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EXPORTAÇÃO E PERSPECTIVA DE CRESCIMENTO DO CAFÉ ORGÂNICO BRASILEIRO NO MERCADO INTERNACIONAL Edney do Nascimento Pires (Fatec Rubens Lara) [email protected] Priscila Menezes de Campos (Fatec Rubens Lara) [email protected] Rita Cezar (Fatec Rubens Lara) [email protected] Sofia Quatorze Correa (Fatec Rubens Lara) [email protected] Resumo As estimativas apontam que, em 2017, o agronegócio se sobressairá, mais uma vez, com safras recordes. Em um país onde os setores industrial e de serviços estão enfraquecidos, a produção agrícola torna-se peça fundamental para equilibrar a balança comercial. Sendo assim, é ainda mais necessário buscar diferenciais que possam agregar valor aos commodities brasileiros, tornando-os mais competitivos no mercado internacional. A busca por produtos que são produzidos sem o uso intensivo de agrotóxicos vem aumentando, incentivando o modo orgânico de produção. Embasado por estes e outros fatores, este estudo buscará apresentar o potencial de crescimento apresentado pelo café orgânico, avaliando desde sua cadeia produtiva até as demandas do mercado internacional. Palavras-chave: Agronegócio, Café Orgânico, Mercado Internacional. Export and Prospective for the Growth of Brazilian Organic Coffee in the Internacional Market Abstract Forecasts indicate that in 2017, agribusiness sector will be at the top of crop rankings. In a country that the manufactoring and services sectors have low results, it will appear as a solution to equilibrate trade balance the agriculture production. So then, it become necessary to search for efficiency improvements that can add value to Brazilians commodities, and later transforming it in competitors at the global market. The search for products that are produced without the intensive use of pesticides has increased, encouraging the organic production. Therefore, in this survey, we will analize and demonstrate the organic coffee with a brief presentation of supply chain and its profitable niche market. the Brazilian commercialization and exports will also be presented in the research. Based on those facts, we will demonstrate in this study the potential of organic coffee to grow, evaluating since the productive chain to the demands of the international Market Key-words: Agribusiness, Organic Coffee, Global Market.

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EXPORTAÇÃO E PERSPECTIVA DE CRESCIMENTO DO CAFÉ

ORGÂNICO BRASILEIRO NO MERCADO INTERNACIONAL

Edney do Nascimento Pires (Fatec Rubens Lara) [email protected]

Priscila Menezes de Campos (Fatec Rubens Lara) [email protected]

Rita Cezar (Fatec Rubens Lara) [email protected]

Sofia Quatorze Correa (Fatec Rubens Lara) [email protected]

Resumo

As estimativas apontam que, em 2017, o agronegócio se sobressairá, mais uma vez, com safras recordes.

Em um país onde os setores industrial e de serviços estão enfraquecidos, a produção agrícola torna-se

peça fundamental para equilibrar a balança comercial. Sendo assim, é ainda mais necessário buscar

diferenciais que possam agregar valor aos commodities brasileiros, tornando-os mais competitivos no

mercado internacional. A busca por produtos que são produzidos sem o uso intensivo de agrotóxicos

vem aumentando, incentivando o modo orgânico de produção. Embasado por estes e outros fatores, este

estudo buscará apresentar o potencial de crescimento apresentado pelo café orgânico, avaliando desde

sua cadeia produtiva até as demandas do mercado internacional.

Palavras-chave: Agronegócio, Café Orgânico, Mercado Internacional.

Export and Prospective for the Growth of Brazilian Organic Coffee in the

Internacional Market

Abstract

Forecasts indicate that in 2017, agribusiness sector will be at the top of crop rankings. In a country that

the manufactoring and services sectors have low results, it will appear as a solution to equilibrate trade

balance the agriculture production. So then, it become necessary to search for efficiency improvements

that can add value to Brazilians commodities, and later transforming it in competitors at the global

market. The search for products that are produced without the intensive use of pesticides has increased,

encouraging the organic production. Therefore, in this survey, we will analize and demonstrate the

organic coffee with a brief presentation of supply chain and its profitable niche market. the Brazilian

commercialization and exports will also be presented in the research. Based on those facts, we will

demonstrate in this study the potential of organic coffee to grow, evaluating since the productive chain

to the demands of the international Market

Key-words: Agribusiness, Organic Coffee, Global Market.

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1 Introdução

Segundo Sorio (2015), a importância do setor cafeeiro para economia brasileira é

inegável. Apesar de ser o maior produtor e o exportador mundial de café, o Brasil não tem

conseguido agregar valor às exportações desse produto, fato que não é condizente com a sua

posição de líder mundial na produção primária desse grão.

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) mostram que o

país tem cerca de 287 mil cafeicultores, predominando mini e pequenos proprietários, com um

parque cafeeiro estimado em 2,25 milhões de hectares, espalhados por 1.900 municípios. Já a

produção totalizou em 2016, 51,37 milhões de sacas, 18,8% superior a 2015, de acordo com

dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2016).

A produção brasileira corresponde a aproximadamente 1/3 da produção mundial, sendo

que 70% dessa produção é destinada à exportação e os 30% restantes para o consumo no

mercado interno, fato que justifica o nosso segundo lugar no consumo mundial de café, estando

atrás apenas dos EUA, o maior consumidor de café do mundo (DEPEC, 2017).

No entanto, esse cenário apenas ratifica a posição brasileira de grande exportador de

commodities.

Países que não plantam sequer uma muda de café, importam nossos grãos, agregam valor

através da industrialização e competem com o Brasil pela participação em seus mercados

internos e em terceiros países, demonstrando assim que a produção agrícola, por si só, não é

suficiente para garantir o desenvolvimento competitivo (SORIO, 2015).

A Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (ACOB) destaca o aumento da

demanda por cafés orgânicos, certificados e sustentáveis em países que o consumo de café já

está amadurecido, como Estados Unidos e Europa ocidental, onde os consumidores valorizam

cada vez mais as boas práticas de produção, relações éticas de trabalho e sistemas produtivos

que não agridem o meio ambiente.

Dentro deste contexto, este artigo tem o propósito de apresentar um estudo inicial sobre

a perspectiva de crescimento do café orgânico no mercado internacional, como forma de

agregar valor ao grão brasileiro.

Iniciaremos com uma breve explanação sobre o café no Brasil e no mundo, na sequência

será apresentado o conceito de café orgânico, cenário nacional e mundial, cadeia produtiva,

custos de implantação e produção, certificação e exportação.

Ao retratarmos o café orgânico, realizamos o levantamento de dados utilizando-se de

publicações de revistas científicas como Informe Agropecuário, referências teóricas já

analisadas como livros, periódicos e dados extraídos de ferramentas como Alice web e Trade

Map, além de websites governamentais e corporativos, o que caracteriza este estudo como

pesquisa bibliográfica.

Lakatos e Marconi (2003) conceituam a pesquisa bibliográfica como um apanhado geral

sobre os principais trabalhos já realizados, bibliografia já tornada pública em relação ao tema

de estudo e revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes

relacionados com o tema.

2 Agricultura Orgânica: Conceito

A Lei 10.831/2003 Art. 1º (BRASIL,2003), considera que:

Sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas

específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos

disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por

objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios

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sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando,

sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao

uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente

modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção,

processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio

ambiente.

Citando Altierre (ALTIERRE, 2004), agricultura orgânica é um modo de sustentar a

produção agrícola evitando ou excluindo em grande parte o uso dos fertilizantes e agrotóxicos.

Sempre que possível, recursos externos, tais como os químicos e combustíveis adquiridos por

via comercial, são substituídos por recursos encontrados na unidade produtora ou na natureza.

Nestes recursos, incluem-se energia solar ou eólica, controles biológicos de pragas, o nitrogênio

fixado biologicamente e outros nutrientes liberados da matéria orgânica ou das reservas do solo.

Nestas opções específicas nas quais a agricultura orgânica encontra-se baseada, tanto quanto

possível, incluem rotações de cultura, resíduos de lavouras, esterco animal, uso de leguminosas

e adubos verdes, resíduos externos à unidade produtiva, cultivo mecânico e rochas moídas que

contenham minerais, etc.

O controle de pragas deve ser feito utilizando-se de defensivos alternativos

(biofertilizantes líquidos, caldas, extrato de plantas) que podem ser de preparação caseira, com

substâncias que não causem danos à saúde humana e ao meio ambiente (RICCI; ARAÚJO;

FRANCH, 2002).

Penteado (2009) concluiu que a agricultura orgânica é um sistema de produção agrícola

baseado em princípios ecológicos, o trabalho na terra está dentro de princípios de preservação

do meio ambiente, que abrangem o manejo adequado dos recursos naturais e do solo, a nutrição

vegetal, a proteção das plantas e a valorização dos recursos humanos. Segundo o Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a agricultura orgânica cria ecossistemas mais

equilibrados, preserva a biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo (BRASIL,

2014).

Todas as normas e regras que regem a agricultura orgânica não permitem de forma

alguma o uso de adubos sintéticos-solúveis (NPK, uréia, salitres, etc.) sendo necessário o uso

de fertilizantes orgânicos como estercos, compostagem, vermicompostagem, preparações tipo

Bokashi, e resíduos de biomassa vegetal, incluindo adubos verdes, que é uma forma eficiente e

relativamente barata para se elevar o teor de matéria orgânica do solo, a qual é fundamental

para a preservação da atividade biológica do mesmo, garantindo o seu equilíbrio.

A produção orgânica é um modelo que deve ser economicamente viável, ecologicamente

sustentável, socialmente justo e culturalmente aceitável (ALVARENGA, 2002).

2.1 Mudanças Tecnológicas

Três são as fases para uma mudança tecnológica em qualquer setor: invenção, inovação

e difusão (Schumpeter, 2002). A invenção é a criação de um processo, técnica ou produto

inédito. A inovação é a primeira comercialização de um produto ou processo no mercado. A

difusão é uma forma de tornar disponível a adoção da inovação para as empresas ou indivíduos.

Inovação tecnológica significa toda mudança numa dada tecnologia. É pela inovação

que se lança efetivamente um novo produto ou processo, ou se aperfeiçoam os já existentes.

(SACHUCK; TAKAHASHI; AUGUSTO, 2008).

Na visão de Schumpeter, inovação quer dizer: "fazer as coisas diferentemente no âmbito

da vida econômica". A introdução de um novo bem não familiar aos consumidores, o

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estabelecimento de um novo método de produção, a abertura de um novo mercado, a descoberta

de uma nova fonte de matéria prima e a reorganização de uma indústria, são exemplos de

inovações.

A inovação é fortemente influenciada pelas incertezas que cercam a adoção de novas

tecnologias, ou antigas. O risco é uma variável crucial para a tomada de decisão sobre a

introdução de uma técnica, mesmo quando seus resultados potenciais já são amplamente

conhecidos (BUAINAIN et al., 2007).

Segundo Rogers (NUTLEY, 2002), a difusão é o processo pelo qual uma inovação é

comunicada ao longo do tempo mediante certos canais, entre os membros de um sistema social.

A difusão de técnicas por meio do processo tecnológico, além de vantagens econômicas,

depende de vários fatores para alcançar um maior número de agricultores, como por exemplo:

disponibilidade de recursos materiais e de conhecimentos técnicos, suprimento adequado de

insumos modernos, facilidade de crédito, habilidade gerencial dos empresários agrícolas, etc

(PAIVA, 1975).

Mudanças tecnológicas estão notoriamente presentes nas agroindústrias, de modo a

destinar os recursos disponíveis de maneira eficiente. A tecnologia agrícola da Revolução

Verde promoveu o aumento da produção de alimentos com uso de insumos industriais, da

mecanização, de sementes geneticamente melhoradas, etc. Dependendo do tipo de

transformação tecnológica adotada, a atenção deverá ser redobrada nos possíveis impactos

ecológicos, socioeconômicos e na saúde que possam surgir decorrentes destas mudanças.

Segundo Mesquita (1998), pode-se admitir que uma mudança tecnológica com a

finalidade de racionalizar o uso de recursos naturais, principalmente do solo e da água, pode

melhorar de maneira gradativa a produtividade agrícola, e neste contexto, o modelo de

conservação seria altamente benéfico.

O sistema da Agricultura Orgânica pode ser representado como uma mudança

tecnológica diante do sistema convencional, pois com a adoção das técnicas orgânicas de

produção, os produtores tendem a aumentar a qualidade do produto; promover sistemas

adequados, tanto na cadeia produtiva quanto nos canais de comercialização de produtos

orgânicos; melhorar as condições de saúde do povo e do ecossistema; melhorar a qualidade

ambiental e racionalizar a utilização dos recursos naturais, de modo que assim se manterá o

equilíbrio ecológico para as futuras gerações.

3 Café no Brasil e no Mundo

As primeiras sementes de café chegaram ao Brasil no século XVIII, vindas da América

Central, tendo como porta de entrada a região norte do país. Na região sudeste a produção de

café encontrou as condições ideais de clima e solo para alcançar o primeiro lugar na nossa

balança comercial, atingindo 70% da produção mundial no século XIX, de acordo com Sorio

(2015).

De acordo com Keedi (2010), a balança comercial registra os movimentos financeiros

referentes a exportação e importação de mercadorias do país, podendo apresentar-se

superavitária ou deficitária, dependendo do comportamento do comércio exterior, sendo que

seu resultado poderá determinar a política de exportação e/ou importação do país.

Cerca de 70 países plantam café no mundo, a grande maioria com orientação

exportadora. No entanto, o Brasil é o maior produtor de café, sendo responsável por 1/3 da

produção mundial. Ao mesmo tempo, cerca de 40% de sua safra é consumida internamente,

representando mais de 20 milhões de sacas em 2014. Isso nos torna, também, um dos maiores

consumidores de café (ABIC,2015; ICO, 2014).

Conforme o CONAB (2016), existem duas espécies de café produzidos no Brasil:

arábica (coffea arábica) de sabor intenso e acidez alta que compreende 84,4% da produção

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nacional e têm sua produção concentrada na região sudeste, sendo que os maiores produtores

localizados no sul do estado de Minas Gerais com cerca de 1,20 milhões de hectares,

correspondendo a 67,8% da área ocupada com café arábica, em nível nacional e no estado de

São Paulo. A área destinada a produção de café arábica, vem se mantendo estável nos últimos

10 anos sendo de cerca de 1,78 milhões de hectares. Já o café robusta ou conilon (coffea

canephora) de sabor suave e acidez baixa, representando 15,6% da produção nacional, com sua

produção concentrada principalmente no estado do Espírito Santo com área de 266,47 mil

hectares, seguido de Rondônia, com 94,56 mil hectares e Bahia com 58,75 mil hectares.

A região sudeste brasileira até hoje é referência na produção de café tendo Minas Gerais

em destaque como o estado responsável por 57,4% da produção nacional, seguido por Espírito

Santo com 19%, São Paulo com 11%, Bahia com 5,4%.

Ainda segundo a CONAB (2016), a primeira estimativa para a produção da safra cafeeira

arábica e conilon em 2017, indica que o país deverá colher entre 43,65 e 47,51 milhões de sacas

de 60 kg de café beneficiado.

A colheita de café é realizada normalmente entre março e outubro, sendo 90% do café

colhido entre maio e agosto, com a necessidade de evitar a colheita tardia de forma a não

prejudicar a florada da próxima safra.

A níveis mundiais, os cinco “players” de café (Brasil, Vietnã, Colômbia, Indonésia e

Etiópia) representam aproximadamente 72% da produção mundial (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Produção do Café por Estado (UF) e Ranking Mundial

Fonte: CONAB (2016) Fonte: DEPEC Bradesco (2017)

O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (DEPEC, 2017) destaca que a

exportação do grão corresponde a 70% da produção nacional e totalizou em 2016, US$ 4,86

bilhões (1,83 milhões de toneladas).

Ao utilizarmos a ferramenta Trade Map foi possível constatar que os quatro maiores

importadores de café, demonstrado pelas setas em evidência na Figura 1, importaram: EUA

US$ 1,01 bilhões, Alemanha US$1,03 bilhões, Itália US$ 0,49 bilhões e Japão US$ 0,41

bilhões.

Figura 1 – Relação dos Países Importadores de Café do Brasil

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Fonte: Trade Map (2017)

O consumo de café está crescendo 1,5 a 2% ao ano com tendência de que esse número

aumente cada vez mais. Para atender a demanda crescente, será necessário que a produção se

adeque, adotando tecnologias e boas práticas agrícolas que aumentem sua produtividade sem

prejudicar o meio ambiente (CECAFE, 2016).

Neste contexto, cresce o conceito de diferenciação entre os tipos de café, segmento que

representa 12% do mercado internacional, cujo valor de venda para alguns cafés diferenciados

tem um sobre preço que varia entre 30% e 40% a mais em relação ao café cultivado de modo

convencional. A valorização dos cafés diferenciados é reflexo dos atributos de qualidade que

estes podem possuir, tais como características físicas, origem, variedade, cor e tamanho, além

de fatores como, por exemplo, as condições da mão de obra que produz o café. As categorias

de certificação são assim definidas: café gourmet, café de origem certificada, café orgânico e

café fair trade (SEBRAE, 2016). Para Porter (2004), a diferenciação é uma estratégia viável

para obter retornos acima da média que proporciona vantagem competitiva e estimula a

lealdade à marca.

3.1 Panorama do café orgânico no Brasil e no Mundo

Na década de 1990, os mercados de produtos orgânicos certificados apresentaram

significativo crescimento na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e em países de baixa renda.

Na União Européia, a taxa média anual de crescimento ficou em torno de 25% nos últimos dez

anos (MAPA, 2007).

Segundo dados da ACOB (2016), a produção de café orgânico ganhou força a partir de

1998, tendo sua produção concentrada nos estados de Minas Gerais (sul de Minas, cerrado

mineiro e matas de Minas), Bahia, Paraná, Espírito Santo e São Paulo.

Devido à crise do café convencional em 2000, muitos produtores migraram para o

sistema orgânico, principalmente pela possibilidade de venda a preços superiores. Nos anos de

2002 a 2004, o Brasil chegou a produzir até 300 mil sacas de café orgânico por ano. No entanto,

tais produtores em sua maioria não detinham bons conhecimentos sobre as práticas orgânicas

de manejo do solo, pragas e doenças, etc. Também não realizarm um investimento em qualidade

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e pós colheita. Como consequência, a produtividade de suas lavouras reduziu muito e tiveram

dificuldades de vender os cafés de qualidade média. Com o retorno dos melhores preços do café

convencional, muitos produtores abandonaram suas lavouras orgânicas e voltaram ao sistema

convencional. Aqueles que continuaram firmes no orgânico foram os que possuíam boas

técnicas de produção, ótima qualidade de bebida, fortes princípios ecológicos, mercado bastante

remunerador e estável, e também os que tinham boa produtividade e custo razoáveis.

Portanto, no período de 2005 a 2013, a produção de café orgânico manteve-se numa

média anual de 70 a 80 mil sacas. Somente nos últimos dois anos é que houve uma mudança

nesse cenário e um maior estímulo à produção orgânica, sendo que para a safra de 2017 é

esperado de 80 a 90 mil sacas de orgânico certificado mais cerca de 20 mil sacas em transição

para orgânico

A nível mundial, a área destinada à produção de café orgânico quadruplicou desde 2004,

como pode-se verificar no Gráfico 2, evidenciando um crescimento. Em 2014, a área estimada

foi de 743 mil hectares, a qual representa aproximadamente 7,7% da área destinada a produção

de café convencional no mundo, sendo que os maiores produtores são: México com 243 mil

hectares, Etiópia com 154 mil hectares e o Peru com 89 mil hectares. No Brasil, em 2016

tivemos 5 mil hectares, o que representa apenas 0,2% da área de produção de café no país, com

produção de 60 a 70 mil sacas de café orgânico (ACOB, 2016).

Gráfico 2 – Evolução Café Orgânico no Mundo

Fonte: ACOB (2016)

3.2 Cadeia Produtiva

A cadeia produtiva de produtos orgânicos tem na estratégia de diferenciação sua

estratégia de base. Esta estratégia tem como foco a geração de produtos diferenciados e com

alto valor agregado. Assim, a busca da vantagem competitiva ocorre a partir do oferecimento

de produtos de maior desempenho nos atributos definidos como capazes de estabelecerem

diferenciais positivos em relação à concorrência, resultando em uma imagem de diferenciação

dos produtos ou dos processos produtivos, com o objetivo de alcançar mercados cada vez mais

segmentados (MAPA, 2007).

De acordo com Corrêa (2014), a integração é a palavra chave para se entender a moderna

gestão da cadeia de suprimentos.

Conhecer os elos que compõem a cadeia produtiva é fator decisivo para se verificar

como são estabelecidos os relacionamentos entre todos os agentes envolvidos, possibilitando

com essa análise identificar os elos mais fortes e mais frágeis, assim como os gargalos

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existentes, informações fundamentais para se realizar as intervenções necessárias (ORMOND

et al., 2002).

A cadeia produtiva é o processo decorrente da transformação, em todas as suas etapas,

de uma determinada matéria prima em produto final entregue pronto para consumo, seja para o

mercado interno ou externo, detalhado em todos os seus elos e nós, como ilustrado na Figura 2.

A cadeia produtiva do café é pouco ramificada, sendo dividida em três ramos principais:

produção de grãos, indústrias de torrefação e moagem e, por fim, o elo das indústrias produtoras

de café solúvel. O café verde, uma vez produzido, poderá seguir diversas trajetórias, podendo

ser exportado em grão diretamente pelo produtor ou por intermédio de cooperativas e

corretores. Se não for exportado, o grão poderá passar por beneficiamento, sendo utilizado por

indústrias de torrefação e moagem ou pelas indústrias de café solúvel.

A cadeia produtiva do café orgânico tem a etapa de certificação, que atesta que a

produção seguiu todas as normas exigidas para ser considerada orgânica.

Figura 2 – Cadeia Produtiva do Café Orgânico

Fonte: Ormond (2002)

Os fatores de sucesso da cafeicultura orgânica com relação à propriedade são: condições

favoráveis quanto ao clima e à qualidade do café, solos, relevo, matéria orgânica, mão de obra

e equilíbrio ambiental. Quanto ao produtor, pode-se citar: aptidão do cafeicultor orgânico,

acesso às técnicas agroecológicas e acesso a técnicas de manejo pós colheita. Após a verificação

destes fatores de sucesso, tendo conhecimento dos diversos regulamentos existentes, inicia-se

o período de conversão da produção convencional para a orgânica, cujo período mínimo exigido

é de 18 meses, podendo estender-se por até 36 meses em sistemas degradados ou onde o uso de

insumos e defensivos químicos é elevado. O produtor deve ainda manter arquivado todos os

comprovantes utilizados desde o início do período de conversão. Após o cumprimento de todos

os requisitos exigidos, o produtor poderá finalmente requerer a certificação orgânica (ACOB,

2016).

O interessado em realizar a conversão da produção convencional para orgânica deve

preparar um projeto de conversão que será apresentado ao órgão certificador no momento em

que for requerida a certificação, ou ao inspetor na sua primeira visita sendo que um contrato

deve ser firmado entre o cafeicultor e o órgão certificador (RICCI; ARAÚJO; FRANCH, 2002).

A produtividade dos cafezais orgânicos interfere diretamente na decisão dos produtores

em adotar a cafeicultura orgânica, uma vez que a produtividade de café orgânico é de 20% a

30% inferior à do café convencional, principalmente nos primeiros anos de produção, em

decorrência da fase inicial de adaptação e recuperação do solo. Após este período de adaptação,

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a produtividade pode voltar ao nível normal ou até mesmo superá-lo. Isso ocorre porque o

potencial produtivo das lavouras orgânicas é determinado pelo grau de equilíbrio do agro

ecossistema (IAC, 2007).

O café orgânico não possui praticamente nenhuma diferença de sabor, cor ou forma em

relação ao café produzido de forma convencional, sendo que a escolha pelo produto orgânico

pelo consumidor final se dá pela conscientização deste em buscar produtos com a certificação

que ateste que sua produção foi realizada dentro dos padrões orgânicos, ecológicos, livre de

agrotóxicos e produtos químicos causadores de danos ao meio ambiente e à saúde.

3.3 Custos

O custo de produção direciona a análise de eficiência da produção, integralmente ou

setorialmente (pela desagregação do processo produtivo em suas partes constitutivas) (COSTA

et al., 2009), fornecendo informações extremamente relevantes para tomada de decisões mais

eficazes.

Para a implantação de uma unidade produtora de café orgânico irrigado do tipo arábica,

é recomendado um sistema com 5 mil covas por hectare. Tomando como exemplo um módulo

de 5 hectares, podemos observar na Tabela 1 a distribuição dos custos com os investimentos

necessários para a implantação da cafeicultura orgânica e sua respectiva manutenção.

Tabela 1 – Custo de Implantação e Manutenção da Cultura

Fonte: Adaptada - Sebrae (2002)

Os dois primeiros anos referem-se ao início da cafeicultura orgânica, onde os custos são

focados basicamente no preparo do solo e aquisição de máquinas para irrigação, terras,

ferramentas e outros custos. Já para sua manutenção, nos dois anos subsequentes, é preciso

incorporar os custos fixos anuais com impostos, mão de obra especializada e componentes dos

custos variáveis, como gastos com serviços realizados na área plantada e os insumos

necessários.

A certificação do café orgânico também é um fator de grande influência na constituição

dos custos. O valor pago para obtê-la é uma importante barreira à entrada de produtores na

cadeia produtiva.

3.4 Certificação

As mercadorias produzidas de acordo com normas de controle, da produção à

comercialização, passando pela manipulação e o processamento, recebem o rótulo de orgânico.

Um organismo com autoridade e devidamente habilitado atesta, por meio de um mecanismo da

avaliação de conformidade, que o produto preenche os critérios de produção orgânica. As

Especificação Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4

1. Insumos R$ 8.600,00 R$ 8.600,00 R$ 8.600,00 R$ 8.600,00

2. Preparo do Solo e Plantio R$ 10.850,00 - - -

3. Tratos Culturais e Fitossanitários R$ 1.650,00 R$ 2.350,00 R$ 2.350,00 R$ 2.350,00

4. Colheita - R$ 500,00 R$ 2.000,00 R$ 2.500,00

5. Secagem - R$ 100,00 R$ 250,00 R$ 350,00

6. Beneficiamento - R$ 160,00 R$ 800,00 R$ 1.000,00

7. Transporte - - R$ 1.250,00 R$ 1.625,00

8. Custos Fixos Anuais - - R$ 8.160,00 R$ 9.360,00

9. Outros R$ 25.335,00 R$ 8.035,00 - -

Total 46.435,00R$ 19.745,00R$ 23.410,00R$ 25.785,00R$

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normas de produção e processamento da agricultura orgânica, no entanto, não dispensam os

produtores e os empreendimentos agroalimentares das regulamentações gerais, como as ligadas

com a inocuidade dos alimentos, a homologação dos medicamentos e dos pesticidas, as regras

de rotulagem nutricional dos alimentos e os códigos de defesa dos consumidores (MAPA,

2007).

A exportação de produtos orgânicos exige profundo conhecimento das intrincadas

normas, padrões e exigências relativas à qualidade e certificação, exigidas pelo Mercado

Externo.

A certificação é o que agrega valor ao produto orgânico. É o reconhecimento de que o

produto foi produzido de acordo com os padrões da produção orgânica.

A produção orgânica também propicia elementos valorizados pelo consumidor nacional

e mundial. O selo correspondente à certificação não apenas valoriza o produto, mas o protege

de eventual fraude que possa vir a ser praticada no mercado. Essa certificação estende-se a

processadores e distribuidores, beneficiando toda cadeia produtiva e permitindo a

rastreabilidade do produto, evitando práticas que possam burlar as regras envolvidas nessa

qualificação (SEBRAE, 2008).

Esses padrões podem ser estabelecidos tanto de um grupo ou associação de produtores,

de modo que organizem um sistema de certificação, conhecido como padrões privados, ou

quando o país já estabelece algumas regras conhecido como padrões oficiais. Os produtores as

devem seguir, porém podem acrescentar procedimentos especiais.

As primeiras normas privadas internacionais na agricultura orgânica foram

estabelecidas no início da década de 1980 pela IFOAM (International Federation of Organic

Agriculture Movements, 2000) e reeditadas desde então a cada dois ou três anos.

Existe ainda as certificações pelo Codex Alimentarius (Organización de las Naciones

Unidas para la Agricultura y la Alimentación), contudo, nos países onde o produto vai ser

comercializado, as regulamentações devem ser consideradas, já que a regulamentação é uma

ação governamental (EMBRAPA).

A certificação não é barata, sendo ás vezes inviável para pequenos produtores. Com

isso, a IFOAM estabeleceu certificações diferenciadas, como a de subcontratação, onde uma

cooperativa ou atacadista de grande porte certifica um certo grupo de fornecedores como

orgânicos. Outra também muito utilizada, é a de grupos de agricultores que se unem com lotes

de terras próximos e com a mesma qualidade orgânica, sendo um o contato direto com a

certificadora. Com isto, há um aumento da produção orgânica de café e de algodão na América

Latina e África, e de chá de arroz na Ásia.

No Brasil, o órgão que coordena a regulamentação da agricultura orgânica é o Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio dele são apuradas fraudes e se

tomam ações legais cabíveis em caso de não comprimento das normas.

A certificação dos produtos orgânicos no mercado interno tem sido feita por associações

de produtores e ONGs. Já no mercado externo, as certificadoras credenciadas são: Ecocert, IBD

Certificações, Kiwa BCS Oko-Garantie e Organización Internacional Agropecuária (OIA). A

certificação é um grande aliado, é por ele que o consumidor sabe se realmente o produto foi

produzido organicamente.

3.5 Exportação

Segundo dados do Anuário da Antaq (2017), até abril de 2017, o Porto de Santos

movimentou cerca de 15.811.127 toneladas de granel sólido, 940.084 toneladas de carga geral,

2.219.629 toneladas de granel líquido e 8.490.377 toneladas em carga conteinerizada,

evidenciando assim a supremacia do granel sólido nos embarques em navegações de longo

curso no Porto de Santos.

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No ranking de movimentação dos Portos organizados do site Web Portos, demonstrado

no Gráfico 3, no período de janeiro a março de 2017, o Porto de Santos aparece em primeiro

lugar, apesar da redução de 3,44% em relação ao mesmo período de 2016 .

Gráfico 3 – Ranking de Movimentação dos Portos Orgnizados

Fonte: Site Web Portos (2017)

Ainda segundo dados do Web Portos, a participação do porto de Santos no período de

janeiro a março de 2016 foi de 28,84% e no período de janeiro a março de 2017, foi de 28,53%,

de acordo com Gráfico 4 abaixo.

Gráfico 4 – Representação da Movimentação Total Importação-Exportação

Fonte: Site Web Portos (2017)

O agronegócio tem papel fundamental na balança comercial brasileira, segundo dados

da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em 2016, as exportações do

agronegócio brasileiro totalizaram US$ 85,0 bilhões, com declínio de 3,7% em relação aos US$

88,2 bilhões comercializados no ano anterior e o saldo do comércio exterior do agronegócio

ficou positivo em US$ 71,3 bilhões, 5% inferior ao registrado em 2015. O saldo total da Balança

Comercial brasileira fechou o ano com superávit de US$ 48,0 bilhões, melhor resultado

registrado desde o início da série histórica, iniciada em 1980.

O café, que já foi o agronegócio com maior expressão para a economia brasileira,

atualmente representa apenas 6,4% da receita total das exportações, o que o coloca em quinto

lugar no ranking das receitas cambiais obtidas com o mesmo em 2016, as quais totalizaram US$

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5,47 bilhões. O Brasil exporta café para cerca de 130 países, sendo que os 10 maiores

respondem por 73% dos embarques. Os principais destinos foram Estados Unidos, Alemanha,

Itália, Japão e Bélgica. As exportações brasileiras de café, alcançaram 31,97 milhões de sacas

de 60 kg em 2016, volume 8,28% inferior ao negociado em 2015. (MAPA, 2017).

De acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos

(APEX-BRASIL), na Figura 3, pode-se constata que atualmente o Brasil possui 7 países

(México, Chile, Paraguai, Cuba, Reino Unido, Alemanha e Japão) considerados em

“Manutenção”, o que significa que o produto, café cru, se encontra em posição confortável em

relação aos seus principais concorrentes e devemos manter a estratégia de atuação do mercado

já conquistado. Nos mercados da China e Canadá ainda estamos em posição de “Consolidação”,

ou seja, são mercados nos quais estamos crescendo num ritmo próximo ou superior ao dos

nossos concorrentes (mercado com potencial de crescimento nas exportações), ou onde o nosso

crescimento ainda é inferior ao crescimento do nosso principal concorrente, apesar de sermos

mais especializados na exportação do café que nosso principal concorrente. Temos ainda 14

países (EUA, Uruguai, Argentina, Austrália, África do Sul, Arábia Saudita, Turquia, França,

Egito, Rússia, dentre outros), classificados como em “Recuperação”, que são os mercados em

que o café vem reduzindo sua participação, ou que já estiveram consolidados mas vem perdendo

espaço, ano após ano para os seus principais concorrentes. Temos ainda a Índia, classificada

como em “Abertura” onde a participação do café nas suas importações é mínima e/ou não são

contínuas.

Figura 3– Mapa estratégico de mercados e oportunidades comerciais para as exportações brasileiras de café cru

Fonte: APEX-BRASIL (2017)

As exportações de todos os tipos de café através do Porto de Santos nos meses de janeiro

e fevereiro de 2017 compreendem 87,3% dos embarques da commodity, correspondendo a mais

de 4 milhões de sacas embarcadas. Esse resultado supera em 2% o mesmo período do ano

anterior.

Com relação aos cafés diferenciados ou com algum tipo de certificação, dados da

Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) mostram que a produção

desses grãos especiais chegou a 5 milhões de sacas em 2015, das quais 80% são destinados à

exportação. As vendas ao exterior de cafés especiais representaram 32,7% do total de receitas

das exportações de café brasileiro, embora, em quantidade, os grãos especiais respondam por

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24,8% do volume. Para 2016, a expectativa é que a produção chegue a seis milhões de sacas (O

GLOBO, 2016).

Ainda de acordo com a reportagem do site O Globo (2016), o avanço no segmento é

resultado de um esforço iniciado em 2007, quando a BSCA passou a estimular o investimento

na produção de um café de maior qualidade, divulgando a existência da produção especial

iminente aos potenciais compradores internacionais. Os Estados Unidos são o nosso maior

importador de cafés especiais, e os maiores consumidores de café no mundo. A demanda por

um café de maior qualidade não é só externa. No mercado interno, o consumo também cresce.

Apenas 5% do café consumido no Brasil pertence à categoria especial, mas o avanço é de mais

de 10% ao ano, bem acima da expansão de 3% do consumo dos cafés tradicionais.

Conforme dados do relatório mensal de exportações do CECAFE (2017), de janeiro a

fevereiro de 2017, as exportações de cafés com qualidade superior ou algum tipo de certificado

de práticas sustentáveis corresponderam a 754.737 sacas, representando 14,8% do total de café

embarcado no período. A receita cambial dessa modalidade foi de US$ 160,6 milhões,

correspondendo a 17,8% do total gerado com os valores de exportação. O preço médio dos

cafés diferenciados foi de US$ 212,73, contra um preço médio de US$ 176,74 por saca de café

sem certificação orgânica.

Ainda segundo o mesmo relatório, os Estados Unidos foram o país que mais receberam

cafés diferenciados do Brasil no acumulado de janeiro a fevereiro, com 142.323 sacas

exportadas, sendo 19% do total de cafés com essa característica, Bélgica na segunda posição

com 15% (109.460 sacas), seguida por Alemanha com 13% (101.565 sacas), Itália com 11%

(86.780 sacas) e Japão com 11% (84.558 sacas), conforme pode-se verificar no Gráfico 5.

Gráfico 5: Principais Países Importadores de Café Diferenciado Brasileiro (JAN/FEV 17)

Fonte: Adaptado – CECAFE

142.323

109.460

101.565

86.780

84.558

0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000120.000140.000160.000

E.U.A.

Bélgica

Alemanha

Itália

Japão

Principais Países Importadores

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4 Considerações Finais

Cresce no Brasil o conceito de cafeicultura sustentável com padrões de certificação

exigidos no mercado internacional como: UTZ Certified, Rainforest Alliance, 4C, Fair Trade e

Orgânico.

A demanda por cafés orgânicos certificados, principalmente em países onde o consumo

de café é um forte hábito, como EUA e Europa Ocidental, tem crescido significativamente nos

últimos anos. Os consumidores cada vez mais valorizam boas práticas de produção, relações

éticas de trabalho e sistemas produtivos que não agridam o meio ambiente.

Considerando a crescente demanda mundial por produtos orgânicos, e avaliando a

posição de liderança que o Brasil ocupa na produção e exportação de café, podemos afirmar

que são extremamente positivas as perspectivas de crescimento do cultivo de café orgânico.

Para que isto se torne realidade, e o Brasil possa assumir seu lugar de liderança também

na produção e exportação do café orgânico, é fundamental haver uma conscientização do

potencial existente neste mercado, seguido de um programa de disseminação das técnicas de

cultivo orgânico, de obtenção das certificações que atestem o produto orgânico e de um

posicionamento do país no mercado internacional enaltecendo a nova filosofia do café

brasileiro.

Conforme mostram os números, o mercado de orgânicos está cada vez mais aquecido,

no Brasil no ano de 2015 atingimos o crescimento de 25% já no de 2016 o número passou de

30%, o avanço no mercado global foi de 5% a 11%. De acordo com Organic Montinor (2016),

o Brasil vem crescendo o dobro o consumo de alimentos orgânicos, seguindo essa tendência o

mercado movimentou o equivalente a R$350 bilhões no mundo e R$2,5 bilhões no país.

Levando em conta o crescente consumo, pode-se concluir que:

Para os grandes players - com o aumento da demanda e cada vez mais a

preocupação da sociedade com o bem estar e a saúde, é lucrativo a produção do

café orgânico mesmo com as barreiras de entrada e alto custo no primeiro ano

do plantio.

Para os pequenos players, com a certificação em grupo vale a pena atingir essa

área que ainda não foi bem explorada, competividade é mais baixa e o lucro é

30% maior, já no café convencional existe uma vasta concorrência e lucro

menor.

A preocupação com a saúde no mundo é cada vez mais constante. Com isso, a busca por

produtos orgânicos passa a ocupar um destaque cada vez maior. O café, bebida estimulante e

de consumo mundial, com suas melhorias em termo de torná-lo mais natural e saudável, recebe

um upgrade e uma maior importância. O Brasil, como maior produtor, não pode perder essa

oportunidade de agregar valor ao seu centenário e consagrado produto.

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