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Fala Escritor em Fala Escritor em Prosa e Poesia Prosa e Poesia Autores: Autores: Carlos Souza Carlos Souza Fátima Ferreira Fátima Ferreira Grigório Rocha Grigório Rocha Leandro de Assis Leandro de Assis Renata Rimet Renata Rimet Sandra Stabile Sandra Stabile Valdeck Almeida de Jesus Valdeck Almeida de Jesus 1

Fala Escritor em Prosa e Poesiastatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2910466.pdfcom essa sociedade maluca parecem primitivos uma barbaridade absurda Há tanta violência assolando

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Fala Escritor emFala Escritor em Prosa e PoesiaProsa e Poesia

Autores:Autores:

Carlos SouzaCarlos SouzaFátima FerreiraFátima FerreiraGrigório RochaGrigório Rocha

Leandro de AssisLeandro de AssisRenata RimetRenata Rimet

Sandra StabileSandra StabileValdeck Almeida de JesusValdeck Almeida de Jesus

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Copyright© 2010 Carlos Souza, Fátima Ferreira, Grigório Rocha, Leandro de Assis, Renata Rimet, Sandra Stabile e Valdeck Almeida de Jesus

Capa: Kythão

Diagramação: Cao Ypiranga

2ª edição

(2011)

Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta edição pode

ser utilizada ou reproduzida - em qualquer meio ou forma -, nem apropriada e estocada sem a expressa autorização de Carlos Souza, Fátima

Ferreira, Grigório Rocha, Leandro de Assis, Renata Rimet, Sandra Stabile e Valdeck Almeida

de Jesus

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Acredite(Carlos Souza)

Acredite no amor, mesmo que não se sinta amadoAcredite na paz, mesmo que a guerra esteja à vista Acredite na paixão, mesmo que seu coração não esteja batendo mais forteAcredite na verdade, mesmo que a mentira pareça prevalecerAcredite nas pessoas, mesmo que elas não inspirem confiança Acredite na vida, mesmo que a morte seja algo inevitável Acredite no perdão, mesmo que o coração insista em guardar rancorAcredite nos seus sonhos, mesmo que pareçam tão distante

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Acredite em você, mesmo que os outros duvidemAcredite em Deus, pois ele é a origem de todas as coisasAcredite, independente do que acontecer, acredite, acredite, acredite...

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Obrigado Senhor(Carlos Souza)

Pela vida que me destesPela saúde que tenhoPelas coisas que conquisteiPelos amigos que ganheiPela paz que sinto Pelo amor que tenho no coraçãoPor ter me feito uma pessoa do bemPor me fazer amar a humanidadePor me conceder a oportunidade de conhecer os teus caminhosPor tudo e por todos, obrigado Senhor, obrigado, obrigado, obrigado...

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Por que te calas, meu amor?(Carlos Souza)

O teu silêncio me consome,me devora,me tortura,me apavora.

Por que te calas, meu amor?a minha alma está angustiada,o meu coração entristecido,o meu corpo abalado,sem saber o que fazer.

Por que te calas, meu amor?grita comigo, desabafa,mas não me deixesem a sua voz,sem a tua atenção.

Por que te calas, meu amor?me questione,me enche com as tuas reclamaçõesbrada, fala o que quisermas não te cales para mim.

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Recado aos escritores(Carlos Souza)

Caro amigo escritorpreste muita atenção ao que vou falarpara atingir o sucessovocê vai ter que se esforçarcriando opções para os leitores te encontrar Seja nas mídias modernascomo nas tradicionaisTwitter, Facebook, e Orkutblog, sites e portaisjornais, revistas, rádios e TVe quaisquer outras mídias mais Se a internet não é sua praiamude logo de opinião perda o medo da máquina e se dedique com afeição escreva artigos para os jornaiscom a maior dedicação Faça isso brevementee o resultado viráseus livros ganharão mercadoe passarão a circularseguindo esse caminhodivulgação, prestígio e reconhecimento com certeza você terá

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Violência assustadora(Carlos Souza) Oh! Deus do céutenha piedade de nósnos proteja dessa guerraque vem com veracidade atroz Não sei o que está acontecendocom essa sociedade malucaparecem primitivosuma barbaridade absurda Há tanta violênciaassolando as cidadesacabando com a juventudesem nenhuma piedade Mas eu não me canso de esperarque um dia isso vai mudarpara vivermos em paze sem medo de andar

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CARLOS SOUZA é Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Marketing e Jornalismo. Também é radialista e aluno especial do Mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Autor do Livro Revolução Pessoal – Seu Próximo Desafio. Editora Òmnira - Salvador-BA, 2007. Participou como um dos autores dos livros: “Versatilavra’, Òmnira: Salvador-BA, 2009; “Contos, Crônicas e Artigo”, Òmnira: Salvador-BA, 2009; “Ecos Machadianos’, Movimento Cultural Artpoesia: Salvador, 2009; “O que é que a Bahia tem”, Litteris: Rio de Janeiro–RJ, 2009; “Salvador 460 Anos de Poesia”, Òmnira: Salvador-BA, 2008; “Anuário de Escritores 2003”, Litteris: Rio de Janeiro; “Grandes Escritores da Bahia, vol.4”, Litteris: Rio de Janeiro–RJ, 2003: “Iandê Nheenga, que significa “nossa língua” em Tupi”, Òmnira: Salvador-BA, 2000. Tem artigos publicados nos Jornais: A Tarde, Correio da Bahia, Tribuna da Bahia, Bahia Notícias, Tribuna Evangélica, Primeira Página, Paralelo 12 e a Voz do Cepa. É verbete do Dicionário de Autores Baianos da Secretária de Cultura e Turismo. Salvador-BA, 2006 e da Enciclopédia da Literatura Brasileira Contemporânea – Volume XIV 2009. Rio de Janeiro/RJ, organizada por Reis de Souza. Membro da Academia de Cultura da Bahia e colaborador do Círculo de Estudo, Pensamento e Ação (CEPA), da Fundação Òmnira e do Projeto Fala Escritor, na área de assessoria de imprensa. Contato: [email protected]

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Ana e a felicidade(Fau Ferreira)

Ana fizera trinta anos este ano e desde os vinte vivia sozinha, por escolha, saiu do interior onde morava com os pais para viver na capital em busca de estudos melhores, trabalho e, principalmente, Liberdade. Foi bem sucedida em todas as suas buscas, aos vinte e quatro anos formou-se em publicidade e já trabalhava em uma grande empresa.

Sempre foi livre também, gostava de caminhar sozinha e olhar para o céu azul, era quando sentia uma imensa Liberdade, mas, Felicidade nunca sentiu. Não se podia dizer que era uma pessoa triste, Ana buscava a Felicidade e a encontrava em alguns momentos: quando recebia uma promoção no trabalho; quando saía para curtir com os colegas; quando assistia a um bom filme no cinema; quando beijava algum namoradinho dos muitos que teve.

Mas, nada disso a completava. Ela precisava de mais, de algo maior, de uma Felicidade duradoura, constante, companheira. Ainda mais agora, agora que atingira de fato a maturidade, agora que era uma mulher bem-sucedida, inteligente, independente, só faltava-lhe ser feliz. Porém, Ana não sabia o que fazer para isso, não sabia o que lhe faltava, o que buscar. Pensou em ter um filho, já que tanto falam na Felicidade das mães, não seria difícil arranjar um pai, já que era bonita e estava inteira apesar dos trinta e, ainda por cima, tinha dinheiro. Desistiu de imediato, nunca teve vocação para mãe, não tinha a menor paciência com crianças. Deveria haver outra coisa.

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Era noite de 31 de dezembro, mais um reveillon, mais um que passaria sozinha em sua linda casa. Ela e a sua garrafa de champagne. Não estava triste por isso, ela só não entendia o porquê de fazer tudo diferente em uma noite, para no dia seguinte continuar tudo exatamente igual. Mesmo assim fazia, porque gostava de rituais.

Preparou um jantar com as comidas que mais gostava... lentilha, tinha que ter lentilha para dar sorte, arrumou a fruteira com muitas uvas verdes, vestiu roupa nova, um lindo vestido branco, gostava da cor branca, separou a taça de champagne, colocou uma música suave e ficou refletindo sobre sua vida, esperando chegar as doze badaladas.

Meia noite em ponto estourou a champagne, encheu sua taça e bebeu de uma só vez, quando teve a ideia de acender todas as luzes da casa e abrir portas e janelas para a Felicidade entrar. E assim que Ana terminara de abrir a última porta que era a da sala, ela, a felicidade, entrou suave e constante. E foi preenchendo toda a casa.

Ana encheu mais uma vez sua taça e agora bebendo calmamente, voltou para frente da porta e ficou ali sentindo a tal Felicidade. Pela primeira vez na vida estava sentindo a Felicidade como tinha que ser, completa, inteira, ali só dela, só Ana e a Felicidade, deitaram-se no chão e ficaram ali vivendo aquele momento, Ana e a Felicidade.

No dia primeiro um passante estranhou aquela casa toda aberta e com as luzes acesas, o que não era comum nesses tempos de violência e foi ver se algo estava acontecendo. Ao chegar à porta viu aquela mulher bonita, ainda jovem, caída ao chão com um vestido branco que a fazia parecer iluminada, a taça ao seu lado, quebrada. Chamou pela moça, mas preferiu não tocá-la, apesar da vontade, poderia ter havido um crime e ele se comprometer.

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Percorreu toda a casa, mas encontrou tudo no lugar, roubo não havia sido. Voltou até Ana, tentou escutar seu coração e nada. Respiração, nada. Estava morta. Morrera como desejou: Ela e a Felicidade.

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O reino onde não existiam lágrimas(Fau Ferreira)

Há muito tempo, no reino de Horus havia uma princesa muito triste. O nome dela era Agatha. Ela chorava dia e noite por viver prisioneira do seu próprio pai desde que ousou enamorar-se de um plebeu.Um dia uma fada se condoeu do seu sofrimento e foi visitar-lhe.- Princesa, por que és tão triste? – perguntou enternecida.E a princesa contou-lhe toda a sua triste história.- Concedo-lhe um desejo. Diga o que queres que atenderei, minha princesa.- Quero que não mais existam lágrimas. Que em Horus ninguém, nunca mais, derrame uma lágrima sequer.E assim foi. A partir daquele momento, Horus desconheceu o que era lágrima. No começo estranhou-se. Até os bebês quando nasciam não davam o famoso primeiro choro. Mas, com o tempo, todos se acostumaram.A princesa não mais chorara, mas continuou presa em seu quarto, numa profunda tristeza. Alguns anos se passaram, até que inexplicadamente a princesa adoeceu e morreu repentinamente, sem ninguém descobrir a causa.Assim como a princesa, os habitantes de Horus, que viviam acumulando sofrimentos ao longo da vida, de repente caíam doentes e em questão de horas morriam, assim, sem nenhuma explicação. E morreram muitos e continuavam morrendo, cada dia mais.Até que um dia a fada que tentara ajudar a princesa teve um insight, que o seu feitiço poderia ser a causa do que estava acontecendo. Pois a princesa tinha feito o pedido errado, ao invés de pedir para acabar com o sofrimento, pediu somente para conter as lágrimas, o que fez com que os sofrimentos fossem sendo acumulados e se transformado com o tempo nesta doença.

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Ela resolveu então reunir o Conselho das Fadas para expor o caso. Foi-lhe concedido o direito de desfazer o feitiço. E neste dia, ela reuniu todos os habitantes da pequena Horus na praça da cidade e explicou o acontecido e desfez o feitiço. Na mesma hora, começaram a jorrar lágrimas contidas há muito tempo. E os habitantes choraram todas as suas mágoas desde a infância. E até os que já estavam enfermos, libertaram suas lágrimas e conseguiram levantarem-se da cama.Foram tantas as lágrimas derramadas que surgiu em Horus um rio de águas límpidas, que dá uma sensação de leveza a todos que nele se banham.

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Para onde vamos?(Fau Ferreira)

Caminhava pela rua, distraída, olhando para os seus sapatos molhados pela chuva, enquanto pensava na sorte. Esta sorte em que muitos não acreditam, mas que ela sempre acreditou porque nascera com ela. Era uma pessoa de sorte - todos diziam -, de muita sorte.

Nos estudos, com os amigos, nos bingos do colégio. Sim, a sorte sempre lhe acompanhara: na viagem em que o ônibus bateu e ela não sofreu nem um arranhão; no vestibular, quando passou de primeira para psicologia, mesmo não tendo estudado tanto quanto deveria; nas baladas, de onde sempre saía ilesa das brigas que por lá rolavam.

Mas, agora, ali, olhando para os seus sapatos molhados pela chuva, se entristecia com a única sorte que não tivera, e que por isso, talvez, fosse a mais desejada:- “... a sorte de um Amor tranquilo com sabor de fruta mordida”. - Sussurrou baixinho esta frase da música de Cazuza, que era uma das suas preferidas.

Sussurrou, mas não tão baixo que o rapaz que caminhava a seu lado e que ela nem se dera conta, não pudesse ter escutado.- Também gosto muito desta música.- Como assim? Alguém lendo os meus pensamentos? – pensou.Parou. Virou-se, levantou os olhos que se encontraram direto nos olhos castanhos a sua frente.Meio gaguejando respondeu:- É, é uma das minhas prediletas.- Vamos continuar caminhando? – Falou o rapaz, esboçando um sorriso tímido. Ela também tentou sorrir.- Vamos sim, mas... pra onde você está indo?- Quem? Eu?- Sim, quem mais?

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- Eu não sei, você é quem sabe. - E-e-e-euu?- Sim, você. Eu apenas estou te seguindo.- Me seguindo? Vo-cê é um sequestrador, por acaso?Ambos riram e de novo se olharam profundamente. Agora, sem que ninguém precisasse falar, continuaram caminhando debaixo da chuva fina que não cessava.- Sim, mas me responda você, para onde está indo? – Perguntou o rapaz.- Pra lugar nenhum, respondeu ela, apenas gosto de caminhar na chuva, e como hoje é domingo, não havia nada pra fazer, resolvi descer e tomar esta chuvinha gostosa. Sente. Esticou os braços e convidou-o com a cabeça para fazer o mesmo gesto.

Ficaram parados ali, só sentindo a chuva escorrer pelos seus braços. O rapaz andou um pouco mais depressa, aproximou-se de uma árvore e num salto rápido, arrancou uma flor amarela. Voltou-se para ela, contemplou seu rosto límpido, seus olhos escuros, sua pele clara, passou a mão pelos cabelos negros, molhados e colocou a flor por entre eles, atrás da orelha.

Ela não sabia o que fazer, o que pensar e não pensou, não quis pensar, não quis criar expectativas, nem fantasiar, afinal já estava vivendo a própria fantasia.

Ficaram ali, entreolhando-se. A chuva aumentou, ele a confortou com carinho e deu-lhe um beijo na testa.- Como é seu nome, minha flor?- Vi-vi, Viviane... e o seu?- Tiago.- Eu acho que Viviane e Tiago combina... Vi e Ti, disse ele.

Riram os dois. E entre risos e chuva e lágrimas e suor... beijaram-se.

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Um final feliz(Fau Ferreira)

Ia no avião ouvindo e cantarolando aquela música da Legião Urbana: “Tenho andado distraído, impaciente e indeciso e ainda estou confusa, mas agora é diferente estou tão tranquila e tão contente...”- Faz tanto sentido essa música. – pensava Maria Laura.Em alguns minutos desembarcou no Rio de Janeiro, no aeroporto do Galeão. Ainda distraída foi pegar sua bagagem, enquanto pensava em tudo que estava deixando para trás, agora tudo parecia leve, até suas malas abarrotadas de roupas, sandálias, cremes.Caminhando para pegar um táxi, viu o que parecia uma ilusão, apertou bem os olhos míopes para ter certeza. Não era uma ilusão, era ele em carne, osso e sorriso.Ele que já havia avistado ela no saguão, parou para que ela o alcançasse. Pode não parecer, mas esse encontro foi casual, pura obra do destino. Ele sentiu-se confuso, porém feliz em vê-la. Ela não sentiu nada, ou talvez, não tenha conseguido explicar ou mesmo pensar, mas ao chegar perto, abraçou-o e disse:- Sabia que te encontraria aqui, só não sabia que seria tão cedo...- É, logo assim, no desembarque...- Pois é, esperava que isso acontecesse só daqui a alguns anos.- Eu não conseguiria tanto tempo. Você veio para ficar?- Sim, estou finalmente realizando o meu sonho.Ele parou na frente dela, segurou firme em suas mãos, olhou-a profundamente, e falou:- Então, vamos realizar os nossos sonhos. Você vai agora me dizer tudo o que tem para me dizer e nunca disse, me xingar, brigar comigo e até me bater se quiser. E depois vai me beijar e me pedir para fazermos amor como só nós sabemos fazer.Ela não fez nada do que ele mandou, apenas olhou-o no fundo dos olhos e chorou, chorou toda sua raiva,

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toda a sua mágoa de anos, daquele e de outros amores que haviam passado por sua sofrida vida.Ele recostou a cabeça dela em seu ombro, enlaçou-a pela cintura e saíram caminhando, pegaram um táxi e foram para o apartamento que ela havia alugado para serem felizes. E foram.

FÁTIMA FERREIRA – Filósofa formada pela UFBA, Escritora, Roteirista, Professora e Estudante de Produção Audiovisual pela Unijorge. Contato: [email protected]

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À LUA (ou Uma Trova Mística) (Grigório Rocha)

Cálida luz da luaBanha minha face nuaE arranca o verso que falta.

Das profundezas de tu'alma ardenteDesperta a verve eloquentePara a trova que a ti exalta.

Se em tua presença perco a falaMeu coração também se calaDe alegria ao vê-la sorrir.

E se ao te ver o ar me escapaComo prisioneiro, numa torre alta,Sufocaria ao vê-la partir.

Uma noite assim iluminadaNão findará ao fim da estradaQue me leva a teu doce avatar

Pois a ponte entre nós construída,Seja em sonho ou seja em vida,Não permitiria à aurora chegar.

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Manifesto(Grigório Rocha) Belíssima poesia.

Muito forte, diria.

De uma dor intensa e sanguínea faria,

De um palhaço, triste melancolia.

Mas se da dor também nasce o belo

Independente dela traço o libelo

Que exorta meu coração a te amar

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Romântico(Grigório Rocha) Dizem que romântico sou.Mas se romântico fosseMe sentiria acossadoPela divisão cromáticaDa nossa cidade assaz:O preto do asfalto,O cinza-paredeE o colorido espelhadoDos shoppings educacionais?Deveria eu romântico serSe me orgulhasseDas rosas que beijeiE ainda, das que beijar desejei?Essa alcunha deveria receberSe sentisse saudadeDas frases nos murosQue expressavam verdadesQue ninguém queria ver?Mas se amar intensamenteÉ um sintoma latente,Nem sequer reflitoDigo e repito:Sim, romântico souPois ainda prefiro,Ao invés de mil suspiros,A beleza e a intensidadeDe um grande e belo Amor.

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A Bahia dos Gregórios(Grigório Rocha) Olhe o céu dessa BahiaE diga se não me dizSe não há neste céu uma magiaDigna de uma aprendiz?

Se na Bahia a praça é do poetaE o chão um dia foi de gizTraçado e apagado o fizPois a Bahia é uma curva, não uma retaE longe dela não se pode ser feliz!

A terra de Gregórios e GrigóriosDe Monique, Glauber e GilNão precisará de endinheirados CaetanosNem de baluartes lusitanosOu americanos cobiçando o Brasil.

A Bahia de régua e compassoDa diversidade que a nós abundaÉ igual à poesia que façoUm esquadro sem marca e sem traçoDo nordeste donde o Brasil se funda.

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O caminho(Grigório Rocha) No caminho que trilhamos pedras existemPara lembrar as dores da longa jornada.A chuva e o vento aos viajantes insistemEm lembrar as lágrimas derramadas na estrada.

Monstros criados contra nós mesmosNos visitam e espreitam pela madrugadaNo futuro ou passado, uma família a esmo?Ariadne perseguida ou um labirinto ao nada?

Torres erigidas ao erro desconhecidoMuralhas erguidas pela sinceridadeSincerocídios inverossímeis pela incompreensão punidosOrgulho imolado no altar da vaidade.

Mas as pernas doem e o coração apertaE este caminho parece o derradeiroO cansaço, a fome, a vista desertaAs forças se vão ante o desespero.

Não há mais tempo para retornarAo altruísmo inocente pelo orgulho enganadoMas se o infante no intuito durarTalvez entenda o seu duro legado.

O sentido do caminho é caminharMesmo que duras as provas à esperaNão há promessas a cumprir ou sanarApenas há o sentimento que do coração se apodera.

Ser si mesmo e continuar sendoAmar quem ama e continuar amandoViver a vida e continuar dizendoQue o sentido de amar é continuar caminhando.

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GRIGÓRIO ROCHA é natural de Salvador-BA. Artista plástico formado pela UFBA, especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UNEB e graduando em Ciências Sociais, também pela UFBA. Funcionário da Embasa, é diretor de imprensa do Sindae-BA e diretor regional do Dieese-BA. Participa do projeto Fala Escritor desde sua primeira edição e atualmente publica suas poesias no blog: www.poesiasdoabsurdo.blogspot.com . Contato: [email protected]

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Depois de Velho(Leandro de Assis)

Estava sentado na Praça da Piedade esperando minha noiva sair do trabalho, quando de repente algo inusitado aconteceu: um senhor de idade tira o pênis pra fora e começar a urinar, na frente de todos, como se fosse uma criança. Pensei... realmente ele deve estar na “melhor idade”, não é assim que dizem quando alguém chega à velhice? Pois é, comecei a lembrar de momentos de aperto que passei aqui em Salvador, à procura de um sanitário púbico para não fazer o mesmo que o velho fez, mas não encontrei, o jeito foi ‘segurar’ até em casa. Como dizem, depois de velho voltamos a ser como crianças. O primeiro sinal então deve ser esse, o de retirar o pênis na frente de todos, numa praça pública, sem se importar com o casal de namorados que estava ao lado, com os outros idosos e idosas que estavam na praça e nem com os pombos, coitados. As pessoas que estavam próximas acharam graça do ato, acho que não acreditando no que estava presenciando. Será que se fosse eu, aos 27 anos, que tirasse o instrumento das calças, as pessoas iriam rir? Acredito que os homens dos dois casais de namorados próximos iriam me chamar pra briga. Não, pode parar por aí, não estou desejando sair tirando o meu não, só estou dizendo que não achei graça, a cena foi ridícula

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e que estou indignado com isso. Não se fazem mais velhos como antigamente.

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Gente Podre(Leandro de Assis)

Quando comecei a atuar como bombeiro militar, meus amigos me perguntavam como eu me sentia ao ver pessoas acidentadas... Até eu mesmo me surpreendia por não sentir o que todos achavam que eu deveria sentir. Dizem que se tivesse a minha profissão não conseguiriam dormir por ver sangue, ouvir gritos ou ver pessoas mortas. Mas isso são coisas que acabamos por nos acostumar, até mesmo quem vê noticiários e jornais sensacionalistas mostrando acidentes e mortes todos os dias se acostuma. Impacto mesmo eu tive quando disseram que temos que isolar o local, não apenas para a nossa proteção pessoal ou para os curiosos não atrapalharem nosso trabalho e sim para que pessoas mal intencionadas não furtassem os pertences das vítimas. Tomei um susto. Pensei: “como é que pode uma coisa dessas, os acidentados ali agonizando e tem gente pensando em saquear seus pertences”. Hoje penso diferente, não são pessoas mal intencionadas, são ladrões, não são saques e sim furtos. Estou escrevendo sobre isso indignado, pois acabo de ler que vítimas dos deslizamentos em Angra, no Rio de Janeiro, estavam sendo enterradas e enquanto isso suas casas eram saqueadas, que pessoas estavam enterrando seus parentes e que ao chegar em casa não tinha fogão, nem televisão. Isso é podre, isso fede mais que um defunto jogado num lago e que nós bombeiros, quando somos acionados para retirá-lo depois do quarto ou quinto dia de desaparecido. Com esse tipo de coisa eu não consigo me acostumar.

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“Deu merda”(Leandro de Assis)

Estava curtindo o sol na praia do Farol da Barra e a todo o momento passavam por mim vendedores ambulantes vendendo queijo coalho. Fiquei com medo de comprar, porém o cheiro que subia dos queijos sendo assados na brasa para as pessoas ao redor, me deixava louco de vontade. Então não pude resistir, apesar do medo de ter uma dor de barriga. Afinal, o sol estava de rachar e essa é uma das praias onde o calor é mais intenso devido ao muro de pedra que separa a areia do asfalto, um pouco acima do nível da areia.Sabe aquele ditado: “dor de barriga não dá um vez só”, pois é, já perdi as contas de quantas vezes tive uma, sou um servo da latrina. Sempre que ela me chama eu compareço. O problema é que ela só me chama nos momentos mais inusitados. Lembro de uma vez, ainda adolescente, quando pela manhã peguei um buzu lotado pra ir à escola no bairro da Ribeira e apenas alguns pontos após a dor de barriga chegou. Nossa, eu suava frio, tinha vertigem e arrepios constantes, pedia a Deus pra chegar logo na escola. Nesse momento você confessa todos os seus pecados e pede perdão a Deus.Quem já passou por isso sabe do que estou falando, é assim mesmo. Quando estava chegando próximo a escola, faltando uns três pontos apenas, senti que não conseguiria chegar lá e pensei, “deu merda”. Saltei correndo do buzu e invadi o Shopping da Ribeira, que ainda estava fechado naquele horário, passei correndo pelo segurança que me seguiu desesperado - e eu mais ainda - e gritando “não sou ladrão, só preciso ir ao banheiro” e ele me mandando parar... imagina... Parar uma porra, pensei... Entrei no banheiro e sentei no trono amigo, sim nesse momento ele é amigo.O segurança veio com uma conversa, dizendo que infelizmente eu não poderia permanecer no local. Creio que não acreditava que realmente eu estava com dor de barriga ou diarréia, até que ele ouviu uma

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explosão daquelas – acredite – eu estou contando isso, então ele saiu do banheiro e me deixou concentrar em paz. Deve ter ficado com pena de mim. Ainda bem, pois cagar conversando é dose.Ah! não venha me dizer que você defeca, todo mundo caga, ninguém defeca ou faz fezes, caga mesmo, afinal se não cagasse ninguém seria chamado de cagão ao fazer nas calças. Enfim, esse queijo coalho me fez relembrar este momento cômico da minha vida, pois passei minha tarde todinha sem poder sair do Shopping Center Lapa, pois lá havia vários tronos amigos

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Travesseiro Pet(Leandro de Assis)

Passeando pelo Morro do Cristo, observei o mendigo deitado à sombra de um coqueiro, na maior liberdade e tranquilidade de um dos locais mais lindos da cidade. Próximo a ele, havia uma dupla de policiais fazendo o policiamento ostensivo, lhe garantido a tranquilidade, além de casais de namorados que também estavam deitados, desfrutando da beleza do local. Não tinha como deixar de fazer a comparação entre quem estava deitado ali para curtir um momento de lazer e quem estava deitado para descansar da vida, do cansaço de viver a cada dia sem saber o que será do amanhã, sem perspectivas, a não ser a de conseguir um prato de comida para sobreviver nessa cidade que, apesar de linda, ostenta um dos piores índices nacionais em desigualdade social e desemprego. A minha conclusão da comparação entre eles, é que tanto o rico como o pobre ou aquele que tem uma melhor condição e o que não tem nenhuma condição de sobrevivência a não ser a mendicância, pode desfrutar do que Deus deixou para toda a humanidade, a natureza: o céu - seja azul durante o dia ou numa noite estrelada -, o mar, as paisagens naturais, a brisa e a sombra dos coqueiros. Porém, chegará um momento em que os casais repousarão em seus lares e deitarão em suas camas e travesseiros ortopédicos, enquanto aquele pobre mendigo levará a garrafa pet com água para beber - que também lhe serve como travesseiro - para outro local, a fim de se proteger do frio da noite e das maldades humanas, até que chegue o dia seguinte e ele possa desfrutar daquilo que Deus deixou para ele, a natureza.

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Pelo amor de Deus(Leandro de Assis)

Difícil de entender pela razãoO que só o espírito pode sentirPor várias vezes pedi perdãoE em nenhuma delas menti.

Estando arrependido e de joelhosEm prantos, clamando pela cruzPelo sangue derramado do Cordeiro,O sangue poderoso de Jesus.

Eu mesmo não me perdoariaPelos pecados que cometiMas Ele é Santo e misericordiosoE para sempre o irei seguir.

LEANDRO DE ASSIS é Escritor, Poeta, Professor de História e Bombeiro Militar. Autor dos livros Eu Sou Todo Poema, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, em Julho de 2007 e InQuIeTaÇõEs, publicado pela Ponto de Cultura Editora em 2009 e lançado na IV edição do Fala Escritor. Participa das edições III e IV do Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, e foi um dos vencedores do concurso de poesias realizado na Bienal do Livro de 2007, que resultou na Antologia Poemas que Falam, participa da Antologia Poética Mãos que Falam e é um dos selecionados para a Antologia Poética Carta ao Presidente, além de ser colunista da revista eletrônica Debates Culturais e idealizador do Projeto Fala Escritor. Contato: [email protected]

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Aventura(Renata Rimet)

Preciso urgente viver uma paixão poéticaDormir e acordar a seu ladoSonhar Inspirar se num olharDeixar rolar emoçãoExalar nos poros paixãoTirar os pés do chãoSentir o calor ferver Descrever o suor em teu corpo de ta lha da men te Ficar sem arNum longo beijoGozar feito dois insanosEmbriagados de amor e desejo Querer maisDesejar intensamente Toque Malicia Sussurro e Beijo...

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Biográfico(Renata Rimet) Sou agulha no palheiroSóbrio rodeado de ébriosLouco em meio aos sãosFaminto em meio aos saciadosSolitário infiltrado na multidãoSou sem querer serFui sem ter que pedirCheguei sem saber ondeLá permaneci por muito tempoAgora voo para a liberdade

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Castelo de Areia(Renata Rimet)

MarPrincesaSereia A menina sonhaReúne grãosPercebe o perigo eminenteOndas cada vez mais presentes Maré que encheCorre contra o tempoMãos delicadas constroem pontes e paredes A corrente traz uma onda displicenteInvade o castelo e segue em frenteInunda a fortaleza da criançaQue sorriSimples assim... Construiu o castelo antes da maré chegarAmanha é outro diaSonho não cessaA maré vazaMar, princesa e sereia voltam a reinarÀ luz do sol e dos sonhos da menina incansável De mãos delicadas, que monta seu novo castelo.

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Reflexão(Renata Rimet)

Quando descobri poeta?num dia que senti frioa alma se esvaiuo amigo partiu Aquele rasgado de papelficou amargoderramei nas letrastodo felamargo mel Até o céu derramou-se em lágrimas... Mas tudo passa,pessoas tempo sentimentopalavras largadas ao vento, Fica o papel rasgadonum canto emboladoolhando o "Ser Desarmado"a esperar... Poesia tem sua horaseu lugar... Palavras amargaslidas sem mágoaé história de amor Coisa de poeta,sonhador...

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Quando apenas observamos pela janela(Renata Rimet)

Eu sonheiTu sonhasteEle sonhou

Nós ficamos atônitos Mas cada um no seu próprio canto O sonho de cada um cresceu Ficando tão mais importante...

Eu deixei de sonhar Tu deixastes de sonhar

Seguimos estradas concretas de caminho distante

Eu Tu Ele

Sonho que se sonha junto, pode virar pesadelo???

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Resignado(Renata Rimet)

De repente sóSubmetido ao silêncio ensurdecedorRelegado ao abandono de tudo que julgou um dia ser bom

O fundo do poço mostrava-se tão próximoRespira fundo e aguarda tranquilamenteParece aguardar um amigo, um confidenteEntendeu que não havia mais batalhas a travarGuerreou rebeliões existenciais

Jogou a toalhaSereno compreendeu que aceitar ou não, deixava de ser a questãoCaminhos percorridos ao longo de uma jornadaErros e acertos acumularam-se Pede perdão e fecha os olhos para todo e sempreÉ hora de seguir rumo a eternidade.

RENATA RIMET é Administradora de Recursos Humanos. Atualmente cursa Licenciatura em Letras. Natural de São Paulo, reside em Salvador desde os 14 anos, é casada e mãe de duas garotas. Possui participação em algumas coletâneas, além de textos diversos publicado no site www.recantodasletras.com.br e blog pessoal http://vicioemversos.blogspot.comContato: [email protected]

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Mãos que falam(Sandra L. Stabile)

As mãos falam por nós...Gesticulando, demonstrando raiva,Alegria, sentimentos que muitas vezesNão queremos nem mesmo demonstrarque estamos sentindo no momento,Batem palma e contagia, Acenam na chegada com alegriaEntristece na despedida ao dizer adeus.Na linguagem dos mudos são elas queFalam por eles dando vida aos seusPensamentos, demonstrando entusiasmo,Tristeza, alegria ou desanimo que elesQuerem transmitir.Quando conhecemos alguém é o toqueDas mãos que nos faz sentir a químicaDo amor ou da rejeição.Elas transmitem carinho, amor e desejoE desperta a paixão.Cantam no violão, aquela canção queTocamos em silencio quando estamosTristes ou apaixonados.As mãos não falam com voz, mas dizemNo papel tudo que pensamos e sentimos.

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D ficiente(Sandra L. Stabile)

D eus não faz diferençaE ntre os deficientesF ísicos consciente ou entre os I nconcientes.C om seu amorI ncondicional, capacita o cego e até oE xcepcional...N inguém é igualT emos que olhar o deficiente como ele éE special!

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Parar de rimar(Sandra L. Stabile)

Eu invento rimas e poesias para sua atenção chamar,Você me ignora, me faz chorar,Você sempre está com outra e quando ela tedeixa, vem me procurar.

Um dia isso de rimar vai acabar, Não vou mais querer saber de você,Nem perto vou chegar,Será tarde para você me dizer que quer me amar.

Outro alguém vai de mim se aproximar e eu nãovou mais de você precisar nem para conversar, Nem por telefone vou querer com você falar...Sua voz é um perigo, posso não resistir e fraquejar.

Vou te esquecer, seu amor não vou mais querer nem de você quero lembrar,Vou escrever seu nome no papel, jogar no marPedir as ondas para bem longe te levar...Não vou morrer, vou parar de rimar e te esquecer.

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Saudade (Sandra L. Stabile) Minha saudade me maltrata quando você não está comigo,faz doer meu peito despertando vontades, Consumindo meus pensamentos.Faz-me chorar, me tira o sorriso à alegria, me traz nostalgia.Lembra o calor das tuas mãos, do teu sorriso que acalma meu coração.Faz-me lembrar como é bom quando estou contigo,me faz chorar quando se despede de mim...Tem que me deixar sozinha pensando quando novamente vou te ver.Minha saudade faz-me sonhar, ter esperanças... Fantasias e solidão.Transborda de tristeza e desejos minha almaDeixando uma imensa saudade... Que maltrata o meu coração

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Em seus braços(Sandra L. Stabile)

Me faz um denguinho ,me tome em seus braços,Me dê um sorriso, me envolvaem seu abraço.

Me perdoe, pois não sabia quevocê sofria pelos meus atos,Me ampare quando eu chorar,não quero mais errar.

Sem você meu caminho é incerto,longe de você só faço pecar,não sei nem meus problemasresolver.

Já nem sei quantas vezes porvocê clamei, me perdoe, sei que errei,e ainda posso errar, mas não esqueçoque você não desiste de mim.E com seu carinho me ensina o teucaminho encontrar.

Eu sei que você me quer ao seu lado,no reino que tem para mim preparado,sem você não sou nada... com você na vida me sinto tão amada! Jesus, obrigada!

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Sonho Lindo(Sandra L. Stabile)

Eu não sei se é sonho ou ilusão,só sei que desejei um sentimentoque fosse do coração.Eu vivia só e de repente conheci você,que me fez sair da solidão.Amei muitas vezes por amar,para preencher um vazio em meu coração.Hoje fico a sua espera,para me fazer perder a razão,Para me fazer delirar de amor,delirar de paixão.Sonhei com alguém como você,Que me fizesse ser feliz e transformassemeus sonhos em realidade, minha vidaem uma grande emoção.Hoje já não vive mais só o meu coraçãotenho você que é a minhagrande paixão.

Dedico ao meu marido essa inspiração.

SANDRA L. STABILE QUEIROZ é natural de Salvador-BA, casada, formada em Administração de Empresa, Escritora, Editora e poeta. Presidente do PABRA – Projeto Alma Brasileira e do POLIESCO - Poesia Livre na Escola, que tem como objetivo incentivar a leitura na escola. O Projeto já lançou três Antologias, duas de Poemas e uma de Crônica e um concurso de poesia. Está escrevendo seu primeiro livro solo infantil com lançamento previsto para Maio de 2010. Participação em varias Antologias.Contato: [email protected]: http://almabrasileirapoema.blogspot.com/

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Sou louco(Valdeck Almeida de Jesus)

Quero transformar:A mentira e a traição em confiança;Louco para fazer da fome, mesa farta;Da indiferença, atenção;Sou louco para fazer da roubalheira,Divisão igualitária de riquezas;Da corrupção, compaixão;Sou louco para fazer da violência,Equilíbrio social;Sonho em fazer do frio, abrigo;Do aborto, um abraço afetivo;Sou louco para fazer do desamor,Carícia;E da ganância, solidariedade.Só assim teremos paz!

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Amor errante(Valdeck Almeida de Jesus)

Vivo em busca da paixãoDo fogo, do calor que arrepiaCorro feito louco, todo diaAtrás de uma forte sensação.

Planejo, minuto a minutoO encontro com meu amorSuspiro, respiro forteQuero muita sorte.

O amor é fugidioSe esquiva de mimMe deixa no vazio

Não quero viver assimA tremer de frioSem você perto de mim...

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Anjo Pecador(Valdeck Almeida de Jesus)

Sou capeta o dia todoSou Deus de vez em quandoFumo, bebo, roubo e matoFinjo ser santo, por trás do manto.

Sou puto, confuso, mentirosoDesafio às leis e regulamentosDesobedeço, sempre, a tudoIludo, engano, sou um jumento.

Uso drogas, me masturboFaço tudo o que é proibidoUivo louco na libido.

Não tenho medo do infernoSó não quero viver no invernoDe uma vida sem poesia.

14 de novembro de 2009, evento Fala Escritor

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Sou África(Valdeck Almeida de Jesus)

Sou bela, sou negraTenho cabelo duroApesar do passadoDe dor e grilhõesEu me orgulho

Altiva, nativaMulata ou mestiçaSou pele, sou almaTenho pé chatoQuadril largoNariz achatadoTenho raizE ela me dizQue sou DeusaRainha e Princesa

Sou plena e totalE também sou mitoSou gente, realEu luto e grito:Nem menos, nem maisO que eu exijoSão direitos iguais!

Salvador, 01 de agosto de 2009

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Morte e Vida(Valdeck Almeida de Jesus)

Morrer vivoAos pedaçosMutilado aos poucosPela alma, pelo coraçãoÉ a pior morte.Sorte tem quem é atropeladoCai de lajeToma tiro perdidoNão volta da mesa de cirurgiaTem ataque cardíaco.Mas quem morre aos poucosSofre todo diaAmargura o espíritoEnvenena a almaE vai murchandoPerdendo a féSe desiludindo com a vidaAumentando a feridaTentando suportar a dorQue massacra o peitoNão tem jeitoSe não se conformarA dor pioraE se aceita a dorAntecipa sua hora.

26 de julho de 2009

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Droga de vida – Viagem sem volta(Valdeck Almeida de Jesus)

Busquei no tráfico a soluçãoPara a fome, a dor, a sede de consumoA droga saciou meus desejosMas me aprisionou na teiaNo vício, na fome de querer maisE tudo me confundiu muitoComo num redemoinho, afundei na escuridão

“Viajei” , fugi, afundei mais e morriMatei meus sonhos e meus sentimentosAgora sou um trapo de carne e ossoVazio, sem destino e sem esperançaDe humano só resta a lágrima e o desespero

Quero sair desta treva, fugir desse labirintoMas a dívida contraída pesa na consciênciaMinha ficha tem mortes, traições, mentiras,Angústias, lutas vãs e perdas irreparáveisSó me resta ficar, pagar com a vida e com a morteA morte do meu coração e da minha almaDroga de vida, viagem sem volta...

03.02.2009

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VALDECK ALMEIDA DE JESUS, 43 anos, Jornalista, funcionário público, editor de livros e palestrante. Membro correspondente da Academia de Letras de Jequié e efetivo da União Brasileira de Escritores. Foi nomeado Embaixador Universal da Paz, em janeiro de 2010. Publicou os livros Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden, Feitiço contra o feiticeiro, Valdeck é Prosa e Vanise é Poesia, 30 Anos de Poesia, Heartache Poems, dentre outros. Participa de mais de 60 antologias. Organiza e patrocina o Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005, o qual já lançou mais de 500 poetas. Expõe seus textos no site www.galinhapulando.comContato com o autor: [email protected]

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