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EXCURSÃO AO LARGO DA CARIOCA 1898 Uma homenagem aos profissionais de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro, sobretudo aos Guias. Pesquisa de imagens, formatação e texto: Cau Barata – 12.02.2009 Série Passeios pelo Rio de Janeiro - I Textos em itálico: Ferreira da Rosa, 1898 (mantida a ortografia original)

EXCURSÃO AO LARGO DA CARIOCA 1898 Uma homenagem aos profissionais de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro, sobretudo aos Guias. Pesquisa de imagens, formatação

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EXCURSÃO AO LARGO DA CARIOCA

1898

Uma homenagem aos profissionais de Turismo

da Cidade do Rio de Janeiro,

sobretudo aos Guias.

Pesquisa de imagens, formatação e texto: Cau Barata – 12.02.2009

Série Passeios pelo Rio de Janeiro - I

Textos em itálico: Ferreira da Rosa, 1898 (mantida a ortografia original)

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O texto que segue foi escrito, em 1898, pelo Prof. Ferreira da Rosa,

descrevendo um passeio “turístico” que fez com seus alunos ao

Largo da Carioca. Um desses alunos assim descreve esse dia:

“Foi um dia de extraordinario jubilo na aula. Recordo-me como se tivesse sido hontem.

O Professor (Guia) declarou-nos que iam começar as excursões escolares, e que a primeira se effectuaria na manhã seguinte.

«Percorreremos o Rio de Janeiro», disse-nos elle; e estas palavras soaram-nos ao ouvido como uma promessa risonha de grandes

prazeres moraes.

Tinhamos todos o desejo de conhecer a capital da Republica; fallava-nos de tanta cousa ainda não vista por nós, que a nossa

curiosidade estava excitadissima.

UM PASSEIO PELO RIO DE JANEIRO

“Além de que o Professor teve a gentileza de explicar-nos a importancia de taes excursões, e de fazer-nos bem comprehender o

proveito que d´ellas viria a nossa instrucção.

Era excellente o nosso Professor (Guia). Espírito recto, amigo da verdade e da justiça, nunca teve palavras senão de affecto para os

bons, e nunca tambem deixou de fazer sentir o seu desgosto aos máos discipulos.

O Professor (Guia) garantio-nos que, ao terminarmos as nossas excursões, outro seria o desenvolvimento do nosso espírito,

achando-nos todos aptos para dar referencia perfeita de tudo quanto por ahi há digno de menção.

O LARGO DA CARIOCA

O Largo da Carioca no mesma época da excursão. Foto: Augusto Malta.Mapa do Rio de Janeiro onde aparece o Largo da Carioca. André Vaz Figueira – c.1750

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A primeira excursão foi ao largo da Carioca.

Às 9 horas da manhã partimos do Collegio. O Professor (Guia) apresentou-se

todo vestido de brim branco, e com um amplo chapéo de palha na cabeça.

Aproveitou esta circumstancia para uma lição: o dia estava quente, e deve-se

sempre escolher vestuario conforme as estações; que era isso uma questão de hygiene muito digna de ser observada,

accentuou elle.

Um collega meu, o Pedrinho, que tinha no Collegio o n. 131, estava mettido núma aspera roupa de lã, e foi logo referir ao professor que tinha vindo com aquelle vestuário porque o de brim pardo com que costumava ir á aula ficára em casa para se lavar, e elle não tinha roupa de

sahir.

LARGO DA CARIOCA

Largo da Carioca, em 1817, visto do Morro de

Santo Antonio. Uma boiada sobe a rua São

José, passa pelo largo, e segue em direção à rua da Guarda Velha (Treze

de Maio).

Nicolas-Antoine Taunay

“E logo passou o Professor a mostrar-nos os bonds da

Companhia Ferro-Carril Jardim Botanico, que alli chegam de

differentes pontos, e d´alli partem com varios destinos; ficámos,

então, sabendo que a primeira linha de bonds que se estabeleceu no Rio de Janeiro foi aquella, inaugurada só até á praça Duque de Caxias (hoje Largo do Machado), em 10 de

Outubro de 1868.Nota: Charles Dunlop escreveu: Na sexta-feira, 9 de outubro de 1868, em plena guerra contra o Governo do Paraguai, inaugurou-se o primeiro trecho da linha, entre a Rua do Ouvidor, esquina da Gonçalves Dias

(ponto incial), e o Largo do Machado.

Largo da Carioca, em 1885. Ao fundo, o “chafariz” da

Carioca, projeto do arquit.º Grandjean de Montgny. O

bonde à direita está defronte do Hospital da O.

Terceira da Penitencia.

Foto: Marc Ferrez, 1885.

Chafariz

“O principal edifício do largo da Carioca é o Hospital da Venerável Ordem terceira da Penitência que occupa inteiramente uma da suas faces. O Professor (Guia) fallou-nos

desse Instituto religioso de caridade, onde são carinhosamente

tratados os irmãos e irmãs que a enfenmidade subjuga,

promettendo-nos fazer uma visita ao seu interior para julgarmos bem do que seja um hospital particular.”Nota: O Hospital da Penitência foi erigido em virtude da provisão, com faculdade régia, de 12 de março de

1720, obtida pelo ministro da ordem, o provedor da fazenda real, Francisco Cordovil de Siqueira e Melo.

O velho casarão do Hospital da Ordem Teixeira da Penitência, que sofreu várias alterações. No canto à direita, a Rua da Carioca.

Foto: Augusto Malta, 01.12.1905.

Moreira de Azevedo, em 1877, escreveu sobre o Hospital: “Em 27 de março de 1748 resolveu-se dar comêço a obra, e

nesse mesmo anno, em 14 de maio, benzeu o bispo D. frei Antonio do

Desterro a pedra fundamental, a qual foi conduzida ao seu lugar pelo tenente-

general Gomes Freire de Andrade.

Este edificio, que há soffrido diversas modificações, exterior e interiormente, é

quadrangular e de tres pavimentos; a face, que olha para o largo da Carioca

tem quatorze portas de arcada no primeiro pavimento, igual número de

janellas de peitoril no segundo e outras tantas de sacada no terceiro; um attico

coroa o edifício.”

Nota: Arcada – série de arcos contíguos ao longo de um mesmo pavimento. Comumente é usada em fachadas. Maria Paula Albernaz e Cecília Modesdo Lima, Dicionário Ilustrado de Arquitetura, vol. I, p. 44)

Arcada do antigo Hospital da Ordem Terceira da Penitência – 14 arcos.

Janelas de peitoril do segundo pavimento do antigo Hospital – 14 janelas.

Janelas de sacadas do terceiro pavimento do antigo Hospital – 14 janelas.

O Hospital da Ordem Terceira da Penitência em 1816. Autor: Jean Baptiste Debret.

Hospital da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência:

abaixo, em 1816 (Debret); acima, em 1845 (Daniel Kidder).

O Hospital da Ordem Terceira da Penitência e o Convento de Santo Antonio em 1845. Autor: Daniel Kidder.

O Hospital da Ordem Terceira da Penitência e a Igreja da O. Terceira da Penitencia em 1830. Autor: W. Smyth.

Mapa do Rio de Janeiro datado de

1758. Assinalado em

azul o local onde estava

sendo construído o Hospital da Ordem da Penitência.

Mapa do Rio de Janeiro datado de

1769. Assinalado em azul o Hospital da Ordem da Penitência.

Mapa do Rio de Janeiro datado de

1770. Assinalado em azul o Hospital da Ordem da Penitência.

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LARGO DA CARIOCA

Ainda Moreira de Azevedo, em 1877, sobre o Hospital:

“O portão de entrada ao lado direito do edifício, próximo ao chafariz da

carioca, apresenta duas pilastras de granito, que sustentam as estátuas

de marmore da piedade e da caridade, com dez palmos de altura.” O portão, em 1816, visto do Largo -

Debret.

O portão, em 1854, visto de dentro do Hospital - Jacques

Aubrun.

O portão, conforme a descrição de Moreira de

Azevedo – 1870.

O portão, em 1830, visto do Largo – W. Smyth.

O fim do Hospital da Ordem Terceira da Penitência, demolido em 1906, por ocasião das reformas urbanas do

Prefeito Pereira Passos.

Foto: Augusto Malta, 20.09.1906

Foto: Augusto Malta, 25.09.1906

Nesta outra fotografia de 1906, após a demolição da fachada do velho Hospital,

percebe-se a existência de um pátio interno, para o qual

estavam voltadas janelas de vários quartos.

Moreira de Azevedo, em 1877, aponta este pátio como um jardim: “Interiormente é o

hospital mui espaçoso; outr´ora tinha enfermarias

rasgadas, mas hoje é dividido em 50 quartos, que podem

accomodar 100 doentes, tem duas capellas; a sala de

operações, duas boticas, sala da secretaria; uma biblioteca; uma enfermaria; no centro

um jardim com esguicho de mármore.”

O novo edifício da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no Largo da Carioca, esquina com a rua do mesmo nome, em estilo eclética.

LARGO DA CARIOCA

O Hospital e o Edifício.

Costuma-se falar da demolição do Hospital da Ordem Terceira da Penitência e mostrar as duas imagens acima indistintamente.

No entanto, não é o mesmo prédio, porém, ambos

propriedades da mesma Ordem, no mesmo local.

Em 1906, com a remodelação do Largo da Carioca, foi demolido o

velho casarão colonial, onde funcionava o antigo Hospital da Penitência. Em seu terreno, a mesma Ordem fez erguer um

novo edifício, de feições ecléticas, onde passou a

funcionar o Correio da Manhã. Projeto da firma Antonio Jannuzzi Irm. e C., e construção de Silvio Soucassaux. Foi obra premiada

naquela ocasião.

Largo da Carioca olhando para a rua Uruguaiana. A esquerda o Edifício da O.T. da Penitência (Correio da Manhã).

Largo da Carioca olhando para a esquina da rua da Carioca com a rua Uruguaiana. A

esquerda o Edifício da O.T. da Penitência.

Largo da Carioca, quase no mesmo ângulo da foto ao lado, com o antigo casarão colonial quase totalmente demolido. Em seu lugar, edificou-se o edifício que vemos na imagem ao lado. Foto: Augusto Malta, 1907.

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LARGO DA CARIOCA

“O Professor (Guia), em seguida, chamou a nossa attenção para o monumental chafariz que dá o nome ao largo.”

Nota: O Professor descreverá o terceiro chafariz que existiu no Largo da Carioca, erguido pelo arquiteto Grandjean de Montigny. No entanto, a bem da verdade documental, achei que seria interessante registrar que existiram outros dois chafarizes no mesmo largo. Acima, uma imagem do primeiro chafariz, do século XVIII,

feita por Debret, em 1816.

Nota: Em 1935, Magalhães Corrêa escreveu: “Em 1723 foi inaugurado o primeiro chafariz, vindo de Lisboa, que colocado no antigo Campo de Santo Antonio, hoje Largo da Carioca, tinha 16 bicas de carrancas de

bronze, despejando água cristalina e pura; das dezesseis bicas, dez estavam na fachada principal, duas nos ângulos chanfrados, e quatro nas partes laterais; o corpo do chafariz dividia-se em três partes; coroando a

última, as armas da Metrópole e, na parte inferior, um tanque estreito de forma exótica sôbre um patamar de três degraus, em curvas simétricas.”

Outra imagem do chafariz de 1723, destacando-se as 10 bicas de carrancas de bronze, na fachada principal, e as duas nos ângulos chanfrados. No alto, as armas da Metrópole e, na parte inferior, o

tanque estreito sobre um patamar de três degraus em curvas simétricas.

Demolido o primeiro chafariz, construiu-se outro no mesmo lugar, porém provisório, de madeira, pintado de granito, com as quarenta torneiras, inaugurado em 15.05.1830. Obra do intendente

geral de polícia Luiz Paulo de Araújo Bastos. Demolido, pouco depois, em 1833.

A gravura ao lado data de 1833, o que faz crer

que seja o segundo chafariz, e que difere

pouco, esteticamente, do primeiro. A escada de acesso – se não houve erro do artista -, agora

aparece com cinco degraus. Percebe-se

também a inclusão de um lampião.

Há pequena alteração no coroamento e nas

armas no alto do chafariz. Acrescenta-se

um pequeno acesso isolado, cercado por

gradil, à direita, com a ausência da murada que aparece no desenho de Debret (1816). Desenho

de W. Smyth (1833).

Finalmente, em 1833, deu-se início a construção do terceiro chafariz, projeto do arquiteto Grandjean de Montigny, concluído

em 07.04.1840. Este é o chafariz que o Professor (Guia) mostrava aos seus alunos em 1898.

“Tinha a forma de uma casa de pedra lavrada com três portas entre duaspilastras de feitio particular e apoiadas sôbre extensa e alta base para a qual se subia por uma

extensa escadaria de quatro degráus muito estreitos. Na base abriam-se trinta e cinco bicas de metal, que despejavam água em estreito e comprido tanque. Coroava a construção altaneira platibanda em

forma de trono.”

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O chafariz do Largo da Carioca visto do pátio do Convento de Santo Antônio. Ao fundo, o Morro do Castelo, local da fundação da Cidade, em 1567 (não existe mais). Jacques Aubrun – 1854.

A multidão se acotovelando para pegar água em uma das vinte nove bicas da fachada frontal do chafariz. Nas bicas laterais, animais e carroças com tonéis. Gravura de Buvelot, datada de 1845.

Uma das mais belas paisagens do chafariz do Largo da Carioca, datada de 1844. Vê-se o chafariz, o Convento e Igreja de Santo Antonio, a Igreja de São Francisco da Penitência, o Hospital da Penitência, e o portão de

acesso a este último conjunto. Aquarela de Hildebrandt, 1844 – superando Debret e Taunay, que pintaram o mesmo motivo.

O Chafariz

O Hospital

O Convento e as duas Igrejas.

O portão de acesso.

Uma cena do cotidiano, na coleta de água no grande chafariz.Uma das mais antigas fotografias do chafariz.

Foto: Revert Henrique Klumb, 1870.

Chafariz fotografado por Marc Ferrez, cerca de 1890.

Chafariz fotografado por Gutierrez, em 1893.

Antiga gravura do terceiro chafariz – sem data.

Largo da Carioca e o chafariz – cerca de 1900

Chafariz da Carioca – Foto de 1923

Em obediência ao projeto de remodelação e embelezamento do

Morro de Santo Antônio, aprovado a 07.10.1925, o Prefeito Alaor Prata

pôde desapropriar prédios e terrenos no Largo da Carioca, além da retirada do antigo Chafariz e da Estação de Bonde de Santa Teresa.

Executado pela Cia. Santa Fé, a estação foi afastada de onde se achava, por trás do Chafariz da

Carioca, que foi demolido.

Trecho inicial da antiga linha de Bondes de Santa Teresa passando colada ao muro do Convento de

Santo Antônio. Foto: Augusto Malta, 24.08.1928.

Obras de remodelação do Morro do Convento de Santo Antônio.

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LARGO DA CARIOCA

“O Chafariz – continua o Professor (Guia) – está do lado Sul, e voltado para o Norte, apoiando a esquerda no

Hospital. É todo de granito, e de construcção sem estylo definido. Sobre uma base de quatro degráos há um

tanque muito extenso, acompanhado n´um plano superior pelo depósito também de granito, dónde a agua jorra por

trinta e cinco torneiras de

bronze. Por detráz deste deposito eleva-se enorme parede de pedra lavrada em que foram delineadas

tres portas, e pilastras que sustentam uma cimalha sem gosto. Sobre a cimalha há uma platibanda,

e sobre esta um remate de tres degráos.

É o maior chafariz da cidade, mas sem belleza architectonica, sem arte; o que, emfim, não prejudica a sua utilidade. Foi inaugurado em 7 de Abril de 1834.”

O Rio Carioca

“A proposito, disse-nos o Professor (Guia) que nasce na

serra da Carioca um riacho denominado Carioca, cujas aguas, desde os primeiros

tempos em que esta cidade foi povoada, e já em tempos

anteriores, gosavam de um credito extraordinario pela sua

frescura e limpidez.

Governando aqui, disse, ainda elle, em nome do rei de Portugal, um cavalheiro chamado João da Silva e

Souza, tratou de canalisar as aguas desse famoso corrego,

para abastecimento da cidade; e em 1673 principiaram as obras que só em 1723 se concluiram, por causa de

dificuldades primeiramente na compra de terrenos, depois na acquisição de material, e por

último na reunião de operarios.”

O Rio Carioca

O mapa ao lado, datado de 1808, mostra todo o percurso do Rio

Carioca, desde a sua nascente no alto do Corcovado, na região do Silvestre, descendo pelo Cosme

Velho, passando por dentro do Largo do Boticário, continuando por todo o Vale das Laranjeiras, até desembocar na Baía de Guanabara, na altura da

hoje rua Barão do Flamengo.

Pode-se ver, também, o desvio feito daquele córrego, pelo homem, desde o século XVII, na mesma região do Silvestre, coletando outros córregos da serra, cruzando todo o bairro de

Santa Teresa, até alcançar o Convento do mesmo nome. Para vencer o pequeno vale entre os morros de Santa Teresa e Santo

Antônio, foi necessário construir um aqueduto que tomou o nome do córrego: Aqueduto da Carioca.

Em seguida, o desvio corre pela lateral do Morro de Santo Antônio, até alcançar o

Chafariz do Largo da Carioca.

O Rio CariocaEm quase todo o percurso do desvio dos córregos do alto do Corcovado, em direção ao Convento de Santa Teresa, onde principia o aqueduto, encontrou-se diversas depressões que dificultavam o andamento da obra, quando da construção dos

canos. Assim, em muitos lugares, construíram-se pequenos aquedutos, a fim de vencer os pequenos valões.

Perceba o leitor que o desvio artificial, criado pelo homem, para

conduzir a água entre o Corcovado e Convento de Santa Teresa, é hoje,

praticamente, a rua Almirante Alexandrino, que corta todo o bairro

de Santa Teresa.

Em fins do século XIX, o grande aqueduto foi desativado,

abandonando a sua função de condutor de águas. Em 1896, dando-lhe nova atividade, transformou-se

em “viaduto”, correndo nele o primeiro bonde.

Em 1952, começou a retirada de parte do Morro de Santo Antônio, cujas terras foram

utilizadas para formar o Aterro do Flamengo.

O Rio CariocaNa imagem ao lado, datada de cerca de 1895 (Augusto Malta), retrata um dos pequenos aquedutos construídos

ao longo do percurso, entre as Paineiras e o Convento de Santa

Teresa, para dar nível aos canos que conduzem a água até o Aqueduto da Carioca, vencendo desníveis e valões.

Conforme ficou dito, além do córrego Carioca, coletava-se água dos

encanamentos das Paineiras, do Silvestre e da Lagoinha, convergindo

todas essas águas até o grande Aqueduto. Ao lado, um detalhe do

aqueduto da Lagoinha, numa foto de Marc Ferrez, datada de 1875.

Acima a foto inteira.

A famosa Ponte do Diabo, nas Paineiras. Trata-se do antigo Caminho do Aqueduto, que hoje

representa parte do trajeto das ruas Almirante Alexandrino e Joaquim Murtinho - que finaliza no

grande Aqueduto (Arcos da Carioca). Foto de Marc Ferrez, c.1885.

Desenho do Caminho do Aqueduto, datado de 1845. Litografia de

Abraham-Louis Buvelot (1814-1888).

Outra imagem do Caminho do Aqueduto, anterior a

1887. Quadro de J. W. Rey.

Outra imagem do Caminho do Aqueduto. Fotografia do

princípio do século XX.

Mais uma imagem do Caminho do Aqueduto, na região dos Dois

Irmãos, nome que teve origem nas duas pirâmides de pedra ali

erguidas no tempo dos aquedutos.

Os “Dois Irmãos” na estrada do aqueduto

para o Silvestre.

A esquerda,

o aqueduto e as duas pirâmides (os Dois Irmãos),

registro de água; à

direita, o panorama

do vale das Laranjeiras até a baía

de Guanabara e o Pão de

Açúcar.

Têmpera de

Friedrich Hagerdorn

(1814-1889),

cerca de 1853.

O Rio Carioca

“Disse-nos o Professor (Guia) que, em 1744, outro governador do Rio de Janeiro Gomes Freire de Andrade, também conhecido pelo

título de conde de Bobadella, reformou essas obras do encanamento, dando-lhes mais segurança. Foi, então que as

aguas se encaminharam do morro de Santa Thereza para o de Santo Antonio, sobranceiro ao largo da Carioca, vindo abastecer o

grande chafariz.”O destino dado ao

Rio Carioca

Resolvido os obstáculos, a água que vinha da região do Silvestre, finalmente

chegou ao grande aqueduto.

Ao lado, uma das mais antigas imagens do grande aqueduto, vencendo o vão

entre o Morro de Santa Teresa e o Morro de Santo

Antônio.

(Imagem - cerca de 1792)

Antes uma aquarela, agora, uma das mais antigas fotografias de

trecho do grande aqueduto, olhando para a

ladeira de St. Teresa.

(Foto de 1862)

Outra antiga imagem do grande aqueduto, às

vésperas de se transformar em viaduto

para bondes.

(Foto de 1890)

Finalmente, uma fotografia histórica e de

cunho jornalístico registrando a passagem

do primeiro bonde justamente no ano de

1896.

(Foto de Marc Ferrez)

Destino dado ao Rio Carioca no seu

percurso original.Ainda existe o famoso Rio Carioca, porém foi todo ele canalizado, correndo, em

galerias, por baixo das construções das ruas

Cosme Velho e Laranjeiras, até chegar à Baía de

Guanabara.

Mapa, de 1867, com o percurso do Rio

Carioca, que nasce na região das

Paineiras, desce pelo Cosme Velho,

percorre toda as Laranjeiras e

desemboca na Baía de Guanabara.

Homem sentado nas escadas de uma típica ponte de acesso às residências da rua das Laranjeiras, sobre o Rio Carioca, ainda visível. Foto: Marc Ferrez, 1887.

A mesma imagem (completa)

Canalização do rio

Carioca, na rua Cosme

Velho.

Foto: Malta, 29.07.1906.

Rio Carioca passando, ainda a céu aberto, na rua Conde Baependi.

Foto: Malta

Canalização do Rio

Carioca, em 1905, na

rua Conde de

Baependi. A foto tem quase o mesmo

ângulo da imagem abaixo.

Outra imagem do Rio Carioca,

na rua Conde de Baependi. Beirando o rio, a linha de bonde e,

do outro lado, a Igreja

Metodista.

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“Por detráz do chafariz da Carioca passa uma ladeirinha que o Professor (Guia) nos mostrou como dando accesso ao convento dos frades de Santo Antonio, religiosos ahi estabelecidos desde

1606, e por intercessão dos quaes, em 1709, foi uma quadra do largo da Carioca convertida em cemitério de escravos, que

elles benevolamente acolhiam em seus últimos dias.”

LARGO DA CARIOCA

O Convento de Santo Antônio em um Mapa de 1730. (número 28)Grande panorâmica da Cidade, datada de 1865, inserindo o Convento de Santo Antônio no contexto urbano.

Santa Teresa

Candelária

Santo Antônio

Vista geral do Convento de Santo Antônio com suas ladeiras de acesso.

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LARGO DA CARIOCA

De volta ao Professor (Guia):

“Hoje d´essa ladeira (que passa por detráz do chafariz) parte uma linha de bonds elétricos para o morro de Santa Thereza; e a solida construcção do mosteiro está sendo aproveitada em

parte pelo quartel de um dos batalhões de infantaria da guarnição d´esta Capital.

E, consumidas duas horas de observação, o Professor (Guia) deu por sufficientes as explicações, recolhendo-nos para

descansar e para escrevermos os nossos relatorios.”FIM - 1898

Rua da Carioca, esquina com Uruguaiana, de 1905 a 1910.Mantendo o Hospital colonial e

demolindo o lado direito. (acima – 1905)

O resultado final da primeira etapa (acima – 1905-1906)Demolido o Hospital colonial, constrói-

se o novo prédio da Ordem. (abaixo –1906)

O resultado final da segunda etapa (abaixo – 1907-1910)

Dando a volta no largo no princípio do século XX.

Lateral da esquina da rua São José em direção ao portão da

Ordem da Penitência. Elemento de ligação:o Chafariz.

Chafariz

Lateral do largo toda voltada para o edifício da Ordem (Correio da Manhã), desde o chafariz até a esquina com a rua da Carioca.

Elemento de ligação das imagens: rua da Carioca

rua da Carioca

Transição entre duas laterais do largo: do edifício da Ordem (Correio da Manhã), na esquina da rua da Carioca, passamos para a terceira lateral ao atravessarmos a rua da Carioca, e, em seguida, à rua Uruguaiana, alcançando o prédio que faz esquina, dessa última, com a rua da Assembléia. Elemento visual de transição: o

prédio da esquina com as ruas da Carioca e Uruguaiana.

Transição para a quarta lateral: o edifício comercial da rua da Assembléia (no quarteirão entre as ruas Uruguaiana e Gonçalves Dias). Atravessamos a rua da Assembléia, esquina com Gonçalves Dias, para alcançamos a quarta lateral

do largo. Elemento visual de transição: o prédio comercial da rua da Assembléia.Uruguaiana Edif. Comercial Gonçalves Dias Assembléia

A mesma transição para a quarta lateral por outro ângulo: o edifício comercial da rua da Assembléia, esquina com a Gonçalves Dias, visto de longe, do largo, com o casario que forma a quarta e última lateral. Elemento

visual de transição: ainda o prédio comercial da rua da Assembléia, esquina com Gonçalves Dias.Aproximação do casario da quarta e última lateral do largo da Carioca, olhando do chafariz

para a rua Gonçalves Dias.Ainda a quarta e última lateral do largo da Carioca, agora olhando da rua Gonçalves Dias em

direção à rua São José e, próxima a esta, a lateral do chafariz da Carioca.Finalmente, a transição entre a quarta e primeira laterais, de volta ao seu chafariz, fechando o quadrilátero

do largo da Carioca. Elemento visual de transição: o prédio da esquina da rua São José com o largo.

Foto da esquerda: as seis estatuetas, no alto do prédio do centro, representavam as quatro estações do ano, a Indústria e a Estrada de Ferro.

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FIM DO PRIMEIRO PASSEIO

1898

Pesquisa, formatação e texto: Cau Barata

12.02.2009 – 28.02.2009

Agradecimentos: Carlos Alberto Paiva.

Texto de base: Ferreira da Rosa, 1898.

** Próxima excursão: Passeio Público**