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EXISTEM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA VIDA APÓS A MORTE? Que exista vida após a morte é esperança da maioria dos humanos, e todos os que acreditam acreditam que acharão nessa outra vida coisa melhor do que experienciam atualmente. Embora nada de efetivo se conheça que confirme nem a sobrevivência nem a esperada melhoria existencial – desconsiderando-se os discursos das diversas religiões – é sempre gratificante sonhar que iremos para destino feliz que cogitar suposição contrária. Para quase todas as religiões (senão todas) a vida além é a verdadeira vida, sendo a existência terrena apenas passagem dolorosa no caminho à felicidade (é claro, há o risco de cair no inferno, no umbral, no purgatório, no vale dos suicidas... mas deixaremos esse perigo para comentar noutra ocasião). Nesse contexto de crenças e esperanças despontam os que anseiam dar passo adiante, ou seja: comprovar concretamente que a vida continua após a presente existência . Mas, surge a grande dificuldade: como investigar o que ocorreria fora da dimensão espaço- temporal em que vivemos? A pesquisa científica, a melhor ferramenta disponível para conhecer a natureza, trabalha com coisas mensuráveis: o que pode ser detectado, medido, analisado. Vida após a morte não preenche nenhuma dessas condições. Se indagássemos sobre o que haveria de objetivo, em relação a vida além, que permitisse investigação sob protocolo científico, a resposta seria: nada. No entanto, tal consideração é fortemente repudiada. Não poucas pessoas retrucariam que existem múltiplos indícios (alguns mais animados chegam a falar em “provas”) da sobrevivência. Acontece que quando se examina tecnicamente esses indícios (ou evidência, ou mesmo “provas”) da continuidade da vida o que se encontra são “certezas” de cunho religioso ou filosófico. Essas certezas reportam a saudável esperança de uma outra existência, na qual cessem as contradições e injustiças dessa vida. Porém, saudável esperança é insuficiente para subsidiar investigações. O fato é que a

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EXISTEM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA VIDA APÓS A MORTE?

Que exista vida após a morte é esperança da maioria dos humanos, e todos os que acreditam acreditam que acharão nessa outra vida coisa melhor do que experienciam atualmente. Embora nada de efetivo se conheça que confirme nem a sobrevivência nem a esperada melhoria existencial – desconsiderando-se os discursos das diversas religiões – é sempre gratificante sonhar que iremos para destino feliz que cogitar suposição contrária. Para quase todas as religiões (senão todas) a vida além é a verdadeira vida, sendo a existência terrena apenas passagem dolorosa no caminho à felicidade (é claro, há o risco de cair no inferno, no umbral, no purgatório, no vale dos suicidas... mas deixaremos esse perigo para comentar noutra ocasião).

Nesse contexto de crenças e esperanças despontam os que anseiam dar passo adiante, ou seja: comprovar concretamente que a vida continua após a presente existência. Mas, surge a grande dificuldade: como investigar o que ocorreria fora da dimensão espaço-temporal em que vivemos? A pesquisa científica, a melhor ferramenta disponível para conhecer a natureza, trabalha com coisas mensuráveis: o que pode ser detectado, medido, analisado. Vida após a morte não preenche nenhuma dessas condições. Se indagássemos sobre o que haveria de objetivo, em relação a vida além, que permitisse investigação sob protocolo científico, a resposta seria: nada.

No entanto, tal consideração é fortemente repudiada. Não poucas pessoas retrucariam que existem múltiplos indícios (alguns mais animados chegam a falar em “provas”) da sobrevivência.

Acontece que quando se examina tecnicamente esses indícios (ou evidência, ou mesmo “provas”) da continuidade da vida o que se encontra são “certezas” de cunho religioso ou filosófico. Essas certezas reportam a saudável esperança de uma outra existência, na qual cessem as contradições e injustiças dessa vida. Porém, saudável esperança é insuficiente para subsidiar investigações. O fato é que a alegação de existir confirmação científica da sobrevivência carece de fundamento. Por mais que defensores de haver evidências e provas da sobrevivência o afirmem, a realidade é que inexiste sustentação para esse discurso.

no entanto, circulam numerosos artigos, alguns assinados por pessoas com formação científica, atestando as “evidências científicas” da vida além. Alguns desses ambicionam mais: debitam na conta da ciência não só a “prova” da sobrevivência, também da reencarnação e da comunicação com espíritos!

É certo que se pode especular, com boa fundamentação lógica, a respeito da plausibilidade de haver outra dimensão existencial. Algumas dessas reflexões são produtivas e nos induzem a refletir sobre a possibilidade de a vida não terminar nesta existência. O equívoco de muitos está em extrapolar o âmbito religioso-filosófico para defender que cientificamente o mundo espiritual está demonstrado.

Para melhor ilustrar este arrazoado, avaliaremos artigo que recentemente chegou ao nosso conhecimento, intitulado: “Evidências científicas atuais sobre a existência de vida após a morte”, assinado pela fisiologista espanhola Elaine Cristina Vieira. O escrito completo é encontrado em: http://www.oconsolador.com.br/ano6/281/especial.html.

ELAINE CRISTINA VIEIRA (*)[email protected], Espanha

Elaine Cristina Vieira é fisiologista e pesquisadora PhD na área de doenças metabólicas em Barcelona, Espanha.

(*) Participou na elaboração deste artigo Mado Martínez, também radicada na Espanha.

Mado Martínez é filóloga e está concluindo pós-graduação em estudos de culturas e tradições na Universidade de Alicante, Espanha. Ela mantém na internet o website http://www.madomartinez.com.

Elaine: Já faz muitos anos que os seres humanos se perguntam se há algo além da vida. Muitas culturas, religiões e doutrinas têm sido baseadas na crença de que os mortos vão viver em outros mundos, vão ao paraíso ou reencarnam. Mas o que aconteceria se a ciência nos desse evidências de que há vida depois da morte? Nas últimas décadas, vários cientistas e médicos pesquisadores de várias universidades do mundo estão revolucionando o paradigma do século XXI mostrando evidências de que a consciência de fato sobrevive à morte física.

A abordagem científica da vida após a morte pode ser mais complicada do que pareça à primeira vista (ou mais simples, dependendo do ponto de vista). Biologicamente, o homem é um ser da natureza, portanto sujeito as mesmas vicissitudes experienciadas por qualquer ente vivo, cujo processo básico é: nascimento, manutenção da vida por certo tempo e morte. A existência de qualquer criatura, classificada como “viva”, seguirá esse curso, com exceção dos seres unicelulares, que se procriam pela duplicação de si mesmos: estes podem ser considerados “imortais”, visto que só morreriam pela aniquilação da espécie. Para efeito da presente reflexão, vamos levar em conta os seres pluricelulares, o que inclui desde o invisível ácaro até a muito bem visível baleia azul.

Especula-se que a ideia de espírito tenha surgido a partir da contemplação de cadáveres: corpos que há pouco se movimentavam e manifestavam vontade, de repente quedavam-se inertes e entravam em processo de putrefação. A suposição era de que algo havia saído daqueles seres e esse algo levara a vida consigo. É plausível que essas tenham sido as cogitações primitivas a respeito de alma e espírito.

Desse modo, a questão inicial em pesquisa da sobrevivência seria: existe algo que “saia” de qualquer corpo em decadência e sobreviva à derrocada orgânica?

É fora de dúvida que os especuladores da sobrevivência não pretendem recuar a um nível que inclua todas as espécies dentro da suposição. Provavelmente alegarão que se deve falar de continuidade existencial em termos de consciência, não de impulso vital. Esse ponto daria margem para discussões: por que só os conscientes teriam o previlégio de sobreviver? E, mesmo se tratando de consciência pode-se questionar se somente o homem é consciente. É certo que não se conhecem outros seres vivos com igual nível de consciência que o ente humano, mas tal não significa que os demais seres sejam de todo inconscientes.

Provavelmente os pesquisadores da sobrevivência considerem que seja mais fácil investigar a continuidade existencial na espécie humana, pois que, se a consciência sobrevive, a perspectiva de que possa fazer contato é cogitável. A proposta parece satisfatória: se existe outra vida e nesta as consciências que aqui viveram continuam conscientes e ativas, por que não poderiam comunicar conosco? Para muitos o intercâmbio entre vivos e espíritos é a mais absoluta realidade. Lamentavelmente, essas são certezas de cunho religioso, vez que inexiste confirmação efetiva da comunicabilidade intermundos.

Epa! Quer dizer que não haveria evidências da sobrevivência (e da mediunidade)? Indagaria alguém. Mas a doutora Elaine Cristina, e muitos outros, não asseveram que existem tais evidências? Para esclarecer, temos de verificar se o que esses dizem tem fundamentação. Examinaremos, pois, o arrazoado da Dra. Elaine e comentaremos.

Elaine: No Instituto Windbridge no Arizona, USA, a Dra. Julie Beischel está conduzindo uma pesquisa importante para demonstrar que há vida após a morte. [...] Os resultados da Dra. Beischel confirmaram a hipótese de que o espírito sobrevive à morte. Entramos em contato com a Dra. Julie Beischel para perguntar mais sobre o método científico que aplica em suas pesquisas. Ela disse que utiliza controles muito estritos para pesquisar o fenômeno de mediunidade através de um programa científico que contém uma quantidade grande de dados: ”No Instituto Windbridge, estamos interessados principalmente no estudo da mediunidade. Utilizamos o método científico e controles estritos para pesquisar estes fenômenos e o programa de pesquisa de mediunidade abrange uma quantidade enorme de dados. Através de nosso método científico do quíntuplo-cego (protocolo científico realizado para evitar resultados tendenciosos, onde nem o examinado (objeto de estudo) nem o examinador (pesquisador) sabem das variáveis do estudo. No caso do quíntuplo-cego são usadas 5 pessoas diferentes para ajudar na análise dos dados sem que nenhuma delas saiba do que se trata o estudo).

Com médiuns certificados pelo Instituto Windbridge, podemos demonstrar que as informações dos médiuns sobre familiares já mortos são exatas, e, além do mais, os médiuns não têm nenhum conhecimento prévio sobre a família ou o desencarnado”. Além disso, Beischel disse: "Este paradigma de pesquisa é ideal porque o fenômeno da mediunidade é facilmente replicável e podemos trazer o fenômeno da mediunidade ao laboratório”.

A pesquisa da Dra. Beischel certamente demonstra que o fenômeno da mediunidade é de fato autêntico.

O trecho acima apresenta declarações curiosas. O tal instituto Windbridge possui “médiuns certificados”, os quais dão informações “exatas” sobre falecidos. Ora, se eles estão certificando médiuns certamente não estão a investigar a sobrevivência. Tudo indica que esse instituto assume a premissa de que a vida além seja realidade e a comunicação interdimensional idem. A partir dessa convicção, passam a validar as “boas” comunicações e certificar médiuns “autênticos”. Não nos parece adequado confundir pesquisa da sobrevivência com programa apologético da mediunidade. Esse tipo de trabalho confunde os simpatizantes, como deve ter acontecido com a Dra. Elaine: estes pensam que, pelo fato de o instituto apregoar acertos nas supostas comunicações espirituais recebidas por “médiuns”, a comunicação com espíritos fica demonstrada e, consequentemente, a sobrevivência.

A conclusão da autora é um “primor” de rigorismo científico: “a pesquisa da Dra. Beischel certamente demonstra a autenticidade do fenômeno mediúnico”... O caso é que além da “enorme quantidade de dados” e do “quíntuplo-cego”, que são considerações muito vagas, nada de objetivo se lê na descrição do trabalho de Julie Beischel que nos faça supor que esteja averiguando adequadamente a vida pós-túmulo.

Elaine: No Brasil, a mediunidade de Chico Xavier foi estudada pelo Dr. Paulo Rossi em 1991. Chico Xavier ficou conhecido pelo seu trabalho gratuito, pelo qual publicou mais de 400 livros recebidos de mais de 600 autores espirituais, e também recebia cartas de pessoas já falecidas. O estudo do Dr. Paulo Rossi confirmou que 93,3% das pessoas que visitavam Chico Xavier não o conheciam; 62,2% das mensagens mostraram mais de seis fatos reais cada uma e 71,1% continham informações detalhadas sobre pessoas falecidas, que foram posteriormente confirmadas como verdadeiras por suas famílias. Rossi concluiu que as informações reveladas por Chico Xavier de fato provêm de espíritos de pessoas mortas e não são resultado de qualquer classe de fraude.

Afirmações nitidamente propagandísticas: o estudo de Paulo Rossi Severino, apesar de ser louvável tentativa de investigar a mediunidade de Francisco Xavier, ficou aquém do necessário para um parecer conclusivo. No máximo conseguiu demonstrar a versatilidade e criatividade redativa do dito médium. Nesse trabalho são feitas muitas afirmações sem as comprovações devidas.

Boa parte são ilações subjetivas, proferidas pelos parentes dos falecidos, desejosos de receber autentica missiva mediúnica. Exemplos das avaliações generosas se veem nos trechos:

“Quando começamos a examinar as mensagens, elas pareciam montadas em um molde comum, principalmente no que se refere às palavras do início e do final [...] é compreensível essa impressão inicial porque o estilo epistolar é um gênero literário [?!] com características próprias e é natural que as cartas guardem semelhanças entre si. Jair Presente (caso nº 2) expressa-se em gíria, muito própria de sua geração.” [...]“Comparação das assinaturas: idêntica: 33,6%; semelhante: 22,2%; diferente: 42,2%” (A Vida Triunfa. Paulo Rossi Severino e equipe AME-SP).

As avaliações de semelhanças de letras, estilos, informações exatas, etc., não foram realizadas por técnicos (psicólogos, sociólogos, grafotécnicos), sim por familiares, a maioria dos quais altamente desejosa de confirmar a legitimidade dos recados recebidos. No caso do estilo epistolar (transformado em “gênero literário”), a verdade é que as cartas psicografadas por Chico revelam a indiscutível origem comum a todas elas. E essa origem não é a espiritualidade, sim o modo pessoal de Chico se pronunciar: frases adocicadas, recheadas de adjetivos, como o médium bem apreciava produzir. O fato é tão claro que nem mesmo o avaliador apologista deixou de notar que havia nítida semelhança entre todas as cartas “recebidas” por Francisco. As exceções são miúdas variações com as quais o redator procurava disfarçar sua presença e autoria.

O caso de Jair Presente é sintomático. O falecido enviara o recado inicial da maneira comum aos demais supostos comunicantes: muitos adjetivos, protestos de saudades, tristeza, pedido de ajuda... Aconteceu que os amigos de Jair questionaram o maneirismo redativo, em nada assemelhado ao que conheciam, visto que Presente costumava utilizar gírias abundantes em seus manifestos. A crítica chegou aos ouvidos de Chico e, partir daí, o “espírito” passou a redigir com gírias de montão. Só que as cartas com gírias mostram produções artificiais, típicas de quem montasse o texto sem ter o hábito de utilizá-las. Como exemplo, vejam excertos da primeira missiva (a la Chico) e da seguinte (com gírias):

1ª carta): “Meu pai, minha mãe, minha querida Sueli[...] As vozes da casa chegam ao meu coração(...) E meu pensamento não sai de onde prendem[...] Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa[...]. Estou saudoso de tudo, dos familiares queridos, dos companheiros, dos estudos e das aulas: entretanto, espero sarar e refazer-me[...] As lágrimas dos meus queridos me prendem. [...] Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso, a quem me ligo pelo coração, não tenho ainda memória para funcionar aqui; minha faculdade de lembrar está com vocês, assim à maneira de um balão escravizado. Ajudem-me. Preciso ver e ouvir aqui para retornar-me como sou. [curioso: o morto com dificuldades de memória... ou o médium justificava não conseguir responder quaisquer perguntas?] [...] Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa. [...]A garganta como se eu fosse falar, está constrangida, e as lágrimas estão contidas, a ponto de

rebentar. Quero confiar em Deus e em vocês e por isso termino, com um abraço, deixando aqui a vocês aquele beijo de todos os dias, rogando a Deus para que nos fortaleça e nos abençoe.

2ª carta): Oi Carlos, pedi vez e obtive. Falar com vocês assim mesmo como sou! [...] nunca fui Jair Presente como agora, presente apenas presente, para um abraço no rancho. Cumé quié, e o Sérgio? [...] O modo era aquele mesmo: dar uma de afogado, para não cair em outra de doente; porque doente nunca fui e afogado não fiquei sendo. Morem nisso aí se puderem. Eu fico na curtição diferente; [...] Ainda estou um tanto apagado mas vou me incrementar[...] vocês leram as minhas palavras a meu pai, a minha mãe e a nossa querida Sueli. [...] vocês sabem, falar com professores não é conversar no grupinho; controlar tudo para não entrar bem [...] tive permissão, escreva como julgar melhor, disse a nova amizade, mas reclamou: cuidado. [...] Se vocês puderem e se tiverem gosto com isso, orem por mim. Jóia. [...] Se puderem, entrem na curtição de emissores. Nada de lágrimas. Legal! [...] preciso ficar mais ouriçado para trabalhar. Ainda estou muito borocochô [...] para mim a morte já era o negócio é viver mesmo, viver de olho vivo em nós mesmos para que nossa vida seja feliz. Não me levem a mal se escrevi hoje um tanto adoidado; [...] A vida está caminhando e o trem da mudança despeja caras e amizades aqui todos os dias. [...] queiram-me bem, que eu estou cada vez mais vidrado em vocês. Gama pura. Boa noite. Um beijão prá vocês. Falei. JAIR

Observa-se que o segundo Jair conserta a formalidade melíflua do primeiro: ao todo foram cinco cartas, e, depois que “recebeu autorização”, o falecido passou a produzir textos recheados de gírias e distantes da espontaneidade de quem apreciasse redigir de forma malandrada. A emenda saiu pior que o soneto: Jair Presente, morto, escrevendo gírias mostra tão somente Chico Xavier no esforço adaptativo de pronunciar-se conforme não estava acostumado. em meu modo de ver, Jair Presente se manifestaria mais ou menos assim:

Cheguei aqui meio grilado, achei que a barra ia pesar. Depois senti que o negócio era curtir o barato e fui conhecer as quebradas. Até que deu viração: encontrei o avô Basso muito na sua, aliás nem o conheci: parecia ter esticado no Pitangui. O velho-novo veio pro meu lado como quem está por dentro, disse que não pôs carnes nos ossos (esse papo de reencarnar) porque me esperava pra que eu não desse uma de otário nas paradas. Levamos um lero legal. Manjei quase tudo. Aqui não posso dar bobeira, nem ficar de papo frouxo com a patota. Estou falando sério, bicho: é mesmo barra limpa. A turma é careta, mas não tem bronca: tô curtindo de montão. Agora vou dar um taime, volto quando tiver mais algum bizu. Pode ser que saia um trampo pra mim por esses dias (é o que tão falando)e vai ser de abafar...

Elaine: Em 2004, Alexander Moreira de Almeida concluiu sua tese de doutorado pela USP, na área de experiências mediúnicas. Almeida estudou 115 médiuns espíritas que seguem a doutrina codificada por Allan Kardec, com o objetivo de construir seu perfil sociodemográfico e para comprovar sua saúde mental. Os pesquisadores concluíram que a maioria dos médiuns desenvolveu sua mediunidade durante a infância e mostraram altos níveis socioeducativos. Além disso, os

resultados mostraram um nível muito baixo de desordens psiquiátricas entre os médiuns. Esse estudo mostra que os médiuns que com frequência são tachados como “loucos” são, na verdade, pessoas sem quaisquer problemas psicológicos e apresentam um nível muito alto de escolaridade.

O estudo de Alexander Moreira, a própria Elaine informa, demonstrava que os médiuns não eram portadores de patologias mentais. Foi-se o tempo em que a psiquiatria e a psicologia consideravam médiuns doentes mentais. Qualquer pessoa que tenha pendores místicos (falar com espíritos, receber recados do Espírito Santo, falar línguas, profetizar, etc.) se consegue vivenciar suas visões de forma construtiva é deixado quieto pela medicina. A patologia se instala quando o indivíduo exacerba tais práticas e deixa de ter vida normal, trazendo prejuízos para si e para o que com ele se envolvem. Nada, pois, tem a ver a tese de Alexander com estudos da sobrevivência.

Elaine: O Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, da USP de São Paulo, usa técnicas de difração de raios X, tomografia computadorizada e ressonância magnética para explicar a relação entre a glândula pineal e a mediunidade. Dr. Sérgio demonstrou que médiuns de incorporação possuem mais cristais de apatita na glândula pineal e que durante o momento de comunicação espiritual os médiuns possuem alta atividade cerebral e aumento de fluxo sanguíneo na região da glândula pineal. A hipótese do Dr. Oliveira é que a glândula pineal é o órgão sensorial da mediunidade.

A “hipótese” do Dr. Sérgio parece ser esposada pela doutora Elaine. Acontece que a pineal mística é rechaçada por qualquer estudo mínimamente sério. A ideia de que essa glândula tenha ligações com a espiritualidade fora proposta por gregos antigos, que, ao dissecarem cadáveres, depararam a glândula (também chamada epífise) e imaginaram que tivesse função espiritual. Galeno, famoso médico do início da era cristã, rechaçava firmemente a ideia. Séculos mais tarde, Descartes reviveu a crença. Presentemente, Sérgio Felipe tenta ressuscitar a senil suposição. De qualquer modo, ao ligar a pineal à mediunidade fica claro que Sérgio Felipe de Oliveira não investiga a veracidade dos contatos mediúnicos, mas tem por pressuposto que a mediunidade signifique real contato com espíritos e se esforça por localizar a “antena receptora” na pineal.

Elaine: No King´s College de Londres está acontecendo uma revolução no mundo da tanatologia, o estudo científico sobre a morte. O pesquisador e médico Peter Fenwick está fazendo experimentos detalhados sobre um fenômeno que acontece entre as 24 e 48 horas antes e depois da morte e também no momento da morte. As experiências de quase-morte se referem ao conjunto de visões ou sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente. Essas sensações incluem: experiência fora do corpo; levitação; medo extremo; serenidade total, segurança, calor e a presença de uma luz.

Esses fenômenos são normalmente informados após uma pessoa ter sido considerada clinicamente morta e que depois volta à vida. Dr. Fenwick estuda as visões de pessoas que estão internadas e que falam com parentes já mortos. Também pesquisa coincidências de desencarnados que contactaram alguém somente para dizer que ela/ele havia morrido. “Esses acontecimentos ocorrem com muita frequência e em grande porcentagem dos casos e afirmam que a consciência é diferente do cérebro”, conclui Dr. Fenwick.

Se o Dr. Fenwick pesquisa cientificamente questões atinentes à morte e sobrevivência isso é ótimo! A atividade do médico, no entanto, começa a ficar estranha quando se conhece a gama de “fatos” (ou “sensações”) estudados, que inclui: a) experiência fora do corpo; b) levitação; c) medo extremo; d) serenidade total, e) segurança, f) calor e g) a presença de uma luz. E para coroar a gloriosa empreitada de eventos investigados por Fenwick, a autora garante que esses ocorrem “com muita frequência”... Fala sério, pô: desde quando uma sopa mística dessas seria material para boa pesquisa? Só serve mesmo para dar a concepções nebulosas ares de autenticidade. Diriam os advogados: vejam só, o grande Fenwick estuda (cientificamente, ressalte-se) tudo isso, inclusive levitação! Embora tenhamos fortes razões para suspeitar que nada de científico haja nas meditações fenwíckicas, não devemos ser radicais com o homem, pode ser que ele tenha demonstrado (científicamente) que, por exemplo, experiências fora do corpo (EFC ou OBE) são legítimos passeios que a alma desencorpada enceta pelas esquinas da vida; que pessoas e objetos levitam, contrariando leis da física; que “medos extremos” junto com “serenidade total” seja evidência científica da vida além. Mas, também seria interessante saber o que o doutor anda bebendo...

Fenwick não é um zé-ninguém, trata-se de renomado neuropsiquiatra e neurofisiologista, de quem se diz ser, se não a maior, uma das maiores autoridades do mundo em experiências de quase morte. Quer dizer, o sujeito é “grandão”. Talvez, por conta de todos esses predicados se ache em condição de demonstrar (cientificamente) levitações, saídas do corpo, “calores”, e toda a linha perquiritiva em que trabalha... contudo, surge a pergunta que não quer calar: Fenwick, de fato, demonstrou qualquer coisa de consistente?

Para não ficarmos só de conversa, leiamos trecho do livro de Zammit, o advogado do pós-vida, em que fala de Fenwick, seguido de meus comentários.

Zammit: Uma experiência comum

Existem agora, literalmente, milhões de pessoas em todo o Mundo que já tiveram Experiências no limiar da morte. Em 1983, um estudo de opinião pública feita por George Gallop Jr. concluiu que oito milhões de Americanos, aproximadamente, ou seja, 5 por cento da população adulta, tinham tido pelo menos uma (Gallup 1982). Um estudo de opinião pública Australiana levada a cabo por Allan Kellehear e Patrick Heaven mostrou que dez por cento de 179 pessoas declararam ter experimentado, pelo menos, cinco elementos típicos duma ELM.

ELM significa “Experiência no limiar da morte”. Não entendemos claramente o que essas “pesquisas” de opinião pretendem: se querem provar a sobrevivência unicamente pela coleta de testemunhos (o que seria uma grande tolice) ou apenas mostrar que esses eventos são relativamente triviais. O senso comum nos diz que experiências mística de quase morte são coisa rara, podemos dizer raríssimas. A maioria de nós conhece pessoas que passaram por situações de quase morte (geralmente ataques cardíacos, ou AVCs), mas desconhece-se que essas tenham vivenciado visões da outra vida. Os apologistas das experiências místicas parecem ampliar arbitrariamente o âmbito dessas ocorrências a fim de conceder maior fundamentabilidade aos seus discursos.

Zammit: Estudos em locais amplamente diferentes, geográficamente, têm produzido resultados, notávelmente, idênticos, tais como: o estudo sobre as ELM de Margot Grey na Inglaterra (Grey 1985); o estudo de Paola Giovetti na Itália (Giovetti 1982); o de Dorothy Counts na Melanésia (Counts 1983); o de Satwant Pasricha e Ian Stevenson (1986) na Índia. Mais estudos continuam a chegar de diversos países com regularidade e casos históricos demonstram que as experiências têm sido notávelmente coerentes ao longo dos tempos (veja o caso das ELMs de Er, em “A República” de Platão, reeditada em 1973).

Zammit sofisma com frequência em seu trabalho, do qual diz conter “provas irrefutáveis” da sobrevivência. Desconhecemos os casos que cita como exemplo (Margot Grey, Paola Giovetti e Dorothy Counts), mas conhecemos o mito de Er e pelo que dele é dito podemos supor que o autor exagera em sua apreciação relativa ao universo das EQMs (alega que que os casos seriam “notavelmente idênticos”). Mesmo que os três casos ilustrados sejam realmente harmoniosos entre si tal não significa que todas (ou a maioria) das experiências no limiar da morte tenham essa equivalência, e, mesmo que tivessem, isso nada diria da sobrevivência, pois as reações comuns podem ser devido a haver causas (ou causa) típicas.

A história de ER, narrada no diálogo platônico “A República”, não trata de EQM. Zammit quer demonstrar que as visões místicas de quase morte ocorrem desde sempre e, para tanto, recorre a narrativa montada para outra finalidade. A aventura de Er tivera o fito de ilustrar a volta à vida das almas no hades. Certamente, os contemporâneos do filósofo a receberam como tal, ou seja: uma ficção. Er, conta Platão, morrera em campo de batalha. Durante dez dias seu corpo permanecera junto aos cadáveres e fora achado intato. Levaram-no para a pira, mas no 12º dia, prestes a ser incinerado, ressuscitou. No além, o guerreiro contemplara o julgamento das almas (boas e más) e as escolhas que faziam para a configuração da nova existência. A volta de Er ao corpo morto tivera, pois, a finalidade de trazer aos vivos a informação de como as almas vivenciavam a transição entre vidas. Mesmo que se queria supor que Er apenas aparentemente morrera, e nesse período de morte aparente vivenciara uma EQM, o guerreiro de qualquer modo teria morrido ao cabo de doze dias sem comer nem beber.

Zammit: Cherie Sutherland, uma investigadora Australiana, entrevistou a fundo, 50 sobreviventes de ELM e descobriu que os efeitos nas vidas dos sobreviventes foram notávelmente coerentes e, significativamente, diferentes dos efeitos de alucinações provocadas por drogas ou produtos químicos. Ela identificou muitos efeitos que foram substanciados por outras estudos, tais como Ring (1980 e 1984) Atwater (1988). Incluem:

• Uma crença universal no pós-vida;• Uma elevada proporção (80%) que acreditava na reencarnação;• Uma ausência total de medo da morte;• Uma grande mudança da religião organizada para a prática espiritual pessoal;• Um aumento estatísticamente significativo de sensibilidade psíquica;• Uma visão mais positiva de si e dos outros;• Um aumento do desejo de recolhimento;• Um aumentado sentido de objectivo;• Uma falta de interesse no sucesso material em contrapartida com um aumento de interesse por desenvolvimento espiritual;• 50% experimentaram dificuldades nas relações íntimas devido à alteração das suas prioridades; [ficaram impotentes os homens e frígidas as mulheres?]• Um incremento na tomada de consciência quanto à saúde;• A maioria bebia menos álcool;• Quase todos deixaram de fumar;• A maior parte deixou de utilizar medicamentos de farmácia;• A maioria passou a ver menos televisão;• A maioria passou a ler menos jornais;• Um acrescido interesse por medicinas alternativas;• Um acrescido interesse em aprender e em auto-valorização;• 75% passaram por uma grande alteração de carreira, mudando-se para áreas de ajuda ao próximo.

Quem leia, mesmo com miúda atenção, a insólita lista de Cherie Sutherland – uma das “irrefutáveis” provas selecionadas por Zammit –, perceberá que é um negócio de doido essa tal de experiência de quase morte: serve até para curar vícios! Mas, tem que ter cuidado, pois pode causar impotência... Cherie afirma que oitenta por cento dos vivenciadores de EQM seria crente na reencarnação. Só que não ficou esclarecido se a fé reencarnativa surgiu após a experiência ou já existia antes dela. Seja como for, na opinião da autora, ou a crença na reencarnação favorece boas EQMs, ou as EQMs fomentam a certeza das multividas... Sutherland teria experimentado uma EQM durante a juventude e daí para frente tudo mudou para ela. Tornou-se ferrenha apologista do misticismo e deve ter achado que todos os que escapam da morte, tal qual ela, mudam suas existências de forma drástica, passando a apresentar os sintomas listados. É claro que trabalhos dessa linha são meras apologias deslumbradas, muito pouco de útil acrescentam às investigações da espécie. Até a reencarnação tenta-se provar por meio de experiências de quase morte. Em

verdade, o rol de mudanças descoberto por Chérie não diz coisa com coisa: parece mais a descrição de quem tenha adentrado nalguma seita esotérica e assumido posturas esdrúxulas, qual a de não tomar mais “remédio de farmácia”. Essa modalidade de “investigação” parte de pessoas que aproveitam ondas místicas para tirar um lucrinho ou validar crenças, tal como alguns fazem com a física quântica.

Zammit: Um estudo Americano independente efectuado pelo Dr. Melvin Morse descobriu que os sobreviventes de ELM têm um número três vezes maior de experiências psíquicas do que as demais pessoas (Morse 1992).

Então, à confusa lista Cherie acrescenta-se mais uma extraordinária qualidade...

Zammit: Como afirmado mais atrás, os que estudaram as ELMs – cientistas, médicos, psicólogos, outros investigadores e cépticos – todos eles agora afirmam, com absoluta certeza, que as ELM são uma realidade.

Sofisma puro. Para Zammit, qualquer que se dispuser a estudar experiências de quase morte passará a admitir a realidade dessas experiências. Em verdade, a declaração de Zammit é manhosa, visto que nenhum investigador discute a realidade das experiências: o que está em discussão são as interpretações...

Zammit: Alguns cardiologistas, investigadores de espírito aberto, sustentaram inicialmente que as ELM não existiam mas, subsequentemente, mudaram de opinião. Michael Sabom, o cardiologista mencionado anteriormente, admitiu que, antes de começar a investigar, sentia que as ELMs deveriam ser ‘fabricações da consciência’, fosse de quem os relatava fosse de quem escrevia sobre eles. Contudo, ao começar as investigações, ficou, absolutamente, estupefacto perante a genuinidade do fenómeno.

O problema com investigadores de “espírito aberto” é que se os espíritos se abrirem muito podem acabar se perdendo no éter na fantasia... Se Sabom, tão admiravelmente, se converteu não significa que todos os que estudam o assunto fiquem, qual o cardiologista, “estupefactos perante a genuidade do fenômeno”, mas, certamente alguns desses estudiosos ficarão estupefactos ante a ingenuidade de uns...

Zammit: Outro credibilíssimo cardiologista que era, inicialmente, céptico foi Maurice Rawlings que declara no seu livro Beyond Death’s Door (1978) que ele sempre tinha acreditado na morte como a extinção

total, até ao dia em que um carteiro de quarenta e oito anos caiu ‘morto’ no seu consultório. Ao começar a ressuscitá-lo o paciente começou a gritar: ‘Estou no Inferno! Tire-me do Inferno!’. Primeiro Rawlings disse-lhe: ‘Conserva o Inferno para ti mesmo – Estou a tentar salvar-te a vida’. Mas, gradualmente, ele começou a ficar convencido pelo terror genuíno do homem em quem ele estava a trabalhar. A experiência foi tão traumática e convincente que o Dr. Rawling começou a escrever livros sobre o assunto. Se o leitor aceita a palavra de um cardiologista altamante credível e qualificado, a sua vida mudou, por completo, com esta experiência.

Realmente, uma experiência “transformadora” qual a de Rawlings só não convencerá a quem medite um pouquitito no assunto... Afinal, não é todo dia que um cardiologista renomado, qual deve ser o Dr. Maurice Rawlings, depara paciente gritando das profundas do inferno que lhe salvem de lá... Essas “provas objetivas irrefutáveis” de Zammit são mesmo de lascar!

Essas “conversões” insólitas, além de risíveis, provavelmente são frutos de elaborações místicas latentes nas mentes dos conversos. Um médico que tivesse diante de si paciente em crise, rogando que lhe salvassem da danação infernal, entenderia que o sujeito estava em crise alucinatória, mas, para o Dr. Rawlings foi o que precisava para pôr em atividade ostensiva o misticismo que provavelmente cultivava de longa data.

Zammit: Cérebro moribundo?

O Dr. Peter Fenwick é Professor do Royal College de Psiquiatras e um neuropsiquiatra de reputação internacional – especialista das interligações mente/cérebro e do problema da consciência. Na Inglaterra, ele é a autoridade clínica líder sobre as ELMs e é o Presidente da Associação Internacional para os Estudos sobre as Experiências no Limiar da Morte.

Com sua esposa, Elisabeth, também uma cientista profissional formada em Cambridge, o Dr. Peter Fenwick fez uma minuciosa investigação dos argumentos levantados por psicólogos cépticos e materialistas segundo os quais as experiências no limiar da morte são provocadas pelos efeitos psicológicos dum cérebro moribundo (Fenwick 1996).

O argumento de psicólogos contra as ELM terá que ser visto à luz da sua própria limitação de conhecimentos quanto ao funcionamento do cérebro. Os psicólogos não têm a necessária profundidade de treino profissional, nem académica nem prática, dos neuropsiquiatras como o Dr. Peter Fenwick, para, profissionalmente avaliarem a fisiologia da ELM. O treino profissional dos psicólogos apenas inclue um treino muito básico em fisiologia. Uma olhadela a cinco livro de textos padrão das universidades de Psicologia mostra que o estudo do funcionamento do cérebro constitui menos de 5% do estudo total de psicologia. O estágio

dos psicólogos não inclui a prática da cirurgia, quanto mais o altamente especializado campo da cirurgia ao cérebro humano.

Certamente que alguém na posição do Dr. Fenwick terá conhecimento suficiente para avaliar, com exactidão, se as ELMs podem ou não ser explicadas por aquilo que se passa com o cérebro moribundo. O Dr. Fenwick afirma que estes psicólogos escrevem simplesmentes disparates quando se aventuram em áreas de conhecimento fora da sua área de competência técnica, conhecimento que eles não possuem, que não compreendem e que não constitui o seu trabalho de todos os dias.

Ele é mordaz para com os cépticos: “(Eles) simplesmente não possuem o conhecimento… Tanta asneira se fala acerca das Experiências no Limiar da Morte por pessoas que não têm que lidar com estas coisas no dia a dia. Assim, estou, absolutamente seguro de que tais experiências não são causadas por carência de oxigénio, endorfinas ou nada do género. E, certamente, nenhuma destas coisas explicaria a qualidade trascendental de muitas destas experiências, o facto de que estas pessoas sentem uma infinita sensação de perda quando as deixam para trás”. (Fenwick 1995:47)

A interpretação mística das EQM (ou ELM, como prefere Zammit) parece ganhar prestígio com a adesão de nomes de peso, qual o de Peter Fenwick. Este descarta a competência de psicólogos em interpretar o fenômeno de outro modo que não da maneira que ele (Fenwick) acha que seja o correto. Só que, ao defender essa posição, Fenwick igualmente desqualifica seus amigos cardiologistas-crédulos, visto que estes também não teriam credenciais para falar sobre a complexidade do cérebro. Porém, não é preciso ser formado em coisa alguma para perceber-se que Fenwick, nesse assunto, pronuncia-se qual pavãozinho deslumbrado com as próprias penas. Ele certamente conhece horrores sobre o cérebro, no entanto, no que concerne à vida espiritual sabe tanto ou menos que algum faxineiro que labute nos hospitais em que atua. Aqui vemos em ação dramática malandragem intelectual: o sujeito bazofia, eu sou especialista nisso e naquilo, portanto sei que as experiências de quase morte são legítimas experiências espirituais. Escancarada falácia da autoridade. Fenwick alega que psicólogos são inábeis para discorrer sobre quase morte porque estudam pouco sobre o funcionamento do cérebro: apenas 5% do currículo de formação de um psicólogo trataria dessa matéria. Seguindo o raciocínio do médico, poderíamos lhe indagar: quantos por cento de sua formação tratou de questões espirituais?

Além disso, nunca é demais lembrar: a maioria dos pares de Fenwick (neurologistas, neurocirurgiões, neurocientistas, neuropsiquiatras) não concorda com as interpretações místicas das quase morte... E aí?

Zammit: Os cépticos de espírito fechado são convidados a responder às seguintes questões:

“Céticos de espírito fechado” certamente se refere a quem não aceita as visões fantasiosas sobre as quase morte. Se quem não acredita é “cético de espírito fechado”, quem acredita seria o quê? Crédulo de mente ingênua? Zammit apresenta um questionário aos céticos, o qual deve considerar suficiente para embaraçar qualquer um que repudie as imaginosas visões místicas da EQM. Se levarmos em conta que na maioria dos casos de EQM não há sensações de outra vida, o questionário soa um tanto sem sentido. Mesmo assim, e, considerando que algumas das indagações seriam melhor respondida por especialista em assuntos do cérebro, examinaremos as inquirições e opinaremos.

Uma questão importante a ser considerada é que Zammit e outros parecem classificar como ELM (ou EQM) somente os eventos em que se reportem vivências atinentes à espiritualidade. Pessoas ressuscitadas de colapsos pelo esforço médico e que nada noticiem do mundo além não entram nas considerações desses místicos. Mas mesmos os advogados do misticismo reconhecem que as sensações espirituais são minoria no universo dos casos de quase morte. As percentagens mais generosas falam de números que vão de cinco a vinte por cento (embora alguns entusiasmados defendam que vivências místicas em EQM seja coisa comum). Em nosso entendimento, a sigla ideal para essa concepção seria EMP: Experiência mística em pseudomorte, que melhor representa a ocorrência.

De fato, os fautores da quase morte mística esquecem pontos importantíssimos, dentre os quais citamos:

- quase morte não é morte, portanto:

- quem está efetivamente morto não pode mais ser recuperado para a vida;

- ninguém vai ao “outro lado” se não estiver efetivamente morto;

- E quem vai para o “outro lado” não volta. Inexiste qualquer evidência – seja religiosa, filosófica, ou empírica – de que haja um “meio-caminho” onde os da outra dimensão possam recepcionar os que rumam para a morte e, conforme o caso, devolvê-los à vida... Seria como se uma autoridade espiritual conclamasse a um grupo de espíritos: “ó gente, tá vindo uma alma aí, mas foi engano do sistema, que adiantou a hora da morte: segurem-na e a enviem de volta, pois ela ainda tem algumas missões a realizar na vida terrena...

Percebe-se a ingenuidade de pessoas bem formadas em suas áreas de saber, que se julgam habilitadas a emitir pronunciamento taxativos sobre assuntos que não conhecem, conquanto acreditem dominá-los. Daí a grande confusão e desinformação que impera nesse meio.

• Se as ELMs são provocadas por um cérebro moribundo, isso deveria acontecer a todas as pessoas moribundas. Porque é que nem todas as pessoas que estão à beira da morte, cujo cérebro está ‘moribundo’, não têm ELMs?

A questão parece ser embaraçosa para quem não acredite na misticidade das ELM. No entanto, a indagação não tem muito sentido, inclusive pode ser

tranquilamente utilizada para negar a espiritualidade das quase morte, bastaria reformulá-la ligeiramente: se as ELM são vivências espirituais, elas deveriam ocorrer com todas as pessoas moribundas. Por que, então, somente pequeno percentual dos que têm o “cérebro moribundo” reporta visões da outra vida? Basta essa apreciação para mostrar a incoerência da pergunta. No entanto, ainda que se leve em conta o inquirido, seria fácil esclarecê-lo: as reações individuais ante situações semelhantes são variadas. Mesmo admitindo-se que hajam sensações típicas (como a visão de túnel) as reações psíquicas e orgânicas são singulares e podem fomentar resultados de todo o tipo, inclusive o resultado de não haver qualquer sensação mística.

• Se a ELM é um desejo de realização, porque é que nem todas as ELMs são positivas? Porque é que algumas experiências são neutras ou horrivelmente negativas tal como documentado por Phyllis Atwater (1994).

Creio que considerar, isoladamente, a hipótese de “desejo de realização” para explicar as EQMs seja suposição frágil. Talvez em conjunto com outras peculiaridades orgânicas e psicológicas a proposta faça algum sentido. Talvez...

• Se as ELMs são causadas pela libertação de endorfinas, que provas objectivas existem para demonstrar que a libertação de endorfinas provoca uma revivência da vida duma forma ordenada?

• Que provas objectivas existem para demonstrar que a libertação de endorfinas leva ao colapso do sentido do tempo e ao seu relacionamento com o ‘eu’?

Tenho a impressão de que a hipótese da liberação de endorfinas, proponha que as EQM sejam advindas dessa condição mas em contexto específico, ou seja, na situação em o organismo luta para se manter estável ante a iminência da desagregação. Seria necessário examinar-se estudos a respeito para melhor apreciação.

• Porque é que quase todas as pessoas que tiveram uma ELM experimentam uma transformação permanente que é coerente com o refinamento espiritual, um mais apurado modo de vida?

Esta é alegação incomprovada. Os autores místicos selecionam os acontecimentos que favoreçam a tese que defendem e trabalham com eles como se fossem os únicos representativos. A verdade é que a quantidade de casos e a qualidade das investigações, malgrada a euforia dos místicos, é insuficiente para amparar alegações de que EQM demonstrem o mundo espiritual. A dificuldade de antever quando alguém passará por uma quase morte é um dos grandes dificultadores para a ampla investigação. Desse modo,

os pesquisadores ficam na dependência do surgimento de casos em que os pacientes relatem as coisas que esperam ouvir.

• Porque é que a maioria das pessoas que tiveram ELMs relatam terem encontrado uma nova motivação compativa com a poderosa experiência que tiveram fora do corpo?

A esta questão aplica-se a reflexão anterior.

• Que prova objectiva poderá ser apresentada para demonstrar que a compreensão do papel do sistema límbico e do lóbulo temporal pode contribuir para as experiências de familiaridade, percepção e ‘deja vue’ e o estatísticamente importante incremento das experiências psíquicas que se seguem às ELMs?

A influência do sistema límbico e do lóbulo temporal pode ser melhor explicada por neurocientistas. O autor defende que esses sistemas são insuficientes para esclarecer a gama de supostas mudanças que ocorrem com as pessoas que vivenciam EQM. Em decorrência, conclui que tais experiências só podem ser espirituais! Se os pesquisadores místicos dispusessem de estatísticas seguras, do que se passa na mente dos milhares de pessoas que se recuperam de colapsos, talvez (veja: talvez) fosse possível aceitar alegações tais. Diante do pouco material que possuem (que apresentam como se fosse seleção rigorosa e ampla de casos) quaisquer declarações dessa natureza ficam prejudicadas.

• Como é que os cépticos explicam as extraordinárias consistências entre as ELMs e as EFCs? (Um Advogado Defende a Causa do Pós-vida – Provas Objectivas Irrefutáveis – Victor Zammit)

Não se pode explicar “enorme consistência” entre coisas inconsistentes... Tantos as ELMs quanto as EFCs são considerações muito incertas para possuir credencial validativa. Aliás, o estudo das EFC (dada a suposta similaridade entre os dois fenômenos) seria muito mais produtivo na elucidação do assunto (ou seja, se há legítima vivência espiritual nesses casos). As EQM (ou ELM) são ocorrências fortuitas e incontroladas, é preciso que o investigador esteja na hora e local certos para tentar (note: tentar) colher dados que lhe permitam extrair conclusão minimamente aceitável. Afinal, ninguém irá pôr pacientes em condição de quase morte intencionalmente só para ver se traz notícias do outro mundo.

Com as EFC (ou a sigla em inglês: OBE) o caso seria diferente. Alegam os defensores dessa imaginosa ideia que as experiências fora do corpo podem ser induzidas por meio de treinamento ou de hipnose. Sendo assim, bastariam formar grupos de estudo e colher as notícias que trariam da espiritualidade. Agora pergunto: conhecem alguém que esteja realizando esse trabalho? Talvez conheçam, um desses seria Waldo Vieira, que montou instituto de

projeciologia na cidade brasileira de Foz do Iguaçu, onde realizaria experiências aprofundadas de viagens fora do corpo. Mas, a questão seguinte é, cadê a validação científica dessas experiencias? Não existe! Décadas de viagens fora do corpo e nada de válido em termos científico se obteve!

Além disso, qualquer teste banal (banal mas objetivo) que se faça no sentido de verificar se há realmente um espírito vagando sem corpo redunda no mais completo fracasso. Por exemplo: o espírito projetado nunca consegue identificar objetos postados em aposento contíguo ao de onde repousa seu corpo. Provas dessa natureza (simples e elucidativas) mostram que as viagens fora do corpo, por mais admiráveis que pareçam, são meras sensações psíquicas. “Saída” da alma só na imaginação... Talvez seja por essa razão que os defensores das EQM místicas prefiram deixar as induções de experiências fora do corpo fora de suas especulações...

Elaine: O Dr. Kenneth Ring, da Universidade de Connecticut e Sharon Cooper, da Universidade de Nova York, fizeram um estudo de dois anos sobre as experiências de quase-morte em deficientes visuais, com resultados espantosos. Os resultados foram publicados no livro Mindsight (1999), o qual comprovou que 31 pessoas cegas que passaram pela experiência de quase-morte descreveram a experiência de terem podido ver pela primeira vez em suas vidas, dando detalhes de procedimentos médicos na mesa cirúrgica.

Muito interessante: cegos que vivenciam EQM passam a enxergar claramente! Pena que tenhamos de aguar esse feijão: foram realizados contratestes para confirmar se essa excepcional condição se confirma? Vou responder clara e sucintamente: não! Há, tão somente, as declarações entusiasmadas dos pouco prudentes partidários do misticismo das quase morte. Considerando que EQM e EFC seriam variações do mesmo fenômeno (conforme ostensivamente declaram os adeptos da espiritualidade das experiências no limiar da morte), bastaria induzir esses cegos que “viram” a projetarem seus espíritos e comprovarem que a visão novamente se lhes retorna. Se não retornar babou! Teremos catalogada mais uma fantasia nesse fantasioso universo de especulações místicas. Agora, perguntem se essas examinações foram realizadas? Imaginam qual seria a resposta? Não imaginam? Não...

Elaine: O médico oncologista Jeffrey Long, que dirige a fundação de pesquisa sobre experiência de quase-morte (http://www.nderf.org), tem recolhido mais de 2.500 estudos de casos em todo o mundo de pessoas que tiveram esse tipo de experiência. Por usar o método científico em sua pesquisa, decidimos contatar Dr. Long para descobrir mais sobre seu trabalho. Em nossa entrevista, feita por e-mail, ele nos declarou: “Minha área profissional está baseada em pesquisas sobre experiências de quase-morte. Em minha opinião, as experiências de quase-morte proporcionam uma das maiores evidências científicas da vida após a morte”.

Parece declaração de peso: 2.500 casos não seria pouca coisa, embora saibamos que nem sempre quantidade equivale a qualidade. Precisaríamos, portanto, conhecer que caminhos trilhou esse profissional e que veredas abriu, de forma a chegar a tal concluimento. Por ora, o que se dispõe é a opinião do doutor que, apesar de arrimada em alegados dois mil e quinhentos casos estudados, não oferece maiores subsídios.

Elaine: Em seu livro Evidence of the Afterlife (Evidências da vida após a morte), Dr. Long faz um resumo das linhas de evidência que apontam a veracidade das experiências de quase-morte: os pacientes clinicamente mortos experienciam: 1) consciência clara; 2) experiências reais fora do corpo; 3) sentidos aguçados; 4) consciência durante a anestesia; 5) lembranças claras de reencontros com familiares falecidos. Além disso, Dr. Long confirma que as experiências de quase-morte em crianças são as mesmas que em adultos, que experiências de quase-morte ocorrem no mundo todo e que as pessoas que passam por experiências de quase-morte geralmente promovem uma mudança de vida significativa. 

Com esse acréscimo no texto, começamos a suspeitar dos negros caminhos que possa ter trilhado o Dr. Long. Vemos que a lista do pesquisador é semelhante aos típicos e ingênuos relatos da quase morte espirituais, com destaque para as “experiências reais fora do corpo”. Teria o doutor comprovado, por meio de verificações condizentes, ao menos uma concreta experiência de saída do corpo? Provavelmente não...

Elaine: Terapia de Regressão de Vidas Passadas e Reencarnação 

As pesquisas em regressão de vidas passadas constam de práticas baseadas em evidências. Os resultados provêm de questionários que são preenchidos antes e depois da terapia com um número grande de participantes com um tipo específico de problema e inclui um grupo de controle para demonstrar sua efetividade (o duplo-método científico cego). Entre 1985 e 1992, Hazel Denning, fundador da Associação Internacional para Pesquisa de Regressão e Terapias (http://www.iarrt.org), estudou os resultados de oito terapeutas de regressão com aproximadamente 1.000 pacientes. Os resultados foram medidos imediatamente após a terapia, com acompanhamento de seis meses, um ano, dois anos e cinco anos após a terapia. Dos 450 pacientes que puderam ser localizados após cinco anos, 24% informaram que seus sintomas tinham desaparecido completamente, 23% confirmaram uma grande melhora, 17% confirmaram uma melhora, e 36% não obtiveram nenhuma melhora. Em geral, isto faz um saldo positivo de 64%.

Mesmo que essa malfadada terapia de regressão a vida passada funcione, ela nada provaria a respeito da vida espiritual. Terapeutas regressionistas falam que “mesmo que as lembranças de outras vidas sejam ilusórias, o que importa são os positivos resultados terapêuticos”. É como se dissessem: damos uma fantasia para que o paciente nela se apoie e obtenha melhoras em seu quadro clínico...

Alguns terapeutas regressionistas são assumidos advogados da reencarnação e tentam prová-la com as “lembranças” de seus pacientes. O fato é que essas recordações, a semelhança das viagens fora do corpo, soçobram sem apelação quando postas à prova. Tais reminiscências são fabulações realizadas por mentes sugestionadas. Os que lidam com hipnose conhecem bem o processo. O que falta aos terapeutas regressionistas-reencarnacionistas é explicar como é que o hipnotismo se tornou ferramenta cavadoira de vidas passadas se sabidamente essa técnica não possui tal pendor. Em termos simplificados, a hipnose é a mente focada em torno de uma sugestão. Se o paciente acata integralmente a ideia que lhe é apresentada poderá reagir de forma inusitada e surpreendente, coisas como fazer alguém se encolher de frio num dia calorento; ver coisas que não estão diante de si; acreditar-se mais forte e inteligente do que é; perder ou exacerbar a sensação de dor, etc., são reações conhecidas de indivíduos sob comando hipnótico. Por outro lado, há quem julgue, erroneamente, que a hipnose desperte poderes latentes, paranormais; abra o baú de lembranças de vidas pretéritas; ponha o hipnotizado em contato com o mundo além, e uma séria de suposições divagativas que nada tem a ver com a realidade.

Elaine: O psicoterapeuta Dr. Brian Weiss, do Centro Mount Sinai em Miami, USA, que se declarava cético, mudou de opinião e decidiu pesquisar o fenômeno da reencarnação e espiritualidade ao constatar que uma de suas pacientes, após recordar uma vida passada, podia dar detalhes impressionantes sobre seu filho já morto. Ele também constatou que durante a sessão de hipnose seus pacientes diziam ver professores (Espíritos). Dr. Weiss teve a oportunidade de conversar com tais professores, que lhe deram informações detalhadas sobre assuntos que a paciente desconhecia. Depois de muita investigação, Dr. Weiss escreveu vários livros, entre eles Many Lives, Many Masters (Muitas vidas, muitos mestres), Messages from the Masters (Mensagens dos mestres), Only love is real, (Somente o amor é real), entre outros, nos quais explica a realidade da reencarnação e do mundo espiritual numa perspectiva psiquiátrica.

É surpreendente que trabalho tão furrequinha quanto o de Brian Weiss tenha conquistado tantos fãs. Esse psiquiatra ou é um espertalhão da melhor marca, ou é um ingênuo que acredita nas ingenuidades que profere. O terapeuta conquistou fama a partir da historieta – muito vagabunda, por sinal – de uma paciente que resistia em reagir favoravelmente às técnicas aplicadas pelo médico. Durante uma sessão, em que o doutor tentava, sem sucesso, quebrar a resistência da moça usando a hipnoterapia, Brian deu-lhe um comando drástico: vá, para a época em que seus sintomas começaram! Parece que era tudo o que a moça esperava ouvir, imediatamente começou a falar de uma outra existência, que teria vivido séculos antes. A partir daí, sem muitas avaliações, o médico se apaixona pela nova revelação e, não deu outra: converteu-se ao regressionismo, à reencarnação, à mediunidade, ao misticismo geral. Em depoimentos posteriores, Brian Weiss afirma ter sido perseguido por aderir à crença que divulga. Pode ser, o caso é que financeiramente a mudança de rumo lhe foi altamente favorável: só de livros o médico já vendeu milhões. Mas, basta um exame medianamente crítico para

constatar que as concepções de Brian Weiss situam-se entre medíocres e sofríveis.

À guisa de ilustração apesento trecho de estudo que realizamos do conhecido livro Dr. Brian, “Muitas Vidas Muitos Mestres”.

A ADESÃO DE BRIAN WEISS AO REGRESSIONISMO

Brian Weiss conta que envolveu-se com as vidas passadas casualmente: antes de sua transformação, era cético em relação a assuntos como reencarnação, vida após a morte e comunicação com os mortos. Durante anos tratara de grande número de pacientes utilizando os métodos ortodoxos da terapia psiquiátrica, e assim continuaria... se o inesperado não acontecesse.

Uma de suas pacientes – chamada Catherine – não respondia satisfatoriamente ao tratamento. O Dr. Weiss recorreu à hipnose, na intenção de acessar traumas que pudessem estar bloqueados nas profundezas da mente da moça.

O hipnotismo, porém, ajudou pouco. O médico sentiu-se desanimado. Numa certa sessão levou a moça mentalmente até a idade de dois anos, mas ela não lhe trouxe as respostas que buscava. A ponto de perder a paciência, Brian Weiss ordenou-lhe que regredisse até a época do surgimento dos sintomas.

Pasmado, ouviu Catherine falar de fatos acontecidos com outra pessoa, que vivera muitos anos antes da atualidade. A jovem discursava como se houvera sido aquela personagem!

Deixemos que o próprio Doutor Brian nos conte o caso:

“Achei que ela já deveria ter progredido mais...Mas Catherine não havia progredido.

Lentamente, fui levando Catherine até a idade de dois anos, mas ela não se lembrou de nada importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte para a época em que surgiram os seus sintomas’. Eu estava totalmente despreparado para o que veio em seguida...

‘Vejo uma escadaria branca, que sobe até uma construção, um grande prédio branco com colunas, aberto na frente...Estou usando uma roupa comprida...uma túnica feita de pano grosseiro...’

Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano estava e qual era o seu nome.

‘Aronda...tenho dezoito anos. Vejo um mercado em frente ao edifício...Vivemos num vale...Não há água. O ano é 1863 a.C. A região é árida, quente e arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água vem das montanhas até o vale.’

Depois que ela descreveu mais detalhes topográficos, eu disse-lhe para avançar no tempo vários anos e me dizer o que via.

‘Árvores e uma estrada de pedras...Meus cabelos são louros...Estou usando uma roupa marrom longa, de tecido áspero e sandálias. Tenho vinte e cinco anos. Tenho uma filha chamada Cleastra...Ela é Raquel (Raquel era atualmente sua sobrinha...)...’

...Eu estava perplexo! Vidas anteriores? Reencarnação?...

...Como ela reconhecera a sobrinha numa vida anterior, perguntei-lhe se eu estivera presente em algumas de suas outras vidas...

‘Você é meu professor...Você nos ensina com livros. É velho e tem os cabelos grisalhos...Veste uma roupa branca (toga) com arremates dourados...Seu nome é Diógenes. Você nos ensina símbolos, triângulos. É muito sábio, mas eu não compreendo. O ano é o de 1568 a.C.’

(Aproximadamente 1.200 anos antes do famoso filósofo cético grego Diógenes. Este nome não era incomum.)

A primeira sessão terminara. Outras mais surpreendentes viriam.

Depois que Catherine saiu e durante vários dias, como sempre fazia, refleti sobre os detalhes da regressão hipnótica. Mesmo numa terapia “normal” muitos poucos detalhes escapavam à minha capacidade obsessiva de análise...Além disso, eu era bastante cético com relação às idéias de vida após a morte, reencarnação, experiências extracorporais e fenômenos afins...Mas eu estava consciente...da existência de um outro pensamento...Mantenha a mente aberta, ele [o pensamento] me dizia, a verdadeira ciência começa com a observação...Mantenha sua mente aberta. Consiga mais dados." (Brian Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres).

Esta é a síntese da conversão de Brian Weiss, contada pelo próprio. Uma leitura rápida talvez não diga muito, mas, se examinarmos detalhadamente o relato perceberemos alguns pontos surpreendentes.

A reação do Dr. Brian diante do que ouviu de sua paciente foi de confusão e espanto. Essa atitude é de causar admiração, visto que advém de um psiquiatra, conhecedor das nuanças da mente.

Ao ouvir a insólita narrativa da paciente, o médico confessou-se “assombrado”. Ora, um psiquiatra não deveria se assombrar tão facilmente: sabe-se que muitas pessoas são capazes de forjar fantasias admiráveis. Antes de se deixar dominar pela perplexidade, o médico deveria ter buscado esclarecimentos plausíveis para a novidade que presenciara. Surpreendentemente, o terapeuta preferiu se dobrar ante o mistério.

[...]

Ao insistir que a paciente retornasse mentalmente ao período em que seu trauma ocorrera, Brian Weiss pode ter cometido um equívoco: se a moça não lembrava nada importante, talvez os traumas de Catherine tivessem origem indefinida, ou seja, não haveria um único evento que a tornara fóbica.

Algumas pessoas desenvolvem distúrbios psíquicos por receberam durante a formação de suas personalidades pressões negativas repetitivas – (nem sempre existe um acontecimento específico causador do problema) –, ou, ainda, por internalizarem em suas mentes receios irreais passados por genitores e outros com quem tenha convivido. Contudo, em todo o livro, o médico não informa que tenha averiguado tal possibilidade.

A hipnose pode levar o paciente a responder à sugestão com fantasias: inconscientemente simula ter vivido uma aventura que não aconteceu. Quando o paciente aceita sem reservas a indução que o terapeuta lhe faz, torna-se cooperativo e pode criar fabulações com facilidade. Se não houver uma resistência mental forte (por exemplo: preconceitos enraizados, convicções morais), o paciente acatará as palavras do hipnotizador e responderá sonhativamente ao que lhe for apresentado.

[...]

Os psicólogos e psiquiatras que recorrem à hipnose geralmente fazem-no com as cautelas adequadas, a fim de evitar que fantasias desviem o rumo do tratamento. Entretanto, parece os terapeutas regressionistas são menos rigorosos.

O leigo normalmente tem sobre o hipnotismo uma idéia incorreta. Pensa-se que quem for hipnotizado estará completamente dominado e responderá, sem mentir, a tudo o que lhe for indagado e fará tudo o que lhe for ordenado.

[...]

É surpreendente a reação de Brian Weiss ao ouvir Catherine apresentar-se como se fora outra pessoa: o médico parece ter deixado de lado a cautela com que deveria avaliar o caso:

“Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano estava e qual era o seu nome."

Brian Weiss dissera que até conhecer Catherine jamais acreditara em reencarnação e muito pouco sabia do assunto ― (“eu era bastante cético com relação às idéias de vida após a morte, reencarnação, experiências extracorporais e fenômenos afins...”). No entanto, considerando a forma como interrogou a moça somos levados a outra conclusão. A atitude do médico dá a entender que ele esperava por algum acontecimento que lhe permitisse extravasar seus anseios ocultistas. Acompanhemos:

Ele diz ter ficado confuso e pedido a Catherine que lhe informasse em que ano estava. Ora, Brian Weiss, no episódio, levara a mente da jovem até a idade de dois anos (“fui levando Catherine até a idade de dois anos”). Não havia lógica em indagar a uma criança de dois anos em que data se encontrava. Notem que, segundo o próprio médico, até aquele instante a idéia de reencarnação não lhe passara pela cabeça. Portanto, ele estaria dirigindo a indagação a uma

menina com dois anos de idade. Sem que a hipótese reencarnacionista estivesse presente na mente do médico a pergunta fica sem sentido.

Brian Weiss assegura que a possibilidade da reencarnação surgiu-lhe somente depois que Catherine começou a falar de outras personalidades. Acontece que, levando-se em conta as circunstâncias em que o diálogo transcorreu somos obrigados a concluir de forma diferente.

A indagação seguinte foi ainda mais insólita: perguntou qual era o nome da moça ...

Se não cogitasse em vidas passadas, a pergunta soa completamente sem nexo, pois ele sabia qual era o nome dela. Não havendo uma inclinação prévia do médico para a reencarnação tudo o que Brian Weiss nos conta perde a coerência. Isso põe sob suspeita a explicação de que sua conversão ao reencarnacionismo foi casual. Tem-se a impressão de que o enredo fora preparado para que o “espetáculo” acontecesse...

[...]

Ao receber a ordem para voltar à época em que os sintomas surgiram, a moça mostrou que o trauma estava realmente escondido: sua mente “viajou” quase quatro milênios no passado!

Não sabemos se essa teria sido a primeira “encarnação” da moça, mas deve estar dentre suas vidas iniciais. Deduzimos isso com base nas declarações dos “mestres”, que revelaram a Catherine que ela vivera 86 vezes ― (os mestres são personagens que surgem como que do nada e passam a participar do trabalho terapêutico) :

‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis vezes em estado físico.'

Pois é: mais de 80 vidas depois do afogamento Catherine ainda carregava os efeitos psíquicos da tragédia!

Por que será que o Dr. Brian não se perguntou como pôde Catherine enraizar um trauma durante tantas existências?!

Lamentavelmente, por mais boa vontade que quiséssemos ter para com as alegações de Brian Weiss, ficaria muito complicado aceitar tão disparatada explicação para a fobia de Catherine...

Suponhamos que a paciente estivesse de fato recordando vidas passadas, mesmo assim, seria inaceitável que os efeitos da experiência traumática persistissem por tantos séculos. Em encarnações próximas daquela em que sucedeu o drama, a alma da moça haveria de ter resolvido o problema.

[...]

No capítulo 15 de "Muitas Vidas, Muitos Mestres", o médico relata a visita que Catherine fizera a uma médium e faz suas apreciações:

“Catherine fora ver Íris Saltzman, famosa astróloga e médium, especializada na leitura de vidas passadas...

Íris perguntou apenas a data, a hora e o lugar do seu nascimento. A partir desses dados...iria fazer seu mapa astral, o qual, juntamente com seus dons intuitivos, lhe permitiria discernir detalhes das vidas passadas de Catherine...

Para sua surpresa, Íris confirmou tudo que Catherine descobrira sob hipnose...

...Eu estava fascinado com a exatidão de detalhes desses fatos descritos por Íris...

[...]

O que Catherine alcançou através da regressão hipnótica, Íris conseguiu através de canais mediúnicos."

Lembramos que Brian Weiss afirmara realizar "... leituras, ... com um cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade cética...". Entretanto, não foi possível encontrar na obra do Dr. Weiss um único exemplo dessa qualidade. Brian Weiss acreditava que Íris Saltzman seria competente para discorrer sobre a mente de Catherine. A moça fora visitar a astróloga e esta lhe "revelara" as mesmas coisas que o médico descobrira pela hipnose...

Íris Saltzman é astróloga e “especialista na leitura de vidas passadas”. E deve possuir outros poderes fantásticos, pois munida apenas de parcos informes sobre Catherine (data, hora e local de nascimento) ela pôde revelar os segredos das vidas da moça.

Não ficou claro o porquê de Catherine buscar a orientação da astróloga: será que necessitava de uma segunda opinião sobre seus problemas? Ou não estaria satisfeita com o trabalho do terapeuta? A dúvida fica no ar.

A avaliação do resultado da entrevista, feita pelo médico, nos confunde: inicialmente supõe que Íris seja telepata, depois decide que tenha utilizado "canais mediúnicos". São opções bastante diferenciadas para serem aplicadas em sistema de múltipla escolha. Não parece que Brian Weiss tenha utilizado seu propalado espírito escrutinador neste caso.

O Dr. Weiss ratifica o trabalho da astróloga. Significa que atribui credibilidade a astrologia. De fato, seria muito bom se a humanidade dispusesse de um seguro processo de orientação para seu destino, tal qual propõem os astrólogos. O caso é que todas as pesquisas que intentaram comprovar o cunho científico da astrologia deram resultados negativos.

Durante muitos séculos a astrologia reinou soberana como se fora conhecimento saudável. Não estão longe os tempos em que a própria astronomia estava sob influência das postulações astrológicas. À medida que as descobertas científicas se ampliaram ficou claro que as bases da astrologia eram insustentáveis. Assim, a idéia de que alguns corpos celestes definem o destino das pessoas foi perdendo espaço no meio científico. Presentemente, classificar a astrologia de ciência não faz sentido. (...) (Moizés Montalvão. Tudo Sobre Vidas Passadas)

Elaine: Dr. Ian Stevenson, falecido em 2007, era um dos pesquisadores mais conhecidos na área da reencarnação. Ele atuava na Universidade da Virgínia. Stevenson não utilizava o método de hipnose para verificar se uma pessoa teve uma lembrança de uma vida anterior. Ao contrário, ele estudou milhares de casos em crianças nos Estados Unidos, na Inglaterra, Tailândia, Birmânia, Turquia, Líbano, Canadá, Índia etc. Primeiro, ele verificava toda a informação sobre a  vida anterior da criança. Depois, identificava o desencarnado que a criança dizia ter sido na vida anterior. Mais tarde, confirmava os fatos da vida passada do desencarnado que coincidiam com as lembranças das crianças. Ele também comparava marcas no corpo e defeitos de nascimento das crianças com feridas e cicatrizes que os desencarnados possuíam quando vivos, tudo isso confirmados por registros médicos.

Ian Stenvenson é considerado o maior investigador de vidas passadas, alguns chegaram a alcunhá-lo de “o Galileu da reencarnação”. Isso porque teria mostrado ao mundo a realidade das múltiplas vidas. No entanto, o trabalho desse pesquisador, mesmo tendo sido realizado com muita seriedade, é insuficiente para demonstrar a veracidade do vaivém de vidas. Como a Dra. Elaine bem descreveu, a empreitada do investigador consistia em colher testemunhos de infantes e conferir o quanto de acertos neles havia. Independentemente das críticas que possam ser feitas aos casos em si, o fato é que a pesquisa stevensoniana, quando muito, seria um primeiro passo de trabalho de maior envergadura, no qual a efetiva ligação desses depoimentos com a reencarnação fosse estabelecida. Esse elo Stenvenson não conseguiu achar, tampouco o acharam seus continuadores, que simplesmente repetem o trabalho básico de recolher relatos e realizar escores das revelações.

Na tentativa de dar maior respaldo às suas incursões reencarnativas, Stenvenson abraçou a exótica crença de que marcas corporais indicassem reencarnação. Até admitiu fantasias escrachadas, da qual as ditas “marcas experimentais” é exemplo: crentes feriam cadáveres ou corpos moribundos para confirmar casos de reencarnação! O espantoso é que haja quem dê crédito a formulações dessa natureza. É fora de dúvida que, em ambientes predominantemente reencarnacionistas, marcas de nascença sejam achadas em outras pessoas e admitidas, sem controvérsias, tratar-se do retorno de falecidos. Se essa insólita conjetura tivesse fundamento bastaria tatuar pessoas com símbolos específicos e confirmar-lhes o retorno pela chegada de tatuados de nascença...

Elaine: Dr. Jim Tucker, diretor médico da Clínica Psiquiátrica Child and Family, da Universidade da Virgínia, é o atual sucessor do Dr. Stevenson. Nós entramos em contato com Dr. Tucker para saber um pouco mais sobre as provas da vida após a morte. Ele respondeu: "As provas mais importantes da vida após a morte, além das experiências de quase-morte, são as pesquisas com médiuns, relatórios detalhadamente estudados de aparições e lembranças de vidas passadas em crianças. Ian Stevenson passou 40 anos estudando tais casos, onde a maioria deles vinha de culturas com uma crença em

reencarnação. Eu agora estudo os casos ocidentais, e os resultados são praticamente os mesmos”.  

Tucker é mero continuador do trabalho de Stenvenson. Digo “mero” porque, até onde sabemos, o investigador não acrescentou nenhum procedimento novo ao que seu mestre realizava. Portanto, as limitações achadas na faina stenvensoniana se aplicam ao empreendimento tuckeriano.

Elaine: A ciência da vida após a morte 

A ciência do pós-morte foi investigada do ponto de vista judicial pelo advogado australiano e escritor Victor Zammit. Ele afirma que todas as provas que ele reuniu sobre a vida após a morte são bastante fortes para serem aceitas em qualquer tribunal (http://www.victorzammit.com). Em seu livro A Lawyer Presents the Case for the Afterlife (2006, 4ª ed.) Zammit mostrou 23 áreas diferentes que demonstram a existência de vida após a morte. Ele propôs um desafio para os cientistas, pelo qual pagaria U$ 1.000.000 para que alguém provasse que não há vida após a morte!

Eu estou juntando dinheiro para oferecer a quem me prove que o anãozinho gigante não existe... provar a inexistência de qualquer coisa é empreitada mais complexa que se possa imaginar. Por outro lado, se o repto de Zammit se referir a demonstrar que as teses por ele apresentadas em seu livro estão falhadas, então, talvez eu possa reivindicar o prêmio, pois creio ter deixado claro que Victor faz afirmações contundentes baseadas em material de baixa qualidade, insuficientes para dar adequado amparo ao que diz. Enviarei este texto ao site do advogado e aguardarei por seu pronunciamento (espero que saiba ler em português, ou conheça quem o faça) e, se for o caso, me dê ao menos parte do prêmio...

Suponho podermos estar convictos de que as propaladas evidências científicas da vida além não passam de anseios religiosos. Crer que a vida continua é uma coisa, e a maioria de nós acreditamos, mas para provar, com fundamento científico, essa esperança é necessária a produção de provas condizentes com a magnitude do desafio...

Elaine: Atualmente, há numerosos estudos sendo conduzidos na área de espiritualidade e vida após a morte, em que os cientistas estão utilizando tecnologias de ponta e métodos científicos. A pesquisa pioneira de Raymond Moody e Elisabeth Kübler-Ross tem contribuído para o desenvolvimento dessa área. Podemos citar vários outros nomes, como, por exemplo, Erlendur Haraldsson, da Universidade de Islândia, Morris Netherton, terapeuta de vida passada, o psicólogo Peter Ramster, o psicoterapeuta Andy Tomlinson, o cardiologista Pim Van Lommel e muitos outros. Embora vários pesquisadores estejam encontrando evidências impressionantes que sugerem que há vida após a morte, ou pelo menos a sobrevivência da consciência, eles ainda não sabem como explicar como tudo funciona...

É bom que existam bons estudos sobre espiritualidade, mediunidade, reencarnação e coisas do gênero. Bons estudos podem trazer definições claras a respeito desses nebulosos temas, ou mostrar que não há elementos suficientes que comprovem a validade dessas proposições. É importante, pois, examinar a que desfechos chegaram os investigadores do sobrenatural e conferir se suas conclusões estão condizentemente fundamentadas.

Elaine: É, às vezes a ciência funciona desta maneira. Um exemplo clássico são os astrônomos e os astrofísicos que podem identificar uma relação entre os ciclos de atividade do Sol e o clima na Terra, assumindo que esta relação existe, apesar de não saberem como funciona, como explica o professor Sami Solanki, do Instituto Max Planck, do Departamento de Pesquisa do Sistema Solar na Alemanha(http://tinyurl.com/77taz9c): “A correlação entre os ciclos solares e o clima terrestre não tem sido demonstrada”. Então, por que estudam esta correlação se ainda não sabem que isto realmente existe? A resposta é simples: é porque eles têm observado evidências que sugerem que isso pode ser desta maneira. Pois bem, parece que estamos em uma situação muito similar com os estudos sobre a vida após a morte. Os pesquisadores têm observado evidências que sugerem que a consciência sobrevive à morte física, mas ainda não conseguem entender bem como isso funciona. Se nos dois casos a ciência ainda não foi capaz de demonstrá-los, então, nós ainda não podemos rechaçar a possibilidade de uma possível existência da vida após a morte!

A Dra. Elaine apresenta curiosa analogia: existem correlações entre eventos, admitidas no meio científico, que não são adequadamente explicadas; de modo semelhante, correlações entre certos eventos e o mundo espiritual, seriam registráveis, apesar de não saber-se explicar como o mecanismo funciona. Então, arremata a doutora: os pesquisadores acham evidências que indicam sobrevivência após a morte, mas ainda não conseguem esclarecer o processo. Até aqui tudo bem, se há evidências satisfatórias da vida além, da reencarnação e da mediunidade nada mais correto que se continuem e se ampliem as pesquisas. Porém, há aqui um ponto importante a ser considerado, considerando a ilustração apresentada pela doutora Elaine. No caso da relação entre as atividades solares o clima na Terra, somente uma ponta pode participar da investigação. O sol é um astro sem consciência, portanto incapaz de apresentar sugestões sobre como seu ciclo interfere no clima. No caso da espiritualidade haveria duas pontas conscientes e interessadas em incrementar os contatos. Então, se os investigadores daqui ainda não sabem como o processo comunicativo funciona, os de lá provavelmente sabem e poderiam muito cooperar para esclarecer as coisas, isso se se animassem a prestar informações. Fala-se tanto em contatos mediúnicos, recados de mortos para vivos, revelações variadas, então, por que os espíritos parecem desinteressados em contribuir com sua cota de conhecimento na elucidação das dúvidas? Deixo essa para a Dra. Elaine esclarecer...

Outro problema se apresenta quando se examina com certo rigor as alegadas evidências da vida além. O exame mostra que essas evidências são altamente

questionáveis. Muitos crentes transformam fragílimos indícios em fortes evidenciamentos, conforme ilustram as admiráveis declarações de apologistas das quase morte místicas. Certos casos que neurologistas e cardiologistas apresentam, para exemplificar vivências espirituais de quase morte, não são apenas anedóticos, são verdadeiras anedotas. Van Lommel, um dos “cientistas que utilizam tecnologia de ponta” na investigação de quase morte, conforme atesta Elaine, defende com muita ênfase aventura que ficou conhecida como “a anedota das dentaduras”.

Um sujeito teria sofrido forte ataque cardíaco e, ao ser socorrido, estava em estado comatoso, inconsciente, correndo risco iminente de morte. Um dos enfermeiros que tentava a ressuscitação, retirou as dentaduras do homem e as guardou numa gaveta. Uma semana após o acontecido, esse enfermeiro deparou o sujeito em recuperação no hospital. O doente prontamente reconheceu o técnico e reclamou dele o paradeiro de suas dentaduras. Admirado, o profissional quis saber como o sujeito lembrara do acontecido se estava em coma. O homem informou que assistira “de cima”, ou seja, seu espírito pairava sobre o grupo na expectativa de confirmar se ficava ou se ia, e, acrescenta a testemunha, temera que a equipe encerrasse precocemente o esforço de reanimação...

Van Lommel apresenta o relato como evidência forte de experiência espiritual em EQM. Da maneira que a história é contada nos meios apologéticos tem-se a impressão de que se trata de acontecimento sugestivo. Ocorre que, geralmente, os narradores não veem importância em deixar de lado certos fatos. O primeiro deles é que Van Lommel pegou a história de segunda ou terceira mão. Alguém que conhecia o enfermeiro teria contado a Lommel o depoimento daquele. E isso anos depois do acontecido.

Especialistas não tão crédulos quanto Lommel, que examinaram o relato, acharam razões médicas para supor que o paciente não estivesse plenamente sem consciência, portanto poderia ter acompanhado alguns dos acontecimentos. Mas, o mais admirável é que quando procurou-se o protagonista da experiência para dele colher depoimento confirmatório, o sujeito foi dado por morto. E, mesmo assim, com uma história cheia de furos e dúvidas, e sem confirmação merecedora de crédito, Lommel a divulgou como se fora ilustração de qualidade de vivência espiritual...

Quem almeja apenas confirmar anseios místicos pode se contentar com trabalhos como o de Van Lommel, Brian Weiss, Peter Fenwick, Cherie Sutherland, Zammit e outros que fazem declarações definitivas calcadas em suporte frágil. Os trabalhos desses personagens ostentam casca de cientificidade, suficiente para satisfazer os menos exigentes. No entanto, estejamos certos que investigações efetivamente científicas ainda estão distantes de ter sido realizadas. Em resumo: boas evidências da vida além até o presente não foram produzidas...

Moizés Montalvão