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Aspectos gerais da acção executiva Introdução Processo executivo Ponderação de interesses Introdução 1. Tutela executiva a) Execução singular As acções condenatórias visam um duplo objectivo: o reconhecimento de um direito a uma prestação e a condenação do réu no cumprimento dessa prestação (art. 4º/2-a) b) CPC). Perante a falta de cooperação e a indiferença deste perante eventuais meios compulsórios (ex. art. 829º-A CC), a ordem jurídica, paralelamente à proibição de justiça privada (art. 1º CPC), concede ao credor a possibilidade de obter a satisfação efectiva do seu direito através de uma acção executiva (art. 4º/ 3 CPC). Esta acção enquadra-se na garantia do acesso aos tribunais para a defesa dos direitos e interesses legítimos (art. 20º/1 CRP). A execução pode ser entendida num sentido próprio, a execução é a realização coactiva de uma prestação; e numa acepção ampla ou imprópria, a execução é a actividade correspondente à produção de quaisquer efeitos jurídicos. A acção executiva refere-se apenas à execução em sentido próprio. A sua finalidade é a realização coactiva de uma prestação que não foi voluntariamente cumprida pelo devedor (art. 4º/3 CPC). b) Tutela universal Na acção executiva promove-se em geral a realização coactiva de uma única prestação contra um único devedor, e apenas são penhorados e executidos os bens do executado que seja suficiente para liquidar a dívida exequenda (arts. 828º/5, 833º/1, 836º/2-a CPC). Esta execução singular distingue-se do processo de falência, que é uma execução universal, tanto porque nela intervêm todos os credores falidos, como porque nele é atingido, em princípio, todo o património deste devedor. 2. Realização coactiva da prestação Em regra, as partes da acção executiva são o credor, que assume a posição de exequente, eo devedor, que é o executado. O credor só se pode tornar exequente e o devedor executado se constarem como tal no título executivo (art. 55º/1 CPC, de entre as excepções à regra de legitimidade enunciada no art. 55º/ 1 CPC, tenham-se presentes as constantes dos arts. 56º/1 e 2, 57º, 811º e 864º CPC).

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aspectos gerais da acção executiva

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Aspectos gerais da acção executiva  

IntroduçãoProcesso executivoPonderação de interesses

    

Introdução  

1.   Tutela executivaa)     Execução singularAs  acções  condenatórias  visam  um  duplo  objectivo:  o  reconhecimento  de 

um  direito  a  uma  prestação  e  a  condenação  do  réu  no  cumprimento  dessa prestação (art. 4º/2-a) b) CPC).

Perante a falta de cooperação e a indiferença deste perante eventuais meios compulsórios  (ex. art.  829º-A CC), a ordem  jurídica, paralelamente à proibição de  justiça  privada  (art.  1º  CPC),  concede  ao  credor  a  possibilidade  de  obter a  satisfação  efectiva  do  seu  direito  através  de  uma  acção  executiva  (art.  4º/3  CPC).  Esta  acção  enquadra-se  na  garantia  do  acesso  aos  tribunais  para  a defesa dos direitos e interesses legítimos (art. 20º/1 CRP).

A  execução  pode  ser  entendida  num  sentido  próprio,  a  execução  é  a realização  coactiva  de  uma  prestação;  e  numa  acepção  ampla  ou  imprópria, a  execução  é  a  actividade  correspondente  à  produção  de  quaisquer  efeitos jurídicos.

A acção executiva refere-se apenas à execução em sentido próprio. A sua finalidade é a realização coactiva de uma prestação que não foi voluntariamente cumprida pelo devedor (art. 4º/3 CPC).

b)     Tutela universalNa acção executiva promove-se em geral a realização coactiva de uma única 

prestação contra um único devedor, e apenas são penhorados e executidos os bens  do  executado  que  seja  suficiente  para  liquidar  a  dívida  exequenda  (arts. 828º/5, 833º/1, 836º/2-a CPC). Esta execução singular distingue-se do processo de falência, que é uma execução universal, tanto porque nela intervêm todos os credores  falidos,  como porque nele é atingido,  em princípio,  todo o património deste devedor.

  2.   Realização coactiva da prestação

Em regra, as partes da acção executiva são o credor, que assume a posição de exequente,  e  o devedor,  que  é  o executado.  O  credor  só  se  pode  tornar exequente e o devedor executado se constarem como tal no título executivo (art. 55º/1 CPC, de entre as excepções à regra de legitimidade enunciada no art. 55º/1 CPC, tenham-se presentes as constantes dos arts. 56º/1 e 2, 57º, 811º e 864º CPC).

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A  acção  executiva  é  normalmente  proposta  contra  o  devedor;  no  entanto, há  casos  em  que  determinados  sujeitos,  apesar  de  não  serem  devedores, podem ser requeridos como executados: é o que acontece quando o objecto da execução  for uma dívida provinda de garantia  real, que onere bens ou direitos que pertençam ou estejam, na posse de um terceiro (art. 56º/2 e 4 CPC).

O  art.  56º/2  CPC,  veio  pôr  termo  ao  complexo  e  controverso  problema  da legitimidade  das  partes  na  acção  executiva,  quando o  objecto  desta  seja  uma dívida  provida  de  garantia  real,  tomando-se  posição  clara  sobre  a  questão  da legitimação  do  terceiro  possuidor  ou  proprietário  dos  bens  onerados  com  tal garantia. Assim concede-se, tanto a um como a outro, legitimidade passiva para a execução, quando o exequente pretenda efectivar tal garantia, incidente sobre bens pertencentes ou na posse de terceiro.

A  acção  executiva  visa  assegurar  ao  credor  a  satisfação  da  prestação  não cumprida  (art.  4º/3  CPC).  O  objecto  da  acção  executiva  é,  por  isso,  sempre (e  apenas)  um  direito  a  uma  pretensão,  isto  é,  uma  pretensão,  porque  só esse  direito  impõem  um  dever  de  prestar  e  só  esse  dever  deve  ser  realizado coactivamente.  Importa  referir  que,  para  a  aplicação  da  acção  executiva, é  irrelevante  a  origem  obrigacional,  real,  familiar,  sucessória  ou  outra  da pretensão: o que revela é apenas a existência de um dever de prestar.

O  objecto  da  acção  executiva  é  uma  pretensão  e  a  correspondente  causa debendi que constitui a causa de pedir dessa acção.

b)    Exequibilidade intrínsecaRefere-se à obrigação exequenda e às suas características materiais.  Essa 

obrigação  tem de  subsistir  no momento da execução,  pelo  que qualquer  facto impeditivo,  modificativo  ou  extintivo  que  possa  ser  alegado  pelo  executado (arts.  813º-e)  g)  1ª  parte,  814º  e  815º  CPC)  exclui  essa  exequibilidade.  Alem disso, a obrigação exequenda  tem de apresentar  características que  justificam a  execução  pelo  que  deve  ser  exigível  (art.  802º  CPC),  e  que  possibilitam  a sua  realização  coactiva,  pelo  que  deve  ser  certa  e  líquida  (art.  802º  CPC).  A inexigibilidade, a incerteza e a iliquidez da obrigação constituem fundamentos de oposição à execução (arts. 813º-e, 814º/1, 815º CPC).

c)     Exequibilidade extrínsecaÉ  atribuída  pela  incorporação  da  pretensão  num  título  executivo,  isto  é, 

documento que formaliza, por disposição na lei.  A  faculdade  de  realização coactiva  da  prestação  não  cumprida  (art.  45º/1  CPC).  O  título  executivo cumpre  no  processo  executivo  uma  função  de  legitimação:  ele  determina  as pessoas com legitimidade processual para a acção executiva (arts. 55º/1 e 69º/1  CPC)  e,  salvo  oposição  do  executado  ou  vício  do  conhecimento  oficioso,  é suficiente para  iniciar  e  efectivar  a execução. A  inexequibilidade extrínseca da pretensão, ou seja, a falta do título executivo, constitui um dos fundamentos de indeferimento  liminar e de rejeição oficiosa da execução (arts. 811º-A/1-a, 820º CPC)  bem  como  de  oposição  à  execução  por  embargos  de  executado  (arts. 813º-a, 814º/1, 815º/1 CPC).

  3.   Execução específica e não específica

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É específica, quando visa a realização da própria prestação não cumprida; é não específica, quando tem por  finalidade a obtenção de um valor patrimonial sucedâneo da prestação não realizada.

A execução específica visa obter a própria prestação a que o devedor executado se encontra vinculado. Mas  há  que  considerar  que,  enquanto  na execução para entrega de coisa certa,  só há que a apreender e entregá-la ao credor  (art.  827º  CPC),  na  execução  para  a  prestação  de  facto  é  necessário obter a sua realização por um terceiro à custa do devedor (art. 828º CPC) ou, se se tratar de um facto negativo, proceder à denominação da obra a expensas do devedor (art. 829º/1 CPC).

Na  execução  específica,  o  património  do  devedor  actua  como  garantia  real das obrigações do seu  titular  (art. 601º CC). Neste caso, a  realização coactiva da prestação desenvolve-se normalmente em três fases:

Num primeiro momento, são penhorados bens do devedor (art. 821º/1 CPC) ou de um terceiro (arts. 818º CC, 821º CPC);

Posteriormente, procede-se à venda executiva desses bens (art. 872º/1, 886º CPC);

Finalmente,  o  exequente,  que  obtém  com  a  penhora  uma  preferência  no pagamento  pela  quantia  liquidada  naquela  venda  (art.  822º  CC),  é  pago  pelo produto dessa alienação (art. 827º/1 CPC).

  4.   Tipologia da acção executiva

Atendendo  à  prestação  que  se  executa,  a  acção  executiva  classifica-se  em execução para pagamento de quantia certa, para entrega de coisas certa e para prestação de facto (art. 45º/2 CPC). Apesar de essa classificação estar indiciada ao  fim da execução, ela atende mais à prestação constante do  título executivo do que a esse fim, porque a modalidade da execução não é alterada pelo facto de a prestação documentada não poder vir a ser efectivada através da execução e ser necessário obter nesta um sucedâneo pecuniário.

A  execução  para  pagamento  de  quantia  certa  aplica-se  às  prestações pecuniárias  (art.  811º/1 CPC). Mas  não  a  todas;  são  três  as modalidades  das obrigações pecuniárias:

-          Obrigação de quantidade (art. 550º CC): que  são  aquelas  cujo objecto é um valor expresso em moeda com curso legal;

-         Obrigações de moeda específica (art. 552º CC):  que  são  aquelas cujo objecto é o pagamento através de certa espécie de moeda metálica;

-          Finalmente, obrigações em moeda estrangeira (art. 558º CC): que são aquelas cujo pagamento deve ser realizado em moeda estrangeira.

A execução para entrega de coisa certa, além de ser residualmente aplicável, nos  termos  descritos,  à  execução  das  obrigações  em  moeda  estrangeira,  é utilizável para efectivar o direito à prestação de uma coisa (arts. 827º CC; 928º/1 CPC). A execução para a prestação de facto serve para a execução de uma prestação de  facere  (arts.  828º CC; 933º/1 CPC) ou de non  facere  (arts.  829º CC; 941º CPC).

A execução para a entrega de coisa certa é compatível com qualquer origem negocial ou legal dessa prestação.

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O valor da acção executiva é aferido em,  termos gerais,  isto é, pela quantia certa requerida pelo exequente ou pelo quantitativo pecuniário correspondente à coisa ou ao facto devido (art. 306º/1 CPC).

  5.   Forma do processo

O  processo  pode  ser  comum  ou  especial  (art.  460º/1  CPC).  O  processo executivo comum é subsidiário, pois que só é aplicável à pretensão exequenda não corresponda qualquer processo executivo especial (art. 460º/2 CPC).

A forma da acção executiva comum pode ser ordinária ou sumária1[1] (art. 465º CPC).  A  distinção  assenta,  acima  de  tudo,  no  título  executivo,  mas  atende  a outros factores; assim seguem a forma ordinária:

-         As execuções baseadas num título executivo que não sejam sentença condenatória (art. 465º/1-a CPC; Decreto-lei 274/97);

-          As  execuções  fundadas  numa  decisão  judicial  que  condene  no cumprimento  de  uma  obrigação,  quando  a  liquidação  não  possa  ser realizada pelo exequente (art. 465º/1-b CPC);

As execuções para a entrega de coisa certa, e para prestação de facto podem converter-se em execuções para a obtenção de uma quantia  sucedânea  (arts. 931º e 934º CPC).

  Processo executivo

  6.   Função jurídico-económica

O processo executivo faculta ao exequente a satisfação da prestação que o devedor não cumpriu voluntariamente (art.  4º/3  CPC).  Este  processo  procura atribuir ao exequente a satisfação do seu interesse patrimonial, utilizando meios coactivos contra o património do devedor2[2].

O processo executivo visa obter a realização coactiva de uma prestação não cumprida. Como o dever de prestar está corporizado num  título executivo  (art. 45º/1  CPC),  a  tramitação  do  processo  executivo  orienta-se  primordialmente para  a  satisfação  efectiva  do  direito  do  exequente  e  só  admite  a  discussão da  existência  ou  validade  da  pretensão  exequenda  num  processo  declarativo incidental  da  execução  –  os  chamados  embargos  de  executado  (arts.  812º  a 819º CPC).

  7.   Posição do ordenamento jurídico

O  processo  executivo  visa  a  realização  coactiva  de  uma  prestação  que  é atribuída  pelo  direito  material  e  que,  em  alguns  casos,  foi  reconhecida  numa anterior  acção  declarativa  condenatória.  Este processo é instrumental  tanto perante  a  acção  declarativa  e  as  decisões  nela  proferidas,  sempre  que  estas imponham um dever de prestar.

O  direito  à  execução  não  é  um  direito  do  credor  contra  o  Estado, mas  um direito  que  não  pode  ser  exercido  sem  o  emprego  dos  meios  coactivos  do Estado.

1[1] Nunca é sumaríssima 2[2] Como a penhora e a venda de bens.

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O exercício do direito  de execução está  sujeito  a  limites,  quer  nas  relações entre  o  exequente  e  o  executado,  quer  nas  relações  entre  o  exequente  e terceiro.  Expressão  daqueles  primeiros  limites  é  a  exclusão,  quanto  aos  bens penhoráveis,  daqueles  que  apesar  de  pertencerem  ao  executado,  não  devam responder pela dívida, porque, por exemplo, eles são  impenhoráveis  (art. 822º CPC) ou porque as partes limitaram a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens (art. 602º CC).

O direito de execução não dispensa o interesse processual do exequente. Na acção  executiva,  este  interesse  configura-se  mais  como  um  pressuposto  dos actos processuais do que como um pressuposto processual,  isto é, surge mais frequentemente como uma condição de eficácia de um acto processual do que como uma condição para a realização coactiva da prestação.

Ao Estado compete o exercício, através dos tribunais, da função jurisdicional (art. 202º/1 CRP).

Sem  recurso  ao  ius imperi  do  tribunal,  o  credor  não  poderia  promover  a penhora dos bens do executado e não poderia realizar a venda desses mesmos bens,  porque  isso  constituiria  uma  violação  de  um  direito  de  propriedade constitucional (art. 62º/1 CRP).

  8.   Princípios constitucionais

-         Cooperação intersubjectiva (art. 266º/1 CPC)Na área da acção executiva, este princípio tem uma importante consagração 

na  possibilidade  de  o  tribunal,  perante  a  dificuldade  séria  do  exequente  na identificação  ou  localização  de  bens  penhoráveis  do  executado,  determinar  a realização  das  diligências  adequadas  (art.  837º-A/1  CPC  –  ex.  art.  519º-A/1 CPC).

Este  dever3[3]  desdobra-se,  para  esse  órgão,  em  deveres  essenciais:  um é  o  dever de esclarecimento ou  de  consulta,  isto  é,  o  dever  de  o  tribunal esclarecer  junto  das  partes  as  eventuais  dúvidas  que  tenha  sobre  as  suas alegações  ou  posições  em  juízo,  de molde  a  evitar  que  a  sua  decisão  tenha por base a falta de esclarecimento de uma situação e não a verdade sobre ela apurada; ou outro é o dever de prevenção ou de informação, ou seja, o dever de  o  tribunal  prevenir  as  partes  sobre  eventuais  deficiências  ou  insuficiências das suas alegações ou pedidos e de as informar sobre aspectos de direito ou de facto que por elas não foram considerados.

O dever de prevenção, que também decorre daquele dever de colaboração do  tribunal com as partes,  fundamenta o convite ao exequente para que supra as irregularidades de que enferma o requerimento executivo (art. 811º-B/1 CPC).

A  acção  executiva  está  submetida  ao  princípio do dispositivo  (art.  3º/1 CPC).  O  impulso  processual  recai  nessa  acção  em medida  importante,  sobre as partes e, numa situação especial, sobre o Ministério Público (arts. 97º CPC; 116º CCJ). Na acção executiva também incumbe ao juiz, sem prejuízo do ónus de  impulso das partes, providenciar pelo seu andamento regular e célere, quer promovendo  as  diligências  necessárias  ao  seu  normal  prosseguimento,  quer recusando  o  que  se  mostrar  impertinente  ou  meramente  dilatório  (art.  265º/1 

3[3] Trata-se na realidade, de um poder dever ou dever funcional – art. 266º CPC.

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CPC).Na  acção  executiva,  a  disponibilidade  das  partes  não  se  estende  às 

modalidades  da  execução,  que  são  exclusivamente  determinadas  pelo  título executivo  (art.  45º/1  CPC).  A  mesma  indisponibilidade  vale  quanto  aos  seus pressupostos específicos.

  9.   Características especiais

A  especialização  da  acção  executiva  favorece  a  sua  celeridade.  Enquanto no processo declarativo a celeridade é procurada através da sua concentração na  audiência  preliminar  e  de  discussão,  não  acção  executiva  a  celeridade é  favorecida  através  da  sua  especialização,  isto  é,  através  da  remissão  das questões controvertidas para os processos declarativos incidentais.

O processo executivo baseia-se num título executivo (art. 45º/1 CPC). A  apresentação  deste  título  é  suficiente  para  iniciar  a  acção  executiva  e justificar a agressão do património do devedor através da penhora: mesmo na execução baseada num título negocial, se não for manifesto, face aos elementos constantes  dos  outros,  a  inexistência  de  factos  constitutivos  ou  a  existência de  factos  impeditivos  ou  extintivos  de  conhecimento  oficioso  (arts.  811º-A/1-c; 820º CPC) e se, nessa e em qualquer outra execução, não houver oposição do executado, o tribunal não averigua sequer se a prestação exequenda realmente existe.

O  processo  executivo  português  é  um  processo  centralizado  no  tribunal.  A este  órgão  compete  toda  a  actividade  de  natureza  executiva,  bem  como,  em regra,  a  de  preparação  e  julgamento  dos  respectivos  processos  incidentais. O  funcionário  judicial  que  efectiva  a  penhora  (arts.  832º/1;  840º;  848º/2;  849º/2;  850º/3  CPC)  ou  a  entrega  judicial  da  coisa  (art.  930º  CPC)  não  goza  de suficiente autonomia organizacional e funcional perante o tribunal para poder ser considerado um órgão de execução.

  Ponderação de interesses

  10.        Generalidades

Na acção executiva confrontam-se,  com particular  intensidade os  interesses do  exequente  e  do  executado,  dado  que  a  efectivação  da  pretensão  do exequente se verifica à custa do património do executado. Embora a finalidade da acção executiva exija que os  interesses do exequente prevaleçam sobre os do executado, compreende-se onde o sacrifício imposto a este último não deve exceder  o  estritamente  indispensável  à  satisfação  da  pretensão  do  exequente e não possa deixar de considerar as  suas necessidade básicas. Quer dizer:  a natural  prevalência  dos  interesses  do  exequente  não  dispensa  o  respeito  dos interesses atendíveis do executado.

  11.        Exequente versus executado

A  execução  visa  a  satisfação  da  prestação  exequenda,  pelo  que  não  pode admirar que, para atingir essa finalidade, a lei conceda uma especial importância à  posição  do  exequente  e  dos  outros  credores  que  venham  a  interferir  na 

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execução (arts. 864º/1-b, 865º/1 CPC). A acção executiva está incumbida de um favor creditoris.

A penhora de bens orienta-se por um princípio de proporcionalidade, pois que não devem ser penhorados mais bens do que os necessários para a satisfação da pretensão exequenda. A agressão do património do executado só é permitida numa medida que seja adequada e necessária para a satisfação do exequente.

O  princípio da proporcionalidade  não  pode  pôr  em  causa  a  realização da  prestação  que  consta  do  título  executivo,  isto  é,  não  pode  fundamentar  a não  realização  coactiva  dessa  prestação.  Este  princípio  influencia  as medidas coactivas  que  podem  ser  tomadas  na  acção  executiva:  destas  devem  ser escolhidas  aquelas  que,  pela  sua  características  ou  medida,  melhor  se compatibilizem com a realização da prestação exequenda. O princípio é, afinal, um  reflexo  da  configuração  específica  que  o  interesse  processual  assume  na acção  executiva:  este  interesse  falta  sempre  que  o  exequente  use  um  meio desproporcionado para obter a satisfação da sua pretensão.

De  acordo  com  o  princípio da proporcionalidade  devem  ser  penhorados apenas os bens suficientes para satisfazer a prestação exequenda  (arts. 828º/5,  833º/1,  836º/2-a  CPC).  O  tribunal  também  deve  observar  o  princípio  da proporcionalidade  na  fixação  da  parte  penhorável  dos  rendimentos  e  pensões entre um terço e um sexto (art. 824º/2 CPC).

A violação do princípio da proporcionalidade na penhora  justifica a oposição do  executado  (art.  863º-A-a  CPC).  Além  disso,  essa  violação,  quando resultante  de  dolo  ou  negligência  grave  do  exequente,  constitui  uma  situação de  má  fé  processual,  dado  que  essa  parte  faz  da  acção  executiva  um  caso manifestamente  reprovável  (art.  456º/2-d  CPC).  Pelo  cumprimento  das obrigações  respondem  todos  os  bens  do  devedor  susceptíveis  de  penhora (art.  601º  CC).  Como  regra,  todos  os  bens  do  devedor,  isto  é,  todos  os  que constituem o seu património, respondem pelo cumprimento da obrigação, é esta uma  garantia  geral,  a  qual  se  torna  efectiva  por meio  de  execução  (art.  817º CC). Apenas as obrigações naturais são inexequíveis (art. 401º CC).

No  art.  601º  CC  prevêem-se  duas  limitações  à  regra  da  exequibilidade  de todo o património do devedor: a de os bens serem insusceptíveis de penhora e a da autonomia resultante da separação de património.

A  impenhorabilidade  pode  ser  absoluta, se  os  bens  nunca  podem  ser penhoráveis  (art.  82º  CC);  é  relativa (art.  823º  CPC),  se  os  bens  só  são penhoráveis em certas condições; é parcial (art. 824º CPC), se os bens podem em parte ser penhorados.12.        Exequente versus terceiro

São três as soluções para a conjugação da posição do exequente com a dos demais credores do executado:

-          Uma  primeira  solução  dominada  pelo  princípio da igualdade entre todos os credores (a chamada par conditio creditorum) permite que todos eles  concorram  em  plano  de  igualdade,  ao  produto  da  venda  dos  bens penhorados;

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-         Uma outra solução baseia-se num princípio de prevalência da penhora e  exclui  a  intervenção  na  execução  de  quaisquer  outros  credores  do executado;

-         Finalmente, uma solução intermédia admite a intervenção na execução dos credores com garantias reais sobre os bens penhorados.

Quanto  à  harmonização  entre  os  interesses  do  executado  e  dos  demais credores do executado, o direito português optou por um sistema de intervenção restrita  na  execução  pendente.  Caracteriza-se  este  pela  possibilidade  de  os credores com garantia real sobre os bens penhorados (e só eles) reclamarem os seus créditos (arts. 864º/1-b, 865º/1 CPC). Portanto, não se admite que todo e qualquer credor possam reclamar o seu crédito, mas só aqueles cujos créditos estejam garantidos por uma garantia real sobre os bens penhorados (arts. 864º/1-b, 865º/1 CPC).

O  princípio da prioridade da penhora  vale  igualmente  na  hipótese  de haver  mais  de  uma  execução  sobre  os  mesmos  bens.  Neste  caso,  susta-se  a  execução  em  que  a  penhora  seja  posterior  e  faculta-se  ao  exequente  a possibilidade  de  reclamar  o  respectivo  crédito  no  processo  em que  a  penhora seja mais antiga (art. 871º/1 CPC).

Os credores que possuem garantias reais sobre os bens penhorados podem reclamar os  respectivos créditos na execução (arts. 864º/1-b, 865º CPC), mas, ainda que o devedor seja solvente, não obtêm necessariamente a sua satisfação naquela acção.      Condições da acção executiva: a)Exequibilidade extrínseca

b)Espécies de títulos executivos

c)Exequibilidade intrínseca

D)Competência do Tribunal

e)Tramitação da acção executiva

F)Embargos de executado

g)Dedução e efeitos

  

a:  

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  Exequibilidade extrínseca

  13.        Título executivo

É o documento do qual resulta a exequibilidade de uma pretensão e, portanto, a  possibilidade  da  realização  coactiva  da  correspondente  prestação  através de uma acção executiva. Esse  título  incorpora  o  direito  de  execução,  ou  seja, o direito do credor a executar o património do devedor ou de um  terceiro para obter a satisfação efectiva do seu direito à prestação (arts. 817º e 818º CPC).

O título executivo cumpre uma função constitutiva: ele abriu a exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a correspondente prestação seja realizada através  das  medidas  coactivas  impostas  ao  executado  pelo  tribunal.  Esta exequibilidade  implica  não  só  um  efeito positivo  –  aquele  que  respeita  à concessão ao credor do direito de execução – mas também um efeito negativo, o qual se traduz na inadmissibilidade, por falta de interesse processual, de uma acção declarativa relativa à pretensão exequível (art. 449º/2-c CPC).

O  título  executivo  é,  em princípio,  o  documento  original, mas  também pode ser  translado  de  uma  sentença  condenatória,  quando  este  seja  objecto  de recurso com efeito devolutivo (art. 693º/1 CPC) e, por  isso, possa fundamentar uma execução provisória (art. 47º/1 CPC).

A exequibilidade de um título é aferida pela lei vigente à data da propositura da  acção  executiva.  Portanto,  ainda  que  o  documento  não  possua  força executiva no momento em que é elaborado, a execução torna-se admissível se essa eficácia lhe for atribuída por lei posterior.

Quanto  aos  reflexos  das modificações  relativas  à  eficácia  executiva  de  um documento nas execuções pendentes, vale um princípio de aplicação  imediata da  lei nova, sempre que esta venha conceder exequibilidade a um documento que anteriormente a não possuía.

É pelo título executivo que se determinam o fim e os limites da acção executiva (art. 45º/1 CPC). Esta é a sua função delimitadora.

O fim da execução pode consistir no pagamento de uma quantia, na entrega de uma coisa ou na prestação de um facto, positivo ou negativo (art. 45º/2 CPC). Este fim determina diferentes medidas coactivas destinadas à satisfação efectiva dos interesses do credor, pois que elas não podem ser idênticas quando se visa obter o pagamento de uma quantia, a entrega de uma coisa ou a prestação de um facto.

Os  limites da acção executiva  definidos  pelo  título  são  simultaneamente subjectivos  e  objectivos.  Aqueles  primeiros  respeitam  às  partes  da  acção executiva: em  regra só podem ser partes dessa acção, o sujeito que  figura no título como credor e aquele que nele tem a posição de devedor (art. 55º/1 CPC) ou aos seus respectivos sucessores (art. 56º/1 CPC).

A  inobservância  dos  limites  subjectivos  origina  a  ilegitimidade  da  parte  que requerem a execução ou contra a qual ela for requerida (arts. 55º/1, 56º/1 CPC).

Os limites objectivos respeitam ao objecto da acção executiva; este objecto deve  ser  a  pretensão  que  consta  no  título  executivo,  mesmo  que  ela  em  si mesmo,  não possa  ser  executada e  a  execução deva  incidir,  após  conversão, 

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sobre uma prestação sucedânea.O  título executivo é um documento: dai  que esse  título  cumpra uma  função 

probatória.  A  eficácia  probatória  do  título  é  aquela  que  corresponder  ao respectivo documento.14.        Características gerais

a)     TipicidadeAs  partes  podem  atribuir  força  executiva  a  um  documento  ao  qual  não 

concede eficácia do  título executivo e  também não podem  retirar  essa  força a um  documento  que  a  lei  qualifica  como  título  executivo.  Isso  significa  que  os títulos  executivos  são,  sem  possibilidade  de  quaisquer  excepções  criadas  ex voluntate, aqueles que são indicados como tal pela lei (art. 46º CPC) e que, por isso, a sua enumeração legal está submetida a uma regra da tipicidade.

b)     SuficiênciaSempre que a obrigação que consta do  título seja certa, exigível e líquida, 

isto  é  quanto  basta,  relativamente  às  características  dessa  obrigação,  para possibilitar  a  execução.  O  título  executivo  só  não  é  suficiente  se  a  obrigação nele referida não for certa, exigível e líquida, casos em que a execução se deve iniciar pelas diligências destinadas a satisfazer esses requisitos (art. 802º CPC).

Quanto  às  obrigações  causais,  o  exequente  deve  indicar  o  respectivo  facto constitutivo não deve levar a entender que esse facto se destina a ser provado por  essa  parte  e  que  a  execução  só  poderá  prosseguir  depois  de  essa  prova ter  sido  realizada.  Efectivamente,  a  causa de pedir  não  preenche  a  mesma função no processo declarativo e no processo executivo. Na acção declarativa, a causa de pedir cumpre uma dupla função como elemento de individualização da situação alegada pelo autor e de delimitação dos factos que vão servir de base à apreciação da procedência da acção; na acção executiva, pelo contrário, não está em discussão a existência da obrigação exequenda, pelo que a causa de pedir só serve para individualizar essa mesma obrigação.

d)     AutonomiaA  exequibilidade  do  título  é  independente  da  exequibilidade  da  pretensão 

ou,  numa  formulação  negativa,  a  inexequibilidade  do  título  é  autónoma  da inexequibilidade  da  pretensão.  A  inexequibilidade do título executivo  (art. 813º-a  CPC),  decorre  do  não  preenchimento  dos  requisitos  para  que  um documento possa desempenhar essa função específica; a  inexequibilidade da pretensão  (art. 813º-g, 1ª parte CPC) baseia-se em qualquer  facto  impeditivo, modificativo ou extintivo do dever de prestar.

  15.        Situação de concurso

Pode acontecer que dois ou mais títulos executivos se refiram a uma mesma obrigação exequenda (art. 449º/1 e 2-c CPC).

Nas  hipóteses  de  concurso  de  títulos  executivos,  o  credor  pode  basear  a acção  executiva  em  qualquer  deles.  Mas  a  pendência  simultânea  de  duas execuções  sobre  a  mesma  obrigação,  embora  baseadas  em  títulos  distintos, origina  a  excepção  de  litispendência  (arts.  497º,  498º,  494º-i  CPC).  Verifica-se o concurso de pretensões quando duas ou mais pretensões se referem a uma mesma pretensão.  Se  as  pretensões  concorrentes  se  encontrarem 

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documentadas em diferentes títulos executivos, o credor pode escolher não só a obrigação que pretende executar, mas também o título que quer utilizar.   B:  

      

Espécies de títulos executivos  

Sentenças condenatórias  

16.        DelimitaçãoAs  sentenças  condenatórias  que  o  art.  46º-a  CPC  qualifica  como  título 

executivo  são aquelas  que  impõem ao réu um dever de cumprimento de uma prestação.  Este  comando  corresponde  ao  pedido  formulado  numa  acção condenatória (art. 4º/2 CPC), mas às sentenças condenatórias são equiparadas quanto  à  sua  força  executiva,  os  despachos  e  quaisquer  outras  decisões  ou actos de autoridade judicial que condenem no cumprimento de uma obrigação.

Porque não  impõem qualquer  comando de  cumprimento de uma obrigação, as sentenças proferidas nas acções de simples apreciação (art. 4º/2-a CPC) não podem ser qualificadas como título executivo.

A  diferença  entre  a  acção  de  simples  apreciação  e  a  acção  condenatória assenta no comando de cumprimento de uma prestação que se obtém na acção condenatória  e  que  não  se  pode  conter  na  sentença  de  mera  apreciação.  É por  isso que a procedência de uma acção de mera apreciação – quando seja admissível – não dispensa uma posterior acção condenatória destinada a obter comando de cumprimento da obrigação.

  17.        Requisitos

As  sentenças  provenientes  de  tribunais  estaduais  não  levantam  qualquer problema  quanto  à  determinação  da  sua  nacionalidade:  são  sentenças portuguesas, aquelas que são proferidas por um tribunal português, ou seja, por um tribunal pertencente à jurisdição portuguesa.

As  sentenças  nacionais  –  estaduais  ou  arbitrais  –  são  automaticamente exequíveis,  isto  é,  não  necessitam  de  qualquer  certificação  de,  que  são  título executivo, nem da aposição de qualquer formula executória.

As sentenças estrangeiras, só podem servir de base à execução depois de revistas e confirmadas (art. 49º/1 CPC) ou após a obtenção do exequatur 4[4].

Estabelece-se  assim  um  controlo  prévio  da  exequibilidade  das  sentenças estrangeiras,  o  que  se  compreende  atendendo  a  que  a  atribuição  de exequibilidade  a  uma  decisão  constitui,  em  princípio,  uma  reserva  de 

 

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competência de cada Estado.No  direito  interno  português,  a  revisão  e  confirmação  de  sentenças 

estrangeiras consta dos arts. 1904º a 1102º CPC. Este regime é aplicável, quer a decisões estaduais, quer a sentenças arbitrais (arts. 1094º, 1097 CPC).

Os arts. 1094º e 49º/1 CPC, abrangem tanto as arbitragens necessárias, ou impostas pela lei do pais aonde se realizem, como as voluntárias, que no regime anterior geralmente se consideravam dispensadas de revisão e confirmação, por terem aspecto contratual.

  18.        Exequibilidade provisória

A  exequibilidade  provisória  é  aquela  que  respeita  a  uma  decisão  ainda não  definitiva,  ou  seja,  a  uma  decisão  que  ainda  não  possui  o  valor  de  caso julgado, por ser passível de impugnação através de um recurso ordinário ou de reclamação (art. 677º CPC). Esta exequibilidade visa proteger os  interesses do credor (que não tem de aguardar pelo trânsito em julgado da decisão para iniciar a  execução)  e  pretende  evitar  a  interposição  de  um  recurso  pelo  demandado com  a  única  finalidade  de  obviar  à  execução  da  decisão  que  o  condenou  a cumprir uma obrigação.

  Documentos negociais

  19.        Documentos nacionais

São  títulos executivos os documentos exarados ou autenticados por  notário desde que importem a constituição ou o reconhecimento de qualquer obrigação (art. 46º-b CPC; arts. 363º/2, 50º CPC; 2205 CC).

Os  documentos exarados por notário  (art.  46º-b  CPC)  são  documentos definidos  no  art.  35º/2  CN,  e  aí  designados  por  documentos  “autênticos”,  ou seja,  “os documentos exarados pelo notário nos respectivos livros, ou em instrumentos avulsos, e os certificados, certidões e outros documentos análogos por ele expedidos”. Por  seu  turno,  os  documentos autenticados  (art.  46º-b  CPC),  são  os  documentos  particulares  confirmados  pelas  partes  perante o  notário  (art.  35º/1  e  3  CN),  excluídos,  portanto,  os  que  tenham  simples reconhecimento  notarial  de  letra  assinatura  ou  só  assinatura.  Os  documentos autênticos  ou  autenticados  apenas  são  título  executivo  quando  importem  a constituição  ou  contenham  o  reconhecimento  de  uma  obrigação  (art.  46º-b CPC).

Os documentos particulares que se encontrem assinados pelo devedor são título  executivo  quando  importem  a  constituição  ou  o  reconhecimento  de  uma obrigação  pecuniária  cujo  montante  esteja  determinado  ou  seja,  determinável mediante  simples  cálculo  aritmético,  de  uma  obrigação  de  entrega  de  coisas móveis ou de uma prestação de facto (art. 46º-c CPC)

  20.        Documentos estrangeiros

Os  documentos  exarados  em  pais  estrangeiros  não  carecem,  para serem  considerados  título  executivo  nos  tribunais  portugueses,  de  revisão e  confirmação  (art.  49º/2  CPC).  Esta  dispensa  justifica-se,  além  de  razões 

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atinentes  à  diferença  entre  as  sentenças  judiciais  e  os  documentos  negociais, pelo  facto  de  a  eficácia  executiva  desses  documentos  ser  aferida  pela  lex fori,  isto  é,  pela  lei  do  tribunal  da  execução.  É  por  essa  lei  que  se  determina se  o  documento  estrangeiro  é  título  executivo,  pelo  que  não  há  qualquer reconhecimento  de  eficácia  executiva  concedida  ao  documento  pela  lei  do Estado de origem.

  Outros títulos executivos

  21.        Aposição de fórmula executiva

Além  das  sentenças  condenatórias  e  dos  documentos  negociais  o  art. 46º-d  CPC  qualifica  como  títulos  executivos  todos  os  documentos  a  que,  por disposição  legal,  seja  atribuída  força  executiva.  Em  relação  às  obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do tribunal de  primeira  instância,  pode  obter-se  um  título  executivo  através  da  aposição da  fórmula executória quer na petição  inicial de uma acção declarativa  (art. 2º RPOP),  quer  no  requerimento  de  injunção  (art.  14º/1 RPOP). O processo de injunção  visa  conferir  força  executiva  ao  requerimento  destinado  a  exigir  o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior  à  alçada  do  tribunal  de  1ª  Instância  (art.  7º  RPOP).  O  requerimento de  injunção  deve  ser  apresentado  na  secretaria  do  tribunal  do  lugar  do cumprimento da obrigação ou na do  tribunal do domicílio do devedor  (art. 8º/1 RPOP). O requerimento pode ser entregue directamente na secretaria judicial ou ser remetido a esta pelo correio (art. 9º RPOP).

    5[4]  Exequatur: “que seja executado”; manifestação de reconhecimento de

um cônsul; atribuição de força executória a uma sentença estrangeira ou a uma sentença arbitral.   C:  

  

  

Exequibilidade intrínseca

  22.        Requisitos necessários

A obrigação exequenda deve ser exigível, certa e  líquida  (art. 802º CPC). A exigibilidade da obrigação é uma condição  relativa à  justificação da execução, 

 

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pois  que,  se  a  obrigação  ainda  não  é  exigível,  não  se  justifica  proceder  à realização  coactiva  da  prestação;  a  certeza  e  liquidação  são  condições respeitantes  à  possibilidade  da  execução,  dado  que,  sem  se  determinar  e quantificar  a  prestação  devida,  não  é  possível  proceder  à  sua  realização coactiva.  Admite-se,  no  entanto,  uma  execução  sobre  uma  obrigação  que  é parcialmente líquida e exigível (arts. 810º/1 e 3 CPC). A inexigibilidade, incerteza e iliquidez da obrigação exequenda conduzem ao proferimento de um despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo (art. 811º-B/1 CPC).

  Exigibilidade da obrigação

  23.        Noção

A exigibilidade da obrigação  tem um sentido específico na acção executiva, algo  distinto  daquele  que  tem  no  plano  substantivo.  A obrigação exigível é aquela que está vencida ou que se vence com a citação do executado e em relação à qual o credor não se encontra em mora na aceitação da prestação ou quanto à realização de uma contraprestação. Assim, o vencimento da obrigação é sempre indispensável à sua exigibilidade, mas esta pode precisar de algo mais do que esse vencimento.

  24.        Condições gerais

A falta de decurso do prazo de uma obrigação de prazo certo que tenha sido, ou  que  se  presuma,  fixado  em benefício  do  devedor  impede  o  vencimento  da obrigação (art. 779º CC), pelo que o devedor não se encontra em mora antes de findar esse prazo (art. 805º/2-a CC).

O  título  executivo  pode  referir-se  a  uma  obrigação  ainda  não  vencida (obrigações  vicendas).  Este  título  pode  ser  um  título  negocial  (art.  46º-b)  c) CPC), quer uma sentença judicial (art. 46º-a CPC).

  25.        Condições específicas

A  exigibilidade  de  uma  obrigação  depende  de  uma  prestação  do  credor requerer prova por este exequente de que aquela foi cumprida ou oferecida ao executado (art. 804º/1 CPC)

Se  o  cumprimento  da  contra  prestação  do  exequente  não  necessita  da colaboração do executado, o exequente deve provar a realização dela antes da propositura da acção executiva (art. 804º/1 CPC).

Se  a  prova  do  cumprimento  ou  oferecimento  da  contra  prestação  puder ser  realizada  por  documentos,  o  exequente  deverá  juntá-lo  ao  requerimento executivo  (arts.  804º/2,  523º/1  CPC).  Se  assim  não  suceder,  o  credor,  ao requerer  a  execução  deve  oferecer  as  respectivas  provas,  que  são  logo produzidas (art. 804º CPC).

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Certeza da obrigação

  26.        Noção

A obrigação exequenda é certa, quando a respectiva prestação se encontra determinada ou individualizada.

Do  título  executivo  deve  constar  uma  obrigação  de  prestar  determinada ou,  pelo  menos,  determinável  através  dos  elementos  por  ele  fornecidos.  A impossibilidade de determinar o conteúdo da prestação exequenda, porque ela é  referida  na  decisão  judicial  ou  no  documento  negocial  de  forma  que  não  é possível concretizar o seu objectivo, invalida o eventual negócio (art. 280º/1 CC) e impede qualquer execução.

  Liquidez da obrigação

  27.        Noção

As obrigações ilíquidas são aquelas cuja quantidade não está determinada. A iliquidez recai, normalmente, sobre obrigações pecuniárias (como por exemplo, a indemnização devida por um facto ilícito), mas também pode referir-se a uma prestação  de  dare  (como  por  exemplo,  a  entrega  de  uma  quantidade,  ainda indeterminada de cereal).

  28.        Condições gerais

As  obrigações  ilíquidas  podem  ser  realizadas  de  forma  coactiva  (art.  802º CPC), porque não se pode executar o património antes de determinar a quantia devida  ou  solicitar  a  entrega  de  uma  coisa  antes  de  saber  a  quantidade  que deve  ser  prestada.  Assim,  tem  de  ser  liquidada  a  condenação  em  quantia ilíquida  (arts.  471º/1-b)  e  2,  661º/2  CPC)  bem  como  a  obrigação  em  quantia ilíquida  que  se  encontra  constituída  ou  reconhecida  num  título  executivo negocial (art. 46º-b) c) CPC). A liquidação tem por base os elementos fornecidos pelo título, não sendo possível quantificar aquilo que, por exemplo, não se tiver apurado na anterior acção declarativa.

Exceptuam-se,  dois  casos  em  que  é  admissível  a  execução  de  obrigações ilíquidas:

-         As obrigações de juros (art. 805º/2 CPC);-          As  obrigações  para  entrega  de  uma  universalidade  de  facto  ou  de 

direito.  

29.        Condições específicasQuando a liquidação dependa de simples cálculo aritmético – ou seja, quando 

a prestação possa ser quantificada através de uma mera operação aritmética –, ela deve ser realizada pelo próprio exequente no requerimento inicial (art. 805º/1 CPC).

Se a  liquidação não puder  ser  realizada por  simples cálculo aritmético – ou seja, se houver que apurar determinados  factos  indispensáveis à quantificação da obrigação exequenda –, ela deve ser efectuada, em princípio, num incidente 

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que decorre perante o tribunal da execução (art. 806º/1 CPC).Para obter a liquidação, o exequente deve especificar no requerimento inicial 

os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir por um pedido  líquido  (art.  806º CPC). O  executado  –  estipula  o  art.  806º/2 CPC –  é citado para contestar, dentro do prazo fixado para a dedução de embargos (arts. 816º/1 e 926º/1 CPC), com a explicita advertência da cominação relativa à falta de contestação (art. 807º/1 CPC) e dos ónus de cumular a oposição à liquidação com a eventual dedução de embargos (art. 808º/1 CPC).

  30.        Pressupostos processuais especiais

Na  acção  executivo,  os  pressupostos  processuais  condicionam  a admissibilidade  da  realização  da  prestação.  Diferentemente  do  que  sucede na  acção  declarativa  –  na  qual  os  pressupostos  processuais  asseguram o  proferimento  de  uma  decisão  de  mérito  –,  na  acção  executiva  esses pressupostos  não  se  destinam  a  tornar  admissível  qualquer  decisão  sobre  o mérito, antes condicionam a admissibilidade das medidas coactivas necessárias à realização da prestação (pressupostos positivos).

A  acção  executiva  é  inadmissível  se  se  verificar  algum  dos  pressupostos negativos,  que  são  as  excepções  nas  quais  se  pretende  obter  a  realização coactiva  da  mesma  prestação,  ainda  que  nelas  sejam,  penhorados  bens distintos (contra exigindo dos mesmos bens como requisito da litispendência).   D:  

  

Competência do Tribunal

 31.        Competência interna

a)     Competência materialA competência material determina se a acção executivo pode ser  instaurada 

num  tribunal  comum  (ou  civil).  Em  caso  afirmativo,  pode  ainda  ser  necessário aferir qual o tribunal de competência especializada que é competente.

Quanto à competência material para a execução das decisões dos Tribunais Comuns, a regra é a coincidência entre a competência para a acção declarativa e a executiva. Assim, quando a competência para a acção declarativa coube a um Tribunal de 1ª Instância de competência especializada, esse mesmo tribunal é competente para a execução das respectivas decisões; o mesmo vale para os tribunais de competência genérica de competência específica.

b)     Competência hierárquicaApenas  os  Tribunais  de  1ª  Instância  possuem  competência  executiva  em 

função  da  hierarquia,  isto  é,  nenhum  Tribunal  superior  tem  competência  para 

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promover qualquer execução. Assim, para as execuções baseadas nas decisões proferidas por esses Tribunais nos recursos para que eles são interpostos (arts. 71º/1; 72º/1 CPC) são competentes os Tribunais onde a causa foi julgada em 1ª Instância (art. 90º/1 CPC). Para as execuções que têm como título executivo as decisões proferidas em 1ª Instância pelos tribunais Superiores (arts. 71º/1; 72º/1 CPC)  são  competentes os Tribunais de Comarca do domicílio  do executado (art.  91º/1;  1091º  CPC).  Por  fim,  para  as  execuções  baseadas  em  sentenças estrangeiras às quais tenha sido conhecido o exequatur por uma das Relações (art. 1095º CPC) são igualmente competentes os Tribunais de 1ª Instância (art. 95º CPC).

c)     Competência segundo o valorA  competência  em  função  do  valor  da  causa  determina  no  âmbito  do 

processo  civil,  se  a  acção  executiva  pertence  à  competência  do  Tribunal  de Círculo  ou  do  Tribunal  Singular  (arts.  20º;  62º;  64º  Lei  3/99;  art.  68º  CPC), incluindo neste último o Tribunal de Comarca (art. 62º Lei 3/99), o Juízos Cíveis (arts. 93º, 94º Lei 3/99) e os Tribunais de Pequena Instância (arts. 96º/1-e, 101º lei  3/99)  a  repartição  da  competência  executiva  por  estes  Tribunais  depende, antes do mais, do título executivo que for utilizado pelo exequente.

Se  o  título  executivo  for  uma  decisão  de  um  Tribunal  Comum,  há  que distinguir  consoante  se  trate  do  caso  normal  em  que  a  acção  declarativa  foi instaurada  num  tribunal  de  primeira  instância  ou  da  hipótese  excepcional  em que a acção foi proposta num Tribunal superior. Naquela situação normal vale, quanto à determinação da competência executiva, uma regra de coincidência:

-          Se  essa  decisão  foi  proferida  em  1ª  Instância  por  um  Tribunal  de Círculo,  este  tribunal  possui  competência  para  a  respectiva  acção executiva;

-         Se o título executivo for uma decisão de um Tribunal singular, também ele possui competência para a executar.

Se o  título executivo  for uma sentença estrangeira que recebeu o exequatur dos  Tribunais  portugueses  –  seja  quando  o  direito  português  (arts.  1094º  a 1102º CPC)  seja  quando o  regime das Convenções de Bruxelas e  de Lugano (arts.  31º  a  45º)  –,  a  competência  executiva  em  razão  do  valor  determina-se nos termos gerais (art. 95º CPC). Isso implica o recurso à competência residual em  função  do  valor,  que  pertence  ao  Tribunal  Singular,  isto  é,  ao  Tribunal  de Comarca. 

d)     Competência segundo a formaA forma do processo determina a competência dos Tribunais de competência 

específica (art. 96º Lei 3/99, art. 69º CPC), isto é, das varas cíveis (art. 97º Lei 3/99, arts. 7º e 8º RLOTJ), dos juízos cíveis (art. 99º LOTJ), todos estes Tribunais possuem  competência  para  executar  as  respectivas  decisões  (art.  103º  Lei  3/99).

Além disso, os  juízos cíveis  têm, como Tribunais de competência específica residual,  a  mesma  competência  dos  Tribunais  de  Comarca  (art.  74º  Lei  3/99).  Portanto,  são  da  competência  dos  juízos  cíveis  as  execuções  que  não pertencem às varas cíveis, nem aos Tribunais de pequena instância.

e)     Competência territorial

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A  aferição  da  competência  territorial  depende  do  título  executivo  que  for utilizado  pelo  exequente.  Para  a  determinação  daquela  competência  importa distinguir,  antes  do  mais  consoante  o  título  seja  uma  sentença  condenatória ou  qualquer  outro  título.  Quanto  às  decisões  condenatórias,  há  ainda  que diferenciar consoante se trate de sentenças nacionais ou estrangeiras.

A determinação da competência territorial para a acção executiva orienta-se pelas seguintes linhas:

-          Para  as  sentenças  nacionais,  a  regra  é  a  coincidência  entre  a competência  declarativa  e  a  executiva,  pelo  que  é  territorialmente competente o Tribunal de primeira instância que proferiu a decisão ou em que a acção declarativa foi proposta;

-          Para  os  demais  títulos  há  que  recorrer  à  competência  residual  em função do território.

  32.        Competência internacional

A competência executiva  internacional dos Tribunais portugueses pressupõe uma  conexão  relevante  da  acção  executiva  com  a  ordem  jurídica  portuguesa, porque os Tribunais nacionais não podem  (nem devem) ser competentes para toda e qualquer execução. A necessidade desta conexão é uma consequência do princípio da territorialidade ao qual estão submetidas as medidas através das quais  se  obtém  a  realização  coactiva  da  prestação  exequenda:  segundo  esse princípio,  cada  Estado  possui  o  monopólio  das  medidas  coactivas  efectuadas no seu território. Por este motivo, o factor de conexão relevante para a aferição da  competência  executiva  internacional  dos  Tribunais  portugueses  não  pode deixar de ser circunstância de as medidas necessárias à realização coactiva da prestação podem ocorrer em território português.

  33.        Competência convencional

Os  pactos  de  jurisdição  de  jurisdição  regulam  a  competência  internacional dos Tribunais portugueses (art. 99º/1 CPC). A coincidência entre a competência territorial  e a  internacional,  bem como a aferição da competência  internacional pelos  critérios  do  domicilio  do  executado  e  da  situação  dos  bens  penhoráveis não  deixam  muito  espaço  para  os  pactos  atributivos  de  jurisdição,  pois  que dificilmente  se  concebe  uma  situação  em  que  os  Tribunais  portugueses  não sejam  legalmente  competentes,  mas  em  que  a  execução  apresente  uma conexão com a ordem jurídica portuguesa que justifique, tal como o art. 99º/3-c CPC, exige, o interesse de, pelo menos, uma das partes em que ela decorra em território português.

O pacto ao mesmo  tempo privativo da  jurisdição dos Tribunais portugueses e  atributivo  de  competência  a  um Tribunal  estrangeiro  vale,  neste  último  para efeitos de revisão e confirmação, não para desaforamento da questão proposta directamente nos nossos Tribunais.

O  “interesse sério”  a  que  se  refere  o  art.  99º/3-c  CPC,  deve  ser  entendido em  termos  semelhantes ao  “interesse digno de protecção legal”  no art.  398º/2 CC, ou seja,  como  interesse atendível, embora sem conteúdo económico, que não corresponda a um mero capricho ou seja estranho ao direito, nem atinja a 

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equidade, a boa fé contratual ou os bons costumes.Os pactos de competência, destinam-se a  regular a competência  territorial 

para  a  acção  executiva  (art.  100º/1 CPC). Dada a  excepção  constante  no  art. 100º/1  CPC  in fine, esse  pactos,  ainda  que  restritos  à  competência  territorial, não são admissíveis:

-         Quando a execuções baseadas em decisões proferidas pelos Tribunais portugueses (arts. 110º/1-a e 90º/1 CPC);

-         Quanto a execuções que correm por apenso a outros processos (arts. 110º/1-c; 90º/3; 91º/2; 92º/1-b, 95º; 53º/2 e 3; 58º/3 CPC);

-         Quando a execução se baseia num título extra-judicial e visa a entrega de coisa certa ou o pagamento de uma quantia certa assegurada por uma garantia real (arts. 110º/1-a, 94º/2 CPC).

  34.        Modalidades de incompetência

Dado  que  os  Tribunais  Arbitrais  não  possuem  competência  executória  (art. 30º  LAV,  art.  90º/2  CPC),  as  únicas  modalidades  de  incompetência  que  são possíveis na acção executiva são a incompetência absoluta (art. 101º CPC) e a relativa (art. 108º CPC).

a)    Incompetência absolutaA  incompetência  absoluta  resulta  da  violação  das  regras  da  competência 

material, hierárquica e internacional legal (art. 101º CPC).Essa  incompetência é uma excepção dilatória  (arts. 493º/2; 494º-a CPC) de 

conhecimento oficioso (arts. 102º/1; 495º CPC) mas insusceptível de sanação, o que justifica que o Tribunal deva indeferir liminarmente o requerimento executivo (arts.  105º/1;  811º-A/1-b CPC)  ou  rejeitar  oficiosamente  a  execução  (art.  820º CPC).  Se  esse  indeferimento  ou  essa  rejeição  não  se  verificar,  o  executado pode  deduzir  embargos  com  fundamento  naquela  incompetência  (arts.  813º-c; 814º/1; 815º/1 CPC).

b)    Incompetência relativaA  incompetência  relativa  decorre  da  violação  da  competência  que  é  aferida 

pelo valor da causa, pela forma do processo aplicável ou pela divisão judicial do território, bem como da violação da competência convencional (art. 108º CPC). Quanto à sua apreciação, importa distinguir os acasos em que a incompetência relativa é de conhecimento oficioso daqueles em que isso não é admissível.   E: 

  

Tramitação da acção executiva

  35.        Generalidades

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A acção executiva visa a realização coactiva de uma prestação. Nela não se procura uma decisão sobre um direito controvertido, mas a efectivação de uma prestação que está documentada num título executivo (arts. 4º/3 e 45º/1 CPC).

A  diferença  entre  a  execução  para  entrega  de  coisa  certa  – execução específica directa – e as demais  (execução para pagamento de quantia certa e  execução  para  prestação  de  facto)  reside  no  seguinte:  enquanto  naquela se  pode  proceder  à  tradição  da  posse  sobre  a  coisa,  estas  últimas  visam  a liquidação  de  um  determinado  montante  pecuniário  através  da  alienação  de bens do devedor. Isto conduz a profundas diferenças na respectiva tramitação.

Ao  processo  de  execução  são subsidiariamente aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições reguladoras do processo de declaração que se mostrem compatíveis com a natureza da acção executiva  (art.  466º/1  CPC).  Quanto  à  regulamentação  própria  do  processo  executivo,  há  que considerar, antes do mais, as suas disposições gerais (art. 801º a 810º CPC).

  36.        Execução ordinária para pagamento de quantia certa6[5]

O  objecto  da  execução  para  pagamento  é  uma  prestação  pecuniária  de quantidade (art. 550º CC) ou de moeda específica (art. 552º CC).

Consagra-se  no  art.  550º  CC,  as  obrigações  chamadas  de  soma  ou de  quantidade,  que  são  as  mais  frequentes  e  importantes  das  obrigações pecuniárias, é o princípio chamado nominalista. O pagamento das obrigações pecuniárias deve fazer-se, em regra, atendendo ao valor nominal da moeda na data  do  cumprimento.  O  devedor  desonera-se  desde  que  entregue  o  número de moedas, necessárias para, atento o seu valor  facial ou nominal,  perfazer o montante ou a quantia em dívida.

Os  dois  tipos  de  obrigações  de  moeda  específica  previstos  genericamente no art. 552º CC, são o pagamento em moeda metálica e o pagamento em valor dessa moeda.

  37.        Fase inicial

A  acção  executiva  inicia-se  com  a  apresentação do requerimento executivo  (requerimento inicial)  no  Tribunal  competente  (art.  267º/1  CPC),  a cujo conteúdo se aplica, com as devidas adaptações o estabelecido no art. 467º/1 CPC, quanto à petição inicial. Nesse requerimento, o exequente deve formular o  pedido  de  que  o  executado  seja  citado  parta,  no  prazo  de  20  dias,  pagar  a dívida ou nomear bens à penhora (art. 811º/1 CPC).

Se a obrigação exequenda não  for certa, exigível e  liquida em face do  título executivo, a execução principia pelas diligências destinadas a satisfazer essas condições (art. 802º CPC). O respectivo procedimento encontra-se previsto nos arts. 803º a 810º CPC.

Se,  pertencendo  a  escolha  ao  devedor,  ele  não  a  tiver  feito,  a  respectiva declaração  de  escolha  antes  do  começo  da  execução,  deve  o  credor,  no próprio processo executivo,  requerer a notificação do executado para escolher a prestação, pedindo ao mesmo  tempo que se  fixe prazo para a  resposta  (art. 543º/2 CPC); se o não  fizer  tempestivamente, a execução prossegue quanto à 

6[5] Arts. 811º a 921 CPC

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prestação que o credor escolher (arts. 803º/2 CPC; 548º CC).Se  a  secretaria  não  recusar  o  recebimento  inicial,  o  juiz  da  execução 

deve  proferir  um  despacho  liminar  de  indeferimento  (art.  811º-A  CPC),  de aperfeiçoamento (art. 811º-B CPC) ou de citação (art. 811º/1 CPC).

a)      Indeferimento liminar – art. 811º-A CPC (total ou parcial):  do requerimento  executivo,  quando  seja  manifesta  a  falta  ou  insuficiência do  título,  ocorram  excepções  dilatórias  insupríveis  que  ao  juiz  cumpra oficiosamente  conhecer  ou,  fundando-se  a  execução  em  título  negocial, seja  manifesta  a  sua  improcedência,  em  consequência  de,  face  aos elementos  dos  autos,  ser  evidente  a  existências  de  factos  impeditivos ou  extintivos  da  obrigação  exequenda  que  ao  juiz  cumpra  conhecer oficiosamente.

b)      Despacho de aperfeiçoamento (art. 811º-B CPC):  a  ampla possibilidade de o juiz convidar o exequente a aperfeiçoar o requerimento executivo,  antes de ordenada a  citação do executado,  constitui  um meio de  actuar,  também  neste  campo,  a  regra  da  sanabilidade  da  falta  de pressupostos processuais e do aproveitamento, na medida do possível, da actividade processual já realizada.

c)     Despacho de citação (art. 811º/1 CPC): o  juiz determina a citação do executado para que este, no prazo de 20 dias, pague a dívida ou nomeie bens à penhora (art. 811º/1, 234º/4-e CPC). Esta citação é substituída por uma  notificação,  se  o  executado  já  tiver  sido  no  âmbito  das  diligências destinadas  a  tornar  a  obrigação  certa,  exigível  e  líquida  (art.  811º/2,  1ª parte, arts. 802º a 810º CPC).

O executado citado pode opor-se à execução através de embargos (art. 812º CPC), que  devem  ser  deduzidos  no  prazo  de  20  dias  a  contar  da  sua citação (art. 816º/1 CPC). Estes embargos têm fundamentos diversos consoante o  título  executivo que  seja  utilizado pelo  exequente  (arts.  813º  a  815º CPC) e são um processo declarativo incidental que corre por apenso à própria execução (art. 817º/1 CPC). Este regime demonstra que a acção executiva não comporta qualquer articulado de resposta do executado e que a eventual oposição desta parte  não  se  insere  na  tramitação  normal  daquela  acção.  Nos  embargos,  o executado pode defender-se invocando não apenas os vícios ou irregularidades de  carácter  processual  que  haja  ocorrido,  mas  ainda  os  meios  substantivos oponíveis ao crédito do exequente em termos que variam consoante a natureza e a força probatória do título exequendo (arts. 813º-h, 815º/1 CPC).

  38.        Fase da penhora

Se  a  execução  houver  a  prosseguir,  segue-se  a  apreensão  de  bens  do executado,  dado  que  o  património  deste  constitui  a  garantia  real  das  suas obrigações (art. 601º CC). Este desapossamento decorre de um acto de penhora (arts.  821º  e  835º CPC),  que,  em  ‘principio,  pode  recair  sobre  quaisquer  bens do  executado  (art.  821º  CPC).  A  nomeação  de  bens  à  penhora  pertence,  em regra,  ao  executado  (arts.  811º/1,  833º/1  CPC)  e  a  efectivação  da  penhora  é distinta  consoante o  seu objecto  sejam bens  imóveis  (arts.  838º a 847º CPC), bens móveis (arts. 848º a 855º CPC) ou direitos do executado (arts. 856º a 863º 

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CPC).A  penhora  atribui  ao  exequente  uma  preferência  no  pagamento  através  do 

produto  da  venda  dos  bens  penhorados  sobre  qualquer  outro  credor  que  não tenha garantia real anterior sobre esses bens (arts. 822º/1 CC). Tratando-se de dívida  com  garantia  real  que  onere  bens  pertencentes  ao  devedor  executado, a  penhora  começa,  independentemente  de  nomeação,  por  esses  bens  (art. 835º CPC), porque o exequente faz valer, na execução pendente a preferência resultante dessa garantia (art. 604º/2 CC).

O  executado  pode-se  opor  à  penhora  (art.  863º-A CPC).  Também  se  pode opor a ela qualquer terceiro que seja titular de um direito incompatível com esse acto:  esta  oposição  pode  ser  realizada  através  de  embargos  de  terceiro  (art. 351º/1  CPC)  ou  de  uma  acção  de  reivindicação  dos  bens  penhorados  (arts. 1311º/1 e 1315º CC).

A  penhora  atribui  ao  exequente  uma preferência  no  pagamento  em  relação aos credores que não tenham garantia real anterior sobre os bens penhorados (art. 822/1 CC).

  39.        Fase da venda e do pagamento

Após  a  penhora  dos  bens  do  executado,  procede-se  normalmente  à  sua venda (art. 886º-A/1 CPC), pois que, em regra, é através do produto obtido com essa alienação que são satisfeitos os créditos do exequente (art. 872º/1 CPC) e dos credores reclamantes (art. 873º/2 CPC).

A  acção  executiva  termina  com as  operações  destinadas  ao  pagamento  do exequente  e  dos  demais  credores  graduados  através  do  produto  obtido  com a  venda  dos  bens  penhorados  (arts.  827º/1;  873º/2  CPC).  Os  créditos  são satisfeitos segundo a ordem da sua graduação (art. 873º/2 CPC).

A  execução  é  julgada  extinta  logo  que  o  crédito  do  exequente  se  mostre satisfeito  (art.  919º/1  CPC),  mas  os  credores  reclamantes  podem  requerer  a continuação da execução com vista à verificação, graduação e pagamento dos seus créditos.

  40.        Execução sumária para pagamento7[6]

À  execução  sumária  para  pagamento  aplicam-se  supletivamente  as disposições do processo ordinário, com as necessárias adaptações (art. 466º/3 CPC).

Na  execução  sumária  para  pagamento  de  quantia  certa,  o  direito  de nomeação  de  bens  à  penhora  pertence  exclusivamente  ao  exequente,  que  os deve  nomear  logo  no  requerimento  executivo  (art.  924º  CPC).  Exceptua-se  o caso  em que  essa  parte  requerer  a  colaboração  do Tribunal  ou  do  executado para identificar ou localizar os bens penhoráveis (art. 924º; 837º-A CPC).

Se  o  requerimento  executivo  não  for  indeferido  e  não  necessitar  de  ser aperfeiçoado, o Tribunal ordena a penhora dos bens nomeados pelo exequente (art.  925º CPC). Efectuada esta, é o executado notificado simultaneamente do requerimento  executivo,  do  despacho  ordenatório  da  penhora  e  da  realização desta,  podendo  deduzir,  no  prazo  de  10  dias,  embargos  de  executado  ou 

7[6] Arts. 924º a 927 CPC.

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oposição  à  penhora  (art.  926º/1  CPC)  e,  se  a  sentença  executada  não  tiver transitado em  julgado,  requerer a substituição dos bens penhorados por outros de valor suficientes (art. 926º/2 CPC). Se o executado deduzir embargos, deve cumular neles a eventual oposição à penhora (art. 926º/3 CPC).8[7]

8[7] Vide DL 274/97, de 8 de Outubro, Acção executiva simplificada para pagamento de quantia certa

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41.        Execução ordinária para entrega de coisa certa (arts. 928º segs. CPC)

À  execução  ordinária  para  a  entrega  de  coisa  certa  são  supletivamente aplicáveis, na parte em que o puderem ser, as disposições relativas à execução para pagamento (art. 466º/2 CPC).

Quando a prestação devida consiste na entrega de uma coisa, o credor  tem a  faculdade de  requerer através da  respectiva acção executiva,  a  sua entrega judicial (art. 827º CC). O objecto desta execução específica é, assim, a entrega da coisa9[8] ao titular do ius possidendi sobre ela.

No  requerimento  executivo,  deve  o  exequente  requerer  que  o  executado seja citado para fazer a entrega da coisa devida no prazo de 20 dias (art. 928º/1 CPC). O Tribunal pode indeferir esse requerimento (arts. 811º-A, 466º/2 CPC) ou mandar aperfeiçoá-lo (arts. 811º-B/1; 466º/2 CPC); se o requerimento estiver em condições de ser  recebido, o Tribunal  deve mandar  citar  o executado  (art. 811º/1; 466º/2 CPC).

O  executado  citado  pode  proceder  voluntariamente  à  entrega  da  coisa  ou opor-se  à  execução  através  de  embargos  (art.  929º/1  CPC).  Os  embargos devem,  ser  deduzidos  no  prazo  de  20  dias  a  contar  da  citação  (arts.  816º/1, 466º/2 CPC  e,  além  dos  fundamentos  gerais  (arts.  813º  a  815º CPC),  podem basear-se  no  direito  ao  pagamento  das  benfeitorias  realizadas  na  coisa  (art. 929º/2 CPC).

Se  o  executado  não  realizar  voluntariamente  a  entrega  da  coisa,  o  tribunal procede às buscas e demais diligências para efectivar essa entrega (art. 930º/1 CPC – arts. 848º a 850º CPC bens móveis; arts. 838º a 842º e 843º a 845º CPC, bens imóveis).

Depois  de  apreendidas,  as  coisas  móveis  são  entregues  ao  exequente (art.  930º/1  e  848º/1  CPC).  Os  imóveis  são  entregues  através  da  investidura, realizada  pelo  funcionário  judicial,  do  exequente  na  sua  posse,  mediante  a entrega dos documentos e das chaves (art. 930º/3, 1ª parte CPC).

  42.        Execução convertida

A execução específica para a entrega de coisa converte-se numa execução para  pagamento  quando  a  coisa  devida  não  for  encontrada:  neste  caso,  o exequente  pode  fazer  liquidar,  no  processo  pendente,  o  valor  da  coisa  e  o prejuízo resultante da falta de entrega (art. 931º/1 CPC).

A execução convertida  inicia-se com a  liquidação do montante que deve ser pago  pelo  executado,  que,  sempre  que  o  exequente  tenha  a  direito  à  própria coisa corresponde ao valor desta e ao prejuízo proveniente da falta de entrega (art. 931º/1 CPC). A esta liquidação aplicam-se as regras gerais sobre a matéria (art. 931º/1; arts. 805º a 809º CPC) embora, dado que o executado já foi citado para a execução (art. 928º/1-m CPC) a citação desta parte para a contestação do incidente seja substituída por uma notificação (art. 931º/1 CPC).

9[8] Ainda que simbólica: art. 930º/3 e 4 CPC

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Depois  de  realizada a  liquidação,  procede-se,  por  nomeação do exequente, à  penhora  dos  bens  necessários  para  o  pagamento  da  quantia  apurada  (arts. 931º/2; 863º-A; 351º CPC; arts. 1311º e 1315º CC).

  43.        Execução sumária para a entrega de coisa certa

À  execução  sumária  para  entrega  de  coisa  certa  aplica-se  supletivamente o  regime do  respectivo processo ordinário  (art.  466º/3 CPC). Na  falta deste,  é aplicável  o  estipulado  para  a  execução  sumária  para  pagamento  (art.  466º/2 CPC).

Na forma sumária da execução específica para entrega de coisa, a apreensão desta procede a citação do executado (art. 925º; 466º/2 CPC), se o executado deduzir embargos, nestes deverá apresentar a eventual oposição à apreensão (arts. 926º/3 e 466º/3 CPC).

Se  a  execução  sumária  para  entrega  de  coisa  certa  se  converte  numa execução para pagamento (art. 931º/1 CPC), deve-se-lhe aplicar, na medida do possível, o regime da execução sumária para pagamento (arts. 926º/2 e 3; 466º/2; 47º/1 CPC).

  44.        Execução ordinária para a prestação de facto (art. 933º segs. CPC)

A  execução  ordinária  para  a  prestação  de  facto  é  supletivamente  regulada pelas  disposições  respeitantes  à  execução  para  pagamento  de  quantia  certa (art. 466º/2 CPC).

O objecto da execução para a prestação de facto pode ser um facto positivo ou negativo  (art. 45º/2 CPC), ou seja, uma obrigação de  facere ou non facere. O  facto positivo pode ser  fungível  (art.  828º CC; art.  933º/1, 1ª parte CPC) ou infungível (art. 933º/1, 2ª parte CPC):

-         O facto é fungível, quando para o credor, é jurídica e economicamente irrelevante se ele é realizado pelo devedor ou por um terceiro;

-         O  facto é infungível,  quando  por  razões  jurídicas  ou  económicas,  o interesse do credor impõe a sua realização pelo devedor.

O  facto  negativo  pode  corresponder  a  uma  obrigação  de  non  facere  em sentido estrito ou a uma obrigação de pati:

-          Na  obrigação de non facere em sentido estrito,  o  devedor  está vinculado a uma mera omissão de actuação;

-          Na  obrigação de pati,  o  devedor  está  obrigado  a  tutelar  uma actividade do credor.

  45.        Execução sumária para a prestação de facto

A  execução  sumária  para  a  prestação  de  facto  segue,  na  parte  aplicável, o  regime  estabelecido  para  a  execução  ordinária  (art.  466º/3  CPC).  Na insuficiência deste, aplica-se-lhe o regime de execução sumária para pagamento (art. 466º/2 CPC).

Na execução sumária para a prestação de facto, o prazo para a dedução de embargos10[9] é de 10 dias (arts. 926º e 466º/2 CPC). Se a execução se converter numa execução para pagamento  (arts.  942º/2 e 934º CPC),  são-lhe aplicáveis 

10[9] Arts. 933º/2; 940º/2; 941º/2 CPC

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as especificidades previstas no art. 926º/2 e 3 CPC).  

   F:  

Embargos de executado

 46.        Generalidades

Os embargos de executado são o meio de oposição à execução (arts. 812º; 926º/1; 929º/1; 933º/2; 940º/2 e 941º/2 CPC). Estes embargos são um processo declarativo  instaurado  pelo  executado  (ou  executados)  contra  o  exequente (exequentes),  que  corre  por  apenso  à  execução  (art.  817º/1  CPC),  e  que constitui um incidente desta. Isto significa que a acção executiva não comporta, na  sua  própria  tramitação,  qualquer  articulado  de  resposta  ao  requerimento inicial  do  exequente,  o  que  é  uma  consequência  da  sua  função:  a  realização coactiva da prestação exequenda e não a discussão sobre o dever de a prestar.

Os  embargos de executado fundamentam-se num vício que afecta a execução.  Se  eles  forem  julgados  procedentes,  a  acção  executiva  deve  ser julgada extinta, no todo ou em parte (art. 919º/1 CPC).

Os  embargos  baseiam-se  em  fundamentos  respeitantes  à  inexequibilidade do título utilizado pelo exequente, à falta de pressupostos processuais da acção executiva  e  ainda  à  inexequibilidade  da  obrigação  que  aquela  parte  pretende realizar coactivamente (arts. 813º a 815º; 929º/1; 40º/2; 941º/2 CPC).

Os  embargos  de  executado  podem  fundamentar-se  em  qualquer circunstância  susceptível  de  afectar  a  exequibilidade  do  título  executivo  ou da  obrigação  exequenda. Mas  eles  não  são  os  únicos meios  processuais  que podem basear-se nessas mesmas circunstâncias.

Os embargos de executado podem basear-se em fundamentos que também justificam  o  indeferimento  limiar  do  requerimento  executivo  (arts.  811º-A/1; 813º-a) c); 814º/1; 815º/1 CPC). Mas, como o executado não pode recorrer do despacho de citação alegando qualquer desses  fundamentos de  indeferimento (art. 234º/5 CPC), essa parte só pode invocá-los em embargos e, por isso, não é possível qualquer situação de concurso.

  47.        Oposição a sentença judicial

Se  a  execução  se  funda  numa  sentença  de  um  Tribunal  estadual,  os embargos  podem  fundamentar-se  na  sua  inexistência  ou  inexequibilidade (art.  813º-a  CPC).  A  sentença é inexistente  quando,  por  exemplo,  tiver  sido proferida por quem não  tem poder  jurisdicional; é  inexequível  a sentença que tenha  sido  revogada  por  um  Tribunal  de  recurso  ou  tenha  sido  anulada  no decurso  extraordinário  de  revisão  ou  de  oposição  de  terceiro,  a  sentença  da qual  foi  interposto  recurso  com efeito  suspensivo  (art.  47º/1 CPC),  a  sentença 

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não  condenatória  (art.  46º-a  CPC),  a  sentença  que  não  esteja  assinada  pelo juiz (art. 668º/1-a CPC) e ainda a sentença estrangeira que não esteja revista e confirmada ou que não tenha obtido o exequatur (art. 49º/1 CPC; art. 31º C.Brux/CLug).

A  possibilidade  do  exercício  de  defesa  na  acção  declarativa  em  que  se formou o título executivo constitui uma garantia do (agora) executado. Por isso, sempre  que  esta  parte  tenha  permanecido  em  situação  de  revelia  absoluta nessa acção, ela pode opor-se à execução baseada na sentença nela proferida com fundamento na falta ou nulidade da sua citação (art. 813º-d CPC).

A  falta de qualquer pressuposto processual da acção executiva constitui um dos  fundamentos  possíveis  dos  embargos  de  executado  (art.  813º-c  CPC).  A invocação  da  excepção  dilatória  nos  embargos  não  obsta  à  sua  sanação  (art. 265º/2 CPC), pelo que,  se esta se verificar entretanto, estes extinguem-se por inutilidade superveniente (art. 287º-e CPC).

A obrigação só pode ser objecto de execução se for certa, exigível e  líquida (art. 802º CPC). Por esta razão, a incerteza, a inexequibilidade ou a iliquidez da obrigação  exequenda,  quando  não  supridas  na  fase  introdutória  (arts.  803º  a 810º CPC), constituem fundamentos de oposição à execução (art. 813º-e CPC).

Constitui  igualmente  fundamento  de  oposição  à  execução  baseada numa  sentença  judicial  qualquer  facto  extintivo  ou  modificativo  da  obrigação exequenda,  desde  que  seja  posterior  ao  encerramento  da  discussão  no processo de declaração (art. 813º-g, 1ª parte CPC). Dado que o título executivo é  uma  sentença  judicial,  é  indispensável  que  o  facto  extintivo  ou modificativo seja  posterior  ao  encerramento  do  processo  especial  –,  porque  é  até  ele  que nessa acção podem ser alegados os factos supervenientes (art. 506º/1 CPC).

A redacção do art. 813º-g, 1ª parte CPC, refere-se apenas à superveniência objectiva,  pelo  que  importa  analisar  se  a  esta  deve  ser  equiparada  a superveniência  subjectiva,  ou  seja,  o  conhecimento  pelo  executado  do  facto extintivo ou modificativo após o encerramento da discussão  (art.  506º/2 CPC). Verificados certos parâmetros, a resposta parece ser afirmativa.

A  superveniência  subjectiva  é  admitida,  sem  qualquer  restrição,  como fundamento  dos  embargos  supervenientes  (art.  816º/2 CPC),  pelo  que,  se  ela é  relevante  quando  o  conhecimento  da  parte  ocorre  depois  do  prazo  normal de dedução dos embargos, o mesmo deve suceder quando o executado  toma conhecimento do facto ainda antes de se encontrar esgotado aquele prazo.

  48.        Oposição a sentença homologatória

A  sentença  homologatória  de  conciliação,  confissão  ou  transacção  é  um título  judicial  (art.  46º-a  CPC),  pelo  que  aos  embargos  deduzidos  contra  uma execução  nela  baseada  aplicam-se,  em  princípio,  os  fundamentos  previstos no  art.  813º  CPC.  Desses  executa-se  o  previsto  no  art.  813º-d  CPC,  porque sem  a  intervenção  do  réu  no  processo  declarativo  esses  negócios  não  são possíveis e,  pelo menos non plano prático,  o estabelecido no art.  813º-f CPC, porque dificilmente se concebe que, se houver um caso julgado anterior, algum daqueles negócios venha a ser concluído.

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A  lei  exige  que  o  facto  extintivo  ou  modificativo  seja  posterior  ao encerramento da discussão, porquanto, nos termos do art. 663º CPC, o julgador deve na sentença “tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que se produzam posteriormente à propositura da acção, de modo que a decisão corresponda à situação existente no momento do encerramento da discussão”.

Portanto, tudo o que ocorrer desde o momento do encerramento da discussão até à data da sentença o  julgador não pode  levar em conta, não o pode tornar em consideração na decisão.

É  por  isso  “que o facto extintivo ou modificativo que ocorrer antes do encerramento da discussão, mas que o réu não teve conhecimento dele ou não dispôs do documento necessário para o provar”, não pode servir de fundamento de oposição à execução, porque não ocorreu posteriormente ao encerramento. Esse  facto apenas pode  fundamentar o  recurso da  revisão, nos  termos do art. 771º-c CPC.

Quando a execução se baseia numa sentença homologatória de conciliação, confissão  ou  transacção,  os  embargos  de  executado  podem  fundamentar-se numa  qualquer  causa  de  invalidade  dos  negócios  homologatórios  (art.  815º/2 CPC).

  49.        Oposição a sentença arbitral

Como  a  sentença  arbitral  é  um  título  judicial  (arts.  46º-a,  48º/2  CPC),  aos fundamentos da oposição à execução nela baseada aplica-se o disposto no arts. 813º; 814º/1, 1ª parte CPC).

  50.        Oposição a documentos executórios

Se  a  acção  destinada  a  exigir  o  cumprimento  de  obrigações  pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do Tribunal de primeira instância não  for contestada, o Tribunal  limita-se a conferir a  força executiva à petição  inicial  (art. 2º RPOP); o mesmo sucede se o  requerimento de  injunção não for contestado pelo requerido (art. 14º/1 RPOP).

Aos  embargos  deduzidos  nas  execuções  baseadas  nesses  documentos executórios deve aplicar-se, na medida do possível, o regime estabelecido para a oposição a sentença judicial (art. 813º CPC).

  51.        Oposição a título extrajudicial

Aos  embargos  de  execução  deduzidos  em  execução  baseada  em  título extrajudicial, são aplicáveis na medida do possível, os fundamentos previstos no art. 813º; art. 815º/1, 1ª parte CPC.

Na  oposição  à  execução  baseada  num  título  extrajudicial  podem  ser invocados  todos  os  fundamentos  que  é  possível  deduzir  como  defesa  no processo de declaração (art. 815º/1 CPC), ou seja, nessa oposição pode utilizar-se quer a defesa por impugnação, quer a defesa por excepção (art. 487º CPC). Dado que o título extrajudicial não se baseia em nenhum processo declarativo, a oposição do executado não está condicionada por nenhuma regra de preclusão por  esse  motivo,  não  existe  qualquer  restrição  quanto  à  invocação  de  factos 

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impeditivos, modificativos ou extintivos nos embargos deduzidos contra um título extrajudicial.   G:  

  

  

Dedução e efeitos

  52.        Valor dos embargos

Os  embargos  de  executado  têm  um  valor  próprio,  correspondente  à  sua utilidade económica  (art. 305º/1 CPC). Esta coincide com o valor da execução ou,  se  os  embargos  não  abrangem na  totalidade,  com o  valor  da  parte  a  que eles se referem.

Toda a causa tem dois valores: um fixado nos termos do Código de Processo Civil,  relevante  para  os  efeitos  no  dispostos  no  art.  305º/2  CPC,  e  quanto  à intervenção  do  colectivo;  outro,  fixado  segundo  os  preceitos  do  Código  das Custas Judiciais (art. 5º segs.) para efeitos de custas e demais encargos.

  53.        Pressupostos processuais

Os  embargos  de  executado  –  que  são  processos  declarativos  incidentais da  acção  executiva  (art.  817º/1  proémio  e  2  CPC)  –  exigem  os  pressupostos processuais comuns à generalidade das acções declarativas.

Os  embargos  de  executado  correm  por  apenso  à  execução  pendente  (art. 817º/1 CPC), pelo que deve ser dirigidos ao próprio Tribunal da execução. Trata-se de uma hipótese de extensão da competência deste Tribunal.

A  legitimidade activa  para  os  embargos  pertence  ao  executado,  seja  ele o  devedor  (art.  55º/1  CPC),  o  sucessor  do  devedor  (art.  56º/1  CPC)  ou  o proprietário  dos  bens  onerados  (art.  56º/2  CPC).  Os  embargos  devem  ser deduzidos  contra  o  exequente,  que  pode  ser  o  credor  (art.  55º/1  CPC),  o sucessor do credor (art. 56º/1 CPC) ou o portador do título (art. 55º/2 CPC).

O  regime da  legitimidade plural  nos embargos de executado é distinto  para a  parte  activa  (pluralidade  de  embargantes)  e  a  parte  passiva  (pluralidade de  embargados).  Ainda  que  a  execução  tenha  sido  proposta  contra  vários executados,  nunca  se  verifica  entre  eles  qualquer  litisconsórcio  necessário, ou  seja,  o  litisconsórcio  entre  os  embargantes  é  sempre  voluntário.  Esta asserção  é  confirmada  pelo  disposto  no  art.  816º/3 CPC,  quanto  ao  prazo  de dedução dos embargos: havendo vários executados e, por isso, vários possíveis embargantes,  o  prazo  para  a  oposição  corre  autonomamente  para  cada  um deles, ou seja, cada um dos executados tem um prazo próprio, contado a partir 

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da sua citação ou notificação (art. 816º/1, 926º/1 CPC).Se  a  execução  tiver  sido  instaurada  por  vários  exequentes,  os  embargos 

devem  ser  deduzidos  contra  todos  eles  sempre  que  o  fundamento  invocado pelo  embargante  seja  comum  a  todas  essas  partes,  ou  seja,  que  entre  os embargados se deva verificar um litisconsórcio unitário.

Se  os  embargos  forem  deduzidos  depois  da  reclamação  de  créditos  (art. 864º/1-b) c) d) CPC) também devem ser demandados os credores reclamantes.

Nos embargos deduzidos na execução para entrega de coisa certa pode ser necessária a participação do cônjuge do embargante ou do embargado: para tal basta que essas partes não possam dispor sozinhas da coisa a entregar  (arts. 1682º  e  1682º-A CC)  e,  por  isso,  não  possam discutir,  sem a  participação  do seu cônjuge, o dever de entrega. Nesta situação, o embargante deve prometer, no momento  da  dedução  dos  embargos,  a  intervenção  do  seu  cônjuge  ou  do cônjuge do embargado (art. 320º-a CPC).

Os  embargos  de  executado  são  processos  declarativos  (art.  817º/2  CPC). A  escolha  desta  forma  processual  para  os  embargos  é  uma  consequência dos  fundamentos  que  neles  podem  ser  alegados  (arts.  813º  a  815º  CPC), nomeadamente porque estes  requerem o aperfeiçoamento de matéria de  facto e isto só num processo declarativo pode ser realizado com as devidas garantias. São aqueles fundamentos, que impõem esse processo como a forma adequada ao julgamento dos embargos de executado.

  54.        Prazo de dedução

Na  execução  ordinária,  os  embargos  devem  ser  deduzidos  no  prazo  de 20  dias  a  contar  da  citação  do  executado:  é  o  regime  estabelecido  para  a execução para pagamento de quantia certa (art. 816º/1 CPC) e que é extensível à execução para entrega de coisa (arts. 466º/2 e 816º/1 CPC);  idêntico regime vale  para  a  execução  para  a  prestação  de  facto  positivo  (art.  933º/2  CPC)  e negativo  (art.  941º/2,  1ª  parte CPC). Se  o  executado  tiver  sido  citado  para  as diligências destinadas a  tornar a obrigação exequenda certa, exigível e  líquida, o  prazo  para  a  dedução  dos  embargos  conta-se  a  partir  da  notificação  que substitui a normal citação para a execução (art. 811º/2, 1ª parte CPC).

Na execução sumária para pagamento de quantia certa, o prazo de dedução dos  embargos  é  de  10  dias  a  contar  da  notificação  do  executado  (art.  926º/1 CPC). O mesmo vale para as execuções sumárias para a entrega de coisa (arts. 928º/2 e 926º/1 CPC) e para a prestação de facto (arts. 466º/2 e 926º/1 CPC).

Se a execução tiver sido proposta contra vários executados, na determinação do prazo de dedução dos embargos não é aplicável o benefício que é concedido no  caso  da  pluralidade  de  réus  na  acção  declarativa  (art.  816º/3  CPC).  Isto significa que o prazo para a dedução de embargos corre autonomamente para cada um dos executados a partir da respectiva citação ou notificação.

  55.        Tramitação dos embargos

A  tramitação  dos  embargos  de  executado  inicia-se  com  a  entrega  da respectiva  petição  inicial  da  execução  (art.  27º/1 CPC).  Esta  petição  deve  ser articulada (art. 151º/2 CPC).

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Após  a  entrega  da  petição  e  do  seu  reconhecimento  pela  secretaria  (art. 474º CPC), o Tribunal deve proferir um despacho  liminar (art. 817º/1 CPC). Se os  embargos  forem  recebidos,  o  Tribunal  manda  notificar  o  exequente  para contestar dentro de 20 dias (art. 817º/2, 1ª parte CPC).

Se  o  embargado  não  contestar  e  esta  revelia  for  operante,  consideram-se  confessados  os  factos  articulados  pelo  executado  embargante  (arts.  817º/3,  1º  parte,  484º/1  CPC),  excepto  se  eles  estiverem  em  oposição  com  os expressamente alegados por aquela parte no requerimento executivo (art. 817º/3  2ª  parte CPC). A  revelia  do  exequente  embargado  é  inoperante  nos  termos gerais (art. 817º/3, 1ª parte CPC).

Se  o  embargado  contestar  os  embargos  ou  se  a  revelia  desta  parte  for inoperante,  sem mais articulados, os  termos do processo ordinário ou sumário de declaração, consoante o valor dos embargos  (art. 817º/2, 2ª parte CPC). A forma ordinária é utilizada quando esse valor exceder a alçada da Relação (art. 462º/1, 1ª parte CPC) e a sumária em todas as demais situações.

  56.        Efeitos dos embargos

Se os embargos  forem recebidos – se o Tribunal entender que o exequente embargado dever ser notificado para os contestar (art. 817º/2 CPC) –  isso não produz, em princípio, a suspensão da execução pendente (art. 818º/1, 1ª parte CPC). Mas esta regra comporta algumas excepções importantes.

O executado embargante pode obter a suspensão da execução se prestar caução a favor do exequente embargado  (art.  818º/1,  2ª  parte  CPC).  Esta caução pode cumprir  funções distintas. Se a suspensão não  for  requerida pelo embargante  antes  da  penhora  e  se  o  exequente  não  for  titular  de  qualquer garantia real, a caução visa não só garantir o pagamento do crédito exequendo, mas  também assegurar o  ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo exequente com o atraso na satisfação da obrigação exequenda ou com a  impossibilidade dessa  satisfação,  o  mesmo  sucede,  mutatis  mutandis,  nas  execuções  para  a entrega de coisa ou para a prestação de facto. Se a suspensão da execução for requerida depois da penhora ou se o exequente for titular de uma garantia real, a caução destina-se apenas a assegurar a  reparação dos danos causados por aquele atraso ou impossibilidade, pois que o pagamento do crédito exequendo é garantido por aquela penhora ou garantia.

A  suspensão  da  execução  pode  ser  total ou parcial.  Se  os  embargos  não compreendem  toda  a  execução  –  ou  seja,  se  eles  não  respeitarem  a  todo  o objecto  ou  não  envolvem  todos  os  executados  ou  exequente  –  a  execução prossegue  na  parte  não  embargada  (art.  818º/4  CPC).  Se  a  suspensão  da execução  for  decretada  após  a  citação  dos  credores  para  reclamação  de créditos (art. 864º/1-b), c), d) CPC) ela não abrange o apenso destinado à sua verificação e graduação (art. 818º/3 CPC).

Ainda que a  execução  tenha  sido  suspensa pela  prestação de  caução pelo embargante (art. 818º/1 CPC), ela prossegue se o processo de embargos estiver parado  durante mais  de  30  dias,  por  negligência  deste  em  promover  os  seus termos (art. 818º/5 CPC). Trata-se de evitar que o embargante possa prolongar indefinidamente  a  suspensão  da  execução,  pelo  que,  apesar  de  o  preceito 

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se  referir  apenas  à  suspensão  decorrente  da  prestação  de  caução,  o mesmo deve valer para a suspensão decretada pelo  juiz com base na  impugnação da genuinidade da assinatura que consta do título executivo (art. 818º/2 CPC).

A decisão de procedência dos embargos determina a extinção da execução bem como a caducidade de todos os efeitos nela produzidos (por ex. art. 909º/1-a, 818º/1 CPC).

Se  a  decisão for de improcedência,  fica  assente  que  não  há  qualquer impedimento material ou processual à execução.

O caso  julgado da decisão proferida nos embargos abrange  todas as partes do processo, ou seja,  todos os embargantes e  todos os embargados que nele participaram.  Além  disso,  como  os  embargos  de  executado  são  um  meio  de oposição  à  execução,  parece  possível  aplicar  à  respectiva  decisão,  com  as necessárias adaptações, o regime estabelecido sobre a extensão subjectiva da decisão de recurso (art. 683º/1 e 2 CPC).

  

                        

Constituição da garantia patrimonial  

      a)Penhora de bens ou direitos

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  B)Função da penhora  C)Efectivação da penhora  D)Impugnação da penhora   A)      

  Penhora de bens ou direitos

  57.        Responsabilidade patrimonial

De  acordo  com  o  princípio  segundo  o  qual  o  património  do  devedor  é  a garantia ge-ral  do credor,  pelo  cumprimento de uma obrigação  respondem em regra, todos os bens do devedor susceptíveis de penhora (art. 610º CC).

A responsabilidade patrimonial do devedor não atribui ao credor a direito de se apropriar dos bens daquele ou de se substituir a ele na cobrança dos seus créditos  sobre  terceiras,  isto  é,  não  lhe  concede  faculdade  de  se  satisfazer directamente  à  custa  do  património  do  devedor  mediante  a  apropriação  dos bens ou a exigência da satisfaço dos créditos que pertencem a este sujeito. O que  essa  responsabilidade  patrimonial  concede  ao  credor  é  (art.  817º  CC)  a faculdade de executar o património do devedor, ou seja, de fazer penhorar bens e direitos deste titular passivo com vista à sua posterior venda ou cobrança.

Em  regra,  os  credores  têm  o  direito  de  ser  pagos  proporcionalmente  pelo preço dos bens, casos estes, não cheguem para integral satisfação de todos os débitos (art. 604º/1 CC).

A garantia real é exercida na execução de dois modos distintos:-         Se a garantia beneficiar o exequente, é  sobre os bens onerados que 

passa a incidir a penhora (art. 835º CPC);-          Se  a  garantia  beneficiar  um  outro  credor,  este  pode  reclamar  o  seu 

crédito na execução em que o bem onerado for penhorado (arts. 864º/1-b e 865º/1 CPC).

  58.        Justificação da penhora

A  penhora  é  a  actividade  prévia  àquela  venda  ou  à  realização  dessa prestação,  que  consiste  na  apreensão  pelo  Tribunal  de  bens  do  executado ou na colocação à sua ordem de créditos deste valor sobre  terceiros e na sua afectação ao pagamento do exequente.

A penhora destina-se a individualizar os bens e direitos que respondem pelo cumprimento da obrigação pecuniária através da acção executiva.  Isto significa que  a  penhora  só  se  justifica  enquanto  a  obrigação  exequenda  substituir  e  a execução estiver pen-dente

  

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59.        Âmbito da penhoraA penhora pode recair sobre bens imóveis (arts. 838º a 847º CPC) ou móveis 

(art. 848º a 850º CPC) e sobre direitos (arts. 856º a 863º CPC).Esta  tripartição  legal  corresponde,  grosso  modo,  a  uma  distinção  entre  a 

penhora que é acompanhada da apreensão do bem e a penhora que recai sobre direitos que não implicam essa apreensão.

i)       Bens imóveisSão coisas imóveis, entre outras, os prédios rústicos e urbanos (art. 204º/1 -

a/2 CC) e as respectivas partes  integrantes (art. 204º/1-e/3 CC), bem como os direitos inerentes àqueles prédios (art. 204º/1-d CC).

Desde  que  não  sejam  expressamente  excluídas  e  nenhum  privilégio  exista sobre elas, a penhora de um prédio abrange as  respectivas partes  integrantes (art.  842º/1 CPC),  ou  seja,  as  coisas móveis  ligadas materialmente  a  ele  com carácter de permanência (art. 204º/3 CC).

O  mesmo  não  pode  ser  dito  das  coisas  acessórias  (ou  pertenças:  art. 210º/1  CC)  do  imóvel  penhorado,  porque,  salvo  declaração  em  contrário,  os negócios jurídicos que tem por objecto a coisa principal não abrangem as coisas acessórias (art. 210º/2 CC).

Desde  que  não  sejam  expressamente  excluídos  e  não  exista  sobre  eles qualquer ga-rantia, vale, quanto à extensão da penhora, o mesmo regime para os frutos do prédio (art. 842º/1 CPC).

ii)     Bens móveisAs  coisas móveis  delimitam-se  pela  negativa  perante  os  imóveis  (art.  205º/

1  CC).  A  penhora  incide  sobre  a  coisa  móvel  considerada  na  sua  função  ou utilidade  económica  típica.  As  universalidades  de  facto,  ou  coisas  compostas (art. 206º/1 CC), podem ser o objecto de uma única penhora.

iii)   DireitosA penhora de direitos (arts. 856º a 863º CPC) abrange igualmente, em regra 

os res-pectivos frutos civis (arts. 863º e 842º/1 CPC).iv)   ReduçãoQuando  a  penhora  tenha  recaído  sobre  um  imóvel  divisível  e  o  seu  valor 

exceda  ma-nifestamente  o  da  dívida  exequenda  e  dos  créditos  reclamados pelos  credores  com  ga-rantia  real  sobre  o  prédio  (arts.  864º/l-b;  865º/1 CPC), o  executado  pode  requerer  autorização  para  proceder  ao  seu  fraccionamento (art. 842º-A/1 CPC) se a autorização for concedida, a penhora mantém-se sobre todo  o  prédio,  excepto  se,  a  requerimento  do  executado  e  depois  de  ouvido, o  exequente  e  os  credores  reclamantes,  o  juiz  autorizar  o  levantamento  da penhora sobre algum dos  imóveis  resultantes da divisão,  com  funda-mento na manifesta suficiência do valor dos restantes para a satisfação dos créditos (art. 842º-A/2 CPC).

v)     ConvolaçãoA  convolação  da  penhora  verifica-se  quando  ela  incide  sobre  um  objecto 

que substi-tui o seu objecto  inicial. Assim, se a coisa penhorada se perder,  for expropriada  ou  so-frer  diminuição  do  valor  e  houver  lugar  a  indemnização  de terceiro,  o  exequente  conser-va  sobre  os  créditos  respectivos  ou  as  quantias pagas a título de indemnização o direito que tinha sobre a coisa (art. 823º CC). 

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A  penhora  convola-se  numa  penhora  sobre  esses  créditos  ou  sobre  aquelas garantias.

A penhora também convola o móvel sobre o qual incidia, foi antecipadamente vendido (art. 851º CPC): a penhora transfere-se para o quantitativo obtido com essa venda.

  60.        Pressupostos processuais

A  penhora  é  ordenada  pelo  Tribunal  de  execução  (arts.  838º/1;  855º;  863º CPC), que possui igualmente competência para converter o arresto em penhora (art.  846º  CPC).  A  esse  tribunal  compete  ainda  ordenar  o  levantamento  da penhora,  seja  por  falta  de  im-pulso  do  exequente  no  andamento  da  execução (art. 874º CPC),  seja pela procedência de oposição à penhora pelo executado (art. 863º-B/4 CPC) ou por terceiro (art. 351º/1 CPC).

Compete  ao  tribunal  da  execução  resolver  se  a  penhora  deve  ser  mantida quando  no  acto  da  sua  efectivação,  o  executado,  ou  alguém  em  seu  nome, declarar  que  os  bens  vi-sados  pertencem  a  terceiro  (art.  832º  CPC),  nomear, remover e substituir o depositário dos bens penhorados  (arts. 839º/1, 1ª parte; 845º/1  e  848º/4  CPC)  e  ordenar  o  arresto  de  bens  do  depositário  que  não apresente os bens depositados (art. 854º/2 CPC).

A  penhora  rege-se  pelo  princípio  da  proporcionalidade,  pelo  que  não devem  ser  pe-nhorados  mais  bens  do  que  aqueles  que  forem  suficientes para  a  satisfação  do  exequente  (arts.  828º/5;  833º/1;  836º/2-a;  842º-A  CPC). A  nomeação  excessiva  dos  bens  pelo  exequente  implica  a  falta  do  interesse processual  desta  parte,  dado  que  ela  utiliza  um  meio  desproporcionado  para obter a tutela dos seus interesses.

Perante uma nomeação excessiva de bens, o tribunal, ao ordenar a penhora (arts.  838º/1;  855º  e  863º  CPC),  deve  restringi-la  aos  bens  suficientes  para assegurar  a  satisfação  do  crédito  do  exequente.  Se  o  não  fizer,  o  executado pode opor-se à penhora com fundamento nesse excesso (art. 863º-A-a CPC).

  61.        Levantamento da penhora

A  penhora  termina  normalmente  com  a  venda  ou  adjudicação  do  bem penhorado,  mas,  verificadas  certas  condições  pode  ser  levantada  antes  de ocorrer essa alienação; como causas do levantamento da penhora, antes dessa alienação:

a)      O  não  andamento  da  execução  durante  mais  de  seis  meses  por negligencia do requerente (art. 8470/1 CPC);

b)     A desistência da penhora pelo exequente;c)     A substituição da penhora por iniciativa do exequente (arts. 836º/2-b), c), 

d)/3; 871º/3 CPC); ou do executado (arts. 827º/2 e 3; 926º/2 CPC);d)      A  procedência  de  oposição  à  penhora  deduzida  pelo  executado  (art. 

863º-A CPC) ou por terceiro (art. 351º/1 CPC);e)      A  não  atribuição,  em  processo  de  inventario,  do  bem  penhorado  ao 

cônjuge exe-cutado (art. 825º/3 CPC);f)        O  perecimento  da  coisa  penhorada,  se  não  houver  convolação  da 

penhora para a indemnização para ou devida por terceiro (art. 823º CPC);

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g)     A atribuição ao exequente da consignação judicial de rendimentos sobre outros bens (art. 881º/1 CPC).

O  levantamento da penhora é  realizado por  despacho do  juiz  da execução, porque foi por despacho que ela foi ordenada (arts. 838º/1; 855º; 863º CPC). Se a penhora estiver registada, o respectivo registo deve ser cancelado.

  Limites objectivos

  62.        Limites intrínsecos

O  património  abrange  todas  as  coisas  e  direitos  susceptíveis  de  avaliação pecuniária,  ou  seja,  coisas  móveis  e  imóveis,  direitos  de  crédito,  direitos  de participação social e outras situações jurídicas. Podem ser penhorados todos os direitos com um valor patrimonial próprio.

O património também é constituído por direitos sobre bens materiais, quando eles possam participar no comércio jurídico.

Dado que, em regra, os bens penhorados se destinariam a ser vendidos (art., 889º/1 CPC),  não  podem  ser  penhorados  bens  que  estejam  fora  do  comércio (art. 202º/2 CC).

Certos bens ou direitos só podem ser alienados ou onerados pelo seu titular com o  consentimento  de  terceiros.  É  o  que  sucede  em  relação  a  certos  bens próprios de um dos cônjuges (art. 1682º-A CC).

No caso dos bens próprios do cônjuge executado que só podem ser alienados com  o  consentimento  de  outro  cônjuge,  a  solução  é  a  seguinte:  nada  impede a penhora do bem próprio do cônjuge executado  (art. 1696º/1 CC), mas o seu cônjuge deve ser citado para a execução (art. 864º/1-a, 1ª parte CPC).

Também a disposição de certos direitos  respeitantes a participações sociais requer o consentimento de terceiros, nomeadamente da própria sociedade (art. 995º CC; arts. 182º/1; 496º/1 CSC).

Determinados direitos são inseparáveis de outros direitos e, por isso, não têm autonomia perante  estes. Consequentemente,  eles  só podem ser  alienados  (e portanto, pe-nhorados) em conjunto com estes últimos direitos.

  63.        Limites extrínsecos

Os limites extrínsecos à penhora são aqueles que são impostos por motivos estra-nhos ao bem e à sua disponibilidade pelo titular. Estes  limites podem ser estabelecidos pela lei ou pela vontade das partes.

A lei considera três limitações à penhorabilidade dos bens:1)       Bens absolutamente impenhoráveis (art. 822º CPC);2)       Bens relativamente penhoráveis (art. 823º CPC);3)       Bens parcialmente penhoráveis (art. 824º CPC).Salvo  quando  se  trate  de matéria  subtraída  à  disponibilidade  das  partes,  é 

possível,  por  convenção  entre  elas,  limitar  a  responsabilidade  patrimonial  do devedor  a  alguns  dos  seus  bens  (art.  602º  CC).  Isto  significa  que  as  partes podem limitar a responsabili-dade patrimonial do devedor, excepto quando esta sirva de garantia a uma obrigação indisponível.

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A cessão de bens ao credores  verifica-se  quando  estes,  ou  alguns  deles são encar-regados pelo  devedor  de  liquidar  o  património  deste,  ou parte  dele, e  repartir  entre  si  o  respectivo produto,  para  satisfação dos  seus  créditos  (art. 831º  CC).  A  cessão  não  impe-de  que  os  bens  cedidos  sejam  executados pelos  credores  que  dela  não  participaram,  enquanto  aqueles  não  tiverem  sido alienados pelos credores cessionários (art. 833º, 1ª par-te CC).

a)      Impenhorabilidade absoluta:  são  impenhoráveis  os  bens  cuja apreensão  careça  de  justificação  económica,  dado  o  seu  diminuto  valor venal (art. 822º-c CPC).

b)      Penhorabilidade relativa:  é  aquela  que  só  é  admitida  em  certas circunstâncias.  Esta  penhorabilidade  pode  classificar-se,  atendendo  ao motivo que a justifica, em penhorabilidade adstrita, voluntária e subsidiária:-       Penhorabilidade relativa adstrita: é aquela que permite a penhora de 

um bem que só responde pelo pagamento de certas dividas, ou seja, de bens que estão adstritos ao pagamento de certas dividas, abrange dois casos:a)  Aquele  em que os  bens  são em  regra,  impenhoráveis  e  se  tornam 

penhoráveis pela sua afectação a uma determinada execução;b)  Aquele em que a uma execução ficam apenas adstritos determinados 

bens.-       Penhorabilidade relativa conjunta: é aquela em que o bem ou o direito 

só é penhorável em conjunto com outros bens ou direitos;-        Penhorabilidade relativa voluntária:  alguns  bens  impenhoráveis 

podem ser penhorados  se  forem nomeados à penhora pelo executado (ex. art. 823º/2-a CPC);

-       Penhorabilidade relativa subsidiária: é aquela que só é admissível na falta ou insuficiência de outros bens penhoráveis (art. 828º/5 CPC)

Dívidas conjugais podem ser próprias ou comuns:·        As próprias,  são aquelas que apenas  responsabilizam o cônjuge que 

as contraiu (art. 1692º e 1696º/1 CC);·        As comuns, são aquelas que, mesmo quando contraídas por um único 

dos cônjuges, responsabilizam ambos (art. 1691º/1 e 1695º/1 CC).Dividas próprias, podem ser nomeados à penhora bens próprios do cônjuge 

execu-tado e, se estes não forem suficientes, a sua meação nos bens comuns (art. 1696º/1 CC).

Note-se que o regime definido no art. 825º CC, não é aplicável quando, como é  permitido  no  disposto  no  art.  1696º/1 CC,  o  exequente  nomeia  à  penhora  a meação dos bens comuns, porque ela é um bem próprio do cônjuge executado. A  penhora  incide,  nesse  caso,  sobre  um  direito  a  bens  indivisos  (art.  862º/1 CPC), cujo titular é o cônjuge executado.

Dividas comunsSe  a  divida  for  comum  e  se  ambos  os  cônjuges  tiverem  sido  demandados 

na  acção  executiva  por  existir  título  executivo  contra  ambos  (art.  55º/1  CPC), a  penhora  acompa-nha,  o  regime  estabelecido  para  a  responsabilidade patrimonial. Assim, pela divida comum,  respondem, em primeira  linha, os bens comuns  do  casal  e,  na  insuficiência  deles,  os  bens  próprios  de  qualquer  dos 

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cônjuges (art. 1695º/1 CC)c)     Penhorabilidade parcial:  é  aquela  que  é  admitida  apenas  sobre  uma 

parte ou par-cela de um bem (art. 824º/1-a) b) CPC).  

64.        Principio geralA  penhora  não  pode  incidir  sobre  bens  ou  direitos  de  alguém  que  não 

é  demandado  na  acção  executiva  (art.  821º/2  in fine  CPC).  Ninguém  pode ser  afectado  nos  seus  direi-tos  ou  interesses  sem  que  seja  demandado nessa  acção,  pois  que  a  presença  na  execução  é  sempre  uma  condição  de penhorabilidade do respectivo património.

Se forem penhorados bens de sujeitos que não serão demandados na acção executi-va, estes podem reagir contra a penhora. Podem-no fazer através de um meio especial que são os embargos de terceiro (art. 351º/1 CPC), mas também podem  utilizar  a  acção  de  reivindicação  (arts.  1311º/1  e  1315º  CC),  como  se prevê expressamente nos arts. 910º e 911º CPC.

  65.        Bens do devedor

Em regra a execução é  instaurada contra o devedor e, por  isso,  igualmente em  regra,  são  penhorados  bens  do  devedor.  Nesta  situação,  na  falta  de qualquer garantia real sobre os bens do devedor, o património deste cumpre a sua função de garantia real das suas obrigações (art. 601º CC).

  66.        Bens de terceiro

A  execução  pode  incidir  sobre  bens  de  terceiro  (art.  821º/2  CPC),  isto  é, de  alguém  que  não  é  devedor  da  obrigação  exequenda.  São  dois  os  casos em  que  a  penhora  pode  recair  sobre  bens  de  terceiro:  quando  estes  estejam vinculados  à  garantia  do  crédito  ou  quando  sejam  objecto  do  acto  praticado em juízo do credor, que este tenha impugnado (art. 818º CC). A afectação dos bens de terceiro àquela garantia verifica-se por seu turno, em duas situações: a constituição de uma garantia real sobre esses bens (arts. 657º/2, 666º/1 e 686º/1 CC) e a prestação de fiança (art. 627º/1 CC) caso em que o fiador responde com o seu património pela satisfação do crédito exequendo

a)    Penhorabilidade irrestritaSe a divida exequenda estiver assegurada por bens de um terceiro onerado 

com  uma  garantia  real,  aquele  pode  ser  demandado  na  acção  executiva (art.  56º/2  CPC).  A  demanda  do  terceiro  permite  a  penhora,  sem  quaisquer restrições, desses mesmos bens.

A impugnação pauliana é o meio de impugnação dos credores contra actos de natu-reza não pessoal do devedor que afectem a garantia patrimonial. A sua finalidade  é  a  de  assegurar  a  conservação  da  garantia  patrimonial  através  da impugnação de qualquer alienatário  in fraudem creditorun  e o seu  fundamento último é o próprio direito de execução (art. 817º CC).

A  impugnação  pauliana  pode  recair  sobre  quaisquer  actos  praticados  pelo devedor, desde que não tenham carácter pessoal.

A  procedência  da  acção  pauliana  depende  da  verificação  das  condições estabelecidas nos arts. 610º e 612º/1 CC.

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b)    Penhorabilidade subsidiáriaPode ser objectiva ou subjectiva: é objectiva quando se verifica entre bens ou 

direi-tos do mesmo sujeito; é subjectiva quando se verifica entre bens ou direitos pertencentes a sujeitos distintos.

A  penhorabilidade  subsidiária  subjectiva  pressupõe  um  devedor  principal e  um  de-vedor  subsidiário  e  implica  que  os  bens  deste  último  só  podem ser  executados  na  falta  ou  insuficiência  de  bens  do  devedor  principal.  Esta penhorabilidade assenta, em concre-to, nas seguintes regras:

a)      O  exequente  só  pode  promover a penhora de bens que respondem subsidiariamente pela dívida  se demonstrar a  insuficiência manifesta que por ela deviam responder prioritariamente (art. 828º/5 CPC);

b)     Na execução movida contra o devedor subsidiário não podem penhorar-se  os  bens  deste,  enquanto  não  estiverem executidos  todos  os  bens  do devedor  princi-pal,  desde  que  aquele  invoque fundadamente o beneficio da excussão previa (art. 828º/1 CPC).

  67.        Limites temporais

a)      Bens actuais:  a  penhora  recai,  salvo  havendo  alguma  causa  de impenhorabilida-de,  sobre  todos  os  bens  que  integram  o  património  do executado no momento em que a penhora é ordenada. A generalidade das penhoras incide sobre estes bens.

b)      Bens passados:  a  penhora  pode  incidir  sobre  bens  que,  embora  já tivessem deixa-do de pertencer ao património do devedor, respondem pela divida: é a caso por ex., do imóvel hipotecado que o devedor transmitiu a um terceiro; este adquirente pode ser demandado na acção executiva (art. 56º/2 CPC) e o imóvel pode se pe-nhorado nela.

c)      Bens futuros:  sobre  bens  que  no  momento  em  que  a  penhora  é ordenada  ainda  não  pertencem  ao  executado  (art.  211º  CC).  É  o  que sucede quando se penhoram salários ou vencimentos do executado (arts. 824º/1-a, 861º/1 CPC).

     B)  

  Função da penhora

   

Função individualizadora  

68.        Generalidades

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A penhora não incide globalmente sobre bens ou direitos do executado, mas sobre bens ou direitos determinados desta parte a nomeação de bens à penhora pelo  executa-do  ou  exequente  deve  incidir  sobre  certos  bens  ou  direitos  (art. 833º/1 CPC), não podendo recair indistintamente sobre o património do devedor ou de uma fracção deste. Isto significa que a penhora se destina a individualizar os bens ou direitos que vão res-ponder pelo pagamento da dívida.

  69.        Execução ordinária

a)       Nomeação pelo executadoNa  execução  ordinária  para  pagamento  de  quantia  certa,  a  nomeação 

à  penhora  dos  bens  e  direitos  pertence  em  regra  ao  executado,  que  tem a  faculdade  do  nomear,  por  re-querimento  ou  termo,  aqueles  que  sejam suficientes para o pagamento do crédito exe-quente e das custas da execução (arts.  833º/1  e  837º/2,  1ª  parte  CPC).  Nesta  execução,  o  prazo  concedido  ao executado para proceder a essa nomeação é de vinte dias após a sua citação (art. 811º/1 CPC).

b)       Nomeação pelo exequenteA  faculdade  de  nomeação  do  bens  devolve-se  ao  exequente  quando  o 

executado não os nomeie e dentro do prazo  legal  (art. 836º/1-a CPC), quando esta parte não respeite a gradus executionis, não apresente os títulos dos bens imóveis ou não indique a sua pro-veniência (art. 836º/1-b CPC) e ainda quando não sejam encontrados alguns dos bens nomeados pelo executado (art. 836º/1-c CPC).

O  direito  do  exequente  a  nomear  bens  à  penhora  não  está  sujeito  a qualquer  prazo  (art.  874º/1  CPC),  mas  ele  não  deve  demorar  mais  de  seis meses  a  requerer  essa  nomeação.  Independentemente  do  levantamento  de penhora  decretada  pelo  tribunal  por  inér-cia  do  exequente  (art.  847º/1  CPC), a  inactividade  dessa  parte  pode  ainda  originar  a  in-terrupção  da  instância executiva (art. 285º CPC) e, posteriormente, a sua extinção por deserção (arts. 287º-c; 291º CPC).

  70.        Execução sumária

Na execução sumária para pagamento de quantia certa (art. 465º/2 CPC, art. 1º  DL  274/97),  o  direito  de  nomear  bens  à  penhora  pertence  exclusivamente ao  exequente,  que  as  deve  nomear  no  requerimento  executivo,  salvo  se necessitar, para tal fim, da colabo-ração do tribunal (art. 924º - art. 837º-A CPC), se  a  decisão  executada  ainda  não  tiver  transitado  em  julgado —  ou  seja,  se o  titulo  executivo  for  uma  sentença  contra  a  qual  foi  interposto  recurso  com efeito  meramente  devolutivo  (art.  470º/1  CPC)  o  executado  pode  requerer  a substituição  dos  bens  penhorados  por  outros  de  valor  suficiente  (art.  926º/2 CPC).

  71.        Dispensa de nomeação

a)     Garantia RealSe  a  divida  estiver  assegurada  par  uma  garantia  real  quo  onere  bens 

pertencentes  ao  devedor,  a  penhora  começa,  independentemente  do  qualquer 

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nomeação, pelos bens one-rados e só pode recair noutros quando se reconheça a sua insuficiência para satisfazer o crédito exequente (art. 835º CPC).

b)     ArrestoÉ o meio conservatório da garantia patrimonial do credor (art. 619º/1 CC; art. 

406º CPC), que só através da sua conversão em penhora (art. 846º CPC) atribui ao exequente o direito de preferência sobre os outros credores do arresto (arts. 622º/2,  82º  CC).  Isso  não  impede,  todavia,  a  aplicação  dos  bens  arrestados do disposto do art. 835º CPC, que ao referir-se à garantia  real, está realmente a  aludir  a  qualquer  situação  que  pode  atribuir  uma  preferência  do  credor exequente sobre o produto da venda dos bens.

  72.        Segunda penhora

Os bens ou direitos penhorados podem voltar a ser penhorados numa outra acção  executiva  (art.  871º  CPC).  O  exequente  da  acção  onde  é  ordenada  a segunda penhora pode ser o mesmo da execução onde é efectuada a primeira, mas  a  segunda  penhora  dos mesmos  bens  ou  direitos  deve  referir-se  a  uma divida  distinta,  pois  que  só  nessa  hipótese  aquela  admissibilidade  não  colide com o regime da excepção de litispendência (arts. 497º 498º, e 494º-i CPC).

  Função conservatória

  73.        Generalidades

Além de determinar os bens ou direitos que correspondem pelo cumprimento da  obrigação,  a  penhora  também  realiza  uma  função  conservatória.  Como esses  bens  ou  direitos  se  destinam  a  ser  vendidos  ou  adjudicados  ou  a  ser exercidos ou cumpridos a  favor da execução, a penhora deve assegurar a sua subsistência  até  essa  venda,  adjudi-cação,  exercício  ou  cumprimento:  é nisto que consiste a função conservatória.

  74.        Conservação material

1)       BensOs  imóveis  penhorados  são  entregues  a  um  depositário  (art.  838º/3,  1ª 

parte  CPC).  Os  bens móveis  penhorados  são  apreendidos  e  entregues  a  um depositário,  salvo  se  pu-derem ser  removidos,  sem prejuízo,  para  a  secretaria judicial ou para qualquer depósito público  (art. 848º/1 CPC); o dinheiro, papéis de  crédito  e metais  preciosos  são  deposita-dos  à  ordem  do  tribunal  na Caixa Geral de Depósitos (arts. 848º/3 e 857º/1, 3 e 4 CPC).

2)       CréditosRelativamente  aos  créditos  penhorados,  não  pode  haver  qualquer  acto  de 

apreensão, mas  logo  que  a  divida  se  vença,  o  terceiro  devedor  é  abrigado  a depositar  a  respectiva  importância  na  Caixa  Geral  do  Depósitos  (art.  860º/1 CPC) ou, se o crédito já estiver vencido ou adjudicado, a realizar a prestação ao respectivo adquirente (art. 860º/2 CPC).

  75.        Conservação jurídica

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Durante a pendência de uma acção declarativa, é admissível a  transmissão, por qual-quer das partes, da coisa ou direito  litigioso: esta circunstância opera uma  transformação  na  legitimidade  do  transmitente  ou  cedente —  que  passa a  actuar  como  substituto  proces-sual  do  adquirente  ou  cessionária  (art.  271º/1 CPC) — e permite a habilitação deste ulti-mo na acção pendente (arts. 271º/1  e  376º  CPC).  Quer  isto  dizer  que,  na  acção  declara-tiva,  não  há  qualquer obstáculo à transmissão ou cessão da res litgiosa, a qual só impli-ca a alteração da legitimidade processual do transmitente ou cedente e a eventual inter-venção na acção do adquirente ou cessionário.

Segundo a disposto no art. 819º CC, são ineficazes em relação ao exequente os  actos  de  disposição  ou  oneração  dos  bens  penhorados,  e,  de  acordo  com o  estabelecido  no  art.  820º  CC,  é  igualmente  ineficaz  a  extinção  do  crédito penhorada  por  causa  dependente  da  vontade  do  executado  ou  do  terceiro devedor.

Esta  inoponibilidade  relativa  pode  mesmo  atingir  actos  realizados  antes  da penhora.  É  o  que  sucede  quanto  A  liberação  ou  cessão,  efectuada  antes  da penhora de rendas e alugueres respeitantes a períodos de tempo posteriores a esta (art. 821º CC).

A  inoponibilidade relativa  dos  actos  praticados  pelo  executado  sobre os  bens  penhorados  justifica-se  apenas  na  exacta  medida  em  que  ela  seja necessária à prossecução dos  fins da execução,  isto é, à satisfação do crédito do  exequente.  Desta  verificação  resul-ta  uma  consequência  importante:  a inoponibilidade dos actos de disposição ou oneração praticados pelo executado só  vale  quanta  aos  efeitos  incompatíveis  com  a  realização  do  interesse  do exequente e não se estende a outros efeitos que não contendem com a satis-fação desse interesse.

A  inoponibilidade  relativa  dos  actos  de  disposição  ou  oneração  de  bens penhorados  que  foram  realizados  pelo  executado  restringem-se  ao  âmbito  da responsabilidade pa-trimonial desta parte e só legítima o exequente a manter a penhora sobre esses bens.

A  oponibilidade  à  execução  dos  actos  praticados  pelo  executado  não  se coloca  quan-to  àqueles  que  podem  beneficiar  o  exequente  ou  os  credores reclamantes.  O  art.  856º/5  CPC,  permite  expressamente  que  o  executado pratique  os  actos  que  se  afigurem  neces-sários  à  conservação  do  crédito penhorado.

  Função de garantia

  76.        Regra da prioridade

O  património  do  devedor  responde  pelo  cumprimento  das  suas  obrigações (art. 601º CC), mas certos credores possuem causas legítimas de preferência na satisfação dos seus créditos.

A penhora não é um direito real de garantia, mas é fonte de uma preferência sobre o produto da venda dos bens penhorados, dado que o exequente adquire por ela o direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (art. 822º/1 CC).

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O art. 822º/1 CC, utiliza, na hierarquização dos vários credores concorrentes, um princípio do prioridade ou da preferência: a penhora prevalece quer sobre as garantias reais posteriores, quer sobre a segunda penhora.

  77.        Aferição da prioridade

A penhora prevalece sobre as garantias reais posteriores e sobre a segunda penhora dos mesmos bens (art. 822º/1 CPC). A prioridade da penhora assenta num  critério  tem-poral.  Para  determinar  a  data  da  penhora,  há  que  distinguir entre aquela que está sujeita a registo e aquela que deve ser registada.

Se a penhora deve ser registada,  a  sua  eficácia  em  relação  a  terceiros coincide  com  a  data  desse  registo  (arts.  838º/4,  1ª  parte,  855º  e  863º  CPC). Assim,  a  penhora  registada  prevalece  sobre  as  garantias  reais  com  registo posterior  e  é  considerada  como  segunda  penhora  aquela  que  for  registada depois da primeira (art. 871º/1 fine CPC).

Se  a  penhora  resultar  da  conversão  do  arresto  (art.  846º  CPC),  a  sua anterioridade  reporta-se à data do arresto  (art. 822º/2 CC). Se o arresto  recair sobre bens imóveis ou sobre bens móveis sujeitos a registo e, por isso, deve ser registado, a retroactividade da penhora depende desse registo.    C)  

  Efectivação da penhora

  Penhora de bens

  78.        Generalidades

A  lei  distingue  entre  a  penhora  de  bens imóveis  (arts.  838º  a  847º  CPC), de bens móveis  (arts. 848º a 855º CPC) e de direitos  (arts. 856º a 863º CPC). Pretende-se  definir  não  tanto  o  objecto  da  penhora,  como  o  modo  da  sua efectivação,  ou  seja,  o  procedi-mento  subsequente  à  nomeação  dos  bens  ou direitos.

  79.        Bens imóveis

Após  a  apresentação  do  requerimento  de  nomeação  de  bens  à  penhora pelo  executado  ou  pelo  exequente  ou  a  nomeação  por  termo  realizada  pelo executado (arts. 837º/1, 924º CPC), a penhora dos bens imóveis é ordenada por despacho do tribunal (art. 838º/1 1ª parte CPC). É também por despacho que é determinada a penhora dos bens do devedor onerados com uma garantia  real (art. 835º CPC) e convertido a arresto em penhora (art. 846º CPC).

O despacho que ordena a penhora deve ser notificado ao executado e esta notificação  deve  ser  acompanhada  de  cópia  do  requerimento  de  nomeação 

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de  bens  à  penhora  (art.  838º/1,  2ª  parte  CPC),  embora  apenas  quando  o requerimento não tenha sido apre-sentado por esta parte.

A penhora de imóveis é feita mediante termo no processo pelo qual os bens se  con-sideram  entregues  ao  depositário  (art.  838º/3,  1ª  parte CPC). O  termo é  assinado  pelo  depositário,  devendo  identificar  o  exequente  e  o  executado  e indicar todos os elementos necessários para a efectivação do registo (art. 838º/3, 2ª parte CPC).

A penhora de bens imóveis deve ser registada (art. 838º/4, 1ª parte CPC).Ao processo deve ser junto o certificado de registo e a certidão dos ónus que 

incidam  sobre  os  bens  abrangidos  pela  penhora  (art.  838º/4,  2ª  parte  CPC). Esta junção des-tina-se a citação dos credores com garantia real sobre os bens penhorados  (art. 864º/1-b CPC), para que estes possam reclamar o  respectivo crédito na execução (art. 865º/1 CPC).

  80.        Bens móveis

A  esta  é  subsidiariamente  aplicável  o  regime  definido  para  a  penhora  de imóveis (art. 855º CPC).

A penhora dos bens móveis cuja nomeação foi  requerida pelo executado ou pelo exequente ou  realizada através de  termo do executado  (art.  837º/2 CPC) é ordenada por despacho do Tribunal, em termos  idênticos àqueles que valem para os bens imóveis (arts. 838º/1 e 855º CPC).

  Penhora de direitos

  81.        Direitos de crédito

A  penhora  de  direitos  —  e  de  créditos  –  é  subsidiariamente  aplicável  o disposto para a penhora do imóveis e móveis (art. 863º CPC).

A penhora do um crédito do executado sobre um terceiro efectiva-se através da  sua  colocação  à  ordem  do  tribunal  (arts.  856º/1  e  861º/1  CPC).  Além  do executado, à assim que considerar o devedor desta parte,  isto é, o devedor ou terceiro devedor.

A penhora do crédito visa adstringi-lo a uma execução e é utilizada porque o terceiro não pode ser demandado na execução. Na verdade, não constando este devedor do titulo executivo, ele não possui, segundo a regra geral,  legitimidade para  assumir  a  posição  do  executado  (art.  550º/1  CPC),  a  que,  entre  outras razões, impossibilita que a credor exequente se possa sub-rogar ao seu devedor e exercer contra o terceiro o direito de crédito deste devedor.

A  penhora  de  crédito  incide  normalmente  sobre  créditos  respeitantes  a prestações pecuniárias  ou  a  entrega de  coisas  (art.  860º/1 CPC).  Também se pode  admitir  a  penhora  de  créditos  relativos  a  uma  prestação  de facere,  pelo menos quando seja respeitante a um facto fungível.

A  penhora  do  crédito  abrange  os  juros  vencidos  depois  da  penhora,  desde que  não  sejam  expressamente  excluídos  e  sobre  eles  não  recai  qualquer garantia (art. 842º/1. aplicável ex vi do art. 863º CPC).

O  terceiro  notificado  deve  declarar  se  o  crédito  existe,  quais  as  garantias que  a  acompanham,  em que  data  se  vence  e  quaisquer  outras  circunstâncias 

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que  possam  inte-ressar  à  execução  (art.  856º/2,  1ª  parte  CPC).  Se  essas declarações  não  puderem  ser  feitas  no  acto  da  notificação,  elas  deverão  ser prestadas posteriormente por meio de termo ou simples requerimento (art. 856º/2, 2ª parte CPC).

O terceiro devedor não se pode opor à penhora invocando a sua ilegalidade, isto  é,  alegando  por  ex.,  que  se  encontram  excedidos  os  2/3  do  salário  do executado (art. 824º/1-a CPC).

Mas  o  terceiro  devedor  pode  opor-se  à  penhora  com  fundamento  na preterição  de  uma  formalidade  essencial,  como  por  ex.,  a  falta  de  notificação da  penhora  (art.  856º/1  e  860º/1  CPC).  Essa  omissão  constitui  uma  nulidade processual  (art.  201º/1 CPC)  e  º  ter-ceira  devedor,  porque  é  o  interessado  na observância da formalidade, tem legitimidade para arguir (art. 203º/1 CPC).

Se  o  crédito  penhorado  estiver  garantido  por  penhor  —  quer  dizer,  se  o terceiro  deve-dor  tiver  constituído  um  penhor  a  favor  do  credor  executado — procede-se à apreensão do seu objecto ou faz-se a transferência do direito para a execução (art. 856º/6 CPC). Este regime decorre da circunstância do penhor poder recair sobre coisa móvel ou sobre créditos ou outros direitos (art. 666º/1 CC). Assim, se a penhor incidir sobre coisa móvel, esta deve ser apreendida, se ele recair sobre direitos (art. 680º CC), estes são transfe-ridos para a execução.

  82.        Outros direitos

Além da penhora de créditos e de abonos ou vencimentos (arts. 856º e 861º/1 CPC) a lei prevê a penhora de títulos de crédito (art. 857º CPC), de direitos ou expectativas de aquisição (art. 860º-A CPC), de depósitos bancários (arts. 861º/2 e 861º-A CPC), de di-reitos o bens indivisos (art. 862º/1 a 4 CPC), de direitos sociais (art. 862º/5 CPC) e de estabelecimento comercial (art. 862º-A CPC). Este enunciado demonstra que se procura definir  não  tanto o objecto da execução, como  modo  da  sua  efectivação.  É  isso  que  jus-tifica  a  autonomização  da penhora de direitos e bens indivisos (art. 862º/1 a 4 CPC) e do estabelecimento comercial (art. 862º-A CPC) perante a penhora de bens (arts. 838º a 855º CPC), embora naquelas seja atingido o mesmo direito de propriedade (ou outro direito real) que é afectado nesta última.   D)  

  Impugnação da penhora

  Violação dos limites objectivos

  83.        Generalidades

Se a penhora excede as seus limites objectivos — isto é, se incidir sobre bens ou  di-reitos  que,  embora  pertencentes  ao  executado,  não  deviam  responder 

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pela divida — os possíveis meios de reacção contra essa penhora  ilegal são a impugnação  do  despacho  ordenatório  da  penhora,  a  incidente  de  oposição  à penhora e o requerimento avulso do exequente.

  84.        Impugnação do despacho

A  penhora  é  ordenada  por  despacho  (arts.  838º/1,  1ª  parte,  também,  arts. 845º;  846º;  85º  o  863º  CPC)  que,  como  qualquer  decisão  judicial,  pode  ser impugnada  com  funda-mento  na  sua  ilegalidade.  As  formas de impugnação deste  despacho,  são  o  recurso or-dinário  (art.  676º/1  CPC),  e  quando  a  lei  o preveja expressamente a reclamação.

a)     AgravoO  recurso  ordinário  é  o  meio  geral  de  impugnação  de  qualquer  decisão 

judicial  (art.  678º/1  CPC).  O  despacho  que  ordena  a  penhora  pode  ser impugnado mediante  agravo  em primeira  instância  (art.  733º CPC),  dado  que, como  não  pode  ser  considerado  uma  decisão  sobre  o  mérito,  dele  não  pode apelar-se  (art.  691º/1 CPC). Na  entanto,  a  admissibilidade  desse  recurso  está dependente, em princípio do valor dos bens penhorados:

Em regra, ele só é admissível se 0550 valor exceder a alçada do tribunal de primeira instância (art. 678º/1 CPC). Mas esse valor é irrelevante se o despacho ordenatório  ofender  o  caso  julgado  (art.  678º/2  CPC)  ou  a  jurisprudência uniformizada (art. 678º/6 CPC).

b)     ReclamaçãoA  violação  dos  limites  objectivos  da  penhora  pode  recorrer  do  não 

conhecimento  pelo  tribunal  de  uma  questão  relevante  para  aferir  a penhorabilidade do bem ou do di-reito. Esta omissão de pronúncia determina a nulidade do despacho ordenatório (arts. 668º/1-d, 1ª parte, 666º/3 CC). Se esta decisão  não  admitir  recurso  ordenatório,  aquela  nulidade  pode  ser  invocada através da reclamação apresentada perante o tribunal de execução (arts. 668º/3 e 666º/3 CPC), caso em que este tribunal pode suprir a nulidade invocada (arts. 668º/4 e 666º/3 CPC).

A  legitimidade  para  reclamar  deve  ser  aferida  pelo  disposto  no  art.  680º/1  CPC,  a  que  significa  que  só  pode  reclamar  quem  tiver  ficado  vencido  pela decisão.

  85.        Incidente de oposição

O  executado  pode  opor-se  à  penhora  em  incidente  deduzido  na  própria execução, quando não tenham sido respeitados os limites objectivos (arts. 863º-A  e  863º-B11[10]  CPC). O  incidente  só  pode  ser  deduzido  se  nele  puderem  ser suscitadas questões que não hajam sido expressamente apreciadas e decididas no  despacho  que  ordenou  a  pe-nhora  (art.  863º-A  CPC).  Se  a  executado pretender discutir questões julgadas naquele despacho, deve interpor — quando admissível — o respectivo recurso de agravo (art. 733º CPC).

  86.        Requerimento do exequente

 

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A impugnação do despacho ordenatório da penhora através do agravo ou da reclamação não pode ser utilizada para invocar factos novos, ou seja, factos que o  tribunal não podia  ter considerado, e o  incidente de oposição à penhora não pode ser usada pelo exequente.

Fundamento  desta  oposição  pode  ser  quer,  por  interpretação  extensiva do  art.  836º/1-a  CPC,  a  nomeação  pelo  executado  de  bens  impenhoráveis, quer  segundo  o  esta-belecido  no  art.  836º/1-h  CPC,  o  desrespeito  do  gradus executionis pelo executado.

Aplicam-se as regras constantes nos arts. 303º e 304º CPC.  

Violação dos limites subjectivos  

87.        GeneralidadesOs  limites  subjectivos  da  penhora  são  violados  se  forem  penhoradas  bens 

ou  direitos  que  não  são  do  executado.  Os  meios  de  oposição  à  penhora subjectivamente  ilegal  são  o  protesto  imediato,  a  impugnação  do  despacho ordenatório da penhora, os embargos de terceiro e a acção de reivindicação.

  88.        Protesto imediato

No  acto  da  realização  da  penhora  pelo  fundamento  pode  a  executada  ou alguém em seu nome declarar que os bens visados pela diligência pertencem a um terceiro ou que eles não lhe pertencem exclusivamente (arts. 832º/1 CPC).

Cabe recurso de agravo (art. 733º CPC), que pode ser interposto pelo terceiro (art. 680º/2 CPC).

  89.        Impugnação do despacho

O  terceiro  que  é  titular  do  bem  penhorado  pode  recorrer  do  despacho ordenatório  da  penhora  (art.  838º/1,  1ª  parte CPC,  vide  também arts.  8350º  e 846º CPC), porque é directa e efectivamente prejudicado com essa decisão (art. 680º/2 CPC).

O recurso admissível é o agravo (art. 733º CPC).  

90.        Embargos de terceiroOs  embargos  de  terceiro  são  um  meio  de  reacção  contra  um  acto 

judicialmente  orde-nado  de  apreensão  ou  entrega  de  bens  (art.  351º/1  CPC). Como a penhora é ordenada pelo  tribunal  (arts. 838º/1, 835º, 846º, 863º CPC) e  em  regra,  implica  a  apreensão  dos  bens  penhoradas  (arts.  838º/3,  848º/1, 856º  e  857º/1 CPC),  os  embargos  de  terceiro  são  um dos meios  de  aposição à  penhora. O  terceiro  pode opor-se  à  penhora,  quer  depois  da  sua  realização (art. 353º/2 CPC), quer, independentemente do protesto imediato, antes da sua efectivação (art. 359º/1 CPC): no primeiro caso, os embargos têm uma finalidade repressiva; no segundo, uma final idade preventiva.

Os  embargos  de  terceiro  fundamentam-se  numa  posse  ou  num  direito incompatível  do  terceiro  sobre  o  bem  penhorado  (art.  351º/1  CPC)  e  visam impugnar  a  legalidade  da  penhora  e  obter  o  seu  levantamento.  Os  embargos repressivos  podem  assumir  acessoriamente  uma  função  cautelar,  pois  que 

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o  embargante  pode  requerer  a  restituição  provisória  da  posse  dos  bens penhorados (art. 356º CPC).

A admissibilidade dos embargos de terceiro é independentemente da validade ou nulidade da penhora.

Os  embargos  de  terceiro  fundamentam-se  numa  posse  ou  num  direito  que é  incompatível  com  a  realização  ou  o  âmbito  da  penhora  (art.  351º/1  CPC). Assim, em termos analíticos, esses embargos podem ser deduzidos com um dos seguintes fundamentos:

a)      Posse  de  um  terceiro  sobre  os  bens  penhorados,  ainda  que  ela  não exclua a propriedade do executado sobre eles;

b)     O direito de um terceiro sobre os bens penhorados que é  incompatível com o direito do executado em que se baseia a penhora.

  91.        Acção de revindicação

Também pode ser usada como meio de oposição de um terceiro à penhora. O fun-damento desta acção pode ser a propriedade do terceiro (art. 1311º CC) ou o direito real desse sujeito sobre o bem penhorado (art. 1315º CC).

A  legitimidade  activa  afere-se  nos  termos  gerais  (art.  26º/1 CPC),  incluindo as  possíveis  situações  de  substituição  processual  (art.  1405º/2 CC). Deve  ser proposta contra o exequente e o executado: trata-se de litisconsórcio necessário natural (art. 28º/2 CPC).

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12[10] Vide também arts. 303º e 304º CPC.

 

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Execução da garantia patrimonial  A)Participação dos interessados  B)Satisfação de créditos  C)Extinção dos créditos e da execução    A)  

  Participação dos interessados

  Citação do cônjuge do executado

   

92.        Citação requeridaSe  uma  execução  instaurada  contra  um  dos  cônjuges  para  pagamento  de 

uma  divida  própria,  forem  penhorados  bens  comuns,  deve  o  exequente  ao nomeá-los à penhora, pedir a citação do cônjuge do executado, para que este requeira a separação de bens (art. 825º/1 CPC). Se o pedido do exequente for atendido, o tribunal deve ordenar a citação do cônjuge do executado (art. 864º/1-a, 2ª parte CPC).

O  cônjuge  que  é  citado  para  requerer  a  separação  de  bens  não  se  torna parte na execução pendente. Ele é citado apenas para  requerer, em processo autónomo,  a  separação  de  bens  (art.  825º/1  CPC),  sob  pena  de  a  execução continuar sobre os bens penhoradas (art. 825º/2 in fine CPC).

  93.        Citação oficiosa

Se  o  citado  for  casado  e  a  penhora  tiver  recaído  sobre  bens  imóveis  que ele  não  pos-sa  alienar  livremente,  deve  proceder-se  à  citação  do  seu  cônjuge (art.  864º/1-a,  1ª  parte CPC).  Salvo  se  entre  os  cônjuges  vigorar  o  regime  de 

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separação de bens, o cônjuge exe-cutado não pode alienar, por si só, os imóveis próprios ou comuns (art. 1682º-A/1-a CC).

O cônjuge  executado,  que  é  citado  com  fundamento  na  indisponibilidade dos  bens  penhoradas  pelo  cônjuge  executado  (art.  864º/1-a,  1ª  parte  CPC), assume  a  posição  de  parte  processual  na  execução  pendente.  É  isso  que justifica que ele possa deduzir oposição à penhora (art. 863º-A CPC) e exercer nas  fases  posteriores  à  sua  citação,  todos  os  direitos  que  são  conferidos  ao executado  (art. 864º-B CPC), embora se deva entender que esses poderes se restringem à actuação relativa ao bem que justifica a sua citação.

  94.        Falta de citação

A  falta  de  citação  do  cônjuge  do  executado  tem  a  mesmo  efeito  da  falta do  citação  do  réu  (art.  864º/3,1ª  parte  CPC),  ou  seja,  produz  os  efeitos correspondentes  àqueles  que  o  art.  194º  CPC,  estabelece  para  a  falta  de citação do demandado. Do disposto no art. 194º CPC resulta, adaptando a sua estatuição à situação que é nulo tudo o que na execução pendente se processe, depois do momento em que essa citação deveria ter sido ordenada.

Esta  nulidade  deve  reportar-se  apenas  aos  actos  relativos  aos  bens  cuja penhora jus-tifica a citação do cônjuge.

  Intervenção dos credores do executado

 95.        Necessidade de intervenção

Permite-se  somente  a  intervenção  dos  credores  que  sejam  titulares  de  um direito  real  de  garantia  sobre  os  bens  penhorados  e  do  exequente  que  tenha obtido  uma  segunda  penhora  sobre  esses  bens  numa  outra  execução  (arts. 864º/1-b, 8650º/1 e 871º/1 CPC). Os credores reclamantes só podem ser pagos pelos bens que tenham garantia e conforme a graduação dos seus créditos (art. 873º/2 CPC).

A  justificação  da  intervenção  na  execução  pendente  dos  credores  que  são titulares de garantias  reais sobre os bens penhorados encontra-se na extinção destas garantias através da venda executiva  (art.  824º/2 CC). Por essa  razão, é  indispensável permitir que os respectivos credores possam reclamar os seus créditos na execução pendente.

A  venda  executiva  dos  bens  penhorados  extingue  a  garantia  real  e  a respectiva direi-to  de  sequela  (art.  824º/2 CC),  peio que o  seu  titular  deixa do poder exercer este direito contra o adquirente dos bens naquela venda.

  96.        Dispensa de intervenção

a)       Dispensa sistemáticaQuando  o  credor  exequente  obtém  a  satisfação  do  seu  crédito  sem 

necessidade de se proceder à venda dos bens penhorados, a  intervenção dos credores com garantias reais, não é necessária.

São três as situações nas quais o exequente pode obter a satisfação do seu crédito sem recorrer à venda dos bens penhorados:

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-         Quando tenha sido penhorada uma quantia em dinheiro ou em crédito que já tenha sitia paga pelo terceiro devedor, arts. 872º/1 e 874º CPC;

-          Quando  a  penhora  recaia  sobre  bens  imóveis,  ou  móveis  sujeitos  a registo  ou  sobre  títulos  de  crédito  nominativos  e  o  exequente  requeira  a consignação dos rendimentos daqueles bens, arts. 879º/1, 881º/4, 873º/1, 2ª parte CPC;

-          Quando  o  exequente  e  o  executado  tenham  acordado,  antes  da convocação  dos  credores,  no  pagamento  em  prestações  da  divida exequenda  e,  por  isso,  te-nham  provocado  a  suspensão  da  instância executiva antes daquela citação, art. 882º CPC.

b)       Dispensa legalO art.  20/1 DL 274/97, exclui  a  reclamação de créditos nas execuções cujo 

valor não exceda a alçada do tribunal de 1ª Instância em que a penhora recaia sobre  bens  imóveis  ou  direitos  que  não  tenham  sido  dotados  de  penhor,  com excepção do estabelecimento comercial.

c)        Dispensa judicialO  juiz  da  execução  pode  dispensar  a  convocação  dos  credores  quando  a 

penhora  in-cida  apenas  sobre  vencimentos,  abonos  ou  pensões  ou  quando, tendo sido penhorados bens imóveis não sujeitos a registo e de reduzido valor, não conste dos autos que sobre eles incidam direitos reais de garantia (art. 864º-A/1 CPC).

A  justificação da dispensa da reclamação de créditos é distinta em cada um destes casos.

  97.        Processo de reclamação13[11]

a)     Certidão de ónusSe a penhora dever ser registada (art. 838º/4, 1ª parte CPC), deve ser  junta 

à  execução  certidão  dos  direitos,  ónus  ou  encargos  que  incidam  sobre  bens penhorados (art. 838º/4, 2ª parte CPC). É por esta certidão que se verifica se há credores que, por possuírem garantias reais sobre os bens penhorados, podem reclamar  os  seus  créditos  na  exe-cução  pendente  e  que,  por  isso,  devem  ser citados (art. 864º/1-b CPC).

b)     Citação dos credoresPode ser pessoal ou edital  (arts. 233º/2 – 864º/1-b, n.º 2, 2ª parte, 864º/1-d, 

n.º 2, ª parte CPC).A  falta  de  citação  dos  credores  produz  as mesmas  consequências  da  falta 

de  citação  do  réu  (art.  864º/3,  1ª  parte  CPC).  Adaptando  a  consequência estabelecida  no  art.  194º-a CPC,  essa  falta  implica  a  anulação  de  tudo  o  que se tenha processado depois do momento em que aquela citação devia ter sido ordenada.

c)     Apenso de verificação e graduaçãoA  reclamação,  verificação  e  graduação  dos  créditos  realiza-se  numa  acção 

declarativa  de  carácter  incidental,  pois  que  todas  as  reclamações  que  forem deduzidas pelos vários credores são autuadas num único apenso ao processo de execução (art. 865º/4 CPC).

 

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Da  sentença  de  verificação  e  graduação  de  créditos  reclamados  cabe apelação  (art.  922º/1  CPC).  Este  regime  não  contém  qualquer  excepção:  a apelação é o recurso admissível da decisão sobre o mérito proferido em primeira instância (art. 691º/1 CPC).

Se  no  despacho  saneador  tiverem  sido  reconhecidos  alguns  dos  créditos reclamados  (art.  868º/1,  2ª  parte CPC),  dele  cabe  igualmente  a  apelação  (art. 691º/1 CPC). Este re-curso só sobre a final (art. 695º/1 CPC).

  98.        Posição do interveniente

O  credor  reclamante  cujo  crédito  tenha  sido  admitida  (art.  866º/1  CPC) adquire a posição de parte na execução. No entanto, não assume a qualidade de  exequente,  porque,  como  só  pode  ser  paga  pelos  bens  sobre  que  tiver garantia  e  conforme  a  graduação  do  seu  crédito  (art.  873º/2  CPC),  não  pode nomear outros bens à penhora.

Na  execução  pendente,  o  credor  reclamante  assume  uma  posição simultaneamente  oposta  quer  ao  exequente  quer  ao  executado.  E  esta  dupla oposição que justifica que as reclamações de créditos possam ser  impugnadas pelo exequente e pelo executado (art. 866º/2 CPC).

14[11] Vide arts. 865º, 866º e 868º CPC.

B)  

Satisfação de créditos  

Dispensa de venda executiva  

99.        GeneralidadesA satisfação do crédito do exequente pode ser feito pela entrega de dinheiro, 

pela ad-judicação de bens penhorados, pela consignação dos seus rendimentos ou  pelo  produto  da  respectiva  venda  (art.  872º/1  CPC);  admite-se  ainda  o pagamento em prestações da divida exequenda  (art. 872º/2 CPC). Os créditos reclamados  podem  ser  satisfeitos  pela  entrega  de  dinheiro,  a  consignação  de rendimentos e o pagamento em prestações dispensam a  venda executiva dos bens penhoradas, ou seja, são obtidos sem a alienação desses bens.

  100.    Graduação de créditos

A  graduação  de  créditos  “não é global e unitário, mas fazer-se separadamente nas diversas espécies de bens”, dado que as preferências  têm de ser ordenadas “segundo a sua classe e a espécie de bens”.

Assim,  tem  de  ser  feita  uma  graduação  de  créditos  para  cada  espécie  de bens penhorados e vendidos (móveis e, imóveis) e para cada um desses bens, se sobre eles concorre créditos com diversas garantias.

 

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Em relação aos móveis, os créditos devem ser, em princípio, graduados pela seguinte ordem:

a)     Créditos por despesas de justiça feitas no interesse comum dos credores (arts. 738º/1 e 746º CC);

b)     Créditos graduados por penhor ou direito de retenção,  incidentes sobre os respectivos móveis (arts. 666º/1 e 2; 749º e 758º CC);

c)      Créditos  por  impostos  sobre  sucessões  e  doações  referentes  a transmissão de móveis, sobre as quais gozem de privilégio especial (arts. 738º/2, 747º/1-a, 750º CC);

d)      Créditos  por  impostos  directos  ou  indirectos  que  gozem  de  privilégio mobiliário geral, (art. 736º CC) bem como os créditos de IRS e IRC;

e)     Créditos por impostos das autarquias que gozem de privilégio mobiliário geral (arts. 736º, 747º/1-a CC; arts. 4º-a, 5º Lei 1/87), neles se incluindo os créditos pelo imposto sobre veículos;

f)       Créditos pelas contribuições do regime geral de previdência;g)      Créditos  particulares  com  privilégio  mobiliário  especial  pela  ordem 

indicada no art. 747º-b), c) d), e); arts. 739º e 742º CC, se se constituírem anteriormente ao registo das garantias indicadas e à data da penhora;

h)      Créditos  garantidos  por  hipoteca  ou  consignação  de  rendimentos incidente sobre imóveis sujeitos a registo (arts. 656º/1 e 86º CC);

i)       Crédito exequendo ou outros apenas garantidos pela penhora (art. 822º CC).

Em  relação  aos  imóveis  devem,  em  princípio  ser  graduados  pela  seguinte ordem:

a)     Créditos por despesas de justiça feitas no interesse comum dos credores (arts. 743º e 746º CC);

b)     Créditos pela SISA e imposto sobre sucessões e doações (arts. 744º/2, 748º-a CC), bem como pelo IRS e IRC;

c)     Créditos pela contribuição predial (arts. 744º/1 e 748º CC);d)      Créditos  por  contribuições  do  regime  geral  de  previdência,  quando 

os  imóveis  penhorados  existirem  no  património  do  executado  à  data  da instauração do processo executivo.

e)      Créditos  garantidos  por  consignação  de  rendimentos,  preferindo  o  do registo mais antigo (arts. 656º e 751º CC).

f)       Crédito exequendo ou outros apenas garantidos pela penhora (art. 822º CC).

 101.    Entrega do dinheiro

Consiste  na  satisfação  do  crédito  exequendo  ou  do  crédito  de  um  credor reclamante através da colocação à disposição do exequente ou deste credor de uma quantia monetária ou de um título de crédito dela representativa.

  102.    Consignação de rendimentos

Consiste  na  satisfação  do  crédito  através  dos  rendimentos  de  certos  bens (art. 656º/1 CC). Ela pode ser voluntária ou judicial (art. 658º/1 CC):

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a)     A voluntária é aquela que é constituída mediante negócio entre vivos ou por meio de testamento (art. 658º/2 CC15[12]).

b)     A judicial é a que resulta de uma decisão do tribunal (art. 658º/2 CC16[13]).  103.    Pagamento em prestações

Consiste  na  liquidação  da  obrigação  exequenda  através  de  pagamentos parcelares e periódicos.

É admissível, sempre que o exequente e o executado o solicitem ao tribunal em requerimento subscrito por ambos (art. 882º/1 e 2, 2ª parte CPC).

Na  falta  de  convenção  em  contrário,  vale  como  garantia  do  crédito exequendo,  até  integral  pagamento  deste,  a  penhora  ordenada  na  execução (art.  883º/1  CPC).  As  partes  podem  substituir  esta  garantia  ou  convencionar outras garantias adicionais (art. 883º/2 CPC).

  Necessidade da venda executiva

 104.    Generalidades

Quando a pagamento do credor exequente ou dos credores reclamantes não puder ser conseguido através da entrega de dinheiro, ou através da consignação de rendimen-tos ou do pagamento a prestações, há que proceder há venda dos bens penhorados. Esta alienação permite que o exequente ou qualquer credor graduado  obtenha  a  satisfação  do  seu  crédito  através  do  produto  da  venda desses bens ou da adjudicação deles (art. 872º/1 CPC).

  105.    Modalidades de venda

A  venda  de  bens  penhorados  pode  ser  judicial  ou  extrajudicial  (art.  886º/1  CPC).  A  venda judicial  é  realizada  perante  o  tribunal  e  é  feita  por  meio de  propostas  em  carta  fechada  (arts.  886º/2,  889º  a  901º  CPC).  A  venda extrajudicial é realizada fora do tribunal e pode revestir as formas de venda em bolsa  de  capitais  ou  do  mercadorias  (art.  886º/3-a,  902º  CPC),  venda  directa a  entidades  que  tenham  direito  a  adquirir  determinados  bens  (art.  886º/3-b  e 903º CPC), venda por negociação particular (arts. 886º/3-e, 904º e 905º CPC) e venda em estabelecimento de leilões (arts. 886º/3-d, 906º e 907º CPC).106.    Realização da venda

Ao  juiz da execução compete, depois de ouvidos o exequente, o executado e os credores com garantias sobre os bens a vender, determinar a modalidade de venda, relati-vamente a todos ou a cada categoria de bens penhorados (art. 886º-A/1-a  CPC),  o  valor  base  a  vender  (art.  886º-A/1-b  CPC)  e  a  eventual formação  de  lotes  dos  bens  penhora-dos  (art.  886º-A/1-c CPC).  A  escolha  da modalidade da venda deve orientar-se pela ne-cessidade de obter o maior preço possível dos bens a alienar.

 ([12] Arts. 835º, 864º/1-b, 865º/1 CPC.16[13] Arts. 879º/1, 881º/4 CPC.

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Das  decisões  sobre  a  fixação  do  valor  dos  bens  a  vender  nunca  cabe recurso  (art.  886º-A/5  CPC).  Trata-se  de  uma  hipótese  de  exclusão  legal  da recorribilidade.

  107.    Adjudicação de bens

É  a  aquisição  pelo  exequente  ou  por  um  credor  reclamante  dos  bens penhoradas com a finalidade de obter, por meio dela, a satisfação do respectivo crédito (art. 875º segs. CPC17[14]).

Atendendo  à  sua  finalidade  específica,  a  adjudicação  de  bens  pode  ser solutória ou aquisitiva. A distinção assenta na posição do crédito do adjudicatário —  que  pode  ser  o  exequente  ou  qualquer  credor  reclamante  (art.  875º/1  e  2 CPC) — em relação aos créditos dos demais credores do executado.

a)     Adjudicação solutóriaO  adjudicatário  que  não tem credores graduados antes dele  pode  receber 

os  bens  em  pagamento  do  seu  crédito  e  não  tem  que  pagar  à  execução  o preço  oferecido,  dado  que  nenhum  credor  tem  de  ser  pago  pelo  produto dessa  aquisição.  Neste  caso,  a  adjudicação  produz  um  efeito  translativo  da propriedade do bem e um correlativo efeito extensivo do crédito do adjudicatário. Esta adjudicação aproxima-se assim, de uma dação em cum-primento (art. 837º CC) e pode ser designada por adjudicação solutória.

b)     Adjudicação aquisitivaO adjudicatário que não tem credores graduados antes dele só pode receber 

os  bens  se  pagar  o  seu  preço,  dado  que  esta  quantia  é  necessária  para proceder  ao  pagamento  daqueles  credores.  Nesta  hipótese,  a  adjudicação também produz o efeito  translativo da propriedade dos bens adquiridos, mas o adjudicatário fica devedor do preço desses bens.

  108.    Exercício de preferências18[15]

A  venda  executiva  não  é  incompatível  com  os  direitos  de  preferência  que podem  ser  exercidos  na  aquisição  dos  bens  penhorados  o  cede  perante  um direito de preferência especial, que é o direito de remissão (art. 912º/1 CPC).

A  venda  executiva  não  afasta  o  exercido  dos  direitos  de  preferência  de terceiros  sobre  os  bens  penhorados.  No  entanto,  nem  todas  as  preferências são  reconhecidas  na  acção  executiva:  nesta  só  procedem  os  direitos  legais de  preferência  e  os  direitos  conven-cionais  de  preferência  que  sejam  dotados de eficácia  real  (art. 422º CC), pelo que não são reconhecidas as preferências meramente obrigacionais19[16]

Eficácia da venda executiva  109.    Efeitos da venda

A venda executiva produz os memos efeitos da venda realizada através de um negócio jurídico:  as  obrigações  de  entrega  da  coisa  e  de  pagar  o  preço (art. 879º-b), c) CC) e a  transmissão da propriedade da coisa (art. 879º-a CC). 

17[14] Vide arts. 824º a 826º CC.18[15] Art. 896º CC.19[16] Vide arts. 1380º/1, 1409º/1, 1555º/1, 2130º/1, 116º/1, 183º/5, 421 CC.

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Além daqueles efeitos obrigacionais e deste efeito translativo comum a qualquer venda,  a  venda  executiva  produz  ainda  outros  efeitos:  um  efeito  extintivo,  um efeito registral, um efeito repristinatório e um efeito sub-rogatório.

Segundo o art. 824º/2 CC, os bens alienados através da venda executiva são transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como os demais direitos  reais que não  tenham registo anterior ao do qualquer arresto, penhora ou garantia,  com Ex-cepção dos que,  constituídos em data anterior, produzam efeitos em relação a terceiros in-dependentemente do registo.

O  efeito  extintivo  dos  direitos  de  terceiros  provocado  pela  venda  executiva determina  que  a  inoponibilidade  relativa  dos  actos  de  disposição  ou  oneração dos  bens  penhorados  (art.  819º CC)  ou  de  extinção  do  crédito  penhorado por causa dependente da vontade do executado ou do seu devedor  (art. 820º CC) se transforma numa inoponibilidade absoluta.

Chama-se efeito repristinatório da venda executiva ao efeito que consiste no  renascimento  de  direito  que  se  tenham  anteriormente  extinguido  por confusão.

A  repristinação  do  direito  só  é  admissível  se  for  compatível  com  as  regras relativas  à  venda  executiva  (art.  724º/1  in fine  CC).  Isto  significa  que  só renascem os direitos que não hajam de se extinguir por força do regime do art. 824º/2 CC.

  110.    Invalidade da venda

A venda executiva pode ser inválida por motivos substanciais ou formais.A  invalidade substancial  respeita  aspectos  relacionados  com  a  vontade 

de  adquirir  o  bem ou  com a  titularidade  deste;  a  invalidade formal  decorre  de fundamentos processuais.

c)     Invalidade substancialA formação da vontade do adquirente na venda executiva pode ser afectada 

por coacção moral (art. 255º CC) ou por erro sobre os motivos (art. 252º/1 CC) ou sobre o objecto (art. 251º CC e art. 908º CPC).

O erro  sobre o objecto da  venda permite  que o  comprador  peça no próprio processo  de  execução  a  anulação  dessa  alienação  e  a  correspondente indemnização  (art.  908º/1  in fine  CPC),  excepto  se  a  anulabilidade  houver  do se  considerar  sanada  pelo  desaparecimento,  por  qualquer  modo,  do  ónus  ou limitação a que a bem adquirido estava sujeito (art. 908º/1 in fine CPC; art. 906º/1 CC). A anulação deve ser pedida no prazo de um ano após o conhecimento pelo comprador do ónus ou limitação que desvaloriza o bem (art. 287º/1 CC).

Não é devida a indemnização atribuída pelo art. 908º/ 1 CPC, ao comprador quando  a  venda  foi  anulada  oficiosamente  pelo  tribunal  com  fundamento  em nulidade processual.

d)     Invalidade formalA  venda  executiva  é  inválida  quando  for  anulada  ou  revogada  a  sentença 

que ser-viu de  título executivo ou  forem  julgados procedentes os embargos de execução, salvo se, sondo parcial a revogação ou a procedência, a subsistência da venda for compatível com a decisão tomada (art. 909º/1-a CPC).

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A venda executiva  também é  inválida  se  for  anulado o  acto  da  venda,  seja pela prática de um acto que a lei não admite, seja pela omissão de um acto ou de uma formalidade imposta por lei (art. 909º/1-c CPC).

Finalmente,  a  venda  executiva  é  inválida,  quando  toda  a  execução  for anulada  por  falta  ou  nulidade  da  citação  do  executado,  desde  que  ele  tenha permanecido  revel,  salvo  se,  a  partir  da  venda  tiver  decorrido  o  tempo necessário  para  a  usucapião  a  favor  do  adquirente  (arts.  909º/1-b;  921º/3 CPC). Esta invalidade da venda é uma consequência da regra segundo a qual, quando a um acto processual for anulado, são igualmente anula-dos os termos subsequentes que dele dependam absolutamente (art. 201º/2, 1ª parte CPC).

  111.    Ineficácia da venda

A  venda  executiva  torna-se  ineficaz  se,  posteriormente  a  ela,  for  julgada procedente qualquer acção de preferência ou  for decidida a  remissão de bens (art. 909º/2, 1ª parte CPC). Neste caso, o preferente ou a remidor substituem-se ao comprador, pagando o preço e as despesas de compra (art. 909º/2, 2ª parte CPC). O mesmo vale para a adjudicação de bens (art. 878º CPC).     

C)  Extinção dos créditos e da execução

 Extinção da obrigação exequenda

  112.    Pagamento voluntário

Em  qualquer  estado  do  processo  executivo  pode  o  executado  ou  um terceiro  fazer  cessar  a  execução  mediante  o  pagamento  das  custas  e  da divida  exequenda  (art.  916º/1,  1ª  parte  CPC);  se  já  tiverem  sido  vendidas  ou adjudicados  bens,  o  pagamento  voluntário  deve  abranger  ainda  os  créditos reclamados  para  serem  pagos  pelo  produto  desses  bens  (art.  917º/2  CPC). Ao  pagamento  voluntário  das  dívidas  do  executado  perante  o  exequente  e  os credores reclamantes e das custas do processo executivo chama-se remissão da execução.

 113.    Pagamento coercivo

O pagamento  coercivo  é  aquele  que  é  realizado  através  de meios  próprios da execução. Ele pode ser efectuado pela entrega de dinheiro depositado (arts. 872º/1, 874º e 861º-A CPC), pela adjudicação dos bens penhorados (arts. 872º/1 e 875º/2 CPC), pela consignação dos rendimentos desses bens (arts. 872º/1, 879º/1 e 881º/4 CPC), pelo produto de venda dos mesmos bens (arts. 872º/1 e 886º CPC) e ainda pelo pagamento em prestações (arts. 872º/2 o 882º/1 CPC).

A execução extingue-se logo que se mostre satisfeita a obrigação exequenda (art. 919º/1 CPC). Desta regra resultam duas consequências:

Page 60: executivo

a)      A  execução  não  se  extingue  enquanto  o  crédito  do  exequente  não  se mostrar satisfeito;

b)      A  execução  extingue-se  logo  que  a  obrigação  exequenda  se  mostre satisfeita, ainda que o não estejam os créditos reclamados.

Se o produto obtido com a venda dos bens penhorados exceder o montante necessário para pagar o crédito dos bens exequendo e os créditos reclamados, o montante que sobrar é restituído ao executado.

  Vicissitudes da obrigação executiva

 114.    Suspensão

A  instância  executiva  suspende-se  através  de  algumas  das  causas  gerais de suspensão da instância. É o caso do falecimento ou extinção de alguma das partes (arts. 276º, 277º e 284º/1-a CPC) e do falecimento do mandatário judicial numa execução em que o patrocínio seja obrigatório (arts. 276º/1-b, 278º e 284º/1-b CPC).

  115.    Interrupção

A  instância  executiva  interrompe-se  quando  o  processo  estiver  parado durante  mais  de  um  ano  por  negligência  das  partes  em  promover  os  seus termos ou os de algum  incidente do qual dependa o seu andamento  (art. 285º CPC).

  116.    Anulação

Se a execução correr à  revelia do executado —  isto é,  se o executado não praticar  qualquer  acto  na  execução  —  e  esta  parte  não  estiver  sido  citada quando o deva ser, ou houver fundamento para declarar nula a sua citação (arts. 195º, 197º e 198º CPC), pode o executado requer a todo o tempo, no processo de execução, que seja anulada (art. 921º/1 CPC).

O mesmo regime deve valer nos casos em que a executado, em vez de ser citado, deve ser notificado (art. 926º/1 e 4 CPC).

  117.    Extinção

A  instância  executiva  extingue-se  com  a  extinção  da  obrigação  exequenda por  remissão  da  execução,  por  pagamento  coercivo  ou  por  causa  extintiva (art.  919º/1  CPC).  Enquanto  não  se  verificar  o  pagamento  integral  do  crédito exequendo,  a  execução  não  pode  ser  julgada  extinta  e  o  exequente  pode nomear novos bens à penhora (art. 836º/2-a CPC).