

local de sua inserção. Ora, tanto o art. 461 do CPC,

quanto o art. 84 do CDC, permitem ‘ao juiz conceder a

tutela liminarmente ou mediante justificação prévia,

citado o réu’, na ‘ação que tenha por objeto o

cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer’.”

(grifou-se)

(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória e

Remoção do Ilícito, publicado no sítio do autor:

http://www.professormarinoni.com.br/ consultado no

dia 09.12.2005)

Como visto, as ações de imposição de obrigação de fazer

ou não fazer – das quais a tutela inibitória é espécie - tem como fundamento o art.

461 do Código de Processo Civil, sendo que, para a concessão da antecipação dos

efeitos da tutela, deve ser aplicado o seu parágrafo terceiro (e não o art. 273 do

Código de Processo Civil), que tem a seguinte redação, verbis:

“§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do

provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela

liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o

réu. A medida liminar poderá ser revogada ou

modificada, a qualquer tempo, em decisão

fundamentada.”

Page 29: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

29

Imprescindível, pois, para a antecipação dos efeitos da

tutela, a concorrência de dois requisitos: a) relevante fundamento da demanda; e b)

justificado receio de ineficácia do provimento final;

A nosso aviso, no presente caso, está preenchido o

primeiro requisito, levando-se em conta toda argumentação trazida no corpo da

presente petição inicial nesse sentido.

Ressalte-se que para a antecipação dos efeitos da tutela,

em caso de tutela inibitória, não se aplica o art. 287 do Código de Processo Civil,

posto que o art. 461 do Código de Processo Civil, em seu parágrafo terceiro,

disciplina completamente a matéria da antecipação dos efeitos da tutela nas ações

de obrigação de fazer e não fazer.

No sentido da inaplicabilidade do art. 287 do CPC à

tutela inibitória, veja-se a lição de Luiz Guilherme Marinoni, verbis:

“A tutela antecipatória não requer, nesses casos (nos

casos de tutela inibitória e de remoção do ilícito), a

probabilidade de dano irreparável ou de difícil

reparação. A idéia de subordinar a tutela antecipatória

ao dano provável está relacionada a uma visão das

tutelas que desconsidera a necessidade de tutela

dirigida unicamente contra o ilícito.”

(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória e

Remoção do Ilícito)

Nesse sentido, veja-se o seguinte precedente do egrégio

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que soube corretamente distinguir a

tutela do art. 461 com a do art. 273, ambos, do Código de Processo Civil:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - PROCESSUAL

CIVIL - ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

INIBITÓRIA - POSSIBILIDADE - PROGRAMA DE

Page 30: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

30

RÁDIO - UTILIZAÇÃO DE ADJETIVOS

PEJORATIVOS "GENERAL SEM FARDA",

"GANGSTER", "BANDIDO" PARA SE REFERIR AO

PREFEITO MUNICIPAL - DIREITO À HONRA E À

IMAGEM - PONDERAÇÃO DE INTERESSES -

PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES

DA CONCESSÃO DA MEDIDA - INTELIGÊNCIA

DO ART. 461, § 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL - RISCO DE IRREVERSIBILIDADE DO

PROVIMENTO - INOCORRÊNCIA. RECURSO

DESPROVIDO.

A tutela inibitória pleiteada possui respaldo no

disposto no artigo 461, do Código de Processo Civil,

inexistindo qualquer óbice à sua concessão mesmo em

sede de antecipação de tutela, conforme garantido

pelos artigos 461, § 3º, do e 273, § 7º, do estatuto

processual. No caso específico da tutela inibitória, não

se perquire a respeito da probabilidade de dano

irreparável ou de difícil reparação, mas sim da

plausibilidade de que venha a ser praticado ato ilícito,

ou de que esse possa vir a se repetir, e o justificado

receio de ineficácia do provimento final. Tal medida

não resulta em qualquer violação ao direito de

liberdade de imprensa, tampouco se trata de censura

prévia, uma vez que visa evitar a perpetuação de

ofensa a direito personalíssimo, que não pode ser

maculado em virtude de pretensa liberdade irrestrita

de informação ou crítica. Hipótese em que os réus, por

Page 31: EXCELETÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA … · caput, e 129, inciso III, 170, inciso V, da Constituição da República; nos artigos 1º, inciso II, 3º, 5º caput, da

31

meio de programa radiofônico, utilizaram-se de

expressões pejorativas para se referir ao Prefeito

Municipal, donde se extrai a probabilidade de que os

voltem a perpetrá-los, até o provimento final da

medida inibitória. Presentes os requisitos

autorizadores, é de rigor a concessão da antecipação de

tutela pleiteada.”

(TJPR - 10ª C.Cível - AI 0610551-7 - Matinhos - Rel.: Des.

Luiz Lopes - Unânime - J. 19.11.2009)

Assim, a análise restringe-se à presença ou não requisito

do justificado receio de ineficácia do provimento final, que na tutela

antecipatória, também, tem conteúdo singular.

Sobre a interpretação que deve ser dada ao justificado

receio de ineficácia do provimento final, mais uma vez, trazemos o ensinamento de

Luiz Guilherme Marinoni, verbis:

“Esse ‘justificado receio de ineficácia do provimento

final’ quer indicar, diante da ação inibitória,

‘justificado receio’ de que o ilícito seja praticado antes

da efetivação da tutela final. No caso de remoção, o

periculum in mora é inerente à própria probabilidade

de o ilícito ter sido praticado. Ou melhor: como a

tutela final, na ação de remoção, objetiva eliminar o

próprio ilícito ou a causa do dano, não há como supor

que a tutela antecipada de remoção exija, além da

probabilidade da prática do ilícito (fumus), a

probabilidade da prática do dano (que seria o perigo

nas ações tradicionais). Isso por uma razão óbvia: a

simples prática do ilícito abre oportunidade à tutela

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final, sem que seja preciso pensar em dano, que já é

pressuposto pela regra de proteção e, assim,

descartado para a efetividade da tutela jurisdicional,

seja final ou antecipada.” (grifou-se)

(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória e

Remoção do Ilícito)

Veja-se que na espécie há uma peculiaridade bastante

interessante, pois uma vez verificada a ocorrência do fumus boni iuris como

conseqüência lógica estará presente o requisito do periculum in mora.

Isso porque, concluindo o órgão julgador que,

realmente, é ilegal a cobrança integral da tarifa do pedágio dos munícipes de Nova

Laranjeiras, se estará, em decorrência disso, concluindo que há o “’justificado

receio’ de que o ilícito seja praticado antes da efetivação da tutela final”, pois os

inúmeros munícipes utilizam diariamente o pedágio e se não for concedida a

medida liminar, o ilícito continuará a ocorrer.

Ora, não deferir o pedido de concessão da antecipação

da tutela é permitir que a ilicitude se perpetue até o dia em que se profira a

sentença final (em caso de procedência), ou seja, o ilícito permanece ocorrendo

antes da sentença definitiva, o que frustra a finalidade da tutela inibitória, com

sérios prejuízos aos consumidores.

Veja-se que, no presente caso, não há mera

probabilidade de ilícito (o que já autorizaria a concessão da medida liminar), mas

sim certeza da ilicitude, diante do fato de que – conforme declarações prestadas

nesta Promotoria de Justiça – os moradores de Nova Laranjeiras utilizam

diariamente o pedágio existente na BR 277.

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Ora, é inegável que existe justificado receio de que o

ilícito seja praticado antes da efetivação da tutela final, estando, pois, preenchido o

requisito do periculum in mora.

Veja-se, portanto, ser irrelevante para fins de tutela

inibitória o fato de o abatimento ter parado no fim de 2008 ou início de 2009, o

que é relevante é o risco de continuidade do ilícito.

Trazemos, por oportuna, a lição de José Carlos Barbosa

Moreira, ao se referir à tutela preventiva dos interesses difusos, “se a justiça civil

tem aí um papel a desempenhar, ele será necessariamente o de prover no sentido

de prevenir ofensas a tais interesses, ou de pelos mesmos fazê-las cessar o mais

depressa possível e evitar-lhes a repetição; nunca o de simplesmente oferecer aos

interessados o pífio consolo de uma indenização que de modo nenhum os

compensaria adequadamente do prejuízo acaso sofrido, insuscetível de medir-se

com o metro da pecúnia”. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito

processual. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 24/35).

Nunca é demais trazer à colação a genial frase de

Carnelutti “o tempo é um inimigo do direito, contra o qual o juiz deve travar

uma guerra sem tréguas.” (apud DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do

Código de Processo Civil, 2ª ed., p. 138)

Assim, o Ministério Público do Estado do Paraná requer

a concessão de medida liminar, inaudita altera pars, para o fim de impor à requerida

o dever jurídico de abater a tarifa do pedágio existente na BR 277, no município de

Nova Laranjeiras, em 50% (cinqüenta por cento) do valor cobrado para os demais

usuários, para as pessoas residentes no município de Nova Laranjeiras, sob pena

de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

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5. DOS PEDIDOS.

Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do

Estado do Paraná, requer:

a) a autuação da presente petição inicial e do Inquérito

Civil Público n. 0076.11.000156-7, desta 1ª Promotoria de Justiça de Laranjeiras do

Sul, autuando-se os apensos em apenso (evitando-se assim o prejuízo ao bom

andamento processual, vez que o contido nos apensos ostentam parcial relevância

para a causa), bem como o seu recebimento e processamento segundo o rito

estabelecido na Lei n. 7.347/85;

b) a concessão de medida liminar, inaudita altera pars,

para o fim de impor à requerida RODOVIA DAS CATARATAS S.A. o dever

jurídico de abater a tarifa do pedágio existente na BR 277, no município de Nova

Laranjeiras, em 50% (cinqüenta por cento) do valor cobrado para os demais

usuários, para as pessoas residentes no município de Nova Laranjeiras, sob pena

de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Para a concretização da liminar, requer-se que, nos

primeiros 60 (sessenta) dias de vigor da ordem, a avaliação da condição de

munícipe seja feita mediante a visualização do emplacamento do veículo.

Após esse prazo, requer-se seja determinado que a

requerida deverá verificar como providenciar tal abatimento para pessoas

residentes no município, mas com veículo com placas de outra cidade;

c) seja dada prioridade na tramitação da presente Ação

Civil Pública tendo em conta o interesse público na solução do presente litígio,

afixando-se tarjeta nesse sentido no rosto dos autos, com fundamento no art. 5º, §1º

da Constituição da República e forte no poder geral de cautela do magistrado.

Nesse sentido, veja-se a lição de Gregório de Assagra

Almeida:

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“Portanto, sempre existirá interesse social na tutela

jurisdicional coletiva, razão pela qual, valendo-se da

regra interpretativa do sopesamento, conclui-se que os

processos coletivos devem ser analisados com a

máxima prioridade, até porque o interesse social

prevalece sobre o individual. O princípio da máxima

prioridade da tutela jurisdicional coletiva é

conseqüência dessa supremacia do interesse social

sobre o individual, e também decorre do artigo 5°, §1°,

da CF, que determina a aplicabilidade imediata das

normas definidoras de direitos e garantias

fundamentais. O Poder Judiciário, assim como os

operadores do direito, deve atuar para priorizar a

tramitação e o julgamento do processo coletivo.”

(ALMEIDA. Gregório de Assagra de. Direito Processual

Coletivo Brasileiro - Editora Saraiva, 2003)

d) seja a requerida citada para integrar o pólo passivo

da relação jurídico-processual, dando-lhe oportunidade para, se quiser, apresentar

resposta ou reconhecer procedência do pedido, no prazo legal, sob pena de

revelia, devendo constar do mandado a advertência do artigo 285, segunda parte,

do Código de Processo Civil.

Requer-se que a citação seja feita pelo correio (CPC, art.

221 e 222, caput);

e) seja determinada a publicação de edital no órgão

oficial, para que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes,

além de se remeter ofício ao Município de Nova Laranjeiras para que providencie a

publicidade do referido edital, bem como ao PROCON para o mesmo fim, tudo

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isso com base no art. 94 do Código de Defesa do Consumidor, além de determinar

a publicação do referido edital no site da empresa requerida;

f) a produção de todas as provas necessárias à

demonstração do alegado, em especial oitiva de testemunhas;

g) seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública

para o fim de:

g.1.) declarar a prescrição aquisitiva do direito – em

benefício do Município de Nova Larajeiras e de seus munícipes - ao abatimento de

50% (cinqüenta por cento) sobre a tarifa cobrada dos demais usuários, no pedágio

existente na BR 277, município de Nova Laranjeiras;

g.2.) condenar a requerida a ressarcir, em dobro, os

valores cobrados a maior (ou seja, sem o devido abatimento de 50%) das pessoas

residentes no município de Nova Laranjeiras, devidamente acrescidos de juros e

correção monetária, desde a data em que deixou-se de conceder referido

abatimento;

g.3.) impor à requerida RODOVIA DAS CATARATAS

S.A. o dever jurídico de abater a tarifa do pedágio existente na BR 277, no

município de Nova Laranjeiras, em 50% (cinqüenta por cento) do valor cobrado

para os demais usuários, para as pessoas residentes no município de Nova

Laranjeiras, sob pena de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

h) a condenação da ré ao pagamento das custas

processuais, honorários advocatícios e demais verbas de sucumbência, a serem

revertidos em favor do Fundo Especial do Ministério Público (Lei Estadual n.

12.241/98);

i) observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 27 do

Código de Processo Civil quanto aos atos processuais requeridos pelo Ministério

Público;

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j) a intimação pessoal do Ministério Público para

acompanhar todos os atos praticados no processo civil ora instaurado;

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por

ser inestimável.

Nestes termos,

Pede deferimento;

Laranjeiras do Sul, 15 de setembro de 2011.

Rodrigo Leite Ferreira Cabral

Promotor de Justiça