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1
FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ
SOCIEDADE EVANGÉLICA BENEFICENTE DE CURITIBA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EVANGÉLICO
INSTITUTO DE PESQUISAS MÉDICAS
JOENVILLY CARDINELE RÊGO OLIVEIRA AZEVEDO
HEMOSTASIA APÓS RESSECÇÃO HEPÁTICA EM RATOS UTILIZANDO DOIS
AGENTES HEMOSTÁTICOS:TACHOSIL® E SURGICEL®
CURITIBA
2013
2
JOENVILLY CARDINELE RÊGO OLIVEIRA AZEVEDO
HEMOSTASIA APÓS RESSECÇÃO HEPÁTICA EM RATOS UTILIZANDO DOIS
AGENTES HEMOSTÁTICOS: TACHOSIL® E SURGICEL®
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Princípios da Cirurgia da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR) / Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC) Instituto de Pesquisas Médicas (IPEM), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Princípios da Cirurgia.
Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia Co-orientador: Prof. Dr. Orlando Jorge Martins Torres
CURITIBA
2013
3
TERMO DE APROVAÇÃO
JOENVILLY CARDINELE RÊGO OLIVEIRA AZEVEDO
HEMOSTASIA APÓS RESSECÇÃO HEPÁTICA EM RATOS UTILIZANDO DOIS AGENTES HEMOSTÁTICOS: TACHOSIL® E SURGICEL®
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção de grau de mestre no Curso de Pós-Graduação em Princípios da Cirurgia pela Faculdade Evangélica do
Paraná, pela seguinte banca examinadora. Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia Departamento de Aprovada por:
Prof. ____________________________________________
Prof. _____________________________________________
Prof. _____________________________________________
Prof. _____________________________________________
Curitiba, _____ de setembro de 2013
4
DEDICATÓRIA
A Deus, minha família, amigos, colegas de trabalho e professores pelo
apoio, força, incentivo, companheirismo e amizade. Sem eles nada disso seria
possível.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Nelson Pereira de Oliveira (in memorian) e Maria da
Conceição Rêgo Oliveira responsáveis pela minha vida e a quem eu devo o meu
caráter.
Ao meu esposo Romildo Lima Azevedo pelo apoio incondicional em todos os
momentos, principalmente nos de incerteza e desânimo.
Aos meus filhos Patrícia Adélia, Rodrigo José e Maria Eduarda, pela
oportunidade de experimentar a mais pura forma de amor.
Ao Prof. Dr. Osvaldo Malafaia, o meu reconhecimento pela oportunidade de
realizar este trabalho ao lado de alguém que transpira sabedoria; meu respeito e
admiração pela sua serenidade e tranquilidade em transmitir os ensinamentos
sempre com simplicidade e eficiência.
Ao Prof. Dr. Orlando Torres, com muito apreço pela colaboração
imprescindível, pelos ensinamentos dispensados e pelo seu apoio entusiástico
durante a co-orientação deste estudo.
Aos amigos Tâmara Coutinho, Madalena Pires e José Aparecido Valadão e
aos demais colegas do Programa de Pós-Graduação em Princípios de Cirurgia que
me ajudaram no desenvolvimento desta pesquisa.
Ao Hospital São Domingos, pelo apoio e incentivo constantes.
Aos acadêmicos membros da LACEMA Marcos Vinícius Silva Costa,
Francisco Guilherme de Castro Marques e Jéssica Caroline Freire Carvalho que
contribuíram de forma incomensurável ao longo dos meses de pesquisa.
Ao amigo Carlos Lobo pelo incentivo e pela contribuição na tradução dos
textos.
6
“As explicações são reformulações da experiência aceitas por um
observador.(...) A ciência não tem a ver com a predição, com o futuro, com fazer coisas, mas sim com o explicar.
Os cientistas são pessoas que têm prazer em explicar.”
Humberto Maturana.
7
RESUMO
Introdução: Apesar dos avanços que reduziram a ocorrência de complicações
durante e após intervenções hepáticas, algumas complicações ainda merecem
destaque, dentre elas o sangramento, as quais interferem diretamente no
prognóstico dos pacientes. Dentre as várias técnicas implementadas visando o
controle do sangramento, destacam-se os hemostáticos tópicos que mostram-se
eficazes como coadjuvantes para auxiliar na hemostasia. Objetivo:Estudar
comparativamente a hemostasia em ratos submetidos à ressecção hepática
utilizando dois agentes hemostáticos tópicos, TachoSil® e Surgicel®, avaliando a
mortalidade,a bioquímica sanguínea, macroscopia e análise histológica do fígado
pós-hepatectomia. Método: 24 ratos Wistar foram separados em dois grupos (n=12)
e submetidos à hepatectomia parcial: Grupo Tachosil®: hemostasia com selante de
fibrina e GrupoSurgicel®: hemostasia com celulose oxidada. Seis animais de cada
grupo foramreoperados no 3°DPO e os outros seis no 14°DPO, para análise
laboratorial, exploração da cavidade e avaliação histopatológica do fígado
remanescente.Resultados:Não houve morte de animais emambos os grupos.A
macroscopia mostrou que no Grupo TachoSil® houve menor grau de aderência
(58,4% Grau 0) , além da ausência de abscesso e coleções, tanto no 3° quanto no
14° DPO. De acordo com a análise laboratorial, os valores dos leucócitos foram mais
elevados no Grupo Surgicel®. Em relação aos valores dos hematócritos, evidenciou-
se que houve queda no Grupo Surgicel® e elevação no grupo Tachosil®,porém,
somente neste último houve diferença significante.Houve aumento da ALT no Grupo
Surgicel®, porém sem diferença significante.Na análise histológica dos dias D3 e
D14, houve predomínio da fase inflamatória aguda no Grupo Surgicel®,
caracterizada pela presença de edema e polimorfonucleares na forma moderada a
acentuada. Conclusão:Os resultados referentes à ação hemostática foram
semelhantes nos dois grupos pesquisados. Foram encontradas aderências nos dois
grupos, com maior predominância no Grupo Surgicel®. Não foi observado abscesso
e/ou coleções no Grupo Tachosil®.
Palavras-chave: Hemostasia, Hemostático, Ressecção hepática
8
ABSTRACT
Introduction: Despite advances that have reduced the occurrence of complications
during and after hepatic interventions, yet some complications are noteworthy,
among them bleeding, which directly affect the prognosis of patients. Among the
various techniques implemented for the control of bleeding, hemostatic highlight the
topics that have proven effective as adjuncts to aid in hemostasis. Objective: To
study hemostasis in rats undergoing liver resection using two topical hemostatic
agents, TachoSil ® and Surgicel ®, evaluating mortality, blood biochemistry,
macroscopic and histological analysis of the liver after hepatectomy. Methods: 24
Wistar rats were divided into two groups (n = 12) and subjected to partial
hepatectomy: group Tachosil®: hemostasis with fibrin sealant and Group Surgicel®:
hemostasis with cellulose oxized. Six animals from each group were reoperated on
the 3rd postoperative day and the other six on the 14th postoperative day for
laboratory analysis, exploration of the cavity and histopathological evaluation of the
liver remnant. Results: No death of animals in both groups. Macroscopic analysis
showed that the Group TachoSil ® was lower degree of adherence (58.4% Grade 0),
and the absence of abscess and collections, both in the 3rd as the 14th POD.
According to laboratory testing, the values of leukocytes were higher in Group
Surgicel ®. Regarding the values of hematocrit, showed that there was a decrease in
Surgicel ® Group and rise in the group TachoSil ®, but only the latter difference was
significant. There was an increase in ALT Surgicel ® group, but without significant
difference. Histological analysis of the D3 and D14 days, there was a predominance
of acute inflammatory phase in Surgicel ® group, characterized by the presence of
edema and polymorphonuclear as moderate to severe. Conclusion:The results
concerning the hemostatic action were similar in both groups surveyed. Adhesions
were found in both groups, with a higher prevalence in Group Surgicel ®. There was
no abscess and / or collections in Group TachoSil ®.
Keywords: Hemostasis, Hemostatic, Liverresection
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - HEMOSTÁTICO BASEADO EM CELULOSE OXIDADA
(SURGICEL®)...............................................................................
23
FIGURA 2 - HEMOSTÁTICO BASEADO EM SELANTE DE FIBRINA
(TACHOSIL®)...............................................................................
25
FIGURA 3 - GAIOLA DE POLIPROPILENO..................................................... 28
FIGURA 4 - DIAGRAMA DA AMOSTRA.......................................................... 29
FIGURA 5 - POSICIONAMENTO PARA A CIRURGIA.................................... 30
FIGURA 6 - MENSURAÇÃO DA ÁREA DE INCISÃO CIRÚRGICA................. 31
FIGURA 7 - RESSECÇÃO HEPÁTICA DO LOBO MEDIANO.......................... 31
FIGURA 8 - VISÃO DOS ÓRGÃOS VISCERAIS DA CAVIDADE.................... 34
FIGURA 9 - FÍGADO REMANESCENTE.......................................................... 35
FIGURA 10 - PROCEDIMENTO DA COLETA DE SANGUE ABDOMINAL....... 36
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - SISTEMA DE GRADUAÇÃO DE ADESÃO, SEGUNDO
ESCORE DE NAIR (NAIR; BHAT; AURORA, 1974).............
33
TABELA 2 - PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DE
RATOS WISTAR DE AMBOS OS GÊNEROS........................
37
TABELA 3 - PESO MÉDIO DOS ANIMAIS NO PERÍODO PRÉ-
OPERATÓRIO......................................................................
38
TABELA 4 - AVALIAÇÃO DO GRAU DE ADERÊNCIAS DOS GRUPOS
TACHOSIL® E SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO
PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO, DE ACORDO COM A
DESCRIÇÃO DE NAIR EM RATOS
HEPATECTOMIZADOS. SÃO LUIS, 2013............................
39
TABELA 5 - AVALIAÇÃO DOS ACHADOS MACROSCÓPICOS NA
REOPERAÇÃO RATOS DOS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO PERÍODO PÓS-
OPERATÓRIO. SÃO LUÍS, 2013..........................................
40
TABELA 6 - DADOS DOS EXAMES LABORATORIAIS SANGUÍNEOS
DO GRUPO SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO PERÍODO
PÓS-OPERATÓRIO...............................................................
41
TABELA 7 - DADOS DOS EXAMES LABORATORIAIS SANGUÍNEOS
DO GRUPO SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO PERÍODO
PÓS-OPERATÓRIO...............................................................
42
TABELA 8 - COMPARAÇÃO DAS TAXAS SANGUÍNEAS
BIOQUÍMICAS ENTRE OS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 3° DIA DO PERÍODO PÓS-
OPERATÓRIO........................................................................
42
TABELA 9 - COMPARAÇÃO DAS TAXAS SANGUÍNEAS
BIOQUÍMICAS ENTRE OS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 14° DIA DO PERÍODO PÓS-
OPERATÓRIO.......................................................................
43
11
TABELA 10 - CARACTERIZAÇÃO COMPARADA DOS ACHADOS
HISTOLÓGICOS ENTRE OS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 3° DIA DO PERÍODO PÓS-
OPERATÓRIO.......................................................................
44
TABELA 11 - CARACTERIZAÇÃO COMPARADA DOS ACHADOS
HISTOLÓGICOS ENTRE OS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 14° DIA DO PERÍODO PÓS-
OPERATÓRIO.......................................................................
45
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALT- Alanina aminotransferase
AST- Aspartatoaminotransferase
DPO- Dia de pós-operatório
COBEA - Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
FA- Fosfatase alcalina
GGT- Gama glutamiltransferase
HMT- Hematócrito
LAbCEMA- Laboratório de Cirurgia Experimental do Maranhão
LEU- Leucócitos
PVPI- Povinilpirrolidona-iodo
SBCAL- Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório
UFMA- Universidade Federal do Maranhão
UEMA- Universidade Estadual do Maranhão
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13
1. 1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 16
2. REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................17
2.1 HEMOSTASIA EM RESSECÇÃO HEPÁTICA ............................................... 17
2.2 AGENTES HEMOSTÁTICOS ......................................................................... 20
2.2.1 Hemostáticos baseados em colágeno ......................................................... 21
2.2.2 Hemostáticos baseados em gelatina ........................................................... 22
2.2.3 Hemostáticos baseados em celulose oxidada ............................................ 22
2.2.4 Hemostáticos baseados em fibrina ............................................................. 24
3. MATERIAL E MÉTODO .................................................................................. 27
3.1 AMOSTRA ..................................................................................................... 27
3.2 DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS..................................................................... 28
3.3 ETAPAS EXPERIMENTAIS ........................................................................... 29
3.4 COLETA DE DADOS ...................................................................................... 33
3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................37
4 RESULTADOS................................................................................................... 38
4.1 PESO DOS ANIMAIS ..................................................................................... 38
4.2 PESO DO FÍGADO DOS ANIMAIS ................................................................ 38
4.3 ANÁLISE MACROSCÓPICA DA CAVIDADE ABDOMINAL.......................... 39
4.4 ANÁLISE LABORATORIAL ............................................................................ 40
4.5 ANÁLISE HISTOLÓGICA .............................................................................. 43
5.DISCUSSÃO ..................................................................................................... 46
6.CONCLUSÃO ................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 54
ANEXO A............................................................................................................... 60
APÊNDICE A ........................................................................................................ 61
APÊNDICE B ........................................................................................................ 63
14
1. INTRODUÇÃO
O fígado é um órgão complexo, e essa característica se traduz no grande
número de funções que são de sua responsabilidade para a manutenção da vida
(BRUNETTO, 2007).
Uma das suas principais características é a notória capacidade deste órgão
reestabelecer o seu tamanho normal após a remoção de grandes porções de tecido
(MELO et al., 1998).
A intervenção cirúrgica hepática tem sido realizada com progressiva
frequência no tratamento de tumores primários ou metastáticos (SIMÕES et al.,
2011). Os procedimentos cirúrgicos sobre o fígado desenvolveram-se a partir da
segunda metade do século XX, quando Lortat-Jacob descreveu a hepatectomia
direita, dando início à cirurgia hepática moderna (MARTINS, 2008).
Este tipo de procedimento tem sido um grande desafio na história evolutiva da
cirurgia e um sólido conhecimento da anatomia funcional do fígado é uma condição
imprescindível para o desenvolvimento das hepatectomias (PEREIRA, 1993).
Nas últimas duas décadas, o refinamento da técnica de ressecção hepática, o
desenvolvimento de rotinas específicas de anestesia, suporte ventilatório e
hemodinâmico estão diretamente associados com a diminuição dos índices de
morbidade e mortalidade, quando a operação é realizada em centros especializados
e em pacientes rigorosamente selecionados (GAVELLI; GHIGLIONE; HUGUET,
1993).
Apesar de todas estas intervenções, algumas complicações ainda merecem
destaque, dentre elas o sangramento, fístula biliar e a manutenção da função
hepática pós-ressecção, as quais interferem diretamente no prognóstico dos
pacientes (SAMPAIO et al, 2011).
A perda sanguínea no transoperatório deve ser o foco principal do profissional
envolvido com este tipo de procedimento. A predisposição desse órgão para
hemorragia difusa está relacionada à sua vascularização e estrutura sinusoidal, sem
musculatura lisa capaz de promover vasoconstrição (MATOS FILHO, 2009).
A hemostasia pode ser conseguida através de práticas e eficazes abordagens
sistémicas ou tópica. Uma variedade de métodos hemostáticos pode ser utilizada,
desde a aplicação de pressão manual simples com um dedo, cauterização elétrica
15
do tecido, a administração sistémica de produtos derivados do sangue, e aplicação
tópica de agentes hemostáticos (SILESHI; ACHNECK; LAWSON, 2009).
Varias técnicas têm sido implementadas visando o controle de sangramento,
como exclusão vascular, digitoclasia, uso do eletrocautério, aspirador ultrassônico,
dissecador de jato d´água, ablação por radiofrequência, coagulação por micro-
ondas, bisturi de argônio e ainda o uso de agentes tópicos (OGILVIE, 1953).
Agentes tópicos podem ser eficazes como coadjuvantes para auxiliar na
hemostasia quando a hemorragia não for controlada por aplicação de pressão,
ligadura dos vasos, ou eletrocautério. Tais tratamentos adjuvantes incluem gelatinas
hemostáticas tópicos, colágenos, celuloses oxidadas, colas sintéticas e colas à base
de glutaraldeído, selantes de trombina e fibrina. Estes últimos capazes não só de
promover hemostasia, mas ainda de reduzir a incidência de fistula biliar, e coleções
intra-abdominais (FIGUERAS et al., 2007).
Dentre os diferentes tipos de agentes hemostáticos, destacam-se o TachoSil®
e o Surgicel®.
O TachoSil® consiste em uma esponja de colágeno equino revestida com
uma camada seca dos fatores de coagulação, fibrinogênio e trombina humana. Sua
ação consiste em mimetizar os últimos passos da cascata de coagulação, criando
um colágeno de fibrina na ferida. Durante este processo a trombina converte o
fibrinogênio em monômeros de fibrina que polimerizam espontaneamente. O fator
endógeno XIII catalisa a formação de ligações cruzadas entre os polímeros de
fibrina, criando uma rede firme e mecanicamente estável. O coágulo de fibrina
resultante garante o controle eficaz da hemorragia local e proporciona boas
capacidades adesivas e selantes (TACHOSIL®, 2009).
Um estudo prospectivo que buscou avaliar os efeitos do TachoSil® em
hepatectomias evidenciou redução do volume de coleções abdominais, menor
necessidade de reposição sanguíneas no transoperatório, menor severidade de
complicações, incluindo fistula biliar e redução do tempo de internação (BRICEÑO,
2010).
O hemostático absorvível Surgicel® é uma tela tecida absorvível e estéril,
preparada pela oxidação controlada da celulose regenerada. É usado adjuntamente
em procedimentos cirúrgicos para auxiliar no controle de hemorragias capilares,
venosas ou arteriais, de pequeno porte quando a ligação ou outros métodos
convencionais de controle forem impraticáveis ou ineficazes (SURGICEL®, 2008).
16
Além de suas propriedades hemostáticas locais, este produto é bactericida in
vitro, agindo contra uma grande variedade de organismos gram-positivos e gram-
negativos, incluindo os aeróbicos e anaeróbicos (SURGICEL®, 2008).
O hemostático Surgicel® (celulose regenerada oxidada) foi considerado útil no
auxílio do controle do sangramento venoso ou capilar em uma variedade de
aplicações cirúrgicas, incluindo a abdominal, torácica, neurocirúrgica e ortopédica,
bem como nos procedimentos otorrinolaringológicos. Os exemplos incluem
operações da vesícula biliar, hepatectomia parcial, hemorroidectomia, ressecção ou
lesões do pâncreas, baço, rins, próstata, intestinos, seios ou tireóide e em
amputações (DEGENSHEIN; HURWITZ; RIBACOFF, 1963).
A busca pela hemostasia em procedimentos cirúrgicos, em especial, nas
hepatectomias, tem sido frequente. Avaliar a redução de sangramento com a
utilização de agentes hemostáticos se faz importante no sentido de reduzir
complicações e mortalidade.
17
1.1. OBJETIVO GERAL
Comparar a ação da hemostasia em ratos submetidos à hepatectomia parcial
utilizando dois agentes hemostáticos tópicos, TachoSil® e Surgicel®, avaliando a
mortalidade, a bioquímica sanguínea, a macro e microscopia do fígado pós-
hepatectomia.
18
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. HEMOSTASIA EM RESSECÇÃO HEPÁTICA
A intervenção cirúrgica é uma das principais causas de hemorragia grave,
definida como a perda igual ou maior do que 20% do volume sanguíneo. Em
particular a cirurgia cardiovascular, ressecção e transplante hepático, ortopédica e
cirurgia abdominal de grande porte estão associadas com hemorragias graves.
Muitas vezes exigem transfusão de sangue e hemoderivados, além de, aumentarem
a morbidade e mortalidade peri-operatória. Técnicas cirúrgicas minimamente
invasivas, a utilização de métodos de conservação de sangue, incorporada a uma
política de transfusão geral, melhor compreensão e gestão da hemostasia, permitem
uma redução destas complicações (BERREVOET; HEMPTINNE, 2007).
A área de cirurgia hepática apresentou avanço desde a primeira ressecção
planejada realizada por Langenbuch em 1888, passando pela primeira hepatectomia
com controle vascular realizada por Lortat-Jacob em 1952, pelos estudos de
Couinaud em 1957, e pelo primeiro transplante de fígado realizado por Starzl em
1963. Embora a cirurgia hepática tenha sua origem em tempos remotos, seu
desenvolvimento e consolidação ocorreram apenas nos últimos 50 anos, evoluindo
dos desbridamentos e necessidade de ressecções anatômicas e, finalmente, à
ressecção total do fígado seguida do transplante ortotópico (HARDY, 1990).
Alguns fatores foram importantes na implementação da especialidade. Entre
eles, a elucidação da complexa anatomia do fígado, que permitiu maior segurança
na realização de intervenções cirúrgicas sobre esse órgão. Contribuiu também, o
advento de métodos propedêuticos por imagem, como a ultrassonografia, a
tomografia computadorizada e a ressonância magnética, que possibilitaram melhor
seleção dos pacientes e adequado planejamento cirúrgico (RESENDE, 2011).
Na intervenção cirúrgica do fígado, hemostasia e biliestasia durante e após o
procedimento são preditores independente de complicações, tanto em estudos
retrospectivos como em prospectivos. A capacidade de obter superfície hepática
com mínimo sangramento e sem extravasamento de bile depende em grande parte
da capacidade e experiência do cirurgião (GONZÁLEZ ; FELIP, 2009).
19
No entanto, pode haver sangramento excessivo sob uma variedade de
circunstâncias. Estas incluem dissecções extensas, profundas e reoperações. Além
disso, outros fatores sobre os quais o cirurgião tem pouco ou nenhum controle
podem aumentar o sangramento, dentre eles a presença de doença hepática prévia
e alterações microvasculares secundárias à quimioterapia (IMAMURA et al., 2003).
A hemostasia pode ser definida como uma série complexa de fenômenos
biológicos que ocorre em imediata resposta à lesão de um vaso sanguíneo com
objetivo de deter a hemorragia. O mecanismo hemostático inclui três processos:
hemostasia primária, coagulação (hemostasia secundária) e fibrinólise. Esses
processos têm em conjunto a finalidade de manter a fluidez necessária do sangue,
sem haver extravasamento pelos vasos ou obstrução do fluxo pela presença de
trombos (CAGNOLATI et al., 2007)
Após a lesão inicial, há um breve período de vasoconstrição arteriolar,
atribuível principalmente a mecanismo neurogênicos reflexos e amplificada pela
secreção local de fatores como a endotelina (vasoconstritor potente derivado do
endotélio). A lesão endotelial expõe a matriz extracelular subendotelial altamente
trombogênica, que promove a aderência e ativação das plaquetas para formar o
tampão hemostático. Este é o processo de hemostasia primária (CAGNOLATI et al.,
2007).
O fator tecidual atua juntamente com os fatores plaquetários secretados para
ativar a cascata de coagulação, culminando na ativação de trombina. Por sua vez, a
trombina converte o fibrinogênio solúvel circulante em fibrina insolúvel, induz
recrutamento adicional de plaquetas e liberação de grânulos, o que é conhecido
como hemostasia secundária. A fibrina polimerizada e os agregados plaquetários
formam tampão permanente sólido a fim de prevenir a continuação da hemorragia
(CARLOS; FREITAS, 2007).
As técnicas desenvolvidas para lidar com a perda de sangue durante a
ressecção hepática têm sido fundamentais na redução de complicações pós-
operatórias. Três fatores principais contribuíram para melhorar o controle da perda
de sangue. Em primeiro lugar, o conhecimento da anatomia cirúrgica do fígado,
como previsto por Couinaud, que definiu a divisão do fígado em segmentos, cada
um com seu próprio suprimento vascular (BOER; MOLENAAE; PORTE, 2007). Em
segundo, o surgimento de novos métodos para dissecção do parênquima permitiu a
ressecção do fígado sem perda excessiva de sangue. Em terceiro, o
20
desenvolvimento de métodos para reduzir a perda de sangue temporariamente
através de oclusão da veia porta e da artéria hepática no pedículo hepático.
Entretanto, essa conduta pode desencadear transtornos hemodinâmicos e
metabólicos, com disfunção hepática pós-operatória, mal tolerada principalmente por
pacientes hepatopatas crônicos que possuem baixa reserva funcional (VAN GULIK
et al., 2007).
Esses avanços reduziram a ocorrência de complicações durante e após
intervenções no fígado. Porém, a ressecção hepática ainda pode ser associada com
considerável perda sanguínea intra-operatória, pois a predisposição deste órgão a
sangramento está diretamente relacionada à sua vascularização extrema
(RESENDE, 2011).
A redução do fluxo sanguíneo durante a ressecção hepática permanece como
um dos aspectos importantes. O controle vascular hepático é usado por muitos
cirurgiões para prevenir hemorragia maciça durante a hepatectomia. A manobra de
Pringle intermitente é aplicada no momento da transecção hepática. Consiste no
clampeamento do ligamento hepatoduodenal por 20 minutos e liberação do
clampeamento por cinco minutos até que a ressecção hepática seja completada
(TORRES et al., 2004).
A oclusão do fluxo vascular hepático proporciona campo operatório sem
sangue e permite dissecção e hemostasia intra-hepática acurada e meticulosa. A
duração da tolerância hepática à manobra de Pringle permanece como o principal
problema ao cirurgião hepatologista. Quando a duração da isquemia excede 120
minutos e a ressecção hepática ainda não foi completada, é aconselhável continuar
a transecção hepática sem essa manobra. Felizmente, próximo do final da
transecção, a principal fonte de sangramento é da veia hepática e a necessidade da
manobra de Pringle está diminuída (TORRES et al.,2004).
Para completar a hemostasia os cirurgiões têm usado por muitos anos, uma
variedade de agentes hemostáticos tópicos. O uso generalizado desses agentes em
cirurgia hepática contrasta com a escassez dos dados disponíveis na literatura para
apoiar a sua utilidade clínica. Logo, surge a necessidade de rever os mecanismos
pelos quais esses agentes contribuem para a hemostasia e revisar evidências
disponíveis na literatura apoiando o seu uso (GUERRA; PEREIRA, 2001).
21
2.2. AGENTES HEMOSTÁTICOS
Em 1909, Bergel utilizou pela primeira vez a fibrina como hemostático local.
Em 1915, Lippencot usou fibrina em procedimentos neurocirúrgicos. O primeiro
selante de fibrina foi obtido na década de quarenta quando o fracionamento de
plasma permitiu a produção de fibrinogênio humano e trombina. Em 1945, os
cirurgiões começaram a contar entre seu arsenal para fazer hemostasia com
Gelfoam® e Oxycel®. Em 1960 foi lançado o Surgicel®. Os primeiros selantes de
fibrina se mostraram muito limitados por falta de fontes de fibrinogênio purificado
(SPOTINIZl, 2005).
Durante a década de sessenta, o método de fracionamento Cohn permitiu
obter fibrinogênio altamente concentrado e então, houve fabricação em grande
quantidade, o que levou ao uso generalizado deste tipo de selantes de fibrina. Em
1978, a Food and Drug Administration (FDA) alarmada com a possível transmissão
viral através de produtos sanguíneos, revogou a autorização para o uso clínico de
fibrinogênio humano. Por duas décadas a utilização de selantes de fibrina era
restrito a preparações autólogas ou a partir de um único doador. Em 1989, um
estudo randomizado de Rousou et al. (1989), preparou caminho para uma nova
aprovação deles pela Food and Drug Administration (FDA). O primeiro selante
comercial entrou no mercado dos EUA em 1998. Por outro lado, outros agentes
hemostáticos têm sido introduzidos na prática cirúrgica de rotina.
Atualmente há várias opções para controlar hemorragia, incluindo técnicas
mecânica e térmica, bem como farmacoterapias e agentes tópicos. Aplicação de
pressão direta ou compressão em um local de sangramento é frequentemente a
primeira opção do cirurgião para auxiliar no controle da hemorragia. Outros métodos
mecânicos, incluindo suturas, grampos e clipes de ligadura, são úteis se a fonte do
sangramento é facilmente identificável e capaz de ser selado. Compressão ou outros
métodos mecânicos, no entanto, podem não ser apropriados durante todo o
procedimento cirúrgico (SABEL; STUMMER, 2004).
As técnicas térmicas, tais como bisturis e lasers, também têm tornado viáveis
as opções cirúrgicas para reduzir a hemorragia. No entanto, o uso frequente de
cautério e outras técnicas térmicas podem ter inconvenientes. Dependendo do
procedimento e localização do tecido sangrante, ele pode ser impraticável ou
22
impossível para efetivamente parar a perda. Além disso, podem elevar o tempo do
procedimento, prejudicar a cicatrização de feridas e aumentar o risco de infecção.
(SAMADRALA, 2008).
Os métodos convencionais são também menos eficazes em controlar o
sangramento de lesões complexas e onde o acesso à área de sangramento é difícil.
Vários agentes hemostáticos tópicos estão disponíveis em gama de configurações.
Eles exercem o seu efeito em diversas maneiras. Uns melhoram a hemostasia
primária, ao passo que outros estimulam a formação de fibrina ou inibem a
fibrinólise. Alguns consistem em preparação de uma substância pró-coagulante em
combinação com um veículo tal como matriz de colágeno para proporcionar um
molde para a cascata de coagulação endógena a fim de atingir a homeostase
(SEYEDNEJAD et al., 2007).
Dentre os agentes tópicos incluem-se esponjas de celulose oxidada, gelatina
absorvível, microfibrilas de colágeno e, mais recentemente, selantes de fibrina
revestido com fibrinogênio e trombina (PALM ; JEFFREY, 2008).
Os selantes de fibrina se tornaram populares por melhorar a hemostasia
perioperatória, reduzindo a necessidade de transfusões de sangue e prevenindo o
extravasamento de bile. Estes agentes geralmente contêm dois componentes
principais: fibrinogênio humano (com ou sem o fator XIII) e trombina humana (com
ou sem antifibrinolítico). O papel do antifibrinolítico adicionado ao selante de fibrina é
retardar a dissolução natural do coágulo, que ocorre no sítio da aplicação. Esta nova
geração de selantes são inativados, e desde a sua introdução não houve relato de
nenhum caso de transmissão viral (THOMAS; MACGILLIVRAY, 2003).
2.2.1. HEMOSTÁTICOS BASEADOS EM COLÁGENO
Os agentes baseados em colágeno foram introduzidos em 1970. Eles
possuem estrutura microfibrilar contendo moléculas de colágeno com ácido
clorídrico. A estrutura helicoidal e grande área de superfície que proporciona, são
importantes para o alcance da hemostasia. O contato com a superfície de
sangramento atrai plaquetas, que aderem às fibrilas de colágeno, desencadeando a
agregação plaquetária. Esta resulta na formação de trombo nos interstícios e inicia a
23
formação de um tampão fisiológico de plaquetas. Estes agentes são combinados
com uma substância pró-coagulante, muitas vezes a trombina, a fim de melhorar o
resultado. Alguns dos agentes hemostáticos de colágeno amplamente utilizados são:
Avitene®, D-Stat®,Instat®, CoStasis®,Helistat® e Helitene® (SEYEDNEJAD et al.,
2007).
Segundo Silverstein et al. (1980), o papel do colágeno nas reações
hemostáticas foi estabelecido em 1970. O colágeno inicia a agregação plaquetária e,
portanto, acelera o processo hemostático.
2.2.2. HEMOSTÁTICOS BASEADOS EM GELATINA
Introduzida como agente hemostático em 1945, seu mecanismo de ação não
é totalmente compreendido, mas parece provável que envolva efeitos físicos ao
invés de qualquer ação no mecanismo de coagulação do sangue. Tal como
acontece com os agentes baseados em colágeno, eles podem ser usados sozinhos
ou em combinação com uma substância pró-coagulante. Dispositivos baseados em
gelatina têm sido relatados para induzir a um coágulo de melhor qualidade do que o
agente com colágeno. O tempo de degradação in vivo de dois destes agentes é
tipicamente de quatro a seis semanas. Alguns dos mais amplamente utilizados são:
FloSeal®,Gelfoam®,Surgifoam® (SEYEDNEJAD et al., 2007).
2.2.3. HEMOSTÁTICOS BASEADOS EM CELULOSE OXIDADA
A investigação sobre o mecanismo de coagulação do sangue conduziu ao
desenvolvimento da celulose oxidada que foi introduzida em 1942. A celulose
oxidada regenerada foi desenvolvida em 1960; é fabricada a partir da polpa de
madeira, que contem cerca de 50% em massa de celulose (BRODBELT, 2002).
A ação hemostática desse agente inclui a absorção de sangue, as interações
superficiais com proteínas e plaquetas, e ativação de ambas as vias intrínsecas e
extrínsecas. O pH baixo destes agentes pode contribuir para hemostasia e também
24
pode ser responsável por suas propriedades bacteriostáticas. A absorção de
celulose regenerada oxidada acontece de uma a duas semanas.
O agente mais usado neste grupo é o Surgicel® (Figura 1), que tem elevada
resistência à tração e pode dar excelente cobertura na presença de sangramento
maciço. Duas apresentações estão disponíveis, uma tecida de malha e outra na
forma fibrilar que pode ser utilizada em camadas finas, como tufos, ou em um rolo
ou uma almofada. Apesar de ser absorvível, a recomendação do fabricante é que
ele deve ser removido depois que a hemostasia tenha sido obtida (SAMUDRALA,
2008).
Em um estudo prospectivo em mulheres submetidas à interrupção da
gravidez e esterilização laparoscópica, o Surgicel® foi inserido e ligado ao local da
perfuração. A aplicação da celulose foi bem sucedida e mostrou ser um tratamento
seguro e eficaz para pequenas perfurações uterinas com sangramento moderado
(SHARMA, MALHOTRA; PUNDIR, 2003).
Segundo Brodbelt et al. (2002), a celulose regenerada oxidada é um agente
comumente usado em neurocirurgia, cirurgia torácica ortopédica, que deve ser
FIGURA 1- HEMOSTÁTICO BASEADO EM CELULOSE OXIDADA (SURGICEL®)
25
evitada em processos intra e peri- espinhais, devido ao risco de paraplegia após
cirúrgica torácica.
2.2.4. HEMOSTÁTICOS BASEADOS EM FIBRINA
Selantes de fibrina têm sido usados em diversas especialidades cirúrgicas,
desde 1970, para facilitar a hemostasia, pois fornecem suporte de sutura e selagem
dos tecidos em uma variedade de configurações cirúrgicas (BERREVOET;
HEMPTINNE, 2007). Eles têm tanto propriedades hemostáticas quanto adesivas, e
podem ser utilizados como veículo para entregar outras substâncias, tais como
antibióticos ao local de sangramento. Também têm sido usados para reduzir a
formação de aderências, e podem melhorar a cicatrização da lesão. Todos os
selantes de fibrina são constituídos por uma fonte de fibrinogênio, que é associado
com a trombina, possivelmente, o fator XIII e / ou um agente antifibrinolítico, tais
como aprotinina bovina ou o ácido tranexâmico, o que estabiliza o coágulo. Quando
as partes constituintes são misturadas, uma matriz de fibrina insolúvel é formada. Os
selantes de fibrina disponíveis são: Tisseel®,Quixil®,Evicel®, TachoComb®,
TachoSil® e Vivostat® (SPOTNITZ, 2010).
O TachoSil® (Figura 2) consiste de uma esponja de colágeno revestida com
trombina e fibrinogênio de origem humana (GONZALEZ; FELIP, 2009). Ao contrário
dos selantes anteriores, TachoComb® e TachoComb H®, o TachoSil® só contem
fatores de coagulação de origem humana. (GROTTKE et al.,2011).
O TachoSil® torna-se ativo quando o produto entra em contato com fluídos. O
revestimento seco dissolve e libera fibrinogênio e fatores de trombina e inicia os
passos finais do processo de coagulação do sangue (TORO et al., 2011).
26
Frilling et al. (2005), avaliaram a eficácia de um novo selante de fibrina
versus feixe de argônio como agente hemostático durante a ressecção hepática, em
um estudo prospectivo, randomizado, aberto, multicêntrico e controlado com
avaliação intraoperatória e pós-operatória de eficácia e período de acompanhamento
de 1 mês. Neste estudo o Tachosil® mostrou-se superior ao feixe de argônio na
obtenção eficaz e rápida da hemostasia intra- operatória.
Um estudo realizado por Noun et al. (1996) com 82 pacientes, que avaliou a
eficácia do selante de fibrina comparando-o com hemostasia convencional,
constatou que a aplicação do selante de fibrina proporcionou uma vedação mais
eficaz (BOER et al., 2012).
Aparentemente, técnicas cirúrgicas convencionais podem não erradicar as
complicações pós-operatórias, portanto, cobrir a superfície da ressecção hepática
com um produto capaz de selar vasos sanguíneos e os radicais biliares, desperta o
interesse. Por esta razão, selantes de fibrina são amplamente utilizados na cirurgia
do fígado, apesar da escassez de evidências científicas sobre a eficácia clínica
destes produtos (KRAUS et al., 2005).
KOHNO et al. (1992), foram os primeiros a publicar um estudo randomizado
sobre selante de fibrina em cirurgias de ressecção hepática. O estudo comparou a
FIGURA 2 - HEMOSTÁTICO BASEADO EM SELANTE DE FIBRINA(TACHOSIL®)
27
eficácia clínica de dois hemostáticos e as complicações pós-operatórias. Concluíram
que o selante de fibrina (Beriplast®) foi mais confiável do que o hemostático
baseado em colágeno (Avitene®).
Outro estudo randomizado comparou o uso do selante de fibrina Beriplast®
com a hemostasia convencional da superfície de ressecção hepática em 20
pacientes, objetivando verificar a eficácia do hemostático na redução de
complicações de sangramento pós-operatório. A conclusão deste estudo foi que o
selante de fibrina foi útil no controle de sangramento após a ressecção hepática
(ERDOGAN, 2007).
Diversos estudos têm sido publicados com o intuito de identificar, ainda no
período pré-operatório, fatores de óbito após ressecções hepáticas. Porém,
publicações objetivando a identificação precoce no período pós-operatório de
pacientes que apresentaram evolução desfavorável são escassas.
Desde as primeiras séries de ressecções hepáticas até a década de 60, não
eram raros índices de mortalidade ultrapassando 30%. A seguir, houve redução da
mortalidade para cerca de 10% até os anos 80. Entretanto, nas últimas duas
décadas houve importantes avanços na cirurgia hepática, decorrentes de inúmeras
inovações em diversas áreas da medicina, que permitiram alcançar redução
importante do seu risco. Atualmente, a taxa de mortalidade operatória após
hepatectomia é menor do que 5% em centros especializados em cirurgia hepatobiliar
(RESENDE et al., 2011).
Operações realizadas em pacientes com reserva funcional hepática reduzida
podem apresentar altos índices de morbi-mortalidade. Garrison et al. (1984),
mostraram que 10% dos pacientes com doença hepática avançada seriam
submetidos a algum tipo de tratamento cirúrgico diferente do transplante nos dois
anos finais de suas vidas. A infecção pós-operatória e subsequente sepse continua
a ser complicação frequente após hepatectomias (4% a 20%), com impacto
significante na mortalidade pós-operatória chegando até 40% das causas de óbito
(BALZAN; GAMA-RODRIGUES; BELGHITI, 2007).
28
3. MATERIAL E MÉTODO
O presente estudo faz parte de uma linha de pesquisa desenvolvida pela
Faculdade Evangélica do Paraná, sua elaboração atendeu às normas para
apresentação de documentos científicos da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). Através destes resultados, esperamos contribuir para
conhecimento acerca da ação de agentes hemostática tópicos, bem como suas
consequências no parênquima hepático. Foram obedecidos os princípios éticos em
experimentação animal, recomendados pela Sociedade Brasileira de Ciência em
Animais de Laboratório (SBCAL), teve aprovação do Comitê de Ética e
Experimentação Animal (CEEA) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),
conforme protocolo nº 039\2012 (Anexo 1). O tamanho da amostra foi determinado
observando-se as recomendações da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais
de Laboratório (SBCAL) que exige redução do número de animais usados em
pesquisas experimentais. Os experimentos foram realizados no Laboratório de
Pesquisa em Cirurgia Experimental da Universidade Federal do Maranhão
(LABCEMA), sendo adotada a Nomina Anatômica Veterinária (2012).
3.1. AMOSTRA
Foram utilizados 24 ratos (Rattus norvegicus albinus), da linhagem Wistar,
machos, adultos, pesando entre 250 e 350 gramas, fornecidos pelo Biotério Central
da Universidade Estadual do Maranhão. Os animais foram adaptados no laboratório
por um período mínimo de sete dias antes da operação, após pesagem em balança
de precisão (Plenna®, São Paulo, Brasil). Ficaram acomodados em seis gaiolas
(caixas de polipropileno) contendo cobertura de proteção de grade metálica
inoxidável, medindo 46 cm x 31 cm x 16 cm, forradas com maravalha, com quatro
animais por gaiola. Receberam água e ração padrão para espécie (Purina® Labina),
ad libitum, sob temperatura de 23 ± 2ºC, em ambiente sem ruídos, ciclo claro/escuro
de 12 horas (Figura 3).
29
3.2. DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS
Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos de 12,
denominados Grupo TachoSil® e Grupo Surgicel® (Figura 4). Cada grupo foi
subdividido em dois subgrupos de seis, chamados Subgrupo Surgicel® D3 e
Subgrupo Surgicel® D14, que corresponde ao 3º e 14º dia pós-operatório, Nestes
dias, os animais foram reoperados e submetidos à eutanásia. O mesmo
procedimento foi feito com o Grupo TachoSil®, subdividido em dois subgrupos:
Subgrupo TachoSil® D3 e Subgrupo TachoSil® D14 (FIGURA 4).
FIGURA 3 - GAIOLA DE POLIPROPILENO
30
3.3. ETAPAS EXPERIMENTAIS
Após o período de adaptação, os animais foram submetidos a jejum pré-
operatório de 6h, e mantidos apenas com água ad libitum.
No dia da operação, foram pesados em balança eletrônica de precisão,
contidos manualmente e anestesiados com a associação de quetamina 5% na dose
de 60 mg/Kg com cloridato de xilazina 2% na dose 10mg/Kg ,aplicada na face
posterior da coxa.
O animal foi considerado anestesiado quando se apresentou imóvel, sem
reflexos interdigitais e corneanos, respiração normal e extremidades rosadas de
acordo com o procedimento (WHITE; JOHNSTON; EGER, 1994).
Após a anestesia, cada animal foi posicionado em decúbito dorsal e
imobilizado em prancha de madeira (20 x 30 cm) com contenção dos membros
anteriores e posteriores. Realizou-se a epilação da região ventral superior do
abdome (4,0 cm2), anti-sepsia da região abdominal com povinilpirrolidona-iodo
(PVPI) e a colocação de campo fenestrado limpo sobre o animal, expondo o campo
operatório (Figura 5).
FIGURA 4 - DIAGRAMA DA AMOSTRA
31
Realizada laparotomia mediana longitudinal a partir de 1cm abaixo do
processo xifóide, estendendo-se por 4cm caudalmente (Figura 6); procedeu-se a
diérese da pele e da tela celular subcutânea e do plano musculoaponeurótico com
tesoura, feita revisão da hemostasia da parede, em seguida realizou-se a diérese do
peritônio. A cavidade abdominal foi inspecionada em busca de quaisquer condições
que pudessem excluir o animal do estudo, no entanto, nada foi encontrado.
FIGURA 5 - POSICIONAMENTO PARA CIRURGIA
32
Foi realizada a hepatectomia do lobo mediano correspondendo a
aproximadamente 30% do fígado (Figura 7). A operação foi feita em todos os
animais por um único cirurgião, sendo a data de realização da ressecção de cada
grupo denominada D0.
FIGURA 6 - MENSURAÇÃO DA ÁREA DA INCISÃO CIRÚRGICA
FIGURA 7- RESSECÇÃO HEPÁTICA DO LOBO MEDIANO
33
A hemostasia foi realizada de acordo com o hemostático preconizado a cada
grupo (Tachosil® e Surgicel®), nas dimensões de 2 x 2 cm, feita compressão digital
na área seccionada por 2 minutos. O produto resseccionado foi pesado em balança
de precisão e em seguida desprezado. Realizada a limpeza com gaze embebida
com solução de cloreto de sódio a 0,9%, para retirada do excesso de sangue e
confirmação da hemostasia antes do fechamento da cavidade abdominal.
Após a confirmação da ausência de sangramento, a síntese da parede
abdominal foi realizada com fio de náilon 4-0 (mononylon® Ethicon), de agulha
cortante com 2,0 cm, em dois planos, musculoaponeurótico e cutâneo, com sutura
contínua. A ferida foi limpa com gaze umedecida em solução de cloreto de sódio a
0,9% e em seguida, povinilpirrolidona-iodo.
A analgesia pós-operatória foi feita com aplicação de morfina na dose 2,5mg
/kg, subcutânea. Após o procedimento cirúrgico, os animais foram acomodados em
gaiolas com quatro animais, recebendo ração padrão e água ad libitum. Seis horas
após o ato cirúrgico, os ratos tiveram livre acesso à água e após 12 horas a ração,
acondicionados nas mesmas condições de temperatura e luminosidade do pré-
operatório.
Foram diariamente avaliados pelo autor da pesquisa, verificando-se sinais de
complicações, tais como: infecção, sangramento, deiscência de sutura, sinais
inflamatórios e seromas.
A eutanásia ocorreu no 3º e 14º dia de pós- operatório, data em que os
animais foram submetidos à reoperação, com a mesma técnica utilizada no D0. O
método utilizado foi a exsanguinação, com o animal anestesiado. Optou-se por este
procedimento, pois o mesmo atende às exigências da Resolução nº 1000 de 11 de
maio de 2012 do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que considera aceitável
o método que ocorre através de inconsciência rápida, sem dor, agonia, e mínimo
sofrimento para as pessoas que a executam e segurança para as mesmas, devendo
ainda, ser apropriada com a idade, espécie, estado de saúde do animal. Naqueles
em que a eutanásia não ocorreu após tal procedimento, realizou-se overdose
anestésica com quatro vezes o valor da dose pra indução anestésica.
34
3.4. COLETA DE DADOS
Após três dias do procedimento cirúrgico, seis animais de cada grupo foram
submetidos a uma nova operação, sob mesma técnica anestésica usada em D0.
Com os animais anestesiados e fixados na prancha cirúrgica a ferida operatória foi
examinada, avaliou-se a presença de hematoma, infecção de sítio cirúrgico e
deiscência da ferida (parcial ou total).
Posteriormente, realizou-se abertura da cavidade abdominal mediante duas
incisões transversais e outra longitudinal paralela 1cm à esquerda da cicatriz
mediana decorrente do ato operatório prévio, a fim de não alterar as possíveis
aderências das estruturas abdominais à parede.
Foi realizada avaliação a procura de sinais sugestivos de hematomas,
coleções, infecções, abscessos, aderências e fístulas (FIGURA 8). As aderências
encontradas foram classificadas pelo escore de NAIR, conforme descrito abaixo
(TABELA 1) (NAIR; BHAT; AURORA, 1974).
TABELA 1 - SISTEMA DE GRADUAÇÃO DE ADESÃO, SEGUNDO ESCORE DE NAIR (NAIR;
BHAT; AURORA, 1974)
Grau Nº de aderências
0 Sem adesão
I Adesão única entre dois órgãos ou entre um órgão e a parede abdominal
II Duas adesões entre órgãos ou um órgão e a parede abdominal
III Mais de duas adesões entre órgãos ou uma massa de adesão generalizada do
intestino sem aderir à parede abdominal
IV Aderências generalizadas entre órgãos e a parede ou aderência maciça entre todos os órgãos
35
Em seguida, efetuou-se a hepatectomia total do fígado remanescente, que foi
pesado, fotografado (FIGURA 9), fixado em formaldeído a 10%. As peças cirúrgicas
foram identificadas segundo o grupo de hemostático as quais pertenciam, imersas
em formaldeído a 10% e, posteriormente enviadas a encaminhado para análise
histológica no Serviço de Patologia (UDT-MED).
FIGURA 8 - VISÃO DOS ÓRGÃOS VISCERAIS DA CAVIDADE
36
O preparo histológico foi feito pela técnica convencional de inclusão em
parafina, seccionados com micrótomo produzindo cortes de cinco micrômeros, que
foram corados pela hematoxilina e eosina (HE) e tricrômico de Masson (TM). Os
critérios analisados em HE foram: congestão, edema, polimorfonucleares,
mononucleares, proliferação fibroblástica e angiogênese. Todas essas
características foram graduadas em: ausente (0), discreta (1), moderada (2) e
intensa (3), de acordo com o seu aspecto histológico. Na análise com TM, para a
verificação de colagenização, foi usada a mesma graduação. A Hematoxilina
consiste em um corante básico que cora intensamente os núcleos das células; a
eosina é um corante ácido capaz de corar citoplasma e colágeno. Com o tricômico
de Masson marca-se tecido conjuntivo. Ao final realizou-se análise estatística dos
dados encontrados.
As lâminas foram examinadas com auxilio de microscópio OLYMPUS CX31,
por um único patologista sem conhecimento dos grupos em estudo.
Após a hepatectomia, foi realizada punção da veia cava caudal para coleta de
sangue. Coletou-se 5 ml do material que foram distribuídos em dois diferentes tubos
de ensaio; no primeiro tubo contendo EDTA (ácido etilnodiaminotetracético),
adicionou-se 2 ml de sangue para dosagem de leucócitos (LEU), e hematócrito
(HMT); no segundo contendo gel separador, 3 ml para dosagem de aspartato
FIGURA 9 - FÍGADO REMANESCENTE
37
aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), gama glutamiltransferase
(GGT) e fosfatase alcalina (FA). A análise de todos os exames foi realizada no
Laboratório Cernitas em São Luís – MA (FIGURA 10).
Depois da coleta de sangue, os animais foram submetidos à eutanásia
conforme descrito anteriormente.
O mesmo processo aconteceu no 14º de pós-operatório nos animais restantes
sendo avaliadas as mesmas variáveis.
Para análise dos dados laboratoriais, foram usados como referência, os
parâmetros definidos por MELO et al. (2012), conforme descrito na TABELA 2.
FIGURA 10 - PROCEDIMENTO DA COLETA DE SANGUE ABDOMINAL
38
TABELA 2 - PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR DE
AMBOS OS GÊNEROS
Parâmetro Média
FA (U/l) 127
ALT (U/l) 48,4
AST (U/l) 131,7
Leucócitos (10³/µL) 9,7
Hematócrito (%) 44,2
3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Utilizou-se o programa SPSS no processamento dos dados. A distribuição de
normalidade foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk, que separou as variáveis
normais (fosfatase alcalina, hematócrito e leucócito) e as anormais (aspartato
aminotransferase- AST, alanina aminotransferase- ALT e gama glutamiltransferase-
GGT). Os testes de Wilcoxon e t de Student foram utilizados para comparação entre
mesmo grupo e os de Mann-Whitney e t para comparação entre grupos diferentes. O
nível de significância estatística adotado foi de p < 0,05.
39
4. RESULTADOS
4.1. PESO DOS ANIMAIS
No Grupo TachoSil® o peso médio dos animais foi 362,3g ± 32,83g no dia da
operação (D0), 353,17g ± 15,30g no terceiro dia do período do pós-operatório (D3)
e 347,67 g ± 48,24 g no 14° dia do período pós-operatório (D14).
No Grupo Surgicel ® foi 315,31g± 60,64g, no terceiro dia do período pós-
operatório (D3) foi 280,33g ± 62,08g e no 14° dia do período pós-operatório (D14) foi
351,83 g ± 45,37g.
TABELA 3 - PESO MÉDIO DOS ANIMAIS NO PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO
Grupo Dia Peso médio dp
Tachosil® D0 362,3 g 32,83 g
Surgicell® D0 315,31 g 60,64 g
4.2. PESO DO FÍGADO DOS ANIMAIS
O peso médio do produto da hepatectomia do Grupo TachoSil® foi3,64g ±
0,49g e do Grupo Surgicel® foi 2,59g ± 0,37g e. O peso médio do fígado
remanescente do Grupo TachoSil® foi 11,88g ± 1,71g e do Grupo Surgicel® foi
12,25g ± 2,30g.
40
4.3. AVALIAÇÃO MACROSCÓPICA DA CAVIDADE ABDOMINAL
Não houve morte entre os animais pesquisados, assim como, não foram
identificadas complicações, tais como: sangramento, deiscências de sutura, sinais
inflamatórios ou seromas na ferida operatória.
No Grupo TachoSil® foram encontradas aderências Grau I em três (25%) e
Grau II em dois (16,6%). Nesse grupo, sete animais (58,4%) não apresentaram
aderências e em nenhum se visualizou aderência Grau III. Na avaliação
macroscópica do Grupo Surgicel® foram identificadas aderências Grau I em dois
animais (16,6%), Grau II e Grau III em cinco (41,6%). Não foi encontrado Grau IV em
nenhum animal de ambos os grupos (TABELA 4).
TABELA 4 - AVALIAÇÃO DO GRAU DE ADERÊNCIAS DOS GRUPOS TACHOSIL® E
SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO, DE ACORDO COM A
DESCRIÇÃO DE NAIR EM RATOS HEPATECTOMIZADOS. SÃO LUIS, 2013.
GRAU DE ADERÊNCIA
Grupo Experimental
Grau 0 N(%)
Grau I N(%)
Grau II N(%)
Grau III N(%)
Grau IV N(%)
TachoSil®
D3 4 (66,6%) 1 (16,6%) 1 (16,6%) 0 0
D14 3 (50%) 2 (33,3%) 1 (16,6%) 0 0
Surgicel®
D3 0 1 (16,6%) 2 (33,3%) 3 (50%) 0
D14 0 1 (16,6%) 3 (50%) 2 (33,3%) 0
D3= 3° dia do período do pós-operatório; D14=14° dia do período pós-operatório
Identificou-se presença de abscesso em três animais, sendo um do D3 e dois
do D14, coleção em um animal no D3 e presença secreção serossanguinolenta em
um animal do Grupo Surgicel®. No Grupo TachoSil® não foi observado presença de
abscesso e/ou coleções em nenhum animal (TABELA 5).
41
TABELA 5 - AVALIAÇÃO DOS ACHADOS MACROSCÓPICOS NA REOPERAÇÃO
RATOS DOS GRUPOS TACHOSIL® E SURGICEL® NO 3° E 14° DIA DO PERÍODO
PÓS-OPERATÓRIO. SÃO LUÍS, 2013.
Grupo experimental Abscesso Coleção
TachoSil®
D3 0 0
D14 0 0 Surgicel®
D3 1 (16,6%) 1 (16,6%)
D14 2 (33,3%) 0
4.4. ANÁLISE LABORATORIAL
No Grupo TachoSil® a análise dos índices hematológicos mostrou valor
médio de leucócitos 7.550 ± 1.817/ mm3 no D3 e 6.800 ± 1.661/mm3 no D14, sem
diferença estatisticamente significante (p= 0,56). O valor médio de hematócrito foi
29,5 ± 1,64 % no D3 e 32,1 ± 1,47% no D14, com diferença estatisticamente
significante (p=0,02) (TABELA 6).
Na avaliação das aminotransferases deste grupo, pôde-se observar redução
nos níveis sanguíneos quando comparados os animais no D3 e D14, sendo a média
de AST no D3 169,8 ± 48,0 U/l e no D14 127,8 ± 10,7 U/l. Quanto à ALT no D3 a
média foi 71,5 ± 22,1 U/l e no D14 70,0 ± 5,5 U/l. Houve diferença estatisticamente
significante nos valores de AST (p= 0,02) (TABELA 6).
Quanto aos níveis de fosfatase alcalina houve elevação neste grupo, com
diferença estatisticamente significante (p=0,03), a média dos valores foi 289,8 ± 67,6
U/l no D3 e 408,6 ± 64,2 U/l no D14 (TABELA 6).
Em relação aos níveis de GGT no grupo TachoSil® a média dos valores foi
2,50 ± 1,3 U/l no D3 e 2,33 ± 1,0 U/l no D14,houve diferença estatisticamente
significante nesse subgrupo (p=0,02). No Grupo Surgicel® foi de 6,83 ± 3,9 U/l no
D3 e 1,50 ± 0,83 U/l no D14 (TABELA 6).
42
TABELA 6 - DADOS DOS EXAMES LABORATORIAIS SANGUÍNEOS DO GRUPO TACHOSIL® NO 3°
E 14° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
VARIÁVEL
Período Valor de p
D3 D14
média dp média dp
Leucócitos mm3 7.550 1.817 6.800 1.661 0,56
Hematócritos % 29,5 1,64 32,1 1,47 *0,02
AST U/l 169,8 48,0 127,8 10,7 *0,02
ALT U/l 71,5 22,1 70,0 5,5 1,00
FA U/l 289,8 67,6 408,6 64,2 *0,03
GGT U/l 2,50 1,3 2,33 1,0 *0,02
p= Nível de significância estatística em cada grupo; dp= desvio padrão; * = valor de p<0,05; D3= 3° dia do período do pós-operatório; D14=14° dia do período pós-operatório.
No Grupo Surgicel® a média de leucócitos foi 8.683 ± 1.956/ mm3 no D3 e
5.850 ± 1.264/ mm3 no D14, essa diferença foi estatisticamente significante (p=0,02).
A média de hematócrito foi 34,8 ± 5,34 % no D3 e 30,1 ± 2,63% no D14. Essa
diferença não foi estatisticamente significante (p=0,12) (TABELA 7).
Neste grupo a média de AST no D3 foi 262,5 ± 87,6 U/l e no D14 foi 249,8 ±
72,1 U/l. A média da ALT foi 127,8 ± 72,3 U/l no D3 e 154,6 ± 97,3 U/l no D14.
Embora tenha ocorrido diminuição das transaminases, não houve diferença
estatisticamente significante (AST- p=0,60 e ALT- p=0,34) (TABELA 7).
Na avaliação dos níveis de FA do Grupo Surgicel®, a média dos valores foi
263 ± 80,7 no D3, 419 ± 251,6 no D14 (TABELA 7).
O valor médio da GGT no Grupo Surgicel® era 6,83 ± 3,9 U/l no D3 e 1,50 ±
0,83 U/l no D14 (TABELA 7).
43
TABELA 7 - DADOS DOS EXAMES LABORATORIAIS SANGUÍNEOS DO GRUPO SURGICEL® NO 3° E
14° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Variável
Período
Valor de p D3 D14
média dp média dp
Leucócitos mm3 8.683 1.956 5.850 1.264 *0,02
Hematócritos % 34,8 5,34 30,1 2,63 0,12
AST U/l 262,7 87,6 249,8 72,1 0,60
ALT U/l 127,8 72,3 154,6 97,3 0,34
FA U/l 263,0 80,7 419,0 251,6 0,14
GGT U/l 6,83 3,9 1,50 0,83 *0,02
p= Nível de significância estatística em cada grupo; dp= desvio padrão; * = valor de p<0,05; D3= 3°
dia do período do pós-operatório;D14=14° dia do período pós-operatório
Os dados da Tabela 8 mostram que no D3, houve alteração significante (p=
0,04) na atividade enzimática da ALT no Grupo Surgicel® quando comparado com o
Grupo TachoSil®.
TABELA 8 - COMPARAÇÃO DAS TAXAS SANGUÍNEAS BIOQUÍMICAS ENTRE OS GRUPOS
TACHOSIL® E SURGICEL® NO 3° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Variável Tachosil® D3 Surgicel® D3 p
média dp média dp
Leucócitos mm3 7.550 1.817 8.683 1.956 0,323
Hematócritos % 29,5 1,64 34,8 5,34 *0,042
AST U/l 169,8 48,0 262,7 87,6 0,054
ALT U/l 71,5 22,1 127,8 72,3 *0,045
FA U/l 289,8 67,6 263,0 80,7 0,057
GGT U/l 2,50 1,3 6,83 3,9 0,053
p= Nível de significância estatística em cada grupo; dp= desvio padrão; * = valor de p<0,05; D3= 3°
dia do período do pós-operatório; D14=14° dia do período pós-operatório.
No D14, também houve alteração significante na atividade enzimática das
aminotransferases no Grupo Surgicel® quando comparado com o Grupo TachoSil
(AST p=0,004 e ALT p=0,01) (TABELA 9).
44
TABELA 9 - COMPARAÇÃO DAS TAXAS SANGUÍNEAS BIOQUÍMICAS ENTRE OS GRUPOS
TACHOSIL® E SURGICEL® NO 14° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Variável Tachosil® D14 Surgicel® D14 p
média dp média dp
Leucócitos mm3 6800 1661 5.850 1.264 0,291
Hematócritos % 32,1 1,47 30,1 2,63 0,136
AST U/l 127,8 10,7 249,8 72,1 *0,004
ALT U/l 70,0 5,5 154,6 97,3 *0,013
FA U/l 408,6 64,2 419,0 251,6 0,920
GGT U/l 2,33 1,0 1,50 0,83 0,127
p= Nível de significância estatística em cada grupo; dp= desvio padrão; * = valor de p<0,05; D3= 3°
dia do período do pós-operatório; D14=14° dia do período pós-operatório
4.5. ANÁLISE HISTOLÓGICA
A intensidade inflamatória aguda foi predominante no 3° dia do período pós-
operatório, caracterizada pela presença congestão vascular, edema e presença de
polimorfonucleares de grau moderado a acentuado em 83,3% dos animais do Grupo
Surgicel® (TABELA 10). Quanto ao Grupo Tachosil®, verificou-se resultado
semelhante com exceção da congestão vascular que foi identificada em 66,7% dos
animais. As variáveis mononucleares e proliferação de fibroblastos não estão
presentes no Grupo Surgicel® neste período, ao passo que no Grupo Tachosil®,
essas mesmas variáveis foram observadas em 50% e 33,3% respectivamente,
indicando sinais de inflamação crônica. No que concerne à angiogênese, o Grupo
Tachosil® 66,7% dos ratos apresentaram grau de moderado a acentuado, enquanto
no Grupo Surgicel® 83,3% apresentaram grau de ausente a discreto. Não houve
diferença estatisticamente significante.
Em ambos os grupos não foi evidenciada presença de colagenização neste
período.
45
TABELA 10 - CARACTERIZAÇÃO COMPARADA DOS ACHADOS HISTOLÓGICOS ENTRE OS
GRUPOS TACHOSIL® E SURGICEL® NO 3° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Variável Grau Grupo Tachosil® D3
Grupo Surgicel® D3
p
Congestão Ausente-discreto 2 ( 33,3%) 1 (16,7%) 1,00
Moderado-acentuado 4 (66,7%) 5 (83,3%)
Edema Ausente-discreto 1 (16,7%) 1 (16,7%) 1,00
Moderado-acentuado 5 (83,3%) 5 (83,3%)
Polimorfonucleares Ausente-discreto 1 (16,7%) 1 (16,7%) 1,00
Moderado-acentuado 5 (83,3%) 5 (83,3%)
Mononucleares Ausente-discreto 3 (50%) 6 (100%) 0,18
Moderado-acentuado 3 (50%) 0
Proliferação de
fibroblastos
Ausente-discreto 4 (66,7%) 6 (100%) 0,45
Moderado-acentuado 2 ( 33,3%) 0
Angiogênese Ausente-discreto 2 ( 33,3%) 5 (83,3%) 0,24
Moderado-acentuado 4 (66,7%) 1 (16,7%)
Na avaliação com 14 dias, verificou-se no Grupo Surgicel® resultado
semelhante àquele encontrado no 3º dia de pós-operatório, com presença de
congestão, edema e polimorfonucleares na classificação de moderada a acentuada
em 83,3% dos animais e, em 100% dos ratos deste grupo, verificou-se ausência ou
presença moderada de mononucleares e proliferação de fibroblastos, sem diferença
estatística significante (p>0,05). No Grupo Tachosil® foi observado
polimorfonucleares em grau de moderado a acentuado em 66,7% dos animais e
angiogênese em grau também de moderado a acentuado em 33,3% (TABELA 11).
46
TABELA 11 - CARACTERIZAÇÃO COMPARADA DOS ACHADOS HISTOLÓGICOS ENTRE OS
GRUPOS TACHOSIL® E SURGICEL® NO 14° DIA DO PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Variável Grau Grupo Tachosil® D14
Grupo Surgicel® D14
p
Congestão Ausente-discreto 5 (83,3%) 1 (16,7%) 1,00
Moderado-acentuado 1 (16,7%) 5 (83,3%)
Edema Ausente-discreto 2 ( 33,3%) 1 (16,7%) 0,24
Moderado-acentuado 4 (66,7%) 5 (83,3%)
Polimorfonucleares Ausente-discreto 2 ( 33,3%) 1 (16,7%) 0,24
Moderado-acentuado 4 (66,7%) 5 (83,3%)
Mononucleares Ausente-discreto 5 (83,3%) 6 (100%) 1,00
Moderado-acentuado 1 (16,7%) 0
Proliferação de
fibroblastos
Ausente-discreto 5 (83,3%) 6 (100%) 1,00
Moderado-acentuado 1 (16,7%) 0
Angiogênese Ausente-discreto 4 (66,7%) 5 (83,3%) 1,00
Moderado-acentuado 2 ( 33,3%) 1 (16,7%)
47
5. DISCUSSÃO
Dados da literatura sugerem um percentual de 10% a 30% na taxa de
morbidade em pacientes submetidos à hepatectomia, onde a perda de sangue no
intra-operatório, sangramento pós-operatório, acúmulo de líquido intra-abdominal e
extravasamento biliar são os principais contribuintes (BERREVOET; HEMPTINNE,
2007), o que torna relevante estudos nessa linha de pesquisa.
No presente estudo não houve morte, perda sanguínea excessiva no período
intra e/ou pós-operatório em ambos os grupos.
Intervenção cirúrgica de fígado pode ser associada com excessiva perda
sanguínea no intra-operatório, não só porque o fígado é um órgão altamente
vascularizado, mas também porque ele desempenha papel central no sistema
hemostático (STELLINGWERFF et al., 2012). Logo, a hemostasia continua a ser um
desafio, apesar dos avanços das técnicas cirúrgicas (MOENCH et al., 2010).
Procedimentos químicos, térmicos e mecânicos podem ser usados durante a
operação, para obtenção da hemostasia, especialmente quando a hemorragia difusa
ocorrer. Instrumentos cirúrgicos, como eletrocautério, feixe de argônio, laser são
úteis, mas às vezes esses métodos não alcançam resultados satisfatórios (TORO et
al., 2011).
Existem várias técnicas para reduzir o sangramento, tais como: redução da
pressão venosa central durante a transecção do parênquima do fígado mostrou
reduzir significativamente a perda do sangue. Técnicas de oclusão vascular também
têm mostrado reduzir potencialmente o sangramento durante a ressecção hepática.
Além destas técnicas, vários agentes hemostáticos tópicos têm sido desenvolvidos
para melhorar a hemostasia da superfície ressecada (BOONSTRA et al., 2009).
Um estudo holandês mostrou que 49% dos cirurgiões hepáticos utilizavam
rotineiramente e 37%, utilizavam ocasionalmente agentes hemostáticos tópicos nas
ressecções hepáticas (ZACHARIAS; FERREIRA, 2011).
Muitos agentes tópicos estão atualmente disponíveis em uma variedade de
configurações. Eles exercem seu efeito numa variedade de maneiras. Alguns
melhoram a hemostasia primária, ao passo que outros, estimulam a formação de
fibrina ou inibem a fibrólise. Alguns são preparados com substância pró-coagulante
48
Outros usam uma matriz para simular a cascata de coagulação endógena e alcançar
a hemostasia (SEYEDNEJAD et al., 2007).
Apesar do efeito claro dos agentes hemostáticos tópicos na hemostasia intra-
operatória, estudos que comprovem os resultados da eficácia destes agentes no
período pós-operatório continuam escassos e mais ensaios clínicos são necessários
(BOONSTRA et al., 2009).
Neste estudo o rato da linhagem Wistar (Rattus norvegicus albinus) foi
utilizado por possuir significativa resistência à infecção e apresentar baixa
mortalidade cirúrgica (AGUIAR et al., 2011), além de mostrar-se adequado para
esse tipo de estudo devido a sua semelhança anatômica e fisiológica com o fígado
humano. Sabe-se que o modelo experimental em ratos contribui para o
desenvolvimento da cirurgia, principalmente no aprimoramento de novas técnicas
(OLIVEIRA et al., 2003).
Quanto ao tamanho da amostra, foram obedecidas as recomendações da
SBCAL- Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório que exige
redução do número de animais usados em pesquisas experimentais (BRASIL, 2008)
e, optou-se por utilizar 24 animais, por ser um número suficiente para reproduzir
resultados confiáveis.
A indução anestésica utilizada atendeu às recomendações da literatura, a
partir de estudos equivalentes (PRESGRAVE; SANTOS, 2008), sem necessidade de
doses adicionais. Os animais permaneceram sem dor no transoperatório e não
houve morte em consequência do ato anestésico, o que confirmou a eficácia do
método.
A hepatectomia parcial no rato tem sido o modelo cirúrgico experimental mais
usado (AGUIAR et al., 2011).Neste estudo foi realizada a ressecção de apenas 30%
do fígado, afim de minimizar os riscos inerentes a uma remoção mais extensa
No presente estudo utilizou-se dois hemostáticos tópicos na superfície de
ressecção hepática, um à base de selante de fibrina, o TachoSil® e outro à base de
celulose oxidada, o Surgicel®.Não houve morte em nenhum dos grupos.
No decorrer do experimento, foram observadas as recomendações do
fabricante quanto ao manuseio, preparo e aplicação do produto.
Os vários hemostáticos tópicos atualmente disponíveis podem ser divididos
em duas categorias: os que fornecem seu mecanismo de ação sobre a cascata de
coagulação de uma forma biologicamente ativa (TachoSil®) e aqueles que agem de
49
forma passiva através da ativação de contato e promoção de agregação de
plaquetas (Surgicel®) (SAMUDRALA,2008).
Neste estudo a hemostasia foi alcançada em ambos os grupos no tempo
padronizado, de dois minutos, através de compressão digital do agente hemostático
sobre a área ressecada. No entanto, nas bases de dados pesquisadas, não foram
encontrados trabalhos com tempo de hemostasia semelhante ao deste estudo.
Frilling et al. (2005), realizaram um estudo no qual houve superioridade
significativa do Tachosil® sobre o feixe de argônio em relação ao tempo de
hemostasia. Nele, o selante de fibrina apresentou um tempo médio de hemostasia
igual a três minutos e nove segundos, enquanto o argônio três minutos e trinta e
nove segundos . O estudo concluiu que TachoSil® é superior ao feixe de argônio ao
obter eficaz e rápida hemostasia no intra-operatório.
Objetivando comparar a incidência de complicações pós -operatórias entre os
pacientes que receberam TachoSil ® para a superfície a transecção do fígado
versus aqueles que receberam o Surgicel ®, evidenciaram que o uso rotineiro de
TachoSil ® após a ressecção hepática não reduz a taxa de complicação global em
comparação com a aplicação Surgicel ® (ZACHARIAS; FERREIRA, 2011).
Em todos os animais dos grupos pesquisados, a ferida operatória evoluiu de
forma favorável, sem indicativos de complicações, tais como sinais de inflamação
e/ou infecção, sangramento, deiscência de sutura e seromas.
Neste estudo, na avaliação macroscópica, pôde-se observar que nos animais
cujo hemostático utilizado foi o TachoSil®, verificou-se melhores resultados em
relação às aderências, pois 58,4% dos animais apresentaram Grau 0 e nenhum
apresentou Grau III de aderência. O uso do Surgicel® pareceu potencializar a
formação de aderências, pois 41,6% apresentaram Grau III de aderência. A
formação de aderências pós-operatórias provoca significativas morbidades
cirúrgicas, como obstrução intestinal, infertilidade e reoperações complicadas e
continua a ser um ônus econômico para o sistema de saúde (GREENAWALT et al.,
2012).
Poucos estudos pré-clínicos foram publicados sobre o potencial adesiogênico
de agentes hemostáticos. Hoffman et al. (2009), implantaram vários agentes
hemostáticos em um modelo de ratos com traumatismo parietal e avaliou a média
total de aderência. Eles concluíram que a média de aderências com aplicação de
50
Surgicel® e FloSeal®, que é um hemostático à base de gelatina e trombina, não foi
significantemente diferente.
Em um estudo experimental controlado em coelhas, cujo objetivo foi avaliar a
eficácia entre métodos de barreira na prevenção de aderências pélvicas,
comparando o uso do Surgicel® e Interceed®, verificou-se que não houve diferença
significativa no uso destes produtos na prevenção de formação de aderências em
videolaparoscopia (BALBINOTTO, 2009).
Nenhum dos animais que receberam TachoSil® apresentou abscesso e/ou
coleções. Quanto ao Grupo Surgicel®, em 25% dos animais identificou-se coleções.
Segundo Berrevoet e Hemptinne (2007), selantes de fibrina não estão associados
com inflamação e necrose de tecidos.
Jarnagin et al. (2002), mostraram taxa de complicações de 45% após
hepatectomias, sendo metade delas infecciosas. As infecções mais comuns foram
relacionadas com o fígado e as vias biliares, seguidas de perto pelas pulmonares. A
complicação mais comum foi a presença de coleção peri-hepática.
Mello et al. (1998), realizaram estudo cujo objetivo foi verificar a ação
hemostática e avaliar a reabsorção da esponja de celulose Surgicel® em fígado de
ratos, observou-se a formação de aderências ao peritônio no local do implante e
reação inflamatória tipo corpo estranho.
Através da punção da veia cava caudal, realizou-se a coleta de sangue para
avaliação laboratorial; optou-se por essa via, devido ao volume de sangue
necessário para a análise. As principais vias de coleta de sangue em ratos são:
punção cardíaca, veia jugular, seio orbital, veia ou artéria caudal e corte na cauda
(PREGRAVE; SANTOS, 2008).
Foram realizados testes bioquímicos para análise da função hepática, que
mostrou índices elevados nos grupos estudados, em comparação aos parâmetros
bioquímicos normais de ratos Wistar (MELO et al., 2012).
As transaminases são indicadores sensíveis de dano hepático,
particularmente quando é uma lesão aguda. A ALT é uma enzima encontrada quase
que exclusivamente no citoplasma dos hepatócitos, sendo que níveis elevados da
mesma são indicativos, portanto, de injúria do parênquima hepático (LARSSON et
al., 1997). A AST existe também em outros tecidos como o coração, músculo
esquelético, rins, cérebro, pâncreas e, portanto, é muito menos específica de lesão
51
hepática do que a ALT que existe primariamente no fígado (NUNES; MOREIRA,
2007).
No Grupo Surgicel®, houve elevação nos níveis de ALT e FA, quando
comparados os dia D3 e D14, porém, sem diferença estatisticamente significante.
Observou-se ainda que, apesar da redução dos níveis de AST, eles ainda
permaneceram acima da média dos valores de referência. No Grupo TachoSil®,
pôde-se observar aumento estatisticamente significante nos valores de FA no D14
(p=0,03) quando comparado ao D3,porém, neste mesmo período de pós-operatório,
houve redução nos valores de ALT, AST e GTT, sendo estatisticamente significante
nos dois últimos parâmetros.
Pôde-se evidenciar que no Grupo Surgicel® houve maior comprometimento
da função hepática, caracterizado pelos elevados níveis das transaminases. Os dois
grupos em estudo apresentaram elevação dos níveis séricos da FA, o que pode
sugerir comprometimento do fluxo biliar. Houve alteração funcional do fígado no 3º e
14º dia de pós-operatório, independente do agente hemostático utilizado.
Resultado semelhante obteve Martino (2010), em um estudo que avaliou o
efeito a pentoxifilina na regeneração hepática de ratos submetidos à ressecção de
70% do parênquima hepático, houve elevação de AST e ALT em 2 horas após a
hepatectomia em relação ao grupo controle, com picos em 6 horas após o
procedimento, e o retorno aos níveis normais em 48 horas.
Em um estudo que avaliou uma série de hepatectomias parciais com oclusão
do fluxo sanguíneo aferente, em pacientes portadores de doenças benignas e
malignas, verificou que após serem submetidos a processos isquêmicos para coibir
sangramento transoperatório apresentaram elevação temporária das enzimas
hepáticas, que tendem a normalizar em poucos dias de pós-operatório (GUERRA;
PEREIRA, 2001).
Para Suc et al. (1992), algumas das variáveis usadas para avaliar função
hepática, como aminotransferases, gama glutamiltransferase e fosfatase alcalina
são mais influenciadas pela agressão cirúrgica e/ou regeneração do fígado
remanescente do que propriamente um reflexo da função hepática.
A elevação nos níveis de atividades dessas enzimas reflete o aumento de
permeabilidade das membranas celulares, o que favorece o extravasamento,
desencadeando necrose do parênquima hepático, constituindo-se em indicadores de
lesão hepática (GOULART, 2004).
52
Em uma análise da evolução pré, trans e pós-operatória de pacientes
submetidos à hepatectomia por metástases hepáticas do adenocarcinomacolorretal,
a fosfatase alcalina e a gama glutamiltransferase apresentaram um decréscimo nos
três primeiros dias para em seguida elevarem a níveis acima da normalidade
(FONSECA et al., 2003).
Pesquisa realizada por Matos Filho (2009), cujo objetivo foi avaliar a
hemostasia e a cicatrização hepática após hepatectomia segmentar em coelhos,
utilizando eletrocautério seco, ou emplastrado com gel de lidocaína, pomada de
neomicina, loção de glicerina e pomada de vaselina, evidenciou aumento transitório
dos níveis séricos de aminotransferases, as quais tiveram pico com 24 horas e
normalizaram até o sétimo dia.
Foram avaliados os parâmetros hematológicos de leucócitos e hematócritos,
para análise de processo infeccioso e perda sanguínea.
Em ambos os grupos houve diminuição dos níveis de leucócitos, porém, no
Grupo Surgicel® esse decréscimo foi estatisticamente significante (p= 0,02). Apesar
da ausência de leucocitose, neste grupo foi evidenciada na avaliação macroscópica,
sinais de infecção, caracterizados por abscesso e coleções.
Em relação ao nível de hematócrito, nos dois grupos esse parâmetro
encontrava-se abaixo do valor de referência. No Grupo Tachosil® houve aumento no
valor de hematócritos no 14° dia do período pós-operatório e no Grupo Surgicel®
houve diminuição no valor desta variável neste mesmo período, essa diminuição
pode estar associada a sangramento indesejado no transoperatório.
Tal resultado assemelha-se ao encontrado por Guérios (2000) cujo estudo
realizado em cães teve por objetivo avaliar o controle de hemorragia hepática, com o
uso do adesivo não cirúrgico de cianoacrilato no parênquima hepático, observou-se
pequena diminuição nos valores de hematócritos no 2° dia pós-operatório em todos
os animais do experimento, fato este que pode estar associado com a possível
hemorragia no transoperatório.
Na análise histológica dos dias D3 e D14, houve predomínio da fase
inflamatória aguda no Grupo Surgicel®. A maioria dos animais (83,3%)
apresentaram edema e polimorfonucleares na classificação de moderada a
acentuada, elementos que caracterizam a inflamação aguda. Não foi encontrada
diferença estatística na análise histopatológica na comparação intergrupos.
53
No Grupo TachoSil®,evidenciou-se presença na classificação de moderada a
acentudada de edema e polimorfonucleares e, a presença na classificação ausente
a discreta de mononucleares e proliferação fibroblástica em até 50% dos animais.
Não houve diferença estatística significante (p<0,05) entre as variáveis
congestão, polimorfonucleares, edema, mononucleares, proliferação fibroblástica e
angiogênese em ambos os grupos, nos dias de observação.
Segundo Martins et al. (2008) afirmaram que os agentes hemostáticos
absorvíveis, provocam uma reação inflamatória durante o período de absorção do
material, na maioria dos casos este processo é assintomático.
Não encontramos na literatura pesquisada, trabalhos voltados para análise
dos efeitos dos agentes hemostáticos no parênquima hepático, eles centralizam
suas pesquisas sobre ação hemostática propriamente dita e complicações, tais
como ao comprometimento biliar, necessidade de transfusão sanguínea e alteração
da função hepática após intervenção cirúrgica no fígado.
No presente estudo observamos que o processo no Grupo Surgicel®, ocorreu
de forma gradativa, sendo caracterizado inicialmente por elementos específicos da
fase inflamatória aguda (congestão, edema e polimorfonucleares) no 3º dia de pós-
operatório e, posteriormente por sinais indicativos de inflamação crônica
(mononucleares e proliferação de fibroblastos) No Grupo Tachosil®, apesar da
presença dos elementos característicos da fase inflamatória aguda, pôde-se
observar presença de elementos que caracterizam um processo inflamatório crônico
ainda no 3º dia de pós-operatório, caracterizando melhor resposta no que se refere à
cicatrização tecidual.
54
6. CONCLUSÃO
• Não houve morte entre os animais pesquisados;
• Não foram identificadas complicações, tais como: sangramento, deiscências
de sutura, sinais inflamatórios ou seromas na ferida operatória dos animais de
ambos os grupos;
• Os resultados referentes à ação hemostática foram semelhantes nos dois
grupos pesquisados;
• Foram encontradas aderências nos dois grupos, com maior
predominância no Grupo Surgicel®;
• Não foi observado abscesso e/ou coleções no Grupo Tachosil®;
• Os dados laboratoriais mostraram níveis séricos de transaminases
elevados em ambos os grupos, porém mais acentuado no Grupo Surgicel®,
revelando maior comprometimento da função hepática neste grupo.
• Verificou-se que processo inflamatório agudo, caracterizado pela
presença de congestão, edema e polimorfonucleares nos dois grupos.
55
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APÊNDICE A
HEMOSTASIA APÓS RESSECÇÃO HEPÁTICA USANDO DOIS AGENTES
HEMOSTÁTICOS: TACHOSIL® E SURGICEL®
Pesquisador: Joenvilly Cardinele Rêgo Oliveira Azevedo
Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia
Coorientador: Prof. Dr. Orlando Jorge Martins Torres
FICHA PROTOCOLO
1-Identificação
Rato:______
GaiolaNº:_______
Marca: _________
Grupo:( )Tachosil® () SurgiceL®
2-Anestesia
Indução anestésica: ________ Manutenção: _______ Dose: ____
Complicação anestésica: ( ) Sim ( ) Não
3-Operação
Data: / /
Complicações:_______________________________________________
4-Pesagem
Animal pré-operatório: _______Produto da hepatectomia: ________
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5-Óbito
( ) Não ( ) Sim Data do óbito: / /
CAUSA:_______________________________________________________
Peso do fígado remanescente:_____________________________________
6-Aspecto da ferida
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8-Morte ______/_______/______
Aderências:( ) Grau ( ) Grau I ( ) Grau II ( ) Grau III ( ) Grau IV
Abscesso:( ) Sim ( ) Não
ColeçõeS:( ) Sim ( ) Não
9-Avaliação laboratorial
Leucograma:______________AST: ______________ ALT: __________________
HMT: ____________________FA: _______________ GAMA-GT: _____________
10-Avaliação macroscópica
SISTEMA DE GRADUAÇÃO DE ADESÃO(NAIR,BHAT,AURORA,1974) Escore (grau) Achado 0 →→→→Sem adesão I →→→→Adesão única entre dois órgãos ou entre um órgão e a parede abdominal II →→→→Duas adesões entre órgãos ou um órgão e a parede abdominal III →→→→Mais de duas adesões entre órgãos ou uma massa de adesão generali- zada do intestino sem aderir à parede abdominal IV →→→→Aderências generalizadas entre órgãos e a parede ou aderência maciça entre todos os órgãos
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APÊNDICE B
HEMOSTASIA APÓS RESSECÇÃO HEPÁTICA USANDO DOIS AGENTES
HEMOSTÁTICOS: TACHOSIL® E SURGICEL®
Pesquisador: Joenvilly Cardinele Rêgo Oliveira Azevedo
Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Malafaia
Coorientador: Prof. Dr. Orlando Jorge Martins Torres
FICHA PROTOCOLO
1- Identificação
Rato: ______________N°_______________ Frasco: ________________
2-Análise histopatológica
2.1 Histologia pela Hematoxilina-eosina (HE)
Congestão ( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
Edema ( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
PMN ( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
Mononucleares ( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
Ploriferaçãofibroblástica( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
Angiogênese( ) 0 ( ) -1 ( ) -2 ( ) -3
2.2 Histologia pelo Tricômio de Masson
COLAGENO: ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 1) Inflamação Aguda: (1) Ausente (não existem leucócitos polimorfonucleares) (2) Discreta (leucócitos polimorfonucleares isolados e esparsos) (3) Moderada (leucócitos polimorfonucleares agregados. Ainda existem áreas livres). (4) Acentuada (leucócitos polimorfonucleares agregados e confluentes. Não existem áreas livres).
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2) Inflamação Crônica: (1) Ausente (não existem leucócitos mononucleares) (2) Discreta (leucócitos mononucleares isolados e esparsos) (3) Moderada (leucócitos mononucleares agregados. Ainda existem áreas livres). (4) Acentuada (leucócitos mononucleares agregados e confluentes. Não existem áreas livres). 3) Proliferação Fibroblástica: (1) Ausente (não existem fibroblastos proliferados no campo de sutura) (2) Discreta (esparsos fibroblastos proliferados em meio ao tecido conjuntivo frouxo) (3) Moderada (pequenos feixes multidirecionais de fibroblastos) (4) Acentuada (fibroblastos constituindo feixes compactos arranjados multidirecionalmente) 4) Fibrose (colagenização): (1) Ausente (não existe fibra colágena depositada) (2) Discreta (deposição de fibras colágenas de pequena intensidade, caracterizada por esparsas fibras depositadas em meio aos fibroblastos proliferados) (3) Moderada (fibras de colágeno depositadas formam feixes espessos eosinofílicos, intercaladas com áreas de tecido conjuntivo frouxo e fibroblastos proliferados) (4) Acentuada (grande deposição de fibras colágenas com feixes espessos e com pactos em meio a fibroblastos proliferados e sem áreas de tecido conjuntivo frouxo) 5) Neoformação Capilar: (1) Ausente (ausência de vasos neoformados) (2) Discreta (pequena quantidade de vasos neoformados) (3) Moderada (moderada quantidade de vasos neoformados) (4) Acentuada (grande quantidade de vasos neoformados) ESCALA DE PONTUAÇÃO: 0- AUSENTE 1- DISCRETO 2- MODERADO 3- ACENTUADO