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FACULDADE CESMAC DO SERTÃO MICHEL DOS SANTOS RAFAEL LUCAS BARBOSA DE OLIVEIRA O NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO: O preconceito nas organizações PALMEIRA DOS ÍNDIOS- ALAGOAS 2019/2

FACULDADE CESMAC DO SERTÃO · O preconceito nas organizações PALMEIRA DOS ÍNDIOS- ALAGOAS 2019/2 . ... consumo e mercado de trabalho. PALMEIRA DOS ÍNDIOS- ALAGOAS 2019/2

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FACULDADE CESMAC DO SERTÃO

MICHEL DOS SANTOS

RAFAEL LUCAS BARBOSA DE OLIVEIRA

O NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO: O preconceito nas organizações

PALMEIRA DOS ÍNDIOS- ALAGOAS 2019/2

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MICHEL DOS SANTOS RAFAEL LUCAS BARBOSA DE OLIVEIRA

O NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO: O preconceito nas organizações.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito final para conclusão do curso de Administração da Faculdade Cesmac do Sertão, sob a orientação da professora Dra. Laís Macedo Vilas Boas. Linha de pesquisa: Sociologia urbana, consumo e mercado de trabalho.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS- ALAGOAS 2019/2

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REDE DE BIBLIOTECAS CESMAC

SETOR DE TRATAMENTO TÉCNICO

Bibliotecário: Evandro Santos Cavalcante – CRB/4 - 1700

S237n Santos, Michel dos

O Negro no mercado de trabalho: o preconceito nas organizações

/ Michel dos Santos, Rafael Lucas Barbosa de Oliveira. – Palmeira dos

Índios: 2019.

31 f.: il. TCC (Graduação em Administração) – Faculdade CESMAC do

Sertão, Palmeira dos Índios – AL, 2019.

Orientadora: Laís Vilas Boas

1. Negro. 2. Mercado de trabalho. 3. Dificuldades. 4. Escravidão.

I. Boas, Laís Vilas. II. Título.

CDU:331.5

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AGRADECIMENTOS

A Deus primeiramente, por nos proporcionar a oportunidade de estar vivo e

concluindo mais um ciclo em nossas vidas.

As nossas famílias que sempre estiveram juntos, apoiando principalmente

nos momentos mais difíceis. Um agradecimento aqueles que fizeram parte dessa

trajetória e hoje não se encontram mais entre nós.

A Professora Dra. Laís Macedo Vilas Boas, nossa orientadora, onde

incansavelmente insistiu e acreditou em nós, sempre com boa vontade e paciência.

Ao Professor Dr. Flávio dos Santos, que nos levantou o tema deste trabalho e

mesmo não lecionando mais o curso de Administração sempre esteve ao nosso

lado, nos apoiando, incentivando e principalmente com seus sermões, conseguimos

o nosso objetivo.

A todos os professores que até aqui nos conduziram e nos ajudaram a

concluir a graduação.

Obrigado!

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O NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO: O preconceito nas organizações BLACK IN THE LABOR MARKET: Prejudice in organizations.

Michel dos Santos Graduando do Curso de Administração

[email protected]

Rafael Lucas Barbosa de Oliveira Graduando do Curso de Administração

[email protected]

Laís Macedo Vilas Boas Doutora em Psicologia [email protected]

RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar a condição atual do negro no mercado de trabalho, iniciando com um levantamento histórico e analisando alguns dados estatísticos que desvelam esta situação de desigualdade vivida pela população negra. Buscaremos apresentar os principais efeitos sociais que impactaram ao longo tempo e continuam a influenciar a desigualdade e inserção dos afrodescendentes no meio competitivo. Buscaremos demonstrar os efeitos causados pelo abandono do homem livre após a abolição, onde causou esse reflexo nos tempos atuais, pois deveriam ter sido criadas condições para que o antigo escravo fosse reconhecido efetivamente como cidadão. Com relação aos procedimentos metodológicos esta é uma pesquisa de revisão bibliográfica narrativa, pois trata-se de uma abordagem e seleção de bibliografia já publicada sobre o assunto o assunto em pauta.

PALAVRAS-CHAVE: Negro. Mercado de trabalho. Dificuldades. Escravidão ABSTRACT This paper aims to present the current condition of black people in the labor market, starting with a

historical survey and analyzing some statistical data that reveal this situation of inequality experienced

by the black population. We aim to present the main social effects that have impacted over time and

continue to influence the inequality and insertion of African descendants in the competitive

environment. We will try to demonstrate the effects caused by the abandonment of the free man after

the abolition, which caused this reflex in the present times, because conditions should have been

created so that the former slave could be effectively recognized as a citizen. Regarding the

methodological procedures this is a research of narrative bibliographic review, because it is an

approach and selection of bibliography already published on the subject the subject.

KEYWORDS: Black. Labor market. Difficulties. Slavery

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Homem negro comparado a um segurança de shopping ................... 6

Figura 2: Homem branco associado a um executivo......................................... 6

Figura 3: Atitudes e suas dimensões ................................................................. 13

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Atitude e seus componentes .............................................................. 13

Tabela 2: Proporção de negros na população ocupacional e rendimentos hora dos ocupados negros e não negros. Regiões metropolitanas. Biênio 2011-2012 ....................................................................................................................

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Tabela 3: Estatísticas descritivas das variáveis em Alagoas no ano de 2014 ... 25

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Atitude e seus componentes.............................................................. 23

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 5

2 METODOLOGIA ............................................................................................ 3 REVISÃO DE LITERATURA …...................................................................... 3.1 História da entrada do negro no mercado de trabalho …...................... 3.2 Estereotipo, preconceito e discriminação .............................................. 3.3 Racismo Institucional ............................................................................... 3.4 Desigualdade no mercado de trabalho e nas organizações ................. 3.5 Ações organizacionais para diminuição do preconceito ….................. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................

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8

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REFERÊNCIAS ................................................................................................ 30

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1 INTRODUÇÃO

O mercado de trabalho, de um modo geral, está cada vez mais competitivo.

Segundo Morais (2014) é possível considerar que hoje em dia existe uma verdadeira

guerra, onde as disputas não ocorrem somente por conflitos de interesses

econômicos frutos do nosso sistema capitalista, mas principalmente pelo viés da

discriminação e do preconceito disfarçado de ideologia por parte de dos grupos

sociais dominantes da sociedade brasileira.

Santos (2019) defende que, os efeitos causados pelo abandono do homem

livre após a abolição, no período da monarquia, ainda trouxeram grandes reflexos de

desigualdades nos tempos atuais, pois, mesmo com sua liberdade garantida, pela

ação da Princesa Isabel”, conhecida pelo seu viés ideológico abolicionista a

“redentora” em 13 de maio de 1889, assinou a Lei Áurea, acabando com a

“escravidão no Brasil. Contudo, após 131 anos, depois não foram oferecidas as

condições históricas, sociais e econômicas necessária para que o antigo escravo

fosse reconhecido efetivamente como cidadão em nossa contemporaneidade.

O governo do Paraná realizou uma campanha de combate ao racismo

institucional, por meio da elaboração de um vídeo, que mostra com clareza a

perspectiva discriminatória de funcionários dos recursos humanos responsáveis pela

contratação de pessoal. O vídeo que pode ser encontrado em uma famosa

plataforma mostra a suposição que os funcionários fazem da profissão de uma

pessoa em uma foto. São mostradas duas fotos iguais para grupos de funcionários

diversos, em que a única diferença entre as duas fotos é a cor a pele do sujeito,

como pode ser visto nas imagens abaixo:

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Fonte: imagens obtidas em https://www.youtube.com/watch?v=JtLaI_jcoDQ

Vale ressaltar que, nos dias atuais, os papéis relacionados às imagens,

propostos por funcionários da gestão de pessoas parecem ir contra os princípios

éticos e morais da sociedade. Isso faz com que as diferenças e discriminações

venham à tona. Uma maneira de expressar essa diferenciação é a visão arcaica que

a sociedade tem, onde um cidadão de pele escura ou não branco não pode ocupar

um cargo de “elite” idealizado pela sociedade ariana, onde um cidadão negro vestido

em um paletó não passa de um motorista ou mordomo e o não negro na mesma

situação seria associado a um cargo executivo. Ao analisarmos o vídeo, percebe-se

que o preconceito ainda se faz presente nas pessoas, isso se dá por uma forma de

avaliação, ou seja criou-se na sociedade um conceito de que o não branco mesmo

Figura 2: Já essa imagem o que

pode-se observar é um homem,

citado no vídeo como um

executivo.

Figura 1: Nessa imagem

podemos observar o homem bem

vestido, citado no vídeo como um

segurança de shopping ou

motorista.

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que inserido em área profissional de igual valor do branco, não seja possível. Essa

visão anti-humanística retrata que ao ocupar um cargo de maior visibilidade e status,

o negro é considerado um intruso, uma ameaça ao equilíbrio social, uma potencial

fonte de conflito. Isso se chama racismo institucional, onde 82,6 % das pessoas

negras afirmam que a cor da pele influencia na vida profissional, negros ganham 37

% menos que os brancos, ocupando apenas 18% dos cargos de liderança, a maioria

entre os desempregados chegando a 60,6%1.

A sociedade atual está corrompida. Há anos vem mergulhando nas raízes do

preconceito e da desigualdade social. O principal fator que motiva tal feito é a

herança das mazelas sociais que se passaram ao longo de décadas em busca da

sociedade harmoniosa e perfeita. As diversas formas de preconceito institucional

que demostraremos nesse trabalho irá apresentar aos leitores as principais fontes e

motivos que incentivam tais práticas. Dessa maneira o leitor terá uma visão imparcial

do tema, ficando aberto ao seu próprio entendimento.

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma visão da realidade do negro no

mercado de trabalho, baseados em fatos históricos relevantes e nas diferenças

salariais e de cargos entre negros e não negros. Os objetivos específicos são:

Analisar a relação entre a abolição e a entrada do negro no mercado

de trabalho.

Apresentar os principais fatores sociais que contribui para a

desigualdade, por meio do estereótipo, preconceito e discriminação.

Interpretar as desigualdades raciais no mercado de trabalho com base

em estatísticas nacionais e estaduais sobre diferenças salariais e taxas de

desempregos entre negros e não negros.

Discutir formas de combater o preconceito e a discriminação nas

organizações.

Este trabalho buscou apresentar a condição atual do negro no mercado de

trabalho, iniciando com um levantamento histórico e analisando alguns dados

estatísticos que desvelam a situação de desigualdade vivida pela população negra

no Brasil. Os principais efeitos sociais que impactaram ao longo tempo e continuam

a influenciar a desigualdade e a inserção dos afrodescendentes no meio competitivo

da lógica de mercado contemporâneo. Deste modo, para muitos, em especial para

1 Informações obtidas no vídeo supracitado.

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os afrodescendentes, competir em um mercado preconceituoso e discriminatório,

gera certa desvantagem e torna a sua inserção no mercado de trabalho uma

trajetória muito mais complexa, pois, além de ter que demostrar a sua capacidade

técnica e qualificação profissional ainda tem o adverso que é a cor da sua pele e que

os diferenciam dos demais candidatos no mercado de trabalho. Por isso, a nossa

hipótese parte da ideia de que a ideologia preconceituosa da nossa sociedade pode

trazer obstáculos aos negros para sua inserção no mercado de trabalho brasileiro

(GUIMARÃES, 1979, p. 85).

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa em relação aos objetivos é uma pesquisa descritiva. Para

Salomon (2010), uma pesquisa descritiva busca abordar, analisar e coordenar os

fatos com a frequência. Com relação ao procedimento esta é uma pesquisa de

revisão bibliográfica, na busca de construir uma visão de literatura. Segundo Lakatos

e Marconi (2008) trata-se de uma abordagem e seleção de bibliografia publicada

sobre o assunto em pauta. Utilizamos materiais impressos e plataformas digitais,

como os livros disponíveis da biblioteca física do CESMAC e o Google acadêmico,

para alcançar o universo proposto. Os dados foram obtidos através de palavras-

chave: racismo, mercado de trabalho, diferença salarial e organização. O intuito

com esses levantamentos citados é o de construir um caminho capaz de suscitar

uma reflexão sobre o negro no mercado de trabalho. Por possuir uma vastidão de

dados, selecionamos as publicações mais recentes, buscando, assim, alcançar uma

escrita mais objetiva.

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 A entrada do negro no mercado de trabalho

Segundo Perez-Nebra e Jesus (2011) é possível observar que durante todo o

trajeto histórico, desde o período colonial temos racismo e preconceitos de cor. Não

é à toa que cidadãos de pele escura sempre tiveram desvantagens no meio

trabalhista. Houve assim um repensar analítico da elite intelectual a respeito do

tema, abrangido um conteúdo histórico do negro, não como trabalhador alforriado, e

sim um escravo de si mesmo. Um homem livre que ao mesmo tempo seria escravo

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de si mesmo, alforriado da senzala, porém sem liberdade de expressão de qualquer

forma, liberto das correntes, mas sem ter para onde ir. Isso são as raízes do

preconceito.

De acordo com Paiva (2012), o que marcou a trajetória do negro ao longo da

história foi o período após a abolição. Durante esse marco muitos dos ex cativos se

negavam a trabalhar, dessa forma lançavam-se na malandragem, tendo em vista a

impossibilidade de manter-se liberto os levara a retornar pra seus senhores em

busca de arrego.

Durante muitos anos, as imagens sobre escravos e libertos, construídas no século XIX, sobretudo após 1850, permaneceram quase intactas na historiografia brasileira. O mesmo ocorreu no imaginário sobre a escravidão, que ainda se faz tão presente no dia-a-dia dos brasileiros. Uma dessas verdades incontestáveis preconiza que, após serem alforriados, os antigos escravos negavam o trabalho, entregavam-se a vadiagem e depois, sem recursos e incapazes de gerenciar sua liberdade, voltavam as “fazendas” dos senhores, onde suplicavam por ajuda. As trajetórias dos libertos, na verdade, diferenciaram-se bastante desse axioma oitocentista e de cunho abolicionista, inaplicável até mesmo naquela época (PAIVA, 2012, p.5).

Ao longo da história sempre houve esse questionamento, sobre a inserção do

negro no mercado de trabalho. Para que possamos entender as dificuldades, as

discriminações e racismo para com indivíduos de pele escura, voltaremos à origem,

o período em que os negros tinham grande participação com sua mão-de-obra

escrava. Nabuco (2000) defende a ideologia de que se toda a verdade

mascarada ao longo da história fosse revelada através do depoimento daqueles que

foram oprimidos todos ficariam perplexos com tamanho absurdo que assolou o país.

Se houvesse um inquérito no qual todos os escravos pudessem depor livremente, todos os brasileiros haveriam de horrorizar-se ao ver o fundo de barbárie que existe em nosso país debaixo da camada superficial de civilização, onde quer que essa camada esteja sobreposta à propriedade do homem pelo homem (NABUCO, 2000, p. 16).

O Brasil, assim como diversos países das Américas e Europa, adotou o

sistema escravista em meados dos séculos XVI e XVII, onde eram traficados

homens, mulheres e crianças africanas que posteriormente se tornariam escravos

nos engenhos de cana-de-açúcar, nas lavoras e nas fazendas da até então Colônia

portuguesa (CHAMBOULEYRON, 2006). Essas pessoas eram mantidas cativas

submetidas a condições sub-humanas, onde, muitas vezes tratados como animais

açoitados por feitor caso não cumprissem o que lhes eram determinados.

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Desde então esses indivíduos só tinham uma função pré-programada, a da

servidão. E até então era o que eles sabiam fazer, servir aqueles que os

maltratavam, os mesmos que os tiraram de sua terra natal, separados pela

imensidão do oceano, como cita o poeta Castro Alves, traficados em navios

negreiros para uma terra estrangeira, vendidos pelo seu próprio povo, mas o pior de

tudo, cativos de si mesmos.

A escravidão é um câncer que assolou e continua a assombrar a

humanidade desde os primórdios. Não há senso de liberdade enquanto houver

cativeiro, pois “[...] muitos entre eles, talvez mesmo a maioria deles, não conheceu

condições de vida muito favoráveis, mas, também, não voltaram flagelados aos

antigos proprietários, suplicando ajuda [...]” (PAIVA, 2012, p.5).

O que podemos indagar com essa abordagem é que o que aconteceu com os

povos libertos das senzalas é que as correntes se davam principalmente dentro do

cativeiro mental, o ex escravo em sua maioria detinha a concepção e ideologia

escravista, as marcas do passado que permanecera em sua carne, os gritos dos

seus senhores que ecoavam na sua mente recém liberta.

Guimarães (2004) retrata que os princípios a desigualdade não se trata

apenas da forma com que a sociedade integraria o negro em seu meio, e sim uma

certa preocupação com os cargos que os mesmos ocupariam, trazendo essa

perspectiva para uma realidade moderna, onde há uma preocupação da sociedade

predominante banca a contrapartida dos não brancos:

O racismo brasileiro, entretanto, não deve ser lido apenas como reação à igualdade legal entre cidadãos formais, que se instalava com o fim da escravidão; foi também o modo como as elites intelectuais, principalmente aquelas localizadas em Salvador e Recife, reagiam às desigualdades regionais crescentes que se avolumavam entre o Norte e o Sul do país, em decorrência da decadência do açúcar e da prosperidade trazida pelo café (GUIMARÃES, 2004, p.03).

Não se trata unicamente de resquícios de uma estrutura social escravocrata,

mas também da manutenção de benefícios de uma elite branca, como fica claro no

seguinte trecho:

(a) discriminação e preconceito raciais não são mantidos intactos após a abolição, mas, pelo contrário, adquirem novos significados e funções dentro das novas estruturas e (b) as práticas racistas do grupo dominante branco que perpetuam a subordinação dos negros não são meros arcaísmos do passado, mas estão funcionalmente relacionadas aos benefícios materiais e simbólicos que o grupo branco obtém da desqualificação competitiva dos não brancos (GUIMARÃES, 1979, p. 85).

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O fato é que a sociedade criou uma ideologia de predominação racial, cuja a

perfeição seria os indivíduos arianos. Isso em seus conceitos daria certo poder para

adquirir subordinação das classes raciais distintas aos brancos. Esse fato

atravessou os séculos, chegando ao ponto de não se obter controle ou

discernimento dos princípios humanitários.

3.2 Estereótipo, Preconceito e Discriminação

Esta seção irá tratar sobre a percepção social dos homens e mulheres de

pele negra por intermédio de um conceito essencial para a Psicologia Social: a

atitude. Para que seja possível a compreensão, organização e análise das

experiências cotidianas que os seres humanos estão inseridos é preciso encontrar

uma regularidade, ou seja, uma padronização de sentidos dos objetos que estão

dispostos no mundo.

Assim, todo o tempo avaliamos e ofertamos sentido as experiências do dia-a-

dia. Desde os elementos mais ordinários - por exemplo, o que cada sujeito pensa

sobre bolo de chocolate ou como alguém deve se vestir em um casamento – até

assuntos mais polêmicos e complexos – como o que pensamos sobre as cotas

raciais em universidades. A maioria das pessoas já tem uma posição sobre estas

questões e rapidamente já pensam se são contra ou a favor, se gostam ou não.

Sobre o assunto Moehlecke (2002) mostra a seguinte reflexão:

O mais conhecido é o sistema de cotas, que consiste em estabelecer um determinado número ou percentual a ser ocupado em área específica por grupo(s) definido(s), o que pode ocorrer de maneira proporcional ou não, e de forma mais ou menos flexível. Existem ainda as taxas e metas, que seriam basicamente um parâmetro estabelecido para a mensuração de progressos obtidos em relação aos objetivos propostos, e os cronogramas, como etapas a serem observadas em um planejamento a médio prazo (MOEHLECKE, 2002, p. 199).

De modo contínuo os indivíduos assumem uma posição diante dos fatos e do

mundo que os cercam. A esta “posição” a psicologia social chama de atitude, pois:

“atitude é uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade

em particular com algum grau de favor ou desfavor” (CHAIKEN, WOOD; EAGLY,

1996, p. 269 apud NEIVA; MAURO, 2011, p.172).

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A atitude é uma predisposição, que fora aprendida na relação do indivíduo

com o social, a reagir diante de um objeto de modo consistente, seja de forma

favorável ou desfavorável (PESSOA, 2007). A atitude é composta por três

dimensões: cognitiva, afetiva e tendência a um comportamento (NEIVA; MAURO,

2011). A dimensão cognitiva se refere ao sistema de crenças que desenvolvemos, a

afetiva trata da reação emocional e, por fim, a comportamental pode ser

compreendida como a probabilidade de agir diante do objeto avaliado. Esta

organização está ilustrada na Figura 1 que trata sobre atitude e suas dimensões. Por

exemplo, partindo do objeto cabelo crespo enquanto um estímulo. As bases são

constituídas pelas experiências do indivíduo ao longo de sua história de vida.

As crenças, ou seja, a base cognitiva pode ter se construído por ouvir que

cabelo crespo é “cabelo ruim”, é feio e é sujo. O que constrói uma crença de que

esse tipo de cabelo é consequência de uma pessoa que não se cuida.

Assim, historicamente houve reações afetivas de nojo diante deste estímulo

que acarretou o comportamento de reprovar e zombar. Ou no caso de pessoas que

tem o cabelo crespo pode levar a comportamentos de eliminar o cabelo, cortando ou

fazendo alisamentos. Suponha que o sujeito desta história é o gerente de uma loja.

A história de vida faz com que o sujeito atualmente, diante do estímulo

demonstre uma resposta cognitiva (cabelo crespo não deveria existir e é resultado

de falta de cuidado, por isso irá afastar os clientes), uma resposta afetiva (que

cabelo nojento, deve ser fedido ou é feio) e uma resposta comportamental (por

exemplo, não querer que seus funcionários tenham cabelo crespo).

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Figura 3: Atitude e suas dimensões

Fonte: (PESSOA, 2007)

Para Pérez-Nebra e Jesus (2011) os componentes da atitude podem ser

compreendidos em termos de estereótipo, preconceito e discriminação. O Quadro 1

demonstra a relação.

Tabela 1: Atitude e seus componentes

Componentes da Atitude

Resposta cognitiva Estereótipo

Resposta afetiva Preconceito

Resposta

comportamental

Discriminação

Fonte: elaborada pelo próprio autor

O estereótipo, para Pérez-Nebra e Jesus (2011), é uma crença que faz com

que os indivíduos destinem atributos aos participantes de um grupo. Estes são

formados através do meio social e das relações entre os indivíduos que compõem

uma sociedade. Assim, objetos e pessoas que participam de um mesmo grupo

devido a suas similaridades, compõem uma categoria, como por exemplo, os

cachorros da raça pitbull são comumente percebidos como agressivos.

Os indivíduos desenvolvem diante destes objetos, animais ou pessoas uma

crença sobre suas intenções, desejos e comportamentos típicos, por exemplo,

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quando alguém se depara com um pitbull na rua, por ter a crença de que ele é

agressivo, pode sentir medo e se afastar.

Os estereótipos podem ser positivos ou negativos. O Brasil é conhecido como

o país do futebol, podemos definir isso como um estereótipo positivo que faz

despertar a atenção dos expectadores para assistir ao espetáculo e prestigiar a

qualidade dos jogadores a cada partida. A experiência no mundo faz uma separação

por grupos que possuem similaridades e atribuímos algumas crenças que são

comuns ao grupo, é uma cognição relacionada a um objeto.

Segundo Pérez-Nebra e Jesus (2011) o estereótipo é uma maneira de

agrupar os indivíduos de acordo com a similaridade formando grupos isolados

daqueles que pensam de forma adversa buscando deixar todos os costumes e

crenças separados uns dos outros.

O mesmo relaciona o que é comum a um grupo de indivíduos e assim acaba

excluindo os que são definidos como pessoas que não podem compor o grupo por

não terem competência para integrar e fazer parte das pessoas que são comuns

entre eles em relação as crenças e costumes.

Como já foi apresentado, o estereótipo é a base do preconceito. Sem ele não é possível existir o preconceito. O estereótipo é uma atribuição de crenças que se faz a grupos ou pessoas (conscientes ou inconscientes). Dessa maneira, não é possível ter um estereótipo de um jornal, mas sim de jornalistas. Etimologicamente, derivam de duas palavras gregas túpos e stereos que são traço e rígido, respectivamente (RODRIGUES, ASSMAR E JABLONSKI, 1999 apud TORRES; NEIVA, 2011, p. 223).

O fato de estereotipar não é em um primeiro plano benéfico ou maléfico,

porém, se o mesmo é ruim, significa que o objeto é dotado basicamente de crenças

negativas e degradantes. Assim, pode acarretar afetos negativos e comportamentos

de exclusão ou humilhação. Nestes casos, o estereótipo negativo pode ser

considerado um dos componentes cognitivos do preconceito e da discriminação,

porém, podemos afirmar que nem sempre que existir um estereótipo irá surgir o

preconceito.

Utilizando o estereótipo de forma eficiente e eficaz fazendo estudos

aprofundados podemos identificar entre os grupos os principais problemas

enfrentados, sua forma de pensar em relação a determinados assuntos que são

comuns para uns e problemas para outros, fazendo assim, ter um bom

relacionamento interpessoal entre todas as pessoas que formam a sociedade e não

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apenas entre grupos isolados que foquem apenas no que eles definem como

verdade para o seu grupo. É de fundamental importância ter uma visão de tudo o

que acontece ao seu redor e fazer questionamentos antes de excluir e definir como

supérfluo o que os outros pensam e tem como verdade. Os estereótipos são

inevitáveis, mas os indivíduos devem sempre colocar em xeque as crenças que os

constroem.

O preconceito é caracterizado como a carga afetiva negativa do estereótipo.

Pode ser definido como uma visão formada de maneira antecipada sem buscar a

veracidade dos fatos, para que se tenha um conhecimento mais complexo dos

mesmos. Assim, são julgamentos ou opiniões que são formados sem a devida

atenção aos fatos que os conteste, o que pode causar uma opinião ou apreensão

desfavorável de alguém, intolerância, ou aversão a outras raças, credos.

Para se caracterizar um preconceito se faz necessário ter um afeto negativo a

uma crença ou objeto, caso contrário se caracteriza uma atitude. Ainda não foi

definido o que de fato causa o preconceito, existem algumas teorias que tentam

explicar esse fenômeno, uma delas é que o preconceito pode ser inerente da

natureza do indivíduo, outras apontam que são adquiridos do meio social e cultural

em que estes estão inseridos e formam a sua personalidade de acordo com as

crenças e costumes desse ambiente, tornando assim, um mecanismo de defesa

natural do ser humano e de interação social (PEREZ – NEBRA; JESUS, 2011).

De acordo com Perez – Nebra e Jesus (2011) o preconceito tende a ser mais

forte e difícil de ser modificado quando está calcado em valores, pois não dá espaço

para se ter um conhecimento mais aprofundado quando se trata de determinados

assuntos como religião, raças, credos e outros assuntos que estão no cotidiano da

nossa sociedade.

Para Pérez-Nebra e Jesus (2011), o principal fator que contribui para o

preconceito é o meio social e cultural onde os indivíduos se desenvolvem e

adquirem suas religiões, seus valores e formam a sua personalidade de acordo com

o meio que está inserido. O preconceito não advém da natureza humana. O mesmo

vem da condição que o indivíduo ocupa na sociedade, o princípio, o meio em que se

integra a posição social.

A discriminação é a dimensão do comportamento da atitude que é

compreendida como toda a forma de opressão social, que acarreta em racismo,

homofobia, machismo entre outros (PEREZ – NEBRA; JESUS, 2011). No Brasil a

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discriminação é considerada crime, de acordo com a lei 7.716/89 (BRASIL, 1989),

que dispõe sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, pois fere o

direito constitucional violando assim os direitos humanos, sem uma justificativa, isso

atenta para sexo, raça, idade, crença, opção religiosa, nacionalidade, etc.

Ao conceituar o termo discriminação, tem-se que ter o discernimento que

essa palavra carrega uma bagagem histórica. O período do Brasil Colonial foi o

precursor desse conceito, pois os negros encontravam-se em condições de

escravos, enquanto isso os cidadãos brancos ou não negros compunham a elite da

época. Pode-se perceber também que a origem do preconceito e da discriminação

atravessou vários períodos da história, onde a classe social quem determinava a

condição do indivíduo e sua posição na sociedade.

De acordo com Santos (2019), atualmente, os negros ainda enfrentam

grandes dificuldades, pois são vistos de forma diferente e tratados com indiferença

além de serem discriminados pela sociedade. Um dos principais fatores que

contribui para tal situação está atrelado a um contexto histórico vivenciado no

passado, que até hoje contribui de forma negativa na vida dos seus descendentes.

A colonização brasileira foi um dos períodos mais difíceis de ser enfrentado.

Os negros encontravam-se em condições desumanas, em situação de escravidão,

eram considerados como animais ou objetos dos homens brancos, era livre a

comercialização desses indivíduos muitas vezes separados das famílias e em

condição de trabalho forçado para que os seus donos pudessem explorar e desfrutar

das riquezas existentes em terras brasileiras (SOARES, 2018).

As mulheres quando não eram escravas, tinham a responsabilidade de

exercer a função de dona do lar, não interferindo na vida cotidiana. Nos dias

contemporâneos essa discriminação contra a mulher pouco mudou, para as

mulheres negras essa situação acabou se agravando um pouco mais. As mulheres

negras são as que têm a remuneração mais baixa em relação às mulheres brancas

e aos homens em geral, essa ideia surgiu nos primórdios e se estende até hoje

(SOARES, 2018).

O negro não tinha valor se comparado com o homem branco, eles eram

tratados praticamente como indigentes. A perseguição racial ainda é percebida na

sociedade moderna, devido a origem da vinda de outras etnias para o nosso país,

levando-se a entender que quem fez o país se desenvolver foi o suor e o sangue

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das senzalas que aqui foram criadas (SANTOS, 2019). Tornando-se um grande

divisor da macroeconomia.

De acordo com Santos (2019) com a dificuldade enfrentada pelos negros no

final do século passado e no início deste, passaram a ser jogados a própria sorte em

uma sociedade dominada pela hegemonia branca, principalmente Europeus, o

mercado de trabalho favorecia que seus ocupantes possuíssem cor branca gerando

uma drástica consequência de desvalorização e ocupação subalternas das pessoas

não brancas, podemos, assim é possível observar que houve poucas mudanças nos

dias atuais onde as pessoas de cor ocupa cargos de empregados domésticos de

atividades explorarias.

Na composição da música “A carne” Seu Jorge / Marcelo Fontes Do

Nascimento S / Ulises Capelleti, expressam a carne negra como a mais barata do

mercado. Os versos da canção traz um desabafo social por parte dos compositores.

Como vivemos em uma sociedade discursiva, a música também é uma linguagem, e

nessa canção há uma linguagem da história de uma raça marcada por dores e

sofrimento, ou como diz um fragmento da canção “ E vai de graça pro sub-emprego”

A carne

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

A carne mais barata do mercado

É a carne negra Que vai de graça pro presídio

E pára debaixo do plástico

E vai de graça pro sub-emprego

E pros hospitais psiquíatricos

A carne mais barata do mercado

É a carne negra Que fez e faz e faz história

Segurando esse país no braço, meu irmão

O cabra aqui, não se sente revoltado

Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador eleito

Mas muito bem intensionado

E esse país vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

Mas mesmo assim, ainda guarda o direito

De algum antepassado da cor

Brigar sútilmente por respeito

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Brigar bravamente por respeito

Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)

De algum antepassado da cor

Brigar, brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado

É a carne negra, negra, negra, carne negra (Pode acreditar)

A carne negra (Grifo nosso).

Fonte: Musixmatch

Diante da letra da canção pode-se supor que em todo o período histórico, dos

tempos coloniais ou contemporâneos brasileiro há o enraizamento da inferioridade

do negro em relação ao branco, seja no campo social, cultural ou econômico

(profissional). Vale salientar que a vinda do negro ao Brasil se deu de forma

mercantil. Os negros eram comercializados como qualquer produto, uma carne de

segunda. Os mesmos eram reprimidos, discriminados, e sem dignidade. Possuíam

apenas obrigações e sua condição de objeto não permitia sua ascensão no campo

profissional.

Podemos dizer que aparentemente, só aparentemente, teríamos uma

mudança anos mais tarde com a abolição que já clamava a voz das senzalas. Com

a assinatura da lei Áurea supostamente tonaria livre os negros cativos, porem o que

aconteceu foi que, os ex-cativos foram esquecidos e abandonados, “libertos” da

opressão da senzala, porém ainda escravos da sociedade preconceituosa. O que

aconteceu de fato foi a condenação aos direitos que nunca pertenceram aos negros,

que aos poucos foram deixados para perecerem, induzidos a voltarem para seus

antigos “senhores”, eram remunerados, no entanto não deixaram a condição de

escravo, marcada ao longo do tempo.

Segundo Schwarcz (2010), baseando-se em análise de jornais do século XIX,

a escravidão finalmente cessa, contudo, a assinatura da lei não garante os direitos

aos descendentes africanos, ou muito menos aceitação da sociedade, por isso após

esse período vieram tempos difíceis, tempo esse que pode-se considerar em

vigência. Isso porque a liberdade chegara, mas de certa forma nunca se tornariam

realmente livres. Dificuldades que atravessaram a história, e até hoje tudo que se

considerava inapropriado foi riscado dos autos da história, corrompendo a verdade

com mentiras e hipocrisias que trouxeram enormes efeitos colaterais para os tempos

presentes. Conforme a ONU a:

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Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública. (ONU, 1961, pag. 2 apud SCHWARCZ, 2010).

Partindo, pois da perspectiva das Organizações Unidas, combater a

discriminação racial é fonte de garantia da dignidade humana e também oferecer

oportunidades aos negros e demais raças e etnias um reconhecimento digno e

valorização iguais no campo social, cultural e econômico. Só, assim, é possível uma

convivência harmoniosa na vida pública.

Não há muito que se fala no Brasil em abolicionismo e partido abolicionista. A ideia de suprimir a escravidão, libertando os escravos existentes, sucedeu à ideia de suprimir a escravidão, entregando-lhe o milhão e meio de homens e que ela se achava de posse em 1871 e deixando-a acabar com eles. Foi na legislatura de 1879-80 que, pela primeira vez, se viu dentro e fora do Parlamento um grupo de homens fazer da emancipação dos escravos, não da limitação do cativeiro às gerações atuais, a sua bandeira política, a condição preliminar da sua adesão a qualquer dos partidos (NABUCO, 2000, p.3).

Para PAIVA (2012) sociedade vivia um intenso conflito social, já não era a

mesma idealizada desde o período colonial, a presença dos negros estava de certa

forma incomodando a elite branca. Como se o negro de fato fosse um intruso, sendo

que o mesmo foi retirado de sua pátria mãe.

Muitas vezes, não foi o fato de transgredirem a lei que os transformava em indivíduos indesejáveis. Em boa medida, o que causava esse incomodo era o fato de, entre eles, haver vários que, geração após geração, logravam ascender economicamente e conquistar status social e, tudo isso, com certa facilidade. Mais ainda: essas trajetórias não infringiam, pelo menos clara e abertamente, a legislação e os costumes vigentes. O mundo que os libertos construíram para si e para seus descendentes, também ele cheio de facetas, pleno de tradições preservadas, de adaptações processadas e de descontinuidades, e o que, enfim, maior desconfiança e desconforto geravam entre a camada mais rica da população. Junto a isso, claro, a mestiçagem biológica e cultural entre brancos e negros contribuía muito para que o universo dos forros viesse a ser visto pela elite branca como ameaça direta a sua hegemonia (PAIVA, 2012, p.29).

3. 3 Racismo Institucional

Para Santos (2001), racismo institucional é qualquer tipo de transgressão que

de use de forma de desigualdade baseada em raça que pode surgir em instituições

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como órgãos públicos governamentais, empresas e universidades públicas e

privadas a fim de denegrir e ferir o direito das pessoas, diminuindo as mesmas.

Segundo Morais (2014) há um conjunto de fatores que contribuem para o

racismo dentro das instituições. Essas condições acabam causando graves danos,

principalmente partindo da violência moral contra o indivíduo, onde o mesmo é

exposto a situações de constrangimento e diferença de tratamento.

Desta forma, podemos ver a organização como um palco onde se manifesta integralmente o racismo. Percebe-se mais claramente o racismo institucional, que se reflete no próprio perfil demográfico das organizações. Mas há também o racismo no nível interpessoal, que se manifesta na convivência entre colegas, através de situações de violência moral e constrangimento, e da negação da diferença de tratamento (GELEDÉS INSTITUTO DA MULHER NEGRA, 2013; SEGATO, 2005 apud MORAIS, 2014, p.19).

De acordo com SILVÉRIO (2002) o racismo tem por sua maioria no âmbito

institucional, onde se cria uma ideia de superioridade, pois desde a chegada do

negro no Brasil, o mesmo desempenhou funções subalternas, sendo expostos a

todos os tipos de juízos, geralmente de natureza negativa e pejorativa.

Acredito que as discriminações e os racismos são componentes essenciais na conformação da sociedade brasileira e operam menos no plano individual e mais no plano institucional e estrutural. Retomando o pressuposto que toda desigualdade se estrutura a partir de um juízo de superioridade, aparentemente os negros, desde que foram trazidos para as terras brasileiras, estiveram submetidos a todo tipo de juízos, normalmente negativos e pejorativos, sobre sua condição de diferente no plano sociocultural. Assim, o modo como as diferenças naturais e culturais são construídas socialmente, na forma de desigualdades sociais, torna-se um problema científico e político nas sociedades contemporâneas multirraciais (SILVERIO, 2002, p.223).

O fato é que a sociedade se acostumou a condição que o negro ocupa nela,

isso gera enormes conflitos político-sociais dificultando assim uma retificação dessa

condição que a tempos vivem em nosso país.

Souza (2010) acredita que o atualmente é conhecido como racismo

institucional, outrora se tratava da origem, o colonialismo. Com a influência dos

movimentos de descolonização de países africanos e asiáticos houve a comparação

de que o racismo estaria ligado as práticas coloniais.

A noção de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teórico político do enfrentamento do racismo. Ao fazer referência aos obstáculos não palpáveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados, o conceito de Racismo Institucional refere-se a

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políticas institucionais que, mesmo sem o suporte da teoria racista de intenção, produzem consequências desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (REX, 1987, p. 185, apud SOUZA, 2010, p. 79).

Para Rex (1987 apud SOUZA, 2010) o que se entende por racismo

Institucional é a forma em que o indivíduo está condicionado, ao serem tratados

como desiguais por meio de políticas públicas que os conduz a condição de

desigualdade.

3. 4 Desigualdades Raciais no mercado de trabalho brasileiro

Atualmente, pode-se perceber com facilidade que existe uma grande

desigualdade racial presente em nossa sociedade. Algumas pessoas conseguem

obter vantagens em relações a outras por conta de sua etnia. Essas diferenças tem

uma grande influência no mercado de trabalho e é de fato onde acontece a

eficiência da discriminação, dificultando o ingresso de pessoas que são julgadas de

forma superficial pelo que a sociedade diz que ela é e não por suas habilidades e

competências.

Infelizmente, não basta ser somente qualificado, o indivíduo deve ter a

aparência “perfeita” para a sociedade e para o mundo competitivo dos negócios.

Diante, dessa exigência de perfeição, no campo da aparência, cujas padronizações

estéticas são permeadas por padrões brancos, fica difícil ou por que não dizer

impossível um negro conseguir um lugar de destaque profissional.

O fato é que o negro jamais conseguirá competir de igual para igual com um

cidadão branco no mercado de trabalho ou na própria sociedade de maneira geral.

Para ilustrar o que acabamos de descrever leiamos a letra da música dos

RACIONAIS MC’s, Intitulada: A vida é desafio, escrita nos anos noventa. A letra da

música diz o seguinte:

"tem que acreditar.

Desde cedo à mãe da gente fala assim:

'filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor.'

Aí passado alguns anos eu pensei:

Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado

pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas

psicoses... por tudo que aconteceu? duas vezes melhor como ?

Ou melhora ou ser o melhor ou o pior de uma vez.

E sempre foi assim.

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Você vai escolher o que tiver mais perto de você,

O que tiver dentro da sua realidade.

Você vai ser duas vezes melhor como?

Quem inventou isso aí?

Quem foi o pilantra que inventou isso aí ?

Acorda pra vida rapaz"

Sempre fui sonhador, é isso que me mantem vivo,

Quando pivete meu sonho era ser jogador de futebol, vai vendo.

Mas o sistema limita nossa vida de tal forma

Que tive que faze minha escolha, sonhar ou sobreviver.

Os anos se passaram e eu fui me esquivando do ciclo vicioso

Os versos da canção descrevem basicamente e diretamente a situação que

os negros passam numa sociedade, preconceituosa e racista. Os RACIONAIS MC’s

nos fazem pensar como ser melhor se estamos cem vezes atrasados, atrasados

pelo preconceito que ao longo da história mancha a nossa história.

O mesmo preconceito descrito na canção, também emerge do nosso cenário

político, a discriminação em querer tratar negros como diferentes. Vivemos em uma

sociedade extremamente racista, uma sociedade que acredita na soberania ariana,

tal como nos modelos que Hitler tanto falava em seus discursos de ódio e que

causaram tanto sofrimento as outras raças e etnias.

Os negros encontram uma grande dificuldade de ingressar em cargos de

maior hierarquia nas organizações, para exercer suas atividades. Geralmente eles

exercem trabalhos braçais, que exige um maior esforço físico caracterizando o

histórico da época dos escravos, ou seja, reservando-se a esse grupo étnico o papel

pior, e menor remuneração e projeção social (SOARES, 2018).

Uma análise comparativa entre etnias e raças em relação ao mercado de

trabalho nas grandes metrópoles do Brasil mostra com clareza a exclusão ou

inclusão social de grupos excluídos da sociedade, como pode ser visto no Gráfico 1

(SOARES, 2018).

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Fonte: (SOARES, 2018, p.28).

Percebe-se que as mulheres negras se deparam com maiores dificuldades

para entrar no mercado de trabalho em relação as mulheres não negras e aos

homens em geral. Se realizado um coorte exclusivamente de raça, a população

negra se encontra em maiores níveis de desemprego que a não-negra,

independente de gênero. O gráfico mostra a relação de desemprego em homens e

mulheres/ negros e não-negros em regiões metropolitanas do Brasil.

Apesar do crescimento quantitativo de negros no mercado de trabalho,

percebe-se uma diferença salarial quando comparado com os não-negros, conforme

pode ser observado na Tabela 1.

0

5

10

15

20

25

30

Distrito Federal Fortaleza Porto Alegre Salvador São Paulo

Gráfico 1- Taxas de Participação e Desemprego Total segundoCor e sexo. Região Metropolitana- 2016

Mulheres Negras Homens Negros Mulheres não Negras Homens nãoNegros

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Tabela 2: Proporção de negros na população ocupacional e rendimentos hora dos

ocupados negros e não negros. Regiões metropolitanas. Biênio 2011-2012.

Regiões

Metropolitanas

Proporção de

negro na

população

ocupada

Rendimentos/hora (Em R$ de junho de 2013)

Negros Não negros Negros/Não

negros

Belo Horizonte 64,0 7,68 10,98 69,95

Distrito

Federal

68,6 11,32 17,35 65,24

Fortaleza 75,6 5,47 7,23 75,66

Porto Alegre 11,9 6,61 9,29 71,15

Recife 70,2 5,26 8,07 65,18

Salvador 89,2 5,89 9,84 59,86

São Paulo 34,0 6,96 11,40 61,05

Total 48,2 6,83 10,69 63,89

Fonte: (SOARES, 2018).

Os negros possuem uma maior participação na estrutura produtiva, porém, a

remuneração se mostrou inferior aos não-negros. O Distrito Federal possui a maior

discrepância salarial, em que o negro recebe 11,32 por hora, enquanto o não negro

recebe 17,35 por hora.

A realidade de Alagoas é retratada em uma pesquisa realizada por Santos

(2019) que busca analisar os prováveis fatores determinantes das práticas de

discriminação racial no mercado de trabalho no estado de Alagoas.

Nesta pesquisa os dados foram baseados em informações retiradas de

Santos (2019) onde foi apresentado a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílio (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). A Tabela 2, localizada baixo, tem por objetivo expor uma análise da

realidade encontrada no mercado de trabalho alagoano, tornando evidentes as

diferenças salariais entre gêneros e raças.

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Tabela 3: Estatísticas descritivas das variáveis em Alagoas no ano de 2014.

Variáveis Não

Branc

os

Branc

o

Mulher

es

Homens

Média SD Média SD Média SD Média SD

Rendiment

os

970,5 1474,1

1

1339,3

4

2068,4

5

963,52 1474,1

1

1135,4

4

1613,6

7

Educação 7,95 0,33 9,83 4,61 9,87 0,28 7,65 4,63

Sexo 0,64 0,03 0,61 0,49 0,00 0,00 1,00 0,00

Emprego

Formal

0,57 0,03 0,64 0,48 0,57 0,02 0,61 0,49

Industria 0,06 0,01 0,10 0,35 0,03 0,01 0,09 0,33

Comércio

e serviços

0,31 0,02 0,30 0,46 0,44 0,02 0,22 0,42

Social 0,12 0,01 0,14 0,35 0,26 0,01 0,05 0,21

Fonte: SANTOS (2019)

De acordo com a análise realizada, pode-se perceber que há uma grande

distância monetária sobre os rendimentos salariais entre homens e mulheres,

podendo ser ainda maior entre brancos e não brancos.

Os brancos ocupam os cargos hierárquicos mais altos e com um maior status

social, com remuneração superior e também um maior conhecimento intelectual. Um

dos fatores que contribui parra essa situação existente no estado de Alagoas de

diferenças, é que os não brancos começam a trabalhar mais novos do que os

brancos, adquirindo assim uma experiência maior do que os brancos, porém, em

cargos de trabalho braçal e pesado. Os números apresentados mostram que o

branco tem um índice de formalidade no mercado de trabalho maior do que as

pessoas de cor, tendo os seus direitos assegurados.

A maior participação dos brancos está na área industrial e social, já os demais

são responsáveis na comercialização do que foi planejado e produzido nas

indústrias ou prestam serviços. A comparação entre gêneros mostra que as

mulheres enfrentam uma grande discrepância nas remunerações quando é feita

uma comparação com as dos homens. Mesmo que esses tenham um menor nível

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educacional. Elas têm um maior índice de informalidade, e tem maior atuação no

comercio, serviços e social.

3.5 Ações organizacionais para a diminuição do preconceito

Perez-Nebra e Jesus (2011) sustentam que o preconceito e a discriminação

são problemas que estão presentes no nosso mercado de trabalho que acabam

contribuindo de forma negativa no desenvolvimento dos colaboradores, que além

das suas responsabilidades ainda tem que saber lidar com assas situações que

causam constrangimentos e até mesmo afetam a vida pessoal dos indivíduos que

enfrentam esse tipo de problema.

Como já foi apontado, é preciso a existência de estereótipos para que

posteriormente venha a surgir o preconceito e a discriminação. Quando presente

uma situação assim, é de fundamental importância que seja trabalhado alguns

mecanismos com o objetivo de eliminar essa indiferença entre as pessoas. Para que

se possa reduzir e tornar o ambiente de trabalho em um local onde as pessoas

sintam-se bem para exercer as suas atividades de forma eficiente e eficaz. Se faz

necessário reduzir ao máximo possível os estereótipos que os colaboradores

adquiriram no meio social onde vivem.

Uma das formas de reduzir o preconceito e a discriminação é o

estabelecimento de objetivos que necessite que os colaboradores trabalhem de

forma sinergética onde o resultado do toda é maior que a soma das partes e

alcancem chegar a um resultado satisfatório com a colaboração de todos.

[...] sob o enfoque comportamental, essa poderia se dar pela evitação de reforço do estímulo. Os resultados experimentais encontrados demonstram sucesso na extinção de estereótipos. Nesse sentido, para mudar o comportamento, é preciso evitar o reforço quando ele ocorre. Sob o enfoque social, quando a “tradição”, como reforçadora dos estereótipos em sociedades tradicionalistas, se enfraquece acompanhada por atitudes de reflexão, é possível incitar a formulação autônoma de escolhas, além dos estereótipos. (TORRES; NEIVA, 2011, pag.232).

Percebe-se que o preconceito está ligado de forma íntegra a nossa cultura

por questões tradicionais. A discriminação é um fator que sobreviveu a diversas

passagens da história. Isso fez com que fosse passado de geração em geração o

conceito de o não negro ser uma raça soberana aos demais. Essa ideologia voltada

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ao âmbito organizacional tornou-se um paradigma muito longe de ser quebrado. É

preciso uma grande formulação na maneira de lidar com preconceitos, para então

conseguir êxito nessa integração.

O valor organizacional é de grande relevância, define uma direção comum

para todos os trabalhadores de uma empresa e influenciam fortemente o

comportamento organizacional, constituem o componente fundamental da identidade

de uma instituição. As normas, papéis e os valores contam entre os principais

componentes de uma organização. Enquanto as normas expressam expectativas e

os papéis prescrevem e define formas de comportamentos, os valores atuam como

elementos integradores, já que eles são compartilhados pelo grupo. Apesar da

importância no âmbito organizacional. Por isso, é fundamental que as organizações

englobem em seus valores componentes antirracistas para que assim reflitam nas

práticas cotidianas de seus colaboradores.

O que deve ser feito a respeito do tema para diminuição do preconceito

organizacional é:

Realizar pesquisar de cunho prático, ou seja, ações efetivas;

Trabalhar a necessidade da implementação e reconhecimento dos direitos

humanos como base de conscientização social e garantia e cumprimento das

leis que o regem;

Traçar objetivos onde as atividades sejam executadas de forma que haja

sinergia e um bom relacionamento interpessoal entre os colaboradores;

Eliminar a discriminação no recrutamento e seleção de pessoas.

A principal maneira de se encarar o preconceito é primeiramente cada pessoa

tentar conviver com as diferenças, não se admite em pleno século XXI manter

relações de desigualdade de qualquer natureza, seja no meio profissional ou na vida

de uma forma geral, há necessidade de se combater, te riscar arrancar essa página

de nossa história.

Para Moehlecke (2002) as ações afirmativas foram criadas para se combater

o racismo. O termo tem origem nos EUA nos anos 60, onde o movimento liberalista

tem por objetivo reivindicar direitos civis e principalmente de igualdade de

oportunidades iguais.

No período, começam a ser eliminadas as leis segregacionistas vigentes no país, e o movimento negro surge como uma das principais forças atuantes, com lideranças de projeção nacional, apoiado por liberais e progressistas

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brancos, unidos numa ampla defesa de direitos. É nesse contexto que se desenvolve a ideia de uma ação afirmativa, exigindo que o Estado, para além de garantir leis antissegregacionistas, viesse também a assumir uma postura ativa para a melhoria das condições da população negra (MOEHLECKE, 2002, p. 198).

Com quase 40 anos de experiência nos EUA, a implantação foi uma boa

oportunidade para se observar os resultados em longo prazo, porém não ficaram

exclusivamente restritos aos norte-americanos, vários outros países também adotam

as medidas. Moehlecke (2002) defende que as ações afirmativas tiveram uma

variação de seu público alvo abrangendo grupos de minoria étnicas, raciais e

mulheres, em que “ as principais áreas contempladas são o mercado de trabalho,

com a contratação, qualificação e promoção de funcionários; o sistema educacional,

especialmente o ensino superior; e a representação política” (p. 199).

Antônio Sérgio Guimarães (1997), citado por Moehlecke (2002), acredita que

a justificativa da política que visa representar os grupos inferiorizados da sociedade

afim de conferir-lhes direitos econômicos e bens se explica da seguinte forma:

Antônio Sergio Guimarães (1997) apresenta uma definição da ação afirmativa baseado em seu fundamento jurídico e normativo. A convicção que se estabelece na Filosofia do Direito, de que tratar pessoas de fato desiguais como iguais, somente amplia a desigualdade inicial entre elas, expressa uma crítica ao formalismo legal e também tem fundamentado políticas de ação afirmativa. Estas consistiriam em promover privilégios de acesso a meios fundamentais de educação e emprego, principalmente a minorias étnicas, raciais ou sexuais que, de outro modo, estariam deles excluídas, total ou parcialmente (GUIMARÃES, 1997, p.233 apud MOEHLECKE, 2002, p. 200).

Pode-se observar que, a forma em que se tenta injetar que o desigual é de

certa forma igual, tende a ampliar a desigualdade entre os mesmo. O fato é que a

não aceitação da diferença gera esse conflito social. O que deve ser tratado de

forma igualitária são as oportunidades, que até então favorecem um seleto grupo

étnico que se autodenomina superior.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo apresentar a condição atual do negro no

mercado de trabalho diante de uma sistemática histórica que sempre desfavoreceu

os mesmos. Este objetivo foi cumprido por meio de uma discussão histórica que

sustenta as formas de preconceito e discriminação no mercado de trabalho atual.

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Tais práticas discriminatórias foram avaliadas ou discutidas por meio das diferenças

salariais e dificuldades para os negros ocuparem cargos com maior status social

dentro de uma organização.

Conforme apresentado em pesquisas estatísticas foi possível identificar que,

ainda há diferenciação e favorecimento a indivíduos não negros, constituindo, um

paradigma social ainda distante de ser quebrado e adotar um novo modelo a ser

seguido.

Se hoje o mundo está impregnado com essas práticas discriminatórias que se

arrastam ao longo do tempo, cabe às organizações buscarem alternativas que

combatam tais práticas tão arcaicas que assolam a nossa história. Os efeitos

colaterais causados pelo abandono do ex escravo que apesar da assinatura da lei

que os libertaram não garantiu direitos, pelo contrário os lançou a própria sorte.

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