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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO GOVERNANÇA CORPORATIVA SILVANO FRANÇA A RELEVÂNCIA DOS PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PREVISTOS NA ITG 1000 PARA A GOVERNANÇA CORPORATIVA E PARA O PROCESSO DE ANÁLISE DE CRÉDITO BANCÁRIO DESTINADO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE BRASILEIRAS. SÃO PAULO 2016

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO – GOVERNANÇA

CORPORATIVA

SILVANO FRANÇA

A RELEVÂNCIA DOS PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PREVISTOS NA ITG 1000

PARA A GOVERNANÇA CORPORATIVA E PARA O PROCESSO DE ANÁLISE DE

CRÉDITO BANCÁRIO DESTINADO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE BRASILEIRAS.

SÃO PAULO

2016

SILVANO FRANÇA

A RELEVÂNCIA DOS PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PREVISTOS NA ITG 1000

PARA A GOVERNANÇA CORPORATIVA E PARA O PROCESSO DE ANÁLISE DE

CRÉDITO BANCÁRIO DESTINADO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE BRASILEIRAS.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional

em Administração – Governança Corporativa – do Centro

Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas como

requisito para obtenção do Título de Mestre em Administração

(com ênfase profissional em Governança Corporativa)

Orientador: Prof. Dr. Fernando de Almeida Santos

SÃO PAULO

2016

FICHA CATALOGRÁFICA

França, Silvano.

A relevância dos pronunciamentos contábeis previstos na ITG

1000 para a governança corporativa e para o processo de análise de

crédito bancário destinado às microempresas e empresas de

pequeno porte brasileiras / Silvano França. – São Paulo: S. França,

2016.

117 f. : il. ; 30 cm

Orientador: Fernando de Almeida Santos

Dissertação (Mestrado) – Faculdades Metropolitanas Unidas,

Mestrado Profissional em Administração – Governança

Corporativa, 2016.

1. Demonstrações Financeiras. 2. Crédito. 3. Governança.

SILVANO FRANÇA

A RELEVÂNCIA DOS PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PREVISTOS NA ITG 1000

PARA A GOVERNANÇA CORPORATIVA E PARA O PROCESSO DE ANÁLISE DE

CRÉDITO BANCÁRIO DESTINADO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE BRASILEIRAS

Data de Aprovação: 07 de dezembro de 2016.

Banca Examinadora:

Presidente: Prof. Dr. Fernando de Almeida Santos

FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas

Membro Externo: Prof. Dr. Ricardo Di Bartolomeo

Centro Paula Souza – FATEC IPIRANGA

Membro Interno: Prof. Dr. Luiz Felipe Quel

FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas

DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação à minha esposa Ivone, pelo apoio e compreensão, à minha

filha Carolina, pela motivação.

Dedico também aos meus pais, pelo incentivo incondicional e às minhas irmãs pela

confiança.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Fernando de Almeida Santos, por ter me acolhido como orientando, pelas

observações riquíssimas que muito contribuiu para o resultado deste trabalho.

Aos Professores Drs. Luiz Felipe Quel e Ricardo Di Bartolomeo, por terem aceito o

convite para participarem da banca e pelas valorosas críticas e contribuições que ajudaram a

engrandecer este trabalho.

Ao amigo e Prof. Me. Ricardo Lerche Eleutério, por ter me encaminhado para a

profissão de docente, o que me serviu de incentivo para o curso de mestrado, e por estar

sempre disposto a colaborar.

vii

RESUMO

Este estudo tem por objetivo identificar a relação entre as demonstrações financeiras

obrigatórias previstas na ITG 1000, as boas práticas de Governança Corporativa e o processo

de análise de risco de crédito bancário adotado pelas instituições financeiras, quando da

análise de propostas de crédito destinado às microempresas e empresas de pequeno porte

brasileiras. Trata-se de um estudo bibliográfico e dedutivo, que foi realizado com o propósito

de apresentar uma proposta complementar à análise de risco de crédito destinado às MEs e

EPPs, a partir dos indicadores de rentabilidade, atividade, endividamento e, principalmente,

da liquidez ponderada, bem como as evidências das práticas da Governança Corporativa que

podem ser comprovadas por meio da adoção das demonstrações financeiras. Os indicadores

citados, extraídos de tais demonstrações, podem corroborar o compromisso dos gestores com

a perpetuidade da empresa, zelando por sua segurança e liquidez financeira, além da sua

responsabilidade socioambiental, contribuindo, assim, para o desenvolvimento sustentável da

economia local e nacional.

Palavras-chave: Demonstrações Financeiras, Crédito, Governança Corporativa,

Microempresa, Empresas de pequeno porte.

viii

ABSTRACT

The purpose of this study is to identify the nexus between the mandatory financial statements

provided by the ITG 1000, good corporate governance habits and the bank credit risk analysis

process adopted by financial institutions, when analyzing credit proposals for

Microenterprises and small Brazilian companies. It is a bibliographic and deductive study,

which was carried out with the purpose of presenting a complementary proposal to the credit

risk analysis for ME's and EPP's, based on indicators of profitability, activity, indebtedness

and primarily weighted liquidity, as well as Evidences of Corporate Governance practices,

which can be proven through the introduction of the financial statements. The aforementioned

indicators, extracted from such statements, can corroborate the managers' commitment to the

perpetuity of the company, ensuring their safety and financial liquidity, as well as their socio-

environmental responsibility, thus contributing to the sustainable development of the local

and national economy.

Keywords: Financial Statements, Credit, Corporate Governance, Microenterprise, Small

Business.

ix

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Princípios globais de Governança Corporativa ....................................................... 12

Quadro 2 -Teoria da Agencia - Axiomas.................................................................................. 16

Quadro 3 - Estrutura do balanço patrimonial ........................................................................... 33

Quadro 4 - Representação Gráfica do D.R.E............................................................................ 34

Quadro 5 - Notas Explicativas às Demonstrações Financeiras ................................................ 36

Quadro 6 - Plano de Contas Simplificado - 4 níveis ................................................................ 37

Quadro 7 - Comparativo dos Princípios de GC e Princípios Contábeis ................................... 40

Quadro 8 – Índices de Liquidez ................................................................................................ 46

Quadro 9 - Os 6 Cs do Crédito ................................................................................................. 57

Quadro 10 - Estrutura da matriz de crédito .............................................................................. 59

Quadro 11 - Critérios para classificação do risco de crédito empresarial ................................ 61

Quadro 12 - Resultado dos Indicadores de Rentabilidade ........................................................ 68

Quadro 13 - Indicador de Endividamento Geral ...................................................................... 69

Quadro 14 - Indicador do Grau de Endividamento .................................................................. 70

Quadro 15 - Composição do Endividamento ........................................................................... 71

Quadro 16 - Indicadores tradicionais de Liquidez.................................................................... 74

Quadro 17 – Fórmula para cálculo da Liquidez Imediata Ponderada ...................................... 75

Quadro 18 - Fórmula para Cálculo da Liquidez Seca Ponderada............................................. 77

Quadro 19 - Indicador de Liquidez Corrente Ponderada .......................................................... 78

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Os 5 Ps da governança corporativa .......................................................................... 11

Figura 2 – Modelo de Governança Corporativa Universal ...................................................... 14

Figura 3 - Intermediação Financeira ......................................................................................... 52

Figura 4 - Indicadores de Atividades ........................................................................................ 72

Figura 5 - Estrutura de Capital da DM9 – exercício 2015........................................................ 80

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valor Agregado gerado pelas MEs e EPPs por região (em R$ milhões) ................ 23

Tabela 2 - Número de MEs e EPPs, por atividade econômica, por Região (em %) ................ 24

Tabela 3 - Pessoal ocupado nas MEs e EPPs, por atividade econômica, por região (em %). .. 24

Tabela 4 - Remuneração nas MEs e EPPs, por atividade econômica, por região (em %). ...... 25

Tabela 5 - Disponibilidades e Passivo Circulante Ponderados ................................................ 76

Tabela 6 - Ativo e Passivo Circulantes Ponderados ................................................................. 77

Tabela 7 - Resumo DRE - 2014................................................................................................ 82

Tabela 8 - Resumo DRE 2014 e 2015 com análise horizontal ................................................ 83

xii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADR´S - American Depositary Receipts

BP - Balanço Patrimonial

BACEN - Banco Central do Brasil

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BM&FBOVESPA - Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valores de São Paulo

CDB - Certificados de Depósitos Bancários

CDI - Certificados de Depósitos Interfinanceiros

CEO - Chief Executive Office

CC - Código Civil

CVM - Comissão de Valores Mobiliários

CA - Conselho de Administração

CFC - Conselho Federal de Contabilidade

CMN - Conselho Monetário Nacional

CRC - Conselho Regional de Contabilidade – São Paulo

COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CPP - Contribuição Patronal Previdenciária

CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

DRE - Demonstração de Resultado do Exercício

DFC - Demonstrativo de Fluxo de Caixa

EPP - Empresa de Pequeno Porte

FGV - Fundação Getúlio Vargas

FGTS - Fundo de Garantia por tempo de Serviço

GC - Governança Corporativa

IE - Imposto de Exportação

II - Imposto de Importação

IRPJ - Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica

IOF - Imposto sobre operações financeiras

ICMS - Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações

de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação

IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados

ISS - Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

xiii

ITG 1000 - Interpretação Técnica Geral 1000

LTN - Letras do Tesouro Nacional

MPE´S - Micro e Pequenas Empresas

MEI - Micro Empreendedor Individual

ME - Microempresa

NTN - Notas do Tesouro Nacional

NE - Notas Explicativas

PIB - Produto Interno Bruto

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa

SELIC - Sistema Especial de Liquidação e Custódia

SFH - Sistema Financeiro da Habitação

SFN - Sistema Financeiro Nacional

VA - Valor Adicionado

VBP - Valor Bruto da Produção

xiv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1

1. GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................................................................................... 10

1.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA: TEORIA DA AGÊNCIA ...................................... 15

1.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA: CUSTO DE AGÊNCIA ........................................ 17

1.3 GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL ............................................................ 18

1.4 INSTITUTO BRASILEIRO de GOVERNANÇA CORPORATIVA – IBGC .............. 21

1.5 A GOVERNANÇA CORPORATIVA NA MICROEMPRESA (ME) E EMPRESA DE

PEQUENO PORTE (EPP) ............................................................................................................. 22

2. A CONTABILIDADE NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS BRASILEIRAS............ 28

2.1 LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 – LEI GERAL DA MICRO E PEQUENA

EMPRESA ....................................................................................................................................... 29

2.2 NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE TÉCNICAS GERAIS – NBC TG

32

2.2.1 Balanço Patrimonial - BP ........................................................................................... 32

2.2.2 Demonstração de Resultado do Exercício – DRE ..................................................... 33

2.2.3 Notas Explicativas - NE .............................................................................................. 34

2.2.4 Plano de Contas Simplificado ....................................................................................... 36

2.3 PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE .............................................................................. 38

2.3.1 Princípio da Entidade ................................................................................................. 38

2.3.2 Princípio da Continuidade .......................................................................................... 39

2.3.3 Princípio da Realização .............................................................................................. 39

2.3.4 Princípio do Custo como Base de Valor .................................................................... 39

2.3.5 Princípio da Confrontação das despesas com as receitas ........................................ 39

2.3.6 Princípio do denominador comum monetário .......................................................... 39

3. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS .......................................................... 42

3.1 INDICADORES DE RENTABILIDADE ......................................................................... 42

3.1.1 Retorno sobre o Ativo (ROA) ..................................................................................... 43

3.1.2 Retorno sobre as Vendas (RSV) ................................................................................. 43

3.1.3 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL) ............................................................. 43

3.2 INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO ........................................................................ 44

xv

3.2.1 Participação de Capital de Terceiros sobre os Recursos Totais .............................. 44

3.2.2 Grau de Endividamento .............................................................................................. 44

3.2.3 Composição do Endividamento .................................................................................. 44

3.3 INDICADORES DE ATIVIDADE .................................................................................... 45

3.3.1 Giro e Prazo médio de renovação dos Estoques ....................................................... 45

3.3.2 Prazo Médio de Pagamentos ......................................................................................... 45

3.3.3 Prazo Médio de Recebimentos ...................................................................................... 46

3.4 INDICADORES DE LIQUIDEZ ....................................................................................... 46

3.5 ANÁLISE VERTICAL ....................................................................................................... 47

3.6 ANÁLISE HORIZONTAL ................................................................................................. 47

4. CONCESSÃO DE CRÉDITO POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS ....... 48

4.1 ORGÃOS DE REGULAÇÃO, AUTO REGULAÇÃO, FISCALIZAÇÃO E

PARTICIPANTES DO MERCADO ............................................................................................. 48

4.1.1 Conselho Monetário Nacional – CMN ....................................................................... 48

4.1.2 Banco Central do Brasil – BACEN ............................................................................ 49

4.1.3 Bancos Múltiplos ......................................................................................................... 49

4.2 MERCADO FINANCEIRO E INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA ............................. 50

4.2.1 Mercado Monetário ..................................................................................................... 50

4.2.2 Mercado de Crédito .................................................................................................... 51

4.2.3 Intermediação Financeira ........................................................................................... 52

4.3 SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE CRÉDITO ........................................................ 53

4.4 POLÍTICA E ANÁLISE DE CRÉDITO........................................................................... 53

4.4.1 Tipos de Crédito .......................................................................................................... 54

4.4.2 Políticas de Investimento em Crédito ........................................................................ 54

4.4.3 Análise de crédito para MEs e EPPs ......................................................................... 55

4.5 AVALIAÇÃO DE RISCO DE CRÉDITO ........................................................................ 56

4.5.1 Os Cs do crédito ........................................................................................................... 56

4.6 CLASSIFICAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO – RATING ............................................ 60

4.6.1 O processo de avaliação .............................................................................................. 60

5. METODOLOGIA ....................................................................................................................... 62

5.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA .................................................................................. 62

5.2 CONCEITOS OPERACIONAIS ....................................................................................... 62

5.2.1 Microempresas e Empresas de Pequeno Porte ......................................................... 62

xvi

5.2.2 Demonstrativos contábeis obrigatórios para as Microempresas e Empresas de

Pequeno Porte. ............................................................................................................................. 64

5.3 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................ 64

5.3.1 População e Amostra da Pesquisa ............................................................................. 64

5.3.1.1 Seleção da empresa objeto de estudo de caso ............................................................ 64

5.4 TIPO, INSTRUMENTO E ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS ........................ 65

5.4.1 Tipo de dados coletados .............................................................................................. 65

5.4.2 Instrumentos de coleta de dados ................................................................................ 66

5.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS .................................................... 66

6. ESTUDO DE CASO .................................................................................................................... 68

6.1 INDICADORES DE RENTABILIDADE ......................................................................... 68

6.2 INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO ........................................................................ 69

6.2.1 Indicador de Endividamento Geral ........................................................................... 69

6.2.2 Indicador do Grau de Endividamento ....................................................................... 70

6.2.3 Indicador de Composição do Endividamento ........................................................... 71

6.3 INDICADORES DE ATIVIDADE .................................................................................... 72

6.4 INDICADORES DE LIQUIDEZ ....................................................................................... 73

6.4.1 Indicadores Tradicionais de Liquidez ....................................................................... 73

6.4.2 Indicadores ponderados de liquidez .......................................................................... 75

6.4.2.1 Indicador de Liquidez Imediata Ponderada ............................................................. 75

6.4.2.2 Indicador de Liquidez Seca Ponderada ..................................................................... 76

6.4.2.3 Indicador de Liquidez Corrente Ponderada ............................................................. 78

6.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO .................................................................................................. 79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 85

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 88

ANEXO 1 - Modelo de Carta de Responsabilidades da Administração ............................................... 93

APÊNDICE – A – BALANÇO PATRIMONIAL – ATIVO ................................................................ 96

APÊNCIDE – B– BALANÇO PATRIMONIAL – PASSIVO ............................................................. 97

APÊNCIDE – C– DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO .................................... 99

1

INTRODUÇÃO

No decorrer do século 20, a economia de vários países tornou-se cada vez mais

integrada à dinâmica do comércio internacional, em função da expansão das transações

econômicas em escala global. Neste contexto, verifica-se o início de um processo de

profundas transformações nas companhias, uma vez que o acelerado ritmo de crescimento de

suas atividades exigiu uma readequação de sua estrutura de controle, promovendo, entre

outras mudanças, a separação entre a propriedade e a gestão empresarial.

É neste cenário que surgem os primeiros debates sobre a Governança Corporativa com

foco nos conflitos entre a propriedade desorganizada e a divergência entre os interesses dos

sócios, executivos e o melhor interesse da empresa. Logo, a preocupação da GC é criar um

conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de

assegurar que tais interesses sejam atendidos.

Esta pesquisa surgiu do entendimento de que as boas práticas de GC também podem

ser aplicadas às Microempresas (MEs) e Empresas de Pequeno Porte (EPPs) brasileiras.

Dificilmente tais serão capazes de constituir uma estrutura tal qual a recomendada pelo IBGC

– Instituto Brasileiro de Governança Corporativa –, primeiramente por não haver a real

necessidade em função de seus portes, mas, principalmente, por suas características e também

pelo custo envolvido. Parte-se da presunção de que estas, empiricamente, adotam alguns dos

princípios de GC, mas não o fazem formalmente, muito provavelmente por desconhecimento

dos gestores e talvez por não serem exigidas por parte dos stakeholders. Por isso, muitas

vezes, recebem tratamentos padronizados por parte de fornecedores, instituições financeiras

bancárias e prestadores de serviços, entre outros, ficando expostas ao risco de cerceamento de

suas capacidades, principalmente no que se refere à capacidade de captação de recursos

financeiros.

Considera-se relevante a temática em função da importância destes seguimentos de

empresas para a economia nacional, conforme pesquisas desenvolvidas pelo IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), entre outros, mas, também, pela evolução natural dos

processos de gestão empresarial onde, independente do porte do negócio, as diversas partes

interessadas esperam uma postura equânime dos proprietários e gestores. A adoção de padrões

2

contábeis previstos para empresas destes portes irão corroborar o propósito de uma gestão

orientada para a transparência, que por sua vez validará um dos pilares da GC; se estes forem

considerados no processo de análise de risco de crédito, principalmente por parte das

instituições financeiras bancárias brasileiras, espera-se que venha a contribuir positivamente

para a decisão e também reverter-se em algum tipo de benefício, por exemplo, condições

contratuais diferenciadas em relação a uma empresa que não os adota.

A implantação de boas práticas de GC, além de oferecer a clareza das ações da

administração, permite às várias partes interessadas melhores condições de avaliação de riscos

implícitos e explícitos no desenvolvimento da empresa.

Levando-se em consideração os princípios da transparência e prestação de contas

(accountability), que são dois dos pilares da GC, infere-se que as MEs e EPPs, por meio das

demonstrações financeiras previstas na ITG 1000 (Interpretação Técnica Geral- 1000)

atendem ao que parece ser uma das principais preocupações dos stakeholders, principalmente

as instituições financeiras bancárias, no processo de análise de risco de crédito, que são, em

última análise, um dos principais fomentadores de recursos às empresas destes portes.

Delimitação do tema: O objetivo desta pesquisa consiste em identificar a

relação das Demonstrações Financeiras (DFs) previstas pela ITG 1000, com os

princípios básicos da GC e como poderiam ser aplicadas nos processos de

análise de risco de crédito das instituições financeiras bancárias, ao avaliarem o

risco de crédito destinado às MEs e EPPs.

A pesquisa considera que estudos realizados por organismos especializados inferem

que a criação de novas MEs e EPPs, em todo o país é muito importante para o

desenvolvimento econômico. Concluem também ser possível que o empreendedor, para

viabilizar o negócio, necessite de apoio financeiro de terceiros, normalmente proveniente de

fornecedores e instituições financeiras bancárias. Estes, por sua vez, buscam obter

informações acerca do tomador de crédito e para tanto se utilizam de ferramentas que são

comuns à grande maioria das instituições que atuam no mercado financeiro e, também, por

empresas prestadoras de serviços de informações cadastrais como Serasa Experian e Equifax

Brasil, dentre outras.

Considerando que a concedente de crédito se utiliza de várias informações para

embasar sua decisão, o presente estudo também resume as principais práticas adotadas para

3

análise das DFs, em especial os indicadores de atividade, rentabilidade, endividamento e de

liquidez extraídos do Balanço Patrimonial (BP) e Demonstrativo de Resultados do Exercício

(DRE), que não são costumeiramente avaliados nos processos de análise de risco de crédito

destinado às MEs e EPPs, principalmente nas instituições financeiras bancárias brasileiras.

Uma das principais características das MEs e EPPs é a estrutura administrativa e

operacional enxuta. Na maioria das vezes são empresas familiares, com recursos financeiros

mais limitados do que instituições maiores. Isso impossibilita a instalação de uma estrutura de

GC nos moldes sugeridos pelo IBGC compreendendo: Conselho de Administração, Conselho

Fiscal, Auditoria Independente, entre outros. Porém, não estão desobrigadas de elaborar as

demonstrações contábeis básicas considerando as exigências da ITG-1000, que é uma Norma

aprovada pela Resolução CFC 1.418/12 e contempla os demonstrativos financeiros

específicos e simplificados para as MEs e EPPs. É possível que outros componentes da GC,

citados pelo Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa (CMPGC) possam ser

contemplados pelas MEs e EPPs, porém a pesquisa se limitará ao estudo sobre a Norma, pois

considera que tais demonstrativos, segundo o CFC (Conselho Federal de Contabilidade), são

obrigatórios e possível as empresas com este perfil cumprirem as exigências.

A ITG-1000 exige a elaboração do Plano de Contas Simplificado, conforme modelo

proposto pela Norma, além de Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício

e Notas Explicativas. Prevê ainda que o contabilista deve obter Carta de Responsabilidade da

administração da empresa para a qual presta serviços (modelo apresentado no Anexo 1). O

objetivo da carta é proteger o contabilista no que se refere a sua responsabilidade pela

escrituração contábil, separando e distinguindo das responsabilidades da administração da

entidade.

A situação-problema que se apresenta consiste no fato de que as DFs se

constituem em um importante banco de dados de informações econômico-

financeiras das entidades empresariais de todos os portes. Especificamente no

caso das MEs e EPPs, normalmente são relegados a segundo plano pelos

gestores e demais stakeholders, muitas vezes por desconhecimento dos

primeiros e, pelos segundos, por apresentarem algum grau de assimetria das

informações. No caso específico das instituições financeiras bancárias, ao

analisarem um pedido de linha de crédito originado em uma ME ou EPP, não

levam em consideração em sua análise de risco de crédito a evidência da

4

capacidade de pagamento da pretendente e para tanto se baseiam em qual

indicador financeiro expresso pelas DFs? Esta falta de análise se deve ao fato

de muitas empresas não possuírem as DFs, apesar de a ITG 1000 e o Código

Civil Brasileiro, lei nº 10.406/2002, nos artigos que seguem, obrigarem a

elaboração das mesmas:

artigo 1020: “os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas

justificadas de sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem

como o balanço patrimonial e o resultado econômico”;

artigo 1065: “ao término de cada exercício social, proceder-se-á à elaboração do

inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico”; e

artigo 1179: “o empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um

sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme

de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar

anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico”.

As problematizações da pesquisa consistem em: a) quais indicadores poderiam

contribuir para a análise de risco de crédito e com a GC das empresas?; b) é possível

propor a exigência das DFs pelas instituições financeiras bancárias na análise de risco

para concessão de crédito?

Os princípios norteadores da GC são: transparência, equidade, prestação de contas

(accountability) e responsabilidade corporativa. A transparência consiste em disponibilizar

informações que sejam do interesse dos stakeholders e não simplesmente aquelas exigidas por

leis ou regulamentos. Surge então a contabilidade, como ferramenta indispensável na

elaboração das demonstrações econômico-financeiras, para apresentar aos interessados os

resultados obtidos pela empresa e, no caso do crédito, poder comprovar sua capacidade de

pagamento para o compromisso assumido, considerando os princípios contábeis que são:

entidade; continuidade; oportunidade; registro pelo valor original; objetividade; competência

e o da prudência.

O objetivo geral desta pesquisa é verificar a possibilidade de utilização das DFs

no processo de análise de risco de crédito por parte das instituições financeiras

bancárias brasileiras na concessão de crédito às MEs e EPPs. Este objetivo foi

desenvolvido por considerar que a concessão de crédito permite a perpetuidade das

empresas, além do fato de que ferramentas para analisar crédito possibilitam melhor

5

gestão da GC, pois os stakeholders também podem utilizá-las para avaliar a

capacidade de pagamento da empresa.

A utilização das DFs se deve ao fato de que os instrumentos contábeis

fundamentais para a Gestão e para a GC, atendem aos Princípios Contábeis, tais

como clareza, prudência e essência sobre a forma da entidade, e por possibilitarem

uma maior segurança na análise financeira e na perenidade institucional, conforme

se pode constatar pelas pesquisas.

Os objetivos específicos desta pesquisa são:

1. Identificar relevantes indicadores econômico-financeiros considerados no

processo de análise de risco de crédito bancário que podem ser destinados às

MEs e EPPs;

2. Demonstrar a importância dos indicadores de rentabilidade, endividamento,

atividade e liquidez, para análise da capacidade de pagamento das empresas,

destacando-se a liquidez ponderada na análise da capacidade de pagamento das

MEs e EPPs.

3. Elaborar uma proposta de análise complementar de risco de crédito conforme

as exigências legais das DFs para MEs e EPPs.

As premissas que se apresentam são:

1. É relevante que as DFs exigidas pela ITG 1000 façam parte do processo de

gestão das MEs e EPPs, principalmente as NEs, que têm por objetivo

esclarecer questões que não são totalmente explicáveis por meio do BP e do

DRE.

2. As instituições financeiras bancárias podem adotar as DFs no processo de

análise de risco de crédito, bem como as evidências das práticas de GC ao

analisarem as propostas de crédito oriundas de MEs e EPPs, desde que sejam

confiáveis.

3. É relevante se desenvolver um Código de GC especifico para MEs e EPPs,

respeitando naturalmente as limitações impostas a estes portes de empresa, por

diversos fatores, entre eles o financeiro e de estrutura administrativa.

Justificativa: de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena

Empresa – SEBRAE – (2015), no Brasil existem 8,9 milhões de estabelecimentos

destes portes. Em 2011 foram responsáveis pela geração de 27% do Produto Interno

Bruto (PIB) brasileiro, algo em torno de R$ 599 bilhões (valores à época). Quando

6

analisada setorialmente, a participação das MEs e EPPs no comércio representou

53,4% do PIB do setor; na indústria, a participação foi de 22,5%; e no setor de

serviços ficou em 36,3%, no mesmo período. A pesquisa destaca, ainda, que em

relação à geração de emprego e renda, as empresas destes portes responderam por

52% dos postos de trabalho com carteira assinada e por 40% da massa salarial.

Segundo conclusões da pesquisa os resultados positivos são decorrentes de três

fatores:

a. mudanças nas regras do Supersimples (regime tributário);

b. aumento da escolaridade da população;

c. ampliação do mercado consumidor em função do crescimento da classe média

(classe C).

O IBGC (2015) registra em seu Código das Melhores Práticas de GC: “este código foi

desenvolvido com foco em empresas...” (p.14). O Código (p. 18) destaca, ainda, que “Convém

enfatizar a importância dos princípios básicos da boa governança corporativa, pois estão por trás dos

fundamentos e das práticas deste Código e aplicam-se a qualquer tipo de organização, independentemente de

porte, natureza jurídica ou tipo de controle” (grifo nosso). Contudo, o mesmo órgão não

disponibilizou, até o momento, um Código de boas práticas específico para MEs e EPPs, o

que seria louvável, visto que estas são marcadas por algumas particularidades em relação às

demais empresas, haja vista a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei Complementar nº

123/2006). A referida lei estabelece, entre vários outros benefícios, que as MEs e EPPs terão

tratamento diferenciado para acesso ao crédito e capitalização.

Presume-se então que as instituições financeiras bancárias e os demais stakeholders

deveriam observar o alinhamento entre os preceitos da Lei Complementar 123/2006 e a ITG

1000, adaptando-se às novas normas para verificar a capacidade de pagamento das empresas,

sendo esta é a inovação da presente pesquisa. Por exemplo, aspectos como a não

obrigatoriedade legal da elaboração do fluxo de caixa como fator limitante, porém a

obrigatoriedade legal da elaboração do fluxo de caixa como fator limitante, porém a

obrigatoriedade de elaboração de BP, DRE e NE. Entre as DFs o maior desconhecimento dos

empresários, pelo que se observa por meio da experiência do pesquisador, é a necessidade de

elaboração das NEs.

As NEs se justificam para as MEs e EPPs, pois com as mudanças promovidas pela

introdução da harmonização internacional, que consiste na adoção de padrões mundiais de

apresentação das demonstrações contábeis, é comum a mudança de métodos e técnicas

7

contábeis, tais como a reavaliação de ativos. As NEs são fundamentais para explicar tais

mudanças e possibilitar a comparabilidade entre períodos.

Assim, este estudo se justifica pela contribuição que poderá gerar às MEs e EPPs

brasileiras no sentido de se organizarem administrativamente de forma que isso seja

perceptível não só às instituições financeiras, mas a todos os demais interessados tais como,

empregados, fornecedores, governos, sócios investidores, comunidade em geral.

Os conceitos de microempresa e de empresa de pequeno porte utilizados para pesquisa

foram os definidos pela Lei Complementar nº 123/2006, atualizada:

Microempresa – ME –: é toda sociedade empresária, sociedade simples, empresa

individual de responsabilidade limitada e o empresário individual, que alcançar,

em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos

e sessenta mil reais).

Empresa de Pequeno Porte – EPP –: é aquela que registrar, em cada ano-

calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$

3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), sendo que a partir de 2012 foi

implementado um limite de receita com exportação de R$ 3,6 milhões. Desta

forma, a EPP pode alcançar uma receita de até R$ 7.200.000,00 (sete milhões e

duzentos mil reais), desde que não exceda os limites de R$ 3,6 milhões para os

mercados interno e externo, individualmente.

Pesquisa realizada pelo IBGE (2001) aponta as principais características das MEs e

EPPs, entre as quais se destacam:

baixa intensidade de capital;

altas taxas de abertura e encerramento, ou seja, demografia elevada, em que pese

estes números apresentarem significativas melhoras nas últimas pesquisas

divulgadas pelo SEBRAE;

forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão-de-obra

ocupada nos negócios;

poder decisório centralizado;

estreito vínculo entre proprietários e as empresas, não se distinguindo,

principalmente em termos contábeis e financeiros, pessoa física e jurídica;

registros contábeis pouco adequados;

8

baixo investimento em inovação e tecnologia;

maior dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro.

Contudo, guardadas as particularidades deste importante segmento de empresas, os

princípios básicos da GC – Transparência, Equidade, Prestação de Contas e Responsabilidade

Corporativa – são aplicáveis a qualquer tipo de organização.

As práticas contábeis vêm ratificar, de alguma forma, os princípios de GC,

principalmente aqueles relacionados à transparência e prestação de contas, cuja finalidade é

fornecer controles e informações sobre a composição do patrimônio e suas variações, com o

objetivo de prover aos usuários internos e externos as informações e avaliações dos aspectos

econômicos, financeiros e sociais, estando condicionados aos aspectos legais e fiscais.

Os demonstrativos contábeis utilizados para a realização desta pesquisa, foram os

exigidos pela Resolução CFC nº 1.418/2012, que aprovou a ITG 1000, modelo contábil para

Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, que estabelece critérios simplificados para este

segmento.

Metodologia: a metodologia aplicada se inicia com pesquisa bibliográfica para

apresentar os princípios de Governança Corporativa, as práticas contábeis

adotadas pelas MEs e EPPs, análise das demonstrações financeiras, conceitos

gerais sobre análise de risco de crédito e os principais dados do mercado

financeiro brasileiro no que se refere a operações de crédito destinadas às MEs

e EPPs.

Para a concessão de crédito são analisados tradicionalmente diversos indicadores

contábeis, normalmente comparados às médias de mercados e parâmetros preestabelecidos.

Sendo assim, espera-se relacionar a importância dos princípios de GC com a

relevância dos pronunciamentos contábeis previstos na ITG 1000 no processo de análise de

risco de crédito por parte das instituições financeiras bancárias brasileiras, nas operações de

crédito destinado às MEs e EPPs. Para tanto, a presente pesquisa foi estruturada em sete

capítulos.

O capítulo 1, traz uma abordagem dos principais aspectos da GC. A Teoria da Agência

e o Custo de Agência são destaques, em função de originarem, em grande parte, as discussões

de GC nas corporações. A última seção trata da GC nas MEs e EPPs, buscando destacar a

9

importância deste seguimento para a economia brasileira por meio de diversos indicadores,

produtos de pesquisas desenvolvidas por institutos que se dedicam a estudar tais empresas.

No capítulo 2, a contabilidade para a ME e EPP é apresentada à luz da ITG 1000.

Apesar de empresas destes portes não estarem obrigadas à escrituração contábil, a norma

prevê que devem optar entre a NBC TG 1000 ou ITG 1000. O propósito desta seção é

demonstrar a importância da contabilidade para a GC, principalmente nos aspectos

relacionados à transparência e prestação de contas.

A discussão proposta no capítulo 3, acerca das DFs e dos principais indicadores

econômico-financeiros, entre eles os de rentabilidade, liquidez, atividade e endividamento,

visa relacioná-los com as práticas de análise de risco de crédito utilizadas pelas instituições

financeiras bancárias brasileiras.

Uma rápida apresentação do mercado financeiro brasileiro é feita na primeira parte do

capítulo 4. Em seguida, a discussão enfoca sobre a análise de risco de crédito destinado às

MEs e EPPs nas instituições financeiras bancárias brasileiras. A política de crédito é

fundamental dentro deste contexto. Contudo, por tratar-se de uma liberalidade de cada

instituição, não é possível aprofundar o debate.

A metodologia empregada na pesquisa está descrita no capítulo 5. Foi desenvolvida

pesquisa bibliográfica e estudo de caso de uma empresa de pequeno porte, com base em suas

demonstrações financeiras, foram calculados os principais indicadores de desempenho com o

propósito de medir sua capacidade de pagamento e tentou-se demonstrar como isso poderia

ser empregado na análise de risco de crédito bancário.

No capítulo 6 se apresenta e desenvolve o estudo de caso de uma empresa de pequeno

porte, escolhida com base nos critérios previstos na Lei Geral 123/2006. A proposta é fazer

uma comparação dos índices de liquidez desta a partir do critério da liquidez ponderada e da

liquidez tradicional, e demonstrar como isso poderia ser empregado na análise de risco de

crédito bancário.

A discussão de todo o conteúdo, bem como o resultado da pesquisa, é apresentada no

capítulo 7 que apresentará, também, as respostas aos objetivos da pesquisa, suas limitações,

bem como contribuições para a sociedade e academia, além de sugestões para sua

continuidade.

10

1. GOVERNANÇA CORPORATIVA

Este capítulo tem o propósito de apresentar conceitos e princípios de Governança

Corporativa e sua aplicabilidade nas empresas. Destaca-se que boa parte dos estudos

desenvolvidos tem o foco nas grandes corporações, normalmente as de capital aberto, porém,

guardadas as devidas proporções e particularidades, nada impede que as boas práticas de GC

sejam adotadas pelas MEs e EPPs, muito pelo contrário, a expectativa é que ao adotarem-nas

sejam reconhecidas e valorizadas pelo mercado em que atuam.

Silveira (2015) comenta que o termo corporate governance foi criado no início da

década de 1980 e que seu equivalente brasileiro “governança corporativa”, surgiu no final da

década de 1990. O governo das companhias, no entanto, é uma questão muito antiga, que teve

início séculos atrás, com a criação das primeiras sociedades por ações. Assim, o autor define

Governança Corporativa como a maneira pela qual as sociedades são dirigidas e controladas,

incluindo suas regras explícitas e tácitas, com destaque para o relacionamento entre seus

principais personagens: Diretoria, Conselho de Administração e Acionistas. O Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC – (2015) a define como um “sistema” pelo

qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os

relacionamentos entre os proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e Órgãos de

Controle.

Os princípios e práticas de GC aplicam-se a qualquer tipo de empresa,

independentemente do porte, natureza jurídica, ou tipo de controle (IBGC 2015). Sua

implantação e execução englobam diversas áreas como ética empresarial, gestão, liderança,

psicologia social, direito, economia, finanças e contabilidade, entre outras (SILVEIRA 2015).

As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da empresa,

facilitar o acesso ao capital de terceiros e contribuir para sua perenidade (IBGC 2015).

Correia e Amaral (2006) afirmam que a função principal dos sistemas de GC é

resolver os conflitos de interesses entre os diversos agentes que influenciam a empresa, isto é,

investidores, fornecedores, funcionários, clientes e a sociedade em geral.

Andrade e Rossetti (2006) fazem uma síntese conceitual das principais dimensões da

GC, intitulada os cinco (5) Ps da GC: 1 – Princípios; 2 – Propósitos; 3 – Poder; 4 – Processos;

5 – Práticas. Esta síntese é representada na Figura1.

11

Figura 1 - Os 5 Ps da Governança Corporativa

Fonte: adaptado de: Andrade e Rossetti, (2006, p. 144).

Os Princípios que formam a base ética da GC são universais e devem ser aceitos e

administrados de acordo com a cultura das instituições e alinhados com as normas e

legislação de cada país. Contudo, Andrade e Rossetti (2006) destacam os princípios éticos que

consideram inegociáveis e que devem estar presentes, explicita ou implicitamente, nas

práticas do dia a dia das organizações. É o caso dos quatro valores básicos da GC: Fairness –

senso de justiça e equidade de direitos; Disclosure – transparência quanto aos resultados,

oportunidades e riscos; Accountability – prestação responsável de contas e Compliance –

conformidade com instituições legais e com marcos regulatórios. Os mesmos princípios são

declarados pelo IBGC (2015) e também contextualizados por Silveira (2015), conforme

quadro 1.

Princípios

Propósitos

Poder Processos

Práticas

12

Quadro 1- Princípios globais de Governança Corporativa

Princípio IBGC SILVEIRA

Disclosure / Transparência Consiste em disponibilizar

para as partes interessadas

informações que sejam de

seu interesse e não apenas

aquelas impostas por leis ou

regulamentos.

Divulgação aberta e

tempestiva das informações

materiais financeiras e não

financeiras aos públicos

interno e externo.

Fairness / Equidade Tratamento justo e

isonômico de todos os sócios

e demais partes interessadas

(stakeholders) levando em

consideração seus direitos,

deveres, necessidades,

interesses e expectativas.

Observância da igualdade de

direitos de todos os

interessados e facilitação do

exercício efetivo desses

direitos.

Accountability / Prestação de

contas

Os representantes da empresa

devem prestar contas de suas

atuações de modo claro,

conciso, compreensível e

tempestivo, assumindo

integralmente a

responsabilidade por seus

atos e omissões.

Vontade dos administradores

de apresentar os resultados

de sua gestão e os elementos

que fundamentaram as

principais decisões tomadas,

bem como de assumir a

responsabilidade pelas ações

e omissões ocorridas.

Compliance /

Responsabilidade

Corporativa

Zelar pela viabilidade

econômico-financeira das

organizações, reduzir as

externalidades negativas dos

negócios e das operações e

aumentar as positivas.

Conscientização de que a

informalidade é um inimigo

da boa governança e de que

controle e supervisão

independentes são elementos

essenciais.

Fontes: (IBGC; 2015; p. 20 e 21) e (Silveira; 2015; p.4 e 5).

Os Propósitos da GC, de acordo com Andrade e Rossetti (2006), visam principalmente

à maximização do retorno total de longo prazo dos shareholders. Tal objetivo é claro,

legítimo e vai ao encontro dos interesses também legítimos dos stakeholders. Os mesmos

13

autores acrescentam que o objetivo de maximizar o interesse dos proprietários é lastreado em

pressupostos micro e macroeconômicos. Os pressupostos microeconômicos podem ser

desdobrados em quatro dimensões: a financeira; a dos riscos assumidos; a da gestão; e a dos

conflitos de agência. O pressuposto macroeconômico baseia-se no conceito de que a

racionalidade utilitarista, fundamentada na maximização do lucro pelas corporações, conduz

ao máximo benefício para a sociedade como um todo.

Correia e Amaral (2006) entendem que a estratégia de uma empresa sofre influência

do ambiente em que ela opera. Considerando que esse ambiente inclui os stakeholders não

financeiros da empresa, ou seja, todos aqueles agentes que não são seus credores e nem

acionistas, mas que têm interesse na sua saúde financeira, tais como clientes, fornecedores,

empregados e até mesmo a comunidade na qual a empresa está estabelecida, eles podem ser

afetados pelas dificuldades financeiras da empresa porque, neste caso, os clientes podem

receber produtos com qualidade inferior à ofertada, os fornecedores podem perder negócios,

os empregados podem perder postos de trabalho e as economias de comunidades inteiras

podem ficar comprometidas.

Segundo Andrade e Rossetti (2006), o Poder é representado pelas formas como se

articulam as negociações e se estabelecem as relações entre órgãos de governança que

compõem a estrutura de poder no interior das organizações. Rossoni e Silva (2010) comentam

que um aspecto fundamental da GC é a divisão de autoridade entre o Conselho de

Administração (C.A.) e a presidência executiva (Chief Executive Office - CEO) por um lado, e

os stakeholders, por outro. Tal divisão tende à separação entre propriedade e controle,

constantes na Teoria da Agência (BERLE & MEANS, 1932/1991), bem como na divisão do

trabalho entre diferentes níveis de gestão da corporação (FLIGSTEIN & FREELAND, 1995).

A estrutura de poder, previamente definida pelos proprietários, é que leva a maior clareza na

separação de funções e de responsabilidades dos conselhos corporativos e da direção

executiva (ANDRADE e ROSSETTI, 2006).

Muritiba e Muritiba (2015) ressaltam que muitos modelos existentes de GC são

específicos das empresas de determinado setor ou porte, visto que muitos guias de GC são

criados por entidades de determinado setor como, por exemplo, as normas da CVM

(Comissão de Valores Mobiliários) que visam regulamentar a GC em empresas de capital

aberto. Contudo, afirmam os autores, embora específicos, os modelos de GC existentes

14

possuem características em comum, que podem ser aplicadas a quaisquer tipos de

organização.

Figura 2 – Modelo de Governança Corporativa Universal

Fonte: Muritiba e Muritiba (2015; p.21).

A figura 2 apresenta quatro dimensões que são comuns a todos os tipos de

organizações, por isso o modelo foi chamado de Modelo de Governança Corporativa

Universal. As quatro dimensões são: Propriedade; Stakeholders e Responsabilidade

Socioambiental; Conselho de Administração e Outros Representantes; e Equipe de Altos-

Executivos.

Andrade e Rossetti (2006) afirmam que os Processos da GC começam pela

constituição e pelo fortalecimento dos conselhos de administração, da direção executiva e do

sistema de auditoria, que são tidos como órgãos-chave da governança.

Campos (2006) destaca que há uma diversidade de modelos de GC e que, portanto,

para seu efetivo funcionamento é preciso identificar qual o melhor modelo de gestão, que

levará em consideração a abrangência e os processos que as empresas utilizam para atender

aos diferentes interessados em seu desempenho. É a partir da criação dessas estruturas que se

estabelecem as relações funcionais entre elas, focadas nos processos de formulação,

homologação e monitoramento das estratégias corporativas, das políticas operacionais e dos

resultados gerados. Em seguida são instituídos e implantados sistemas de controles focados

em riscos internos e externos que podem afetar não só os resultados das operações, mas, em

PROPRIEDADE

CONSELHO DE STAKEHOLDERS E

ADMINISTRAÇÃO E RESPONSABILIDADE

OUTROS REPRESENTANTES SÓCIO-AMBIENTAL

CORPORATVA

EQUIPE DE ALTO-EXECUTIVOS

15

condições extremas, a própria sobrevivência das companhias. As boas Práticas de GC

estabelecem-se no interior de cada um dos processos definidos e seu foco é a gestão de

conflitos de agência, tanto os decorrentes de oportunismo de gestores quanto de grupos

majoritários de controle (ANDRADE e ROSSETTI, 2006).

Por sua abrangência, as práticas de GC podem considerar questões legais, como as dos

direitos dos sócios, bem como a sucessão, as questões financeiras – como a geração de valor,

a criação de riqueza e a maximização do retorno dos investimentos –, além de questões

estratégicas, tais como a definição dos propósitos empresariais e das diretrizes corporativas

alinhadas com os sistemas que regulam as relações entre acionistas, os conselhos de

administração e a direção executiva das corporações, como afirma Campos (2006).

1.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA: TEORIA DA AGÊNCIA

A Teoria da Agência trata, em princípio, das relações entre os proprietários do capital

(acionistas, sócios) de uma organização e seus dirigentes efetivos (presidentes, diretores,

gerentes etc.), que normalmente são profissionais contratados para dirigirem suas operações.

Trata-se na prática das pessoas que realmente tomam as decisões dentro da organização nos

níveis tático e operacional, mais comumente encontrados em grandes corporações de capital

aberto ou naquelas de capital fechado, mas que tenham sua gestão profissionalizada, ou seja,

se propõem a analisar as relações entre esses dois grupos (propriedade x controle).

Arruda, Madruga e Freitas Junior (2008), afirmam que a Teoria da Agência analisa os

conflitos e custos resultantes da separação entre controle e propriedade do capital.

Jensen e Meckling (1976) definem uma relação de agência, como um contrato em que

uma ou mais pessoas o (s) principal (ais) contrata (m) uma ou mais pessoas (agente (s) para

desenvolver (em) alguma atividade em seu favor e para tanto é (são) investido (s) de alguma

autoridade de decisão.

Para Mendes (2001), sob um prisma de cooperação tecnológica, o principal é o

avaliador das informações e o responsável pela escolha do sistema de informação, e o agente

assume o papel de tomador de decisão, optando pelas melhores alternativas do ponto de vista

do proprietário e das informações que a eles estarão disponíveis. A segregação entre capital e

controle tende a gerar conflitos, aqui chamados de conflitos de agência. De acordo com

16

Andrade e Rossetti (2006), os conflitos de agência ocorrem por duas razões. A primeira,

sintetizada no axioma de Klein, afirma não existir um contrato completo. A segunda razão,

expressa no axioma de Jensen-Meckling, justifica-os pela inexistência do agente perfeito. O

quadro 2 apresenta sinteticamente os dois axiomas.

Quadro 2 -Teoria da Agencia - Axiomas

O axioma de Klein (1985) parte da

premissa da inexistência do contrato

completo, tal afirmação fundamenta-se nas

características dos ambientes de negócios,

cada vez mais imprevisíveis e sujeitos a

turbulências e efeitos-contágio, que podem

comprometer seus resultados. Como as

corporações, inicialmente, não conseguem

controlar tais ambientes, a gestão

corporativa teve de se adaptar à

administração de surpresas e isso leva à

fragilidade dos contratos, sendo assim,

outorgam-se aos gestores mais poderes do

que originalmente seriam necessários de

forma que possam tomar as decisões para

gerir situações intempestivas.

O axioma de Jensen e Meckling

(1994) afirma que, em função da natureza

humana, que é utilitarista e racional, acaba

por conduzir os indivíduos a maximizarem

uma função utilidade voltados muito mais

para as suas próprias necessidades e

objetivos, ou seja, os atingimentos de

objetivos alheios dificilmente movem as

pessoas a serem tão eficazes quanto o são

em relação aos seus próprios interesses.

Fonte: Dados da pesquisa – elaborada pelo autor (2016)

Além das razões descritas no quadro 2, existem outras que levaram as corporações a

adotarem as boas práticas de GC. Andrade e Rossetti (2006) adicionam três razões externas e

três internas para justificar a afirmação. Dentre as razões externas destacaram:

a) as mudanças no macro ambiente a partir do processo de rompimento das fronteiras

dos mercados reais e financeiros com a consequente criação dos blocos econômicos;

b) as mudanças no ambiente de negócios, provocadas por reestruturações setoriais,

aberturas de mercados, redução de barreiras tarifárias;

c) as revisões nas instituições do mercado de capitais: os investidores institucionais

tornaram-se mais ativos, assumindo posturas mais fortes e intervencionistas, tanto em seus

17

países, como naqueles em que as corporações de seu portfólio de investimentos passaram a

investir.

Dentre as razões internas destacam-se:

a) as mudanças societárias, em respostas às mudanças ocorridas no ambiente externo

das corporações, desencadeando uma onda de privatizações, fusões, cisões e aquisições;

b) os realinhamentos estratégicos, em função das mudanças societárias, se tornaram

necessários pelas reestruturações ocorridas no mercado em que as corporações atuavam;

c) os reordenamentos organizacionais provocados por mudanças internas nas

organizações exigidas, em grande parte, pelo desencadeamento de processos sucessórios ou

estratégicos necessários à profissionalização da gestão nas corporações.

1.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA: CUSTO DE AGÊNCIA

Arruda, Madruga e Freitas Junior (2008) afirmam que custo de agência é um conceito

usado para denominar um tipo especial de gasto que decorre de conflitos de agência existentes

numa organização. Tais conflitos surgem quando um ou mais indivíduos contratam uma

terceira pessoa ou organização, para a realização de algum serviço, delegando-lhe poderes

para tomada de decisões, que podem contrariar os interesses dos acionistas, fazendo surgir,

então, o conflito de agência que, consequentemente, gerará o custo de agência. Citam ainda

Jensen e Meckling (1976) ao considerar que o agente nem sempre atuará no melhor interesse

do principal e que incentivos aos agentes serão estabelecidos, assim como técnicas de

monitoramento.

Jensen e Meckling (1976) afirmam que o principal, ou seja, o proprietário do capital

pode limitar as divergências em relação aos seus interesses por meio do estabelecimento de

incentivos apropriados para que o agente atue de modo a maximizar o seu interesse nos

contratos que realiza, e, também, provocando custos de monitoramento destinados a restringir

atividades indesejadas do agente. Concluem, então, que geralmente é impossível, para o

principal ou para o agente, a custo zero, assegurar que o agente tomará decisões ótimas do

ponto de vista do principal. Na maioria dos casos de agência, o principal e o agente

provocarão custos, que podem ser de monitoramento ou de oportunidade e sempre haverá

alguma divergência entre as decisões tomadas pelos agentes e aquelas que otimizariam os

18

interesses do principal, acarretando, assim, uma perda residual; esta se refere a cada unidade

monetária equivalente de redução de bem-estar do principal em função das divergências

existentes com o agente que, por sua vez, não conduzem àquelas decisões que maximizariam

esse bem-estar. Eles categorizam ainda os custos de contratação, custos de transação, custos

de moral-hazard e custos de informação, como os principais custos de agência.

Correia e Amaral (2006), concluem que os custos de agência não podem ser

completamente eliminados, a menos que os papéis do principal e do agente sejam combinados

num só, isto é, que o principal detenha a totalidade da propriedade da empresa, ou seja, cem

por cento de seu capital. De outra forma, os custos de agência ocorrerão, inevitavelmente, em

qualquer relacionamento que envolva a cooperação de duas ou mais partes.

Como consequência desses fatores, a implantação da GC tem se mostrado um dos

movimentos mais importantes do mundo corporativo na atualidade, presentes em potências

econômicas reconhecidas e também em mercados emergentes.

1.3 GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL

Para tratar do tema se faz necessário um rápido apanhado do mercado de capitais no

Brasil. Para tanto, Silveira (2015) registra que este mercado teve um papel muito limitado no

financiamento das companhias brasileiras durante o século XX. Ele afirma que coube ao

Governo estimular, em grande parte, a atividade econômica. Isso se deu por meio da

concessão de recursos de longo prazo com custo subsidiado ou diretamente via empresas

estatais. O resultado foi a criação de um “estabelecimento” composto por empresas estatais,

companhias multinacionais e grupos familiares liderados por empreendedores locais, muitas

vezes bem relacionados politicamente. Esses últimos, geralmente altamente diversificados,

tornaram-se a base do modelo de governança brasileiro.

Silveira (2015) acrescenta que, ao longo da década de 1970, o governo, enfrentando

grande dificuldade em continuar financiando o setor privado, optou por criar incentivos com o

objetivo de desenvolver o mercado acionário. Foi assim que surgiu à época o chamado Fundo

157. Era um incentivo fiscal que permitia aos contribuintes utilizar parte do imposto de renda

devido para aquisição de quotas de fundo de ações. Isso fez com que várias empresas

optassem pela abertura de capital e, ao mesmo tempo, fez surgir um mercado cativo de

19

acionistas que, destacando-se à época alguns fundos de pensão e seguradoras, deveriam

investir uma parcela mínima de seus ativos na compra de ações. Apesar de alguns

contratempos ao longo do caminho, tal iniciativa fez com que praticamente dobrasse o

número de empresas listadas em bolsa ao final daquela década.

Andrade e Rossetti (2006) declaram que nos anos 90, muitas mudanças que se

observaram no Brasil, foram na direção da “desradicalização”, seguindo uma tendência

mundial. A economia, sintonizada com os movimentos mundiais de liberalização, de aumento

significativo das operações interfronteiras e de globalização de mercados, fez surgir um

processo de mudanças que alcançou antigos fundamentos de uma economia protegida e em

boa parte estatizada. Tais mudanças implicaram na formação de um novo direcionador para os

negócios, desencadeando movimentos no sentido das privatizações, quebra de barreiras

comerciais com outros países e uma onda de fusões e aquisições.

Os mesmos autores registram ainda que, como consequência de tais movimentos,

verificaram-se impactos específicos no que se refere à GC, que foram: a reconfiguração do

mercado de capitais e as mudanças nos padrões de governança. A primeira caracterizou-se

basicamente pela entrada de capitais estrangeiros na bolsa de valores brasileira bem como a

ida de empresas nacionais para outros mercados, em específico o norte-americano por meio

do lançamento de certificados representativos de ações, os chamados ADRs – American

Depositary Receipts, o que acabou por exigir uma remodelação tecnológica da bolsa de

valores. A segunda foi caracterizada por quatro ações fundamentais:

1) aderência às regras de boa governança e aos seus valores fundamentais, o que

poderia resultar num aumento do valor das companhias no mercado doméstico e consequente

redução do custo de capital;

2) adaptação das demonstrações financeiras aos padrões contábeis internacionais;

3) estratégias de negócios mais complexas, devido à tendência de globalização dos

grandes grupos empresariais, resultado da abertura de mercados;

4) exigência de Conselhos de Administração e de outros órgãos internos de

governança mais eficazes, com a contratação de profissionais com experiência e presença

internacionais.

20

Silveira (2015) afirma que, apesar do sucesso no controle da inflação após o Plano

Real, em 1995, e do programa de privatizações durante a década de 1990, o mercado de

capitais não prosperou no Brasil até o início da década de 2000, em função de pelo menos três

motivos: proteção deficiente dos investidores, práticas insatisfatórias de governança das

empresas e instabilidade macroeconômica. O mesmo autor resume a situação ao descrever o

que chama de círculo vicioso presente no mercado de capitais brasileiro:

A instabilidade macroeconômica aliada a um sistema de proteção aos investidores

deficiente leva a altas taxas de desconto aplicadas pelos mesmos, gerando uma

subavaliação dos títulos corporativos; esta, por sua vez, aumenta a distância entre as

companhias e o mercado de capitais, desencorajando empresas fechadas a abrirem

seu capital e as de capital aberto a utilizarem o mercado com mais frequência. Isso

faz com que o mercado de capitais não seja visto pelas empresas como uma

alternativa real de capitalização, distanciando-as da adoção de melhores práticas de

governança. A ausência de boas práticas, associada à instabilidade econômica,

reforçam esse círculo vicioso. (SILVEIRA, 2015, p. 218).

Esse cenário começa a mudar sensivelmente em 2004, com o início de uma onda de

ofertas públicas de ações (IPO – Initial Public Offering) que duraria até a crise financeira

global em 2008. No período encerrado em 2007, portanto três anos, 113 novas companhias

listaram ações na BM&FBOVESPA – Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valores de

São Paulo. À época, o argumento era que o salto registrado se devia a uma percepção de

melhoria na proteção aos investidores e das práticas de GC, em especial o Novo Mercado

(SILVEIRA 2015). Os dois últimos registros relevantes feitos pelo autor referem-se à

Instrução normativa 480, divulgada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em

dezembro de 2009, que, entre outras coisas, tornava obrigatória a divulgação, por parte das

companhias, da remuneração dos membros do conselho de administração e diretoria executiva

e, em 2014, entrou em vigor a Lei 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção que, além

de aumentar as penalidades impostas às companhias envolvidas em casos de corrupção de

agentes públicos, passou a exigir que as empresas desenvolvam seus próprios sistemas de

compliance.

Vilela (2005) afirma que “como em qualquer outro país do mundo, a Governança

Corporativa no Brasil é influenciada por amplo conjunto de forças externas e internas, as

quais interferem nos valores, nos princípios e nos modelos efetivamente praticados”.

21

1.4 INSTITUTO BRASILEIRO de GOVERNANÇA CORPORATIVA – IBGC

Fundado em 1995, o IBGC é uma associação de abrangência nacional, dedicada à

promoção da Governança Corporativa no país e o principal incentivador das práticas e dos

debates sobre o tema, possuindo reconhecimento nacional e internacional. Seu propósito é ser

referência em GC no país e contribuir para o desenvolvimento sustentável das organizações,

influenciando os agentes da sociedade no sentido de maior transparência, justiça e

responsabilidade social.

O Código de Boas Práticas está na sua 5ª. edição (2015) e adota uma postura de

estímulo ao uso consciente e efetivo dos instrumentos de governança, face à evidência cada

vez maior dos dirigentes acerca de temas como sustentabilidade, corrupção, fraude, abuso nos

incentivos de curto prazo para executivos e investidores. Buscou-se, portanto, ampliar a visão

sobre os stakeholders da empresa, reforçando a fundamentação das boas práticas de

governança e a importância da ética nos negócios.

O IBGC (2015) informa que o Código de Boas Práticas não tem o propósito de ser um

modelo rígido de governança, mas, sim, uma referência de consulta visando a uma reflexão e

aplicação em cada caso, levando sempre em consideração a estrutura regulatória a que a

organização está submetida. Portanto, não se trata de um conjunto de regras a ser adotado de

forma mecânica e exaustiva. O Código tem por premissa estimular o exercício de reflexão das

práticas de governança a serem adotadas, de maneira que se adaptem à estrutura, à realidade e

ao estágio do ciclo de vida da organização.

O normativo ressalta, ainda, a importância dos princípios básicos da boa GC, por

estarem por trás dos fundamentos e das práticas deste Código e aplicarem-se a qualquer tipo

de organização, independentemente de porte, natureza jurídica ou tipo de controle. Ou seja, se

as melhores práticas podem não ser aplicáveis a todos os casos, os princípios sim, formando a

base sobre a qual se desenvolve a governança, independentemente do porte, forma jurídica ou

ramo de atividade da empresa.

22

1.5 A GOVERNANÇA CORPORATIVA NA MICROEMPRESA (ME) E

EMPRESA DE PEQUENO PORTE (EPP)

Ratificando comentário registrado na justificativa desta pesquisa, não se tem registro,

até o momento, de um código de GC específico para MEs e EPPs. O que mais se aproxima

das empresas desse porte é o Caderno de Boas Práticas de GC para empresas Limitadas e de

Capital Fechado (S/A de capital fechado) do IBGC. Outras pesquisas neste sentido

concentram o foco nas empresas familiares, que é uma característica das MEs e EPPs, mas

não aprofundam os estudos considerando suas particularidades.

O IBGC (2014) destaca seis motivos que justificam a adoção das melhores práticas de

GC por empresas Limitadas e de Capital fechado, são eles:

1. Preservar e otimizar o valor da empresa: as boas práticas de GC podem

potencializar a capacidade de formulação estratégica da empresa, permitindo

explorar melhor suas oportunidades de mercado e reduzir os riscos aos quais

esteja exposta.

2. Obter melhorias de gestão: no caso das empresas familiares, a criação e o efetivo

funcionamento de um Conselho de Família são fundamentais para garantir a

adequada separação de papéis e interesses.

3. Facilitar o acesso a recursos financeiros e não financeiros: a adoção de princípios

e boas práticas de GC, bem como maior transparência, servem de reforço à

confiança dos financiadores e facilita o acesso a recursos financeiros e a

identificação de melhores condições de negócios junto a clientes, fornecedores,

bancos, investidores e potenciais parceiros.

4. Contribuir para a longevidade e sustentabilidade: a GC contribui para sua

longevidade e sustentabilidade na medida em que propicia uma reflexão sobre os

ciclos de crescimento, maturidade e reorientação de suas atividades.

5. Administrar conflitos de interesse de forma mais efetiva: regras claras de

separação entre gestão e propriedade por um lado, e remuneração do capital e do

trabalho por outro, são fundamentais para alinhar interesses e evitar a confusão de

papéis, ajudando a proteger a empresa de conflitos organizacionais, societários e

familiares que, muitas vezes, são responsáveis por seu fim prematuro.

6. Avaliar, de forma permanente, o propósito da empresa: a implementação da GC

pode contribuir para que o conjunto de valores, princípios e propósitos da

23

empresa, seja formalmente explicitado e permanentemente avaliado, envolvendo

toda a empresa, para que sua estrutura seja constantemente ajustada, auxiliando na

geração de valor para o negócio e sua continuidade.

De acordo com SEBRAE (2015) as MEs e EPPs, no decorrer dos últimos 30 anos,

vêm aumentando sua participação no desenvolvimento do país, tornando-se indiscutível a

relevância do seu papel socioeconômico desempenhado. Tal fato pode ser comprovado a

partir do aumento da participação das MEs e EPPs no PIB (Produto Interno Bruto) no período

de 2009 a 2013, conforme demonstra a Tabela 1. Observa-se que todas as regiões

apresentaram evolução nas participações ao longo dos períodos, com destaque para a região

norte que registrou uma variação de 64% na comparação de 2012 com 2013, seguida pela

região centro-oeste com 12%, a região sul com 10%, a região nordeste registrou 8% e na

região sudeste a variação foi de 1% de crescimento no mesmo período.

Tabela 1 - Valor Agregado gerado pelas MEs e EPPs por região (em R$ milhões)

REGIÃO/ANO 2009 2010 2011 2012 2013

NORTE 15.567 17.800 18.644 19.994 32.807

SUL 95.243 108.918 115.844 120.778 133.392

NORDESTE 54,443 61.956 67.332 72.524 78.956

CENTRO OESTE 36.517 38.220 44.196 48.758 55.035

SUDESTE 248.913 289.852 323.347 335.869 339.284 Fonte: adaptado de: Pesquisas Anuais do IBGE; FGV e SEBRAE (2015, p.7).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, o valor

adicionado (VA) ou valor agregado, é uma variável que traduz conceitos econômico-

contábeis e corresponde ao valor bruto da produção (VBP), deduzidos os custos e despesas

operacionais, amortizações dos ativos, depreciações, impostos e taxas, ou seja, a Tabela 1

mostra a participação de cada região do país na composição do PIB a partir do valor que foi

agregado em cada etapa do processo produtivo dos diversos bens e serviços.

O número de MEs e EPPs por setor da economia, selecionado por região do país entre

o período de 2009 a 2011 está demonstrado na Tabela 2. Em todas as regiões foi registrada a

predominância dos setores de comércio e serviços em relação ao setor indústria. Na apuração

individual de cada setor o comércio destaca-se dos demais em todas elas.

24

Tabela 2 - Número de MEs e EPPs, por atividade econômica, por Região (em %)

REGIÃO/ATIVIDADE Indústria total Comércio Serviços total

PERÍODO 2009-2011 2009-2011 2009-2011

NORTE 12,1 56,6 31,3

NORDESTE 11,3 56,5 32,2

SUDESTE 12,5 45,5 42,0

SUL 16,3 47,2 36,5

CENTRO-OESTE 12,5 52,3 35,1

Fonte: adaptado de: Pesquisas anuais do IBGE; FGVe SEBRAE (2015, p. 20).

Nas regiões norte, nordeste e centro-oeste registrou-se uma predominância dos setores

de serviços e comércio na economia local, sendo que entre as regiões norte e nordeste houve

um “equilíbrio” do setor comércio. Nas regiões sudeste e sul a prevalência continua, porém,

mais equilíbrio, sendo que na região sul registra-se o destaque para o setor indústria em

relação às outras regiões.

Em relação à geração de emprego e renda, a participação das MEs e EPPs foi também

muito importante, é o que afirma a pesquisa e demonstra a Tabela 3, onde se observa que a

maioria do pessoal ocupado se concentra nos setores de serviços e comércio, com destaque

para a região sul onde o setor indústria absorve um volume maior de mão de obra quando

comparado com as outras regiões.

Tabela 3 - Pessoal ocupado nas MEs e EPPs, por atividade econômica, por região (em

%).

REGIÃO/ATIVIDADE Indústria total Comércio Serviço total

PERÍODO 2009-2011 2009-2011 2009-2011

NORTE 23,2 50,4 26,5

NORDESTE 22,3 47,9 29,8

SUDESTE 24,5 41,0 34,5

SUL 30,4 41,1 28,5

CENTRO-OESTE 21,8 47,3 30,9 Fonte: adaptado de: Pesquisas anuais do IBGE; FGV e SEBRAE (2015, p.24).

Analisando os dados da presente tabela se observa certo equilíbrio na distribuição de

pessoal ocupado nas regiões avaliadas. No setor industrial a região sul destaca-se das demais

registrando 30,4% do pessoal ocupado. No setor do comércio, o destaque é para a região norte

25

com 50,4% da mão de obra e no setor de serviços a região sudeste registrou 34,5% do total de

pessoal ocupado.

Quando o assunto é remuneração, a mesma pesquisa do SEBRAE (2015) registra que

a participação das MEs e EPPs foi relevante, conforme demonstra a Tabela 4. Observa-se que

a distribuição entre os setores é equitativa nas regiões pesquisadas, com destaque para a

região sudeste.

Tabela 4 - Remuneração nas MEs e EPPs, por atividade econômica, por região (em %).

REGIÃO/ATIVIDADE Indústria total Comércio Serviço total

PERÍODO 2009-2011 2009-2011 2009-2011

NORTE 29,4 42,4 28,2

NORDESTE 28,3 40,4 31,4

SUDESTE 33,0 33,4 33,6

SUL 37,7 35,3 27,0

CENTRO-OESTE 26,5 41,4 32,1 Fonte: adaptado de: Pesquisas anuais do IBGE; FGVe SEBRAE (2015, p.28).

O setor industrial da região sul foi o que mais participou da remuneração paga pelas

MEs e EPPs, na região centro-oeste essa participação foi maior no setor de comércio quando

comparada com os outros setores, porém na comparação com as outras regiões o destaque é

para a região norte.

As conclusões apresentadas pelo SEBRAE (2015) para a referida pesquisa destacam

que as MEs e EPPs vêm aumentando progressivamente sua relevância na economia brasileira,

uma vez que em termos agregados, a participação que era de 21% em 1985, aumentou para

23% em 2001 e encerrou 2011 em 27%. Tal participação aumentou nos serviços e comércio,

sendo que na indústria houve uma pequena queda, pois neste setor predominam as médias e

grandes empresas em função da economia de escala.

No período 2009-2011, a importância das MEs e EPPs é destacada em todas as

dimensões e em todas as atividades, haja vista que:

No setor serviços, as MEs e EPPs foram responsáveis pela geração de 36,3% do

valor adicionado do setor; empregaram 43,5% dos trabalhadores; e pagaram 27,8% das

remunerações de empregados no período.

26

No setor comércio, a participação das MEs e EPPs foi de 53,4% na geração de

valor adicionado; 69,5% da mão de obra ocupada foram absorvidas pelo setor; e a

remuneração destinada ao pessoal ocupado foi da ordem de 49,7%.

No setor indústria, as MEs e EPPs geraram 22,5% do valor agregado;

representaram 42% do pessoal empregado do setor; e foram responsáveis pelo

pagamento de 25,7% das remunerações do setor.

De acordo com Rodriguez e Brandão (2010), o tema Governança Corporativa nas MEs

e EPPs apresentam várias carências e demanda mais pesquisas. Deve-se considerar que

empresas desse porte não possuem conselhos de administração, conselhos fiscais, comitês e

afins, portanto não se enquadram na maioria dos exemplos citados em livros e materiais de

referências sobre o tema.

Santos (2015) enumera quatro fatores que explicam, em parte, as dificuldades de se

implantar e desenvolver a GC nas MEs e EPPs, são eles:

a) Dificuldades de enxergar benefícios.

b) Custos altos, uma vez que elas não podem ter a mesma estrutura de uma grande

empresa; portanto deve-se rever a sua forma de desenvolvimento,

acompanhamento e controle.

c) Falta de pessoal em quantidade e com as habilidades necessárias, pois essas

empresas normalmente possuem estrutura enxuta.

d) Falta de formação adequada dos gestores e sócios.

Pena et al. (2013) explicam, também, que MEs e EPPs são carentes de uma equipe

profissional especializada e a maioria dos gestores é generalista. Isso reforça a necessidade

dos micro e pequenos empresários buscarem mais o conhecimento para aplicarem as práticas

de GC. Os mesmos autores acrescentam ainda que os micro e pequenos empresários

incorporam a preocupação com a GC, quando buscam a profissionalização da empresa,

levantando questões como definição de uma missão e visão de futuro, perenidade da

organização, gerenciamento de riscos, aumento de lucros, redução dos custos, padrões éticos

na condução administrativa e na abordagem de problemas com os stakeholders. Observam

também que a GC nas MEs e EPPs só existe a partir do momento em que o proprietário

consegue distinguir o governo da empresa de sua gestão.

27

Neste sentido, Santos e Veiga (2014) citam a ITG 1000 que tem o propósito de suprir

parte da ausência de GC nas MEs e EPPs, ao tornar obrigatória a elaboração de alguns

demonstrativos contábeis, como forma de dar transparência às prestações de contas das

empresas. Este tema será apresentado no capítulo seguinte.

28

2. A CONTABILIDADE NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

BRASILEIRAS

Este capítulo tem por objetivo apresentar uma síntese da aplicabilidade das práticas

contábeis nas MEs e EPPs brasileiras em conformidade com os princípios de GC que tratam

de prestação de contas (accountability) e transparência (disclosure).

De acordo com Igarashi (2015), na maioria das definições de GC é mencionado um

“sistema” de monitoramento que envolve o relacionamento entre os Proprietários, os

Acionistas, o Conselho de Administração, a Diretoria Executiva e outros órgãos e agentes de

controle, mas a contabilidade também tem um papel importante na governança. Ela ajuda na

manutenção da estrutura que oferece mais controles em relação aos objetivos da empresa,

gerando e fornecendo informações financeiras e contábeis, bem como acerca dos investidores,

credores, instituições financeiras e outros stakeholders, permitindo, assim, que as perspectivas

da empresa em termos de entradas e fluxo de caixa sejam avaliadas com mais eficiência,

oferecendo mais efetividade à gestão da empresa no cumprimento das suas responsabilidades.

Nos casos em que os princípios da GC não são respeitados, há uma assimetria de informações

que pode resultar na possibilidade de fraudes contábeis. O papel da contabilidade dentro da

GC é definido como sendo o uso de relatórios contábeis na promoção dos mecanismos de

governança, que são os meios pelos quais os administradores agem de acordo com os

interesses dos investidores.

Iudícibus et al. (2010) afirmam que a Contabilidade, enquanto ciência Social aplicada

se ocupa de captar, registrar, acumular, resumir e interpretar as ocorrências que influenciam

as situações patrimoniais, financeiras e econômicas das empresas privadas ou públicas, com

ou sem fins lucrativos e, também, das pessoas físicas. Ou seja, deduz-se que faça parte do

cotidiano das empresas, autarquias, entes federativos e das pessoas de forma geral. Assim

como outras ciências, a contabilidade também tende às especializações e ramificações, sendo

a controladoria o nível máximo de especialização dentro de uma empresa. Esta por sua vez,

estará ligada à alta administração – Conselho de Administração ou Proprietário (s) e terá por

missão a supervisão dos departamentos de contabilidade Financeira, Fiscal, de Custos e

Orçamento, desempenhando assim um papel de relevada importância dentro da GC.

29

Como as MEs e EPPs normalmente não possuem tal estrutura, suas informações

contábeis acabam sendo centralizadas e resumidas seguindo procedimentos padronizados e

executadas por um profissional contábil externo.

As informações contábeis devem estar em condições de atender as necessidades dos

mais variados grupos de pessoas cujos interesses nem sempre são coincidentes, mas também

não são conflitantes, é o que afirmam Iudícibus et al. (2010) elencando alguns desses

interessados, como segue:

Sócios, acionistas e proprietários de quotas societárias de maneira geral;

Administradores, diretores e executivos dos mais variados níveis;

Bancos, agências de fomento, investidores em geral;

Governos, em todas as esferas;

Pessoas físicas em geral.

Os mesmos autores afirmam também que as informações contábeis devem cumprir

três finalidades básicas, que são: Finalidade de Planejamento, Finalidade de Controle e

Finalidade de Auxílio no processo decisório. É com base nestas finalidades que se pretende

desenvolver o conteúdo deste capítulo com ênfase nas MEs e EPPs.

2.1 LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 – LEI GERAL DA MICRO E

PEQUENA EMPRESA

A Lei Complementar nª 123, sancionada em 14 de dezembro de 2006, também

conhecida como Estatuto Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, veio

estabelecer normas gerais e tratamento diferenciado a ser dispensado às MEs e EPPs em todo

o território nacional e em todos os níveis governamentais (União, Estados, Distrito Federal e

Municípios). O propósito da referida lei era criar condições de competitividade para as MEs e

EPPs respeitando suas particularidades e limitações. Entre os vários benefícios previstos na

mesma, destacam-se:

A criação de um regime tributário unificado contemplando as contribuições

devidas à União, Estados, Municípios e Distrito Federal;

Desoneração tributária das receitas de exportação e substituição tributária;

Dispensa da exigibilidade de certas leis trabalhistas;

30

Facilitação do acesso ao crédito e ao mercado;

Preferência nas compras públicas;

Estímulo à inovação tecnológica;

Incentivo ao associativismo na formação de consórcios para fomentação de

negócios.

Por ter o propósito de fortalecer as MEs e EPPs e dar-lhes condições de

desenvolvimento, referida Lei Complementar estabeleceu algumas regras excludentes, ou

seja, não podem se beneficiar da lei a pessoa jurídica que:

Cujo capital social participe outra pessoa jurídica;

Que seja representante no país de outra pessoa jurídica com sede no exterior;

Que tenha no quadro societário pessoa física que participe de outra empresa

beneficiada pela mesma lei, desde que se enquadre a partir de média empresa;

Que explore as atividades de: instituição financeira, corretora ou distribuidora de

títulos e valores mobiliários e câmbio, arrendamento mercantil, seguros e

previdência em geral;

Que seja constituída sob a condição de sociedade por ações (S/A).

Outro critério que, de certa forma, também exclui, mas que tem o propósito de

estabelecer a classificação das MEs e EPPs de acordo com o seu porte econômico, é

estabelecido a partir da receita bruta gerada pela empresa num período de 12 meses.

Atualmente se categoriza as MEs e EPPs da seguinte forma:

Microempreendedor Individual – MEI –: receita bruta de até R$ 60.000,00.

Microempresa – ME –: receita bruta de até R$ 360.000,00.

Empresa de Pequeno Porte – EPP –: receita bruta a partir de R$ 360.000,00 até R$

3.600.000,00

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) categoriza as

empresas por porte econômico levando em consideração a definição estabelecida pelas

circulares nº 11/2010 e 34/2011, conforme a seguinte escala:

Microempresa: receita bruta anual menor ou igual a R$ 2,4 milhões;

Pequena empresa: maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões;

Média empresa: maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões.

31

O regime tributário aplicado às MEs e EPPs, definido na Lei Complementar nª 123

(2006) é o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições, o Simples

Nacional ou Supersimples, que consiste no recolhimento mensal dos seguintes impostos e

contribuições:

Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ;

Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL;

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS;

Contribuição para o PIS/PASEP;

Contribuição Patronal Previdenciária – CPP,para a Seguridade Social, a cargo da

pessoa jurídica;

Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre

Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de

Comunicação - ICMS;

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN, ou simplesmente ISS.

O § 1º do artigo 13 da referida lei ressalva que a aplicação do regime do Simples

Nacional não desobriga as MEs e EPPs da responsabilidade de recolher outros tributos e

contribuições que sejam devidos por força de suas operações, como: Imposto sobre Operações

Financeiras – IOF; Imposto de Importação – II; Imposto de Exportação – IE; Fundo de

Garantia por tempo de Serviço – FGTS, dentre diversos outros.

A mesma Lei Complementar nº 123 (2006) ainda subscreve algumas “regras civis”

que deverão ser atendidas pelas MEs e EPPs no âmbito de sua gestão atendendo o previsto no

Código Civil, desobrigando-as da realização de assembleias ou reuniões dos sócios para

tomada de decisão, tornando válidas as decisões tomadas por maioria simples da

representação do capital social, ou seja, 50% dos sócios cotistas. Contudo, permanece a

necessidade das reuniões ou assembleias para as seguintes deliberações:

Previsto em contrato social;

Exclusão de sócio por justa causa;

Exclusão de sócio que ponha em risco a continuidade da empresa por conta da

prática de atos graves.

32

2.2 NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE TÉCNICAS GERAIS –

NBC TG

Lima e Lima (2016) afirmam que a Lei Complementar nº 123/2006 desobriga as MEs

e EPPs de elaborarem a contabilidade, o que não acontece com o Código Civil que alinhado

com resolução do Conselho Federal de Contabilidade – CFC – nº 1.418/12, determina que

essas empresas, além de elaborar a contabilidade, devem fazê-la conforme a Interpretação

Técnica Geral – ITG 1000 – modelo contábil para MEs e EPPs.

De acordo com a Resolução CFC 1.418 (2012) as MEs e EPPs não estão obrigadas a

adotarem a ITG 1000, contudo, devem continuar a adotar a NBC TG 1000 (Normas

Brasileiras de Contabilidade Técnica Geral 1000), ou então as Normas Brasileiras de

Contabilidade Técnicas Gerais, ou seja, aquela que melhor atender. A norma estabelece que

as demonstrações contábeis obrigatórias para as MEs e EPPs previstas na ITG 1000, são:

Balanço Patrimonial

Demonstração do Resultado

Notas Explicativas

Plano de Contas

2.2.1 Balanço Patrimonial - BP

Assaf Neto e Lima (2010) comentam que o BP expressa a posição financeira de uma

empresa num dado momento específico e está dividido em três grandes tópicos: Ativo,

Passivo Exigível e Patrimônio Líquido, sendo que a legislação vigente estabelece que Ativo e

Passivo devam seguir uma classificação específica, qual seja, Circulante e Não Circulante. O

Ativo não Circulante é formado por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado

e intangível. O Passivo Exigível, seja o circulante como o não circulante, será composto de

dívidas, obrigações, riscos e contingências. O Patrimônio Líquido é a diferença entre o Ativo

Total e o Passivo Exigível e será composto por: capital social, reservas de capital, ajuste de

avaliação patrimonial, reservas de lucros, lucros ou prejuízos acumulados. O quadro 3 ilustra

a estrutura do BP.

33

Quadro 3 - Estrutura do balanço patrimonial

Fonte: adaptado de CFC - Resolução 1.418 – ITG 1000 (anexo 2, 2012).

A estrutura do BP, conforme demonstra o quadro 3, propõe a análise comparativa de

dois ou mais períodos, tornando possível extrair informações acerca do desempenho da

empresa. Para realizar tal comparativo utilizam-se as análises vertical e horizontal que serão

apresentadas no capítulo que trata das DFs.

2.2.2 Demonstração de Resultado do Exercício – DRE

Gitman (2010) afirma que a DRE é uma ferramenta “popular” de avaliação da

rentabilidade em relação às vendas. Cada item dessa demonstração é expresso com uma

porcentagem da receita de vendas e permite a análise da rentabilidade da empresa em três

índices, que são: margem de lucro bruto, margem de lucro operacional e margem de lucro

líquido.

Períodos 31/12/x1 31/12/x0 Períodos 31/12/x1 31/12/x0

ATIVO PASSIVO

Circulante Circulante

Caixa e equivalente de caixa Fornecedores

Contas a Receber Empréstimos e financiamentos

Estoques Obrigações Fiscais

Outros Créditos Obrigações Trabalhistas

Contas a Pagar

Provisões

NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE

Realizável a Longo Prazo Financiamentos

Investimentos

Imobilizado PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Intangível Capital Social

(-) Depreciação e amortização Rservas de Capital

acumuladas Reservas de Lucros

Lucros Acumulados

(-) Prejuízos Acumulados

TOTAL TOTAL

BALANÇO PATRIMONIAL DA EMPRESA XYZ (ME OU EPP) ENCERRADO EM 31/12 (EM R$)

34

Santos e Veiga (2014) ratificam este conceito e complementam destacando que a DRE

tem por objetivo apresentar e fornecer, aos usuários das demonstrações financeiras, um

resumo de todas as receitas e despesas e custos, de forma estruturada e ordenada, o que

proporciona uma visualização objetiva dessas contas de resultado, que servirá de subsídio

para a análise e tomada de decisão.

Quadro 4 - Representação Gráfica do D.R.E.

Fonte: adaptado de: CFC - Resolução 1.418 – ITG 1000 (anexo 3, 2012).

O quadro 4 apresenta a demonstração gráfica de um modelo de DRE, a análise deve

ser feita em relação à composição das receitas, custos e despesas e suas representatividades

em relação à receita bruta de vendas, por isso a coluna (%).

2.2.3 Notas Explicativas - NE

Marion (2006) destaca que, apesar de já ser obrigatória para as sociedades anônimas

(S/A) de capital aberto, a nova lei das Sociedades por Ações estende-se aos outros tipos

societários, estabelecendo que as demonstrações contábeis sejam complementadas por NEs e

Contas - Período - Participação % 31/12/x1 %

Receita bruta de vendas ( Produtos, Mercadorias ou serviços) 100

(-) Deduções de Impostos, Abatimentos e Devoluções

(=) Receita Líquida de Vendas

(-) Custos das Vendas (Produtos, Mercadorias ou Serviços)

(=) LUCRO BRUTO

(-) Despesas Operacionais

Despesas Administrativas

Despesas com Vendas

Outras Despesas Gerais

(=) RESULTADO OPERACIONAL OU LUCRO OPERACIONAL

(+-) Resultado Financeiro

Rceitas Financeiras

(-) Despesas Financeiras

(=) RESULTADO ANTES DOS TRIBUTOS SOBRE O LUCRO

(-) Despesas com Contribuição Social (CSLL)

(-) Despesas com Imposto de Renda da Pessoa Jurídica

(=) LUCRO LÍQUIDO DO PERÍODO

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO - EMPRESA XYZ (EM R$)

35

outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento da

situação patrimonial e dos resultados do exercício.

Ribeiro (2010) declara que as NEs são esclarecimentos que visam complementar as

DFs e informar os critérios contábeis utilizados pela empresa, a composição dos saldos de

determinadas contas, os métodos de depreciação, os principais critérios de avaliação dos

elementos patrimoniais.

A Resolução CFC 1.418 (2012) determina que as NEs das demonstrações financeiras

das MEs e EPPs devem incluir, no mínimo:

a) Declaração explicita e não reservada de conformidade com a ITG 1000;

b) Descrição resumida das operações da empresa e suas principais atividades;

c) Referência às principais práticas contábeis adotadas na elaboração das

demonstrações contábeis;

d) Descrição resumida das políticas contábeis significativas utilizadas pela entidade;

e) Descrição resumida de contingências passivas, quando houver; e

f) Qualquer outra informação relevante para a compreensão das demonstrações

contábeis.

O quadro 5 demonstra um “modelo” de NEs. Considerando que a ITG 1000 não prevê

a obrigatoriedade das MEs e EPPs apresentarem o Demonstrativo de Fluxo de Caixa – DFC –

torna-se importante detalhar melhor a composição deste, uma vez que o mesmo representa

uma importante ferramenta de gestão para apoiar o (s) administrador (es) no processo de

tomada de decisão.

36

Quadro 5 - Notas Explicativas às Demonstrações Financeiras

Fonte: adaptado: de BM&F BOVESPA – empresas listadas ALL – América Latina Logística (2016)

O quadro 5 originalmente referia-se a uma empresa de capital aberto, tanto que foi

obtido a partir de pesquisa no site da BMF&BOVESPA, o item “d” foi adaptado para a

realidade das MEs e EPPs uma vez que tratava da quantidade de ações e seu valor de

mercado.

2.2.4 Plano de Contas Simplificado

Santos e Veiga (2014) citam o anexo 4 da ITG 1000 como um modelo de Plano de

Contas Simplificado sendo que o mesmo deve conter, no mínimo, 4 níveis, a saber:

Nível 1: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido; e Receitas, Custos e Despesas.

Nível 2: Ativo Circulante e Não Circulante; Passivo Circulante e Não Circulante;

Patrimônio Líquido; Receitas de Vendas; Outras Receitas Operacionais; Custos e

Despesas Operacionais.

1. Critérios Contábeis

As demonstrações financeiras foram preparadas de acordo com o recomendado pela NBC

ITG 1000, destacando-se:

a) Vidas úteis dos ativos imobilizados: até 31 de março de 2015 a empresa não tinha

um controle individualizado dos seus ativos. Em 1º. De abril de 2015 o trabalho

de individualização dos ativos foi concluído, fato que permitiu uma clara aferição

de suas vidas úteis remanescentes, que foram adotadas a partir desta data.

b) Provisão para devedores duvidosos: a partir de 1º. De abril de 2015 a empresa

passou a adotar como critério o provisionamento de 100% dos saldos vencidos

acima de 90 dias, salvo aqueles casos em que exista garantia real ou negociações

específicas.

c) Fluxo de caixa: durante o período de nove meses findo em 30 de setembro de

2015, a empresa realizou uma operação de leasing financeiro no montante de R$

314.656,00 que não envolveram caixa, portanto não estão refletidas na

demonstração de fluxo de caixa.

d) Capital social totalmente integralizado, representado por 16.500 quotas no valor

de R$ 10,00 cada, representando R$ 165.000,00.

37

Nível 3: Contas Sintéticas que representam o somatório das contas analíticas que

recebem os lançamentos contábeis, como, por exemplo, Caixa e Equivalentes de

Caixa.

Nível 4: contas analíticas que recebem os lançamentos contábeis como, por

exemplo, Bancos conta Movimento.

Quadro 6 - Plano de Contas Simplificado - 4 níveis

1 ATIVO

1.1 ATIVO CIRCULANTE

1.1.1 Caixa

1.1.1.01 Caixa Geral

1.1.2 Bancos C/Movimento

1.1.2.01 Banco Alfa

1.1.3 Contas a Receber

1.1.3.01 Clientes

1.1.3.02 Outras Contas a Receber

1.1.3.09(-) Duplicatas Descontadas

1.1.4 Estoques

1.1.4.01 Mercadorias

1.1.4.02 Produtos Acabados

1.1.4.03 Insumos

1.1.4.04 Outros

1.2 NÃO CIRCULANTE

1.2.1 Contas a Receber

1.2.1.01 Clientes

1.2.2 INVESTIMENTOS

1.2.2.01 Participações Societárias

1.2.3 IMOBILIZADO

1.2.3.01 Terrenos

2 PASSIVO

2.1 CIRCULANTE

2.1.1 Impostos e Contribuições a Recolher

2.1.1.01 Simples a Recolher

2.1.1.02 INSS

2.1.1.03 FGTS

2.1.2 Contas a Pagar

2.1.2.01 Fornecedores

2.1.2.02 Outras Contas

2.1.3 Empréstimos Bancários

2.1.3.01 Banco A - Operação X

2.2 NÃO CIRCULANTE

2.2.1 Empréstimos Bancários

2.2.1.01 Banco A - Operação X

2.3 PATRIMÔNIO LÍQUIDO

2.3.1 Capital Social

2.3.2.01 Capital Social Subscrito

2.3.2. Reservas

2.3.2.01 Reservas de Capital

Fonte: adaptado de: ITG 1000 – Modelo simplificado (http://www.leigeral.com.br/portallumis - 2016)

O quadro 6 demonstra um resumo do que seria um plano de contas em 4 níveis. De

acordo com o Conselho Regional de Contabilidade – São Paulo – CRC/SP (2013) o Plano de

Contas Simplificado tem a seguinte estruturação:

Nível 1 – 1. Ativo

Nível 2 – 1.1 Ativo Circulante

Nível 3 – 1.1.1 Caixa e Equivalentes de Caixa

38

Nível 4 – 1.1.1.1 Bancos Conta Movimento

A mesma estruturação é válida para as contas do passivo e patrimônio líquido, bem

como as de custos, despesas e receitas.

2.3 PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE

Segundo Attie (2011) os princípios de contabilidade geralmente aceitos são os

fundamentos resultantes do desenvolvimento da aplicação prática dos princípios técnicos

provenientes da contabilidade, de uso predominante no meio em que se aplicam,

proporcionando interpretação uniforme das demonstrações contábeis. Ainda de acordo com o

autor, os princípios contábeis permitem aos usuários fixar padrões de comparação e de

credibilidade em função do reconhecimento dos critérios adotados para a elaboração das

demonstrações contábeis, aumentam a utilidade dos dados fornecidos e facilitam a adequada

interpretação entre as empresas do mesmo setor.

Iudícibus et. al (2010) destacam os seguintes princípios de contabilidade.

Entidade

Continuidade

Realização

Custo como Base de Valor

Confrontação das Despesas e Receitas.

Denominador Comum Monetário

2.3.1 Princípio da Entidade

De acordo com Iudícibus et.al (2010) tal princípio pressupõe que a contabilidade é

executada e mantida para as entidades como pessoas completamente distintas das pessoas

físicas (ou jurídicas) dos sócios. Acrescentam, “quando uma firma individual paga uma

despesa é o caixa da firma que está desembolsando o dinheiro, e não o dono da empresa,

embora materialmente, muitas vezes, as duas coisas se confundam” (IUDÍCIBUS et. al 2010,

p. 288).

39

2.3.2 Princípio da Continuidade

Attie (2011) comenta que o princípio da Continuidade prevê que o patrimônio da

empresa, em sua composição qualitativa e quantitativa, depende das condições em que

provavelmente se desenvolverão as operações da mesma, ou seja, a suspensão de suas

atividades pode provocar efeitos na utilidade de determinados ativos, com a perda, até mesmo

integral, de seu valor.

2.3.3 Princípio da Realização

Iudícibus et. al (2010) argumentam que tal princípio, como regra geral, considera que

a receita é reconhecida no período contábil em que é realizada. Esta, por sua vez, usualmente

ocorre quando bens ou serviços são fornecidos a terceiros em troca de dinheiro ou de outro

elemento do ativo.

2.3.4 Princípio do Custo como Base de Valor

Este princípio refere-se ao custo original, ou seja, os elementos do ativo entram nos

registros contábeis pelo preço pago para adquiri-los ou fabricá-los, a não ser para aqueles

elementos do ativo sujeitos à amortização, depreciação ou exaustão, uma vez registrados, seu

valor inscrito não é alterado. (IUDÍCIBUS et. al 2010, p. 290).

2.3.5 Princípio da Confrontação das despesas com as receitas

Conforme registra Iudícibus et. al (2010) este princípio demonstra, em resumo, que as

despesas são atribuídas aos períodos de acordo com as receitas a que se referem, isto é, de

acordo com a data do fato gerador e não quando são pagas em dinheiro.

2.3.6 Princípio do denominador comum monetário

Este princípio diz que a contabilidade deve ser feita numa única moeda e que todos os

itens devem ser avaliados por essa moeda. Assim, na dívida contraída originalmente em

dólares, será controlada em dólares, mas na escrituração comercial será expressa em reais.

(PADOVEZI, 1996).

Belli (2016), ao discutir a relevância do CPC 16 (Código de Pronunciamentos

Contábeis 16) para a GC, comenta acerca das mudanças estruturais na legislação brasileira

que regem a contabilidade e relaciona os princípios fundamentais da contabilidade com os

40

princípios de GC nas pequenas e médias empresas brasileiras, conforme demonstrado no

Quadro 7.

Quadro 7 - Comparativo dos Princípios de GC e Princípios Contábeis

PRINCÍPIO DA GC PRINCÍPIO CONTÁBIL COMENTÁRIOS

Disclosure (Transparência):

Consiste em disponibilizar

para as partes interessadas

informações que sejam de

seu interesse e não apenas

aquelas impostas por leis ou

regulamentos. IBGC (2015).

Entidade: Reconhece o

Patrimônio como objeto da

contabilidade e afirma a

autonomia patrimonial, a

necessidade da diferenciação

de um Patrimônio particular

no universo dos patrimônios

existentes. ATTIE (2011).

A falta de ação

administrativa aponta para

falta de controles, podendo

gerar aumentos nos custos

dos estoques, resultado

econômico-financeiro fictício

e demonstrações contábeis

irreais. BELLI (2016).

Fairness (Equidade):

Observância da igualdade de

direitos de todos os

interessados e facilitação do

exercício efetivo desses

direitos. SILVEIRA (2015)

Continuidade: pressupõe que

a Entidade continuará em

operação no futuro e,

portanto, a mensuração e a

apresentação dos

componentes do patrimônio

levam em conta esta

circunstância. ART. 5º. CFC

1282/10.

Tais princípios são análogos

em sua finalidade,

preservação, otimização da

produção, seu valor

econômico de longo prazo,

fiscalização, controle dos

interesses das partes

interessadas e adaptação às

novas realidades. BELLI

(2016).

Accountability (Prestação de

contas): Os representantes da

empresa devem prestar

contas de suas atuações de

modo claro, conciso,

compreensível e tempestivo,

assumindo integralmente a

responsabilidade por seus

atos e omissões.

Custo com Base de Valor:

Refere-se ao custo original,

ou seja, os elementos do

ativo entram nos registros

contábeis pelo preço pago

para adquiri-los ou fabricá-

los, pelo valor justo dos

recursos entregues na sua

aquisição. IUDÍCIBUS 2010

A prestação de contas

efetivas e transparentes é

cada vez mais necessária,

haja vista a disputa pela

confiabilidade e credibilidade

perante aos stakeholders e

assim garantir a confiança

necessária à sua

continuidade. BELLI (2016).

41

PRINCÍPIO DA GC PRINCÍPIO CONTÁBIL COMENTÁRIOS

Compliance

(Responsabilidade

Corporativa): Conselheiros e

executivos devem zelar pela

viabilidade econômico-

financeira das organizações,

reduzir as externalidades

negativas dos negócios e das

operações e aumentar as

positivas. IBGC (2015)

Continuidade: O princípio da

continuidade pressupõe que a

Entidade continuará em

operação no futuro e,

portanto, a mensurarão e a

apresentação dos

componentes do patrimônio

levam em conta esta

circunstância. CFC n.º

1282/10).

Por analogia o princípio da

Continuidade é o que mais se

aproxima da

Responsabilidade

Corporativa, “pressupõe que

a Entidade continuará em

operação no futuro”,

garantindo à sociedade,

qualidade de vida, cultura e

assistências e defesa do meio

ambiente. BELLI (2016).

Fonte: Adaptado de: A relevância do CPC 16 para Governança Corporativa. BELLI (2016).

O quadro 7, quando avaliado pela perspectiva das MEs e EPPs, permite inferir que a

sua realidade não está tão distante das médias e grandes empresas. Talvez de forma empírica

elas já pratiquem os princípios de GC. Já os princípios da contabilidade não podem ser

empíricos, apesar da tecnicidade que os revestem, as informações geradas podem conter

assimetrias. Por isso, uma análise mais detalhada das demonstrações contábeis pode contribuir

para melhorar o grau de transparência destas e gerar mais confiança para os stakeholders, este

será o assunto do próximo capítulo.

42

3. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

O propósito deste capítulo é apresentar a importância da análise das demonstrações

financeiras no processo de análise de risco de crédito, bem como nos princípios de GC.

Portanto, a abordagem ficará restrita aos indicadores de, endividamento, atividade,

rentabilidade e liquidez. Apresenta-se, também, as técnicas de análises vertical e horizontal

Assaf Neto e Lima (2010) destacam que a análise das demonstrações financeiras

constitui um dos estudos mais importantes das finanças empresariais e visa fundamentalmente

ao estudo do desempenho econômico-financeiro de uma empresa em determinado período

passado, para diagnosticar sua posição atual e produzir resultados que sirvam de base para a

previsão de tendências futuras.

Para o administrador da empresa, a análise visa basicamente uma avaliação de seu

desempenho geral como forma de identificar os resultados das diversas decisões financeiras

tomadas. Já para o analista externo, apresenta objetivos mais específicos com relação à

avaliação do desempenho da empresa, os quais variam de acordo com a sua posição de credor

– liquidez e capacidade de pagamento – ou de investidor – retorno do investimento e criação

de valor (ASSAF NETO e LIMA 2010).

Ching, Marques e Prado (2010) comentam que na análise das demonstrações

financeiras de uma empresa, maior importância é dada ao BP e à DRE, uma vez que por meio

dessas peças contábeis é evidenciada de forma objetiva a situação econômico-financeira da

empresa. Gitman (2010), por sua vez, destaca que os indicadores financeiros podem ser

classificados em cinco categoriais principais: liquidez, atividade, endividamento,

lucratividade e valor de mercado. Os indicadores de liquidez, atividade e endividamento

medem risco; os de lucratividade medem retorno; os de valor de mercado medem tanto risco

quanto retorno.

3.1 INDICADORES DE RENTABILIDADE

Silva (2006) afirma que o lucro, seguramente, é o principal estímulo de qualquer

empresário, independentemente do porte da empresa. É também uma das formas de avaliação

do resultado de uma organização. Os índices de retorno, mais conhecidos por indicadores de

rentabilidade, indicam qual o retorno o negócio está proporcionando, destacando-se os

43

indicadores de retorno sobre o investimento, retorno sobre as vendas e retorno sobre o capital

próprio, entre outros.

3.1.1 Retorno sobre o Ativo (ROA)

Assaf Neto e Lima (2010) explicam que esse indicador tem por propósito apurar a taxa

de retorno gerado pelas aplicações realizadas por uma empresa em seus ativos. A sigla ROA

vem do inglês Return on Assets. Ele indica o retorno gerado por cada $ 1,00 investido pela

empresa em seus ativos.

𝑅𝑂𝐴 =LUCRO OPERACIONAL LIQ. IR

ATIVO TOTAL 𝑋 100

3.1.2 Retorno sobre as Vendas (RSV)

Silva (2006) esclarece que o indicador de retorno sobre as vendas compara o lucro

líquido em relação às vendas líquidas de um determinado período, informando qual o

percentual de lucro que a empresa obteve em relação ao seu faturamento.

𝑅𝑆𝑉 =LUCRO LÍQUIDO

RECEITA LÍQUIDA VENDAS 𝑋 100

3.1.3 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL)

Gitman (2010) afirma que este indicador mede o retorno obtido sobre os investimentos

dos sócios na empresa. Quanto mais alto esse retorno, melhor para os proprietários. Ferronato

(2001) acrescenta que será através desse indicador que os microempresários terão uma noção

aproximada do tempo em que se dará o retorno dos seus investimentos.

𝑅𝑃𝐿 =LUCRO LÍQUIDO

PL 𝑋 100

44

3.2 INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO

Ching, Marques e Prado (2010) destacam que os indicadores de endividamento têm o

objetivo de mostrar a relação entre as fontes de capital próprio – capital da empresa – que é

representado pelo patrimônio líquido, em relação ao capital de terceiros, que é representado

pelo passivo circulante mais o exigível de longo prazo. Os principais índices de

endividamento normalmente avaliados são: participação de capital de terceiros sobre os

recursos toais, grau de endividamento e composição do endividamento.

3.2.1 Participação de Capital de Terceiros sobre os Recursos Totais

Gitman (2010) denomina este indicador como índice de endividamento geral, que

mede a proporção do ativo total financiado pelos credores da empresa. Quanto mais elevado,

maior o montante de capital de terceiros usados para gerar lucros, ele é medido em

porcentagem (%).

𝑃𝑎𝑟𝑡𝑖𝑐𝑖𝑝𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠 =Exigível total

Ativo total 𝑋 100

3.2.2 Grau de Endividamento

Assaf Neto e Lima (2010) intitulam este indicador como Relação Capital de Terceiros

(P) / Capital Próprio (PL). Ele demonstra o nível de endividamento (passivos) da empresa em

relação a seu financiamento por meio de recursos próprios. Ou seja, para cada $ 1,00 de

capital próprio investido, quanto foi levantado de capital de terceiros.

𝐺𝑟𝑎𝑢 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 =Exigível total

Patrimônio Líquido

3.2.3 Composição do Endividamento

Ching, Marques e Prado (2010) afirmam que este indicador demonstra o

desdobramento do endividamento a curto e a longo prazo, isto é, o perfil da utilização de

capital de terceiros. Considerando que o índice varia de 0 a 1, quanto mais próximo de 1,

45

maior será a pressão no caixa da empresa em honrar compromissos de curto prazo. O inverso,

quanto mais próximo de 0, maior será a folga para a empresa honrar suas obrigações de curto

prazo.

𝐶𝑜𝑚𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 =Passivo circulante

Exigível total

3.3 INDICADORES DE ATIVIDADE

Ferronato (2011) trata os indicadores de atividade como “ciclometria”. O autor registra

que tais índices são usados para medir a rapidez com que as contas circulantes giram ou se

renovam durante determinado período de tempo, esses quocientes são usados para melhorar a

avaliação do endividamento e da liquidez da pequena empresa.

3.3.1 Giro e Prazo médio de renovação dos Estoques

Assaf Neto e Lima (2010) comentam que este indicador serve para medir o tempo

médio para a completa renovação dos estoques da empresa e o giro (rotação) dos mesmos,

identifica o número de vezes em que os estoques se renovaram, ou seja, giraram na empresa

dentro do período considerado, que normalmente é de um ano.

𝑃𝑀𝑅𝐸 =Estoque médio

𝐶𝑀𝑉 𝑋 360

𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 =360

PMRE

3.3.2 Prazo Médio de Pagamentos

Ferronato (2011) afirma que este indicador tem por objetivo medir o tempo que a

microempresa demora, em média, para quitar o volume de suas compras a prazo. Potenciais

emprestadores de capitais e fornecedores comerciais se interessam muito por esta medida.

𝑃𝑀𝑃 =Fornecedores (média)

Compras anuais a prazo 𝑋 360

46

3.3.3 Prazo Médio de Recebimentos

Gitman (2010) informa que este indicador é útil para avaliar as políticas de crédito e

cobrança, ou seja, mede o tempo necessário para cobrar as duplicatas emitidas por vendas a

prazo.

𝑃𝑀𝑅 =Clientes (média)

Vendas anuais a prazo 𝑋 360

3.4 INDICADORES DE LIQUIDEZ

Ferronato (2011) destaca que os indicadores de liquidez são medidas de avaliação da

capacidade financeira da microempresa de pagar seus compromissos em dia. Miranda (2010)

ratifica tal conceito e acrescenta uma abordagem diferente na análise dos indicadores de

liquidez, que define como “índices de liquidez ponderados”. Parte-se do pressuposto de que,

ponderando os prazos médios de realização dos elementos do Ativo e Passivo Circulantes na

composição dos índices de liquidez, será possível minimizar significativamente os efeitos

oriundos das diferenças temporais, já que no cálculo convencional isso não é considerado.

Neste estudo serão apresentadas as duas metodologias, no capítulo que trata do Estudo

de Caso. O quadro 8 apresenta um resumo dos indicadores de liquidez habitualmente

aplicados nos processos de análise e o demonstrativo de cálculo dos mesmos.

Quadro 8 – Índices de Liquidez

INDICADOR - CONCEITO FÓRMULA DE CÁLCULO

Liquidez Corrente: mede a relação existente

entre o ativo circulante e o passivo circulante

𝐿𝐶 =Ativo Circulante

Passivo Circulante

Liquidez Seca: mede a relação dos ativos de

maior liquidez (disponibilidades), com o

passivo circulante.

𝐿𝑆 =

Ativo circulante − Estoques −𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑐𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠

Passivo Circuclante

Liquidez Imediata: mede a relação entre o

disponível e o passivo circulante. 𝐿𝐼 =

Disponível

Passivo Circulante

Liquidez Geral: demonstra a saúde financeira

da empresa para o curto e logo prazos. 𝐿𝐺 =

Ativo Circulante + Realizável𝑎 𝐿𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜

Passivo Circulante + Exigível𝑎 𝐿𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜

Fonte: Dados da pesquisa - elaborado pelo autor (2016)

47

Considerando que os indicadores de liquidez medem a capacidade de pagamento da

empresa, o desejável é que eles sejam sempre superiores a um (1). Por exemplo: se

determinada empresa apresentar um índice de liquidez seca de $ 1,97, entende-se que, para

cada $ 1,00 de dívidas circulantes (curto prazo), a empresa mantém $ 1,97 de ativos

monetários circulantes (disponibilidades).

3.5 ANÁLISE VERTICAL

Ching, Marques e Prado (2010) apresentam a análise vertical como um instrumento de

análise da DRE, uma vez que tem o propósito de medir a participação de cada conta que

compõe o demonstrativo em relação às receitas líquidas de vendas.

No caso do BP, cada item expresso como porcentagem do total do ativo ou do passivo.

𝐴𝑉 (𝐷𝑅𝐸) =CONTA OU GRUPO DE CONTAS

RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 𝑋 100

𝐴𝑉 (𝐵𝑃) =CONTA OU CRUPO DE CONTAS

TOTAL DO ATIVO OU PASSIVO𝑋 100

3.6 ANÁLISE HORIZONTAL

A análise horizontal permite examinar a evolução das variações das contas do BP e da

DRE de um período para outro, tomando o período anterior como base. Serve para mostrar o

comportamento de cada conta ou grupo de contas ao longo dos períodos (CHING,

MARQUES e PRADO 2010).

𝐴𝐻 =VALOR ATUAL DA CONTA − VALOR ANTERIOR DA CONTA

VALOR DA CONTA NO PERÍODO ANTERIOR 𝑋 100

Ching, Marques e Prado (2010) afirmam que para se realizar uma análise segura e

confiável por intermédio de indicadores, é recomendável não se analisar o indicador de

maneira isolada, considerar dados de mais de um período, compará-los com os de empresas

concorrentes. Ressaltam ainda que o uso da análise de indicadores é de grande importância

para a análise de crédito em geral, assunto do próximo capítulo.

48

4. CONCESSÃO DE CRÉDITO POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

BANCÁRIAS

A proposta deste capítulo é apresentar uma síntese dos aspectos que envolvem a

análise de risco e concessão de crédito bancário por parte das instituições financeiras

bancárias brasileiras, às microempresas e empresas de pequeno porte.

4.1 ORGÃOS DE REGULAÇÃO, AUTO REGULAÇÃO, FISCALIZAÇÃO E

PARTICIPANTES DO MERCADO

De acordo com Lima, Galardi e Neubauer (2009), o sistema financeiro é um conjunto

de instituições cuja função é promover e facilitar a transferência de recursos dos agentes

superavitários para os setores deficitários da economia.

O atual sistema financeiro brasileiro foi regulamentado pela Lei de Reforma Bancária

nº 4595 de 1.964, baseada no modelo americano, em que as instituições financeiras bancárias

são segregadas pelas funções que exercem, como segue: os bancos comerciais são voltados

para a captação no varejo e ao crédito tradicional de curto e médio prazos; os bancos de

investimentos e de desenvolvimento são voltados para o crédito de prazos mais longos,

inclusive com recursos externos, atendendo basicamente o mercado de capitais, as sociedades

de crédito, financiamento e investimentos, além das instituições do Sistema Financeiro da

Habitação (SFH) que tem seu foco no financiamento habitacional (LIMA, GALARDI e

NEUBAUER 2009, p. 221).

4.1.1 Conselho Monetário Nacional – CMN

O Conselho Monetário Nacional, conforme afirma Assaf Neto (2010), é um órgão

absolutamente normativo, não desempenhando, portanto, nenhuma atividade executiva. É o

responsável por processar todo o controle do sistema financeiro e influenciar as ações de

órgãos como BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –, além de

assumir funções legislativas das instituições financeiras públicas e privadas. Sua principal

atribuição é a formulação de toda a política de moeda e do crédito, objetivando atender aos

interesses econômicos e sociais do país.

49

4.1.2 Banco Central do Brasil – BACEN

Desempenha a função de secretaria-executiva do CMN. É o órgão fiscalizador do

Sistema Financeiro Nacional – SFN – na medida em que define regras, limites e condutas das

instituições. Banco de penalidades, ao intervir e até mesmo liquidar extrajudicialmente outras

instituições financeiras. É o gestor do SFN, ao expedir normas e autorizações e promover o

controle das instituições financeiras e de suas operações. É considerado também um executor

da política monetária do governo ao exercer o controle dos meios de pagamento e executar o

orçamento monetário. É o banco do governo, na gestão da dívida pública interna e externa.

Entre as suas principais atribuições destaca-se a de fiscalizar as instituições

financeiras, aplicando, quando necessário, as penalidades previstas em lei, que podem ir desde

uma simples advertência aos administradores até a intervenção para saneamento ou liquidação

extrajudicial da instituição (LIMA, GALARDI e NEUBAUER; 2009, p. 224).

4.1.3 Bancos Múltiplos

Os Bancos Múltiplos surgiram em 1988, a partir da Resolução 1.524 do BACEN, que

permitiu que os bancos criassem uma única personalidade jurídica transformando então suas

diferentes “carteiras” de clientes numa só. As instituições que podem compor banco múltiplo

são: banco comercial, banco de investimento e de desenvolvimento, sociedade de crédito,

financiamento e investimentos e sociedade de crédito imobiliário. Para se constituir um banco

múltiplo é necessário que esse tenha em sua composição no mínimo duas carteiras sendo uma

delas a comercial ou de investimentos (LIMA, GALARDI e NEUBAUER; 2009; p. 227).

Conforme Lima, Galardi e Neubauer (2009), bancos comerciais são os intermediários

financeiros que atuam basicamente no curto e curtíssimo prazo transferindo recursos dos

agentes que possuem disponibilidades monetárias para aqueles que necessitam de recursos

para cobrir gastos com investimentos e capital de giro. Entre as operações mais comuns dos

bancos comerciais destacam-se: desconto de títulos; operações de crédito rural, de câmbio e

de comércio internacional; operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente;

captar depósitos à vista e a prazo fixo, além de várias outras.

Os bancos de investimentos atuam no médio e longo prazos aplicando recursos em

operações para financiar investimentos fixos – aquisição de bens de capital – e também

50

capital de giro para as empresas. Entre as operações mais comuns a esse segmento estão os

repasses de recursos internos e externos, administração de recursos de terceiros – fundos de

investimentos, além de operações de arrendamento mercantil. Assaf Neto (2006, p. 51)

complementa a classificação dos bancos múltiplos pelo critério do volume de negócios

dividindo-os em duas categorias: bancos de varejo ou bancos de atacado.

Os bancos de varejo costumam operar com diversas modalidades e tipos de produtos

financeiros, abrangendo um grande número de clientes e suas principais fontes de recursos

são os depósitos a prazo e, principalmente, os depósitos à vista.

Os bancos de negócios, por sua vez, estão voltados preferencialmente para operações

financeiras de maior complexidade e porte, trabalhando um número pequeno de clientes, suas

operações são mais estruturadas e destinadas a atender necessidades mais específicas destes.

4.2 MERCADO FINANCEIRO E INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

Segundo Assaf Neto (2010) a intermediação financeira desenvolve-se de forma

segmentada, com base em quatro subdivisões estabelecidas para o mercado financeiro:

Mercado monetário;

Mercado de crédito;

Mercado de capitais;

Mercado cambial.

Para Gitman (2010), os mercados financeiros são uma espécie de “fóruns” em que

ofertantes e demandantes de fundos podem negociar diretamente.

Considerando que o foco deste estudo é o crédito destinado às MEs e EPPs, serão

descritos apenas os mercados monetário e de crédito.

4.2.1 Mercado Monetário

De acordo com Gitman (2010) o mercado monetário é criado por uma relação

financeira entre ofertantes e demandantes de fundos de curto prazo (com vencimentos em um

ano ou menos). Nesse mercado existem os agentes superavitários, pessoas físicas, empresas,

51

órgãos governamentais e instituições financeiras que dispõe de fundos temporariamente

ociosos. Ao mesmo tempo outros agentes deficitários que também podem ser pessoas físicas,

empresas, órgãos governamentais e instituições financeiras necessitam temporariamente de

financiamento para suas operações e aquisições.

Assaf Neto (2010) registra que o mercado monetário visa o controle da liquidez

monetária da economia por meio da negociação dos diversos papéis – títulos públicos –

emitidos pelo Tesouro Nacional para financiar o orçamento público (ex.: NTN – Notas do

Tesouro Nacional); LTN (Letras do Tesouro Nacional), além dos títulos emitidos por Estados

e Municípios.

Nesse mercado, também, são negociados títulos privados como os Certificados de

Depósitos Interfinanceiros – CDI – exclusividade das instituições financeiras, como também

os Certificados de Depósitos Bancários – CDB – e as debêntures, que podem ser emitidas por

entidades não financeiras também.

Os títulos – papéis – que são negociados no mercado monetário possuem como

principal característica prazos reduzidos e alta liquidez e sua remuneração normalmente está

atrelada à taxa de juros da economia. No caso brasileiro, a SELIC – Sistema Especial de

Liquidação e Custódia –, aplicada como referência para a remuneração de alguns títulos

públicos federais.

4.2.2 Mercado de Crédito

O propósito do mercado de crédito é atender às necessidades de recursos de curto e

médio prazos dos diversos agentes econômicos – empresas, pessoas físicas etc. –, o que pode

acontecer por meio de empréstimos e financiamentos destinados às empresas e também por

concessão de crédito às pessoas físicas.

De acordo com Assaf Neto (2010), as operações desse mercado são realizadas

normalmente por instituições financeiras bancárias – bancos comerciais e múltiplos – mas

também contam com a participação de instituições financeiras não bancárias, estas atuam no

financiamento de bens de consumo duráveis demandados em boa parte por pessoas físicas.

52

4.2.3 Intermediação Financeira

No processo de intermediação financeira para as operações de crédito, uma instituição

financeira pode atuar como sujeito ativo – credor de empréstimos de recursos – ou sujeito

passivo – devedor de recursos captados – é o que afirma Assaf Neto (2010) e está

demonstrado na Figura 3.

A instituição financeira, neste exemplo bancária, recebe recursos de poupadores

(aplicadores), funding da operação de crédito, assumindo junto a estes a obrigação de

devolver o principal devidamente corrigido de juros, num dado período de tempo. Constitui-

se assim uma operação passiva e o banco passa a ser o devedor dos recursos captados, por

exemplo, depósitos à vista e depósitos a prazo fixo.

Com os recursos captados junto a investidores, que constitui agora o capital da

instituição financeira bancária, esta realiza operações de empréstimos e financiamentos a

tomadores que necessitam de recursos, criando assim uma operação ativa e ficando com o

direito de receber no futuro o principal acrescido de juros, exemplo um financiamento de uma

máquina para uma empresa produzir sapatos.

Figura 3 - Intermediação Financeira

Fonte: Assaf Neto (2010, p. 61).

As taxas de juros cobradas nas operações ativas são normalmente maiores que as

pagas nas operações passivas, a diferença entre elas gera o resultado bruto da operação que é

definido como spread e representa a remuneração – ganho – da instituição financeira bancária

pela intermediação do negócio.

Tomador de

Recursos

Instituição

Financeira

Poupador

(aplicador)

Crédito Aplica

Resgate Resgate

Operações Ativas Operações Passivas

53

4.3 SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE CRÉDITO

Conforme relatam Pinheiro e Moura (2001), o mercado de crédito está dividido em

três segmentos: Corporativo, Middle Market e Varejo. No primeiro há uma simetria de

informações e todos os bancos conseguem, de certa forma, avaliar com maior precisão o grau

de risco representado por este tipo de cliente. Securato (2002) afirma que tais clientes operam

normalmente com os chamados bancos de atacado, pois as suas necessidades de crédito

normalmente são diferenciadas dos demais mercados.

No segmento varejo operam as instituições financeiras de variados portes, mas que

possuem em comum uma política de crédito mais flexível, com uma carteira de produtos mais

padronizados, as operações costumam ser de valores pequenos ou médios e as taxas de juros

normalmente são mais elevadas (SECURATO, 2002).

O middle market (médio mercado – tradução do autor) brasileiro é composto por

empresas de pequeno e médio portes que operam em todos os setores econômicos. A

classificação ocorre normalmente com base no faturamento bruto anualizado da empresa e

cada instituição financeira bancária possui um critério próprio, podendo variar de R$ 10

milhões/ano até R$ 100 milhões/ano. O middle market costuma ter por característica um

relacionamento mais próximo entre a instituição financeira bancária e o cliente tomador de

crédito, gerando assim uma assimetria interbancária de informações em que apenas uma

instituição financeira consegue avaliar o nível de risco de crédito que o tomador representa.

Tais informações são coletadas internamente a partir da movimentação de fluxo de caixa do

cliente (BARBOSA, 2012).

4.4 POLÍTICA E ANÁLISE DE CRÉDITO

Securato (2012) conceitua crédito afirmando que o termo vem do latim creditum, que

significa confiança ou segurança na verdade de alguma coisa, crença/reputação, boa fama e

identifica uma relação de confiança entre duas ou mais partes numa determinada transação.

Acrescenta ainda que se trata de algo presente no dia a dia das pessoas, facilitando a compra e

venda de serviços ou produtos. Portanto, na simples compra/venda de um produto numa loja

qualquer, existe uma operação que envolve o conceito crédito, pelos seguintes motivos:

a confiança na qualidade do produto;

54

a confiança no dinheiro (seja moeda, cheque ou cartão) utilizado na transação.

Silva (1998) apud Securato (2012, p.23), “o vocábulo crédito define um instrumento

de política de negócios a ser utilizado por uma empresa comercial ou industrial na venda a

prazo de seus produtos ou por banco comercial, por exemplo, na concessão de empréstimos,

financiamentos ou fianças”.

4.4.1 Tipos de Crédito

Conforme apresenta Securato (2012), o crédito pode ser classificado como público ou

privado, bancário ou mercantil, levando em consideração que:

O crédito público tem sua origem nas necessidades de cobertura de gastos

governamentais, tanto de custeio quanto de investimento e geralmente é obtido

por meio da emissão de papéis ou títulos, que caracterizam obrigações com prazos

e juros previamente definidos.

O crédito privado, por sua vez, tem origem na necessidade de recursos das

empresas dos mais variados setores, para cobertura de capital de giro ou para

investimentos, visando a continuidade e crescimento dos negócios, mas também

pode estender-se às pessoas físicas, para suprir necessidades imediatas ou para

antecipar consumo ou investimento.

Crédito bancário ou financeiro ocorre quando o doador de recursos é uma

instituição bancária ou financeira; e

Crédito comercial ou mercantil ocorre quando o doador de recursos é uma

empresa comercial, prestadora de serviços ou de atividade industrial.

4.4.2 Políticas de Investimento em Crédito

Securato (2012) confirma que as políticas de investimento em crédito estão ligadas

diretamente à questão da liquidez, retorno e risco do portfólio e que deverão estar de acordo

com o perfil do depositário dos recursos. No caso dos bancos, os investimentos em crédito

formam parte importante da carteira total. Essa carteira é formada por títulos de crédito e

operações de crédito – empréstimos diretos – de diferentes prazos. Portanto, é importante que

na sua definição de política de crédito, a instituição financeira bancária:

55

estabeleça condições de prazo compatíveis com seus prazos de captação de

recursos para os diferentes produtos caracterizados como empréstimos;

considere a possibilidade de formação de hedge quando existir o descasamento de

prazos e de moeda;

estabeleça limite de crédito por cliente e por produto;

determine o custo de captação dos recursos e combiná-los com os riscos dos

clientes e dos produtos, de forma a não afetar o retorno ao banco;

defina metodologia de análise do risco das operações de crédito por produto; e

estabeleça políticas de cobrança, de controle das operações e de perdas nas

operações.

4.4.3 Análise de crédito para MEs e EPPs

Santos (2010) destaca que o objetivo do processo de análise de crédito é verificar se o

cliente possui idoneidade e capacidade financeira para amortizar a dívida. Para realizar a

análise de crédito, os analistas utilizam duas técnicas: a técnica subjetiva baseada no

julgamento humano e a técnica objetiva baseada em procedimentos estatísticos.

De acordo com Barbosa (2012), a análise de crédito é um processo que requer

habilidade por parte de quem vai extrair as informações inerentes ao universo do pretendente,

com vistas à tomada de decisões que devem estar respaldadas em elementos de convicção

consistentes. Definida a área de atuação, o analista de crédito solicita e recebe a

documentação e informações da empresa, que deve contemplar desde as demonstrações

financeiras (balanço patrimonial, demonstração de resultado do exercício), abertura do

endividamento bancário, avaliações adicionais relativas ao desempenho operacional da

empresa como segmento de atuação, produção, além de outros dados disponibilizados por

organizações que vendem informação, como Equifax e Serasa, dentre outros.

Santos (2010) complementa, afirmando que o processo de análise subjetiva envolve

decisões individuais quanto à concessão ou recusa de crédito e que nesse processo, a decisão

baseia-se na experiência adquirida, disponibilidade de informações e sensibilidade de cada

analista quanto ao risco do negócio.

56

4.5 AVALIAÇÃO DE RISCO DE CRÉDITO

Rogante (2009) define risco de crédito como o risco básico ao qual uma instituição

financeira está exposta e representa a possibilidade de não recuperar o dinheiro emprestado.

Tal conceito pode ser complementado com Securato (2012, p.81) “risco é uma forma de

medir quanto podemos perder numa operação, em relação a um ganho médio estabelecido”.

Securato (2012) argumenta que o risco de uma empresa não depende exclusivamente

de seus esforços, uma vez que o seu risco total deve ser dividido em duas partes: Risco

conjuntural mais Risco próprio.

O risco conjuntural, também conhecido como risco sistemático ou sistêmico,

caracteriza as influências econômicas, políticas, sociais, ambientais etc. aos quais

uma empresa está sujeita.

O risco próprio ou não sistêmico é a parte do risco que depende unicamente da

empresa e do setor no qual atua, correspondendo a fatores como habilidade dos

administradores, situação do setor e características específicas em relação ao

mercado em que atua, entre outros.

Consequentemente, afirma Securato (2012), uma análise de risco de crédito deve levar

em consideração todos os aspectos que, teoricamente, podem caracterizar uma maior ou

menor exposição ao risco, isso pode ser realizado por meio de uma análise abrangente,

envolvendo todos os aspectos do crédito, ou seja, o risco deve ser medido com base num

conjunto histórico de informações do cliente. Para tanto ele sugere a aplicação de um modelo

de análise, representado pelos Cs do crédito que gerará uma classificação de risco de crédito.

4.5.1 Os Cs do crédito

Os Cs do Crédito tratam-se de uma metodologia bastante difundida para análise de

crédito que parte do princípio de identificar seis grupos de informações características da

empresa, que são:

Caráter;

Capacidade;

Capital;

Colateral;

Condições; e

57

Conglomerado

O quadro 9 demonstra, de forma resumida, os conceitos básicos de cada um dos Cs do

crédito. Naturalmente, a profundidade da análise será definida pela política de crédito da

instituição financeira bancária com o objetivo de padronizar e tornar mais objetiva a análise

de crédito.

Securato (2012) destaca que a análise dos Cs do crédito procura estabelecer as

características próprias da empresa. Assim, conclui-se que um analista de crédito, ao coletar

os dados e analisa-los em função dos Cs do crédito, está apenas avaliando o risco próprio, ou

risco não sistemático da empresa. Portanto, como já foi citado, a análise deve ser completada

com os aspectos do risco conjuntural ou sistemático, ou seja, como a empresa se comportará

com uma eventual desvalorização cambial ou com o aumento da inflação, por exemplo.

Quadro 9 - Os 6 Cs do Crédito

Caráter Diz respeito à intenção do cliente, à vontade,

à disposição de saldar a dívida. Nos bancos é

obtido através de pesquisas cadastrais e

referências do cliente.

Capacidade Revela a competência técnica da empresa ou

de seus gestores para gerar os recursos

necessários para pagamento dos

compromissos assumidos e obter lucro na

atividade.

Condições São influenciadas pelos ambientes interno

(pontos fortes e fracos) ou externo (ameaças

e oportunidades) do mercado onde a empresa

está inserida.

Capital Refere-se à situação econômico-financeira da

empresa apurada por meio de seus

demonstrativos contábeis e geração de caixa

necessário à manutenção do objeto social.

Colateral É a oferta de garantias pelo tomador que,

mesmo não devendo ser considerado fator

determinante para efeito da concessão do

crédito, se torna aspecto de segurança para o

credor por gerar comprometimento do

devedor. É a análise do patrimônio do cliente

Conglomerado Significa o conjunto de empresas ou pessoas

físicas interligadas, cujos resultados poderão

ser afetados devido ao relacionamento entre

elas, analisando-se o grupo. Fonte: Porton et al. (2008, quadro 1, p. 3).

58

Com base nisso, o mesmo autor propõe um modelo matricial de análise de risco a

partir dos Cs do crédito. A ideia é captar a maneira como as características próprias da

empresa comportam-se, em diferentes conjunturas. Então, o objetivo é obter o risco total de

uma empresa considerando os elementos de risco próprio, dados pelos Cs do crédito

envolvidos em diferentes situações de risco conjuntural.

Securato (2012, p. 83/84) apresenta a base do modelo matricial de risco de crédito que

é a construção de um quadro formado por linhas que representam os Cs do crédito e por

colunas que representam os possíveis cenários conjunturais, indicados por C1, C2, C3, Cn. Os

cenários conjunturais são definidos com base em estudos futuros de variáveis econômicas

mais significativas, como taxa de juros, câmbio, inflação etc. O modelo apresentado considera

que a empresa avaliadora adquire uma avaliação de cenários consistente periodicamente,

elaborada por empresas conceituadas no mercado.

59

Quadro 10 - Estrutura da matriz de crédito

Fonte: adaptado – Securato (2012, p. 84, figura 1).

Os cenários macroeconômicos para esse tipo de análise devem ser bastante realistas e

factíveis, pois alguns atributos como lucratividade, endividamento e flexibilidade podem ter

sua avaliação alterada em diferentes cenários (SECURATO 2012, p. 85).

De acordo com Securato (2012) a probabilidade de ocorrência de cada cenário, que

aparece exemplificada na matriz como P(C1), P(C2),....P(C5), é que irá caracterizar o risco

sistemático; a determinação criteriosa de cada uma delas é tarefa extremamente relevante para

o sucesso do modelo.

C1 C2 C3 C4 C5

Pontualidade

Tempo dos sócios na atividade

Facilidade e sinceridade nas negociações

Esforço para honrar compromissos

Facilidade para obter informações

Médias Q11 Q12 Q13 Q14 Q15

Área de produção

Área de compras

Área de vendas

Área de administração geral

Instações da empresa

Área de controles

Médias Q21 Q22 Q23 Q24 Q25

Lucratividade

Endividamento

Liquidez

Estrutura de capital

Efeito tesoura

Médias Q31 Q32 Q33 Q34 Q35

Caução

Alienação

Penhor mercantil

Hipoteca

Aval

Fiança

Médias Q41 Q42 Q43 Q44 Q45

Poder de adaptação a novas situações

Agilidade e flexibilidade

Programas de qualidade

Produtos e concorrências

Médias Q51 Q52 Q53 Q54 Q55

Sinergia com outras empresas do grupo

Poder do grupo de garantir a empresa

O efeito administrativo do grupo é positivo?

Médias Q61 Q62 Q63 Q64 Q65

P(C1) P(C2) P(C3) P(C4) P(C5)avaliação atual do

analista

CO

ND

IÇÕ

ES

CO

NG

LO

ME

RA

DO

CO

LA

TE

RA

LC

AP

ITA

LC

AP

AC

IDA

DE

CenárioParâmetros de risco próprio

CA

TE

R

Parâmetro Atributos de cada parâmetro

60

4.6 CLASSIFICAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO – RATING

Mesmo com a adoção dos melhores modelos de avaliação de crédito, só se conhece o

resultado da operação no seu vencimento, é o que afirma Securato (2012). Portanto, é essa

incerteza que cria a condição de risco na operação de crédito e faz com que órgãos

reguladores intensifiquem suas ações de fiscalização e controle no mundo todo.

Após a concessão do crédito, é indispensável que os credores façam um

monitoramento contínuo da qualidade da carteira de crédito, para que possam adotar ações

preventivas, sempre que constatada a deterioração da capacidade de pagamento dos clientes

(SANTOS; 2010, p. 193).

Sendo assim, é comum que se utilizem das opiniões de empresas especializadas em

análise e classificação de risco, as chamadas agências de rating que fornecem serviços de

análises elaboradas de forma independente, objetiva, com credibilidade e disclosure. No

Brasil o uso dessas informações ainda é relativamente novo e as principais agências de

classificação são a Serasa Experian, Austin Assis, SR Rating e Atlantic Rating, sendo que seu

uso se tornou obrigatório no setor bancário a partir de 1999 com a publicação da Resolução

2.682 do BACEN.

4.6.1 O processo de avaliação

Santos (2010) afirma que os ratings são opiniões sobre a capacidade futura dos

devedores de efetuarem, dentro do prazo, o pagamento do principal e dos juros de suas

obrigações. Refletem, portanto o conjunto de observações e percepções de risco das agências

especializadas, mas não devem ser utilizados isoladamente como parâmetro para justificar

decisões de crédito.

O Quadro 11 demonstra um “modelo” bem resumido de classe de risco e sua

interpretação e foi adaptado para expor os critérios utilizados na análise e classificação do

rating de crédito por meio das interpretações. A escala de classificação costuma variar de A a

D e apresentar desdobramentos como: AAA, BBB+, CC, em função do prazo da operação e

da agência avaliadora.

61

Quadro 11 - Critérios para classificação do risco de crédito empresarial

Classe de risco Ratings Interpretação

Muito Baixo

A

Empresa detentora de situação financeira

favorável, com desempenho superior aos

parâmetros de mercado;

Sempre idônea no histórico de

relacionamento;

Registros de restrições no mercado de crédito

pouco representativos do faturamento e sem

alterações significativas nos últimos meses;

O faturamento é gerado pela comercialização

de produtos de primeira e segunda

necessidades;

Crédito suportado pela vinculação de

garantias de primeira liquidez.

Recomendação: aumentar exposição de risco Fonte: adaptado de: Santos (2010, quadro 8.1, p. 195).

Por tratar-se de uma análise estatística, é possível que a Serasa, por exemplo, com base

em seu banco de dados consiga identificar que, em média, apenas 0,2% dos devedores com

classificação A tornaram-se inadimplentes em um período de 3 anos e, em um período de 5

anos, o mesmo grupo inadimpliu em 1% dos casos.

Inferência apresentada por Securato (2012) afirma que o histórico de uma agência

classificadora é crucial para que se possa conhecer a probabilidade de inadimplência de

determinada classificação. Infere, também, que a análise de empresas que fazem parte de

mercados que não possuem a cultura do rating torna-se mais difícil o processo.

Para encerrar este capítulo, vale recorrer mais uma vez a Securato (2012, p. 80) que

comenta acerca do desenvolvimento econômico sustentado que tem propiciado o surgimento

de novos players no mercado de crédito, intensificando a competição no segmento de

empréstimos. Portanto, argumenta o autor, o aumento da demanda exige que as instituições

estejam cada vez mais atentas quando se tratar de decidirem sobre concederem ou não

empréstimos, lembrando que um aumento do risco possivelmente resultará num aumento de

custo da operação, o que pode, por sua vez, inviabilizar o desenvolvimento do tomador do

crédito, podendo comprometer o desenvolvimento econômico de um setor, uma região e até

mesmo do país.

O capítulo seguinte apresentará a metodologia aplicada na pesquisa, suas premissas e

objetivos.

62

5. METODOLOGIA

Neste capítulo apresenta-se o método e as técnicas utilizadas para o desenvolvimento

do estudo, bem como o tipo de pesquisa quanto aos objetivos, a abordagem e ao

delineamento, além da unidade de análise e o campo empírico. Em seguida, serão

apresentados as fontes e os instrumentos de pesquisa, assim como os dados documentais e

observacionais considerados.

Minayo e Gomes (2015) definem metodologia como sendo o caminho do pensamento

e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui

simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do

conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador, sua experiência, sua capacidade

pessoal e sua sensibilidade.

5.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O presente estudo pode ser considerado, a partir dos métodos de pesquisa, como sendo

dedutivo, uma vez que envolverá os processos de identificação da população e amostra, sendo

que esclarecerá a estratégia de coletar, analisar e interpretar os dados. Pode ainda ser

classificado como exploratório, uma vez que seu objetivo é explicitar uma visão geral acerca

da importância dos pronunciamentos contábeis previstos na ITG 1000 para a GC e no

processo de análise de risco de crédito bancário destinado às MEs e EPPs.

A proposta da pesquisa é verificar a relação das DFs com os princípios de GC na

análise de risco de crédito bancário destinado às MEs e EPPs, a partir de um estudo de caso

no qual serão analisados os indicadores de desempenho, especificamente os de liquidez, pelo

método tradicional e ponderado e elaborar uma proposta de análise complementar de risco de

crédito conforme as exigências legais das DFs para MEs e EPPs.

5.2 CONCEITOS OPERACIONAIS

5.2.1 Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

Os conceitos de microempresa e de empresa de pequeno porte utilizados para pesquisa

foram os definidos pela Lei Complementar nº 123/2006 e atualizações:

63

Microempresas são sociedades empresárias ou empresas individuais de

responsabilidade limitada que alcançarem, em cada ano-calendário, receita bruta

igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais).

Empresa de Pequeno Porte – EPP – é aquela que registra, em cada ano-calendário,

receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três

milhões e seiscentos mil reais), a partir de 2012 foi implementado um limite de

receita com exportação de R$ 3,6 milhões. Desta forma, a EPP pode alcançar uma

receita de até R$ 7.200.000,00 (sete milhões e duzentos mil reais), desde que não

exceda os limites de R$ 3,6 milhões para mercado interno e externo

individualmente.

Observa-se que há empresas que, embora arrecadem abaixo do limite de receita bruta

anual de R$ 3.600.000,00, podem não estar juridicamente classificadas como micro ou

pequeno porte, pelos seguintes motivos, conforme a Lei Complementar nº 123/2006 e

atualizações:

A sociedade não optou pela tributação conforme o regime simplificado do

Simples Nacional;

Possua os seguintes impeditivos:

Cujo capital social participe outra pessoa jurídica;

Empresa que seja representante no país de outra pessoa jurídica com

sede no exterior;

Pessoa jurídica que tenha no quadro societário pessoa física que

participe de outra empresa beneficiada pela mesma lei, desde que se

enquadre a partir de média empresa;

Organização que explore as atividades de: instituição financeira,

corretora ou distribuidora de títulos e valores mobiliários e câmbio,

arrendamento mercantil, seguros e previdência em geral;

Pessoa jurídica que seja constituída sob a condição de sociedade por

ações (S/A).

64

5.2.2 Demonstrativos contábeis obrigatórios para as Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte.

Os demonstrativos contábeis utilizados foram os exigidos pela Resolução CFC nº

1.418/2012, que aprovou a ITG 1000, modelo contábil para MEs e EPPs, que estabelece

critérios simplificados para empresas destes portes, quais sejam: Balanço Patrimonial,

Demonstrativo de Resultados do Exercício, Notas Explicativas e Plano de Contas

Simplificado.

5.3 ESTUDO DE CASO

O estudo de caso tem por objetivo calcular os indicadores de rentabilidade, atividade,

endividamento e liquidez, além das análises vertical e horizontal da empresa DM9 Produtos

Elétricos Ltda., é uma empresa classificada pela norma como EPP – faturamento acima de R$

360 mil/ano e inferior a R$ 3,6 milhões/ano e foi selecionada aleatoriamente. Para tanto

selecionamos os exercícios de 2014 e 2015 compreendendo o período de janeiro a dezembro,

conforme prevê a norma.

No caso específico dos indicadores de liquidez, foram calculados utilizando-se o

método tradicional e o método da liquidez ponderada. Foram cotejados os dois resultados e

relacionados com a capacidade de pagamento da empresa numa situação hipotética de tomada

de empréstimo junto a uma instituição financeira bancária, bem como em relação à GC da

empresa, também, numa situação hipotética. Os demais indicadores, rentabilidade,

endividamento e atividade foram calculados pelo método tradicional, bem como as análises

horizontal e vertical.

5.3.1 População e Amostra da Pesquisa

5.3.1.1 Seleção da empresa objeto de estudo de caso

Para seleção da empresa a ser avaliada, aplicou-se o critério de classificação com base

em seu faturamento bruto anual, ou seja, foi solicitado e um escritório de contabilidade que

verificasse em sua carteira de clientes uma empresa enquadrada como EPP, isto é, cuja receita

bruta de vendas nos anos-calendário 2014 e 2015, não fossem superiores a R$ 3,6 milhões em

cada ano, e que, preferencialmente, fosse optante do regime tributário do lucro real, pois

65

assim as DFs registrariam a totalidade das transações realizadas pela mesma. O fato da

empresa não ser optante do regime Simples Nacional não invalida de nenhuma forma a

escolha e análise.

Cabe registrar que neste caso o tamanho da amostra – uma empresa – não influenciará

o resultado da pesquisa, haja vista que a proposta é demonstrar o cálculo do modelo proposto,

aplicando o cálculo de liquidez da mesma pelos métodos tradicional e ponderado.

Considerando que nenhuma empresa é igual à outra, no campo econômico-financeiro jamais

teríamos o mesmo resultado, para qualquer grupo de empresas para um mesmo período ou

mesmo períodos diferentes.

5.4 TIPO, INSTRUMENTO E ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS

Os dados utilizados são de fontes secundárias, foram coletados junto aos institutos de

pesquisas e também de fontes primárias, diretamente com o setor de contabilidade da empresa

por meio das DFs dos exercícios 2014 e 2015.

5.4.1 Tipo de dados coletados

Os dados secundários foram coletados junto a organismos que se dedicam a

desenvolver pesquisas e análises de dados como IBGE, BACEN, Fundação Getúlio Vargas –

FGV – SEBRAE etc., relacionados aos termos que envolvem as MEs e EPPs, dentre eles os

de ordem econômica e financeira, por meio de pesquisas bibliográficas.

Os dados primários, por sua vez, foram coletados por meio contato direto e pessoal

com representantes da empresa pesquisada, que foi escolhida respeitando os critérios

previamente estabelecidos e já descritos, o único quesito exigido na seleção é que fosse uma

empresa de porte econômico previsto na Lei Complementar 123/2006, ou seja, uma ME ou

EPP, independentemente de ser optante do regime de tributação do simples nacional.

O foco definido objetivou a autenticidade das DFs (BP e DRE) já que não existem

NEs nos períodos.

66

5.4.2 Instrumentos de coleta de dados

Foram coletados dados a partir das DFs fornecidas pela empresa por meio eletrônico e

que estão expostos no capítulo que apresenta o estudo de caso e são apresentados como

apêndices deste material.

5.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados foram tratados com a aplicação de diversas fórmulas para se

calcular os indicadores de atividade, endividamento, rentabilidade e liquidez. Cada um dos

indicadores extrai informações específicas das DFs e objetivam avaliar a capacidade

econômico-financeira da empresa frente determinados compromissos, como por exemplo, sua

capacidade de contrair um empréstimo bancário, ceteris paribus. Por meio dos índices de

endividamento poder-se-á avaliar a capacidade da empresa de absorver aquele compromisso,

sem necessariamente se avaliar a sua capacidade de pagamento, uma vez que esta é medida

pelos indicadores de liquidez.

Como já comentado, esta pesquisa objetiva ponderar os indicadores de liquidez pelos

prazos médios de realização dos elementos do Ativo e Passivo Circulantes. Para tanto serão

utilizados os dados das DFs da empresa escolhida para o estudo de caso. Assim, por meio da

aplicação de fórmulas específicas, serão calculados os indicadores de liquidez tradicional e

ponderada, de forma a permitir a comparação dos impactos gerados com os resultados

apurados.

Consequentemente, os dados foram analisados com o propósito de relacionar a

capacidade de pagamento da empresa a partir dos indicadores de liquidez. Estes foram

calculados aplicando-se o método tradicional e o método ponderado. Com isso, buscou-se

responder se os indicadores melhoravam ou pioravam de acordo com o método aplicado, e

quanto isso influenciaria na capacidade de pagamento da empresa.

Em seguida, os resultados foram relacionados com os princípios de GC, ou seja, o

quão importante pode ser para os stakeholders, neste caso, principalmente as instituições

financeiras bancárias, conhecer a capacidade de pagamento da empresa e quanto isso pode

influenciar numa decisão de análise de risco de crédito. Para os demais interessados como os

sócios, funcionários, fornecedores, governos etc., a capacidade de pagamento da empresa

representará, em partes, sua perpetuidade e capacidade de continuar cumprindo com sua

67

responsabilidade socioambiental que será, além da geração de postos de trabalho, contribuir

para a preservação do meio ambiente de forma sustentável.

A empresa selecionada para este estudo de caso é de pequeno porte – EPP – conforme

previsto pela Lei Complementar nº 123/2006, em função de seu faturamento bruto ser

superior a R$ 360 mil/ano e inferior a R$ 3,6 milhões/ano, mesmo sendo optante do regime

tributário do lucro real. Opera no ramo de comércio varejista de materiais elétricos há mais de

10 anos, está localizada num município da região metropolitana de São Paulo. No próximo

capítulo se apresenta o estudo de caso.

68

6. ESTUDO DE CASO

Neste capítulo são apresentados os resultados da aplicação dos cálculos dos

indicadores de rentabilidade, endividamento, atividade e liquidez “tradicional” e “ponderada”.

As informações foram extraídas das DFs (ver Apêndices A, B e C) de uma empresa real,

cedidas sob a condição de não divulgação de sua identidade, por isso no cabeçalho das DFs a

razão social foi alterada. O único critério que pesou para a seleção da empresa foi o fato de

esta adotar em suas práticas contábeis as recomendações constantes da ITG 1000.

Apesar de registrar, nos dois períodos avaliados (2014 e 2015), receita bruta inferior a

R$ 3,6 milhões e superior a R$ 360 mil, condição que a permitiria optar pelo regime

simplificado de recolhimento de tributos – Simples Nacional ou Supersimples – a mesma é

optante do regime tributário do lucro real para fins de tributos federais, o que não a

desenquadra da condição de EPP.

6.1 INDICADORES DE RENTABILIDADE

Ching, Marques e Prado (2010) afirmam que os indicadores de rentabilidade revelam

o retorno obtido pela empresa sobre o capital investido. As empresas investem em ativos

(estoques, contas a receber, imobilizado etc.) na busca de obtenção de lucros. O Quadro 12,

demonstra os resultados de rentabilidade obtidos pela DM9 Materiais Elétricos.

Quadro 12 - Resultado dos Indicadores de Rentabilidade

INDICADOR 2014 2015

𝑅𝑂𝐴 =LUCRO OPERACIONAL LIQ. IR

ATIVO TOTAL 𝑋 100

17,66% 10,95%

𝑅𝑆𝑉 =LUCRO LÍQUIDO

RECEITA LÍQUIDA VENDAS 𝑋 100

10,15% 9,16%

𝑅𝑃𝐿 =LUCRO LÍQUIDO

PL 𝑋 100

45,68% 28,92%

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

Observa-se que todos os indicadores de rentabilidade da empresa apresentaram

reduções em 2015, na comparação com 2014, destaca-se o retorno sobre o patrimônio líquido

(RPL) que registrou uma queda de 36,7%, provocada provavelmente pela queda no lucro

69

líquido de 2015 em relação a 2014. Apesar das quedas registradas em 2015, quando

comparadas com 2014, infere-se a eficiência da gestão. Isso pode corroborar com o princípio

da Responsabilidade Corporativa previsto pela GC.

Estes indicadores são muito importantes na análise de risco de crédito, eles

demonstram a capacidade da empresa de gerar lucro, o que refletirá positivamente em seus

fluxos de caixa e consequentemente na sua capacidade de pagamento. Neste caso, ceteris

paribus, os indicadores de rentabilidade favorecem a análise de risco de crédito.

6.2 INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO

Gitman (2010) destaca que a situação de endividamento de uma empresa indica o

volume de dinheiro de terceiros usados para gerar lucro. De maneira geral, a preocupação

maior é com as dívidas de longo prazo porque elas comprometem a empresa com pagamentos

de contratos ao longo do tempo. Quanto maior o endividamento, maior o risco de que a

empresa fique impossibilitada de honrar seus compromissos.

6.2.1 Indicador de Endividamento Geral

Assaf Neto (2010) comenta que este indicador mede a porcentagem dos recursos totais

da empresa (ativo total) que é financiada por capital de terceiros. Deve ser lido da seguinte

forma: para cada $ 1,00 de recurso investido pela empresa em seus ativos, quanto provém de

fontes de terceiros, ou seja, capital de terceiros.

Quadro 13 - Indicador de Endividamento Geral

CONTA VALORES EM R$

PERÍODOS 2014 2015

Exigível total 991.832,98 1.026.050,74

Passivo circulante 491.832,98 526.050,74

Passivo não circulante 500.000,00 500.000,00

Ativo Total 1.616.800,94 1.651.018,70

61,34% 62,14% Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

Neste caso, observa-se que o ativo total da empresa é financiado, em média, com 60%

de recursos de terceiros e destes 50% são de longo prazo. Os recursos próprios correspondem

𝐸𝐺 =𝐸𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 x 100

70

a 40% do ativo total. Estes dados permitem ao analista de crédito da IF bancária avaliar,

ceteris paribus, o grau de comprometimento dos gestores com o negócio, isto é, quanto estão

dispostos a aplicar de seus recursos no financiamento das atividades da empresa. Isso também

corrobora com os princípios da GC já que os gestores dão provas de que acreditam no

empreendimento e estão dispostos a investir para garantir sua longevidade.

Esta situação ratifica o princípio da Responsabilidade Corporativa – Compliance – no

sentido de que, ao buscar tal equilíbrio os sócios e gestores estão zelando pela viabilidade

econômico-financeira da empresa.

6.2.2 Indicador do Grau de Endividamento

Conforme já foi citado na seção 3.1.2 desta pesquisa, Assaf Neto e Lima (2010)

afirmam que este indicador tem por objetivo demonstrar o nível de endividamento da empresa

em relação aos recursos próprios (patrimônio líquido). Assim, para cada $ 1,00 de capital

próprio investido, quanto foi levantado de capital de terceiros.

Quadro 14 - Indicador do Grau de Endividamento

CONTA VALORES EM R$

PERÍODOS 2014 2015

Exigível total 991.832,98 1.026.050,74

Passivo circulante 491.832,98 526.050,74

Passivo não circulante 500.000,00 500.000,00

Patrimônio Líquido 624.967,96 624.967,96

1,58 1,64

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

A análise positiva ou negativa deste indicador dependerá exclusivamente da política

de crédito da IF, uma vez que ele tem a finalidade de demonstrar o grau de alavancagem

financeira da empresa, ou seja, quanto a empresa utiliza de recursos de terceiros em relação a

recursos próprios, para financiar suas atividades. Neste caso tem-se que para $ 1,00 de

recursos próprios a empresa captou $ 1,61 de recursos de terceiros de curto e longo prazo.

GE = 𝐸𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

𝑃𝐿

71

Neste caso, também, o analista de crédito da IF bancária considerará o grau de

comprometimento dos sócios e gestores do negócio com a saúde financeira da empresa e

como aplicam tais recursos para gerar lucro, a mesma informação atenderá o princípio da

prestação de contas previsto na GC.

6.2.3 Indicador de Composição do Endividamento

Ching, Marques e Prado (2010) esclarecem que este indicador mostra o

desdobramento do endividamento da empresa a curto e longo prazo, ou seja, o perfil de

utilização de recursos de terceiros. Comentam, também, que o mesmo pode variar de 0 a 1, e

quanto mais próximo de 1, maior será a necessidade de caixa para pagar os compromissos de

curto prazo, podendo comprometer a liquidez corrente da empresa. Quanto mais perto de 0,

menor será a pressão sobre o caixa da empresa para honrar compromissos de curto prazo.

Quadro 15 - Composição do Endividamento

CONTA VALORES EM R$

PERÍODOS 2014 2015

Passivo circulante 491.832,98 526.050,74

Exigível total 991.832,98 1.026.050,74

Passivo circulante 491.832,98 526.050,74

Passivo não circulante 500.000,00 500.000,00

0,50 0,51 Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

A composição do endividamento da DM 9, na ordem de 0,50 em média, demonstra,

ceteris paribus, a responsabilidade dos gestores em comprometer a capacidade de pagamento

da empresa no curto prazo, ou seja, do exigível total da empresa 50% é de curto prazo e 50%

é de longo prazo. Uma situação de equilíbrio que poderá ser considerada como fator positivo

na análise de risco de crédito e contribuir para a aprovação de crédito, dependendo da política

de crédito da IF bancária.

Esta situação ratifica o princípio da Responsabilidade Corporativa – Compliance – no

sentido de que, ao buscar tal equilíbrio os sócios e gestores estão zelando pela viabilidade

econômico-financeira da empresa.

𝐶𝐸 =𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒

𝐸𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

72

6.3 INDICADORES DE ATIVIDADE

Segundo Gitman (2010) os indicadores de atividade medem a velocidade com que

diversas contas se convertem em vendas ou caixa, isto é, entradas ou saídas de recursos da

empresa. A figura 4 demonstra o ciclo da empresa e os respectivos resultados de cada um dos

indicadores avaliados neste tópico.

Figura 4 - Indicadores de Atividades

𝑃𝑀𝑅𝐸 =Estoque (média)

CMV 𝑋 360

𝑃𝑀𝑅𝐸 =509.239,94

1.235.849,15 𝑋 360 = 148 𝑑𝑖𝑎𝑠

𝑃𝑀𝑃 =Fornecedores (média)

Compras anuais a prazo 𝑋 360

𝑃𝑀𝑃 =241.498,10

865.094,40 𝑋 360 = 100 𝑑𝑖𝑎𝑠

𝑃𝑀𝑅 =Clientes (média)

Vendas anuais a prazo 𝑋 360

𝑃𝑀𝑅𝐸 =130.845,85

896.725,04 𝑋 360 = 52 𝑑𝑖𝑎𝑠

𝐺𝐸 =360

PMRE

𝐺𝐸 =360

148 = 2,4

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

73

Na figura 4 foi possível apurar que a empresa apresenta um prazo médio de renovação

dos estoques (PMRE) de 148 dias e que os mesmos se renovam (GE) em média 2,4 vezes no

período de um ano. O prazo médio de recebimentos das vendas a prazo (PMR) ocorre com 52

dias em média, e o prazo para pagamento de suas compras a prazo (PMP), no período

avaliado, foi de 100 dias. Isto denota uma situação favorável de fluxo de caixa, já que a

empresa recebe as vendas a prazo antes de pagar por suas compras, ou seja, ela financia seus

clientes com o prazo negociado com seus fornecedores. Portanto não precisa aplicar recursos

próprios no financiamento de suas vendas a prazo, isso muito provavelmente será um fator

positivo na análise de risco de crédito da IF bancária, já que a pretendente de crédito não

dependerá do recebimento de suas vendas a prazo para eventualmente honrar um

compromisso de empréstimo bancário.

6.4 INDICADORES DE LIQUIDEZ

Ferronato (2011) esclarece que os indicadores de liquidez são medidas de avaliação da

capacidade financeira da microempresa de pagar seus compromissos na data do vencimento.

Em resumo, a liquidez é a capacidade de atender às obrigações financeiras em dia.

6.4.1 Indicadores Tradicionais de Liquidez

Miranda (2010) comenta que os indicadores tradicionais de liquidez evidenciam a

situação financeira de uma empresa frente aos compromissos financeiros assumidos. O autor

registra que os indicadores habitualmente utilizados são: Liquidez Seca; Liquidez Corrente e

Liquidez Geral. Assaf Neto (2010) inclui ainda a Liquidez Imediata. No quadro 16 são

demonstrados os cálculos dos indicadores de liquidez da DM9 Produtos Elétricos Ltda., para

os exercícios de 2014 e 2015.

Gitman (2010) alerta para o fato de que, quantos maiores forem os índices de liquidez

de uma empresa, mais líquida ela será. Contudo, é preciso considerar seu setor de atuação,

isso pode comprometer sua liquidez. Para efeito desta pesquisa a análise se limitará aos dados

coletados nas DFs.

74

Quadro 16 - Indicadores tradicionais de Liquidez

INDICADOR DE

LIQUIDEZ

EXERCÍCIO 2014 EXERCÍCIO 2015

𝐿𝐶 =Ativo Circulante

Passivo Circulante

1.017.497,27

491.832,98= 2,07

1.069.971,35

526.050,74= 2,03

𝐿𝑆 =AC − Estoques − DA

Passivo Circulante

1.017.497,27 − 460.747,04

491.832,98 1,13

1.069.971,35 − 557.732,84

526.050,74 0,97

𝐿𝐼 =Disponível

Passivo Circulante

287.527,01

491.832,98= 0,58

195.912,92

526.050,74= 0,37

𝐿𝐺 =AC + A não circ.

PC + P. não circ.

1.017.497,27 + 500.000,

491.832,98 + 500.000,= 1,52

1.069.971,35 + 500.000,

526.050,74 + 500.000,= 1,53

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

Os indicadores de liquidez constituem um dos principais referenciais na análise de

risco de crédito por indicarem, ceteris paribus, a capacidade que a empresa possui para honrar

seus compromissos de curto prazo, e no caso da liquidez geral são considerados os

compromissos de longo prazo, também. No caso da DM9 os indicadores são favoráveis, a

liquidez corrente no exercício 2014 foi de 2,07, ou seja, para cada $ 1,00 em dívidas de curto

prazo, a empresa possuía $ 2,07 de haveres também de curto prazo. No exercício 2015 o

mesmo indicador foi de $ 2,03 demonstrando que a empresa possuía capacidade suficiente

para honrar seus compromissos de curto prazo. A mesma leitura deve ser feita para os outros

indicadores uma vez que a interpretação deve ser a mesma. Inclusive os indicadores de

liquidez imediata que ficaram abaixo de 1 (um), devem ser avaliados considerando se tratar

apenas dos recursos disponíveis em caixa e equivalentes de caixa, neste caso uma aplicação

financeira de liquidez imediata.

Na análise do risco de crédito certamente terá um peso significativo e bastante

favorável à empresa, em que pese as considerações acerca do mercado de atuação e outras

variáveis que podem influenciar tais resultados, como, por exemplo, a demanda pelos

produtos que a empresa comercializa.

75

6.4.2 Indicadores ponderados de liquidez

Miranda (2010) traz a discussão acerca dos indicadores de liquidez, por não

considerarem em seus cálculos os prazos de realização do ativo e passivo circulantes. O autor

comenta que a proposta do cálculo ponderado é captar com mais precisão os impactos da

consideração dos prazos médios no cálculo dos indicadores de liquidez entre diferentes

empreendimentos. O autor complementa colocando a hipótese de que, ponderando os prazos

médios de realização dos elementos do Ativo e Passivo Circulantes na composição dos

indicadores de liquidez, poder-se-ia reduzir os efeitos das diferenças temporais nas análises

dos indicadores.

Infere-se que isso traria maior segurança a todas as partes interessadas, sócios,

fornecedores, empregados, instituições financeiras bancárias, Governos e comunidade em

geral, já que a função dos indicadores de liquidez é exatamente demonstrar sua capacidade de

honrar compromissos no vencimento. Logo, na avaliação do risco de crédito e outras

transações, os stakeholders envolvidos teriam uma visão mais conclusiva da real capacidade

financeira da empresa.

6.4.2.1 Indicador de Liquidez Imediata Ponderada

Para calcular a liquidez imediata ponderada, aplica-se a fórmula apresentada por

Miranda (2010), conforme o quadro 17.

Quadro 17 – Fórmula para cálculo da Liquidez Imediata Ponderada

Índice Fórmula Indica

Liquidez Imediata Ponderada D

∑ [(CPPC) X

360 − PM360 ] 𝑋 𝑃𝐶

Potencialidade do disponível

face os passivos circulantes

ponderados pelos prazos de

realização.

Fonte: Boletim IOB – Manual de Procedimentos – Fascículo 19 – pg. 5 (maio 2010)

Descrevendo a fórmula tem-se que: D = Contas do Disponível; CP = Contas do

Passivo Circulante; PC = Total do Passivo Circulante; PM = Prazo Médio de realização da

respectiva conta. Aplica-se a fórmula a partir dos dados apresentados nas DFs da DM9

76

Produtos Elétricos Ltda., para os períodos 2014 e 2015, de acordo com os prazos médios,

apura-se os seguintes resultados.

Tabela 5 - Disponibilidades e Passivo Circulante Ponderados

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

2014 2015

𝐿𝐼𝑃 =Disponível

Passivo Circulante

287.527,01

404.623,62= 0,71

195.912,92

422.088,05= 0,46

Registra-se uma melhora no indicador de liquidez ponderado quando comparado à

liquidez tradicional, que foi de 0,58 para o exercício de 2014 e 0,37 para 2015, passando para

0,71 e 0,46 respectivamente, no cálculo ponderado. Registra-se uma melhora de 22,4% para

2014 e 24,3% para 2015. Tal resultado contribuirá de forma positiva para a análise do risco de

crédito por parte da IF bancária, uma vez que a mesma, ao considerar o prazo de exigibilidade

dos compromissos de curto prazo, apurará a condição de honrar compromissos com o mesmo

volume de recursos (disponibilidades) de curto prazo.

6.4.2.2 Indicador de Liquidez Seca Ponderada

Para calcular a liquidez seca ponderada, aplica-se a fórmula apresentada por Miranda

(2010), conforme o quadro 18.

Grupo/contas 2014 2015 PRZ. MÉDIO Grupo/contas 2014 2015 PRZ. MÉDIO

Ativo Circulante 1.017.497,27 1.069.971,35 Passivo Circulante 404.623,62 422.088,05

Disponibilidades 287.527,01 195.912,92 0 Fornecedores 107.906,14 240.924,44 100 dias

Caixa 2.583,64 172,57 0 Empréstimos 0,00 0,00 360 dias

Bancos c/ movt. 3.539,87 24.781,84 0 Obrigações Trab. 65.583,46 82.935,48 10 dias

Aplicações liq. Imed 281.403,50 170.958,51 0 Obrigações Trib. 18.595,55 22.390,34 30 dias

Contas a Pagar 212.538,47 75.837,79 30 dias

77

Quadro 18 - Fórmula para Cálculo da Liquidez Seca Ponderada

Índice Fórmula Indica

Liquidez Seca Ponderada [

CA − E − DAAC 𝑋 [

360 − 𝑃𝑀360 ]

∑ [(CPPC) X

360 − PM360 ] 𝑋 𝑃𝐶

Potencialidade do Ativo

Circulante, deduzindo os

estoques e Despesas

Antecipadas, frente os

passivos circulantes

ponderados pelos prazos.

Fonte: Boletim IOB – Manual de Procedimentos – Fascículo 19 – pg. 6 (maio 2010)

Aplicando-se o mesmo procedimento que é usado no cálculo tradicional da liquidez

seca, tem-se os seguintes dados da fórmula, no numerador: CA = contas do ativo; E =

estoques; DA = despesas antecipadas; AC = ativo circulante; no denominador apresentam-se

as contas do passivo circulante. O grupo Contas a Pagar é composto por Aluguéis e Lucros a

Distribuir, como não se tem a informação de qual é o prazo para o desembolso dos lucros a

distribuir, optou-se por adotar o prazo de 30 dias para o grupo.

A fórmula apresentada no quadro 16, aplicada sobre os valores apresentados nas DFs

constantes nos apêndices 1 e 2, produzem os valores da tabela 6.

Tabela 6 - Ativo e Passivo Circulantes Ponderados

Fonte: Dados da pesquisa – elaborado pelo autor (2016)

2014 2015

𝐿𝑆𝑃 =AC − Estoques − DA

Passivo Circulante

641.448,93 − 271.328,81

404.623,62 0,91

665.448,93 − 328.442,67

422.088,05 0,79

Os valores ponderados da tabela 6, aplicados à fórmula para cálculo da liquidez seca

ponderada, produzem os seguintes resultados: para o período de 2014 o indicador foi de 0,91,

registrando uma queda 19,4% em relação ao cálculo da liquidez seca tradicional. Para o

período de 2015, a liquidez seca tradicional que era de 0,97 passou para 0,79 no cálculo

Grupo/contas 2014 2015 PRZ. MÉDIO Grupo/contas 2014 2015 PRZ. MÉDIO

Ativo Circulante 641.448,93 665.448,93 Passivo Circulante 404.623,62 422.088,05

Disponibilidades 287.527,01 195.912,92 0 Fornecedores 107.906,14 240.924,44 100 dias

Clientes 82.593,11 141.298,67 52 dias Empréstimos 0,00 0,00 360 dias

Adiantamentos 0,00 0,00 360 dias Obrigações Trab. 65.583,46 82.935,48 10 dias

Tributos a comp. 0,00 0,00 360 dias Obrigações Trib. 18.595,55 22.390,34 30 dias

Estoques 271.328,81 328.442,67 148 dias Contas a Pagar 212.538,47 75.837,79 30 dias

78

ponderado, registrando uma queda de 18,5%. Registra-se então uma piora nos indicadores de

liquidez seca ponderada, quando comparados com o indicador de liquidez seca tradicional.

O analista de crédito da IF bancária seguramente levará em consideração o fato deste

indicador refletir o prazo de realização do passivo circulante bem como a dedução dos saldos

das contas do ativo circulante, também ponderados pelo prazo de realização. Então, mesmo

apresentando uma retração, não significa exatamente uma deterioração da capacidade de

pagamento da empresa.

6.4.2.3 Indicador de Liquidez Corrente Ponderada

Miranda (2010) orienta o cálculo da liquidez corrente ponderada com a aplicação da

fórmula apresentada no quadro 19.

Quadro 19 - Indicador de Liquidez Corrente Ponderada

Índice Fórmula Indica

Liquidez Corrente

Ponderada

[CAAC 𝑋 [

360 − 𝑃𝑀360 ]

∑ [(CPPC) X

360 − PM360 ]

Mede a capacidade do Ativo

Circulante, frente os

passivos circulantes

ponderados pelos prazos.

Fonte: Boletim IOB – Manual de Procedimentos – Fascículo 19 – pg.6 (maio 2010)

Considerando-se que para o cálculo do indicador de liquidez corrente ponderada

acrescenta-se as contas que foram subtraídas no cálculo da liquidez seca, basta aplicar na

fórmula os mesmos valores apresentados na tabela 6.

2014 2015

𝐿𝐶𝑃 =Ativo Circulante

Passivo Circulante

641.448,93

404.623,62= 1,58

665.654,26

422.088,05= 1,57

Constata-se que o indicador de liquidez corrente ponderado para o período de 2014

ficou 23,7% abaixo do resultado apresentado pelo mesmo indicador no modelo tradicional e

para o período 2015 o resultado também foi negativo em 22,6%. Mesmo assim, seu resultado

é superior a 1 (um) o que indica uma capacidade de liquidez favorável. Infere-se que o

analista de crédito da IF bancária estará mais seguro, pois, mesmo após ponderar os prazos de

79

realização do ativo e passivo circulantes a empresa continua demonstrando uma capacidade

de pagamento bastante positiva.

Ratificando comentário apresentado no início deste capítulo, os indicadores de

liquidez constituem uma importante medida de capacidade de pagamento das dívidas de curto

prazo de uma empresa, contudo, recomenda-se que outras variáveis sejam consideradas no

momento da avaliação como, por exemplo, ambiente macro e microeconômico, setor de

atuação da empresa, seu posicionamento no mercado, entre outros.

6.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO

Por meio das análises dos indicadores evidencia-se a importância das normas

contábeis, neste caso específico a ITG 1000, e a sua relevância para a GC, uma vez que as

demonstrações financeiras elaboradas e apresentadas à luz dos princípios contábeis respaldam

os princípios da transparência e accoutability, ou seja, apresentar não só as informações

exigidas em normas e prestar contas dos atos dos administradores, além da Responsabilidade

Corporativa – Compliance – em que se evidencia o compromisso dos sócios e gestores com a

viabilidade econômico-financeira da empresa.

Acrescenta-se, também, a importância das NEs e do Anexo 1 (Carta de

Responsabilidade da Administração), as NEs complementam e esclarecem registros das DFs

que, eventualmente, não sejam facilmente interpretados pelas partes interessadas constando,

inclusive, informações alheias às mesmas. Isso demonstraria as práticas dos princípios da

equidade e responsabilidade corporativa da GC. O Anexo 1, em princípio, evitaria um

eventual conflito de agência já que seu objetivo é garantir a veracidade das informações

prestadas com o propósito de constituir a escrituração contábil e geração das DFs.

Essas informações poderiam constituir uma parte importante do processo de análise

de risco de crédito, poderiam ser um complemento aos critérios já aplicados pelas instituições

financeiras bancárias quando utilizam, em seus processos, as informações obtidas junto aos

bereaus de crédito com o propósito de medir e avaliar o risco próprio da empresa. A partir do

BP é possível extrair-se informações que confirmam os indicadores apresentados. A figura 5

demonstra isso.

80

Figura 5 - Estrutura de Capital da DM9 – exercício 2015

Fonte: o autor (2016)

Mediante a análise da estrutura de capital da empresa, conforme demonstrado na

figura 5, o analista de crédito da IF bancária, terá uma visão resumida das origens e aplicações

de recursos, ou seja, de onde provem e em qual volume, os recursos para financiar o ativo da

empresa e poder confirmar, ou não, as informações apresentadas nos cálculos dos indicadores

de rentabilidade e endividamento.

Neste estudo observa-se tecnicamente, uma estrutura de capital classificada como

ótima, de acordo com Assaf Neto (2010), haja vista que a empresa financia cem por cento do

ativo não circulante com recursos próprios e ainda direciona uma pequena sobra, 2,6% para

financiar o ativo circulante. Sendo assim, o exigível total é direcionado para financiar o ativo

circulante e confirma a condição favorável que a empresa possui para assumir novos

compromissos financeiros junto às IF bancárias e também comerciais.

Insere-se neste contexto a avaliação da capacidade de pagamento da empresa a partir

dos índices de liquidez ponderada, que tem por objetivo avaliar o impacto que as diferenças

temporais existentes entre os elementos do Ativo e Passivo Circulantes podem provocar no

resultado do cálculo dos indicadores, e estes, por sua vez, ao serem aplicados pelo analista de

crédito da IF bancária, na análise do risco de crédito da operação, pode influenciar positiva ou

negativamente no resultado da análise. O objetivo da aplicação do cálculo da liquidez

CIRCULANTE

NÃO

CIRCULANTE

PATRIMÔNIO

LÍQUIDO

CIRCULANTE

ATIVO PASSIVO 100%

31,9%

30,3%

37,8% 35,2%

64,8%

NÃO

CIRCULANTE

100%

81

ponderada é captar com maior precisão os impactos da consideração dos prazos médios

aplicados sobre os resultados da empresa.

Os indicadores de prazos médios permitem a visualização do ciclo operacional da

empresa, logo, possibilitam ao analista de credito da IF bancária avaliar o desempenho

operacional da empresa e suas necessidades de investimento em giro, portanto, justifica-se a

comparação entre os indicadores de liquidez tradicional e ponderada na análise de risco de

crédito.

No caso da DM 9 sua capacidade de pagamento no curto prazo não foi comprometida

quando aplicada a ponderação dos prazos de realização de seu ativo e passivo circulantes, isto

é, mesmo após a aplicação do novo método seus indicadores continuaram superiores a um (1),

indicando então que mesmo considerando os prazos para realização das contas a empresa

continua com capacidade de honrar seus compromissos em dia.

Por meio da análise vertical do DRE o analista identificará quanto das receitas líquidas

das vendas são direcionadas para as diversas áreas da empresa tais como, tributária, pessoal,

administrativa, entre outras. A tabela 7 mostra um modelo resumido do DRE da DM9

Produtos Elétricos (o modelo completo encontra-se no Apêndice C).

82

Tabela 7 - Resumo DRE - 2014

Fonte: Dados da pesquisa – elaborada pelo autor (2016)

Confirmam-se os cálculos dos indicadores de lucratividade, prazo médio de renovação

dos estoques e giro dos estoques. Agregando-se a análise horizontal dos indicadores,

compara-se os períodos de 2014 e 2015, tem-se as variações (em %) de cada uma das contas,

isto é, o analista de crédito da IF bancária, visualizará as principais contas do DRE e qual foi

o impacto gerado nos mesmos indicadores, lucratividade, prazo médio dos estoques e giro dos

estoques.

A tabela 8 apresenta os resultados da DM9 Produtos Elétricos Ltda., com a agregação

da análise horizontal.

Valores em R$ apurado em 2014 AV

3.192.358,76 100%

3.192.358,76 100%

-51.921,55 1,6%

-329.008,96 10,3%

2.811.428,25 88,1%

-1.736.542,23 54,4%

-1.736.542,23 54,4%

1.074.886,02 33,7%

-851.551,44 26,7%

-504.851,85 15,8%

-15.725,88 0,5%

-330.973,71 10,4%

67.807,29

67.807,29

291.141,87 9,1%

-6.216,57 0,2%

552,71

285.478,01 8,9%

285.478,01 8,9%Lucro Líquido do Exercício

Outras Receitas Operacionais

Receitas Financeiras

Lucro (Prejuízo) Operacional

Despesas não operacionais

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

CMV (Custo das Mercadorias Vendidas)

Lucro Bruto

Despesas Operacionais

Despesas compessoal

Despesas Financeiras

Despesas Gerais e Adm

Receita Operacional Bruta

Venda de Mercadorias e/ou prestação de Serviços

Deduções

Impostos e contribuições

Receita Operacional Líquida

Custos Operacionais

Receitas não operacinais

Lucro antes do IR (LAIR)

Imposto de Renda (25%)

83

Tabela 8 - Resumo DRE 2014 e 2015 com análise horizontal

Fonte: Dados da pesquisa – elaborada pelo autor (2016)

Com base na análise horizontal, que utiliza como base (100%) o exercício de 2014,

apura-se uma variação negativa em todas as contas, inicialmente é um resultado previsível,

haja vista que a empresa registrou queda no volume de vendas brutas na ordem de 29,8%,

outras contas importantes, como o lucro líquido, por exemplo, apresentaram variações

maiores. A análise fica prejudicada pela falta das NEs, isso confirma a importância das

mesmas para esclarecerem fatos que não são expressos pelos números.

Mesmo apresentando no exercício de 2015 um resultado inferior a 2014, destaca-se o

fato da empresa continuar gerando lucro; este comparado com a receita líquida de vendas teve

uma redução de apenas um ponto percentual, o que não é exatamente comprometedor numa

análise de curto prazo, ceteris paribus.

Todos os indicadores avaliados, partindo das premissas de análise de risco de crédito,

em princípio, são favoráveis à empresa: seus indicadores de rentabilidade, se comparados com

aplicações em ativos financeiros, por exemplo, superam em muito os mesmos.

Os indicadores de lucratividade, quando comparados com a inflação oficial dos

mesmos períodos, também foram superiores. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo) acumulado em 2014 foi de 6,4% e a lucratividade da DM9 foi de

Valores em R$ apurado em 2014 AV 2015 AV AH

3.192.358,76 100% 2.241.812,62 100% -29,8%

3.192.358,76 100% 2.251.812,62 100% -29,8%

-51.921,55 1,6% -33.938,51 1,5% -34,6%

-329.008,96 10,3% -234.398,66 10,4% -28,7%

2.811.428,25 88,1% 1.973.475,45 88,0% -29,8%

-1.736.542,23 54,4% -1.235.849,15 55,1% -28,8%

-1.736.542,23 54,4% -1.235.849,15 55,1% -28,8%

1.074.886,02 33,7% 737.626,30 32,9% -31,4%

-851.551,44 26,7% -600.272,03 26,7% -29,5%

-504.851,85 15,8% -358.301,54 16,0% -29,0%

-15.725,88 0,5% -15.419,01 0,7% -1,9%

-330.973,71 10,4% -226.551,48 10,1% -31,5%

67.807,29 47.654,16

67.807,29 47.654,16

291.141,87 9,1% 185.008,43 8,2% -36,4%

-6.216,57 0,2% -4.243,35 0,2% -31,7%

552,71

285.478,01 8,9% 180.765,08 8,0% -36,7%

285.478,01 8,9% 180.765,08 8,9% -36,7%

Receitas não operacinais

Lucro antes do IR (LAIR)

Imposto de Renda (25%)

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

Despesas Financeiras

Despesas Gerais e Adm

Receita Operacional Bruta

Venda de Mercadorias e/ou prestação de Serviços

Deduções

Impostos e contribuições

Receita Operacional Líquida

Custos Operacionais

Outras Receitas Operacionais

Receitas Financeiras

Lucro (Prejuízo) Operacional

Despesas não operacionais

CMV (Custo das Mercadorias Vendidas)

Lucro Bruto

Despesas Operacionais

Despesas compessoal

Lucro Líquido do Exercício

84

10,15%, já em 2015 o IPCA fechou em 10,67% e a lucratividade da empresa foi de 9,16%,

uma diferença de 1,05%, o que não compromete sua avaliação.

Os indicadores de liquidez, tanto os tradicionais quanto os ponderados, ceteris

paribus, também são bastantes satisfatórios e a habilita tecnicamente a tomar recursos junto à

IFs bancárias.

A elaboração das demonstrações contábeis é obrigatória, sua apresentação tempestiva

e completa cumpre exigência legal. O administrador e o contabilista ao cumprirem com tal

exigência estão ratificando os princípios de GC transparência, equidade, accoutability e

responsabilidade corporativa, isso pode ser o início de uma proposta de GC que pode ser

complementada com outros aspectos viáveis às empresas deste porte.

No próximo e último capitulo apresenta-se as conclusões desta pesquisa, suas

limitações, contribuições e propostas para estudos futuros.

85

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa sintetiza o esforço de trazer para discussão o tema relacionado às

demonstrações financeiras das microempresas e empresas de pequeno porte e sua relevância

para a análise de risco de crédito nas instituições financeiras bancárias e para a Governança

Corporativa, com o propósito de se estabelecer uma proposta alternativa para os processos de

análise de risco de crédito.

A realização dos estudos permitiu constatar, por meio de bibliografia, que pouca

produção é disponibilizada para as microempresas e empresas de pequeno porte com

conteúdo sobre Governança Corporativa, inclusive por parte do próprio Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa. Considerando que o propósito da pesquisa não era necessariamente

se aprofundar neste assunto, coloca-se a sugestão de estudos futuros que possam contribuir

para a criação de um Código de Governança Corporativa para microempresas e empresas de

pequeno porte.

Em relação às práticas contábeis a constatação é diferente, existe muita informação,

tanto para os empresários quanto para os profissionais da área contábil, inclusive uma

regulamentação própria, a Interpretação Técnica Geral 1000, que estabelece padrões, critérios

e responsabilidades para os gestores empresariais e contabilistas. Poder-se-ia agregar à norma

a obrigatoriedade de divulgação das demonstrações financeiras das MEs e EPPs, suscitando,

assim, estudos complementares a este.

No âmbito das instituições financeiras bancárias, o que se apurou pelos estudos

bibliográficos, é que o tratamento dispensado à pessoa jurídica (empresas) é segmentado e a

análise de risco de crédito tende a seguir padrões parametrizados por modelos estatísticos para

o chamado segmento varejo, onde normalmente se encaixam as microempresas e empresas de

pequeno porte. Registra-se aqui uma limitação da pesquisa, a dificuldade em obter

informações oficiais junto às instituições financeiras bancárias acerca de suas políticas de

crédito, por isso as conclusões ficam restritas aos conteúdos extraídos de publicações como

livros, artigos e periódicos.

A Lei Complementar 123/2006, estabelece normas gerais relativas a tratamento

diferenciado e favorecido para as microempresas e empresas de pequeno porte, entre eles

destaca-se o acesso ao crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de

86

bens e serviços pelos Poderes Públicos. Propõe-se para trabalhos futuros aprofundar as

pesquisas para saber se a lei é cumprida e em qual nível.

É necessário que se crie um conjunto de recomendações que direcionem as MEs e EPPs a

cumprirem as normas previstas na ITG 1000 na íntegra e que as mesmas venham a contribuir

de forma efetiva para evidenciação das boas práticas de GC e que favoreçam seu acesso ao

crédito financeiro e comercial, refletindo no desenvolvimento e na perenidade das

microempresas e empresas de pequeno porte.

Respondendo à questão problema da pesquisa, constata-se que as empresas

classificadas como ME ou EPP, estão obrigadas a cumprir o disposto na legislação, tanto

pelos pronunciamentos contábeis, quanto pelo disposto no Código Civil Brasileiro, mas

conhecimento empírico do pesquisador infere que os empreendedores deste porte nem sempre

se utilizam destas informações em benefício próprio. Infere-se, também, com base nos estudos

realizados, que as instituições financeiras bancárias, por sua vez, também as perpassam em

função da metodologia que normalmente é aplicada no processo de análise de risco de crédito.

Considera-se que o objetivo geral da pesquisa foi atingido, haja vista os resultados

apresentados no estudo de caso, que analisou as demonstrações financeiras de uma empresa

de pequeno porte. Foram calculados os principais indicadores econômico-financeiros da

empresa sendo, os de atividade, endividamento e liquidez.

Entende-se que os objetivos gerais propostos também foram respondidos por meio do

estudo de caso, ao se observar, a partir dos cálculos dos indicadores, ser possível avaliar o

desempenho econômico-financeiro de uma pequena empresa e estimar, ceteris paribus, sua

capacidade de honrar compromissos de curto prazo.

Apresenta-se então a proposta complementar de análise de risco de crédito, que é

considerar os indicadores de liquidez ponderada da empresa, conforme cálculos apresentados

no estudo de caso, ao se ponderar os prazos de realização das contas do ativo e passivo

circulantes, registra-se alterações nos indicadores que podem sinalizar melhora ou piora da

liquidez. Com base nesta informação presume-se que a empresa estará praticando um dos

principais princípios da Governança Corporativa que é o da transparência, ou seja, o de

informar às partes interessadas não somente aquilo que está previsto em normas legais.

87

Acredita-se que as instituições financeiras bancárias poderiam agregar esta informação

complementarmente às que já utilizam, para atestar que a empresa responde, ou não,

positivamente, a um dos critérios de análise de risco de crédito, previsto na metodologia dos

Cs do crédito: Capital, isto é, a situação econômico-financeira da empresa apurada por meio

de seus demonstrativos financeiros e geração de caixa necessário à manutenção de suas

atividades.

Imagina-se que o compromisso maior de qualquer gestor empresarial, independente do

porte, seja com a perpetuidade e sustentabilidade da organização, portanto, atender aos

preceitos legais, no caso deste estudo, às normas contábeis, o Código Civil Brasileiro, os

princípios de Governança Corporativa, podem proporcionar maior segurança aos stakeholders

e isso se reverter em benefícios para a empresa, no curto, médio e longo prazos.

As premissas apresentadas neste estudo robustecem seus objetivos, gerais e

específicos, portanto entende-se que as mesmas foram alcançadas por meio do estudo de caso.

Espera-se que esta pesquisa contribua com a academia no sentido de levar a discussão

da Governança Corporativa no ambiente da micro e pequena empresa, respeitando suas

limitações, de forma mais contundente, talvez abrindo até uma discussão acerca da

viabilidade de edição de um Código de Boas Práticas de Governança Corporativa para as

microempresas e empresas de pequeno porte.

Em relação à comunidade, no caso empresarial, a expectativa é que este trabalho possa

somar-se às várias outras iniciativas com o propósito de fortalecer o empreendedorismo e

ajudar a conscientizar o gestor de empresa, que é possível e necessário atender às normas

vigentes e assim garantir que seu empreendimento prospere.

Coloca-se a sugestão para estudos futuros que possam contribuir para a criação de um Código

de Governança Corporativa para microempresas e empresas de pequeno porte. A proposta

para tais empresas, pode conter à norma a obrigatoriedade de divulgação das demonstrações

financeiras das MEs e EPPs. e agregar outros aspetos, considerando a viabilidade e a

realidade destas empresas.

88

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93

ANEXO 1 - Modelo de Carta de Responsabilidades da Administração

Local e data (31/12/2xxx)

A

EMPRESA DE SERVIÇOS CONTÁBEIS XYZ

CRC XX:

Endereço:

Cidade e Estado

CEP

Prezados Senhores:

Declaramos para os devidos fins, como administrador e responsável legal da empresa

<<DENOMINAÇÃO SOCIAL>>, CNPJ xxxxxxx, que as informações fornecidas à V.Sas.

para preparação das demonstrações contábeis, obrigações acessórias, apuração de impostos e

arquivos eletrônicos exigidos pela fiscalização federal, estadual, municipal, trabalhista e

previdenciária são fidedignos e compreendem a realidade do que diz respeito a:

a) o valor apresentado na conta caixa, perfaz a realidade que tínhamos no encerramento

do exercício de <<ANO BASE>>;

b) informamos desconhecer e não possuir nenhuma operação que não tenha sido

registrada em nossa contabilidade, pois, todas as nossas operações são geradas com

documentação suporte adequada;

c) asseguramos que os controles internos adotados pela nossa entidade são de

responsabilidade da administração e adequados ao tipo de atividade e volume de

transações;

d) não realizamos nenhum tipo de operação que possa ser considerada ilegal, frente à

legislação vigente;

e) todos os documentos que geramos e recebemos de nossos fornecedores estão

revestidos de total idoneidade;

f) todos os ativos que informamos para V.Sas. são de nossa propriedade;

94

g) os estoques registrados em conta própria, foram por nós avaliados, contados e

levantados fisicamente, e perfazem a realidade do exercício encerrado em <<ANO

BASE>>;

h) as informações registradas no sistema de gestão e controle interno, denominado

<<SISTEMA EM USO>> são controladas e validadas com a documentação suporte

adequada, sendo de nossa inteira responsabilidade todo conteúdo do banco de dados e

arquivos eletrônicos gerados.

Além disso, não temos conhecimento:

1 de que não tenhamos cumprido todas as leis, normas e regulamentos a que à

empresa está sujeita. Também não temos conhecimento de que houve, durante o

exercício, operações ou transações que possam ser reconhecidas como irregulares

ou ilegais e/ou que não tenham sido realizadas no interesse da empresa;

2 de que diretores ou empregados em cargos de responsabilidade ou confiança

tenham participado ou participem da administração ou tenham interesses em

sociedades com as quais a empresa manteve transações;

3 de quaisquer fatos ocorridos que possam afetar as demonstrações contábeis ou que

as afetam até a data desta carta ou, ainda, que possam afetar a continuidade das

operações da empresa;

4 de efeitos relevantes nas demonstrações contábeis, decorrentes das seguintes

situações:

a. ações ou reclamações materiais contra a empresa;

b. acordos ou operações estranhos aos negócios normais ou quaisquer outros

acordos;

c. inadimplências contratuais que possam resultar em prejuízos para a empresa;

d. existência de contingências (ativas ou passivas) além daquelas que estejam

descritas, reconhecidas ou provisionadas, por serem consideradas virtualmente

certas (contingências ativas) ou prováveis (contingências passivas).

95

Também confirmamos que não houve:

(a) fraude envolvendo administração ou empregados em cargos de

responsabilidades ou confiança;

(b) fraude envolvendo terceiros que poderiam ter efeito material nas

demonstrações contábeis;

(c) violação ou possíveis violações de leis, normas ou regulamentos cujos efeitos

deveriam ser considerados para divulgação nas demonstrações contábeis ou

mesmo dar origem ao registro de provisão para contingências passivas.

Como também declaramos ciência quanto a:

a. exigência da fiscalização eletrônica federal, estadual, municipal, trabalhista e

previdenciária, relacionadas a obrigatoriedade de: SPED FISCAL; SPED

CONTRIBUIÇÕES; SPED ECD; SPED NFE; MANAD; SINTEGRA; Certificação

Digital;

b. necessidade de auditoria eletrônica de dados, haja vista que os arquivos exigidos pela

fiscalização eletrônica contêm informações de diversas fontes e sistemas, tais como:

contábil, fiscal, trabalhista, financeiro, administrativo, comercial, entre outros;

c. toda e qualquer divergência encontrada pelo fisco nos arquivos eletrônicos são de

nossa inteira responsabilidade.

Atenciosamente,

Sr. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Sr. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Administrador da Empresa ABC Representante Legal

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APÊNDICE – A – BALANÇO PATRIMONIAL – ATIVO

CONTA DESCRIÇÃO 31/12/2014 31/12/2015

1 Ativo 1.616.800,94 1.651.018,70

1.1 Ativo Circulante 1.017.497,27 1.069.971,35

1.1.1 Disponibilidades 287.527,01 195.912,92

1.1.1.01 Caixa 2.583,64 172,57

1.1.1.02 Bancos conta movimento 3.539,87 24.781,84

1.1.1.03 Aplicações de liquidez imediata 281.403,50 169.958,51

1.1.1.06 Aplicações Finan. Diversas - Tit. Capt. 1.000,00

1.1.2 Direitos Realizáveis a curto prazo 729.970,26 874.048,43

1.1.2.01 Clientes 96.537,41 165.154,29

1.1.2.07 Adiantamentos 72.952,15

1.1.2.07.005 Adiantamnto a Fornecedores Nac./Int. 66.534,74

1.1.2.07.007 Adiantamento de Férias 6.417,41

1.1.2.08 Tributos e Contribuições a Compensar 99.733,66 151.161,30

1.1.2.08.001 ICMS a recuperar 42.955,33 42.955,33

1.1.2.08.004 IRPJ - estimativa a recuperar 24.006,31 50.111,25

1.1.2.08.005 CSLL - estimativa a recuperar 12.284,42 30.772,22

1.1.2.08.006 PIS a recuperar 9,70 9,70

1.1.2.08.007 COFINS a recuperar 8,59 8,59

1.1.2.08.013 IRF s/ aplicaçãoFinanceira 20.469,31 27.304,21

1.1.2.10 Estoques 460.747,04 557.732,84

1.2 Ativo não Circulante 599.303,67 581.057,35

1.2.1 Contas a Receber 300.000,00 300.000,00

1.2.1.01 Empréstimos Sócios 300.000,00 300.000,00

1.2.2 Investimentos 200.000,00 200.000,00

1.2.2.01 Participações Societárias 200.000,00 200.000,00

1.2.3 Imobilizado 99.303,67 81.057,35

1.2.3.01 Bem e Direitos de uso 237.718,73 242.885,15

1.2.3.01.001 Máquinas e Equipamentos 8.986,90 8.986,90

1.2.3.01.002 Móveis e Utensílios 11.810,60 11.810,60

1.2.3.01.005 Veículos 126.086,05 126.086,05

1.2.3.01.006 Computadores e Periféricos 51.070,45 56.236,87

1.2.3.01.012 Instalações 39.764,73 39.764,73

1.2.3.05 (-) Depreciação Acumulada 138.415,06- 161.827,80-

1.2.3.05.001 Máquinas e Equipamentos 5.354,75- 6.064,76-

1.2.3.05.002 Móveis e Utensílios 11.709,15- 11.810,60-

1.2.3.05.005 Veículos 46.666,36- 63.632,19-

1.2.3.05.006 Computadores e Periféricos 39.295,97- 41.949,17-

1.2.3.05.008 Instalações 35.388,83- 38.370,98-

Balanço Patrimonial encerrado em valores em R$

DM9 PRODUTOS ELÉTRICOS LTDA

97

APÊNCIDE – B– BALANÇO PATRIMONIAL – PASSIVO

DM9 PRODUTOS ELÉTRICOS LTDA

Balanço Patrimonial encerrado em valores em R$

CONTA DESCRIÇÃO 31/12/2014 31/12/2015

2 Passivo 1.616.800,94 1.651.018,70

2.1 Passivo Circulante 491.832,98 526.050,74

2.1.1 Fornecedores 149.408,51 333.587,69

2.1.2 Empréstimos e Financiamentos 22.820,98

2.1.2.01 Empréstimos e Financ. Bancários 22.820,98 2.1.2.01.007 Empréstimos e Financiamentos 13.625,95

2.1.2.01.050 (-) Juros a transcorrer s/ empréstimos - 525,66 2.1.2.01.054 Financiamento BNDES 10.459,30

2.1.2.01.055 (-) Juros a transcorrer s/ BNDES - 738,61 2.1.3 Obrigações Trabalhistas 67.457,28 85.305,07

2.1.3.01 Salários a pagar 9.030,45 10.573,75

2.1.3.03 Pró-labore a pagar 17.082,95 15.557,81

2.1.3.04 Encargos sociais a pagar 12.297,50 11.422,82

2.1.3.04.001 INSS a pagar 8.491,65 8.877,06

2.1.3.04.002 FGTS a pagar 2.232,30 1.595,76

2.1.3.04.003 Contribuição Sindical a pagar 250,32 109,32

2.1.3.04.009 Contribuição Confederativa a pagar 253,93 166,18

2.1.3.04.010 Contribuição Assistencial a pagar 179,00 674,50

2.1.3.04.011 Pensão Alimentícia a Pagar 890,30 2.1.3.05 Provisões de Folha 29.046,38 47.750,69

2.1.3.05.001 Provisão de férias 21.547,79 22.208,64

2.1.3.05.002 Provisão de Encargos de Férias 7.498,59 7.728,51

2.1.3.05.003 Provisão de 13. Salário 13.214,81

2.1.3.05.004 Provisão de Encargos de 13. Salário 4.598,73

2.1.4. Obrigações Tributárias 20.286,06 24.425,83

2.1.4.01 Impostos Retidos a recolher 1.022,49 1.172,61

2.1.4.01.001 IRRF a recolher 1.000,63 1.148,52

2.1.4.01.007 CSRF a recolher 21,86 24,09

2.1.4.02 Impostos e Contribuições s/ Lucro 229,10 1.710,79

2.1.4.02.001 IRPJ a recolher 143,19 1.069,24

2.1.4.02.004 Contrib. Social s/ estim. A recolher 85,91 641,55

2.1.4.03 Impostos e Contribuições s/ Receitas 19.034,47 21.542,43

2.1.4.03.001 ICMS a recolher 12.656,47 12.906,46

2.1.4.03.002 COFINS a recolher 5.240,30 7.104,19

2.1.4.03.003 PIS a recolher 1.137,70 1.531,78

2.1.5 Contas a pagar 231.860,15 82.732,15

2.1.5.02 Demais contas a pagar 8.400,00 8.400,00

2.1.5.02.003 Aluguel a pagar 8.400,00 8.400,00

98

2.1.5.03 Dividendos propostos a pagar 223.460,15 74.332,15

2.1.5.03.001 Lucros distribuídos a pagar 223.460,15 74.332,15

2.2 Passivo não Circulante 500.000,00 500.000,00

2.2.1 Empréstimos bancários 500.000,00 500.000,00

2.2.1.01 BNDES - Finem 500.000,00 500.000,00

2.3 Patrimônio Líquido 624.967,96 624.967,96

2.3.1 Capital 40.000,00 40.000,00

2.3.1.01 Capital Social 40.000,00 40.000,00

2.3.4 Lucros/Prejuízos acumulados 584.967,96 584.967,96

2.3.4.03 Lucros /Prejuízos acumulados 297.756,25 404.202,88

2.3.4.03.002 Lucros acumulados 297.756,25 404.202,88

2.3.4.04 Resultado do Exercício 287.211,71 180.765,08

2.3.4.04.001 Resultado do Exercício 285.478,01 180.765,08

2.3.4.04.002 Ajustes de Exercícios Anteriores 1.733,70

99

APÊNCIDE – C– DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

DM9 PRODUTOS ELÉTRICOS LTDA

Demonstração do Resultado do Exercício em Saldo em R$

CONTA DESCRIÇÃO 2014 2015

3 Receitas 2.811.980,96 1.973.475,45

3.1 Receitas Operacionais 3.192.358,76 2.241.812,62

3.1.1. Receitas com vendas e serviços 3.192.358,76 2.241.812,62

3.1.1.01 Receita com vendas no pais 3.192.358,76 2.241.812,62

3.1.1.01.004 Revenda de mercadorias a prazo 3.192.358,76 2.241.812,62

3.2

Deduções das Receitas c/ vendas e

serviços - 380.930,51 - 268.337,17

3.2.1 Devoluções e abatimentos - 51.921,55 - 33.938,51

3.2.1.001 Devoluções de vendas - 51.921,55 - 33.938,51

3.2.2. Impostos s/ vendas e serviços - 329.008,96 - 234.398,66

3.2.2.001 ICMS s/ vendas e serviços - 33.715,81 - 24.685,19

3.2.2.002 PIS s/ vendas e serviços - 52.673,90 - 37.323,30

3.2.2.003 COFINS s/ vendas e serviços - 242.619,25 - 172.390,17

3.3 Receitas não Operacionais 552,71

3.3.1 Receitas não Operacionais 552,71

3.3.1.01 Outras receitas 552,71

3.3.1.01.002 Outras receitas 552,71

5 RECEITA LIQUIDA 2.811.980,96 1.973.475,45

6 CUSTOS -1.736.542,23 -1.235.849,15

6.1 Custos das mercadorias vendidas -1.736.542,23 -1.235.849,15

6.1.01 Custos das mercadorias vendidas -1.736.542,23 -1.235.849,15

6.1.01.001 Custos das mercadorias vendidas -1.736.542,23 -1.235.849,15

7 Resultado bruto 1.075.438,73 737.626,30

8 Despesas - 857.768,01 - 604.515,38

8.1 Despesas Operacionais - 835.825,56 - 584.853,02

8.1.01 Despesas Trabalhistas - 393.977,32 - 279.187,60

8.1.01.001 Salários - 181.666,89 - 136.485,35

8.1.01.002 Pró-labore - 90.921,25 - 46.704,38

8.1.01.004 Férias - 21.892,73 - 21.307,37

8.1.01.005 13. salários - 19.096,07 - 14.612,32

8.1.01.007 Gratificações - 600,00

8.1.01.012 Rescisão - 8.301,11 - 7.600,17

8.1.01.013 Outros gastos com pessoal - 8.530,00

8.1.01.015 Vale-transporte - 4.859,15 - 8.108,80

8.1.01.017 Assistência médica - 24.561,91 - 28.547,98

8.1.01.019 Comissões s/ vendas - 33.548,21 - 14.934,13

8.1.02 Encargos Sociais - 110.874,53 - 79.113,94

8.1.02.001 INSS - 90.842,11 - 59.871,26

8.1.02.002 FGTS - 20.032,42 - 19.242,68

100

8.1.03 Despesas Gerais - 330.973,71 - 226.551,48

8.1.03.002 Aluguel - 82.368,50 - 68.745,60

8.1.03.003 Agua e esgoto - 760,70 - 740,27

8.1.02.004 Energia Elétrica - 9.529,10 - 7.650,45

8.1.03.007 Material de Limpeza - 3.575,38 - 2.856,63

8.1.03.008 Material de Escritório - 893,40 - 397,25

8.1.03.009 Manutenção e Conservação - 3.423,71 - 438,20

8.1.03.010 Combustíveis e Lubrificantes - 8.837,17 - 9.457,25

8.1.03.013 Depreciações e Amortizações - 27.022,24 - 23.412,74

8.1.03.015 Fretes e carretos - 3.250,01

8.1.03.018 Serviços de terceiros - pessoa física - 4.446,29 - 130,00

8.1.03.019 Serviços de terceiros - pessoa jurídica - 19.677,62 - 8.700,11

8.1.03.022 Telefone - 20.146,24 - 16.823,53

8.1.03.026 Pedágios - 628,78 - 963,00

8.1.03.032 Seguros - 37.852,25 - 10.876,58

8.1.03.033 Honorários Contábeis - 17.072,10 - 14.659,10

8.1.03.034 Viagens - 100,00

8.1.03.035 Uso e consumo - 57.700,37 - 10.340,22

8.1.03.038 Multas de transito - 434,13

8.1.03.040 Internet - 189,60 - 2.039,14

8.1.03.041 Refeição - 1.499,40 - 6.965,13

8.1.03.044 Materiais elétricos - 14.387,39 - 6.922,20

8.1.03.045 Material de informática - 5.134,45 - 7.389,19

8.1.03.046 Copias e impressões - 90,00 - 150,00

8.1.03.048 Despesas com veículos - 214,60 - 3.260,00

8.1.03.050 Material de pintura - 10.638,00

8.1.03.051 Material de segurança - 170,00 - 3.649,40

8.1.03.052 Despesas médicas - 3.528,36

8.1.03.053 Copa e cozinha - 460,62 - 732,99

8.1.03.054 Serviços de vigilância - 1.767,58 - 1.448,13

8.1.03.057 Gastos com decoração e paisagismo - 28,00

8.1.03.060 Cursos e treinamentos - 3.510,34 - 2.482,51

8.1.03.061 Assinaturas diversas - 160,69

8.1.03.062 Anuidade de cartão de crédito - 45,32 - 284,30

8.1.03.066 Despesas com cartão de crédito - 5.662,09 - 107,18

8.1.03.069 Locação de Equipamentos - 150,00

8.1.03.070 Taxas - 578,46

8.2 Despesas operacionais financeiras - 15.725,88 - 15.419,01

8.2.01 Despesas com atualizações - 64,76

8.2.01.002 Variação cambial passiva - 64,76

8.2.02 Juros e Descontos - 15.725,88 - 15.354,25

8.2.02.001 Juros - 1.562,94 - 1.541,62

101

8.2.02.004 Tarifas bancárias - 14.162,94 - 13.812,63

8.3 Despesas Operacionais Tributárias - 6.216,57 - 4.243,35

8.3.01 Impostos - 6.216,57 - 4.243,35

8.3.01.001 IOF - 8,42 - 146,13

8.3.01.003 IPTU - 1.420,00 - 1.170,00

8.3.01.004 IPVA - 2.666,69 - 1.591,11

8.3.01.005 IRRF (exclusivo na fonte) - 138,75

8.3.01.006 CRSF - 576,49 - 43,72

8.3.01.007 ICMS - 255,00 - 282,60

8.3.01.008 Outras taxas e impostos - 1.037,64 - 848,77

8.3.01.009 Multas e juros - 113,58 - 161,02

9 Receitas Financeiras 67.807,29 47.654,16

9.01 Receitas com atualizações 0,49

9.01.002 Variação cambial ativa 0,49

9.2 Ganhos com aplicações financeiras 68.793,65 47.389,91

9.02.001 Rendimentos de aplicações no FAF 68.793,65 47.389,91

9.03 Juros e descontos obtidos - 986,36 263,76

9.03.002 Descontos Obtidos - 986,36 263,76

10 Resultado Operacional 285.478,01 180.765,08

13

Resultado antes das

participações/impostos 285.478,01 180.765,08

16 Resultado Líquido do Exercício 285.478,01 180.765,08

16.01 Resultado Líquido do Exercício 285.478,01 180.765,08

16.01.001 Resultado Líquido do Exercício (lucro) 285.478,01 180.765,08