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Falando a mesma língua Junto a um vocabulário e sintaxe, toda língua tem uma parcularidade cultural. Eu me lembro de es- tar em um jantar com a imprensa em que o pú- blico fluente em francês gargalhou com um tulo de uma estória publicada na enRoute que, para ser sincera, eu não parava de pensar naquilo. Será que este tulo é adequado? Será que não? No final das contas, contribuiu com insinuações engraçadas que não funcionariam originalmente (em inglês), mas que foi muito eficaz para nosso outro público. Quando você trabalha em uma revista bicultural, a segunda língua não é uma outra versão: é uma nova revista, é única feita para os nossos clientes. Chamo isso de diferença entre tradução e adapta- ção. Subesmar o leitor é pensar que ele pode ser enganado por uma pobre versão e ainda acreditar que todo o público está sendo informado com tal conteúdo. Um leitor percebe que houve invesmento cria- vo quando não existe público de primeira ou de segunda língua. Já vimos aqui que a publicação é recompensada com respeito e um pouco de boa vontade, o que significa mais tempo gasto com o produto. A profundidade do engajamento de um O engajamento de um leitor começa com um con- teúdo relevante. Se ele já percebeu que o conteúdo é uma simples tradução, talvez a publicação tenha perdido este leitor para sempre. Uma boa tradução vai além do que encontrar apenas as palavras cer- tas – é um texto adaptado para a realidade cultural dos passageiros. Feito isso da maneira certa, o en- gajamento do leitor sobe aos céus, assim como o seu ROE (Return On Engagement – Retorno Sobre Engajamento). leitor sasfeito é bom, sem dúvida nenhuma, para os anun- ciantes também. A proeza, claro, é ficar com a marca e suas revistas disntas nas duas línguas, que vão necessariamente “ler” diferentemente – e todas estão dentro de uma mesma capa. A versão em inglês da enRoute tende a jogar rápido e solto com a língua, ulizando palavras mais neutras quando precisamos abordar algo novo em nichos culturais. A língua inglesa é mais elípca (leia-se ambígua). O francês tem uma forma lexical que é, na maior parte, intocável e incrivel- mente preciso, tanto que há cerca de 10% mais palavras em uma frase com o mesmo significado em inglês e a nossa adap- tação foi projetada para contemplar isso. Mas há uma resposta fácil para esse desafio: dar à sua equipe uma liberdade nesse processo de tradução. Eles não fazem meramente uma tradução técnica, eles estão construindo uma nova história. E às vezes, é uma história totalmente diferente para contar. Licença Creave Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil Commons. Visionello Conteúdo Inteligente http://www.visionello.com.br Ilana Weitzman é editora-chefe da enRoute Magazine, revista de bordo da com- panhia aérea Air Canada. A publicação já ganhou centenas de prêmios na década de 90 e foi nomeada duas vezes como a melhor publicação de bordo pela WAEA - World Airline Entertainment Associaon. Foi recentemente nomeada como a melhor re- vista do Canadá pela Canadian Society of Magazine Editors. Leia o argo em inglês: hp://sparksheet.com/speaking-the-language Uma boa adaptação fala com o seu público: às vezes é poéco, às vezes faz piadas, às vezes traz uma imagem ou um exemplo que desvia, e muito, da versão “original”. Por isso, a adaptação pode seguir a mesma rota da estória redigida em “primeira língua”, só que ela já cria sua própria pegada ao longo do caminho.

Falando a mesma língua

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Artigo escrito por Ilana Weitzman, editora-chefe da enRoute Magazine, revista de bordo da Air Canada.

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Falando a mesma língua

Junto a um vocabulário e sintaxe, toda língua tem uma particularidade cultural. Eu me lembro de es-tar em um jantar com a imprensa em que o pú-blico fluente em francês gargalhou com um título de uma estória publicada na enRoute que, para ser sincera, eu não parava de pensar naquilo. Será que este título é adequado? Será que não? No final das contas, contribuiu com insinuações engraçadas que não funcionariam originalmente (em inglês), mas que foi muito eficaz para nosso outro público.

Quando você trabalha em uma revista bicultural, a segunda língua não é uma outra versão: é uma nova revista, é única feita para os nossos clientes. Chamo isso de diferença entre tradução e adapta-ção. Subestimar o leitor é pensar que ele pode ser enganado por uma pobre versão e ainda acreditar que todo o público está sendo informado com tal conteúdo.

Um leitor percebe que houve investimento cria-tivo quando não existe público de primeira ou de segunda língua. Já vimos aqui que a publicação é recompensada com respeito e um pouco de boa vontade, o que significa mais tempo gasto com o produto. A profundidade do engajamento de um

O engajamento de um leitor começa com um con-teúdo relevante. Se ele já percebeu que o conteúdo é uma simples tradução, talvez a publicação tenha perdido este leitor para sempre. Uma boa tradução vai além do que encontrar apenas as palavras cer-tas – é um texto adaptado para a realidade cultural dos passageiros. Feito isso da maneira certa, o en-gajamento do leitor sobe aos céus, assim como o seu ROE (Return On Engagement – Retorno Sobre Engajamento).

leitor satisfeito é bom, sem dúvida nenhuma, para os anun-ciantes também.

A proeza, claro, é ficar com a marca e suas revistas distintas nas duas línguas, que vão necessariamente “ler” diferentemente – e todas estão dentro de uma mesma capa. A versão em inglês da enRoute tende a jogar rápido e solto com a língua, utilizando palavras mais neutras quando precisamos abordar algo novo em nichos culturais.

A língua inglesa é mais elíptica (leia-se ambígua). O francês tem uma forma lexical que é, na maior parte, intocável e incrivel-mente preciso, tanto que há cerca de 10% mais palavras em uma frase com o mesmo significado em inglês e a nossa adap-tação foi projetada para contemplar isso.

Mas há uma resposta fácil para esse desafio: dar à sua equipe uma liberdade nesse processo de tradução. Eles não fazem meramente uma tradução técnica, eles estão construindo uma nova história. E às vezes, é uma história totalmente diferente para contar.

Licença Creative Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil Commons.

Visionello Conteúdo Inteligentehttp://www.visionello.com.br

Ilana Weitzman é editora-chefe da enRoute Magazine, revista de bordo da com-panhia aérea Air Canada. A publicação já ganhou centenas de prêmios na década de 90 e foi nomeada duas vezes como a melhor publicação de bordo pela WAEA - World Airline Entertainment Association. Foi recentemente nomeada como a melhor re-vista do Canadá pela Canadian Society of Magazine Editors.

Leia o artigo em inglês:

http://sparksheet.com/speaking-the-language

Uma boa adaptação fala com o seu público: às vezes é poético, às vezes faz piadas, às vezes traz uma imagem ou um exemplo que desvia, e muito, da versão “original”. Por isso, a adaptação pode seguir a mesma rota da estória redigida em “primeira língua”, só que ela já cria sua própria pegada ao longo do caminho.