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48 49 Paul Cadmus Falo de História What I believe, têmpera, 1948. 1904 - 1999 por Filipe Chagas

Falo de História Paul

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Paul Cadmus

Falo de História

What I believe, têmpera, 1948.

1904 - 1999

por Filipe Chagas

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Paul Cadmus (1904-1999) foi um pintor americano, mais conhecido por sua arte de cunho social, satírico e, por muitas vezes, erótico em ambiente urbanos quase grotescos e caricatos. Interessado

na arte dos renascentistas italianos Luca Signorelli e Andrea Mantegna (também chamados de “mestres dos músculos”), Cadmus enfatizava a musculatura de seus modelos em um estilo semelhante ao realismo mágico, oferecendo um nível de detalhes intrincados além da vida observável.

YMCA Locker Room, têmpera, 1933.

Autorretrato em grafite (1906).

Nascido em 17 de dezembro de 1904 em Nova York, decidiu seguir a carreira artística como seus pais (a ilustradora de livros infantis Maria Latas e litógrafo e aquarelista Egbert Cadmus) quando ainda era jovem: largou a escola aos 15 anos e se matriculou na Academia Nacional de Design da cidade de Nova York (hoje Museu Nacional da Academia e Escola de Belas Artes), onde estudou até 1926. Em seu terceiro ano, recebeu uma medalha de bronze por sua excelência em desenho de modelo vivo e, em 1923, já publicava semanalmente ilustrações no The New York Herald-Tribune. Em 1927 e 1928, estudou na Art Students League e, em seguida, foi trabalhar em uma agência de publicidade fazendo ilustração comercial.

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Jerry, têmpera, 1931.Entre 1931 e 1933, ele viveu com o artista Jared French. Os dois viajaram para a ilha de Maiorca, na Espanha, onde Cadmus criou as conhecidas pinturas Shore Leave e YMCA Locker Room (ambas em 1933). Cadmus considerou o retrato que pintou de Jared em 1931 seu primeiro trabalho maduro como artista. O retrato revela uma intimidade bem diferente de toda sua obra, porém, ao colocar French segurando uma cópia de Ulisses, de James Joyce – livro considerado controverso na época –, Cadmus construiu seu posicionamento satírico. A relação de Cadmus e French era de amor e amizade. Cadmus revelou que os acrobatas da obra Gilding the acrobats (1935) foram inspiradas em French, bem como a figura de John Smith no mural de 1938, Pocahontas saving the life of Captain John Smith, na Biblioteca da Casa da Corte em Richmond, Virgínia.

Gilding the acrobats, têmpera, 1935.

Sem dinheiro, Cadmus retornou aos Estados Unidos e, por aconselhamento de sua irmã Fidelma, conseguiu emprego no Projeto Obras Públicas de Arte, onde criou vários murais para edifícios do governo, entre eles, The Fleet’s In! (1934), uma obra de sátira social que descreve marinheiros em licença de costa e contém elementos de prostituição, homoerotismo e embriaguez. O trabalho enfureceu os oficiais da marinha e foi retirado de uma exposição na Galeria de Arte Corcoran, em Washington, DC, em 1934 e não foi exibido publicamente até 1981. Cadmus chegou a dizer que devia o início de sua carreira “ao almirante que tentou suprimi-la”.

Pocahontas saving the life of Captain John

Smith, mural, 1938.

The fleet’s in!, têmpera, 1934.

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Coney Island, óleo, 1934.

A controvérsia do “homem sórdido e comum” cercou várias outras pinturas de Cadmus, como Coney Island interpretado por corretores de imóveis como um insulto à vizinhança e um projeto de mural dos correios que foi cancelado por causa do humor cínico das cenas ilustradas. Essa publicidade acabou lhe rendendo um fascínio do público e, em 1937, mais de 7 mil pessoas foram ver sua primeira exposição individual em Nova York, onde também lançou um manifesto em francês no qual se declarava propagandista satírico para a correção de males morais que usavam “expressões subversivas, egoístas e depreciativas” das pessoas para transmitir uma “malignidade destrutiva”.

The shower, têmpera, 1943.

The bath, têmpera, 1951.

Embora o mundo artístico pós-Segunda Guerra Mundial tenha se voltado para um expressionismo abstrato e prestado pouca atenção a Cadmus, ele continuou trabalhando de forma constante, adicionando lirismo e autorreflexões em seu repertório. No entanto, por trabalhar com a demorada técnica de têmpera a ovo, sua produção de pintura não é muito extensa. Comparava as pinceladas delicadas da têmpera com “batimentos cardíacos, cada um igualmente importante, mas quase invisível ou imperceptível”.

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Na página anterior, nesta e nas próximas duas páginas, desenhos em grafite, crayon, pastel e carvão ao longo da carreira de Paul Cadmus.

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Seu trabalho foi apresentado na maioria dos museus de arte americanos e incluído em várias exposições coletivas ao longo dos anos. Entre seus outros trabalhos notáveis estavam Sailors and Floosies (1938), a série The Seven Deadly Sins (1945-1949) e a sua maior pintura, Subway Symphony (1976). Ainda que trouxesse certa publicidade, o estilo satírico, a prática da têmpera, a insistência no figurativo e a temática homoerótica o tornaram quase um pária na História da Arte, e apenas em seus últimos anos começou a receber atenção. Em 1980, Cadmus tornou-se um acadêmico da Academia Nacional de Design. Morreu em Connecticut em 12 de dezembro de 1999. 8=D

Finistere, têmpera, 1952.

PajaMaEm 1937, mesmo ano de sua primeira exposição, Paul Cadmus se juntou novamente a Jared French e sua esposa, Margareth Hoening, para formar o coletivo fotográfico PaJaMa (PAul, JAred e MArgareth). Por aproximadamente oito anos, o trio fez várias fotografias de autoria colaborativa com seus amigos, jovens artistas, dançarinos e escritores de Nova York, como George Platt Lynes, George Tooker, Glenway Wescott e Jensen Yow.

Em certa ocasião, Cadmus explicou:

Depois de trabalharmos a maior parte do dia, saíamos tarde e fotografávamos quando a luz era melhor. Os resultados eram apenas brincadeiras. Distribuíamos essas pequenas fotos quando íamos a jantares, como cartas de baralho.

As fotos em preto e branco eram feitas na praia (Cape Cod e Fire Island) ou em ambientes fechados, vestindo roupas improvisadas e construindo conjuntos e adereços a partir da arquitetura e objetos encontrados. Cadmus preferia ficar atrás da câmera, enquanto French e Margareth eram modelos frequentes. As imagens quase oníricas costumavam servir de estudo para as pinturas dos artistas.

Grande parte do acervo fotográfico do coletivo se encontra no Smithsonian American Art Museum. A seguir, relíquias retiradas dos contatos fotográficos do museu.

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