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Filosofia

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  • EXPERINCIAS FILOSFICAS NO ENSINO MDIO

    Karina Gaspar de Oliveira

    Rio de Janeiro

    Fevereiro de 2010

  • PREFCIO

    Ao analisar o livro Hume, as fices e os artifcios a Mestra em Filosofia Karina Gaspar

    de Oliveira, atravs de uma linguagem clara, explora as relaes entre os principais conceitos

    desenvolvidos por Hume: religio, teoria do conhecimento, poltica e moral. A imaginao, o

    esprito, a subjetividade e outras questes essenciais do pensamento de David Hume so

    protagonistas desta tese, que procura despertar no leitor o interesse pela a filosofia britnica.

    Depois desse, proporciona-nos Experincias filosficas no Ensino Mdio; um livro com

    grande densidade e importncia ao refletir sua experincia no trabalho com o ensino de Filosofia no

    Ensino Mdio. No um livro acadmico (como ela mesma afirma); trata-se de um livro

    contagiante na leitura justamente por ser original na abordagem, e pela simplicidade da escrita que o

    tornar acessvel a muitos que no esto acostumados com terminologia prpria dos livros de

    filosofia.

    O livro uma grande contribuio na reflexo sobre o ensino da filosofia no Ensino

    Mdio, que, no Brasil, torna-se cada vez mais um desafio pensar numa metodologia de ensino que

    no se estruture somente na bibliografia ou no estudo da Histria da Filosofia.

    Um grande desafio apresentado no ensino de filosofia no reluzi-lo a mais um saber

    enciclopdico. Assim, urge descobrir metodologias de ensino que levem a entender o processo de

    ensino-aprendizagem como uma forma de levar o aluno a ser capaz de investigar, repensar e

    inventar conceitos. O retorno do ensino da filosofia no ensino mdio traz consigo grandes

    expectativas e tambm enormes desafios. Cabe ao educador tomar as medidas pedaggicas

  • adequadas a fim de ser uma contribuio na formao de cidados autnomos, capazes de pensar

    por si mesmos. A autora no apresenta nenhuma orientao explcita de prtica pedaggica, mas ao

    ler seu livro o leitor encontrar uma dinmica prpria e original que ela utiliza ao trabalhar com

    temticas de filosofia sem perder a referncia ao texto clssico, mas de modo a se aproximar da

    realidade vivida por seus estudantes.

    O grande desafio parece ser justamente que o ensinar filosofia transcende a mera leitura de

    textos filosficos. Diferente de acumular conhecimentos sobre a produo dos diversos pensadores,

    filosofar exercitar, organizar e coordenar o pensar, discutir criticamente, correlacionar obras e

    autores, confrontar pontos de vista e emitir juzos fundamentados. Forma-se assim um sujeito

    crtico que alm de filosofar seja capaz de pensar sua realidade, seu momento social. No ensino de

    filosofia, to importante quanto o processo de filosofar fazer que os alunos encontrem sentido no

    contedo filosfico a eles proposto, pois dessa construo de sentido depende o sucesso da

    aprendizagem (GHEDIN, 2008, p.117).

    Nietzsche defendia que a autonomia pretendida no apenas seria conseguida pela razo,

    mas, sobretudo, a verdadeira emancipao deriva do crescimento da liberdade, da vontade e da

    potncia. Isso nos leva a acreditar que alm da preparao terico-tcnica o professor de filosofia

    deve ter tambm uma experincia filosfica; caso contrrio ser mais um comunicador do

    conhecimento terico e frio da filosofia, levando os estudantes a enfadar-se do pensamento

    filosfico.

    Se para Hegel o ato de ensinar filosofia leva necessariamente ao filosofar, em Kant

    encontramos justamente esta diferenciao de que no se ensina filosofia e sim filosofar. No

    nosso objeto de estudo entrar no mrito do debate, mas de uma forma prtica podemos dizer que se

    a aula de filosofia no for uma atualizao dos textos clssicos, ficando apenas no conhecimento

    terico, sem que o docente busque despertar os alunos para o fato de que os grandes pensadores da

    histria perderam muito tempo de suas vidas para que pudessem propiciar uma reflexo sobre

    problemas que ainda hoje nos so capazes de despertar curiosidade e motivar-nos a reflexo,

  • estaremos necessariamente banalizando o ensino de filosofia e depreciando seu valor, levando a

    uma viso negativa da disciplina.

    Os leitores certamente percebero neste livro que a autora conjuga pesquisa e ensino num

    timo subsdio para poder motivar-se cada vez mais a pensar e organizar propostas pedaggicas que

    possibilitem um estabelecimento perene da filosofia no Ensino Mdio de forma que sua presena

    traga grandes contribuies na educao de cidados atuantes na sociedade brasileira.

    Fbio Antonio Gabriel professor colaborador do curso de filosofia da Universidade

    Estadual Norte Paran; autor de Filosofando, noes introdutrias e Filosofando sobre a existncia

    de Deus em Blaise Pascal; www.infonortepr.com.br; www.mundofilosofico.com.br

  • Aos professores de Filosofia, companheiros de sonhos,

    conquistas e muito trabalho.

    AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Nestes seis anos de trabalho e pesquisa, foram muitos os amigos que compartilharam

    comigo estas experincias:

    Minha famlia: Mrcia, Jorge e Karla.

    Meu maior incentivo: Alberto meu filho.

    Amigos queridos: Regina, Daisy, Valesca, Miri, Cristiane, Jonathan e Marcelo.

    Mestres: Profa. Maria Helena Lisboa da Cunha e Profa. Anelice Ribetto.

    Ao prof. Fabio Gabriel, autor do prefcio pela ateno e boa vontade.

    Experincias Filosficas no Ensino Mdio no um livro acadmico. No

    foi feito para discutir teorias pedaggicas. No obedece a uma cronologia

    precisa da histria da Filosofia. Seus captulos so independentes, mas esto

    interligados na medida em que discutem determinados temas da Filosofia.

    Convidamos o leitor a conhecer textos, msicas, filmes, poesias, obras de

    arte e de literatura. Convidamos criao, experimentao de um

    pensamento crtico e alegre. Boa leitura!

    Karina Gaspar de Oliveira

  • SUMRIO

    PREFCIO

    1. FILOSOFIA GREGA

    2. O MITO DA CAVERNA E OS TIPOS DE ESCRAVIDO

    3. BIOTICA NO ENSINO MDIO

    4. CULTURA E FILOSOFIA

    5. INDSTRIA CULTURAL: CULTURA DE MASSA, MESMICE E MEDIOCRIDADE

    6. CONHECIMENTO E COMUNICAO

    7. ESTTICA

    8. AUTO-AVALIAO: TICA E CIDADANIA NA PRTICA

    9. IDEOLOGIA E PROJETO DE VIDA

    10. FILOSOFIA NO VESTIBULAR

    11. POLTICA

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXO

  • 1. FILOSOFIA GREGA

    No se ensina Filosofia. Se ensina a filosofar. Immanuel Kant.

    Embora ainda no haja um programa da disciplina num mbito nacional, visto que o

    Parmetro Curricular Nacional de Filosofia deixa a critrio da linha filosfica do professor1, o

    surgimento dela na Grcia tema obrigatrio. Fundamental na medida em que auxilia na

    compreenso de inmeras questes levantadas pelos alunos do Ensino Mdio como as seguintes:

    Para que serve a Filosofia?

    De onde vem esta desconhecida disciplina?

    Qual o contedo e quais os objetivos dela?

    A primeira atividade que desenvolvemos em uma aula de filosofia para principiantes o

    acrstico que tambm poder ser utilizado em diversas outras atividades. Ele servir como uma

    espcie de palavra-puxa-palavra na qual se discute com o grupo as palavras escolhidas por cada

    um e se so coerentes com o tema abordado. Entre inmeros feitos pelos alunos em sala de aula,

    escolhemos o seguinte:

    Felicidade

    Ideias

    Liberdade

    Observao

    Sabedoria

    Originalidade

    Fases da vida

    Interagir

    Aprendizado

    A Grcia e o conceito de filosofia so, portanto, os pontos de partida para uma viagem pela

    histria da Filosofia. Tales de Mileto, descrito pelos historiadores como o primeiro filsofo, foi

    tambm um dos precursores do que hoje os pedagogos classificam como interdisciplinaridade. A

    1Parmetros Curriculares Nacionais (Ensino Mdio). Disponvel em:

    http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf. Acesso em: 10 de outubro de 2009.

  • filosofia de Tales a expresso da Paidia grega- a filosofia est em tudo- matemtica, fsica e

    astronomia se misturam, se interligam.

    Em suas viagens pelo Egito ele constatou a impossibilidade de uma filosofia egpcia por

    inmeros fatores: opresso religiosa atravs de um rigoroso sistema de crenas e prticas morais, no

    qual poltica e religio paralisam o pensamento. O povo escravizado vivia em funo de construir:

    construir pirmides, alimentar os sonhos do fara. O rei Sol era a figura dominante, presena

    marcante; quase sobrenatural.

    No Egito, Tales se encantou com as pirmides. Observou-as dias consecutivos e criou

    teoremas a partir dessas observaes. Alguns autores afirmam que ele teve insolao, mas o que

    importa que sua alma de filsofo permitiu que ele descobrisse de que modo o fara manipulava

    seus sditos. Com amplos conhecimentos de Geologia e Agricultura, entre outros, era possvel, por

    exemplo, prever a poca das cheias e de baixa do rio Nilo e utilizar este conhecimento a seu favor

    afirmando ter poderes sobre a natureza:

    O excelso fara no era somente juiz supremo e comandante e chefe do Exrcito,

    mas tambm o nico representante dos deuses na terra. Como delegado divino, o

    soberano era a garantia de que os deuses continuariam favorecendo o Egito,

    mantendo-o seguro. (BIBLIOTECA EGITO: S/D,70).

    Os pr-socrticos buscavam o princpio de tudo. Tales acreditava que era a gua:

    Aristteles chamava-o de fundador da filosofia e ele lembra a sua doutrina de que a

    gua o elemento primordial de todas as coisas e que a Terra flutua sobre a gua.

    (BORNHEIM: 1998, 22).

    Demcrito um exemplo importante para que o aluno compreenda a relevncia da filosofia

    e o fato de que ela no uma cincia isolada. Coragem, determinao e curiosidade moviam os

    gregos em uma democracia, onde as artes, a retrica e o constante questionamento eram praticados

    em locais pblicos e valorizados.

    Herclito compreendeu que Tudo flui, isto , a vida sofre intensas transformaes que so

    os movimentos infinitos do universo e a natureza que se recria em novos animais e plantas. a

    filosofia que torna o homem um amante da sabedoria. Por que ningum se banha duas vezes no

  • mesmo rio? Por que o rio no o mesmo de um segundo atrs pois ideias, sentimentos e pessoas

    esto se modificando constantemente.

    Herclito utiliza o gerndio. Nunca o particpio. A filosofia uma expresso da Arch

    (princpio) e tambm da Phronesis (paixo). a intensidade da vida:

    O fogo se transforma em todas as coisas e todas as coisas se transformam em fogo,

    assim como se trocam as mercadorias por ouro e o ouro por mercadorias.

    (BORNHEIM:1998, 41).

    As diferenas entre a Grcia e o Egito foram amplamente discutidas com os alunos. Em

    grupos, aps prvia pesquisa, eles fizeram quadros comparativos entre as caractersticas de cada

    povo.

    As perguntas para o debate foram as seguintes:

    a) Por que a filosofia surgiu na Grcia e no no Egito?

    b) Diferenas entre a democracia grega e o poder do fara;

    c) Que condies foram propcias na Grcia para o surgimento do pensamento racional?

    O texto Grcia Arcaica aponta as condies favorveis culturais, geogrficas, polticas e

    religiosas:

    O grande nmero de ilhas prximas permite a navegao com segurana (...). Os

    gregos organizavam-se, assim, em pequenas unidades polticas, as cidades-estados

    ou polis. Esse relevo acidentado, entretanto, dificulta as invases estrangeiras (...)

    todas essas trocas comerciais eram acompanhadas por trocas culturais. (FRANCO

    JR: 1994,6).

    Um quadro com essas caractersticas foi elaborado com os alunos aps a leitura para mostrar

    a influncia da filosofia em outras disciplinas. Eles foram convidados a pesquisar atravs de que

    conceitos a filosofia influenciou outras cincias:

    DIREITO SOCIOLOGIA

    Leis/tratados democracia

    FILOSOFIA

    HISTORIA PSICOLOGIA QUIMICA

    Tempo psique tomo

  • O texto Como milho da pipoca, de Rubem Alves, serviu de base para a reflexo, isto , foi

    importante para que eles pudessem compreender que a pergunta inicial- o que Filosofia?- de

    uma infinita variedade de definies. No conto h dois tipos de milho: o que vira pipoca e o que se

    recusa a estourar. A transformao no fcil. Requer coragem, persistncia e sabedoria:

    Bem mas ainda temos o piru que o milho que se recusa a estourar. So aquelas

    pessoas que por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que no

    pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. A presuno e o

    medo so a dura casca de milho que no estoura. O destino delas triste. Ficaro

    duras a vida inteira. No vo se transformar na flor branca, macia e nutritiva. No

    vo dar alegria para ningum. (ALVES: 2003, p.25).

    Os pr-socrticos passaram pelo fogo, pelos obstculos e sofrimentos da vida e superaram as

    adversidades. Kant resumiu em uma frase: no se ensina Filosofia. Se ensina a filosofar. Nem

    toda a histria da filosofia capaz de produzir um filsofo, pois ele surge da dvida, da curiosidade

    e do direito de conhecer. Para ser filsofo no se pode limitar ao comportamento de um piru, o

    milho que no estoura e, sim, ser uma pipoca em movimento.

    Aproximar a filosofia grega do cenrio contemporneo uma tarefa que exige pesquisa.

    Livros de Histria, Geografia, Qumica e Astronomia no devem ser ignorados. Uma experincia

    bastante positiva foi na aula sobre Demcrito a participao de um professor de Qumica que, com a

    Tabela Peridica, ampliou o estudo inicial dos fragmentos tornando a aula interdisciplinar.

    Professores de matemtica foram consultados para as aulas sobre Tales. Felizmente, muitos dos

    alunos tm conhecimento sobre sua produo enquanto matemtico. Da a necessidade de trabalhar

    tanto com textos quanto com exemplos:

    O pensamento de Herclito:

    Os filsofos milesianos (Tales, Anaximandro, etc.) haviam percebido o dinamismo

    das mudanas que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e o

    perecimento, mas no chegaram a problematizar a questo. Herclito, inserido

    dentro do contexto pr-socrtico, parte do princpio de que tudo movimento, e

    que nada pode permanecer esttico. Panta rhei, sua "mxima", significa "tudo

    flui", "tudo se move", exceto o prprio movimento. Ele exemplifica, dizendo que

    no podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrarmos pela segunda

  • vez, no sero as mesmas guas que estaro l, e a mesma pessoa j ser diferente

    (de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde que nossas clulas esto em

    constante renovao, e isso uma mudana).

    Mas tal questo apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais alm. O

    devir, a mudana que acontece em todas as coisas sempre uma alternncia entre

    contrrios: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas midas secam,

    coisas secas umedecem, etc. A realidade acontece, ento, no em uma das

    alternativas, que so apenas parte da realidade, e sim da mudana ou, como ele

    chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra a realidade, aquilo que podemos

    dizer que . Mas essa guerra da qual fala Herclito no tem essa conotao de

    violncia ou algo semelhante. Tal guerra que permite a harmonia e mesmo a paz,

    j que assim possvel que os contrrios possam existir: "A doena faz da sade

    algo agradvel e bom", ou seja, se no houvesse a doena, no haveria porque

    valorizar-se a sade, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os

    opostos coincidem da mesma forma que o princpio e o fim, em um crculo, ou a

    descida e a subida, em um caminho (pois o mesmo caminho de descida e de

    subida); o quente o mesmo que o frio, pois o frio o quente quando muda (ou,

    dito de outra forma: o quente o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de

    mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "verses" diferentes da mesma

    coisa).

    Disponvel em : http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1clito_de_%C3%89feso

    1. Que contribuies Herclito fez filosofia grega segundo o texto?

    2. Cite duas descobertas de Tales de Mileto.

    3. Diferencie a Grcia do Egito na antiguidade

    4. Das condies favorveis para o surgimento da filosofia na Grcia podemos citar: (assinale

    as alternativas corretas)

    ( ) mar agitado

    ( ) relevo acidentado

    ( ) isolamento cultural dos gregos

    ( ) politesmo

    ( ) solo pouco favorvel

    5- Explique com suas palavras as frases abaixo:

    a) S sei que nada sei

    b) A gua o princpio de tudo

  • 6- Justifique o surgimento da filosofia na Grcia a partir da frase de Jean Pierre Vernant:Advento

    da plis, nascimento da Filosofia: entre as duas ordens de fenmenos os vnculos so demasiado

    estreitos para que o pensamento racional no aparea, em suas origens, solidrio das estruturas

    sociais e mentais prprias da cidade grega.

    Ainda sobre Herclito, insistindo na tentativa de ligar passado, presente e futuro, Filosofia,

    cincias naturais e tecnologia, Ross, sugere em Vitaminas Filosficas, em dois volumes que

    tratam os filsofos como mdicos e seus ensinamentos como vitaminas, como impulsos para a

    criao, para a cura do desnimo e da acomodao:

    Eu sou um estudioso de mim mesmo, falava. Ele foi o primeiro filsofo, o pioneiro em tratar espiritual e internamente de Fenmenos da natureza exterior.

    Assim nasceu a Psicologia. Detlef B. Linke, um neurologista interessado em

    Filosofia, chamou-o terico da rede neural. No crebro tambm tudo flui e, para isso, a rede de neurnios apresenta uma estrutura hierrquica. De acordo com os

    mais avanados estudos de neurologia, tudo est interligado, no h um comando

    central, um eu central. H 2,5 mil anos Herclito antecipou as descobertas da fisiologia cerebral e das redes de computadores. (Roos: 2006, 79).

    A Grcia pode ser explorada sob diversos aspectos e (autores) filsofos: Parmnides,

    Xenofontes, Plato, Aristteles... De alguns s restaram fragmentos; de outros, diversos volumes.

    Os gregos inspiraram a literatura, o teatro, o cinema, a esttica, a tica, a poltica, o direito...

    Mas por que a filosofia nasceu na Grcia?

    Porque a filosofia nasceu na Grcia? Sabemos que um dos elementos originantes da filosofia foi a inquietao

    humana na busca de explicaes para o real. Nessa busca, uma das

    primeiras formas de se tentar explicar o mundo foi com os mitos. Com o

    transcorrer dos tempos as explicaes mticas j no satisfaziam mais. A

    constatao disso se deu na Grcia. Essa, portanto, a nossa questo, aqui:

    entender como e porque a filosofia, como a entendemos hoje, nasceu na

    Grcia.

    Todos os homens, em todos os tempos, desenvolveram algum tipo de

    reflexo, explicando seu mundo. Essa reflexo pode ser entendida como um

    filosofar. O ser humano sempre foi pensante e perguntante e isso fez dele

    um ser filosofante. Entretanto, a filosofia, como entendida hoje, um

    sistema lgico e sistemtico, nasceu na Grcia. (...) A filosofia, portanto

    nasce no de mentes criativas, mas de necessidades especficas de

    teorizao, ou de explicao racional.

    Diversos outros povos desenvolveram explicaes para o mundo, o homem

    e as relaes sociais, mas fizeram isso, como vimos, de forma mtica;

  • nenhum com as caractersticas daquelas desenvolvida pelos Gregos a partir,

    principalmente, do sculo VII aC.

    Sem entrar na particularidade de cada cultura, podemos assinalar alguns

    exemplos. Podemos dizer que para os orientais o universo mantido pelo

    equilbrio de foras opostas simbolizado na filosofia do Yin e Yang.

    Por sua vez os hebreus explicam a origem do mundo mediante a ao

    criadora de Deus, que entrega sua criao aos seres humanos, como

    podemos ler na Bblia, no livro do Gnesis.

    Em vrias culturas, de vrias naes de indgenas brasileiros, encontramos

    narrativas mticas explicando as origens tanto daquele povo como do mundo

    como conhecido por aquela civilizao.

    E assim por diante, cada povo tem a sua explicao, a sua cosmoviso.

    Observando cada mitologia, em cada cultura diferente, podemos nos colocar

    a questo: qual a filosofia que os mantm? Nessas mitologias pode ser

    encontrado algum filosofar? (...) A filosofia grega possibilitou a

    estruturao racional das realidades e das relaes sociais e polticas que se

    desenvolveram na Europa (...)

    A poltica, como a entendemos hoje, nasceu na Grcia. E esse elemento foi

    importante para o desenvolvimento da filosofia. Principalmente por que se

    deu a partir de um processo de reorganizao das relaes de poder. As

    tribos e cls se reestruturaram dando origem s cidades-estado. O poder que

    era exercido pelo patriarca ou pelo irmo mais velho, passou a ser questionado e, na cidade (polis) organizaram-se as assemblias dos cidados

    (homens livres, ricos e que tinham nascido naquela cidade).(...) Nas

    assemblias da praa eram tomadas as decises a partir dos debates, das

    argumentaes pr e contra. As decises nasciam dos debates.

    A organizao social se estruturou machista, principalmente em Atenas,

    que foi um dos principais focos de irradiao da cultura grega. Essa

    sociedade tinha por base o regime de escravido: o trabalho do escravo

    permitia aos cidados mais tempo para se dedicarem poltica e ao debate:

    que podemos chamar de cio virtuoso. As relaes sociais entre os cidados,

    com mais tempo disponvel para os debates, travavam conhecimento com

    outros povos e costumes, o que lhes permitia fazer comparaes e

    generalizaes e tirar concluses novas. A sociedade grega, antes agrria e

    clnica, nos tempos do desenvolvimento da filosofia estava estruturada na

    cidade e se fundamentava no comrcio e numa sociedade escravista.

    A cultura uma expresso da sociedade. Mas no caso grego isso tem um

    significado especial. As cidades-estados, gregas, estavam voltadas para o

    exterior, para o comrcio. Havia poucas relaes intracontinente. Mas por

    mar e com povos diferentes havia intenso intercmbio no s comercial,

    como tambm cultural. Assim os gregos recebiam muitas influncias de

    outros povos que lhes traziam valores culturais diferentes. Esse intercmbio

    possibilitou assimilar novas informaes que, cruzadas com seus

    conhecimentos, possibilitaram novas concluses. Os gregos aprenderam

    muito com os povos com os quais mantinham relaes comerciais. E isso foi

    sendo incorporado ao seu substrato cultural. Algumas inovaes gregas:

    calendrio contando o tempo linearmente, a vida essencialmente urbana,

    comercial e fabril, com diviso social das funes. A partir de influncias

    fencias escrita passa a ser alfabtica, deixando de ser ideogrfica, como em

  • outros povos. Isso facilitou a prtica de construo de textos e da

    comunicao, atravs da combinao de caracteres para formar palavras.

    Essa forma de escrita facilitou a comunicao pormenorizada dos conceitos.

    A novidade grega, portanto, no a criao, mas are-elaborao. Disponvel

    em:.Acesso em: 22 de setembro de 2009.

    1. Segundo o texto, cite trs benefcios trazidos pela escrita alfabtica.

    2. Retire do texto duas invenes polticas gregas.

    3. Diferencie a explicao grega para a origem do mundo, da dos demais povos antigos.

    4. De que maneira, segundo o texto, as intensas trocas culturais favorecem o surgimento da Filosofia?

    5. Qual era a utilidade pblica das assembleias?

    LEIA O TEXTO E ESPONDA QUESTO 6:

    A filosofia, desenvolvida pelos gregos possibilitou um grande passo na busca da compreenso do real. O desenvolvimento da racionalidade permitiu ver alm das

    aparncias. Permitiu ver mais. Permitiu ver, alm do fato, suas origens e suas

    conseqncias, que passam a ser, tambm, fatos interligados a outros. Inaugura-se,

    dessa forma, uma nova viso de histria. possvel perceber a ao humana na

    construo da histria; a vida humana deixa de ser uma brincadeira dos deuses, para

    ser resultante dos condicionamentos e das relaes humanas Neri de Paula Carneiro.

    06- A partir do trecho acima, relacione Racionalidade e Filosofia.

    07 Justifique a importncia da inveno da moeda na Grcia.

    08- Cite duas diferenas entre a Grcia e o Egito antigo.

    09- Cite dois benefcios do surgimento da vida urbana na Grcia.

    .

    10- Explique a frase: "No se ensina Filosofia. Se ensina a filosofar".

    11- A verdadeira filosofia reaprender a ver o mundo- esta frase do filsofo Merleau-Ponty

    aponta a filosofia como um caminho para a transformao do pensamento humano. Explique

    com suas palavras que benefcios a reflexo filosfica pode provocar em um indivduo e em um

    povo.

    Embora o tempo da disciplina nas escolas ainda seja curto em relao s outras disciplinas

  • (um ou dois tempos de 50 minutos por semana em mdia), a tendncia que este sofra

    modificaes com a incluso da disciplina nas trs sries do Ensino Mdio:

    ARTIGO VI Sero includas a filosofia e a sociologia como disciplinas

    obrigatrias em todas as sries do Ensino Mdio. (Lei 11684).

    Vestibulares de universidades pblicas federais tambm esto incluindo a disciplina em seu

    processo seletivo: A UFRJ j iniciou a incluso em 2007 e a UFF inicia em 2008. Demcrito, Tales,

    Plato, Aristteles e outros filsofos estaro cada vez mais prximos trazendo contemporaneidade

    a sabedoria grega.

  • Disponvelem:http://meandros.files.wordpress.com/2008/10/heraclito-parmenides-

    filosofia.gif.

    A charge acima trata com humor as maiores diferenas entre as teorias de Herclito e

    Parmnides e pode ser trabalhada como atividade de encerramento dos filsofos pr-socrticos. O

    professor pode, ainda, sugerir aos alunos que criem suas prprias charges sobre o surgimento da

    filosofia na Grcia.

    2.O MITO DA CAVERNA E OS TIPOS DE ESCRAVIDO

    Quem de trs milnios, no capaz de se dar conta, vive na ignorncia, na sombra, a merc dos dias, do tempo.

    Goethe.

    Disponvel em: http://aletheiaeatabularasa.blogspot.com/.

    Uma das mais conhecidas passagens da histria da Filosofia, o Mito da Caverna, do filsofo

    grego Plato, inspirou filmes, livros, peas de teatro e, mais recentemente, vdeos na internet2. O

    2 PLATO. A Repblica.So Paulo:Martins Fontes Editora, 2009.

  • texto apresentado em forma de dilogo, como em suas outras obras. Na Repblica, Plato

    discute como deve ser um governo ideal. Atravs do personagem-filsofo Scrates, ele interroga e

    convida reflexo seus alunos que apenas concordam com suas ideias e teorias:

    Scrates- Imagina agora, ao longo deste pequeno muro, homens que transportam

    objetos de toda espcie que os transpem; estatuetas de homens e animais, de

    pedra, de madeira e toda espcie de matria; naturalmente entre esses

    transportadores, uns falam e outros seguem em silncio.

    Glauco- Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

    No captulo VII descreve a dura realidade de habitantes de uma caverna. Eles vivem na

    escravido e na escurido. No questionam nem fazem movimentos para modificar o ambiente em

    que vivem.3

    A escurido a metfora da ignorncia. Entretanto, um dos moradores, consegue se libertar

    das correntes. Ele v a luz do sol, que quase o cega. O sol platnico o conhecimento, a sabedoria,

    a Filosofia. A leitura foi feita nas turmas de maneira teatral. Scrates e Glauco foram representados

    por alunos que realizaram ensaios antes da apresentao.

    O tema do bimestre era: possvel ser livre? Os alunos j haviam estudado o conceito de

    escravido, a escravido ao longo da histria e a escravido hoje. O texto filosfico foi utilizado

    para questionar a escravido do pensamento e a dificuldade de se libertar dela:

    Scrates- Considera agora o que lhes acontecer naturalmente, se forem

    libertados de suas cadeias e curados de sua ignorncia. Que se liberte um

    desses prisioneiros que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a

    voltar o pescoo, a caminhar, a erguer os olhos para a luz. Ao fazer todos

    esses movimentos sofrer, e o deslumbramento impedilo- de distinguir os

    objetos de que antes via as sombras.

    Aps algumas aulas discutindo, o tema Escravido e liberdade foi proposto por um aluno.

    A ideia/objetivo era, atravs de um desenho ou montagem com imagens de jornais e revistas,

    resumir em uma ilustrao as relaes entre escravido fsica e o trabalho exaustivo com a

    escravido da ignorncia, do pensamento. Os resultados foram surpreendentes e auxiliaram os

    3 Ler: PESSANHA, Jos Amrico Mota. Plato e as idias. In: REZENDE, Antonio. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Editor, 2004.

  • alunos a entender e recordar, na hora dos exames, os contedos discutidos. Cavernas, escravos em

    diversos perodos histricos, escravos da internet e do consumo/moda tambm apareceram entre as

    produes.

    O poema Eu etiqueta de Carlos Drummond de Andrade estudado junto com o texto a

    Indstria Cultural de Theodor Adorno foi lembrado pela temtica da escravido da moda, da

    beleza.

    Na hora de escolher um filme que conseguisse fazer uma sntese deste tema to amplo, foi

    escolhida a produo brasileira Quanto vale ou por quilo? Inspirado no conto Pai contra me

    de Machado de Assis. No filme, o diretor Srgio Bianchi faz um paralelo entre a escravido do

    sculo XIX no pas e a escravido atual onde o negro teve a senzala substituda pela favela.

    Entretanto, a excluso social permanece.

    Com o lema mais valem pobres na mo do que pobres roubando possvel compreender

    como polticos, empresrios e ONGs mantm a desigualdade social e a ignorncia. Os alunos

    perceberam com certa facilidade as relaes presentes no filme apresentado com o Mito da

    Caverna, pois nos dois casos a ignorncia que mantm os homens na escurido. Foram propostas

    algumas questes para a reflexo:

    a) O mito da Caverna ainda hoje considerado um dos mais importantes textos

    filosficos. Relacione-os aos temas liberdade e escravido. Plato, atravs do

    personagem filsofo Scrates, aponta um caminho rumo liberdade.

    b) De que modo possvel ser livre segundo o Mito da Caverna?

    c) Existem muitos tipos de escravido. O mais divulgado o trabalho forado. Porm, a

    humanidade se submete s outras prises invisveis. Cite trs tipos e explique.

    d) O consumismo uma forma de escravido? Justifique.

    e) Em Quanto vale ou por quilo? Tem-se um filme que se passa em dois planos

    cronolgicos: Sculos XIX e XXI. De que modo a escravido ainda existe no Brasil

    de acordo com o filme?

  • A Msica tambm um recurso bem aceito por adolescentes. preciso, entretanto, ser

    coerente na escolha. Para finalizar o tema possvel ser livre? seguem algumas sugestes de

    msicas e poesias:

    HAITI

    (Caetano Veloso)

    Quando voc for convidado pra subir no adro

    Da fundao casa de Jorge Amado

    Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca

    de malandros pretos

    De ladres mulatos e outros quase brancos

    Tratados como pretos

    S pra mostrar aos outros quase pretos

    (E so quase todos pretos)

    E aos quase brancos pobres como pretos

    Como que pretos, pobres e mulatos

    E quase brancos quase pretos de to pobres so tratados

    E no importa se os olhos do mundo inteiro

    Possam estar por um momento voltados para o largo

    Onde os escravos eram castigados

    E hoje um batuque um batuque

    Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundria Em dia de

    parada

    E a grandeza pica de um povo em formao

    Nos atrai, nos deslumbra e estimula

    No importa nada:

    Nem o trao do sobrado

    Nem a lente do fantstico,

    Nem o disco de Paul Simon Ningum, ningum cidado

    Se voc for a festa do pel, e se voc no for

    Pense no Haiti, reze pelo Haiti

    O Haiti aqui

    O Haiti no aqui

    E na TV se voc vir um deputado em pnico mal dissimulado Diante de

    qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer Plano de educao que

    parea fcil

    Que parea fcil e rpido

    E v representar uma ameaa de democratizao

    Do ensino do primeiro grau

    E se esse mesmo deputado defender a adoo da pena capital

    E o venervel cardeal disser que v tanto esprito no feto

    E nenhum no marginal

    E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual

    Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco

    Brilhante de lixo do Leblon

    E quando ouvir o silncio sorridente de So Paulo

    Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos so quase todos pretos

    Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de to pobres

  • E pobres so como podres e todos sabem como se tratam os pretos

    E quando voc for dar uma volta no Caribe

    E quando for trepar sem camisinha

    E apresentar sua participao inteligente no bloqueio a Cuba

    Pense no Haiti, reze pelo Haiti

    O Haiti aqui

    O Haiti no aqui

    GRES

    Estao Primeira de Mangueira 1988

    O negro samba negro joga capoeira

    Ele o rei, na verde e Rosa da Mangueira

    Ser que j raiou a liberdade

    Ou se foi tudo iluso

    Ser, que a lei urea to sonhada

    H tanto tempo assinada

    No foi o fim da escravido

    Hoje dentro da realidade, onde est a liberdade

    Onde est que ningum viu

    Moo no se esquea que o negro

    Tambm construiu, as riquezas do nosso Brasil

    Pergunte ao Criador,pergunte ao criador quem pintou esta aquarela

    Livre do aoite da senzala

    Preso na misria da favela,

    Sonhei....que Zumbi dos Palmares voltou

    A tristeza do negro acabou

    Foi uma nova redeno

    Senhor, ai senhor

    Eis a luta do bem contra o mal

    Que tanto sangue derramou

    Contra o preconceito racial

    Misria SA Rappa

    Senhoras e senhores estamos aqui

    Pedindo uma ajuda por necessidade

    Pois tenho irmo doente em casa

    Qualquer trocadinho bem recebido

    Vou agradecendo antes de mais nada

    Aqueles que no puderem contribuir

    Deixamos tambm o nosso muito obrigado

    Pela boa vontade e ateno dispensada

    Bom dia passageiros

    o que lhes deseja

    A misria S.A

    Que acabou de chegar

  • Bom dia passageiros

    o que lhes deseja

    A misria S.A

    Que acabou de falar

    Lhes deseja, lhes deseja

    Lhes deseja, lhes deseja

    Em sites de msica como o Vagalume4 possvel encontrar as letras. Dependendo do

    comportamento da turma no recomendvel levar o rdio para ouvi-las, pois poder causar

    agitao e prejudicar a atividade. Caso haja algum aluno ou grupo com talento para compor pode-se

    propor que eles criem uma msica sobre o tema que foi estudado.

    As trs msicas sugeridas tratam da escravido fsica. necessrio que o professor no se

    fixe na desigualdade social. O que importa a ignorncia, a falta de esclarecimento, de uma

    educao de qualidade.

    A seguir texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, extrado do Livro dos Abraos, no

    qual relata crnicas de duas vivncias pela Amrica Latina:

    Anncios

    Vende-se: Uma negra meio bocal, da nao cabinda, pela quantidade de 430 pesos. Tem rudimentos de costurar e passar.

    Sanguessugas recm-chegadas da Europa, da melhor qualidade, por quatro, cinco e seis vintns uma.

    Um carro, por quinhentos pataces, ou troca-se por negra. Uma negra, de idade de treze a quatorze anos, sem vcios, de nao bangala.

    Um mulatinho de idade onze anos, com rudimentos de alfaiate. Essncia de salsaparrilha, a dois pesos o frasquinho. Uma primeirica com poucos dias de parida. No tem cria, mas tem abundante leite bom.

    Um leo, manso feito um co, que come de tudo, e tambm uma cmoda e uma caixa de embuia.

    Uma criada sem vcios nem doenas, de nao conga, de idade de uns dezoito anos, e alem disso um piano e outros mveis a preos cmodos.

    (Dos jornais uruguaios de 1840, vinte e sete anos depois da abolio

    da escravatura.)

    A ambio de Plato para a Grcia era um rei filsofo. As aulas de filosofia devem despertar

    4 Fonte eletrnica: http://vagalume.uol.com.br/.

  • para o questionamento, para a compreenso dos inmeros aspectos que levam escravido, s

    prises invisveis das quais grande parte da humanidade sequer se d conta.

    QUESTES DISCUTIDAS EM AULAS, PROVAS E DISCUSSES EM GRUPO:

    1. Defina de forma filosfica escravido.

    2. De que modo a filosofia liberta o homem da ignorncia, da escurido?

    3. O MITO DA CAVERNA ainda hoje considerado um dos mais importantes textos filosficos. Relacione-o com a escravido em pases pobres, como os da frica, por

    exemplo.

    4. Existem muitos tipos de escravido. O mais divulgado o trabalho forado. Porm, a humanidade se submete outras "prises invisveis" , isto , so as chamadas formas de

    escravido psicolgicas . Cite dois exemplos.

    O BICHO

    Vi ontem um bicho na imundcie do ptio/catando comida entre os detritos/ quando achava

    alguma coisa/no examinava nem cheirava: engolia com voracidade/O bicho no era um

    co/no era um gato/no era um rato/ o bicho, meu Deus, era um homem.

    Manuel Bandeira

    5. Releia o poema e responda: De que modo a desigualdade social desumaniza o homem e mantm as diversas formas de escravido?

    6. Justifique a frase: "O consumismo uma forma de escravido dominante no mundo atual e muito divulgado pela mdia".

    7. Segundo Plato, grande parte da humanidade vive como os homens do Mito da Caverna. De que modo a ignorncia do mundo atual faz com que o texto de Plato parea que "foi escrito

    ontem"?

    8. Ao longo da histria da humanidade possvel identificar em diferentes pases e pocas diversas formas de escravido. Crianas, mulheres e idosos tambm foram (e ainda so!)

    submetidos a trabalhos forados. Cite trs pocas e lugares onde possvel localizar este

    tipo de situao lamentvel.

    9. No Brasil, h milhes de crianas que so exploradas pelos pais e por outros adultos. Cite trs exemplos de trabalho infantil presentes atualmente no campo ou nas grandes

    cidades.

    10. Na Grcia havia escravos? Em que trabalhavam?

    11. Em que condies viviam e trabalhavam os servos na Idade Mdia?

    12. No Egito, havia escravos? Em que trabalhavam?

  • 13. O consumismo atualmente uma das formas mais presentes de escravido, de ignorncia do homem. Explique esta afirmativa.

    14. Relacione liberdade e Filosofia.

    15. Plato, atravs do personagem -filsofo Scrates, aponta um caminho rumo liberdade. De que modo possvel ser livre segundo o Mito da Caverna.

    16. O trabalho infantil o exemplo mais cruel de escravido ainda hoje. Cite dois exemplos de trabalho onde crianas so a mo - de -obra utilizada.

    17. Cite trs tipos de escravido que no se relacionam ao trabalho forado.

    18. Uma das principais teorias de Plato o chamado Mito da Caverna (ou Alegoria da Caverna). Nela, Plato busca explicar a evoluo do conhecimento, a partir dos prisioneiros que do as costas para o sol (do conhecimento) e se prendem s sombras

    (iluses do conhecimento).

    19. Os depoimentos a seguir foram retirados do site Yahoo. So respostas sobre as possveis relaes entre o Mito da Caverna e a Educao. Comente-os.

    QUE RELAO H ENTRE O MITO DA CAVERNA E A EDUCAO ?

    Arlei- Tem a ver com o inovar, no ter medo de buscar novas metodologias e novas

    tecnologias para a sala de aula. De certa forma isso assusta alguns professores. Por que

    formao continuada, eventos e congressos se dentro da minha sala de aula est to bom? J

    formei tantos alunos e eles se "deram bem na vida" Esses comentrios, bastante comuns na

    educao brasileira se relacionam com o mito da caverna, onde pressupe-se estar seguro,

    mas l fora existe uma grande quantidade de tendncias e como educadores temos o dever de

    busc-las. Nossos alunos merecem.

    Josimar- Devemos sair da zona de conforto, buscar mais, fazer alm do que os outros fazem.

    Existem varias fontes de conhecimento, mas ns temos que ir at elas para conquist-lo.

    Temos que sair da caverna se quisermos ver e conhecer as coisas do mundo, mas temos que

    tomar atitudes.

    Disponvelem:http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080509100631AAm6b15>.

    Acesso em: 09 de setembro de 2009. 23h:11min.

    20- A partir da msica abaixo e do Mito da Caverna relacione conhecimento e ignorncia com

    sombras e luz.

    O MITO DA CAVERNA

    Quarto de Madame

    Sombras mais sombras

    Sombras mais sombras

    Ao meu redor, ao meu redor!

  • Hei como pode saber se s o que viu o fundo da caverna com a pouca luz que vem da fogueira l

    fora... Nem o q te prende como marionete ainda voc pode ver

    Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.

    Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.

    Desprenda Respire Caminhe e veja

    Corra e sofra contemple esteja

    Padea aprenda se entregue e cresa

    Sorria perceba se queime e vena

    Volte e conte a verdade aos outros que mundo l fora de vocs

    Volte e conte a verdade aos outros que o mundo l fora tambm de vocs

    O que iriam dizer de voc

    Aquele no sabe mais o que v

    Louco

    Insano

    Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.

    Volte e conte a verdade aos outros que mundo l fora de vocs

    Flores e folhas flores e folhas

    Ao meu redor ao meu redor

    No vestibular de 2009 da UFF, o Mito da Caverna esteve presente:

    Em seu dilogo A Repblica, Plato descreve na clebre Alegoria da Caverna a

    situao de homens aprisionados desde a infncia no fundo de uma caverna e de tal

    forma que s podem olhar para uma parede em frente sobre a qual se projetam as

    sombras de bonecos colocados atrs destes homens. Um destes homens se liberta,

    sai da caverna e aos poucos se acostuma com a luminosidade externa, comea a

    distinguir as coisas e por fim descobre o Sol como a fonte da luz. Ele se d conta,

    ento, da iluso representada pelas sombras que ele e os outros tomavam como

    realidade. Exultante com sua descoberta, ele retorna caverna para relatar sua

    experincia, que assim narrada por Scrates:

    Suponha que esse homem volte caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, no seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do Sol? E

    se ele tivesse que emitir de novo um juzo sobre as sombras e entrar em competio

    com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda est

    confusa, seus olhos ainda no se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo

    curto demais para acostumar-se com a escurido, ele no ficaria ridculo? Os

    prisioneiros no diriam que, depois de ter ido at o alto, voltou com a vista perdida,

    que no vale mesmo a pena subir at l? E se algum tentasse retirar os seus laos,

    faz-los subir, voc acredita que, se pudessem agarr-lo e execut-lo, no o

    matariam?.

    Plato parece estar descrevendo a situao do filsofo quando este pretende esclarecer os demais seres humanos sobre o que ele pensa ser a verdade. A partir

  • desta narrativa de Plato, discorra sobre qual o papel do filsofo no mundo contemporneo. Disponvel em: .Acesso em: 20 de janeiro de 2010.

    O Mito da Caverna tambm pode ser apresentado atravs da histria em quadrinhos.

    Maurcio de Souza5 fez uma adaptao da histria com o desfecho fazendo uma relao entre a

    teoria platnica e os dias atuais. Um dos temas que ele explora nos quadrinhos a influncia da

    mdia, o que possibilita tratar do Mito junto com outros temas como: consumismo, propagandas,

    influncia dos meios de comunicao no gosto e nas escolhas do senso comum, entre outros. Em

    sites como o youtube6 possvel achar desde trabalhos de alunos at entrevistas de professores que

    utilizam exemplos do cotidiano para explicar o Mito da Caverna e demonstrar sua relevncia nos

    dias atuais.

    Ao relacionar estes temas to presentes na vida dos adolescentes, o interesse pelo assunto

    aumenta. Os trabalhos em grupo servem para que eles possam discutir estes temas e elaborar uma

    nova ideia, um novo conceito ao compartilhar as ideias do grupo. Por mais que seja trabalhoso

    administrar uma sala em verdadeira ebulio com jovens discutindo em voz, alta os resultados

    so surpreendentes!

    3.BIOTICA NO ENSINO MDIO

    A biotica o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e justificam eticamente os

    atos humanos que podem ter efeitos irreversveis

    sobre os fenmenos vitais. Kottow.

    Aps uma caminhada filosfica ao longo de um ano letivo, no 4 bimestre, alm do

    amadurecimento de conceitos bsicos, foi possvel discutir questes de moral e tica. Partindo dos

    textos Sentido e relevncia da tica7 e Poltica cidadania8 foi proposto s turmas de 1 e 3

    anos do ensino mdio, que se dividissem em quatro grupos para escolherem quatro entre seis temas

    propostos. Os dois restantes seriam automaticamente excludos.

    5 Ver anexo.

    6Fonte eletrnica: br.mozdev.org/firefox/youtube.

    7 MARCONDES, Danilo. Textos bsicos de tica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 2007.

    8CORTELLA, Mario Srgio. Poltica Cidadania. Disponvel em:

  • Os grupos tiveram a liberdade de decidir qual tema gostariam de pesquisar e no foi

    necessrio fazer sorteio. Antes da escolha, algumas sugestes foram feitas pela professora em

    relao facilidade que alguns integrantes teriam para entrevistar profissionais de reas

    relacionadas ao assunto.

    Um dos grupos que escolheu o tema aborto trabalhou com a turma a msica de Fervet Opus

    e imagens de fetos aps o procedimento:

    ABORTO

    O meu corpo foi dilacerado

    Ningum pediu minha opinio

    Os abutres esto comendo agora

    O que foi meu corao

    Eu cheguei na hora errada

    No era pra estar ali

    Mesmo vindo sem avisar

    Achei que iria ficar feliz

    No fui eu quem estava no motel

    Nem fui eu quem encontrou aquele rapaz

    Eu s tinha a esperana

    De um dia cham-lo de pai

    Me:

    O que voc fez comigo

    No deixou eu te amar

    Meu corpo est dividido

    Dentro de sacos de lixo hospitalar

    A igreja acha que pecado

    Outros acham que deve fazer

    E eu sem poder opinar

    Fui morto antes de nascer

    A cincia explica tudo

    Cria e mata os filhos seus

    O homem est levando a srio

    A brincadeira de ser DEUS9

    O filme brasileiro Abril Despedaado foi exibido em uma das aulas seguido de um debate

    entre duas famlias nordestinas no comeo do sculo XX que se exterminam aos poucos. Os

    personagens so escravizados pelas crenas e valores morais passados de gerao em gerao.

    A ideia de trabalhar questes de biotica foi aproximar os adolescentes de temas polmicos

    e atuais sobre os quais eles tm pouca ou nenhuma informao. Eutansia, aborto, gravidez na

    9 Letra disponvel no site: .Acesso em: 10 de junho de 2009.

  • adolescncia, pena de morte, clulas-tronco, clonagem e relao mdico-paciente deveriam ser

    pesquisados em diversas fontes tais como: internet, livros, revistas e encontros com profissionais e

    especialistas no assunto, filmes, msicas e literatura ficcional e especializada. A exigncia principal

    para a apresentao foi a de que a mesma deveria ser extremamente criativa, sem parte escrita a ser

    entregue.

    Os resultados foram muito alm das expectativas: Grficos, entrevistas, animao, peas de

    teatro, msica e dana, representaram de forma eficaz a pesquisa sria feita pelos alunos; e a

    integrao foi um dos pontos mais marcantes.

    Todos fizeram estudos comparativos entre os pases que so a favor e os que so contra os

    assuntos abordados. Apontaram a relao entre moral e religio que se confundem com questes

    ticas e cientficas. Os conflitos internos nos grupos, serviram para exercitar nos jovens a

    capacidade e a habilidade do trabalho em equipe. As aulas anteriores s apresentaes foram muito

    importantes na medida em que foram utilizados estudos de casos com exemplos dos quatro temas.

    A professora tambm acompanhou o andamento da pesquisa atravs de um e-mail criado

    para facilitar a comunicao, indicando livros, sites e locais a serem visitados.

    Um dos grupos de aborto/adolescncia foi at o NESA/HUPE10

    que atende diariamente

    jovens entre 13 e 18 anos com dvidas, medos e ideias equivocadas sobre drogas, doenas

    sexualmente transmissveis e puberdade. L conseguiram vdeos, cartazes e conversaram com

    adolescentes internados na unidade.

    Em 2009, a mesma experincia foi repetida s que com dois outros filmes: Juno e Hotel

    Ruanda. O primeiro trata do tema gravidez na adolescncia. Juno uma jovem que ao descobrir

    que est grvida aos 16 anos idealiza uma famlia perfeita para quem pretende doar o seu beb.

    Encontra um casal no caderno de classificados de um jornal. Aps o nascimento ela cumpre a

    promessa e se nega at mesmo a ver o recm-nascido.

    No segundo filme, Hotel Ruanda, to realista e atual quanto Juno, retratado o conflito

    10

    Informaes sobre o Nesa no site: www.nesa.uerj.br.

  • tnico, que em 1994, matou milhares de ruandeses. Nos dois filmes questes de tica, biotica,

    moral e direitos humanos so abordados e as discusses com os adolescentes foram extremamente

    polmicas e repletas de dvidas e desafios.

    O grupo da 3 srie do Colgio caro, em 2008, que pesquisou sobre a pena de morte

    comps a seguinte letra:

    PENA DE MORTE

    A pena de morte nos States liberada Aqui no Brasil muito criticada

    So muitas controvrsias, muitas discusses

    Quem for a favor levante uma das mos

    A pena de morte foi inventada para punir os homens

    Com mente fraca

    uma opo que o Brasil deve adotar

    Para aqueles homens que matam os garotos

    Um exemplo eu vou citar: o da garota Elo

    Lindemberg safado escute o que eu vou falar:

    Na cadeia meu parceiro, voc tem que sentar

    Nenhum de ns aqui est querendo te julgar

    Mas tem certos crimes que merecem a cadeia

    Ns no estamos dizendo que geral tem que sentar

    Pois ns no somos Deus e ele quem vai julgar

    Se a sua misso na Terra fazer o mal

    Voc no de Deus, voc um animal

    A minha opinio animal tem que sentar

    Se eu fosse presidente a pe eu ia liberar

    Podem ter certeza que os crimes iriam acabar

    Lula meu parceiro escute o que eu vou falar:

    Libera ela logo pro Lindemberg pagar

    Esse nosso protesto e nossa opinio

    Quem for favor bate na palma da mo!

    As charges a seguir foram apresentadas a grupos com cinco alunos. Eles deveriam elaborar

    as dez lies bsicas para a tica e para a Biotica atualmente, valorizando a vida humana e a

    atuao respeitosa e competente das autoridades e profissionais envolvidos. Os resultados foram

    debates em que o relativismo foi suprimido pelo pensamento crtico na medida em que uma das

    regras para a apresentao era o respeito idia proposta pelo outro grupo.

    Tambm foi proposto que os grupos relacionassem as imagens aos textos pesquisados e

    lidos durante as aulas. Eles j tinham lido diversos textos on line e fragmentos de livros de Biotica

    para a elaborao do trabalho temtico j citado. Entretanto, o debate no pode e no deve cair no

  • vazio, no eu acho:

    Ensinar conduzir ante-sala de desafios que, em ltima instncia, so pessoais. O

    que cabe ao professor estimular a levar adiante este desafio. Filosofar, ento,

    atrever-se a pensar, porque isto supe uma maneira nova de se relacionar com o

    mundo e com o conhecimento e no meramente reproduzi-los. E isso implica

    incerteza. Pensar supe que h algo novo que se pe em jogo. uma atitude

    produtora e criadora. (KOHAN: 2004, 30).

    CHARGE I

    Disponvel em: . Acesso em: 14 de julho de 2009.

    CHARGE II

    Disponvel em:< unidosomosmais.blogspot.com/2007_12_01_archiv...>. Acesso em: 14 de

    julho de 200911

    .

    11

    Traduo: Quando a vida a morte, a morte a vida e a minha vida minha propriedade privada. Eutansia

  • CHARGE III

    Disponvel em: . Acesso em: 10 de

    setembro de 2009.

    GRAVIDEZ NA ADOLESCNCIA A gravidez precoce uma das ocorrncias mais preocupantes relacionadas

    sexualidade da adolescncia, com srias conseqncias para a vida dos

    adolescentes envolvidos, de seus filhos que nascero e de suas famlias. A

    incidncia de gravidez na adolescncia est crescendo e, nos EUA, onde existem

    boas estatsticas, v-se que de 1975 a 1989 a porcentagem dos nascimentos de

    adolescentes grvidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990, os partos de mes

    adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos no pas. Lidando com

    esses nmeros, estima-se que aos 20 anos, 40% das mulheres brancas e 64% de

    mulheres negras tero experimentado ao menos uma gravidez nos EUA .

    No Brasil a cada ano, cerca de 20% das crianas que nascem so filhas de

    adolescentes, nmero que representa trs vezes mais garotas com menos de 15 anos

    grvidas que na dcada de 70, engravidam hoje em dia. A grande maioria dessas

    adolescentes no tem condies financeiras nem emocionais para assumir a

    maternidade e, por causa da represso familiar, muitas delas fogem de casa e quase

    todas abandonam os estudos.

    A Pesquisa Nacional em Demografia e Sade, de 1996, mostrou um dado

    alarmante; 14% das adolescentes j tinham pelo menos um filho e as jovens mais

    por favor!

  • pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grvidas

    atendidas pelo SUS no perodo de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos

    de meninas grvidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes

    foram parar nos hospitais pblicos devido a complicaes de abortos clandestinos.

    Quase trs mil na faixa dos 10 a 14 anos.

    Segundo Maria Sylvia de Souza Vitalle e Olga Maria Silvrio Amncio, da

    UNIFESP, quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera

    conseqncias tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o

    recm-nascido. A adolescente poder apresentar problemas de crescimento e

    desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado,

    alm de complicaes da gravidez e problemas de parto. por isso que alguns

    autores considerem a gravidez na adolescncia como sendo uma das complicaes

    da atividade sexual. Ainda segundo essas autoras, o contexto familiar tem uma

    relao direta com a poca em que se inicia a atividade sexual. As adolescentes que

    iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse perodo, geralmente vm

    de famlias cujas mes se assemelharam essa biografia, ou seja, tambm

    iniciaram vida sexual precoce ou engravidaram durante a adolescncia.

    Disponvel em: http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/adolesc3.html.

    Acesso em: 20 de novembro de 2009.

    1. De acordo com o texto, qual a importncia e o papel da famlia na preveno da

    gravidez na adolescncia?

    2. Que consequncias negativas a gravidez precoce pode trazer?

    3. De acordo com os textos estudados, relacione liberdade e adolescncia.

    A FAMILIA E O ADOLESCENTE

    A famlia, em nossa sociedade, o primeiro agente socializador da criana e

    do adolescente. As caractersticas da famlia tm influncia direta nas

    caractersticas do adolescente (nvel interno e relacionamento com o meio

    externo). A sociedade oferece um modelo de famlia (famlia pensada), mas

    as famlias vo estabelecendo um modo de viver cotidiano (famlia vivida).

    Cada famlia tem sua especificidade e esta deve ser considerada em todo

    trabalho envolvendo famlias. No geral, o adolescente parte integrante do

    sistema familiar; portanto, a famlia deve ser considerada e trabalhada no

    atendimento de adolescentes. O relacionamento estabelecido entre famlia e

    adolescente est na dependncia do posicionamento dos pais frente ao

    processo adolescente dos filhos. Percebe-se a necessidade de que haja

    conhecimento e compreenso sobre as caractersticas do processo

    adolescente para que o relacionamento seja harmonioso e facilitador da

    vivncia do processo adolescente. No atendimento de adolescentes, o

    assistente social deve atuar na linha de orientao com adolescentes e/ou

    famlia, enfocando a adolescncia, o relacionamento familiar e o

    relacionamento mais amplo com a sociedade.

    http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/238.pdf.

    4. De que modo a famlia enquanto principal grupo social, exerce influncia sobre os adolescentes?

  • Mensagem famlia

    Na educao de nossos filhos

    Todo exagero negativo.

    Responda-lhe, no o instrua.

    Proteja-o, no o cubra.

    Ajude-o, no o substitua.

    Abrigue-o, no o esconda.

    Ame-o, no o idolatre.

    Acompanhe-o, no o leve.

    Mostre-lhe o perigo, no o atemorize.

    Inclua-o, no o isole.

    Alimente suas esperanas, no as descarte.

    No exija que seja o melhor, pea-lhe para ser bom e d exemplo.

    No o mime em demasia, rodeie-o de amor.

    No o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.

    No fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.

    No lhe ensine a ser, seja voc como quer que ele seja.

    No lhe dedique a vida, vivam todos.

    Lembre-se de que seu filho no o escuta, ele o olha.

    E, finalmente, quando a gaiola do canrio se quebrar, no compre outra...

    Ensina-lhe a viver sem portas.

    Eugnia Puebla Disponvel em : http://www.pensador.info/frase/Mzk5NzM2/

    A tica, seu significado filosfico e sua aplicabilidade atual, foi discutida a partir de dois

    textos clssicos: A tica a Nicmaco, do filsofo grego Aristteles e a Fundamentao da

    metafsica dos costumes, do alemo Immanuel Kant.

    Para facilitar o aprendizado, selecionamos os textos complementares a seguir e

    apresentamos as atividades propostas:

    TICA

    A tica est presente em todas as raas. Ela um conjunto de regras, princpios

  • ou maneira de pensar e expressar. tica uma palavra de origem grega com duas

    tradues possveis: costume e propriedade de carter.

    O QUE SER TICO?

    Ser tico nada mais do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os

    outros. ser altrusta, estar tranqilo com a conscincia pessoal. " cumprir com os

    valores da sociedade em que vive, ou seja, onde mora, trabalha, estuda, etc."

    tica tudo que envolve integridade, ser honesto em qualquer situao, ter

    coragem para assumir seus erros e decises, ser tolerante e flexvel, ser humilde.

    Todo ser tico reflete sobre suas aes, pensa se fez o bem ou o mal para o seu

    prximo. ter a conscincia "limpa".

    O QUE TICA PROFISSIONAL?

    Um profissional deve saber diferenciar a tica da moral e do direito. A moral

    estabelece regras para garantir a ordem independente de fronteiras geogrficas. O

    direito estabelece as regras de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As

    leis tm uma base territorial, valendo apenas para aquele lugar. Pessoas afirmam que

    em alguns pontos elas podem gerar conflitos. O desacato civil ocorre quando

    argumentos morais impedem que uma pessoa acate certas leis. s vezes as propostas

    da tica podem parecer justas ou injustas. tica diferente da moral e do direito

    porque no estabelece regras concretas.

    A tica profissional se inicia com a reflexo. Quando escolhemos a nossa profisso,

    passamos a ter deveres profissionais obrigatrios. Os jovens quando escolhem sua

    carreira, escolhem pelo dinheiro e no pelos deveres e valores. Ao completar a

    formao em nvel superior, a pessoa faz um juramento, que significa seu

    comprometimento profissional. Isso caracteriza o aspecto moral da tica profissional.

    Mesmo quando voc exerce uma carreira remunerada, no est isento das obrigaes

    daquela carreira.

    Ns adolescentes temos vrias perguntas para fazer sobre o futuro profissional.

    Quando temos uma carreira a seguir devemos colaborar mesmo com o que no

    proposto.

    Muitas propostas podem surgir, por isso devemos estar receptivos.

    Sabemos que existem vrios tipos de TICA: tica social, do trabalho, familiar,

    profissional.

    tica profissional refletir sobre as aes realizadas no exerccio de uma profisso e

    deve ser iniciada antes da prtica profissional.

    Se voc j iniciou a sua atividade profissional fora da rea que voc gosta no quer

    dizer que voc no tenha deveres e obrigaes a cumprir como profissional.

    COMO SER UM PROFISSIONAL TICO?

    Ser um profissional tico nada mais do que ser profissional mesmo nos momentos

    mais inoportunos. Para ser uma pessoa tica, devemos seguir um conjunto de valores.

    Ser tico proceder sem prejudicar os outros. Algumas das caractersticas bsicas de

    como ser um profissional tico ser bom, correto, justo e adequado.

    Alm de ser individual, qualquer deciso tica tem por trs valores fundamentais. Eis

  • algumas das principais:

    1. Ser honesto em qualquer situao - a virtude dos negcios.

    2. Ter coragem para assumir as decises - mesmo que seja contra a opinio alheia.

    3. Ser tolerante e flexvel - deve-se conhecer para depois julgar aas pessoas.

    4. Ser ntegro - agir de acordo com seus princpios

    5. Ser humilde - s assim conseguimos reconhecer o sucesso individual.

    Disponvel em: http://br.geocities.com/educatrabalho/etica.html

    1. Cite uma profisso e trs atitudes que o profissional dela deve ter especificamente em sua prtica a partir dos conceitos do texto.

    2. Relacione tica e reflexo.

    3. Relacione tica profissional e integridade.

    4. Cite trs exemplos de atitudes antiticas.

    5. Defina conscincia moral;

    6. Justifique a importncia da Biotica atualmente.

    7. Cite duas questes fundamentais da Biotica atual.

    8. Defina senso moral.

    Disponvel em: ricbrsp.blogspot.com.

    9. A partir da charge acima justifique a importncia dos valores ticos na poltica.

    10. A partir da frase a seguir , justifique a importncia da biotica para a medicina:A palavra biotica designa um conjunto de pesquisas, de discursos e prticas, via de regra pluridisciplinares, que tm por objeto esclarecer e resolver questes ticas suscitadas pelos

    avanos e a aplicao das tecnocincias biomdicas. 11. J, uma mulher de 56 anos. H 18 est em coma. Seu plano de sade se recusa a continuar

    pagando a internao. O caso j esteve na justia e a causa foi vencida pelo plano. Em seu

  • pas, subdesenvolvido, no h vagas nem recursos suficientes para mant-la em um hospital

    pblico. De acordo com a TICA, isto , como os valores universais direitos humanos, por

    exemplo, como a famlia deve proceder ?

    12. De que modo a filosofia pode auxiliar os jovens a compreender questes de Biotica como o aborto? Cite trs medidas possveis de serem realizadas em escolas ou hospitais.

    13. No filme Juno, a personagem principal encontra uma alternativa para no praticar o aborto. Cite um benefcio e um prejuzo que tal atitude poder implicar no futuro da criana.

    14. A Biotica pode ser definida como:

    a) Biotica uma tica aplicada, chamada tambm de tica prtica, que visa dar conta dos conflitos e controvrsias morais implicados pelas prticas no mbito das Cincias da Vida e

    da Sade.

    b) Pode-se dizer que a biotica tem uma trplice funo, reconhecida acadmica e socialmente: descritiva, normativa com relao a tais conflitos e protetora, no sentido, bastante intuitivo,

    de amparar, na medida do possvel, todos os envolvidos em alguma disputa de interesses e

    valores.

    c) Mas a Biotica, como forma talvez especial da tica, , antes, um ramo da Filosofia, podendo ser definida de diversos modos, de acordo com as tradies, os autores, os

    contextos e, talvez, os prprios objetos em exame. Algumas definies:

    d) Biotica o estudo sistemtico das dimenses morais - incluindo viso moral, decises, conduta e polticas - das cincias da vida e ateno sade, utilizando uma variedade de

    metodologias ticas em um cenrio interdisciplinar

    e) Todas esto corretas

    O resultado final foi que os alunos ficaram mais curiosos e persistentes. A aula de filosofia

    deve ser um espao de criao onde o conhecimento e o aprendizado sejam compartilhados.

    4. CULTURA E FILOSOFIA

    O que tm em comum cinema, literatura e Filosofia? H tempo suficiente para relacion-los

    em poucas aulas de um bimestre? Na primeira pergunta a resposta que h inmeras questes e

    possibilidades. Na segunda, a interdisciplinaridade capaz de respond-la de forma satisfatria.

    Projetos, aules, feiras culturais, gincanas e olimpadas de conhecimento so modos de aproximar

    saberes, relacion-los e construir um conhecimento mais amplo, menos preconceituoso investindo

    na curiosidade e na criatividade dos jovens.

    evidente que os mais pessimistas diro que este tipo de trabalho apresenta vrias

  • dificuldades: falta de tempo, falta de interesse de outros professores, o famoso eu no ganho pra

    isso, indisciplina dos alunos, etc. Entretanto para aquele que levanta a bandeira da filosofia no

    ensino mdio, deve estar sempre atento e atualizado sobre as manifestaes culturais tanto as

    clssicas quanto as mais recentes. Cinema e literatura so as duas manifestaes culturais mais

    pesquisadas pela filosofia contempornea. Gilles Deleuze, por exemplo, escreveu textos e obras

    sobre o tema relacionando filmes e autores de fico, cineastas e filmes s obras filosficas.

    Kafka, Lawrence, Beckett, Lewis Carroll, entre outros, esto entre os autores que povoam a

    filosofia deleuziana. Filmes como o clssico O gordo e o magro tambm. Deleuze relaciona em

    Crtica e Clnica, Kafka e Kant:

    Quando o tempo sai dos gonzos, temos de renunciar ao ciclo antigo das

    faltas e expiaes para seguir a estrada infinita da morte lenta, do juzo

    prorrogado ou da dvida infinita. O tempo no nos deixa alternativa jurdica

    seno a de Kafka em o Processo: Ou a absolvio aparente ou a moratria ilimitada. (DELEUZE: 1997, 42).

    Em outro exemplo, o filsofo alemo Friedrich Nietzsche estudou e analisou a literatura

    grega para formular conceitos fundamentais de seu pensamento como o apolneo e o dionisaco.

    Nas mais diversas reas da Filosofia: tica, Esttica e Teoria do Conhecimento possvel

    encontrar relaes e referncias com o cinema e a Literatura.

    Tambm na Alemanha, um sculo depois, Adorno e Horkeheimer denunciaram o cinema

    enquanto mero reprodutor dos valores e ideais da Indstria Cultural. Na literatura brasileira

    possvel encontrar poemas, crnicas e contos que podem enriquecer as aulas de Filosofia. Pode-se,

    inclusive, buscar-se informar com o professor da disciplina que contedo e/ou autor a turma est

    estudando naquele perodo.

    Em algumas das experincias desenvolvidas foi possvel utilizar poemas de Carlos

    Drummond de Andrade, Mrio Quintana, Tiago de Mello e Manoel de Barros. Em sites oficiais

    como o e Carlos Drummond de Andrade possvel encontrar um excelente acervo. Filosofia, artes e

    cincias tm inmeros pontos de convergncia:

  • A histria da filosofia nos revela, contudo, que ao longo dessa tradio no houve

    uma nica linha predominante no pensamento, nem um nico estilo de fazer

    Filosofia. A filosofia desenvolve-se atravs de aproximaes em maior ou menor

    grau com a cincia natural, a matemtica, a arte, a poltica, a religio e o mito. O

    pensamento filosfico expressou-se em diferentes estilos, em poemas, dilogos,

    aforismos, tratados, cartas, autobiografias. (KOHAN: 2004,57).

    Muitos professores de filosofia se questionam sobre a presena da disciplina no ensino

    mdio. Quais so os objetivos? Qual deve ser o contedo ensinado? Como passar este contedo?

    Alguns educadores so contra este retorno, a maioria deles, professores universitrios que acreditam

    que a filosofia para poucos. Outros j perceberam a falta que ela tm feito s geraes que

    pouco questionam, e aceitam as situaes mais bizarras sem o mnimo protesto.

    Estabelecer relaes entre a filosofia e a cultura um dos temas mais importantes a ser

    trabalhado no ensino mdio, pois torna possvel, por exemplo, compreender que elementos sociais,

    culturais, religiosos e econmicos favoreceram o surgimento de um tipo de filosofia em uma

    determinada sociedade. Por exemplo: os gregos tinham diversas condies favorveis para o

    surgimento de um pensamento racional, questionador e autnomo.

    Arendt define a cultura como uma relao entre pensamento e prtica:

    Neste sentido, compreendemos por cultura a atitude para com, ou melhor, o

    modo de relacionamento prescrito pelas civilizaes com respeito s menos

    teis e mais mundana das coisas, obras de arte, poetas, msicas, filsofos e

    da por diante. (1972: 257).

    Para que os alunos pudessem entender que a cultura uma produo humana muito ampla,

    utilizamos uma dinmica criada para esta situao especificamente denominada dinmica dos

    pases. Cada aluno recebeu um papel com o nome de um pas. O primeiro passo era se apresentar

    com caractersticas culturais do pas: msica, literatura, lngua, geografia...

    Uma dinmica bem interessante, simples e rpida pode ser feita com grupos de at 25

    alunos, pois caso a turma seja superior a este nmero ela se estender por muito tempo. Uma

    alternativa possvel realiz-la em dupla.

    DINMICA DOS PASES

  • Cada aluno ou dupla recebe um papel no qual est escrito o nome de um pas.

    recomendvel que sejam utilizados pases dos quais os brasileiros tenham uma

    quantidade bsica de informaes. Seguem algumas sugestes: Alemanha,

    Portugal, Japo, Argentina, frica do Sul, ndia, China, Paraguai, Cuba, Itlia,

    Espanha, Grcia, etc. Cada aluno ou dupla dever citar caractersticas culturais

    deste pas para que o grupo adivinhe. Um complemento para animar ainda mais a

    atividade dar balas ou bombons a quem acertar os pases.

    No segundo momento aps todos se apresentarem, possvel discutir dois tpicos: o

    conceito de cultura (sendo retomado) e a diversidade cultural. Em seguida podem-se elaborar o

    seguinte quadro:

    Culinria literatura lngua cinema artes plsticas

    CULTURA

    Msica religio artesanato folclore teatro esportes

    Com a fixao destes contedos as turmas assistiram dois filmes: o primeiro a ser exibido

    foi Casamento Grego. A histria relata a vida de uma famlia grega que vive nos Estados Unidos,

    mas preserva suas tradies natais. O pai da noiva acredita que os gregos so superiores, pois foi

    neste pas que surgiram inmeras descobertas e invenes como a filosofia por exemplo.

    Ao apresentar o namorado norte-americano famlia a filha causa a revolta dos parentes que

    no aceitam que ela se relacione com um no-grego. Isto por que, segundo o pai, h dois tipos de

    pessoas no mundo:os gregos e os no-gregos.

    Em forma de comdia possvel perceber claramente o conflito cultural, o preconceito e as

    crenas etnocntricas. O noivo que deve se adaptar ao estilo de vida grego. Deve se batizar em

    uma igreja grega. Deve aprender as danas. Deve saborear e a adorar a culinria grega.

    Na aula seguinte os alunos deveriam apresentar aspectos relevantes do filme. A discusso

    foi proveitosa na medida em que a maioria compreendeu as ideias contidas neste discurso

  • nacionalista, inclusive, relacionando- o outros povos rabes, judeus, japoneses, etc. As guerras

    tambm foram lembradas enquanto desejo de impor cultura e religio: Segunda Guerra mundial,

    conflito Israel-Palestina, etc.

    Aps estar bem definido o conceito de cultura e seus mais diversos aspectos, as turmas

    assistiram ao filme Casamento Indiana. To festivos quanto os gregos, os indianos tambm

    costumam escolher os parceiros para os filhos. Em geral so primos distantes ou filhos de amigos.

    Esse tipo de casamento, conhecido como casamento arranjado retratado no filme. Em seguida,

    os alunos foram estimulados a pesquisar sobre essa cultura, a famlia, o casamento, o papel da

    mulher na sociedade, a religio, etc.

    Posteriormente foi possvel estabelecer critrios de comparao entre as duas culturas. Para

    ampliar a compreenso dos alunos foi proposto o seguinte trabalho: cada aluno deveria assistir um

    filme de sua preferncia e ressaltar aspectos de conflito culturais presentes nele. O tempo de

    apresentao poderia variar de acordo com o nmero de alunos assim como ele tambm poderia ser

    desenvolvido em dupla, trio ou grupo. O importante que no haja mais de uma apresentao

    sobre um mesmo filme.

    A professora sugeriu alguns:

    BORAT- Trata-se de um homem do Cazaquisto que resolve visitar os Estados Unidos.

    O CAADOR DE PIPAS- Retrata os conflitos culturais e religiosos que o Afeganisto

    enfrentou nos ltimos anos.

    SUPER SIZE ME- Um homem saudvel,com o objetivo de desmascarar os belos sanduches

    dos fast-foods resolve usar seu prprio corpo para realizar uma experincia. Faz suas refeies em

    lanchonetes e observar as mudanas em seu corpo decorrentes desta prtica. Trata-se, portanto da

    denncia de uma sociedade cada dia mais obesa.

    TIROS EM COLUMBINE assim como Super Size Me, o filme trata da sociedade norte-

    americana. Michael Moore (cineasta perseguido pelo governo Bush) explica com exemplos como se

    criam assassinos em srie e busca as razes desta questo na cultura do pas.

  • ABRIL DESPEDAADO, produo brasileira, retrata os conflitos em famlia que cultivam

    o dio adquirido em disputas de terra. Elas criam suas prprias regras e crenas. So inmeros os

    filmes que podem ser utilizados como recursos para que compreendam os diversos aspectos da

    cultura de um povo.

    Outra alternativa que os grupos se renam para criar uma apresentao de um aspecto de

    uma cultura. Exemplo: um grupo apresenta uma msica espanhola com roupas tpicas e castanholas.

    Outro grupo prepara um doce argentino chamado alfajor e assim por diante. Com este tipo de

    experincia certamente mais fcil voltar teoria, despertar o interesse pelo texto filosfico. Aps

    este estudo do tema cultura que se prosseguir atravs do estudo com Adorno e Horkheimer na

    Indstria Cultural.

    5. INDSTRIA CULTURAL : CULTURA DE MASSA, MESMICE E MEDIOCRIDADE

    No segundo bimestre as turmas de 1 e 3 srie dos colgios caro, Miguel Couto e

    Instituto Guanabara foram apresentados obra dos filsofos alemes T. Adorno e Horkheimer. O

    texto Indstria Cultural presente na coletnea Dialtica do Esclarecimento foi o ponto de

    partida e de chegada na viagem feita pelo tema filosofia e cultura. Cinema, msica, teatro, TV e a

    imprensa em geral fazem parte do cotidiano dos jovens no Brasil, a diversidade cultural colabora

    para a formao de vrias tribos urbanas.

    A msica cria um estilo, um modo de vestir, hbitos e linguagem alm de grias prprias.

    Eles criaram nos anos 50 do sculo XX o termo Indstria Cultural. Trata-se de um texto simples e

    breve sem o contedo ser simplrio.

    A cultura e a produo de conhecimentos originrios dela um dos assuntos obrigatrios

    nas aulas de Filosofia. Dada esta necessidade elaborei por temas (trechos do texto) um

    planejamento bimestral de seis ou sete aulas de 50 minutos.

    Em meio cultura do texto filosfico, outros recursos foram utilizados para relacionar

    filosofia cultura contempornea. O texto comeou, ento, a fazer sentido para os adolescentes e

  • passou a se atualizar a partir dos conceitos de cultura, fundamentais para este estudo. Essa relao

    se estabeleceu atravs de diversos textos.

    Modismo consumismo meios de comunicao subjetividade mundo do consumo

    CULTURA

    Mediocridade Indstria Cultural Identidade cultural

    A leitura foi feita pelos grupos, aps a proposta de um trabalho de imagem com temas

    retirados do texto. Cada grupo buscou em revistas, jornais ou desenhos retratar conceitos como:

    mediocridade, repetio, averso ao novo, perda da identidade cultural dentre outros.

    Cada meio de comunicao foi analisado enquanto facilitador do processo de decadncia da

    cultura. Rdio, TV, cinema e propagandas tiveram seus exemplos relacionados atualidade.

    Exemplos: letras de msicas repetitivas presentes no funk, pagode e ax. importante observar que

    estes exemplos partiram da vivncia e conhecimento dos alunos; o que despertou sua curiosidade e

    interesse.

    Inclusive uma das perguntas presentes na avaliao bimestral foi: o texto de Adorno e

    Horkheimer, Indstria Cultural, escrito nos anos 50 ainda permanece atual. Isto , parece que foi

    escrito ontem. Justifique esta afirmativa com exemplos.

    Outra questo similar : o texto Indstria Cultural escrito nos anos 50 permanece atual.

    Explique esta afirmativa com exemplos atualmente presentes nos meios de comunicao utilizando

    argumentos filosficos.

    A TELEVISO

    A TV com seus programas vazios de contedo cultural tambm foi abordada:

    com razo que o interesse de inmeros consumidores se prende tcnica,

    no aos contedos teimosamente repetidos, ocos e em parte abandonados.

    (ADORNO: 1985, 127).

    Programas da TV aberta e por assinatura foram citados durante as aulas. Seus objetivos,

  • pblico-alvo e mensagens foram analisados. Humorsticos, infantis, novelas e os de televendas

    foram os principais responsveis por formar opinies, valores e ideias assimilados de forma natural,

    isto , sem crtica pelo senso comum.

    O cinema, ponto importante do texto, ganhou comparaes. O norte-americano foi

    considerado o mais violento e com final previsvel. Alemes, franceses e espanhis assim como

    japoneses e alguns brasileiros, todos eles vistos apenas por um pequenos grupo de alunos, foram

    considerados diferentes do modelo adotado por Hollywood. Isto por tratar-se de uma esttica

    diferente com produes mais artsticas, cenas mais longas e lentas alm de finais inusitados foram

    algumas das caractersticas mais citadas.

    O lazer e o consumo, destaques do texto, se misturam de forma que impossvel separar um

    do outro: os jovens perceberam que cada vez mais a propaganda informa que ser feliz poder

    consumir. As horas de lazer devem ser utilizadas para que se obtenha essa felicidade especfica.

    O que impressiona que este trio diverso-felicidade-consumo, alm de fazer parte e tomar

    conta das novas geraes j instaurou nelas a crena de que esta relao verdadeira e

    inquestionvel.

    O lazer sem utilidade denunciado por Adorno uma das facetas da Indstria Cultural:

    Divertir significa sempre: No ter que pesar nisso, esquecer o sofrimento.

    (...). A liberdade prometida pela diverso e a liberao de pensamento como

    negao. (ADORNO: 1985, 135).

    TV, rdio, cinema e os meios de comunicao em geral vendem imagens de felicidade:

    Mulheres magras e jovens, carros importados, famlias ricas... No h misria na fantasia

    hollywoodiana conforme afirma Galeano, em o Livro dos Abraos:

    A televiso/3

    A TV dispara imagens que reproduzem o sistema e as vozes que lhe fazem

    eco; e no h canto do mundo que ela no alcance. O planeta inteiro um

    vasto subrbio de Dallas. Ns comemos emoes importadas como se

    fossem salsichas em lata, enquanto os jovens filhos da televiso, treinados

    para contemplar a vida em vez de faz-la, sacodem os ombros. Na Amrica

    Latina, a liberdade de expresso consiste no direito ao resmungo em algum

    rdio ou em jornais de escassa circulao. Os livros no precisam ser

    proibidos pela polcia: os preos j os probem. (GALEANO: 2002,81).

  • A internet, inveno recente, complexa e polmica tambm foi tema das discusses em aula

    e nos grupos. Muitos alunos afirmaram que ela o fim do percurso da Indstria Cultural, pois traz

    em sua tecnologia a propaganda, facilidade de consumo, fuga da realidade, desvalorizao da

    subjetividade e das relaes humanas, a realidade virtual.

    Eu etiqueta, poema de Carlos Drummond de Andrade, muito estudado nas aulas de

    Literatura, foi utilizado para tratar da questo da moda. Moda e consumo. Consumo e perda da

    identidade:

    E fazem de mim homem-anncio itinerante, escravo da matria anunciada.

    Estou, estou na moda (ANDRADE: 1984, 85-87).

    A questo da marca, da loja famosa que, pela publicidade, torna seus produtos caros causou

    polmica. Alguns alunos, to imersos na Indstria Cultural, no conseguem perceber as armadilhas

    da propaganda: eles crem que aquele tnis, blusa ou casaco das marcas X ou Y devem ser mais

    caros e no possu-los um motivo muito justo para sentir-se infeliz:

    Pessoas se apegam marcas. Torcem por elas como se torce por um time de

    futebol. Criam vnculos algumas vezes de tal forma solidificados que poderamos

    estabelecer um paralelo com a religio. (ACCIOLY: 2000, p.10).

    A perda da individualidade, portanto, no muito questionada:

    Por me ostentar assim to orgulhoso de ser no eu, mas artigo industrial

    peo que meu nome retifiquem. Meu nome novo coisa(...) (ANDRADE:

    1984, 86).

    Consumo, moda e dvidas formam outra finalidade da Indstria Cultural: se para ser feliz

    preciso consumir e estar na moda no se deve medir esforos para isso. Cartes de crdito so

    instrumentos de prazer, pois propiciam o acesso ao sonho de consumo.

    O filme Super Size Me, documentrio utilizado tambm nas aulas de Esttica tem como

    temtica alm dos maus hbitos alimentares dos norte-americanos, a expresso da modernidade, do

  • consumismo na atualidade.

    No Instituto Guanabara, em 2009, com as turmas 101 e 102 foi proposto a partir do filme, a

    produo de um texto intitulado Super Size Me e a Indstria Cultural hoje. Os textos foram

    surpreendentes. Para motivar os alunos, levaram a imagem a seguir que foi ampliada e discutida

    com o grupo:

    Disponvel em: http://www.adorocinema.com/media/film/images/super-size- me.

    Um dos textos que mais me chamou a ateno foi o de Raissa Bastos Thomazini, da turma

    101, do Instituto Guanabara pela seriedade e profundidade com a qual tratou o tema:

    Se voc j parou para pensar o que o filme tem em comum com a Indstria Cultural voc vai ver que tem muita coisa a se comparar. Uma delas o

    consumismo. Isso quer dizer que as pessoas no sabem a hora de parar, em

    relao ao filme, as pessoas no sabem a hora de parar de comprar e de

    comer fast-food elas viram compulsivas e no vem o mal que aquilo pode

    causar; alm de virar dependentes de um belo sanduche e de uma linda

  • batata frita, elas viram dependentes da gordura e do sedentarismo, da

    presso ala e do colesterol.

    Outra caracterstica que pode ser destacada da Indstria Cultural a cpia e

    o divertimento sem utilidade; isso em relao ao que o filme mostra o fato

    de atingir o pblico infantil com brinquedos junto ao lanche, com isso, a

    criana quase sempre come o lanche porque sabe que quando vir outra

    criana com um brinquedo novo, ela pedir para a me um brinquedo igual.

    Vem a cpia que a repercusso desse brinquedo no meio infantil.

    Por ltimo, vou citar o lixo cultural que so os desenhos e propagandas que

    as redes de fast-food fazem para atingir (a todo o momento) o pblico

    infantil como jovens e adultos; as crianas com os desenhos e propagandas

    que anunciam o novo brinquedo, e os mais velhos com as novidades

    gastronmicas se assim podem ser chamadas e tambm com as promoes

    que so feitas atravs das propagandas que passam a todo o momento.

    Alm dessas comparaes, podem ser citadas outras, pois a Indstria

    Cultural tem muito a ver com o filme e com as atitudes das pessoas no seu

    cotidiano.

    J Valria Oliva, da mesma turma, enfatiza outras caractersticas da Indstria Cultural

    presentes no filme:

    A Indstria Cultural caracterizada pela mesmice, repetio e uso da arte

    para fazer propagandas de produtos de baixa qualidade (...). A lanchonete

    apresentada no filme utilizada como exemplo por ser muito conhecida

    (...).O filme se relaciona com o consumismo, a iluso que caracterstica da

    falta de limites e at cria necessidades. Muitas pessoas comem fast-food no

    por estarem com fome, mas pela simples necessidade de consumir.

    Ao final do bimestre cada grupo apresentou o cartaz com im