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Bauru, 22 de junho de 2012 3º termo - Jornalismo/FAAC - Unesp Jornais experimentais trazem o clima das redações para a Universidade Nada é fácil na produção do jornal Extra, feita em várias etapas Muitas editorias e um só fazer jornalísco: caracteríscas do Extra Lucas Leite/ Extra Seja na editoria de cultura, es- portes ou política. Seja no jornal impresso, na televisão ou no rá- dio. O fazer jornalístico é sempre o mesmo, independentemente do tema, do veículo e da divulga- ção. O professor de Jornalismo da Unesp de Bauru, Angelo Sotto- via Aranha, afirma que a essência do jornalismo é uma só: “a cap- tação de informações a partir da escolha de fontes qualificadas e a transmissão dessas informações”. Se o fazer jornalístico se apoia sempre nas mesmas bases, por que não trazer essas experiências para a sala de aula? É ai que entra um jornal experimental como o Ex- tra, idealizado e aplicado por An- gelo desde 2000. “Criei o projeto porque eu era editor de um jornal O recado foi mandado pelo Face- book às 10 da manhã do dia 1º de junho. Era dia da reunião de pauta. Ele já havia dado mancada antes, atrasando muito a deadline da ma- téria na semana passada. O colega de grupo já não estava muito cal- mo. “Entrega matérias dias depois da deadline e não vem na reunião de pauta. Aí alguém te deita na paulada e você fica reclamando”. Essa situação não é rara no Extra, jornal-laboratório da disciplina Jornalismo Impresso I da Unesp de Bauru. A proposta é fazer um jornal-mural a ser veiculado nas dependências da universidade. Uma aula para a reunião de pauta e outra para a diagramação, em cujo final um projeto é mandado para a gráfica do Centrinho da USP. O fazer do Extra é semelhante ao de um jornal impresso. A discussão e a definição das pautas é seguida Aprendizado Extra Antes dos Murais Lucas César Ramos e pedia para as universidades man- darem jornalistas recém-formados pra lá, e eles chegavam sem saber como fazer nada. Eu percebi que as escolas não estavam formando os alunos adequadamente, e isso foi o que me estimulou a fazer mestrado, doutorado e vir pra cá”. Depois de várias tentativas de in- de entrevistas, obtenção de fotos, transcrição, produção das matérias e diagramação. O processo exige uma divisão de tarefas muito bem feita e eficiente. E como o trabalho é em grupo, cada um deve ter a res- ponsabilidade de não prejudicar a nota e o aproveitamento coletivos. Fábio de Santana Barreto, aluno da disciplina no período diurno, ressalta as dificuldades que con- sidera mais importantes no traba- lho que envolve o jornal Extra: “Creio que encontrar fontes é um dos maiores percalços, mas tudo depende do tema. Uma dificulda- de também é o trabalho em grupo por si só. A periodicidade, as dis- cussões sobre pauta, a diagrama- ção e as deadlines podem gerar conflitos no trabalho coletivo.”. O ofício de diagramar o jornal é o mais difícil para os alunos redatores do Extra. Para dispor as caixas de texto, os títulos, a linha fina, as legendas e as fotos cluir um jornal experimental na Unesp, Angelo chegou ao modelo atual do Extra, que, para ele, “é um exercício de jornalismo completo, porque os alunos começam só com a pauta e chegam a um produto final, expondo o trabalho e dando a cara a tapas”. Ele ainda ressalta que o fato de o projeto ser experimental pos- harmonicamente na folha A3 que é anexada aos murais da faculda- de, é necessário pleno domínio do programa InDesign e das téc- nicas e conceitos de diagrama- ção, que definem como o leitor melhor assimila e compreende as informações contidas no papel. sibilita o aprendizado por meio do erro, porque o aluno pode “fazer, er- rar e depois perceber por que e onde errou, e assim ele não esquece mais”. Quem concorda com Angelo é o repórter Franklin Catan, do Diário da Região, grande jornal de São José do Rio Preto. Ele afirma que a grande vantagem do jornal univer- sitário é que “os professores corri- gem os textos e nos informam onde podemos melhorar”. Além disso, Franklin ressalta a importância das experiências durante a produção do jornal: “Quando você sai para a rua, podem acontecer imprevis- tos, como o entrevistado furar ou você não encontrar personagens”. Ensinar os futuros jornalistas a lidar com as adversidades da pro- fissão é o principal intuito do Ex- tra, produzido pelos estudantes do 3º termo de jornalismo da Unesp de Bauru há mais de dez anos. Para Solon Neto, aluno da disci- plina, diagramar é difícil, mas o do- mínio é adquirido com muita prá- tica. “Diagramar é difícil de cara, mas você se acostuma. É muito mais fácil pra quem ja tem conhe- cimento prévio em Photoshop”. Lucas Leite Leonardo Zacarin Além de fazer as matérias, são os próprios alunos que diagramam as edições Lucas Leite/ Extra

Extra #4 - Sobre o Extra

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Quarta edição do jornal produzido por alunos do 3º termo de Jornalismo da Unesp de Bauru.

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Page 1: Extra #4 - Sobre o Extra

Bauru, 22 de junho de 2012 3º termo - Jornalismo/FAAC - Unesp

Jornais experimentais trazem o clima das redações para a Universidade

Nada é fácil na produção do jornal Extra, feita em várias etapas

Muitas editorias e um só fazer jornalístico: características do Extra

Lucas Leite/ Extra

Seja na editoria de cultura, es-portes ou política. Seja no jornal impresso, na televisão ou no rá-dio. O fazer jornalístico é sempre o mesmo, independentemente do tema, do veículo e da divulga-ção. O professor de Jornalismo da Unesp de Bauru, Angelo Sotto-via Aranha, afirma que a essência do jornalismo é uma só: “a cap-tação de informações a partir da escolha de fontes qualificadas e a transmissão dessas informações”.

Se o fazer jornalístico se apoia sempre nas mesmas bases, por que não trazer essas experiências para a sala de aula? É ai que entra um jornal experimental como o Ex-tra, idealizado e aplicado por An-gelo desde 2000. “Criei o projeto porque eu era editor de um jornal

O recado foi mandado pelo Face-

book às 10 da manhã do dia 1º de junho. Era dia da reunião de pauta. Ele já havia dado mancada antes, atrasando muito a deadline da ma-téria na semana passada. O colega de grupo já não estava muito cal-mo. “Entrega matérias dias depois da deadline e não vem na reunião de pauta. Aí alguém te deita na paulada e você fica reclamando”.

Essa situação não é rara no Extra, jornal-laboratório da disciplina Jornalismo Impresso I da Unesp de Bauru. A proposta é fazer um jornal-mural a ser veiculado nas dependências da universidade. Uma aula para a reunião de pauta e outra para a diagramação, em cujo final um projeto é mandado para a gráfica do Centrinho da USP.

O fazer do Extra é semelhante ao de um jornal impresso. A discussão e a definição das pautas é seguida

As várias faces do ExtraAprendizado Extra

Antes dos MuraisLucas César Ramos

e pedia para as universidades man-darem jornalistas recém-formados pra lá, e eles chegavam sem saber como fazer nada. Eu percebi que as escolas não estavam formando os alunos adequadamente, e isso foi o que me estimulou a fazer mestrado, doutorado e vir pra cá”.

Depois de várias tentativas de in-

de entrevistas, obtenção de fotos, transcrição, produção das matérias e diagramação. O processo exige uma divisão de tarefas muito bem feita e eficiente. E como o trabalho é em grupo, cada um deve ter a res-ponsabilidade de não prejudicar a nota e o aproveitamento coletivos.

Fábio de Santana Barreto, aluno da disciplina no período diurno, ressalta as dificuldades que con-sidera mais importantes no traba-lho que envolve o jornal Extra: “Creio que encontrar fontes é um dos maiores percalços, mas tudo depende do tema. Uma dificulda-de também é o trabalho em grupo por si só. A periodicidade, as dis-cussões sobre pauta, a diagrama-ção e as deadlines podem gerar conflitos no trabalho coletivo.”.

O ofício de diagramar o jornal é o mais difícil para os alunos redatores do Extra. Para dispor as caixas de texto, os títulos, a linha fina, as legendas e as fotos

cluir um jornal experimental na Unesp, Angelo chegou ao modelo atual do Extra, que, para ele, “é um exercício de jornalismo completo, porque os alunos começam só com a pauta e chegam a um produto final, expondo o trabalho e dando a cara a tapas”. Ele ainda ressalta que o fato de o projeto ser experimental pos-

harmonicamente na folha A3 que é anexada aos murais da faculda-de, é necessário pleno domínio do programa InDesign e das téc-nicas e conceitos de diagrama-ção, que definem como o leitor melhor assimila e compreende as informações contidas no papel.

sibilita o aprendizado por meio do erro, porque o aluno pode “fazer, er-rar e depois perceber por que e onde errou, e assim ele não esquece mais”.

Quem concorda com Angelo é o repórter Franklin Catan, do Diário da Região, grande jornal de São José do Rio Preto. Ele afirma que a grande vantagem do jornal univer-sitário é que “os professores corri-gem os textos e nos informam onde podemos melhorar”. Além disso, Franklin ressalta a importância das experiências durante a produção do jornal: “Quando você sai para a rua, podem acontecer imprevis-tos, como o entrevistado furar ou você não encontrar personagens”.

Ensinar os futuros jornalistas a lidar com as adversidades da pro-fissão é o principal intuito do Ex-tra, produzido pelos estudantes do 3º termo de jornalismo da Unesp de Bauru há mais de dez anos.

Para Solon Neto, aluno da disci-plina, diagramar é difícil, mas o do-mínio é adquirido com muita prá-tica. “Diagramar é difícil de cara, mas você se acostuma. É muito mais fácil pra quem ja tem conhe-cimento prévio em Photoshop”.

Lucas LeiteLeonardo Zacarin

Além de fazer as matérias, são os próprios alunos que diagramam as edições

Lucas Leite/ Extra

Page 2: Extra #4 - Sobre o Extra

EducaçãoDiagramação: Wagner Alves Jorn. Resp.: Angelo Sottovia MTB: 12870

Histórias do projeto contadas por quem faz e quem já fez o projeto

Ex-alunos do projeto destacam a importância do Extra na preparação para o mercado de trabalho

Professor Angelo corrige as edições com os alunos

Felipe Vaitsman/Extra

O projeto do Extra fez 12 anos e chegou à pré-adolescência. Cres-cimento acompanhado por aqueles que produzem o jornal. Ao todo, mais de mil pessoas escreveram, diagramaram, enfim, produziram as edições do Extra e agora con-tam suas experiências e desafios.

O estudante do último ano de jor-nalismo Pedro Zambon participou do projeto em 2010 e lembra que o maior desafio não é ser avaliado pelo professor, mas pelos colegas. Em exposição nos murais da fa-culdade, não raramente, apontam os erros. “Isso te faz querer fazer o extra não só pela nota ou por qual-quer outra coisa, e sim porque seu nome e sua credibilidade estão sen-do colocados à prova diante dos seus veteranos, que são muito mais cruéis nas correções que o pró-

É uma da manhã. Você come-ça a fazer contas para especular quantas horas conseguirá dormir. Já tem as entrevistas e todos os dados, mas o documento ainda está em branco. As ideias sim-plesmente não saem da cabeça e o despertador tocará imprete-rivelmente às sete. Não haverá desculpa. Aliás, suas contas per-deram o sentido. Você não dor-mirá. A insegurança já tomou conta. É a sua primeira matéria.

Já não tinha sido fácil encon-trar fontes, tomar “chá de ca-deira” e não sei quantas portas na cara. Agora você escreve e apaga vários textos diferentes, não consegue se encontrar, pre-cisa ser mais objetivo. Sua ca-beça é um turbilhão e o tempo não para de correr. Sinceramen-te, você não esperava passar por tudo isso depois de quatro

As várias faces do Extra

Da sala de aula para a redação

Wagner Alves

Felipe Vaitsman

prio professor”, brinca o estudante. Já na visão de Fernanda Luz, alu-

na do segundo ano e que participa atualmente do projeto, a produção do Extra é um conhecimento den-tro e fora das páginas do jornal. “Durante a primeira edição, a nos-sa editoria foi sobre economia e eu pude conhecer mais sobre Bauru, saber como e porque a cidade está organizada nessa maneira. Ou seja, tanta gente vivendo na classe baixa e que a maior parte da classe mé-dia é formada pelos estudantes”.

Fernanda ainda aponta a utiliza-ção de ferramentas de diagramação como uma das maiores dificulda-des e aprendizados no projeto. “Eu fui aprender a mexer no InDesign [programa utilizado para diagra-mação] sozinha, não tinha tido aula sobre como usar. Então, eu tive que fuçar para fazer o jornal”, conta.

Contudo, o Extra não é conheci-

anos estudando Jornalismo. En-tão confesse: está despreparado.

“Só na prática aprendemos a ser jornalistas”, reflete Danielle Nagase, formada em 2010 pela Unesp de Bauru. Para ela, fazer o Extra foi importante para “tor-nar tudo mais natural”. Hoje, trabalha na Editora Alto Astral

do apenas por aqueles que partici-pam ou paticiparam do projeto. A aluna do primeiro ano de jornalis-mo, Mariana Caires, que ainda não pôde participar do projeto, aguarda a sua oportunidade de tirar a teoria

e destaca que a prática adquirida com o jornal experimental aju-dou, entre outras coisas, a “per-der a vergonha de entrevistar e aprimorar o feeling jornalístico”.

Em outros casos, o maior apren-dizado é em relação à própria linguagem do jornal impres-so. “Acrescentou muito, porque

das salas de aula. “É sempre bom que o aluno tenha espaço para pro-duzir aquilo que aprende na sala. Para o aluno de jornalismo então, é inadmissível que ele saia do curso sem experiência prática”, enfatiza.

eu gosto de rádio e meu texto é, naturalmente, mais conden-sado. Com o Extra, pude ex-plorar mais minha escrita sem perder coesão”, conta Edgar Sa-raiva, jornalista da rádio 87 FM.

Há um protocolo a ser segui-do. “É preciso pensar no enfo-que, aonde se quer chegar, quais informações precisa colocar e com quem deve conversar”, ex-plica Danielle. O Extra antecipa esse processo, com a diferença de permitir ao aluno “errar sem ser demitido ou processado”, como brinca o professor Angelo.

Mesmo assim, a execução deve ser levada a sério. “O melhor do jornal é ser real: você fecha na sexta e na segunda está publica-da”, explica o professor. Ele aler-ta, ainda, sobre as barreiras que surgirão para o aluno que não aproveita a experiência. “Quando ele sair daqui e tiver insegurança, a dificuldade vai ser perceptível”.

Para Pedro Zambon, a avaliação dos colegas é pior que a do professor

Arquivo Pessoal