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EXPLORANDO A UTILIZAÇÃO DE UM REAGENTE
ALTERNATIVO EM PROCESSOS DE CLORAÇÃO
Aluno: Bernardo Vitral Ferreira
Orientador: Eduardo de Albuquerque Brocchi
Co-orientador: Rodrigo Fernandes Magalhães de Souza
Departamento de Engenharia de Materiais
Centro Técnico Científico (PUC-Rio)
1
1. Introdução
As ustulações cloretantes têm por objetivo viabilizar separações envolvendo
um ou mais elementos presentes em uma matéria-prima multi-constituinte a partir da
formação de cloretos. Em processos industriais, o cloro gasoso se destaca como o
principal agente cloretante através da sua utilização em reações de ação direta ou de
carbocloração. Todavia, reações semelhantes podem ser implementadas a partir de
métodos alternativos, utilizando outros reagentes portadores de cloro, como por
exemplo: HCl, NaCl, CaCl2[1]
assim como compostos organoclorados (ex: CCl4[2]
e
C2Cl4[3]
).
Dentro desse contexto, o presente trabalho dá continuidade ao estudo
exploratório associado com o emprego do tetracloroetileno como um agente cloretante
alternativo em reações envolvendo óxidos metálicos[4;5]
.
Assim sendo, os objetivos gerais do estudo estão relacionados com a apreciação
básica e concisa do comportamento do sistema reacional constituído por C2Cl4 e alguns
óxidos metálicos de importância tecnológica (ex: Fe2O3, NiO e CuO). De forma
específica, o escopo do trabalho está associado com a realização de uma avaliação de
viabilidade teórica das reações (termodinâmica) assim como em relação à condução de
ensaios experimentais (estudo cinético) a fim de avaliar a possibilidade de utilização
desse reagente em reações dessa natureza.
De forma complementar, é válido mencionar que as atividades apresentadas
nesse relatório deram origem ao conteúdo básico do trabalho de conclusão de curso do
aluno Bernardo Vitral Ferreira, defendido em Julho de 2013, possibilitando assim o
cumprimento de um requisito obrigatório para a graduação em Engenharia na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
2. Fundamentação teórica
A partir de um software de cálculos termodinâmicos específicos[6]
foi realizado
um estudo conciso através de gráficos de variação de energia livre padrão de Gibbs,
diagramas de predominância e de distribuição de espécies no equilíbrio. Tal avaliação
foi realizada com o intuito de estudar comparativo de alguns aspectos relacionados com
o emprego de reagentes alternativos em reações de cloração, particularmente no que diz
respeito ao tetracloroetileno.
2.1. Estabilidade de cloretos
Conforme mencionado anteriormente, as ustulações cloretantes têm por
objetivo viabilizar separações a partir da formação de cloretos. Sabe-se que muitos
desses compostos possuem, como uma característica, alta pressão de vapor em
temperaturas relativamente baixas[7]
. Desta forma, torna-se possível o isolamento físico
de elementos presentes na matéria-prima através de transformações para a fase gasosa
assim como por meio de condensações seletivas. Assim, torna-se interessante avaliar a
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formação e a estabilidade de cloretos da mesma forma que a variação da pressão de
vapor destes em com o aumento de temperatura.
2.1.1. Formação de cloretos
Os chamados diagramas de Ellingham se apresentam como uma importante
ferramenta para estudar a formação e a estabilidade de compostos, a partir de uma
construção gráfica. Esse recurso, por sua vez, relaciona a variação de energia livre
padrão de Gibbs com a temperatura e pode ser usado em diferentes sistemas reacionais.
Assim sendo, a Figura 1 ilustra esses instrumento no que diz respeito à formação de
cloretos, a partir dos respectivos metais reagindo na presença de Cl2(g)[8]
.
Figura 1. Diagrama de Ellingham para a formação de cloretos
[8]
Analisando o diagrama é possível observar os elementos menos sensíveis à
presença do cloro assim como os cloretos mais estáveis. Assim sendo, nota-se que o
carbono, na forma de CCl4, se apresenta entre os elementos menos estáveis na forma
cloretada, estimulando a sua utilização como fonte de Cl2. Por outro lado, verifica-se
que elementos como magnésio e sódio são altamente reativos na presença do cloro,
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justificando o seu emprego como reagentes nos respectivos processos de redução de
cloretos Kroll e Hunter[9]
.
2.1.2. Pressão de vapor
Uma importante característica dos sistemas reacionais de cloração está
associada com a possibilidade de formação de cloretos gasosos, uma vez que muitos
destes compostos tendem a se volatilizar em temperaturas relativamente baixas[5]
. Tal
como citado anteriormente, essa característica pode ser utilizada a fim de viabilizar
separações e desse modo, torna-se interessante apreciar a variação da pressão de vapor
de alguns cloretos com a temperatura, apresentada na Figura 2[10]
.
Figura 2. Variação da pressão de vapor de alguns cloretos com a temperatura
[10]
É possível notar que muitos dos cloretos apresentados tendem a se volatilizar
em temperaturas inferiores às usualmente empregadas em reações de cloração, por volta
de 900°C, ao passo que outros só atingem uma pressão de 760 mmHg em temperaturas
mais elevadas. Nesse sentido, verifica-se que cloretos de titânio, tântalo e zinco podem
ser definidos como cloretos voláteis a 900°C enquanto que os cloretos de manganês,
sódio e prata permanecem na forma condensada. É válido mencionar que tal
comportamento é dependente do composto formado, como pode ser observado no caso
dos cloretos de ferro e cobre, uma vez que FeCl3 e CuCl2 se volatilizam em
temperaturas inferiores a 600°C ao passo que FeCl2 e CuCl só atingem uma pressão de
vapor da ordem de 760 mmHg em temperaturas superiores a 1000°C.
2.2. Apreciação termodinâmica de alguns sistemas de cloração
A presente seção do trabalho tem por objetivo avaliar o comportamento de um
sistema reacional constituído por óxidos e tetracloroetileno, comparando-o com os
sistemas mais empregados na indústria, tais como a ação direta do cloro e
carboclorações. Tais avaliações foram conduzidas considerando os óxidos de cobre,
ferro e níquel na presença dos diferentes agentes cloretantes/redutores a serem
avaliados.
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2.2.1. Ação direta do cloro
A Figura 3 apresenta a variação da energia livre padrão de Gibbs para as
reações de ação direta do cloro dos respectivos óxidos estudados.
Figura 3. Variação da energia livre padrão de Gibbs para reações de ação direta do cloro
Observa-se que a reação de ação direta do cloro com o CuO possui uma
tendência favorável à formação de cloreto a partir 700°C enquanto as clorações
envolvendo o NiO e o Fe2O3 possuem uma variação da energia livre padrão de Gibbs
positiva até pelo menos 1000°C, indicando uma disposição do sistema reacional no
sentido de manutenção dos óxidos . Ainda que essa abordagem seja bastante válida, é
interessante ressaltar a possibilidade de formação de outros produtos reacionais
dependendo da composição química da atmosfera reacional.
Nesse sentido, torna-se interessante apreciar o sistema a partir de diagramas de
predominância, em função das pressões parciais de oxigênio e cloro, apresentados a
seguir para os três sistemas reacionais estudados para uma temperatura fixa de 750°C.
Assim sendo, a Figura 4 apresenta o diagrama de predominância para o sistema
reacional Cu-O-Cl.
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Figura 4. Diagrama de predominância a 750°C para o sistema Cu-O-Cl
Observa-se o cloreto de cobre tende a ser a espécie mais estável em pressões
parciais elevadas de cloro enquanto o os óxidos Cu2O e CuO aparecem como os
compostos predominantes em atmosferas ricas em oxigênio. Verifica-se ainda uma
marcante estabilidade do metal nessa temperatura, sugerindo a sua possibilidade de
obtenção em temperaturas da ordem de 750°C. É possível notar também que em
elevadas pressões parciais de cloro e oxigênio o cloreto de cobre tende a ser o composto
mais estável.
De forma similar, a Figura 5 apresenta o diagrama de predominância para o
sistema reacional Fe-O-Cl.
Figura 5. Diagrama de predominância a 750°C para o sistema Fe-O-Cl
Analisando o diagrama, verifica-se que existe uma maior estabilidade dos
compostos oxidados quando comparado com o diagrama associado com o sistema Cu-
O-Cl. Nesse sentido, observa-se que Fe2O3 se apresenta como o óxido predominante em
atmosferas ricas em oxigênio ao passo que Fe3O4 e Fe0,947O são estáveis em pressões
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parciais mais reduzidas desse gás. No que diz respeito aos cloretos, nota-se que o FeCl2
e o FeCl3 se apresentam como os produtos predominantes em pressões parciais elevadas
de cloro.
Por fim, a Figura 6 apresenta o diagrama de predominância para o sistema
reacional Ni-O-Cl.
Figura 6. Diagrama de predominância a 750°C para o sistema Ni-O-Cl
É possível notar que o sistema Ni-O-Cl a 750°C possui uma tendência a
favorecer a formação do metal e o óxido de níquel, sendo este último mais estável em
condições oxidantes. Todavia, observa-se que atmosferas ricas em cloro estimulam a
estabilidade do NiCl2. Verifica-se, porém, que o aumento da pressão parcial de oxigênio
na atmosfera reacional tende a favorecer a sua transformação em NiO, tornando o
procedimento de cloração mais difícil.
Tal comportamento também pode ser observado nos outros dois sistemas.
Desta forma, a fim de estabilizar os cloretos pode se implementar um procedimento para
reduzir a pressão parcial de oxigênio no interior dos fornos de cloração através de um
agente redutor (ex: carbono), deslocando as janelas operacionais dos diagramas de
predominância para a esquerda. Nesse contexto, surgem os processos de carbocloração,
usualmente conduzidos com coque verde de petróleo.
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2.2.2. Carbocloração
A Figura 7 apresenta a variação da energia livre padrão de Gibbs para as
reações de carbocloração dos respectivos óxidos estudados.
Figura 7. Variação da energia livre padrão de Gibbs para reações de carbocloração
Verifica-se que todas as reações possuem uma tendência favorável à conversão
em cloretos na faixa de temperaturas estudadas. Conforme mencionado anteriormente,
tal mudança de comportamento está fortemente associada à presença de um agente
redutor no sistema reacional, uma vez que a presença de carbono é responsável por uma
respectiva redução da pressão parcial de oxigênio no interior do reator, tornando os
respectivos cloretos mais estáveis.
Operações semelhantes podem ser viabilizadas utilizando agentes cloretantes
que já incorporem na sua composição química elementos responsáveis por uma redução
da pressão parcial de oxigênio. Dentro desse contexto, podem ser destacados os
compostos organoclorados (ex: tetracloroetileno) como possíveis compostos com essa
característica.
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2.2.3. Cloração com tetracloroetileno
A Figura 8 apresenta a variação da energia livre padrão de Gibbs para as
reações envolvendo o tetracloroetileno e os respectivos óxidos estudados.
Figura 8. Variação da energia livre padrão de Gibbs para reações de cloração com C2Cl4
Assim como no caso da carbocloração, observa-se que as três reações com
tetracloroetileno possuem uma variação da energia livre padrão de Gibbs negativa,
indicando uma tendência favorável à conversão em cloretos. É interessante ressaltar,
porém, que os valores de ΔG° associados com as reações com C2Cl4 são mais negativos
do que o valores referentes às carboclorações.
Assim sendo, verifica-se que existe uma tendência termodinâmica favorável ao
emprego do tetracloroetileno em reações envolvendo óxidos metálicos. Todavia, tal
informação não é definitiva no que diz respeito aos níveis de conversão obtidos assim
como em relação à velocidade de reação. Tais informações, por sua vez, podem ser
apreciadas através de um estudo experimental desses sistemas reacionais.
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3. Materiais e métodos
Os ensaios experimentais de cloração foram conduzidos em uma linha
constituída por um banho ultratermostatizado onde um recipiente contendo o C2Cl4(l)
pôde ser aquecido de forma controlada. O C2Cl4(g) oriundo desse aquecimento foi então
arrastado, através de um fluxo de gás inerte de cerca de 0,3 L/min, para dentro de um
forno tubular de quartzo, pré-aquecido na temperatura de interesse, contendo uma
barquete de alumina com aproximadamente 1g dos óxidos a serem reagidos (ex: Fe2O3,
NiO e NiO). Tal arranjo experimental pode ser observado nas Figuras 9 e 10.
Figura 9. Linha experimental de cloração com C2Cl4 aquecido em banho
ultratermostatizado e arrastado por um fluxo de N2(g)
Figura 10. Representação esquemática da linha experimental de cloração com C2Cl4
aquecido em banho ultratermostatizado e arrastado por um fluxo de N2(g)
Em termos de metodologia analítica, é válido mencionar que ao final dos ensaios
experimentais, o material remanescente foi recolhido e pesado de modo que, a partir dos
valores relativos à variação mássica percentual, se fizesse uma avaliação preliminar da
conversão dos óxidos originais nos respectivos cloretos assim como apreciar o efeito da
temperatura.
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Tal metodologia está fundamentada na possibilidade de volatilização dos
cloretos formados o que, por sua vez, se materializa fisicamente em uma variação
mássica negativa. Desta forma, torna-se importante entender o comportamento dos
cloretos envolvidos em função da temperatura. Dentro desse contexto, a título de
ilustração, a Figura 11 apresenta um gráfico de variação da pressão de vapor de alguns
cloretos de cobre, ferro e níquel em função da temperatura.
Figura 11. Variação da pressão de vapor de alguns cloretos de Cu, Fe e Ni
É interessante observar que o cloreto de cobre tende a se apresentar na forma
gasosa para ensaios conduzidos a 900°C, uma vez que sua pressão de vapor nessa
temperatura é superior a 1 atm. No entanto, verifica-se que o NiCl2, nessa mesma
condição, se encontra apenas parcialmente volatilizado uma vez que sua pressão de
vapor é da ordem de 0,275 atm. Todavia, para experimentos conduzidos em sistema
aberto, com remoção constante dos gases formados, é possível viabilizar condições
onde o equilíbrio seja deslocado no sentido de volatilização dos cloretos. Por fim, no
que diz respeito aos cloretos de ferro, observa-se que o FeCl3 se apresenta como um
composto gasoso em temperaturas superiores a 700°C ao passo que o FeCl2 só apresenta
uma pressão de vapor maior que 1 atm em temperaturas superiores a 1000°C.
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4. Resultados e discussão
A seguir são apresentados os resultados associados com os ensaios de cloração
dos óxidos de cobre, níquel e ferro para uma temperatura do banho ultratermostatizado
de 65°C.
4.1. Sistema reacional Cu-O-Cl
As Figuras 11 e 12 apresentam o acompanhamento dos resultados obtidos em
termos de variação mássica percentual da cloração do óxido de cobre, para temperaturas
do forno de respectivamente 700 e 900°C, em função do tempo.
Figura 12. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 700°C
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Figura 13. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 900°C
Nota-se que existe uma tendência à perda de massa, particularmente no que diz
respeito ao ensaio conduzido à 900°C onde se obteve uma perda de massa de 91,25%
em um intervalo de 20 minutos. Tais resultados estão consistentes com a previsão
teórica oriunda da variação da pressão de vapor do CuCl2 com a temperatura. Esse
comportamento do sistema reacional também pode ser observado, do ponto de vista
macroscópico, na Figura 14 que, por sua vez, apresenta imagens relacionadas com dois
momentos distintos do procedimento experimental: imediatamente antes do ensaio de
cloração (a) e após a pesagem final da amostra reagida à 900°C por 30 minutos (b).
Figura 14. Aspecto macroscópico das amostras
(a) Antes do ensaio (b) Após a pesagem final
4.2. Sistema reacional Fe-O-Cl
As Figuras 14 e 15 apresentam os resultados obtidos em termos de variação
mássica percentual no que diz respeito à cloração do óxido de ferro, para temperaturas
do forno de respectivamente 700 e 900°C.
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Figura 15. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 700°C
Figura 16. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 900°C
Verifica-se que a cloração do óxido de ferro apresenta uma tendência
semelhante àquela observada no sistema reacional Cu-O-Cl sendo, porém com valores
máximos de perda de massa da ordem de 75% para um intervalo de tempo
significativamente maior, no caso 150 minutos. Tais resultados podem estar associados
com o tipo de cloreto formado, uma vez que a perda de massa tende a ser menos
significativa caso o FeCl2 seja formado já que, nas temperaturas de 700 e 900°C, esse
cloreto tende a não estar completamente volatilizado. Além disso, também pode-se
considerar a possibilidade de uma cinética de cloração mais lenta do Fe2O3 frente ao
CuO, justificando os menores valores de conversão obtidos.
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4.3. Sistema reacional Ni-O-Cl
As Figuras 16 e 17 apresentam os resultados obtidos em termos de variação
mássica percentual associados com a cloração do óxido de níquel, para temperaturas do
forno de respectivamente 700 e 900°C.
Figura 17. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 700°C
Figura 18. Acompanhamento dos resultados em termos de variação mássica percentual
da amostra sólida à 900°C
Observa-se que o sistema reacional possui duas tendências distintas em função
da temperatura. No caso dos ensaios conduzidos à 700°C, nota-se um comportamento
associado com um ganho de massa enquanto que à 900°C verifica-se uma variação
mássica negativa. Tais resultados estão consistentes com variação da pressão de vapor
do NiCl2 com a temperatura, uma vez que esse cloreto tende a passar por uma
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transformação para fase gasosa em temperaturas mais altas. Todavia, observou-se uma
mudança de coloração da amostra com o decorrer dos ensaios, visto que ao final foi
obtido um material de cor esverdeada. Essa mudança de aspecto macroscópico das
amostras encontra-se ilustrada na Figura 19.
Figura 19. Aspecto macroscópico das amostras
(a) Antes do ensaio (b) Após a pesagem final
4.3. Observações associadas com o procedimento experimental.
Após a condução de alguns ensaios experimentais, identificou-se a formação
de um produto condensado em regiões posteriores do reator tubular. Esse material,
obtido a partir da cloração do óxido de níquel, encontra-se ilustrado na Figura 20.
Figura 20. Material condensado coletado no reator
Observa-se que o material condensado é aparentemente constituído por
pequenos filamentos semelhantes a agulhas. Tal característica reforça a expectativa de
conversão dos óxidos estudados em compostos voláteis, conforme indicado nas perdas
de massa obtidas nos ensaios experimentais, visto que esta morfologia é típica de um
material oriundo de uma transformação gás-sólido. Essa observação, por sua vez,
estimula a condução de um estudo mais aprofundado deste sistema reacional a fim de
entender o comportamento do C2Cl4 em reações de cloração, uma vez que existem
poucos registros na literatura acerca desse processo.
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5. Considerações finais
A apreciação termodinâmica realizada sugere que a cloração dos óxidos de ferro,
níquel e cobre pelo C2Cl4 é viável na faixa de temperatura estudada (até 1000°C) com
um valor de constante de equilíbrio bastante favorável à formação de produtos (Keq >>
10+3
).
Foi possível notar que os três sistemas reacionais apresentaram variações
mássicas negativas, dependendo da temperatura e intervalos de tempo implementados.
Alguns desses resultados encontram-se ilustrados de forma sucinta na Tabela I.
Tabela I. Valores variação mássica de algumas amostras de Fe2O3, NiO e NiO
Valores de variação mássica percentual da amostra inicial
Temperaturas Óxidos a serem reagidos e tempo de residência da amostra
Fe2O3 (150 min.) NiO (36 min.) CuO (20 min.)
900°C (Forno)
65°C (Banho) − 75,07% − 65,10% − 91,25%
Em linhas gerias, os resultados sugerem a formação, sob condições específicas,
de cloretos voláteis. Esses valores, juntamente com a formação de um material
condensado em regiões posteriores do tubo reacional, sugerem uma viabilidade de
utilização desse reagente em reações de cloração envolvendo os óxidos de ferro, níquel
e cobre.
Assim sendo, tais resultados estimulam a realização de um estudo mais
aprofundado no que diz respeito à avaliação dos efeitos de da temperatura assim como
da pressão parcial do C2Cl4 a fim de aumentar o entendimento do comportamento do
tetracloroetileno como um possível agente cloretante em reações envolvendo óxido
metálicos.
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6. Referências bibliográficas
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Químico dos Materiais (PUC-Rio), 2009.
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