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JULIANE ALVES DE SOUSA FAMÍLIA E ESCOLA: DESAFIOS DE UMA RELAÇÃO Londrina 2011

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JULIANE ALVES DE SOUSA

FAMÍLIA E ESCOLA: DESAFIOS DE UMA RELAÇÃO

Londrina2011

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Juliane Alves de Sousa

Família e Escola: desafios de uma relação

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina,  como requisito  parcial  para a obtenção do título de licenciada em Pedagogia.

Orientadora: Profª. Sandra Regina Mantovani Leite.

Londrina 2011

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BANCA EXAMINADORA

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Profª. Ms. Sandra Regina Mantovani Leite

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Profª. Ms. Vilze Vidotti 

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Profª. Dra. Anilde Tombolato Tavares da Silva

LONDRINA2011

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade concedida de poder 

fazer parte de uma tão renomada instituição de ensino, e pela graça de concluir com 

muita dedicação e compromisso este curso de formação em nível superior.

Ao   corpo   docente   que   ao   longo   do   curso   foram   fundamentais   e 

contribuíram com seus conhecimentos e esforços para que minha formação fosse a 

melhor possível.

Aos  meus  colegas  de   classe,  os  quais   contribuíram da  uma   forma 

peculiar   para   o   meu   aprendizado,   especialmente   minha   inesquecíveis   amigas, 

Mayara   Caroline,   Simone   Amaral,   Simoni   Leite,   Vanessa   Beatriz,   Vanessa 

Gonçalves   e   Letícia   Martins,   as   quais   ao   longo   do   curso   me   proporcionaram 

momentos alegres e me deram forças nas dificuldades encontradas.

A meu esposo, Fabrício pela paciência em esperar que estivesse livre 

alguns momentos para estar ao seu lado, e pela força  que sempre me inspirou.

A minha família,  mãe,  irmãs e especialmente Margarida com a qual 

pude   contar   na   maioria   das   vezes   possibilitando   a   frequência   as   aulas, 

especialmente  aos estágios,   fundamentais  para  minha  formação.  Essas pessoas 

contribuíram de forma afetiva e amorosa cuidando de minhas filhas nos momentos 

de minha ausência materna.

A escola local da pesquisa, especialmente a  Ângela coordenadora do 

Projeto Escola de Pais, que sempre  mostrou­se disposta a ajudar­me com todas as 

informações necessárias para o desenvolvimento deste estudo.

Enfim agradeço a minha querida orientadora Sandra Regina Mantovani 

Leite,  pelo compromisso em aceitar­me como orientanda e pela  luz projetada ao 

longo de toda a pesquisa, sem a qual não teria conseguido realizá­la.

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SOUSA, Juliane Alves de. Família e Escola: desafios de uma relação. Trabalho de Conclusão   de   Curso   (Graduação   em   Pedagogia)   –   Universidade   Estadual   de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

Analisando   o   cenário   educacional   brasileiro   na   atualidade   é   indispensável   à contextualização  das  duas  principais   instituições   responsáveis   pela   formação  do sujeito família e escola, bem como realizar uma reflexão identificando as funções de cada uma e os desafios encontrados para a construção de uma relação em que ambas   se   respeitem   e   contribuam   para   o   êxito   no   trabalho   desenvolvido. Considerando que cada  instituição possui  seus aspectos particulares,  o  presente trabalho   busca   estudar   as   mudanças   históricas   vivenciadas   pelas   famílias   que resultam   na   constituição   de   diferentes   arranjos   familiares.   Analisando   essas diferentes composições familiares, presentes na sociedade atual, pode­se perceber que independente de sua estrutura, a família, é  a primeira instituição responsável pela formação humana, afetiva, psicológica e social do sujeito. Contextualiza­se o papel da escola imersa nesta sociedade em que os conceitos de democracia estão presentes   e   ressalta   a   pessoa   do   gestor   como   agente   promotor   de   ações democráticas   no   interior   da   escola,   garantindo   a   participação   efetiva   de   toda comunidade escolar  visando a   transformação da escola.    Para  isso  é   feito  uma análise  do Projeto  Escola de Pais  numa escola da  rede Particular  de ensino na cidade de Ibiporã, como exemplo para viabilizar a relação família­escola, este projeto em suma é a criação de um espaço efetivo de participação em que os pais sentem­se   partes  integrantes da escola.  Seguindo essa  linha de raciocínio os objetivos formulados para este estudo são:Refletir sobre a participação da família na escola. Interesse   ou   imposição?   Verificar   a   especificidade   de   cada   instituição   família   e escola. Identificar aspectos relevantes da atuação do profissional Pedagogo para um bom desenvolvimento da relação entre a família e a escola. Analisar o projeto Escola de Pais, como forma/exemplo de participação efetiva da família na escola.

Palavras­chave: Família­ Escola.  Participação efetiva. Gestão Democrática.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­06

CAPÍTULO I

1. Antecedentes históricos­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­08

1.1. A família no Brasil­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­12

1.2. As diferentes composições familiares­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­11

1.3.  Funções da família­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­13

1.4. Modificações constantes­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­18

CAPÍTULO II

2.  As diferentes modalidades da educação­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­20

2.1. A educação escolar e sua função social­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­24

2.2. A transformação da escola e papel do pedagogo­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­26

2.3. Os condicionantes da participação popular­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­28

CAPÍTULO III

3. Construindo uma relação­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­30

3.1. Descrevendo o Projeto­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­34

3.2.  Os relatos dos envolvidos­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­37

3.3. Estratégias para atrair os pais­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­40

CONSIDERAÇÕES FINAIS­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­42

REFERÊNCIAS­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­44

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INTRODUÇÂO

A presente pesquisa com o tema  Família e Escola: desafios de uma 

relação, busca de uma forma qualitativa analisar a relação entre as duas instituições 

e  os  desafios  que necessitam ser  superados para  o  favorecimento  de  uma boa 

relação, tendo como foco o Projeto Escola de Pais.

A   pesquisa   desenvolvida   teve   início   com   um   estudo   teórico   sobre 

ambas  as   instituições  e  posteriormente  uma  análise   do  projeto  Escola  de  Pais, 

observado e experienciado por mim. A descrição dos dados observados no projeto é 

de   cunho   etnográfico   e   a   análise   dos   mesmos   realizado   por   meio   do   método 

qualitativo.   Este   estudo   foi   tido   como   parâmetro   para   responder   aos 

questionamentos   oriundos  desta   pesquisa.   A   Participação   da   Família   na   escola 

acontece de maneira natural? É   imposta as Famílias? Como o Pedagogo poderá 

contribuir para maior participação da família na escola? 

Tendo como objetivos deste estudo:

­   Refletir   sobre   a   participação   da   família   na   escola.   Interesse   ou 

imposição?

­ Verificar a especificidade de cada instituição ­ família e escola.

­  Identificar aspectos relevantes da atuação do profissional Pedagogo 

para um bom desenvolvimento da relação entre a família e entre a escola.

­   Analisar   o   projeto   Escola   de   Pais,   como   forma/exemplo   de 

participação efetiva da família na escola.

O estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro capitulo procura­se 

trabalhar o contexto histórico da instituição familiar e as transformações que sofreu 

em   toda   sua   trajetória   desde   a   era   primitiva   até   os   dias   atuais,   suas   funções 

enquanto instituição social  e competências no desenvolvimento do sujeito.  Sendo 

uma instituição criada pelos homens acompanha o movimento social em diferentes 

tempos.  Sendo a  primeira  célula   responsável  pela   formação do sujeito  a   família 

também   “cumpre  sua   função   ideológica   em   complementação   a   outros   agentes 

sociais”, (REIS, 2001, p. 103), a subordinação dentro do grupo familiar faz com que 

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marcas sejam deixadas nos aspectos emocionais  e  na personalidade do sujeito, 

podendo por meio das relações em seu núcleo contribuir para iniciar o processo de 

reprodução da ideologia dominante.

No   segundo   capítulo,   apresentam­se   as   diferentes   modalidades 

educacionais, entretanto focaliza­se o estudo nas funções sociais do espaço formal 

de educação ­ escola, dando ênfase na pessoa do gestor da escola como agente da 

disseminação das ideias democráticas em todos os níveis de relações no interior da 

escola.

 Por fim no terceiro capítulo, realiza­se uma análise do Projeto Escola 

de Pais ocorrido nos anos 2009 e 2010 em uma escola Católica da rede particular de 

ensino da cidade de Ibiporã,  procurando encontrar alternativas para uma relação 

família ­ escola que não fique somente na exploração de uma pela outra.

A relevância desse trabalho está em apontar de que forma o Pedagogo 

pode viabilizar a participação da família na escola, visto que a família apresenta 

neste   contexto   histórico   composições   diferenciadas,   merecendo   um   olhar 

profissional   atento   afim   de   que   a   escola   não   seja   um   veículo   condutor   na 

disseminação implícita dos diferentes preconceitos sociais.

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1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A família é  a  instituição social  histórica mais antiga, segundo Prado 

(1981), é a instituição mais sólida desta era cristã, pois apesar dos seus conflitos, 

continua   manifestando   grande   capacidade   de   sobrevivência   e   de   adaptação   às 

tendências sociais e culturais manifestadas nas diversas sociedades.

  De acordo com os estudos de Engels (1974),  aos três estágios pré 

históricos de cultura correspondem, por sua vez três modelos de família: A Família 

Consanguínea,   expressa   o   primeiro   progresso   na   constituição   da   família,   nesta 

forma de família, os ascendentes e descendentes, os pais e filhos, são os únicos 

que   reciprocamente,   estão   excluídos   dos   direitos   e   deveres   (pode­se   dizer)   do 

matrimônio, nesta forma de família os grupos conjugais classificam­se por gerações, 

ou seja,   irmãos e  irmãs são,  necessariamente,  marido e mulher uns dos outros, 

revelando que a reprodução da família se dava através de relações carnais mútuas. 

Neste primeiro momento a preocupação era de excluir apenas  as relações carnais 

entre pais e filhos.

Nela os grupos conjugais classificam­se por gerações; todos os avôs e avós, nos  limites da família,  são maridos e mulheres entre si;  o mesmo sucede com seus filhos, quer dizer, com os pais e mães; os filhos destes, por sua vez, constituem o terceiro círculo de cônjuges comuns,; e seus filhos,  isto é,  os bisnetos dos primeiros, o quarto círculo. (ENGELS, 1974, p. 37­38).

Os   estudos   da   história   demonstram   que   na   Família   Consanguínea 

todas as  gerações  mantinham  relações  entre  os  grupos,  ou  seja  constitui­se  as 

relações carnais mútuas naquele círculo de geração.

A   segunda   etapa   corresponde   à   Família   Punaluana,   da   qual   são 

excluídas   as   relações   carnais   entre   irmãos   e   irmãs,   criando   a   categoria   dos 

sobrinhos   e   sobrinhas,   primos   e   primas,   manifestando­se   como   um   tipo   de 

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matrimônio   por   grupos   em   comum,   a   partir   deste   modelo   de   família   que   são 

instituídas as gens, ou seja, um círculo fechado de parentes consanguíneos por linha 

feminina, que não podem casar uns com os outros, consolidando­se por meio de 

instituições comuns, de ordem social e religiosa.

À  medida,  porém,  que  evoluíam as  gens  e   iam­se   fazendo   mais numerosas as classes dos “irmãos” e “irmãs”,  entre os quais agora era impossível o casamento, a união conjugal por pares, baseada no costume, foi­se consolidando. O impulso dado pelas gens à proibição do matrimônio entre parentes consanguíneos levou as coisas ainda mais longe. Assim, vemos que entre os Iroqueses e entre a maior parte   dos   índios   da   fase   inferior   da   barbárie,   está   proibido   o matrimônio entre todos os parentes reconhecidos pelo seu sistema, no qual há algumas centenas de parentescos diferentes. (ENGELS, 1974, p. 48).

Com a ampliação das proibições em relação ao casamento, tornam­se 

cada  vez  mais   impossíveis  as  uniões  por  grupos,   característica  substituída  pela 

Família   Sindiásmica,   na   qual   já   se   observa   o   matrimônio   por   pares,   embora   a 

poligamia e a infidelidade permaneçam como um direito dos homens. Das mulheres 

exige­se agora rigorosa fidelidade, sendo o adultério cruelmente castigado.

 Entretanto, ainda se considera a linhagem feminina, o que garante o 

direito materno em caso de dissolução do vínculo conjugal. De acordo com Engels 

(1974) a Família Sindiásmica é o estágio evolutivo que permitirá o desenvolvimento 

da Família Monogâmica, para ele as famílias com relação de matriarcado identificam 

seus filhos a partir  da  identidade materna, à  esposa era vista como um sinal da 

fertilidade da natureza.

O autor afirma que nas mais variadas formas de família por grupos, não 

se pode saber com certeza quem é o pai de uma criança, mas sabem­se quem é a 

mãe. As mulheres detêm o cultivo da agricultura e subsistência da família e com isso 

ganha maior força o sistema matrilinear, onde a figura da “Deusa Mãe”, a natureza, 

era única.

Com o passar do tempo a mão de obra feminina foi sendo substituída 

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pela masculina, isso fez com que aos poucos o matriarcado fosse enfraquecendo e 

surgindo novas representações da figura do homem, agora o sistema em ascensão é 

o patriarcado, no qual o indivíduo não só é identificado pela origem paterna, mas 

ainda dá  ao homem o direito  sobre o  filho e um poder  sobre a  pessoa de sua 

esposa, o qual  impõe à sua mulher que fique várias vezes  grávida com o intuito de 

gerar mais mão de obra em seu benefício.

 Segundo Prado (1981), apesar de ser a mais conhecida e valorizada a 

família nuclear composta por pai, mãe e filhos, as variações existentes de famílias no 

decorrer da história são muitas. E assim como dizem os termos, família de origem é 

aquela de nossos pais; família de reprodução é aquela formada por um indivíduo 

com outro adulto e os filhos dela decorrentes que no geral são famílias diferentes, 

pois quando se remete a família o que vem por primeiro é o núcleo ao qual  se está 

inserido, e só após, questionados sobre de qual família se advém, é que o contexto 

maior aparece, pais e avós

a família não é um simples fenômeno natural. Ela é uma instituição social   variando   através   da   história   e   apresentando   até   formas   e finalidades diversas numa mesma época e lugar, conforme o grupo social que esteja sendo observado. Como exemplo, basta refletirmos sobre a ambiguidade social relativa à mulher que dá a luz. À primeira vista,   tratar­se­ia de uma mãe com o respectivo  filho.  No entanto, para ser considerada socialmente como mãe, não terá sido suficiente o   lado   biofisiológico  do   processo  de  gravidez  e  parto.  É   preciso, conforme a cultura à qual pertença, que tal processo tenha se dado segundo os usos e costumes e, até mais rigidamente, segundo as leis do Direito em vigência numa determinada sociedade e momento. (PRADO, 1981, p.12).

As famílias numa mesma época podem variar tanto na sua composição 

quanto  na  sua   finalidade sendo observados  os  usos,  costumes e  até  mesmo o 

Direito das leis implantadas neste período.

1.1. A família no Brasil

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No   Brasil,   a   história   das   famílias   mostra   que   com   o   avanço   da 

globalização,   industrialização e urbanização,  e  com os  imigrantes  europeus vem 

para   o   Brasil   à   figura   de   uma   família   idealizada,   segundo   Prado   (1981),   os 

portugueses   ao   chegarem   ao   Brasil   traziam   consigo   suas   normas   jurídicas, 

costumes e tradições relativos à sua vida familiar, fazendo com que os missionários 

através da catequização tentassem mudar as tradições indígenas para os hábitos 

cristãos.   Por   outro   lado,   havia   as   famílias   negras   que   foram   escravizadas   e 

importadas   pelo   tráfico   negreiro,   essas   sim,   foram   impedidas   de   praticar   suas 

próprias   tradições.   Em   relação   às   famílias   naturais   (mãe   e   filhos)   as   decisões 

variavam conforme o proprietário da mãe/ escrava, essa situação só modifica com a 

Lei do Ventre Livre, a qual regulamentava o direito da mãe em relação a seu filho.

Por conta disso, e de acordo com Prado (1981), a miscigenação foi o 

fator   mais   marcante   na   formação   do   grupo   da   população   brasileira,   resultante 

miscigenação   entre   imigrantes   europeus   brancos   portugueses   e   holandeses   a 

princípio,   incluindo   posteriormente   no   século   XIX   italianos,   alemães,   índios 

civilizados e negros libertos.

Apesar   de   tantas   variações   de   origem   na   formação   dos   grupos 

familiares, há um consenso quando se trata de alguns modelos de famílias, por esse 

motivo

Descrevem­se “aqueles tempos” em que existia um patriarca, o chefe da   família   em   todos   os   sentidos,   exercendo   autoridade   moral   e econômica   sobre   a   mulher,   os   filhos   e   empregados.   Havia   uma divisão   de   tarefas   rigidamente   estabelecida   entre   os   múltiplos membros   da   família,   divisão   essa   que   não   deixava   margem   a dúvidas nem conflitos pois também eram bem delimitados os direitos e deveres de cada membro da  família  para com todos os outros. (PRADO, 1981, p. 74).

Apesar da organização e da delimitação das tarefas de cada membro 

da família, neste modelo pode­se dizer que imperava o poder arbitrário dos mais 

velhos   para   com   as   novas   gerações,   de   acordo   com   a   autora   houve   grandes 

avanços no sentido de romper com essas tradições e conquistar uma relação com 

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mais liberdade tanto nos aspectos afetivos quanto na relação matrimonial entre os 

casais e o respeito às crianças.

1.2.  As diferentes composições familiares

De acordo com Prado (1981), as composições familiares apresentadas 

no   mundo   moderno   são   muito   diversificadas   dentre   as   quais   ainda   não   são 

denominadas de famílias tradicionais, pois seus aspectos não cabem dentro de um 

modelo clássico de família, dentre elas estão:

A família criada em torno de um casamento dito de participação ­ trata­se aí de ultrapassar os papéis sexuais tradicionais, o marido e a mulher   participando   das   mesmas   tarefas   caseiras   e   externas,   e permitindo às mulheres os mesmos direitos e oportunidades que aos maridos. (PRADO, 1981, p.19).

Neste tipo de família o marido e mulher dividem entre si as tarefas do 

lar e as sociais, ambos com direitos iguais, ultrapassando as diferenças de gênero, 

mesmo com essa  tentativa,  sua prática  esbarra  na  mentalidade que os  homens 

devem ocupar os melhores postos de trabalho enquanto as mulheres ficam com os 

postos menos rentáveis.

Também existe o casamento experimental que consiste na coabitação 

durante  algum  tempo,   com a   legalização  dessa  situação  após  o  nascimento  do 

primeiro   filho   essa   relação,   antes   experimental,   passa­se   a   constituir   a   família 

nuclear. Outra forma de família é aquela baseada na união livre, há semelhança com 

o casamento experimental, porém a legalização civil e a formalização religiosa não 

acontecem nem com a chegada dos filhos, pois neste caso a relação é  mantida 

enquanto há  de ambas as partes  interesses afetivos e  financeiros,  ou seja,  pela 

condição de ter um parceiro para dividir as tarefas e responsabilidades, ou alguém 

para ascender econômica e socialmente.

E  por   fim  o  casamento  homossexual,  a  união  de  duas  pessoas  do 

mesmo  sexo   tendo  ou  não   filhos  advindos  de   relações  anteriores  ou  adotados. 

Concordando com Yanagui (2005), pelo Mundo  afora, os países têm reconhecido 

legalmente as uniões homossexuais. No Brasil, a ideia da legalização ainda esbarra 

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na legislação sobre o tema que não tem avançado

As diversas nações no planeta  dão diferentes  tratamentos a  seus cidadãos   homossexuais,   conforme   seu   grau   de   desenvolvimento social   e   cultural.   Esse   tratamento   se   reflete   na   esfera   legal.   Os diferentes   ordenamentos   jurídicos   permitem   que   os   países   sejam “classificados” conforme o respeito à liberdade de orientação sexual. (YANAGUI, 2005, p.7).

A discussão sobre as uniões homossexuais parece ser uma construção 

social que envolve aspectos culturais, legais e jurídicos.

Para   Prado   (1981),   a   família   não   é   só   uma   rede   de   relações 

interpessoais,  e  sim um conjunto de papéis  socialmente definidos,  ou seja,  uma 

instituição   social   na   qual   os   papéis   de   cada   indivíduo   que   a   compõe   estão 

claramente definidos.

Além de na família cada integrante possuir seu papel, segundo Reis 

(2001), é a família que realiza uma ponte entre o sujeito e a sociedade.

Não pode ser negado é a importância da família tanto ao nível das relações sociais, nas quais ela se inscreve, quanto ao nível da vida emocional   de   seus   membros.   É   na   família,   mediadora   entre   o indivíduo e a sociedade, que aprendemos a perceber o mundo e a nos   situarmos   nele.  É   a   formadora   de   nossa   primeira   identidade social. (REIS, 2001, p. 99).

A família possui papel fundamental tantos nos aspectos da formação 

dos sujeitos  e de  sua  identidade social,  quanto no cuidado  relativo aos estados 

emocionais de seus integrantes.

1.3. Funções da família

Segundo Prado (1981) as funções da família se resumem em quatro: 

Reprodução; Identificação Social, Socialização e Econômica.

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A Reprodução seria uma forma de subsistência de um grupo familiar 

visando sua perpetuação, repondo assim os membros que foram extintos.

A Identificação Social;  é  uma função muito  importante pois por meio 

dos documentos  é   possível   identificar  os  sujeitos  pertencentes  a  uma  família,  e 

documento torna­se fonte de direitos e deveres em relação ao grupo familiar.

A   Socialização;   vivenciada   pela   criança   através   de   suas   primeiras 

relações com a sociedade, por meio da Socialização o indivíduo aprende a dirigir 

suas relações afetivas. A família por meio da criança que é inserida na sociedade 

visa sua reprodução no sentido mais amplo como os valores, crenças e hábitos da 

família,  também determinam a criança qual será  sua função na sociedade adulta 

dependendo de seu sexo.

Historicamente,   percebe­se   que   as   meninas   normalmente   saem   as 

mães, educadas para o casamento e para as profissões menos rentáveis que não 

influenciam no  bom andamento dos cuidados do lar, e os meninos são orientados a 

escolher   cargos   influentes   e   hierárquicos,   cujo   o   incentivo   perpetuar­se   a 

discriminação de gênero e também de classes sociais.

A   função   Econômica;   diz   respeito   à   luta   por   sua   subsistência   de 

maneiras diferentes dependendo da posição social que ocupa na sociedade, existe a 

responsabilidade moral da família de inserção profissional das novas gerações, sem 

exceção de classe social todos se preocupam com a inserção dos novos integrantes 

na   vida   profissional   desde   o   dono   do   comércio   que   deixa   para   seu   filho   a 

continuação do armazém até  mesmo o presidente de uma grande empresa que 

indica   seu   filho   para   assumir   um   cargo   em   alguma   empresa   genérica   em   que 

trabalha. A preocupação em colocar os filhos no mercado de trabalho e no mundo 

econômico é evidente.

Porém Reis (2001) faz algumas considerações a respeito da família.

A primeira delas é que a família não é algo natural, biológico, mas uma instituição criada pelos homens em relação, que se constitui de formas diferentes em situações e tempos diferentes, para responder às   necessidades   sociais.   Sendo   uma   instituição   social,   possui também   para   os   homens   uma   representação   que   é   socialmente 

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elaborada e que orienta a conduta de seus membros.  A segunda consideração é que a família, qualquer que seja sua forma, constitui­se em trono de uma necessidade material: a reprodução. Isso não significa que é necessário haver uma determinada forma de família para que haja reprodução, mas que esta é condição para existência da família. A terceira consideração é que, além de sua função ligada a   reprodução   biológica,   a   família   exerce   também   uma   função ideológica.   Isto   significa   que   além   da   reprodução   biológica   ela promove também sua própria reprodução social: é não família que os indivíduos são educados para que venham a continuar biológica e socialmente a estrutura familiar. (REIS, 2001,  p.102).

A  família  é  uma  instituição criada pelos homens a qual  assume um 

papel  diferenciado acompanhando o desenvolvimento da sociedade em que está 

inserida, e também, não é necessário haver uma forma de família para que haja a 

reprodução. A reprodução biológica existe para que haja a família, segundo o autor 

existe apenas duas funções importantes da família.

1)  econômica,  no que se refere à   reprodução da mão­de­obra;  2) ideológica, no que se refere a à reprodução da ideologia dominante. Alguns tipos de família  têm uma função econômica  imediatamente visível. É o caso das famílias que se constituem como unidade de produção econômica, os colonos da cultura do café, por exemplo, ou as famílias proprietárias de terras em frentes agrícolas, nas quais o trabalho familiar é a atividade mais viável. (REIS, 2001, p.102).

A família possui as funções de manutenção da economia, mão­de­obra, 

e da ideologia, formação das ideias culturais hegemônicas na sociedade.

Quanto à   função  ideológica da  família  Reis   (2001),  afirma que essa 

ideologia   inicia­se dentro da própria   família,  apresentando aos  filhos  uma noção 

ideologizada da própria  família,  e na maioria das vezes reforçada pelos próprios 

pais, a noção de que a família é  natural,  universal, algo que não se modifica. O 

referido autor relata que após iniciar o processo ideológico dentro do seu núcleo, a 

instituição familiar,

passa a apresentar da mesma forma o mundo extra familiar e todas as   relações   sociais.   É   claro   que   a   família   cumpre   sua   função 

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ideológica   em   complementação   a   outros   agentes   sociais.   Sua importância, às vezes relativizada no processo global da transmissão da   ideologia   dominante,   não   pode   ser   negada.  (REIS,   2001,  p. 103).

Mesmo havendo outras instituições que colaboram na reprodução da 

ideologia dominante, a  família  exerce um papel   fundamental,  pois é  nela que se 

inicia   o   processo   de   formação   dos   sujeitos,   onde   são   estabelecidas   as   bases 

ideológicas. A vivência de subordinação dentro do grupo familiar faz com que seus 

indivíduos   sejam   marcados   nos   aspectos   emocionais   e   na   formação   da 

personalidade dos seus membros.

Nesta  perspectiva,  podemos observar  o  que mais  a diferencia  de outros grupos: ela é o locus da estruturação da vida psíquica. É a maneira peculiar  com que a  família  organiza a vida emocional  de seus membros que lhe permite transformar a ideologia dominante em uma visão de mundo, em um código de conduta e de valores que serão assumidos mais tarde pelos indivíduos. (REIS, 2001, p.104).

É na formação oferecida pela família, organização da vida emocional e 

psíquica  de   seus   integrantes  que   são   transmitidos  as   condutas   os   valores   que 

futuramente nortearão as suas atitudes e responsabilidades sociais.

Ao   tratar   das   relações   existentes   na   família   burguesa,   Reis   (2001) 

afirma que o papel social aparece como sendo um controle ideológico da família, 

pois  quando prescrevem  formas e condutas rígidas sem outra alternativa para o 

sujeito numa determinada situação é a própria ideologia atuando. 

Se o papel social e a ideologia mantêm uma certa identidade, é na família,   local   privilegiado   de   reprodução   ideológica,   que   se desenvolve o aprendizado do primeiro papel  social:  o de  filho.  Na família burguesa esse papel é  desenvolvido a partir  da submissão aos pais, definida pelo exercício do controle sobre o próprio corpo em troca de afeto parental. (REIS, 2001, p. 115).

Exercer o papel social, de filho é antes de tudo ser submisso a norma 

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de conduta existente antes mesmo de a criança nascer,  e obedecer, é  o que se 

espera de um bom filho, afim de que ao ingressar na rede de relações sociais mais 

amplas saiba comportar­se como convém a um ser social, mantendo a ordem social, 

o que é conveniente a ideologia dominante.

No que consiste a função econômica da família, manutenção da mão­

de­obra,   pode­se   afirmar   que   “ele   é   constituído   a   partir   das   relações   sociais, 

determinadas pela divisão social do trabalho e pela dominação de classe” (REIS, 

2001, p. 115), ou seja, dominador/dominado quem atuará na manutenção da divisão 

social   do   trabalho,   determinando   o   tipo   de   mão­de­obra   necessária   àquela 

sociedade.

De acordo com Reis,

quando   a   família   burguesa   leva   suas   funções   às   últimas consequências, ensinando a submissão desde o início da vida, faz com   essa   estrutura   relacional   se   transfira   para   os   outros   papéis sociais, que terão no papel do filho o molde. Ao formar o indivíduo obediente   e   autodisciplinado,   com   iniciativa   apenas   para   bater­se pelos   ideais   de   ascensão   social   e   econômica,   a   família   está preparando   o   cidadão   passivo,   acrítico,   conservador,   sem espontaneidade e incapaz de criar, repetidor de fórmulas veiculadas pela ideologia dominante. (2001, p. 116).

Tendo o papel social uma rede de relações interpessoais, convém à 

classe dominante, a estrutura familiar burguesa, que por meio da obediência dos 

filhos manterá  a ordem social  pelo  exemplo que os outros cidadãos  terão como 

modelo. Ainda com relação às funções da família, Prado (1981) nos afirma que, cada 

família   possui   uma   função   na   sociedade,   dependendo   da   posição   social   e 

econômica que ela ocupa. A família partilha com outras instituições as funções que 

antes eram exercidas somente pelo grupo familiar,   

                 

a socialização das crianças é dividida pela família e pelas instituições educacionais.   A   saúde   dos   membros   da   família   é   também   hoje complementada pelas instituições de saúde pública, além a atuação da família que é solicitada a cumprir regras de higiene, de cuidados no   tratamento   etc.   Entre   as   inúmeras   funções   da   família   que correspondem   a   uma   expectativa   social,   temos,   por   exemplo:   a função de identificação social dos indivíduos, as de reprodução, as 

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de produção de bens (alimentação, vestuário, brinquedos, remédios etc.) e de consumo destas. (PRADO, 1981, p. 36).

Atualmente a família é chamada a partilhar com outras instituições seja 

na área educacional ou na área da saúde, a responsabilidade sobre os membros 

que a compõe, o que não ocorria nas  famílias em épocas anteriores, embora  já 

houvesse na Idade Média a troca de favores no que diz respeito a aprendizagem das 

crianças.  Porém, o Estado por  meio das outras  instituições  intervém de maneira 

direta no seio da família, tentando adequá­la as exigências sociais. E a formação dos 

indivíduos cobrada pela sociedade é realizada de maneira que possibilite a esses a 

melhor forma possível sua  inserção social.

1.4. Modificações constantes

Muitas são as modificações sofridas nas características da família. 

O   conceito   de   família   foi   ampliado.   Os   quesitos   relativos   a nupcialidade foram, mais uma vez, alterados. Porém incorporou uma mudança há muito reivindicada pela sociedade: as categorias chefe do   domicílio   e   chefe   da   família   foram   substituídas   por   pessoa responsável pelo domicílio e pessoa responsável pela família. Esta alteração, longe de ser uma simples mudança semântica, refletiu o esforço   deliberado  de  se   romper   com   esquemas   que   reforçam   e perpetuam discriminantes de gênero. (NASCIMENTO, 2006, p.10).

As   famílias   na   atualidade   possuem   a   pessoa   responsável   pelo 

domicílio,   buscando   com   isso   romper   com   a   discriminação   de   gênero,   antes 

perpetuada pela categoria chefe da família.

A configuração familiar foi alterada nas últimas décadas do século XX. 

As famílias são formadas por diversas estruturas: por exemplo, há mães  solteiras  com seus  filhos;  pais  com  filhos  adotivos;   famílias formadas por casais que já tiveram outros casamentos com filhos e decidiram   ter   outros   filhos   dessa   união;   temos   ainda   famílias formadas por um casal e um “animal de estimação”... e, também, se questiona se podemos considerar família o solteiro adulto que vive sozinho. (NASCIMENTO, 2006, p. 11).

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Os arranjos familiares são diversos, concordando com Prado (1981), 

quando relata as formas de famílias alternativas, há várias formas de famílias que se 

constituíram   a   partir   de   vários   aspectos   favoráveis   a   sua  disseminação   com:  a 

legalização  do  divórcio,  o   surgimento  da  pílula   anticoncepcional,   garantindo  aos 

homens   e   às   mulheres   a   alternativa   de   uma   vida   sexual   desvinculada   da 

paternidade/maternidade.

Surge a nova família, anteriormente definida pela obrigação, definida 

hoje pelos laços de afeto. Nestes novos modelos de família a questão da afetividade 

está cada vez mais evidenciada, pois, os sentimentos individuais são levados em 

consideração, para além do valor da família, agora as relações são baseadas num 

ato de amor e satisfação pessoal.

Apesar   de   nas   famílias   existentes   os   laços   de   afetividade   se 

encurtarem, por que cada  membro está cada vez mais cheio de atividades pessoais 

e no seu meio específico e por haver inversões de valores por parte das gerações 

mais novas é a família que 

No entanto é única em seu papel determinante no desenvolvimento da sociabilidade, da afetividade e do bem estar físico dos indivíduos, sobretudo durante o período da infância e da adolescência. Talvez porque os laços de sangue (ou de adoção equivalentes) criem um sentimento   de   dever,   ninguém   pode   se   sentir   feliz   se   lhe   faltar completamente a referência familiar. (PRADO, 1981, p. 14). 

Independente   do   modelo   de   família   que   o   sujeito   faz   parte,   todo 

indivíduo tem necessidade de se sentir protegido e ter afeto para se desenvolver nas 

principais etapas de sua vida, compreendendo como essas etapas a infância e a 

adolescência, é no seio da família que o ser humano encontra segurança para se 

desenvolver.   Apesar   de   todas   as   contradições   que   a   instituição   familiar   tem 

enfrentado durante  toda sua evolução histórica,  o  fato é  que mesmo em meio a 

essas controvérsias  todos precisam de uma família  para assim se realizar  como 

pessoa e ser feliz.

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2. AS DIFERENTES MODALIDADES DA EDUCAÇÃO

A escola enquanto instituição social assume dimensões extraordinárias 

no que se refere à formação humana e social dos sujeitos envolvidos no processo de 

ensino.  Porém pensar a escola somente enquanto espaço físico destinado a ensinar 

e também como o único lugar em que ocorre a educação é um engano, a educação 

acontece em tempos e espaços diferenciados.

As  ideias  defendidas por  Libâneo  (2001),  afirmam que o campo da 

educação é bastante amplo, pois abarca as diferentes modalidades de educação: 

educação formal, educação informal, e educação não­formal. Estes irão se distinguir 

pela   sistematização   de   conteúdos,   intencionalidade,   e   espontaneidade   do   ato 

educativo. Mais tarde essas ideias são corroboradas por Brandão (2005) e Ghon 

(2006).

Verifica­se,   pois,   uma  ação  pedagógica   múltipla  na  sociedade.   O pedagógico   perpassa   toda   a   sociedade,   extrapolando   o   âmbito escolar   formal,   abrangendo   esferas   mais   amplas   da   educação informal e não­formal. Apesar disso, não deixa de ser surpreendente que   instituições   e   profissionais   cuja   atividade   está   permeada   de ações pedagógicas desconheçam a teoria pedagógica. (LIBÂNEO, 2001, p.20).

Na   sociedade   de   forma   geral,   a   educação   é   permeada   do   ato 

pedagógico,   independente  da  modalidade  em que  é   desenvolvida  essa  ação.  A 

educação, segundo Brandão (2005), é uma fatia do modo de vida dos grupos sociais 

para  que estes  possam vivenciar  seus costumes,   trocas,  segredos da arte  e  da 

religião e dos códigos sociais de conduta estabelecidos pelo grupo.

Assim quando são necessários guerreiros ou burocratas, a educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso ela ajuda á criá­los, através de passar de uns para os outros o saber que   os   constitui   e   legitima,   Mais   ainda,   a   educação   participa   do processo   de   produção   de   crenças   e   ideias,   de   qualificações   e especialidades que envolvem as trocas de símbolo, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é sua força. 

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(BRANDÃO, 2005, p.11).

Por  meio  da  educação  podemos  objetivar   o   tipo  de  homem que  a 

sociedade/grupo deseja formar, e sua influência, auxilia na criação desse perfil de 

homem,   além   disso,   a   educação   pode   produzir   conhecimentos   ideológicos   de 

domínio social e submissão de um povo por outro povo. De acordo com Brandão 

(2005), não existe somente uma educação e sim educações, pois ela se manifesta 

de diferentes formas nos diferentes ambientes, na família, na escola, na rua ou em 

uma instituição religiosa, onde quer que se esteja a vida é invadida por ela.

Não  há   uma  forma única  nem um único  modelo  de  educação;  a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor;  o ensino escolar  não é  a sua única prática e o professor profissional  não é  o  seu único  praticante.  Em mundos diversos  a educação existe diferente: em pequenas sociedades tribais de povos caçadores,   agricultores   ou   pastores   nômades;   em   sociedades camponesas,   em   países   desenvolvidos   e   industrializados;   em mundos sociais sem classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades e culturas sem Estado, com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas. Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo... (BRANDÃO, 2005, p.09).

Não existe somente um modelo de educação e sim modalidades de 

educação diferenciadas, a educação acontece independente da presença da escola, 

de professores, do Estado e das relações sociais existentes entre seu povo. Ocorre 

em cada grupo, povo, tribo acompanhando seus ensinamentos, crenças e valores, 

há uma educação para cada tipo de povo.

Dessa   forma   Ghon   (2006),   afirma   que   há   três   modalidades   de 

educação as quais se diferenciam entre si como

a   educação   formal   é   aquela   desenvolvida   nas   escolas,   com conteúdos previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos   aprendem   durante   seu   processo   de   socialização   ­   na família,  bairro, clube, amigos etc.,  carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados: e a educação 

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não­formal  é  aquela  que  se  aprende   “no  mundo  da vida”,   via  os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas. ( 2006, p. 28).

Para  cada   tipo  de  educação  existe   um espaço  determinado  e  uma 

intencionalidade que pode ser implícita ou explícita dependendo da modalidade em 

que se enquadra.

Na educação formal, entre outros objetivos destacam­se os relativos ao   ensino   e   aprendizagem   de   conteúdos   historicamente sistematizados, normatizados por leis, dentre os quais destacam­se o de   formar   o   indivíduo   como   um   cidadão   ativo,   desenvolver habilidades   e   competências   várias,   desenvolver   a   criatividade, percepção,   motricidade   etc.   A   educação   informal   socializa   os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se frequenta ou que pertence por herança, desde   o   nascimento   Trata­se   do   processo   de   socialização   dos indivíduos.   A   educação   não­   formal   capacita   os   indivíduos   a   se tornarem   cidadãos   do   mundo.   Sua   finalidade   é   abrir   janelas   de conhecimento   sobre   o  mundo   que   circunda   os   indivíduos   e   suas relações   sociais.   Seus   objetivos   não   são   dados   a   priori,   eles   se constrói no processo interativo, gerando um processo educativo. Um modo de educar surge como resultado do processo voltado para os interesses e as necessidades que dele participa. (GHON, 2006, p. 29).

Na educação formal, os objetivos do trabalho realizado são centrados 

no  processo   de   ensino   e   aprendizagem.   Apesar   das  distinções  entre   as   várias 

modalidades   de   educação,   todas   assumem   papel   importante   na   formação   dos 

sujeitos   que   se   encontram   sob   sua   responsabilidade   tanto   no   processo   de 

socialização, construção do conhecimento e também  na tentativa de possibilitar aos 

indivíduos acesso ao acervo cultural e social construído pela humanidade. 

Segundo Saviani (1991), a educação é  um fenômeno específico dos 

seres humanos,

A compreensão da natureza da educação passa pela compreensão da natureza humana. Ora, o que diferencia os homens dos demais fenômenos,   o   que   o  diferencia  dos   demais   seres  vivos,   o  que  o diferencia dos outros animais? A resposta a essas questões também já é conhecida. Com efeito, sabe­se que, diferentemente dos outros 

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animais,  que se adaptam à   realidade natural   tendo sua existência garantida naturalmente, o homem necessita produzir continuamente sua existência. (SAVIANI, 1991, p.15).

Diferente  dos  outros  seres  vivos  o  homem para  satisfazer  as  suas 

necessidades transformando a natureza, criando sua própria existência, saberes e 

cultura, de forma cada vez mais complexa e isto é realizado porque o homem não se 

adapta a natureza, mas ao contrário,  à   faz adaptar­se a si,   transformando­a, por 

meio  do   trabalho,   realizado com uma  intencionalidade.  Seguindo esse  raciocínio 

Saviani (1991), afirma que a educação ao mesmo tempo em que é uma necessidade 

para o trabalho, é um processo de trabalho.

Assim,   o   processo   de   produção   da   existência   humana   implica, primeiramente,   a   garantia   da   sua   subsistência   material   com   a consequente   produção,   em   escalas   cada   vez   mais   amplas   e complexas, de bens materiais; tal processo nós podemos traduzir na rubrica “trabalho material”. Entretanto, para produzir materialmente, o homem necessita antecipar em ideias os objetivos da ação, o que significa  que  ele   representa  mentalmente  os  objetivos   reais.  Essa representação inclui o aspecto de conhecimento das propriedades do mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). Tais   aspectos,   na   medida   em   que   são   objetos   de   preocupação explícita   e   direta,   abrem   a   perspectiva   de   outra   categoria   de produção que pode ser traduzida pela rubrica “trabalho não material”. Trata­se aqui  da produção de  ideias,  conceitos,  valores,  símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata­se da produção do saber. (SAVIANI, 1991, p.16).

A educação é denominada trabalho não material, pois trata da criação 

da cultura intelectual de um povo, o qual por meio das ideias antecipa os objetivos 

do trabalho denominado trabalho material.

De acordo com Brandão (2005), após alcançar um estágio complexo na 

organização de uma sociedade e de sua cultura,  os homens  iniciam o processo 

mental sobre novas maneiras de transmissão dos saberes produzidos e acumulados 

pela sociedade.

É a partir daí que a questão da educação emerge à consciência e o trabalho   de   educar   acrescenta   a   sociedade,   passo   a   passo,   os 

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espaços, sistemas, tempos, regras de prática, tipos de profissionais e categorias de educandos envolvidos nos exercícios de maneira cada vez   menos   corriqueiras   e   menos   comunitárias   do   ato,   afinal   tão simples, de ensinar e aprender. (BRANDÃO, 2005, p.16).

Quando os saberes produzidos e acumulados pelo homem tornam­se 

complexos, há  a necessidade de sistematizá­los para que não se percam, e isso 

ocorre com o surgimento da escola, onde existe regras de conduta que se esperam 

dos alunos,  professores e  funcionários,   tempos e conteúdos pré  estabelecidos a 

serem cumpridos.

2.1. A educação escolar e sua função social

  Ao   tratar­se   da   escola   enquanto   espaço   formal,   instituição 

regulamentada   responsável   pela   transmissão   dos   conteúdos   sistematizados, 

Libâneo   (1992),   nos   relata   que   o   “ensino   tem,   portanto,   como   função   principal 

assegurar o processo de transmissão e assimilação dos conteúdos do saber escolar 

e, através desse processo, o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos 

alunos” (LIBÂNEO, 1992, p. 80).

Os conteúdos a serem transmitidos pela escola são os conhecimentos 

produzidos pela sociedade por meio das ciências e organizados, a  fim de serem 

transmitidos   pela   escola.   Já   a   capacidade   cognoscitiva   do   aluno   consiste   num 

processo   de   operação   mental   para   assimilar   os   conteúdos,   podendo   este   ser 

aplicado no meio em que o aluno está inserido.

Discordando   das   afirmações   de   Libâneo,   Paro   (2007a),   em   uma 

pesquisa realizada com professores e funcionários em uma escola pública no estado 

de São Paulo, traz a seguinte conclusão: a escola não somente como tem o papel de 

transmissão de conteúdos, mas também “é uma agência que propicia a apropriação 

do saber historicamente produzido” (PARO, 2007a, p.55). Além de possuir a função 

de  socializar  os  sujeitos,  pois  a   classe  pobre  da  população  não   tem condições 

sociais de acesso a cinemas e teatros. O autor também adverte sobre “a escola 

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como instituição que deve preparar para a consciência política e para a cidadania” 

(PARO, 2007a, p.57), apesar de que o exercício da cidadania para o autor se dá 

somente com o comprometimento social e político, por parte da escola na formação 

dos sujeitos.

Portanto,   estando   a   escola   inserida   numa   sociedade   democrática, 

segundo   Paro   (2007b),   assume   uma   função   que   envolve   duas   dimensões   na 

formação do cidadão: individual e social.

Enquanto a primeira dimensão exige a assunção do homem como sujeito (autor, portador, autônomo de vontade), a segunda assume a necessidade   de   convivência   livre   (entendida   a   liberdade   como construção   histórica)   entre   os   sujeitos   individuais   e   coletivos.   A qualidade   da   educação   oferecida   deve   referir­se,   portanto,   à formação da personalidade do educando em sua integralidade, não apenas  à  aquisição  de conhecimentos  em seu sentido   tradicional (PARO, 2007b, p. 34).

Essas  duas  dimensões  da   formação  do  sujeito  passam a  exigir   da 

escola uma postura diferenciada, pois o sujeito é individual, enquanto portador de 

vontades e aspirações, e ao mesmo tempo social, pois convive numa sociedade de 

direitos   e   deveres.   A   escola,   sobretudo,   deve   propiciar   a   formação   de   uma 

consciência que valorize os aspectos históricos dos acontecimentos sociais. Para 

que isso ocorra, Paro (2007b), nos diz que é necessário a valorização dos conteúdos 

e que a forma de ensinar precisa ser democrática, promovendo a condição do sujeito 

enquanto   aluno,   construindo   uma   personalidade   democrática,   que   valorize   a 

coletividade.

A escola fundamental é entendida como agência educativa em seu sentido   mais   radical,   tomada   a   educação   como   apropriação   da cultura, e entendida esta como conjunto de conhecimentos, valores, crenças,  arte,   filosofia,   ciência,   tudo  enfim,  que  é   produzido  pelo homem sua transcendência da natureza e que o constitui como ser histórico. (PARO, 2007b, p. 33).

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Nessa   perspectiva   a   escola   fica   responsável   não   somente   pela 

transmissão dos conteúdos historicamente produzidos, mas também, por fazer com 

que   o   aluno   aproprie­se   dessa   cultura,   tomando   posse,   apoderando­se   desses 

conhecimentos, constituindo­o como ser histórico cultural.

2.2. A transformação da escola e papel do pedagogo

Num   contexto   em   que   a   participação   da   sociedade   está   sendo 

estimulada   em   todas   as   instâncias   sociais   é   indispensável   pensar   a   educação 

escolar   como   forma   de   transformação   social,   com   o   efetivo   da   participação 

democrática, e é no interior da escola que a mesma deve ser estimulada, na sala de 

aula, na relação professor/aluno, nas relações de poder e pedagógicas, a fim de que 

a escola não seja  mera reprodutora da ideologia dominante. 

Se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escola   que   temos   aí.   E   a   transformação   dessa   escola   passa necessariamente   por   sua   apropriação   por   parte   das   camadas trabalhadoras.  É  nesse sentido que precisam ser   transformados o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola. (PARO, 2001, p. 10).

A   escola   numa   perspectiva   transformadora   propicia   as   classes 

trabalhadoras  o  acesso  ao   saber   historicamente  produzido  e,   por  meio  deste  a 

formação de uma consciência crítica. É necessário, segundo Paro (2001), iniciar o 

processo na distribuição dos cargos no interior da escola.

A   ênfase   no   papel   do   diretor   escolar   como   autoridade   máxima   da 

escola retrata, segundo Paro (2001), a pretensão do Estado em mostrá­lo como uma 

figura  autoritária   responsável  pelo  cumprimento  da  Lei  e  da  Ordem,   figura  essa 

possuidora de poder e autonomia, entretanto a falta de autonomia em relação os 

escalões superiores, demonstra a contradição vivida pela sua pessoa, responsável 

pela administração dos recursos escolar, acaba tendo que administrar a falta deles, 

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e   a   pouca   autonomia   do   diretor   retrata   a   pouca   autonomia   da   escola   e, 

consequentemente da comunidade local onde a escola fica situada.

Nesse modelo de escola apresentado pelo Estado a  figura  diretor  é 

observada como negativa, pois, o mesmo é visto como uma pessoa de poder que 

programa ações do interesse da classe dominante. Porém, segundo Paro (2001), 

para desmistificar essa falsa visão da pessoa do diretor é necessário que a escola 

pública seja conduzida seguindo os princípios da gestão democrática.

É preciso, pois, começar por lutar contra esse papel do diretor (não, entretanto, contra a pessoa do diretor).  A esse respeito, é  preciso aprofundar as reflexões de modo que se perceba que, ao se distribuir a autoridade entre os vários setores da escola, o diretor não estará perdendo poder ­ já que não se pode perder o que não se tem ­, mas dividindo   responsabilidade.   E,   ao   acontecer   isso,   quem   estará ganhando poder é a própria escola. (PARO, 2001, p. 12).

É   nessa   perspectiva   de   ação   democrática   que,   ao   distribuir   a 

responsabilidade por  todos na escola: educadores, alunos,  funcionários e pais,  a 

pessoa   do   diretor   sai   de   foco   e,   consequentemente,   a   escola   como   um   grupo 

organizado ganha força para reivindicar os interesses e necessidades da escola e do 

grupo que ela representa.

Seguindo esse novo modelo de escola pública, o papel do gestor da 

escola   muda   totalmente   de   perspectiva,   passa   de   um   mero   administrador   de 

recursos a uma pessoa promotora  da  gestão democrática  no   interior  da  escola, 

viabilizando por meio desta, a participação dos diversos setores da escola em todas 

as ações que são de interesse do grupo escolar. 

A   participação   da   comunidade   na   escola,   como   todo   processo democrático,   é   um   caminho  que   se   faz   ao   caminhar,   o   que   não elimina   a   necessidade   de   se   refletir   previamente   a   respeito   dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a ação. (PARO, 2001, p. 17).

O gestor da escola é agora o ator que convida a comunidade escolar a 

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caminhada   que   marca   o   início   de  um   processo   para   se   chegar   a   uma   gestão 

democrática,  de   fato,  ao   iniciar  um processo  de democratização  é  necessário  a 

reflexão sobre os condicionantes dessa participação.

2.3. Os condicionantes da participação popular

Para que o processo de implantação da gestão democrática na escola, 

aconteça é  necessário pensar nas condições/possibilidades.    Paro (2001) aponta 

quatro   tipos  de  determinantes   internos:  materiais,   institucionais,  político­sociais  e 

ideológicos que devem ser levados em conta numa gestão democrática.

a)   Condicionantes   materiais:   referem­se   às   condições   objetivas   da 

prática no interior da escola, desde a falta de recursos, material didático e espaço 

físico adequados, escassez de funcionários e professores e de pessoal qualificado. 

No entanto,

É   preciso,   todavia,   tomar   cuidado   para   não   se   erigirem   essas dificuldades materiais em mera desculpa para nada fazer na escola em prol da participação. Isto parece acontecer com certa freqüência na escola pública e se evidencia quando, ao lado das reclamações a respeito da falta de recursos e da precariedade das condições de trabalho,   não   se   desenvolve   nenhuma   tentativa   de   superar   tal condição ou de pressionar o Estado no sentido dessa superação. (PARO, 2001, p. 44).

As   dificuldades   existentes   podem   ser   usadas   como   desculpas   para 

nada  ser   feito  na  escola  ou  para  a  partir   delas  criar  possibilidades  para  que  a 

comunidade   seja   conscientizada   da   verdadeira   importância   do   trabalho   para   a 

superação de tais dificuldades.

b) Os condicionantes institucionais: consistem na atual organização da 

escola em que a autoridade é distribuída, de forma a privilegiar a pessoa do diretor 

como sendo o responsável máximo pelas decisões tomadas no interior da escola, 

sendo assim, é  necessário não somente que a comunidade exerça seu papel na 

ação   coletiva   por   meio   das   associações,   mas   também,   “a   necessidade   de   se 

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preverem   mecanismos   institucionais   que   não   apenas   viabilizem   mas   também 

incentivem práticas participativas dentro da escola pública” (PARO, 2001, p. 46).

c) Condicionantes político­sociais: os interesses dos grupos dentro da 

escola;   faz­se   referência   a   diversidade  de   interesses   sociais   dos   envolvidos   na 

escola pública, classe trabalhadora, porém as relações não são harmoniosas pelo 

contrário, o conflito manifesta as divergências dos lados em que os integrantes estão 

apoiando, professores, funcionários, pais e alunos.

d)   Condicionantes   ideológicos   da   participação:   envolve   todas   as 

concepções e crenças arraigadas nas mais diferentes relações existentes no interior 

da escola. No que se refere a participação da comunidade,

É preciso levar em conta que o modo de pensar e agir das pessoas que aí atuam facilita/incentiva ou dificulta/impede a participação dos usuários. Para isso, é importante que se considere tanto a visão da escola   a   respeito   da   comunidade   quanto   sua   postura   diante   da própria participação popular.(PARO, 2001, p. 47).

As   crenças   sedimentadas   historicamente   movem   as   relações   e   as 

práticas dos mais diferentes atores envolvidos no contexto escolar, alguns muitas 

vezes são favoráveis ao processo de participação da comunidade da escola, e a 

facilitam,   porém,   outras   práticas   podem   impedir   que   a   mesma   aconteça.   Tais 

crenças acabam sendo explicitadas tanto no contato com as crianças, reunião de 

pais   ou   até   mesmo   contato   individual,   quando   a   postura   de   quem   fala   é   de 

imposição ou de superioridade sobre os pais,  como se faltasse algo para serem 

considerados cidadão de fato.

Para   Paro   (2001),   a   participação   dos   pais   na   escola   fica   restrita 

somente as ações que estão relacionadas à execução de atividades nos eventos, 

bazar, festas, porém no que se refere à tomada de decisões, sobre a aplicação dos 

recursos advindos do governo para a escola e a questão pedagógica que envolve os 

alunos são considerados ignorantes.

Associada a essa descrença na participação da população e a uma 

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concepção   de   participação   que   inclui   apenas   sua   dimensão “executiva”   está   à   ausência   quase   total   de   qualquer   previsão   de rotinas ou eventos que ensejem a participação da comunidade na escola. Como a própria instituição escolar não possui mecanismos institucionais que, por si, conduzam efetivamente a um processo de participação coletiva em seu  interior,  a inexistência dessa previsão por parte da direção ou dos educadores escolares fecha mais uma porta que poderia levar a implementação, na escola, de um trabalho cooperativo. (PARO, 2001, p. 53­54).

Assim   sendo,   a   participação   da   comunidade   é   um   processo   que 

necessita   ser   construído   passo   a   passo   e   precisa   também   de   mecanismos 

institucionais para dar suporte à boa vontade dos profissionais que acreditam na sua 

implementação.  Os autores:  Buffa;  Arroyo e Nosella   (1996)  apontam projetos de 

sociedades   tanto   dos   republicanos   como   dos  progressistas   tendo   como  base  o 

vínculo  educacional   com a   cidadania.  Educar   para  que  o  povo   torne­se  apto  a 

participação.

A educação moderna vai se configurando nos confrontos sociais e políticos, ora como um dos instrumentos de conquistas da liberdade, da participação e da cidadania, ora como um dos mecanismos para controlar   e   dosar   os   graus   de   liberdade,   de   civilização,   de racionalidade  e  de  submissão  suportáveis  pelas  novas  formas  de produção. (BUFFA; ARROYO; NOSELLA,1996, p.36).

A escola neste contexto assume a função de articuladora, fazendo com 

que   as   classes   trabalhadoras   se   apropriem   de   uma   educação   que   viabilize   a 

discussão sobre a democracia, refletindo sobre as instâncias de participação popular 

e os direitos e deveres no exercício da cidadania.

3. CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO

  Família   e   escola   constituem­se   dois   polos   diferentes,   porém 

fundamentais para a formação humana e social dos sujeitos. A família é a primeira 

mediadora entre o homem e a cultura, o mundo que o rodeia, segundo Dessen e 

Polônia   (2007),  é   nela  que  se  constitui   as  primeiras   relações  afetivas  sociais  e 

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cognitivas,   as   quais   são   influenciadas   pelas   condições   materiais   históricas   e 

culturais daquele grupo familiar

Ela é a matriz da aprendizagem humana, com significados e práticas culturais próprias que geram modelos de relação interpessoal e de construção   individual   e   coletiva.   Os   acontecimentos   e   as experiências   familiares   propiciam   a   formação   de   repertórios comportamentais,   de   ações   e   resoluções   de   problemas   com significados   universais   (cuidados   com   a   infância)   e   particulares (percepção   da   escola   para   uma   determinada   família).   Essas vivências integram a experiência coletiva e individual que organiza, interfere e a torna uma unidade dinâmica, estruturando as formas de subjetivação   e   interação   social.   E   é   por   meio   das   interações familiares   que   se   concretizam   as   transformações   nas   sociedades que,   por   sua   vez,   influenciarão   as   relações   familiares   futuras, caracterizando­   se   por   um   processo   de   influências   bidirecionais, entre os membros familiares e os diferentes ambientes que compõem os sistemas sociais, dentre eles a escola[...]. (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 22).

As percepções de mundo, do outro, e da escola, experienciadas pelos 

sujeitos na família é que influenciarão as futuras relações interpessoais e coletivas, 

incluindo nessas relações, a escola.

A escola por sua vez, segundo Dessen e Polônia (2007), constitui­se 

num contexto que prioriza as relações de aprendizagem. Trata­se de um ambiente 

multicultural  que abrange também a construção de  laços afetivos e preparo para 

inserção na sociedade (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 25), a escola tem enfrentado o 

desafio de lidar com as transformações sociais, bem como “as dificuldades em um 

mundo   de   mudanças   rápidas   e   de   conflitos   interpessoais,   contribuindo   para   o 

processo de desenvolvimento do indivíduo” (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 25), em 

complementação ao papel desempenhado pela família.

Mas   como   construir   uma   relação   entre   família   e   escola?   Segundo 

Zenker (2004), a relação começa a existir a partir do momento em que os pais fazem 

a opção por essa ou aquela escola e essa relação é de suma importância para que 

haja avanços na educação dos sujeitos envolvidos.  A relação existente entre família 

e escola nas muitas vezes é um jogo de empurra/empurra entre as duas instituições, 

a este respeito a autora nos afirma

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Uma   vez   efetivada   a   matrícula,   família   e   escola   começam   a estabelecer uma espécie de jogo. Nele, acontecem as mais variadas formas de jogar visto serem, escola e família, universos complexos de crenças, valores, costumes, etc. Que vão se desembrulhando e se tornando visíveis no dia­a­dia. (ZENKER, 2004, p. 254).

Quando  a   família   realiza  a  matrícula  da   criança  numa  determinada 

escola, a mesma passa a receber  influências e a  influenciar a escola, haja vista 

serem, cada uma dessas instituições possuidoras de seus valores e crenças e, a 

relação  estabelecida  a  partir   desse  momento  pode  ser   carregada  de  gestos  de 

confiança/ desconfiança, dependendo da visão social que a escola possui da família, 

e a família possui da escola, pois cada uma possui suas especificidades.

Para estreitar  os  laços entre escola e família  é  necessário que haja 

colaboração de ambos os lados.

Nesta   direção,   é   importante   observar   como   a   escola   e, especificamente, os professores empregam as experiências que os alunos têm em casa. Face à leitura, é muito importante que a escola conheça e saiba como utilizar as experiências de casa para gerir as competências   imprescindíveis   ao   letramento.   A   interpretação   de textos   ou   a   escrita   podem   ser   estimuladas   pelos   conhecimentos oriundos de outros contextos,  servindo de auxílio  à  aprendizagem formal. (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 27).

Portanto,   é   necessário   que   a   escola   leve   em   consideração   os 

conhecimentos trazidos pelas crianças, conhecimentos estes oriundos do contexto 

familiar. Já a família, em contra partida precisa envolver­se no processo de ensino 

dos filhos. De acordo com Dessen e Polônia (2007), os pais devem estar atentos 

tanto nos aspectos de acompanhamento das tarefas e dos trabalhos desenvolvidos 

pelo aluno, quanto na permanência deste no ambiente escolar e a qualidade das 

relações que ele, o sujeito, estabelece entre os pares, amigos.

Os laços afetivos, estruturados e consolidados tanto na escola como na   família   permitem   que   os   indivíduos   lidem   com   conflitos, aproximações e situações oriundas destes vínculos,  aprendendo a resolver   os   problemas   de   maneira   conjunta   ou   separada.   Nesse 

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processo,   os   estágios   diferenciados   de   desenvolvimento, característicos dos  membros da  família  e   também dos segmentos distintos   da   escola,   constituem   fatores   essenciais   na   direção   de provocar mudanças nos papéis da pessoa em desenvolvimento, com repercussões diretas na sua experiência  acadêmica e psicológica; dependendo do nível de desenvolvimento e demandas do contexto [...]. (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 27).

Sendo   assim,   tanto   a   família   como   a   escola   desempenha   papéis 

indispensáveis,   na   formação   do   sujeito   e   a   parceria   entre   as   duas   instituições 

aparece  como mecanismo para  que  o  desenvolvimento  do  sujeito  se   realize  de 

forma  integral.  Para que esta   relação seja  efetivada,  segundo Dessen e Polonia 

(2007), a escola, deve inserir no seu Projeto Pedagógico um espaço que valorize as 

práticas   educativas   familiares,   bem   como   levar   em   consideração   as   diferenças 

culturais. “Portanto as escolas deveriam investir no fortalecimento das associações 

de pais  e mestres,  no conselho escolar,  dentre  outros espaços de participação,” 

(DESSEN; POLONIA, 2007, p. 28). Para assim propiciar a convivência da família 

com a comunidade estreitando os laços que as une, assegurando uma continuidade 

da educação iniciada no seio da família.

A esse respeito Paro (2007a), também dá sua contribuição, enquanto 

espaço  de   formação.  A  escola,  apesar  de  possuir   funções  específicas  não  está 

isenta de continuar o trabalho desenvolvido pelas famílias 

É possível imaginar uma relação entre pais e escola que não esteja na exploração dos primeiros pela segunda. É possível imaginar um tipo   de   relação   que   não   consista   simplesmente   de   uma   “Ajuda” gratuita dos pais à escola. Pode­se pensar em uma integração dos pais com a escola, em que ambos se apropriem de uma concepção elaborada de educação que, por um lado, é  um bem cultural para ambos e, por outro, pode favorecer a educação escolar e, ipso facto, rever­se em benefícios dos pais, na forma de melhoria da educação dos seus filhos. (PARO, 2007a, p.25).

A relação família escola é uma via de mão dupla, pois o que está em 

jogo   é   a   formação   dos   sujeitos,   ou   seja,   os   filhos   dos   pais   que   são   os   mais 

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interessados no processo de formação dos mesmos. 

A   escola   deve   se   “reportar”   constantemente   as   experiências anteriores   dos   educandos,   é   também   defensável   que   se   tomem medidas, no seio da casa ou da família, que possam, depois, facilitar na   escola   a   apreensão   dos   conteúdos   culturais   necessários   ao desenvolvimento   social   e   cultural   da   pessoa.   A   mais   importante dessas   medidas   parece   ser   precisamente   o   desenvolvimento   de valores favoráveis ao saber e à postura de estudar e interessar­se pelo aprendizado. (PARO, 2007a, p.34).

É   possível  pensar  numa  integração  dos  pais   com a  escola,  pois  a 

mesma sem a ajuda da família corre o risco de não conseguir sozinha estabelecer 

meios para que os alunos sejam autônomos em relação ao hábito de estudar, seja 

em casa ou, no ambiente escolar. Nesse sentido, fica claro que “a função da família 

e a  função da escola se complementam na construção de um ser humano mais 

participativo e mais consciente.” (MIRANDA; LEITE; MARQUES, 2010, p.109)

3.1. Descrevendo o Projeto

O Projeto Escola de Pais observado neste estudo foi desenvolvido nos 

anos de 2009 e 2010 por uma escola da rede particular de ensino da cidade de 

Ibiporã,   a   qual   possui     parceria   com o  Sistema  Maxi   de  Ensino,   e   tinha   como 

objetivos:

1. Propiciar espaço para reflexão;

2. Debater,  estudar  e  analisar  as   relações  afetivas  entre  pais  e 

filhos;

3. Valorizar o aprendizado permanente aproximando os adultos da 

realidade dos jovens;

4. Aproximar a escola da família.

A justificativa para o desenvolvimento do projeto é a busca em oferecer 

uma educação  completa  ao  aluno,  através  da  participação  ativa  dos  pais,  e  da 

necessidade em mostrar aos pais que a educação deve ser um processo onde os 

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eles  tem que ocupar  o seu  lugar,  um processo onde os pais  tem seu espaço e 

envolvimento. (Proposta do Projeto).

A   escola   oferecia   no   início   de   cada   ano   letivo   uma   palestra   para 

apresentar aos pais a Escola de Pais, e posteriormente organizava­se para convidá­

los a participar das Oficinas de Emoções. Na escola as oficinas aconteciam a cada 

trinta dias, uma vez por mês.

O convite

Os   pais   eram   convidados   a   participarem   das   oficinas,   e   o   convite 

chegava até  eles via agenda do aluno, filho matriculado. Neste sentido o Projeto 

opunha­se ao pensamento de que a família deve ser chamada na escola somente 

para  cumprir   obrigações  como  reuniões  pedagógicas,  a   família  era  convidada  a 

envolver­se na vida acadêmica dos filhos e para isso a escola entendia que devia 

prepará­los, “não basta permitir formalmente que os pais de alunos participem da 

administração   da   escola;   é   preciso   que   haja   condições   materiais   propiciadoras 

dessa  participação   ”(PARO,  2001,  p.13),  neste  sentido  o  Projeto  era  uma   forma 

concreta de participação.

As oficinas

Para fundamentar esta pesquisa, e pelo fato das oficinas acontecerem 

no período noturno no qual estou matriculada nesta Universidade, durante o ano de 

2010 tive a oportunidade de participar e experienciar somente duas oficinas, nas 

quais pude observar a organização das mesmas seus objetivos, e a seriedade com 

que cada participante se apropriava destes momentos. De acordo com Bordenave 

(1983), o homem é um ser participativo pela sua essência, e esta participação inicia­

se na família e amplia­se posteriormente para o trabalho, comunidade e luta política.

Mas afinal o que motiva as pessoas a serem participativas? O que leva 

os pais a participarem do Projeto Escola de Pais? Segundo  Bordenave (1983), além 

de uma realização pessoal superior aos resultados úteis

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Ocorre que a  participação não é  somente um  instrumento para  a solução   de   problemas,   mas,   sobretudo,   uma   necessidade fundamental do ser humano, como são a comida, o sono e a saúde. A   participação   é   o   caminho   natural   para   o   homem   exprimir   sua tendência  inata de  realizar,   fazer  coisas,  afirmar­se a si  mesmo e dominar a natureza e o mundo. Além disso, sua prática envolve a satisfação de outras necessidades não menos básicas, tais como a interação   com   os   demais   homens,   a   auto­expressão,   o desenvolvimento do pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar as coisas, e, ainda, a valorização de si mesmo pelos outros. Conclui­se que a participação tem duas bases complementares: uma base afetiva – participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com os   outros­   e   uma   base   instrumental­   participamos   porque   fazer coisas com os outros é mais eficaz e eficiente que fazê­las sozinhos. (BORDENAVE, 1983, p. 16).

A participação é uma necessidade do homem para realizar­se enquanto 

ser humano, as pessoas participam por prazer em estar inserida num contexto ou 

por   somar­se   a   um   determinado   grupo   afim   de   que   a   eficácia   das   atividades 

realizadas estejam a contento.

Primeiramente os pais são recepcionados e ficam aglomerados em um 

salão onde a Coordenadora do Projeto apresenta o tema e o objetivo do mesmo, em 

um dos encontros o tema foi “Nos transformamos naquilo que acreditamos ser”, com 

o objetivo; Chamar a atenção sobre os rótulos que adquirimos ao longo do tempo, 

bem como aquele que colocamos nas pessoas com as quais convivemos.

Contou então uma historia “O ex­detento e a caixinha de dinheiro” para 

provocar reflexão e após o término da história, o grupo foi subdividido em três grupos 

pequenos, de seis pessoas cada um, para possibilitar as trocas de experiências. No 

grupo pequeno os participantes se posicionaram em círculo, onde cada um podia se 

quisesse pronunciar a respeito do tema e, houve várias trocas. Falaram sobre as 

experiências da  infância,  da vida, e  também sobre os rótulos que adquiriram ao 

longo da vida e como eles podem influenciar na formação da identidade dos próprios 

filhos.

Após  dez  minutos  de  conversa,   todos  os  grupos  retornaram para  o 

salão,  e cada um recebeu uma frase que dizia  “você  se  transforma naquilo  que 

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acredita  ser”  e   junto  algumas dicas  para   tentar  vivenciar  durante  a  semana,  na 

família   no   trabalho,   na   comunidade,   procurar   sempre   títulos   positivos   para   as 

pessoas, descartar aqueles rótulos que denigrem sua pessoa, dos quais são vítimas. 

E apostar nas palavras de sucesso, eu sou capaz, eu sou bom, ou seja, os pais iam 

ao Projeto para aprender a lidar com suas emoções, afim de entendendo­se a si 

mesmo possam compreender melhor os comportamentos dos filhos e ajudá­los a 

superar.   “A   qualidade   da   participação   aumenta   também   quando   as   pessoas 

aprendem a  manejar   conflitos;   classificar   sentimentos  e  comportamentos;   tolerar 

divergências;   respeitar   opiniões;   adiar   gratificações”   (BORDENAVE,   1983,   p.73), 

aprendem a olhar o outro e respeitar suas posições e espaço, exercitando mesmo 

que de maneira simplista a democracia.

3.2. Os relatos dos envolvidos

O projeto nasceu com o desejo de ajudar os pais com suas emoções e consequentemente, no relacionamento deles com os filhos. A ideia é   boa,   mas   quando   se   trata   de   lidar   com   emoções   sempre   há resistência. O grupo que perseverou até o final dava testemunho do quanto   participar   das   reuniões   era   importante   para   eles,   como   a autoestima   havia   melhorado,   e   percebemos   isso   em   algumas crianças,   filhos   dos   participantes,   que   tiveram   melhora   no   seu desempenho escolar. Acho uma pena que tenha acabado, mas eram poucas   pessoas   para   uma   estrutura   que   exigia   das   irmãs   um sacrifício grande. Para mim foi uma experiência válida, tanto como pessoa, como professora e principalmente como mãe. Creio que para quem   participou,   pouco   ou   muito,   também   tenha   valido   a   pena.O projeto foi importante para a escola pois pode aproximar os pais da realidade escolar e ao realizar isso, a escola pode também ter uma compreensão melhor sobre a família, porque muitas vezes, a escola responsabiliza  a   família   por   coisas   que   acontecem  sem  entender bem a realidade de cada lar, e esta relação, escola­família, é uma parceria que só traz ganho para os alunos. Porém, volto a dizer, que é  uma pena que o  projeto  tenha acabado,  penso que deveria   ter havido um esforço maior  dos  pais,  de  própria  escola  e  da minha parte. (coordenadora do projeto e professora da escola).

Na fala da coordenadora pode­se perceber que o Projeto em si  era 

muito bom e viável tanto para a escola como para os pais, pois, ajudava os pais a 

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entenderem suas emoções e a relacionar­se melhor com os filhos, e como descreve 

as   vantagens   eram   percebidas   diretamente   no   comportamento   das   crianças. 

Aproximava os pais da realidade escolar e automaticamente a escola da família, 

fazendo   com   que   esta   pudesse   entender   um   pouco   mais   sobre   os   níveis   das 

relações existentes em cada grupo familiar. Como pontua é uma parceria que só traz 

benefícios   para   o   aluno.   Porém,   mesmo   com   a   viabilidade   do   Projeto   houve 

resistências  por  parte  dos pais,  pois  se   tratava de um Projeto  que orientava os 

mesmos a lidarem com suas emoções.

Quanto à falta de um necessário conhecimento e habilidade dos pais para incentivarem e influenciarem positivamente os filhos a respeito de bons hábitos de estudo e valorização do saber, o que se constata é que os professores, por si, não têm a iniciativa de um trabalho a esse   respeito   junto   aos   pais   e   mães.   Mesmo   aqueles   que   mais enfaticamente  afirmam constatar  um maior  preparo  dos  pais  para ajudarem seus   filhos  em casa  se  mostram omissos  no   tocante  à orientação que eles poderiam oferecer, especialmente nas reuniões de pais, que é  quando há  um encontro que se poderia considerar propício para isso. (PARO, 2007a, p.65).

Olhando   por   esse   viés   percebe­se   que  ao   aproximar   a   família   da 

escola.  A  instituição escolar  propicia uma  interação com a  família  no sentido de 

esclarecer  sobre as  influências paternas/maternas no processo de aprendizagem 

das crianças. Também incentiva os professores a engajarem­se na coletividade dos 

acontecimentos escolares, fazendo com que aos poucos eles tomem consciência do 

seu papel social que vai além de ensinar, mas de comprometer­se enquanto cidadão 

pertencente ao contexto escolar como ressalta Paro (2001), as ações que são de 

interesse de todo grupo escolar. Quando questionada sobre a importância do Projeto 

a coordenação da escola relata

Há algum tempo sentíamos a necessidade em oferecer um suporte emocional  que  auxiliasse  os  pais  na  convivência  e   formação  dos filhos. Os encontros da Escola de Pais proporcionavam momentos para que os pais pudessem trabalhar seus sentimentos e afetividade de forma que pudessem chegar em casa um pouco mais preparados para   lidarem   com   seus   filhos.   As   oficinas   levavam   os   pais   a refletirem, analisarem e interagirem uns com os outros e saiam da 

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escola com um novo entusiasmo e vontade de chegar em casa e dar um longo abraço em seu filho, de compreende­lo melhor, em ajudá­lo como verdadeiros educadores familiares. Tudo era maravilhoso, pena que poucos pais se disponibilizaram a participar, até precisavam e queriam, mas, não arrumavam tempo. (Coordenadora Pedagógica da Escola e Mãe).

O relato anterior expressa à disposição da escola em oferecer aos pais 

um   espaço   para   melhor   compreender   a   formação   dos   seus   filhos   e 

consequentemente  poder   ajudá­los   da   melhor   maneira   possível.   A   fala   também 

manifesta a angústia de quem tentou iniciar um processo de preparação desses pais 

e  não   teve  o   retorno  dos  mesmos,  pois  os  pais   participantes  eram poucos  em 

comparação a quantidade de  famílias que possuíam seus  filhos matriculados na 

instituição. Em pesquisa realizada Paro (2007a), aponta 

A divulgação de valores positivos com relação ao saber e ao estudo junto aos pais,  para  que estes  trabalhem estes valores com seus filhos em casa, depende de uma comunicação muito eficiente entre escola e pais, o que está longe de acontecer, segundo o depoimento do pessoal escolar. Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão,  por  parte  dos  pais,   daquilo  que  é   transmitido  pela escola;   por   outro,   uma   falta   de   habilidade   dos   professores   para promoverem essa comunicação. (PARO, 2007a, p.68).

No que diz respeito à valorização do saber de um lado os pais parecem 

não compreender o que a escola ensina, por outro lado os professores também não 

expressam o que desejam dos pais. E esse avanço na relação depende de um ato 

comunicativo avançado, sem preconceitos formados uma relação não de igualdade, 

pois cada instituição possui sua função específica, mas de parceria no sentido de 

somar ao processo de aprendizagem dos alunos,  visto  ser  este o  foco  tanto da 

família quanto da escola.

“Enquanto   participante   das   oficinas   senti   a   dificuldade   da   escola enquanto   organização,   a   gestão   das   oficinas   ficavam   sempre centradas   na   pessoa   da   coordenadora   e   os   demais   professoras pouco se envolviam com o Projeto” (Grifos meus).

Como   pontua   Paro   (2001)   a   gestão   democrática   da   escola   se   dá   pelo envolvimento de  todo o grupo escolar,   logo se o Projeto  fracassou pelo afastamento da coordenadora, tampouco se efetivava a gestão democrática, pois a escola como um todo 

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não se apropriou do Projeto para si.

3.3. Estratégias para atrair os pais

A diretora  da  escola  pesquisada  por  Paro   (2007a)   relata  que   tenta 

sempre estimulá­los oferecendo lanches, porém o respeito com que são recebidos e 

tratados, sobrepõem­se a esse aspecto cordial da diretora de oferecer alimentação 

durante as reuniões. “As reuniões são bastante amistosas. Todos se respeitam. Os 

pais têm voz e voto. Os professores são respeitosos com relação a todos. É difícil 

até  saber  quando é  pai  e  quando é  professor  que está   falando”  (PARO, 2007a, 

p.108). O tratamento dispensado aos pais valorizando­os enquanto parte integrante 

da  escola   faz   com eles   sintam­se  acolhidos  e   tenham orgulho  de  participar   da 

educação de seus filhos. Nas reuniões não havia receitas ou encaminhamento de 

como proceder diante das necessidades dos filhos, mas somente “o simples fato de 

dar oportunidade para a pessoa pensar sobre o problema já a leva a progressos em 

sua consciência” (PARO, 2007a, p.108).

Na formação do grupo de pais apontado por Paro (2007a), os mesmos 

são   acolhidos   com   dinâmicas   motivando­os   a   se   soltarem   e   sentirem­se   mais 

próximos do contexto escolar. Os temas trabalhados nestes encontros são referentes 

à   adolescência,   sexo,   televisão   e   drogas,   tais   situações   que   poderiam   ser 

enfrentadas pelos pais,  porém não referentes a problemas diretamente  ligados a 

escola, como questão de aprendizagem por exemplo.

Os   pais   participam   ativamente,   perguntando,   manifestando   suas opiniões, parecendo estar muito à vontade. Pudemos perceber que as reuniões são cuidadosamente planejadas pelas coordenadoras já que   tem   uma   organização   de   tempo   das   atividades,   pauta   pré­estabelecida, uso de dinâmicas para relaxar e entrosar o grupo, além de   um   lanche   muito   bem   feito   que   é   desfrutado   por   todos   no intervalo.   Toda   essa   organização   demonstra   uma   seriedade   na maneira de encarar  o evento,  a pretensão de  tais  reuniões sejam duradouras   e   um   respeito   muito   grande,   por   parte   das coordenadoras,  pelo  público  ao  qual  se  dirigem.  (PARO,  2007a, p.114).

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A   organização   das   reuniões   anteriormente   aos   acontecimentos 

expressa a responsabilidade das coordenadoras ao realizar esse trabalho com os 

pais, a pesquisa de Paro (2007a) demonstra a seriedade com que são tratados os 

pais no contexto da escola referida, e a satisfação dos mesmos em fazer­se parte da 

mesma.     A Escola de Pais, neste trabalho analisada e que também foi objeto das 

pesquisas de Paro (2007), demonstra que tal  iniciativa para atrair os pais mesmo 

não sendo casual tem sido vista com bons olhos por toda comunidade escolar, pois 

ao   disponibilizar   um   espaço   para   que   os   pais   manifestem   suas   emoções, 

apreensões e expectativas possibilitam aos mesmos o exercício de sujeitos, e cria 

uma visão da gestão da escola voltada aos interesses do usuário, sem verticalidade 

nas relações.

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Considerações finais

No decorrer desta pesquisa foi possível estudar num panorama geral a 

organização   familiar   desde   a   era   primitiva,   em   que   primeiramente   as   relações 

familiares constituíam­se em relações carnais mútuas entre as gerações, excluindo­ 

se destas relações carnais somente os pais e, posteriormente as famílias passam a 

excluir   as   relações  entre   irmãos,   criando  a  categoria  dos  sobrinhos.  Bem como 

identificar as transformações pelas quais as famílias vêm passando especialmente 

na atualidade. Na contemporaneidade são encontradas inúmeras constituições de 

famílias,   e   que   estas   não   só   acompanham   a   evolução   social,   mas   também, 

contribuem para modificar a sociedade. Com as mudanças no nível de relações a 

família   tradicional   vai   aos   poucos   perdendo   seu   espaço   e,   consequentemente, 

outros arranjos familiares vão aparecendo.

Imersa   nesse   contexto   social   a   escola   não   fica   alheia   a   essas 

mudanças, do contrário, precisa desenvolver um trabalho respeitando as diferenças. 

O papel do gestor/pedagogo é de lutar para a construção de uma visão por parte da 

escola, desmistificando algumas crenças que possuem da comunidade. Afim de que 

a mesma possa participar da escola não somente para efetuar algum trabalho, mas 

também,   na   tomada   de   decisões   como,   por   exemplo,   onde   aplicar   melhor   os 

recursos financeiros recebidos do Estado e outros arrecadados com rifas, bingos e 

festas.

Incentivar a comunidade à  participação e mostrar a sua  importância 

também   é   papel   do   pedagogo,   para   que   a   mesma   tenha   a   escola   como 

pertencimento a seu espaço e com isso possa reivindicar melhores condições de 

trabalho e qualidade do ensino para as classes trabalhadoras. Neste contexto em 

que a democracia, participação é tida como ferramenta para a implementação de 

uma   gestão   democrática.  Gestão  essa  que   se   inicia   no   interior   da   escola,   nas 

relações, nas divisões de responsabilidade.

Por fim analisando o Projeto Escola de Pais percebeu­se que o mesmo 

cumpria com seus objetivos expressos na proposta, pois possibilitava a integração 

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família escola e aproximava as duas instituições de fato, o que é um ganho, haja 

vista muitas vezes a relação entre ambas, ser um jogo de empurra­empurra. No 

entanto, a Escola de Pais por si só não garante a participação dos pais para uma 

gestão   democrática.   Não   se   pode   negar   que   seja   uma   conquista   e   pode   ser 

realizada em outras instituições inclusive de cunho público. 

Criar  um espaço em que avance as relações é  sempre um desafio, 

pois,  a não participação vem sempre acompanhada de desculpas como:  falta de 

tempo, de poder aquisitivo para pagamentos de taxas para participar de palestras. 

Entretanto, há outras possibilidades que o pedagogo pode promover incentivando a 

melhoria   do   relacionamento   família   e   escola,   incluindo   nessas   possibilidades   o 

desafio  de   realizar  vínculos  com as  Universidades,  a   fim  de   trazer  profissionais 

qualificados   para falar aos pais criando um espaço em que os mesmos possam 

sentir­se parte da escola, não meros atendentes de pedidos feitos pela escola como 

acompanhar tarefas, frequentar reuniões, cobrar desempenho, mas, um espaço para 

discussão de temas importantes e que estão inseridos num contexto social em que a 

família e a escola estão imersas.

Infelizmente, o Projeto analisado não teve continuidade, mesmo assim 

a análise deste exemplo faz­se necessário e é importante, sobretudo como reflexão 

sobre o aproveitamento de um projeto  que visava garantir  a  construção de uma 

participação ativa.  Durante a pesquisa surgiram questionamentos que não  foram 

esclarecidos  devido  ao   foco  da  pesquisa  como:  O que  de   fato   faz  com que as 

famílias   não   sejam   participativas   da   vida   na   escola?   Quais   as   tramas   que 

necessitam   ser   desenroladas   para   que   esta   relação   avance?   Sugestões   para 

possíveis pesquisas futuras.

Neste sentido, ressalto que esta é uma forma de analisar este tema, 

outras considerações apareceriam se outro fosse o pesquisador, se outro fosse o 

momento, se outras fossem as leituras, portanto este é um início para novos estudos 

sobre essa temática, que se faz tão importante no meio educacional.

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