9
Emergência 26 JUN/JUL / 2010 BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO Emergência 26 JUN/JUL / 2010 EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS Atualização e padronização de leis e normas são fundamentais para elevar a segurança contra incêndio no Brasil Atualização e padronização de leis e normas são fundamentais para elevar a segurança contra incêndio no Brasil

EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência26

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

JUN/JUL / 2010

BE

TO

SO

AR

ES

/ES

DIO

BO

OM

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

Emergência26 JUN/JUL / 2010

EXIGÊNCIASCONTRA INCÊNDIOSEXIGÊNCIASCONTRA INCÊNDIOSAtualização epadronização deleis e normas sãofundamentais paraelevar a segurançacontra incêndiono Brasil

Atualização epadronização deleis e normas sãofundamentais paraelevar a segurançacontra incêndiono Brasil

Page 2: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência 27JUN/JUL / 2010

Reportagem de Rafael Geyger

JUN/JUL / 2010

disposição uma série de regulamentos téc-nicos e, mesmo assim, enfrentar dúvidassobre que parâmetros utilizar? No Brasil,pode. Essa é realidade nacional da segu-rança contra incêndio, estabelecida por umasérie de códigos estaduais, regulamentosmunicipais, normas técnicas, norma regula-mentadora e instruções técnicas dos cor-pos de bombeiros.

Apesar da variedade de legislações, inves-tir em diferentes regiões do Brasil esbarrana falta de padronização dos critérios dedimensionamento e das tabelas de exigên-cias. Os conflitos entre os textos norma-tivos resultam na instalação de sistemas dis-tintos de proteção, como extintores, hidran-tes, sinalização e iluminação de emergên-cia, detecção e alarme de incêndio.

Assim, uma construtora poderá implan-tar projetos de segurança contra incêndiodiferentes em edificações similares, apesarde atender a legislações oficiais, o que é vistocomo inadmissível pelo engenheiro JoséCarlos Tomina, superintendente do CB-24(Comitê Brasileiro de Segurança contra In-cêndio), da ABNT (Associação Brasileirade Normas Técnicas). “O fogo é o mesmoem qualquer localidade”, enfatiza. “Por e-xemplo: se for aceito como correto que osshoppings centers devem ser protegidospor sistemas de chuveiros automáticos, tan-to faz se o empreendimento for construídono Sul ou no Norte do País, já que os seusocupantes estarão expostos aos mesmosriscos”, exemplifica.

Thiago Palácio John, capitão do CBMDF(Corpo de Bombeiros Militar do DistritoFederal), mestre e doutorando em Geren-ciamento de Incêndios e Emergências, re-força que a maioria das normas de prote-ção contra incêndio é baseada em fatos ci-entíficos e em experimentos, os quais de-vem ser válidos para qualquer estado oumunicípio. “A jurisdição, nesse caso, éirrelevante”, salienta.

Segundo o presidente da Ligabom (LigaNacional dos Corpos de Bombeiros) e co-mandante do CBMPE (Corpo de Bombei-ros Militar de Pernambuco), coronel CarlosEduardo Poças Amorim Casa Nova, há en-traves legais que prejudicam a padroniza-ção das exigências. Explica ele que, na áreade segurança contra incêndio, os estados,por meio dos corpos de bombeiros, têmautonomia de legislação e um regulamentofederal não pode impor o que eles devem

ode um empreendedor, ao instalarum sistema de proteção contra in-cêndio em uma edificação, ter a suaP seguir. Mesmo assim, um esboço do que

pode vir a ser o código nacional de prote-ção contra incêndio será, enfim, regulamen-tado. Talvez em 2010, ainda. “Vamos fazerum código com as condições básicas de se-gurança, mas cada estado terá suas diferen-ças”, adianta.

O código nacional é uma evolução natu-ral de um setor em constante aprimoramen-to. Na última década, mais estados estabe-leceram leis e normas de proteção contraincêndio, enquanto outros revisaram seusregulamentos técnicos. Há quem adote co-mo modelo o regulamento do estado deSão Paulo, considerado como um dos maiscompletos e exigentes do Brasil. O códigopaulista também utiliza normas técnicaselaboradas pelo CB-24/ABNT. O comitêpossui um conjunto de mais de 60 normasque definem critérios de requisitos e dimen-sionamento de itens de segurança contraincêndio.

Jorge Alexandre Alves, especialista emcombate a incêndios e emergências e dire-tor da Fire & Rescue College Brasil, desta-ca entre as normas brasileiras a NBR 15219(Plano de emergência contra incêndio), aNBR 14276 (Brigada de Emergências) e aNBR 14608 (Bombeiro Profissional Civil)como textos referência para o melhordimensionamento de recursos e prepara-ção para resposta a incêndios.

Historicamente, a evolução dos regula-mentos de proteção contra incêndio é moti-vada por tragédias. De grandes incêndiossaíram ideias de aperfeiçoamento dos crité-rios de segurança e, a partir deles, aumenta-ram as exigências e reduziram as ocorrências.

Marco Aurélio Rocha, técnico em emer-gência com materiais perigosos, bombeiroprofissional civil e especialista em incên-dio estrutural e petroquímico, lembra queas primeiras legislações com parâmetros deprevenção de incêndio e de resposta a es-sas ocorrências foram criadas na década de70: o Código de Segurança contra Incên-dio e Pânico do Rio de Janeiro, em 1976, ea NR 23 (Norma Regulamentadora de Pro-teção Contra Incêndio, do Ministério doTrabalho e Emprego), que é de 1978. Se-gundo ele, os dois regulamentos carecemde atualização, o que também dificulta a a-plicabilidade dos códigos. Outro ponto quenecessita de reparos, apontam especialis-tas, é a fiscalização dos regulamentos e aformação dos profissionais que elaboramas normatizações.

Emergência 27

Page 3: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência28

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

JUN/JUL / 2010

São Paulo é referênciaRegulamento paulista tem alto grau de exigência e algunsde seus requisitos são adotados por outros estados

A data é 31 de agosto de 2001 e o De-creto tem o número 46.076. O cumpri-mento de suas exigências se restringe aoestado de São Paulo, mas bombeiros,projetistas e demais profissionais de se-gurança contra incêndio de outras regi-ões têm no regulamento uma referênciapara sua atuação. Para Sérgio Baptistade Araújo, tenente-coronel da reserva doCBMERJ (Corpo de Bombeiros Militardo Rio de Janeiro) e diretor da SygmaFire Protection Engineering, quando o as-sunto é legislação brasileira de incêndio,há de se fazer uma distinção de estadopara estado. São Paulo, afirma, possuium código em sintonia com o que háde mais avançado no mundo.

Como pontos positivos da legislaçãopaulista, ele cita a estruturação e a defi-nição de todas as ocupações e as classi-ficações de risco de forma pormenori-zada, a apresentação de todos os pro-cessos administrativos para a formata-ção de projetos e a regularização das edi-ficações e a atualização tecnológica pe-las ITs (Instruções Técnicas), inserindonovos conceitos e sistemas à medida queelas são incorporadas ao mercado.

Segundo o major Nilton Miranda, che-fe da Divisão de Legislação e Análisedo DSCI/CBPMESP (Departamentode Segurança Contra Incêndios do Cor-po de Bombeiros da Polícia Militar de

São Paulo), a legislação tem a capacida-de de restringir as ocorrências a locaisem que a intervenção dos bombeirospossa ser feita de maneira eficiente eeficaz. O CBPMESP atende a 500 milocorrências por ano, aproximadamen-te. Em torno de 11%, ou 55 mil atendi-mentos, são de incêndios.

“O Decreto 46.076/01 foi um case desucesso, pois colocou a legislação desegurança contra incêndios de São Pau-lo alinhada com especificações interna-

cionalmente reconhecidas. Sua aplicaçãodemonstra que os profissionais já absor-veram seus objetivos e um passo a servencido é equalizar e difundir o conhe-cimento sobre esse tema a todos os pro-fissionais que atuam nesta área”, a-credita.

Explica o major que o regulamentopaulista prevê o controle de materiaisde acabamento e revestimento, a possi-bilidade de utilização de mangotinhos,a adoção de simbologia de padrão inter-nacional para apresentação de projetos,a mudança da classificação das ocupa-ções com base na carga de incêndio e aexigência do sistema de controle de fu-maça.

Miranda lembra que a lei contemplasoluções de ordem técnica que se utili-zam de sistemas, cujo avanço tecnoló-gico exige um acompanhamento cons-tante. Também conceitos e formas deconstrução evoluem rapidamente e ostextos não conseguem contemplar todaa gama de variações apresentadas.“Constantemente, novas tecnologias sãoapresentadas como solução e temos queestudar, sempre focados nos objetivosda legislação, para que isso se convertaem segurança para as pessoas que utili-zam as edificações”, diz. Como exem-plos dessa precaução, ele cita a necessi-dade de incluir o uso da tubulação dechuveiros automáticos em CPVC, pos-sivelmente também para os hidrantes,além do uso de cortinas e vidros corta-fogo como elementos de compartimen-tação.

Ajustes nas exigências, revisão e cria-ção de ITs são outras medidas para man-ter atual a legislação contra incêndio.Dentro dessa perspectiva, contemplar asinstalações elétricas é uma necessidade,baseada nas estatísticas que as apontamcomo causa de princípios de incêndio.Ocupações destinadas a hangares, hos-pitais, estabelecimentos prisionais esubsolos ocupados, dentre outras, tam-bém necessitam de aprimoramento naregulamentação, adianta o major. “Coma aplicação da legislação nós aprende-mos muito”, refere, lembrando que aexperiência obtida pelos bombeiros nocampo operacional se une aos aspectosconceituais na revisão da legislação.

CAPACIDADENa opinião do presidente da Ligabom

e comandante do CBMPE, coronel Car-

Legislação de São Paulo permiterestringir ocorrências a locais em que a

intervenção dos bombeiros possa serfeita de maneira eficiente e eficaz

CR

IST

IAN

E R

EIM

BE

RG

Casa Nova: segurança num mesmo padrão

JOS

É G

OM

ER

CIN

DO

- S

EC

S/P

R

Page 4: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência 29JUN/JUL / 2010

los Eduardo Casa Nova, São Paulo pos-sui uma realidade específica de grandecapacidade econômica, o que lhe per-mite um maior grau de exigência nossistemas de segurança contra incêndio.

Para obter sistemas com um grau desegurança maior, no entanto, as exigên-cias paulistas levam a modelos mais ca-ros e sofisticados. Por isso, Casa Novaentende que não é possível adotar parâ-metros semelhantes em estados de me-nor poderio econômico. “As construto-ras vão criticar, assim como o consumi-dor que comprar um apartamento e queirá reclamar do seu preço”, entende. No

Código vai para o papelTexto que padroniza a proteção contra incêndioserá apresentado em versão básica pela Ligabom

Especialistas reivindicam a criação deum código nacional de proteção contraincêndio, os corpos de bombeiros o de-sejam e os projetistas clamam por ele,mas nem a vontade de todas as partescoloca em prática uma proposta que mo-tiva debates na área de segurança con-tra incêndio há muito tempo. “Escutosobre o código nacional há pelo menos15 anos”, lembra Sérgio Baptista de Ara-újo, tenente-coronel da reserva doCBMERJ e diretor da Sygma Fire. A suaelaboração, contudo, permanece na fasede estudos.

Há três anos, a Ligabom deu impor-tante passo na construção do regula-

mento nacional ao constituir uma câma-ra técnica para elaborar um projeto bá-sico. Integram o grupo oficiais bombei-ros de diferentes regiões do Brasil, comexperiência na área de Engenharia deProteção e Combate a Incêndio, inclu-indo engenheiros de Segurança e proje-tistas, com conhecimento sobre as nor-mas brasileiras e internacionais.

O presidente da entidade, coronelCarlos Eduardo Casa Nova, diz que foifeito um levantamento sobre a formacorreta de formatar o código e concluiu-se que um texto básico é a opção viável.A expectativa é ter o regulamento pa-drão ainda em 2010.

entanto, acredita que futuramente aunião é o caminho. “Um dia isso teráque se unificar, pois segurança deve exis-tir na indústria, no comércio e nas resi-dências num padrão mínimo e igual paraqualquer edificação construída em qual-quer estado do Brasil”, completa.

Sobre essa questão, o superintenden-te do CB-24, José Carlos Tomina, de-fende que não se deve utilizar o viés fi-nanceiro para justificar o estabelecimen-to de diferentes níveis de segurança paravidas humanas. “Constitucionalmente,não há cidadãos de primeira ou de se-gunda classe”, afirma.

“Nós não vamos conseguir unificartodas as 27 legislações numa só lei, de-talhando sistemas e as tabelas de exigên-cias, para que todos exijam a mesmacoisa em todo o lugar. Será algo novo,com considerações básicas para que to-do estado adote como norma, sem en-trar em detalhes, dizendo o que vai serexigido e como deve ser instalado”, diz.

Conforme Casa Nova, a Ligabom dis-cute, juntamente com a Senasp (Secre-taria Nacional de Segurança Pública) eo Gabinete da Presidência da Repúbli-ca, a forma legal de aprovação do códi-go em âmbito nacional. O entrave estáno aspecto constitucional: a segurançapública requer legislação estadual (porisso, cada estado tem seu regulamento).Para a Senasp, informa o assessor de As-suntos de Bombeiros da Secretaria, ma-jor Roberto do Canto Wilkoszynski, aLigabom é o órgão que possui legitimi-dade e representatividade para postu-lar o código e sua publicação. “À Se-nasp, caberá respeitar a postura adota-da pelos Corpos de Bombeiros Milita-res sobre esse assunto”, declara.

Uma das possibilidades aventadas pelaLiga é encaminhar o código por meio daSecretaria Nacional de Defesa Civil, apro-veitando-se de uma brecha legal que per-mite a aprovação de lei nacional na áreade Defesa Civil. Outra forma, seria cadaestado republicar seu regulamento, ado-tando o que for definido como padrão.

Essa segunda opção, no entanto, é amais improvável, avalia o coronel CasaNova. Isso porque estados com maiornível de exigência, como São Paulo, não

Page 5: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência30

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

JUN/JUL / 2010

abririam mão do seu padrão de prote-ção e não exigiriam menos do que já re-querem há anos.

REFERÊNCIAO caminho escolhido pela câmara téc-

nica da Ligabom é semelhante ao suge-rido pelo superintendente do CB-24, Jo-sé Carlos Tomina. Ele acredita que o có-digo nacional poderá funcionar comouma referência mínima para a constru-ção das leis estaduais ou municipais, fi-cando a critério de cada autoridade lo-cal exigir mais, se entender necessário.

Tomina coordena o projeto Brasil SemChamas, encomendado pelo Ministérioda Ciência e Tecnologia, que deve terseu relatório final publicado em junho,propondo, inclusive, a elaboração doregulamento nacional para solucionar afalta de padronização existente.

Para Jorge Alexandre Alves, especialis-ta em combate a incêndios e emergênci-as e diretor da Fire & Rescue, de possedas diretrizes mínimas estabelecidas porum texto nacional, os municípios devempropor um maior nível de detalhamento

em seus códigos para atender de formaespecífica suas peculiaridades.

“Dentre todas as esferas de governo,é o município que tem a obrigação desaber quais são os riscos locais específi-cos e qual planejamento de investimen-tos deve ser feito para o cumprimentodas medidas de prevenção e controle deincêndios a curto, médio e longo prazo,como já fazem com seus planos direto-res e códigos de obras e construções”,pondera.

CONTEÚDOPara o major Canto, da Senasp, ape-

sar das diferenças existentes, as legisla-ções estaduais têm conteúdo rico e se-guem linha semelhante. Por isso, acre-dita, a maturação dessas iniciativas podeformar a base e dar suporte técnico paraum futuro regulamento nacional. “Essaconstrução ocorrerá de maneira gradu-al, baseada na doutrina das iniciativasque deram bons re-sultados nos esta-dos e municípios”, refere.

Na opinião de José Carlos Tomina,uma forma bastante adequada para a ela-

boração de um regulamento único pas-sa pela criação de uma norma brasileira.Ao justificar esse entendimento, ele des-taca o processo democrático de desen-volvimento das normas pelo CB-24, querequer as participações equilibradas detodos os interessados.

Marco Aurélio Rocha, técnico em e-mergências, bombeiro profissional civile especialista em incêndio estrutural epetroquímico, tem entendimento seme-lhante. Segundo ele, um código de segu-rança contra incêndio deve ser criadopor câmaras técnicas regionais comvivência e conhecimento das reais neces-sidades de cada estado. “Também devehaver perfeito entrosamento entre asentidades públicas e privadas, assimcomo é feito pela Associação Brasileirade Normas Técnicas, por meio de seuscomitês regionais e nacional”, diz.

Pela Ligabom, o coronel Casa Novareforça a existência de uma câmara deoficiais bombeiros estudando o novocódigo, mas diz que não vê dificuldadesem ter um melhor aproveitamento dasnormas da Associação Brasileira de Nor-

CONFLITOS LEGAIS E NORMATIVOSAlém da falta de uniformidade na aplicação de

critérios técnicos nos municípios do Rio Grande doSul, haja vista o grande número de legislações (esta-duais e municipais), regulamentos (seguradoras oucritérios particulares), normas e instruções técnicas,não há um regramento único para a condução dosprocessos junto aos órgãos competentes.

Na capital, Porto Alegre, a proteção contra in-cêndio deve obedecer ao prescrito no Código deProteção Contra Incêndio, que, por sua vez, emalgumas situações, apresenta parâmetros bas-tante divergentes em relação às normas técnicasda ABNT.

Vigora um convênio firmado entre PrefeituraMunicipal e Corpo de Bombeiros, que avalia osplanos de proteção contra incêndio. Previamentea isso, é preciso que a Prefeitura aceite um docu-mento chamado Memorial Descritivo da ProteçãoContra Incêndio a Executar. Ele aponta as exigên-cias de acordo com as características das ocupa-ções da edificação.

É inegável a facilidade advinda do fato de PortoAlegre possuir, em um único código, as diretrizesnecessárias para que os profissionais do setorpossam embasar seus memoriais, planos e insta-lações de todos os sistemas de proteção contraincêndio, diferentemente dos demais municípiosdo Estado, onde é necessário recorrer a normastécnicas da ABNT para cada sistema.

Por outro lado, o Código de Porto Alegre é de 1998e não é revisado sistematicamente, deixando de a-companhar a evolução tecnológica. Há certa resis-tência quanto à aplicação de novas tecnologias,muitas delas já contempladas em edições atualiza-das das normas ABNT. Podemos citar a não aceita-ção do uso de sinalização de balizamento e de segu-rança pelo emprego de placas fotoluminescentes,conforme disposto na NBR 13434/2004 (Sinalizaçãode Segurança Contra Incêndio e Pânico).

A maioria dos municípios do Rio Grande do Suladota as prescrições expressas no Decreto Esta-dual, que remete às normas da ABNT, ficando acargo do Corpo de Bombeiros do respectivo muni-cípio a avaliação das exigências de sistemas e desua aplicação.

Há, ainda, significativos conflitos entre as própriasnormas técnicas. É possível citar a NBR 10898/1999(Sistema de Iluminação de Emergência), que, no item4.8.9, diz que “os eletrodutos utilizados para condu-tores da iluminação de emergência não podem serutilizados para outros fins, salvo instalação de de-tecção e alarme de incêndio ou de comunicação, con-forme a NBR 5410, contanto que as tensões de ali-mentação estejam abaixo de 30Vcc e os circuitosdevidamente protegidos contra curtos-circuitos”.

Por Alexandre Rava Campos*

*Engenheiro civil e de Segurança do Trabalho, diretor-secretário do CB-24/ABNT e conselheiro da ASTEC(Associação Técnica Sul Brasileira de Proteção Contra Incêndio). Colaborou Tiago Kolhrausch, arquiteto.

Por sua vez, a NBR 9441/1998 (Execução desistemas de detecção e alarme de incêndio) é ta-xativa ao afirmar, no item 5.4.1, que “quando exis-tente, toda tubulação integrante de um sistema dedetecção e alarme de incêndio deve atender ex-clusivamente a este sistema.” Com isso, os pro-fissionais ficam a mercê da interpretação daquelesque forem avaliar os planos de proteção contra in-cêndio (normalmente bombeiros).

Sob o ponto de vista técnico, são inúmeras asdiscrepâncias entre as legislações, normas técni-cas e regulamentos da área de seguros, sem falarnas normas internacionais. Por exemplo, é reque-rida em Porto Alegre a vazão de 200 litros por mi-nuto no risco pequeno. Em contrapartida, a NBR13714 (Sistemas de Hidrantes e Mangotinhos)estabelece como requisito para o risco pequenovazões entre 80 a 100 litros por minuto.

É importante destacar que muitas leis municipaise estaduais preconizam pressões mínimas, vazõesmínimas e diâmetros mínimos para os requintesdos esguichos dos hidrantes e mangotinhos semdeterminar as relações entre eles, gerando dúvidase interpretações distintas para a mesma legislação,e, principalmente, comprometendo a segurançanas edificações.

Page 6: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência32

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

JUN/JUL / 2010

Sistema desarticuladoConflitos originados na falta de padronização entre leise normas de incêndio dificultam a sua aplicação

Se uma empresa possuir unidades emSanta Catarina, no Rio de Janeiro e noDistrito Federal, deverá atender a trêscritérios distintos ao instalar um extin-tor e ao definir a área protegida pelaunidade extintora. Esse é um típico con-flito gerado pela falta de padronizaçãode leis e normas de segurança contra in-cêndio no Brasil, mas ele não se restrin-ge a essas localidades.

Os diferentes parâmetros exigidos nosestados e em alguns municípios brasi-leiros quanto à altura máxima do extin-tor e a área de proteção (veja Box napágina 36) são dois exemplos de um sis-tema desarticulado.

Legalmente, locais de trabalho devem

atender aos requisitos estabelecidos naNR 23. As residências e instalações co-merciais e industriais também obedecemaos códigos estaduais, muitas vezes, re-gulamentados por instruções técnicas.Há, ainda, municípios com seus própri-os códigos e exigências. Por fim, as nor-mas técnicas da ABNT complementamo sistema, servindo de referência paraalguns desses regulamentos. Seus parâ-metros, contudo, só se tornam obrigató-rios quando citados em lei.

Relata o coronel Carlos Eduardo CasaNova, presidente da Ligabom e coman-dante do CBMPE, que construtoras dasregiões Sul e Sudeste, por vezes, recla-mam quando vão executar obras em ou-

mas Técnicas. “É preciso que haja in-tegração dos oficiais de cada estado coma Associação Brasileira de Normas Téc-nicas para legislar em conjunto. Algunsestados já adotam as normas, mas issonão quer dizer que não podemos evo-luir mais”, afirma.

FOCO EXCLUSIVOPara o capitão do Corpo de Bombei-

ros Militar do Distrito Federal ThiagoPalácio John, atualmente cursando nosEstados Unidos o doutorado em Geren-ciamento de Incêndios e Emergências,falta ao Brasil uma entidade representa-tiva, governamental ou não, com focoexclusivo em segurança contra incêndioe com força política para implementar efiscalizar a aplicação de um códigonacional.

Ele lembra que os EUA têm a FEMA(Federal Emergency Management Agency) ea USFA (United States Fire Administration),duas agências governamentais que regu-lamentam as atividades relacionadas aincêndio e gerenciamento de emergên-cias, além da NFPA (National FireProtection Association), que é independentee responsável pela elaboração das nor-mas de proteção e combate a incêndio.

“O Brasil ainda não possui uma agênciareguladora representativa o bastantepara reger esse processo. A própria As-sociação Brasileira de Normas Técnicasnão é uma entidade exclusiva e abrange

diversos outros setores, diferentementeda National Fire Protection Association ame-ricana, que dedica-se exclusivamente àárea de proteção contra incêndio”, afir-ma.

Page 7: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência 33JUN/JUL / 2010

trutivas mudaram, surgiram novos tiposde empreendimentos, como as constru-ções em aço e novos materiais de usona arquitetura. Apesar disso, lamenta,prédios são aprovados sem possuíremum sistema de controle de fumaça. “Háa escada enclausurada, mas até chegarlá, as pessoas vão andar nos corredorespor 30, 40, 50 metros no meio da fuma-ça?”, questiona.

Sérgio Baptista também revela preo-cupação com a proteção contra incên-dio existente para o Brasil receber gran-des eventos, como a Copa do Mundode 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.Segundo ele, grande parte dos hotéis noRio de Janeiro seriam contraindicadospor não atenderem dispositivos de usointernacional, como a NFPA 101 - LifeSafety Code e a diretiva europeia Fire Safetyin Hotels - Recommendation 86/666/EEC.“Não se pode recomendar um hotel quenão tenha padrões de aceitabilidade, umsistema de alarme, de detecção, sinali-zação e portas adequadas. Há hotéis noRio de Janeiro com 20 andares e comescada única, o que é exigido pela NFPA101 desde seus primeiros itens, redigi-dos em 1913. O código precisa ser re-formulado urgentemente”, acrescenta.

tras regiões. O motivo: as exigências sãodiferentes, assim como as formas deaprovação de projetos. “Isso leva a umadificuldade muito grande, acarreta cus-tos e gera demora”, avalia Casa Nova.

De acordo com Marco Aurélio Rocha,técnico em emergências, bombeiro civile especialista em incêndio estrutural epetroquímico, uma lei ou norma de ins-tância inferior pode ser mais rígida semque esteja ferindo a esfera superior. Issose aplica a códigos municipais mais exi-gentes do que os adotados por seu esta-do ou pela NR 23. “Hierarquicamente,a menor lei pode ser mais rigorosa, masnunca mais branda”, ilustra.

DESATUALIZAÇÃOSe, no conjunto, as leis e normas so-

frem com a falta de padronização, indi-vidualmente, o problema é a desatuali-zação. A NR 23 é a referência em âmbi-to federal quanto à prevenção de incên-dios. Criada em 1978, ela se encontradesatualizada e fora dos novos contex-tos de segurança contra incêndio, avaliaMarco Rocha. “Suas últimas alteraçõesem nada acrescentaram para a melhoriae adequação à realidade em que vive asociedade”, diz.

Outro regulamento bastante antigo, ocódigo do Rio de Janeiro, o primeiro doBrasil, completa 34 anos em 2010. ParaSérgio Baptista de Araújo, tenente-co-ronel da reserva do CBMERJ e diretorda Sygma Fire, o texto é positivo emmuitos aspectos e funcionou bem nasdécadas de 70 e 80, sendo a referênciade toda a legislação brasileira em todosos estados. Seus requisitos enfatizam asupressão de incêndio, mas ignoramitens preventivos importantes, comodetecção dos incêndios, sistemas de con-trole de fumaça e iluminação de emer-gência, indica Baptista.

“Saio de Paraty/RJ, onde resido, ando70 quilômetros e chego a Ubatuba/SP.Lá, qualquer restaurante tem iluminaçãode emergência, vários extintores e sina-lização fotoluminescente. Se qualquermunicípio fluminense ficar duas horassem energia elétrica, não há iluminaçãode emergência em restaurantes, hotéis esupermercados, porque não é obrigató-ria pelo Código, da mesma forma quenão é obrigatória a detecção de fumaçaem quartos de hotéis e de hospitais. Issoé algo a ser revisto”, reclama.

Ele lembra que, nas três décadas devigência do código, as tipologias cons-

Page 8: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência36

ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

JUN/JUL / 2010

APLICABILIDADEPara Thiago Palácio John, capitão do

CBMDF e mestre em Gerenciamentode Incêndios e Emergências, reside naaplicação das leis e normas uma defici-ência da área de segurança contra in-cêndio no Brasil. Ele diz que há casosem que, justificadamente, as normas sãoinaplicáveis, como ocorre em uma fave-la, por exemplo. “Lá, não existe plane-jamento urbano e, muito menos, a realpossibilidade de aplicação de tal regu-lamentação”, diz.

Já para Jorge Alexandre Alves, espe-cialista em combate a incêndios e emer-gências e diretor da Fire & Rescue, háproblemas de acesso aos regulamentostécnicos. Como eles não consideram queapenas um número pequeno de muni-cípios conta com postos de bombeiros,

Como evoluir maisQualificação profissional é peça-chave para produçãode melhores normas e adaptação de textos internacionais

Investir no profissional, ofertando aele uma formação específica e continu-ada, é uma medida que qualifica a cria-ção e revisão de normas e a adaptaçãode textos estrangeiros. Para Sérgio Bap-tista de Araújo, tenente-coronel da reser-va do CBMERJ e diretor da Sygma Fire,isso se refletirá na qualidade dos regula-mentos elaborados. “Quanto menor é aformação técnica no assunto por partedos bombeiros, conhecimento de inglêstécnico e o domínio sobre as normas,mais pobre é o código estadual”, acre-dita. “Um código é escrito a partir deestudos técnicos. Requer capacitação,conhecimento técnico, pessoas especia-lizadas, conhecimento de língua estran-geira, participação e promoção de semi-nários e fóruns de discussão”, salienta.

Na opinião do major Nilton Miranda,chefe da Divisão de Legislação e Análi-se do DSCI/CBPMESP, a inclusão damatéria Segurança contra Incêndio noscursos de formação e a capacitação deprofissionais para atuação na área sãofundamentais para a melhora nos siste-mas das edificações. Isso passaria tam-bém pelo ensino superior e o desenvol-vimento de dissertações e teses na área,chegando a um nível em que o tema seja

naturalmente incluso nas concepções deedificações.

Alexandre Itiu Seito, coordenador doGSI/NUTAU/USP (Grupo de Pesqui-sa em Segurança contra Incêndio doNúcleo de Pesquisa em Tecnologia deArquitetura e Urbanismo da Universi-dade de São Paulo), acredita que os re-gulamentos não são suficientes para pro-ver a segurança. Segundo ele, é precisohaver um corpo técnico para aplicar ade-quadamente, por exemplo, os sistemasde detecção e combate a incêndio, as-sim como um corpo de fiscalizadorescapaz de verificar o atendimento ao re-gulamento.

Seito também defende a criação noBrasil do curso de graduação em Enge-nharia de Segurança contra Incêndio.“Para elaborar projetos, é preciso terengenheiros capacitados e com forma-ção nessa área do conhecimento”, diz.

Sérgio Baptista lembra que a profis-são de Engenheiro de Segurança contraIncêndio já existe na Inglaterra desde1907. Ele conta ter trazido de Portugalpara o Brasil a ideia de pós-graduação,mestrado e doutorado na área. “Há cin-co anos, o programa está pronto, o ma-terial está pronto, há interessados, mas

os requisitos exigidos tornam-se impra-ticáveis para a maioria dessas cidades.Além disso, falta divulgação e disponi-bilidade das legislações para consulta.Quem se interessar por conhecer e ad-quirir os materiais tem que se deslocaraté o departamento técnico das corpo-rações nas capitais de seu estado.

Por parte dos bombeiros, a reivindi-cação é sobre a aprovação de projetosde proteção contra incêndio de prefei-turas. Conforme o coronel Casa Nova,ainda há municípios que não exigem oaval dos corpos de bombeiros e, assim,as edificações são construídas à revelia.“Quando tomamos conhecimento, te-mos que entrar com a fiscalização, comrigor e multa, e isso é complicado parao empreendedor, que fica com um pa-drão de segurança prejudicado”, diz.

Page 9: EXIGÊNCIAS CONTRA INCÊNDIOS - … - Exigências contra... · NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a NBR 14608 ... de seus requisitos são adotados por outros estados A data é

Emergência 37JUN/JUL / 2010

se esbarra na burocracia”, lamenta Bap-tista.

A Senasp projeta como ação futura acriação de cursos de pós-graduação,mestrado e doutorado para profissionaisde segurança pública, incluindo as áreastécnicas de bombeiros, adianta o majorRoberto do Canto Wilkoszynski, asses-sor de Assuntos de Bombeiros da Secre-taria. O tema segurança contra incêndiopode estar incluso nos conteúdos, masnão como formação específica. Para2010, o curso de nível superior previstoé o de Tecnólogo em Segurança Públi-ca, com duração de dois anos e com dis-ciplinas da área de bombeiros.

NORMAS TÉCNICASNo CB-24, a qualificação dos profis-

sionais proporciona a elaboração denormas de referência técnica adequada,estabelecendo as características de siste-mas, equipamentos ou dispositivos a se-rem utilizados na segurança contra in-cêndio. Sustenta José Carlos Tomina, su-perintendente do CB-24, que os textosproduzidos no comitê impulsionam odesenvolvimento industrial, disseminamos avanços tecnológicos e permitem ocompartilhamento de boas práticas.Consequentemente, colaboram com amelhoria contínua da qualidade de pro-dutos e serviços e com a competitivida-de na área.

Apesar do empenho dos especialistas,há mais de 40 normas que precisam serrevisadas ou elaboradas com maior prio-ridade, o que demanda investimentos derecursos públicos e privados no CB-24,informa Tomina.

Para Alexandre Seito, é preciso umamaior participação de consumidores deprodutos e serviços de segurança con-tra incêndio (fábricas, edifícios comer-ciais, shoppings) na elaboração das nor-mas para contribuir ainda mais com asregulamentações estaduais e municipais.

Sobre o aspecto da obrigatoriedade deuso da norma só quando citada em lei,Tomina lembra que o Código de Defe-sa do Consumidor (lei federal 8.078/1990) veda ao fornecedor dispor nomercado produtos ou serviços em de-sacordo com as normas expedidas pe-los órgãos oficiais competentes ou,quando essas não existirem, pela ABNT.

O diretor da Fire & Rescue, Jorge Ale-xandre Alves, especialista em combatea incêndios e emergências, ressalta que,

por serem desenvolvidas por especialis-tas, é recomendável que as agências re-gulamentadoras, os poderes legislativose todas as esferas de governo utilizemas normas técnicas como referênciasquando da elaboração de regulamenta-ções, portarias e leis de prevenção ecombate a incêndios.

INTERNACIONAISO uso de referências internacionais

também é um caminho para a evoluçãoda legislação brasileira. Thiago PalácioJohn, capitão do CBMDF e mestre emGerenciamento de Incêndios e Emergên-cias, afirma que, quando um profissionalestuda os comportamentos extremos dofogo ou a “linguagem” da fumaça, porexemplo, não há diferença na química ouna física da combustão, estando ele noBrasil ou nos EUA. Porém, salienta, nemtoda norma de segurança pode ser apli-cada sem se considerar uma adaptação.

Jorge Alexandre lembra que já é prá-tica no Brasil utilizar referências de tex-tos estrangeiros para a elaboração denormas nacionais, mas considera muitoimportante que se conheça os regula-mentos internacionais e se entenda anecessidade de modificar alguns conteú-dos com sobriedade. Assim, a norma se-rá construída de forma a preservar oscritérios de estudos e ensaios já efetua-dos em laboratórios estrangeiros, quenão encontram similar no Brasil, alte-rando apenas conceitos relacionados àgeografia, cultura e recursos disponíveis.“A melhor referência em legislações deproteção contra incêndios ainda é dosEstados Unidos”, opina Jorge, ressaltan-do o papel da NFPA na proteção contraincêndio norte-americana, com a maiore mais atualizada quantidade de normastécnicas.

Ele acredita que, dentre esses textos,as normas NFPA 1710 e NFPA 1720deveriam ser utilizadas para o desenvol-vimento de similares no Brasil, pois for-necem critérios mínimos para implan-tação, funcionamento e desempenhodos serviços de emergências públicos(profissionais e voluntários) nos muni-cípios. Ambas são utilizadas como cri-térios de desempenho para as avaliaçõesdo ISO (Insurance Services Office), que au-dita e classifica as cidades quanto ao ní-vel de proteção pública e é um dos cri-térios para o cálculo do valor de todosos tipos de seguros nos municípios.