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Faculdade Boa Viagem Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial Helga Fernandes de Andrade Pimentel Cultura organizacional e estilos de liderança: um estudo de caso em um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE Recife, 2016

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Faculdade Boa Viagem

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

Helga Fernandes de Andrade Pimentel

Cultura organizacional e estilos de liderança: um estudo de caso em um centro de

tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE

Recife, 2016

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FACULDADE BOA VIAGEM – DeVry Brasil

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

- MPGE -

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas

fontes, o acesso à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial -

MPGE do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da

Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

• Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e

indiretas);

• Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência,

restrita a consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;

• Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso,

o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob

chave ou custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as

condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.

Título da Dissertação: “Cultura organizacional e estilos de liderança: um estudo de

caso em um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-

PE”

Nome do(a) autor(a): Helga Fernandes de Andrade Pimentel

Data da Aprovação: 30 de Junho de 2016

Classificação conforme especificação acima:

Grau 1 ×

Grau 2 ×

Grau 3 ×

Recife, 30 de Junho de 2016

__________________________

Assinatura do(a) Autor(a)

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Helga Fernandes de Andrade Pimentel

Cultura organizacional e estilos de liderança: um estudo de caso em um centro de

tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão

Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração da Faculdade Boa Viagem, sob a orientação da

Profª Drª Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

Recife, 2016

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Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

P664c Pimentel, Helga Fernandes de Andrade.

Cultura organizacional e estilos de liderança: um estudo de

caso em um centro de tratamento para usuários de álcool e

outras drogas, no Recife-PE / Helga Fernandes de Andrade

Pimentel. – Recife : DeVry | UniFBV, 2017.

71 f. : il.

Orientador(a): Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

1. Cultura organizacional. 2. Liderança. 3. Centro de

tratamento. I. Título. DISS 658[17.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

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Dedico esta conquista ao meu esposo, Samuel

Júnior, companheiro de todas as horas e grande

incentivador, ao meu filho Lucas, meu amor

maior e a minha filha Isabella, que nasceu junto

com esta dissertação e veio completar nossas

vidas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao Senhor Deus por estar sempre ao meu lado, por ser a

rocha na qual me firmo todos os dias e de onde retiro minhas forças, pela família

maravilhosa que me deu, e principalmente, por manter sempre firme minha fé, essencial

para vencer todos os dias. Agradeço também a minha querida Mãezinha do Céu, que

caminha a meu lado todos os dias, me abençoando a cada passo que dou.

Ao meu esposo Samuel Júnior, companheiro, amigo e grande incentivador dos

meus projetos. Ao meu filho Lucas, pela paciência nos meus momentos de stress e a minha

filhota Isabella, que apesar de nascer junto com a dissertação, foi fundamental para me

trazer paciência e esperança e chegou para encher de amor, alegrar e completar nossa

família.

Aos meus pais, Júlio (in memoriam) e Aldecir, por nunca medirem esforços para

dar a mim e a meus irmãos a melhor educação, sempre nos incentivando e apoiando, e com

quem aprendi a ser ética em minhas atitudes e a dar sempre o meu melhor em qualquer

tarefa que desenvolva.

Aos meu irmãos e sobrinhos, que mesmo distantes, foram inspiradores nesta

conquista.

Agradecimento muito especial a minha orientadora Maria Auxiliadora, “Dorinha”,

uma rainha, de um coração enorme, cheia de graça e bondade, paciente, boa ouvinte,

incentivadora, querida e tantas outras qualidades que estas páginas não seriam suficientes

para descrever. Minha grande inspiração docente.

Aos meus queridos colegas do mestrado, que, para não ser injusta, não citarei nomes.

Meu muito obrigada pela paciência, pelos compartilhamentos de informações, pelos

conselhos e pela companhia maravilhosa de todos.

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“Deus, conceda-me serenidade para aceitas as

coisas que não posso modificar. Coragem para

modificar aquelas que posso e sabedoria para

reconhecer as diferenças. Vivendo um dia de

cada vez; aproveitando um momento de cada

vez; Aceitando as dificuldades como um

caminho para a paz; Tomando, como Jesus fez,

este mundo tal como ele é, e não como gostaria

que fosse; Confiando que o Senhor tornará tudo

correto se me entregar à Sua vontade, para que

que seja razoavelmente feliz nesta vida e

extremamente feliz com o Senhor, para sempre

no futuro.”

(Oração da Serenidade)

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RESUMO

O estudo sobre liderança, embora largamente discutido nos meios acadêmicos e gerenciais,

parece, ainda, menos explorado, quando abordado sobre a perspectiva cultural e diante de

comportamentos praticamente opostos, embora necessários. Esta dissertação tem como

finalidade investigar de que maneira a cultura organizacional pode contribuir para o

desempenho conjunto de cada um dos estilos de liderança, em um centro de tratamento para

usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE. Para a pesquisa, entendeu-se que a

abordagem qualitativa seria a mais adequada, em virtude da ênfase que se quis dar aos

relacionamentos entre os líderes e seus liderados; o método adotado foi o estudo de caso

único, que foi tratado de forma descritiva. Os dados foram coletados por meio da observação

direta participante e de alguns documentos; para a análise dos dados, utilizou-se a Análise de

Conteúdo (BARDIN, 2010). Em termos dos resultados, houve a descoberta de que a cultura

da organização, representada, sobretudo, pela sua missão, é fortemente compreendida,

internalizada e praticada por todos, indistintamente e é, ela mesma, que orienta as atitudes e

comportamentos, nessa instituição de tratamento. No que tange a liderança, ambos os líderes

aqui estudados são de suma importância para o bom funcionamento do tratamento terapêutico

do residente e do desenvolvimento administrativo da organização.

Palavras-chave: Cultura organizacional. Liderança. Centro de tratamento.

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ABSTRACT

The study of leadership, although widely discussed in academic and managerial means, it

seems, still less explored when approached about the cultural perspective and on virtually

opposite behaviors, although necessary. This thesis aims to investigate how organizational

culture can contribute to the performance of each set of leadership styles in a treatment center

for alcohol and other drugs users in Recife-PE. For research, it was understood that a

qualitative approach would be the most appropriate, given the emphasis that would give the

relationships between leaders and their followers; the method adopted was the single case

study, which was treated descriptively. Data were collected through participant observation

and direct some documents; for data analysis, we used the Content Analysis (Bardin, 2010).

In terms of results, there was the discovery that the culture of the organization, represented

mainly by its mission, is strongly understood, internalized and practiced by all, without

distinction and is itself, which guides the attitudes and behaviors that institution treatment.

Regarding leadership, both leaders studied here are extremely important for the proper

functioning of the resident's therapeutic treatment and the administrative development of the

organization.

Keywords: Organizational culture. Leadership. Treatment Center.

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 – Níveis de cultura .................................................................................................... 24

Figura 2 – Estilos de liderança ................................................................................................ 38

Figura 3 – Delineamento da pesquisa ...................................................................................... 46

Figura 4 – Desenho da pesquisa .............................................................................................. 47

Quadro 1 – Conceitos sobre cultura ........................................................................................ 22

Quadro 2 – Grupos de valores ................................................................................................. 27

Quadro 3 – Abordagens sobre liderança ................................................................................. 41

Quadro 4 – Sujeitos da pesquisa ............................................................................................. 48

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

1.1 Contextualização ......................................................................................................... 14

1.2 Objetivos da pesquisa ................................................................................................. 17

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 17

1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 17

1.3 Justificativas da pesquisa ........................................................................................... 17

1.3.1 Justificativas teóricas .................................................................................................... 17

1.3.2 Justificativas práticas .................................................................................................... 18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 19

2.1 Cultura Organizacional ............................................................................................. 19

2.1.1 Conceitos de cultura organizacional ............................................................................. 20

2.1.2 Níveis da cultura organizacional .................................................................................. 24

2.1.3 Elementos da cultura organizacional ............................................................................ 26

2.1.3.1 Valores......................... ................................................................................................ 26

2.1.3.2 Crenças e pressupostos ................................................................................................. 27

2.1.3.3 Ritos, rituais e cerimônias ............................................................................................ 28

2.1.3.4 Mitos............................ ................................................................................................. 29

2.1.3.5 Tabus.............................................................................................................................30

2.1.3.6 Heróis........................ ................................................................................................... 31

2.1.3.7 Normas.................. ....................................................................................................... 31

2.1.3.8 Símbolos e sinais .........................................................................................................32

2.1.3.9 Processos de comunicação............................................................................................ 33

2.1.4 Desvendando a cultura organizacional ......................................................................... 33

2.2 Liderança ..................................................................................................................... 36

2.2.1 Comportamento do líder ............................................................................................... 37

2.2.2 Modelos de liderança .................................................................................................... 39

2.2.3 Estilos de liderança ....................................................................................................... 42

2.2.3.1 Liderança transacional .................................................................................................. 42

2.2.3.2 Liderança transformacional .......................................................................................... 43

3 MÉTODO DA PESQUISA ........................................................................................ 45

3.1 Delineamento da pesquisa .......................................................................................... 45

3.2 Locus de investigação ................................................................................................. 46

3.3 Desenho da pesquisa ................................................................................................... 47

3.4 Sujeitos da pesquisa .................................................................................................... 48

3.5 Instrumentos de coleta dos dados ............................................................................. 48

3.6 Técnica de análise dos dados ..................................................................................... 49

3.7 Limites e limitações da pesquisa ............................................................................... 50

3.7.1 Limites da pesquisa ....................................................................................................... 50

3.7.2 Limitações da pesquisa ................................................................................................. 50

4 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 51

4.1 Características do centro de tratamento e do escritório central ............................ 51

4.2 Elementos da cultura organizacional ........................................................................ 53

4.3 Características dos estilos de liderança .................................................................... 58

4.3.1 Líderes adictos .............................................................................................................. 59

4.3.2 Líderes não-adictos ....................................................................................................... 60

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4.4 Práticas de desempenho conjunto para os líderes adictos e não-adictos ................ 62

5 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 66

5.1 Conclusão ..................................................................................................................... 66

5.1.1 Elementos da cultura organizacional ............................................................................ 66

5.1.2 Características dos estilos de liderança ......................................................................... 67

5.1.3 Práticas de desempenho conjunto para os líderes no centro de tratamento .................. 68

5.2 Sugestão para novos trabalhos .................................................................................. 70

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71

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1 INTRODUÇÃO

Inicialmente, será abordado neste capítulo, uma contextualização sobre o universo das drogas

lícitas e ilícitas e a forma como suas características podem interferir na questão de liderança

associada à cultura organizacional das empresas que tratam de dependentes químicos. Serão

contextualizados aspectos que necessitam de uma liderança própria para o sucesso dessas

organizações no universo em que está inserida.

Em seguida serão apresentados o problema de pesquisa, os objetivos e as justificativas deste

estudo.

1.1 Contextualização

Cultura é um processo dinâmico que está presente, não somente na vida dos indivíduos, mas

também está inerente ao cotidiano de organizações e sociedade. O interesse pelo seu estudo

vem crescendo em todas essas esferas e mais especificamente no âmbito empresarial, em

virtude das frequentes mudanças provocadas por aquisições, vendas, fusões, entre outros

processos. O gerenciamento da cultura, no plano da organização e de seus grupos internos,

permite o entendimento de fatos e situações, uma vez que ela está inserida em todos os seus

departamentos, influenciando desde o comportamento dos líderes, até as rotinas, regras e

normas que orientam e restringem seu comportamento e aqueles de seus membros (SCHEIN,

2009).

Inversamente, a liderança também contribui para a criação e inserção da cultura em um grupo

ou em uma organização. Entender o líder como um elo entre a cultura organizacional e seus

liderados leva ao envolvimento de pessoas com os objetivos da organização e, por

conseguinte, com seu desenvolvimento, o que as leva a cometer menos erros, por exemplo,

evitando assim, retrabalhos.

Um dos aspectos exigidos para o exercício da liderança, dentre outros, é a qualificação

necessária para a condução das atividades inerentes ao seu cargo, como, por exemplo, a

aproximação e o apoio aos seus liderados, o sentimento de lhes prover confiança e segurança,

a sensibilidade nos relacionamentos interpessoais, na formação das equipes (SÁ; LEMOINE,

1998, 1999) e o entendimento do próprio negócio, os quais são essenciais para o sucesso

organizacional, bem como dos membros e clientes (KOTTER; HESKETT, 1994).

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Diante desse contexto teórico sobre cultura organizacional e liderança, o gerenciamento em

uma clínica de recuperação de dependentes químicos chamou a atenção uma vez que ela

contrata gestores para exercerem funções estratégicas dentro da organização, com dois perfis

completamente diferentes: os adictos1, são assim chamadas aquelas pessoas ex-usuárias de

álcool e outras drogas, mas já reconhecidas ‘limpas’, em virtude do tempo em abstinência

nessa prática, e os não-adictos, que são aquelas que nunca foram usuárias dessas drogas.

Os primeiros são considerados imprescindíveis para as questões terapêuticas que requerem

experiência de vida, uma vez que, além de servir de exemplo de superação de vícios, são

indicados pela clínica a assumirem o papel de ‘Padrinhos’, na função hierárquica: Técnicos de

Referência em Dependência Química (TR). Em sua grande maioria, esses funcionários não

têm escolaridade completa, devido à inserção no submundo das drogas, que acontece, muitas

vezes, durante a adolescência, nem tampouco qualquer habilidade técnica, por não estarem,

em geral, inseridos no mercado de trabalho. Há de se convir que esses aspectos dificultem o

desempenho em atividades administrativas, sobretudo àquelas de liderança.

Já os segundos são importantes para os trabalhos administrativos e terapêuticos, para os quais

se subtende a competência técnica; são eles: médicos, psicólogos, enfermeiros e demais

profissionais do setor administrativo.

Entretanto, a condição de perfis diferentes de gestores em uma mesma organização e cultura

pode gerar conflitos referentes, no que diz respeito, ao não cumprimento de crenças, missão,

valores, rituais, normas e regras, que podem até mesmo prejudicar o desenvolvimento da

organização e, evidentemente, o tratamento dos pacientes.

Cita-se, por exemplo, um fato que ocorre com frequência: alguns documentos possuem prazos

para serem efetivados, sendo solicitados aos adictos, todos os meses, pelo departamento

responsável e, pode-se afirmar que esses mesmos documentos, quase sempre, apresentam os

mesmos erros, levando a retrabalhos constantes e desnecessários, por parte dos profissionais

envolvidos.

1 Palavra originária do inglês “addict”, que, traduzido, quer dizer “viciado”. São pessoas que possuem

dependência psicológica ou compulsão por drogas lícitas e ilícitas, jogos, comida, sexo, trabalho e compras, por

exemplo.

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16

Por essa explanação pode-se perceber a dificuldade para um convívio harmonioso entre cada

estilo de liderança, onde ambos se diferem completamente, em termos não somente de

escolaridade ou experiência técnica, mas, sobretudo, de história de vida. Esses conflitos de

natureza funcional acontecem em virtude da prioridade e da relevância que cada líder

compreende dentro de sua visão na organização.

O universo do álcool e das drogas pode ser resumido em um submundo, não somente para o

usuário que o busca para saciar seu vício, mas também para os familiares e amigos que sofrem

com essa escolha. Sabe-se também da dificuldade para dele emergir, a menos que haja ajuda e

incentivo, não somente de pessoas próximas, mas também por meio de um centro de

tratamento para usuários de álcool e outras drogas.

As clínicas para dependentes químicos surgiram por volta dos anos de 1960, quando a

dependência química foi diagnosticada como doença. Construídas para abrigar e tratar dos

usuários de drogas, as clínicas passaram a ter grande importância para a sociedade, ganhando

um papel de destaque na recuperação dos pacientes.

Com o passar dos anos, as clínicas foram crescendo em estrutura para poder atender todas as

necessidades dos pacientes, além de contarem com uma equipe de profissionais

especializados como psiquiatras, psicólogos, terapeutas em dependência química, além de

enfermeiros.

Nos centros de tratamento, normalmente, são tratadas as causas que levaram os adictos ao

consumo dessas substâncias psicoativas, sabendo que se trata de uma doença e que a mesma

não tem cura, ou seja, o cuidado em não voltar a usar essas substâncias é diário. Por isto se

usa o termo: “só por hoje”; ou seja, só por hoje não bebi, só por hoje não usei drogas, só por

hoje estou ‘limpo’.

Os dependentes químicos, em sua grande maioria, deixam de estudar, são abandonados pela

família e pelos amigos, perdem o trabalho e acabam virando marginalizados da sociedade,

passando a morar na rua e efetuar roubos para sustentar seu vício, chegando até a cometer

homicídios, virando verdadeiros criminosos.

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17

É neste contexto que o presente trabalho vai ser desenvolvido, focando os elementos da

cultura organizacional e o convívio entre cada estilo de liderança, presentes simultaneamente

em um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas.

Sendo assim, formula-se a seguinte questão de pesquisa: de que maneira a cultura

organizacional pode contribuir para o desempenho conjunto de dois estilos diferentes de

liderança, em um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, do Recife-PE?

Para tanto, foram estabelecidos alguns objetivos apresentados a seguir.

1.2 Objetivos da pesquisa

1.2.1 Objetivo geral

Investigar de que maneira a cultura organizacional pode contribuir para o desempenho

conjunto de cada um dos estilos de liderança, em um centro de tratamento para usuários de

álcool e outras drogas, no Recife-PE

1.2.2 Objetivos específicos

I. Verificar elementos da cultura organizacional de um centro de tratamento para

usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE.

II. Identificar características dos estilos de liderança em um centro de tratamento para

usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE.

III. Identificar práticas de desempenho conjunto para os líderes em um centro de

tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE.

1.3 Justificativas da pesquisa

1.3.1 Justificativas teóricas

A cultura organizacional, segundo Thévenet (1990, p. 16), “permite compreender o

funcionamento das organizações e resolver os seus problemas. (...) praticamos hoje

diagnósticos de gestão inspirados pela teoria da cultura”. O estudo sobre cultura tem grande

relevância também para a compreensão dos fenômenos organizacionais, sobretudo com a

crescente competitividade entre as empresas e com as mudanças organizacionais que estão

inseridas nos processos de fusões e aquisições, sucessões, entre outros.

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18

Schein (2009) afirma que os líderes são os responsáveis por iniciar a criação do processo

cultural, seu gerenciamento e, tem o poder inclusive, de mudar a cultura. Nesse sentido, as

habilidades do líder são essenciais para a definição da direção e do impacto de sua gestão. O

capital humano exerce reconhecida influência sobre o desempenho organizacional, e o

conceito de liderança ganha importante relevância, já que o líder é quem transmite a visão, os

valores e os princípios organizacionais, direcionando o comportamento das pessoas aos

objetivos organizacionais (BASS; AVOLIO, 1993).

Ao mesmo tempo, também se considera que o líder é moldado pela cultura organizacional, o

que é expresso por seus pensamentos, sentimentos e respostas. Assim, o líder assume o papel

de criar, manter ou mudar tipos particulares de cultura, realizando a sua gestão e sua

habilidade para entender e trabalhar em uma cultura é pré-requisito para uma liderança eficaz

(BASS; AVOLIO, 1993; OGBONNA; HARRIS, 2000; HOUSE et al., 2002; SCHEIN, 2009).

Apesar de existirem na literatura alguns estudos desenvolvidos para a identificação dos

diferentes estilos de liderança ou de modelos gerenciais que se adequam melhor a diferentes

perfis de culturas organizacionais (HOUSE et al., 2004; CAMERON; QUINN, 2006;

MASOOD et al., 2006), a presente pesquisa justifica-se quando os dois constructos são

estudados em um centro de tratamento para usuário de substâncias psicoativas, levando a

autora a colaborar com a comunidade acadêmica.

1.3.2 Justificativas práticas

É relevante a informação de que esta pesquisa será apresentada à organização para fins de

consultoria para melhor compreensão das atitudes comportamentais dos líderes e liderados da

própria cultura da organização. A empresa em questão se encontra colaborativa para com a

pesquisa.

Considerando a influência mútua entre cultura e liderança, pode-se pensar na importância

deste estudo de maneira que possa colaborar para que uma seja favorável ao desempenho da

outra, em vista ao desenvolvimento de colaboradores, apoio ao tratamento dos residentes2 e

aos familiares, bem como contribuir para uma sociedade melhor.

2 Residente é como são chamados os pacientes internados nos centros de tratamento.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são apresentados os referenciais teóricos que embasam o presente estudo. A

fundamentação está dividida em cinco seções: cultura organizacional, níveis da cultura

organizacional, elementos da cultura organizacional, métodos para desvendar a cultura

organizacional e liderança.

2.1 Cultura Organizacional

O tema cultura organizacional possui diversos conceitos apresentados por autores distintos.

No final do século XVII, a palavra cultura começou a ter um significado real. Em 1917,

Edward Taylor (1871) sintetizou a palavra cultura como uma forma de abranger todas as

possibilidades de realizações humanas, marcando fortemente seu aprendizado.

Schein (2009) escreve que, padrão de premissas básicas, a cultura organizacional deve ser

ensinada e compartilhada com os novos membros do grupo para que estes aprendam a

maneira correta de pensar, sentir e perceber para resolver seus problemas de adaptação

externa e de integração interna.

O comportamento dos indivíduos depende de um processo permanente de aprendizagem de

uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do seu

nascimento e que se completa com a morte, chamado de endoculturação. Este termo surgiu

em um ensaio escrito por John Locke. Lakatos (1992) afirma que o processo de

aprendizagem, que ocorre na infância por meio da educação, continua ocorrendo com o

homem no âmbito da organização social.

Para Fleury e Fischer (1996), a cultura precisa estar bem clara, caso contrário pode se tornar

um espaço único, onde todos os problemas e propostas de mudanças sem fundamentos serão

lá depositadas.

Segundo Geertz (1989), vista como um conjunto de mecanismos de controle, planos, regras e

instituições, a cultura pode governar o comportamento. Estes mecanismos de controle, ou

símbolos significantes, que são transmitidos aos indivíduos nela inseridas, podem ser

entendidos como qualquer coisa usada para dar à experiência um significado e continuarão a

ser utilizados sempre, permanecendo vivos mesmo após a morte desses mesmos indivíduos.

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Usada ao longo da história com diferentes conceitos, as muitas definições sobre cultura

mostra uma divergência entre os pesquisadores quanto a uma definição exata. Geertz (1989)

fala da cultura como um sistema de símbolos e significados que são compartilhados e onde

seu foco de estudo está em como os indivíduos interpretam e compreendem suas experiências.

A palavra cultura, para o psicólogo Hofstede (1984), é geralmente utilizada para designar a

sociedade, grupos regionais ou étnicos ou outros grupos de pessoas como as organizações, as

profissões, ou as famílias.

Estes diversos conceitos fornecidos pela psicologia e antropologia serviram de base para a sua

aplicação no âmbito corporativo. Seu crescimento aconteceu mais acentuadamente em

meados da década de 80, quando, segundo Ouchi (1982), o conceito de cultura fez as

empresas americanas enfatizarem o fator humano para enfrentar a forte concorrência das

indústrias japonesas. Para Kirkbride (1987) esta foi a “década cultural” para a Teoria das

Organizações, uma vez que o estudo da cultura nas organizações ganhou inúmeras literaturas

com diversas definições e interpretações em virtude dos diferentes focos escolhidos pelos

autores.

O conceito de que o desempenho organizacional poderia ser explicado por diferentes tipos de

culturas e que culturas com valores claramente expressos e utilizados poderiam antecipar o

sucesso da organização foi um dos motivos para que se iniciassem as pesquisas na década de

80, segundo Gofee e Jones (2001). Este conceito, segundo Schein (2009), tem sido alvo de

consideráveis debates acadêmicos nos últimos 25 anos, havendo várias abordagens para

definir e estudar cultura, a exemplo de Freitas (2007), que escreve que a cultura

organizacional teve base na antropologia cultural, na qual se encontram diversas correntes,

privilegiando diferentes aspectos da questão humana.

2.1.1 Conceitos de cultura organizacional

Schein (2009, p. 12) escreve que “as palavras comumente usadas em relação à cultura

enfatizam um de seus aspectos críticos – a ideia de que certas coisas nos grupos são

compartilhadas ou assumidas em comum”. Segundo Motta (2006, p. 27), “antes de mais nada,

a cultura é linguagem, é código. Ela fornece um referencial que permite aos atores dar um

sentido ao mundo em que vivem e a suas próprias ações”. Assim, há várias categorias

utilizadas para descrever cultura.

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Importante destacar que no ambiente organizacional, a cultura é um mecanismo poderoso que

direciona as formas de conduta, homogeneíza comportamentos, maneiras de pensar e de viver

a organização (FREITAS, M., 1991a). Diante deste conceito pode-se inferir que a cultura

pode ser planejada e modificada para atender os interesses da organização, sem se preocupar

com as pessoas que a integram.

Nenhuma organização é igual a outra, ou seja, cada uma apresenta suas características

próprias, embora possam estar inseridas em um mesmo contexto sócio-econômico-cultural.

Segundo Fleury (2002), a cultura não é apenas um instrumento de poder, mas um conjunto de

representações imaginárias que se constroem nas relações cotidianas da organização, como

sua história, o modelo de gestão, crenças, valores e normas. A autora complementa que a

cultura organizacional tem a capacidade para construir uma identidade organizacional e

atribuir significados que são expressos em seus elementos simbólicos, instrumentalizando as

relações de dominação.

Mesmo tendo tantos conceitos, ao ser questionado sobre a necessidade da palavra cultura,

reconhece-se que ela acrescenta uma série de outros elementos indispensáveis ao conceito de

compartilhamento, segundo Schein (2009):

• Estabilidade estrutural – Por se difícil de ser mudada, a cultura pode definir um grupo

quando atinge um sentido de identidade e sobrevive mesmo se algum dos membros

sair da organização.

• Profundidade – A cultura é a parte menos tangível e a mais profunda de um grupo, o

que lhe confere estabilidade.

• Extensão – Influenciando todos os aspectos de uma organização, a cultura, quando

desenvolvida, cobre todo o funcionamento de um grupo.

• Padronização ou integração – É a essência do que entendemos por cultura, uma vez

que vincula os vários elementos e que se situa em um nível mais profundo, levando à

estabilidade, padronização ou integração dos elementos de um paradigma maior.

Segundo o próprio Schein (2009, p. 14), “se pudermos entender de onde a cultura vem

e como ela evolui, podemos compreender algo que seja abstrato; que existe no

inconsciente de um grupo, embora tenha influências poderosas sobre o comportamento

desse grupo”.

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O Quadro 1 a seguir apresenta alguns dos principais conceitos sobre cultura.

Quadro 1 – Conceitos sobre cultura

ANO PESQUISADOR CONCEITO

1982 Ouchi"Um conjunto de símbolos, cerimônias e mitos que transmitem os

valores e crenças subjcentes dessa organização e seus membros".

1985 Ernest

"A cultura é um sistema de valores e crenças compartilhados que

modelam o estilo de administração de uma empresa e o

comportamento cotidiano de seus membros".

1997 Malinowsky

"A cultura consiste no conjunto integrado dos instrumentos e bens

de consumo, nos códigos constitucionais dos vários grupos da

sociedade, nas ideias e artes, nas crenças e costumes humanos".

1999 Schein

"Principal fonte de identidade organizacional e que deve ser

entendida como uma forma de tornar uma organização mais

eficiente e eficaz".

2002 Tavares

"A cultura organizacional é um conjunto integrado de modos de

pensar, de sentir e de agir que são aprendidos e partilhados pelas

pessoas de uma organização, servindo de maneira objetiva ou

simbólica para constituir estar pessoas um uma comunidade

particular e distinta".

Fonte: Adaptado de Yukl, 2002, p. 3.

Foi adotado neste trabalho o conceito de Edgar Schein (2009), um dos mais importantes

pesquisadores da cultura organizacional, o qual afirma que as principais categorias observadas

e que estão associadas à cultura são: regularidades comportamentais observadas quando as

pessoas interagem; normas do grupo; valores expostos; filosofia formal; regras do jogo;

clima; habilidades natas; hábitos de pensar, modelos mentais e paradigmas linguísticos;

significados compartilhados; símbolos de integração; e rituais e celebrações formais.

Thévenet (1989, p. 15) afirma que “a cultura não é um estado; evolui permanentemente

porque constitui um processo contínuo de aprendizagem da própria organização”. Conhecer a

cultura de uma organização é importante não apenas para a elaboração de uma estratégia, mas

também para a sua implantação. Uma organização é mais bem administrada quando se tem o

conhecimento de sua cultura. Segundo Sá (1999), ter o diagnóstico da cultura organizacional é

possuir uma ferramenta valiosa de sucesso para a organização, o que pode ser observado na

afirmativa de Schein (2009) ao escrever que, tida como a principal fonte de identidade

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organizacional, a cultura deve ser entendida como uma forma de tornar a organização mais

eficiente e eficaz.

Para Tomei e Braunstein (1993, p. 20), “a cultura organizacional pode transparecer através

das manifestações visíveis, mas sua grande amplitude se encontra no inconsciente da

organização”. Portanto, é possível afirmar que investigar a cultura de uma organização não é

um trabalho simples.

Por estar enraizada no interior de uma organização, segundo Oliveira (1991), a cultura não

pode ser mudada facilmente, pois, para Conner (1995), ela reflete a relação que existe entre as

crenças, os comportamentos e as suposições comuns que são adquiridas pelos membros da

organização ao longo dos anos e que acaba por ser compartilhada, unindo seus membros.

Segundo Motta (1999), o comportamento organizacional e individual é direcionado pelas

crenças, o que é complementado por Oliveira (1991), quando o mesmo afirma que a cultura

organizacional é um conjunto de valores e crenças correntes nos comportamentos individuais

e coletivos na organização.

Cuche (2002) afirma que a cultura organizacional é utilizada de forma estratégica para a

obtenção da identificação dos trabalhadores e de sua adesão aos objetivos por ela definidos.

Schneider (1996) complementa que a eficácia ou ineficácia do desempenho é determinada

pela cultura organizacional, assim como seu significado dentro da organização, definindo,

então, as prioridades, expectativas, condições de recompensa e de punição. Os membros da

organização acabam por se comportar em concordância com os objetivos estratégicos da

empresa, passando a aceitar a dominância da cultura organizacional predominante no

ambiente onde estão inseridas.

Para Sá (1999), apesar de haver na literatura métodos possíveis para se entender a cultura

organizacional, faz-se necessário a utilização de métodos coerentes e adaptados para que os

traços percebidos caracterizem a cultura real.

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2.1.2 Níveis da cultura organizacional

Para Groeschel e Doherty (2000), Fleury e Sampaio (2002) e Schein (2009), a cultura

organizacional pode ser analisada em três diferentes níveis: artefatos, crenças e valores

expostos e suposições básicas. Segundo os autores, os níveis de profundidade da cultura

organizacional podem ser comparados às camadas de uma cebola, conforme figura 1 a seguir:

Figura 1 – Níveis da cultura

Fonte: Adaptado de Schein (2009, p. 24)

• Artefatos

Neste nível estão presentes o que é visível a todos, como a arquitetura do espaço físico,

layout, o vestuário, padrões de comportamento visíveis, linguagem, mitos e histórias contadas

sobre a organização, rituais e cerimônias observáveis, documentos públicos como cartas e

mapas. Segundo Schein (2009), é importante destacar a facilidade de observação da cultura e

a dificuldade da mesma de ser decifrada. Percebida por todos que transitam na organização –

stakeholders internos e externos – a cultura pode ser entendida de forma positiva ou negativa,

uma vez que, complementa Trompenaars (1994), neste nível a cultura é explícita.

Schein (2009) adverte para o perigo de se deduzir suposições profundas apenas a partir dos

artefatos, pois as interpretações de um indivíduo podem ser percebidas a partir de projeções

de seus sentimentos e reações, o que corrobora com o já descrito no parágrafo anterior.

Porém, quando o indivíduo está inserido no âmbito organizacional, os significados dos

artefatos ficam gradativamente mais claros.

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• Crenças e valores expostos

O nível das crenças e valores expostos é difícil de observar diretamente para identificá-los.

Segundo Fleury (2013), é preciso que os membros-chave da instituição sejam entrevistados

ou que seja realizada uma análise de conteúdo dos documentos formais da organização. Sobre

esses valores, Schein (2009) escreve que eles geralmente representam os valores manifestos

da cultura e que toda aprendizagem cultural contempla os valores culturais de alguém.

Motta (2006, p. 26), afirma que “os comportamentos de executivos e trabalhadores baseiam-

se em crenças, atitudes e valores e, em certa medida, verdadeiros ciclos viciosos de

comportamento são causados por crenças, atitudes e valores”, o que é confirmado por Freitas

(1991), ao apontar que os valores de uma organização são construídos pela diretoria e

amarrados aos objetivos organizacionais, possibilitando a criação de empresas bem sucedidas

quando compartilhados.

Para Ouchi (1982), há uma maior facilidade dos funcionários alcançarem os objetivos

organizacionais, à medida que os mesmos passam a compreender os valores e crenças da

organização. Schein (2009) complementa que se esses valores e crenças assumidos estiverem

coerentes com as suposições básicas, elas podem ser úteis para unir o grupo, auxiliando como

fonte de identidade e missão central.

• Suposições básicas

As suposições básicas determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e

sentem, sendo a essência da cultura e, quando compreendidas, facilitam a interpretação do que

está na superfície da cultura de uma organização. São percebidas como verdadeiras quando,

segundo Fleury (2013, p. 20), “certos valores compartilhados pelo grupo conduzem a

determinados comportamentos e esses comportamentos se mostram adequados para

solucionar problemas”.

Para Schein (2009), as suposições básicas são as crenças, percepções, pensamentos e

sentimentos inconscientes, assumidos como verdadeiros, o que podem tornar a cultura forte,

quando as experiências são compartilhadas pelos membros da organização através de um

convívio longo, ou tornar a cultura fraca, quando este convívio é curto ou não possui

intensidade. É a parte mais submersa, também conhecida como núcleo.

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2.1.3 Elementos da cultura organizacional

Identificar os elementos da cultura organizacional é importante para a compreensão e

obtenção de explicações acerca da cultura organizacional de uma empresa. Freitas (1991)

afirma que falar de cultura organizacional sem mencionar os elementos que a integram é um

ato impossível, uma vez que fornecem uma interpretação para os membros da organização.

Os principais autores no tema ratificam a importância do estudo acerca da cultura de uma

organização, admitindo que a cultura é um termo complexo, que consiste em vários

elementos, estando alguns implícitos e outros explícitos (GROESCHEL; DOHERTY, 2000 p.

14).

Esses elementos representam a essência da filosofia da organização, funcionando como um

guia para o comportamento dos indivíduos. De acordo com Naves e Coleta (2003), Freitas

(2007), Tamayo (1996), os elementos mais frequentemente citados na literatura são: valores;

crenças e pressupostos; ritos, rituais e cerimônias; estórias e mitos; tabus; heróis; normas;

símbolos e sinais e processo de comunicação.

Frente ao exposto, acredita-se que, para responder a pergunta de pesquisa proposta para este

estudo (seção 1.2.1), faz-se necessário buscar nos elementos culturais, condições que

conduzam ao reconhecimento e posterior diagnóstico da cultura. Entende-se que, pelo estudo

desses elementos seja possível a compreensão de como a cultura conduz os dois estilos de

liderança no centro de tratamento para dependentes químicos no Recife – PE.

2.1.3.1 Valores

Conforme Freitas (1991, p. 75), são “definições a respeito do que é importante para se atingir

o sucesso”. Thévenet (1990, p. 84) escreve que, “os valores da pessoa correspondem ao que

ela considera como belo, bom e justo”. O autor complementa que, em um primeiro momento,

os valores possuem forte conotação moral tão valorosa que ninguém ousa reivindicar outra

coisa. Eles orientam o comportamento, os sentimentos e a decisão de um determinado grupo.

Segundo Deal e Kennedy (2000), eles são o senso de direção comum e de guia de

comportamento para todos os colaboradores no cotidiano da organização.

Thévenet (1990) divide os valores em três grupos: valores declarados – ligados aos

comportamentos quotidianos de cada um; valores aparentes – transluzem das decisões e dos

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acontecimentos da organização; valores operacionais – captam os valores da empresa em seu

cotidiano, conforme Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 – Grupos de valores

Valores Declarados

* Na declaração de princípios ou na filosofia da empresa

* Nos discursos do Presidente

* Na imprensa da empresa

* No manual de acolhimento

* Na comunicação externa

Valores Aparentes

* Na escolha dos heróis

* Na escolha dos dirigentes

* Na escolha daquilo que se considera êxito (produto, carreira, estratégia, decisão,

apreciação da concorrência)

* Na comunicação externa

* Nas recompensas públicas (melhor empregado do ano, resultados dos concursos)

Valores Operacionais

* Nos sistemas de controle:

Controle orçamental

Avaliação das performances

Avaliação do pessoal

Remuneração

Regulamento interno (escrito ou tácito)

* Em certos procedimentos de gestão:

Recrutamento

Afecção de gabinetes

Gestão das carreiras

Programa de redução de custos

Relações estruturais (entre filiais, divisões, sede, funções)

Atitudes

* Relativamente ao sistema burocrático

* Relativamente ao contexto

* Relativamente à concorrência

Fonte: Adaptado de Thévenet, 1990, p. 85.

Para Hofstede (1984), os valores se manifestam no comportamento humano e são sentimentos

vistos como inconscientes e conscientes. O mesmo autor escreve que quando acreditamos em

valor, significa que a questão possui certa relevância e que nós identificamos alguns

resultados, sejam eles bons ou maus. Hofstede (1984) também distingue os valores entre

desejados e desejáveis, diferenciando o que as pessoas desejam do que elas acreditam ser

desejado.

2.1.3.2 Crenças e pressupostos

Considerados como núcleo da cultura organizacional, esses elementos são os mais difíceis de

serem modificados. Schein (2009, p. 25) destaca que, em detrimento dos valores, os

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pressupostos são os pontos centrais da cultura, conforme pode ser observado em sua

afirmação:

[...] os valores estão abertos à discussão e as pessoas podem concordar ou não com

eles. Os pressupostos básicos são tão aceitos que alguém que não os conservar é

visto como um “estrangeiro” ou como “louco” e é automaticamente descartado.

Dias (2013) afirma que seu desenvolvimento adequado é uma vantagem para a organização,

pois os colaboradores exercem sua função convencidos de que são parte integrante do

desenvolvimento da empresa. Eles são encontrados na estrutura, nos sistemas, símbolos,

mitos e padrões de recompensa dentro da organização, conforme Oshiro, Crnkovik e Santos

(2005).

Os elementos crenças e pressupostos vêm sendo utilizados como sinônimos nos estudos

culturais para expressar o que a organização tem como sendo verdade (SCHEIN, 2009;

FREITAS, 1991). Fleury et al., (2009) lembram que é necessário ir além das aparências e das

primeiras impressões para revelar seu verdadeiro significado, o que é complementado por

Freitas (1991), quando a mesma escreve que precisa-se de atenção para aprender com os atos

falhos dos discursos e o paradoxo entre o discurso e a prática. A autora afirma ainda que os

administradores precisam estar sempre vigilantes, reforçando estas crenças, uma vez que as

mesmas têm sua validação efetivada com o tempo.

A cultura é como um conjunto de pressupostos que está sempre em processo de formação,

uma vez que a sua aprendizagem é diária. Se os pressupostos estão funcionando bem o

suficiente para serem considerados válidos, eles devem ser ensinados para os outros membros

da organização como sendo a maneira correta para se pensar, perceber e sentir-se em relação

àqueles problemas (SCHEIN, 2009).

2.1.3.3 Ritos, rituais e cerimônias

Elementos estratégicos para a construção e consolidação da imagem empresarial, os ritos,

rituais e cerimônias para Silva (2008), proporcionam credibilidade e aceitação social no que

concerne às ações e realizações desenvolvidas pela organização. A autora complementa que

esses elementos estão presentes em todas as culturas, desde as mais primitivas até a sociedade

atual, portando uma riqueza extraordinária devido a sua diversidade, e muito esclarecem sobre

o ser humano. “Falar em vida social é falar em ritualização”, (SILVA, 2008, p. 2). Bettega

(2010) complementa que os ritos buscam a integração de diferentes grupos sociais,

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constituindo construções sociais especificas de determinado grupo, e que simbolizam o elo

entre ‘mundos separados’, essenciais para sobrevivência do indivíduo social.

A ausência de eventos expressivos pode levar a morte de qualquer cultura, e quando há falta

dos ritos e rituais, importantes valores perdem o impacto, uma vez que eles são importantes

para a preservação e a identificação de força de uma cultura (DEAL E KENNEDY, 2000).

Organizacionalmente, na visão de Silva (2008), os ritos, rituais e cerimônias se constituem

elementos estratégicos quando constituem e consolidam a imagem da organização,

sustentadas na credibilidade e na aceitação social de ações e de realizações desenvolvidas.

Freitas (2007, p. 19) afirma que os ritos e rituais são atividades planejadas que irão manifestar

o lado concreto da cultura organizacional, e que:

“Eles preenchem várias funções: comunicam a maneira como as pessoas devem se

comportar na organização, sinalizando os padrões de intimidade e decoro aceitáveis,

exemplificando a maneira como os procedimentos são executados, liberam tensões e

ansiedades [...]”.

A mesma autora escreve que esses elementos são atividades planejadas que têm

consequências práticas e expressivas, o que torna a cultura mais tangível e coesa. Ela cita

como exemplos as atividades desenvolvidas pelo Departamento de Recursos Humanos:

admissão, demissão, promoção, etc., e quando um indivíduo passa a fazer parte da

organização e pode ser recebido com menor formalidade – sendo apenas apresentado pelo

superior aos colegas com quem irá trabalhar, ou com maior formalidade – sendo convidado

para conhecer os departamentos da empresa ou assistir um filme ou documentário sobre a

história da organização (FREITAS, 2007, p. 19).

Sobre as cerimônias, Silva (2008) as descreve como sendo a manifestação de sentimentos ou

de atitudes em comum, expressas por meio de ações formais, cuja natureza simbólica ganha

significados característicos, através de gestos, posturas corporais e objetos específicos.

Tanure, Evans e Pucik (2007) complementam que as cerimônias e rituais são eventos

especiais onde se promovem valores específicos da organização.

2.1.3.4 Mitos

Elo entre o presente e o passado, o mito é um elemento importante para desvendar a cultura

de um grupo social. Segundo Oliveira et al., (2008) seu termo deriva, etimologicamente, do

grego mythos, que quer dizer “narração pública de feitos lendários de uma comunidade”.

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Chauí (2001, p. 9) o define como “a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições

que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade”.

Freitas (1991, p. 75) escreve que as estórias narram eventos passados que falam sobre a

organização e o mito refere-se a “estórias consistentes com os valores organizacionais, porém

sem sustentação dos fatos”. Em contrapartida, Colpo (2010, p. 8) afirma que os mitos podem

proporcionar explicações de rotinas e procedimentos para as organizações, possibilitando a

criação de uma identidade cultural, “quanto mais se socializa o mito, entre os diferentes atores

sociais, mais ele se consolida dentro da cultura organizacional”.

“O mito da grande família” surgiu, segundo Fleury (2013), para destacar a utilização da

imagem da grande família com a finalidade de reforçar o clima de camaradagem e confiança

pretendido, bem como o comprometimento das pessoas com os objetivos organizacionais.

Segundo a autora, ao analisar a imagem da grande família através de uma perspectiva

histórica, pode-se desvendar as relações de autoridade. “O mito da grande família revela

assim as duas faces presentes nas relações de trabalho: a face visível de solidariedade, de

cooperação, e a face oculta da dominação e submissão” (FLEURY, 2013, p. 123).

Colpo (2010) escreve que no contexto organizacional, são muitas as oportunidades de se

encontrarem mitos, uma vez que são compostas por pessoas com diferentes experiências que,

combinadas com as da empresa, formarão um mosaico, criando assim uma identificação e um

vínculo social.

2.1.3.5 Tabus

Os tabus funcionam como linhas de proibição, orientando o comportamento dos indivíduos

em função do que não é permitido, sendo mais frequentes os que se referem à discriminação

de raça e sexo, afirma Sá (1999). Freitas (2007) complementa que o tabu, envolto em grande

mistério, está associado a temas complexos e polêmicos, como preconceitos, discriminação,

assédio, etc.

Realçando o que não é permitido, Schein (1985) destaca que os tabus têm como principal

característica orientar as condutas dos indivíduos esclarecendo as áreas de proibição da

organização.

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Ressalta-se que os tabus não vêm prescritos explicitamente nos manuais, como acontece com

as normas da organização, mas podem estar subentendidos, como por exemplo, quando a

empresa deixa clara a proibição de contratar pessoas da mesma família, ou quando proíbe o

envolvimento sentimental entre seus membros.

2.1.3.6 Heróis

Demonstrando valores e crenças a serem copiados pelos demais, os heróis fizeram ou fazem a

diferença dentro e fora da organização, segundo (Schein, 2009). Freitas (1991) afirma que os

heróis são personagens que incorporam os valores e condensam a força da empresa, sendo

categorizados em heróis natos e heróis criados. A autora cita como exemplos exibidos pelas

organizações: Henry Ford, da Ford; Tom Watson, da IBM; John Rockefeller, da Standard Oil;

entre outros.

Thévenet (1990, p. 75) destaca que “cada empresa retém alguns nomes, alguns pedaços de

vida que revelam porque marcam o corpo social, [...]”. Ainda segundo o autor, são exemplos

clássicos de heróis:

• O investigador cujo não alinhamento consiste em querer, num meio de engenheiros,

manter-se no laboratório quando as possibilidades de carreira estão noutros lados;

• O comercial polivalente capaz de vender tudo o que quer que seja;

• O esteta, universalmente conhecido pela sua personalidade, pelo seu gosto e pelo seu

papel no equilíbrio do grupo;

• O rebelde ou cínico capaz de falar ao patrão.

2.1.3.7 Normas

As normas são regras que defendem o comportamento esperado, aceito e que é sancionado

pelos indivíduos do grupo, podendo estar escritas ou não. É através dela que as pessoas são

recompensadas ou punidas, confrontadas, ou esquecidas quando as desrespeitam (FREITAS,

1991; CARVALHO, 2008).

Este elemento da cultura tem o poder de influenciar seus membros, determinando assim os

comportamentos que são esperados, aceitos e apoiados pelo grupo, sendo fixados por uma

norma, seja ela formal ou informal. O homem é guiado por normas em qualquer ambiente que

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frequente e também por suas ações, assim, cada cultura possui sua própria maneira de fazer as

coisas (FREITAS, 2007).

A autora acima ainda destaca que o conhecimento das normas está normalmente associado

aos manuais de instrução, os quais guardam certa veracidade, já que estão comumente

associados aos procedimentos adequados para situações específicas, principalmente àquelas

relacionadas com normas de produção, padrões de qualidade e especificações técnicas.

Apesar de estarem expostas de forma integral aos seus membros, algumas normas ficam nas

entrelinhas, não sendo escritas, mas subentendidas de que as pessoas precisam segui-las para

não serem punidas. Nestes casos, a literatura considera esses elementos como tabus, conforme

visto na seção 2.1.3.5.

2.1.3.8 Símbolos e sinais

A identidade de uma organização se forma mediante a construção de símbolos, os quais,

segundo Tomei e Braunstein (1993, p. 15), são “as maiores manifestações da cultura, pois são

referências por si só, enquanto as outras manifestações são formas de simbolismos”.

Os símbolos representam a manifestação mais superficial da cultura e podem ser encontradas

em objetos que possuam um significado particular para os membros que compartilham a

mesma cultura, gestos ou eventos que reforcem os valores da organização (DIAS, 2003). São

exemplos de símbolo: a escolha do funcionário do ano, o regresso de férias, a festa de Natal,

até um primeiro objeto produzido e guardado pela empresa ao longo dos anos. Este objeto

possui um efeito simbólico importante porque está associado aos fundadores da organização

(THÉVENET, 1990; DIAS, 2003).

Presentes também no nosso dia-a-dia, os símbolos podem ser observados quando o homem

abre a porta do carro para mulher entrar, simbolizando educação, quando um indivíduo se

levanta para dar lugar a um idoso, simbolizando respeito, ou quando cumprimentamos alguém

com um aperto de mão, simbolizando cordialidade. Desta maneira, os símbolos são mais

fáceis de traduzir.

Em relação aos sinais, de acordo com Pardini, Gonçalves e Kilimnik (2008), eles podem ser

visualizados na estrutura física da empresa, nos sinais de identificação para com o público

interno e externo e no modo de vestir dos funcionários.

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Thévenet (1990) escreve que os sinais estão próximos aos símbolos, condensando sentidos.

Estabelecendo um paralelo entre símbolos e sinais, Thévenet (1990, p. 90) afirma que:

“Os sinais referem-se a tudo aquilo que, no funcionamento do quotidiano, pode ter

um sentido que se articule com as lógicas que suportam o funcionamento da

empresa; no que toca aos símbolos, o que se procura é a síntese da realidade, que

vive num fato, num rito ou numa historieta. O investigador faz e refaz caminho entre

o que é banal e o que se apresenta carregado de sentido”.

Para o autor, o interesse dos símbolos e dos sinais está na sua visibilidade, uma vez que se

situa na parte emersa de certo número de valores ou de lógicas de funcionamento da

organização, a qual resumo ou significa o todo.

2.1.3.9 Processos de comunicação

Comunicar é um desafio permanente para as organizações, uma vez que, segundo Thévenet

(1990, p. 42) “a empresa dirige-se não só aos seus fornecedores e clientes, mas também aos

seus colaboradores”. Os processos de comunicação podem ser utilizados na administração da

cultura e são, segundo Fleury (1992), fundamentais no processo de criação, transmissão e

cristalização do universo simbólico de uma empresa.

Fleury (2013, p. 24) complementa que é necessário identificar tanto os meios formais orais

(contatos diretos, reuniões, telefonemas) e escritos (jornais, circulares, memorandos), quanto

os meios informais, como a chamada “rádio peão” 3. Este mapeamento possibilita desvendar

as relações entre categorias, grupos e áreas da organização.

Os processos de comunicação são definições de significados e mensagens trocadas através de

negociações, confissões, fofocas, conspirações, e-mail, etc. Freitas (1991) escreve que sem os

processos de comunicação as organizações não existiriam.

2.1.4 Desvendando a cultura organizacional

Há vários modelos para se desvendar a cultura organizacional, o que se transforma em um dos

grandes desafios para os pesquisadores. Tomei e Braunstein (1993) afirmam que a cultura

organizacional se encontra no inconsciente da organização, embora transpareça através de

manifestações visíveis.

3 Grifo da própria autora.

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Segundo Sá (1999), é possível encontrar na literatura vários métodos possíveis de desvendar a

cultura organizacional, porém é necessária a utilização de métodos coerentes e adaptados a

fim de que os traços percebidos caracterizem a cultura real.

O diagnóstico da cultura organizacional deve ser realizado por uma equipe externa, segundo

escrevem Boyer e Equibey (1986), através de um exame baseado em quatro temas: história –

reconstrução da evolução cultural da empresa; profissão – conhecimento do exercício das

atividades da empresa; sinais e símbolos característicos da empresa; e, os valores –

recuperação dos valores declarados e do seu modo de expressão.

Composta por três etapas, Thévenet (1993) propõe a seguinte metodologia para desvendar a

cultura:

• Primeira etapa – coleta de informações (busca de informações nas áreas onde a cultura

parece ser mais visível). O autor classifica em cinco as principais categorias de

informações: os fundadores e as circunstâncias da informação; a história; a profissão;

os valores; e os sinais e símbolos;

• Segunda etapa – pesquisa das hipóteses de cultura (são determinadas as lógicas

subjacentes às cinco categorias de informações);

• Terceira etapa – validação das hipóteses (consiste em confrontar as hipóteses aos fatos

que indicarão ou não a sua confirmação).

A metodologia de Fleury (1990) propõe os temas:

• Histórico da organização – é a recuperação do momento de criação da empresa e de

sua colocação no contexto político e econômico da época;

• Processo de socialização dos novos membros – através das estratégias de integração

do indivíduo os valores da organização são transmitidos;

• Políticas de recursos humanos – têm papel muito relevante no processo de construção

da cultura organizacional;

• Processos de comunicação – constituem elemento essencial no processo de criação,

transmissão e cristalização do universo simbólico de uma organização;

• Organização do processo de trabalho – análise desse processo nos componentes

tecnológico e social, os quais representam uma categoria metodológica importante

para o descobrimento dos aspectos formadores da identidade organizacional.

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35

Sá (1999), em sua metodologia, propõe, seguindo um caminho proposto por Fleury (1990), o

estudo da organização do processo de trabalho; no que tange à colheita de informações

através da análise dos valores e dos sinais, o método de Boyer e Equilbey (1986) e de

Thévenet (1993). Em seu estudo a autora utilizou:

• A pesquisa de opinião – realizada através do questionário, o qual deve ser passado em

todos os níveis: de direção, de supervisão e de operação;

• A entrevista – como uma etapa complementar da coleta dos dados;

• A observação direta sobre os empregados no seu posto de trabalho;

• As relações interpessoais – as atitudes e comportamentos dos empregados para com os

seus colegas de trabalho e o clima entre eles;

• As relações de autoridade – a maneira como os superiores tratam os empregados.

O método de estudo da cultura organizacional adotado no presente trabalho será, como indica

Schein, com base nos elementos da cultura, conforme descritos na seção 2.1.2.

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36

2.2 Liderança

Bastante explorado na literatura, o tema liderança teve seus estudos iniciados a partir da busca

por traços e características dos líderes, assim como por seus comportamentos e estilos,

passando, posteriormente a abordagens contingenciais/situacionais (BERGAMINI, 1994;

KENT, CROTTS E AZZIZ, 2001; YUKL, 2002; BRYMAN, 2004). Assim como o termo

cultura, a liderança também possui um vasto campo de conceitos.

Segundo Capezio e Morehouse (1997), liderança pode ser definida como a habilidade de

influenciar indivíduos ou grupos em pensamentos, sentimentos e tomadas de decisão para o

alcance de objetivos. No âmbito organizacional, liderança pode ser depreendida como a arte

de exercer influência sobre outros para alcançar os objetivos estabelecidos pela organização,

embora a influência possa acontecer de ambos os lados – entre líderes e liderados, conforme

atesta Cohen (2003), ao escrever que a liderança é um processo no qual todas as partes

envolvidas se influenciam mutuamente.

Para Seters e Field (1990), a liderança representa um fenômeno complicado com o qual as

organizações têm se defrontado, por isso tem havido um aumento significativo nas pesquisas

realizadas nos últimos anos. A palavra líder apareceu por volta do século XIV para indicar

quem “conduzia”, em contrapartida liderança, veio a surgir somente no século XIX na

Inglaterra. Somente a partir dos anos 1980, segundo Barreto (2006), emergiram as novas

abordagens sobre liderança. O esforço para a compreensão da liderança pode ser verificado

com o aumento das pesquisas sobre este fenômeno.

A liderança encontra-se diretamente relacionada ao comportamento organizacional. Nos

meios militares, surgiram pressupostos acerca do papel que um líder representa na

organização, no que diz respeito à função do alcance de objetivos sem a perda da hierarquia e

do poder. Bergamini (1997) escreve sobre a preocupação com a sistematização dos atributos e

comportamentos inerentes aos líderes, os quais emergem dos papéis uma vez exercidos por

grandes líderes na História e, por se tratar de um tema importante, Stoner e Freeman (1995)

afirmam que a liderança representa um papel fundamental na eficácia da organização.

Segundo Hollander (1978, apud Bergamini, 1994, p. 15),

o processo de liderança normalmente envolve um relacionamento de influência em

duplo sentido, orientando principalmente para o entendimento de objetivos mútuos.

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37

Portanto, a liderança não é apenas o cargo do líder, mas também requer esforços de

cooperação por parte de outras pessoas.

Pode-se afirmar que liderança, no âmbito organizacional, é o processo de encorajamento e

ajuda aos indivíduos para que os mesmos trabalhem com mais entusiasmo na direção dos

objetivos estratégicos, o que é corroborado por Kouses e Posner (1997, p. 33) ao afirmar que

liderança “é a arte de mobilizar os outros para que estes queiram lutar por aspirações

compartilhadas”, e o fator humano é fundamental para a orientação acerca do caminho que o

grupo deve seguir, sempre motivando em direção aos objetivos da organização.

Liderar é ser responsável por um grupo, uma vez que sem o mesmo não há a necessidade de

um líder, conforme Kuczmarski e Kuczmarsk (1999). Acreditava-se, segundo Mc Gregor

(1992) que antes de 1930 a liderança pertencia ao indivíduo, e que poucas pessoas possuíam

traços psicológicos que lhes permitiam tornar-se um líder, os quais já nasciam com essas

capacidades. O mesmo autor escreve que, com o avanço nos estudos sobre o tema, foi

observado que essas capacidades, habilidades e atitudes podem ser adquiridas através da

aprendizagem, conforme atesta Northouse (2004, p. 35):

Na abordagem das características pessoais, nós mudamos nosso pensamento de foco

sobre as habilidades, as quais usualmente eram vistas como inatas e relativamente

fixas, para uma ênfase nas habilidades e aptidões que podem ser aprendidas e

desenvolvidas.

2.2.1 Comportamento do líder

Os estudos iniciais a respeito de liderança identificam traços pessoais presentes na figura do

líder, e, segundo Smith e Peterson (1994), somente depois foram focadas suas habilidades e

capacidades. Seguindo este pensamento, Bergamini (2002), escreveu sobre os três estilos

básicos de liderança formal que causam impacto nos climas sociais das organizações:

autocrático, democrático e liberal. Robbins (2005), Soto (2002) e Davi e Newstrom (1992),

assim descrevem estes estilos de liderança:

• O líder autocrático centraliza o poder e a tomada das decisões em si mesmo,

assumindo toda autoridade e responsabilidade, baseando suas ações em punições e

ameaças – a vantagem deste estilo de liderança é que ele geralmente satisfaz como

líder;

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38

• O líder e seus subordinados atuam como uma unidade social no estilo democrático,

com a descentralização da autoridade – a vantagem é que este estilo de liderança

desenvolve a responsabilidade e o comprometimento do grupo;

• O líder liberal evita o poder e a responsabilidade, possuindo um papel secundário,

onde sua contribuição é ignorada.

A figura 2 mostra as principais características dos estilos de comportamento dos líderes:

Figura 2 – Estilos de liderança

Fonte: Adaptado de Bergamini (2002)

Pode-se afirmar que a relação grupo-liderança obtém maiores resultados quando o líder é

participativo e tem facilidade de comunicação. Nas pesquisas de Judge et al., (2004), pode-se

evidenciar que este estilo de liderança tem alta correlação com a satisfação e motivação dos

liderados.

Fiedler (1981) escreve que existem inúmeros indícios que mostram a variação do

comportamento do líder em virtude de situações, o que é corroborado por Hersey e Blanchard

(1986) ao afirmarem que não há um modo único para influenciar pessoas, uma vez que o

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estilo de liderança adotado depende do grau de maturidade das pessoas que este líder deseja

influenciar. O líder, segundo Northouse (2004), pode ajustar seu estilo a diversas situações.

Platão afirmava que o líder eficaz era o detentor do conhecimento e possuía a capacidade de

disseminá-lo. Yukl (1989) escreve que, a partir da década de 80, pesquisadores da área de

administração iniciaram seus estudos sobre o líder carismático, em virtude da transformação e

revitalização das organizações que este perfil contribui na empresa. Weber, (apud Yukl,

1989), escreve que a liderança carismática tem ligação com a percepção de que um líder

possui uma inspiração divina que é de alguma forma única e maior que a própria vida. Pode-

se comparar esta declaração com os estudos acerca da liderança de Jesus Cristo, que é visto

como um líder carismático, com características marcantes como: missão de vida, ética,

comprometimento e coragem, conforme pode ser observado em passagens da Bíblia. Este

estilo de líder atrai os liderados para a visão organizacional.

2.2.2 Modelos de liderança

Essencial a todo tipo de organização, a liderança teve seu início com as atividades voltadas

para as tarefas, conforme observado nos trabalhos de Taylor com a Teoria Científica, em

seguida teve sua visão voltada para a estrutura organizacional, na Teoria Clássica de Fayol e,

somente na década de 1930, com os estudos de Elton Mayo na Teoria das Relações Humanas,

a liderança passou a priorizar as pessoas e seus relacionamentos sociais e técnicos.

Bennis (1996) escreve que o líder atual costuma interagir em ambientes de comprometimento,

complexidade e credibilidade, cenário corriqueiro nas organizações, porém o grau de

compromisso entre a empresa e seus funcionários é cada vez mais decrescente. As falhas

acontecem quando os líderes não delegam autoridade, o que leva a um não comprometimento

por parte dos liderados em relação à empresa e aos objetivos organizacionais.

Santiago (2007) relaciona as seguintes habilidades humanas identificadas em uma pesquisa

realizada junto a 90 líderes de empresas americanas pelos autores Bennis e Nanus (1988):

• Visão – atenção voltada para resultados da organização;

• Comunicação – transmissão eficaz do significado e das interpretações partilhadas da

realidade, o que facilita a ação coordenada;

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• Confiança – resultado da responsabilidade final;

• Autoconhecimento – conhecer seus pontos fortes e fracos.

Segundo Bennis (2001, p. 104),

o autoconhecimento é parte essencial da formulação de um líder. Para tornar-se líder

você deve ser você mesmo, e este preceito é um dos mais difíceis na vida. Mas até

que conheça a si próprio, seus pontos fortes e francos, até que saiba o que fazer e por

que, não poder ter sucesso em nada, exceto no sentido superficial da palavra.

Cada fase da liderança, segundo o autor, carrega crises e desafios muitas vezes angustiantes, o

que torna crucial para o trabalho do líder a manutenção da tomada rápida de decisões e a

capacidade de adaptabilidade as mais diversas circunstâncias.

Kouzes e Posner (1996) elaboraram um instrumento para medir comportamentos e práticas

com o objetivo de desenvolver o potencial de liderança dos executivos e seus subordinados,

denominado LPI – Leadership Practice Inventoy, o qual foi validado para diferentes

realidades culturais.

Inicialmente as pesquisas de Kouzes e Posner (1996), procuravam determinar quais

características dos líderes os seguidores mais admiravam. As características mais admiradas

pelas pessoas eram a honestidade; competência; olhar adiante (visão de futuro); e

capacidade de inspirar (ser incentivador). Os autores escrevem que a base da liderança é a

credibilidade e, para tanto, os líderes precisam desenvolver qualidades conforme as citadas

acima.

Após diversos estudos de casos e aplicação de questionários, os autores estabeleceram um

modelo de liderança que permite aos gestores serem mais eficazes em seu papel de líder:

• Prática 1: Desafiar as regras – o líder precisa estar sempre quebrando paradigmas,

incentivando as mudanças, sempre envolvendo os colaboradores;

• Prática 2: Inspirar uma visão compartilhada – os liderados só assumem riscos se

compartilharem da visão da empresa, ao mesmo tempo em que tenham líderes que

inspirem credibilidade e confiança;

• Prática 3: Permitir que os outros ajam – o líder deve encorajar seus colaboradores a

agir de forma espontânea, estimulando seus liderados a terem iniciativa;

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• Prática 4: Apontar o caminho que deve ser seguido – o líder precisa estar sempre

guiando sua equipe para o alcance dos melhores níveis de desempenho e

relacionamento;

• Prática 5: Encorajar o coração – os colaboradores precisam ser sempre motivados

para enfrentar os problemas do dia-a-dia.

“Liderar é a arte de mobilizar os outros para que estes queiram lutar por aspirações

compartilhadas” (KOUSES E POSNER, 1997, p. 33).

Conforme Quadro 3 a seguir, Robbins (2002), em seus estudo acerca do constructo liderança,

agrupou o tema em quatro abordagens: Teoria dos Traços; Teorias Comportamentais; Teorias

Situacionais ou Contingenciais e Teorias Neocarismáticas.

Quadro 3 – Abordagens sobre Liderança

Teoria dos Traços

Nesta teoria, um líder já nasce como tal, com traços sociais, intelectuais, físicos e de

personalidade já definidos. Foram utilizadas duas abordagens pelos pesquisadores para

mensurar as características de liderança:

*Comparação das características dos indivíduos que se revelaram líderes com as das

pessoas comuns;

*Comparação das características dos líderes eficazes com as dos ineficazes.

Diante da dificuldade para se isolar traços ou características que distinguissem os

líderes, os pesquisadores resolveram identificar comportamentos que pudessem

determinar o seu sucesso.

Teorias

Comportamentais

Esta abordagem concentrou sua atenção em comportamentos específicos que poderiam

determinar se um indivíduo seria um bom líder.

Assim, acreditava-se que estes comportamentos poderiam ser aprendidos e que

indivíduos treinados nos comportamentos de liderança seriam capazes de liderar com

maior eficácia.

Com o decorrer dos estudos, os pesquisadores observaram que o comportamento do

líder é um dos fatores importante, mas não é o único.

Teoria da Liderança

Situacional

Abordagem focada nos liderados, onde o líder deve se moldar a cada situação,

oferecendo orientações, dando ênfase ao relacionamento, conquistando e motivando os

liderados, estando próximo e agindo sempre de forma participativa.

Teorias

Neocarismáticas

Esta teoria enfatiza o apelo emocional e o compromisso por parte dos liderados. Envolve

as lideranças: carismática, transformacional e visionária.

Fonte: Adaptado de Robbins (2002)

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42

A maneira como um líder constrói seu relacionamento com seus liderados configura seu estilo

de liderança. Na próxima seção serão apresentados os estilos de liderança e os principais

entendimentos teóricos acerca dos modelos de liderança transacional e transformacional, as

quais foram escolhidas pela pesquisadora para resposta ao presente estudo (seção 1.2.1).

2.2.3 Estilos de liderança

Segundo Robbins (2002), os líderes possuem limitações exigidas pelas condições culturais

que determinam as expectativas de seus liderados, o que, complementa House (1995), exige a

necessidade de um entendimento mais detalhado da maneira como a liderança é executada em

diferentes culturas.

Burns (1978) publicou um estudo sobre liderança transacional e transformacional, onde,

segundo Bass (1990), a liderança transacional está relacionada à relação de troca entre líder e

subordinados para responder aos seus próprios interesses, enquanto a transformacional, para

Northouse (2004), procura por resultados que vão além dos esperados, motivando seus

seguidores a superar as expectativas dando foco aos elementos carismáticos e afetivos da

liderança.

2.2.3.1 Liderança transacional

Robbins (2002, p. 319) escreve que na liderança transacional os líderes conduzem e motivam

seus seguidores na direção das metas estabelecidas por meio do esclarecimento dos papeis e

das exigências das tarefas. Ainda segundo o autor, neste estilo de liderança os objetivos a

serem alcançados, as atividades a serem realizadas e as recompensas são acordados entre

líderes e subordinados. O centro desta liderança está voltado para os resultados da

organização.

No âmbito da organização, o líder transacional conduz os colaboradores a atingir as metas

estabelecidas pela organização através de um foco voltado para as trocas em ambos os atores.

Melo (2004, p. 45) complementa Robbins ao escrever que:

A liderança transacional evidencia o comportamento do líder no acompanhamento e

na orientação do subordinado, na distribuição de recompensas, no papel de educador

e motivador dos colaboradores e da equipe e no relacionamento com as pessoas,

visando atingir as metas e objetivos organizacionais.

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A liderança transacional, segundo Bass (1990), pode ser dividida em quatro dimensões, a

saber:

• Premiação das pessoas (recompensa contingencial): A recompensa é resultado do

esforço do liderado, o qual varia de acordo com sua necessidade. Segundo Bycio et

al., (1995), os líderes negociam a tarefa a ser realizada, assim como a recompensa que

será oferecida a quem cumpri-la;

• Gerenciamento por exceção – ativa: Corresponde ao monitoramento do desempenho e

à tomada de ação corretiva apenas quando necessário. O líder não evita o erro, apenas

observa e espera que aconteça para então aplicar a ação corretiva;

• Gerenciamento por exceção – passiva: Existe uma ausência no monitoramento de

previsão de erros e falhas e o líder apenas age quando o erro acontece;

• Laissez-faire: Refere-se à ausência da liderança, ou seja, a inexistência da

responsabilidade de liderança.

2.2.3.2 Liderança transformacional

A liderança transformacional busca por resultados que vão além dos esperados, onde os

líderes, segundo Robbins (2005), inspiram seus seguidores a transcenderem seus próprios

interesses para o bem da organização, causando um profundo impacto sobre os liderados. O

ponto central desta liderança é o interesse pelas pessoas. Segundo Kent; Crotts; Azziz (2001),

grande parte do tempo do líder é dedicado a conversas com seus seguidores para saber mais

sobre suas metas e problemas.

Este estilo de liderança amplia a relação entre o líder e seus liderados, conduzindo a

construção de indivíduos comprometidos com os objetivos da organização. Segundo

Bergamini (2002), o líder transformacional sabe reconhecer uma necessidade existente do

seguidor em potencial e foca os motivos potenciais dos liderados, procurando satisfazer suas

solicitações.

Bass; Avolio (1993) caracterizam os líderes transformacionais por quatro componentes:

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• Influência idealizada: também conhecida como influência carismática. Os líderes

fazem com que sua visão seja seguida por possuir conduta ética, gerando respeito e

lealdade por parte de seus seguidores, uma vez que as pessoas se sentem valorizadas;

• Motivação inspiracional: baseada na comunicação para estimular o espírito de equipe

e o entusiasmo, os líderes motivam os liderados a serem comprometimentos através de

ações simbólicas e linguagem persuasiva;

• Estímulo intelectual: os líderes estimulam seus seguidores a serem criativos e

inovadores, fazendo com que desafiem suas próprias crenças e valores, fazendo-os

pensar de diferentes maneiras, desenvolvendo novos caminhos para os negócios. A

criatividade é encorajada pelos líderes, que não expõem publicamente os erros dos

seguidores;

• Consideração individualizada: o líder desenvolve habilidades nos subordinados e

melhora a qualidade e a efetividade de toda a equipe, tratando cada empregado de

maneira única, o que é afirmado por Bycio et al., (1995) ao escrever que o líder

reconhece as necessidades e desejos próprios inerentes a cada indivíduo.

Diante do exposto, pode-se inferir que as organizações possuem tanto a liderança

transformacional quanto a liderança transacional, as quais possuem relevância e se

complementam, mas sua utilização irá variar de acordo com o contexto e o momento pelo

qual a esta organização esteja vivendo (HATER; BASS, 1988).

Bass; Avolio (1993) acreditam que em ambientes de turbulência a liderança transformacional

é a melhor escolha, em contrapartida da liderança transacional, que é mais bem aceita em

ambientes mais estáveis. Estes são os modelos de liderança adotados neste trabalho, uma vez

que ambos os conceitos possuem características essenciais para a construção da relação entre

os líderes e seus liderados, podendo ser aplicados de acordo com qualquer tipo de situação.

Deve ser citada também a ausência de liderança, que é caracterizado pelo comportamento

neutro e despreocupado do líder, que não se envolve com o desenvolvimento do liderado, nem

tampouco com suas necessidades e realizações (SCHILLING; SCHILLING, 2008).

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3 MÉTODO DA PESQUISA

Neste Capítulo apresentam-se os meios metodológicos utilizados para a investigação do

problema proposto.

3.1 Delineamento da pesquisa

Este trabalho segue a orientação do método qualitativo por se tratar de um estudo de natureza

cultural e social, tanto para a coleta quanto para a análise dos dados. Segundo Merriam

(1998), o conceito do método qualitativo ajuda a entender e explicar o significado do

fenômeno social, a ser investigado, sem alteração do ambiente natural, o que é corroborado

por Richardson (2012), o qual descreve que, além de ser uma opção do investigador, o

método qualitativo justifica-se por ser uma forma adequada no entendimento da natureza

humana como um fenômeno social.

Essa opção metodológica é apoiada por Schein (1985), ao afirmar que os estudos sobre

cultura organizacional devem utilizar a abordagem qualitativa, pela complexidade desses tipos

de investigações. Wolffenbüttel (2009) tem essa mesma compreensão ao afirmar que os

métodos qualitativos procuram explicar as razões dos fenômenos, sendo apropriados em

estudos complexos e de natureza social. O mesmo autor complementa que a abordagem

qualitativa é utilizada quando os entendimentos do contexto social e cultural se constituem

elementos importantes para a pesquisa, havendo a necessidade de se observar, registrar e

analisar interações reais entre pessoas, entre elas mesmas e os sistemas.

A presente pesquisa também possui caráter descritivo, uma vez que descreve como a cultura

organizacional orienta a conduta e a ação de líderes adictos e não-adictos, em um centro de

tratamento para dependência química do Recife – PE.

Vergara (2005) escreve que a pesquisa descritiva expõe características de determinada

população ou fenômeno e, segundo Cooper e Schindler (2003), procura responder a perguntas

como o quê, quem, quando, onde e como. Para Godoy (2007), a pesquisa qualitativa possui

dados coletados que são apresentados por meio de entrevistas, anotações de campo entre

outros tipos de documentos, o que lhe confere um caráter descritivo por natureza. Consiste de

uma investigação detalhada, com dados coletados num período de tempo, acerca de um

fenômeno, dentro de seu contexto.

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O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso, único, o qual, segundo Godoy (2007), é

caracterizado como um tipo de pesquisa que tem como objeto central, o detalhamento de um

fenômeno investigado em profundidade, em uma unidade social – indivíduo, grupo e

instituição, possibilitando que o investigador entenda o funcionamento do objeto de estudo.

O delineamento da pesquisa está representado na Figura 3, abaixo:

Figura 3 – Delineamento da pesquisa

Fonte: Adaptado de Oliveira, 2011

3.2 Locus de investigação

A escolha de um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, localizado na

cidade do Recife – PE, para a realização desse estudo, deveu-se à curiosidade desta

pesquisadora, para entender quais características específicas pode apresentar essa

organização, uma vez que abriga dois estilos de liderança diferentes, tanto em termos de

experiência de vida, quanto de comportamento, os quais são capazes de conviver e trabalhar

de maneira harmoniosa, ao ponto de contribuírem para a realização dos objetivos propostos,

guardando com zelo e apreço, a própria missão.

O centro de tratamento possui 3 unidades de recuperação, com capacidade total para atender

uma média de 190 pessoas do sexo masculino e acima de 18 anos. Possui mais de 70

profissionais distribuídos nas categorias de saúde, administrativo, nutrição e terapêutico. Seu

funcionamento é de 24 horas por dia, todos os dias da semana.

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3.3 Desenho da pesquisa

De acordo com Gil (2008), o desenho da pesquisa representa o planejamento de um estudo,

em sua dimensão mais ampla (conforme Figura 4).

A primeira fase foi iniciada com a formulação do problema de pesquisa, por meio da união

dos constructos: cultura organizacional e liderança, visando entender o comportamento de

lideranças distintas, em um centro de tratamento para dependência química, o qual representa

o locus.

Na segunda surgiram os objetivos geral e específicos, que apoiaram as questões sobre as

práticas de liderança para o desempenho conjunto de líderes adictos e não-adictos, na

organização estudada.

Na fase seguinte buscou-se delinear a pesquisa, quanto aos aspectos metodológicos.

A quarta fase compreende a escolha das técnicas de coleta dos dados: observação direta

participante e documentos.

A análise e interpretação dos dados constituem a quinta fase, quando foram organizados para

se proceder a interpretação e discussão dos resultados.

A sexta e última fase corresponde à finalização da dissertação, quando foram escritas as

conclusões acerca dos resultados encontrados.

Figura 4 – Desenho da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora

Formulação do problema

de pesquisa

Definição dos

objetivos específicos

Delineamento da

pesquisa

1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase

Coleta de dados

4ª Fase

Análise e interpretação

dos dados

5ª Fase

Finalização da

dissertação

6ª Fase

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3.4 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos desta pesquisa foram selecionados de acordo com a contextualização do problema,

totalizando 11 funcionários (conforme Quadro 4), os quais são líderes (diretores, gerentes e

coordenadores) adictos e não-adictos, dos departamentos financeiro e administrativo do

centro de tratamento.

Quadro 4 – Sujeitos da pesquisa

DEPARTAMENTOS SUJEITOS DA PEQUISA

FINANCEIRO Diretor - 01

Diretor - 02

Gerente - 04

Coordenador - 04

ADMINISTRATIVO

Fonte: Elaborado pela autora

3.5 Instrumentos de coleta dos dados

Lakatos e Marconi (2001) escrevem que a técnica de coleta de dados pode ser descrita como

um conjunto de preceitos ou processos que a ciência utiliza na obtenção de seus propósitos.

Os dados desta pesquisa foram coletados por fontes primárias, utilizando-se a observação

participante e alguns documentos.

A observação participante, geralmente, é utilizada em pesquisas qualitativas, para coleta de

dados em situações em que os indivíduos desenvolvem suas atividades em seus cenários

naturais, o que permite examinar a realidade social (HOLLOWAY; WHEELER, 1996).

Na observação participante, o pesquisador vivencia um contato direto com os atores sociais,

percebendo o foco de sua análise e participando das relações sociais à medida que entende as

ações no contexto da situação observada. O pesquisador se torna parte do universo e passa ter

um entendimento diferenciado da cultura, apreendendo aspectos simbólicos como os

costumes e a linguagem, fazendo parte integrante daquela realidade (QUEIROZ et al., 2007).

Para Minayo e Deslandes (1998), a observação participante é relevante quando se pretende

apreender o máximo de conhecimento dinâmico sobre determinada situação ou fenômeno, o

que constitui uma técnica de investigação que se complementa com a análise documental e o

diário de campo, onde o pesquisador registra suas observações para uma análise posterior.

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Nesta pesquisa foi utilizado um diário de campo para as informações relativas às observações

participantes; quanto aos documentos, buscou-se dados referentes à missão e outras

informações provenientes de mensagens trocadas, via e-mails.

Foram analisados os documentos (e-mails) e as anotações em diário de campo até que se

encontrassem repetições, chegando até a saturação. Segundo Glaser e Strauss (1967), a

saturação é usada quando os dados obtidos passam a apresentar certa repetição na avaliação

do pesquisador, sendo irrelevante persistir na coleta dos dados.

3.6 Técnica de análise dos dados

Para a análise dos dados desta pesquisa foi utilizada a técnica da ‘Análise de conteúdo’

(BARDIN, 2010), como entendimento sobre a cultura organizacional e os diferentes estilos de

liderança, no centro de tratamento.

Segundo Bardin (2010), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens. A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos

às condições de produção que recorre a indicadores quantitativos ou qualitativos.

As fases da análise de conteúdo, segundo o autor acima, são assim organizadas:

• Pré-análise – seleção e organização do material a ser analisado com o objetivo de

torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Faz-se as escolhas dos

documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos

e a elaboração dos indicadores que fundamentem a interpretação final;

• Exploração do material – realização da definição de categorias, identificação das

unidades de registro e identificação das unidades de contexto nos documentos. É a

fase das análises propriamente ditas (BARDIN, 2010);

• Tratamento dos resultados, inferência e interpretação – nesta fase os resultados brutos

são tratados de maneira que se tornam significativos e válidos, ocorrendo a

condensação e o destaque das informações para análise, a qual culmina nas

interpretações inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica.

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Na presente pesquisa foram realizadas inferências a partir de dados coletados no diário de

campo e da análise documental, como e-mail. A análise de conteúdo constitui um instrumento

de indução para se investigar as causas (variáveis inferidas) a partir dos efeitos (variáveis de

inferência ou indicadores; referências no texto).

Vergara (2005) sugere duas grades de análise, as quais:

• Aberta – as identificações das categorias de análise acontecem à medida que vão

surgindo. O pesquisador, neste caso, faz as adaptações essenciais conforme a direção

das análises;

• Mista – algumas categorias relacionadas aos objetivos são definidas, todavia,

consoante o processo de análise, admite-se inserir novas categorias.

Neste estudo, foi utilizada a grade aberta para analisar o conteúdo encontrado nos documentos

os quais a pesquisadora teve acesso (e-mails) e grade mista para análise das observações do

diário de campo e da observação participante.

3.7 Limites e limitações da pesquisa

3.7.1 Limites da pesquisa

Esta pesquisa se limita a um centro de tratamento para dependência química em Recife, no

estado de Pernambuco. Os objetivos deste estudo limitaram-se à observação participante,

visto que a investigação foi fundamentada apenas na percepção dos seus líderes que trabalham

nos setores administrativo e financeiro do locus da investigação.

3.7.2 Limitações da pesquisa

Não foram encontradas limitações para o estudo desta pesquisa.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

A partir desta fase, vão ser apresentadas as inferências realizadas através de informações

levantadas pela pesquisa, com a finalidade de responder aos objetivos específicos deste

trabalho e promover, ao seu término, a discussão acerca dos resultados alcançados.

A pesquisa foi realizada junto a um centro de tratamento para usuários de substâncias

psicoativas, localizado na cidade do Recife – PE, o qual está aqui sendo caracterizado como

centro de tratamento.

Foram considerados para a análise dos dados, as anotações feitas no diário de campo, por

meio de observação participante e documentos, como e-mails.

Num primeiro momento, foi feita a caracterização do centro de tratamento, por meio da

observação participante. Depois se seguem os elementos da cultura organizacional,

características dos estilos de liderança e identificação das práticas de desempenho conjunto

para os líderes do centro de tratamento, a fim de obter as respostas propostas nos objetivos

específicos da pesquisa.

4.1 Características do centro de tratamento e do escritório central

O centro de tratamento foi inaugurado há 8 anos com o objetivo de oferecer apoio

biopsicossocial aos indivíduos dependentes químicos. Possui 3 unidades de recuperação,

especializadas no tratamento para dependência química de pessoas do sexo masculino, acima

de 18 anos, com capacidade para 65 pacientes cada um deles.

O escritório central, local onde ficam os diretores e gerentes dos setores administrativo e

financeiro, está localizado em um bairro distinto das unidades de tratamento, também na

cidade de Recife/PE. Ocupa as instalações de uma casa antiga, de primeiro andar, espaçosa,

onde se encontram, além da diretoria e da gerência, o setor de abordagem, onde as famílias

são acolhidas antes da internação dos seus protegidos. Nesse espaço também são realizadas as

reuniões mensais com os gerentes e as equipes terapêutica e administrativo/financeiro de cada

unidade, a fim de discutir problemas e apresentar resultados.

Para atender com qualidade seus pacientes, a equipe de funcionários é composta, em sua

totalidade, por mais de 70 profissionais divididos entre médicos, enfermeiros, técnicos em

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enfermagem, psicólogos, consultores em dependência química, educador físico, nutricionista,

cozinheiros e funcionários do setor administrativo/financeiro.

As instalações dessas unidades terapêuticas são amplas e arborizadas, com área para práticas

desportivas – como futebol e natação; possui cozinha industrial, refeitório, dormitórios,

consultórios, bem como um setor administrativo/financeiro.

Expõem em sua decoração, quadros que levam a uma reflexão sobre o uso de drogas, as

consequências e os ganhos com o abandono do vício. Cada instalação é independente, sem

ligação direta entre elas, à exceção do setor administrativo/financeiro e dos consultórios

médicos/psicológicos, que dividem a mesma instalação. São utilizadas cores claras em suas

paredes.

Na observação participante foram feitas algumas anotações conforme segue acerca dos

centros de tratamento e do escritório central:

I. A entrada e saída do centro de tratamento são realizadas por um único portão por

questões de segurança, o qual funciona através de controle remoto, e toda sua área

é cercada por muros altos e cerca elétrica a fim de evitar possíveis fugas por parte

dos pacientes internados. No escritório central também existem muros altos com

cerca elétrica, além de câmeras de segurança. A entrada e saída também são

realizadas por um único portão.

II. A primeira instalação acessível no centro de tratamento é o setor

administrativo/financeiro, onde são realizadas as internações, recepção aos

familiares e demais atividades do setor. Em seu interior também funcionam os

consultórios para atendimentos dos médicos e psicólogos. No escritório central os

setores são divididos por salas – Financeiro/administrativo, diretoria, gerência, sala

de reunião, cozinha, sala de atendimento à família, setor de abordagem. Todas

funcionando na mesma casa.

III. Todos os funcionários do centro de tratamento usam uniformes, à exceção do gerente

e das equipes: médica, de enfermagem e de psicólogos, que, por sua vez, usam

jaleco branco. Da mesma forma, o cozinheiro utiliza o EPI indicado para sua

função. Foi observado que não é possível a identificação de suas funções ou nomes

pela não utilização de crachás.

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IV. Semelhantemente, no escritório central, todos os funcionários usam uniformes, à

exceção dos gerentes e diretores; entretanto eles também não utilizam crachá, o

que dificulta a identificação dos nomes e funções.

V. Nos centros de tratamento a missão, visão e valores da empresa estão expostos na

recepção do setor administrativo/financeiro, o que não é observado no escritório

central.

VI. À exceção dos médicos, psicólogos, gerentes e diretores, todos os funcionários do

centro de tratamento precisam bater o ponto através de digital.

VII. O centro de tratamento funciona 24 horas por dia, em todos os dias da semana,

inclusive para a chegada de novos pacientes para internação, exceto o setor

administrativo/financeiro e o escritório central, que têm suas atividades realizadas

em horário comercial.

4.2 Elementos da cultura organizacional

Nesta seção estão apresentados os elementos culturais identificados no centro de tratamento

para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE, com a finalidade de responder ao

primeiro objetivo específico desta pesquisa: verificar elementos da cultura organizacional de

um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE.

• Valores

Percebe-se o valor que se dá aos profissionais chamados adictos, nesse centro de tratamento,

ou seja, aqueles que já fizeram uso de substâncias psicoativas, na medida em que são

reinseridos no mercado de trabalho, para exercer tanto a função de técnicos em dependência

química, ao lado da equipe terapêutica, quanto funções administrativas e de gerência.

Thévenet (1990) escreve sobre este elemento, afirmando que os valores se referem ao que é

considerado belo, bom e justo. No caso dessa empresa, vem-se constatando que, mesmo

diante de uma “recaída” de um desses adictos, se o mesmo estiver disposto a ser tratado, a

empresa oferece todas as condições, embora o afastando de suas atividades laborais,

evidentemente; ao final desse período, por vezes, lhes é oferecida mais uma oportunidade de

trabalho na empresa. O mesmo começa de baixo, passando por todos os setores em que o seu

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perfil se encaixa, podendo voltar à mesma função exercida antes. São valores aparentes, que

estão ligados às decisões da organização.

Outro valor percebido trata do incentivo que se oferece a esses adictos, para participarem de

eventos regionais e nacionais de NA, como o ENCONPASSO, por exemplo, quando os 12

Passos4 são discutidos. Lá, tem-se a oportunidade de ouvir testemunhos sobre a experiência de

se usar álcool ou outras drogas. Essa prática é apoiada por Hofstede (1984) quando acredita

na importância de questionamentos, quando esses levam a resultados.

Quanto aos não-adictos, entende-se que o centro de tratamento valoriza as suas ideias e

maneiras de empreender na medida em que são levadas adiante para melhoria dos processos

administrativos; como por exemplo, a implantação do PDCA, que vem melhorado,

continuamente, os processos administrativos e, ainda, práticas financeiras.

Também é observado o fato da não discriminação em relação a opção sexual, raça, religião,

uso de piercing5 e tatuagens pelo corpo, um valor organizacional apoiado por Cox (1994),

uma vez que gerir a diversidade cultural mostra as boas práticas de planejamento e gestão de

pessoas. Observa-se, ainda, que nessa instituição, essas causas são tratadas de maneira tão

natural, que os próprios funcionários comportam-se como tal, o que é ressaltado por Irigaray e

Freitas (2009), como importante, visto que esse valor da organização é estendido aos demais

membros.

• Lema

Identificou-se um lema entre eles: “Estamos juntos”, o qual é constantemente proferido e

colocado em prática. Da parte dos gestores, eles têm um cuidado com os adictos, sobretudo

quando apresentam qualquer problema pessoal que possa afetar a recuperação desses; eles se

propõem a ouvi-los em seus problemas e experiências, pois reconhecem a dificuldade desse

processo do “ficar limpo”, como assim, popularmente, se chama, referindo-se à libertação do

uso de substâncias psicoativas. Os não-adictos também se sentem inseridos dentro deste

4 Programa que surgiu nos Estados Unidos em 1935 voltado para o tratamento do alcoolismo e posteriormente

estendido para praticamente todos os tipos de dependência química.

5 Palavra originária do inglês vista como uma forma de modificar o corpo humano como a finalidade de adorná-

lo, furando-o para a introdução de peças de metal em diversas partes do corpo, como nariz, língua, mamilos e

umbigo, por exemplo.

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elemento cultural, uma vez todos passam por problemas, independentemente de ter um

passado de adicção ou não. Esse acolhimento é sentido e percebido por todos que fazem parte

da equipe de profissionais do centro de tratamento.

• Crenças

Freitas (1991) escreve sobre a atenção para aprender com os atos falhos dos discursos e o

paradoxo entre o discurso e a prática, e que os administradores precisam estar sempre

vigilantes, reforçando suas crenças, uma vez que as mesmas têm sua validação efetivada com

o tempo. Diante disto, foram verificadas três crenças:

✓ a primeira diz respeito à contratação de adictos em nível de liderança, sobretudo, por

se acreditar que eles têm importância fundamental no tratamento dos pacientes;

✓ a segunda, concerne à aceitação, da parte dos gestores, do erro de funcionários

adictos, que trabalham no setor administrativo/financeiro, uma vez que acreditam que

a utilização de substâncias no passado, pode provocar maior dificuldade para o

aprendizado de determinada atividade;

✓ a terceira refere-se à compreensão sobre a instabilidade emocional e de humor desses

mesmos funcionários, tida como normal, também em decorrência do anterior vício.

Comum é escutar expressões, do tipo: “Só podia ser um adicto mesmo”; ou: “Você

não sabe que fulano é adicto?”; ainda: “Vai ter que repetir de novo para ele entender”.

• Ritos, rituais e cerimônias

Esses elementos são perceptíveis, sobretudo, nas atividades do setor

administrativo/financeiro, quando do acolhimento das famílias que estão fazendo a internação

de um seu familiar. Primeiro o ritual da explanação acerca do programa utilizado para o

tratamento do paciente; depois outro, da apresentação das instalações físicas, o que pode ser

verificado em Silva (2008), quando a autora afirma que os ritos, rituais e cerimônias se

constituem elementos estratégicos ao constituir e consolidar a imagem da organização,

sustentadas na credibilidade e na aceitação social de ações e de realizações desenvolvidas.

Também é realizada uma cerimônia mensal, quando, em uma reunião, são apresentados os

resultados relacionados com o tratamento e o cumprimento de metas, assim como são

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discutidos problemas e ideias que possam colaborar com a melhoria contínua dos processos

administrativos e projetos terapêuticos. Freitas (2007) escreve que esses elementos são

atividades planejadas que têm consequências práticas e expressivas, o que torna a cultura mais

tangível e coesa.

Existem também os rituais e cerimônias que fazem parte do tratamento dos pacientes

internados, quando os mesmos, nos dias de visita das famílias, fazem encenações de sua época

de adicção ativa, assim como ao final do tratamento, quando os mesmos recebem um

“certificado de conclusão” como se fosse um diploma.

• Mitos

Eles são capazes de proporcionar explicações de rotinas e procedimentos para as

organizações. Colpo (2010) afirma que os mitos possibilitam a criação de uma identidade

cultural ao serem socializados entre os diferentes atores sociais. Assim, foi identificada como

mito a percepção que se tem sobre os funcionários do escritório central: primeiro, eles só

sabem cobrar e não trabalham tanto quanto os demais; depois, eles não são solícitos para

atender às demandas do centro de tratamento.

Há também um mito de que os adictos não são capazes para assumir determinadas funções

administrativas, o que não se aplica, em geral, uma vez que a vontade deles, para aprender, os

leva ao esforço, diante da oportunidade de crescimento, que têm recebido.

• Histórias

As histórias são identificadas em diversos relatos acerca dos pacientes internados, assim como

do passado de adicção ativa dos funcionários contratados, no que diz respeito à maneira como

foram apresentados às drogas, suas atitudes para conseguir dinheiro para consumi-las e os

momentos mais difíceis da recuperação.

Também são referentes aos erros recorrentes de documentações solicitadas pelo escritório

central ao centro de tratamento, quando os mesmos foram entregues com data de anos

anteriores e até mesmo com o nome de um paciente no começo da documentação e no final o

nome de outro paciente.

• Normas e regras

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Freitas (2007) escreve que o homem é guiado por normas em qualquer ambiente que

frequente e que o seu conhecimento está normalmente associado aos manuais de instrução.

No centro de tratamento, as normas da organização não estão escritas em um manual, mas

existem regras que orientam os comportamentos, no dia-a-dia da organização e são do

conhecimento de todos. Existe o horário de trabalho semanal para o pessoal do setor

administrativo/financeiro e do escritório central, assim como da equipe terapêutica.

Os gastos com alimentação e demais necessidades nas unidades do centro de tratamento

precisam ser prestados contas no escritório central com a apresentação de notas fiscais

comprobatórias, para poder haver a reposição da quantia gasta. As mesmas precisam ser

apresentadas com antecedência, uma vez que o escritório central possui um prazo de 48 horas

úteis, para depósito deste valor.

• Símbolos

O centro de tratamento é considerado como um símbolo, por representar, por si próprio, um

lugar para recomeçar, uma vez que acredita que a recuperação é o começo para uma nova

vida, longe das drogas. Dias (2003) escreve sobre os símbolos afirmando que eles podem ser

encontrados em gestos ou eventos que reforcem os valores da organização.

• Processos de comunicação

Thévenet (1990), Fleury (1992) e Freitas (1991) escrevem sobre a importância dos processos

de comunicação como sendo um elemento cultural fundamental para criação, transmissão e

cristalização do universo simbólico de uma empresa, sendo utilizado para dirigir-se não só aos

seus fornecedores e clientes, mas também aos seus colaboradores através de meios orais

formais e informais, bem como aqueles escritos.

No centro de tratamento, os principais processos de comunicação escritos, observados são:

mensagens por e-mail, trocadas entre os setores administrativo/financeiro, das unidades e do

escritório central (para solicitação de documentos e demais atividades pertinentes aos setores);

e a comunicação oral, entre gestores e subordinados.

Não foram observados meios formais escritos, como circulares ou memorandos para

comunicação entre os setores do centro de tratamento. Porém, existem panfletos sobre o

tratamento ofertado que está acessível às famílias dos residentes.

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O remarque desses elementos foi fundamental para se desvendar características da cultura

organizacional, desse centro de tratamento, conforme indicam os métodos apresentados por

Thévenet (1990), Fleury e Fischer (1992) e Sá (1999), necessária para responder ao objetivo

geral desta pesquisa.

4.3 Características dos estilos de liderança

Nesta Seção, apresentam-se as características dos estilos de liderança, no centro de

tratamento, a fim de responder ao segundo objetivo específico deste trabalho.

Foram consideradas as anotações feitas no diário de campo por meio da observação

participante.

O centro de tratamento está representado por três unidades, as quais são aqui nomeadas por:

A, B e C, a fim de se manter o sigilo sobre a sua identidade. Inicialmente, é feito um breve

relato acerca do acolhimento e tratamento dos dependentes, em cada uma delas, uma vez que

os gestores foram escolhidos de acordo com o perfil de cada um, levando em consideração,

ainda, a sua capacidade de gerenciamento de conflitos.

Da mesma forma, os subordinados, ao serem selecionados, levaram-se em consideração as

suas subculturas, pois assim se compreendeu que os mesmos poderiam não se adaptar, em

qualquer uma delas, em virtude das suas características específicas.

A unidade A está voltada para o tratamento de dois tipos de dependentes químicos: os

primeiros são aqueles internados involuntariamente, ou seja, que não querem fazer o

tratamento e/ou não reconhecem sua adicção como uma doença séria que pode ameaçar sua

vida e a de terceiros; o segundos, são aqueles que chegam em um estado mais debilitado de

saúde devido ao consumo compulsivo das drogas e do álcool.

A rotina nessa unidade é mais movimentada e atípica, por isso exige mais atenção e cuidado

com os residentes e seus familiares, devido à delicadeza que esse processo de desintoxicação

requer. Existem mais conflitos internos a serem tratados do que nas outras duas unidades.

As unidades B e C recebem os dependentes químicos que reconhecem sua adicção e estão

dispostos ao tratamento, inclusive aqueles advindos da unidade A. Os conflitos são de menor

gravidade.

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Conforme descrito na seção 3.4, os líderes que fazem parte desta pesquisa são os diretores,

gerentes e coordenadores adictos e não-adictos, dos departamentos financeiro e

administrativo do centro de tratamento, totalizando 11. Esses dois perfis são tomados como

base para se apresentar as características dos estilos de liderança, nesse centro de tratamento.

4.3.1 Líderes adictos

Dentre os 11 líderes do centro de tratamento, 4 são adictos com vários anos de abstinência do

consumo das substâncias psicoativas. Apenas 1 possui curso superior completo com

especialização, enquanto os outros 3 não possuem o ensino superior completo.

Esses líderes são reconhecidos necessários ao processo de tratamento dos pacientes, tendo em

vista as suas experiências da época da adicção ativa; isso lhes confere mais capacidade para

compreender e lidar com os residentes, diante dos seus medos, receios e expectativas. Eles

também têm um jeito especial para falar com os familiares, sobretudo quando o assunto trata

das queixas dos residentes.

Normalmente possuem um temperamento emocional mais instável e na lida com os

funcionários, são mais exigentes. Diante de alguns conflitos, parece que o comportamento

mais autocrático tende a ser mais efetivo, a fim de que a situação não saia do controle, embora

os mesmos não baseiem suas ações em ameaças e punições, eles assumem toda sua autoridade

e responsabilidade, conforme descrevem Davi e Newstrom (1992), bem como Soto (2002).

O modelo de liderança dos adictos é mais voltado para as tarefas relativas ao terapêutico, em

especial, não dando muita atenção às tarefas administrativas, o que acaba prejudicando o

andamento do escritório central, que necessita da liberação de documentos fundamentais,

inclusive para a continuidade do tratamento dos pacientes. House (1995), Sá e Lemoine

(1998) explicam sobre a influência dos aspectos culturais, que agem diretamente sobre os

diversos estilos de liderança.

A principal virtude desses líderes está na sua habilidade para lidar com os aspectos

terapêuticos dos pacientes. Segundo Bennis (2001), isso é essencial na formulação de um

líder, pois os mesmos carregam crises e desafios muitas vezes angustiantes. No caso dos

líderes adictos, eles “brigam” com seu eu interior para “manterem-se limpos”.

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Como o processo terapêutico é a prioridade desses líderes, o estilo de liderança transacional é

o que mais se aplica, pois a relação de troca baseia-se na resposta aos seus próprios interesses,

conforme Bass (1990). Os colaboradores são conduzidos a atingir as metas organizacionais

estabelecidas por meio das exigências das tarefas. Melo (2004) escreve que neste estilo de

liderança, o comportamento do líder se evidencia no acompanhamento e na orientação do

subordinado, o que pode ser evidenciado quando do controle que os adictos têm dos aspectos

relacionados ao processo de tratamento dos residentes.

Apesar de pertencerem ao mesmo grupo, esses líderes possuem algumas características

diferentes em sua maneira de gerenciar, sendo necessário para cada unidade do centro de

tratamento, que requer um perfil que se encaixe à sua demanda e à subcultura dos seus

funcionários.

Cohen (2003) escreve que a liderança é um processo no qual as partes envolvidas se

influenciam mutuamente, isto pode ser atestado em cada unidade do centro de tratamento, que

possui um líder com perfil que se adapta aos seus subordinados e vice-versa, uma vez que,

conforme já descrito no início desta Seção: cada unidade de tratamento requer uma postura e

um tipo de gerenciamento.

4.3.2 Líderes não-adictos

Relembrando que, dentre os 11 líderes do centro de tratamento, 7 são não-adictos. Eles têm

suas atividades voltadas necessariamente para as funções administrativas. Possuem formação

acadêmica completa e a maioria tem inclusive curso de especialização, o que ajuda para o

bom funcionamento e crescimento do centro de tratamento.

Não menos exigentes, os líderes não-adictos se diferem pela organização no trabalho, maneira

mais maleável na conduta dos processos burocráticos e capacidade de entender a importância

das atividades terapêuticas (além de seu conhecimento vivencial) e administrativo.

O estilo básico de liderança observado nestes líderes é o descrito por Bergamini (2002) como

democrático, segundo o qual, líderes e subordinados conjuntamente, desenvolvendo a

responsabilidade e o comprometimento do grupo. Embora exista o desenvolvimento dos

subordinados, estes líderes sempre estão em busca do cumprimento de prazos e metas,

estabelecendo uma comunicação constante com esses para que suas solicitações sejam

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cumpridas, sem prejuízo das suas atividades. Judge et al., (2004) escrevem sobre este estilo de

liderança evidenciando a alta correlação com a satisfação e motivação dos liderados.

Percebe-se, por vezes, que esses líderes enfrentam problemas de relacionamento com os

adictos, devido tanto pelo desleixo com as tarefas administrativas, afetando diretamente os

seus trabalhos, quanto pela baixa maturidade daqueles. Esse fato também dificulta o processo

de comunicação entre eles e até mesmo o comprometimento de alguns dos líderes não-

adictos.

Hersey e Blanchard (1986) explicam este processo escrevendo que não há um modo único

para influenciar pessoas, uma vez que o estilo de liderança adotado depende do grau de

maturidade das pessoas que este líder deseja influenciar. Terapêuticos e administrativos por

vezes se chocam em busca do cumprimento de suas tarefas, pela finalidade que cada um

observa em seu trabalho. Mais uma vez existe a questão do empírico x burocrático.

Apesar de seguir um modelo de liderança voltado para a estrutura organizacional, esses

líderes possuem habilidades importantes, como as relacionadas por Santiago (2007): visão

(foco nos resultados organizacionais quer financeiro, quer administrativo); comunicação

(transmissão das necessidades administrativas através de e-mail e telefonemas, afim de que as

solicitações sejam devidamente entendidas e atendidas); confiança (conhecimento da

necessidade de sua atividade, sua responsabilidade e sua finalidade); e autoconhecimento

(saber suas limitações acerca do projeto terapêutico, se restringindo ao que lhe compete para

que não atrapalhe o tratamento dos residentes).

O estilo de liderança transformacional também se aplica aos líderes não-adictos, uma vez que

eles buscam por resultados que vão além dos esperados. Bergamini (2002) escreve sobre

como esses líderes reconhecem uma necessidade existente, dos seus seguidores e foca os

motivos dos liderados, procurando satisfazer suas solicitações.

No centro de tratamento, esses líderes estão sempre buscando mostrar a importância de seu

trabalho para os demais, focando no espírito de equipe, e na necessidade dessa cadeia de

mútua-ajuda, para que o trabalho seja valorizado e devidamente atendido. Este é um dos

quatro componentes descritos por Bass e Avolio (1993): a motivação inspiracional.

Outro componente observado é a consideração individualizada, em que o líder reconhece as

necessidades e desejos próprios, inerentes a cada indivíduo; eles sabem como diferenciar o

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tratamento entre os subordinados, reconhecendo suas limitações. Um exemplo, é que eles

procuram estimular e valorizar as características mais importantes, sempre parabenizando

quando a meta administrativa é cumprida, dentro do prazo.

Em resumo, os estilos de liderança dos líderes adictos e não-adictos, discutidos nesta Seção,

descrevem como cada um cuida de seu processo: o primeiro, valoriza o cuidado com os

pacientes e o bem estar dos familiares; o segundo, prioriza os aspectos burocráticos,

processuais – claro, necessários para que o tratamento flua sem interrupção. Ambos se

completando, procurando se moldar às demandas e necessidades do centro de tratamento. Esta

é uma característica valorizada por Northouse (2004), que afirma que o líder pode ajustar seu

estilo a diversas situações.

No centro de tratamento, objeto deste estudo, existe a necessidade tanto da liderança

transformacional quanto da liderança transacional, uma vez que ambas possuem relevância e

se complementam, variando de acordo com o tipo de líder, com o contexto e o momento

exigido, o que é afirmado por Hater e Bass (1988).

4.4 Práticas de desempenho conjunto para os líderes adictos e não-adictos

Para responder ao terceiro objetivo específico desta pesquisa, buscou-se identificar práticas de

desempenho conjunto para os líderes adictos e não-adictos, em vista a estimular os pontos

positivos e melhorar aqueles negativos.

Os líderes adictos conhecem, por experiência, os efeitos do uso das substâncias psicoativas,

por isso, parecem ter zelo ao desempenhar sua função terapêutica para ajudar quem está

passando pela mesma situação. Esse sentimento não se restringe apenas aos líderes adictos,

mas a todos os funcionários com este perfil. Percebe-se, inclusive, o apoio que é dado pela

organização a essa prática, tanto que ela é expressa em sua missão:

“Proporcionar relacionamentos de ajuda mútua para o desenvolvimento do indivíduo

dependente de álcool e outras drogas, de modo a estabelecer a prática do programa

de recuperação”.

A convivência desses líderes, em especial, é de certa maneira próxima no dia-a-dia das

unidades, que eles acabam se enculturando, ao ponto de se identificarem uns com os outros,

chegando mesmo a cometer falhas que são, pelo menos, permitidas aos adictos, tais como:

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esquecimentos e erros a respeito das documentações, reconhecida, inclusive, como o motivo

maior de desentendimentos entre eles.

Da parte dos líderes não-adictos, eles concordam com as práticas de unidade entre os líderes

e funcionários, inclusive com a prática de inclusão e apoio aos que necessitam de ajuda diante

de uma recaída ao vício. Percebe-se uma troca de aprendizado entre os líderes que vai além de

suas habilidades, perpassando por sentimentos que envolvem admiração, carinho e muito

respeito entre eles.

Thévenet (1990) descreve sobre a relação empresa-indivíduo distinguindo três tendências

principais:

• Motivação – é dinamismo, força interior que conduz um indivíduo a trabalhar e a

trabalhar bem. Isto pode ser observado nos líderes adictos do centro de tratamento.

Eles trabalham motivados pela cultura e pela internalização da Missão da organização,

que os encoraja sempre na busca tanto da recuperação dos residentes, quanto na

manutenção da recuperação deles próprios, assim como os não-adictos, que veem esta

valorização do individuo por parte da organização e se identificam, se inserindo

também como ponte de apoio aos que necessitam de ajuda, quer administrativamente,

quer como ouvinte no contexto empírico dos adictos.

• Satisfação – está direcionada à produtividade e à eficácia. Apesar dos estudos

apontarem que não se tem meios de aumentar a satisfação (THÉVENET, 1990), esta

pode ser vista no centro de tratamento, quando da recuperação de um adicto, no

momento de sua alta, quando o mesmo é reinserido no mercado de trabalho pelo

próprio centro de tratamento, que o contrata para desempenhar uma função em que

eles podem ajudar a outros que estiveram no lado “obscuro” do uso compulsivo de

substâncias psicoativas. É satisfatório, tanto para o líder adicto quanto para o não-

adicto, saber que seu trabalho ajudou, quer direta ou indiretamente, no “renascimento”

do residente.

• Implicação – situação de coerência, compatibilidade ou adequação entre o indivíduo e

a organização em que trabalha. Porter et al. (apud Thévenet, 1990), define implicação

como convicção e aceitação dos objetivos e valores da organização. Esta tendência é

claramente observada nos líderes do centro de tratamento, que trabalham com a

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organização em busca do cumprimento de sua missão, respeitando e apoiando sua

cultura, que está respaldada em seus valores, os quais incluem a honestidade, a ética e

a confiança. Isto transparece a todo instante nas atitudes dos líderes estudados.

Thévenet (1990, p. 22) complementa que a empresa deve ter uma cultura que lhe permita

enfrentar os problemas de adaptação ao contexto e de integração interna. “A cultura pode

constituir apoio ou obstáculo para resolver problemas”. No caso do centro de tratamento em

questão, a cultura é sempre utilizada em favor da resolução dos problemas, desenvolvendo

seus funcionários e ficando sempre mais forte.

Schein (2009) escreve sobre como o líder deve estimular a diversidade, promulgando a

suposição de que a mesma irá criar subculturas e que essas subculturas serão um recurso

necessário para a aprendizagem e para a inovação. As subculturas observadas no centro

tratamento, no que diz respeito aos líderes objeto deste estudo, estão estimulando uns aos

outros neste processo de aprendizado e inovação descrito pelo autor. Observou-se que os

adictos parecem buscar aprender como fazer as tarefas administrativas funcionarem de forma

eficaz, e os não-adictos se fortalecem perante sentimentos e superações antes não valorizados.

Tudo indica que há uma troca implícita que é sentida por vários e que é benéfica e

fundamental para o desenvolvimento da organização. Esse autor ainda complementa sobre a

necessidade de haver esse entendimento cultural mútuo.

O papel do líder é fundamental para se atingir as metas estipuladas pela organização, e no

caso do centro de tratamento, seus líderes precisam estar em interação harmoniosa para que o

trabalho flua de forma eficaz. Pode-se considerar que há o empírico (adictos) e o preciso

(não-adictos) trabalhando em prol do mesmo objetivo e os líderes estudados precisam, de

acordo com Schein (2009, p. 382) “analisar a cultura em detalhes suficientes para saber que

suposições culturais podem ajudar e quais prejudicarão o cumprimento da missão

organizacional, assim como ter habilidades de intervenção para fazer as mudanças desejadas

acontecerem”.

Tudo indica que a cultura, nessa organização, está internalizada e praticada por todos que

fazem parte da equipe de funcionários (médicos, psicólogos, enfermeiros) e, principalmente

pelos proprietários. Para Schein (2009 p. 211), “é pela figura do líder que se inicia o processo

ao impor suas crenças, valores e suposições desde o início”. Isto faz com que a própria cultura

(hábitos, costumes, valores) seja estendida aos demais membros, levando-os a trabalhar de

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maneira coesa, harmoniosa e à contento, apesar de suas experiências de vida, formação

acadêmica e comportamentos diferentes. Parece, então que isso faz toda a diferença, para o

relacionamento conjunto entre esses líderes: adictos e não- adictos.

Dentro deste pensamento, a organização do trabalho pode ser vista como uma ferramenta

importante, uma vez que o fator emoção está presente em grande parte das decisões tomadas

pelos líderes adictos, assim como também os não-adictos se sentem parte importante neste

processo quando o administrativo flui de forma positiva a contribuir com a satisfação dos

familiares dos residentes quando de suas solicitações quanto as documentações que são de sua

responsabilidade. Este trabalho conjunto faz diferença na autoestima de todos os envolvidos

no processo em questão.

A cultura do centro de tratamento é capaz de comandar estes estilos de liderança tão

diferentes, pois a mesma, segundo Gil (2013), é caracterizada pelos valores que defendem,

pela cadência do comportamento de seus membros, pela filosofia que orienta suas políticas e

pelo clima evidente, quer pelo seu layout físico, quer pelo convívio de seus membros entre o

público interno e externo.

O relacionamento interpessoal de seus membros pode ser aferido a partir deste conceito, já

que o respeito e a admiração entre os líderes aqui estudados são mútuos, como o

reconhecimento da importância do papel de cada um no processo de recuperação do residente

e no atendimento as demanda administrativas.

Freitas (1991) ressalta que a cultura tem autoridade para uniformizar modos de viver e pensar

a organização, o que acontece com a Missão do centro de tratamento, incorporando uma

imagem positiva e construindo a ideia de igualitarismo entre todos, independente de suas

diferenças. Esta referência de cultura é fundamental para o entendimento e o comando dos

estilos de liderança por parte dos fundadores da organização, uma vez que o estilo próprio de

liderança de cada líder (adicto e não-adicto) busca, acima de tudo, o aperfeiçoamento

constante para o cumprimento dos objetivos e metas do centro de tratamento.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalmente, após a análise dos dados, pode-se chegar às considerações finais, descrita a

seguir, segundo o objetivo geral, o qual buscou investigar de que maneira a cultura

organizacional pode contribuir para o desempenho conjunto de cada um dos estilos de

liderança, em um centro de tratamento para usuários de álcool e outras drogas, no Recife-PE.

5.1 Considerações finais

A descrição das considerações finais seguiu a ordem dos objetivos específicos, os quais

tratam sobre: elementos culturais, características dos estilos de liderança e práticas de

desempenho conjunto entre os líderes.

5.1.1 Elementos da cultura organizacional

Por meio de alguns elementos (valores, lema, crenças, ritos, rituais, cerimônias, mitos,

histórias, normas, símbolos e processos de comunicação) pode-se identificar traços da cultura

do centro de tratamento e entender a força como ela atua entre aqueles que fazem parte do

quadro de funcionários, chegando até mesmo a reger o comportamento de todos da

organização, em todos os níveis hierárquicos e em todas as unidades terapêuticas.

Em termos da organização do trabalho, pode-se perceber que o fator emoção está presente no

projeto terapêutico de recuperação dos residentes e que ele é compartilhado entre todos,

indistintamente; os funcionários se envolvem com as atividades e projetos organizacionais, no

desafio de estar buscando melhorias contínuas neste processo delicado. Constata-se o

sentimento de vitória entre os funcionários, sobretudo quando se trata dos líderes adictos,

diante da recuperação dos residentes, que reconhecem a sua participação, nesse processo. A

cada vitória, constata-se que a autoestima deles tende a aumentar, além de engrandecer a

própria organização.

Quanto ao relacionamento interpessoal, quer sejam eles funcionários adictos ou não-adictos,

pode-se observar o respeito entre eles, inclusive que reconhecem a competência de cada um, o

que estimula o respeito mútuo e a confiança capaz de superar as diferenças.

Ao que concerne o estilo de liderança, pode-se entender que tanto os líderes adictos, quanto

os não-adictos possuem um estilo próprio de liderança que lhes é peculiar. Os primeiros, estão

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voltados para o projeto terapêutico dos residentes e com a sua recuperação, enquanto que os

segundos estão focados nos processos administrativos. O que ambos possuem em comum é a

busca de melhoria contínua, cada um defendendo seu espaço, mas todos focados em um

objetivo comum: o crescimento da organização; sempre cientes da importância de cada um

dentro da empresa como um todo. Percebe-se, ainda, que a liderança não estimula o

comportamento preconceituoso entre os funcionários adictos e não-adictos.

5.1.2 Características dos estilos de liderança

Diante da observação participante e das anotações no diário de campo, foi inferido que o

perfil dos líderes estudados varia entre transacional e transformacional e que os mesmos são

necessários nas unidades do centro de tratamento, cada um com a sua competência. Na

unidade A, o perfil autocrático e a liderança transacional se faz necessária pela demanda e

dinamismo que o ambiente requer. Em situações anteriores, já foram contratados indivíduos

formados em hotelaria, com experiência em gerenciamento, porém sem sucesso, devido à

rotina atribulada e ao conhecimento terapêutico que a função exige e que não é ensinada na

faculdade ou em qualquer curso de extensão. Nessa unidade os líderes adictos são mais

incisivos em suas decisões e gerenciamentos.

Este conhecimento terapêutico faz toda a diferença no gerenciamento de conflitos com os

familiares e com os próprios residentes, sendo fundamental para o sucesso no tratamento dos

mesmos. Gerenciar um centro de tratamento exige um conhecimento empírico que só quem

vivenciou na prática a adicção ativa pode ter.

Nas demais unidades, os líderes possuem um perfil misto (entre o autoritário e o democrático)

devido a uma menor demanda e um estilo de liderança mais transformacional. Através da

observação participante, foi inferido que nessas unidades, um perfil mais autocrático gera

conflitos com as subculturas existentes, além de levar alguns funcionários não-adictos à

insatisfação. O estilo de liderança também influencia nos resultados administrativos, uma vez

que os funcionários do setor não possuem a característica de trabalhar sob pressão constante.

Os líderes não-adictos, com características mais teóricas, devido às suas formações

acadêmicas, possuem um estilo de liderança mais democrático, embora, ao tratar com os

adictos ou não-adictos “enculturados”, por muitas vezes, seja necessário utilizar da autocracia

para conseguir realizar o trabalho com eficiência.

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O estilo de liderança varia de acordo com a unidade do centro de tratamento e com a

necessidade de resposta às demandas que surgem. É o contexto do momento e o perfil do

funcionário quem dita a postura do líder. Muitas vezes foi observado o líder adicto agindo

com espírito de equipe, estimulando o subordinado e o desenvolvendo, assim como o líder

não-adicto sendo mais autocrático para ser atendido em sua solicitação.

De maneira em geral, o centro de tratamento observa o perfil de cada unidade e loca cada

estilo de acordo com a subcultura e demanda das mesmas. Isto mostra o quanto ele está

focado em seu desenvolvimento, embora respeitando sua cultura.

5.1.3 Práticas de desempenho conjunto para os líderes no centro de tratamento

A cultura da organização, transmitida pela sua missão, contribui para que haja um convívio

harmonioso entre os líderes, talvez pela maneira como ela orienta a valorização dos seus

funcionários, independentemente do grau de escolaridade, sem preconceitos, respeitando as

limitações de cada um, exaltando suas qualidades e gerindo os conflitos que surgem entre

esses líderes.

Outro fator é o respeito que existe entre ambos os líderes. Esse respeito, que surge

naturalmente, influenciado pela cultura existente, é fundamental para haver um convívio

harmonioso entre eles. A “enculturação” dos funcionários é um sinal de como pode haver

mudanças intrínsecas em cada líder, cada um se ajustando à medida do possível às demandas

e circunstâncias que surgem do dia-a-dia da organização.

Independentemente das divergências - as quais podem ser observadas em qualquer empresa,

de qualquer segmento, entre líderes adictos e não-adictos, percebe-se a satisfação dos

funcionários em fazer parte de suas equipes.

Esse “ajuste” para um convívio harmonioso já existe naturalmente e sofre uma influência

direta também dos donos do centro de tratamento, que possuem estilos de liderança diferentes,

mas fundamentais para gerir a organização. De um lado está o diretor administrativo, mais

compreensivo com os adictos (emoção), gerenciador dos conflitos e de outro o diretor

financeiro (razão), gerando equilíbrio entre as partes.

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Os líderes adictos e não-adictos são fundamentais para o bom funcionamento da empresa. O

sucesso no tratamento dos residentes depende da união dessa força (empírico/terapêutico e

técnico), cada um contribuindo com seu conhecimento interior.

Como pesquisadora e parte integrante da equipe do centro de tratamento em questão, acho

importante tecer alguns comentários. Quando do início do trabalho que resultou na seguinte

pergunta de pesquisa: “de que maneira a cultura organizacional pode contribuir para o

desempenho conjunto de dois estilos diferentes de liderança, em um centro de tratamento para

usuários de álcool e outras drogas, do Recife-PE”, imaginava encontrar uma resposta pronta,

pois, como líder não-adicta acreditava haver uma maneira estratégica de fazer o trabalho fluir

em favor do setor administrativo/financeiro.

Quem não convive com adictos em recuperação tem um preconceito muito grande ao pensar

que os mesmos podem recair a qualquer momento, ou que não são confiáveis. Acabam por

corroborar com muitas empresas que demitem seus funcionários quando descobrem que há

um alcóolatra em seu quadro de colaboradores e não busca primeiro uma ajuda

terapêutica/clínica para essa doença.

O trabalho em um centro de tratamento traz importante amadurecimento pessoal e

profissional para qualquer indivíduo, pois se aprende a admirar a força de vontade e o espírito

guerreiro dessas pessoas. Quando em recuperação, são extremamente confiáveis, uma vez que

praticam a honestidade em seu programa de recuperação diária. São pessoas que se

preocupam com os seus, acolhendo quem necessita ajuda. A solidariedade caminha lado a

lado junto dos mesmos. O “estamos juntos” é levado a sério e praticado diariamente. Poucos

sabem que a adicção é uma doença que possui CID e essas pessoas conseguiram renascer e

superar uma doença grave.

Existe uma diferença de conhecimento técnico muito grande entre os líderes adictos e não-

adictos, mas muito maior do que esta diferença é a importância de cada um desses líderes e

demais profissionais do centro tratamento. Deve-se aprender a trabalhar com as diferenças e o

preconceito e transformar todos esses sentimentos em admiração mútua.

Cada um possui suas limitações, seus defeitos, mas acima de tudo, as qualidades devem ser

valorizadas, e a cultura da organização também transmite este aprendizado. Estes dois estilos

de liderança são essências no centro de tratamento e não existe uma fórmula mágica para um

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convívio harmonioso. O que existe é o respeito e a valorização do potencial de cada

funcionário, seja ele adicto ou não-adicto, líder ou subordinado, pois todos são fundamentais

para o sucesso do tratamento dos residentes.

5.2 Sugestões para novos trabalhos

Embasada nas conclusões obtidas nesta pesquisa e aspirando contribuir para a continuidade de

estudos nesta área, apresentam-se nesta seção sugestões a serem exploradas para a realização

de novas produções científicas. Por conseguinte, recomenda-se:

• Estender a pesquisa a outros centros de tratamento para dependência química da

cidade do Recife-PE, observando sua cultura organizacional e como ela influencia a

postura de seus líderes.

• A investigação seja realizada utilizando a observação não-participante.

• Os subordinados adictos e não-adictos sejam inclusos em investigações futuras.

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