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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO MAYANNE CONSERVA JOVITO ESTUDO SOBRE A GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO JOÃO PESSOA 2012

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MAYANNE CONSERVA JOVITO

ESTUDO SOBRE A GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

JOÃO PESSOA 2012

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MAYANNE CONSERVA JOVITO

ESTUDO SOBRE A GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Artigo Científico apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Área: Direito de Família Orientadora: Prof.ª Luciana Brito

JOÃO PESSOA 2012

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J869e Jovito, Mayanne Conserva Estudo sobre a guarda compartilhada no ordenamento

jurídico brasileiro / Mayanne Conserva Jovito. – João Pessoa, 2012.

23f. Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino

Superior da Paraíba – FESP. 1. Poder Familiar 2. Guarda Compartilhada 3. Beneficio I.

Título.

BC/FESP CDU: 347.61(043)

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MAYANNE CONSERVA JOVITO

ESTUDO SOBRE A GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Orientador - Fesp Faculdades

_________________________________________________ Professor Examinador

Fesp Faculdades

_________________________________________________ Professor Examinador

Fesp Faculdades

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ESTUDO SOBRE A GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

MAYANNE CONSERVA JOVITO*

RESUMO

O presente artigo cientifico aborda a guarda compartilhada, suas vantagens e desvantagens, após a ruptura do vínculo conjugal. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, com o novo Código Civil de 2002 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, o Direito de Família tem apresentado grandes transformações, ressaltando o princípio da proteção integral e do melhor interesse do menor. Outra grande mudança foi à extinção do pátrio poder , antes exercido exclusivamente pelo homem, passando agora a se chamar poder familiar, no qual a responsabilidade sobre os filhos é do pai e da mãe, aplicando o princípio constitucional da igualdade entre homens e mulheres. As constantes mutações sociais, econômicas e jurídicas da sociedade, trouxeram uma nova realidade para a família contemporânea e muitos valores foram alterados. A Instituição do Casamento, antes indissolúvel, agora não é mais, houve um crescente número considerável de separações e divórcios no Brasil. Com a ruptura do vínculo conjugal, vem a grande questão: a guarda dos filhos. A guarda compartilhada está sendo mais bem utilizada nos dias atuais em razão do interesse maior que é saúde física e mental dos seus filhos. Essa modalidade de guarda estabelece, com equidade, ao mesmo tempo e na mesma intensidade, responsabilidade legal entre os pais perante o menor, eles devem compartilhar em conjunto as decisões, obrigações, direitos, buscando sempre o melhor interesse do menor, mesmo morando em lares separados. A guarda compartilhada é vista pelos doutrinadores e legisladores, como vantajosa quando não se tem litígio, pois para a obtenção desse tipo de guarda, é imprescindível que os genitores tenham uma relação cordial e de respeito, para que ambos possam ter discernimento para resolver questões relativas ao bem-estar do menor. O bom relacionamento dos pais é fundamental para que a guarda compartilhada seja bem sucedida, do contrário, a vida do menor pode virar um tormento, prejudicando o seu desenvolvimento social e psíquico. A guarda compartilhada é uma forma salutar da permanência do vínculo parental dos pais com os filhos, em igualdade de condições, preservação do bem-estar do menor. Palavras-chave: Poder Familiar. Guarda Compartilhada. Beneficio.

* Concluinte do Curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP Contato: [email protected]

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INTRODUÇÃO

As mudanças atinentes ao Direito de Família com a promulgação da

Constituição Federal de 1988 e do novo Código Civil de 2002, atingiu a instituição

familiar, mudando o seu enfoque, o pátrio poder que era exercido apenas pelo

homem, foi extinto, surgindo então o poder familiar, exercido pelos pais, em

igualdade de condições.

A família passou a ser uma entidade que agrega em seu núcleo pessoas

ligados por laços, biológicos ou não, e por laços de afeto. O Código Civil atual

reconheceu a união estável entre o homem e a mulher, como uma união igual ao

casamento quanto aos direitos e obrigações, e os filhos gerados desta união

também serão reconhecidos pela lei, obtendo os mesmos direitos e deveres.

Com as transformações que a família vem sofrendo, houve um grande

crescimento na dissolução do casamento, a separação e o divórcio não são vistos

mais como tabus. E com a ruptura do vínculo conjugal, vem um grande

questionamento: a guarda dos filhos.

Este é o enfoque do presente trabalho. Estudar a guarda compartilhada,

mostrando suas vantagens e desvantagens, como um benefício para o menor,

quando não existir litígio, deve haver sempre um consenso dos pais. Essa

modalidade de guarda tem como objetivo a permanência, mesmo depois da

separação, do vínculo parental dos pais com os filhos.

A guarda compartilhada é uma forma que os pais possuem, em igualdade

de condições, de tomar decisões visando o melhor interesse do menor, dividindo

obrigações e direitos, mas sempre preservando e buscando o melhor interesse do

menor.

A importância do compartilhamento dos direitos e deveres dos pais, é

essencial para o desenvolvimento emocional e psíquico do menor, é primordial

para que essa modalidade de guarda seja estabelecida, que os pais tenham uma

relação de respeito e cordialidade.

Visando obter uma maior aferição científica ao trabalho, utilizar-se-á, na

análise em pauta, a vertente metodológica qualitativa, como forma de facilitar a

percepção do contexto da instituição familiar, pressupondo a guarda compartilhada

como consequência das transformações sociais e jurídicas experimentadas pela

sociedade, não se atendo a dados estatísticos para abordagem da problemática.

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O método de abordagem será o dedutivo, partindo-se do raciocínio geral,

para se chegar ao específico. Este, no presente trabalho, será contemplado na

observância dos papéis desempenhados pelos pais e filhos no decorrer da história,

passando-se pela fase onde a atribuição da guarda era exclusivamente masculina,

posteriormente, privilegiando-se a figura matriarcal, saindo do prisma de privilégio

dos pais para a observância aos direitos da criança com a concessão da guarda

compartilhada.

Já os de interpretação a serem utilizados serão o jurídico, na análise da

legislação, enfocando-se na possibilidade de sua aplicação, e o sociológico, na

demonstração das transformações jurídicas conforme as modificações sociais.

Quanto à classificação do objetivo geral, o estudo será exploratório,

objetivando-se esclarecer o instituto da guarda compartilhada, abordando seus

aspectos jurídicos, psicológicos e sociais.

O procedimento técnico utilizado será o levantamento bibliográfico,

adotando a documentação indireta como técnica de pesquisa, em virtude do estudo

ter por base a interpretação de livros, artigos científicos e legislações, que abordem

e esclareçam a problemática do trabalho.

Após o esboço da metodologia aplicada, será elucidada a forma de

organização do trabalho, composto de quatro capítulos, que objetiva alcançar uma

compreensão sobre o tema e suas metas, descreve-se, em síntese, seu conteúdo.

1 DO PÁTRIO PODER AO PODER FAMILIAR

1.1 Breves Aspectos Históricos do Poder Parental

A história do Poder Parental ou Pátrio Poder, surgiu nas origens da própria

humanidade. Foi Grécia antiga, que o instituto do Poder Parental organizou-se e

estruturou-se, atravessando diversas civilizações e direcionando várias culturas,

chegando então, ao Direito Brasileiro.

Todavia em nosso Direito, tal instituto possui características primárias. Suas

origens encontram-se determinadas no Direito Romano, o que significa dizer, que a

figura paterna era autoridade suprema e nela, concentrava-se todo o poder familiar.

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José Virgílio Castelo 1 sobre o tema, afirma:

No Direito Romano, a organização era baseada na ilimitada autoridade familiar, objetivando apenas o interesse do chefe de família, concentrando-se na figura do pai, o que caracterizava o patriarcalismo. Assim, o pai poderia dispor do filho da forma que bem lhe aprouvesse. Dita autoridade patriarcal abrangia até o direito de dispor da vida, desde que ouvidos os demais integrantes da família para o judicium domesticum, indo até a mercancia.

Em outras palavras, o pátrio poder tornava-se semelhante a um

patriarcado, onde pater famíliae, era o varão e por ser pessoa sui júris, esse

tornava-se o único centralizador, administrando dessa forma, não só os bens da

família mas também a vida dos filhos e dos outros membros da família.

Castelo2, complementando a citação acima, afirma:

A influência romana no tratamento e disciplina do instituto do pátrio poder foi incorporado na nossa legislação através do Direito Português, quando este vigeu em nosso país. Mesmo após a independência política, permaneceu vigorando em território brasileiro as Ordenações Filipinas, bem como leis e decretos promulgados pelos reis portugueses pela simples razão de que não havia leis genuinamente brasileiras que ordenassem a vida da população, da jovem nação recém independente.

No período medieval, sobre a influencia do cristianismo, o Direito

Canônico possuía tamanha força que a única forma de casamento era o religioso,

considerado como sacramento. Era a única fonte da família, considerado

indissolúvel, não se aceitando o concubinato. Porém o vinculo político do Direito

Romano deixou de existir.

As conceituações modernas de família apesar de ainda influenciadas

pelo período romano e medieval, não mantiveram os exageros do passado. O

marido era o provedor da família, a mulher era subalterna, colaboradora.

A mulher passou a exercer funções, competia na administração

domestica e na educação dos filhos. Foi inserido o espírito de comunidade dos

bárbaros substituindo o individualismo romano.

A família foi democratizada a partir da segunda metade do século XX. Na

atual realidade ela se funda nos vínculos afetivos. Os filhos havidos ou não do

1 CASTELO, José Virgílio, apud SALLES, Karen Ribeiro Pacheco Nioac de. Guarda

compartilhada, Lúmen Júris. São Paulo. 2000, p. 02.

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casamento possuem os mesmos direitos e deveres. Esses arranjos modernos

foram consolidados ao longo do tempo.

A mulher conquistou espaço na sociedade, e, com isso a legislação foi

modificada adequando-se a esta nova realidade em que os homens e mulheres

são iguais perante a lei, dentro ou fora da família. Ocorreu então o alargamento do

conceito de família, que além da relação advinda do matrimonio, passou a abrigar a

união estável entre homem e mulher, o vinculo de um dos pais com a sua prole,

sem esquecer, que isto não é taxativo, existindo ainda inúmeros arranjos familiares

que surgem da relação moderna de família.

1.1.1 Conceito

O Código Civil Brasileiro, cita em seu artigo 379 que “os filhos legítimos, os

legitimados, os legalmente reconhecidos e os adotivos estão sujeitos ao pátrio

poder, enquanto menores”.

A doutrina no Brasil trás, de forma praticamente unânime, que o pátrio

poder forma o conjunto de deveres e direitos que são dados aos pais em relação à

pessoa e aos bens dos filhos que são ainda menores e que não possuem

emancipação, objetivando dessa forma, a proteção pessoal e patrimonial dos

mesmos.

Roberto João Elias, assim conceitua o pátrio poder:

“Um conjunto de direitos e deveres, em relação à pessoa e aos bens dos filhos menores e não emancipados, com a finalidade de propiciar o desenvolvimento integral de sua personalidade” 3

Já a citação de Maria Helena Diniz 4, diz:

Pátrio Poder é o conjunto de direitos e obrigações quanto à pessoa e aos bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhe impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho.

2 Ibidem

3 ELIAS, João Roberto. Pátrio Poder. São Paulo: Ed. Saraiva, 1999, p. 13

4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família 14ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1999, p. 375

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Não é diferente a proposta de Silvio Rodrigues, para quem “o pátrio poder é

o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos

bens dos filhos não emancipados, tendo em vista a proteção destes” 5

Mesmo com algumas diferenças com a relação às expressões usadas para

conceituar o Pátrio Poder, podemos verificar a persistente alusão de proteção e

direcionando do ser humano, enquanto menor ou maior incapaz. Apesar dos

diferentes posicionamentos, definições e nomenclatura o pátrio poder e o poder

familiar buscam o mesmo objetivo.

É importante ressaltar, que as mudanças relacionadas ao direito de família,

oriundas da Constituição Federal de 1988 e de novo Código Civil, apontam a

função social no direito brasileiro, referentes à isonomia plena dos cônjuges e dos

filhos. Da matéria atinente a guarda, manutenção e educação da prole, com

imputação de poder ao juiz para deliberar sempre no interesse desta e determinar

a guarda a quem releva melhores condições de exercê-la, bem como para

dependurar ou destituir os pais do poder familiar, quando faltarem aos deveres a

ele inerentes;da importância do direito a alimentos, inclusive aos companheiros e

da observação das circunstancias em que se encontram; do compromisso imposto

a ambos os conjugues separados judicialmente de colaborarem na proteção dos

seus recursos para a manutenção dos filhos.

1.2 Guarda de Filho

A guarda dos filhos menores procede da lei como um resultado natural do

poder familiar e dos institutos de adoção e de tutela. Tal instituto está previsto nos

artigos 1.583 a 1.590 do Código Civil de 2002 e incluído na Constituição Federal de

1988 nos artigos 227 e 229, que “ estabelecem as responsabilidades dos pais para

com os filhos e garante ainda o direito de toda criança ter um guardião para

protegê-la, dar assistência material, moral e vigiá-la.

A Guarda é o meio necessário para a efetivação do poder familiar. A

legislação atribui ao poder família um complexo vasto de direitos e deveres dos

pais e filhos, destinado à proteção destes em suas relações tanto pessoais como

patrimoniais, cuja distância, ou até mesmo a ausência, poderia prejudicar.

5 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Direito de Família. São Paulo: Ed. Saraiva, 2005, p. 187

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É uma palavra que em sentido restrito à linguagem jurídica exprime ao

cônjuge que (coabite ou não) e/ou a qualquer responsável zelo e proteção para a

sua prole nas diversas divergências da lei civil.

Destina-se a guarda primeiramente a assistência material do menor, à sua

educação e seu desenvolvimento saudável. Compreende o direito de guarda, à

educação e seu desenvolvimento saudável, a vigilância, pois aos pais, sejam eles

legítimos ou adotados é dada à responsabilidade de reclamar seus filhos de quem

ilegalmente os detenha, vigiar-lhes as amizades e convivência, proibir a freqüência

a certos lugares prejudiciais à sua moral e saúde, dentre outros deveres como

prestação à assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente,

destinando-se a regularizar a posse de fato, sendo deferida liminarmente ou

incidentalmente nos procedimentos de adoção e tutela.

A guarda de menor é o conjunto de relações jurídicas que existem entre uma

pessoa e um menor, dimanados do fato de estar este sob o poder ou a companhia

daquela, e da responsabilidade daquela em relação a este, quanto à vigilância,

direção e educação.

José Antonio de Paula Santos Neto e Rubens Limongi França 6 conceituam

guarda como:

O conjunto de relações jurídicas que existem entre uma pessoa e o menor, dimanados do fato de estar este sob o poder ou a companhia daquela, e da responsabilidade daquela em relação a este, quanto à vigilância, direção e educação.

Na definição de Flávio Guimarães Lauria 7, a guarda:

Consiste num complexo de direitos e deveres que uma pessoa ou um casal exerce em relação a uma criança ou adolescente, consistindo na mais ampla assistência à sua formação moral, educação, diversão e cuidados para com a saúde, bem como toda e qualquer diligência que se apresente necessária ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades humanas, marcada pela necessária convivência sob o mesmo teto, implicando, inclusive, na identidade de domicílio entre criança e o(s) respectivo(s) titular(res).

6 SANTOS NETO; FRANÇA, 1994 apud CANEZIN, Claudete Carvalho. Da guarda compartilhada

em oposição à guarda unilateral. Revista Brasileira do Direito de Família, São Paulo, n. 28, p. 5-25, fev./mar. 2005. p. 8. 7 GUIMARÃES, 2002 apud RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers. O poder familiar e a

guarda compartilhada sob o enfoque dos novos paradigmas do direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 54.

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Por conta da guarda dos filhos, pode ocorrer entre o casal, por conta da

separação judicial ou mesmo o divórcio, uma disputa jurídica. A guarda encontra-se

prevista nos artigos 9º a 16 da Lei do Divórcio nº 6.515/77 e 1.583 à 1.590 do

Código Civil de 2002.

Já a guarda que é proveniente da união estável, encontra-se prevista no

artigo 2º, inciso IV, da Lei n º 9.278/69, devendo ser aplicados por analogia os

dispositivos citados da Lei do Divórcio. e do CC/02.

1.3 A Guarda Compartilhada na Lei Brasileira

As regras de direito de família afetam os indivíduos que estão dentro do

núcleo familiar. Em geral, são regras de caráter público e não estão à disposição

ou à vontade das partes. A legislação referente a casamento, união estável,

filiação, direito à alimentos, regulam as relações jurídicas dos membros da família,

concordando eles com esta regulamentação.

A proteção aos filhos menores de idade sempre foi uma preocupação

social, que em épocas remotas teve seu início quando os homens passaram a

conviver em grupos e, posteriormente também uma preocupação jurídica, que se

expressou na declaração universal dos direitos das crianças, nos textos

constitucionais e na legislação infraconstitucional.

Culturalmente, em nosso país, a guarda dos filhos tem sido atribuída às

mães, pois as mulheres ainda são consideradas pela sociedade seres mais

amorosos, responsáveis, dedicados e atenciosos à sua prole. Conceito esse

baseado em preconceitos e teorias ultrapassadas. Destarte, hoje, a estrutura

familiar é outra, devendo sempre acompanhar as novas exigências do século

vigente. Entre essas exigências, estão as reivindicações das mulheres em

quererem uma maior participação dos homens na criação dos filhos,

principalmente, nos afazeres domésticos, visto que, ela está inserida

definitivamente na sociedade como um ser que produz igual ao homem.

A guarda compartilhada não está expressamente prevista no ordenamento

jurídico brasileiro, sendo ela introduzida através do direito comparado, entretanto,

podemos dizer que a nossa carta magna de 1988, ao introduzir em seu texto

Constitucional o parágrafo 5º do artigo 226, declara:

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Os direitos e deveres referentes a sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.” Mesmo não havendo nenhuma norma que trate, expressamente, sobre o instituto da guarda compartilhada em nosso país como há em outros lugares, não há nenhuma que a impeça de ser aplicada, o que toma legal sua aplicação.8

Diz, ainda, o art. 227, caput, da Constituição Federal de 1988:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, á saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, á dignidade, ao respeito, á liberdade e á convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda e qualquer forma de negligência, exploração, violência, crueldade e opressão.9

Já o artigo 229 da Carta magna: “Os pais têm o dever de assistir, criar e

educar os filhos menores”. 10

Para o Direito de Família, os princípios constitucionais, fortaleceram e

protegeram os vínculos familiares, garantindo o pleno desenvolvimento e

crescimento dos membros da comunidade familiar.

1.4 O ECA e o Código Civil de 2002

O Estatuto da Criança e do Adolescente criado pela Lei 8.069/90 tem

como finalidade proporcionar meios efetivos e adequados para alcançar a proteção

do menor quando este estiver em estado de risco, seja em relação aos problemas

econômicos, morais e educacionais, além de disciplinar os atos Infracionais.

É considerada criança para fins estatutários, a pessoa com até 12 (doze)

anos incompletos, e adolescentes aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de

idade, podendo ser aplicado, excepcionalmente, as normas atinentes ao estatuto

às pessoas entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos de idade.

O referido estatuto estabelece direitos fundamentais pertencentes à

criança e ao adolescente, assegurando-lhes o direito à vida, à alimentação, à

convivência familiar entre outros aspectos previstos na Constituição Federal e na

mencionada lei.

8 Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso: 23 de setembro de 2011

9 Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso: 23 de setembro de 2011

10 Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso: 23 de setembro de 2011

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É aplicado nos casos decorrentes de abandono, orfandade ou infração da

criança e do adolescente previsto nos princípios legais em consonância com o

artigo 227 da nossa Magna Carta, os quais procuram regularizar a tutela e guarda

do menor independente da assistência obrigatória dos pais, pois mesmo o menor

estando sob a tutela de um guardião, é obrigação dos pais assisti-lo.

O Código Civil Brasileiro de 2002, em seu artigo 1.584, caput,

acompanhou o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, quando

determinou que a guarda dos filhos, em caso de dissolução da sociedade ou do

vínculo conjugal, será atribuída ao genitor que revelar melhores condições de

exercê-la, entendendo “melhores condições” como aquelas que revelam um genitor

com valores fundados em alicerces como solidariedade, fraternidade,

disponibilidade emocional e, principalmente, amor, sendo o elemento afetivo

preponderante sobre o fator econômico.

Esta modalidade de guarda dos filhos passou a ser mais discutida e

aplicada aqui no Brasil na última década, sob o reflexo de outras legislações

estrangeiras as quais têm relevantes resultados nas sociedades onde é utilizada,

permitindo que a guarda da criança seja concedida sob princípio da igualdade e da

dignidade da pessoa humana.

Ou seja, para aqueles que defendem esta modalidade, os filhos têm o

direito de dividir o seu tempo com ambos os pais.

Grisard Filho 11 assim relata:

Embora inexista norma expressa, nem seja usual na prática forense, a guarda compartilhada mostra-se lícita em nosso Direto, como o único meio de assegurar uma estrita igualdade entre os genitores na condução dos filhos, aumentando a disponibilidade do relacionamento com o pai ou a mãe que deixa de morar com a família. São poucas as regras reguladoras da matéria, porém são claras e objetivas e, de maneira geral, revelam-se incensuráveis, dado o alinhamento do Direito Brasileiro ao primado do melhor interesse do menor, prevalente no Direito moderno.

Importante ressaltar no fim deste capítulo, que a finalidade da guarda

compartilhada é permitir que ambos os pais continuem a exercer conjuntamente o

poder familiar, dividindo responsabilidades parentais e reorganizando as relações

dos membros da família que foram alternadas com a ruptura do vínculo conjugal.

11

GRISARD FILHO, Waldir. Op. Cit. p. 143, nota 02

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13

1.5 Modalidades de Exercício da Guarda

Os doutrinadores não são unânimes ao abordar a classificação das

modalidades de guarda após a ruptura da sociedade ou do vínculo conjugal, uma

vez que não existe disposição expressa no ordenamento jurídico pátrio a esse

respeito.

O presente estudo tem como foco caracterizar e diferenciar as

modalidades de exercício da guarda e, para tanto, basear-se-á nas espécies

apresentadas por Silva 12 , quais sejam: guarda única ou exclusiva; alternada ou

partilhada; dividida; aninhamento ou nidação;compartilhada ou conjunta.

No entanto, várias são as terminologias adotadas pelos autores no intuito

de determinar as espécies de guarda, como por exemplo, a classificação de

Grisard Filho 13 que, além de mencionar os tipos de guarda mencionados por Silva,

acrescenta outras espécies, tais como: guarda comum, desmembrada e delegada;

guarda originária e derivada; guarda de fato; guarda provisória e definitiva; guarda

por terceiros, instituições e para fins previdenciários, dentre outras.

Observa-se que no Brasil existe uma tendência à concessão da guarda

única ou exclusiva, quando o casal não entra em acordo a esse respeito no

momento da separação, tomando por base a dissertação do art.1584 do Código

Civil, corroborada pelos ensinamentos de Silva 14 :

No Brasil predomina a guarda única, exclusiva, de um só dos progenitores, o qual detém a “guarda física”, que é a de quem possui a proximidade diária do filho, e a “guarda jurídica”, que é a de quem dirige e decide as questões que envolvem o menor.

Na realidade, a legislação atribui a guarda jurídica a ambos os pais, para

que decidam as questões importantes da vida do filho. Entretanto, na prática, a

concessão da guarda única, aquela em que a criança reside fixamente com um dos

pais, recebendo visitas do outro genitor, nos períodos estabelecidos judicialmente,

faz com que a guarda física e jurídica sejam efetivamente exercidas apenas por

aquele que coabite com a criança, passando a direcionar todos os aspectos de sua

vida.

12

SILVA, Ana Maria Milano. Guarda compartilhada. São Paulo: Editora de Direito,

2006. p. 60 13

GRISARD FILHO, Waldyr. Op.cit.p. 33 14

SILVA, Ana Maria Milano. Op. Cit, p. 61

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14

Nessa modalidade resta ao outro genitor o exercício precário do poder

familiar e, por conseguinte, da guarda jurídica, através do pagamento da pensão

alimentícia e fiscalização da criação e educação ministradas pelo guardião. Desse

modo, é bastante criticada, por não priorizar o convívio dos filhos com ambos os

genitores, desgastando a relação de afeto e carinho entre o não detentor da guarda

e a criança, bem como dificultando a participação constante daquele na vida

cotidiana desta.

A guarda alternada ou partida, segundo Casabona 15 emergiu como uma

forma alternativa de aproximar a relação entre os filhos e os pais separados, sendo

dividido igualmente entre o ex-casal o tempo de convivência com os filhos.

No período determinado em que a criança está com um dos pais, este

possui a guarda em toda sua amplitude, e exerce efetivamente todos os direitos e

deveres inerentes ao poder familiar, restando ao outro o direito de visita. O

incoveniente desse tipo de guarda é a descontinuidade do lar, que prejudica a

formação da criança, já que a alternância é estabelecida livremente pelos pais,

provocando uma intensa dificuldade na absorção de valores e hábitos pela criança,

interferindo no seu desenvolvimento físico e psíquico.

Na constância da guarda dividida, a criança possui uma residência fixa

com um dos pais que detenha a guarda e recebe periodicamente visitações do

outro, não detentor Não é considerada adequada, pois à medida em que

proporciona uma estabilização do lar, a partir da fixação do domicílio, provoca

gradualmente o afastamento entre um dos pais e o filho, rompendo o vínculo

afetivo, de suma importância à continuidade da formação e educação da criança.

Em relação à modalidade de guarda sob a forma de aninhamento ou

nidação, cabe tão somente descrevê-la, uma vez que sua aplicação é bastante rara

e incoveniente a sua prática, conforme esboça Grisard Filho 16

No aninhamento ou nidação, são os pais que se revezam mudando-se para a casa onde vivam os menores, em períodos alternados de tempo. Tais acordos de guarda não perduram, pelos altos custos que impõem à sua manutenção: três residências; uma para o pai, outra para a mãe e outra mais onde o filho recepciona, alternadamente, os pais de tempos em tempos.

15

CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 158 16

GRISARD FILHO, Waldyr. Op.cit.p. 33

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15

Resta, então, abordar comentários à forma compartilhada de guarda, onde

se busca uma solução para que a convivência e os vínculos afetivos existentes

entre pais e filhos sejam preservados após a dissolução do casal. É a modalidade

que mais se coaduna com os interesses da criança e do adolescente, pois prioriza

um melhor desenvolvimento biopsicossocial dos filhos, ao proporcionar a

continuidade do exercício efetivo do poder familiar por ambos os pais, em razão do

contato mais frequente.

É de grande relevância fazer a distinção entre guarda compartilhada ou

conjunta e guarda alternada ou partilhada, haja vista serem frequentemente

confundidas as duas modalidades tanto pelos doutrinadores como pelos juristas.

Como discorrido anteriormente, a guarda alternada caracteriza-se pelo livre

estabelecimento da guarda pelos pais, não sendo fixada uma residência para a

criança. No momento em que estiver com um dos genitores, este detém a guarda

do menor em sua totalidade.

Nesse contexto, entende Casabona 17 (2006) que, diferentemente do que

ocorre com a guarda alternada, na guarda compartilhada mantém-se a idéia de que

a criança necessita ter uma residência principal, para que suas atividades

escolares, participações sociais e vínculos de amizade sejam estabilizados.

Ainda convém ressaltar a situação provisória e a definitiva da guarda. A

primeira, de acordo com os apontamentos de Grisard Filho 18 decorre da

necessidade de se atribuir a guarda dos filhos a um dos genitores, enquanto é

finalizado o processo de separação ou divórcio, sendo considerada como

uma maneira inicial de se organizar a nova estrutura familiar. Por tratar-se de uma

medida provisória, após a prolatação da sentença, será concedida a guarda

definitiva ao genitor mais apto, depois de analisados os critérios para atribuição da

guarda. Assim, o filho será confiado aos cuidados de apenas um dos pais, sob a

forma de guarda única ou exclusiva.

Seria interessante que a guarda temporária fosse exercida de forma

compartilhada pelos genitores, como um auxílio na adaptação da criança à nova

situação de separação dos pais.

17

CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada. São Paulo: Quartier Latin, 2006.p. 158 18

GRISARD FILHO, Waldyr. Op.cit.p. 38

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16

2 GUARDA COMPARTILHADA

2.1 Fundamentos Iniciais

Guarda compartilhada é identificada no direito anglo-saxônico como joint

custody, este, do inglês, significa custódia, entendida em nosso ordenamento

jurídico como o poder familiar, assim, seria o exercício conjunto do poder familiar

por ambos os genitores, inclusive após a ruptura da sociedade conjugal.

SANTOS 19 vê a guarda conjunta como uma evolução do direito de visitas da

usual guarda monoparental, ou seja, é “uma nova forma de pensar o direito de

visitas, (...) o genitor que possui direito de visita, mas é excluído da guarda, é

incumbido da função do próprio genitor da guarda”.

A brilhante colocação do autor mostra exatamente o propósito da guarda

conjunta, de participação efetiva de ambos os genitores no exercício do poder

familiar, enfatizando que o infante terá um guardião, mas que o outro cônjuge não

se limitará a mero visitante ou expectador da conduta do guardião.

È possível a perfeita visualização da guarda conjunta, que corresponde ao

caso em que o pai sai do trabalho e leva o filho a uma consulta médica, fora do

horário de visita, demonstrando-se, desta maneira, que no exercício compartilhado

da guarda, não mais existirá pais ou mães “fins de semana”.

Ainda neste sentido, posiciona-se Eduardo de Oliveira Leite 20,

conceituando-a, como modalidade de guarda que visa a manutenção dos laços

familiares dos filhos com os pais após a separação, o que mantém a família,

apesar de desunida, biparental”

Waldyr Grisard Filho 21, concentra em poucas palavras os principais

elementos deste modelo de guarda:

A guarda compartilhada atribui aos pais, de forma igualitária, a guarda

jurídica, ou seja, a que define ambos os genitores como titulares do mesmo dever

de guardar seus filhos, permitindo a cada um deles conservar seus direitos e

obrigações em relação a eles. Nesse contexto, os pais podem planejar como lhes

convém a guarda física (arranjos de acesso ou esquemas de visita).

19

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 3.v. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 147 20

LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 16 21

GRISARD FILHO, Waldir. Guarda compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 66

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Diante do exposto, entendemos a guarda compartilhada ou conjunta como o

instituto que permite a manutenção dos vínculos entre pais e filhos após a

dissolução conjugal, permitindo que seja o poder familiar exercido de forma

conjunta e igualitária pelos cônjuges.

2.2 Guarda Compartilhada: Fundamentos constitucionais

O nosso ordenamento jurídico, não havia previsão legal para o exercício

dessa modalidade de guarda, o que veio acontecer após a Lei nº 11.698/88.

Com o principio da isonomia conjugal, não há mais em se falar em

preferência do poder familiar para qualquer dos cônjuges, sendo paulatinamente

extinta a supremacia do poder matriarcal, pelo “novo” modelo de responsabilidade

parental conjunta.

Observando esse “novo” modelo de responsabilidade parental, o legislador

não podia ficar inerte, tendo sido elaborado um projeto de lei para inserir a guarda

conjunta para o sistema positivo vigente.

2.3.1 Fundamentação legal para o exercício da guarda compartilhada

O próprio Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente deixaram a

possibilidade de se pleitear a guarda conjunta. O art. 1.584 do CC dá aos pais a

prerrogativa de decidirem sobre a guarda dos filhos em caso de separação e não

havendo acordo caberia a decisão ao magistrado, que poderá também, respaldado

pelo art. 1.586 do CC, regular a guarda de maneira diversa da estabelecida pelos

pais, caso não atendesse aos interesses dos infantes.

Art. 1586 – Havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso, a bem dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida nos artigos anteriores a situação deles para com os pais.22

Esses artigos são considerados pelos doutrinadores como a "regra das

regras" no exercício da guarda. Eles tem o poder de destituir todos os outros

artigos referentes a guarda, possibilitando ao magistrado determinar a guarda

sempre visando o interesse do menor.

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2.4 Efeitos da Guarda Compartilhada

Importante ressaltar que os efeitos e as vantagens do exercício da guarda

compartilhada é pelo fato de ser ela a única modalidade de guarda que possibilita o

pleno exercício do poder familiar conjunto e igualitário, além de atender aos

princípios do melhor interesse dos infantes, assegurando a convivência familiar e a

manutenção dos vínculos paterno-filiais após a ruptura conjugal.

Ressalte-se que com essa quebra de vinculo o que há são ex-marido e

mulher e não ex-pai ou mãe, dando a criança toda estrutura e estabilidade

emocional para um bom desenvolvimento físico e moral.

Contudo, há autores que apontam desvantagens do uso desse modelo de

guarda em algumas situações especificas. Alguns apontam fatores como a

residência dos pais e as circunstâncias pela quais estão os cônjuges se separando,

se consensual ou litigiosa.

Para Ana Carolina Silveira Akel 23 , para a fixação da guarda compartilhada

é de suma importância que pais e filhos residam próximos; caso contrário, não será

possível efetiva conivência conjunta.

Grande discussão há no tocante à concessão da guarda compartilhada em

caso de separação litigiosa, sendo por muitos defendida a idéia de que o

compartilhamento da guarda somente será possível nos casos em que a

dissolução do vínculo conjugal for consensual.

Porém, defendemos a idéia de que é perfeitamente possível a fixação da

guarda compartilhada em casos de separação litigiosa, pois muitas vezes as

razões dos conflitos sequer envolvem a criança, sendo, por exemplo, de natureza

patrimonial. Casos em que os conflitos envolvem os menores, entende-se da

mesma forma ser possível, pois, como afirma a Dr. Sandra Vilela 24 :

[...] um casal que resolvem digladiar, fará mal a seu filho, independente do tipo de guarda adotado. Alguns psicólogos são da opinião que o mal que uma criança terá diante do litígio de seus pais, será idêntico na guarda única ou na compartilhada. (apud PERES, 2002)

22

CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO/2002. Vade Mecum Saraiva. 3. ed. 2008. p. 292 23

AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada um avanço para a família. São Paulo: Atlas, 2008, p. 09 24

Apude PERES, Luiz Felipe Lyrio. Guarda Compartilhada, Jus Navegandi. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3533>. Acesso em: 06 de novembro de 2011

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Assim, segundo Luiz Felipe L. Peres 25, é mais benéfico a aplicação da

guarda compartilhada caso o casal esteja em litígio, uma vez que sendo aplicada a

única, o guardião, sentindo-se o “ser supremo”, obstacularizará o direito de visitas

do outro cônjuge, o que torna-se mais difícil com o exercício compartilhado da

guarda.

Diante do exposto, concluímos que a única situação que não seria possível o

exercício da guarda compartilhada seria em razão da longa distância física dos

pais, pela impossibilidade da participação cotidiana do pai ou mãe na vida do filho

que reside, por exemplo, em outro país, não sendo o litígio razão para sua

inaplicabilidade, obviamente sendo analisados os casos in concreto, sempre com

atenção para necessidades dos maiores interessados, os filhos.

A convivência dos filhos com os pais é um direito constitucionalmente

garantido, não podendo os desentendimentos entre os cônjuges atingi-los,

cabendo, também, a sociedade e ao Estado por eles relarem., “não existem mães e

pais ideais, só existem mãe e pais presentes e ou ausentes”26 , não restando

dúvida que o melhor para os filho é ter a segurança, as referencias e o afeto dos

pais, sendo a recíproca, seguramente verdadeira

3 GUARDA COMPARTILHADA POSITIVADA

Em 13 de junho de 2008 foi sancionado pelo então ex-Presidente da

República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Projeto Lei 6.350-E de 2002, aprovado pelo

Congresso Nacional, que se tornou então, a Lei nº 11.698/08.

O projeto n.º 6.350/02, na opinião de vários juristas, é o mais completo, por

isso nos deteremos nas suas características. De autoria do Deputado Tilden

Santiago, visa modificar o Código Civil brasileiro, dando as seguintes redações aos

arts. 1.583 e 1.584, in verbis:

Art.1583 [...] § 1º O juiz, antes de homologar a conciliação, sempre colocará em evidência para as partes as vantagens da guarda compartilhada. § 2º Guarda compartilhada é o sistema de corresponsabilização do dever familiar entre os pais, em caso de ruptura conjugal ou da convivência, em que os pais participam igualmente a guarda

25

Ibidem 26

AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada um avanço para a família. São Paulo: Atlas, 2008. p. 25

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material dos filhos, bem como os direitos e deveres emergentes do poder familiar. Art. 1584. Declarada a separação judicial ou o divórcio ou separação de fato sem que haja entre as partes acordo quanto à guarda dos filhos, o juiz estabelecerá o sistema da guarda compartilhada, sempre que possível, ou, nos casos em que não haja possibilidade, atribuirá a guarda tendo em vista o melhor interesse da criança.

Diante da redação proposta pelo projeto de lei, a guarda compartilhada, caso

não fosse acordada pelos genitores, constituiriam regra e não mais exceção,

sempre observando o melhor para os infantes, como aduz o seu autor na

justificativa do projeto, ao dizer que:

A justificativa para a adoção desse sistema está na própria realidade social e judiciária, que reforça a necessidade de garantir o melhor interesse da criança e a igualdade entre homens e mulheres na responsabilização dos filhos.27

Digno de Louvor o mencionado projeto de Lei, pois visa o fortalecimento dos

laços familiares além da dissolução conjugal, tendência mundial e nacional.

Como visto na redação dada pelo projeto de lei, o juiz deve sempre mostrar

as partes as vantagens da guarda compartilhada. Isso demonstra a consciência

que o legislador tem de como esse instituto é desconhecido em nossa sociedade,

inclusive por aplicadores do direito, que constantemente fazem confusão com a

guarda compartilhada e outras modalidades, principalmente com a alternada.

O objetivo da referida Lei é modificar os artigos 1.583 e 1.584 do Código

Civil, para introduzir na nossa legislação a guarda compartilhada.

De acordo com o artigo 2º, que estabelece um prazo de vacatio legis, a

citada Lei entrará em vigor após 60 dias da sua publicação, que ocorreu em

16.06.200828, ou seja, passará a produzir efeitos em 15.08.2008, consoante o

artigo 8º, parágrafo 1º. Da LC 107/200129. Com a nova redação do artigo 1.583 do

Código Civil, surgem duas modalidades de guarda: unilateral e a compartilhada.

27

AKEL, Ana Carolina Silveira . Op. Cit p. 65 28

Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br/lrgisla/legislacao.nsf/fraWeb?openframeSet&frame=frmWeb2&Src=%2Flegislacao.nsf%2FViwIdentificação%2Flei%252011.198-2011%3OpenDocument%26AutoFramed acesso em:25 out. 2011. 29

Art. 8º (...) § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabelecem período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.

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21

A guarda compartilhada funciona muito bem EUA com a joint legal custody;

em Portugal, após a Lei 59 de 1999 ter abolido o exercício unilateral do poder

familiar; na França, onde o artigo 373-2-9 do Código Civil estabelece a preferência

pela guarda compartilhada após 4 de julho de 2002; na Alemanha, onde o § 1.626ª,

I, do Código Civil permite acordo do casal para a guarda compartilhada; e na

Holanda, onde tanto a doutrina quanto a jurisprudência atribuem preferência por

esta modalidade de guarda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo observou que mesmo com todas as inovações no Direito

de Família nos últimos tempos, a família continua sendo o núcleo base da

sociedade, mesmo que esta família não seja mais aquela tradicional.

Com as inovações do conceito de família, com a igualdade constitucional

entre o homem e a mulher, vieram às mudanças em relação à durabilidade do

casamento, a dissolução do vínculo conjugal é uma realidade comum.

O vínculo conjugal foi quebrado com a separação, mas o vínculo parental

dos pais com os filhos deve permanecer como era antes da separação. O filho

precisa de atenção, de amor, de cuidados, de regras, de formação que os

genitores, em consenso, podem dar, mesmo morando em lugares diferentes.

Esse é o intuito da guarda compartilhada, mostrar que tanto o pai quanto a

mãe, em conjunto, dividindo as tarefas com equidade, têm condições de cuidar do

menor. No entanto, existem casos em que a guarda compartilhada é prejudicial ao

menor, quando há litígios entre os pais.

A guarda compartilhada aumenta o papel do pai na vida do filho, após a

separação, assegurando a sua participação no cotidiano do menor, abrindo um

caminho para uma convivência mais assídua com o filho, com harmonia, qualidade,

sentimento e carinho.

Hoje a Lei cita que mesmo que não haja consenso entre os pais, a guarda

compartilhada de menor pode ser decretada em juízo. A Terceira Turma de Minas

Gerais adotou esse entendimento ao julgar recurso contra decisão do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais (TJMG), interposto por pai que pretendia ter a guarda

exclusiva do filho.

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22

O estudo da guarda compartilhada precisa amadurecer, desejando um maior

empenho dos nossos Magistrados no sentido de aplicar esta modalidade de guarda

nos casos de separação. Como também, os pais devem ter a consciência de

buscar, acima de qualquer divergência, o melhor para o filho, lutar pelo seu bem-

estar e que prevaleça o melhor interesse do menor.

STUDY ON GUARD SHARED LAW IN BRAZIL

ABSTRACT

This monograph addresses the custody, their advantages and disadvantages, after the breakup of the marriage. With the enactment of the Federal Constitution of 1988, with the new Civil Code of 2002 and the Statute of Children and Adolescents, 1990, the Family Law has introduced major changes, emphasizing the principle of full protection and best interests of the child. Another big change was the termination of parental rights before exercised exclusively by men, will now be able to call family, in which responsibility for the children's father and mother, applying the constitutional principle of equality between men and women. The constant social, economic and legal society, brought a new reality for the contemporary family and many values have changed. The institution of marriage, indissoluble before, now it's not, there was an increasing number of separations and divorces in Brazil. With the breakdown of the marriage comes the big question: child custody. The custody and is being used more these days because of the interest is greater than physical and mental health of their children. This type of guard sets with equity, while at the same intensity and legal responsibility of parents to the child, they should share in all decisions, obligations, rights, finding the best interest of the child, even living in homes apart. The custody is viewed by legal scholars and legislators, as advantageous when there is no dispute as to obtain this type of custody, it is essential that parents have a cordial relationship and respect, so that both may have discretion to resolve issues welfare of the child. The good relationship of the parents is essential if the custody is successful, otherwise the life of the child may become a torment, undermining their social and psychological. The custody is a way of staying healthy the parental bond between parents and children, in equal conditions, preserving the well-being of minors. Keywords: Family Power. Shared custody. Benefits.

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REFERÊNCIAS

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