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EXPEDIENTEItaipu BinacionalDiretor Geral/Brasil Jorge Miguel Samek

Diretor de Coordenação e Meio Ambiente Nelton Miguel Friedrich Gerente Executivo do Programa Cultivando Água Boa Odacir Fiorentin

Superintendente de Meio Ambiente Jair Kotz

Gerente do Departamento de Proteção Ambiental Rosana Lemos Turmina

Gerente da Divisão de Educação Ambiental Silvana Vitorassi Gestora do Programa de Educação Ambiental Leila de Fátima Alberton

Elaborado por:Nativa Socioambientalwww.nativasocioambiental.com.br

Indice

Programa Cultivando Água Boa

Ecopedagogia

Projetos Ecopedagógicos

Guias de Percurso para uma Caminhada Ecopedagógica

Anexos

Referências Bibliográficas, Videográficas e Eletrônicas Contidas no Texto

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Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente... Leonardo Boff.

Vivemos a crise mais aguda da humanidade. Não é conjuntural, nem episódica ou cíclica. É estrutural, é do modelo civilizatório. Sem catastrofismo ou posição pessimista, constata-se que nossa sociedade está enferma, assim como nosso planeta Terra está enfermo. O sintoma da enfermidade da Terra está na febre do corpo planetário: aquecimento e mudanças climáticas, provocados pelo aumento sem precedentes da poluição (só de CO2 todos os dias lançamos 70 milhões de toneladas na atmosfera, sem contar outros poluentes como o metano, o dióxido de enxofre e os CFC´s), a destruição dos recursos naturais não renováveis tais como a escassez e gestão inadequada da água, a desertificação, extinção de espécies da flora e fauna, fenômenos migratórios, crises nas grandes capitais, a violência como fenômeno social urbano, novas enfermidades, o egocentrismo, a cultura do ter, da aparência, do desperdício, do descartável, os valores humanos confrontados ao consumismo exagerado, a perda das raízes culturais, a exclusão, a insatisfação, a solidão, a depressão, o pânico, a desesperança, a monocultura da mente.

Estamos diante de uma situação-limite majoritariamente causada pelo nosso modo de ser, viver, produzir e consumir. Mas não se pode olhar o ser humano somente como possuidor de um instinto predador, como individualmente culpado pelos desastres socioambientais que assolam o Planeta Terra. Como afirma Francisco Márcio “esta propositura de atribuir culpas a esta faceta da relação Homem-Sociedade-Ambiente é uma atitude acomodada e fechada ao entendimento da verdadeira face de uma dinâmica social, que é, nada mais nada menos, o resultado de relações de produção e de interesses econômicos”. Padrões de produção e consumo insustentáveis são alimentados pela civilização contemporânea mecanicista, reducionista, linear, monocultural, determinista, antropocêntrica, de uma racionalidade econômica exacerbada, ambientalmente inviável e socialmente injusta.

Apresentação Na visão mecanicista, em que tudo vira “ coisa”, negócio, levamos ao máximo a sentença de Francis Bacon - pai do empirismo científico: “a ciência devia tratar a natureza como fazia o Santo Ofício da Inquisição com seus réus: torturá-la até conseguir desvelar o último dos seus segredos.” Deixamos de reconhecer que em tudo há vida, que somos parte de um organismo vivo, “onde existe vida há rede de organismos, células e moléculas”, conforme Fritjof Capra. E assim, desconectamos totalmente da dimensão do cuidar (de si, da natureza, do que comemos, da comunidade em que vivemos, dos outros seres da comunidade de vida).

Apologistas da pedagogia antropocêntrica, colocamos o ser humano no centro de tudo, seus interesses acima de todas as coisas. Como “todo-poderoso”, a ele tudo foi permitido inclusive de fazer o que fez: desequilibrar o planeta e de colocar em risco a própria existência.

Partindo da premissa de que somos parte do mundo natural, “somos apenas fios da teia da vida”, toda educação precisa ser ambiental. Vale dizer que, a profunda crise socioambiental que vivemos também é uma crise na e da educação baseada numa pedagogia que não entendia a complexidade do mundo e suas diversas dimensões.

CAPRA propõe: “Nas próximas décadas a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica - nossa habilidade para entender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com sua observação. Isto significa que a eco-alfabetização deve se tornar uma qualificação indispensável para políticos, líderes empresariais e profissionais em todas as esferas, e deverá ser a parte mais importante da escolaridade, em todos os níveis – desde a escola primária até a escola secundária, faculdades e universidades e na educação continua e no treinamento de profissionais”.

Somos pois, todos aprendizes, aprendizes de um novo porvir. Isso implica em erigir uma NOVA EDUCAÇÃO, educação crítica, vigilante,

curiosa, preparadora de seres humanos integrais, cooperativos, solidários, com mais ternura, com noção de pertencimento, formados para a vida e não só para força de trabalho. Com sentimentos, emoções, e não só lógica e razão. Impregnados de valores, de que somos parte da Mãe Terra e com ela devemos viver harmoniosamente. Educação para a cidadania planetária. Que possa contribuir. Uma educação para ser DIGNA dos desafios de nosso tempo.

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Uma nova educação PEDE UMA NOVA PEDAGOGIA: a ECOpedagogia! No dizer de Moacir Gadotti – presidente do Instituto Paulo Freire, estudioso e

entusiasta da nova pedagogia – a “ECOpedagogia ou a pedagogia da Terra surge como uma luz capaz de reacender num futuro possível a esperança de uma vida digna para todos. E a educação tem muito haver com essa responsabilidade, precisamos de uma pedagogia que recoloque a relação entre a natureza e o ser humano que em algum lugar do passado se perdeu, e hoje é preciso resgatar com urgência”.... E a ecopedagogia “trabalha com a fundamentação teórica dessa “cidadania planetária” cuja idéia é dar sentido para a ação dos seres humanos enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência” do planeta Terra.”

Na ECOPEDAGOGIA, segundo GUTIERREZ, “os conteúdos curriculares têm que ser significativos para o aluno, e só terão relevância para ele, se esses conteúdos forem relevantes também para a saúde do planeta, para um contexto mais amplo” E mais “só encontramos sentido em caminhar vivenciando o contexto e o processo de desbravar novos caminhos; não apenas observando-o, por isso a educação sustentável é uma pedagogia democrática e solidária”. A Ecopedagogia opera “ com a essência da vida, respeitando e identificando-a nos outros seres “ explica Lívia Lucina Ferreira Albanus (ULBRA).

Nossas reflexões e ações, no dia-a-dia, fizeram emergir projetos ecopedagógicos nas comunidades, na educação formal, não formal e difusa. Em salas de aula com oficinas para os educadores até a implantação de tecnologias limpas nas estruturas de suas escolas - pequeno exemplo das cisternas ecopedagógicas. Insere o reuso da água da chuva na escola, a noção do cuidado, da compreensão da essencialidade e mística da água, em que na sua fase construtiva os alunos na aula de matemática calculam quanto de areia, cimento, ferro e quantos metros cúbicos tem a cisterna. Depois, quanto a escola diminuiu o gasto mensal com água. E ter no terreno da escola horta orgânica ou de plantas medicinais irrigada com água da cisterna, deixando um canteiro sem irrigação. Ter aulas de ciências, biologia, química, etc. no espaço da horta para absorção e compreensão do que é um organismo vivo, da germinação, da fotossíntese, os microrganismos, de todo o significado da água, do semear, do cuidar, do colher, do alimentar, do sentido maior da vida humana, animal, vegetal. Enfim, um laboratório vivo de aprendizagem, prático, cotidiano, de respeito e valorização da natureza e da vida.

A ecopedagogia rompe com as fronteiras da disciplinaridade (que é resultante da lógica da separatividade, da segmentação, de formação e ação sitorizada), estimula e fortalece a desfragmentação dos conteúdos, e implica na valorização dos saberes como construção do ser humano. Vivencia a ciência holística, contempla, compreende a vida e o que acontece no planeta como inteiramente ligado ou interferindo na existência como um todo.

Promover um total de 140 OFICINAS DE ECOPEDAGOGIA, FORMANDO 1.400 EDUCADORES, e contribuindo para a construção de projetos ecopedagógicos nos 29 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná Parte III, não é apenas um objetivo traçado a ser alcançado, é a prática real, generosa e esperançosa de que esta sociedade e o planeta podemos recuperá-los. Num universo de fecunda vitalidade comunitária, constituímos a riqueza de milhares de parceiros sonhadores que escolheram sonhar ser possível a transformação com responsabilidade compartilhada e saber viver em equilíbrio e harmonia.

O CADERNO DE ECOPEDAGOGIA é um marco. Todos os que estão envolvidos na empreitada, os que cooperaram para efetivá-lo, aos difusores de seus conteúdos e aos multiplicadores de sua aplicação concreta, a mais forte consideração da cidadania planetária.

Mais um avanço na afirmação dos conteúdos e abrangência do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional e nossos parceiros na construção da CULTURA DA SUSTENTABILIDADE e na busca de “um novo jeito de ser/sentir, viver, produzir e consumir”.

A Carta da Terra nos propõe: “a escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.”

Nossa escolha está feita !

Nelton Miguel Friedrich Diretor de Coordenação

Itaipu Binacional

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Apresentação

A humanidade vive hoje uma grave crise socioambiental, o que exige uma postura atuante dos seres humanos. A busca por soluções a partir da compreensão da realidade à sua volta como instrumento de aprendizado, despertando para a ação coletiva.

É preciso mudar as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje. Mudar a convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza e reconhecer que pertencemos a uma única comunidade de vida.

A ecopedagogia traz uma visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial. É uma educação para a cidadania planetária, que segundo Gadotti, implica uma reorientação de nossa visão de mundo, uma re-educação para vivermos numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo.

A prática ecopedagógica abarca um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos e promove a aprendizagem significativa, atribuindo sentido às ações cotidianas.

É uma pedagogia centrada na vida, que considera as pessoas, as culturas, o modo de viver, o respeito, a identidade e a diversidade, apropriada para uma cultura de sustentabilidade e de paz.

Ação e reflexão, metodologia e vivência, saber e sentido, são apresentados neste caderno como uma contribuição a uma nova relação, a ecopedagógica, que busca a partir da vida cotidiana, o sentido mais profundo do que fazemos com nossa existência e que está intimamente ligado ao futuro de toda Humanidade e da própria Terra.

Silvana VitorassiGerente da Divisão de Educação Ambiental

Itaipu Binacional

“A educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas e as pessoas é que mudam o mundo”. À luz dessa frase de Paulo Freire é que apresentamos a todos os educadores e educadoras da Bacia do Paraná 3 esse caderno de Ecopedagogia.

A proposta do Caderno é contribuir na construção coletiva dos conhecimentos sobre o conceito de Ecopedagogia, ainda bastante novo em nosso meio, e compartilhar o rico caminho de aprendizados e vivências, trilhado ao longo destes 08 anos na educação formal e não formal da Bacia do Paraná 3.

A Ecopedagogia nos propõe um processo de aprendizagem que possibilita tecer relações entre saberes que foram separados, principalmente nos espaços formais de ensino, e dialogar sobre as questões ambientais de forma transversal com todos estes saberes.

Mais do que construir projetos de Educação Ambiental nos espaços formais de ensino, precisamos repensar o próprio sentido da educação, o quê, como e com quem aprendemos.

Reconhecer nosso papel de educadores e educadoras ambientais em todos os espaços de nossa vida, despertar o desejo de aprender, a alegria de ensinar, a possibilidade de compartilhar as descobertas e o conhecimento é o compromisso que nós educadores e educadoras estamos fortalecendo ao longo dos anos nesse pedaço do planeta denominado Bacia do Paraná 3.

Antônio Machado nos diz que: o caminho se faz ao caminhar. Neste sentido convidamos você a continuar trilhando conosco esse caminho com alegria, confiança e esperança de, coletivamente, construirmos relações mais solidárias, justas, fraternas, responsáveis e comprometidas com uma sociedade mais sustentável.

Leila de Fátima AlbertonGestora do Programa de Educação Ambiental

Itaipu Binacional

Apresentação

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O processo formativo “A Escola e a Cultura da Sustentabilidade, Formação Continuada de Professores em Educação Ambiental”, iniciado em fevereiro de 2010, vem ao encontro da meta do Programa Cultivando Água Boa de envolver a educação formal nos processos de educação para a sustentabilidade realizados no território da Bacia do Paraná 3 (BP3). Participaram das oficinas de formação, primeira etapa do projeto,

24 municípios; 1271 educador@s; 246 espaços educativos: 69 centros municipais de educação infantil,

144 escolas municipais, 17 escolas estaduais e 1 escola particular.

Além das professoras e professores, contamos com a presença das gestoras e gestores de educação ambiental dos municípios e de representantes das Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente. Estiveram presentes 1271 educadores e educadoras, grupo composto 92 % por mulheres e 8% de homens, com faixa etária entre os 23 e os 50 anos e formações acadêmicas variadas - história, ciências, artes, pedagogia, matemática, letras, geografia, entre outras.

Durante o processo formativo, cada participante foi convidado a compartilhar suas experiências na realização de projetos socioambientais, a refletir e dialogar sobre o caráter ecopedagógico das ações realizadas com vistas à construção da cultura da sustentabilidade nos espaços educativos. Todo esse processo esteve apoiado nos princípios da Carta da Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e na perspectiva da ética do cuidado, difundida por Leonardo Boff.

Como forma de ilustrarmos os resultados observados e definirmos pontos de partida para a próxima etapa, a elaboração de projetos ecopedagógicos, compartilhamos algumas impressões de participantes das oficinas de formação:

“Mais do que projetos de educação ambiental é preciso repensar o próprio sentido da educação, o quê e como ensinamos. A arte, política e ecologia são ferramentas fundamentais para chegarmos ao ser humano que queremos, com atitudes éticas, sabedoria e bem estar espiritual. O despertar da consciência humana acontece a partir do fortalecimento da ética e da espiritualidade, conexões que são a base para a transformação humana”.

Iracema M. Cerutti, gestora de educação ambiental,

Foz do Iguaçu, PR

“A primeira etapa da oficina de ecopedagogia, realizada no município de Ouro Verde do Oeste veio certamente motivar e reforçar ainda mais a preocupação em relação ao fazer ecopedagógico para nós professores. É lindo observar nos fazeres diários, muitas vezes corriqueiros, pequenas ações, que certamente dizem muito mais que palavras”.

Elaine Jacinta Pappen Poleze, professora do ensino fundamental,

Ouro Verde do Oeste,PR

“A oficina realizada em Altônia foi muito importante para despertar nos professores a missão que a escola tem na preservação ambiental. Na verdade todos os professores sabem do verdadeiro valor da ecopedagogia, mas muitos nem sabem como fazer e as dinâmicas e as atividades vieram de encontro com as necessidades da própria valorização do fazer a cultura da sustentabilidade. Eu como diretora da escola onde grande parte participou pude ver o interesse e a motivação neste fazer e aprender como Paulo Freire nos ensina”.

Janete Silva Hackl, professora e educadora ambiental,

Altônia, PR

“A primeira etapa nos ajudou a desenvolver maior consciência da realidade, das necessidades do meio em que vivemos e também do nosso planeta. Também nos deu entusiasmo para lutarmos pela sustentabilidade, compartilhando conhecimentos e transformando vivências”.

Marlene Vaniski, professora do ensino fundamental,

Santa Tereza do Oeste, PR

Acreditamos, contudo, que os diálogos socioambientais e as ações ecopedagógicas não podem ficar restritos aos muros da escola. Por ser um movimento social, aberto à participação de todos os setores da sociedade, a Ecopedagogia serve como fio condutor para reflexões em torno da temática da cidadania ativa, do envolvimento na tomada de decisões, da realização de ações voltadas ao bem comum, da organização social e da participação na formulação de políticas públicas para a totalidade do território da bacia hidrográfica.

É nesse sentido que apresentamos o Caderno de Ecopedagogia, material que vem compor o conjunto de cadernos voltados á Sustentabilidade lançados em 2004 pela Itaipu Binacional: A Carta da Terra e o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

Desejamos a todos e todas uma excelente jornada ecopedagógica! E que seus frutos sejam a nossa contribuição para a construção de sociedades mais justas, sustentáveis e solidárias.

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Compromisso com a construção da cultura da sustentabilidade

A Itaipu Binacional, a partir da revisão de sua missão institucional, reforçou em 2003 seu compromisso de contribuir com o desenvolvimento sustentável da região da Bacia do Paraná 3. Por meio do Programa Cultivando Água Boa (CAB), que adota a bacia hidrográfica como modelo de gestão territorial, a Itaipu executa na atualidade 20 programas e 63 projetos ou ações de responsabilidade socioambiental, compartilhando com seus colaboradores e comunidade a missão de atuar pela promoção da vida no planeta (www.cultivandoaguaboa.com.br).

O Programa Cultivando Água Boa se fundamenta em princípios de importantes documentos planetários como a Carta da Terra e o Tratado de Educação Ambiental. Também tem como referência as Metas do Milênio, a Agenda 21, o Protocolo de Kyoto, o documento “Água para todos, Água para a Vida” (UNESCO) e as diretrizes da Conferência Nacional do Meio Ambiente, do Plano Nacional de Recursos Hídricos e outras políticas públicas do governo brasileiro. Por meio da Educação Ambiental, suas ações fortalecem a disseminação da cultura da sustentabilidade na BP3, dialogam com a Ecopedagogia e favorecem o resgate do sentido da vida a partir do dia a dia.

Valorizando o convívio social harmonioso, o contato com a natureza, o desfrute do ar puro, da água limpa, da sombra de árvores, do canto dos pássaros, da fruta colhida do pé..., o Programa Cultivando Água Boa convida todos e todas para cuidar desse pedaço do planeta, mantendo acesa a esperança de um futuro de respeito, dignidade e solidariedade.

Embora tenha fundamentos teóricos e metodológicos definidos como orientadores de seu trajeto, o caminho trilhado pelo Programa Cultivando Água Boa para viabilizar processos educativos e de intervenção socioambiental vem sendo construído de forma coletiva, por meio da adesão de parceiros de diferentes setores da sociedade - ONGs, associações, cooperativas, governos locais formalmente instituídos.

Essa construção prioriza a organização, a elaboração de programas e ações de mobilização e participação voltadas á sustentabilidade, por meio de articulação sistêmica e com visão de perspectivas futuras. Valorizando a democracia em todos os seus processos, a avaliação das ações realizadas pelo Programa Cultivando Água Boa é realizada de forma conjunta com seus parceiros, independente do porte e natureza das instituições, valores, crenças e ou orientação político-partidária.

Gestão por bacias hidrográfica? Por quê?

Bacia hidrográfica é toda área de influência de um curso d’água principal: córrego, rio, lago e seus tributários, delimitada pelos divisores de águas, os pontos mais altos do relevo. Por englobar aspectos físicos, culturais, sociais, econômicos e bióticos do território, elementos que interferem no uso dos recursos hídricos e na proteção ambiental, a gestão por bacia hidrográfica permite uma abordagem integrada, respeitando as características específicas do território e incluindo a comunidade na tomada de decisões e nos processos de intervenção socioambiental.

Fonte: BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2008. YASSUDA, 1993 apud PORTO e PORTO, 2008

A Bacia do Paraná 3 é uma extensa região localizada entre o Sul do Mato Grosso do Sul e a Foz do Rio Iguaçu, com cerca de 8 mil km² e aproximadamente 900 mil habitantes distribuídos em 29 municípios. A abundância em sistemas naturais determina sua riquíssima biodiversidade, seus solos férteis e a existência de mananciais importantes não apenas para a região, mas também para os países que compõem a tríplice fronteira: Brasil, Argentina e Paraguai. A construção da usina hidrelétrica de Itaipu levou à formação do lago de Itaipu, banhando 16 municípios que dependem de suas águas de forma direta, além dos 13 municípios cujas águas escoam para o reservatório de forma direta ou indireta.

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Ações do Programa de Educação Ambiental realizadas nos municípios da Bacia do Paraná 3

Oficinas do Futuro 227Alunos beneficiados com a cartilha “Mundo Orgânico” 94.311Apresentação do teatro “A Matita” 481Professores no curso de Educação para o Consumo 311Educadores ambientais formados PAP 3 274Educadores ambientais em formação PAP 4 2.757Oficinas da Carta Terra 65Merendeiras e nutricionísta formadas no curso gestão de merenda escolar 182 Merendeiras premiadas no concurso receita saudável da BP3 105Coletivo educador municipal implementado 29Gestores de educação ambiental 70Cartilhas entregues 252Oficinas Futuro no Presente 42Oficinas de Ecopedagogia 50Professores envolvidos nas Oficinas de Ecopedagogia 1250

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A vivência da sustentabilidade no cotidiano da Bacia do Paraná 3

A educação ambiental é o eixo condutor das ações e diálogos do Programa Cultivando Água Boa. Na medida em que a ecopedagogia surge como tradução para a prática, para a vivência dos princípios e valores da educação ambiental no nosso dia-a-dia, identificamos elementos relacionados ao fazer ecopedagógico nessas mesmas ações e diálogos. Esse aspecto contribui não apenas para a formação de sujeitos críticos, atuantes, situados no seu contexto histórico e social da BP3, mas também para o exercício de ampliar a visão para os desafios socioambientais enfrentados pelo planeta nos dias atuais.

Programa de formação de educadores e educadoras ambientais (FEA)

Tendo como diretriz o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) do Ministério do Meio Ambiente, a formação de educadoras e educadores ambientais ocorre por meio da Pequisa-Ação-Participante (PAP), ou Pessoas que Aprendem Participando. Integrando diferentes visões, histórias de vida, formações e áreas de atuação profissional, o FEA articula saberes pela constituição de processos de aprendizagem participativa sobre princípios da educação ambiental, geografia e dinâmica ecológica da região, agroecologia, gestão ambiental, intervenção pedagógica e mobilização comunitária (FERRARO JR e SORRENTINO, 2005).

O FEA incorpora em suas práticas importantes conteúdos de ecoformação: a interação solidária, a subjetividade coletiva, a sensibilidade, a afetividade, a espiritualidade, o respeito às diferenças e a equidade para a participação de homens, mulheres, pessoas de diferentes faixas etárias e escolaridade. Assim, estabelece pontes de diálogo com a Ecopedagogia, tendo em comum o horizonte de profunda mudança de valores, relações, significações, com vistas à formação e/ou aprimoramento das comunidades de aprendizagem (BRANDÃO, 2005) constituídas no território para a promoção da cultura da sustentabilidade.

Atualmente existem 285 educadoras e educadores ambientais em formação na BP3, representando todos os segmentos sociais dos 29 municípios e envolvendo 10.000 educadores organizados em comunidades de aprendizagem que constituem os coletivos educadores municipais.

Você sabia que desde 2008 há um compromisso formal das 29 prefeituras da BP3 para a nomeação de gestores de educação ambiental municipais?

A continuidade das atividades de formação e intervenção local demanda a participação do poder público, do comprometimento de seus colaboradores com as atividades do FEA. Essa demanda levou prefeituras a nomearem esses gestores, importante elos para articulação entre comunidades locais, prefeituras e outras instituições do setor público e os programas de educação ambiental fomentados pela Itaipu Binacional.

“Devemos nos abrir ao novo e abrir caminhos novos e flexíveis, novos e sensíveis, novos e vivenciais... Caminhos abertos ao holístico e à realidade viva. Não se pode educar detendo a dinâmica da vida, sua concepção dinâmica, criadora e relacional, promotora da sabedoria integral, da elaboração de sentidos para as vivências cotidianas”

(GUTIERREZ e CRUZ PRADO, 2008).

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Programa de gestão de bacias hidrográficas

Agenda 21 do pedaço

A aproximação ecopedagógica se manifesta nesse programa na medida em que apóia o diálogo entre sujeitos e desses com a realidade. As Oficinas de Futuro, inspiradas na metodologia criada pelo instituto Ecoar para a Cidadania (www.ecoar.org.br), se fundamentam nos Círculos de Cultura de Paulo Freire e dinamizam processos de educação não formal nos mais variados contextos. Por meio do “Muro das Lamentações” as comunidades participam do diagnóstico socioambiental das microbacias. Elas expressam na “Árvore da Esperança” seus desejos e sonhos relacionados à qualidade de vida naquele pedaço e traçam o “Caminho Adiante”, a partilha da responsabilidade na execução de voltadas á construção da sustentabilidade.

O Pacto das Águas é um encontro de socialização dos resultados das Oficinas de Futuro, informações que servem de subsídio para o Comitê Gestor dar encaminhamentos às ações propostas e convênios firmados.

Contudo, sua proposta vai além do diálogo e troca de experiências e informações. O pacto é um momento de celebração da vida, um convite para que todos e todas vivenciem o cuidado no trato das questões socioambientais relacionadas ao seu pedaço do planeta. A “Carta do Pacto das Águas” é um dos principais produtos desse encontro, documento simboliza o verdadeiro retrato das comunidades e seu compromisso de cuidado com as águas.

“O Pacto das Águas é um momento de mobilização de toda a sociedade na construção do respeito mútuo e de solidariedade entre os seres. (BRASIL. Itaipu Binacional, 2009)”.

Oficinas futuro no presente

Seguindo as Oficinas de Futuro, as “Oficinas Futuro no Presente” priorizam a concretização de ações socioambientais nas comunidades das microbacias da BP3, estimulando a continuidade no cuidado com as águas e nas relações interpessoais, conforme acordos estabelecidos.

Além disso, as oficinas Futuro no Presente reforçam a importância de serem tomadas medidas de proteção das matas ciliares e biodiversidade, fortalecimento das parcerias públicas e ou privadas e o planejamento de ações junto aos comitês gestores de bacias hidrográficas da região (BRASIL, Itaipu Binacional, 2010).

“A partilha da responsabilidade no cuidado com microbacias serve de exercício de construção da cidadania planetária por abrir canais de percepção das cores, cheiros, sons, estórias, sabores daquele pedaço do planeta, estimulando o sentido de pertencer àquele local”.

Você sabe o que é “passivo ambiental”?

Os passivos ambientais representam os danos causados ao meio ambiente, consequência da realização de atividades produtivas no território e/ou da utilização de insumos naturais como matéria-prima para essas atividades. Os principais passivos ambientais identificados na BP3 são (1) a contaminação dos rios, solos, seres humanos e animais por agrotóxicos, fertilizantes, esgoto não tratado, dejetos animais, lixo residencial entre outros; (2) a perda de solos pela erosão, levando à sedimentação dos corpos d´agua e à perda da produtividade agrícola; (3)o acúmulo de matéria orgânica nos rios provocando eutrofização - surgimento de algas e plantas tóxicas, favorecendo a formação de pântanos e a emissão de gases do efeito estufa; (4) a perda da biodiversidade decorrente do desmatamento e desaparecimento de espécies animais e vegetais. BRASIL. Itaipu Binacional, 2009.

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A educação ambiental na responsabilidade socioambiental

Agricultura Orgânica, Familiar e Plantas Medicinais

Programa que atua por meio da gestão participativa, com intensa participação de clubes de mães, pastorais, grupos de mulheres e idosos. Tem por proposta o fomento à agricultura familiar, incentivando a diversificação das produções, abrindo espaço para sistemas agroecológicos e procurando envolver novos agricultores a essas ações.

A aproximação ecopedagógica é perceptível pela realização de práticas democráticas, dialógicas, que valorizam a biodiversidade, o conhecimento e a cultura local. Por meio do cultivo de plantas medicinais, o programa incentiva o cuidado com a saúde sem a necessidade de comprar medicamentos para doenças comuns como resfriados, dores, inflamações. Assim, contribui para melhorar a renda mensal das famílias e minimizar a geração de impactos negativos ao ambiente em função da geração de resíduos.

Jovem Jardineiro

O programa Jovem Jardineiro apresenta uma importante proposta para a inserção de adolescentes de famílias de baixa renda na sociedade, por meio de uma formação ao mesmo tempo técnica e ecopedagógica. Promovendo sensibilização, reflexão, diálogo e tendo a jardinagem como tema gerador, os jovens estão envolvidos com uma proposta multidisciplinar, ampliando sua visão de mundo e contribuindo para a formação de cidadãos e cidadãs atentos às questões socioambientais.

Coleta Solidária O programa Coleta Solidária incentiva a

sensibilização e organização de associações e cooperativas de catadores de recicláveis, garantindo melhores preços e condições de trabalho. Além disso, reforça a auto-estima desses agentes ambientais como profissionais, cidadãos e cidadãs que realizam um trabalho de suma importância em seu ambiente.

Na região da BP3, Foz do Iguaçu e outros municípios são beneficiados por meio da implantação de Centros de Triagem de Materiais Recicláveis. Esses empreendimentos são administrados pelos agentes ambientais, que participam de cursos de capacitação oferecidos pela Itaipu Binacional em parcerias com as prefeituras municipais.

Sustentabilidade das Comunidades Indígenas

A diversidade cultural na BP3 transcende a origem européia da maioria da população de alguns municípios. A cultura indígena ainda é muito marcante e, atualmente, 205 famílias com cerca de 1.100 indígenas são beneficiadas em suas aldeias pela construção de 60 casas com modelo indígena. Também são tomadas medidas para a difusão do artesanato tradicional em escala comercial e cursos para a capacitação, a formação de parcerias e orientação técnica para o cuidado com a saúde, o saneamento básico e a produção de alimentos que respeitem as suas tradições étnicas e culturais.

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No cotidiano, o caminho para a cidadania local e planetária

Vivemos hoje um momento especial na história da humanidade. A globalização da cultura, da economia, da informação tem nos trazido inúmeros avanços tecnológicos e facilidades para o nosso dia-a-dia. Por outro lado, temos observado a perpetuação da pobreza, da escassez de água, da má distribuição de alimento e da degradação cada vez maior do ambiente natural, conseqüência de um modelo de excedentes de produção e consumo, de “felicidades vendidas” (GADOTTI, 2005), que coloca em risco sobrevivência dos seres vivos no planeta.

A Ecopedagogia, fundamentada nos princípios e valores da Carta da Terra e do Tratado de Educação Ambiental, vem nos indicar outro caminho, a esperança de construirmos um novo final para essa história. Ela surge como ferramenta para uma educação ecológica, uma ecoformação, caminho de resgate do respeito e do cuidado nas relações entre todos os seres que habitam o planeta (PINEAU, 1992 apud GADOTTI, 2005).

A Ecopedagogia valoriza o sentir, o viver, o diálogo, a aprendizagem por meio da vivência do contato com a natureza e da impregnação de sentido nas ações e situações cotidianas (GADOTTI, 2005; GUTIERREZ e PRADO, 2008).

No entanto, não podemos nos esquecer que esse processo se insere no complexo contexto econômico, social e cultural no qual estamos envolvidos na atualidade. Dialogando com conceitos, instrumentos e estratégias dessa realidade, o fazer ecopedagógico ganha um novo significado, vai além da adoção de boas práticas ambientais (CARVALHO, 2005; GUIMARÃES, 2005 e RUSCHEINSKY, 2005). Ele se apóia em um caminho que leva em direção à construção da cidadania local e planetária, “um caminho feito ao caminhar, construído e percorrido permanentemente no cotidiano” (GUTIERREZ e PRADO, 2008).

Sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável – que caminho seguir?

O termo Desenvolvimento Sustentável, muito utilizado na atualidade e categoria oficial em documentos internacionais, é definido como o modelo de desenvolvimento equilibrado, que disponibiliza recursos às necessidades das gerações atuais e, ao mesmo tempo, garante a sustentação das necessidades das gerações futuras. No entanto, por estar apoiado na economia capitalista, que estruturalmente incentiva os exageros de consumo à custa da destruição dos ambientes naturais e manutenção das desigualdades, não logra ser social e ambientalmente sustentável.

A Sustentabilidade, termo advindo da ecologia e da biologia, propõe formas diferentes de desenvolvimento. Ela afirma a necessidade de incluir todos os seres que conformam a teia da vida no processo global, inserindo a espécie humana como parte da natureza, uma entre as demais espécies que povoam a Terra. A perspectiva da sustentabilidade nos indica a possibilidade de saciar as necessidades básicas da humanidade sem prejudicar a biodiversidade e perpetuação da vida no planeta. “Mais que buscar um desenvolvimento sustentável, importa construir uma vida, uma sociedade e uma terra sustentáveis” (BOFF, 2004c).

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“O ser humano tem os pés no chão e a cabeça aberta ao infinito. O coração une chão e infinito, abismo e estrelas, local e global. A lógica do coração é a capacidade de encontrar a justa medida e construir um equilíbrio dinâmico. Para isso cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local e da comunidade biótica, seja em seu aspecto de natureza, seja em sua dimensão de cultura”

(BOFF, 2004b).

Formando pontes de diálogo com os princípios e valores da Carta da Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e com os conteúdos da ética do cuidado (BOFF, 2004b), a prática ecopedagógica sugere os seguintes elementos de reflexão:

Civilização da simplicidade As práticas de consumo responsável, equilibrado, em função do bem estar

humano e dos outros seres do planeta como um todo dependem das nossas mudanças de atitudes, valores e estilos de vida. Somos mais felizes na medida em que consumimos mais? Abdicar de horas de lazer, do convívio entre amigos e familiares em função do excesso de trabalho têm trazido sentido para a nossa existência? Será que poderemos construir uma comunidade sustentável baseada na extensão de nosso modo de vida insustentável? Essas reflexões podem nos aproximar da percepção de que sabedoria e simplicidade caminham juntas (BOFF, 2004b).

Cultura da solidariedadeA realidade socioambiental é uma fonte inesgotável de elementos de aprendizagem transformadora, que nos permite construir conhecimento integral, solidário, capaz de despertar a consciência para a mudança individual e coletiva de valores, relações e significações

(GUTIERREZ e PRADO, 2008).

Somos pessoas solidárias, afetuosas e cuidadosas nas relações que estabelecemos e ambientes que freqüentamos em nosso dia-a-dia? Sabemos agir de forma democrática, responsável e contribuir para que os outros e outras também ajam dessa maneira no ambiente onde vivem? Estimulamos nosso imaginário, nossa criatividade, nossa sensibilidade para perceber a beleza que existe no meio que nos cerca? Compartilhamos essas vivências e percepções em nossas relações? Participamos de práticas de economia solidária?

Ética do cuidado“Cuidar é mais do que um ato, é uma atitude. Abrange mais do que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização, de envolvimento afetivo com o outro. Não existimos, co-existimos, con-vivemos, co-mungamos com as realidades mais imediatas”.

(BOFF, 2004b)

Como estamos cuidando de nós mesmos? Como cuidamos dos nossos amigos e das pessoas com as quais nos relacionamos? Como cuidamos do nosso trabalho, da nossa rua, das nossas praças, parques, nascentes e rios? Como cuidamos do nosso planeta, a começar pela nossa casa? Qual é a nossa atenção e cuidado com relação aos nossos hábitos de consumo?

Ação e transformação social Conscientes ou não, somos parte dos problemas socioambientais da atualidade. Enquanto

ferramenta do movimento ecológico, político e social, a Ecopedagogia cria importantes espaços de reflexão crítica sobre a realidade capitalista: consumista, poluidora, competitiva e voltada aos interesses individuais.

Estamos conscientes de que nossos hábitos de consumo alimentam o modelo de desenvolvimento capitalista? Que papel desempenhamos diante dessa informação? Consumimos produtos supérfluos para o nosso dia-a-dia? Podemos reduzir nossos hábitos de consumo, diminuir a quantidade de resíduos que geramos, reutilizar materiais que iriam para o lixo?

Falando em mobilização social...O Brasil foi sede de uma das maiores reuniões já realizadas mundialmente para discutir

meio ambiente. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Conferência da Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, contou com a participação de representantes de mais de 175 países e debates voltados ao despertar da consciência ecológica, de preocupação universal com o destino comum do planeta propondo um modelo de desenvolvimento comprometido prioritariamente com a preservação da vida. O Fórum Internacional de Organizações não Governamentais (Fórum Global Rio-92) foi um evento paralelo à Conferência oficial, que fortaleceu a mobilização e participação dos movimentos sociais de todo o mundo. Com a presença de movimentos sociais e organizações não governamentais (ONGs) de 108 países, esse encontro centrou diálogos na necessidade de serem criadas linhas de ação voltadas à justiça social e à cultura da sustentabilidade em todo o planeta, cenário perfeito para a elaboração da minuta da Carta da Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, referenciais para a Ecopedagogia.

www.cartadelatierra.org www.tratadodeeducacaoambiental.net.

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Ecopedagogia? Educação ambiental? Afinal, do que estamos falando?

A Ecopedagogia é um conceito em permanente construção. Ela surge como um novo olhar a partir das práticas pedagógicas formais, fundamentalmente antropocêntricas, apontando a biodiversidade e a dinâmica dos ecossistemas como elementos a serem incorporados no processo educativo. Sua proposta ao encontro da necessidade de que a Educação Ambiental aconteça na prática, de que seu campo de reflexão e ação seja ampliado, envolvendo o maior número possível de atores sociais no processo de revisão de valores e elaboração de intervenções voltadas à construção da cultura da sustentabilidade (GADOTTI, 2005).

PROMOVER PROCESSOS EDUCATIVOS pode ser alternativa interessante para a partilha dessas reflexões e do conhecimento que surge a partir delas, contribuindo para que a Ecopedagogia incorpore sua dimensão de movimento social, decisiva para a mudança de mentalidades e atitudes em direção à construção da cultura da sustentabilidade.

Promover? Sob o olhar ecopedagógico, PROMOVER significa facilitar, acompanhar, possibilitar, recuperar, dar espaço, compartilhar, inquietar, problematizar, relacionar, reconhecer, entusiasmar, envolver, comunicar, expressar, apaixonar, amar... Como PROMOVER? Oferecendo e compartilhando recursos, caminhos, modos, práticas, meios e espaços pedagógicos (GUTIERREZ e PRADO, 2008).

Como construímos sentido a partir das ações cotidianas?

As práticas ecopedagógicas podem nos sugerir o caminho. Por meio delas, vamos a cada dia nos ecoformando (PINEAU 1992 apud GADOTTI, 2005), nos tornando cidadãos e cidadãs planetári@s, transcendendo fronteiras geográficas que nos separam (GUTIERREZ e CRUZ PRADO, 2008). Reforçamos nosso sentido de pertencimento ao Planeta Terra, nossa casa comum, organismo tão vivo e em evolução como o nosso próprio organismo e dos demais seres vivos com os quais compartilhamos a nossa existência (BOFF, 2004).

Algumas dicas importantes para cuidarmos do nosso planeta

De acordo com a Organização das Nações Unidas, cada pessoa precisa de 20 a 50 litros de água por dia para beber, cozinhar, lavar e tomar banho.

www.unwater.org.

O uso da água na produção dos nossos alimentos

Produção de 1 kg de arroz - até 3000 litros de água*;Produção de salada 1 kg de tomate ou alface - até 40 litros*; Produção de 1 kg de carne bovina – entre 2000 e 6000 litros**.*Considerando desde o cultivo até o produto chegar à nossa mesa.** Considerando a necessidade de irrigação do pasto e etapas do processamento da carne.

*www.unwater.org. **www.earthsave.org.

Você sabia?

* Que nos dias de hoje, uma em cada seis pessoas no mundo não tem acesso à água potável?

*Que uma torneira gotejando desperdiça até 46 litros por dia, o equivalente a uma caixa d’água de 1000 litros por mês?

* Que um litro de óleo de fritura descartado pelo ralo da pia pode contaminar até mil litros de água? E que mesmo jogado no solo, ele avança até os lençóis de água subterrânea gerando contaminação!

www.unwater.org.

www.revistaamigosdanatureza.com.br.

Que tal diminuirmos o desperdício desse presente tão precioso que a natureza nos dá?

Podemos deixar de “varrer” a calçada com a água que sai da mangueira, usar cisterna ou balde para guardar água da chuva para lavar o quintal, o carro, irrigar o gramado, o jardim, a horta... E convidar os amigos e familiares para adotarem essa mesma atitude.

Ao reutilizarmos o óleo de fritura para produzir sabão e detergentes caseiros, evitamos a contaminação de mananciais e prejuízos ao nosso bolso. A água contaminada fica mais cara para ser tratada, custo repassado a nós, consumidores.

www.revistaamigosdanatureza.com.br.

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Nossos canteiros valem saúde!

As plantas medicinais são importantes aliadas no combate de várias doenças. É muito comum nas cidades brasileiras que as famílias tenham um canteiro, uma pequena horta ou alguma árvore frutífera nos seus quintais e cultivem também condimentos e flores, hábitos que demonstram cuidado com o ambiente e atenção á saúde.

As comunidades indígenas e quilombolas manifestam esse mesmo cuidado e atenção. Como em outras regiões do Brasil, existem importantes comunidades indígenas e quilombolas na BP3. Nessas comunidades, as plantas são buscadas na natureza e utilizadas para a cura de enfermidades e rituais religiosos.

A pesquisa realizada em 2004, com 2.252 moradores da BP3, nos mostra quais são as plantas medicinais mais utilizadas na região:

“Somos aquilo que comemos”

As frutas e verduras dos pomares e hortas orgânicas não têm agrotóxicos. Além de prejudicarem a saúde de quem consome e dos que vivem próximos das áreas onde esses produtos químicos são utilizados, os resíduos de agrotóxicos e suas embalagens poluem o solo, a água e o ar. Valorizando a produção e o consumo de alimentos orgânicos, ingerimos alimentos saudáveis e contribuímos para a diminuição da eliminação e descarte desses resíduos no ambiente.

Muitos alimentos industrializados, por conterem conservantes e corantes químicos, geram prejuízo a nossa saúde. Além disso, suas embalagens, quando descartadas de forma inadequada, contribuem para aumentar a quantidade de lixo que encontramos nas ruas. Ao optarmos pela alimentação caseira, contribuímos para que nossa cidade fique mais limpa!

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Resíduos

Muita gente já está contribuindo...A quantidade de lixo gerada por cada brasileira e brasileiro diminuiu de 1,106Kg/dia para 1,080Kg/dia.

www.abrelpe.org.

No entanto, ainda temos muito que melhorar...

52,8% do lixo gerado no Brasil não é tratado de forma adequada;* 20 mil toneladas/dia de lixo são jogadas nos rios, valas, terrenos baldios ou são queimadas; * 67 mil toneladas/dia vão para os aterros a céu aberto ou lixões.

**www.abrelpe.org.

Os catadores de recicláveis são importantes agentes ambientais. Sua atuação é fundamental para diminuir a quantidade de lixo destinada aos aterros. Em 2006, o Ministério do Trabalho reconheceu essa função como profissão, uma conquista na busca dignidade e por terem assegurados os seus direitos.

A redução no consumo de produtos e embalagens supérfluas, a reutilização de materiais, a separação adequada de resíduos orgânicos, rejeitos e recicláveis são demonstrações de cidadania, solidariedade e responsabilidade social e ambiental.

Cidadãos e cidadãs conscientes adotam essas medidas, contribuindo para o aumento na renda para o sustento das famílias de catadores e catadoras!

www.ibam.org.br. “O Caminho é Feito ao Caminhar”

(Antonio Machado apud GUTIERREZ e PRADO, 2008)

Que tal caminhar um pouco pela cultura do nosso país?

Além da organização e mobilização social e da adoção de práticas sustentáveis em nosso cotidiano, a ecopedagogia valoriza o resgate do saber e da cultura local. Quais são as estórias que estamos contando para nossos alunos, nossos amigos, nossos vizinhos? Que tal deixar de vez em quando a televisão de lado e começar uma roda de conversa a partir da história, das lendas, do folclore, das músicas da cultura local?

Iguaçu - As Cataratas que surgiram de uma história de amor!

Os caigangs, distribuídos em aldeias próximas ao Rio Iguaçu, formavam uma nação indígena. Tinham como deuses Tupã e M’Boy, o filho rebelde de Tupã. M´Boy era o causador de doenças, tempestades, pragas nas plantações, ataques de animais ferozes e de tribos inimigas. Para se protegerem, o Caigangs ofereciam para ele uma jovem como esposa em todas as primaveras. Essas jovens ficavam impedidas para sempre de amar alguém, mas se sentiam honradas por contribuir com suas tribos.

Uma das jovens eleitas, Naipi, era filha de um grande cacique. Eram feitos muitos preparativos e esperados convidados de todas as aldeias para os rituais do casamento. Um dos convidados era Tarobá, guerreiro respeitado por suas vitórias. Por vontade de Tupã, Tarobá e Naipi se apaixonaram, passando a se encontrar secretamente nas margens do rio.

M’Boy acompanhava esses encontros em ser notado e sua fúria aumentava a cada dia. Na véspera do casamento, os jovens se encontraram mais uma vez nas margens do rio e Tarobá havia preparado uma canoa para fugir com Naipi no dia seguinte, enquanto todos adormeciam, cansados da festa. Tarobá e Naipi iniciaram a fuga e, quando já estavam longe, M’Boy lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranqüilas águas e abrindo uma cratera no fundo do Rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que tragaram a frágil canoa.

Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e Naipi em uma pedra nas profundezas de suas águas. Do alto, o jovem apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Ele lança flores para Naipi na primavera e a jovem está sempre banhada por um véu de águas claras e frescas. Ainda hoje, M’Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados. Muitos dizem que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, é possível ver uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo ouvir murmúrios de amor e lamento.

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Elementos do fazer ecopedagógico

Partindo das reflexões, práticas e diálogos ecopedagógicos, sabemos que estamos nos ecoformando e ao mesmo tempo ecoformando os nossos companheiros e companheiras de jornada quando:

Valorizamos o diálogo, a auto-expressão, as diferenças de opiniões e até mesmo os conflitos que venham a surgir como elementos de construção do saber integral sobre a realidade com a qual nos deparamos em determinado momento;

Não fechamos os olhos para a realidade e para as demandas de nossos interlocutores, mas trazemos esses elementos para exercitar nosso senso crítico e nossa capacidade de tomar decisões e elaborar ações voltadas ao bem comum;

Apoiamos as pessoas para que busquem sentido para suas existências, ao mesmo tempo em que buscamos sentido para a nossa existência, tendo como alicerce nossas ações diárias: o cuidado com a casa, com o nosso ambiente de trabalho, com o alimento que preparamos, com as nossas plantas e animais, nossas praças, ruas, rios, com nós mesm@s, com aqueles com os quais convivemos no nosso dia a dia;

Confiamos que a educação é um processo para a compreensão do significado da vida. Esse processo está apoiado em um discurso flexível, não impositivo. Ele valoriza os saberes tradicionais, as histórias e culturas locais e não se apóia unicamente no conhecimento científico enquanto detentor de verdades absolutas;

Optamos pela construção de um presente com mais justiça, respeito à todas as formas de vida e dignidade para tod@s, alicerce para que possamos construir sociedades fundamentadas nesses mesmos ideais;

Percebemos a dimensão global de nossas ações locais, despertando nosso sentido de cuidado e pertencimento ao nosso pedaço do planeta como elemento capaz de construir o mundo melhor que tanto sonhamos.

O que mais?

O fazer ecopedagógico nos abre portas para novos projetos, novos caminhos, novos sonhos. A partir da nossa lista, como você, sua família, seus colegas de trabalho, sua comunidade podem relacionar outros conteúdos e perspectivas ecopedagógicas?

“O ser humano investe no que acredita. São nossas ações que manifestam os princípios e valores que nos orientam. Onde a necessidade de aprofundarmos os valores e crenças que nos conduzem a caminho da sustentabilidade.

Este caminho tem muitas trilhas ou vertentes: aprendizagem transformadora, a educ-ação socioambiental, a alfabetização ecológica, a educação popular ambiental e a ecopedagogia são algumas delas. Mas todas têm uma afirmação comum: “a educação não é neutra” ela é portadora de valores e é um ato político, como afirma também o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

Andar pela trilha da ecopedagogia significa, então, ascender à condição de “etern@ aprendiz” ainda que caminhemos como educadoras e educadores. Buscamos promover um presente responsável para um futuro responsável. E isto se dá em processos educativos com pessoas com quem logramos ampliar nossa consciência ecológica aprofundando e partilhando nossos conhecimentos, fortalecendo atitudes e adquirindo habilidades que nos levam a participar em ações que visam a boa qualidade do ambiente e de vida das populações no pedaço do planeta em que habitamos.

Como dizem os orientais: “o Todo está em Tudo”. Isto significa que, a partir de um tema gerador, sempre seremos convocados a pensar o que vivemos como parte da teia da vida. Nas sementes e nas nascentes de água ou nos passivos ambientais que causamos pela produção e consumo insustentáveis, se apresentam todos os elementos para repensarmos nossa maneira de ser e atuar enquanto cidadãos e cidadãs desta pequena aldeia em que se transformou nosso planeta.

O grande desafio colocado pela educação para a sustentabilidade - na qual se situa também a corrente da ecopedagogia - é exatamente este: “pensar e atuar local e globalmente”, aprendendo e ensinando com o planeta em mente e no coração, a partir de onde moramos e onde vivemos. Esta é a base de sustentação de qualquer projeto ecopedagógico.”

MOEMA VIEZZER – consultora socioambiental

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O planeta no nosso pedaço, o nosso pedaço no planeta

As questões socioambientais locais e planetárias são bastante complexas. A ecopedagogia nos aponta um modelo de aprendizagem imerso em um contexto de inter-relações: entre pessoas, entre pessoas e o meio, e os demais seres vivos, e o contexto histórico, social e econômico que as envolve, formando a teia de informações, mudanças e incertezas que estruturam a realidade. Por meio da prática ecopedagógica, os indivíduos desenvolvem uma percepção holística da vida real, compreendendo que o todo é mais do que a soma das partes (MORIN, 1999; GUIMARÃES, 2005).

Nesse contexto, o processo de aprendizagem ecopedagógica é multidisciplinar, transitando das ciências naturais às ciências humanas e sociais, da filosofia à religião, da arte ao saber popular, sempre buscando a articulação entre os diferentes saberes. Através de processos, indicadores e instrumentos pedagógicos criados e recriados a cada dia, construímos um conhecimento integral, voltado à concretização dos ideais de sustentabilidade no nosso dia-a-dia (GUTIERREZ e PRADO, 2008).

“A Ecopedagogia faz ecoar nas pessoas a preocupação com a recuperação do nosso meio ambiente e a preservação do que ainda resta. Temos que abrir caminhos, fazer algo de concreto deixando nosso exemplo para que os outros dêem continuidade às atividades e projetos que garantam a recuperação e sustentabilidade dos recursos naturais”.

Inês Ferreira Welter, professora do ensino fundamental,

São Miguel do Iguaçu

Valorizar o sentido e o cotidiano é elemento intrínseco da Ecopedagogia. Contudo, ela vai além da prática pedagógica. Ao incorporarmos a Ecopedagogia em nosso cotidiano, nos resgatamos e nos fortalecemos enquanto cidadãos e cidadãs. Como consequência, atuamos como dinamizadores de processos que contribuem para a vivência dos ideais de sustentabilidade nos espaços onde estamos inseridos (GUTIERREZ e CRUZ PRADO, 2008; GADOTTI, 2005).

Entretanto, nossas propostas de intervenção apenas poderão ser concretizadas e levadas adiante se nos unirmos e nos organizarmos, se tivermos claro aonde queremos chegar, os possíveis caminhos a serem trilhados e quem serão os nossos companheir@s de jornada. Por essa razão, sugerimos os projetos Ecopedagógicos como ferramenta essencial para a realização de ações socioambientais nas escolas, grupos comunitários, universidades, empresas... Independente dos espaços e dos atores envolvidos, podemos contar com esse importante instrumento para a viabilização das práticas solidárias e sustentáveis.

Os projetos ecopedagógicos incorporam em sua essência uma dimensão política e por essa razão não se bastam nas escolas! Eles são ferramentas indispensáveis para a construção da justiça social e ambiental, da cultura do cuidado e da cidadania local e planetária!

“No dia-a-dia da sala de aula, desenvolvemos diversos hábitos que lembram uma educação ambiental que todos devemos ter em nossas vidas. Desde não jogarmos a latinha pela janela do ônibus, e/ou carro, ou mesmo lixo no chão, já estamos nos referindo a uma educação ambiental. Porém, no decorrer dos anos que trabalho em sala de aula, desenvolvi alguns projetos com meus alunos para uma maior reflexão sobre o nosso mundo, para que eles tenham um conhecimento maior do que temos e como podemos preservar. Realizei projeto sobre plantas medicinais e tóxicas; lixo e reciclagem; e desenvolvimento sustentável”.

Joana Raquel Diehl Vanzella, pedagoga,

Diamante do Oeste, PR

“A Oficina de Ecopedagogia contribuiu muito no trabalho desenvolvido com nossos alunos no CMEI, além, é claro, de esclarecer de forma simples o verdadeiro sentido da palavra. Mesmo sem saber os professores já trabalham ecopedagogia. Desenvolvemos um projeto através da Agenda 21 - A Nossa Horta, um projeto muito interessante, conseguimos envolver todos os alunos, professores e pais. Estamos conseguindo melhorar a qualidade de vida destas pessoas através da alimentação, de maneira simples e divertida. Com a oficina tivemos condições de aprimorar nosso projeto com as trocas de experiências e com as dinâmicas de grupo. Aguardo ansiosa a segunda etapa desta oficina”.

Márcia Regina Saucedo, pedagoga,

Foz do Iguaçu, PR

Elaborando projetos ecopedagógicos

Talvez o maior desafio vivenciado nos trabalhos em grupo seja inserir conteúdos de forma contextualizada, ordenada e que garanta a participação de todos. Infelizmente, observamos que algumas vezes as informações são impostas, transmitidas de forma unilateral. Em outras, os participantes dos encontros são estimulados a se manifestarem de forma espontânea, se desvinculando das informações e objetivos dos mesmos.

Conteúdos e informações não devem de forma alguma ser desprezados. Eles não surgem do acaso, são frutos da interação dos grupos sociais com sua realidade cultural ao longo do tempo (ALVAREZ, 1996). O mais importante, porém é que sua transmissão dialogue com interesses, desejos e percepções dos participantes, bem como a realidade observada e percebida por aquele grupo, naquele momento e naquele espaço.

Na perspectiva da Ecopedagogia, os ambientes educativos são ambientes de mobilização de processos de diálogo entre conteúdos, reflexão crítica e intervenção na realidade, um exercício de cidadania ativa para todos os atores envolvidos. Por essa razão, os projetos ambientais não podem estar focados apenas na mudança de atitude dos participantes. É a vivência no movimento coletivo que enriquece suas práticas e levam à transformação das comunidades e sociedades onde estão inseridos.

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Por meio da realização de projetos ecopedagógicos, os conteúdos se tornam palpáveis, deixam de ser abstratos e prioritariamente técnicos e permitem:

Atuar no cotidiano daquele grupo provocando novas questões, situações de aprendizagem e desafios para a participação na solução de problemas e manutenção das conquistas por meio da articulação dos espaços com os ambientes locais e regionais onde estão inseridos;

Construir processos de aprendizagem significativa conectando as experiências e os repertórios já existentes com questões e experiências que possam gerar novos conceitos e significados para aqueles ou aquelas que estejam abertos a aventura de compreender e se deixar surpreender pelo mundo que os/as cercam;

Valorizar princípios da gestão democrática dos espaços, incentivando a descentralização, a autonomia e a participação;

Situar os coordenador@s /educador@s como mediadores das ações socioeducativas, gerenciando a tomada de decisões e definição de ações, pesquisas, reflexões que oportunizem novos processos de aprendizagens sociais, individuais e institucionais;

Fortalecer as vivências de atitudes e dos valores bem como da prática de pensar a prática;

Reorientar ações da educação formal e não formal, bem como as intervenções socioambientais, para que sejam trabalhados conteúdos significativos para os envolvidos, em contexto amplo, inserindo os princípios da sustentabilidade local e planetária.

Traçando caminhos e metas

Convidamos colaboradores e colaboradoras e realizamos reuniões. Poderá surgir a necessidade de ser definido um/uma representante do projeto;

Convidamos pessoas envolvidas direta ou indiretamente ao local da ação;

Definimos um plano de ação e objetivos; Listamos tarefas, providências a serem tomadas e os responsáveis

pelas mesmas;

O planejamento é essencial. Por essa razão, é importante estabelecermos um cronograma para execução das ações propostas e a data do próximo encontro, quando resultados dessa etapa deverão ser apresentados.

Não podemos nos esquecer que o trabalho conjunto envolve respeito, disciplina, partilha de responsabilidades, valores reforçados como elementos capazes de dar sentido às nossas ações cotidianas.

Adaptado de ALVAREZ, 1996

Ponto de partida

Para iniciarmos, é fundamental que seja definida a linha de ação do projeto: É a diminuição de desperdícios de água e energia? A redução e destinação adequada dos resíduos sólidos? A criação de uma horta, de um canteiro de plantas medicinais? Outros? Embora essas ações estejam interligadas, é importante que uma sirva como tema gerador para a proposição de ações e intervenções socioambientais.

Não podemos nos esquecer que as linhas de ação devem sempre estar relacionadas ao contexto socioambiental das pessoas envolvidas e à investigação em torno de suas percepções e compreensões dos problemas vivenciados nesse contexto. Para isso:

Caracterizamos a área de estudo: Em que local as ações do projeto serão realizadas? Já foram realizados outros projetos ou ações socioambientais nesse local? O ambiente deve ser caracterizado pelo olhar coletivo, pela contemplação, reflexão e socialização das questões socioambientais a ele relacionadas.

Identificamos projetos e ações voltadas à sustentabilidade na comunidade: Experiências anteriores podem ajudar na concretização de nossas idéias. Podemos convidar atores sociais envolvidos a essas ações para socializarem suas vivências, dialogando sobre as formas possíveis de intervenção para aquele espaço e aquele público;

Delimitamos a abrangência do projeto: Não podemos nos esquecer que, um projeto realizado em um bairro, contribuirá de forma direta com a sustentabilidade de seu município, que por sua vez fará a diferença para aquele estado, país... Afinal, estamos trabalhando para cuidar do nosso planeta, nossa casa comum e para construir a cidadania planetária, não é?

Definimos quem será o público envolvido ao projeto de forma direta e indireta: A quem se destinam nossas ações?

Realizamos registros (fotografias, vídeos, ilustrações, outros) e memórias dos encontros: Estimulamos os membros dos grupos a adotarem essas práticas sempre que executarem ações voltadas à construção das propostas ecopedagógicas;

Avaliamos nossas expectativas iniciais: Estamos no caminho previsto? Alcançaremos nossas metas por meio da metodologia e prazo estipulados? Verificar a necessidade de alteração de propostas iniciais, tarefas, providências, metas e prazos. Ao final do projeto, celebramos nossas realizações e avaliamos as lições aprendidas.

Adaptado de www.petrobras.com. br.

Como fazer?

Em primeiro lugar, é importante lembrar sempre que o diálogo, a reflexão crítica, a democracia, a cooperação e a co-participação devem estar presentes para subsidiar a elaboração de práticas criativas e sua avaliação. Eles são elementos fundamentais para a construção de uma nova compreensão do mundo e das formas possíveis de intervenção no meio. Além disso, o trabalho conjunto torna mais fácil a concretização de idéias, o que reforça a auto-estima, a afetividade, a ousadia e a coragem em propor e inovar, fortalecendo a confiança no potencial de transformação das ações ecopedagógicas.

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Como redigimos um projeto?

As etapas e conteúdos apresentados anteriormente são elementos importantes para subsidiar a elaboração de projetos ecopedagógicos e sua sistematização escrita. Esse instrumento contribui para a organização e divulgação de nossas idéias, a adesão de novos parceiros e a captação de recursos. Também serve para referenciar outras ações socioambientais ou simplesmente como memória das intervenções realizadas por aquela equipe, naquele espaço naquele momento. Para facilitar a elaboração escrita de projetos ecopedagógicos, apresentamos o seguinte roteiro:

*Resumo De forma clara e resumida, são apresentados princípios e valores da

Carta da Terra e do Tratado de Educação Ambiental, assim como as diretrizes da Ecopedagogia e o papel dos espaços educativos e comunitários na sua materialização. É indicada a área de estudo, a área de abrangência do projeto, um breve histórico das intervenções realizadas até o momento, com uma breve avaliação. Na sequência, são apresentadas as propostas do projeto e suas justificativas. Encerrando o resumo, são indicados os resultados esperados e suas implicações com o exercício e construção da cultura da sustentabilidade e cidadania planetária.

*Análise do problema e justificativa Por que a proposta é importante para aquele local?

Nesse item, é apresentado o problema em torno do qual será proposta toda a ação socioambiental. A sua razão de escolha e implicações no contexto social, espacial e temporal deverão ser descritas de forma clara e sucinta.

*Objetivos Onde queremos chegar?

Os objetivos se relacionam diretamente ao problema apresentado na justificativa e as possíveis formas de solucioná-lo. Se apresentados de forma geral, por exemplo, “a disseminação da cultura da sustentabilidade no espaço educativo”, deverão ser esmiuçados de forma específica (“o envolvimento de alunos, professores e comunidade escolar com o programa de coleta seletiva”, “o comprometimento da comunidade escolar com as ações propostas no projeto”, etc.).

*Público Quem queremos envolver?

Ainda que o projeto tenha por meta o envolvimento de diversos atores sociais, a proposta inicial deverá prever a realização de ações voltadas a grupos e faixa etária específicas. Porém, pode ser indicado o interesse de abrangência de suas linhas de ação ao longo do tempo, citando, por exemplo, a possível constituição de grupos envolvendo pessoas de diversas idades na comunidade.

*Delineamento metodológico Qual o caminho a percorrer? O que cada um de nós pode fazer?

Nesse item, poderão ser indicadas as referências teóricas que fundamentam as ações a serem executadas, os prazos e os responsáveis por cada tarefa envolvida com a concretização do projeto. Retomando como exemplo um projeto de coleta seletiva, o delineamento metodológico poderá listar, de acordo com a literatura, a classificação dos resíduos, formas de separação, acondicionamento, legislação, etc., informações que vão incorporar conteúdos às atividades planejadas.

Cronograma de Execução: É muito importante definir o prazo de execução de cada atividade planejada. Assim, elas ficam ordenadas em função do tempo, da divisão de responsabilidades e práticas a serem executadas em cada etapa de realização do projeto.

Recursos: Começamos visualizando os recursos que já temos: equipamentos, pessoas, parcerias internas e externas. A seguir, anotamos os recursos complementares (financeiros ou outros) de que necessitamos. Um projeto bem fundamentado e elaborado facilita também a captação de recursos.

*Indicadores de avaliação

Como sabemos que estamos caminhando na direção que queremos? A partir de indicadores, elementos que nos mostram se estamos caminhando na direção esperada. O envolvimento dos participantes, o comprometimento com a execução das ações propostas podem nos indicar se nossas práticas estão caminhando em direção aos resultados que desejamos. Outros indicadores, definidos em função das características de cada projeto, podem ser acessados por meio de entrevistas, questionários, tomada de depoimentos, ferramentas importantíssimas para a manutenção ou alteração das atividades previstas para enfrentamento do problema identificado.

*Referências bibliográficas

É sempre importante relacionar os textos, artigos, livros ou endereços eletrônicos consultados na elaboração dos projetos. Além de servir como referencias para outras pessoas que tenham interesse em consultá-lo, manter uma lista de referenciais bibliográficos é uma demonstração de respeito pelo trabalho e idéias elaboradas pelos estudiosos da área.

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A Carta da Terra

Enquanto código de princípios éticos voltados à construção da cidadania planetária, a Carta da Terra se fundamenta na mudança de valores, de atitudes, de estilos de vida. Essas mudanças se tornam possíveis na medida em que os indivíduos se permitam imergir em um processo educativo vivencial, flexível, dinâmico, criativo, voltado às necessidades daquele grupo e ao contexto socioambiental em que estão inseridos.

Os estudos e debates voltados às possibilidades de garantia do desenvolvimento econômico e a preservação do ambiente foram divulgados pela primeira vez durante a Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Essas discussões permearam os debates ambientais nas décadas de setenta e oitenta, contribuindo para a divulgação do Relatório Brutland em 1987, documento também conhecido como “Nosso Futuro Comum” e que lançava as diretrizes do desenvolvimento sustentável. É nesse mesmo ano a Comissão Mundial das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento faz um chamado para que as nações se unam e trabalhem na criação de uma Carta constando os princípios fundamentais desse novo modelo de desenvolvimento.

Lançada oficialmente no ano 2000, a Carta da Terra é na atualidade o produto do diálogo de mais de dez anos entre diversas culturas e países. A “Iniciativa da Carta da Terra”, movimento global que tem como objetivo envolver pessoas na vivência e difusão de seus princípios e valores, celebra esse ano os dez anos do lançamento oficial desse importante documento planetário.

Por meio de Encontros programados para ocorrer durante 2010 nos quatro cantos do mundo e com o slogan “Começa com você”, o movimento mundial nos faz lembrar que a conquista da paz, do respeito ao ambiente e o fim das injustiças sociais inicia por nossas reflexões e iniciativas. Unidos e unidas, dialogando e construindo ações voltadas ao bem comum e à preservação ambiental, passamos a “Ser a Mudança que Queremos Ver”.

Gandhi - www.weuuniverso.com.br.

A Carta da Terra Princípios e Valores que Orientam a Construção da

Cultura da Sustentabilidade

I. Respeitar e Cuidar da Comunidade e da Vida

Respeitar a terra e a vida em toda sua diversidadeCuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

II. Integridade Ecológica

Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.

III. Justiça Social e Econômica

Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável. Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré-requisito para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado com a saúde e às oportunidades econômicas. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

IV. Democracia, Não Violência e Paz

Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso.Integrar na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.

Disponível em www.cartadelatierra.org

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Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

O Tratado de Educação Ambiental foi elaborado por meio de um processo mundial de consulta que antecedeu a Conferência da Cúpula da Terra, Rio 92. Ele é a síntese de um processo de diálogo e construção coletiva que envolveu pessoas de diversos países: professores e professoras de vários níveis da rede formal, pesquisadores e pesquisadoras de diversas universidades, representantes de ONGs e de movimentos sociais. Tod@s reunid@s durante a Primeira Jornada de Educação Ambiental, realizada durante o Fórum Global, evento paralelo á Rio 92 (VIEZZER et al, 1995).

Assim como a Carta da Terra, os signatários do Tratado estão distribuídos em diversos países, pessoas que se comprometeram com a proteção da vida no planeta e reconhecem a importância fundamental da Educação para a formação de valores e ação social.

Você sabia?

Os princípios e valores do Tratado de Educação Ambiental serviram de inspiração para a Política Nacional de Educação Ambiental, que define as leis sobre a Educação Ambiental no Brasil desde 1999.

2ª Jornada Internacional de Educação Ambiental 2008-2012

Os conteúdos do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global são dinâmicos, permanentemente repensados e reconstruídos. São também um convite para que todos os povos compartilhem a responsabilidade no cuidado com o planeta e da construção de sociedades sustentáveis e equitativas. A Segunda Jornada de Educação Ambiental, coordenada por Moema Viezzer, é um movimento cuja finalidade é fortalecer o Tratado de Educação Ambiental na perspectiva da sustentabilidade.

A participação de cada um de nós é muito importante!

A Segunda Jornada Internacional de Educação Ambiental é um acontecimento marcante para todas e todos que trabalham para que a Educação Ambiental esteja no centro das nossas ações cotidianas, da gestão educacional e ambiental. Para participar, basta compartilhar as ações realizadas a partir dos princípios do Tratado e realidades locais, estabelecendo conexões com a realidade planetária.

O Tratado de Educação Ambiental. Princípios e Valores Voltados á Educação para a Sustentabilidade

1. A Educação é um direito de todos. Todos somos aprendizes e educadores.

2. A Educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade.

3. A Educação Ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a auto-determinação dos povos e a soberania das nações.

4. A Educação Ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação social.

5. A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.

6. A Educação Ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas de interação ente as culturas.

7. A Educação Ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como a população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, degradação da flora e fauna, devem ser abordados dessa maneira.

8. A Educação Ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão em todos os níveis e etapas.

9. A Educação Ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história indígena e culturas locais, assim como promover a diversidade cultural, lingüística e ecológica. Isso implica uma revisão na história dos povos nativos para modificar os enfoques etnocêntricos, além de estimular a educação bilíngüe.

10. A Educação Ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações, promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base que estimulem os setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos.

11. A Educação Ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento. Este é diversificado, acumulado e produzido socialmente, não devendo ser patenteado ou monopolizado.

12. A Educação Ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem os conflitos de maneira justa e humana.

13. A Educação Ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de vida, baseados em atender as necessidades básicas de todos, sem distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião, classe ou mentais.

14. A Educação Ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser transformados em um canal privilegiado de educação, não somente disseminando informações em bases igualitárias, mas também promovendo intercâmbio de experiências, métodos e valores.

15. A Educação Ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações. Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.

16. A Educação Ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos este planeta, respeitar seus ciclos vitais e impor limites á (à) exploração dessas formas de vida pelos seres humanos.

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades e Responsabilidade Global. Série Documentos Planetários. Itaipu Binacional, 2004.

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Projeto Gráfico e Editoração: L3 Comunicação

Foz do Iguaçu

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