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EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 17ª VARA ESPECIALIZADA CRIMINAL DE SALVADOR/BA, Representação Criminal n. 2009.33.00.010475-9 SIGILOSO Derivação da Operação Castelo de Areia - Construção do Metrô de Salvador – Fraudes em licitação (artigos 90 e 95 da Lei 8.666/93) – Falsidade ideológica (art. 299 do CP) - Formação de cartel (art. 4º, inciso I, 'a', da Lei 8.137/90) - Formação de quadrilha (art. 288 do CP) – Denúncia do MPF/BA O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com base no artigo 129, inciso I, da Constituição e suporte nos autos 2009.33.00.010475-9, vem oferecer DENÚNCIA contra 1. CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO, brasileiro, maior, CPF 317.762.306-63, nascido em 16/09/1959, filho de Lourdes Gelape Quintino dos Santos, residente na Av. Juracy Magalhães Jr., n. 2426, ap. 1604, Rio Vermelho, Salvador/BA, representante da ANDRADE GUTIERREZ, empresa do consórcio METROSAL; 2. DIEGO BELTRAN SAVINO, argentino, maior, solteiro, economista, RNE V281918-0, CPF 221.250.638-40, filho de Isabel Cristela Margot Raspini, nascido em 14/08/1962, residente na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, n. 2143, São Paulo/SP, ou na Av. Pacaembu, n. 1962, Pacaembu, São Paulo/SP, representante da IMPREGILO, empresa líder do consórcio TRANSBAHIA (fls. 2036/2041 do Apenso e fls. 1517/1518); 3. GIANVINCENZO COPPI, italiano, maior, casado, engenheiro civil, RNE VI162.856-A, CPF 213.092.708-48, filho de Maria Cristina Orzi, nascido em 22/12/1948, residente na Rua Sílvio 1

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EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 17ª VARA ESPECIALIZADA CRIMINAL DE SALVADOR/BA,

Representação Criminal n. 2009.33.00.010475-9SIGILOSO – Derivação da Operação Castelo de Areia - Construção do Metrô de

Salvador – Fraudes em licitação (artigos 90 e 95 da Lei 8.666/93) – Falsidade

ideológica (art. 299 do CP) - Formação de cartel (art. 4º, inciso I, 'a', da Lei 8.137/90) -

Formação de quadrilha (art. 288 do CP) – Denúncia do MPF/BA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com base no

artigo 129, inciso I, da Constituição e suporte nos autos 2009.33.00.010475-9,

vem oferecer DENÚNCIA contra

1. CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO, brasileiro, maior,

CPF 317.762.306-63, nascido em 16/09/1959, filho de Lourdes

Gelape Quintino dos Santos, residente na Av. Juracy Magalhães

Jr., n. 2426, ap. 1604, Rio Vermelho, Salvador/BA,

representante da ANDRADE GUTIERREZ, empresa do consórcio

METROSAL;

2. DIEGO BELTRAN SAVINO, argentino, maior, solteiro,

economista, RNE V281918-0, CPF 221.250.638-40, filho de

Isabel Cristela Margot Raspini, nascido em 14/08/1962, residente

na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, n. 2143, São Paulo/SP,

ou na Av. Pacaembu, n. 1962, Pacaembu, São Paulo/SP,

representante da IMPREGILO, empresa líder do consórcio

TRANSBAHIA (fls. 2036/2041 do Apenso e fls. 1517/1518);

3. GIANVINCENZO COPPI, italiano, maior, casado, engenheiro

civil, RNE VI162.856-A, CPF 213.092.708-48, filho de Maria

Cristina Orzi, nascido em 22/12/1948, residente na Rua Sílvio

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Portugal, n. 193, São Paulo/SP (p. 2052 do Apenso), ou na Rua

Maria Carolina, n. 93, Jardim Paulistano, São Paulo/SP,

representante da IMPREGILO, empresa líder do consórcio

TRANSBAHIA;

4. JUAN ALFREDO KUSTER, argentino, maior, casado,

engenheiro civil, RNE V285320H, CPF 222.268.538-98, filho de

Amália Beatriz Arata, residente na Alameda Gabriel Monteiro da

Silva, n. 2143, Jardim Paulistano, São Paulo/SP (fls. 1517/1518), representante da IMPREGILO, empresa líder do consórcio

TRANSBAHIA;

5. MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO, brasileiro, maior,

CPF 317.596.706-00, nascido em 17/10/1953, filho de Eneida

Magalhães Duarte Pinto, residente na Alameda das Brisas, 330,

BR-040, POT Miguelão, Nova Lima/MG, representante da

ANDRADE GUTIERREZ, empresa do consórcio METROSAL;

6. PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, italiano, maior,

engenheiro, CPF 610.511.528-87, nascido em 29/07/1940, filho

de Bartolomeu Giavina Bianchi e de Maria Tereza Mafiolli

Giavina Bianchi, residente na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia,

São Paulo/SP, ou na Rua Ribeiro Lisboa, n. 501, Jardim

Morumbi, São Paulo/SP, representante da CAMARGO

CORRÊA, empresa líder do consórcio METROSAL; e

7. SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, brasileiro, maior,

CPF 002.999.284-20, nascido em 22/06/1942, filho de Maria

Amélia Vasconcelos Catão e de Isaac Ferreira Catão, residente

na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP, ou na Rua

Jesuíno Arruda, n. 122, ap. 71-C, Itaim-Bibi, São Paulo/SP, representante da CAMARGO CORRÊA, empresa líder do

consórcio METROSAL, em razão dos fatos a seguir narrados:

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I – RESUMO DOS FATOS1. Esta denúncia, amparada em vasta documentação reunida

na Operação Castelo de Areia (IPL nº 2009.61.61.004839-9, de São Paulo/SP –

Relatório Parcial fls. 593/815), imputa aos sete acusados acima qualificados, todos

diretores ou ex-diretores de empreiteiras licitantes do Metrô de Salvador, a prática

dos delitos capitulados nos arts. 90 e 95 da Lei 8.666/93, e nos arts. 299 e 288 do CP,

em razão de duas fraudes licitatórias cometidas contra a Administração Pública, bem

como o tipo descrito no art. 4º, inciso I, alínea “a”, da Lei 8.137/90 (crime contra a

ordem econômica), em concurso de agentes (art. 29 do CP).

2. A prova dos autos demonstra que os denunciados

concorreram para fraudar o procedimento licitatório, realizado em 1999, e a execução do contrato para construção do Metrô de Salvador, que perdura até 2009. Os denunciados, cada um a seu modo, concorreram para a violação ao art. 33 da Lei

8.666/93, dos preceitos do instrumento convocatório e dos princípios da

competitividade e da isonomia, em razão da prévia formação de consórcio oculto, sob

direção, organização e supervisão dos representantes legais das empreiteiras

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA S/A (CAMARGO CORRÊA)1 e

CONSTRUTORA ANDRADE GUITIERREZ S/A (ANDRADE GUTIERREZ)2.

3. O objetivo do consórcio oculto era permitir a

participação das proponentes CAMARGO CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ

(integrantes do consórcio METROSAL3, juntamente com a SIEMENS A.G.4),

assim como da NORBERTO ODEBRECHT, da CONSTRUTORA OAS, da

QUEIROZ GALVÃO e da CONSTRAN na execução e faturamento das obras

metroviárias em Salvador, independentemente de quem fosse o vencedor do certame. A este seria adjudicado o objeto do contrato para a construção do

trecho Lapa/Pirajá, com 11,9 Km de extensão, divididos em dois tramos, com oito estações de metrô, como se vê na figura a seguir:

1 CNPJ 61.522.512/0001-02, com sede na Rua Funchal, nº 160, São Paulo/SP.2 CNPJ 17.262.213/0001-94, com sede na Rua dos Pampas, nº 484, Prado, Belo Horizonte/MG.3 O consórcio foi constituído com endereço na Av. ACM, n. 3247, sala 503, Salvador/BA (fl. 658).4 A SIEMENS A.G. responsabilizou-se apenas pelo fornecimento de tecnologia, não sendo empreiteira.

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4. Apurou-se que a fraude se consumou e perdurou no

tempo mediante efetiva participação do consórcio METROSAL (CAMARGO

CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ) e das outras empresas acima indicadas

na execução das obras - ainda hoje, outubro de 2009, não concluídas. As

empreiteiras, por meio de seus dirigentes ora denunciados, avençaram a

divisão de tarefas e de atividades de gerência administrativa, comercial, de

planejamento e de produção, controle de aportes, participação no saldo

contratual, além do recebimento de adiantamentos e de remuneração em

percentuais previamente estipulados.

5. De fato, todas elas usufruíram ilegalmente dos

repasses feitos pela CAMARGO CORRÊA e pela ANDRADE GUTIERREZ dos

vultosos recursos pagos pelo MUNICÍPIO DE SALVADOR e/ou pela

COMPANHIA DE TRANSPORTE DE SALVADOR (CTS). A maior parte desses

recursos foi obtida pela UNIÃO junto ao Banco Mundial – BIRD por meio do

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contrato de empréstimo 4494 – BR, no valor de US$ 150 milhões (fl. 1105 dos

autos e fls. 3178 e 3180 do Apenso VII, vol. XIV). Tal esquema, como adiante

se verá, configura os tipos do art. 90 da Lei 8.666/935 e do art. 299 do CP.

6. Nesse contrato, a UNIÃO, como mutuária, foi

representada pela COMPANHIA BRASILEIRA DE TRENS URBANOS (CBTU),

ao passo que o MUNICÍPIO DE SALVADOR foi representado pela extinta

SECRETARIA MUNICIPAL DA PROMOÇÃO DE INVESTIMENTOS E

PROJETOS ESPECIAIS (SEMPI), cujas atividades foram incorporadas pela

COMPANHIA DE TRANSPORTE DE SALVADOR (CTS) (fl. 1150). A UNIÃO

ainda obrigou-se em outros US$ 40 milhões, como contrapartida (fl. 1360),

tendo permanecido como mutuária e responsável pelo pagamento do financiamento junto ao BIRD.

7. Concluída a licitação convocada pela COMPANHIA DE TRANSPORTES DE SALVADOR (CTS), o contrato SA-01 foi assinado em

01/10/1999, no valor de R$ 358.005.918,36 (convênio SIAFI 552.308), tendo

sido reajustado, em face de aditamentos, para R$ 398.957.689,70, sendo que

em abril de 2008 já haviam sido repassados mais de R$ 250 milhões às

empreiteiras (fls. 1090, 1107 e 1778). Atualmente, o valor total projetado da

obra é de R$ 487.717.689,70, quase meio bilhão de reais, para um trecho inferior ao planejado (fls. 1783 e 1784).

8. Por conta dos atrasos verificados durante a execução

da obra, o Tribunal de Contas da União decidiu rever todo o seu custo,

detectando a existência de superfaturamento e sobrepreço por parte do

licitante vencedor, a saber, o consórcio constituído pelas empreiteiras

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA S/A, ANDRADE

5 Considerando que a fraude se perpetrou ao menos até 23/12/2003, com a participação das seis empresas do consórcio oculto nos pagamentos sucessivos realizados pelo Poder Público, constitui esta data, a princípio, o marco inicial do prazo prescricional de 08 (oito) anos, nos moldes do art. 111, I e III, do CP, enquanto momento da cessação da conduta criminosa, razão pela qual não se verifica a ocorrência de prescrição no presente caso.

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GUTIERREZ e SIEMENS A.G. (METROSAL), impondo-lhe, por conta disto,

diversos ajustes de conduta (DOC. 20).

9. Em virtude de suspeitas de superfaturamento, chegou

a haver suspensão das transferências de verbas, fato este ainda sob apuração

pelo TCU (DOC. 20 e 12) (fls. 1840 e 1843), tendo a Corte de Contas ordenado

a retenção de sobrepreço da ordem de R$50,4 milhões6.

10. Mas as irregularidades apuradas não se limitaram a

essas. Na Operação Castelo de Areia, com base nas buscas e apreensões

realizadas pela Polícia Federal em São Paulo, surgiram provas da prática de

crimes anteriores à licitação para a implantação da obra, os quais atingiram

interesses da Administração Pública e a ordem econômico-financeira.

II- DAS FRAUDES À LICITAÇÃO DO METRÔ:

II.1. Do Consórcio Oculto (art. 90 da Lei 8.666/93 e art. 299 do CP):

11. De acordo com o Edital de Licitação Internacional SA-01, publicado em 1999, o MUNICÍPIO DE SALVADOR, como contratante, e

a República Federativa do Brasil (UNIÃO), como mutuária do empréstimo

obtido junto ao BIRD, estipularam a abertura de concorrência pública, consistente na execução de projeto, obras civis e sistemas fixos para

implantação do metrô e descentralização dos trens metropolitanos na cidade

do Salvador (DOC. 2).

12. Quando da deflagração da Operação Castelo de

Areia, foi realizada busca e apreensão nas dependências da Diretoria da

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORREA, em armário de

responsabilidade do diretor PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, ora

6 Objeto do inquérito civil (PA) 1.14.000.000034/2001-42, no MPF/BA (fl. 1935). Tais fatos não são objeto da presente denúncia.

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denunciado, e de sua secretária DARCY FLORES ALVARENGA, tendo sido ali

arrecadado vasto material, a indicar a ocorrência de fraudes à referida licitação,

em favor das empresas CAMARGO CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ S/A.

13. Com efeito, documentos ali apreendidos evidenciaram

a existência, antes do início do procedimento licitatório, de um consórcio oculto, constituído pelas construtoras CAMARGO CORRÊA e ANDRADE

GUITERREZ e pela SIEMENS A.G (previamente unidas em consórcio,

denominado METROSAL), pelas construtoras NORBERTO ODEBRECHT,

OAS, QUEIROZ GALVÃO e, ainda, pela construtora CONSTRAN.

14. Tal acerto se deu tão logo essas empreiteiras

tomaram conhecimento da concorrência internacional e antes mesmo de

apresentadas suas propostas à licitação – cuja abertura se deu em 28/06/1999 – para permitir que todas elas participassem da execução da obra,

independentemente de quem vencesse o certame (DOC. 5).

15. Observa-se que a empresa SIEMENS A.G, não

obstante compusesse formalmente o consórcio, não fez parte dos acertos fraudulentos detectados, restringindo-se a sua participação ao fornecimento

de material tecnológico (equipamentos), sem relação, portanto, com o objeto

social das seis outras empresas participantes, todas empreiteiras.

16. Ocorreu, porém que, com a abertura das propostas, o

primeiro ofertante classificado, pela proposta mais vantajosa, foi o consórcio

denominado TRANSBAHIA, composto pela empresa italiana IMPREGILO

S.p.A e pela brasileira SOARES DA COSTA (DOC. 4), que buscou permanecer

no certame, impetrando o mandado de segurança n. 1999.33.00.014939-2,

na Justiça Federal em Salvador/BA.

17. Por conseguinte, a vitória inicial do consórcio

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TRANSBAHIA, visivelmente, frustrou a implantação do pretendido consórcio

oculto, já que o consórcio METROSAL, composto pelas empreiteiras

CAMARGO CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ e pela SIEMENS, ficou em

segundo lugar, pelo critério menor preço, sendo que as demais empresas,

denominadas “parceiras” no referido acerto espúrio, ficaram em 4º e 5º lugares,

no certame (DOC. 4). Tal resultado levou os então representantes do consórcio

METROSAL, os denunciados PIETRO e SAULO, ao lado dos demais, a

construírem uma nova e igualmente fraudulenta estratégia, para garantir-lhes a

vitória “conjunta” no certame, com a exclusão do consórcio TRANSBAHIA.

18. Verificou-se que a empresa italiana IMPREGILO (líder do consórcio TRANSBAHIA), embora inicialmente interessada na obra,

acabou por desistir de executá-la e “vendeu” às construtoras concorrentes o seu primeiro lugar na licitação e sua desistência judicial. Portanto, a

menção, nos manuscritos apreendidos na sede da CAMARGO CORRÊA, à

empresa italiana IMPREGILO, refere-se, tão-somente, à sua inicial cogitação

em participar do acerto oculto, não concretizada, porém, na fase posterior.

19. Por meio de tal ajuste oculto, as seis empreiteiras participantes, capitaneadas pela CAMARGO CORRÊA e pela ANDRADE

GUTIERREZ, visaram garantir, com a eventual vitória de qualquer uma delas,

que as demais “parceiras” se beneficiassem, igualmente, do objeto da obra,

recebendo, pelo exercício de funções diversas, remuneração em percentuais

previamente estipulados, sem o conhecimento formal da UNIÃO e do BIRD.

20. Para a efetiva formação do consórcio oculto,

seguiram-se inúmeras reuniões, registradas pelo denunciado SAULO - então

ocupante do cargo de diretor da CAMARGO CORRÊA - em relatórios e

esboços manuscritos, sob o acompanhamento e supervisão do denunciado

PIETRO, seu diretor-presidente (DOC 3).

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21. O documento sete (DOC.7) é uma minuta de

compromisso, que relata reuniões com os “parceiros”, prevê a divisão de

tarefas e hipóteses de atribuição de valores segundo a participação das seis

empresas no consórcio, quando ainda se cogitava da participação da

IMPREGILO no arranjo oculto. Trata-se, na verdade, de um “contrato de gaveta”, na forma de minuta, prescrevendo, em linhas gerais, que a

empreiteira que vencesse a licitação concordaria que a obra fosse realizada, na

sua totalidade, por um consórcio construtor formado pelas empresas OAS,

QUEIROZ GALVÃO, CONSTRAN, ANDRADE GUTIERREZ, CAMARGO

CORRÊA e ODEBRECHT, com a participação de 1/6 cada uma.

22. A tabela impressa (DOC. 6) reproduz, com clareza, as

“alternativas” levantadas pelas seis empreiteiras para a participação na

licitação, apontando as vantagens e desvantagens de cada arranjo. Entre

estas, consta previsão de situação7 em que estaria caracterizada a prática de fraude, caso fosse por elas adotada, como, de fato, sucedeu, tendo sido eleita

a proposta que previa a criação de um “CONSÓRICO OFICIAL E DEMAIS EMPRESAS OCULTAS”, justamente porque o consórcio (oficial) liderado pela

CAMARGO CORRÊA apresentara proposta mais vantajosa que as outras

participantes. Todavia, esta proposta ainda era superada por aquela

inicialmente formulada pela IMPREGILO/SOARES DA COSTA, o que motivou a

iniciativa dos representantes da CAMARGO CORRÊA e da ANDRADE

GUTIERREZ, ora denunciados, de obter a exclusão do consórcio

TRANSBAHIA.

23. Tal desiderato foi efetivamente alcançado, conforme

adiante se demonstrará, tendo o consórcio TRANSBAHIA

(IMPREGILO/SOARES DA COSTA) formalizado a sua desistência do certame,

oportunidade em que o consórcio METROSAL assumiu, formalmente, o

primeiro lugar na licitação, adjudicando para si a obra do metrô de Salvador,

7 Dado revelador de dolo intenso.

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sem qualquer outra oposição recursal no âmbito administrativo ou irresignação judicial por parte do consórcio TRANSBAHIA.

24. Todas as decisões sobre a licitação e a execução do

contrato eram tomadas em forma colegiada pelos denunciados SAULO, MÁRCIO, CASILDO e PIETRO, sempre em benefício do consórcio oculto. Entre os documentos apreendidos na Operação Castelo de Areia, verifica-se

outro manuscrito, da lavra do denunciado SAULO, no qual se lê, no seu item

“3”, que a “representação formal do consórcio é da CC/AG, mas o conselho

executivo garante uma participação igualitária de todos nas decisões/ações” ,

declaração esta a demonstrar a efetiva prática da associação fraudulenta

(DOC. 6.1).

25. Também foi apreendido em São Paulo/SP contrato

firmado para a regular formação do consórcio METROSAL, formado pelas

empresas CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA S/A, a

CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A e a SIEMENS

AKTIENGESELLSCHAFT (AG) para a implantação do metrô de Salvador, nos

termos da Lei 6.404/76. Porém, no rodapé da penúltima página do DOC. 14, lê-

se anotação à mão, feita pelo acusado SAULO, no sentido de que “O consórcio de fato (com seis participantes) será de 'gaveta' e terá forma legal explícita, ao menos entre seus membros.” (DOC.10).

26. Ressalta-se que, no referido contrato, assinou pela

CAMARGO CORRÊA o denunciado SAULO, à época, subordinado ao acusado

PIETRO, seu então diretor-presidente (DOC.13). Também assinaram os

representantes e diretores, à época, da ANDRADE GUTIERREZ, a saber, os

denunciados MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO.

27. A justificativa legal adotada pelas empreiteiras

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CAMARGO CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ para tentar dar aparência

legítima ao acerto espúrio está em desacordo com o artigo 33 da Lei 8.666/93,

que rege as Licitações e Contratos da Administração Pública. Segundo tal

dispositivo, o consórcio entre empresas para participar de licitação pública

deve estar previsto no edital de convocação, constituindo-se este num

participante autônomo dos demais. Logo, o consórcio oculto não poderia mesmo existir.

28. De fato, não se pode extrair desse artigo permissão

para constituição de consórcio entre a ofertante vencedora e as empresas

perdedoras do certame licitatório, sendo este típico procedimento de fraude à concorrência pública. Foi o que ocorreu com o acerto clandestinamente

estabelecido pelos representantes das empreiteiras CAMARGO CORRÊA e

ANDRADE GUTIERREZ e os gestores das demais licitantes perdedoras e

integrantes do esquema oculto.

29. Incidiram os denunciados no impedimento previsto no

inciso IV e seu §2º do artigo 33 da Lei 8.666/93, no sentido de ser vedada a

participação de empresa consorciada, na mesma licitação, através de mais de

um consórcio ou isoladamente. Ora, se a CAMARGO CORRÊA já participava

da licitação em consórcio com a empreiteira ANDRADE GUTIERREZ e a

SIEMENS S.A, obviamente, não poderia participar do certame, estando

novamente consorciada com as empresas perdedoras.

30. Por conseguinte, houve clara violação ao edital de

pré-qualificação, no seu item 4.1, alínea 'a', (iii) e 'b' e no item 4.2 (DOC. 2), visto que o consórcio oculto, constituído entre as empresas CAMARGO

CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ e as outras ofertantes não vencedoras da

licitação, sob o controle de seus representantes legais, não teve a sua participação formalmente autorizada pelo Poder Público contratante.

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Sequer é possível, no caso, levantar-se a remota caracterização da figura da

“subcontratação”, já que além de o consórcio oculto haver sido estruturado

anteriormente à própria licitação, não há esta previsão no Edital de Licitação n.

SA-1, em especial as regras do item 9.3, alínea 'e', anexo 5. (DOC. 2).

31. Os documentos reunidos no “DOC. 11” refletem a

divisão de valores entre as empreiteiras integrantes do consórcio oculto,

liderado pela CAMARGO CORRÊA (código E1) e pela ANDRADE GUTIERREZ

(E2), com a participação da NORBERTO ODEBRECHT (E3), OAS (E4),

QUEIROZ GALVÃO (E5) e CONSTRAN (E6).

32. Além das planilhas acima referidas, os manuscritos

datados de 23/12/2003 demonstram a efetiva participação das seis empresas na realização das obras do metrô de Salvador, havendo

informações precisas, como resultado real das empresas no ano,

adiantamentos realizados, participação destas no saldo contratual e controle

de aportes durante as obras, fatos este a indicar a prática contumaz e

permanente, porque protraída no tempo, de fraude à licitação em questão,

com o pleno usufruto dos repasses feitos pela CAMARGO CORRÊA e, por

conseguinte, dos pagamentos oriundos do MUNICÍPIO, da UNIÃO e do BIRD,

até então desconhecedores de tais ilegalidades e fraudes.

33. A isto soma-se documentação, também constante da

pasta apreendida em poder do denunciado PIETRO, indicativa das tarefas atribuídas a cada uma das construtoras ilegalmente consorciadas, sendo

que o primeiro parágrafo do chamado “Relatório da Visita feita em 04 e 05 de

maio de 2000” retrata o mesmo esboço gráfico constante do DOC. 12.

34. Prova adicional da existência do consórcio oculto,

constituído pelos denunciados SAULO, PIETRO, MÁRCIO e CASILDO,

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representantes do consórcio METROSAL, extrai-se dos registros das

alterações contratuais da Junta Comercial de São Paulo, junto à qual, entre

tantos outros consórcios regularmente constituídos e registrados pela

CAMARGO CORRÊA perante o mesmo órgão – como é dever legal - não se

verifica qualquer menção à formação do referido consórcio espúrio (DOC 13).

35. Desta forma, a partir do acerto concretizado entre seis

empreiteiras, deu-se flagrante violação à Lei de Licitações e Contratos da

Administração Pública, na medida em que os denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO, representando as empresas CAMARGO CORRÊA e

ANDRADE GUTIERREZ (consórcio METROSAL), constituíram, de forma

secreta e vedada, consórcio oculto, para o fim de atuarem, na licitação e na

obra pública do metrô, com parceiras comerciais clandestinas,

proporcionalmente à sua participação na obra, conforme demonstram, à

exaustão, os documentos trazidos aos autos.

36. Justamente por isso, e porque a referida fraude até hoje vem surtindo reais e lucrativos efeitos – porque ainda em andamento,

nessas condições (outubro/2009) - é que seus efeitos perduram, visto que as

empreiteiras parceiras, por conta do ajuste com o consórcio METROSAL,

ainda se beneficiam dos pagamentos de origem pública, inclusive federal,

fato este ignorado, ou, no mínimo, não autorizado pelas autoridades públicas

competentes para liberação de tais recursos. De fato, manuscritos apreendidos

revelam a duração da fraude, desde 1999, passando pelo exercício de DEZ/2003 até os presentes dias (DOC. 14).

37. O conluio entre as licitantes é irrefutável. De fato, o

documento de fls. 669 prova que houve participações no saldo contratual por parte das integrantes do consórcio oculto durante toda a obra, inclusive “a partir de 01/06/2003”. Na planilha de fl. 669, intitulada “METRÔ DE

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SALVADOR”, são listadas as seis empresas do consórcio oculto, sua

participação percentual, o valor em reais, e as cotas sobre o total de

R$193.760.827,00. A distribuição das receitas obtidas se comprova também

com a planilha de fls. 670 e 1437, datada de 23/12/2003, denominada

“Resultado real das Empresas – Balancete Número: 47”, com a referência às

seis empresas “E1” a “E6”.

38.Na fl. 1451 do Apenso VII também se vê um

relatório gerencial de junho de 2003, com a

participação das seis empresas do consórcio oculto

nos pagamentos realizados pelo Poder Público. O

email de fl. 1452 do mesmo apenso mostra que o

funcionário PEDRO BRITO, da CAMARGO

CORREA, informou ao denunciado SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, em

15/05/2001, sobre pagamentos recebidos nos

seguintes termos: “Estamos recebendo amanhã aproximadamente R$ 3.623.000,00, sendo considerada R$ 2.623.000,00 como quitação das faturas até março/2001, e R$ 1.000.000,00 considerado como adiantamento (PARA O CONSÓRCIO)”.

39. Os “controles de aportes”, datados de 15/05/2001 e

21/03/2001, que se vêem nas fls. 1453 e 1454 do Apenso VII indicam a

distribuição de ingressos para as seis empresas, inclusive as do consórcio

oculto, identificadas como “E1” a “E6”, vendo-se também em manuscrito as

siglas das empreiteiras (fl. 1454 do Apenso VII). Nas fls. 1457 e 1474 do

referido apenso, observa-se que a E1”(líder) é a CAMARGO CORRÊA, a “E2”

é a ANDRADE GUTIERREZ, a “E3” é a NORBERTO ODEBRECHT, a “E4” é a

OAS, a “E5” é a QUEIROZ GALVÃO e a “E6” é a CONSTRAN.

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40. A imagem abaixo, constante de documento

apreendido na sede da CAMARGO CORRÊA, retrata o consórcio oculto:

41. A participação das empresas ocultas no saldo contratual da obra do Metrô de Salvador também é vista no documento de fl.

1456 do Apenso VII, no qual aparecem os nomes da CAMARGO CORRÊA,

ANDRADE GUTIERREZ, NORBERTO ODEBRECHT, OAS, QUEIROZ

GALVÃO e CONSTRAN, em relação ao dia 01/05/2003.

42. Ao tempo dos fatos, o consórcio METROSAL era

gerido por um conselho diretor, constituído por dois representantes de cada

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uma das consorciadas, entre elas a CAMARGO CORRÊA e a ANDRADE

GUTIERREZ (cláusula 7.1 do contrato de constituição do consórcio, fl. 659),

sendo relevante observar que as decisões deveriam ser tomadas por

unanimidade (cláusula 7.3), o que implica a participação dos denunciados

SAULO, PIETRO, MÁRCIO e CASILDO. Na fl. 660, vê-se anotação manual no

mesmo documento, em que se faz referência ao “consórcio de fato” ou “de

gaveta”. O contrato foi assinado pelos denunciados SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO.

43. A sucessão de eventos mostra que os acusados

PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO foram os principais responsáveis pela

formação do consórcio oculto, que resultou na fraude à licitação (concorrência

internacional), o que foi vantajoso para as empresas CAMARGO CORRÊA e

ANDRADE GUTIERREZ, às quais foi adjudicado o objeto da licitação. Tal fato

enquadra-se na moldura típica do art. 90 da Lei 8.666/93.

44. Os denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO foram também responsáveis pela operacionalização do consórcio

oculto, após a licitação, tendo-se omitido, a seu mando, em documentos

públicos (nas propostas da licitação para o metrô e nos papéis da contratação

e de medição dos serviços), declarações que deles deveriam constar, com o

fim de prejudicar direito (dos demais licitantes e do Poder Público) e alterar a

verdade sobre fatos juridicamente relevantes (isto é, a condição de

consorciados numa licitação em que apareciam como concorrentes; a

existência de executantes-fantasmas no contrato administrativo; e a condição

de recebedores ocultos de verbas públicas). Tais falsos viabilizaram o

recebimento contínuo de pagamentos do Poder Público, realizados a

empresas não-vencedoras do certame (OAS, ODEBRECHT, QUEIROZ

GALVÃO e CONSTRAN), por intermédio das empresas líderes do consórcio

oculto (CAMARGO CORRÊA e ANDRADE GUTIERREZ), sem autorização

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expressa da Administração Pública (art. 72 da Lei de Licitações). Tais condutas

se adequam ao tipo do art. 299 do CP, praticado repetidas vezes ao longo dos

dez anos do contrato.

II.1.1. Mais detalhes sobre o consórcio oculto:

45. Como se viu, os denunciados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO firmaram, na qualidade de representantes das empresas CAMARGO CORRÊA

e ANDRADE GUTIERREZ, o instrumento particular de formação do consórcio

METROSAL, com vistas à atuação conjunta das duas empresas nas obras de

implantação do Metrô de Salvador (fls.1426/1431).

46. Entretanto, a despeito da constituição formal do

mencionado consórcio METROSAL, os elementos de prova reunidos pelo MPF

e pela Polícia Federal revelaram que, antes mesmo do início do procedimento

licitatório, os referidos denunciados (PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO) já haviam ajustado com as demais empresas interessadas em participar do

certame - NORBERTO ODEBRECHT, OAS, QUEIROZ GALVÃO e

CONSTRAN – um consórcio oculto (ou “consórcio de fato”) que asseguraria

às seis empreiteiras a parceria na execução das obras do Metrô de Salvador,

com partilha dos respectivos lucros, qualquer que fosse a vencedora da

licitação.

47. É o que comprova a anotação manuscrita lançada no

corpo do instrumento de formação do consórcio METROSAL, no qual se

destacou expressamente que “O CONSÓRCIO DE FATO (COM SEIS PARTICIPANTES) SERÁ ‘DE GAVETA’ OU TERÁ FORMA LEGAL EXPLÍCITA, AO MENOS ENTRE SEUS MEMBROS” (fl. 1430). Os seis

participantes eram a ANDRADE GUTIERREZ e a CAMARGO CORRÊA

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(consórcio METROSAL) e as empreiteiras NORBERTO ODEBRECHT, OAS,

QUEIROZ GALVÃO e CONSTRAN.

48. A referência expressa ao ajuste, combinação ou consórcio oculto aparece, novamente, em organograma apreendido no

armário do diretor-presidente8 e denunciado PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, acostado à fl. 1409, cuja autoria foi confessada pelo acusado

SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO em seu interrogatório de fls.

567/571. No referido documento lê-se claramente a expressão “CONSÓRCIO CONSTRUTOR OCULTO – P.J. – (6 Empresas)”, contendo, ainda, de forma

organizada, a disposição das empresas participantes do acerto, acima

mencionadas, devidamente dispostas lado a lado e representadas pelas siglas

“CC” (CAMARGO CORRÊA), “AG” (ANDRADE GUTIERREZ), “CNO” CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT), “OAS” (CONSTRUTORA

OAS), “QG” (QUEIROZ GALVÃO) e “CT” (CONSTRAN), sob a liderança do

“CONSÓRCIO AG/CC/S”, em alusão às empresas integrantes do consórcio

METROSAL: ANDRADE GUTIERREZ, CAMARGO CORRÊA e SIEMENS A.G.

49. O mesmo organograma estabelece a divisão de tarefas entre as participantes nas áreas de “PRODUÇÃO”, “TEC/PLANJ”,

“COMERCIAL”, “ADM” e “MANUT” (fl. 1409), por referência a produção,

tecnologia e planejamento, comercial, administração e manutenção.

50. O manuscrito intitulado ‘METRÔ DE SALVADOR –

01/02/99”, de autoria confessada pelo denunciado SAULO THADEU

8 A secretária do denunciado PIETRO é a testemunha DARCY FLORES ALVARENGA.

18

Segundo lugar na licitação

•CAMARGO CORRÊA (CC)

•ANDRADE GUTIERREZ (AG)

•SIEMENS AG (SIEMENS)

Executores da obra licitada

•CAMARGO CORRÊA (CC)

•ANDRADE GUTIERREZ (AG)

•NORBERTO ODEBRECHET (CNO)

•CONSTRUTORA OAS (OAS)

•QUEIROZ GALVÃO (QG)

•CONSTRAN (CT)

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VASCONCELOS CATÃO, registra a realização de uma “REUNIÃO COM PARCEIROS”, indicados nas siglas “CC/AG” e “CNO/OAS”, além de destacar

a divisão entre os participantes na proporção de “33% - CC/AG/CT – 11%” e

“33% - CNO/QG/OAS-11%”. Do mesmo modo, foi confessada pelo referido

acusado a autoria da anotação “TRABALHAR NO EDITAL – JUNTOS CNO/CC/AG – INFLUENCIAR” (fl. 1402), constante do documento intitulado

“10/02/99 - METRÔ DE SALVADOR” – tudo a revelar, de forma cristalina, os

trabalhos desenvolvidos em parceria pelo bando, no consócio oculto (fls.

1399/1405).

51. Em tal manuscrito (fl. 642), datado de 10/02/1999, sendo portanto anterior à abertura das propostas da licitação internacional, o

item 2 aponta o plano de “conversar com os outros grupos. Impregillo” (sic), ao passo que no item 9 aparece a anotação “12/02/1999 – CNO →

posição”, por referência à posição da CONSTRUTORIA NORBERTO

ODEBRECHT no tocante ao ajuste oculto.

52. Outro manuscrito intitulado “ALTERNATIVAS –

30/06/99” (fls. 1413 e 1414) contém não apenas a referência ao prenome do

denunciado “SAULO”, mas, também, a ressalva quanto a participação

igualitária (fl. 1414) de todas as empreiteiras nas decisões e ações do grupo,

malgrado a representação formal do consórcio oculto tenha ficado a cargo da

CAMARGO CORRÊA e da ANDRADE GUITIERREZ, in verbis: “3) A REPRESENTAÇÃO FORMAL DO CONSÓRCIO É DA CC/AG MAS O CONSELHO EXECUTIVO GARANTE UMA PARTICIPAÇÃO IGUALITÁRIA DE TODOS NAS DECISÕES/AÇÕES”(fls. 1413/1414).

53. A divisão de tarefas entre as empreiteiras

participantes do acordo secreto é, mais uma vez, destacada no documento

“METRÔ DE SALVADOR - RELATÓRIO DE VISITA FEITA EM 04 E 05 DE

MAIO DE 2000” (fl. 675 e 1447), no qual restou consignada, de modo expresso,

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a área de atuação de cada empresa, a saber: “A Gerência Comercial está a cargo da OD, a Gerência de Produção da CT, Gerência de Planejamento OAS, Gerência de Projetos AG, Gerência Geral CCCC e Gerência Administrativa QG”, indicando a participação de representantes da

ODEBRECHT (OD), CONSTRAN (CT), CONSTRUTORA OAS (OAS),

ANDRADE GUTIERREZ (AG), CAMARGO CORRÊA (CCCC) e QUEIROZ

GALVÃO (QG)9.

54. Mais adiante, no mesmo “Relatório de Visita”, é feita

alusão às “empresas não ostensivas” e “ostensivas”, bem como à prática de

“acerto de contas”. De fato, consta do mencionado documento que “As empresas não ostensivas, oficialmente, não aportam recursos e o eventual aporte em empreendimentos onde são ostensivas causa desbalanceamento de aportes, o que requer um controle paralelo por parte de ambas. Por outro lado, se exigirmos aportes das não ostensivas, quando recebermos qualquer fatura

de serviço elas poderão vir a exigir o repasse do valor recebido” e que “... as empresas ostensivas deverão aportar os recursos necessários e cobrar no acerto de contas os custos financeiros desses aportes (conforme mencionado

no item 3)”. Ainda de acordo com o referido documento, item “Controle

Gerencial e Contábil do Empreendimento”, há “despesas isoladas da CCCC e AG e que não são divididas/rateadas entre as consorciadas (R$144.072,08 CCCC

e R$79.549,38 AG, totalizando R$223.621,46” (fls. 1447/1449).

55. Ressalte-se que o mencionado “Relatório de Visita”

cuida de vistoria realizada em maio de 2000, portanto, quase um ano após a

abertura das propostas (ocorrida em 28/06/1999), o que evidencia que a fraude

decorrente da atuação conjunta de perdedores e vencedores, pensada e

acertada antes do início do procedimento licitatório pelos denunciados

PIETRO, SAULO, MÁRCIO, e CASILDO, veio efetivamente a se concretizar no

curso do certame e durante a execução das obras do Metrô de Salvador, com a

9 A serem identificados no inquérito suplementar ainda em tramitação na SR/DPF/SP.

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participação de diretores das outras empresas ajustantes, todos membros de

uma quadrilha (art. 288 do CP).

56. Outra não é a conclusão extraída dos documentos

acostados às fls. 1433/1443, nos quais cada uma das empresas integrantes do consórcio oculto está representada em uma tabela inicial de códigos (“E1

– Camargo Corrêa”, “E2 – Andrade Gutierrez”, “E3 – Norberto Odebrecht”, “E4

– OAS”, “E5 - Queiroz Galvão” e “E6 – Constran”), seguida de tabelas outras

com menção à participação de todas as referidas empreiteiras no saldo

contratual a partir de 01/05/2003 (fl. 1436), no controle de aportes de 2001 (fls.

1435/1436) e no balancete nº 47 de 30/11/2003 (fl. 1347/1348). Acrescente-se,

neste ponto, o registro manuscrito, lançado à fl. 1443, no qual está consignado

que “Enquanto CNO for oculto OAS cumpre o que deve”.

57. Por fim, não se pode olvidar que o modelo de

“contrato de gaveta” de fls. 1416/1418, apreendido no interior do armário do

denunciado PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, na sede da

CAMARGO CORRÊA, corrobora a existência do ajuste para formação do

consórcio oculto, acima descrito, uma vez que referido instrumento prova que o

acordo espúrio constitui prática usual entre as investigadas para fraudar o

caráter competitivo de licitações públicas e a lisura na execução das

respectivas obras.

58. É o que se depreende do item 1 do mencionado

instrumento que prevê o seguinte compromisso: “1. As empresas (xxxx), que participarão da concorrência, individualmente, ou integrando consórcio, desde logo ajustam entre si o compromisso de aquela que for vencedora da licitação – individualmente ou por consórcio – concorda em que a obra

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seja realizada, na sua totalidade, por um ‘Consórcio Construtor’, nos termos do art. 278, da Lei 6.404/76, que será formado pelas empresas citadas neste item, as quais terão participação de 1/6, cada uma, no referido consórcio”. A participação igualitária nas cotas (equivalente a 1/6),

bem como nas decisões, despesas, aportes de capital e retiradas provenientes

da execução das obras públicas é assegurada nos itens 4, 6 e 7 do citado

documento. Observe-se, no particular, que nos referidos itens 4 a 7 a palavra

“Consórcio” vem indicada entre aspas, denotando que os participantes,

inclusive os ora denunciados, tinham e têm pleno conhecimento de estar o

mencionado compromisso à margem da lei.

59. Como se vê, os elementos probatórios acima

descritos, todos devidamente colacionados aos presentes autos, confirmam a

prática do crime do art. 90 da Lei 8666/93, já que agentes ainda por identificar

e os denunciados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO, estes atuando em nome da

ANDRADE GUTIERREZ e da CAMARGO CORRÊA (consórcio METROSAL),

efetivamente frustraram o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para tais empresas e para as demais empreiteiras do consórcio oculto, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da

licitação do Metrô de Salvador.

II.2 - Da Exclusão do Ofertante Vencedor (art. 95 da Lei 8.666/93):

60. De acordo as provas reunidas pelo MPF e pela

Polícia Judiciária, os denunciados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO, já na abertura das propostas da licitação,

praticaram outra infração penal descrita na Lei de Licitações, ao darem curso a

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uma nova estratégia criminosa, visando burlar o resultado do certame, de modo

a conseguir o afastamento, mediante oferecimento de vantagem, das empresas que apresentaram a proposta de menor preço, isto é, a

IMPREGILO S.p.A, (CIGLA - CONSTRUTORA IMPREGILO E ASSOCIADOS

S/A, CNPJ 03.221.809/0001-31), com sede em Milão, e a SOARES DA COSTA

(ambas integrantes do consórcio TRANSBAHIA). Com isto, tais denunciados

forçaram a adjudicação do contrato em favor da CAMARGO CORRÊA e da

ANDRADE GUTIERREZ (consórcio METROSAL), classificado em segundo

lugar, segundo tal critério (art. 95 da Lei 8.666/93).

61. Os documentos impressos e manuscritos apreendidos

na Operação Castelo de Areia provam que, em junho de 1999, o consórcio

TRANSBAHIA, formado pelas empresas IMPREGILO e SOARES DE COSTA,

sagrou-se o ofertante vencedor na licitação do metrô (critério menor preço), o que resultou na segunda colocação para o consórcio METROSAL,

constituído pelas empresas CAMARGO CORRÊA, ANDRADE GUTIERREZ e

SIEMENS.

62. A partir daí, verificou-se típica e manifesta fraude no

certame, constituída em articuladas manobras dos seus então diretores e

representantes, com a colaboração das demais construtoras “parceiras” da

CAMARGO CORRÊA e da ANDRADE GUTIERREZ no indigitado consórcio

oculto, voltadas para a exclusão do consórcio TRANSBAHIA

(IMPREGILO/SOARES DA COSTA), denominado pelos denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO, em suas reuniões e manuscritos, de “italianos”

ou “pessoal da Bota”.

63. A estratégia era engenhosa: uma vez excluída a

primeira colocada, o consórcio METROSAL (CAMARGO CORRÊA, ANDRADE

GUTIERREZ e SIEMENS) assumiria o primeiro lugar, sem contestação, adjudicando para si a obra de construção do metrô, o que de fato ocorreu.

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64. Parte da estratégia foi montada pelo denunciado

SAULO, autor do manuscrito datado de 30/06/1999 (dois dias após a abertura

das propostas do certame), no qual fez constar o resultado da licitação

(IMPREGILO em primeiro lugar, e o consórcio CC/AG em segundo) e a

indagação de como operacionalizar o “acerto financeiro” com a IMPREGILO

para retirá-la da licitação (DOC 6.1 e 18).

65. Inicialmente, em 06/07/1999, segundo relato escrito

da CAMARGO CORRÊA acerca das “ações a serem implementadas” (DOC.8), cogitaram os dirigentes desta em valer-se de órgãos atuantes junto à licitação e

de pessoas influentes no meio político para obter a desclassificação da IMPREGILO do certame. Posteriormente, como se lê no relato datado de

15/09/99, os representantes da CAMARGO CORRÊA registraram novos meios

de abordagem ao “Pessoal da Bota”, indicando estudar formas de consórcio

oculto com os demais participantes, incluindo a IMPREGILO, detentora da

melhor proposta, tudo em desacordo com o Edital de Licitação n. SA-01 (DOC. 2).

66. Como item da pauta da reunião realizada em

26/10/1999, o denunciado SAULO registrou que a IMPREGILO, após impetrar mandado de segurança na Justiça Federal contra o MUNICÍPIO DE SALVADOR para garantir a primeira colocação na licitação, estaria sendo

pressionada pela CAMARGO CORRÊA para compor algum tipo de consórcio.

Com efeito, no item 2.6 do manuscrito, consta que seus sócios estariam

dispostos a trabalhar ocultamente e discutir o modelo de consórcio e cotas

destinadas a cada um dos consorciados, sem se estipular compensação

financeira para que a IMPREGILO deixasse o certame, assunto sobre o qual foi

marcada outra reunião com representantes da CAMARGO CORRÊA e da

ANDRADE GUTIERREZ, em encontro mantido por SAULO com os diretores

da IMPREGILO, em 26/10/1999 (DOC 9).

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67. De se registrar, apenas, que, a final, após definido o

acordo de “gaveta” entre o consórcio METROSAL e a empresa IMPREGILO

(como representante do consórcio TRANSBAHIA), acerca da adjudicação do objeto da licitação ao primeiro, com a exclusão definitiva da segunda do

certame, foi, justamente, a compensação financeira, a solução adotada por

ambas, visando, desta forma, indenizar-se a IMPREGILO pela sua

“desistência”, recebendo esta, em retorno, cerca de 11 milhões de reais, como

adiante se retratará (DOC .19).

68. Email reencaminhado por MANUEL FAUSTINO

MARQUES, funcionário da CAMARGO CORRÊA, a SANDRA KYOMI

NAKAKURA, secretária do acusado SAULO (DOC. 15), contém, em anexo,

uma proposta inicial (DOC 15.1), que, posteriormente foi convertida em uma

minuta de contrato de gaveta (“Termo de Acordo” - DOC. 18.1) entre as partes,

ou seja, entre o consórcio METROSAL (CC/AG/SIEMENS) e a IMPREGILO

(representando o consórcio TRANSBAHIA), pelo qual pactuaram, mediante

camuflada indenização, a exclusão definitiva da IMPREGILO do certame.

69. Desta forma, em contrapartida à desistência do mandado de segurança, estipulou o consórcio METROSAL, inicialmente, por

meio do chamado “Acerto Italiano”, assinar com a IMPREGILO um contrato de

assessoria técnica para execução de obras de fundação e de consolidação em

túnel, que seriam executadas pela sociedade FUNDACONSULT (empresa

pertencente à própria IMPREGILO), sendo paga diretamente à esta a quantia

de R$5,37 milhões, correspondente a 1,5% do valor inicial do projeto (R$358

milhões, orçados em junho de 1999), em três vezes, contra a entrada do

pedido de desistência da ação que garantiria ao consórcio METROSAL a

outorga do projeto da construção do metrô (DOC. 15.1 e 16). Porém, esse

primeiro contrato não foi aceito pela IMPREGILO.

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70. Nota-se, já na tentativa do primeiro acordo, a previsão

do compromisso de a IMPREGILO suspender quaisquer ações judiciais em

andamento (pois que ainda pendente o mandado de segurança por ela

impetrado), assim como de não ajuizar pleitos futuros com a mesma finalidade,

para que o consórcio METROSAL obtivesse a outorga do contrato do metrô de Salvador.

71. Os documentos anexos à presente denúncia retratam,

claramente, as estratégias negociais (intituladas “Modelagem”) da CAMARGO

CORRÊA, aliada às demais consorciadas, visando “comprar” o primeiro lugar

do consórcio TRANSBAHIA e a sua desistência dos trâmites judiciais,

propondo a estrutura que seria adequada ao consórcio METROSAL, inclusive

com a previsão de “caixa dois”, ao final, não aceito pela IMPREGILO por

temer esta a então corrente Operação “Mãos Limpas” na Itália (DOC.17e 18).

72. Revendo, porém, o que fora firmado, a CAMARGO

CORRÊA e a IMPREGILO concluíram o pretendido acerto fraudulento, nos

termos do acordo reproduzido em anexo, intitulado “INSTRUMENTO

PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE EQUIPAMENTOS”, datado de

05/02/2002, típico “contrato de gaveta”, e com aparência de licitude

(DOC.19), por meio do qual, em troca da venda de equipamentos seus, pelo

valor de R$10.531.578,55 (DOC 21), a IMPREGILO comprometeu-se a desistir – como, de fato, desistiu, por petição - do mandado de segurança que

impetrou (DOC 19.1) e que a manteria na licitação, como titular da melhor

proposta. Tal acordo, segundo admitido pelo denunciado SAULO, em sede

policial, restou, igualmente, assinado pelos representantes da CAMARGO

CORRÊA e da IMPREGILO, ora denunciados.73. O referido contrato tem a mesma data que a petição

de desistência do mandado de segurança impetrado pela IMPREGILO S.P.A., e

o valor de venda do maquinário à CC/AG é muito próximo à diferença entre os

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valores apresentados pelos dois consórcios nas propostas licitantes (R$

10.586.351,36).

74. O chamado “Primeiro Aditivo ao Instrumento

Particular de Compra e Venda de Equipamentos”, que se seguiu ao contrato

original, veio “dolarizar” a última parcela devida pela CAMARGO CORRÊA à

IMPREGILO, no valor de US$3.734.680,79 (R$ 9.031.578,55), reforçando a

certeza de que o primeiro foi mesmo concluído, ou não haveria sentido sua

re-elaboração, em especial, por prever este a indexação dos valores do

contrato em dólares norte-americanos (DOC 19.2).75. É certo, portanto, que, na confecção e assinatura de

tais documentos, acautelados em poder do denunciado PIETRO, e por

constarem seus nomes nos referidos instrumentos, tomaram parte os

denunciados PIETRO e SAULO (representantes da CAMARGO CORRÊA no

contrato forjado com a IMPREGILO), assim como os representantes legais da

empresa ANDRADE GUTIERREZ, os denunciados MÁRCIO e CASILDO, à

época, diretores da empresa e seus representantes legais nas negociações

com a CAMARGO CORRÊA. Das negociações também tomaram parte os

denunciados DIEGO, GIANVINCENZO e JUAN ALFREDO, pela IMPREGILO.

76. Entre os documentos que sustentam a presente

acusação, consta a lista dos equipamentos que, dissimuladamente, teriam sido

vendidos pela IMPREGILO à CAMARGO CORRÊA (DOC 19.3), sendo certo,

segundo informações colhidas junto ao DETRAN, que os caminhões neles

relacionados jamais passaram para o patrimônio da CAMARGO CORRÊA,

mas sim para simples pessoas físicas, adquirentes de tais veículos,

diretamente da IMPREGILO (DOC 19.4).

77. Outros manuscritos armazenados na mesma pasta

apreendida na CAMARGO CORRÊA (“Reunião” de 31/07/01, “Reunião Comitê”

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de 15/08/01, “Acerto com Impregillo, “Agenda – 28/9/01” e outros de fevereiro

de 2002), de autoria reconhecida pelo denunciado SAULO (DOC 18), dão

sustentação aos fatos acima relatados, com indicação clara e, praticamente,

confessa, do objetivo por parte dos então diretores da CAMARGO CORRÊA e

da ANDRADE GUTIERREZ, de “paralisar o processo na justiça e junto ao TCU”, fazendo, comumente, expressa menção à negociação com os “Italianos”

ou o “Pessoal da Bota” (IMPREGILO), visando à desclassificação da empresa

italiana do certame, inclusive referindo, no seu item “7”, “aos consorciados

ocultos” (ODEBRECHT, OAS, QUEIROZ GALVÃO, CONSTRAN).

78. Das anotações apreendidas, chama, ainda, atenção, a

referência, no mesmo DOC. 18, à rubrica intitulada “1- Caso Italiano”,

contendo como tarefas a exposição do contrato a duas empresas off-shore e a

menção a um fluxo de dinheiro a ser operacionalizado para o Panamá e

México.

79. Conforme o acordado entre os denunciados naquela

fase, o consórcio TRANSBAHIA (IMPREGILO/SOARES DA COSTA) foi

excluído, ilegalmente, do certame licitatório e da contratação, sendo a sua

posição de primeira ofertante literalmente comprada pelo consórcio

METROSAL, sob a coordenação dos então representantes legais da

CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA, no assunto, SAULO e PIETRO, ora

denunciados, daí decorrendo violação às regras do edital e da Lei 8.666/93,

consubstanciado o crime do art. 95 da Lei de Licitações, praticado em concurso

com os demais acusados, MÁRCIO e CASILDO (pela ANDRADE

GUTIERREZ) e DIEGO, GIANVINCENZO e JUAN ALFREDO (pela

IMPREGILO), os três últimos incidindo no parágrafo único do art. 95.

II.2.1. Mais detalhes sobre a “compra” da desistência da IMPREGILO

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80. A farta documentação apreendida na sede da

CAMARGO CORRÊA revela que, antes da abertura das propostas licitatórias

(vide fl. 641), o que ocorreu em 28/06/1999, foram elaboradas estratégias em

reuniões e mantidos contatos entre advogados e representantes de ambas as

partes (METROSAL e TRANSBAHIA) para fraudar a licitação internacional SA-

01 (fl. 1119) e posteriormente garantir a adjudicação do contrato em favor do

consórcio METROSAL, mediante concessão de vantagem à concorrente italiana IMPREGILO (CIGLA), cuja proposta havia ficado em primeiro lugar,

como faz prova o documento “Abertura de Proposta”, acostado à fl. 1407,

frustrando, destarte, o caráter competitivo da licitação.

81. Embora a IMPREGILO tenha apresentado a proposta

de menor valor, segundo o denunciado SAULO (fl. 568), a Comissão de

Licitação adjudicou o objeto ao consórcio METROSAL, pelo critério preço e

técnica, o que ensejou a impetração do mandado de segurança pela

IMPREGILO perante a Justiça Federal. A empresa também recorreu

administrativamente perante o MUNICÍPIO DE SALVADOR e ofereceu

representação ao TCU. Há sérios indícios nos autos de que a decisão da

Comissão de Licitação de afastar o consórcio TRANSBAHIA foi obtida

mediante lobby e táticas escusas coordenadas pelos denunciados SAULO e PIETRO, com a participação de terceiros.

82. De fato, para a desclassificação da proposta mais

barata (a do consórcio TRANSBAHIA), foi fundamental a estratégia traçada em 06/07/1999 pelos denunciados ligados ao consórcio METROSAL (fls. 650-

652 e 1420-1422), a respeito de ações a serem adotadas perante a Comissão

de Licitação da Prefeitura de Salvador, o que incluía a preparação de um

relatório por um certo RENATO e a realização de lobby perante o Secretário Municipal IVAN BARBOSA (fl. 650), a Comissão de Licitação (fl. 650), a

CBTU (fl. 651), e a utilização de um “Padrinho”. No relato da reunião, lê-se a

seguinte observação do punho de SAULO: “3. Ficar atento aos movimentos

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políticos locais, evitando surpresas contrárias”. No mesmo documento, há

também referências ao então Prefeito de Salvador, ANTÔNIO IMBASSAHY (fl.

652). O documento não deixa dúvidas quanto à utilização de expedientes

espúrios para que a Comissão de Licitação confirmasse a desclassificação da IMPREGILO (consórcio TRANSBAHIA), como se vê do trecho a seguir

transcrito:“Rosa/Roberto

1.Gestionar junto ao Baiardi10 para contactar o Pref/SSA para consolidar a desclassificação ”

2.“Outras ações:

3.Ênfase no respaldo político para que o secretário tenha

condições de decidir pela desclassificação;

4.Renato conversará com os dois amigos no exterior

(Jorge/Gugu) visando convencê-los da desclassificação”.

83. A estratégia dos denunciados ligados ao consórcio

METROSAL foi exitosa, pois a proposta da IMPREGILO (TRANSBAHIA) foi

mesmo afastada pelo MUNICÍPIO DE SALVADOR. Técnicos do TCU

identificaram essa irregularidade, ao apontar no documento de fls. 1671 e 1672

(Apenso VII) que a “adjudicação do objeto da licitação à 2ª colocada no

certame após a desclassificação da 1ª colocada, [ocorreu] sem justificativa e motivação que atendam ao interesse público, haja vista terem sido

fundadas em formalidades e hipóteses ambientais opcionais e não obrigatórias, resultando assim em escolha pela proposta com preço

R$8.049.597,12 superior à de menor preço, ou seja, um prejuízo que não pode e não deve ser arcado pelos cofres da União”.

84. No documento de fl. 652, de 06/07/1999, feito dias

após a abertura das propostas da licitação internacional, vê-se a disposição

dos denunciados para o esquema, quando se fez referência ao plano de

10 Provavelmente, RENATO JOSÉ BAIARDI, (ex)presidente da Odebrecht Engenharia e Construção.

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“abrirmos para ele [representante do pessoal da bota] que estamos juntos com

o grupo local [as empreiteiras ocultas] inviabilizando assim a sua idéia inicial de

trabalhar junto com a CN [possivelmente a CONSTRUTORA NORBERTO

ODEBRECHT], permitindo ao mesmo tempo abertura para sua saída do

negócio (venda) [como de fato aconteceu]”11.

85. O manuscrito de fl. 641 e 1399, datado de 01/02/1999,

antes da abertura das propostas das empresas licitantes na obra do Metrô

de Salvador, confirma as estratégias de ajuste dos denunciados, pois contém

referência expressa a “acordo”, havendo no item 6 do documento, como

providência pautada, a realização de “reunião com parceiros”, com menção,

por siglas, à “EMP/COSTA” [isto é, IMPREGILO e SOARES DA COSTA],

“CNO/OAS” [NORBERTO ODEBRECHT12 e CONSTRUTORA OAS],

“EDT/VIA”, que correspondem exatamente a alguns dos licitantes que

ofereceram propostas à Prefeitura (fl. 597).

86. A comprovar o ajuste, vale destacar o documento

intitulado “AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS (06/07/99)”, em que

evidenciado o envolvimento dos representantes da IMPREGILO/CIGLA, ora

denunciados, mencionados como “pessoal da bota” (por referência à Itália), na

negociação para garantir o seu afastamento do certame, a saber: “1.

Procurados pelo pessoal da bota, a CN manifestou possível interesse em

participar do grupo, dependendo, dentre outras coisas, de uma análise da 1ª

proposta. (...) 4. A CN conectou o pessoal da bota no dia de ontem, 05/07,

sobre a análise da primeira proposta, tendo sugerido enviar dois técnicos que

estavam em São Paulo, para fazer isso. O pessoal da bota pediu para assinarem antecipadamente um termo de confidencialidade para então iniciar a análise requerida” (DOC. 08). Convém lembrar que o “pessoal da

11 Adendos entre [] foram acrescidos para facilitar compreensão.12 Integrava o consórcio oculto, mas em 01/04/2004, o METROSAL tentou incluí-la formalmente entre

as empreiteiras vencedoras (fl. 1430-1432 do Apenso VII).

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Bota” (IMPREGILO) acreditava ter-se sagrado vencedor da licitação, pelo

critério de menor preço, logo após a abertura das propostas em 28/06/1999.

87. Posteriormente, em 06/10/1999 (fl. 653), houve uma

reunião entre representantes da CAMARGO CORRÊA e da IMPREGILO, na

qual estiveram presentes os denunciados SAULO, pela primeira, e o acusado

DIEGO BELTRAN SAVINO, pela IMPREGILO, assim como MOZART

MIRANDA MENDES13. O item 1 descreve o tema do encontro: “Face o

MOZART chegar atrasado, o DIEGO confirmou a proposta do C., ou seja, ñ ser

oculto e manter o % de 60% e 40% e queria um proposta CCCC”. Tal relato

revela que o acusado DIEGO estava ciente das ilegalidades praticadas pelos

demais denunciados e do propósito daqueles, especialmente de SAULO, de

fraudar a licitação e a execução do contrato (arts. 90 e 95 da Lei 8.666/93 e art.

299 do CP).

88. O item 2 do mesmo documento (fl. 653 e 1424)

descreve as informações trazidas por MOZART sobre a IMPREGILO: “2.b.

Estão dispostos a trabalhar oculto e querem discutir o modelo de consórcio; 2.c. Não querem compensação financeira”. Pelo teor do item 4,

observa-se que o documento foi escrito pelo denunciado SAULO, quando

refere-se à CAMARGO CORRÊA e à ANDRADE GUTIERREZ, como “nós”:

“Comentei que não tínhamos estudado CCCC e AG o modelo de consórcio”,

referindo-se ao consórcio oculto.

89. Documento apreendido na CAMARGO CORRÊA, no

curso da Operação Castelo de Areia, dá indícios de que a COMPANHIA DE

TRANSPORTE DE SALVADOR - CTS (autarquia do Município de Salvador)

estava em conluio com o consórcio METROSAL, já que as informações a

serem prestadas nos autos do mandado de segurança pela autoridade

municipal impetrada, o ex-Secretário Municipal IVAN BARBOSA, parece terem

13 Então Superintendente da Embraport – Empresa Brasileira de Terminais Portuários S/A.

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sido minutadas pela “Dra. Maria Aparecida”, a pedido da CAMARGO CORRÊA

(fls. 2194 a 2204 do Apenso VII). “Transmito a primeira minuta das 'Informações' do MS de Salvador” era o teor do documento, que foi

encaminhado por fax aos advogados ROBERTO RODRIGUES, da ANDRADE

GUTIERREZ, e WALDY MONTEIRO, da SIEMENS, em 02/12/1999. Com

efeito, as informações da Prefeitura de Salvador no MS 1999.33.00.014939-2

impetrado pela IMPREGILO foram apresentadas em 15/12/1999.90. Outra minuta no mínimo peculiar foi encontrada na

CAMARGO CORRÊA (fls. 2398-2405). Consiste em esboço da decisão da

Secretaria Municipal de Promoção de Investimentos e Projetos Especiais da

Prefeitura de Salvador (SEMPI), já com o nome do então Secretário IVAN

BARBOSA, de rejeição do recurso administrativo da IMPREGILO, assim

como atos determinando o prosseguimento da licitação com os nomes da

testemunha JANARY TEIXEIRA DE CASTRO, engenheiro e presidente da Comissão Especial de Licitação. Manuscritos no rosto da fl. 2398 do Apenso

VII vêem-se os seguintes dados: “De: Dra. Cecília” e uma data “27/9”,

correspondente a 27/09/1999. Trata-se de CECÍLIA APARECIDA DE ABREU

MOURA CONTRUCCI, ligada à CAMARGO CORRÊA.

91. Semanas mais tarde, o acusado SAULO registrou no

documento de fl. 1516 do Apenso VII reunião ocorrida na sede da CTS, em

Salvador/BA, no dia 06/01/2000, entre o consórcio METROSAL e

representantes do Município, entre eles o ex-Secretário Municipal IVAN

BARBOSA, o engenheiro da Prefeitura JANARY CASTRO, e os acusados SAULO, MÁRCIO e CASILDO, o que revela o envolvimento direto desses

denunciados na gestão do consórcio e da obra do metrô.

92. Em 24/05/2000, o denunciado SAULO manteve outra

reunião com o secretário IVAN BARBOSA, na sede da SEMPI (fl. 1526 do

Apenso VII), ocasião em que trataram de diversos assuntos, inclusive sobre a

“Ação Judicial” (isto é, o mandado de segurança da IMPREGILO) e ficou

acertado que a PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR (“PMSSA”) não iria

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entrar com agravo nem embargo, num encontro de vontades suspeito. Tal

suspeita é reforçada pelo documento de fl. 1686 do Apenso VII, consistente

num impresso que aponta custos de honorários do consórcio METROSAL,

vendo-se o valor de R$16.000,00, para o advogado CARLOS ARI SUNDFELD

elaborar “contra-razões do AI para apresentação pela Prefeitura de Salvador”. O AI em questão é o de n. 1999.01.00.112996-2/BA (DOC. 22.2),

interposto pela IMPREGILO tendo como agravados o MUNICÍPIO DE

SALVADOR, a UNIÃO e as empresas do consórcio METROSAL (fl. 1876 do

Apenso VII). O documento de fl. 2070 do apenso VII, datado de 01/02/2000, confirma esta sofisticada estratégia oculta do consórcio: “3. Escritório Porto e Sundfeld (de São Paulo) do Prof. Ary Sundfeld, já elaborou a minuta para a Prefeitura de Salvador apresentar com sua defesa no AGRAVO DE INSTRUMENTO que está tendo o seu curso no Tribunal Regional Federal da

1ª Região”, com assinatura da pessoa de iniciais “CAAMC”, correspondente a

CECÍLIA APARECIDA DE ABREU MOURA CONTRUCCI, da CAMARGO

CORRÊA (fl. 2204 do Apenso VII).

93. Também vale destacar email enviado por MANUEL

FAUSTINO MARQUES ([email protected]) à secretária do

acusado SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, a Sra. SANDRA KIYOMI

NAKAKURA, em 31/10/200014, por meio do qual lhe encaminhou minuta de

“Acordo entre Partes” contendo a participação da IMPREGILO S.p.A, no qual

a mencionada empresa se comprometeu a “suspender, a partir da assinatura do presente acordo, cada e qualquer ação legal em andamento para defender os próprios direitos em relação à outorga do contrato AS 01 Metrô de Salvador (Projeto), comprometendo-se também a não entrar futuramente com outras ações, legais ou não, com relação ao mesmo assunto” (DOC 15.1) (fls. 1486 e 1487). Trata-se de avença para sacramentar

a venda da posição da IMPREGILO ao consórcio METROSAL.

14 Em 30/10/2000 transitou em julgado o acórdão contrário à IMPREGILO no AI 1999.01.00.112996-2.

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94. A minuta fora recebida por MANUEL FAUSTINO em

31/10/2000 (fl. 1484), oriunda do endereço [email protected] , email do

consórcio IMPREGILO/SOARES DA COSTA) e então reenviada a SANDRA

KIYOMI NAKAKURA. A mensagem eletrônica inicial está assinada por “GV

Coppi”, isto é, o denunciado GIANVINCENZO COPPI, da IMPREGILO (fl. 599).

95. Tudo foi feito mediante prévio ajuste entre os

denunciados, inclusive GIANVINCENZO. De fato, no documento de fl. 629, vê-

se manuscrito, de setembro de 2000, do acusado SAULO (item 4) em que

consta “Enviar planilha de quantitativos email - [email protected] [...]” (fl. 1504).

No mesmo documento, no topo, junto à data (04/09/00), menciona-se que se

trata de reunião “METROSAL X ITALO”, com os nomes dos participantes, entre

eles o denunciado SAULO, com anotações que mostram o dolo na simulação do contrato entre a CAMARGO CORRÊA e a IMPREGILO:

“3. PARALISAR O PROCESSO – CRIAR EVENTOS PARA OS PAGAMENTOS – DISCUSSÃO DO ITALO COM SEUS ADVOGADOS” (fl. 1504).

96. Alguns dos contatos e reuniões encetadas durante a

negociação para afastamento das empresas autoras da proposta de menor

preço (consórcio TRANSBAHIA) encontram-se registrados nos documentos

apreendidos pela Polícia Federal, nos quais são feitas referências ao “Acerto Italiano”, com uso de expressões que provam o envolvimento e o empenho de

ambas as partes (METROSAL e TRANSBAHIA) na prática da fraude (DOC 18,

fls. 630 e 1498-1507), como indicam as seguintes notas:

•“ACERTO COM IMPREGILO”

•“1. SITUAÇÃO DO ITALIANO – CRONOGRAMA PARA SOLUÇÃO DO IMPASSE (1,5%)”,

•“2. AÇÃO NA JUSTIÇA – POSIÇÃO”

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•“VERIFICAR COM OS ADVOGADOS QUAIS AS PROVIDÊNCIAS A SEREM TOMADAS PELO ÍTALO PARA PARALISAR O PROCESSO NA JUSTIÇA E NO TCU” (DOC 18, fl. 1500, 1505 e fl. 630).

97. Quanto ao “processo no TCU”, mencionado nas notas

da reunião de 04/09/2000, o denunciado SAULO referia-se à representação

apresentada ao Tribunal de Contas da União, em 19/05/2000, pela

IMPREGILO S.p.A (DOC. 23), contra a PREFEITURA MUNICIPAL DO

SALVADOR, que tomou número 006.493/2000-9, do qual foi relator o ministro

UBIRATAN AGUIAR (fl. 1355).

98. Tal processo foi encerrado pelo TCU por meio do

acórdão 715/2004, com a seguinte ementa:

TCU. EmentaRepresentação formulada por licitante. Possíveis irregularidades

praticadas no âmbito da Prefeitura Municipal de Salvador BA.

Processo licitatório para construção do Sistema de Trens

Metropolitanos. Desclassificação da representante, cuja proposta

continha o menor preço. Indeferimento do pedido de vistas do dossiê

da licitação. Ausência de audiência pública. Manifestação isolada e exclusiva do presidente da comissão de licitação em assuntos da alçada deliberativa da comissão. Falta de qualificação técnica

dos membros da comissão. Ausência das atas de todas as reuniões.

Falta de segregação de funções. Ausência de parecer prévio, pelo

setor jurídico, das minutas dos instrumentos da licitação.

Conhecimento. Procedência parcial. Determinação. Arquivamento.

99. Do relatório do acórdão do TCU, vale mencionar o

seguinte trecho, referente ao repentino desinteresse da IMPREGILO quanto à

tutela de seus direitos de licitante:

“004 - A referida Empresa já houvera, com o mencionado insucesso

na via administrativa, impetrado, junto à Justiça Federal na Bahia,

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Mandado de Segurança que tomou o nº 99.14939-2, cujo pleito

principal - obter a anulação da decisão desfavorável da Comissão de

Licitação e dos atos administrativos sobre a Licitação

subsequentemente praticados - não foi reconhecido pelo Judiciário,

bem assim a liminar preconizada, tendo sido assegurado à Impregilo,

apenas o acesso à integralidade dos autos foi deferido, embora não tenha essa tutela a partir daí sido exercitada pela impetrante nem mesmo demonstrado ânimo de exercê-la.”

100. No documento de fls. 1499, o acusado SAULO historiou uma reunião que teve em 31/07/2001, na sede da CTS, em Salvador,

com o então Secretário IVAN BARBOSA (“IVAN”), a respeito do andamento da

obra do metrô. Na pauta de “assuntos tratados”, os itens 6 e 7 chamam a

atenção:

•“6. ITALIANO – CONTRATO ANDAMENTO - ADVOGADOS EM CONVERSAÇÃO – TERMO PARA RETIRADA DAÇÃO – WALD JÁ FEZ MINUTA

– ITALIANO”15.

•“7. CONSORCIADAS OCULTAS – Ação e Reação – Gestão do Projeto (fl. 1499)”,

101. Em 16/08/2001, dando prosseguimento às medidas

necessárias a consolidar a posição do consórcio oculto, como adjudicatários

da licitação, os denunciados determinaram a elaboração de minuta de “Termo de Acordo” entre o consórcio METROSAL e a IMPREGILO (representada pelo

denunciado GIANVINCENZO COPPI16), cujo objeto era a “desistência do Mandado de Segurança impetrado pela Impregilo S.p.A que objetiva a anulação do processo licitatório do Metrô de Salvador – SA 1” (fl. 1506)

mediante pagamento da “quantia equivalente à 1,5% (um e meio por cento), líquido de impostos, do total do valor do Contrato de Implantação do Metrô da

15 Na movimentação processual da apelação em mandado de segurança 1999.33.00.014939-2 vê-se que ARNOLD WALD foi realmente advogado da CAMARGO CORRÊA.

16 No documento de fl. 1960 do Apenso VII, vê-se que o denunciado GIANVINCENZO COPPI estava à frente das questões relacionadas ao metrô, tanto que foi ele quem assinou a impugnação à decisão da Comissão de Licitação da Prefeitura que desclassificou a IMPREGILO, assim como foi este denunciado quem outorgou procuração ad juditia para a impetração do mandado de segurança contra o Município (fl. 2052 do apenso).

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Cidade de Salvador Projeto SA-1”. Note-se que no referido instrumento

contratual foi expressamente consignada a cláusula de confidencialidade,

exigida pela IMPREGILO durante as negociações espúrias (DOC. 18 – fls.

1506/1507).

102. Especificamente, o documento de fl. 1497 (DOC 18)

contém a expressão “Acerto Italiano” seguida da menção: “valor total do acerto

é de 1,5% do valor total do contrato”, sendo que este é indicado como sendo

de “R$ 358.000.000,00”, exatamente o valor da proposta do consórcio

METROSAL (fl. 1407, item 2). Como prova irrefutável da vinculação do

pagamento à desistência do mandado de segurança pela

IMPREGILO/SOARES DA COSTA (TRANSBAHIA), o mesmo documento

aponta a forma de pagamento: “parcela inicial de R$1.750.000,00 em três vezes contra entrada do pedido de desistência da ação”.

103. Na fl. 674 e 1442, documento manuscrito apreendido

na CAMARGO CORRÊA, contém anotação de valores, a sigla “CCCC”

(CAMARGO CORRÊA), o nome da SIEMENS, e o planejamento: “ação na Justiça – Desistir apelação”, em clara referência à apelação no mandado de

segurança, que realmente foi objeto de desistência pela IMPREGILO, como

prova a petição de fls. 611-612 e 1514-1515, endereçada ao Desembargador

Federal Daniel Paes Ribeiro, do TRF da 1ª Região, em 05/02/2002. A

tramitação da apelação no site do TRF-1 prova que no dia 06/02/2002 foi

protocolizada a petição de desistência do recurso (DOC. 22.1).

104. Observe-se, no particular, que o próprio denunciado

SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO admitiu, em seu interrogatório,

que foi mantido contato com a IMPREGILO após a propositura do mandado de

segurança n. 1999.33.00.014939-2 (fls. 567/571).

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105. O acusado GIANVINCENZO COPPI, por sua vez,

representou os interesses da IMPREGILO S.p.A nas questões ligadas à

participação da empresa no procedimento licitatório, tendo sido o subscritor da procuração que outorgou poderes a advogados brasileiros para elaborarem

a petição inicial do mandado de segurança n. 1999.33.00.014939-2 e dele

posteriormente desistirem (fl. 2052 e fls. 1971/1978 do Apenso e fls.

1514/1515), sendo também de sua lavra a petição dirigida à Comissão de

Licitação da Secretaria Municipal de Promoção e Investimentos e Projetos

Especiais – SEMPI solicitando vista dos documentos após a avaliação das propostas (fl. 1960), tudo a revelar pleno conhecimento do andamento da

licitação e das ilicitudes nela perpetradas.

106. Os denunciados DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER, de igual modo, eram representantes dos interesses da

CIGLA - CONSTRUTORA IMPREGILO E ASSOCIADOS S/A no território

nacional, como faz prova o instrumento particular, subscrito pelos referidos

acusados, em que estipularam a compensação financeira de

R$11.531.578,55 para afastamento da IMPREGILO sob a forma de contrato

(simulado) de compra e venda de equipamentos (DOC 19) (fl. 1509). Tal

documento também contém os nomes dos denunciados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI e SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, como representantes da CAMARGO CORRÊA.

107. Os nomes de DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER, pela IMPREGILO, assim como os de PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI e SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, também aparecem no aditivo de fls. 1517-1518, em que o contrato

simulado foi aditado para que o valor a ser pago no acerto fosse dolarizado, no

valor de US$ 3.734.680,79, soma que, em 05/02/2002, correspondia a

R$9.040.168,32.

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108. Toda essa engenharia criminosa resultou no

afastamento da IMPREGILO e, por conseqüência, do consórcio

TRANSBAHIA, por ela liderado, do procedimento licitatório, mesmo tendo o

consórcio apresentado a proposta de menor preço, potencial vencedora do

certame (DOC. 4, fl. 1407), no valor de R$ 347.419,567, ao passo que o

consórcio METROSAL (CAMARGO CORRÊA, ANDRADE GUTIERREZ e

SIEMES A.G.) registrou proposta de R$ 358.005.918,36, numa diferença de R$

10.586.351,36 para mais.

109. Observe-se que o resultado do edital de licitação SA-

01 apontou em quarto lugar o consórcio formado pelas empresas NORBERTO

ODEBRECHT, OAS, QUEIROZ GALVÃO e ALSTON, enquanto em quinto lugar apareceu a proposta da CONSTRAN (fl. 1407), empresas que já eram –

e continuaram sendo - “parceiras” da ANDRADE GUTIERREZ e da

CAMARGO CORRÊA.

110. Agindo desta forma, realizaram os acusados

GIANVINCENZO COPPI, DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER, na qualidade de representantes da empresa italiana IMPREGILO

(CIGLA/consórcio TRANSBAHIA), por vontade livre e consciente, a conduta

capitulada no art. 95, parágrafo único, da Lei 8.666/93, desistindo de

participar da licitação das obras do Metrô de Salvador em razão de vantagem

oferecida pelos também denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO, representantes do consórcio METROSAL (fl. 656). Pelos mesmos fatos, os

denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO estão incursos no caput

do art. 95 da Lei 8.666/93.

II.3. Do Crime contra a Ordem Econômica (art. 4º, I, 'a', da Lei 8.137/90):

111. A documentação que instrui a exordial revela, ainda,

a prática, pelos denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO, de crime

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contra a ordem econômico-financeira, mediante formação de cartel, com a

constituição, em conluio, de acordo ou aliança de empresas para abuso de

poder econômico, eliminação da livre concorrência e dominação do mercado

(art. 4º, I, “a”, da Lei 8.137/90).112. A partir do ardiloso ajuste entre os representantes

legais do consórcio METROSAL, ora denunciados, em nome da CAMARGO

CORRÊA, da ANDRADE GUTIERREZ, em oculta parceria com as demais

habilitadas e perdedoras do certame (OAS, CONSTRAN, NORBERTO

ODEBRECHT e QUEIROZ GALVÃO), deu-se a formação de cartel, caracterizando-se prática anticoncorrencial. Com a constituição de acordo ou

aliança entre os participantes, abusaram os denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO do poder econômico das empresas que representavam

e, claramente, eliminaram qualquer concorrência no âmbito da referida

licitação, nos termos do artigo 4º, inciso I, letra 'a', da Lei 8.137/90.

113. A responsabilidade dos denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO, no caso, é de natureza criminal, porque

consciente e intencional, tratando-se de conduta nociva à ordem social e

econômico-financeira, resultando a prática no desvio de recursos da UNIÃO

para beneficiar ofertantes que, em condições regulares, jamais seriam

vencedores do certame, e, portanto, jamais poderiam executar as obras

licitadas, como se deu com as obras do metrô de Salvador, ainda hoje em execução (outubro/2009).

114. Em verdade, tal conduta implicou violação da competitividade saudável e indispensável ao regime da livre-concorrência

constitucionalmente garantido, pois que os agentes direcionaram e

condicionaram o comportamento dos demais concorrentes e do próprio Poder

Público contratante.

115. Enfim, os denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO constituíram consórcio não-autorizado e oculto com as empreiteiras

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“parceiras”, ofertantes desclassificadas do certame licitatório, e “compraram” a

desistência do consórcio TRANSBAHIA. Com isso, o consórcio METROSAL,

por meio de seus representantes ora denunciados, evitou que os demais

participantes do certame (empresas não envolvidas no esquema) pudessem

concorrer em igualdade de condições. Daí, a caracterização de cartel delituoso,

a exprimir, no caso, excessivo domínio de mercado com total desvirtuamento

da concorrência.

116. A prática do consórcio oculto, também denominado

de “não-ostensivo”, idealizado pelos denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO anteriormente à abertura da licitação, encontra prova de sua

materialidade na documentação apreendida na Operação Castelo de Areia, a

qual revelou o “acordo informal” firmado entre os representantes do consórcio

METROSAL e as demais empreiteiras perdedoras do certame. Tal fato, aliado à

ilegal exclusão do consórcio TRANSBAHIA, garantiu aos acusados (diretores

das empresas consorciadas e coordenadores das fraudes), a inclusão

fraudulenta e, certamente, bem remunerada das “empreiteiras parceiras” na

execução das obras do metrô de Salvador, em face dos repasses financeiros a

elas feitos pelo consórcio “vencedor” METROSAL, o que, como se viu,

caracteriza o crime de falsidade ideológica (verbo “omitir”).

117. Presentes e patentes, no caso, o dolo dos

denunciados PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO e o conluio entre eles,

consistente na formação do referido acordo ou ato de concentração e na

vontade de delinquir, expressa nas provas dos autos, especialmente nos

contratos e manuscritos apreendidos em poder do denunciado PIETRO. Tais

documentos eram conhecidos pelos diretores da ANDRADE GUTIERREZ,

MÁRCIO e CASILDO, ora também denunciados.

III - DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS DOS DENUNCIADOS

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118. A individualização de condutas a seguir serve como

reforço da realizada ao longo da denúncia. De fato, pode-se ler na peça

incoativa o detalhamento completo das condutas dos acusados, o que lhes

permite o exercício pleno da defesa, ensejando também o exame da justa

causa.

III.1. DENUNCIADOS PIETRO e SAULO (CAMARGO CORRÊA)

119. Conforme o relatório policial que instrui a presente

denúncia, as pastas contendo a documentação referente ao metrô de Salvador

foram apreendidas na sala da diretoria da CAMARGO CORRÊA, em armário

pertencente ao denunciado PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCH, sendo,

portanto, inegável que delas o acusado tinha pleno conhecimento.

120. A responsabilidade de PIETRO é tanto mais patente,

considerando-se que, além de ser diretor-presidente, à época, da CAMARGO

CORRÊA (DOC.10), seu nome aparece no intitulado “Instrumento Particular de

Compra e Venda de Equipamentos” e no seu “Primeiro Aditivo” (DOC. 19.2), pelo qual a segunda fraude envolvendo o consórcio METROSAL e a

IMPREGILO se consumou, com o pagamento de compensação financeira pela

primeira à segunda (venda simulada de equipamentos para a CAMARGO

CORRÊA), para desistência do mandado de segurança.

121. PIETRO era também o chefe do denunciado SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, que, à época, também atuava como

diretor da CAMARGO CORRÊA, e nesta qualidade foi mencionado nos

referidos contratos. SAULO foi o autor dos manuscritos de reuniões realizadas

para montar o esquema, documentos estes posteriormente apreendidos, nos

quais são lidas informações detalhadas, relativas às fraudes praticadas pelos

denunciados.

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122. Além disso, a respeito do acusado SAULO é de se

ver que este denunciado, tal como seu chefe PIETRO, era funcionário da

CAMARGO CORRÊA ao tempo dos fatos. Segundo seu interrogatório (fls. 567-

571), SAULO ingressou na empresa em 1968, tendo lá permanecido até 2004,

mas continuou vinculado à empreiteira como prestador de serviços. Realmente,

em seu interrogatório, o acusado SAULO disse que era diretor estatutário da

CAMARGO CORRÊA, “no ano de 1999 quando a CONSTRUÇÕES E

COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA participou da licitação da obra do metrô de

Salvador”.

123. O papel do denunciado SAULO foi o de “chefiar a

equipe que fez o fechamento da proposta apresentada” (fl. 568), tendo ele

mantido contatos com representantes da IMPREGILO, ora denunciados, após

a propositura do mandado de segurança por esta empresa, porque a

impetração “estava impedindo o início das obras” (fl. 568), o que revela a

motivação para a prática do crime do art. 95 da Lei de Licitações.

124. De fato, segundo os autos, a IMPREGILO procurou o

denunciado SAULO para “vender um maquinário que possuía”, representados

por diversos caminhões (fls. 620-621) que valeriam cerca de onze milhões de

reais, no que na verdade se traduziu num contrato simulado, que se prestou à

compra da posição da IMPREGILO na licitação internacional, em benefício do

consórcio METROSAL e de suas parceiras ocultas.

125. O documento de fl. 643 e 1400 (manuscrito) revela a

estratégia montada pelo denunciado SAULO, com cinco cenários, em que se

evidencia ajuste das empresas licitantes para fraudar a licitação, havendo

previsões para divisão do butim em sete partes (1/7), referentes a sete

empresas, ou em seis partes (1/6), caso a IMPREGILO não aderisse.

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126. O documento de fls. 647 e 1411 aperfeiçoou as

alternativas do ajuste entre as empreiteiras, havendo menção expressa à

opção de existir um consórcio oficial com as demais empresas ficando ocultas. Na coluna “Desvantagens” pode-se verificar a consciência da ilicitude, porquanto admite-se como risco a ocorrência de fraude diante de

alguns dos ajustes propostos.

127. Com efeito, no edital da licitação internacional, a

cláusula 35 veda práticas espúrias, ao exigir que mutuários e licitantes

“observem o mais elevado padrão de ética durante a participação e execução dos referidos contratos”. A subcláusula 35.1 (a) (ii) considera

“prática fraudulenta” o “conluio entre licitantes (anteriormente ou após a

apresentação de propostas), com o fito de estabelecer preços de propostas a

níveis artificiais não-competitivos, bem como privar o Mutuário dos benefícios

da concorrência livre e aberta” (fl. 1148).17

128. O documento de fl. 649 e 1444, manuscrito datado

de 30/06/1999 (vide fl. 648), também é mais do que sugestivo da fraude. No

topo aparece o nome do denunciado SAULO. O item 1 aponta a existência de

um ajuste na licitação: “caso o acerto fosse para o M SSA, ficou combinado

que isso ocorreria dentro das mesmas cotas [...]”, sendo que “M SSA” se refere

ao Metrô de Salvador.

129. Não há dúvida, portanto, de que o denunciado

SAULO foi um dos principais responsáveis pela engenharia oculta, que

viabilizou o afastamento da IMPREGILO, mediante vantagem, e a partilha da

obra do metrô entre empresas vencedoras e vencidas, participantes do conluio,

sem conhecimento formal ou autorização da Administração Pública, da

União, da CBTU ou do BIRD. Mas nada do que fez teria sido possível sem a

17 Tais práticas autorizam o BIRD a aplicar as sanções descritas na cláusua 35.1 (b) e (c).

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concordância ou aval de seu chefe, o denunciado PIETRO, que de tudo ficava

ciente.

III.2. DENUNCIADOS MÁRCIO e CASILDO (ANDRADE GUTIERREZ) :

130. Na documentação que acompanha a presente

denúncia, especialmente nas atas de assembleias e atas de reuniões do

Conselho de Administração registradas na Junta Comercial de Minas Gerais

(DOC 21), verifica-se que os denunciados MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO eram, já à época dos

fatos, diretores da ANDRADE GUTIERREZ, e que, ao assinaram o contrato de

constituição de consórcio METROSAL (DOC. 10), assim como o mencionado

“contrato de gaveta”, tinham conhecimento de toda a fraude.

131. A par dos vários elementos de prova que apontam a

constante parceria da CAMARGO CORRÊA com a ANDRADE GUTIERREZ, e

dos textos que mostram que as decisões do consórcio deviam ser tomadas por

unanimidade, cumpre acrescer que os acusados MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO, diretores e

representantes da ANDRADE GUTIERREZ, tem contra si outros indícios que

confirmam o envolvimento de ambos em todo o esquema criminoso, nos atos e

decisões do consórcio METROSAL descritos na denúncia, tanto na fase

anterior ao procedimento licitatório como durante a execução das obras.

132. De fato, MÁRCIO e CASILDO exerciam ativamente

a representação da ANDRADE GUTIERREZ (fls. 1848-1859, 1867, 1912,

1914) e tinham pleno conhecimento dos fatos descritos na peça acusatória.

Ambos são subscritores do instrumento particular de formação do consórcio

METROSAL (fls.1426/1431), bem como do contrato de execução das obras

firmado com a COMPANHIA DE TRANSPORTE DE SALVADOR – CTS (fls.

1759/1783 do Apenso), indicando que permaneceram plenamente envolvidos

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com a licitação e todos os seus desdobramentos, inclusive após a adjudicação,

o que se verifica no documento de fls. 2089.18

133. Os dois referidos acusados são ainda mencionados

em diversos documentos como presentes em reuniões para tratar dos

assuntos de interesse do consórcio METROSAL, a exemplo da participação de

MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO em encontro de negócios para cuidar

do afastamento da IMPREGILO, registrado em anotação manuscrita lançada

na parte superior do documento de fl. 1500 (DOC. 18), na qual estiveram

presentes o denunciado SAULO THADEU e a testemunha Manuel Faustino.

134. MÁRCIO e CASILDO são também citados entre os

participantes de reuniões para tratar de temas ligados à execução da obra do

metrô de Salvador (docs. fl. 2100 e 2131 do Apenso), em relação à qual

MÁRCIO enviou correspondência a MANUEL FAUSTINO MARQUES

(funcionário da CAMARGO CORRÊA) manifestando-se, em nome da

ANDRADE GUTIERREZ, pela paralisação da construção e desmobilização

imediata (fl. 2711 do Apenso – Vol XII), revelando o poder de decisão dos

referidos acusados na representação dos interesses da ANDRADE

GUTIERREZ no consórcio METROSAL.

135. Como se vê, estão presentes elementos indiciários

que denunciam o efetivo envolvimento dos acusados MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO nos fatos

capitulados na presente ação penal.

III.3. DENUNCIADOS GIANVINCENZO, DIEGO e JUAN (IMPREGILO) :

18 Trata-se de reunião de 11/01/2002, da qual participaram o ex-Secretário IVAN BARBOSA, as testemunhas CARLOS GORDILHO e GEORGE TELES e outros, em cujas notas há referências a pretenso lobby e a supostos presentes (fls. 2089 e 2091 do Apenso VII).

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136. Na qualidade de representantes da empresa italiana

IMPREGILO e/ou do consórcio TRANSBAHIA (IMPREGILO/SOARES DA

COSTA), os acusados GIANVINCENZO COPPI, DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER realizaram o tipo penal do art. 95, parágrafo único,

da Lei 8.666/93, ao desistirem de participar do procedimento licitatório para

execução das obras do Metrô de Salvador em razão do recebimento de

vantagem pecuniária oferecida por PIETRO, SAULO, MÁRCIO e CASILDO,

representantes do consórcio METROSAL.

137. A partir das diversas tratativas e propostas de

acordo, descritas nesta denúncia, que visavam afastar do certame a licitante

italiana, vencedora com a proposta de menor preço (vide fl. 1407), a empresa

IMPREGILO (consorciada com a SOARES DA COSTA no consórcio

TRANSBAHIA), por decisão de seus representantes, os ora denunciados

GIANVINCENZO, DIEGO e JUAN ALFREDO, finalmente concordou em

desistir do mandado de segurança nº 1999.33.00.014939-219, que

obstaculizava o curso normal das obras (DOC 19.1) (fl. 1514-1515 dos autos; e

fls. 1899-1905, 1966-1978, 2024-2026 do Apenso) – e pelo qual pretendia

garantir sua participação no certame e anular o procedimento licitatório, que dizia estar viciado.

138. Para mudar de idéia e retirar-se do certame, a

IMPREGILO auferiu compensação financeira (“vantagem”) em valor

correspondente a R$11.531.578.55 (onze milhões, quinhentos e cinquenta e

um mil, quinhentos e setenta e oito reais e cinquenta e cinco centavos) (DOC

19 e 19.2), decisão para a qual concorreram GIANVINCENZO, DIEGO e JUAN ALFREDO (fl. 1510).

139. Na mesma data em que foi apresentada a petição de

desistência do mandamus, 05/02/2002, os licitantes integrantes dos consórcios

19 Impetrado contra ato do Secretário Municipal de Promoção de Investimentos e Projetos Especiais da Prefeitura de Salvador, na época IVAN BARBOSA (fl. 603).

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METROSAL e TRANSBAHIA (este liderado pela IMPREGILO), cujos

representantes são os ora denunciados GIANVINCENZO, DIEGO e JUAN ALFREDO, formalizaram acerto espúrio para pagamento da compensação

financeira mediante contrato simulado de compra e venda de maquinário20,

bens móveis estes que jamais chegaram a integrar o acervo patrimonial do

suposto comprador (DOC 19.1 e 19.3, fls. 1526 a 1743).

140. Não há dúvida, portanto, de que os três

representantes da IMPREGILO concorreram, cada um a seu modo, na forma do art. 29 do CP, para a exclusão da empresa da licitação, dando incidência

ao tipo do art. 95, único, da Lei 8.666/93.

IV. DO DELITO DE QUADRILHA OU BANDO (ART. 288 DO CP)

141. Os elementos reunidos no feito revelam, ainda, a

prática, em concurso material, de crime de formação de quadrilha

caracterizado pela presença de associação estável e permanente, em

verdadeira atuação concertada e união de esforços entre os denunciados

PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO DOS SANTOS NETO e outros indivíduos 21 , para a

prática reiterada de fraudes visando burlar o caráter competitivo de

procedimentos licitatórios diversos e adjudicar vantagens provenientes da

execução dos respectivos contratos administrativos (arts. 90 e 95 da Lei

8666/93), bem como para a consumação de falsidade ideológica (art. 299 do

CP) e abuso do poder econômico em típica atuação anticoncorrencial de

dominação de mercado na execução de obras públicas (art. 4º, I, 'a', da Lei

20 No qual constam os nomes dos acusados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, pela CAMARGO CORRÊA, e de DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER, pela IMPREGILO (fl. 605), fato que se repetiu no aditivo (fl. 608).

21 Dirigentes das outras quatro empreiteiras que funcionaram como sócias ocultas.

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8.137/90). Fazendo isso, esses quatro denunciados e seus cúmplices agiram

como quadrilha (art. 288 do CP).

142. É o que revela o documento de fls. 1416/1418,

contendo minuta de compromisso, de conteúdo pré-estabelecido, para

execução de fraudes em concorrências públicas diversas (“contrato de

gaveta”), além doutros documentos apreendidos sob os cuidados do

denunciado PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI e manuscritos pelo

acusado SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, conforme confessou

este último na fl. 570.

143. A referida documentação apresenta espaços em

branco para serem preenchidos caso a caso (alínea a) e disposições que

deixam claro o ajuste permanente para burlar licitações distintas, além da realizada em Salvador, mediante o compromisso de que a empresa

vencedora concordará que a obra seja realizada em sua totalidade por todas as

empresas signatárias do acordo espúrio (item 1) (DOC. 07).

144. Na mesma documentação, os denunciados

ajustaram, ainda, que “A empresa titular do contrato, desde já, apóia esta empresa em titularidade em obras equivalentes (por ex. Metrô de São Paulo) mantendo-se as mesmas condições de negociação deste

empreendimento”(item 14) e que “poderá haver negociações, envolvendo outras obras entre o CONSÓRCIO A e a empresa individual, cedendo esta

última o percentual equivalente ao valor negociado” (item 5), denotando, à toda

evidência, a associação prévia, estável e permanente para troca de favores e prática de fraudes em diversas licitações públicas.

145. Ressalte-se que o referido documento foi encontrado

em pasta da CAMARGO CORRÊA, onde se encontravam arquivados

documentos relacionados à parceria com a ANDRADE GUTIERREZ,

representada por MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO

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QUINTINO DOS SANTOS NETO, sendo esta última empresa constantemente

citada nos diversos manuscritos e impressos em razão de sua atuação

conjunta com vistas à execução de obras públicas.

146. Aponte-se também que do bando participaram outras

pessoas, por ora ainda não identificadas22, que, na condição de representantes

legais das empreiteiras NORBERTO ODEBRECHT, CONSTRUTORA OAS,

QUEIROZ GALVÃO e CONSTRAN, formaram, com os dirigentes da CAMARGO CORRÊA e da ANDRADE GUTIERREZ, o consórcio oculto para fraudar licitações públicas, inclusive a do Metrô de Salvador.

147. A quadrilha em questão foi formada antes de 1º de fevereiro de 1999, tendo prosseguido até, pelo menos, dezembro de 2003, continuando em atividade até hoje (outubro/2009), tendo em vista que as obras

do Metrô de Salvador ainda não se encerraram, persistindo a fraude e as

omissões (art. 90 da Lei 8.666/93 e art. 299 do CP). Por tal razão, PIETRO, MÁRCIO, CASILDO e SAULO estão incursos no art. 288 do CP.

V. DO PEDIDO DE CONDENAÇÃO

148. Há justa causa para a ação penal. De fato, os autos

revelam a existência de indícios suficientes da autoria e da materialidade,

conforme a seguinte sucessão de eventos:

a) formação de consórcio oculto entre seis empreiteiras, capitaneadas pela CAMARGO CORRÊA e pela ANDRADE

GUTIERREZ (consórcio METROSAL), para a participação na licitação

internacional do metrô de Salvador;

b) ajustes do consórcio METROSAL para cooptar a IMPREGILO (líder do consórcio TRANSBAHIA), a fim de torná-la membro do

consórcio oculto;

22 Deverão ser identificadas no inquérito em tramitação na SR/DPF/SP.

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c) estratégias do consórcio METROSAL junto ao

MUNICÍPIO DE SALVADOR e outros órgãos para obter a desclassificação do consórcio TRANSBAHIA (IMPREGILO/SOARES DA COSTA), vencedor

da licitação internacional pelo critério de menor preço;

d) confirmação da desclassificação da IMPREGILO (consórcio TRANSBAHIA), no procedimento administrativo do MUNICÍPIO DE

SALVADOR;

e) “compra” pelo consórcio METROSAL da desistência definitiva da IMPREGILO, que impetrara mandado de segurança

contra sua desclassificação;

f) obtenção da adjudicação do contrato ao consórcio

METROSAL, com a execução das obras com a participação clandestina de

empreiteiras ocultas; eg) recebimento pelas empreiteiras ocultas de

pagamentos realizados pela Administração Pública, por intermédio do

consórcio METROSAL, sem conhecimento dos órgãos públicos.

149. Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL SUBSTITUI a denúncia de fls. 999/1017 (vol. 5) por esta que ora apresenta e

RATIFICA os demais atos processuais praticados pelo Parquet Federal perante

a Seção Judiciária de São Paulo, ao tempo em que requer seja recebida a

presente DENÚNCIA para que:

A) os acusados PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI, SAULO THADEU VASCONCELOS CATÃO, MÁRCIO MAGALHÃES DUARTE PINTO e CASILDO QUINTINO, sejam

incursos:

i) nos artigos 90 e 95 da Lei 8.666/93, porque

dolosamente fraudaram licitação internacional

mediante combinação ou ajuste antes da abertura das

propostas, com o fim de eliminar o caráter competitivo

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da concorrência, e porque dela afastaram licitante

mediante oferecimento de vantagem;

ii) no artigo 299 do CP, porque, após a licitação,

omitiram em documentos públicos (contrato e

documentos de medições da obra) informações que

deles deviam constar sobre a participação, na

execução da obra, de empreiteiras perdedoras da

licitação, com o fim de prejudicar direito dos demais

licitantes e alterar a verdade sobre fato juridicamente

relevante (art. 72 da Lei 8666/93);

iii) no art. 4º, inciso I, alínea “a” da Lei 8.137/90, pela

formação de cartel em prejuízo da livre concorrência,

especialmente dos demais licitantes perdedores e do

Poder Público; e

iv) no artigo 288 do Código Penal, pela formação de

quadrilha para a prática dos crimes acima indicados.

B) os acusados GIANVINCENZO COPPI, DIEGO BELTRAN SAVINO e JUAN ALFREDO KUSTER, sejam incursos no art. 95, único, da Lei 8.666/93, por terem aceito vantagem, em

proveito da IMPREGILO, para que a empresa desistisse de

licitar, inclusive mediante a retirada ou não propositura de ações

judiciais.

150. Requer o MPF que estes sete denunciados sejam

citados para apresentarem suas defesas (resposta à acusação), em 10 dias,

pelo procedimento comum ordinário (art. 394, §1º, I, §2º e §4º, do CPP), e

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intimados para os demais atos do processo, que deverão acompanhar até final

condenação, assim como:

A) sejam aproveitados e ratificados os atos decisórios ordenados pela Justiça Federal da Seção Judiciária de

São Paulo (art. 108, §1º, do CPP);

B) a denúncia seja autuada num novo volume, para

início da instrução, sem necessidade de renumeração dos

autos;

C) sejam intimadas as testemunhas da acusação abaixo arroladas, para ouvida neste juízo, ou por

videoconferência, na forma do art. 399, §2º c/c o art. 222,

§3º, do CPP;

D) seja ordenada a realização das diligências faltantes descritas no item VI desta peça;

E) se determine o levantamento do sigilo desta ação

penal (art. 5º, inciso LX, e 93, inciso IX, da Constituição

Federal), em face do evidente interesse público

subjacente e do que decidido às fls. 1926-1927;

F) seja determinado o encaminhamento de cópia da denúncia e da decisão de recebimento à SR/DPF/SP

(fl. 1929); ao Diretor do BIRD (fl. 1930); ao Presidente do

CADE (fl. 1931); e ao min. AUGUSTO SHERMAN

CAVALCANTI, relator do processo 007.162/2006-0 no

TCU (fl. 1840).

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VI. DAS DILIGÊNCIAS

151. Por ocasião do oferecimento da denúncia ora

substituída, o Parquet Federal em São Paulo apresentou a promoção de fls.

972/976 (vol. 4), aqui ratificada, com seus requerimentos.

152. Na referida manifestação, pugnou o órgão ministerial

pela continuidade do IPL nº 2009.61.61.004839-9 para conclusão das

investigações no tocante às demais empresas que participaram da licitação

para construção do Metrô de Salvador/BA (itens 03 e 06 - fls. 972/976).

153. Considerando que tal medida já foi deferida às fls.

1918/1927 (ofício de fl. 1929), encontrando-se, portanto, em pleno andamento

as investigações no âmbito do IPL nº 2009.61.61.004839-9, em curso na

Polícia Federal em São Paulo, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer que

se oficie à Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo para que encaminhe cópia do IPL nº 2009.61.61.004839-9 tão logo concluídas

as referidas apurações, que, por questões de razoabilidade, deverão permanecer a cargo dos Policiais Federais envolvidos desde o início na apuração dos fatos.

154. Outrossim, cumpre seja determinada a juntada das

folhas de antecedentes criminais e certidões judiciais dos sete denunciados, nas esferas federal e estadual, estas últimas relativas aos

Estados de São Paulo, Bahia e Minas Gerais (item 02 de fls. 972/976).

155. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer ainda

que sejam expedidos ofícios às Juntas Comerciais dos Estados de São Paulo e Bahia para apresentarem, se ali registrados, os atos constitutivos da

CIGLA - CONSTRUTORA IMPREGILO E ASSOCIADOS S/A e do consórcio

TRANSBAHIA, formado pela IMPREGILO S.p.A (CNPJ 03.221.809/0001-31).

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156. Requer, outrossim, a expedição de ofício à

Prefeitura Municipal de Salvador para remessa de cópia integral do

procedimento administrativo da Comissão de Licitação que excluiu a empresa

IMPREGILO da licitação pública, assim como cópia da própria concorrência

internacional, formando-se apensos.

157. Ainda requer o Parquet seja determinada a

expedição de ofício à Interpol (por sua representação na Polícia Federal em

Brasília), bem como pedido de assistência jurídica à República Italiana, neste

caso via DRCI e com base no Tratado de Cooperação Brasil/Itália em Matéria

Penal (Decreto n. 862/1993, artigo 16), solicitando:

a) informações sobre o eventual envolvimento da empresa italiana

IMPREGILO S.p.A, ou de qualquer de seus dirigentes, na

denominada “Operação Mãos Limpas” (Mani Pulite), mencionada

no item 3 do documento de fl. 1497; e

b) os antecedentes criminais de GIANVINCENZO COPPI e

PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI.

158. Por fim, pede-se também que se oficie ao Juízo da 16ª Vara Federal de Salvador solicitando remessa de cópia integral dos autos

do mandado de segurança nº 1999.33.00.014939-2 e do agravo de instrumento

1999.01.00.112996-2, formando-se apensos.

VII. DAS TESTEMUNHAS DA ACUSAÇÃO

159. O Parquet arrola as seguintes testemunhas da

acusação para serem ouvidas durante a instrução processual.

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160. Ressalta o MPF que foram imputados cinco tipos penais aos sete acusados, cada um a seu modo, o que justifica a existência

das 19 (dezenove) testemunhas aqui arroladas.

161. Pede o Parquet que as testemunhas de fora da terra

sejam ouvidas por videoconferência, na forma do art. 222, §3º do CPP:

1. Antônio Imbassahy, ex-Prefeito Municipal de Salvador na época da licitação do metrô, com endereço na Rua Waldemar Falcão, n. 1495, Ed. Mansão do Bosque, ap. 2201, Brotas, Salvador/BA.

2. Alexander Castro de Oliveira, Policial Federal que participou da Operação “Castelo de Areia”, lotado na Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo/SP (fl. 294 e fl. 815).

3. Arnaldo Cumplido de Souza e Silva, Diretor de Obras Internacionais da CAMARGO CORRÊA (mencionado no depoimento de fls. 379/381), com endereço na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP, ou na Rua Inhatium, n. 245. ap. 31, Alto de Pinheiros, São Paulo/SP;

4. Carlos Gordilho, servidor da CTS, Salvador/BA, com endereço na Rua Agnelo Brito, 201, Federação, Salvador/BA (fl. 577);

5. Cecília Aparecida de Abreu Moura Contrucci, funcionária da CAMARGO CORRÊA (fls. 2070 e 2204 do Apenso VII), com endereço na Rua Funchal, nº 160, São Paulo/SP, ou na Rua Marquês de Cascais, n. 169, Brooklyn Novo, São Paulo/SP;

6. Cesídio Gonçalves Filho, engenheiro, representante da SIEMENS A.G no consórcio METROSAL (fl. 657 e 661), residente na Rua Girassol, 1291, ap. 82, Vila Madalena, São Paulo/SP, ou na Av. Jardim, n. 1261, Condomínio Vista Alegre, Vinhedo/SP, ou na Av. Mutinga, 3800, Pirituba, São Paulo/SP;

7. Dárcio Brunato, empregado da área financeira da CAMARGO CORRÊA (mencionado no depoimento de fls. 379/381), com endereço na Rua Vera, n. 157, Jardim Santa Mena, Guarulhos/SP, tel (11) 2443-1179, ou na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP;

8. Darcy Flores Alvarenga, secretária do acusado PIETRO FRANCESCO GIAVINA BIANCHI (fls. 388/392), com endereço na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP, ou na Rua Dr. Plínio Barreto, n. 159, ap. 102, Bela Vista, São Paulo/SP;

9. Fernando Dias Gomes, funcionário da área de finanças da CAMARGO CORRÊA (mencionado no depoimento de fls. 379/381), com endereço na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP;

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10. George Joaquim Teles de Souza, engenheiro de obras da CAMARGO CORRÊA (fls. 2064/2068 e fls. 2150/2153 do Apenso), com endereço na Rua Kaoru Oda, n. 38, Butantã, São Paulo/SP, tel (11) 3742-1251;

11. Ivan Carlos Alves Barbosa, ex-Secretário da Coordenadoria de Projetos Especiais da Prefeitura de Salvador (fl. 577, 1114 e 1499), ex-Secretário Municipal de Transportes de Salvador e diretor-presidente da CTS de 01/07/1999 a 04/01/2005 (fl. 1791 dos autos; fl. 1476 do apenso VII, fls. 2398-2405 do Apenso VII), com endereço na Rua Reitor Macedo Costa, 341, ap. 503, Itaigara, Salvador/BA;

12. Janary Teixeira de Castro, ex-presidente da Comissão de Licitação, Chefe do Setor de Obras da Prefeitura Municipal de Salvador; Diretor de Obras da CTS, responsável pelas inspeções das obras do metrô, de 25/02/2003 a 04/01/2005 (fl. 1791 dos autos; fls. 2398-2405 do Apenso VII), com endereço na Av. Orlando Gomes, Condomínio Veredas Piatã, casa J4, Piatã, Salvador/BA;

13. Manuel Faustino Marques, engenheiro da CAMARGO CORRÊA (fls. 576/579, 1403, 1500, 1501, DOC 15.1 e fl. 2711 do Apenso), com endereço na Rua Funchal, n. 160, São Paulo/SP, ou na Rua Pedro Linhares Gomes, 5431, Usiminas, Ipatinga/MG, ou na SQD SQN 402, bloco 6, S 316, Asa Norte, Brasília/DF;

14. Marisa Berti Iaquino, secretária de Fernando Dias Gomes (fls. 353/354) na CAMARGO CORRÊA, com endereço na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP;

15. Mozart Miranda Mendes, Superintendente da Embraport – Empresa Brasileira de Terminais Portuários S/A (fl. 653), residente na Av. Epitácio Pessoa, n. 551, ap. 32, Aparecida, Santos/SP, ou na Estrada Particular da Codesp, Ilha Barnabé, Santos/SP;

16. Otávio Margonari Russo, Policial Federal que participou da Operação “Castelo de Areia”, lotado na Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo/SP (fl. 294 e fl. 815);

17. Raggi Badra Neto, diretor de Obras Públicas da CAMARGO CORRÊA (fls. 371/383), com endereço na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP;

18. Sandra Kiyomi Nakakura, secretária do acusado SAULO CATÃO (mencionada no depoimento de fls. 576/579 e DOC 15.1), com endereço na Rua Soares de Avelar, n. 859, ap. 71, Vila Monte Alegre, São Paulo/SP, tel (11) 5071-1274, ou na Rua Funchal, n. 160, Vila Olímpia, São Paulo/SP;

19. Valter Tavares da Silva, mediador da licitação (fls. 1154 e 1155 e fl. 1509 do apenso VII, item 3), residente na Rua Machado Neto, 129, ap. 202, Pituba, Salvador/BA.

Pede deferimento.

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Salvador/BA, 19. OUT. 2009.

VLADIMIR ARAS ANDRÉA CARDOSO LEÃO PROCURADOR DA REPÚBLICA PROCURADORA DA REPÚBLICA

ANDRÉ LUIZ BATISTA NEVESPROCURADOR DA REPÚBLICA

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