Extratos de

Comportamentos

Jaeder Wiler

Introdução.

Imagino-me no momento da história em os legisladores da época criaram aLei de Talião. Penso que o convício social não estava fácil. Penso também queexceção do nosso atual avanço tecnológico as coisas não eram muito diferentes.

Existiam famílias com certeza. Nasciam crianças e todos os habitantesdaquela época precisavam das mesmas coisas que precisamos hoje. Abrigo,alimentos, saúde e obviamente o que há de mais sublime na raça humana. Seusdesejos íntimos.

Sonhos de poder. Lazer. Desejos e fantasias sexuais. E uma capacidade deacumular valores sem igual.

Sim, acredito que como hoje os conflitos eram muitos. Nem me atrevo adizer se conheciam o significado da palavra paz ou trégua. Mas me atrevo a dizerque o modelo social escolhido era igual ao nosso, um modelo que retrata a próprianatureza. Sistema predador. Sobrevive o mais forte. Sem nenhuma ofensa a nossaraça, apenas exercendo a dádiva da lógica e da observação chegaremos a essaconclusão.

Extratos de comportamentos, meu sexto livro publicado não pretende julgare tão pouco apontar soluções para este nosso momento carente de uma lei deTalião.

Nele o leitor encontrará o que presenciei e senti morando numa grandecidade; retratados em prosa, poesias e pequenos contos.

Fala-se de amor, sentimento do nosso cotidiano, do ódio, medo e desejosque nos oprime e que também nos trazem momentos de felicidade inigualáveis.

Boa leitura.

Jaeder Wiler

3

Fora de série!

Descobri um grande amor.Nem sei dizer tudo o que ele é.Sei que é composto de tudo o que vejo e tocoe de tudo o que não vejo e não toco.

Sinto sua presença nas acrobacias das borboletas.Na brisa que me refresca.Na água que bebo.Na pedra que me serve de berço.

Com os olhos da ciência, descubro seu falso repouso.Descanso como ele; em alta velocidade.Vi registros de sua expansão exponencial.Imagem de uma caravana que troca de tripulantes a cada estação.

Sei que paixão não tem fim.Nem poderia: paixão é colisão,colisão é energiae energia gera energia.

Sem começo e nem fim,vivo como num trapézio.Frações de segundo para o toque mágico:toque que salva!

Salva e cria outra vida. Ação e reação.Luz, vapor, sólido, líquido, não importa.Importa que, combinados, gerem agregados:-Ondas de pura energia.

Energia contida nesta minha paixão,mesmo não vendo suas vibrações.Sequer sendo capaz de dimensionar seu potencial.

Sinto-as pulsando nos pulsos do meu coração.

Acho que fiquei completamente louco.Louco de paixão por essa maravilha fora de sériechamada energia...

Popularmente conhecida como Universo.

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Cachorros e suas virtudes

Tenho amigos que me deixam feliz.Dálmata é alegre e veio de distante país.Alemão é grande amigo e não tem nada de pastor.Conheço alguns de raças indefinidas.

Vivo em todos eles a pureza da alma.Companheiros, carinhosos e divertidos.Não tem um dia em que um deles não me toca.

Toca fundo. Lá nas profundezas da alma.Demonstram respeito. Cumprimentam-me sempre.Alguns fazem festa com a minha presença.

Ah! Raça canina, cheia de virtudes.Uma das maiores é a fidelidade. A outra, pureza de espírito.

Penso que alguns humanóides gostariam de ser assim:puros de espírito.Porém nem tudo é perfeitoInfelizmente, alguns homens, ao contrário dos caninos.Jamais o conseguirão...

Não os culpo. Afinal, ao contrário dos cães,eles interpretam mal a finalidade do dinheiro.

5

A despedida do sábio.

No riacho, água cristalina.Às suas margens, pássaros e borboletas singrando o vento.Som doce e sereno. Harmonia entre o céu e a terra.Ali nascia o sonho de menino.

Serei sábio. Um grande sábio.O sol era quente, assim como sua crença.Serei sábio. Saberei dos mistérios do mundo.Servirei ao rei Artur, como fez o grande Merlim.

Serei o sábio dos sábios.O tempo implacável o fez homem entre os homens.Seu riacho virou rio, e a água não era mais cristalina.Seu sonho viajou com as borboletaspelas correntes de vento...

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Acaso II.

Era da globalização. Uniforme do universo.

Noite gelada. Garoa fina e o vento uivando como os lobos.

Luzes de prédios e casas fechados e fortemente guardados.

Guaritas com cães ferozes e bem adestrados.

Descendo ladeira abaixo (assim como a minha vida),

Encontro uma senhora. Abaixada perto de um amontoado de lixo.

Era da globalização. Coletores em ação...

Difícil descobrir seu rosto: coberto por um manto de trapos de roupas.

Ela sorri. Sorriso meigo.

Pergunto. Qual é o seu nome?

Com delicadeza responde:

Tenho nome de flor: ora representa paixão, ora representa amor...

Era da globalização. Amor! Sentimento que resiste.

Onde está sua família? Não sei.

Onde estão os seus? Doce dúvida em seus olhos calmos.

Era da globalização. Raizes da solidariedade que insiste e resiste.

Dialética em ação:

- Como se dobram essas embalagens de pizza?

Ensina-me com ternura. Apanho uma a uma.

Ela vai colocando no saco de coletor.

Latas aqui. Vidros ali. Papéis aqui.

7

Oba! Um grito de alegria.

Achei uma velha frigideira.

Era da globalização; a felicidade resiste.

Vem o guarda! Vocês estão atrapalhando a calçada.

Procuro os pedestres. Vejo fantasmas...

Juntos, tiramos a pesada carroça da frente do condomínio.

Atravessamos a rua. Estacionamos a pesada carga no lado oposto.

Voltamos para buscar as sobras.

Era da globalização. Carros em alta velocidade quase nos atropelam.

Ela sorri serena e diz estar acostumada.

Pergunto quanto ganhará com aquela imensa carga.

Senhor; a cinco quilômetros daqui, receberei uma grande recompensa:

Quatro moedas vigentes deste país colossal.

8

Algo me chama!

Preso à luz do computador,viajando pelo tempo de grandes homens,mestres que decifram os segredos do universo,vejo a luta para responder a pergunta de séculos:

- Como era e de que maneira foi feito o primeiro tijolo?

Arquitetos com cérebros que jamais pensei existir.Soma de gênios que geram gênios.Século após século: insistem, persistem e avançam.Meus neurônios não acompanham seus passos largos.Entristeço-me...

Incapaz de absorver tanto conhecimento.Esforço-me. Noite após noite leio seus legados.Embora longe de chegar onde chegaram,sei que estou na mesma trilha.

Isto diminui a tristeza. Esboço um tímido sorriso.Um pequeno som do lado de foratira-me da ilusão da ciência.Afasto-me do computador e caminho através da onda sonora.

Chego ao quintal.Vibrações mágicas de um pássaro que se esconde.Pego água e rego as plantas.Sinto-me um jardineiro.

Olho para o céu azul e fico feliz.Feliz porque a vida continua, cheia de mistérios para desvendar...

9

Andorinha.

Todos haviam partido.Fiquei só, olhando à minha volta.As laterais da quadra inseridas numa imensa floresta.Perto da arquibancada, um buraco no barranco de terra desnuda.

Andorinhas singravam os céus.Uma delas, num vôo rasante, entra no pequeno buraco.Como um gato, escalei o perigo.Enfiei todo o meu antebraço direito até sentir suas penas macias.Calor e aconchego. Era seu ninho.

Fechei minha mão suavemente, aprisionando seu excitado coração.Instantes de dor e de paixão.Refleti!Eu querendo-a para mim.Ela querendo a liberdade.

Paradoxo. Ela, meiga e carinhosa. Eu, o mais temível dos predadores.Não ia dar certo. Éramos de reinos diferentes...

Abri a mão e dei o impulso.Restou o céu azul da liberdade.

10

Borracheiro.

E aí, tudo em cima?E a família?Mais um filho. Mais um amor.Amigo, te admiro...

Quantos pneus você conserta para sustentar sua grande família?Você trabalha demais. Que horas os seus te ”vê” ?Até parece que nunca dorme.Quisera ter esta força. Este espírito forte.

O quê? Já é mestre de capoeira? Eu não passei do cordão verde.

Sinceridade: não sei como agüenta e administra seu pouco tempo.Gosto do respeito com que me trata, como cliente e amigo.Fiz recomendações suas. Lembra-se? O pessoal gostou.Como eu, ficaram fregueses...

Hoje é um dia triste. Fui à oficina para lhe pagar o habitual café.Todos falavam de uma missa especial. Você estava ausente há sete dias.Disseram-me que foi chamado para ensinar em outra dimensão.Sentirei saudades...

Se fosse eu o seu mestrecertamente o batizaria com o cordão branco da paze o seu nome de batismo seria “mestre Touro”.Pela sua força, pelo seu caráter incorruptível...

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Andarilho.

Morto? Não.

Vivo? Movimenta-se.

Respira? Sim.

Alimenta-se? Às vezes.

Dorme? Nunca.

Tem identidade? Várias.

Onde nasceu? Planeta Terra.

Continente? Uma parte em cada um.

Idioma? Dialeto próprio.

Perigoso? Depende.

Onde mora? Por aí.

Tem religião? Todas...

Tem família? Nos cinco continentes.

Quem? Primos, no mínimo.

Sabem da situação? Nem por pensamento.

Tem passagem pela polícia? Talvez...

Portador de alguma arma? Sim.

Qual? Sua imagem: roupas surradas e 1,80 m de altura.

Origem? “Made in Brazil”.

Há algum responsável por ele?

DEUS!

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Ano novo!

Bom dia, futuro. Bom dia, queridos semelhantes.Quem sou eu? Sou o presente.Vigoroso. Cheio de idéias e esperança.Esperança em você que está nascendo...

O passado, meu guia e meu amor,deu-me tudo de que precisava:afeto, alimento, segurança.Manteve-me vivo.

Quem diria: cinco décadas!Nunca pensei que viveria tanto.Devo aos meus parentes pré-históricos,tanto quanto ao passado-próximo.

Amor é a palavra-chave.Chave que me fez semente.Semente que gerou frutos.Assim como você fará, querido futuro.

Agora que sou passado, em retribuição ao que recebi,

desejo a você toda a felicidade do universo.

Futuro! Aproveite cada dia com alegria.

Amanhã, não esqueça que também será passado.

E num futuro próximo, será pré-história.

13

Atravessando tempestades.

Vejo crianças de todas as nacionalidades...

São ainda bebês - cheios de ingenuidade.

Nas florestas, fazem fogueiras.

Corro para apagar os incêndios.

Nas praias, se hipnotizam com as ondas.

Corro para que não morram afogadas.

No alto das montanhas, criam asas.

Corro para lhes ensinar que não são pássaros.

Na cidade, brincam de bandidos e mocinhos.

Vez ou outra as cenas são reais.

Como nas telas do cinema e da televisão, fazem suas guerras.

Tento lhes ensinar que não são soldados.

O tempo as torna grandes...

Como eu, mas ainda crianças.

Ai! Ajoelho-me e clamo a magia divina para que suas novasbrincadeiras,

não transformem a terra em pó

sem nenhuma forma de vida...

14

Será que isso é verdade?

Nossa guerra usará armamento de alta precisão

Como os cirurgiões, nossos caças extirparão o inimigo,

mesmo que os alvos estejam rodeados de inocentes.

Faremos todos os esforços para não ter baixas de civis.

Bum. Catabum. Mil bombas – bisturi.

Fumaças subiram aos céus.

Olhos de todas as cores ficaram cinzas e cegos.

Nada se via. Era a guerra da tecnologia.

Silêncio. Sem cornetas. A poeira baixou.

Morte! Morte por todos os lados.

Algo saiu errado! Os cálculos deveriam...

Imprevisto! Um criança, duas, três...

Velhos, mulheres...

Não chorem. Todos serão recompensados

Foi o preço da paz tão sonhada. Sonhada por quem?

Não foi ambição. Foi pelos inocentes

Perdoem-nos. A operação era inadiável

Faremos monumentos e medalhas

Lembraremos seus nomes

Não fomos tão precisos? Há inúmeras versões.

Tínhamos uma boa intenção?

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Procurando!

Quero muito um tesouro.Na verdade, preciso encontrá-lo com urgência.Caso de vida ou morte.Sem ele não como, durmo ou respiro.

Dizem que ele está numa cidade civilizadacheia de espaços desiguais.Procurei por muito tempo nos espaços maiores.Não encontrei.

Voltei-me para os espaços pequenos.Também não encontrei.Sou perseverante. Vou encontrá-lo.Esta cidade é um verdadeiro labirinto.

Não adianta carregar um novelo de linha.Não se trata de matar o lendário “Minotauro”.Marcando ou não nossos passos,nunca encontramos o caminho de volta.Tudo é novo, em cada esquina, em cada rosto.

Encolho-me e procuro em espaços comparáveis a uma banheira.Nada! Espaço vazio, ou já ocupado.Há espaços menores ainda, como os vasos dos banheiros públicos.Geralmente são os mais ocupados.

Tem muita gente procurando este tesouro,Mas eu vou encontrá-lo.

Afinal, sou e serei sempre um guerreiro!

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Que idade você tem?

Menino inteligente.Joga bola muito bem.Quando quer é carinhoso.Todos gostam de você.

Que idade você tem?

Sua mãe não pode jogar bola como você.Seu pai tem meio século.Pergunte-se: quem tem mais “lenha para queimar”?Seus avós, quanta energia reserva para continuar?

Que idade você tem?

Atenção ao seu redor.Sua idade, suas ações.Vídeo-game é o seu século.Amarelinha, o da sua mãe.

Que idade você tem?

Que idade seu amigo tem? Sua amiga? Sua professora?Quem viveu mais, quem viveu menos...Cada um deles pensa diferente.Menino, filho meu.Que idade as pessoas têm?

Preste atenção.Senão, toma cartão vermelho...

17

Quem é o gênio?

Há uma decoração sem decorador.São formas inimagináveis.Algumas espirais. Outras circulares.É possível saber todas as formas da infinita geometria.

Quem é o gênio?

Que me faz sonhar com tantas cores,o azul é mais intenso que o azul do meu pequeno céu.É imenso e infinitamente maior.Vejo amarelo de tantas tonalidades!

Vermelhos que não lembram sangue.Branco que nada tem a ver com a paz.Que cores são essas?Misturas que nunca vi.Parecem vivas.

Que gênio criou tudo isso?

Não preciso mais de óculos de sol.Olho para cima e vejo além...Vejo muitas cores e sei que não são todas.Apenas consigo identificar as básicas.

Gênio criador. Não o vejo?Mas quando descubro cada ambiente que criou.Meu coração dispara.Meu espírito agradece. Fico feliz.

Talvez nunca olhe em seus olhos.Talvez seus olhos não sejam como os meus,o que pouco importa.

Importa o que criou.Um salão de festas infinito. Com todos os pares.Bilhares de arranjos musicais. Boa bebida. Boa comida.Fartura para todas as necessidades.

E nesta fantástica dança sua presença é a alma e o núcleo.

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Quero uma mulher

Que não queira esconder a pele.Que goste de sua altura.Simples e complexa como a alma.A alma feminina.

Quero uma mulher.

Que não queira um Homem Colossal.Que não se ache uma Mulher Colossal.Quero uma mulher igual a outras.Outras que só querem ser o que são: mulheres...

Quero poder tocar seu doce ventre.Beijar suas mãos carinhosas.Esconder-me nos seus abraços.Admirar seu corpo até a delicadeza de seu pescoço.

Quero deitar-me com ela e sentir o calor.A excitação dos meus íons se atraindoora positivos, ora negativos.Transformados em toda a magia de um longo beijo.

19

Sagrada informação.

O vento sopra partículas invisíveis.Invisíveis hologramas com o resumo do universo.Conhecimento limitado a alguns entre todos e tudo o que o compõe.

O homem tem medo. Medo de compartilhar.O segredo da informação é a chave para subjugar semelhantes?Quem faria a argamassa para construir o prédio, se todos fossem

arquitetos e engenheiros.Por isso cria túneis de vento.

Para alguns, o sopro é vazio.Para outros, o doce sopro do conhecimento.

Quem sabe, quando eu não estiver mais aqui.Quem sabe?

Todas as mentes poderão navegar em direção ao conhecimento holístico.A capacidade está inserida no DNA de todos.Só falta permissão para desenvolvê-la...

20

Será sonho...

No estacionamento, um carro diferente.Popular, mas importado.O menor de todos: parecia de brinquedo.Motivo de chacotas.Terra, onde tudo tem que ser o maior.

Dia após dia, manobras pela vaga.Dia após dia, manobras para pagar a vaga.Vaga para o carro. Vaga para mim, em qualquer trabalho..

A prestação atrasada.Estaciono o quadro que pintei debaixo da placa de proibido.Vendo-o pela metade do preço.Tempo de se reinventar.Tempo de ser alegre para não reclamar nem chorar.

Na total escassez do alimento, um jeito esquisito.Limpar um estacionamento, separando recicláveis.Papelão, garrafas, plásticos e metais.Lixo que vira centavos.

Centavos que compram pão ou uma banana.Noite após noite. Dia após dia.Sob o olhar da crítica, a vergonha desaparece.

Cada um opina e comenta o que julga saber do outro.Lavadores que se divertem ao embalo da água e ao som das caixinhas.O dono com o barulho das teclas, que registram os carros que entram.O velho e sábio tapeceiro sorri.

Há uma dinâmica. Há alguma coisa no ar.O emprego nas eternas horas vagas;É o ex-publicitário, engenheiro e o ex –alguma - coisa.Todos viram artistas na arte de sobreviver...

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Genuína inteligência.

Civilização em dialética.Proposições e contraposições.A humanidade cresce.

O brilho é o mesmo.Luz em tom maior por cima das nossas cabeças.Brilhando por toda a Via Láctea.

Símbolo da genuína inteligência.

Há milhões de bilhões de anos.Quem sabe! Quem viu?Não importa. Importa sua participação na vida.

Dependemos de seu calor.Seu coração nos aquece.Seu fogo nos alimenta.

A esfera símbolo da sabedoria.Símbolo da genuína inteligência.Deus de muitas civilizações.

Criado pelo único criador.

Brilho transcendente...

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Vi algumas de suas faces!

O sol brindava o mar e as florestas.Todos os seres viventes recebiam seu calor.Dia comum. Dia de trabalho.

Fuso horário do sol da meia noite.Quem saiu da produção noturna, dorme.Aqueles que sonhavam, acordam e bate o cartão de ponto.

E os astros determinam a sua dança individual.Girando em volta de si. Refletindo a luz que recebem.Dança do universo. Magnitude de uma força poderosa.Imbatível e invisível a olho nu.

Mas eu vi.Na dança das borboletas.Na corrida de uma gazela.No bote de um leão.

Eu vi!

Nas cascatas em que me banhei.Nos rios em que nadei.Nas pedras que me sustentaram.

Vi com a consciência que esta força invisível existee age a cada segundo.Na dança dos átomos que compõem o nosso corpo.

Na força de uma semente que rompe a terrae se transforma numa frondosa árvore.

Eu vi...

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Caminhada

O entardecer cala o rugir da metrópole.Há leões por todos os lados.Nenhum rugido. Todos estão quietos,furtivos como felinos que são.Alguns dormem. Talvez...

É fácil ver seus filhotes brincando ao redor de suas tocas.Em volta, leoas pajeando sob as leis da segurança.Aparentemente estão bem alimentadas...Outros animais não se atrevem a visitar esta cidade.

Preferem à selva virgem,onde os inimigos são catalogados e identificados.Aqui há leões na pele de ovelhas.Cobras imitando cordas de segurança,hienas como cães amigos.Ah! Esta metrópole é cheia de surpresas.

É domingo. Um rugido no ar.Forte e estridente. Uma criança chora.Um leão acorda.Mais uma ovelha se foi...

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Seu nome poderia ser...

Seus cabelos simbolizando os raios do sol.Olhos de pedras preciosas.Pedras que perpetuam o verde claro composto pelas folhas.

Maria.

Pele clara, simbolizando frutas que vieram do velho continente.Corpo que substitui o mapa dos formosos rios.Voz de uma criança que pretende chegar ao topo do mundo.

Aparecida.

Que zela de cada cantinho de sua casa.Que não se esquece da planta da felicidade.Capaz de transformar sementes em alimentos.

Carmem.

Importante mulher. Importante pra mim,que tive a oportunidade de ser acolhido pelo seu amor.Queria Deus que eu não a tenha magoado.

Sandra.

Espírito misterioso da alma feminina.Toques sutis no vestuário.Mas na luta não esconde a face.

Ana.

Que com um pequeno pincel.Tubinhos de tinta e uma tela.Reproduz retratos das coisas mais belas criadas pela natureza.

Silvia.

Verbo de adulta. Coração de adulta. Corações de princesas e rainhas.

Mulheres que conheci e que não conheci. Vocês alimentam a vida em suaplenitude. Numa esfera que não se pode descrever, apenas sentir e apreciar.

Obrigado!

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Mulher rendeira...

É domingo. Faz sol. Muito!Ela nem chegou à janela.Ouço um barulho. Parece vassoura em ritmo acelerado.Há crianças brincando na rua.

Ouço sua máquina de lavar a todo vapor.O dia está azul. Lindo!Há barulhos de panelas.Água corrente. Talvez da torneira da cozinha.

Vejo crianças soltando pipa. Maravilhosamente coloridas.Olho em todas as janelas. Ela não aparece.Talvez esteja arrumando os quartos.O que posso fazer?

Pego umas flores no campo.Coloco em sua porta com afetoE saio cantando “Olê mulher rendeira...”Como registro de minha admiração...

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Compras de Natal

Todo ano acabo ficando cheio de dívidas.É uma época do ano em que o coração é a carteira.Presentes e mais presentes.São sobrinhos, pais, avós e uma legião de amigos...

Sem contar, é claro, com aqueles presentes para manter os laços sociais.

Neste ano, tomei uma decisão, acredito que incompreensível: fizum convite ao maior aliado do Papai Noel.Marcamos um encontro num bar, sob o pretexto de tomar um chope.

A princípio, não acreditei que viria.

Inesperadamente, ele não só compareceu, como chegou primeiro.

Não fiquei surpreso quando percebi que ela já havia feito o pedido.Antecipando os meus desejos, recheou nossa mesa com guloseimas;Queijos e azeitonas, batatas fritas, pastéis, bolinho de bacalhau e...

Pensei: ”Ele é exatamente como imaginei. Ansioso, guloso, egoísta,individualista e muito vaidoso”. Aquele era o Senhor Estômago: íntimo de PapaiNoel. Amigo indispensável: sem ele, o bom velhinho teria menos trabalho e talvezaté caísse no esquecimento.

Sentei e pedi um chope! O primeiro gole desceu como se uma lâmina denavalha cortasse minha garganta. O assunto seria difícil. Havia me preparado,mas naquele momento, vendo a gigantesca figura de Sua Excelência, oEstômago, a nuvem do esquecimento cobriu minha cabeça, seguida de um friona espinha.

Criei coragem e mandei a primeira fala:- Vossa Excelência me perdoe, mas o senhor é um ditador: estou cansado

da sua interferência nos valores da minha família.

- Ficou louco! Quem lhe deu o direito... Isto é uma ameaça? - perguntou ele.

- Sim. - respondi com firmeza e mandei o segundo protesto:

- Queremos o direito de escolha!

No Natal que passou; o senhor induziu minha filha a trocar o carro, de apenasdois anos de uso, por um zero. Atitude que influenciou meu filho e minha mulher.

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Também não resisti e fiz a troca. E todos nossos automóveis que não tinham maisque três anos de uso foram trocados.

Sua excelência tem consciência de quantas noites passei sem dormir parapagar as prestações?

Voltando um pouco mais no tempo: o senhor sutilmente convenceu osmembros da família que nossa casa precisava de um reforma. Total, é claro.Quebraram-se pisos, paredes. Trocamos as fiações, móveis, lustres e até a cama.Sabe quanto custou tudo isso? Havíamos conquistados as chaves da nossa casatotalmente decorada, com o melhor da época, há pouco mais de quatro anos. Eranecessária esta re-decoração?

E em outros natais passados, também aconteceram absurdos como pintartoda a casa porque a cor da moda era vermelha, amarela e sabe-se lá que outrascores...

E o Natal em que vendi ações para comprar aquela jóia que pertenceu àcondessa de não sei o quê para minha esposa não enlouquecer.

É melhor parar. Se continuar recordando, vou pedir uma tequila.

E os aparelhos de telecomunicações, vídeos, celulares, eletrodomésticos...Presentes que duram cada vez menos. Meus filhos ficam enlouquecidos, comprampelo computador ou pelo correio. Querem receber o mais rápido possível. Nemmesmo querem ir as lojas nestes casos.

Modelos atualizados dia a dia provocam uma corrida frenética semvencedores.

Vossa Excelência não acha que estimula exageradamente nossosdesejos?

Tá bom, Excelência. Já entendi: não responderá nenhuma das minhasperguntas. Acha que estou delirando. Talvez bêbado! Apesar de ter tomado umúnico chope e comido apenas um bolinho de bacalhau.

Não tem importância. Ficou claro para mim qual é a sua função social nomomento em que me sentei a esta mesa farta. Sua ansiedade. Sua fome de sólidose abstratos. Sua boca de hipopótamo. É a razão da sua existência. Claro quesegundo sua ideologia, que respeito muito.

Mas neste Natal vou ser do contra. Serei o maestro da minha festa. Pedireiao Papai Noel “somente o necessário, porque o extraordinário é demais para mim“.

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Quero à mesa apenas o suficiente para que minha família coma e beba,acompanhados de uma bela música.

Deixarei o espírito fluir com o elixir dos deuses e reger meus cinco sentidosna direção natural do amor, único ingrediente que não pode faltar nesta data.

E nenhum membro da família poderá comprar presentes de valor superiorao saldo da conta corrente de cada um.

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Doido

Mar revolto. Furioso.Sozinho em meu pequeno barco,remando com meus braçosna velocidade dos meus pensamentos,no sopro dos ventos a direção...

Imagino um mundo melhor neste dia piorSua presença inserida na saudadeO vento sopra forte e aumenta minha luta pela minha vida –vivida.Quero naufragar.Esta tempestade não é suficiente para meu coração guerreiro.

A noite vem como o furacãoDe manhã os pássaros e uma praia mansaEstou atordoado e com um olhar sobrenaturalPoderia armar uma choupana debaixo dos coqueiros

Esperar você e começar tudo de novoMas só de pensar fico tremendoO medo é grande.Depende de uma entrega total. Ato de loucuraBasta imaginar para ficar doido.

E essa experiência vivida, ao contrário do furacão, não passa.

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Eles se foram...

Tenho inteligência.Fé, amor e consciência.Estrutura para guerrear.Diplomacia para a paz.

Conheço algumas culturas.Raizes de vários continentes.Armados segundo cada meio ambiente.Somos irmãos, apesar das distâncias.

Somos herdeiros.Herdeiros de uma terra fértil.Onde há tudo que precisamos...Guerras existiram, sempre!

Ninguém sabe quem começou.Somos simples predadores, talvez.Como toda a natureza.

Humanos – um toque sutil da expressão individual.

Quem pode explicar?A natureza mais complexa. A natureza humana.Julgando inferiores outros animais, classificados como irracionais...

Hoje é dia dos mortos.Mortos que estão vivos.Morando em nossos comportamentos e valores.

Eles: soldados e generais de muitas guerras.Guerras culturais que herdamos:

Estamos vivos por suas ações. Tataravôs e bisavós, avós foram vitoriosos.

Ações difíceis de julgar. Delas surgimos...

O que podemos fazer é simples:

avançar os acertos e em cerimônia agradecer...

Obrigado, guerreiros, e que Deus os tenha!

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Engano anunciado!

Preciso ir à cidade.Preciso procurar trabalho.Olho para o céu todo nublado.O frio é aparente.

Coloco uma roupa quente,mas sei que tudo isso é para enganar a gente.Daqui a pouco as nuvens se dissipam.O sol arderá no meu corpo blindado para o inverno.

Vejo na telinha: “ índice de desemprego é o menor...”

Tempo, você não me engana...

32

Era uma Sexta - Feira.

Havia olhares. Olhares que não tinham cores.Mas ele trabalhava. Trabalhava como doido.Não parava no carnaval e em nenhum feriado.Mas a sexta-feira, sim. Esta era esperada...

No café da manhã, a esperança.Esperança de deixar o suor e soltar-se na poesia da noite.O dia passava; a vigilância também.Eram olhares encomendados.

O almoço esquecido. O suor aumentado.Pressa para voar. Voar como os pássaros.Só com a brisa. Cheio de amor.Olhar e viver a vida de todos os ângulos.

Sexta-feira: o dia internacional da cerveja...

Pelo fio que entrelaça os satélites, ouviu a sua cara - metade.Ela também esperava ansiosa.

Sexta-feira – o dia, a data especial.

Nos fios de toda a cidade, os olhos dos satélites.Havia um cerco. Nem notavam.

De mãos dadas mergulharam no oceano da sexta-feira.Alegria e festa. Outros vieram. Sonho coletivo.Cercados e encurralados. Não perceberam.

Acordaram no túmulo fora do cemitério.

33

Esperança

Pode ser covardia.

O materialismo me assusta.Tanta ciência e tanta tecnologia.Sementes de todos os seres vivos sendo manipuladas.

Manuseadas como antigos enxertos de mexericas.Animais mudando de sexo com o toque do bisturi.

Pode ser covardia.

Explica-se tudo; quase tudo.

A eletricidade das células.A dança ionizada dos átomos num salão chamado molécula.Fico apavorado com tanto conhecimento.

Pode ser covardia.

Enfrentar o conceito de ser homem.Reinar no trono da cadeia das espécies.Ter consciência da responsabilidade.Pensar em administrar toda a terra.

Pode ser covardia.

Covardia acreditar que existe uma ordem divinaPara dividir o peso de tanta responsabilidade

e que essa ordem não deixará a casa cair

quando, mesmo querendo acertar, errarmos,

atraindo a fúria dos átomos, hoje já divisíveis...

34

Estrela de Maria!

Maria ainda menina.Cheia de vida. Inquieta e curiosa.No meio das árvores, como sagüis!No campo, saltitante como potro selvagem.

Maria não parava. Queria conhecer o mundo.Queria ser ouvida. Afeto e amor nunca lhe bastavam.Um dia, na relva colorida deitou-se.Com os olhos no céu, fixou-se numa estrela.

Pediu um príncipe encantado.Castelo e mordomias.Queria tudo e muito mais.Pediu para seus pais.

Pediu o amor incondicional de sua mãe.Queria ser amada e paparicada.Então expressou seu mais ousado desejo:“Quero alcançar sua luz estelar com minhas mãos.”

O brilho da estrela aumentou.Veio uma luz do alto em direção a sua mão.Maria esticou o braço o mais que pôde.E num instante mágico sentiu o calor da estrela.

Era algo tão forte que ficou extasiada.Sensação que nunca imaginou existir.Maria não agüentou e desmaiou.

Acordou nos braços de sua mãe.

35

Uma estrela se apagou...

No reino das estrelas havia uma ordem.

Algumas, pelo tempo de sua existência, brilhavam menos.

Outras, ainda com o fogo da juventude, brigavam por um brilho maior.

No reino das estrelas havia um manual.

As novas, para se mostrarem capazes, tinham de resistir a uma grande

explosão.

Tinham, também, de adquirir uma forma que não invadisse o espaço das

outras.

No reino das estrelas havia juízes.

Analisavam forma e intensidade dos átomos.

Massa atômica em demasia não se permitia.

Somente aos mais antigos e de maior brilho era permitida esta regalia.

No reino das estrelas havia mortes.

Ninguém chorava – apenas congelavam os corpos sem brilho.

Os átomos congelados voltavam ao estado de completo repouso.

Átomos vinham e iam para a eternidade.

Neste reino apareceu uma estrela.

Seu DNA era composto de átomos nunca classificados.

Seus elétrons estavam em perfeita harmonia.

Nem mais positivos e nem menos negativos – completos.

No reino das estrelas, um estranho.

Quem era ele? Como poderia estar calmo?

O universo estava à beira de uma implosão.

Não se ligava. Não se abatia. Repousava.

36

No reino das estrelas, um veredicto.

Cortem sua fonte de energia: A luz não se apagou.

Cortem seu alimento: Seu corpo não definhou.

Fechem o oxigênio – seu coração não parou de bater.

No reino das estrelas havia reciclagem.

Ele tentou; leu todos os manuais.

Aprendeu a etiqueta e a história.

Viu-se num espelho.

Acordou no sistema.

No reino das estrelas – “ciência não tem bondade”.

Classificado como inútil. Insociável.

Sem altruísmo. Egoísta e incapaz de amar.

No reino das estrelas precisa-se de alvará.

Viverá sem seu espaço para moradia

Sem cidadania.

Sem trabalho.

Sem comunicação.

No reino das estrelas uma estrela se apagou...

continua