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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 FAMÍLIA-ESCOLA, QUE TIPO DE RELAÇÃO É ESSA? SERPE, Bernadete Machado (UEPG) 1 ROSSO, Ademir José (UEPG) 2 Agência financiadora: CAPES e CNPq Introdução O papel da família na educação escolar dos filhos é exaustivamente criticado, discutido e cobrado por professores e educadores, principalmente das modalidades de ensino fundamental e médio, por desencadear uma série de problemas na socialização dos estudantes. Essa discussão norteia a problemática central do presente estudo que mostra indícios de uma representação social que se tem da família quando os alunos apresentam problemas de conduta e/ou de fracasso escolar (VARANI; SILVA, 2010). A discussão referente a idealização da relação professor-aluno desenvolvida por Aquino (1996) mostra elementos pertinentes ao trabalho docente como participação, aspectos da sala de aula, da escola e do aluno. E ainda, que o professor quando elabora regras para a convivência em sala de aula imagina um tipo de aluno, e é a partir desse imaginário que estabelece a distinção do certo e do errado. Nesse contexto a participação é fator nuclear, e o aluno ideal é que participa das aulas e responde à expectativa docente. Mas, acontece que existe uma diversidade muito expressiva de alunos dentro de uma sala de aula, o que pode provocar certa frustração ao docente. A ausência de comunicação entre professor-aluno desencadeia um mal estar docente por um lado e uma aversão à matéria por parte do aluno que não simpatiza com o professor. É nessa dualidade que reside a grande expectativa dos professores em relação à família, expectativa que se transforma em lamentações no momento transferem toda sua falta de 1 Licenciada em Pedagogia. Doutoranda em Educação pela UEPG. [email protected] 2 Licenciado em Ciências e Biologia. Doutor em Educação pela UFSC. Professor da Licenciatura de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. [email protected]

FAMÍLIA-ESCOLA, QUE TIPO DE RELAÇÃO É ESSA? · existe uma boa comunicação entre família e escola. A presença e participação dos pais nas reuniões não são determinantes

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FAMÍLIA-ESCOLA, QUE TIPO DE RELAÇÃO É ESSA?

SERPE, Bernadete Machado (UEPG)1

ROSSO, Ademir José (UEPG)2

Agência financiadora: CAPES e CNPq

Introdução

O papel da família na educação escolar dos filhos é exaustivamente criticado,

discutido e cobrado por professores e educadores, principalmente das modalidades de

ensino fundamental e médio, por desencadear uma série de problemas na socialização

dos estudantes. Essa discussão norteia a problemática central do presente estudo que

mostra indícios de uma representação social que se tem da família quando os alunos

apresentam problemas de conduta e/ou de fracasso escolar (VARANI; SILVA, 2010).

A discussão referente a idealização da relação professor-aluno desenvolvida por

Aquino (1996) mostra elementos pertinentes ao trabalho docente como participação,

aspectos da sala de aula, da escola e do aluno. E ainda, que o professor quando elabora

regras para a convivência em sala de aula imagina um tipo de aluno, e é a partir desse

imaginário que estabelece a distinção do certo e do errado. Nesse contexto a participação é

fator nuclear, e o aluno ideal é que participa das aulas e responde à expectativa docente.

Mas, acontece que existe uma diversidade muito expressiva de alunos dentro

de uma sala de aula, o que pode provocar certa frustração ao docente. A ausência de

comunicação entre professor-aluno desencadeia um mal estar docente por um lado e

uma aversão à matéria por parte do aluno que não simpatiza com o professor. É nessa

dualidade que reside a grande expectativa dos professores em relação à família,

expectativa que se transforma em lamentações no momento transferem toda sua falta de

1 Licenciada em Pedagogia. Doutoranda em Educação pela UEPG. [email protected] 2 Licenciado em Ciências e Biologia. Doutor em Educação pela UFSC. Professor da Licenciatura de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. [email protected]

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êxito no cumprimento de seu dever pedagógico (NAVARRO, 2004). E isso termina por

promover um desgaste na relação família-escola.

As informações, fonte de inspiração desse texto, procedem de comentários

sobre educação escolar, postados na internet na página denominada “revista educação

pública” mantida pelo governo do estado do Rio de Janeiro. As opiniões provem de

discussões de temas distintos, porém interligados como mostraremos na tessitura desse

estudo, realizadas em fóruns com temáticas voltadas às problemáticas de sala de aula.

Os emissores das referidas opiniões são em sua maioria professores, mas também há

contribuição de alguns pais, avós e até mesmo alunos, há ainda apreciações de outros

profissionais como psicólogos, pedagogos, administradores entre outros.

O estudo é exploratório e vem contribuir numa investigação mais ampla que

envolve a relação entre desenvolvimento moral e o processo de aprendizagem escolar de

crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As discussões

decorrentes de fóruns na internet produzem um material rico em informações

espontâneas que contribui para o estudo das representações sociais, já que o internauta é

movido por interesse pessoal nas respostas ao fórum. (WACHELKE et al, 2011).

Um estudo combinando dois instrumentos de coleta de informações,

questionários distribuídos a acadêmicos e respostas à um fórum pela internet, foi

proposto por Wachelke et al (2011) que considera a internet como um precioso campo

para se obter informações relevantes quando se considera as representações sociais. As

discussões propostas no trabalho mencionado resultam da análise de dois temas:

envelhecimento e futebol. O objetivo da investigação está em testar a validade das

amostras obtidas pela internet.

Conforme o autor, a população que tem mais acesso à internet possui um nível

de educação escolar maior e provem de uma realidade social mais elevada do que a

maioria da população em geral. Isso colabora nas análises, já que 10% dos comentários

no fórum não procediam da população alvo. No entanto os resultados mostram que a

internet se assemelha à procedimentos convencionais na coleta de informações

conforme o objeto de estudo.

Uma informação relevante obtida pela internet é o maior número de

participantes do sexo masculino e com idade mais elevada que da amostra dos

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questionários. Outro elemento importante está relacionada ao interesse do emissor em

participar das discussões, ou seja, pela internet participa livremente opinando sobre um

tema de interesse pessoal. Há ainda o elemento de triangulação metodológica que

garante maior amparo à representação (WACHELKE et al, 2011).

A discussão da relação família-escola e o conteúdo dos comentários são

expostos ao longo do texto. Há ainda a apresentação da análise do relatório emitido pelo

software ALCESTE3 que aponta um indício de representação social dos professores em

relação à família.

Existe uma relação entre família e escola?

Quando se fala em fracasso escolar se pensa em culpados, que geralmente se

reduzem a três sujeitos: aluno – família – professor, necessariamente nessa ordem. O

primeiro a denunciar o fracasso escolar é o professor que vê o aluno como

indisciplinado, irresponsável, desinteressado, e logo atrás desse sujeito está uma família

que é desestruturada, irresponsável, que não acompanha a vida escolar dos filhos e que

se interessa apenas por benefícios sociais concedidos pelo governo federal. No entanto,

uma hipótese para essa culpabilização pode estar alicerçada na inversão de

responsabilização que emergiu na década de 90 com efervescência do neoliberalismo.

Nesse sentido, o poder público não dá condições para que o profissional da educação

exerça satisfatoriamente sua função, e atribui a esse a culpa pelo fracasso de seus

alunos. (CRAVALHO, 2004).

Como se não bastasse a pressão do poder público com a crescente demanda de

avaliações, que visam mais interesses políticos do que sociais, há também a questão da

mídia que mostra o professor como incapaz de cumprir com suas atribuições, ou melhor

dizendo: qualquer pessoa é capaz de promover a educação na escola (Ex. “Amigos da

escola”), então por qual motivo o professor não consegue? Talvez esses sejam algumas

das motivações que levam os professores a atribuírem à família a culpa pelo fracasso

escolar de seus filhos. 3 Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte.

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Navarro (2004) caracteriza os significados e as atribuições de papéis por parte

da família e da escola, apontando uma relação assimétrica entre as duas. Já que o

interesse da escola se firma na necessidade de que os esforços da família sejam

direcionados e adequados ao trabalho educativo escolar. A família apesar de reconhecer

a importância da aprendizagem escolar, se interessa que seja priorizada a aprendizagem

para a vida na escola.

A escola idealiza o bom aluno e atribui a essa idealização um indivíduo

disposto a aprender, cooperar, criativo, autônomo e encaixado nos padrões escolares.

Para os professores a participação da família é essencial, mas essa expectativa é levada

a dois extremos: desempenho e conduta. O aluno que apresenta bons resultados a

participação da família se limita ao comparecimento às reuniões, controle e ajuda no lar.

Porém, quando o aluno tem um comportamento difícil, rendimento inferior ao esperado,

a escola precisa de maior presença dos pais para aconselhar e advertir sobre essa

situação.

Ao discutir sobre a participação que a escola (professores) requer dos pais,

Carvalho (2004) expõe pontos centrais que influenciam no modo como a escola enxerga

essa participação. A discussão centra-se em argumentos como, a questão de gênero, quando

se reportam aos pais, mas na realidade se referem às mães; o modelo de família idealizado

pela escola; as relações históricas que demarcam o cotidiano escolar; e, também o modo de

produção e o modelo de sociedade que influenciam diretamente ma pretensa relação

família-escola.

Na visão da escola participação significa presença nas reuniões e mais

especialmente o essencial que é o “acompanhamento dos deveres de casa e das notas”

(CARVALHO, 2004, p. 44). Varani e Silva (2010) também levantam essa preocupação

no sentido de que a escola restringe a participação dos pais ao aspecto financeiro, em

eventos pontuais organizados pela escola. Por se apresentar como condição

fundamental, conforme os professores, o ideal de participação dos pais na escola seria a

participação democrática nas tomadas de decisões.

Como mostra Carvalho (2004), a família prevê interesses mais amplos na

educação dos filhos do que aqueles mencionados no currículo escolar. Mas à escola

interessa a adesão dos pais como parceiros na educação escolar de seus filhos, porém

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‘parceria’ prevê uma relação de iguais, bem distinta da que se tem quando se trata da

relação família-escola.

Disso emerge a divisão de responsabilidades entre escola e família, que resulta

numa inversão de papéis na qual é cobrado da família o ensina aos filhos dos saberes

formais, e a escola se ocupa de cobrar dos alunos normas de conduta. Essa inversão

contraria as atribuições tanto da escola como da família. Já que há uma distinção nas

responsabilidades da família e da escola em que “à família cabe o papel de cuidar e

educar bem as crianças e à escola cabe cuidar da educação formal (sistemática) e

promover o desenvolvimento físico, social, intelectual, emocional, moral e afetivo dos

alunos.” (VARANI; SILVA, 2010, p.524-525).

Conforme as autoras, existe um grande equívoco em culpabilizar o fracasso

escolar do aluno por sua origem social e sua base familiar, pois “[...] a estrutura da

família é também resultado de uma estrutura social, e a relação família-escola também é

resultado de outras relações sociais.” (IDEM, 2010, p. 518). O que acontece é que não

existe uma boa comunicação entre família e escola. A presença e participação dos pais

nas reuniões não são determinantes na constituição do bom ou do mau aluno, outros

fatores devem ser considerados sejam eles sociais, políticos, econômicos ou culturais.

Por mais que a família desempenhe um papel essencial no desenvolvimento das

crianças, não há como a considerar como a única responsável pelo sucesso ou fracasso

escolar de seus filhos. (IDEM, 2010).

Procedimentos para coleta e análise das informações

Nesse trabalho analisamos 236 comentários provenientes da discussão de 20

temas (tabela 1) que tratam da educação escolar em do site sobre educação pública do

governo do estado do Rio de Janeiro. Nos fóruns os participantes são em sua maioria

professores (198), mas há também comentários de pedagogo (01), estagiário (01), pais

(27), avós (02), estudantes (2) e também profissionais de outras áreas (05). Para a

seleção buscamos nos temas aqueles que apresentavam as palavras: pais, pai, mãe ou

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família. O conjunto textual resultou no corpus Família-escola com 236 comentários que

foi processado pelo software Alceste.

O programa executa a leitura, classifica as palavras de acordo com suas

ocorrências e as agrupa em classes. Cada comentário compõe uma unidade de contexto

inicial (UCI), a divisão das UCIs em segmentos de texto gera as unidades de contexto

elementar (UCE). (CAMARGO, 2005). O dendograma apresentado na Tabela 2 mostra

o resultado da classificação hierárquica descendente (CHD), que permite a visualização

da estabilidade das classes. O corpus foi formado por 5 classes ordenadas. Das 236

UCIs resultaram 839 UCEs, das quais foram analisadas 623 que totalizaram 74,26% do

corpus. O valor mínimo do X2 (qui quadrado) é 3,84, mas nesse estudo consideramos

esse valor multiplicado por dois.

Preparamos o texto para o processamento no software a partir de alguns ajustes

nos termos que poderiam comprometer a leitura realizada pelo programa. Reduzimos o

termo pais a fpai quando era atribuído o sentido de família; os termos aluno, aluna

foram reduzidos à alun_, e o plural para alun_s; já o termo filho, filha e plural

respectivos para filh@; professor, professora e o plural para profess_.

Tabela 1: Classificação dos Temas em relação às Classes do Corpus Família-escola

Classe 1 Classe 4 Classe 2 Classe 3 Classe 5

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Temas 2 - O que o professor deve fazer para conseguir melhores condições de trabalho? 11 - Como se impor diante de alunos que não têm o menor respeito em sala de aula? 12 - Como você lida com turmas muito bagunceiras?

6 - A impunidade ajuda a aumentar a indisciplina? 7 - Como a afetividade pode interferir negativamente em sala de aula? 8 - Como a família pode ajudar o filho diante das sua dificuldades escolares?,

12 - Como você lida com turmas muito bagunceiras? 16 - Os conteúdos escolares correspondem aos anseios, às capacidades e às experiências dos alunos? 18 - Como os professores podem enfrentar a violência na escola?

1- Como trabalhar ética e valores para incentivar os alunos a viverem com mais harmonia e respeito? 3 - Que atitude um professor deve tomar ao ser agredido - verbal ou fisicamente - por um aluno? Que consequências isso irá trazer? 10 - Os alunos deixaram de sonhar com o futuro e por isso perderam o respeito pelo professor? 14 - A afetividade colabora para a relação do professor com o aluno indisciplinado? 16 - Os conteúdos escolares correspondem aos anseios, às capacidades e às experiências dos alunos? 17 - Quais as causas de um comportamento agressivo na escola? O que é civilidade? 20 - Quais os limites da liberdade na educação de crianças e jovens? Por que alguns pais estão procurando escolas com perfil mais rígido e conservador para a educação de seus filhos?

4- Qual a importância da reunião entre pais e professor na escola? 13 - Como trabalhar com crianças carentes que não têm motivação para os estudos? 15 - Como os pais

podem participar da vida escolar de seus filhos? 19 - Que contribuição efetiva os pais podem dar aos educadores?

19 - Que contribuição efetiva os pais podem dar aos educadores? 20 - Quais os limites da liberdade na educação de crianças e jovens? Por que alguns pais estão procurando escolas com perfil mais rígido e conservador para a educação de seus filhos?

Tabela 2: Dendograma da Classificação Hierárquica descendente do Corpus Família-escola

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Palavras N X2

sociedade 28 61,11

valores 22 46,5 Palavras N X2 Palavras N X2

Palavras N X2 Palavras N X2 meios 13 26,83 participar 14 92,59 fpai 82 73,41ficar 32 38,24 anos 28 73,42 social 19 25,6 reuniões 13 87,58 filh@ 67 54,24dia 29 37,92 educacao_infantil 8 45,61 ética 10 25,19 atividades 8 65,01 educação 61 49,03querem 31 29,07 ensino_fundamental 9 44,52 comunicação 8 23,65 conhecer 8 58,38 dão 8 28,75melhorar 14 26,51 curso 6 34,09 mídia 7 20,66 escolares 7 43,01 cabe 10 26,84hora 12 25,14 chamar 11 30,64 reflexo 7 20,66 verificar 4 36,19 responsabilidade 20 23,57ver 9 17,85 série 8 29,04 espaço 9 18,67 experiências 6 33,67 maior 16 21,12recreio 7 16,89 turma 8 25,41 família 44 18,51 projeto 6 33,67 vem 11 20,93tirar 12 16,31 diretora 10 23,69 educacional 10 18,45 ações 4 28,91 momento 10 20,41mandam 8 15,46 tenho 14 23,03 cultural 6 17,68 realizar 5 28,66 contribuição 5 17,88medo 9 14,71 ameaçada 4 22,66 sentido 6 17,68 encontro 6 26,86 dia_a_dia 5 17,88aguentar 6 14,45 amiga 4 22,66 busca 12 16,51 opinião 5 24,9 família 38 15,4castigo 6 14,45 época 4 22,66 base 8 15,87 atitudes 7 24,62 limites 21 15,26lembram 6 14,45 suspensão 4 22,66 afetividade 9 15,76 escola 32 21,76 casa 21 14,35condições 10 14,33 funcionários 5 22,02 permissividade 5 14,71 for 4 19,85 procuram 13 13,67tomar 10 14,33 salas 13 21 pretende 5 14,71 político 5 19,29 coloca 12 12,68atenção 11 14,17 feito 5 17,54 conteúdos 6 13,49 caminhar 3 18,91 problemas 17 12,21dizer 16 13,35 trata 5 17,54 estrutura 6 13,49 garantir 3 18,91 jogam 8 12,11pessoas 19 13,17 magistério 3 16,96 convivência 9 13,34 tarefas 5 17,15 orientando 8 12,11gostam 7 13,08 netinho 3 16,96 morais 8 13,13 grupos 4 16,86 papel 11 11,7vou 7 13,08 nota 4 16,58 bons 7 13,12 educadores 7 15,63 sabem 21 11,19estudar 14 12,74 secretaria 4 16,58 resgatar 7 13,12 acompanhamento 3 14,84 responder 3 10,69interesse 12 12,28 único 4 16,58 liberdade 14 12,73 juntos 4 14,48 enfrentamos 6 10,63olhar 9 12,15 correto 4 12,58 afetivo 4 11,75 comparecer 2 14,38 boa 8 10,32agradando 5 12,03 ensino_médio 4 12,58 esteja 4 11,75 diárias 2 14,38 rígida 5 10,09brincar 5 12,03 meses 4 12,58 violento 4 11,75 horário 2 14,38 ação 4 9,89certeza 5 12,03 triste 4 12,58 mundo 13 10,78 fpai 26 13,22 deve 24 9,43sair 5 12,03 indisciplinados 3 11,28 dando 5 10,65 comunidade 4 12,55 aprendizagem 7 9,42fazer 33 11,75 leciono 3 11,28 desenvolver 5 10,65 solução 4 12,55 entender 8 8,8caderno 6 10,74 quiser 3 11,28 humana 7 10,58 vir 4 12,55 mesma 8 8,8fizeram 6 10,74 razão 3 11,28 violência 12 10,11 vida 9 11,43 acredito 14 8,48deus 10 10,18 alun_s 41 11,11 sonhar 9 9,61 deveriam 8 10,87 escola 62 8,41mostrar 9 10,05 acho 15 10,6 afetiva 3 8,8 alternativas 2 9,86 aumento 5 7,75coisa 19 9,92 fato 6 10 alienada 3 8,8 avaliação 2 9,86 casos 5 7,75irá 4 9,61 pedagoga 6 10 civilidade 3 8,8 interação 2 9,86 desenvolvimento 5 7,75quebrar 4 9,61 falar 12 9,93 equilíbrio 3 8,8 tendem 2 9,86 função 5 7,75teve 4 9,61 agressivos 4 9,77 universo 3 8,8 conhecimentos 4 9,61aprender 11 8,88 baixa 4 9,77 verdadeiro 3 8,8 pedagogia 4 9,61mudar 11 8,88 normal 4 9,77 consequência 7 8,56 pública 5 9,21sala_de_aula 20 8,6 mãe 10 8,93 relação 14 8,28 cobrar 4 8,47devido 5 8,43 sei 6 8,62 reflete 6 8,13 presentes 3 8,17livre 5 8,43 conselho_tutelar 3 7,94 falta 15 8,09 podemos 12 7,79simplesmente 6 8,05 assista 4 7,71 demanda 4 7,87psicólogo 7 8 envolve 4 7,87salário 7 8 mínimo 4 7,87vão 7 8 natural 4 7,87

ordem 4 7,87solidariedade 4 7,87costumes 5 7,85informações 5 7,85prejudica 5 7,85limite 20 7,76

Corpus Família-escola 236 UCI, 623 UCE, 74,26%

Classe 1 Alternativas para o problema , 184 uces, 29,53%

Classe 4 Indagações sobre o problema , 94 uces, 15,09%

Classe 2 Família, 159 uces, 25,52%

Classe 3 Relação família-escola , 49 uces, 7,87%

Classe 5 Núcleo familiar , 137 uces, 21,99%

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A primeira partição em que se inserem as classes 1 e 4 tratam especificamente

das informações referente aos alunos e à família mencionados por outros sujeitos e não

somente pelos professores. Na segunda partição o que aparece nas classes 2, 3 e 5

representa o universo familiar e a visão que os professores possuem da família. Nessa

relação é possível identificar o modelo de família desejado pelo professor, modelo que

contribua com o desenvolvimento de seu trabalho.

A classe 1, alternativas para o problema, é composta por 29,53% do corpus e

possui 184 UCEs, é a mais representativa no corpus. Os sujeitos são Deus e psicólogo,

alguns dos verbos que expressam as ações são: estudar, sair, brincar, melhorar, tirar,

tomar, aprender, ver, aguentar. Os substantivos que atribuem significado às ações e aos

sujeitos se referem à dia, hora, recreio, castigo, condições, atenção, pessoas, interesse,

certeza, caderno, coisa, simplesmente, sala de aula, e são acompanhados dos

qualificativos medo, devido, livre.

Os fpai devem cobrar mais dos filh@s, olhar o material, ver o caderno, elogiar, e se estiver errado corrigir, o comportamento vem de casa. Tem mãe reclamando que quando mudou o filh@ de escola ele melhorou isso porque ouvia dizer que se mudasse de escola seria melhor então já colocou em mente que aquela em que estudava não prestava e para a nova ele foi com mais entusiasmo. (comen_134) Eu que estou em sala, vendo o que esta acontecendo, tenho muito medo do futuro, pois daqui um pouco, estas crianças sem limites, sem noção do certo e errado, vão criar seus filh@s deus sabe como! (comen_55) Onde andam os fpai? Como a escola pode fazer alguma coisa se a criança fica dentro dela quatro horas, onde ela aprende o certo e o errado, mas em contrapartida, fica o resto do dia em qualquer lugar, sem o cuidado que deveria ser devido. (comen_04)

Os adjetivos reforçam a nomenclatura da classe, e sinalizam para uma forma

heterônoma como alternativa para os problemas enfrentados em sala de aula.

A classe 4, indagações sobre o problema, integra 15,09% do corpus com 94

UCEs Os sujeitos são funcionários, netinho, alun_s, pedagoga, mãe, conselho tutelar;

alguns dos verbos que expressam as ações são: chamar, ameaçada, quiser, falar, sei,

assista. São alguns dos substantivos que atribuem significado às ações e aos sujeitos

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curso, série, época, suspensão, secretaria, nota, que são acompanhados do

qualificativos diretora, único, correto, triste, indisciplinados, agressivos, baixa, normal. Ele vai à escola, mas não assiste aula, fica no pátio perturbando todas as salas e funcionários. Já foi suspenso, encaminhado ao conselho_tutelar que nada resolveu e, por último encaminhado, ao promotor. (comen_36) O sistema educacional de hoje está criando analfabetos com certificado de conclusão de ensino_médio. Na minha época, e olha que tenho apenas 35 anos, os alun_s tinham que tirar nota para passar de ano e concluir as séries, hoje não. (comen_135) Gostaria de saber qual a lei permite que eu, como mãe, assista uma aula na sala de meu filh@, fundamental I 4 série.Fico no aguardo de uma resposta positiva. (comen_112)

O sujeito principal são os alunos, porém são vistos de forma negativa dentro do

contexto maior, ou seja, a criança não é preparada para chegar à escola com os pré-

requisitos necessários para se desenvolver como um bom aluno.

Na classe 2, família, estão presentes 25,52% do corpus com 159 UCEs. Há um

único sujeito a família. As ações são: busca, pretende, resgatar, esteja, dando, desenvolver,

sonhar, reflete, envolve, prejudica. Alguns dos substantivos da classe são sociedade,

valores, ética, comunicação, mídia, espaço, base, afetividade, permissividade, estrutura,

liberdade, civilidade, equilíbrio, ordem. Os qualificativos que acompanham as ações e os

substantivos são social, reflexo, educacional, cultural, sentido, morais, bons, afetivo,

violento, alienada, verdadeiro, mínimo, natural. As ações e os substantivos posicionam a

família no centro da classe. Ética e valores são temas que devem ser trabalhados constantemente pela escola e a família. Devemos considerar uma relação de respeito entre família e escola; respeito às diferenças, às singularidades, à diversidade cultural. (comen_02) A agressão hoje é um problema social que envolve família, mídia, escola, costumes sociais etc. A falta de modelos educacionais adequados não é o suficiente em si para motivar comportamentos rebeldes e agressivos. (comen_158) O resultado de tudo isso é uma sociedade cada vez mais alienada e incapaz de refletir criticamente sobre o rumo que está seguindo. Há uma urgente necessidade de rever nossos valores, nossas escolhas e nossas posições, se não quisermos sucumbir a lógica da materialização, imposta pela mídia. (comen_100)

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A família tem suas atribuições bem definidas pelas ações e substantivos, mais

que isso, a classe mostra uma visão negativa da família a qual não se ocupa de criar o

filho para o convívio social.

A classe 3, relação família-escola, representa 7,87% do corpus com 49 UCEs.

Os sujeitos dessa classe são educadores e fpai. Algumas das ações: participar,

conhecer, verificar, realizar, caminhar, garantir, comparecer, vir, deveriam, cobrar, se

articuladas a alguns dos substantivos reuniões, atividades, experiências, projeto,

encontro, atitudes, grupos, acompanhamento, solução, avaliação, interação, e aliados

aos qualificativos escolares, político, juntos, horário, presentes, expressam a relação

tanto requerida pelos professores para uma verdadeira aprendizagem escolar. Tornou-se muito comum cobrar da escola atitudes que deveriam ser tomadas pelos fpai, por isso acho que os fpai deveriam ser cobrados nas suas responsabilidades, tanto quanto nós profess_ somos. (comen_126) Os fpai, primeiramente, têm que se fazer presentes na vida escolar de seus filh@s participando das reuniões escolares e expondo as dificuldades encontradas por eles, para que educador e profess_ trabalhem em conjunto. (comen_189) Conhecer o projeto pedagógico da escola, participar das reuniões, verificar as atividades diárias do alun_. No meu caso, que sou mãe de um garoto disléxico, tenho que estudar com ele. (comen_131)

A classe 5, núcleo familiar, detém 21,99% do corpus com 137 UCEs.

Aparecem os sujeitos fpai, filh@, família. As ações são: dão, cabe, vem, procuram,

coloca, jogam, orientando, sabem, responder, enfrentamos, deve, entender, acredito.

Alguns substantivos dessa classe são educação, responsabilidade, contribuição, limites,

casa, problemas, papel, aprendizagem escola, desenvolvimento, função. Os

qualificativos são maior, rígida. A questão de limitar a ação de nossos filh@s deve estar presente desde os 1º momentos em que se inicia a relação fpai e filh@s. Educar pressupõe estar atento ao que o filh@ nos coloca como realidade de sua personalidade e não como aquilo que idealizamos como o filh@ perfeito. (comen_200) Observamos que os fpai vem cada vez mais transferindo para a escola as suas responsabilidades na orientação de seus filh@s. A opção pela escola mais rígida poderia ser sinalizada como um pedido de socorro, com relação a colocação de limites. (comen_235)

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Acredito que uma das maiores contribuições que os fpai podem dar aos educadores é tentar perceber que o educador tem como objetivo continuar a educação que eles, fpai, dão aos seus filh@s em casa. (comen_197)

Por meio da combinação dos qualificativos com as ações e os substantivos

transparece o que os professores almejam da família para o êxito na educação escolar.

Considerações finais.

A discussão que parte dessa pesquisa exploratória, considera que há indícios da

existência de uma representação social (RS) dos professores referente aos pais ou à

família, já que a maior parte dos comentários (198) procediam de professores, há ainda

a opinião partilhada por esse grupo, que tem presente aspectos que revelam certa

cumplicidade referente as informações. A Teoria das RS se caracteriza por fundamentar

a construção dos conhecimentos cotidianos. Apresenta o senso comum e o analisa a

partir da vida cotidiana das pessoas, tem como finalidade a criação de um elemento

comum a todos que participam do grupo, e a produção do consenso dentro desse grupo

(MOSCOVICI, 1985).

Existe uma organização presente nos grupos, a qual implica a busca pelo

entendimento sobre o que se passa no interior do grupo, não partindo exclusivamente de

um indivíduo porque uma informação não depende somente de um emissor

(RETONDAR, 2007). No entanto, o papel do sujeito é essencial na definição de uma

RS, porque é desencadeada por uma criação e uma vontade do sujeito (MOSCOVICI,

1985). A abordagem dimensional proposta por Moscovici (1978) trata da importância

de se considerar os três elementos centrais na constituição de uma RS: a informação, a

atitude, e o campo. A informação expressa o conhecimento que determinado grupo tem

referente a um objeto social; a atitude é delineada a partir do posicionamento que o

grupo tem em relação ao objeto social; e, o campo se define pela forma como o grupo

abstrai, em forma de imagem, o objeto social.

No presente estudo a questão foi verificar o que os comentários de internautas

sobre o tema educação escolar, revelam quando comentam sobre a família. Os

professores demonstram um conhecimento em relação à família, porém esse

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conhecimento compartilhado surge das relações e experiências que se estabelecem em

sala de aula com os alunos, e que podem instigar o imaginário docente a um equívoco.

Das informações pode-se concluir uma visão negativa da família pelo professor

A imagem que se tem da família é confusa, desordenada, desestruturada. Isso

se determinado pela ausência da família na vida escolar dos filhos e pela desestrutura da

família. As lamentações dos professores sustentam a hipótese de que existe uma

concepção voltada a um modelo de família ideal, que prepara a criança para a vida

escolar e que tenha presente os princípios exigidos para a boa convivência no ambiente

escolar.

O verbo mais utilizado é participar, dessa forma podemos considerar que os

professores tem a representação que se houvesse uma efetiva participação dos pais na

vida escolar dos filhos, a questão pedagógica em sala de aula seria também resolvida.

Tendo o pressuposto de que o aluno que tem uma família estruturada, de base sólida,

com pais preocupados com seu desempenho escolar, consegue o sucesso escolar, já o

oposto usufrui do fracasso escolar, além de promover um desgaste profissional e

emocional no professor.

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