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HL 227 – TEORIA DA LITERATURA II - PROF. LUÍS - 2016 Antologia 3 Ezra Pound Tradução de Augusto de Campos In a station of the metro The apparition of these faces in the crowd: Petals on a wet, black bough. Numa estação de metro A visão destas faces dentre a turba: Pétalas num ramo úmido, escuro T. S. Eliot traduzido por Ivan Junqueira A canção de Amor de J. Alfred Prufrock S’io credesse che mia risposta fosse A persona che mai tornasse al mondo, Questa fiamma staria senza piu scosse. Ma perciocche giammai di questo fondo Non torno vivo alcun, s’i’odo il vero, Senza tema d’infamia ti rispondo. Sigamos então, tu e eu, Enquanto o poente no céu se estende Como um paciente anestesiado sobre a mesa; Sigamos por certas ruas quase ermas, Através dos sussurrantes refúgios De noites indormidas em hotéis baratos, Ao lado de botequins onde a serragem Se mistura às conchas das ostras: Ruas que se alongam como um tedioso argumento Cujo insidioso intento É atrair-te a uma angustiante questão... Oh, não perguntes: “Qual?” Sigamos a cumprir nossa visita. No saguão as mulheres vêm e vão A falar de Miguel Ângelo A fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas, A fumaça amarela que na vidraça seu focinho esfrega E cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculo Pousou sobre as poças aninhadas na sarjeta, Deixou cair sobre seu dorso a fuligem das chaminés Deslizou furtiva no terraço, um repentino salto alçou

Ezra Pound (tradução de Augusto de Campos) · HL 227 – TEORIA DA LITERATURA II - PROF. LUÍS - 2016 Antologia 3 Ezra Pound Tradução de Augusto de Campos In a station of the

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HL 227 – TEORIA DA LITERATURA II - PROF. LUÍS - 2016Antologia 3

Ezra Pound Tradução de Augusto de Campos

In a station of the metro

The apparition of these faces in the crowd:Petals on a wet, black bough.

Numa estação de metro

A visão destas faces dentre a turba:Pétalas num ramo úmido, escuro

T. S. Eliot traduzido por Ivan Junqueira

A canção de Amor de J. Alfred Prufrock

S’io credesse che mia risposta fosse

A persona che mai tornasse al mondo,

Questa fiamma staria senza piu scosse.

Ma perciocche giammai di questo fondo

Non torno vivo alcun, s’i’odo il vero,

Senza tema d’infamia ti rispondo.

Sigamos então, tu e eu,Enquanto o poente no céu se estendeComo um paciente anestesiado sobre a mesa;Sigamos por certas ruas quase ermas,Através dos sussurrantes refúgiosDe noites indormidas em hotéis baratos,Ao lado de botequins onde a serragemSe mistura às conchas das ostras:Ruas que se alongam como um tedioso argumentoCujo insidioso intentoÉ atrair-te a uma angustiante questão...Oh, não perguntes: “Qual?”Sigamos a cumprir nossa visita.

No saguão as mulheres vêm e vãoA falar de Miguel Ângelo

A fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas,A fumaça amarela que na vidraça seu focinho esfregaE cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculoPousou sobre as poças aninhadas na sarjeta,Deixou cair sobre seu dorso a fuligem das chaminésDeslizou furtiva no terraço, um repentino salto alçou