21
| 241 EXCESSO DE EXECUÇÃO DE CAUSA SUPERVENIENTE AOS PRAZOS DE DEFESA E A FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA NA PETIÇÃO SIMPLES Daniel Angelo Passaia RESUMO Delibera o artigo sobre honorários de sucumbência nas fases de execução do processo civil, em situações que posteriormente ao vencimento dos prazos para oposição das defesas ordinárias, como impugnação e embargos à execução, o exequente passe a pleitear os atos expropriatórios com cálculo maculado por excesso de execução, ou seja, superveniente ao prazo transcorrido in albis para as defesas, ou então, posteriormente à eventual adequação às decisões das mesmas. De fato, não rara é a situação, a qual, no transcurso da execução, inclusive após decisões definitivas quanto às defesas processuais, o exequente incorra em excesso de execução. Para tanto, existe o remédio processual da simples petição. O objetivo é caracterizar e examinar a possibilidade de incidência de honorários neste remédio processual instaurado nas execuções, sendo que a hipótese inicial é de possibilidade. Em digressão sumária e genérica, o trabalho passa pela natureza das execuções e meios de defesa, apresenta algumas causas do excesso de execução superveniente, a forma de levantar Daniel Angelo Passaia

EXCESSO DE EXECUÇÃO DE CAUSA SUPERVENIENTE AOS PRAZOS DE ... · acontecia, em que os embargos à execução ou a impugnação ao cumprimento de sentença vinham a ser opostos após

Embed Size (px)

Citation preview

| 241

EXCESSO DE EXECUÇÃO DE CAUSA SUPERVENIENTE AOS PRAZOS DE DEFESA E A FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA NA PETIÇÃO SIMPLES

Daniel Angelo Passaia

RESUMO

Delibera o artigo sobre honorários de sucumbência nas fases de execução do processo civil, em situações que posteriormente ao vencimento dos prazos para oposição das defesas ordinárias, como impugnação e embargos à execução, o exequente passe a pleitear os atos expropriatórios com cálculo maculado por excesso de execução, ou seja, superveniente ao prazo transcorrido in albis para as defesas, ou então, posteriormente à eventual adequação às decisões das mesmas. De fato, não rara é a situação, a qual, no transcurso da execução, inclusive após decisões definitivas quanto às defesas processuais, o exequente incorra em excesso de execução. Para tanto, existe o remédio processual da simples petição. O objetivo é caracterizar e examinar a possibilidade de incidência de honorários neste remédio processual instaurado nas execuções, sendo que a hipótese inicial é de possibilidade. Em digressão sumária e genérica, o trabalho passa pela natureza das execuções e meios de defesa, apresenta algumas causas do excesso de execução superveniente, a forma de levantar

Daniel Angelo Passaia

242 |

a questão por parte do executado, qual seja, petição simples, e por fim, ingressa no problema central que é a possibilidade de fixação dos honorários de sucumbência, quando acolhido e declarado o excesso no pleito do exequente.

Palavras-chave: Processo de execução. Petição simples. Excesso de execução. Causa superveniente. Honorários de sucumbência.

1. INTRODUÇÃO

O processo executivo civil, em qualquer ordenamento jurídico, mostra-se como o ápice da busca pela satisfação dos direitos, possuindo clara natureza expropriatória em face do devedor que não cumpre a obrigação do título executivo de forma voluntária.

A partir deste contexto, de forma geral por óbvio, os mais diversos expedientes podem ocorrer, como apresentação das defesas ordinárias, conhecidas com impugnação ou embargos, para títulos judiciais ou extrajudiciais, respectivamente, e ainda, incidentes quanto à penhora e avaliação de bens, entre outros, surgidas de causas diversas, como no caso em estudo, do excesso de execução.

Em um primeiro momento, quando o excesso de execução é inicial, sendo atacado pelos meios ordinários de defesa em face da execução civil, maior problema não haverá, inclusive no que diz respeito aos honorários da fase. De igual modo, quando o excesso advém de cálculo embasado em decisão das defesas apresentadas, por não adequação às mesmas, eis que se elas já determinaram alguma redução, o advogado do executado já teve fixada a verba na decisão de acolheu, mesmo que parcialmente, a defesa.

A problemática reside justamente em casos nos quais supervenientemente aos referidos marcos processuais, o exequente que

ARTIGO

| 243

por qualquer causa que seja, apresenta cálculo com excesso de execução, se deverá arcar com o ônus da sucumbência acaso o executado, por petição simples, comprove a ocorrência do excesso, ou referido ônus apenas ocorre nos embargos e na impugnação?

Para isso, o trabalho apresenta rapidamente alguns conceitos sobre a execução, e as formas de defesas e impugnações, para então ingressar no campo do excesso de execução superveniente aos marcos processuais de defesas e suas decisões.

Na sequência, apresenta-se o modo de impugnação, pela defesa escrita, do excesso de execução superveniente, para então, alcançar a problemática da possibilidade de fixação de honorários de sucumbência nesta espécie de incidente. O objetivo principal calca-se no exame da doutrina e legislação, notadamente, para descrever o problema e encontrar a solução dele, cuja caracterização é basicamente se podem ser fixados honorários de sucumbência em petição simples dentro da execução civil, diante de um excesso de execução surgido de causa superveniente aos prazos de defesas ordinárias, como acima já apresentado.

O método da pesquisa é o dedutivo, partindo de ideias doutrinárias, pela coleta de dados gerais, até o deslinde em uma resposta específica ao problema levantado, que possui como hipótese inicial a possibilidade da fixação de honorários de sucumbência na decisão interlocutória que versar sobre excesso de execução superveniente aos fatos e ocorrências que determinaram o valor anteriormente em execução.

O que torna a temática ainda mais interessante é a inexistência de posicionamento jurisprudencial quanto à mesma, assim como a própria doutrina também não é pontual e específica.

A coleta de dados foi realizada em doutrina, legislação e alguns itens jurisprudenciais, este último apenas como forma de proceder algumas determinações pontuais quanto ao tema, em que pese à ressalva relatada no parágrafo anterior. Dada tal conjuntura, passa-se às deliberações quanto à problemática proposta, seguindo os pontos previstos no intento de comprovar a hipótese proposta.

Daniel Angelo Passaia

244 |

2. SÍNTESE DO PROCESSO EXECUTIVO

Como relatado previamente o trabalho não se debruçará sobre os debates porventura existentes sobre o conceito jurídico de execução, nem diferenciar o que atualmente se conhece por fase de execução, e nem mesmo diferi-la no que tange à origem do título em execução, senão apenas situará resumidamente o que é o processo de execução (ou fase), como medida introdutória ao restante da temática do artigo.

Neste seguir, pode-se perceber que o intuito não é realizar qualquer estudo sobre o processo executivo propriamente dito, se é fase ou processo, sobre seus fundamentos, etc. De início, certifica-se como processo de execução aquele voltado à expropriação de bens do devedor, pelo descumprimento de uma obrigação, de um direito já definido em título judicial, como classifica a doutrina transcrita: “Conjunto de medidas pelas quais se invade o patrimônio do devedor, com o objetivo de extrair dali o necessário para a satisfação do credor, independente do concurso da vontade daquele ou mesmo contra ela” (DINAMARCO, 2001, p. 223).

Liebman, por sua vez, caracterizava-a como uma atividade jurisdicional para fazer atuar à sanção, cujo caráter era de realizar a reparação e compensação efetiva ao credor, através de medidas que autorizem o estado à invadir a esfera de autonomia do devedor, fazendo então cumprir a regra de direito violada (LIEBMAN, 1968, n. 2, p. 4).

Por fim, tem-se que “a execução civil destina-se, portanto, à satisfação de um direito, nos exatos moldes em que é previsto no plano do direito material” (RODRIGUES, 2010, p. 725), como explica mais genericamente, arrematando em seguida que ditos processos eliminam do mundo processual as ‘crises de adimplemento’, diferente das crises de certeza jurídica e de situação jurídica, que são solvidas na cognição (RODRIGUES, 2010, p. 726).

Sumariamente, é este o modo que se define a execução, sem claro deixar de dizer que a mesma se reveste também com a roupagem de direito subjetivo da parte de ter a prestação jurisdicional efetivamente

ARTIGO

| 245

realizada por parte do Poder Público, com vistas à satisfação material do direito declarado.

3. DOS MEIOS DE DEFESA NA EXECUÇÃO

Abordar-se-á neste tópico as formatações gerais para as oposições do executado nas execuções cíveis, levando muito em conta a simplificação trazida pela Lei 13.105/15, que pôs em vigor o atual Código de Processo Civil, ou seja, tratar-se-ão das defesas ordinárias em face de execução de títulos executivos judiciais e dos extrajudiciais, respectivamente, impugnação e embargos.

Sabe-se que na vigência do CPC/1973, por exemplo, a Fazenda Pública defendia-se sempre com embargos à execução. Entretanto não é objetivo descrever minuciosamente as espécies de oposição em face de execuções. Portanto, estas e outras ressalvas não serão deliberadas, pois, o tópico serve apenas para determinar as formas comuns de oposição aos processos executivos e de modo geral. A doutrina as qualifica como oposições típicas (em contraversão às atípicas), como prescreve Rodrigues (2010).

3.1 Os meios típicos ou ordinários de defesa

Em concreto, então, pode-se certificar que atualmente duas são as espécies no processo civil, como regra geral, de defesas oponíveis pelo executado: impugnação e embargos à execução. Esta à descrição do próprio CPC/15, nos art. 525 e art. 914. Suas naturezas não se diferem, pois, basicamente, ambas servem para extinguir, modificar ou impedir o direito em execução.

Chamam-se de típicas, ao menos por parte da doutrina, mas, não pelo fato de estarem ‘tipificadas’ na legislação, senão por serem as mais ‘tipicamente utilizadas’. Isto se denota pelo fato das ‘atípicas’ também estarem arroladas, ao menos em parte, no texto legal, como a petição

Daniel Angelo Passaia

246 |

simples. Sem querer nomeá-las ou desenvolver suas características, se as chamará e trabalhará neste artigo como ‘ordinárias’ ou ‘típicas’ com sentido único, sinônimas ao menos em conceito jurídico e de sua função.

A primeira delas, a impugnação é incidental ao bojo do processo executivo, enquanto a segunda, os embargos, se caracteriza por ser processo de conhecimento autônomo. Estes os locais próprios à dialeticidade sobre as execuções, cujo efeito suspensivo não é regra, não permitindo que o executivo pause nem mesmo no momento da alienação dos bens do executado. Sobre isto se cita:

A técnica de exercer a defesa mediante provocação pelo executado em autos e procedimento próprios evita que o módulo ou processo executivo seja atrapalhado por discussões de aspecto probatório e cognitivo que só tolheriam o rumo e o desfecho da tutela executiva, transformando-o em algo muito semelhante ao método cognitivo (RODRIGUES, 2010, p. 726).

As lições de Theodoro Jr., em que pese do ano de 2004 (recente à história do direito, remoto às várias reformas processuais), atinente às formas de execução na época vigorantes, que na realidade, nada alteraram em seu fundamento para as de hoje, esclarecem que “No sistema unitário agora adotado, o processo de execução não é destinado ao contraditório e nele não há nem audiência nem sentença” (THEODORO JR., 2004, p. 39), relevando a técnica de defesa exógena como atualmente se verifica, tanto que a citação tem fim imediato não de chamar o devedor para se defender, mas sim para adimplir (THEODORO JR., 2004, p. 423).

Porém, este estereótipo do processo executivo não impede a discussão por parte dos executados, e para isto a lei define as matérias que poderão ser opostas na fase inicial do processo (as já citadas típicas ou ordinárias), que atualmente não exigem garantia do juízo para serem apresentadas.

Esta característica atual, de prescindibilidade da garantia do juízo nas execuções cíveis, gera situação diversa do que anteriormente

ARTIGO

| 247

acontecia, em que os embargos à execução ou a impugnação ao cumprimento de sentença vinham a ser opostos após meses, anos e até décadas de tramitação da execução, aguardando pelas garantias do juízo, o que ocasionava maior sensação de inefetividade e protelava o contraditório quase que inoportuna e injustificadamente. A primeira, há mais tempo, a segunda, no atual CPC/15, dispensam referida situação jurídica, e com a intimação da fase/processo executivo, incontinenti, iniciarão seus prazos quinzenais, via de regra, para oposição do executado.

Dentre as matérias que podem ser levantadas no sistema de defesa pelo executado, se inserem as mais diversas, como: inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação (o que é mais difícil nos títulos executivos judiciais); erros em penhora e avaliação; excesso de valor em execução; direito de retenção por benfeitorias; incompetências de juízo; quaisquer matérias que seriam deduzidas em processo de conhecimento, inclusive causas de modificação ou extinção da obrigação; falta de citação se na fase de conhecimento correu à revelia; ilegitimidades.

A autorização é legislativa nas exatas molduras dos arts. 917 (embargos à execução) e 525, § 1º (impugnação), ambos do CPC/15. Em nenhum dos casos, como referido anteriormente, é exigida qualquer garantia de juízo, ou seja, a partir do marco processual definido na norma adjetiva civil como momento de intimação, inicia-se a contagem do prazo, sem inclusão do primeiro, e inserção do último, observados os dias úteis forenses.

Como se denota, as matérias são de natureza processual e material, preliminares, prejudiciais e de mérito, mas que, nos termos da legislação adjetiva, devem ser deduzidas no início do processo ou fase executiva.

Em suma, as defesas em face da execução podem ser vistas como “meio para conseguir a privação de força do título executivo, assumindo a feição de uma ação de mandamento como contrapartida da executiva” (THEODORO JR., 2004, p. 424). São nestes meios típicos de defesa, portanto, que o executado deduz as matérias acima arroladas, nos prazos que lhe são concedidos.

Daniel Angelo Passaia

248 |

Não se pode deixar de lembrar, mesmo que em desvio de rota, a possibilidade de arguição por meio de exceção/objeção de executividade, o que se abordará posteriormente.

Qualquer delas pode ser apresentada no tempo processual correto, como se verificará abaixo. Porém, relembrando parte da problemática deste artigo, cabe inferir: e se elas ocorrerem de fato superveniente ao prazo dos meios típicos ou ordinários de defesa, notadamente, o excesso de execução? Na continuação, analisar-se-ão rapidamente os prazos de defesa, para partir, posteriormente, para o excesso de execução que ocorrer por fato posterior ao prazo ordinário, objeto essencial deste estudo, respondendo a pergunta anterior.

3.2 Dos prazos do executado nas defesas típicas

Como determinado acima, as defesas típicas ou ordinárias são assim definidas, pois, são aquelas que podem ser utilizadas comumente no processo executivo, em face dele, com as matérias específicas e gerais relacionadas pela legislação processual. Porém, outro fator faz com que as mesmas sejam assim qualificadas: o tempo e seu prazo.

Na atual legislação processual, Lei 13.105/15, elas deverão ser apresentadas já no início da fase ou processo de execução, logo, indiferente tratar-se de execução de título executivo judicial ou extrajudicial. Para este último caso o prazo é estipulado pelo art. 915, e para o primeiro, na forma do art. 525.

Citado na execução de título extrajudicial, é iniciado o prazo quinzenal para os embargos à execução; citado ou intimado da execução de título judicial, iniciar-se-á o prazo quinzenal a partir do escoamento dos primeiros quinze dias que servem para o adimplemento da obrigação, ou seja, na realidade, a contar do 16º (décimo sexto) dia, se útil, observando que os primeiros quinze dias são contados indiscriminadamente, por

ARTIGO

| 249

não ser prazo processual, mas material.1

Escoados estes prazos as matérias relacionadas no subcapítulo anterior, que se prestam à defesa na execução, restam superadas se não deduzidas, por isso tais prazos são de extrema importância nas fases executivas, devendo tudo ser alegado neste tempo e lugar, sob pena de preclusão.

Por certo, existem matérias e questões que naturalmente acontecem posteriormente à fase inicial da execução, como as penhoras. Para referidos casos, os antigos embargos à penhora e a arrematação, foram substituídos agora por simples petição, o que não desfigura seu caráter defensivo. Tanto é que o art. 917 foi categórico em referir em seu § 1º, que “A incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por simples petição, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do ato”.

Nada delibera o Código Processual sobre as demais matérias que podem surgir posteriormente gerando vícios ou erros na execução, como o excesso de execução. De forma mais acurada, para a fase de cumprimento de sentença o CPC define no art. 525, § 11º:

As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

De fato, deve-se reconhecer que questões arroladas no art. 917 e seus incisos e no art. 525, §1º (CPC), podem realmente ocorrer supervenientemente aos prazos ordinários de defesas, porém, não é

1 n.a. Entendimento do autor, que não é compartilhado unanimemente, mas por parte da doutrina.

Daniel Angelo Passaia

250 |

comum, e de mais e mais, somente algumas delas aparecem.Com efeito, não se pode esconder que os limites do texto do

§ 11º acima, são mais abrangentes que o do § 1º do art. 917, e apesar de perfeitamente aplicável na execução de título extrajudicial, por ser arguido do mesmo modo, prazo e pela interpretação sistêmica conferida ao CPC, mostra que o legislador não desenvolveu um mecanismo tão claro para questões supervenientes, senão algumas que, como dito, são naturalmente supervenientes às defesas típicas ou ordinárias, no entanto, deixando outras descobertas.

Porém, apenas para deixar claro, estas dicções pautam o assunto quanto às questões e matérias que se prestam a aparelhar os embargos à execução e a impugnação ao cumprimento de sentença, dentro dos prazos quinzenais, sem ignorar das petições simples, para matérias que surjam de fatos supervenientes aos atos opositivos ordinários.

Veja bem que o que separa as matérias que podem ser utilizadas em cada espécie de defesa (típicas/ordinárias e as de petição simples) é o tempo em que elas podem ser apresentadas. No entanto, não é (nada) crível exigir que o executado ataque matérias supervenientes (logo, não ocorridas até um dado momento), mesmo que estejam nos róis de temas que se enquadrem nas impugnações típicas, justamente porque não ocorreram, e nem mesmo o princípio da eventualidade pode justificar a exigência de uma oposição completa (e imaginária).

Entretanto, também não se pode deixar desamparado o executado que se depara com questões advindas de fatos supervenientes à apresentação ou ao fim do prazo de apresentação das defesas ordinárias. Como já apontado algures, a previsão legal existe, é um tanto restritiva em suas matérias, o que se passa a examinar doravante, com enfoque preciso no excesso de execução.

3.3 Alegações pós-prazos ordinários: meios atípicos2

2 n.a. Não havendo outro nome, chamou-se de atípicas as defesas pós prazo de embargos e impugnação (que é a petição simples), em que pese estar prevista na lei.

ARTIGO

| 251

Consoante afirmado até o momento, dentro dos prazos de oposição ordinária em face das execuções, as matérias passíveis de dedução são praticamente gerais, de toda ordem e espécie. O que se mostra de interesse neste instante são justamente as matérias que podem ser aduzidas depois dos prazos de embargos e impugnação.

Basicamente, é possível atestar que em um juízo negativo, alcançar-se-á a resposta, ou seja, o que não se encontra no rol de matérias das defesas ordinárias, poderá ser arguido depois. Excluem-se as matérias já aduzidas e decididas, aquelas sem natureza de ordem pública, vez que de regra, as de ordem pública maculam o processo irremediavelmente, ou seja, não podem ser supridas, e as de mérito não alegadas em defesa executiva, mas presentes nos róis dos art. 917 e 525, §1º do CPC/15.

O segundo passo é apontar e considerar as matérias que a própria legislação processual determina como impugnáveis posteriormente, claro, quando provenientes de fatos que surjam em momento posterior, como do art. 525 em seu § 11º, e do § 1º do art. 917, já transcritos acima. Aqui deliberando em juízo positivo, ou seja, do que a lei prevê como autorizado a impugnar.

Terceiro, as matérias de ordem pública, surgidas posteriormente ou mesmo aquelas com ocorrências anteriores aos prazos de defesa em face da execução, mas posteriores ao trânsito em julgado da fase de conhecimento, caso tenha havido, igualmente podem ser alegadas. Estas, em regra, atribuem-se às conhecidas exceções de pré-executividade (ou objeção) que são meio atípicos e quase que provavelmente cairão em desuso no processo civil, pois tudo poderá ser alegado em petição simples, o que na prática terá alteração na nomenclatura, todavia não no conteúdo necessário para convencer o juízo, que certamente não será mais simples.

Neste contexto, analisando estes três pontos, encaixando as casuísticas em ditas regras processuais, certamente o operador saberá se

Isto não significa a tentativa de conceitua-las, senão apenas de tratamento neste artigo.

Daniel Angelo Passaia

252 |

a matéria pode ser alegada depois dos prazos de defesa nas execuções, e terá uma expectativa de serem elas conhecidas ou não pelo juízo. Deve-se atentar o operador que na realidade qualquer matéria pode ser alegada a qualquer tempo, porém, o filtro que se busca fazer é quanto à expectativa de ser conhecida a alegação, evitando um julgamento sem exame de mérito.

Até aqui nenhuma atrocidade processual se pratica, nem se apresentando ponto de grande divergência. A questão realmente cinge quanto às matérias, quaisquer que sejam, que surjam de fatos supervenientes aos prazos típicos de defesa na execução, notadamente o caso aqui estudado, do excesso de execução3.

Como já determinado, se o excesso de execução já existir na abertura da execução, acaso não houver oposição pelo executado, restará precluso. Entretanto, o excesso de execução superveniente aos prazos defensivos, deverá ser arguido na forma do art. 917, § 1º e do art. 525, §11º, tudo do CPC/15, qual seja, por simples petição, em uma versão simplificada de exceção de executividade.

Dirimida a situação de formas de defesa em face das execuções, visualizado ainda o modo de oposição do excesso de execução superveniente, muitos poderão perguntar-se: Mas ocorre, concretamente, excesso de execução no decorrer da execução, posterior à defesa por impugnação ou embargos? Não raro, não muito comum, porém, vários são os fatores desencadeantes, e tanto por isso o legislador possibilitou a apresentação de petição para sanar o vício. É isto que se averiguará no próximo tópico.

3 n.a. O autor trabalha com a ideia jurídica que o excesso de execução superveniente às defesas ordinárias em execução, deve ser alegado em petição simples, justamente por ser posterior, utilizando a regra do § 11º, do art. 525, do CPC. Contudo, pode haver entendimentos diversos, como o dos que entendem que surgido o excesso superveniente, abrir-se-á novo prazo quinzenal para impugnação/embargos, cuja utilização fica limitada a referida matéria.

ARTIGO

| 253

4. O EXCESSO DE EXECUÇÃO SUPERVENIENTE E SUAS CAUSAS

Partindo das premissas até o momento entabuladas é inafastável e necessário comprovar que a execução pode sofrer com excesso de valores no decurso de seu tramitar, posteriormente aos prazos de apresentação de defesa, para tanto, traçando algumas de suas causas.

Toma-se como primeiro modelo a aplicação de multa processual pelo descumprimento voluntário do pagamento, na forma do art. 523 do CPC. A partir do 16º dia, a execução será acrescida de 10% de multa. Imagine-se, então, depois de longos anos de tramitação, levando em conta apenas a execução, o credor lança cálculo atualizado, incluindo novamente multa de 10%, fazendo-a incidir na forma de multa-sobre-multa (multa capitalizada).

Segundo exemplo. Penhora parcial, cujo resultado da hasta não é abatido integralmente, ou após anos da realização da mesma, quando da próxima atualização do débito, não ocorre atualização da arrecadação da hasta para fins de amortização ou não é descontado o valor da própria arrematação/venda/adjudicação.

Terceiro exemplo. Acréscimo de cláusula contratual disposta no instrumento particular (título executivo extrajudicial) que está sendo executado, que não foi incluída no cálculo da distribuição da ação executiva. Uma quarta hipótese, na retenção por benfeitorias realizadas posteriormente aos prazos das defesas ordinárias, no caso das necessárias, principalmente, para evitar o arruinamento da coisa, ou úteis, cujos valores o executado de boa-fé remete aos autos, mas o exequente não amortiza.

Mais remota, todavia não impossível, a aplicação de juros na falência que vem a ser decretada durante a execução (ou insolvência civil), também pode ser causa de excesso superveniente.

Não se limitam, certamente, a estas as causas de excesso de execução superveniente aos prazos de apresentação de embargos e impugnação, pois, o mundo jurídico permite desaguar em inúmeras

Daniel Angelo Passaia

254 |

possibilidades, algumas inimagináveis. Contudo, não ficam dúvidas de que existem, exigindo um remédio processual para regulação. É o que se averiguará a seguir.

4.1 Da defesa do excesso superveniente

Seguindo as razões tecidas até então, resta praticamente definida a forma de exercício de defesa para o excesso de valores na execução, quando supervenientes aos prazos ordinários de defesas, que ocorrerá por simples petição, tanto para as execuções de título judicial, como extrajudicial.

Algumas considerações ainda podem ser tomadas, como a questão de dispensa pelo atual CPC, Lei 13.105/15, da exigência da segurança do juízo, a qual não era mais pressuposto para os embargos de devedor civil, todavia, o era para a impugnação ao cumprimento de sentença.

Com isto, ambos os prazos defensivos estão consolidados para o início do processo ou fase de execução, sendo no primeiro caso, com a citação efetivada nas formas prescritas na lei, e no segundo, automaticamente a contar do escoamento do prazo para adimplemento voluntário4 de quinze dias, ou seja, do 16º dia em diante. Em qualquer dos casos, o prazo é quinzenal, com ressalvas do Diploma.

Com efeito, como as discussões no âmbito dos executivos civis não exigem mais a segurança do juízo, o que levava as mesmas a ocorrerem, por vezes, após anos de tramitação processual, deve o executado trazer logo de início na execução, toda matéria que lhe competir aduzir, sob pena de preclusão, o que leva forçosamente a concluir que, os excessos de execução supervenientes deverão ser averiguados por meio de simples petição, pois, inexistente outro meio na legislação processual civil vigente.

4 n.a. Prazo que para muitos já não é mais voluntário.

ARTIGO

| 255

A conhecida exceção ou objeção de pré-executividade fica vedada, pois, como entende a jurisprudência pacífica, tal expediente apenas pode versar sobre questões de ordem pública e processuais, não sendo o caso do excesso de execução, que é eminentemente questão de mérito puro:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. EXCESSO DE EXECUÇÃO. DESCABIMENTO. A exceção de pré-executividade destina-se apenas à discussão sobre os aspectos formais da execução. Descabida, todavia, a apreciação de alegado excesso. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.5

A despeito disto, inevitável concluir, portanto, que o meio de impugnar o excesso de execução superveniente aos prazos ordinários de defesa (impugnação e embargos) será a petição simples.

Contudo, mais além é necessário transitar para finalizar o presente trabalho, para cumprir com o objetivo principal, e com vistas à verificação da hipótese para o problema que o justifica: caberão honorários de sucumbência da decisão que definir sobre esta espécie de excesso de execução alegado em simples petição? Este é o ponto central que será doravante desmistificado.

5. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA: A PROBLEMÁTICA CENTRAL

O art. 85, § 1º, do CPC, é límpido ao afirmar os processos e

5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL. Agravo de Instrumento Nº 70065125452, Décima Segunda Câmara Cível, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 08/06/2015.

Daniel Angelo Passaia

256 |

fases em que serão fixados honorários de sucumbência: “§1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.”

Objetivamente, o que se pretende demonstrar é se deverão ser fixados os honorários, na fase de execução, como previsto no § 1º do art. 85, tanto nos embargos e impugnação, como também na petição simples que versar sobre o excesso de execução, haja vista que tal procedimento poderá influir diretamente no valor da execução, diante das causas alhures apontadas.

Em princípio, não se distinguem as execuções, nem as formas de defesa em face delas, importando certificar e observar o termo “resistida ou não”, para fins de enquadramento dos embargos, impugnação, ou demais métodos de resistência jurídicos, para que possa incidir a verba honorária ao advogado da parte adversa, condicionada pela sucumbência, nos retrocitados executivos.

Na realidade não existe qualquer diferença para procedimento ou fase de processo, no que tange à possibilidade de fixação da verba em face do vencido, seja esta sucumbência parcial ou total, o que será rateado nas devidas proporções. Tanto que o que deve ser levado em conta é o “princípio do sucumbimento, pelo qual o vencido responde por custas e honorários advocatícios em benefício do vencedor”.6 Seja conhecimento, recursal, execução ou defesas em face desta, sempre caberá a fixação de honorários ao vencedor.

Destarte, partindo destes pressupostos elementares e da questão acima levantada, objeto nuclear deste opúsculo, pode-se dizer que a petição simples se localiza dentro de uma fase ou processo que autoriza a fixação de honorários qual seja, a execução. Sob esta primeira ótica a hipótese parece se confirmar, porém, ainda depende de outros caracteres.

6 Parte da exposição de motivos do CPC/1973, assinada pelo então Ministro e jurista Alfredo Buzaid.

ARTIGO

| 257

Estando em local apropriado, a segunda questão que requer auditoria é a caracterização da sucumbência (e da causalidade, quando necessária), como define a doutrina e o próprio CPC atual, em seu art. 85, na cumulação das interpretações prestadas sobre os seus §§ 2º e 6º, cujas transcrições seguem:

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos (…)(…)§ 6º Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.

Nesta borda, como despontado no § 6º, os honorários serão aplicados “independentemente de qual seja o conteúdo da decisão”, e menciona rol não exaustivo, senão exemplificativo. Haja vista que, na petição simples que se alegar excesso de execução, oportunizado o contraditório, será prolatada decisão (interlocutória ou até mesmo sentença, o que é mais raro, mas não impossível), não se pode afastar a incidência de tal parágrafo.

Indiferente é o caso do § 2º, que interpretado conjuntamente com o anterior, leva à compreensão de que se na decisão (independente de seu conteúdo - § 6º), houver proveito econômico ao executado, ou seja, houver redução do alegado excesso de execução, existirá sucumbimento do exequente, acarretando a necessária aplicação do princípio e condenação em honorários advocatícios ao patrono do executado.

Endossa dita interpretação o Prof. Flavio Cheim Jorge, que certifica que o legislador visou corrigir grave equívoco, enfatizando nestes parágrafos a necessidade de fixação isonômica da verba, sem importar a natureza e o resultado (JORGE, 2015, texto digital). Ele não tratava propriamente da questão da petição simples, mas da igualdade

Daniel Angelo Passaia

258 |

que o Código anterior não privilegiava.Por óbvio, a fixação da verba depende do êxito na petição

simples, com efetiva redução do excesso, cabendo a priori, também o aumento da verba honorária previsto na legislação, em prol do advogado do exequente, acaso indeferida a tese do excesso disposta na petição do executado, ou seja, analisar-se-á sempre a sucumbência e a causalidade, para dispor sobre a incidência dos honorários em ditas situações.

Como se pode averiguar neste breve contexto, a hipótese de poder-se aplicar o princípio da sucumbência na petição simples que aduz excesso de execução surgido de fato superveniente aos prazos de apresentação de embargos ou impugnação, mostra-se viável e comprovada.

6. CONCLUSÃO

Segundo foi possível constatar, a partir do problema central levantado, com o objetivo de comprovar a possibilidade de incidência de honorários advocatícios nas decisões judiciais de excesso de execução decorrentes de fatos supervenientes ao decurso dos prazos ordinários de oposição em face do executivo, seja embargos ou impugnação, pode-se afirmar que sua incidência é possível, e recomendável (confirmação da hipótese).

É fora de questão que existem causas supervenientes que engendram o excesso de execução, e por isso se impõe um remédio jurídico apto a corrigi-lo, uma vez que as oposições ordinárias aos feitos executivos já tiveram seus prazos ultrapassados. O remédio previsto na lei é a petição simples.

Também não remonta dúvidas à autorização do CPC na incidência de honorários nas fases e processos executivos, consoante exegese de seu art. 85, § 1º. Instaurado o microcontraditório dentro do processo, por força da petição simples, o juiz prolatará decisão, a qual, também tem previsão de que, se houver sucumbimento de uma

ARTIGO

| 259

das partes e proveito econômico ou condenação em favor da outra (no caso, o executado), nas molduras exatas dos §§ 6º e 2º do mesmo artigo, deflagrados estarão os princípios da sucumbência e da causalidade.

Em decorrência lógica processual desta incidência é possível certificar que é obrigação do juízo prolator da decisão, derivada da petição simples, que teve como resultado a declaração do excesso de execução, acolhendo as alegações do executado para determinar a readequação do valor da mesma, fixar neste provimento a verba honorária ao advogado do executado.

REFERÊNCIAS

DINAMARCO, Candido Rangel. A Reforma da Reforma. 4ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2001.

JORGE, Flavio Cheim. Os honorários advocatícios e o Novo CPC: primeiros apontamentos: Os honorários advocatícios desde o início de sua concepção até os preceitos colocados pelo novo CPC. Disponível em <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI220537,11049-Os+honorarios+advocaticios+e+o+Novo+CPC+primeiros+apontamentos>. Migalhas: 2015, texto digital.

LIEBMAN, Tulio Enrico. Processo de Execução. 3ª Ed. [s.n], 1968.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2010.

THEODORO Jr., Humberto. Processo de execução. 22. ed. rev. e

Daniel Angelo Passaia

260 |

atual. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2004.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105/15. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 30 mai. 2017, texto digital.

BRASIL. CPC 1973. Org. Yussef Said Cahali. Obra coletiva. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 774.

EXCESS OF EXECUTION OF CAUSE SUPERVISING TO DEFENSE DEADLINES AND THE SETTING OF HARASSMENT FEES IN THE SIMPLE PETITION

ABSTRACT

The article deliberates about the attorney’s fees to prevailing party during the execution phase of a civil lawsuit, in situations where the deadlines for the replies of the ordinary defenses, such as refutation and motion to stay execution, the claimant begins to plead the expropriatory acts with a calculation overstrained by excess of execution, in other words, supervenient to the elapsed deadline for the defenses, or after the possible adaptation of the judgement to them. In fact, it is not rare a situation in which the claimant happens on the excess of execution, even after definitive judgements regarding the defenses. For this, there is the procedural remedy of the simple petition. The objective is to characterize and examine the possibility of incidence of the fees in this procedural

ARTIGO

| 261

remedy established in the executions, and the initial hypothesis is the possibility itself. In summary and generic digression, the paper goes through the nature of the executions and means of defense, it presents some causes of supervenient excess of execution and how to raise the question on the part of the defendant, that is, the simple petition, and finally, it goes through its central problem that is the possibility of fixing the attorney’s fees, when the excess on the defendant’s plea is accepted and declared.

Keywords: Execution proceedings. Petition. Excess of execution. Supervenient cause. Attorney’s fees.

Daniel Angelo Passaia