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Revista de informação ANO VI— Nº 94 OMNI EDITORA www.revistafale.com.br C ULTURA Rebeca Matta volta, ao vivo, com DVD À Flor da Pele 1 519953 389005 94 ISSN 1519-9533 OMNIEDITORA R$ 12,00 No Brasil, as padarias inauguraram um novo modelo de negócio e passaram a ser extensão dos nossos lares, verdadeiros centros de convivência onde se compra até pão A NOVA P ADARIA EM NOSSAS VIDAS

Fale! 94 _ Revista Fale!

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A NOVA PADARIA em nossas vidas. — No Brasil, as padarias inauguraram um novo modelo de negócio e passaram a ser extensão dos nossos lares, verdadeiros centros de convivência onde se compra até pão

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Revista de informaçãoANO VI— Nº 94 OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br

C U L T U R A Rebeca Matta volta, ao vivo, com DVD À Flor da Pele

1 519953 389005 9

4

ISSN 1519-9533 OMNIEDITORA R$ 12,00

No Brasil, as padarias inauguraram um novo modelo de negócio e passaram

a ser extensão dos nossos lares, verdadeiros centros de convivência

onde se compra até pão

ANOVA

PADARIA EM

NOSSASVIDAS

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MO025-12 - ANUNCIO BALANÇO 410x265.indd 1 28/01/13 14:57

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MO025-12 - ANUNCIO BALANÇO 410x265.indd 1 28/01/13 14:57

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TalkingHeads, 8 OnlineTECH, 11 Política, 32

Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia...

BÁRBARA CORÉ, escritora

Brasil, 34 Educação, 44Cultura, 58

A NOVA PADARIAUMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE O COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO

No Brasil, as novaspadarias passaram aser extensão dos nossos lares e a J.Macêdo, empresa de origem nordestina, tem muito a ver com isso. PÁGINA13

EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 Fones: (85) 3247.6101

CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará e-mail: [email protected] home-page: www.revistafale.com.br Fale! é publicada pela Omni Editora

Associados Lltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda

avulsa: R$ 12,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser

adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza

pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone

ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2013 Omni Editora

Associados. Todos os direitos reservados. IMPRESSÃO Halley Impresso no Brasil/Printed in Brazil.

Quase 40 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil. A Lei Nacional da Adoção regula a situação dessas pessoas. PÁGINA34

Símbolo da vanguarda e da crítica ao conservadorismo de ideias e projetos, Oscar Niemeyer é um dos mais influentes na arquitetura moderna mundial.

PÁGINA48

CAPA: FOTO DE CHICO PERES

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“NOSSA ECONOMIA É

MAIS FORTE QUANDO

USAMOS OS TALENTOS

E A CRIATIVIDADE DOS

IMIGRANTES CHEIOS

DE ESPERANÇAS. [A

REFORMA] NECESSITARÁ

DE UMA SEGURANÇA

SÓLIDA DAS FRONTEIRAS

OFERECENDO UM

CAMINHO [EM DIREÇÃO

À CIDADANIA]”

BARACK OBAMA, presidente dos

Estados Unidos, sobre a nova Lei

de Imigração

“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder” ABRAHAM LINCOLN

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Joaquim Barbosa e o Julgamento do MensalãoFRASES ANTOLÓGICAS DO MINISTRO DO STF

“[O conjunto probatório coloca Dirceu] como mandante das promessas de pagamento das vantagens indevidas a parlamentares para apoiar o governo”

“No Brasil, o que é público não se transmuta em privado se a verba é pública”

“Os atos que pratiquei nesse processo poderia classificar até de muito generosos”

“Marcos Valério mentiu em seu interrogatório. É interessante notar que ele muda de versão conforme as circunstâncias”

“A lavagem de dinheiro foi feita em uma ação orquestrada com divisão de tarefas típica de um grupo criminoso organizado”

“Eu nunca tinha ouvido isso, entrega de dinheiro a domicílio”

“Partidos políticos não são vocacionados ao repasse de grandes somas de dinheiro de um para o outro. Eles competem entre si. Teria que ser muito ingênuo para acolher essa alegação”

“[As provas] colocam o então ministro da Casa Civil na posição central da organização e da prática, como mandante das promessas de pagamento das vantagens indevidas a parlamentares para apoiar o governo. Entender que Marcos Valério e Delúbio Soares agiram e atuaram sozinhos, contra o interesse e a vontade de Dirceu, nesse contexto de reuniões fundamentais, é inadmissível”

“A empreitada criminosa é muito maior do que a que nós estamos examinando nesses autos”

FOTO: SCO_STF

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“HABEMUS PAPAM” (TEMOS PAPA, EM PORTUGUÊS)

“Esse Papa será pelos pobres. Em termos de riqueza e pobreza, eu acho que ele vai surpreender o mundo”, afirma o historiador católico Thomas Cahill.”

THOMAS CAHILL, historiador católico, dobre o argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, anunciado no dia 13 de março de 2013

“O fato de ele ter ido para o balcão vestido com uma cruz que não era bordada, e sim uma cruz antiga que ele já usava há tempos, mostra que ele não será um Papa pomposo.”

THOMAS CAHILL, historiador católico, dobre o Papa Francisco

“Vocês sabem que o dever do conclave era dar um bispo a Roma e parece que meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo.”

PAPA FRANCISCO em sua primeira aparição pública, na sacada da Basílica de São Pedro, na cidade do Caticano

“Não se pode pertencer a essa ordem sem um trabalho intelectual. É uma ordem que cultiva a ciência e a técnica.O caso do papa Francisco ilustra bem esse fato: primeiro, ele se

formou em química, então, sentindo essa adequação com a ordem jesuítica, foi ser um deles. Muitos são médicos, físicos, matemáticos, teólogos, filósofos. Dedicam-se a um diálogo com o mundo científico, tecnológico e político.”

ROBERTO ROMANO, professor de ética e filosofia na Unicamp e doutor em filosofia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, sobre o perfil do novo Papa

“É muito difícil encontrar um jesuíta estrela. Eles são avessos a esse brilhareco tão comum no meio acadêmico.”

ROBERTO ROMANO

“Igreja é tecido que se rasga e sempre

se recompõe.”MARIE-FRANÇOISE BASLEZ, é professora

de história da religião na Universidade de Paris-Sorbonne

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Online TECH

COMUNICAÇÃO

Câmera policialA empresa Taser, a mesma que fabrica pistolas incapacitantes lançou a filmadora Axon Flex, acoplada a óculos, que produz áudio e vídeo compatível com smartphones como iPhones e outros aparelhos com sistema android. A ideia original é servir o aparato policial já que em alguns países é comum filmar o procedimento de abordagem para dar transparência e evitar versões que não a da polícia. FONTE www.taser.com/flex PRODUTO Axon Flex

COMPUTAÇÃO

Sinta o jogoO PlayStation Vita é o console portátil da Sony que traduz a tentativa da empresa de liderar o mercado de jogos para equipamentos portáteis, que explodiu com a popularidade de aplicações para smartphones e tablets. O console portátil tátil e com sensores de movimento é considerado o sucessor do PlayStation Portátil. Os jogadores podem se conectar por meio de redes celulares ou redes Wi-Fi, além do produto ser equipado com a tecnologia de GPS. FONTE br.playstation.com/psvita/

PRODUTO PS Vita PREÇO US$ 300

PATENTES

Ação contra FaceA empresa Rembrandt IP Management anunciou um processo contra o Facebook, alegando que a maior rede social do mundo utiliza indevidamente patentes registradas pelo holandês Joannes Jozef Everardus Van Der Meer, já falecido. As patentes estão associadas à empresa de tecnologia Aduna, criada pelo holandês (também chamado de Jos van der Meer). O processo contra o Facebook foi aberto no estado da Virgínia, EUA.

Na América Latina apenas uma

em oito pessoas tem acesso à banda larga, um serviço lento e caro na região, revelou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. “Estamos ficando para trás nesta corrida”, disse Moreno, ao comentar estatísticas recentes durante a 54ª reunião anual de governadores do BID, realizado no Panamá. “Pagamos caro demais por um serviço ruim de banda larga”.

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CapaHISTÓRIA DE

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No Brasil, as novaspadarias passaram a

ser extensão dos nossos lares e a

J.Macêdo, empresa de origem nordestina, tem

muito a ver com isso

O

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NOSSO DE

CADA DIA

Com reportagem de Larissa Sousa (Fortaleza) e Sora Maia (Salvador)

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História de Capaa

Quem nunca acordou cedinho no domingo e foi à padaria mais próxima para tomar um café da manhã especial ou foi à noite tomar uma sopa acompanhada de pão ou torradas? Esses são hábitos que se tornaram

rotineiros para muita gente que vive nas nossas cidades. Aliás, a amplitude de ofertas das padarias gerou, inclusive, a brincadeira de que ali se compra até pão.

O universo das novas padarias é muito diversificado. Abrange desde as sofisticadas boulangeries, padarias de luxo especializadas em pães artesanais, até as grandes padarias, misto de restaurante e minimercado, entremeadas por um sem-número de estabelecimentos generalistas, lojas de conveniências e casas especializadas nos mais variados tipos de pães, do mais simples carioquinha às baguetes temperadas, passando por pães de nozes, pães com recheios e sanduiches fechados e abertos.

A padaria brasileira reinventou-se, criando um modelo sem igual no mundo. Dentro dela temos panificação, confeitaria, sorveteria, chocolateira, restaurante a quilo e a la carte, bar, mercearia, adegas, pizzaria, lanchonete, catering, auto serviço, delivery e venda dos mais diversos produtos de boca de caixa, tais como jornais, revistas, pilhas, chaveiros e balas. O que se chama padaria hoje é, na verdade, um espaço que agrega vários tipos de negócios.

A PADARIA, OS DOIS MODELOS MODELO TRADICIONAL NOVA PADARIAPadeiro

Ser português ou espanhol era uma

referência para fazer um bom pão

Padaria vende pão

Visão padaria

Mais artesão

O fundador do negócio

Empirismo empresarial

Pão, um alimento leve, trivial e

perecível (o pão do dia)

Empresário

Padeiro, Confeiteiro, Chocolatier,

Chef

Padaria vende até pão

Visão food service

Praticidade com alto desempenho

O filho (ou neto ou sobrinho) do

fundador do negócio

Tecnologia + práticas de

administração e marketing

Pão, produto saboroso, nutritivo,

saudável e durável

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A PADARIA DE ONTEM E DE HOJE

Talvez nem todos saibam que na gênese dessa transformação das padarias em um novo espaço de vendas de produtos diversificados e de convivência social há um grande impulso dado pela visão de uma empresa de origem nordestina, a J.Macêdo, líder nacional nas categorias de farinha de trigo doméstica e mistura para bolo e uma das principais empresas do País no segmento de massas alimentícias.

Muito antes da disseminação das redes de lanchonetes no Brasil, J.Macêdo já tinha desenvolvido a Panette, um modelo de franquia para a panificação, semelhante ao Vie de France, do Grand Moulin de Paris. No campo da franquia de padarias, J.Macêdo apoiou ainda o modelo da Pão & Companhia, transplantando, em 1987, de Belo Horizonte para Fortaleza uma experiência concreta de modernização, que serviu de inspiração a muitos empreendedores do ramo.

No início

dos anos 1990, J.Macêdo já chamava a atenção do setor para o novo tipo de padaria em gestação no Brasil, com a realização do seminário “O Panificador do Século XXI”. Ainda na mesma década, em conjunto com a Escola Paulista de Medicina lançou duas publicações de grande impacto no setor: O Valor Nutricional do Pão Francês e do Pão Integral e patrocinou o Projeto Barueri, desenvolvendo uma mistura enriquecida com ferro aminoácido quelato para pão francês e biscoitos, objetivando combater a anemia em crianças, com redução de sua incidência em 50% do grupo avaliado.

A partir de sua sede em Fortaleza e de suas bases industriais e comerciais de Salvador e Recife, a J.Macêdo disponibilizou para o setor de panificação e confeitaria unidades do seu Centro de

Tecnologia e Marketing (CETEM), localizadas em várias capitais

do país. Tudo o que se tem hoje de mais avançado no

mercado panificador foi de algum modo

antecipado por essa ação inovadora de J.Macêdo.

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História de Capaa

Na sua característica de empresa inovadora a J.Macêdo criou marcas de sucesso na mistura para pão e organizou, em 1995, o primeiro serviço de atendimento 0800 para a panificação. Foi um

serviço pioneiro, de muita utilidade para os donos de pada-ria, tendo sido o primeiro especializado do Brasil. Com isso, o setor da panificação passou a contar com a disponibilidade de técnicos, que podiam dar respostas imediatas para os seus eventuais problemas. J.Macêdo está retomando agora esse serviço com o nome Dona Benta Profissional.

Para se ter uma ideia do empenho desse grupo de ori-gem nordestina em modernizar o setor do trigo nacional, a siste-matização dos pro-cessos industriais que contribuíram para tornar o Nordeste um dos polos de moagem de trigo mais impor-tantes do Brasil foi preparada pioneira-mente por Jean-Pierre Vialanés, trazido da Escola de Moleiros de Paris para ser Diretor da J.Macêdo. Nesse mesmo sentido, a em-presa tomou a inicia-tiva de criar, no ano de 1979, em parceria com o Senai e com sindicatos do trigo, o Centro de Treinamento em Moagem e Panificação José Dias de Macêdo (Certrem), com o objetivo de capacitar moleiros (que antes precisavam ser trazidos de outros países), para si, para a indústria nacional, para a in-dústria de países africanos de língua portuguesa e da Amé-rica hispânica. Para o fundador da J.Macêdo, José Macêdo, não fazia sentido desenvolver um polo de trigo no Nordeste, e continuar dependendo da importação de moleiros.

Aliás, essa habilidade da empresa de estabelecer parce-rias de grande relevância para o desenvolvimento do setor, estendeu-se também a outras instituições de grande credibi-lidade, tais como a Escola Paulista de Medicina, da Universi-

PARA MODERNIZAR A PANIFICAÇÃO

dade Federal de São Paulo, o Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos) da Unicamp, Pensa/USP, a Embrapa e o Senai. Este re-curso de juntar forças permitiu-lhe aplicar a filosofia empresarial de dedicar atenção não somente ao produto final oferecido aos seus clientes, mas também ao bom desempenho de toda a cadeia produtiva, desde o plantio até a entrega de produtos de alta qualidade. “Parcerias visam trazer conhecimento para dentro da empresa”, reforça Amarílio Mace-do, presidente do Conselho de Administra-ção da J.Macêdo S.A

Jean-Pierre Vialanése (último da esquerda para a direita) traz novos valores ao pão e outros derivados do trigoBANCO DE DADOS

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RAYMOND CALVEL, UM MARCO NA

FORMAÇÃO EM PANIFICAÇÃO

O primeiro grande evento internacional para o setor de panificação do Brasil foi realizado por uma parceria

entre J.Macêdo, Nestlè, Perdigão, Senai, ABIP, Embrapa e associações e sindicatos estaduais. Os “Circuitos Internacionais de Panificação” ocorreram, de 1996 a 1999, em Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Joinville, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, São Berrnardo do Campo, Bauru, Campinas e São Paulo.

As padarias brasileiras foram muito beneficiadas do ponto de vista técnico pelos ensinamentos do especialista francês, professor Raymond Calvel, trazido ao Brasil por J.Macêdo, para dar cursos e treinamentos

a panificadores e confeiteiros. A vocação da empresa, como educadora no setor, levou-a a perenizar esses ensinamentos, traduzindo e editando no Brasil, em 1987, o livro “O pão francês e os produtos correlatos — Tecnologia e Prática

Raymond Calvel e seu clássico traduzido sob o patrocíno de J. Macêdo: pão com qualidade. Ao lado, Calvel numa aula prática no Centro de Treinamento no MucuripeFOTOS: BANCO DE DADOS

da Panificação”, obra clássica que se tornou uma das fontes de consulta mais importante entre os panificadores.

Em 1989, a J.Macêdo implantou no Rio de Janeiro, o CETEC (Centro de Tecnologia), voltado para a pesquisa e atendimento ao mercado de padarias. Esse centro de excelência estendeu-se com o nome CETEM (Centro de Tecnologia e Marketing) às cidades de Fortaleza, Recife, Salvador, Maceió, Belo Horizonte e São Paulo, focando em padaria-escola para cursos e relacionamentos, de acordo com as peculiaridades de cada local.

Em 1992, J.Macêdo fez um acordo com uma empresa holandesa, a Gist Brocades, para lançar o fermento biológico seco no Brasil. Na época o fermento seco causou um grande impacto na produção

das padarias. Antes, o comum era o uso do fermento fresco, que ocasionava um processo considerado muito lento e trabalhoso. A mudança desse ingrediente tradicional levou a um sistema de produção mais prático, rápido, mais seguro e sem perda de qualidade.

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História de Capaa

—Como o senhor vê o papel da J. Macêdo

nessa transformação das padarias brasileiras? Antes a padaria era um lugar que oferecia basicamente o pão carioquinha e agora ela oferece uma grande variedade de bolos, tortas e pães artesanais.

A minha relação com a padaria vem de muito longe, eu quase nasci dentro de uma masseira. A J. Macêdo, em 1953, já começou a disponibilizar produtos para as padarias, trazendo para os padeiros novidades que poderiam enriquecer o que eles ofereciam. Nos anos 80, o grupo trouxe para dentro da panificação brasileira o Senai. Antes dessa iniciativa não havia curso para padeiro. J. Macêdo convenceu o Senai a criar o setor de panificação e ensinar suas técnicas de panificação. O primeiro curso foi feito em Fortaleza, patrocinado por J. Macêdo com professores da França. Por volta de 1987, identificamos em Minas Gerais, o Hélio Valadão com o modelo da Pão & Companhia, um novo conceito de panificação. Nele as pessoas entravam na padaria e escolhiam o seu pão nas prateleiras.

Esse modelo de padaria começou a ser propagado por muitas empresas, que

o adotaram. A padaria Montmarttre, de propriedade do meu irmão Roberto e de sua família, por exemplo, começou como Pão & Companhia. Naquela época, o Raimundo Padilha, da Bolsa de Valores, instalou duas Pão & Companhia em Fortaleza, uma delas, em sociedade com o João Parente, que era diretor de J.Macêdo e um dos pioneiros da modernização da panificação. Foram muitas as contribuições da J.Macêdo para a transformação das padarias no que

elas são hoje. Paramos o fornecimento para a panificação temporariamente de abril de 2004 a fevereiro de 2013. Durante esse período, a J. Macêdo concentrou suas forças em produtos de prateleiras para o consumo final (mistura para bolo, biscoito, macarrão, sobremesas).Voltamos agora para a panificação com muito orgulho e entusiasmo.

— Que melhorias vêm

sendo feitas com relação à qualidade dos produtos da J.Macêdo no que diz respeito à panificação? Alguma tecnologia nova?

A nossa tecnologia de mistura para bolo, categoria na qual somos líderes nacionais com mais de 35% do mercado, é a mais avançada do Brasil e estamos disponibilizando essa tecnologia para a panificação; além do portfolio diversificado para a panificação.

— Em 1995, o primeiro serviço de atendimento 0800 para a panificação foi lançado por J.Macêdo. A empresa está retomando agora esse serviço com o nome Dona Benta Profissional. Como funciona esse serviço?

Acreditamos que a proximidade com o

ENTREVISTA Amarílio MacedoPresidente do Conselho de Administração da J.Macêdo S.A

ENTREVISTA A LARISSA SOUSA

Parcerias visam trazer

conhecimento para dentro da empresa. Não só parcerias no Brasil, mas também fora, como a Escola de Moagem na França. Trouxemos pessoas dessa escola para promover cursos no Brasil”

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Amarílio Macedo, presidente do Conselho de Administração da J.Macêdo S.A

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panificador é o melhor caminho para aportar tecnologia ao negócio padaria e contribuir para os avanços e inovações na panificação.

— Como funcionou o Projeto Barueri? (desenvolvendo uma mistura enriquecida com ferro aminoácido quelato para pão francês e biscoitos, objetivando combater a anemia em crianças, com redução de sua incidência em 50% do grupo avaliado). Esse projeto ainda existe ou algo nesse sentido está sendo feito?

Com o retorno à panificação projetos desse tipo serão retomados, sendo direcionados para mercados especializados. É o caso de produtos para a merenda escolar. Para isso, é necessário desenvolver parcerias com prefeituras e áreas de governo.

— Como se deram as parcerias com instituições de grande credibilidade, tais como a Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, o Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos) da Unicamp, Pensa/USP, a Embrapa e o Senai... Por que se tomou essa decisão?

O motivo dessas parcerias é oferecer mais qualidade e tecnologias apropriadas. Não tem como se ter autonomia de

pesquisa isoladamente. Parcerias visam trazer conhecimento para dentro da empresa. Fizemos parcerias não só no Brasil, mas também fora, como o caso da Escola de Moagem da França. Trouxemos pessoas dessa escola para promover cursos no Brasil. Uma delas tornou-se diretor de J. Macêdo.

— É conhecido o papel de J.Macêdo na fundação do Certrem. Que outra contribuição significativa a empresa deu para a cria-ção de estruturas de for-talecimento da cadeia do trigo no Brasil?

Na fundação do Cer-trem, J.Macêdo conseguiu convencer os presidentes de todos os sindicatos

moageiros do Brasil a se vincularem como co--autores de sua criação. A partir daí, os presidentes passaram a realizar reuni-ões periódicas, iniciadas com um grande evento em Fortaleza, em 20 de março de 1980, quando juntamos as principais autoridades federais do setor, como o presidente da Sunab, gene-ral Glauco Carvalho, e o do Detrig, Louis-Henri Guitton, resultando no embrião do que viria a ser a Associa-ção Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). De-pois disso, colaboramos com o Edésio Duran, então presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (ABIP), na organização, em Belo Horizonte, do primeiro grande evento de panifi-cadores e moageiros para tratar de interesses co-muns, contribuindo, assim, para amenizar a tensão que existia nas relações entre moageiros e panificadores.

— Quais os desafios do Conselho de Administra-ção que o senhor preside?

O que cabe ao conse-lheiro é olhar mais para questões estratégicas e questões humanas. É o fortalecimento das relações entre a empresa e as pes-soas. É ajudar no direciona-mento e nos novos desafios para a organização.

— Quais são os princí-pios básicos da J. Macêdo? O trabalho se fundamenta no respeito às pessoas que

ENTREVISTA Amarílio Macedo

História de Capaa

A padaria hoje é um

dos locais onde aspessoas atendemda maneira maiscompleta as suasnecessidades. Tem tudo que éalimento e bebida,do sanduíchegostoso ao bomvinho e à boacerveja. A padariavai continuar sereinventando”

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fazem a compa-nhia e às pessoas a quem nós servimos. J. Macêdo procura honrar os compro-missos que assume há mais de 70 anos e isso está firmado no nosso Código de Éti-ca.Zelamos para que nossos produtos te-nham características testadas, comprova-das e controladas.

— Qual a sua visão sobre a nova padaria?

Estou morando em São Paulo a 100 metros de uma pa-daria. Acordo muito cedo e compro pão. Impressionante a regularidade do es-tacionamento lota-do. As pessoas vão tomar café, lanchar, jantar, comer sobre-mesas. A padaria é também um lugar de encontro. O cheiro do pão fresco e do café feito na hora, o bater papo, a ima-ginação e a criati-vidade criam uma saudável ambiência de aproximação. A padaria tem clima de família. Mas não é só ponto de socializa-ção, ela tem também a função de facilitar a vida até de quem não tem tempo. A padaria hoje é um dos lo-cais onde as pessoas aten-dem da maneira mais com-pleta as suas necessidades.

Tem tudo que é alimento e bebida, do sanduíche gosto-so ao bom vinho e à boa cer-veja. E certamente a padaria no Brasil vai prosseguir no seu caminho de reinvenção.

A humanidade vai sempre encontrar melhores maneiras de se nutrir com prazer. É uma dinâmica instalada e J. Macêdo aposta nisso há mais de seis décadas.

O visionário José Macêdo profissionalizou o negócio do trigo numa época em que a produção era incipiente, e não parou mais

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História de Capaa

A postura da empresa de cultivar perma-nentemente um relacionamento de pro-ximidade com o panificador, fez com que essas diversas iniciativas nos terrenos da

tecnologia, da capacitação e da gestão contribuíssem direta e indiretamente para a criação do novo mode-lo de negócio das padarias brasileiras.

Quando se vê tudo isso, fica difícil de imaginar--se que houve uma época, não muito distante, em que, no Nordeste, não era fácil se conseguir a farinha de trigo para fabricar o mais singelo pão nosso de cada dia. A ins-tabilidade do suprimento na região

deixava aflitos os donos de padaria, que em muitas oca-siões não tinham segurança de poder atender sua cliente-la no dia seguinte. Nada era mais frustrante do que não poder abrir seu estabelecimento às 5 horas da manhã para fazer a entrega do pão quentinho tão aguardado por todos.

As empresas fornecedoras procuravam encontrar as mais diferentes soluções para

a dificuldade de abastecimento. A J.Macêdo, que trazia farinha da Bahia para o Ceará em um veleiro, tomou a decisão de enfrentar o problema, impor-tando, em 1952, 80 mil sacas dos Estados Unidos. Percebendo que essa solução ainda era insuficiente, a empresa, numa atitude pioneira, resolveu fabricar a farinha no Ceará, construindo, em 1955, o Moinho Fortaleza, na enseada do Mucuripe, impulsionan-

do o desenvolvimento do polo nordestino do trigo.

Para efetivar esta ativi-dade industrial, J.Macêdo

MELHORIA E EXPANSÃO DO TRIGO NACIONAL

Uma celebração: o primeiro saco de farinha de trigo do Moinho Fortaleza. Na página ao lado, o Molino Stucky, em Veneza, em foto de 2009 FOTOS: BANCO DE DADOS

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A FORÇAS DAS PARCERIAS

Visando diversificar o plantio do trigo no território brasileiro e a redução da dependência de importação, a J.Macêdo fez parceria com o Instituto Agronômico de Campinas, para experimentos de plantação de trigo na Serra da Ibiapaba, no Ceará e no Piauí, e assinou um acordo, em 2007, com cooperativas agrícolas do vale do Mucugê, com a Empresa Brasileira de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), com a Embrapa, com a Prefeitura Municipal de Mucugê e com o governo do Estado da Bahia, no qual se comprometeu a adquirir todo trigo que viesse a ser produzido naquela região, garantindo também a comercialização da safra em condições competitivas para os produtores.

Em busca da melhoria da qualidade

do trigo nacional, J.Macêdo liderou, em 1991, um movimento, postulando

que a avaliação de novas cultivares não se restringisse ao desempenho econômico, mas que considerasse também o fator qualidade;

Com o objetivo de assegurar maior qualidade da farinha de trigo, firmou em 2006, parceria com a EMBRAPA-Trigo e com a Cooperativa Integrada do Paraná, para a formalização dos critérios da Produção Certificada

do Trigo Nacional, vindo estes a serem adotados pelo Ministério da Agricultura.

Objetivando o aumento da eficiência do setor do trigo e seus derivados financiou, em parceria com a Bunge, o mais completo estudo sobre a cadeia produtiva do trigo, realizado pelo Centro de Inteligência do Pensa/USP, que culminou, em 2004, com a publicação do livro Estratégias para o trigo no Brasil, pela Editora Atlas.

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adquiriu os equipamentos do moinho Stucky, de Veneza, que havia falido em consequência do desaparecimento do seu mercado nas colônias que a Itália perdeu com a derrota na Segunda Guerra Mundial. Desmontar o moinho e transportá-lo em navio para Fortaleza foi uma verdadeira epo-peia. A solução para o desabaste-cimento foi encontrada: moer o trigo aqui resolveu o problema da falta de farinha.

A expansão da J.Macêdo na moagem de trigo iniciou-se com a

compra, em 1968, do Moinho Sal-vador, que antes era seu fornece-dor de farinha. Com base nesses dois moinhos do Nordeste, a em-presa adquiriu dimensão nacio-nal ao comprar novas unidades industriais em outros estados da federação, diversificando seus produtos na área alimentícia, com marcas líderes no país nas suas categorias, como Dona Benta, Petybon, Sol, Brandini e Boa Sorte.

Embora sem abastecer dire-tamente padarias com farinha,

de 2004 a 2012, por conta de um acordo comercial feito com a Bunge, os moinhos Fortaleza e Salvador, de propriedade de J.Macêdo continuaram a produ-zir para o mercado nordestino. Motivada pelo crescimento da panificação e pela constatação de que o negócio padaria está che-gando onde ela um dia imaginou que chegaria, a J.Macêdo voltou, no dia primeiro de março a traba-lhar na cadeia completa do trigo e de seus derivados, atendendo plenamente as padarias.

História de Capaa

A nova linha de produtos profissionais de J. Macêdo

Diversidade com Dona Benta, Brandini e Branca de Neve

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Conhecida por muitos donos de padaria como a empresa que mais se dedicou a ofe-recer produtos facilitadores do seu trabalho no que se refere a praticidade e a estabili-

dade de padrões de qualidade, a J.Macêdo reingressa no setor de panificação como uma nova opção para o panificador nordestino, lastreada por uma trajetória de qualidade, relacionamento, apoio técnico e ino-vação. Nessa ação, que representa um investimento de R$ 100 milhões, J.Macêdo trouxe também para o segmento as marcas líderes Dona Benta e Brandini, com o endosso institucional da J.Macêdo, um ícone que expressa a imagem potente do seu fundador, José Macêdo, e uma uma história empresarial com mais de seis décadas de credibilidade, relacionamen-to e apreço do mercado panificador.

PARA A NOVA PADARIA PRODUTOS COM MARCAS PODEROSAS

QUALIDADE E INOVAÇÃO

A marca Dona Benta Profissional traz para a panificação o charme dos seus atributos artesanais e a potência de uma das marcas bra-sileiras mais prestigiadas na área de alimentos, por seu histórico de qualidade e inovação. Juntamente com a Brandini, marca tradicional no mercado nordestino, e a Branca de Neve, ambas com especificidades de linha profissional, a Dona Benta chega ao food service, especifica-mente nas padarias e atacadistas do Norte e Nordeste, com 30 itens, em um portfólio que vai de fermento, melhoradores, farinhas e misturas para pão francês, inte-gral e doce, bolos, pastéis, pizzas e salga-dinhos.

Dona Benta Profissional, cheia de novas opções

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—Como estão os desafios à frente

da presidência-executiva da J.Macêdo nesses primeiros anos?

Tenho pouco mais de dois anos na história da J. Macêdo, uma empresa que tem uma relação histórica com o pão no Brasil. Fomos

dos primeiros a ter moinho de trigo no Nordeste e pioneiros na formação do que é hoje a nova padaria. Isso representou mudanças no comportamento de consumo dos brasileiros. As padarias de hoje têm de tudo. São mini-shoppings de rua. Trouxemos

também conhecimentos complementares sobre o consumidor para o padeiro.

Vim da área de tecnologia para a área de alimentação, para a área de farinha e de massa. Olhar para a nossa operação, melhorar os indicadores de resultados, alinhar

ENTREVISTA Enrique Ussher Presidente-Executivo da J.Macêdo S.A

ENTREVISTA A LARISSA SOUSA

Irineu Pedrollo, diretor responsável pela área de Panificação da J.Macêdo S.A, que trabalha na empresa há mais de 20 anos, comenta o novo perfil da padaria brasileira. “Esse modelo de transformação da padaria tem se acelerado nos últimos anos, e

as empresas constataram que isso dá resultados”, lembra Pedrollo. No depoimento a seguir ele faz um breve histórico sobre a gênese do novo modelo e sua vocação para o sucesso:

“Tudo começou no final dos anos 80, ainda nos centros de Minas, Rio e São Paulo. As padarias procuraram diversificar suas ofertas, começaram a trabalhar com o lanche tradicional, que depois começou a se sofisticar. Hoje as padarias servem refeições completas. Existe uma gama de produtos bastante diferentes. No início, esse modelo novo começou a migrar para capitais do Sul e, depois, se disseminou para todo o país.

Uma panificadora trabalha com muitas receitas, precisando superar pequenas e grandes dificuldades. Nisso as padarias sem-pre contaram com o suporte da nossa empresa. O serviço de aten-dimento 0800 para a panificação consiste em dar dicas rápidas de solução para fazer com que o padeiro atinja um elevado padrão em seus produtos. J. Macêdo lançou pioneiramente esse serviço nos anos 90 e foi copiada por várias empresas. Quando retornamos para a panificação, resgatamos esse serviço, que não substitui a visita técnica. A visita é para darmos o apoio, quando há maior complexidade no problema. Neste caso, o técnico vai à padaria. Este é um serviço também gratuito.

Irineu Pedrollo fala também sobre a importância da padaria no

UM MODELO QUE DÁ RESULTADOS

país principalmente agora que virou um meio de socialização e convivência. Muitas pessoas vão para bater-papo e também tomar café, almoçar, jantar.

Desde o tempo de menino, em casa, eu era encarregado de comprar o pão. A minha relação com a padaria está na memória. Quando menino, só existiam dois tipos de pão: o de forma e o francês. Biscoitos também eram muito simples. Na padaria, havia apenas um balcão com área pequena. As pessoas iam lá, pegavam o pão e levavam para consumir em casa. Depois a padaria virou área de convivência, onde as pessoas vão, inclusive para con-versar com os amigos. A pada-ria é um dos estabelecimentos mais democráticos nesse mundo de isolamento. Mesmo nos bairros mais sofisticados, os produtos são acessíveis a todos, ainda que o preço varie depen-dendo da localização da pada-ria. Não se entra em qualquer restaurante, mas em padaria sim, nem que seja para comprar um quitute”.

História de Capaa

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mais a empresa com os clientes foi o primeiro passo. A padaria é um pedaço cultural do Brasil. No mercado de alimentos do Brasil e, visualizando o Food Service o que mais cresce é a padaria. Ela se identifica com o seu bairro, é bem próxima da comunidade. Nossa razão de ser é entregar produtos de qualidade, com serviços de alto nível. A nossa empresa conta com mais de 2.600 funcionários diretos.

Estamos sempre ofertando melhorias e

inovações, com o objetivo de fortalecer a relação do padeiro com os seus clientes. A cada momento a gente procura se especializar em cima das demandas que vão surgindo. Hoje a padaria é parte importante do mercado de food service, que inclui todas as situações de oferta de alimento processado para o consumidor.

No retorno à panificação, estamos investindo mais de 10 milhões de reais somente no aprimoramento do

nosso time de atendimento ao panificador, além de relevantes investimentos para melhorias nos nossos sistemas de produção, seja na estocagem de trigo, nos processos produtivos e na modernização e ampliação de capacidade das nossas fábricas. Neste conjunto, investiremos em torno de 100 milhões de reais. Trinta novos produtos estão no portfólio inicial, entre eles creme confeiteiro, fermentos, melhoradores, misturas para pão Francês e farinha de pastel.

Trinta novos

produtos estão no portfólio inicial, entre eles, creme confeiteiro, fermentos, melhoradores, misturas para pão Francês, farinha de pastel”

ENRIQUE USSHER

FOTO: CHICO PERES

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LEILE MELOTURISMÓLOGA

A minha padaria preferida é a Plaza na Santos Dumont. Costumo parar lá para tomar café e comer deliciosos pasteizinhos de carne quentinhos e a tapioca de carne do sol. Sempre levo vários quitutes para casa (coxinha, empadinha), pois nessa padaria tudo é muito gostoso!!! O munguzá também é tudo de bom.

NELSON GONÇALVES PALESTRANTE

Minha padaria preferida é a Plaza na Santos Dumont! Vou lá pra tomar café da manhã aos domingos, para comprar pães diferenciados e comidinhas prontas para lanches rápidos. Tem uma baguete com gergelim que é um sanduiche no metro sensacional! Mas também gosto de fazer reunião de trabalho na Delitália na avenida Desembargador Moreira.

EDUARDO ODECIOPUBLICITÁRIO

Minha preferida é a Padaria Ideal, na Heráclito Graça esquina com Rui Barbosa, pelo simples fato de ficar a três quadras da [agência de comunicação e maarketing] Síntese. Não compro pão lá, mas de vez em quando, aconteece de eu estar a ponto de explodir na agência e vou lá tomar cafe com leite e palmier, deliciosos croissants com cobertura de mel.

FERNANDO FÉRRERADVOGADO

A minha padaria predileta é a Plaza, pois além de um excelente atendimento, tem os melhores produtos da Cidade. Sem falar do magnifico café-da-manhã.

BRUNO MENEZESJORNALISTA

Sempre frequento a Montmarttre da “boulevard” Dom Luís. Sem dúvida, o melhor croissant da cidade

ROSSANA BRASILADVOGADA

A minha padaria perferida è a Delitalia onde encontro o melhor cafezinho da cidade com um serviço mais ou menos digno. Lá encontro amigos, faço minhas reuniões, procuro encontrar novidades na padaria e acima de tudo posso ler meu jornal em paz.

A PADARIA FAZ PARTE DO MEU DIA A DIA O depoimento de que colocou a Padaria no seu cotidiano

SERVIÇO As padarias deste quadro foram citadas expontaneamente pelos entrevistados. Todas elas estão localizadas em Fortaleza, Ceará.

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FOTO: CHICO PERES

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A PADARIA FAZ PARTE DO MEU DIA A DIA Uma manhã na Padaria Yemanjá, tradicional em Salvador

TOMÁS TORALES ADMINISTRADOR

Regularmente toma café na padaria, ou por não ter café em casa, ou porque trabalha perto. Ele une o útil ao agradável. “As meninas daqui são muito atenciosas e já sabem meu gosto”. Normalmente ele pede um suco de laranja, uma média com leite e um misto quente. E faz isso 2 vezes na semana.

A Padaria Yemanjá é uma das mais tradicionais de Salvador. Sonia Barreto, proprietária da padaria, está com a loja há 4 anos e meio. Quando comprou já era padaria, que fundada há pelo menos 10 anos antes. Ela fez uma reforma e transformou um vão escuro e apertado numa loja de conveniência com serviço de padaria e café da manhã e jantar, além de um apequena frutaria. “A padaria, como serviço único, já deixou de existir. É preciso agregar outras coisas. O pão é vendido, mas também é base para os nossos lanches. A sopa da noite faz muito sucesso também, o nosso caldo de aipim já foi citado algumas vezes no Facebook por nossos clientes”.

Este serviço é imprescindível nessa parte da cidade, pois o Rio Vermelho é um bairro boêmio, com muitos solteiros e turistas que se hospedam nos hotéis da área. Sem contar que também tem uma grande parte da população que sempre morou aqui. São amigos ou conhecidos e muitas vezes se encontram aqui na padaria.

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RONALDO NETOCONSULTOR DE VENDAS

Toma café na Padaria quase sempre. Trabalhava em frente à padaria e sempre vinha lanchar. Ainda não sabia que tinha café da manhã. Um dia veio tomar café da manhã e conheceu a funcionária Paula e ficou fã da comida e da simpatia da atendente. Não acha caro pela qualidade do serviço oferecido, o atendimento é rápido, mesmo no dia em que aparece uma fotógrafa e para quem mora só vale muito à pena, pois evita o desperdício de compras no mercado que não são totalmente consumidas. O café dele é sempre salada de frutas, sanduíche e café.

TAIS VIEIRA BANCÁRIA

Começou a tomar café da manhã na padaria quando passou a morar só. Hoje voltou a morar com a mãe, o que diminuiu a frequência. Mas sempre teve

esse hábito, inclusive quando foi casada, costumava tomar o café da manhã na padaria com o marido. Antes de voltar a morar com a mãe costumava fazer isso quase todos os dias, pois acha mais prático e até econômico

para quem mora só, pois nos mercados não se compra porções individuais algo que acarretava muito desperdício de comida.

TAMAR EDUARDO VIEIRA, DENTISTA

Estou na padaria de 3 a 4 vezes na semana , seja para tomar café ou comprar pão e outras coisinhas da casa, gosta da proximidade com os funcionários,

DIANA MELO TEIXEIRA, VETERINÁRIA

Vai à padaria tomar café da manhã, uma vez a cada 15 dias, principalmente quando sai atrasada de casa ou acorda e percebe que está sem nada para tomar café em casa. RENATO PEREIRA DAMASCENODESIGNER GRÁFICO

Começa brincando dizendo que está ali porque Diana vai pagar a conta. E afirma que é raro. Só toma café fora de casa quando tem que sair muito cedo. Ele acha prático, mas mais caro do que tomar café em casa.

é fiel ao local, pois gosta da sensação de já conhecer todo mundo e ser atendido por quem já o conhece. Ele mora ao lado da padaria e não acha o serviço caro. Acha mais prático e mais gostoso e acredita que o custo benefício é excelente. Frequenta também outras padarias próximas dos seus locais de trabalho e cita uma na Sussuarana que é muito boa.

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Dirigindo-se aos cardeais e fiéis chamando-os, novamente, de “queridos irmãos e irmãs”, o papa Francisco apelou em sua primeira ceebração na aos líderes políticos para que sejam re-sponsáveis. Ele usou as expressões “por favor” e “pedir” ao se

dirigir aos líderes para que assumam o papel de “guardiões”, afastando os riscos de destruição e morte no mundo.

O apelo ocorreu na missa que marca o começo de seu pontificado. Francisco pediu ainda que todos mantenham a esperança, mesmo nos momentos mais difíceis. Citou várias passagens bíblicas e mencionou repetidas vezes a palavra “responsabilidade”.

“Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabi-lidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos ‘guardiões’ da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo”, disse Francisco.

Pelo menos 132 países enviaram delegações. A presidenta Dilma Rousseff participou da missa acompanhada por uma comitiva de min-istros e assessores. Também estavam presentes 32 líderes de distintas religiões, segundo o Vaticano.

O papa reiterou que há sentimentos, como o ódio, a inveja e o orgulho, que “sujam a vida”. “Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida. Guardar quer dizer vigiar sobre os nossos senti-mentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem”.

Para Francisco, os líderes e os que são guiados por eles não devem temer a bondade. “Não devemos ter medo da bondade, nem mesmo da ternura”, ressaltou. “Cuidar, guardar requer bondade e requer ser praticado com ternura.”

O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco, que nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936. O Papa jesuíta se formou como técnico químico, mas depois escolheu o caminho do sacerdócio e entrou para o seminário de Villa Devoto. Em 11 de março de 1958, passou para o noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanistas no Chile e em 1963, voltou para Buenos Aires e se formou em filosofia.

Gostaria de pedir

a todos que ocupam papéis de responsabilidade, sendo na política ou na economia, sejamos parte do projeto de Deus na natureza. Não deixemos que sinais de destruição e morte tomem conta desse mundo. Mas para cuidar do outro, temos que cuidar de nós mesmos. O ódio, a soberba são destrutivos.”

PAPA FRANCISCO

A NOVA FACE DO CATOLICISMOPOR RENATA GIRALDI CIDADE DO VATICANO, AGÊNCIA BRASIL

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JEAN-MARIE GUÉNOIS, NO LE

FIGARO, ‘BERGOGLIO FARÁ O

TRABALHO SUJO DA REFORMA’

O vaticanista do jornal francês ‘Le Figaro’, Jean-Marie Guénois, acompanha há 25 anos os bastidores da Santa Sé. Ele foi um dos poucos a incluir o nome de Bergoglio, mesmo que no fim, em sua lista de potenciais papas. Para ele, Bergoglio que “não tem nada a perder” fará os ajustes necessários ao um reposiconamento da Igreja. A seguir, algumas postas de Guénois para a gestão de Francisco.

Sobre o papado de Francisco.

Penso que é alguém de idade, e que sabe que seu tempo está contado. Tem essa credibilidade do religioso para dizer não. Chega como um homem idoso, mas novo num sistema muito antigo, que precisa ser reformado. E penso que muitos cardeais estimaram que essa liberdade seria capital para lhe dar a força de agir, porque

o que o espera é muito difícil. A Cúria é um sistema de mais de mil anos. Os italianos têm uma certa arte do improviso, para acompanhar a Igreja Católica é uma qualidade. Mas quando o método de trabalho é unicamente italiano, não pode funcionar. Estamos hoje no momento dessa reforma, e penso que Bergoglio não tem nada a perder. E por isso vai poder fazer o trabalho sujo da reforma. Encontrei um cardeal antes do conclave, um homem moderado, prudente, que empregou a palavra “limpeza”. Vindo dele isso significava que havia uma opinião no Colégio Cardinalício. Eles estavam zangados com o que havia se passado, não queriam que se repetisse. Porque o escândalo do VatiLeaks é que um Papa da dimensão de Bento XVI foi amputado por uma administração que não estava à altura.

Sobre as reformas.

Para isso será preciso muita sabedoria, e penso que Bergoglio possui essa delicadeza humana. Ele é por vezes brutal, diz coisas muito fortes, e tem muita substância humana.

Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta o papa Francisco após missa inaugural do pontificado na Praça São Pedro, no Vaticano FOTO ROBERTO STUCKERT FILHO _ PR

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Brasil

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Quase 40 mil crianças e adolescentes vivem

em abrigos no Brasil. Aprovada em 2009, a Lei Nacional da Adoção regula a situação das crianças que estão em uma das 2.046

instituições de acolhimento. P O R A M A N D A C I E G L I N S K I

FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

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Em uma ampla sala colorida, cercado por cuidadoras, um grupo de seis bebês, com 6 meses de idade em mé-dia, divide o mesmo espaço, brinquedos

e histórias de vida. Todos eles vivem em uma insti-tuição de acolhimento enquanto aguardam que a Justiça defina qual o seu destino: voltar para a família biológica ou ser encaminhados para adoção.

A realidade das 27 crianças que moram no Lar da Criança Padre Cícero, em Taguatinga, no Distrito Federal (DF), repete-se em outras instituições do país. Enquanto aguardam os trâmites judiciais e as tentativas de reestruturação de suas famílias, vivem em uma situação indefinida, à espera de um lar. Das 39.383 crianças e adolescentes abrigadas atualmente, apenas 5.215 estão habilitadas para adoção. Isso representa menos de 15% do total, ou apenas um em cada sete meninos e meninas nessa situação.

Aprovada em 2009, a Lei Nacional da Adoção regula a situação das crianças que estão em uma das 2.046 instituições de acolhimento do país. A legislação enfatiza que o Estado deve esgotar todas as possibi-lidades de reintegração com a família natural antes de a criança ser en-caminhada para adoção, o que é visto como o último recurso. A busca pelas famílias e as tentativas de reinserir a criança no seu lar de origem podem levar anos. Juízes, diretores de instituições e outros profission-ais que trabalham com adoção criticam essa lentidão e avaliam que a criança perde oportunidades de ganhar um novo lar.

“É um engodo achar que a nova lei privilegia a adoção. Em vez disso, ela estabelece que compete ao Estado promover o saneamento das deficiências que possam existir na família original e a ênfase se sobressai na colocação da criança na sua família biológica. Com isso, a lei acaba privilegiando o inter-esse dos adultos e não o bem-estar da criança”,

avalia o supervisor da Seção de Colocação em Família Substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude do DF, Walter Gomes.

Mas as críticas em relação à legislação não são unânimes. O juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça Nicolau Lupianhes Neto avalia que não há equívoco na lei ao insistir na reintegração à família

natural. Para ele, a legislação traz muitos avanços e tem aju-dado a tornar os processos mais céleres, seguros e transparentes. “Eu penso que deve ser assim [privilegiar a família de origem], porque o primeiro direito que a criança tem é nascer e crescer na sua família natural. Todos nós temos o dever de procurar a todo momento essa permanência na família natural. Somente em último caso, quando não houver mais solução, é que devemos promover a destituição do poder familiar”, defende.

O primeiro passo para que a criança possa ser encaminhada à adoção é a abertura de um processo de destituição do poder familiar, em que os pais poderão perder a guarda do filho. Antes disso, a equipe do abrigo precisa fazer uma busca ativa para incen-tivar as mães e os pais a visitarem seus filhos, identificar as vulnera-bilidades da família e encaminhá-la aos centros de assistência social para tentar reverter as situações de violência ou violação de di-reitos que retiraram a criança do lar de origem. Relatórios mensais são produzidos e encaminhados às varas da Infância. Se a con-clusão for que o ambiente familiar permanece inadequado, a equipe indicará que o menor seja en-caminhado para adoção, decisão que caberá finalmente ao juiz.

Walter Gomes critica o que chama de “obsessão” da lei pelos laços sanguíneos. “Essa ênfase acaba demonstrando um certo preconceito que está incrustado na sociedade que é a superval-orização dos laços de sangue. Mas a biologia não gera afeto. A lei acaba traduzindo o precon-ceito sociocultural que existe em relação à adoção.”

Uma das novidades intro-duzidas pela lei – e que também contribui para a demora nos *Os nomes das crianças foram trocados em acordo com o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

História de Capaa

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A diretora do abrigo Lar da Criança Padre Cícero, Maria da Glória Nascimento, em Brasília FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

processos - é o conceito de família extensa. Na impossibilidade de a criança retornar para os pais, a Justiça deve tentar a reintegração com outros parentes, como avós e tios. Luana* foi encaminhada ao Lar da Criança Padre Cícero quando tinha alguns dias de vida. A menina já completou 6 meses e ainda aguarda a decisão da Justiça, que deverá dar a guarda dela para a avó, que já cuida de três netos. A mãe de Luana, assim como a de vários bebês da institu-ição, é dependente de crack e não tem condições de criar a filha.

O chefe do Núcleo Especiali-zado da Infância e Juventude da Defensoria Pública de São Paulo, Diego Medeiros, considera que

o problema não está na lei, mas na incapacidade do Estado em garantir às famílias em situação de vulnerabilidade as condições necessárias para receber a criança de volta. “Como defensoria, en-tendemos que ela é muito mais do que a Lei da Adoção, mas o fortal-ecimento da convivência familiar. O texto reproduz em diversos mo-mentos a intenção do legislador de que a prioridade é a criança estar com a família. Temos que questionar, antes de tudo, quais foram os esforços governamentais destinados a fortalecer os vínculos da criança ou adolescentes com a família”, aponta.

Pedro* chegou com poucos dias de vida ao Lar Padre Cícero. A

mãe o entregou para adoção junto com uma carta em que deixava clara a impossibilidade de criar o menino e o desejo de que ele fosse acolhido por uma nova família. Mesmo assim, aos 6 meses de vida, Pedro ainda não está habili-tado para adoção. Os diretores do abrigo contam que a mãe já foi convocada para dizer, perante o juiz, que não deseja criar o filho, mas o processo continua em tramitação. Na instituição onde Pedro e Luana moram, há oito crianças cadastradas para adoção. Dessas, apenas duas, com graves problemas de saúde, têm menos de 5 anos de idade.

Enquanto juízes, promotores, defensores e diretores de abrigos

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FONTE: CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÕES _ 2012

AS DUAS FACES DA ADOÇÃOPerfil de crianças disponíveis para adoção e a expectativa das famílias potenciais receptoras

História de Capaa

se esforçam para cumprir as determinações legais em uma corrida contra o tempo, a fila de famílias interessadas em adotar uma criança cresce: são 28 mil pretendentes cadastrados e ap-enas 5 mil crianças disponíveis. Para a vice-presidenta do Institu-to Brasileiro de Direito da Famíl-ia, Maria Berenice Dias, os bebês abrigados perdem a primeira in-fância enquanto a Justiça tenta re-solver seus destinos. “Mesmo que eles estejam em instituições onde são super bem cuidados, eles não criam uma identidade de sentir o cheiro, a voz da mãe. Com tantas

crianças abrigadas e outras tantas famílias querendo adotar, não se justifica esse descaso. As crianças ficam meses ou anos depositadas em um abrigo tentando construir um vínculo com a família biológi-ca que na verdade nunca existiu”, critica.

As exigências. Os abrigos que acolhem crianças e adolescentes no país estão cheios, mas ainda assim famílias esperam anos na fila para adotar um filho. A de-mora nos processos de destituição do poder familiar, em que os pais perdem a guarda e a criança pode

ser encaminhada à adoção, expli-ca em parte esse fenômeno. Outro motivo é a discrepância entre o perfil das crianças disponíveis e as expectativas das famílias.

A maior parte dos pretendentes procura crianças pequenas, da cor branca e sem irmãos. Dos 28 mil candidatos a pais incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, 35,2% aceitam apenas crianças brancas e 58,7% buscam alguma com até 3 anos. Enquanto isso, nas instituições de acolhimento, mais de 75% dos 5 mil abrigados têm entre 10 e 17 anos, faixa etária que apenas 1,31% dos candidatos está disposto a aceitar.

Quase mil crianças e adoles-centes já foram adotados por meio do cadastro, criado em 2008. Antes da ferramenta, que é administrada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), as unidades federativas tinham bancos de dados próprios, o que dificultava a troca de informações e a adoção interestadual.

Para o juiz auxiliar da Correge-doria Nacional de Justiça Nicolau Lupianhes Neto, é possível perce-ber uma mudança na postura das famílias pretendentes, que têm flexibilizado o perfil buscado. A principal delas diz respeito à faixa etária: antes a maioria aceitava apenas bebês, mas hoje a adoção de crianças até 4 ou 5 anos de idade está mais fácil.

“A gente observa que isso tem mudado pelos próprios números do cadastro, mas essa transfor-mação não vai acontecer da noite para o dia porque faz parte de uma cultura”, aponta o magistrado. Uma barreira difícil de ser su-perada ainda é a adoção de irmãos. Apenas 18% aceitam adotar irmãos e 35% dos meninos e meninas têm irmãos no cadastro. A lei determina que, caso a criança ou adolescente tenha irmãos também disponíveis para adoção, o grupo não deve ser

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separado. Os vínculos fraternais só podem ser rompidos em casos excepcionais, que serão avaliados pela Vara da Infância.

Outros fatores são entraves são a presença de algum tipo de deficiência física ou doença grave, condição que atinge 22% dos in-cluídos no cadastro. Bianca* tem 5 meses de idade e chegou com pou-cos dias de vida ao Lar da Criança Padre Cícero, em Taguatinga, no Distrito Federal. A mãe, usuária de crack, tentou fazer um aborto e Bi-anca ficou com sequelas em função das agressões que sofreu ainda na barriga. Ela tem paralisia cerebral parcial. Apesar da deficiência, é uma menina esperta, ativa e muito carinhosa. Os médicos que acom-

panham o tratamento de Bianca no Hospital Sarah, em Brasília, estão animados com a sua evolução, segundo a assistente social Re-nata Cardoso. “Mas a gente sabe que no caso dela a adoção vai ser difícil”, diz.

Aos 37 anos, Renata sabe muito bem como é a realidade das cri-anças que vivem nos abrigos, mas têm poucas chances de ser ado-tada. Ela chegou ao Lar da Criança Padre Cícero aos 7 anos de idade, com três irmãos. Órfãos de mãe, eles não podiam morar com o pai, que era alcoólatra. Houve uma tentativa de reintegração quando o pai se casou, mas ela e os irmãos passaram poucos meses na casa da madrasta e logo retornaram para a

instituição. “Não deu certo”, lem-bra. Dois de seus irmãos saíram do abrigo após completar 18 anos e formaram suas próprias famílias. Renata quis continuar o trabalho de Maria da Glória Nascimento, a dona Glorinha, diretora do lar. Ela nunca foi adotada oficialmente por Glorinha, mas ela e os irmãos são tratados como se fossem filhos biológicos.

“Com o tempo, a gente sentiu que ela ia cuidar da gente como filho. Não tive vontade de ir embo-ra, nunca vi aqui como um abrigo, sempre vi como minha casa e ela [Glorinha] como minha mãe. Ela sempre ensinou que nós iríamos crescer para cuidar dos menores e foi assim”, conta.

Criança à espera de adoção brinca no abrigo Lar da Criança Padre Cícero, em Brasília FOTO MARCELLO CASAL JR. _ ABR

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AMEAÇA DIGITALA neurocientista Susan Greenfield diz que “a tecnologia está moldando

uma geração de crianças

apáticas, incapazes de

pensar por si próprias.”

usan Greenfield, cientista e pesquisadora britânica especialista em psicologia do cérebro é incisiva na conclusão de sua pesquisa sobre mídias sociais, as novas ferramentas de comunicação podem fazer o cérebro regredir ao grau infantil declara ela em entrevista à revista New Scientist.

“A tecnologia está moldando uma geração de crianças apáticas, incapazes de pensar por si próprias.” Quem faz essa afirmação é a neurocientista Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford e membro da Câmara dos Lordes, a câmara alta do parlamento do Reino Unido.

Segundo Greenfield, navegar em excesso por redes sociais pode fazer o cérebro regredir, pois a exposição repetida a flashes de imagens em progra-mas de TV, jogos de videogame ou redes sociais pode infantilizar o cérebro, tornando-o similar ao de uma criança pequena, que se atrai por manifestações sonoras e luminosas.

De forma simples, o que a neurocientista prega é que quanto mais uma criança navegar por redes sociais ou jogar os games de PC ou consoles, menos tempo há para a aprendizagem de fatos específicos e para trabalhar a forma como estes elementos se rela-cionam entre si. “Eles estão destinados a perder a consciência de quem e o que eles são:

Comportamento

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AMEAÇA DIGITAL

não alguém, ou qualquer pessoa, mas ninguém”, diz.

Greenfield acredita que as mentes das novas gerações estão se desenvolvendo de maneira diferente das de gerações anteri-ores. “O cérebro”, diz ela, “tem plasticidade: é requintadamente maleável, e uma alteração signifi-cativa em nosso meio ambiente e comportamento traz consequên-cias”.

Segundo a neurologista, sua

principal preocupação é como os jogos de computador pode-riam realçar o que ela chama de “processo” sobre o “conteúdo” - o método sobre o sentido - na ativi-dade mental.

Ela expõe um catálogo de repercussões que levariam o u895009833599151mo um declínio na imaginação linguística e visual; atrofia da criatividade; e falta dos verbos e das estruturas essenciais para condicionar um pensamento

complexo.Embora não haja provas

concretas de que as redes sociais infantilizam seus usuários, Susan Greenfield sustenta que a ciência já provou que o ambiente pode influenciar a maneira como o cé-rebro funciona e que a tecnologia está influenciando a forma como as pessoas pensam no século 21.

New Scientist: Você acha que a tecnologia digital esta tendo

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um impacto nos nossos cérebros. Como você responde para aqueles que dizem não haver evidências para isso?Susan Greenfield: Quando as pessoas dizem que não há evidências, você pode virar de volta e dizer, que tipo de evidên-cia você poderia imaginar que houvesse? Nós vamos ter que esperar por vinte anos e ver que as pessoas estão diferentes das gerações precedentes? Às vezes você simplesmente não pode ir a um laboratório e ter a evidência durante uma noite. Eu penso que há suficientes indicações que nós devíamos falar bastante ao invés de nos estressarmos sobre o fato de não podermos provar instanta-neamente em um laboratório.

New Scientist: Então, que evidência existe ?Susan Greenfield: Existem várias evidências, por exemplo, o artigo “Anomalias micro estrutur-ais em adolescentes com desor-dem de vício em internet”, no Jor-nal PLoS One. Nós sabemos que o cérebro humano pode mudar e o meio ambiente pode mudá-lo. Há um aumento de pessoas com desordem de espectro autista. Existem as bofetadas-divertidas que aumentaram com o apelo do Twitter, Eu penso que isso mostra que a atitude das pessoas com as outras e consigo mesmas está mudando.

New Scientist: Mais alguma?Susan Greenfield: Há o artigo no jornal Neuron, que diz que existem dados de que o cérebro irá mudar. Ele também analisa a evidência mostrada com a questão da violência, distração e o vício em crianças, ligadas à perversão da tecnologia.

New Scientist: O que faz as redes sociais e jogos de computa-

dor diferentes das tecnologias precedentes e qual a temeridade que elas despertam?Susan Greenfield: O fato de que as pessoas estão usando a maior parte das suas horas acordadas usando elas. Quando eu era uma criança, televisão era o centro da casa, assim como o piano vitoriano era. É muito diferente o uso de uma televisão, quando você está sentado em volta e aproveitando com outros, comparando com quando você está no seu quarto e olhando o computador até duas ou três da manhã sozinho. En-tão, não são as tecnologias em si mesmo que estou criticando, mas como elas são usadas e o tempo estendido que as quais são usadas. Eu não digo que a tecnologia de-compõe o cérebro, eu nunca faria esse julgamento de valor.

New Scientist: A tecnologia digital foi defendida, em termos

de bem estar, pelo relatório do Nominet Trust. O que você pensa sobre isso?Susan Greenfield: Eu dou as boas vindas a esse relatório. É um me-ticuloso e compreensivo conjunto de fatos e informações. Mas, inevi-tavelmente, ele não pode alcançar conclusões muito firmes. Eu acho que ele foi usado para questões furtivas, como apenas dizer: “Bem, está tudo OK então”, mas eu penso que está muito longe de estar tudo OK. Eu nunca encon-trei um familiar ou professor que nunca pensou que não devíamos falar sobre isso. Apenas restringir o acesso das crianças à internet não ajuda o bastante. Ao contrário disso, eu devo perguntar: “O que nós podemos oferecer às crianças? Nós deveríamos estar planejando um meio ambiente em três dimen-sões para as nossas crianças em vez de colocá-las na frente de um em duas dimensões.”

A neurocientista Susan Greenfield

Comportamento

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A CRESCENTEPRESENÇA DA FIGURA FEMININA EM CARGOS DE GESTÃO, TEM REAL-MENTE FEITO A DIFERENÇA, JÁ QUE ATRIBUTOS CARACTERÍSTICOS DA MULHER COMO A SENSIBILIDADE, A INTUIÇÃO E UMA ABORDAGEM MAIS HUMANA DE SITUAÇÕES E CIRCUNSTÂNCIAS, SE CONFIGURAM CADA VEZ MAIS RECORRENTES COMO PROCEDIMENTOS FUNCIONAIS

NO MERCADO DE TRABALHO.

Educação

ANA FLÁVIA CHAVES

REITORA FAZ A DIFERENÇAPOR LUIZ ANTÔNIO ALENCAR FOTO CHICO PERES

Ana Flávia Chaves é reitora do Cen-tro Universitário Estácio FIC-Faculdade Integrada do Ceará. Iniciou a carreira em 1999 como professora e depois como coordenadora do Curso de Ciências Con-tábeis. Em 2005, passou a exercer a fun-ção de Diretora Acadêmica, até assumir a direção geral da instituição em 2008. É formada em Ciências Contábeis pela Uni-versidade Federal do Ceará, Mestre em Controladoria pela USP-Universidade de São Paulo e Doutoranda em Desen-volvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha. É casada com o professor da Universidade Estadual do Ceará ( UECE), Lauro Chaves Neto e mãe de duas crianças, Gabriel e Ana Alice.

Segundo Ana Flávia, a sensibilidade

como elemento de gestão cria um equi-líbrio com o racional, no sentido de ins-taurar uma percepção das peculiaridades de cada membro da equipe no sentido de estimulá-lo a dar o melhor de si na sua tarefa. A emoção no sentido de cuidar do outro identificando seu lado huma-no, cria colaboradores motivados e emo-cionalmente envolvidos no processo de trabalho.

A reitora adianta uma que uma mis-são deve ser vivenciada e internalizada para que instituição caminhe dentro de todo um consenso de responsabilidade social e cidadania, preservando e dando relevância à integridade pessoal de cada indivíduo, para que se instaure um todo integrado e harmonizado, já que se tra-

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balha com educação,que abrange um leque bem mais amplo de pos-sibilidades humanas e pessoais.

Ana Flávia esclarece ainda que a liderança feminina incorpora pa-drões de multifuncionalidade na avaliação de possibilidades e al-ternativas, harmonizando e otimi-zando antagonismos para que se estabeleça um sentido de grupo notadamente mais eficiente para o alcance da realização da missão em curso. O fator equipe é fun-damental no sentido dos méritos dos resultados serem partilhados como elemento motivacional prio-ritário.

A FIC conta com 23 mil alu-nos, 400 professores e 200 co-laboradores, um crescimento

apresentado em relação a 2011 de 30 %. “Um

sábio é aquele

faz todos entenderem de modo simples algo complexo, “assevera Ana Flávia Chaves que assegura que o papel dos educadores na Estácio FIC é justamente trabalhar o potencial de cada aluno no sen-tido de uma agilização oportuna dos procedimentos didáticos. “Te-mos alunos de classes sociais, cre-dos e origens diferentes, de modo que colaboramos para que cada um deles esteja apto para o merca-do de trabalho, esse é o nosso foco maior,” complementa a reitora.

A instituição além de disponi-bilizar bibliotecas virtuais e pre-senciais nas suas duas unidades, oferece 20 mil ofertas de emprego e estágio trabalhando o aluno para que seja devidamente aceito nes-sas oportunidades de inserção no mercado, ofertadas e disponíveis.

Ana Flávia assinala ainda que a FIC oferece material didático a todos os seus alunos e tablets para os cursos de Direito, Administra-ção e Arquitetura.

Como mãe, mulher e gesto-ra, Ana Flávia coloca cada um desses itens como des-dobramento oportuno um do outro para que a tare-fa administrativa adquira diferenças bem mais re-levantes e expressivas. É por essas e outras que a

mulher faz realmente a diferença.

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Bill Clinton, Tony Blair, líderes mundiais da atualidade e especia-listas em educação se reúnem para discutir

como as parcerias público-priva-das podem solucionar a demanda mundial por melhor educação. Representantes de 46 países par-ticiparão da Conferência Mundial sobre Educação.

Em Dubai, nos Emirados Ára-bes Unidos, Bill Clinton, Tony Blair, chefes de Estado e Minis-tros das Finanças e Educação dis-cutiram o papel que as parcerias público-privadas podem desem-penhar na transformação educa-cional para beneficiar mais jovens no mundo, com o objetivo de criar uma força de trabalho qualificada para o futuro.

O Fórum Mundial de Edu-cação e Habilidades inaugural aconteceu em Dubai, entre os dias 14 e 17 de março. O fórum, organizado em conjunto pela Unesco, pelo conselho empresa-rial da Commonwealth, o gover-no dos EAU e a GEMS Education analisou formas de criar uma mudança real, sustentável e esca-lável nos sistemas educacionais em nível global e local.

Foi dada atenção especial ao

desenvolvimento de um ambien-te que suporte parcerias público--privadas eficazes, inclusive um quadro regulamentar que asse-gure o acesso, a qualidade, a re-levância e a equidade na oferta de educação.

O porta-voz do Fórum Mun-dial de Educação e Habilidades Chris Kirk afirma: “É hora de revolucionar nossa abordagem à educação. O mundo está testemu-nhando uma demanda sem prece-dentes por educação de qualida-de na África e na Ásia. A maioria da população mundial vive em países de economia emergente. Enquanto o debate entre privado versus público continua, milhões de crianças estão sem uma educa-ção de qualidade”.

“AS CRIANÇAS E JOVENS pe-dem uma transformação edu-cacional que ofereça educação pública eficiente e de qualidade em nível mundial, para atender e aumentar as expectativas das fa-mílias e comunidades em todo o mundo. Esse tipo de intervenção só pode ser conseguido através da colaboração entre o setor público, o setor privado e organizações não governamentais.”

A diretora geral da Unesco,

Irina Bokova, afirmou: “As em-presas globais têm seus interesses globais. Mas há algo novo aconte-cendo, e trata-se do entendimento comum de que é de interesse do setor privado que as pessoas se-jam bem educadas. É do interesse do setor privado que o mercado funcione, que as pessoas sejam solventes, que os países sejam es-táveis. E o setor privado está mui-to aberto a métodos inovadores de colaboração. Enfrentar os desafios globais complexos exige parcerias inovadoras e de longo alcance en-tre as esferas pública e privada.

Cerca de 67 milhões de crian-ças não têm acesso ao ensino fun-damental e outras 72 não passam pelo ensino médio.

Os resultados tangíveis dessa brecha na educação incluem altos índices de desemprego, altos car-gos ocupados por não nacionais, alunos talentosos que se mudam de país em busca de melhores oportunidades, baixo nível de qualificações e habilidades que não corresponde às necessidades da economia.

O fórum abordará temas dos setores da educação, inclusive ses-sões sobre tecnologias disruptivas, educação técnica e profissional e equidade na educação.

FÓRUM MUNDIAL DE EDUCAÇÃO E HABILIDADES

MELHOR A EDUCAÇÃOO papel que as parcerias público-privadas podem desempenhar na transformação educacional para beneficiar mais jovens no mundo, com o objetivo de criar uma força de trabalho qualificada para o futuro

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EM RESPEITO À ÉTICA E AO POVO BRASILEIROPOR EDSON GUIMARÃES ADVOGADO, ESPECIALISTA EM DIREITO ELEITORAL

Em nosso País, sempre se disse que a Justiça só existia para punir os pobres, jamais os ricos e

poderosos. Diante dessa premissa, um ministro da Justiça um dia se dignou a afirmar: “O braço curto da justiça brasileira não alcança os poderosos”. E, durante anos a fio, assistimos ao espetáculo da impunidade. O braço nanico do Judiciário não chegava perto dos ricos nem dos apadrinhados do poder. Verdadeiras farras com o patrimônio publico levaram-se a efeito na Republica, “mandatários e representantes do povo” — entre aspas mesmo, se locupletaram do que deveria ser destinado à melhoria de vida da população, multiplicando seus patrimônios, enriquecendo familiares, vivendo em fausto, causando inveja a nababo.

Assim é que “Anões do Orçamento”, “Sivam”, “Banestado”, “Encol”, “Dossiê Caiman”, “Caso Toinho do PT”, “Caso Celso Daniel”, “Operação Anaconda”, “Propinoduto”, “Escândalo dos Correios” – para citar apenas alguns de uma lista infindável, tomaram conta das manchetes na mídia nacional sem que os responsáveis viessem a ser punidos. Quando se viam processados em alguns casos, os envolvidos passavam ao largo das

investigações, desdenhando de nós contribuintes, cidadãos a quem deveriam servir e não aos seus interesses e de grupo isolados.

Essa impunidade e os privilégios oriundos do dinheiro fácil estimularam que se avançasse sempre com ganância sobre os cofres públicos. Obras superfaturadas, inacabadas ou nunca realizadas, serviços malprestados e materiais entregues em parte ou nunca entregues, encheram as burras de maus políticos e empresários inescrupulosos em prejuízo da nação.

O Poder Executivo, para manter sob seu comando os parlamentares, os alimenta com doses generosas de benesses, desde a autorização de obras, concessão de emendas parlamentares e nomeações de apaniguados, até, pelo que se pode constatar recentemente, copiosas mesadas e outra benesses.

No entanto, a ganância fez com que, no âmbito do governo federal, ainda no governo do Sr. Luís Inácio Lula da Silva, se desse o que poderíamos chamar de suicídio coletivo, uma vez que de dentro do grupo alimentado pelo que se intitulou mensalão, com certeza por interesse contrariado, partiu denuncia alardeando a pratica criminosa urdida nos

corredores palacianos orquestrada pelo gestor intelectual e político do governo, no caso o então poderoso Ministro da Casa Civil, José Dirceu.

No país afora se apostou que, mais uma vez, se saborearia uma apetitosa pizza e os culpados não seriam alcançados pelo pequeno braço do judiciário.

No entanto, o Supremo Tribunal Federal, salvo diminutas exceções, tem punido exemplarmente todos os denunciados pelo Mensalão, aplicando-lhes penas privativas de liberdade e pecuniárias de forma exemplar. A Nação, eu diria, se acha perplexa diante do desiderato a que chegou a Ação Penal 470, Mensalão, uma vez que diante dos antecedentes de impunidade não acreditava que os mensaleiros viessem a seu punidos pelos crimes cometidos.

Estamos diante de um novo Brasil? Ou estamos diante de uma Nação que conseguiu conquistar a plenitude democrática, resgatando o respeito ao Judiciário que se impõe eficientemente? O certo é que nós brasileiros aplaudimos de pé a decisão do processo do Mensalão, acreditando que novos rumos haverão de ser tomados em nome da ética e do respeito ao povo brasileiro.

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OscarNiemeyerO ESTILO NA ARQUITETURAPOR RENATA GIRALDI FOTOS AGÊNCIA BRASIL

Memória

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SÍMBOLO DA VANGUARDA E DA CRÍTICA AO

CONSERVADORISMO DE IDEIAS E PROJETOS, O CARIOCA

OSCAR RIBEIRO DE ALMEIDA DE NIEMEYER SOARES, DE

104 ANOS, É APONTADO COMO UM DOS MAIS INFLUENTES

NA ARQUITETURA MODERNA MUNDIAL. OS TRAÇOS

LIVRES E RÁPIDOS CRIARAM UM NOVO MOVIMENTO NA

ARQUITETURA. A CAPITAL BRASÍLIA É APENAS UMA DAS

SUAS NUMEROSAS OBRAS ESPALHADAS PELO BRASIL E

PELO MUNDO.

NIEMEYER MORREU NO ANO PASSADO, NO DIA 5 DE

DEZEMBRO, ÀS 21H55MIN, NO HOSPITAL SAMARITANO,

NO RIO DE JANEIRO, EM BOTAFOGO, ONDE ESTAVA

INTERNADO DESDE O DIA 2 DE NOVEMBRO, VÍTIMA DE

COMPLICAÇÕES RENAIS E DESIDRATAÇÃO, O ARQUITETO

OSCAR NIEMEYER, DE 104 ANOS.

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Congresso Nacional, acima, e, abaixo. detalhe da Catedral de Brasília.FOTO MARCELO CAMARGO_ABR

Memória

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Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Nie-meyer lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo, ele desabafou: “Estou cansado de dizer adeus”. Em meio a um episódio de mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele ainda se indigna-va, a resposta foi rápida e objetiva:

“O DIA EM QUE

EU NÃO MAIS

ME INDIGNAR É

PORQUE MORRI.”

Em 1934, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que cha-mava de arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao escritório, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A frequência caiu depois de duas cirurgias — uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na vesícula. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção urinária.

Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia. Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunista Brasi-leiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da legenda. Durante a ditadura (1964-1985), ele se autoexilou na França. Nesse perí-odo foi à então União Soviética.

Em 2007, Niemeyer presen-teou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com uma escultura na qual há uma imagem monstruo-sa que ameaça um homem que se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de construção da sede do Tribunal Superior Eleitoral — TSE, em Brasília.

Independentemente das polê-micas, Niemeyer se transformou em sinônimo de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões--postais da cidade foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.

O Palácio da Alvorada, a residên-cia oficial da Presidência da Repú-blica, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em junho de 1958. Os pilares que Niemeyer dese-nhou para a fachada do prédio, pas-saram a ser o emblema de Brasília.

A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os pré-dios do Supremo Tribunal Fede-ral (STF) e o Congresso Nacional — formado por duas semiesferas simbolizando a Câmara dos De-putados (voltada para cima) e o Senado (voltada para baixo).

Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral Me-tropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível por meio de uma passagem subter-rânea. No teto da igreja, há anjos de-pendurados.

Em janeiro de 2012, Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de 82 anos, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, no Rio. Desde então, segundo amigos, o ar-quiteto passou a sair menos de casa e ficou mais fechado.

MORREU “O

ÚLTIMO GRANDE

ARQUITETO DO

SÉCULO 20”

A morte do arquiteto Oscar Nie-meyer ganhou destaque na im-prensa de Portugal. O site do jornal Público, de Lisboa, informa que

morreu “o último grande arquiteto do século 20”. Já o site do Diário de Notícias lembra que Niemeyer era “o mais importante arquiteto brasileiro” e “também um dos nomes mais in-fluentes da arquitetura moderna em nível mundial”.

A agência de notícias Lusa tam-bém faz reverência e diz que “o ar-quiteto brasileiro deixou mais de 600 obras em todo o mundo, sendo considerado um ícone da arquitetu-ra moderna”.

Em Portugal, há apenas uma grande obra de Oscar Niemeyer — três edifícios (hotel, casino e centro de convenções) que fazem parte de um complexo turístico do Funchal, na Ilha da Madeira. Os edifícios foram projetados em 1966, quando estava exilado em Paris, e conclu-ídos uma década depois — dois anos após a Revolução dos Cravos.

Em 2001, foi publicado em Portu-gal o livro O Nosso Niemeyer, sobre a obra do Funchal. O livro, que inclui a biografia do brasileiro, foi escrito por Carlos Oliveira Santos, professor da Faculdade de Arquitetura de Lisboa.

No ano passado, Oscar Niemeyer projetou o Museu de Arte Contempo-rânea de Ponta Delgada para a Ilha de São Miguel, nos Açores. Com Portugal em recessão econômica, não há previ-são de quando a obra poderá ser exe-cutada. Para Lisboa, o arquiteto ainda desenhou a futura sede da Fundação Luso-Brasileira, que também ainda não foi construída.

A passagem dos 100 anos de Niemeyer, em 2007, foi registrada pela imprensa lusitana e come-morada com a exposição Brasília 50 Anos, Niemeyer 100 Anos, em Cascais, próximo a Lisboa.

Como muitos brasileiros, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares tinha ascendência portugue-sa. Ao blog da Embaixada de Portu-gal, o arquiteto contou que em toda a vida sempre se sentiu “mais Ri-beiro de Almeida”, referindo-se ao avô materno de origem lusitana.

Memória

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A arquitetura de Oscar Niemeyer estabeleceu um novo uso do espa-ço habitável no Brasil.

Encharcado de criatividade e harmonia com a natureza, o traço do arquiteto brasileiro buscou, acima de tudo, o bem estar da população, permitindo que pessoas comuns desfrutas-sem de todos os elementos de suas obras. A avaliação foi feita pelo membro da Federação Panamericana de Arquitetos Germán Suárez Betancourt que está em Brasília para participar do Seminário Internacional de Arquitetura e Urbanismo.

Organizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, o evento reuniu, no

Memorial JK, em Brasília, arqui-tetos brasileiros e palestrantes de outros países para discutir os desafios da profissão.

Betancourt definiu a ar-quitetura de Oscar Niemeyer como um “hino à vida”. “A mudança que ele gerou na for-ma de ver, de sentir e de viver a arquitetura foi excepcional. Ele queria que as pessoas tivessem uma relação exis-tencial com suas obras. Para todos os arquitetos e para todas as pessoas nas Améri-cas, a ‘experiência Niemeyer’ continuará sendo fundamen-tal”, disse o colombiano.

O membro da Federação Panamericana de Arquitetos destacou ainda que a obra de Niemeyer influenciou em grande medida toda a geração de profissionais de meados do século passado no continente americano.

“Toda essa influência não se traduziu necessariamente na cópia de suas obras, mas na inspiração em sua liberdade, em sua atitude ante a solução estética. Ele influenciou muitos profissionais com o prazer exis-tencial de desenhar uma obra para que qualquer pessoa se beneficiasse dela”, explicou.

Para Betancourt, Niemeyer está entre os arquitetos mais importantes do mundo.

“ENTRE OS

ARQUITETOS

MAIS

IMPORTANTES

DO MUNDO.”

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Edifício Copan, em São Paulo, em forma de “S”, a arquitetura do prédio, localizado na Avenida Ipiranga, está sempre evidente no horizonte das principais vias do centro. FOTO MARCELO CAMARGO_ABR

Memória

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HISTÓRICO DE CONSUMO ABUSIVO DE

ÁLCOOL, SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

E MANUTENÇÃO DO USO, MESMO

COM PROBLEMAS FÍSICOS E SOCIAIS

RELACIONADOS, É O TRIPÉ QUE

CARACTERIZA A DEPENDÊNCIA EM

ÁLCOOL, SEGUNDO A PSIQUIATRA

ANA CECÍLIA MARQUES, PROFESSORA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

PAULO (UNIFESP).

O TRATAMENTO DA DOENÇA,

QUE ATINGE CERCA DE 5,8 MILHÕES DE PESSOAS NO BRASIL,

SEGUNDO O LEVANTAMENTO DOMICILIAR SOBRE O USO DE DROGAS

PSICOTRÓPICAS NO BRASIL, DE 2005, NÃO É FÁCIL: DURA PELO MENOS

UM ANO E MEIO EM SUA FASE MAIS INTENSIVA E TEM ÍNDICE DE

RECAÍDA DE CERCA DE 50% NOS PRIMEIROS 12 MESES.

“ELE PRECISA PREENCHER OS TRÊS CRITÉRIOS. UM SÓ NÃO BASTA

PARA SE CONSIDERAR DEPENDENTE”, DESTACA A PSIQUIATRA.

ELA EXPLICA QUE O CONSUMO CONTÍNUO E ABUSIVO LEVA A UMA

TOLERÂNCIA CADA VEZ MAIOR DO USUÁRIO À BEBIDA. “O CORPO

ACOSTUMA-SE COM O [ÁLCOOL]. ELE RESISTE MAIS E, PARA OBTER

O EFEITO QUE TINHA NO COMEÇO COM UMA LATA DE CERVEJA,

PRECISARÁ TOMAR CINCO”. A FALTA DO ÁLCOOL PROVOCA UMA SÉRIE

DE SINTOMAS GRAVES, COMO ELEVAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL,

TREMORES, ENJOO, VÔMITO E, EM ALGUNS PACIENTES, ATÉ MESMO

CONVULSÃO. ESSE É O QUADRO DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA.

ÁLCOOL, O CONSUMO ABUSIVO

Saúde

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O terceiro critério para caracterização da dependência alcoólica está ligado aos problemas de relacionamento e de saúde provocados pelo consumo abusivo. “O indivíduo tem problemas no trabalho por causa da bebida. Ele perde o dia de trabalho mas, mesmo assim, bebe de novo”. A professora destaca que, além da questão profissional, devem ser considerados diversos aspectos da vida do paciente, como problemas familiares, afetivos, econômicos, entre outros.

Em relação às outras drogas, a psiquiatra informou que o tratamento da dependência de álcool se diferencia principalmente na primeira fase, que dura em média dois meses. “Cada substância tem uma forma de atuar no cérebro, portanto, vai exigir, principalmente na primeira fase do tratamento, diferentes procedimentos farmacológicos para que a gente consiga promover a estabilização do paciente”, explica.

De acordo com a médica, o álcool se enquadra na categoria de substâncias psicotrópicas depressoras, juntamente com os inalantes, o clorofórmio, o éter e os calmantes. Há também as drogas estimulantes, como a cocaína, a cafeína e a nicotina, e as perturbadoras do sistema

nervoso central, como a maconha e o LSD.

“Na segunda e terceira fases, o tratamento entra em uma etapa mais semelhante, que é quando você vai se aprofundar no diagnóstico e preparar o individuo para não ter recaída”, acrescenta.

A segunda fase do tratamento, a chamada estabilização, quando se trabalha a prevenção da recaída, dura, em média, de oito a dez meses. Nessa etapa, são percebidas e tratadas as doenças correlatas adquiridas pelo consumo do álcool e, então, o paciente é preparado para readquirir o controle sobre droga. “A dependência é a doença da perda do controle sobre o consumo de determinada substância. [É feito um trabalho] para que ele volte a se controlar, a entender esse processo e readquirir a autonomia. Não é mais a droga que manda nele”.

A psiquiatra destaca que, nesse processo, a recaída é entendida como algo normal e que não invalida o tratamento. “Ele pode ter uma recaída e não é que o tratamento não esteja no caminho certo ou que ele não queira se tratar. Faz parte da doença, é um episódio de agudização dessa doença crônica que é a dependência do álcool. Faz parte recair”, esclarece.

Na terceira etapa, que dura cerca de seis meses, ocorre o “desmame da tutela do tratamento”. “Ele está manejando essa nova autonomia. Ele volta para as avaliações com menos frequência”. Por fim, o paciente passa a ir ao médico com maiores intervalos entre as consultas. “Ele segue em tratamento como qualquer indivíduo que tem doença crônica. Pelo menos uma vez por ano, ele passa pelo médico. A bem da verdade, [no tratamento dessas] doenças crônicas, a gente não dá alta”.

Levantamento feito em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp, e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), mostra que o uso do álcool prevalece entre os homens em todas as faixas etárias. Mais de 80% deles declararam fazer uso de álcool. Entre as mulheres, o percentual cai para 68,3%.

No que diz respeito à dependência, os homens também estão na frente. O índice de dependentes do sexo masculino (19,5%) é quase três vezes o do sexo feminino (6,9%). A faixa etária de 18 a 24 anos, por sua vez, apresenta os maiores índices, com 27,4% de dependentes entre os homens e 12,1% entre as mulheres. — CAMILA MACIEL

ÁLCOOL, O CONSUMO ABUSIVO

O índice de dependentes do sexo masculino (19,5%) é quase três vezes o do sexo feminino (6,9%). A faixa etária de 18 a 24 anos apresenta os maiores índices, com 27,4% de dependentes entre os homens e 12,1% entre as mulheres.

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CulturaÀ FLOR DA PELEMuito rock para ser mpb, muito mpb para ser rock, e muito eletrônico para ser os dois. assim já foi definido o trabalho de rebeca matta, cantora e compositora que também é artista plástica. a baiana situa-se numa zona de fronteira em que alguns músicos da cena independente têm feito experimentações em busca de uma maior pluralidade para a música que se faz no brasil. após alguns anos de expectativas, seu novo trabalho será lançado em show a ser realizado em salvador, no dia 12 de abril próximo. Fale! traz em primeira mão À Flor da Pele

POR JORGE BARBOZA, DE MACEIÓ

Rebeca matta faz o lançamento de seu quarto álbum, o ao vivo À Flor da Pele, juntamente com o DVD, gravados em dezembro de 2011 como resultados do edital da operadora Vivo, “conexão Vivo — Bahia”.

eleita cantora-revelação em 1999 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (Apca), com o CD “Tantas Coisas” (1998), a cantora e compositora baiana construiu uma carreira bastante pessoal, trilhando caminhos musicais na contramão das tendências roqueiras e eletrônicas vigentes.

A demora em gravar este ao vivo (o terceiro álbum, “Rosa Sônica”, é de 2006) está relacionada a escolhas e ao processo de captar recursos. “Fomos selecionados pelo edital do conexão vivo. depois a gente começou o trabalho. eu acabo participando de todo o processo, desde os arranjos com os músicos até a parte gráfica [Rebeca é artista visual]. e a banda, eu precisava de músicos que tivessem a ver comigo, e essa parceria com eles foi fundamental. esse processo foi lento e como envolve trocas de experiências, demandou mais tempo. essa experimentação pede a participação de todo mundo. Não trabalho com fórmulas”, diz a inquieta Rebeca.

À Flor da Pele parece rock (nada a ver com a pastelaria dos cds de rock da atualidade), mas também é mpb (também nada a ver com o resto). “Juninho costa (guitarrista), é muito sensível e percebe a música como um todo e trouxe nuances fundamentais para a sonoridade do disco; já emanuel venâncio (baterista) tem uma pegada diferente, a pegada dele é forte — e talvez também por

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isso ela seja tão presente e singular; joão meirelles trouxe uma sonoridade eletrônica particular também, com mais “noises” e outros elementos rítmicos. eu gosto do peso, mas tem a delicadeza, o lado feminino”.

Provocações — esse é o fio condutor do som de Rebeca. que é sinônimo de entregas e arrebatamento, de visões, de poesia. por ser da bahia poderia ser outra coisa. Mas ainda é uma mistura de rock e MPB — leve, pesada, psicodélica e apaixonada. Ninfa baiana, jovem demais para ser diva. Rápida como um raio.

“(...) lá fora na chuva sorri chorei vibrei seduzida quem diria que seria assim rápido como um raio (...)”

O guitarrista juninho costa acompanha essa onda com aquele peso que a cantora diz apreciar (nós também) — a programação eletrônica de João Meirelles idem, traz vibração e o ajuste dançante. O violonista erudito Mario Ulloa, em participação especial, dá o acabamento a uma inesperada regravação da “balada do louco”, de arnaldo e rita. inventividades. Outra regravação, “Xique-Xique (parabelo)”, de Tom Zé e José Miguel Wisnik, é pura sonzeira — hipnótica.

Várias participações especiais: o guitarrista Peu Sousa, velho parceiro, o cantor, compositor Ronei Jorge, novo parceiro. Mais o dois em um — guitarra de luisão e violoncelo de fernanda monteiro. Rebeca diz que, assim como ela, outros na bahia e no planeta estão fazendo “música diferente”. São 11 faixas, cinco inéditas, inclusive a estranha (diferente) “como um raio”. Belíssimo e competente álbum ao vivo – À Flor da Pele é uma boa imagem, com solos e batuques e viagens, vocais afinadíssimos e doces — e híbridos (eletrônicos) e mais viagens (rituais do rock)...

Quantos anos tem todo mundo? Música para jovens e para um público antenado que acompanha a carreira da cantora desde o primeiro disco em 1998, desde os primeiros shows em são paulo, no teatro crowne plaza, no sesc pompéia. À Flor da Pele sai com mil cópias, e deverá ser distribuído de forma independente. mas também cai na rede, para download. n

Rebeca Matta está de volta (e ao vivo) com o CD e DVD À Flor da PeleFOTO LORELAI COM DESENHOS DE REBECA MATTA

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ANTES DE TARANTINOMostra traz filmes de Samuel Fuller, um dos cineastas independentes mais influentes da história

Com baixos orçamentos, escrevendo, produzindo e dirigindo seus filmes, o cineasta independente Samuel Fuller conseguiu influenciar grandes nomes do

cinema como Quentin Tarantino e Wim Wenders. “Filmava o que quisesse e da maneira que bem entendesse. Seus filmes são originais em seus erros e acertos. Esse ímpeto, esse impulso, aliado ao estilo direto e sem firulas, marcou a história do cinema” ressalta Júlio Bezerra, curador da mostra do norte-americano no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na cidade de São Paulo.

Foram exibidas obras como Agonia e Glória (1980), Beijo Amargo (1964), Paixões Que Alucinam (1963), Cão Branco (1982) e Dragões da Violência (1957). “Estes filmes, juntos,

manifestam toda a particularidade do estilo de Fuller — os personagens de moral duvidosa, o mundo contraditório que ele constitui”, explicou Bezerra sobre o trabalho do cineasta que gostava de personagens como prostitutas regeneradas, soldados amargurados e jornalistas inescrupulosos.

Nos filmes, Fuller traz elementos de suas experiências pessoais. O cineasta foi jornalista e soldado de infantaria na 2ª Guerra Mundial. “Seus filmes são sempre diretos, preocupados com uma certa precisão dramática. Como em uma matéria [jornalística], você pode, a cada plano, identificar uma espécie de lead [primeiro parágrafo da reportagem, que traz as informações mais importantes]”, acrescentou Bezerra.

A ideia da mostra era trazer todas as obras de Fuller. Mas, devido ao péssimo estado de conservação de algumas cópias, isso não foi possível. “Foi o caso de No Umbral da China. Contudo, conseguimos cópias novas para os filmes mais importantes”, informa o curador sobre a mostra que entra em cartaz em Brasília e no Rio de Janeiro. Tema recorrente em sua obra, para Fuller “na guerra o único heroísmo é sobreviver.” — Por Daniel Mello, da Agência Brasil

Cultura

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ACREDITAR: O PRIMEIRO PASSO PARA O SUCESSOPOR FABNER UTIDA STRATEGISTA E CONSULTOR EM MARKETING CORPORATIVO

Todos os dias acordamos, fazemos planos, organizamos os afazeres, entramos na

rotina, cuidamos das urgências, reclamamos um pouco e, quando sobra, reservamos um tempo para sonhar.

A cada dia que passa, mais e mais pessoas entram tão fortemente neste estilo de vida, de sonhar pouco, que, com o tempo, deixam de perceber a importância de sonhar como um elemento transformador da vida humana.

O interessante é que o sonho nada mais é do que a fagulha inicial de um grande poder transformador. Para que um sonho ganhe força e se torne essa energia surpreendente de transformação é preciso um outro elemento: acreditar.

Pode parecer contraditório, mas muitas pessoas não acreditam verdadeiramente em seus sonhos, não acreditam profundamente em seus projetos. Muitas vezes, alguém termina dizendo para si: “isto não vai dar

certo”. Pode ter certeza, todo o organismo vai trabalhar a favor do seu próprio fracasso.

Este processo acontece por um fator muito simples: a autodefesa. O nosso cérebro vai sempre trabalhar para concretizar as teses que afirmamos para nós mesmos.

Assim, se nos instantes que sonhamos, associamos a este desejo uma tese de “que não vai dar certo”, nosso cérebro vai engatar uma série de mecanismos que sabotarão o sonho exatamente para que se possa, no final, dizer: “eu sabia que não daria certo”.

Por mais louco que possa parecer, nós somos os maiores limitadores de nós mesmos. Então, qual seria o caminho para romper com este mecanismo de autodestruição? Simples: acreditar.

Transformar um sonho em realidade não é fácil. Precisa de planejamento, organização e muita, muita dedicação. Muitos desafios precisam ser superados para fazer com que um sonho saia do campo das ilusões para entrar no campo da realidade, enfim

concretizada.Mesmo com muito trabalho

e muito esforço, por vezes diversos sonhos ainda não vão conseguir entrar para a galeria das realizações, isto faz parte. Mas, se de fato quisermos arriscar a chance de ver nossos sonhos darem certo, é preciso antes de tudo acreditar. Se mesmo acreditando, ainda pode ser difícil, imagina quando não acreditamos.

Percebendo que o fator “acreditar” é o primeiro passo para transformar um sonho pessoal em realidade, nas corporações não é diferente. Um dos principais papéis de um grande líder é fazer com que os stakeholders ou pessoas-chave da organização acreditem nos projetos, acreditem nos produtos, acreditem nos serviços. E essa tarefa também representa um pilar estrutural fundamental para o marketing corporativo: provocar a adoção, inspirar e fazer acreditar.

Acreditar é o primeiro passo para o sucesso. É o elemento que tem o poder de mover pessoas no sentido verdadeiro de fazer “dar certo”.

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Os leitores da revista Fale! são decisores, pessoas que não abrem mão de informação de qualidade. Política e Economia são os principais temas da revista de informação. Fale! Quem decide, lê.

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O HOMEM DO PT NO GOVERNO CID

CEARÁ: MODA PRAIA E SURF, UM SUCESSO

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