50
FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR ELANA BESERRA DE LIMA FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR CABEDELO/PB 2018

FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

  • Upload
    buiminh

  • View
    267

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR

ELANA BESERRA DE LIMA

FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR

CABEDELO/PB 2018

Page 2: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

2

ELANA BESERRA DE LIMA

FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR

Monografia apresentada ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Especialista em Direito Civil. Orientador: Prof. Esp. Markus Samuel Leite Norat Área: Direito de Família

CABEDELO/PB 2018

Page 3: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

3

A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua

publicação.

L231fLima, Elana Beserra de.

Família multiespécie como nova configuração familiar./ElanaBeserra de Lima. – Cabedelo, 2018.

50f Orientador: ProfºEsp.Markus Samuel Leite Norat. Monografia (Especialização em de Direito Civill, Processo Civil

e Direito do Consumidor) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1. Família Multiespécie. 2. Animais de Estimação. 3. Vínculo.I. Título.

BC/Fesp CDU: 347

Page 4: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

Termo de Autorização de Depósito e Publicação Eletrônica no Repositório

Institucional FESP Faculdades

Eu, ELANA BESERRA DE

domiciliado na Rua DEP. JÁDER DE MEDEIROS, 270 APTº 104

JOÃO PESSOA, PARAÍBA, portador do documento de Identidade:

SSP/PB, CPF: 917.733.424

patrimoniais de autora da obra sob o título: “

NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR

apresentada na FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

em 26/01/2018, com base no disposto na

Fevereiro de 1998:

AUTORIZO, a Biblioteca da FESP Faculdades

sem ressarcimento dos direitos autorais, a obra acima citada em meio

eletrônico, no rRepositório Institucional

situado na Rede Mundial de Computadores, em formato

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

gerada pela aqui na instituição.

Cabedelo, PB, 26 de janeiro de 2018.

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA -

Biblioteca FESP Faculdades

Termo de Autorização de Depósito e Publicação Eletrônica no Repositório

Institucional FESP Faculdades

ELANA BESERRA DE LIMA,BRASILEIRA,SOLTEIRA

DEP. JÁDER DE MEDEIROS, 270 APTº 104

, PARAÍBA, portador do documento de Identidade:

917.733.424-87, na qualidade de titular dos direitos morais e

trimoniais de autora da obra sob o título: “FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO

NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR”, sob a forma de MONOGRAFIA,

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

, com base no disposto na Lei Federal n. 9.160

Biblioteca da FESP Faculdades a disponibilizar gratuitamente

sem ressarcimento dos direitos autorais, a obra acima citada em meio

Repositório Institucional que fica situado no portal da FESP

Mundial de Computadores, em formato PDF

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

gerada pela aqui na instituição.

Cabedelo, PB, 26 de janeiro de 2018.

_____________________________________ELANA BESERRA DE LIMA

Matrícula:

4

FESP

Termo de Autorização de Depósito e Publicação Eletrônica no Repositório

LIMA,BRASILEIRA,SOLTEIRA, residente e

DEP. JÁDER DE MEDEIROS, 270 APTº 104, na cidade de

, PARAÍBA, portador do documento de Identidade: 1.410.347 –

, na qualidade de titular dos direitos morais e

FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO

MONOGRAFIA,

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP,

Lei Federal n. 9.160, de 19 de

a disponibilizar gratuitamente

sem ressarcimento dos direitos autorais, a obra acima citada em meio

que fica situado no portal da FESP

PDF, para fins de

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

_____________________________________ ELANA BESERRA DE LIMA

Matrícula: 999556

Page 5: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

5

ELANA BESERRA DE LIMA

FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR

________________________________________ Professor Esp. Markus Samuel Leite Norat

Orientador

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Gabriela Henriques da Nóbrega Membro da Banca Examinadora

________________________________________

Pablo Juan Nóbrega de Souza Membro da Banca Examinadora

_______________________________________

Susyara Medeiros de Souza Membro da Banca Examinadora

Atribuição de nota: ______________________

Cabedelo, 26 de janeiro de 2018.

CABEDELO/PB 2018

Page 6: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

6

Dedico a conquista dessa trajetória a minha coragem e determinação, as quais me dão esperança de mudança para uma justiça inovadora e ao meu esposo Roberto Carvalho de Lima, principal pessoa a quem devo este momento.

Page 7: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

7

AGRADECIMENTOS

A Deus, força e razão do meu viver, o qual está presente em todos os momentos de minha vida, me abençoando e me dando força suficiente para a superação dos obstáculos. Agradecimento especial ao meu bichinho de estimação Chokito, um poodle que a 7 anos dedica seu amor, carinho, amizade,fidelidade, pureza, trazendo a felicidade ao meu lar, estando sob a minha responsabilidade e do meu esposo e por ser minha principal inspiração para a construção desse trabalho. Ao meu esposo, Roberto Carvalho de Lima, pelo incentivo velado para que eu cursasse direito, embora este fosse meu desejo, desde a minha adolescência, obrigada pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência e por me fazer acreditar que conseguiria. Aos meus pais, Ivone Beserra de Lima e Josemar Alves de Lima (In memoriam); que me ensinaram os valores da vida. Aos amigos da faculdade pela amizade e pelos momentos de alegria que tive o prazer de dividir. Ao meu orientador Professor Esp. Markus Samuel Leite Norat, por quem nutro admiração e respeito. Pessoa competente, paciente e dedicada.

Page 8: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

8

A amorosidade de que falo, o sonho pelo qual brigo e para cuja relação me preparo permanentemente, exige de mim, na minha experiência social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de AMAR!

Paulo Freire

Page 9: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

9

RESUMO

Este trabalho monográfico tem como tema central as novas configurações familiares, o vínculo e a relação entre as famílias multiespécies e seus animais de estimação, a influência do relacionamento afetivo entre humanos e animais, o reconhecimento familiar, o apego, a convivência íntima, a situação jurídica do animal. O interesse de analisar o assunto surgiu do interesse de compreender o papel que os animais de estimação vêm ocupando no contexto familiar e os motivos de tal relação ganhar mais espaço e importância na sociedade contemporânea. Através de uma pesquisa primordialmente bibliográfica, constatou-se que as configurações familiares vêm se modificando com o decorrer dos tempos bem como a relação entre os seres humanos e os animais de estimação. Palavras-chave: Família Multiespécie. Animais de estimação. Vínculo

Page 10: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................. 11

FUNDAMENTOS TEÓRICOS ........................................................... 13

1. Conceito de Família .................................................................... 13

1.1 Configurações familiares Atuais ................................................. 15

2. Definição de Família Multiespécie .............................................. 19

2.1 Formação da Família Multiespécie ............................................. 20

3. Reconhecimento de Animais Como Membro Familiar ................ 23

3.1 Lares com Pets e Convivência com os Animais de Estimação

Enquanto Vinculo Familiar ........................................................ 25

3.2 A Relação de Afeto entre Humanos e Animais ........................... 27

4. Animais na Legislação: Proteção e Direitos ................................ 29

4.1 Divórcio e a Guarda dos Animais de Estimação ........................ 35

4.2 Personalidade dos Animais ........................................................ 40

4.3 A presença dos Animais como Apoio Social ................................ 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 47

REFERÊNCIAS ................................................................................. 49

Page 11: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

11

INTRODUÇÃO

No presente trabalho serão expostas configurações familiares atuais e o

relacionamento entre humanos e animais como uma relação de vínculo e afeto

familiar. Antes visto como mera propriedade, bem móvel semovente, nos dias

atuais o animal passa a ser considerado como um indivíduo, com valores em si

mesmo, sujeito de uma vida, de interesses, e desse modo, com direito à

proteção real pelo ordenamento jurídico. A mudança na sociedade e a

evolução dos costumes levaram a uma verdadeira reconfiguração da família,

quer da conjugalidade, quer da parentalidade.

O alargamento conceitual das relações interpessoais acabou deixando

reflexos na conformação da família, que não possui mais um significado

singular.

O que distingue uma família hoje é a presença de um vínculo afetivo,

explicando-se aí essa relação entre homens e animais domésticos.

O objeto do estudo é apontar as características desse tipo de relação

como o reconhecimento de animais de estimação como membro familiar, o

apego, a convivência íntima, a relação de afeto entre eles, a proteção e direitos

dos animais e a situação jurídica na dissolução dessa espécie familiar.

A questão a ser analisada neste trabalho é sobre a proporcionalidade do

afeto entre humanos e animais de estimação considerando a humanização

entre eles e a modernidade nessa relação de vínculo familiar e as

conseqüências dessa convivência íntima.

A escolha do tema se deu a partir do interesse desse novo modelo de

família que inclui, além dos pais e filhos, os animais de estimação.

O objetivo geral é compreender o papel que os animais de estimação

vêm ocupando no contexto familiar e os motivos de tal relação ganhar mais

espaço e importância na sociedade contemporânea.

Com relação ao objetivo específico, a finalidade é entender esse elo

emocional entre humanos e animais e a evolução de simples companhia para

Page 12: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

12

membros efetivos dentro da família humana dividindo o mesmo espaço em

suas residências.

Defronte a exposição dos fundamentos e legislação arguidos no

trabalho, será apresentado ampla discussão jurídica, tendo em vista a

necessidade de analisar a situação dos animais de estimação no âmbito

familiar, a proteção, os direitos, o bem-estar do animal como condição de vida

digna, saudável sem qualquer tipo de sofrimento e maus-tratos e possíveis

celeumas quando da dissolução conjugal e disputa pela guarda e direito de

visitas desses animais.

A vertente metodológica utilizada é a qualitativa, o método de

procedimento é o monográfico; com abordagem hipotético-dedutivo, por meio

de pesquisa indireta através de livros, sites da internet, jurisprudências entre

outros.

Page 13: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

13

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

1. Conceito de Família

A legislação brasileira não apresenta um conceito definido de família.

Doutrinadores como Maria Helena Diniz elencam basicamente três acepções

para o vocábulo família, sendo eles o sentido amplíssimo, o sentido lato e a

acepção restrita.

A família em seu sentido amplíssimo seria aquela em que o indivíduo é

ligado por laços de consangüinidade ou afinidade.

A acepção latu sensu refere-se à família formada “além dos cônjuges ou

companheiros, e de seus filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral,

bem como os afins ( os parentes do outro cônjuge ou companheiro).

Já o sentido restrito restringe a família à comunidade formada pelos

pais, seja ele matrimônio ou união estável, e sua filiação.

A Constituição Federal alargou o conceito de família, permitindo o

reconhecimento de entidades familiares não casamentárias, com a mesma

proteção jurídica dedicada ao casamento, modificando de forma revolucionária

a compreensão do direito de família, que até então se assentava

necessariamente no matrimônio.

O artigo 226 da Constituição Federal normatizou o que já

representava a realidade de milhares de famílias brasileiras, reconhecendo que

a família é um fato natural, e o casamento uma solenidade, adaptando, por

esta forma, o direito aos anseios e necessidades da sociedade, passando a

receber proteção estatal não somente a família oriunda do casamento, bem

como qualquer outra manifestação afetiva, como a união estável e a família

monoparental, formada esta na comunidade de qualquer dos pais e seus

descendentes, no eloqüente exemplo da mãe solteira.

O pluralismo das entidades familiares, por conseguinte, tende ao

reconhecimento e efetiva proteção, pelo Estado, das múltiplas possibilidades

de arranjos familiares, sendo oportuno ressaltar que o rol da previsão

Page 14: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

14

constitucional não é taxativo, estando protegida toda e qualquer entidade

familiar, fundada no afeto. Trata-se da busca da dignidade humana,

sobrepujando valores meramente patrimoniais.

A instituição família é de grande importância na formação do

indivíduo e de sua integração na sociedade. O conceito de família vem sendo

reconsiderado em virtude do surgimento de novas formas de família. Vivemos

em um momento de desenvolvimento social e jurídico onde o conceito de

família está sendo ampliado.

Primitivamente as famílias eram fundadas basicamente nas

relações de parentesco sanguíneo, dando origem às primeiras sociedades

humanas organizadas. A própria expressão “família” surge a partir da

expressão latina famulus, que significa “escravo doméstico” e designava os

escravos ligados de forma legalizada na agricultura das tribos latinas da Itália.

Paulo Lobo em sua obra de Direito Civil”, disserta que:

“Sob o ponto de vista do direito, a família é feita de duas estruturas associadas: os vínculos e os grupos. Há três sortes de vínculos, que podem coexistir ou existir separadamente: vínculos de sangue, vínculos de direito e vínculos de afetividade. A partir dos vínculos de família é que se compõem os diversos grupos que a integram: grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos), grupos secundários ( outros parentes e afins)”.

Considera-se hoje que família, para o direito, consiste na

organização social formada a partir de laços sanguíneos, jurídicos ou afetivos.

A modernidade da vida trouxe também outros modelos familiares,

a família passou a ser mais democrática, o modelo patriarcal fora abandonado,

sendo empregado atualmente um modelo igualitário, influenciado pela ideia da

democracia, do ideal de igualdade e da dignidade da pessoa humana, onde

todos os membros devem ter suas necessidades atendidas e a busca da

felicidade de cada individuo passou a ser essencial no ambiente familiar. “A família de hoje se diferencia em um aspecto fundamental da

família de ontem, ela é fruto de uma era onde o laço social é horizontal,

enquanto, na anterior, era vertical”. Forbes (2009. p.1). A família de hoje

ganhou um novo status. Os grandes debates da atualidade giram em torno das

Page 15: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

15

chamadas “novas organizações familiares”, “novas famílias” ou ainda, “novos

arranjos familiares” caracterizados por Ceccarelli (2007):

Formas de ligação afetiva entre sujeitos onde existe, ou não, uma forma de exercício da parentalidade que foge aos padrões tradicionais: famílias monoparentais, homoparentais, adotivas, recompostas, concubinárias, temporárias, de produções independentes, e tantas outras. Temos ainda, as mudanças que afetam diretamente as condições de procriação tais como: barriga de aluguel, embriões congelados, procriação artificial com doador de esperma anônimo e, muito mais brevemente do que se pensa, a clonagem. (p.91 e 92).

A transição da família como unidade econômica para uma compreensão

solidária e afetiva, tendente a promover o desenvolvimento da personalidade

de seus membros, traz consigo a afirmação de uma nova feição, agora fundada

na ética e na solidariedade. Pode-se afirmar que esse novo balizamento

evidencia um espaço privilegiado para que os seres humanos se

complementem e se completem.

Nessa linha de raciocínio, a entidade familiar deve ser entendida,

hoje, como grupo social fundado, essencialmente, em laços de afetividade, pois

outra conclusão não se pode chegar à luz do texto constitucional.

1.1 Configurações familiares atuais

Se no início do século passado o modelo mais prevalente era o de

família extensa, ou seja, caracterizado pela coabitação de vários membros,

Costa, Cia e Bahran (2007) sinalizaram que esse modelo é cada vez menos

visto na atualidade. Tal fato se deve notadamente, ao controle de natalidade e

ao processo de urbanização em todo o planeta. Na realidade contemporânea,

separações e recasamentos foram configurando novas formas de famílias,

assim como outros arranjos, a saber: famílias monoparentais femininas ou

masculinas, binucleares, homoafetivas e multiespécies.

A família e seu papel estão sendo redesenhados à medida que as

pessoas se relacionam com os diversos contextos no qual a família se constitui

e é constituída. Não se trata mais da família tradicional, com pais, mãe e filhos.

Page 16: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

16

Existem diversas configurações familiares – apenas um genitor, mães solteiras,

homossexuais com filhos, etc.

Tratar das configurações familiares nos dias de hoje apresenta-se como

um grande desafio, tendo em vista a complexidade do tema. Muito se fala que

a família está acabando, mas o que está acontecendo é uma profunda

mudança no seu perfil. Embora o conceito atual de família seja muito diferente

do que se tinha em tempos passados, ainda continua sendo a família o centro

com que as pessoas se identificam e em que aprendem sobre a vida. Família e

casamento tiveram sua função social transformada especialmente ao longo do

século XX: já não se espera dessas relações somente o cuidar e manter a

prole.

A versão idealizada de núcleo familiar estável e voltada para si fica

ultrapassada. Surgem novas possibilidades de famílias, constituídas por grupos

que habitam o mesmo espaço físico ou que, pelo menos, mantêm certa

proximidade. Esses novos arranjos estão longe de serem instituições fechadas,

apresentando-se sempre em evolução e transformação.

As famílias tradicionais são constituídas de pai, mãe e filhos e já não

podem ser vistas como uma forma familiar em que não existem problemas

como se pensava há pouco tempo. O ideal de casamento hoje propagado pela

mídia está muito distante do real. Quando as expectativas de “casamento ideal”

não são cumpridas, muitas vezes são os filhos que sustentam o casamento,

especialmente no que se refere às mulheres. Segundo pesquisa realizada por

Gláucia Diniz e Vera Coelho: “Os filhos aparecem nesse contexto como

aquelas pessoas que sustentam suas forças, organizam seu objetivo de vida,

orientam seu sentido identitário” (FÉRES-CARNEIRO (org), 2003:93).

As famílias monoparentais podem advir de produções independentes ou

de separações em que há ruptura da relação parental com um dos

progenitores. Atualmente, é grande o número de separações em casais jovens

e também grande o número de famílias monoparentais sustentadas por

mulheres. Hoje, poucas mulheres permanecem casadas por dependência

financeira (DESSEN, M. A. & COSTA JÚNIOR, 2005:117). A mulher que está

insatisfeita e não depende economicamente do marido solicita muito mais a

separação do que o homem. O preconceito com o divórcio, instituído no Brasil

Page 17: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

17

em 1977, ficou preso há décadas passadas, e o desafio atual é a busca pela

harmonia, sem modelos certos ou errados. Hoje se escolhe diariamente estar

casado ou não, não se casa mais para sempre. Há uma avaliação diária sobre

a satisfação que a relação está trazendo para cada membro do casal. Mas é

importante lembrar que esse formato de família não é tão recente quanto se

pensa. Em todas as épocas existiram famílias regidas apenas por um membro

da parentalidade, fato que atualmente já não causa estranheza (FÉRES-

CARNEIRO (org.), 2003:19). Também não é incomum vermos famílias sendo

administradas pelo homem que, assim como a mulher, funciona como pai e

mãe, tendo os filhos sob sua única responsabilidade.

As famílias biparentais ou guarda compartilhada privilegia a

continuidade da relação parental após a separação, mantendo pai e mãe

responsáveis pelos cuidados cotidianos dos filhos e permitindo a estes acesso

sem dificuldades a ambos os genitores.

As famílias reconstituídas são as constituídas tanto de mulheres

e homens com filhos de relações anteriores (divorciados ou viúvos), unidos a

parceiros também nessas condições ou solteiros. Por isso, as questões de

parentalidade nessas famílias são tão próprias: a relação parental é anterior à

conjugal. Os filhos dos casamentos anteriores ocupam um lugar central na vida

do novo casal e o relacionamento com eles, por vezes, é o termômetro sensível

das possibilidades futuras do casal. Dentro dessa categoria estão os casais

que vivem juntos, mas separados e que preservam o seu próprio núcleo

familiar.

O novo diploma permite a união estável entre pessoas solteiras,

viúvas, divorciadas, separadas judicialmente ou separadas de fato. Possui

natureza sócio-jurídica, visto que é fato social, ao reunir pessoas com o

objetivo de constituir família, e ato jurídico, espontâneo, porém gerador de

efeitos jurídicos.

As Famílias homoafetivas são formadas por casais do mesmo

sexo. Esses casais têm muito das necessidades e dos conflitos dos casais

heterossexuais, embora se defrontem com uma gama enorme de problemas

gerados pelo preconceito e pelas dificuldades vivenciadas por todos aqueles

que fazem parte de uma minoria social.

Page 18: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

18

A família anaparental igualmente revela-se na convivência entre

parentes baseada na afetividade. Anaparental significa sem pais. Assim, a

comunidade formada por duas irmãs idosas que residem sob o mesmo teto

constitui uma família anaparental.

A família unipessoal, como o próprio nome indica, é aquela

formada por apenas uma pessoal, cujo reconhecimento possui por objetivo a

proteção do imóvel residencial do qual é proprietária.

No entender de Lobo Netto (2007a), em seu artigo entidades

familiares constitucionalizadas assim se manifesta: Sem página

Uma família, para que seja considerada como tal, tem de, obrigatoriamente, possuir 3 características, quais sejam, a afetividade, como fundamento e finalidade, com desconsideração do móvel econômico;estabilidade, excluindo-se os relacionamentos casuais, episódicos ou descomprometidos, sem comunhão de vida; e ostensibilidade, o que pressupõe uma unidade familiar que assim se apresente publicamente.

A família unipessoal, como o próprio nome indica, é aquela

formada por apenas uma pessoal, cujo reconhecimento possui por objetivo a

proteção do imóvel residencial do qual é proprietária.

A doutrina acolheu a idéia eudemonista ao conceituar entidade

familiar, entendendo que a felicidade é à base do comportamento humano e

moral, passando a família a ser vista não como um modelo pré-estabelecido,

mas sim como instituição onde predominam a satisfação pessoal e o

comprometimento mútuo.

A família eudemonista possui um conceito moderno voltado para

o afeto recíproco, o bem-estar e o desenvolvimento a favor dos seus pares,

não se levando em conta o vínculo biológico.

A definição de Camila Andrade, no artigo “ o que se entende por

família eudemonista, consiste em:

Eudemonista é considerada a família decorrente da convivência entre pessoas por laços afetivos e solidariedade mútua, como é o caso de amigos que vivem juntos no mesmo lar, rateando despesas, compartilhando alegrias e tristezas, como se irmãos fossem, razão porque os juristas entendem por bem considerá-los como formadores de mais um núcleo familiar. (ANDRADE, 2008)

Page 19: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

19

Pelo viés eudemonista, a atual constituição de uma família é feita

baseada na afetividade e não apenas no parentesco civil ou biológico.

2. Definição de Família Multiespécie

Novo modelo de família que inclui, além dos pais e filhos, os animais de

estimação. A família multiespécie, apesar de ainda não garantida no mundo

jurídico, já é parte do mundo factual.

Para definir o que seria uma família multiespécie, diferentes critérios são

levantados por autores interessados no tema. Bowen (apud FARACO, 2003),

por exemplo, fala em um sistema familiar emocional, composto não por laços

de sangue, e sim, de afeto.

Nesse sistema estariam inclusos membros da família estendida,

pessoas sem grau de parentesco e animais de estimação. Faraco (2003), por

sua vez, caracteriza a família multiespécie como aquela em que são

reconhecidos como seus membros os humanos e os animais de estimação em

convivência respeitosa, com os quais são travadas interações significativas. O

termo “convivência respeitosa”, usada por Faraco (2008) para caracterizar a

família multiespécie, tem um sentido vago e, mesmo entre os humanos, seria

difícil estabelecer consenso sobre o que viria a ser isso.

Cerca de 60% dos lares brasileiros têm como moradores pessoas e

animais de companhia, fazendo com que os estudiosos revejam o conceito de

família. É impossível pensar em família, atualmente, sem considerar a

interação humano-animal. Faraco em seu trabalho relata esse fato como um contexto social

entrelaçado, onde o conceito de constituição de uma rede de interações entre

animais e humanos se dá por um sistema social que distingue o grupo familiar

composto por pessoas e seus animais de estimação, também o nomeando

como “família multiespécie”, pelo fato de seus membros se reconhecerem e se

legitimarem.

Page 20: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

20

O conceito de família multiespécie foi abordado por Santos (2008) da

seguinte forma:

“O animal como membro familiar sugere a existência de uma relação interespécies e de uma família multiespécie composta por humanos e seus animais de estimação. Os mesmos acabam tendo diferentes funções, que vão desde serem vistos como objetos para o dono mostrar para outras pessoas, dando certo status social, cuidadores para algumas pessoas e até integrantes da família, tendo a mesma importância dos demais membros. Nesse sentido, destaca-se que “em estudo conduzido por Berryman e outros pesquisadores se concluiu que os animais de estimação são vistos como tão próximos quanto o próprio filho pelos humanos”. (SANTOS, 2008, p. 23).

Nesses novos núcleos familiares, a afetividade é o liame agregador de

todos os integrantes, sendo a questão da consanguinidade relegada ao

segundo plano, provavelmente fruto também das adequações da vida

moderna, onde algumas famílias hoje são compostas muitas vezes por casais

que já constituíram anteriormente outras famílias, e muitas vezes nesse novo

núcleo familiar agregam filhos de outros casamentos, animais provenientes de

outras relações ou muitas vezes, escolhidos justamente para aproximar ainda

mais os integrantes desse novo núcleo.

2.1 Formação da Família Multiespécie

A convivência diária entre seres humanos e animais de estimação é

algo muito presente na sociedade. De acordo com Berzins (2000), estudos

apontam para essa convivência já na pré-história. Em alguns sítios

arqueológicos desta época foram encontrados o que se acredita serem animais

domésticos, enterrados em posição de destaque ao lado do provável dono.

O relacionamento humano com animais domésticos é muito antigo, e as pessoas precisam dos animais em suas vidas. Até recentemente, a maioria dos especialistas acreditava que os seres humanos e os cães já viviam juntos, mas uma pesquisa mais recente do DNA dos cães provou que seres humanos e cachorros podem estar convivendo há mais de cem mil anos. Os cães não matam seres porque em cem mil anos de evolução eles devolveram sua capacidade de inibir a agressividade contra os seres humanos, e os

Page 21: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

21

seres humanos desenvolveram sua capacidade de cuidar da agressividade do cão[...] (GRANDIN;JOHNSON,2006, p.185-186).

Assim como Johnson menciona em sua bibliografia, Berzins (apud

Uyeara, 2000) também aponta o fato de que em muitos sítios arqueológicos de

por volta 12 mil anos antes de Cristo, foram encontrados ossos de animais

domésticos enterrados em posição de destaque ao lado de seu provável dono.

Ainda segundo Berzins, havia já uma distinção social entre cães e outros

animais, imposta pelos homens e, no século XVIII, o cão já era conhecido

como “o mais inteligente de todos os quadrúpedes conhecidos” e adorado

como “o servo mais fidedigno e a companhia mais humilde do homem”

(Berzins, 2000:57).

Embora o relacionamento entre humanos e outros animais tenha tido o

seu início há milhares de anos, apenas recentemente se começaram a estudar

os efeitos e a importância do vínculo estabelecido entre os diferentes

elementos que constituem a família multiespécie.

Segundo starling (apud VACCARI & ALMEIDA 2007, P.112): desde os

primórdios, a humanidade já convivia com animais. Os cães ofereciam

resguardo territorial ao protegerem as cavernas contra invasores, além de

ajudarem nas caçadas. Hoje além de segurança, essa relação pessoal-animal

adiciona outras necessidades psicológicas.

No Brasil esse relacionamento já foi avaliado através de inúmeras

pesquisas estatísticas que indicam o crescimento considerável da existência de

cães e gatos como animais de estimação. Os animais estão cada vez próximos

da família. E isto trouxe novas tarefas, compromissos, responsabilidades e

dedicação.

A convivência tem se tornado cada vez mais comum e crescente,

ultrapassou alguns conceitos e preconceitos e atualmente há uma envolvência

emocional que se passou a considerar essencial para alguns humanos.

Passamos por isso a ter uma realidade onde humanos, cães, gatos e outros

animais de companhia convivem numa sociedade particular interespécie, na

qual são apresentadas novas fronteiras e possibilidades de existência.

Page 22: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

22

Esse apego entre humano e animal é bastante complexo, e cada vez

mais forte, graças a sentimentos que ainda não foram totalmente desvendados

pela ciência, e causam curiosidade e interesse por parte da maioria da

população. Ainda é muito difícil entender como acontece esse elo emocional,

mas já não é de hoje que os animais evoluíram de simples companhia para

membros efetivos dentro da família humana, dividindo até o mesmo espaço em

suas residências.

Os animais possuem características particulares, onde é possível

encontrar algumas diferenças e semelhanças com os seres humanos.

Sensibilidade a linguagem corporal, sentir uma emoção de cada vez (exceto

medo e curiosidade que podem ser sentidos ao mesmo tempo), são algumas

características deles. Eles nunca esquecem um grande trauma, e assim como

nos humanos varia-se a personalidade de cada um, nos animais também existe

aqueles que são mais medrosos, e normalmente esses também são os mais

curiosos. Quanto às emoções, nos animais a raiva é a última defesa a qual eles

recorrem quando suas vidas são expostas ao perigo.

Como consequência os animais estão cada vez mais próximos da

família humana, tanto física como emocionalmente. Esse vínculo estreitou-se e

passamos a reconhecer a importância dos animais nas nossas vidas e nas

dinâmicas familiares.

Em gerações mais antigas a convivência entre animais de estimação e

humanos dentro das residências era limitada, pois, para pessoas mais antigas

o lugar dos animais era fora de casa. Hoje em dia, eles já são considerados

membros da família, e possuem acesso irrestrito às dependências da casa

Basta vermos os números que as estatísticas nos indicam,

relativamente à crescente população de animais de companhia, que

apresentam a maioria dos países, incluindo Portugal.

Se analisarmos algumas teorias psicológicas baseadas em estudos

feitos, sobretudo com cães, o vínculo estabelecido com humanos é semelhante

ao estabelecido entre crianças e adultos.

As mudanças na sociedade humana, tornando-se cada vez mais

urbana, concentraram-a em centros populacionais elevados e grandes cidades,

o que levou a uma nova dinâmica e organização familiar.

Page 23: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

23

Como consequência os animais estão cada vez mais próximos da

família humana, tanto física como emocionalmente. Esse vínculo estreitou-se e

passamos a reconhecer a importância dos animais nas nossas vidas e nas

dinâmicas familiares.

3. Reconhecimento de Animais como Membro Familiar

Os animais de estimação desempenham diversos papéis para os seres

humanos, tanto para o indivíduo, como para a família, ou até mesmo para a

sociedade, além de representarem uma fonte de apego e afeto, consolidando

um elo emocional às vezes mais forte do que os que acontecem entre muitas

pessoas, diminuindo o sentimento de solidão.

Entre os muitos papéis representados pelos animais estão os mais óbvios e conhecidos como: cão para caça, para guarda, pastores de rebanhos, no trabalho policial, guia de portadores de necessidades especiais e outros papéis, ainda objetos de estudos e discussões. (SERPEL, 1993).

As mudanças na sociedade e nos valores humanos motivaram a falta

de confiança e a diminuição de envolvimento sentimental entre as pessoas, o

que levou o ser humano a buscar nos seus animais de estimação uma relação

sincera de amizade e lealdade.

Outro motivo que estimulou a necessidade de se ter animais de

estimação em casa foi o aumento da expectativa de vida, e por mais pessoas

estarem morando sozinhas, adiando então o plano de ter filhos, vendo nos

animais a substituição da solidão. “Eles podem representar a única ponte de

ligação do homem com um mundo autêntico, sem hipocrisias, corporativismo

ou mediocridade” (ODENDAL, 2000).

A presença do animal no seio familiar é confirmada tanto por Faraco e

Seminotti (2004), quanto por Dotti (2005), os quais apontam para o fato de que

na atualidade o animal cada vez mais vem sendo considerado como um amigo,

um integrante da família e, até mesmo, sendo colocado como substituto de

algum membro.

Page 24: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

24

O relacionamento entre humanos e animais de estimação, segundo

Santos (2008), tem sido alvo de estudiosos do comportamento animal. Para

esta autora, o principal ponto se refere ao fato de nós, seres humanos, termos

desenvolvido com um membro de outra espécie, uma forma de relação muito

próxima a que temos com os membros da nossa própria espécie, sinalizando

para o fato de que essa convivência tão aproximada se dá em virtude de que

ambos acabam se beneficiando com a mesma.

Dentre tantas contribuições, destaca-se Bion, o qual sistematizou e

aprofundou o conceito definindo vínculo como sendo “elos de ligação –

emocional e relacional – que unem duas ou mais pessoas, ou duas ou mais

partes dentro de uma mesma pessoa” (apud ZIMERMAN, 2010, p. 23).

A partir da classificação de vínculos e dos estudos realizados por Bion,

Zimmermann (2010) destaca quatro tipos fundamentais que estarão presentes

concomitantemente ou não em toda e qualquer relação: vínculo do amor

(demanda por amor, diferentes formas de amar e de ser amado, diferenciação

e individualização); vínculo do ódio (relacionado à agressividade, pulsão de

vida); vínculo do conhecimento (diretamente ligado à descoberta, aceitação, ou

não, das verdades sobre si ou sobre o outro) e o vínculo do reconhecimento –

a partir da premissa que “o ser humano constitui-se sempre a partir de um

outro” (p. 31).

Os animais de companhia estabelecem fortes vínculos emocionais

recíprocos com os seres humanos. Podemos pensar que nessa relação se

constitui uma ligação de segurança de ambos os envolvidos. Pois, enquanto o

cachorro, de certa maneira, pode suprir alguma necessidade emocional de

seus donos, esses realizam também a função de proteção ao animal. De

acordo com Bowlby (2002), o sujeito que exerce a função de cuidador

representa proteção, conforto e suporte, bases para uma relação saudável.

Podemos pensar sobre isso também em termos da relação ao ser humano com

o animal, pois quanto maior o afeto pelo animal, maior tende a ser o vínculo

entre ele e o dono.

Apesar de a família humana representar para o animal a sua própria

família, há necessidade de mantê-lo em contato com suas próprias espécies,

para que eles não percam sua própria identidade, e possam aprender de que

Page 25: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

25

forma devem se alimentar, socializar, acasalar e respeitar seus semelhantes.

Esse hábito é importante também para evitar comportamentos agressivos nos

animais de estimação.

Os animais “membros da família” fazem parte não apenas do cenário,

mas interagem com as pessoas nos diversos ambientes da casa e interferem

no planejamento da rotina, muitas vezes definindo os horários dos tutores, de

acordo com sua necessidade de alimentação, passeio, medicação ou mesmo

de companhia, alguns até mesmo dormem no quarto e dividem a cama com

seus familiares.

3.1 Lares com Pets e Convivência com os Animais de Estimação

Enquanto Vinculo Familiar

Desde a antiguidade, os seres humanos encontram-se envolvidos em

sua caminhada diária com diversas espécies animais. Quanto aos animais de

estimação, indiscutivelmente são parte da maioria dos lares brasileiros.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para

Animais de Estimação (Abinpet), em 2012, no Brasil, havia cerca de 106,2

milhões de animais de estimação. Diante desse número expressivo, o país tem

a quarta maior população mundial (POPULAÇÃO, 2014).

A convivência com animais de estimação pode auxiliar o homem a

buscar a sua própria identidade, conhecer suas próprias aspirações e a definir

seus princípios. Hoje encontramos protótipos de formações familiares que

mesclam a relação entre humanos e animais.

Santos (2008) reflete a cerca da convivência entre os humanos e outros

seres vivos:

Você pode não estar ciente disso, mas nesse exato momento inúmeras espécies convivem com você numa relação muito íntima. Estima-se que haja por volta de 100 trilhões de microorganismos em nosso corpo, presente no estômago, no intestino, nas axilas, na boca etc. A convivência com outros seres – harmoniosa ou não – faz parte da vida humana. (p. 21).

Page 26: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

26

Os arranjos sociais são facilitadores dos laços entre as pessoas e seus

animais. Segundo Santos (2008), “a demografia está caindo, as famílias são

menores e estão sendo modificadas, com mais pessoas morando sozinhas.” (p.

25). As pessoas que moram sozinhas ou não têm filhos, demonstram ser mais

apegadas aos seus animais de estimação; no entanto, isto não significa que

estas tenham dificuldades de contato com outras pessoas.

O hábito de ter animais de estimação é muito mais característica do

Ocidente, provavelmente pelo fato de ao animal estar suposto ao acolhimento

e/ou suprimento de algumas necessidades emocionais, enquanto nas outras

sociedades estas necessidades são preenchidas de outra forma.

Santos (2008) acrescenta:

[...] estudos transculturais indicam que a posse de animais de estimação está mais relacionada a tradições e crenças a respeito dos animais – como a idéia de que são inferiores, pouco dignos do cuidado humano – do que com a extensão da família ou com a dimensão coletiva ou individualista da sociedade. Porém, em uma tradição cultural particular, a existência de menos contatos sociais pode acentuar o apego aos animais. (p. 25).

Os animais simbolizam uma fonte de lealdade e companheirismo

incondicional, dando resposta à necessidade humana de interagir socialmente,

assumindo os mais variados papéis, mesmo sem conseguir suprir, por

completo, a ausência do outro ser humano nas relações.

O animal de estimação é representado nessa relação interespécie como

um provedor de conforto, fator de proteção contra uma situação existencial de

risco, identificada como estar só, mas sua presença, não esgota a necessidade

de conviver com as pessoas no cotidiano. A presença do animal de estimação

funciona como um atenuador dos problemas familiares na medida em que é

capaz de atrair o foco da atenção para si.

Os animais podem ser considerados como uma fonte de amor (Faraco,

2003) e nessa relação homem-animal ocorre também uma busca por carinho

(Leal, 2007 conforme citado por Barbosa, 2013). Segundo Polster e Polster

(2001), o contato faz parte da natureza e sem ele não há vida. Nesse sentido, o

contato com o outro então é al-go nutritivo para o homem.

Page 27: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

27

Segundo Perls et al. (1997) no contato o homem se relaciona consigo,

com o outro e com o mundo, formando um ser de relação. O contato pode

também ser uma forma de o ser humano se ajustar de forma criativa no meio.

Dessa forma, ao ter contato com seus animais de estimação, os humanos

relatam que nessa relação surgem sentimentos que eles nomeiam como amor

e carinho.Também apareceram sentimentos de alegria, compaixão, sentimento

de não estar só, de alívio por ter a companhia do animal, sensação de

relaxamento.

Esta convivência parece ir além do lazer e da companhia. Nesse

sentido, destaca-se que, recentemente, diversos pesquisadores de todo o

mundo relataram que a interação do homem com o animal de estimação

promove mudanças positivas no comportamento das pessoas, estimula o

desenvolvimento de habilidades e o exercício da responsabilidade em

diferentes culturas e contextos. Consequentemente tende a melhorar a saúde

física, psicológica e emocional do homem.

A nova dinâmica familiar, os novos hábitos dos indivíduos que, muitas

vezes, vivem isolados em seus lares, as jornadas de trabalho que impõem o

afastamento dos pais de suas crianças por muitas horas, menor número de

filhos, mais recursos financeiros e outras situações poderiam ser apontadas

como justificativas (ou caminhos para elas) para o crescente vínculo entre os

animais domésticos e as pessoas, uma vez que o animal de companhia

ganhou seu espaço, tornou-se descrito no orçamento familiar e passou a ser

assistido na vida e na morte. Todavia, o que importa neste momento é lidar

com o fato de que a construção de fortes laços afetivos com algumas espécies,

como é o caso dos cães e gatos, veio a transformá-los para alguns em

verdadeiros entes familiares e, da mesma forma que o Direito trata dos

conflitos familiares quando o assunto são bens, filhos, cuidados,

responsabilidades, moradia, há também que tratar quando a demanda referir-

se aos animais, considerando, por exemplo, como a família que se rompe os

considera, ou seja, como entes daquele contexto.

3.2 A Relação de Afeto entre Humanos e Animais

Page 28: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

28

O processo de domesticação teve início desde a pré-historia, quando a

proximidade entre homens e animais era relatada nas pinturas de cavernas.

Esse processo fez com que os animais não só se aproximassem dos homens

como também se tornassem mais dependentes deles, o que trouxe

consequências positivas e negativas para os dois.

Com o passar dos anos os animais domesticados se tornaram muito

mais próximos dos humanos, assim deixaram de servir apenas para ajudar em

trabalhos, e passaram a fazer parte do cotidiano dos homens, tanto que hoje

em dia muitas pessoas dão grande importância à presença de animais dentro

de casa, considerando-os necessários para um lar feliz.

Evidências importantes mostram que as pessoas geralmente vêem sua

relação com seus animais de estimação como parecidas com as relações que

têm com seus filhos; os “donos” de animais de estimação muitas vezes os

tratam como crianças, pois brincam com seus animais falando em tom

maternal, e alguns costumam se referir a eles chamando-os de “meu bebê”,

cuidam e os acariciam como se eles fossem bebê humano. “Em estudo

conduzido por Berryman e outros pesquisadores, conclui-se que os animais de

estimação são vistos como tão próximos quanto “o próprio filho” pelos

humanos.” (Santos, 2008, p. 23).

Estudos apontam que esta relação emocional com os cães pode ser

substituta às relações com outras pessoas, como por exemplo, cônjuge ou até

mesmo com os pais.

O cachorro parece suprir, em muitos casos, uma necessidade emocional. Pode ser uma fonte de segurança e, quando as pessoas se sentem ansiosas, o cão pode ter um efeito calmante. Assim, a natureza do laço entre humanos e cães contém um forte elemento de segurança, por isso o animal pode substituir a companhia de outro humano. (Santos, 2008, p. 23 e 24).

Acredita-se que o humano pode produzir um apego especial com os

cães:

Pesquisadores construíram um questionário contendo frases que indicavam níveis de apego com um cachorro de estimação, como, por exemplo, carregar a fotografia dele, deixa-lo dormir em sua cama, frequentemente falar e interagir com ele e defini-lo como um membro da família. Os dados indicaram altos níveis de apego entre donos e seus cães. Quase a metade definia seu cachorro como um membro da família, 67% carregava uma fotografia dele em sua carteira, 73% deixavam que eles dormissem em sua cama e 40% comemoravam o

Page 29: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

29

aniversário do cachorro. As mulheres apresentaram apego ainda mais forte com seus animais do que os homens. (Santos, 2008, p. 24).

Nos dias de hoje no Brasil existem aproximadamente 28,8 milhões de

cães convivendo com os humanos, e na maioria das vezes, convivem na

condição de parceiros sociais. Segundo Faraco (2008) isto pode indicar

escolhas individuais e mudanças de prioridades sociais. Cita Maturana (2002)

ao dizer que “define como fator determinante de um sistema social, isto é, uma

vez que a conduta dos membros de uma sociedade particular mude, as

características sociais serão modificadas.” (Faraco, 2008, p. 41).

Faraco (2008) acrescenta:

Em estudos comparando a importância dos animais de estimação com os demais membros humanos da família, registrou-se que em 44% dos casos é o animal o familiar mais acariciado e que 81% dos respondentes acreditam que em situações de tensão ou ansiedade na família, os animais somatizam e manifestam distúrbios gástricos ou convulsionam (CAIN, 1993). (p. 41).

Os animais de estimação preenchem a falta de laços afetivos e aplacam

a solidão de um mundo muito mais individualista, numa transferência social

mútua onde cada um preenche a lacuna de seu próprio meio, convivendo

quase como “semelhantes”.

4. Animais na legislação: Proteção e Direitos

A nova dinâmica familiar, os novos hábitos dos indivíduos que, muitas

vezes, vivem isolados em seus lares, as jornadas de trabalho que impõem o

afastamento dos pais de suas crianças por muitas horas, menor número de

filhos, mais recursos financeiros e outras situações poderiam ser apontadas

como justificativas (ou caminhos para elas) para o crescente vínculo entre os

animais domésticos e as pessoas, uma vez que o animal de companhia

ganhou seu espaço, tornou-se descrito no orçamento familiar e passou a ser

assistido na vida e na morte.

Page 30: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

30

Todavia, o que importa neste momento é lidar com o fato de que a

construção de fortes laços afetivos com algumas espécies, como é o caso dos

cães, veio a transformá-los para alguns em verdadeiros entes familiares e, da

mesma forma que o Direito trata dos conflitos familiares quando o assunto são

bens, filhos, cuidados, responsabilidades, moradia, há também que tratar

quando a demanda referir-se aos animais, considerando, por exemplo, como a

família que se rompe os considera, ou seja, como entes daquele contexto.

No Código Civil, o Livro III trata do Direito das Coisas, tal a sua

importância para a sociedade. Vale destacar a diferença entre coisas e bens.

Sílvio de Salvo Venosa esclarece que “sob o nome de coisa, pode ser

chamado tudo quanto existe na natureza, exceto a pessoa, mas como bem só

é considerada aquela coisa que existe proporcionando ao homem uma

utilidade, porém com o requisito essencial de ficar suscetível de apropriação.”

Os animais têm natureza jurídica de bem móvel por serem suscetíveis

de movimento próprio, classificados, portanto, como semoventes. Nos dizeres

do artigo 82, do Código Civil, são “móveis os bens suscetíveis de movimento

próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da

destinação econômico social”. Na linguagem da Lei Civil brasileira as crias dos

animais pertencem ao seu proprietário, podendo ser vendidos ou doados,

conforme estabelece o artigo 1.232 do Código Civil. Dessa forma, por ser um

bem, estão sujeitos à partilha na ocasião da dissolução da sociedade conjugal.

Os animais possuem também lugar nas Leis Federais, como o

Decreto 24.645, de 10 de junho de 1934 (Brasil, 1934), que estabelece

medidas de proteção aos animais e a Lei nº 9605 de 12 de fevereiro de 1998

(Brasil, 1998), que trata sobre os crimes ambientais, entre eles os maus tratos

aos animais.

De acordo com a Constituição Federal Brasileira em seu artigo

5º, inciso LXX, “b”, a fauna é considerada como um patrimônio público e em

seu artigo 225, inciso VII, reconhece que os animais são dotados de

sensibilidade, proibindo expressamente as práticas que coloquem em risco sua

função ecológica, provoquem a sua extinção ou os submetam à crueldade.

Passa-se a reconhecer a esses seres vulneráveis o direito fundamental à vida,

a integridade física e à liberdade.

Page 31: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

31

Temos ainda a Lei Federal 9.605/98 – que em seu artigo 32

dispõe que: Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais

silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção,

de três meses a um ano, e multa. O § 1º Incorre nas mesmas penas quem

realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins

didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. No § 2º A pena

é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Também dispõe o artigo 319, CP, “É crime retardar ou deixar de

praticar indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa

da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

Todos os animais são tutelados pelo Estado, eles serão

assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos

legais e pelos membros das Sociedades Protetoras dos Animais.

Recentemente, foi aprovado o projeto de Lei - PL 2833/11, que

está na fase de apreciação pelo Senado Federal – que de acordo com o texto,

a pena para os casos de matar cão ou gato terá pena de detenção de 1 a 3

anos. A exceção será para a eutanásia, se o animal estiver em processo de

morte agônico e irreversível, contanto que seja realizada de forma controlada e

assistida.

A partir daí, nota-se que a igualdade também deve haver no

tratamento com os animais, pois, conforme a Declaração Universal dos Direitos

dos Animais, “todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos

direitos à existência”.

Respeitar e proteger os animais é um dever assegurado por leis

municipais, estaduais, federais e internacionais e devem ser representados a

nível governamental, da mesma forma dos direito do homem.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos dos Animais,

pode-se analisar 10 mandamentos cruciais descritos abaixo:

“1. Todos os animais têm o mesmo direito à vida. 2. Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.3. Nenhum animal deve ser maltratado. 4. Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres o seu habitat. 5. O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca abandonado. 6. Nenhum animal deve ser usado em experiência que lhe causem dor. 7. Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. 8. A

Page 32: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

32

poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais. 9. Os direitos dos animais devem ser defendidos por lei.10. O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.”

Todos os animais têm o direito de viver de acordo com suas

próprias naturezas, livres do sofrimento, do abuso e da exploração humana.

Nos dizeres de Helita Barreiro Custódio, todas as categorias e

espécies existentes no Brasil são protegidas constitucionalmente, não sendo

adotado qualquer tipo de discriminação no texto da lei. Prevista unicamente a

expressão “os animais”. Assim, todos os animais, sem exceção, são protegidos

constitucionalmente contra quaisquer práticas de crueldade, desumanas e

danosas, e, àquele que contraria tal disposição, está sujeito às sanções

administrativas, civis ou penais.

Todos os animais possuem o direito a uma existência digna.

Nesse sentido, acredita-se pertinente a reflexão de Nussbaum (2008):

O que poderíamos sustentar como existência digna seria, ao menos, garantir:oportunidade de nutrição adequada; atividades físicas compatíveis com a espécie; estar livre da dor e da crueldade; não ser obrigado a agir de forma contrária às características de sua espécie; estar livre do medo;poder interagir com membros de sua própria espécie e de outras espécies;ter a chance de aproveitar o sol e o ar com tranqüilidade.

Vale trazer à colação alguns julgados:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO DOS ANIMAIS. INTERDIÇÃO DE CANIL MUNICIPAL DE TORRES. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. REQUISITOS CONFIGURADOS. PRELIMINAR DE LITISPENDÊNCIA AFASTADA. 1. A configuração da litispendência está relacionada a existência concomitante das mesmas partes, causa de pedir e pedido com demanda anteriormente ajuizada. Inteligência do art. 301 , § 2º , do CPC . Não é o caso dos autos. Preliminar desacolhida. 2. Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, sem colocar em risco a sua função ecológica, a extinção de espécies ou submeter os animais a crueldade, conforme prevê o art. 225 , § 1º , inc. VII , da CF . 3. O art. 1º da Lei Municipal nº 4.003 /06 estabelece que o controle e proteção das populações animais são de responsabilidade conjunta da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Secretaria Municipal da Saúde. 4. No caso, restou comprovado aos

Page 33: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

33

autos o estado de precariedade do Canil Municipal de Torres, de modo que deve ser mantida a decisão que interditou parcialmente o local, a fim de evitar maiores prejuízos aos animais que venham a ser colocados àquela situação. 5. Hipótese em que restou comprovado nos autos a verossimilhança do direito alegado e a urgência da tutela pretendida. Preenchidos os requisitos caracterizadores da antecipação de tutela, a teor do que disciplina o art. 273 do CPC . NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70058136094, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 12/03/2014) AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - FUGA DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO DE PET SHOP - DANO MORAIS. - Considerando o carinho dos autores pelo animal de estimação, a fuga deste de um pet shop, por período de tempo razoável, é fato capaz de gerar dano moral, não se tratando de um mero aborrecimento. (TJ-MG - AC: 10525140034949001 MG, Relator: Pedro Bernardes, Data de Julgamento: 24/05/0015, Câmaras Cíveis / 9ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/06/2015) Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DIREITOS DOS ANIMAIS E RELEVANTE PREJUÍZO COMERCIAL A EVENTO CULTURAL TRADICIONAL. RESTRIÇÕES A PUBLICAÇÕES E DANOS MORAIS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A decisão recorrida impôs restrições a publicações em sítio eletrônico de entidade de proteção aos animais, que denunciava a crueldade da utilização de animais em rodeios, condenando-a ao pagamento de danos morais e proibindo-a de contactar patrocinadores de um evento específico, tradicional e culturalmente importante. 2. Constitui questão constitucional da maior importância definir os limites da liberdade de expressão em contraposição a outros direitos de igual hierarquia jurídica, como os da inviolabilidade da honra e da imagem, bem como fixar parâmetros para identificar hipóteses em que a publicação deve ser proibida e/ou o declarante condenado ao pagamento de danos morais, ou ainda a outras consequências jurídicas. 3. Repercussão geral reconhecida. Ementa: DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. ANIMAIS DOMÉSTICOS. CONVENÇÃO. PROIBIÇÃO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. TOLERÂNCIA. I – A vedação constante da convenção de condomínio de criação de animais nas unidades autônomas não pode prevalecer ante às peculiaridades do caso concreto, pois se trata de animais pequenos, que não representam incômodo ou perturbação do sossego e nem constituem em ameaça à saúde e a segurança dos demais condôminos. II – Negou-se provimento ao recurso. CONDOMÍNIO – Ação cominatória, compelindo condôminos a, com base em norma de regimento interno vedando a presença de animais, providenciar a remoção de cães das unidades de sua propriedade. Cães das raças “yorkshire” e “poodle”, de portes pequenos e dóceis, cuja presença nunca poderia acarretar incômodos ou prejuízos aos

Page 34: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

34

demais condôminos. Regras, no caso, ademais, estabelecida em prol dos próprios animais, a qual, de todo modo, haveria de ser interpretada de acordo com a finalidade preconizada na lei do condomínio (artigos 10, III e 19, da Lei nº 4.591/64), sob pena de constituir abuso e ser considerada ineficaz. Improcedência mantida. Apelação do condomínio improvida. Provimento da apelação do co-réu, para elevar a verba honorária e cancelar comunicação à ordem dos advogados do brasil.” (TJSP – AC 137.372-4/6 – Santo André – 2ª CDPriv. – Rel. Des. J. Roberto Bedran – J. 26.08.2003)

Ementa: RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. DESAPARECIMENTO/FUGA DE GATO DA CLÍNICA VETERINÁRIA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS EVIDENCIADA. DEVER DE GUARDA NÃO OBSERVADO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO REDUZIDO. - Depreende-se do conjunto probatório colacionado aos autos, que a parte autora encaminhou o seu gato para realizar tratamento de saúde no estabelecimento da ré. Ocorre que o animal de estimação desapareceu/fugiu, não sendo mais encontrado, o que conduz à hipótese de falha na prestação dos serviços, diante da ausência de zelo na guarda. De acordo com o artigo 14 do CDC , os prestadores de serviços respondem de forma objetiva pelos danos causados ao consumidor por defeitos relativos à prestação dos serviços. Configurado está o dever de indenizar. - Contudo, impõe-se o provimento parcial do recurso, com a redução do quantum arbitrado na origem (R$ 14.430,00 - fl. 43) para R$ 8.000,00 (oito mil reais), a fim de atender aos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade e, em especial, considerando a capacidade econômica da ré, haja vista tratar-se de uma microempresa (fls. 53-59). A gravidade da conduta ilícita, a intensidade e a duração das consequências, a condição econômica da ofensora de suportar a indenização e o dúplice caráter da medida (pedagógico, para evitar a reiteração da conduta inadequada; e compensatório, mas sem ocasionar enriquecimento indevido) devem ser sopesados na quantificação dos danos imateriais,... o que, então, justifica a minoração da indenização. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005647607, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Lusmary Fatima Turelly da Silva, Julgado em 22/10/2015). Ementa: RECURSO INOMINADO. REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. MORTE DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO POR ATAQUE DE CÃO DA RAÇA PIT BULL. RESPONSABILIDADE DA RÉ NÃO ILIDIDA. VEROSSIMILHANÇA NAS ALEGAÇÕES DA PARTE AUTORA. NEGLIGÊNCIA DA RÉ, QUE NÃO TOMOU TODOS OS CUIDADOS DEVIDOS COM A GUARDA DO ANIMAL. DANO MORAL CARACTERIZADO TANTO PELA PERDA DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO, QUANTO PELA ANGÚSTIA SUPORTADA NO MOMENTO EM QUE OCORREU A AGRESSÃO, PRESENCIADA PELOS DEMANDANTES. QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE MERECE REDUÇÃO A FIM DE SE ADEQUAR AOS PARÂMETROS ADOTADOS PELAS TURMAS EM CASOS ANÁLOGOS (R$ 2.500,00). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71004227658, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Roberto José Ludwig, Julgado em 30/04/2013)

Page 35: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

35

EMENTA: LOTEAMENTO. RESTRIÇÃO. CRIAÇÃO DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. Realizada inspeção pela vigilância sanitária conclui-se que todos os animais estavam saudáveis e encontravam-se em recinto limpo, livre de insetos ou maus odores que pudessem causar transtorno à população. Ao contrário do que alega a autora, a ré está exercendo o seu mais legítimo direito de propriedade. Cabia à autora a comprovação de efetivo prejuízo à coletividade, ônus do qual não se desincumbiu (art. 333, I do CPC). Sentença mantida. Recurso não provido. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. DESPESAS DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO DEIXADOS PELA FALECIDA. ALVARÁ AUTORIZADO. Enquanto não for providenciado destino adequado para os animais deixados pela falecida (vinte e nove gatos e sete cachorros) as despesas de manutenção correm por conta do Espólio, até o limite de suas forças. Portanto, adequada a decisão que autorizou a expedição de alvará para que o Espólio pudesse quitar despesas dos animais NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO. (Agravo de Instrumento Nº 70059926881, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 30/10/2014). (TJ-RS - AI: 70059926881 RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Data de Julgamento: 30/10/2014, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/11/2014)

4.1 Divórcio na Família Multiespécie e a Guarda de Animais de

Estimação

O Direito Civil Brasileiro dispõe sobre as normas de formação e

dissolução do casamento. A partir do casamento estabelece-se entre as partes

a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial. Rompido o afeto e inexistindo

interesse na continuidade do matrimônio, a lei brasileira possibilita o

desfazimento dessa união por meio do divórcio.

Após o vínculo se finalizar pelo divórcio (no casamento), pela

dissolução (na união estável) ou simplesmente pelo afastamento (em qualquer

outro relacionamento), pode surgir questões patrimoniais.

Grande celeuma tem envolvido o ordenamento jurídico brasileiro

no momento do divórcio, quando há na dissolução conjugal disputa pelos

animais de estimação.

Em face da inexistência de lei a regulamentar a guarda dos

animais de estimação em caso de divórcio, a tarefa não é das mais fáceis,

especialmente quando não há consenso entre as partes. Diante disso o

Page 36: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

36

magistrado deve buscar a melhor solução para cada caso concreto,

socorrendo-se à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito para

a melhor solução da demanda.

Segundo as normas do Código Civil e o pensamento de

Gonçalves (2012, p.292), em regra, a guarda dos filhos trata-se de direito

natural dos genitores. No caso dos animais de estimação, a guarda é direito

natural dos tutores.

Nos casos de divórcio, onde os tutores não consigam chegar a um

consenso sobre a guarda dos animais de estimação, o Poder Judiciário, ao

analisar os casos, deve fazer prevalecer o melhor interesse dos animais,

ponderando cuidadosamente todos os aspectos fáticos. Para tanto, tem como

fundamento as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código

Civil, cabendo sua utilização por analogia.

Os animais de estimação ganharam importante espaço afetivo na

vida de seus donos, algo absolutamente comum em nossa sociedade. Assim,

inviável a partilha de sorte a deixar um dos consortes privado do convívio com

o animal pelo qual nutre sentimentos e estima.

Por outro lado, em respeito às normas de proteção aos animais

acima citadas, tais bichos de estima não podem simplesmente serem tratados

como bens e, eventualmente, submetidos a maus tratos por algum consorte

que não tenha vocação para cuidar do animal. Assim, deve o juiz ter o cuidado

de estabelecer a guarda e convívio com aquele que reunir melhores condições

de criar o animal.

O Projeto de Lei nº 1.058/2011 a borda a matéria relativa à guarda

do animal de estimação e, apresenta em seu teor subsídios passíveis de

auxiliar o juiz na fundamentação das suas decisões, quando o animal estiver

sendo disputado em uma dissolução conjugal litigiosa, ou em um litígio em que

não há consenso quanto a guarda compartilhada.

Percebe-se a existência de vácuo legislativo com relação à guarda

e suas aplicabilidades e tal projeto foi apresentado a Comissão de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e posteriormente foi aprovado seu

substitutivo, porém atualmente aguarda o parecer da Comissão de Constituição

Page 37: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

37

e Justiça e de Cidadania para seguir o curso e quiçá ser sancionado (BRASIL,

2016c).

Quando da apresentação do projeto, a Comissão de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável justificou sua necessidade, pois, os

Juízes estavam desprovidos de fundamentação legal para decisão quanto ao

animal de estimação em casos de dissoluções conjugais litigiosas (BRASIL,

2016c)

[...] os animais não podem mais ser tratados como objetos em caso de separação conjugal, na medida em que são tutelados pelo Estado. Devem ser estipulados critérios objetivos em que se deve fundamentar o Juiz ao decidir sobre a guarda, tais como cônjuge que costumava levá-lo ao veterinário ou para passear, enfim aquele que efetivamente assista o pet em todas as suas necessidades básicas [...]

A melhor solução repousa na preservação dos interesses dos

animais de estimação. A simples demonstração da propriedade do animal não

é suficiente para a concessão de sua guarda, pois, muitas vezes, a relação

afetiva estabelecida entre o não proprietário e o animal é mais forte e saudável.

Os envolvidos, portanto, devem demonstrar quem possui melhores condições

para a criação do animal. Condições estas que vão desde os fatores

psicológicos, sentimentais, financeiros, tempo disponível, entre outros.

Face ao exposto, percebe-se que o elo afetivo deixou de ser a principal

garantia para que as partes provassem ter capacidade de guarda do animal de

estimação quando está em litígio

Posicionamento da jurisprudência de tribunais quanto à proteção da

família multiespécie e do bem-estar dos animais de estimação em caso de

litígios:.

UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. PARTILHA DOS BENS. CONTRIBUIÇÃO. DESNECESSIDADE. MANTÉM-SE A PARTILHA IGUALITÁRIA DO IMÓVEL PORQUE OS ELEMENTOS COLIGIDOS AOS AUTOS COMPROVAM, À SACIEDADE, QUE O BEM FOI EDIFICADO COM A PARTICIPAÇÃO DE AMBOS OS CONVIVENTES, NA MEDIDA DE SUAS POSSIBILIDADES E EM TERRENO DE PROPRIEDADE DOS PAIS DA MULHER. ALUGUEL PELO USO DO IMÓVEL COMUM. DESCABIMENTO. NÃO SE PODE EXIGIR O PAGAMENTO DE LOCATIVOS ENQUANTO NÃO

Page 38: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

38

PERFECTIBILIZADA A PARTILHA DOS BENS. É QUE INEXISTE TÍTULO JURÍDICO QUE AUTORIZE A COBRANÇA DE ALUGUEL CONTRA O COMPANHEIRO QUE PERMANECE RESIDINDO NO IMÓVEL COMUM, POSTO QUE OS BENS FICAM EM MANCOMUNHÃO. INDENIZAÇÃO POR DANOS CAUSADOS A BEM PERTENCENTE AO VARÃO. DESCABE A INDENIZAÇÃO QUANDO NÃO CONSTATADO O DESCUIDO DA MULHER NA PRESERVAÇÃO DO BEM. ADEMAIS, TRATANDO-SE DE MÓVEL USADO E DESMONTADO, PROVAVELMENTE APRESENTARIA ALGUMA AVARIA DECORRENTE DO PRÓPRIO USO. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. MANTÉM-SE O CACHORRO COM A MULHER QUANDO NÃO COMPROVADA A PROPRIEDADE EXCLUSIVA DO VARÃO E DEMONSTRADO QUE OS CUIDADOS COM O ANIMAL FICAVAM A CARGO DA CONVIVENTE. APELO DESPROVIDO.” (TJRS – APELAÇÃO CÍVEL – 7A. CÂMARA CÍVEL – N.70007825235 – COMARCA DE CAXIAS DO SUL – FONTE: WWW.TJ.RS.GOV.BR) AGRAVO REGIMENTAL. INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INCONFORMISMO CONTRA DECISÃO QUE DETERMINOU A ENTREGA DO CÃO DE ESTIMAÇÃO DO CASAL À MULHER, NO PRAZO DE 48 HORAS, SOB PENA DE MULTA. EM RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO ANTERIOR FOI AUTORIZADA A GUARDA DO ANIMAL PELA AGRAVADA, NO ENTANTO, ENTRE JUNHO DE 2012 E FEVEREIRO DE 2013, A AGRAVADA NÃO DEU MOSTRAS DE POSSUIR INTERESSE EM FICAR COM O ANIMAL, EVIDENCIADO PELA AUSÊNCIA DE DILIGÊNCIA. AUTORIZADA A MANUTENÇÃO DA SITUAÇÃO FÁTICA. RECURSO PROVIDO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE POSSE COMPARTILHADA DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. NA AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO, INEXISTE DISCUSSÃO QUE RECAIA SOBRE DIREITO DE FAMÍLIA. A LIDE TRATA DE MATÉRIA CÍVEL DE CUNHO DECLARATÓRIO, COMPETINDO AO JUÍZO SUSCITANTE O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DO FEITO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA JULGADO IMPROCEDENTE, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 70074572579, DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: EDUARDO JOÃO LIMA COSTA, JULGADO EM 18/09/2017). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. ACORDO JUDICIAL ENTABULADO NOS AUTOS DA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.CERCEAMENTO DE DEFESA. É dever do magistrado indeferir a produção de prova quando evidentemente desnecessária, mormente quando observada a ausência das condições da ação, desafiando a extinção do

Page 39: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

39

feito, sem julgamento de mérito.NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. Fundamentação sucinta não é sinônimo de ausência de fundamentação. Havendo o juízo lançado os alicerces de seu convencimento, não há falar em nulidade da sentença.MÉRITO. Se o acordo havido entre as partes previa que a companheira (separanda) levasse a cadela consigo, caso assim o desejasse, não há interesse processual a albergar a pretensão de restituição do animal ao separando. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

MANDADO DE SEGURANÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. RESTITUIÇÃO DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. No conflito de competência nº 70036122240, o Órgão Especial desta Corte considerou competentes as Câmara Criminais para apreciar recursos oriundos das decisões proferidas pelos Juízes de Direitos no âmbito dos processos referentes à Lei Maria da Penha, ainda que o objeto das medidas seja nitidamente derivado do direito de família, como no caso dos autos. O animal de estimação não se encontra com o impetrante desde o dia 08 de abril de 2013, e, não comprovado que a cadela lhe tenha sido doada, mantém-se a decisão proferida em primeiro grau. SEGURANÇA DENEGADA. (Petição Nº 70055275572, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Julgado em 13/03/2014)(TJ-RS - PET: 70055275572 RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Data de Julgamento: 13/03/2014, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 11/04/2014)

DIREITO CIVIL - RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE SEMOVENTE - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE ESTIMAÇÃO PARA A EX- CONVIVENTE MULHER–RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A POSSE DO ANIMAL – RÉU APELANTE QUE SUSTENTA SER O REAL PROPRIETÁRIO – CONJUNTO PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A CARGO DA RECORRIDA DIREITO DO APELANTE/VARÃO EM TER O ANIMAL EM SUA COMPANHIA – ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO CUJO DESTINO, CASO DISSOLVIDA SOCIEDADE CONJUGAL É TEMA QUE DESAFIA O OPERADOR DO DIREITO – SEMOVENTE QUE, POR SUA NATUREZA E FINALIDADE, NÃO PODE SER TRATADO COMO SIMPLES BEM, A SER HERMÉTICA E IRREFLETIDAMENTE PARTILHADO, ROMPENDO-SE ABRUPTAMENTE O CONVÍVIO ATÉ ENTÃO MANTIDO COM UM DOS INTEGRANTES DA FAMÍLIA –CACHORRINHO “DULLY” QUE FORA PRESENTEADO PELO RECORRENTE À RECORRIDA, EM MOMENTO DE ESPECIAL DISSABOR ENFRENTADO PELOS CONVIVENTES, A SABER, ABORTO NATURAL SOFRIDO POR ESTA – VÍNCULOS EMOCIONAIS E AFETIVOS CONSTRUÍDOS EM TORNO DO ANIMAL, QUE DEVEM SER, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, MANTIDOS – SOLUÇÃO QUE NÃO TEM O CONDÃO DE CONFERIR DIREITOS SUBJETIVOS AO ANIMAL, EXPRESSANDO-SE, POR OUTRO LADO, COMO MAIS UMA DAS VARIADAS E MULTIFÁRIAS MANIFESTAÇÕES DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, EM FAVOR DO

Page 40: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

40

RECORRENTE –PARCIAL ACOLHIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO PARA, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE PREVISÃO NORMATIVA REGENTE SOBRE O THEMA, MAS SOPESANDO TODOS OS VETORES ACIMA EVIDENCIADOS, AOS QUAIS SE SOMA O PRINCÍPIO QUE VEDA O NON LIQUET, PERMITIR AO RECORRENTE, CASO QUEIRA, TER CONSIGO A COMPANHIA DO CÃO DULLY, EXERCENDO A SUA POSSE PROVISÓRIA, FACULTANDO-LHE BUSCAR O CÃO EM FINS DE SEMANA ALTERNADOS, DAS 10:00 HS DE SÁBADO ÀS 17:00HS DO DOMINGO.SENTENÇA QUE SE MANTÉM

EMENTA: DIREITO CIVIL- RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE SEMOVENTE -SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE ESTIMAÇÃO PARA A EX-CONVIVENTE MULHER

EMENTA: RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A POSSE DO ANIMAL – RÉU APELANTE QUE SUSTENTA SER REAL PROPRIETÁRIO–CONJUNTO PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A CARGO DA RECORRIDA

EMENTA: GUARDA E VISITAS DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. SEPARAÇÃO JUDICIAL. O animal em disputa pelas partes não pode ser considerado como coisa, objeto de partilha, e ser relegado a uma decisão que divide entre as partes o patrimônio comum. Como senciente, afastado da convivência que estabeleceu, deve merecer igual e adequada consideração e nessa linha entendo deve ser reconhecido o direito da agravante, desde logo, de ter o animal em sua companhia com a atribuição da guarda alternada. O acolhimento da sua pretensão atende aos interesses essencialmente da agravante, mas tutela, também, de forma reflexa, os interesses dignos de consideração do próprio animal. Na separação ou divórcio deve ser regulamentada a guarda e visita dos animais em litígio. Recurso provido para conceder à agravante a guarda alternada até que ocorra decisão sobre a sua guarda

4.2 Personalidade dos animais

No Código Civil brasileiro não há nenhuma menção sobre a natureza

jurídica dos animais. Na qualidade de semoventes, eles têm condição de bens

móveis e podem figurar como objeto de negócios jurídicos. No ordenamento

jurídico brasileiro, uma mudança de perspectiva nesse âmbito pressupõe a

realização de reforma legislativa específica, até lá, os animais continuam como

espécies de bens móveis, apesar de ser clara a necessidade de uma

redesignação da natureza jurídica desses. Outro obstáculo nessa classificação

Page 41: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

41

é o reconhecimento de que a capacidade de sofrer do animal. Não existe nada

no rol de coisas, que as pessoas tenham obrigação legal de assegurar

existência digna, evitando sofrimento desnecessário, o que acrescenta a

importância de considerar os animais merecedores de tutela. Outra concepção

que vale a pena ser observada, avalia não apenas o valor comercial e

econômico do animal, mas também o valor afetivo. Uma mudança de paradigma traria maior conscientização da condição

de ser vivo senciente do animal. Outra solução seria assegurar efetiva tutela

dos animais sem mudar sua natureza jurídica, o significado de “coisa” precisa

ser revisto.

.Atualmente, a discussão acerca da natureza jurídica dos animais

justifica-se na medida em que se observa a tendência legislativa de

descaracterizá-los como coisas sem, entretanto, atribuir-lhes personalidade

jurídica.

Segundo Edna Cardoso Dias, um dos argumentos mais comuns para a

defesa dos animais como sujeitos de direito é o de que, assim como as

pessoas jurídicas ou morais possuem direitos de personalidade reconhecidos

desde o momento em que registram seus atos constitutivos em órgão

competente, e, consequentemente, podem comparecer em Juízo para pleitear

seus direitos, da mesma forma, os animais tornam-se sujeitos de direitos

subjetivos por força das leis que os protegem, embora não tenham capacidade

de comparecer em Juízo para pleiteá-los.

A Constituição Federal incumbiu o Poder Público e a coletividade

de proteger os animais e o Ministério Público, expressamente, recebeu a

competência legal para representá-los em Juízo, quando as leis que os

protegem forem violadas.

Os animais, embora não sejam pessoas humanas ou jurídicas,

são indivíduos que possuem direitos, tanto conferidos pela lei ou também

inatos, acima de qualquer condição legislativa. Se os direitos de uma pessoa

humana forem equiparados com os direitos do animal como indivíduo ou

espécie, verifica-se que ambos têm direito à defesa de seus direitos essenciais,

tais como o direito à vida, ao livre desenvolvimento de sua espécie, da

Page 42: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

42

integridade de seu organismo e de seu corpo, bem como o direito ao não

sofrimento.

Neste sentido, dispõe o artigo 225 da Constituição Federal de

1988:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Da interpretação do artigo 225, da Constituição federal, pode-se

afirmar que a proteção do meio ambiente é ao mesmo tempo direito e dever

fundamental do cidadão. Direito fundamental de viver em um meio ambiente

sadio e equilibrado e dever fundamental de utilizar todos os meio legítimos para

a manutenção deste ambiente por todas as gerações. Trata-se de um direito

com interação entre o homem e a natureza, a fim de se ter um relacionamento

harmonioso e equilibrado.

A faculdade assegurada pelo ordenamento jurídico a alguém de

exigir do outro uma conduta que está, por lei ou ato jurídico, obrigado a

cumprir, e tendo em vista a previsão constitucional de proibição da prática de

atos de crueldade contra animais, estes titularizam uma situação jurídica e

figuram, consequentemente, como sujeitos de direito.

A CF/88, ao elevar a proibição das práticas que submetem

animais não humanos à crueldade à categoria jurídica de norma constitucional,

veio reforçar a teoria apoiada pelos defensores dos direitos dos animais de que

os animais não humanos seriam sujeitos de direitos, ou seja, titulares de uma

situação jurídica.

Nesse sentido, Edna Cardozo Dias e Laerte Levai defendem que

os animais não humanos já são reconhecidamente sujeitos de direito perante o

ordenamento jurídico brasileiro, justamente e na medida em que a Constituição

Federal e a lei de proteção Ambiental conferem diversos direitos subjetivos aos

animais e impõe, expressamente, a vedação à crueldade (art. 225, §1º, VII,

CF/88).

Page 43: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

43

Citam-se alguns julgados para demonstrar o tema no

ordenamento jurídico brasileiro:

Ementa: DECISÃO: ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DA DÉCIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - DANOS MATERIAIS E MORAIS - AQUISIÇÃO DE ANIMAL CANINO DA RAÇA PASTOR ALEMÃO, MEDIANTE CONTRATO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA - FILHOTE QUE VEM A APRESENTAR SINTOMAS DE CINOMOSE, VINDO A ÓBITO POSTERIORMENTE - CONTAMINAÇÃO DE OUTROS ANIMAIS -INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - RECURSO QUE VERSA SOBRE QUESTÕES JÁ DECIDIDAS NO PROCESSO A RESPEITO DA QUAIS OPEROU-SE A PRECLUSÃO - SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DESPROVIDO. 1 - O reconhecimento da personalidade jurídica do canil; a incidência do Código de Defesa do Consumidor e a inversão do ônus da prova, tratam-se de questões já decididas no processo, sem recurso de qualquer das partes, estando, portanto, acobertadas pelo manto da preclusão. 2 - Extraindo-se dos elementos do processo, que o animal adoeceu horas após ter sido recebido pelo autor, vindo a óbito posteriormente, e não demonstrando os requeridos, ônus que lhes competia, por força da inversão do onus probandi, que o filhote foi comercializado em perfeitas condições de saúde, resulta evidente o dever de reparar os danos daí advindos, inclusive, pela contaminação de outros cinco animais criados pelo requerente, sendo absolutamente plausível, notadamente à míngua de prova em contrário, o contágio e, de consequência, os danos morais advindos da perda de três deles, com os quais o demandante já havia estabelecido vínculo de afeto. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1266465-8 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J. 30.04.2015) Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. PROVAS SUFICIENTES À SOLUÇÃO DO LITÍGIO. CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE. DANO MORAL. ANIMAL DOMÉSTICO. DISSENSO NO SEIO CONDOMINIAL. ASSEMBLEIA. LESÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. I. O indeferimento de prova testemunhal que objetiva demonstrar fatos irrelevantes para o julgamento da causa não traduz cerceamento de defesa e, por conseguinte, não compromete a validade constitucional da sentença. II. Se o juízo monocrático declara o encerramento da instrução e anuncia o julgamento da lide, a parte que não se rebela processualmente por meio do recurso cabível encontra descerrado o manto da preclusão quando suscita suposto cerceamento de defesa em sede de apelação. Inteligência do art. 473 da Lei Processual Civil. III. O dano moral só se emoldura juridicamente quando o ato ilícito, contratual ou extracontratual, invade e golpeia algum predicado da personalidade do ofendido, na linha do que dispõem os artigos 11 e 12 do Código Civil. IV. Os contratempos, as tribulações e os dissabores inerentes ao convívio social, aos relacionamentos pessoais e ao intercâmbio jurídico não são suficientes para caracterizar dano moral. Por mais intensos que sejam não vulneram

Page 44: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

44

diretamente os direitos da personalidade, a não ser em situações excepcionais devidamente justificadas. V. Salvo em situações excepcionais, disputas e atribulações no seio condominial geradas por dissenso sobre a permanência de animal doméstico no edifício não caracterizam lesão aos atributos da personalidade do condômino que se sente desrespeitado e, por conseguinte, não autorizam o reconhecimento de dano moral. VI. Recurso conhecido e desprovido.

5. Presença dos Animais como Apoio Social

Pesquisadores descobriram que pessoas que possuem

animais de estimação gozam de uma saúde mais saudável comparada com

pessoas que não tem animais de estimação, devido a dedicação e bons

momentos reservados para com estes, sejam cachorros, gatos, tartarugas,

aves, cavalos e outros animais de estimação.

Compreende-se por bons momentos aquele tempo dedicado ao animal

de estimação, através de caminhadas ou corridas por parques e ou ruas da

cidade. Estes gestos contribuem de forma muito positiva no humor e

principalmente na saúde de seu dono, pois ao se desligar dos problemas do

cotidiano e conectar-se ao animal de estimação ocorre o alívio de todo o

estresse acumulado durante o dia, tornando a vida mais leve e feliz.

Ao caminhar com o seu animal de estimação automaticamente o dono

terá menos chance de problemas cardíacos, evitando doenças causadas em

pessoas sedentárias, passando a se relacionar com outras pessoas que

também valorizam este tipo de lazer, e devido os cães se acostumarem com o

passeio diário e praticamente exigirem de seu dono a “voltinha” de costume,

torna-se um hábito saudável.

O contato direto com o bichinho de estimação faz com que o corpo libere

o hormônio do relaxamento, fazendo com que o hormônio do estresse seja

reduzido e é claro este relacionamento traz muitos benefícios aos animais, pois

há uma cumplicidade.

Pesquisas demonstram que essa relação entre homem e animal de

estimação resulta em uma significativa melhora psicológica e emocional nas

pessoas.

Page 45: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

45

Estudos comprovam que os bebês que convivem com animais de

estimação tendem a possuir o sistema imunológico mais resistente a alergias,

asma, resfriados e infecções de ouvido, sendo esta convivência recomendada

antes de o bebê completar os seis meses de vida, assim como também, tem

demonstrado que a interação do homem com animais de estimação pode ter

efeitos positivos na saúde e comportamento humano.

A convivência entre eles estimula o bom humor, a diversão, combate a

depressão, alivia a tensão e traz benefícios para a saúde física e psicológiga, o

que resulta num agradável relaxamento ao corpo e à mente, contribuindo para

uma melhor qualidade de vida. No “diálogo” com o bichinho de estimação, a

autenticidade de sentimentos também é exercida sem o perigo de magoar ou

ser mal interpretado.

Bichos de estimação também favorecem a aproximação entre as

pessoas e promovem mais interação da família, despertando um lado mais

sensível e carinhoso. As crianças ficam mais felizes e saudáveis,

desenvolvendo a compaixão e a empatia. Para os idosos, eles se tornam uma

boa fonte de distração, já que preenchem o tempo tendo a quem cuidar e

“conversar”.

Importante ressaltar, que novas pesquisas apontam que quando donos

de cães brincam com seus cachorros, eles experimentam o mesmo tipo de

reação hormonal que acontece com os pais ao brincarem com seus filhos. Este

hormônio é a ocitocina, que também pode ser chamado de hormônio do “amor

incondicional”. É essa explosão hormonal que as pessoas sentem quando se

apaixonam e é o mesmo que faz o coração derreter quando se vê gatinhos,

cachorros e bebês (FARACO, 2014b).

Os animais contribuem ainda no relacionamento entre crianças autistas

com outras crianças não autistas, pois ao verem as crianças brincarem com os

animais, as autistas tendem a brincar, criando um elo sentimental e

desenvolvendo a integralização com outras crianças e animais.

Segundo Paulo de Tarso Lima, coordenador da medicina integrativa do

“Hospital Israelita Albert Einstein”, em São Paulo: “permite às pessoas

internadas receber a visita de seu “pet”, devido a presença fazer com que o

paciente se esqueça de suas preocupações e foque no presente”. Restando

Page 46: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

46

comprovado o benefício da recuperação mais rápida dos pacientes que

possuem animais de estimação.

Os animais podem servir também como catalisadores sociais, como diz

Santos (2008), pois aumentariam a ocorrência de interações sociais podendo

elevar ou reforçar as relações entre as pessoas. “Em algumas pesquisas se

conclui que o animal age como um facilitador de contato inicial, “quebrando o

gelo”, removendo inibições em conversas casuais e provendo um tópico neutro

e seguro de conversação.” (p. 25).Os donos de cães conversam e interagem

mais com as outras pessoas ao passear com seu cão, contribuindo assim para

elevar o seu bem estar.

Page 47: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta obra contemplou a questão da família multiespécie como nova

configuração familiar com embasamento teórico partindo da relação

multiespécie, ou seja, da relação entre seres de diferentes espécies e mais

especificamente, o convívio das pessoas com seus animais de estimação

enquanto vínculo familiar.

Ao finalizar esse trabalho fica mais clara a compreensão dessa nova

entidade familiar que legitima a relação interespécies como uma relação

familiar baseada nos laços de afeto e no bem-estar que o animal

comprovadamente traz aos humanos e vice-versa.

As novas configurações familiares são descritas como uma forma de

ligação afetiva entre os sujeitos em que não necessariamente deve existir

vínculo sanguíneo, pois os vínculos são de laços emocionais, e pode existir ou

não uma forma de exercício da parentalidade, que, no entanto, não é a mesma

dos padrões tradicionais; estas já existiam há muito tempo, porém só se

tornaram possíveis de serem vividas desde o modelo atual de afetividade,

quando os membros destas novas famílias passaram a se relacionar a partir

dos laços de intimidade.

A base de uma verdadeira família é o amor. O amor e a lealdade que os

animais têm com os seus humanos fizeram com que essa aproximação tornar-

se relevante no mundo jurídico atual.

As condições específicas de vida nos centros urbanos verticalizados,

torna-se possível compreender a elevação do status dos animais de estimação,

que passaram de propriedade humana a membros das famílias.

Baseando-se nisto o presente trabalho abordou, o conceito de família,as

novas configurações familiares e a formação desse novo modelo de família, o

reconhecimento dos animais de estimação como membros da família, a

Page 48: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

48

construção de vínculos familiares entre humanos e os seus animais de

estimação.

Foi possível entender que de fato as configurações familiares de hoje

não são as mesmas de antigamente, apesar de esta última ter deixado

resquícios para a família de hoje. Assim como as crianças conquistaram seu

espaço junto à família no decorrer da Idade Média; nos dias de hoje os animais

de estimação também vêm adquirindo seu espaço; espaço este que não é

conquistado, mas sim dado a eles pelos seres humanos. Então, estes novos

protótipos de formação familiar que mesclam a relação e o convívio entre

humanos e animais tem se tornado cada vez mais presente em nossa

sociedade.

Page 49: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

49

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. L., ALMEIDA, L. P., BRAGA, P. F. S., Aspectos Psicológicos na Interação Homem-Animal de Estimação.Minas Gerais: Universidade Federal de Uberlândia, 2009. Berzins, M. A. V. S. (2000). Velhos, cães e gatos: interpretação de uma relação (Dissertação de Mestrado em Gerontologia). Pontificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. BERZINS, M.A., Velhos, cães e gatos: interpretação de uma relação. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) -Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000 BRASIL (1934). Decreto nº 24645, de 10 de julho de 1934. Dispõe sobre medidas de proteção aos animais. Presidência da República. BRASIL, Samantha da Silva (2008). ‟Festa Boa Para Cachorro”: relações entre humanos e não humanos no ambiente urbano. 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, Porto Seguro, 2008. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 01 jan. 2018. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>Acesso em: 01 jan. 2018 CALMON DE OLIVEIRA, Samantha Brasil. 2006. Sobre Homens e Cães: um estudo antropológico sobre afetividade, consumo e distinção. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ CANANI, Aline da Silva & FARACO, Ceres Berger (2010). Apego entre casais sem filhos e seus animais de companhia. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) - Faculdades Integradas de Taquara. Disponível em: https://psicologia.faccat.br/moodle/pluginfile.php/197/course/section/98/aline.pdf. Acessado em julho de 2017 DESSEN, M. A. & COSTA JUNIOR, A. L. (orgs.). (2005). A ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed.

Page 50: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP ...fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia Fesp... · ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO

50

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 3. ed. São Paulo: Revista dosTribunais, 2006. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 20. ed. São Paulo:Saraiva, 2005. v. 5 DUKES, H.H., 1973, Fisiologia dos Animais Domésticos.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 840 p. FARIAS, Luciano Chaves de; ROSENVAL, Nelson. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008. FREITAS, Renata Duarte de Oliveira. Animais Não Humanos: os Novos Sujeitos de Direito.Ética Animal. Revista Brasileira de Direito Animal. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/viewFile/9142/6589> Acesso em: 01 jan. 2018. FÉRES-CARNEIRO, T (org). (2003). Família e casal: arranjos e demandas contemporâneas. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Ed. Loyola.

FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE (2015). Brasileiros têm mais cachorros que crianças, segundo pesquisa do IBGE. 02/06/2015. Disponível em: http://f5.folha.uol.com.br/bichos/2015/06/1636937-brasileiros-tem-mais-cachorros-que-criancas-segundo-pesquisa-do-ibge.shtml Acessado em janeiro de 2018 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; GUERRA, Leandro Santos. Função Social da Família. In GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da (coord.). Função Social no Direito Civil. São Paulo, Atlas, 2007. SANTOS, Isabella Bertelli Cabral dos. Por que gostamos de nossos cachorros? In: Psique Ciência & Vida. São Paulo: Editora Escala, 2008, v.32, p.20-25. VEJA (2015). A casa agora é deles. Edição 10 de junho de 2015, pp. 68-77. VEJA SP (2014). Playgrounds caninos: cachorródromos viram moda em condomínios http://vejasp.abril.com.br/blogs/bichos/2014/03/cachorrodromo-cachorros-condominio/