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FARMÁCIA S. ROQUE DA LAMEIRA Diana Rute Martins Torres

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FARMÁCIA S. ROQUE DA LAMEIRA

Diana Rute Martins Torres

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

i

FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

FARMÁCIA S. ROQUE DA LAMEIRA

Março de 2014 a Julho de 2014

Relatório realizado no âmbito da unidade curricular de Estágio

do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Autora: Diana Rute Martins Torres | 200905759

Orientador: Dr.ª Alda Gonçalves

________________________________________________

Tutor FFUP: Prof. Doutora Helena Vasconcelos

_________________________________________________

Julho de 2014

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ii

Declaração de integridade

Eu, Diana Rute Martins Torres, abaixo assinado, nº 200905759, aluna do Mestrado

Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do

Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (acto pelo qual um indivíduo,

mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes

dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a

outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso

colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de _______________ de ______

Assinatura: ______________________________________

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

iii

AGRADECIMENTOS

Findo o estágio na Farmácia S. Roque da Lameira e já na reta final do percurso

académico, quero agradecer todo o apoio dado nesta fase, por todos os que permitiram

que esta aprendizagem fosse possível.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Ordem dos Farmacêuticos, à comissão

de estágios da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e à Diretora Técnica da

Farmácia S. Roque da Lameira, a Dr.ª Alda Gonçalves, pela oportunidade de estagiar

nesta área da atividade farmacêutica. Foi, sem dúvida, uma experiência bastante

enriquecedora, que permitiu entrar em contacto com a realidade farmacêutica no contexto

da Farmácia Comunitária.

Um especial e sentido agradecimento à Dr.ª Alda Gonçalves por todo o apoio dado

ao longo deste estágio e por todo o ensinamento que me transmitiu. Obrigada também

pela confiança que depositou em mim para a realização de determinadas tarefas. Esta

aprendizagem manter-se-á sempre comigo ao longo da minha vida e carreira profissional.

Quero também agradecer à Dr.ª Natalina Cardoso pela disponibilidade, apoio e

simpatia ao longo do estágio. Obrigada pela companhia durante a minha primeira

formação fora do contexto académico.

Um agradecimento especial ao Sr. José e ao Sr. Jaime pelo esclarecimento das

inúmeras dúvidas que surgiam e pelo apoio dado em todos os momentos. Obrigada

também pela boa disposição, pelo excelente ambiente de trabalho proporcionado e pelo

exemplo de profissionalismo e dedicação incomparáveis.

Tive o prazer de estagiar com uma equipa excecional e estou eternamente grata

por tudo o que vivi e aprendi nestes 4 meses.

Quero agradecer também à Professora Doutora Helena Vasconcelos pelo apoio e

orientação dado ao longo do estágio.

Muito obrigada a todos.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

iv

RESUMO

O estágio em Farmácia Comunitária é o primeiro contacto do estudante de Ciências

Farmacêuticas com a realidade profissional. Durante o estágio, os estudantes

complementam a sua formação académica com os aspetos práticos da profissão,

adquirindo as competências técnicas e os valores deontológicos necessários para se

tornarem aptos para o exercício competente e responsável da atividade farmacêutica

após a conclusão do ciclo de estudos. Para além das valências técnicas, o farmacêutico

estagiário deve ser um elemento polivalente e deve colaborar na realização de trabalhos

relacionados com a atividade farmacêutica.

Numa primeira parte do relatório serão apresentados os trabalhos desenvolvidos ao

longo do estágio, tendo como base as situações do dia-a-dia que surgiram durante o

atendimento ao público. O primeiro trabalho desenvolvido foi referente ao Síndrome do

Pé Diabético, uma patologia que comporta graves consequências de saúde para os

doentes e para os familiares, que resulta, sobretudo, de um mau controlo da Diabetes

Mellitus.

O tema da Aterosclerose e Avaliação do Risco Cardiovascular surgiu para

complementar a campanha do mês de maio, Mês do Coração. A doença aterosclerótica é

uma das principais responsáveis pela elevada incidência de doenças cardiovasculares,

sendo de extrema importância conhecer os fatores de risco associados e insistir na sua

prevenção.

O último trabalho, Proteção Solar, procura abordar alguns aspetos sobre os perigos

da radiação solar e as estratégias a adotar para evitar as consequências a curto e a

longo prazo da exposição solar excessiva e descuidada.

Na segunda parte do relatório são descritas as atividades realizadas ao longo do

estágio como, por exemplo, receção e realização de encomendas, dispensa de

medicamentos e aconselhamento farmacêutico, e os aspetos relativos à organização

funcional e estrutural de uma farmácia comunitária, tendo como referência a Farmácia S.

Roque da Lameira.

Palavras-chave: Estágio; Farmácia Comunitária; Pé Diabético; Aterosclerose;

Risco Cardiovascular; Proteção Solar.

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v

LISTA DE ABREVIATURAS

ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

ANF – Associação Nacional de Farmácias

ARS – Administração Regional de Saúde

AVC – Acidente Vascular Cerebral

CGD – Caixa Geral de Depósitos

CNP – Código Nacional de Produto

CT – Colesterol Total

DCI – Denominação Comum Internacional

DCV – Doenças Cardiovasculares

EAM – Enfarte Agudo do Miocárdio

FEFO – “First Expire, First Out”

FPS – Fator de Proteção Solar

FR – Fatores de Risco

HDL-c – Colesterol das Lipoproteínas de Elevada Densidade

IMC – Índice de Massa Corporal

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P.

IGM – Instituto de Genética Médica Dr. Jacinto de Magalhães

ITB – Índice Tornozelo-Braço

IV – Infravermelha

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

LDL-c – Colesterol das Lipoproteínas de Baixa Densidade

MNSRM – Medicamentos Não Sujeito a Receita Médica

MSRM – Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

OMS – Organização Mundial da Saúde

PNV – Plano Nacional de Vacinação

PRM – Problemas Relacionados com os Medicamentos

PV – Prazo de Validade

PVF – Preço de Venda à Farmácia

PVP – Preço de Venda ao Público

RAM – Reações Adversas a Medicamentos

SAMS – Serviços de Assistência Médico-Social

SCORE – “Systematic Coronary Risk Evaluation”

SMC – Células Musculares Lisas

SNS – Sistema Nacional de Saúde

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vi

TG – Triglicerideos

UV – Ultravioleta

UVI – Índice Ultravioleta

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vii

LISTA DE FIGURAS

FIG. 1 - FATORES DE RISCO DE ULCERAÇÃO NO PÉ DIABÉTICO ............................................... 3

FIG. 2 - EXEMPLO DE FORMAÇÃO DE ÚLCERA DEVIDO A DANO REPETITIVO .............................. 3

FIG. 3 - COMPLICAÇÕES DA DIABETES MELLITUS: PÉ DIABÉTICO, ULCERAÇÃO E AMPUTAÇÃO .. 4

FIG. 4 - UTILIZAÇÃO DO MONOFILAMENTO PARA TESTAR A SENSIBILIDADE À PRESSÃO ............. 5

FIG. 5 – EXEMPLO DAS ÁREAS DE MAIOR RISCO DE CALOSIDADES E ULCERAÇÕES................... 6

FIG. 6 – PERCENTAGEM DE ÓBITOS PELAS PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE EM PORTUGAL DESDE

1991 A 2011 ............................................................................................................... 9

FIG. 7 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ATEROSCLEROSE .....................................................11

FIG. 8 – ESTREITAMENTO DA ARTÉRIA DEVIDO A PLACA ATEROSCLERÓTICA ...........................11

FIG. 9 – EVOLUÇÃO DA DOENÇA ATEROSCLERÓTICA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS

.................................................................................................................................12

FIG. 10 – FORMAÇÃO DA ESTRIA ADIPOSA NA ATEROSCLEROSE ............................................13

FIG. 11 – FORMAÇÃO DE FIBROATEROMAS NA ATEROSCLEROSE E ESTREITAMENTO DO LÚMEN

ARTERIAL (A) E RUTURA DA PLACA ATEROSCLERÓTICA (B) ............................................13

FIG. 12 – TABELA DE BAIXO RISCO CARDIOVASCULAR ..........................................................15

FIG. 13 – TABELA DE RISCO RELATIVO NOS JOVENS .............................................................16

FIG. 14 – EFEITOS BENÉFICOS E NEFASTOS DA RADIAÇÃO SOLAR .........................................20

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viii

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... III

RESUMO ........................................................................................................................................ IV

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................................... V

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................... VII

PARTE I - TRABALHOS DESENVOLVIDOS NO ÂMBITO DA ATIVIDADE FARMACÊUTICA

SÍNDROME DO PÉ DIABÉTICO E O PAPEL DO FARMACÊUTICO COMUNITÁRIO. .................. 1

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 1

3. O QUE É O SINDROME DO PÉ DIABÉTICO? ....................................................................... 2

4. FISIOPATOLOGIA ................................................................................................................. 3

5. PÉ NEUROISQUÉMICO E PÉ NEUROPÁTICO .................................................................... 4

6. PREVENÇÃO E TRATAMENTO ............................................................................................ 6

7. PAPEL DO FARMACÊUTICO ................................................................................................ 7

8. CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 8

ATEROSCLEROSE E AVALIAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL .......................... 9

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9

2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 10

3. A HISTÓRIA CLÍNICA DA ATEROSCLEROSE ................................................................... 10

4. PATOGÉNESE DA ATEROSCLEROSE .............................................................................. 12

5. FATORES DE RISCO ATEROSCLERÓTICOS ................................................................... 14

6. AVALIAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL ..................................................... 14

7. PREVENÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR .................................................................. 17

8. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 18

PROTEÇÃO SOLAR ....................................................................................................................... 20

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 20

2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 20

3. EFEITOS DA EXPOSIÇÃO SOLAR ..................................................................................... 21

4. ESTRATÉGIAS PARA A PROTEÇÃO SOLAR .................................................................... 22

5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 23

PARTE II - ESTÁGIO EM FARMÁCIA COMUNITÁRIA

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 25

2. FARMÁCIA S. ROQUE DA LAMEIRA ...................................................................................... 26

2.1 Localização e horário de funcionamento ........................................................................... 26

2.2 Perfil dos utentes ................................................................................................................ 26

2.3 Espaço físico ...................................................................................................................... 26

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ix

2.4 Recursos Humanos ............................................................................................................ 28

2.5 Fontes de Informação ........................................................................................................ 28

3. GESTÃO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS DE SAUDE ................................................... 29

3.1 Sistema Informático ............................................................................................................ 29

3.2 Gestão de “stocks’’ ............................................................................................................. 29

3.3 Aprovisionamento e encomendas ..................................................................................... 30

3.3.1 Fornecedores .............................................................................................................. 30

3.3.2 Realização de encomendas ........................................................................................ 31

3.3.3 Receção de encomendas ............................................................................................ 32

3.3.4 Marcação de preços .................................................................................................... 33

3.3.5 Armazenamento .......................................................................................................... 33

3.3.6 Controlo de prazos de validade................................................................................... 34

4. PRODUTOS EXISTENTES NA FARMÁCIA ............................................................................. 34

5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS ........................................................................................... 35

5.1 Medicamentos sujeitos a receita médica ........................................................................... 35

5.2 Prescrição médica e validação ........................................................................................... 35

5.3 Avaliação da prescrição médica e informações a fornecer ao utente ............................... 37

5.4 Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes ................................................................. 38

5.5 Regimes de comparticipação ............................................................................................. 39

5.6 Medicamentos não sujeitos a receita médica .................................................................... 39

5.6.1 Automedicação ............................................................................................................ 40

5.6.2 Indicação Farmacêutica .............................................................................................. 40

6. PROCESSAMENTO DE RECEITUÁRIO E FATURAÇÃO ....................................................... 40

7. OUTROS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS PRESTADOS NA FARMÁCIA .............................. 42

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 44

ANEXOS ....................................................................................................................................... 48

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0

PARTE I

Trabalhos desenvolvidos no âmbito

da atividade farmacêutica

TEMA 1: SÍNDROME DO PÉ DIABÉTICO E O PAPEL DO FARMACÊUTICO COMUNITÁRIO.

TEMA 2: ATEROSCLEROSE E A AVALIAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL.

TEMA 3: PROTEÇÃO SOLAR.

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1

SÍNDROME DO PÉ DIABÉTICO E O PAPEL DO

FARMACÊUTICO COMUNITÁRIO.

1. INTRODUÇÃO

A Diabetes é considerada uma epidemia global do século XXI e representa,

atualmente, um dos maiores desafios no panorama da saúde mundial. Esta doença afeta

mais de 382 milhões de pessoas no mundo e estima-se que a sua prevalência, em todos

os países, continue a aumentar nos próximos anos [1]. Em 2012, a taxa de prevalência

da diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79

anos foi de 12,9%, correspondendo a cerca de 1 milhão de indivíduos, sendo que, desse

modo, Portugal encontra-se entre os países da Europa que registam a mais alta taxa de

prevalência da diabetes [2].

Um controlo ineficaz da glicémia pode resultar em lesões nos tecidos, levando ao

aparecimento de várias complicações crónicas como, por exemplo, retinopatia,

nefropatia, neuropatia e doença cardiovascular [2,4]. Uma das complicações da diabetes,

o pé diabético, comporta graves consequências de saúde, como infeções e amputações

dos membros inferiores, sociais e económicas para os doentes e também para os

familiares e para a sociedade [3,4]. Embora o número de amputações dos membros

inferiores, por motivo de diabetes, tenha vindo diminuir ao longo dos anos, registou-se,

em 2012, 1493 amputações. Por outro lado, registaram-se 1849 internamentos

hospitalares por Pé Diabético em 2012, um valor que se tem revelado constante ao longo

dos anos [2]. Estes dados reforçam não só a necessidade de uma estratégia de

prevenção e controlo da diabetes eficaz, bem como da importância de uma cooperação

estreita entre o individuo com diabetes e com os profissionais de saúde, estando o

farmacêutico comunitário numa posição central no apoio ao doente, sendo a sua

contribuição fundamental para evitar este tipo de complicações.

2. OBJETIVOS

Tendo em conta este panorama nacional de prevalência da diabetes e de uma das

suas principais complicações, síndrome do pé diabético, este trabalho tem como principal

objetivo a elaboração de um folheto de informação alusivo às complicações emergentes

de um mau controlo da doença, incidindo principalmente no pé diabético e na sua

prevenção. Este folheto estará à disposição de todos os utentes da Farmácia S. Roque

da Lameira como fonte de informação para indivíduos saudáveis, doentes e cuidadores

de saúde. Serve também como apoio aos farmacêuticos e técnicos de farmácia do

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

2

estabelecimento para a manutenção do conhecimento sobre a matéria descrita neste

trabalho e no folheto, de modo a assegurar uma transmissão de informação segura e

fiável ao utente.

A maioria dos utentes que se desloca à Farmácia S. Roque da Lameira são

indivíduos idosos, com historial clínico de Diabetes Mellitus e com farmacoterapia

antidiabética já estabelecida. No entanto, grande parte dos utentes não demonstra

controlo do nível de glicémia. Do confronto com esta realidade, surgiu a necessidade de

alertar o individuo para importância do controlo da diabetes e da prevenção do pé

diabético, informando, também, sobre os serviços disponíveis na farmácia para auxiliar

nessa tarefa como, por exemplo, medição dos parâmetros bioquímicos, aconselhamento

farmacêutico e o serviço de podologia.

3. O QUE É O SINDROME DO PÉ DIABÉTICO?

A síndrome do pé diabético abrange um conjunto de estados patológicos, incluindo

a neuropatia, a neuroartropatia de Charcot, a doença arterial periférica, osteomielite e

ulceração do pé [3]. Pode ocorrer tanto na diabetes tipo I como tipo II e resulta do

desenvolvimento de neuropatia, induzida pela hiperglicemia sustentada em que, com ou

sem doença arterial periférica e com traumatismo prévio, se desenvolve uma ulceração

no pé [3,4].

Uma das consequências da neuropatia é a insensibilidade no pé que diminui a

perceção da dor causada por úlceras, feridas ou infeções que, não sendo tratadas,

poderão levar à perda do membro por amputação [4].

Dependendo do atingimento preferencial de nervos ou vasos, existem dois tipos de

pé diabético: pé neuropático, que ocorre em cerca de 65% dos casos, e o pé

neuroisquémico, em 35% dos casos [3,5].

O risco de um diabético desenvolver úlcera no pé ao longo da vida chega a atingir

25%. A contribuir para esta estatística está o diagnóstico tardio, bem como falta de

tratamento atempado. Tudo isto pode resultar numa deformação irreversível do pé,

ficando mais suscetível a ulcerações e infeções e podendo, em último caso, necessitar de

amputação [3].

Estas lesões resultam num aumento da morbilidade e mortalidade e os doentes

com este tipo de patologia apresentam, frequentemente, múltiplas complicações da

diabetes, sendo necessário uma abordagem multidisciplinar, na qual o farmacêutico

poderá desempenhar um papel importante na prevenção do pé diabético [3,5].

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3

4. FISIOPATOLOGIA

As lesões do pé diabético apresentam uma natureza multifatorial. De entre os

vários fatores de risco para o desenvolvimento encontram-se: neuropatia diabética

periférica, doença arterial periférica, mobilidade reduzida das articulações, deformações

no pé, traumas menores, história clinica prévia de ulcerações e acuidade visual reduzida

[6]. A Figura 1 apresenta alguns fatores de risco associados à ulceração.

Fig. 1 - Fatores de risco de ulceração no pé diabético (adaptado de [6]).

A neuropatia diabética periférica é o principal fator de desenvolvimento de úlceras

no pé diabético e deriva da degenerescência dos axónios, sendo resultado direto das

alterações metabólicas induzidas pelo estado de hiperglicemia. Esta situação carateriza o

pé neuropático, a forma mais frequente de pé diabético [3,7,8].

A neuropatia manifesta-se, desse modo, no sistema nervoso a nível da parte

motora, autónoma e sensorial. A nível motor observa-se que os danos na inervação dos

músculos do pé provocam deformações na anatomia do membro, criando proeminências

ósseas ou pontos de pressão que causam lesões na pele e, consequentemente,

ulceração. A nível autonómico, a neuropatia afeta a função das glândulas sudoríparas e

sebáceas, pelo que a pele do pé se torna seca e mais frágil, sendo mais suscetível ao

desenvolvimento de lesões e infeções. Mas é a nível sensitivo que a neuropatia exerce o

seu efeito mais perigoso. A perda da capacidade de perceção de dor leva a que o

indivíduo não consiga detetar as lesões. Como resultado, estas lesões podem passar

despercebidas e podem piorar progressivamente, como ilustrado na Figura 2, agravando

a úlcera [3,6,8].

Fig. 2 - Exemplo de formação de úlcera devido a dano repetitivo (adaptado de [7]).

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4

No entanto, a neuropatia diabética pode também estar associada aos efeitos da

oclusão aterosclerótica e, neste caso, surge o pé neuroisquémico [3,5]. A oclusão

aterosclerótica pode ocorrer nas grandes artérias da perna e vai criar um ambiente

isquémico, atingindo o seu ponto máximo no pé. Embora esta situação não resulte

diretamente da alteração metabólica que ocorre na diabetes, pode ser agravada por esta,

uma vez que é um fator de risco de aterosclerose [3,6]. O estado hiperglicémico promove

vasoconstrição, aumenta o risco de hipercoagulabilidade e pode também levar à

estenose do lúmen arterial. Todos estes fatores contribuem para o desenvolvimento da

doença arterial periférica e associado à oclusão, resulta em isquemia das extremidades

inferiores e aumentam o risco de ulceração em indivíduos diabéticos [3,8].

A Figura 3 demonstra, resumidamente, as manifestações da neuropatia no sistema

nervoso dos indivíduos diabéticos e de que forma contribuem na patogénese do pé

diabético.

Fig. 3 - Complicações da Diabetes Mellitus: Pé diabético, ulceração e amputação

(adaptado de [6]).

5. PÉ NEUROISQUÉMICO E PÉ NEUROPÁTICO

O diagnóstico diferencial destas duas entidades clínicas é fundamental para a

abordagem correta do pé diabético.

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5

Enquanto as lesões do pé neuropático curam, na maior parte das vezes, quando

submetidas a tratamento adequado, no pé neuroisquémico, o prognóstico depende do

restabelecimento da circulação sanguínea [5].

É, então, fundamental a distinção entre estes dois tipos de pé diabético para um

tratamento adequado e eficaz. A presença ou ausência de pulsos periféricos permite esta

distinção e, como tal, na prática clínica, os parâmetros essenciais para diagnóstico

correto são parâmetros vasculares, enquanto os critérios neurológicos são apenas

confirmativos [3,5].

O diagnóstico do pé neuropático centra-se na perda de sensibilidade plantar à

pressão, normalmente efetuada através do teste com o monofilamento de 10g de

Semmes-Weinstein, como exemplificado na Figura 4. Este teste é utilizado como

marcador de risco de ulceração [5].

Fig. 4 - Utilização do monofilamento para testar a sensibilidade à pressão

(adaptado de [9]).

Adicionalmente, faz-se a mesma pesquisa recorrendo à sensibilidade vibratória

(com uso de diapasão de 128 Hz) ou à sensibilidade tátil (algodão) ou ainda à pesquisa

de reflexos aquilianos (martelo de reflexos) [5].

Clinicamente, o pé neuropático apresenta-se quente, com pele seca e com veias

dilatadas, com deformidade esquelética e insensível. No entanto, deteta-se ainda pulso

periférico. A úlcera neuropática localiza-se, normalmente, na face plantar do antepé,

podendo desenvolver-se sob uma cabeça metatarsiana ou nos dedos que facilmente se

deformam. A úlcera neuropática apresenta bordos altos, em cratera, por proliferação

abundante do epitélio e da capa córnea. Devido a este aspeto é denominada por úlcera

calosa [3,7].

Por outro lado, num pé neuroisquémico, os pulsos não são palpáveis, apresenta-se

pálido, frio, com índice tornozelo-braço (ITB) inferior a 0,9, com sintomas de claudicação

e menor fluxo de sangue. A úlcera isquémica normalmente apresenta área de cianose

circundante, sem calo e com localização mais inespecífica – digital, marginal no pé,

lateral no calcanhar, dorso [3].

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6. PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A prevenção e o tratamento adequado do pé diabético são fundamentais para

reduzir o número de casos e para diminuir a gravidade do quadro clínico. Para tal, é

preciso apostar na educação contínua do doente, dos seus familiares e dos profissionais

de saúde. Existe um conjunto de medidas preventivas e de terapias farmacológicas que

auxiliam na prevenção e tratamento da síndrome do pé diabético [5,7].

A prevenção assenta, essencialmente, na higiene e no cuidado do pé e na inspeção

periódica adequada e correta do mesmo. Para além desse ponto fulcral, não se deve

esquecer de alertar o individuo para a importância de adotar um estilo de vida saudável,

através de uma alimentação saudável, da prática de exercício físico e da cessação

tabágica, de modo a controlar os níveis de glicemia, perfil lipídico e o peso [3,7].

No âmbito das medidas preventivas, deve-se enfatizar a importância do uso de

cremes hidratantes para pés secos e fissurados, evitando a aplicação entre os dedos.

Existem produtos específicos, disponíveis na farmácia comunitária, para o cuidado e

higiene dos pés de indivíduos diabéticos. É importante alertar para a utilização de meias

sem costuras, nem elásticos, de material absorvente, como algodão ou fibra natural.

Além disso, é imprescindível a utilização de calçado adequado e confortável, uma vez

que o calçado é o principal responsável pelo aparecimento de calosidade e ulcerações,

devido ao traumatismo continuado em locais de maior pressão ou atrito, como

exemplificado na Figura 5.

Fig. 5 – Exemplo das áreas de maior risco de calosidades e ulcerações (adaptado

de [7]).

Desse modo, o ideal é optar por sapatos ortopédicos adaptados aos pés do

individuo. Estes devem possuir espaço para os dedos, devem ser suficientemente altos e

largos para evitar lesões dorsais e marginais dos dedos e o tacão do sapato não deve ser

superior a dois a quatro centímetros. Devem possuir ainda uma palmilha amovível para

poder ser substituída por palmilha individualizada e corretora das hiperpressões plantares

[3,5,7].

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

7

Devem-se tratar as calosidades e as feridas, sem esquecer de manter um cuidado

ungueal adequado. Existe ainda a possibilidade de realizar intervenções cirúrgicas caso

se verifique a necessidade de corrigir a pressão focal exagerada sobre o pé [3,5].

Caso se observe presença de infeção na úlcera, deve-se definir a sua gravidade e

estabelecer o regime terapêutico adequado, de modo a controlar a infeção [3,5]. Há

quatro passos fundamentais no tratamento da úlcera do pé diabético: desbridamento

cirúrgico de todas as coleções abcedadas com drenagem do pus; pensos (periodicidade

a definir, caso a caso); antibioterapia, de largo espectro, dependendo da gravidade da

infecção; controlo glicémico, com eventual insulinoterapia, e de outras co-morbilidades

com os respetivos fármacos [5].

7. PAPEL DO FARMACÊUTICO

O farmacêutico é um profissional de saúde que se encontra mais acessível para o

aconselhamento do utente, por isso desempenha um papel fundamental não só no

controlo da Diabetes Mellitus, mas também na prevenção das complicações da doença,

como é o caso do pé diabético [10].

O farmacêutico pode auxiliar o doente no controlo da glicemia, uma vez que um

mau controlo contribui para o desenvolvimento de neuropatia e infeções, e da pressão

arterial, encorajando o individuo a alcançar os valores desejáveis e, desse modo,

melhorar a sua qualidade de vida. Pode também aconselhar algumas medidas não

farmacológicas que ajudarão a atingir a meta como, por exemplo, adotar uma

alimentação saudável e realizar exercício físico. A educação do doente é também

fundamental não só para a compreensão da doença e das suas complicações, mas

também para promover a adesão à terapêutica.

Para além do acompanhamento do doente no controlo da diabetes, o farmacêutico

deve relembrar os doentes para os cuidados a ter com os pés, nomeadamente, manter

uma higiene cuidada, usar meias e calçado apropriado que evitem qualquer tipo de lesão

no pé. Pode também aconselhar o uso de cremes hidratantes para os pés de modo a

manter a pele saudável e reforçar a importância de inspecionar os pés diariamente, com

atenção, para detetar qualquer alteração.

O farmacêutico deve aconselhar o doente a procurar ajuda médica para avaliar

lesões que apareçam nos pés e, caso se suspeite de infeção no membro, o farmacêutico

deve alertar o médico, para que se inicie o tratamento rapidamente e com a terapia

antibacteriana adequada ao paciente [3,5,10].

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8

8. CONCLUSÃO

Os indivíduos com Diabetes Mellitus apresentam um risco elevado para o

aparecimento da síndrome do pé diabético. Um mau controlo da glicémia e a persistência

do estado hiperglicémico que, para muitos indivíduos, passa despercebido, promove o

desenvolvimento de complicações neuropáticas e vasculares que podem culminar em

lesões no pé. Além disso, o desconhecimento da patologia também pode determinar o

agravamento da situação [8].

Os profissionais de saúde devem atuar de forma a evitar estas complicações e o

farmacêutico comunitário deve integrar essa equipa de profissionais. Na farmácia

comunitária encontram-se, muitas vezes, indivíduos com Diabetes Mellitus não

controlada e um bom aconselhamento farmacêutico, juntamente com o seguimento

farmacoterapêutico, podem fazer a diferença na prevenção das complicações desta

patologia. Observa-se, frequentemente, pessoas, principalmente idosos, a recorrerem

aos farmacêuticos para ajudar a inspecionar os seus pés e a pedir conselhos, uma vez

que a tarefa se demonstra difícil ou não conseguem identificar corretamente o problema.

Através do folheto informativo, que se encontra no anexo 1, foi possível alertar para

a existência do problema, não só para os doentes, mas também para os familiares e

cuidadores. Para a população mais envelhecida, recorreu-se principalmente à explicação

oral do problema e das medidas preventivas. O folheto ajudou, sobretudo, a facilitar a

comunicação entre o farmacêutico e o utente, encorajando o mesmo a debater sobre as

dúvidas mais frequentes sobre o assunto e a procurar ajuda para prevenir o

aparecimento ou agravamento lesões, direcionando o utente para cuidados de saúde

mais específicos quando necessário.

A educação e o esclarecimento dos indivíduos sobre o pé diabético torna-se, assim,

uma das medidas mais importantes para a sua prevenção e para a manutenção de uma

vida mais saudável.

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ATEROSCLEROSE E AVALIAÇÃO DO RISCO

CARDIOVASCULAR GLOBAL

1. INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) são a maior causa de mortalidade e

morbilidade no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2008, as

doenças cardiovasculares foram responsáveis por cerca de 17 milhões de mortes,

estimando-se que 7,3 milhões resultaram de doença cardíaca isquémica e 6,2 milhões

por acidente vascular cerebral (AVC) [11].

Em Portugal, tem-se verificado uma diminuição da taxa de mortalidade por doenças

cardiovasculares, mas mantem-se como a principal causa de morte no país, como

demonstrado na Figura 6 [12].

Fig. 6 – Percentagem de óbitos pelas principais causas de morte em Portugal desde 1991 a 2011 (adaptado de [12]).

Na origem destas doenças cardiovasculares, principalmente na doença cardíaca

isquémica e na doença cerebrovascular, e responsável por mais de 50% das mortes por

DCV, encontra-se a aterosclerose [11,13]. A doença aterosclerótica afeta as artérias de

médio e grande calibre por todo o sistema cardiovascular. Inicia-se na infância, como

resultado da conjugação de vários fatores de risco e manifesta-se mais tarde, na vida

adulta, como, por exemplo, enfarte agudo do miocárdio (EAM) e AVC [11].

Embora se considere que os níveis plasmáticos de lípidos, nomeadamente de

colesterol das lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c), sejam o principal fator de risco

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na doença aterosclerótica, esta doença apresenta uma génese multifatorial [11,14].

Desse modo, é importante conhecer os diversos fatores de risco da aterosclerose, bem

como compreender a sua patogénese, de modo a possibilitar a prevenção e tratamento

atempado e eficaz da doença [14].

2. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo a elaboração de um folheto informativo relacionado

com a aterosclerose, focando, principalmente, no significado da doença, nos fatores de

risco associados e na sua prevenção. Pretende-se, sobretudo, minimizar o impacto da

aterosclerose através da educação do individuo, insistindo na correção dos fatores de

risco modificáveis. Para além disso, pretende-se também integrar uma nova ferramenta

na farmácia para a avaliação do risco cardiovascular global do individuo, nomeadamente,

a tabela de risco desenvolvida no projeto “Systematic Coronary Risk Evaluation”

(SCORE), seguindo as recomendações da Sociedade Portuguesa da Aterosclerose e da

Direção-Geral da Saúde.

A ideia para este tema surgiu ao longo do estágio e serve como estímulo para a

realização de rastreios cardiovasculares e para a educação da população frequentadora

da farmácia, principalmente durante o mês de maio, devido ao evento do Mês do

Coração.

3. A HISTÓRIA CLÍNICA DA ATEROSCLEROSE

A aterosclerose é uma doença inflamatória crónica que se carateriza,

fundamentalmente, pela deposição de lípidos no espaço subendotelial da parede das

artérias de médio e grande calibre, com consequente resposta inflamatória local e

formação de ateromas [11, 14-16]. É também o principal processo patológico inerente ao

desenvolvimento de doenças cardiovasculares, tendo o seu início ainda na infância, com

progressão silenciosa ao longo do tempo, e possível manifestação na idade adulta

[11,16]. Usualmente, a aterosclerose é assintomática. Apenas apresenta sintomatologia

associada quando o lúmen arterial fica severamente diminuído ou quando há bloqueio

total da artéria. Mesmo assim, os sintomas são altamente variáveis. As manifestações

clinicas da aterosclerose variam consoante o território vascular afetado, como

exemplificado na Figura 7 [17].

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11

Fig. 7 – Manifestações clínicas da aterosclerose (adaptado de [17]).

As placas ateroscleróticas que se formam são estruturas que apresentam um

núcleo de lípidos modificados, leucócitos, células endoteliais e células musculares lisas

(SMC), componentes da matriz extracelular (colagénio, fibras elásticas e proteoglicanos)

e células espumosas [16,18]. Como resultado, as artérias vão perdendo a sua

elasticidade e ocorre estreitamento do lúmen arterial, como exemplificado na figura 8,

dificultando a passagem do fluxo sanguíneo que, por sua vez, poderá diminuir a

oxigenação eficaz dos tecidos [11,19].

Fig. 8 – Estreitamento da artéria devido a placa aterosclerótica (adaptado de [20]).

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12

No entanto, a complicação clínica mais relevante da aterosclerose resulta da

possível rutura da placa aterosclerótica, desencadeando a formação de um trombo ou

coágulo sanguíneo que provoca a oclusão de uma artéria. Nesse caso, se o coágulo se

desenvolver numa artéria coronária, poderá provocar um EAM. Caso se instale numa

artéria cerebral, pode desencadear um AVC [11,18,19]. Na Figura 9 pode-se observar a

evolução da aterosclerose ao longo do tempo e as possíveis manifestações clinicas que

resultam da progressão da doença.

Fig. 9 – Evolução da doença aterosclerótica e manifestações clínicas associadas (adaptado de [19, 21]).

4. PATOGÉNESE DA ATEROSCLEROSE

O evento iniciador do processo aterosclerótico é a exposição a níveis elevados de

colesterol, principalmente de LDL-c circulante, e a sua acumulação no espaço

subendotelial da parede arterial [13,18]. As partículas de LDL-c são oxidadas por

espécies reativas de oxigénio e induzem a expressão de moléculas de adesão e de

agentes quimiotáticos nas células endoteliais. Além disso, o endotélio também promove

influxo de proteínas de coagulação [13,19]. Desse modo, há uma disfunção do endotélio,

sendo que este se torna permeável às células inflamatórias, como os linfócitos T e

monócitos. Estas células migram para a camada intima da parede arterial, mantendo o

processo inflamatório [11,13]. As partículas lipídicas são fagocitadas pelos monócitos e

macrófagos, que se transformam em células espumosas (“foam cells”), formando-se a

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13

estria adiposa (Figura 10) [11,19]. Os macrófagos e linfócitos T promovem ainda a

expressão de várias quimiocinas e citocinas e, em resposta a tais mediadores, ocorre a

migração de SMC da túnica media para a íntima.

Fig. 10 – Formação da estria adiposa na aterosclerose (adaptado de [22]).

Concomitantemente à proliferação de SMC na íntima, ocorre a acumulação de

colagénio e proteoglicanos, levando à formação de uma cápsula fibrosa. À medida que o

processo aterosclerótico progride, vai haver acumulação de células apoptóticas,

colesterol e de outros detritos, formando um núcleo necrótico, envolvido pela cápsula

fibrosa (Figura 11-A) [11,13,19]. Estas lesões, fibroateromas, vão aumentando de

tamanho com a acumulação de células e lípidos, de tal modo que a placa vai expandindo

para o lúmen arterial, podendo bloquear o fluxo sanguíneo e provocar isquemia. Com a

progressão da lesão, a placa aterosclerótica pode tornar-se vulnerável e romper (Figura

11-B). Consequentemente, há libertação dos fragmentos lipídicos e detritos celulares

para o lúmen, que ficam, desse modo, expostos a fatores trombóticos, havendo

agregação imediata das plaquetas e formação de um trombo. Como resultado, pode

ocorrer EAM ou AVC [11,13].

Fig. 11 – Formação de fibroateromas na aterosclerose e estreitamento do lúmen arterial

(A) e rutura da placa aterosclerótica (B) (adaptado de [22]).

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14

5. FATORES DE RISCO ATEROSCLERÓTICOS

A doença aterosclerótica possui uma natureza multifatorial, resultado da

multiplicidade de fatores intervenientes na sua génese [21,23]. Estes fatores que

promovem o início e a progressão do processo aterosclerótico são conhecidos como

fatores de risco (FR) e incluem-se os fatores genéticos, ambientais e metabólicos [11,23].

Alguns destes fatores de risco são modificáveis, outros não, como o caso da idade, sexo

e da hereditariedade [24]. A predisposição genética está usualmente associada à história

familiar de prevalência de doenças cardiovasculares, pelo que, os membros da família

apresentam um maior risco para desenvolver a doença [21,24]. Por outro lado, os fatores

ambientais e metabólicos estão normalmente associados ao estilo de vida adotado pelos

indivíduos, pelo que são, maioritariamente, fatores modificáveis. Destacam-se nos fatores

ambientais/comportamentais o tabagismo, a inatividade física e a dieta desequilibrada,

com consumo excessivo de sal, gorduras, calorias e álcool. Também a contribuir

grandemente para a aterosclerose e elevando o risco cardiovascular tem-se a

hiperlipidemia, a hipertensão arterial, Diabetes Mellitus, hiperhomocisteínemia, excesso

de peso e obesidade [11,21,24,25].

Os fatores de risco não se devem avaliar de forma isolada. Quando existe mais do

que um fator de risco, estes interagem ente si, aumentando exponencialmente a

ocorrência de complicações clinicas relacionadas à aterosclerose [14,23].

6. AVALIAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR GLOBAL

O conceito de risco cardiovascular global é muito importante numa doença de

origem multifactorial como a doença aterosclerótica. Por risco cardiovascular entende-se

a probabilidade de um individuo desenvolver um evento cardiovascular aterosclerótico

num determinado período de tempo [14,23]. Como tal, a identificação dos indivíduos

assintomáticos, mas em risco de desenvolver um evento cardiovascular agudo, é muito

importante e apenas é possível com a abordagem global de todos os fatores de risco

ateroscleróticos. A avaliação do risco cardiovascular global permite não só a identificação

destes indivíduos com elevado risco de DCV, mas também ajuda na decisão de

estabelecer objetivos terapêuticos e iniciar um conjunto de medidas não farmacológicas e

farmacológicas para a prevenção da doença e das suas complicações. Além disso,

também pode servir de motivação para os doentes modificarem os seus comportamentos

e cumprirem as medidas preventivas e terapêuticas. É um instrumento que ilustra os

benefícios que se podem atingir com a redução dos fatores de risco existentes e auxilia,

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ao mesmo tempo, na explicação do conceito de risco cardiovascular, para educação do

individuo [14,26].

Uma das ferramentas que permite realizar o cálculo do risco cardiovascular é a

escala SCORE, recomendada tanto pela Sociedade Portuguesa da Aterosclerose, como

pela Direção-Geral da Saúde [14,23]. Este modelo resultou de uma extensa base de

dados provenientes de estudos epidemiológicos de coortes europeus, nos quais a

presença de fatores de risco foi relacionada com a incidência de eventos

cardiovasculares [14]. Esta escala avalia a mortalidade por doença cardiovascular total,

excluindo os eventos não fatais. Permite calcular a probabilidade de ocorrência de um

episódio em função do número e da intensidade dos fatores presentes no individuo,

sendo que o valor que se obtém, em percentagem, corresponde ao risco absoluto de

evento cardiovascular fatal num período de 10 anos. Esta ferramenta é constituída por

duas tabelas, adaptadas a países de alto e de baixo risco e baseia-se no sexo, idade

(entre os 40 e 65 anos), tabagismo, pressão arterial sistólica e colesterol total [14,23,26].

Em Portugal recorre-se à tabela de baixo risco para a avaliação do risco cardiovascular

(Figura 12) [26].

Fig. 12 – Tabela SCORE de baixo risco cardiovascular (adaptado de [14]).

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16

Neste algoritmo, o risco é classificado em sete categorias, desde inferior a 1% até

15% ou superior, cada uma com uma cor correspondente. O risco CV encontra-se

estratificado em quatro níveis, tal como descrito na seguinte Tabela 1 [23]:

Tabela 1 – Níveis de risco cardiovascular (adaptada de [23,26]).

Muito

Alto

- DCV

- Diabetes tipo I ou II e lesão órgãos-alvo

- Doença renal crónica grave

- SCORE ≥ 10%

Alto

- FR vascular isolados, muito elevados (dislipidemia familiar,

hipertensão arterial grave (grau 3))

- Diabetes tipo I ou II, sem lesão de órgãos-alvo.

- Doença renal crónica moderada

- SCORE ≥ 5%, mas < 10%

Moderado SCORE ≥ 1% mas < 5%

Baixo SCORE < 1%

Por exemplo, um individuo que apresente um valor igual ou superior a 5%,

apresenta um risco CV alto, considerando-se apto para medidas mais intensivas de

prevenção, inclusive farmacológicas [23].

No entanto, esta ferramenta apresenta algumas limitações. Alguns parâmetros

importantes não são considerados no cálculo do risco cardiovascular como, por exemplo,

presença de disfunção renal, antecedentes familiares, obesidade, alteração da glicemia

em jejum, entre outros. Observa-se igualmente que existe pouca acuidade no risco

calculado para os diabéticos. Além disso, também não são considerados novos fatores

de risco, nomeadamente, a homocisteína e a proteína C reativa [14,23].

As mais recentes recomendações propõem ainda a aplicação, nos jovens, de uma

tabela de risco relativo (Figura 13), permitindo identificar atempadamente, os indivíduos

que carecem de mais atenção. Dessa forma, é possível atuar na prevenção de doenças

cardiovasculares antes que seja o risco aumente progressivamente com o avançar da

idade [14].

Fig. 13 – Tabela de risco relativo nos jovens (adaptado de [14]).

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Estas ferramentas podem e devem ser utilizadas de forma criteriosa e sensata

pelos profissionais de saúde, uma vez que são uma mais-valia para a identificação

atempada de todos os indivíduos em risco, principalmente em indivíduos assintomáticos

e sem antecedentes conhecidos de doença clinica evidente [14,26].

7. PREVENÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR

Como já foi referido anteriormente, a aterosclerose inicia-se em idades jovens e tem

um longo período de progressão silencioso. Dessa forma, é muito importante reforçar a

importância de adotar medidas preventivas que possibilitem o atraso do desenvolvimento

de ateromas ou mesmo evitar a sua formação. Uma das principais estratégias e, talvez, a

mais importante é a identificação precoce de pessoas com risco aumentado de DCV e

implementar estratégias para a modificação dos fatores de risco presentes [14,17]. A

adoção de um estilo de vida saudável é o essencial para a prevenção de uma grande

parte das DCV [11,26].

Um dos hábitos a evitar é o consumo de tabaco. Os hábitos tabágicos são o

principal fator de risco relacionado com a diminuição da esperança de vida, sendo

responsável por mais de 50% das mortes evitáveis, metade das quais devidas a doença

aterotrombótica [11,14,26]. Como tal, deve-se apelar à cessação ativa entre os

fumadores ativos e evitar o tabagismo passivo quando presente. Se possível, visa-se

também contrariar o início destes hábitos [11,14].

Para além do tabagismo, um estilo de vida sedentário é um dos principais fatores

de risco para DCV. A atividade física, principalmente exercícios aeróbios, contribuem não

só para manter um balanço energético ideal, mas também para controlo ou perda de

peso. Além disso, melhora a função endotelial, promovendo a vasodilatação e a função

vasomotora das artérias. Ajuda a controlar os níveis de glicemia, melhora a pressão

arterial, o perfil lipídico e a sensibilidade à insulina. Como tal, recomenda-se a prática de

exercício físico como medida preventiva primária e secundária de DCV [11,26]. Para

manter a saúde cardiovascular deve-se praticar, no mínimo, 30 minutos de atividade

física moderada diária [14].

Os hábitos alimentares são também um fator determinante para a manutenção da

saúde cardiovascular. Atualmente, o padrão alimentar é caraterizado por um elevado

consumo de alimentos altamente calóricos e ricos em gorduras saturadas e sal e por um

baixo consumo de produtos hortícolas, cereais integrais, fruta e peixe, não sendo o

aconselhável para prevenção de DCV [11,14].

Para garantir uma alimentação saudável deve-se [11,14,26]:

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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- Limitar o consumo de gorduras saturadas como, por exemplo, carnes vermelhas,

charcutarias, conservas, leite gordo, manteiga, fritos, entre outros;

- Aumentar o consumo de gorduras mono e polinsaturadas;

- Consumir carne de aves e aumentar a ingestão de peixe, principalmente de

escamas azuis (sardinhas, atum e salmão);

- Ingerir cereais em todas as refeições, dando preferência aos cerais integrais;

- Utilizar azeite para cozinhar e utilizar pouco sal (menos de 5 gramas por dia);

- Consumir uma maior quantidade de frutas, legumes e verduras, uma vez que são

alimentos ricos em fibras, vitaminas e antioxidantes.

- Moderar o consumo de álcool (20 g/dia para os homens e 10 g/dia para as

mulheres), dando preferência ao vinho tinto. O consumo moderado contribui para a

elevação dos valores de colesterol das lipoproteínas de elevada densidade (HDL-c), inibe

a agregação das plaquetas e favorece a fibrinólise.

Estes três comportamentos são a chave para uma vida saudável. A adoção de um

estilo de vida com base nestas recomendações promove uma redução no risco

cardiovascular e ajuda a atingir vários objetivos terapêuticos. Tem impacto no controlo da

pressão arterial, melhora significativamente o perfil lipídico, contribuindo para a redução

dos valores de colesterol total (CT), LDL-c e triglicerídeos (TG) e aumento do HDL-c, e

normaliza os valores de glicemia. Além disso, ajuda a combater o excesso de peso e a

obesidade, promovendo a perda de peso e a manutenção de um corpo saudável ao longo

do tempo, sem risco cardiovascular acrescido [11,14,26].

8. CONCLUSÃO

A elevada incidência da doença aterosclerótica no mundo implica grandes gastos

para os sistemas de saúde. Desse modo, é importante investir na educação da

população para a adoção de medidas preventivas adequadas para diminuir o risco de

desenvolvimento de doenças cardiovasculares de origem aterosclerótica. Os profissionais

de saúde devem intervir não só na educação para a saúde, mas também na deteção

precoce dos indivíduos em risco e no tratamento e controlo dos fatores de risco

presentes.

O farmacêutico comunitário tem um papel importante na prevenção do risco

cardiovascular. Todos os dias contactam com indivíduos que apresentam fatores de risco

cardiovasculares ou sofreram o seu primeiro evento CV. Durante o estágio em farmácia

comunitária, após realização dos primeiros testes bioquímicos, constatei que a avaliação

dos parâmetros (colesterol total, triglicerídeos, glicémia) era interpretada isoladamente.

Como tal, surgiu a ideia de realizar uma breve formação à equipa da farmácia acerca da

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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avaliação do risco cardiovascular global, com recurso à ferramenta SCORE. A

apresentação encontra-se no anexo 2 e será uma mais-valia durante a realização de um

rastreio cardiovascular na farmácia.

Para além disso, o folheto informativo sobre a aterosclerose (anexo 3) e a sua

prevenção ajudou a esclarecer algumas dúvidas que os utentes apresentavam durante a

dispensa de medicamentos. Muitos não conheciam o termo ‘’Aterosclerose’’, nem as

consequências da doença.

A realização do folheto informativo, do rastreio cardiovascular e da formação sobre

risco cardiovascular global ajudou a ultrapassar algumas barreiras de informação e de

comportamentos, contribuindo para uma vida mais saudável e para uma prestação de

cuidados de saúde mais eficaz.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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PROTEÇÃO SOLAR

1. INTRODUÇÃO

Com o início das estações mais quentes, o aumento da temperatura e um dia de sol

sem nuvens convida para a exposição solar, quer seja num passeio, quer numa ida à

praia ou à esplanada. Reconhece-se que pequenas quantidades de radiação ultravioleta

(UV) têm uma ação benéfica para o organismo, sendo essencial para a síntese de

vitamina D e usado, também, para o tratamento de algumas doenças como, por exemplo,

a psoríase [27,28]. No entanto, uma exposição prolongada e intensa pode resultar em

algumas complicações agudas e crónicas para a saúde do individuo, nomeadamente a

nível da pele, olhos e sistema imunitário [27,29]. Por exemplo, uma das consequências

mais relevantes resultantes de uma exposição exagerada e inadequada ao sol é o

desenvolvimento de cancro da pele, cuja incidência tem aumentado significativamente

nos últimos anos [27,29-31]. A Figura 14 apresenta alguns efeitos benéficos e nefastos

da radiação solar.

Fig. 14 – Efeitos benéficos e nefastos da radiação solar (adaptado de [30,32]).

Dessa forma, deve-se insistir em estratégias de proteção solar eficazes para obter

os benefícios da exposição solar, prevenindo as suas consequências a curto e longo

prazo.

2. OBJETIVOS

Este tema surgiu durante o estágio em farmácia comunitária com a entrada da

época balnear. Após melhoramento do estado do tempo foi notório não só o aumento da

compra de protetores solares na farmácia, mas também o número de pessoas com

queimaduras solares. Após atendimento de alguns utentes da farmácia, verificou-se que

não adotavam medidas preventivas adequadas durante a exposição solar, surgindo

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casos em que os indivíduos colocavam o protetor solar uma vez por dia e não repetiam a

aplicação ou não complementavam o uso do protetor com outras medidas. Embora

atualmente haja mais informação acerca da prevenção do cancro da pele e a importância

de uma exposição solar controlada, nunca é demais colocar informação disponível para

relembrar algumas estratégias essenciais para a proteção solar e manutenção de uma

pele saudável. Como tal, surgiu a necessidade da elaboração de um folheto informativo

sobre a proteção solar, sendo o principal objetivo deste tema a promoção de uma

exposição solar saudável.

3. EFEITOS DA EXPOSIÇÃO SOLAR

A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo a 16% do seu peso

corporal, sendo responsável pela regulação do organismo e proteção face a agentes

externos. Encontra-se dividido em camadas: a epiderme e a derme. A epiderme é a

camada mais externa da pele, constituindo o ponto de contacto do corpo com o meio

ambiente. Esta camada é composta por queratina, melanócitos e células imunitárias. Aqui

encontra-se uma grande quantidade de melanina, que se acumula nos queratinócitos e

funciona como um protetor solar natural da pele contra a radiação UV, conseguindo

bloquear a penetração dos UV na pele. A derme é constituída por elementos de matriz

extracelular como, por exemplo, elastina e colagénio [33].

Sendo uma barreira físico-química fundamental entre o meio ambiente e o nosso

organismo, é preciso cuidar da pele. Caso contrário, a sua função fica comprometida.

A radiação solar é um exemplo de um agente externo que pode causar lesão na

pele, se não se adotar as devidas medidas de prevenção. Diariamente, a nossa pele é

exposta a esta radiação solar, que inclui radiação ultravioleta, visível e infravermelha (IV).

A pele está exposta, essencialmente, a dois tipos de UV: UVB e UVA. Um terceiro tipo de

UV, UVC, é absorvido pela camada de ozono presente na atmosfera [27,28].

Tanto a radiação UVA como a UVB têm uma elevada importância na saúde

humana. Pequenas quantidades destas radiações são essenciais para o bem-estar e

para a saúde do Homem, mas uma exposição excessiva e descuidada apresenta alguns

efeitos prejudiciais [27,28]. A radiação UVB atinge principalmente a epiderme e é o

principal responsável pelas queimaduras solares. A radiação UVA penetra mais a pele,

afetando quer a epiderme, quer a derme. Pode causar stress oxidativo na pele através da

formação de espécies reativas de oxigénio e de azoto, estando implicada no

fotoenvelhecimento e na carcinogénese [28,33,34].

Os efeitos agudos que se fazem sentir com a exposição solar incluem: eritema,

bronzeamento, alteração da pigmentação, formação de radicais livres, hiperplasia da

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epiderme e síntese de vitamina D. Por outro lado, os efeitos crónicos da radiação

ultravioleta são: fotoenvelhecimento, imunossupressão, carcinogénese, exacerbação das

fotodermatoses e desenvolvimento de patologias oculares como, por exemplo, as

cataratas [29,30,35].

4. ESTRATÉGIAS PARA A PROTEÇÃO SOLAR

Para minimizar os efeitos negativos da radiação ultravioleta, deve-se promover e

incentivar, continuadamente, a adoção de medidas preventivas e fotoprotetoras, através

da educação da população [30]. É também necessário relembrar que a fotoproteção deve

ser mantida durante todo o ano e não apenas nas estações quentes [35].

Um dos recursos mais úteis que ajuda não só a medir o risco da agressão da

radiação solar, mas também a alertar sobre a necessidade de adotar medidas

preventivas adequadas é o índice ultravioleta (UVI). Este índice mede a intensidade da

radiação ultravioleta e apresenta-se numa escala de 1 a 11+. Quando maior o índice,

maior é o risco e menor o tempo que demora a ocorrer dano quer da pele, quer dos

olhos. Por isso, é preciso estar atento a este UVI, de forma a preparar uma exposição

solar adequada e segura [27].

Uma das medidas mais populares na proteção contra a radiação UV é o uso de

protetores solares. Existem dois tipos de protetores solares, de acordo com o modo como

exercem proteção: orgânicos (ou químicos) e inorgânicos (ou físicos). Os protetores

orgânicos absorvem a radiação UV e convertem-na em calor. Os protetores inorgânicos

refletem a radiação solar, não sendo absorvidos pela pele. Estes últimos são, geralmente,

recomendados para crianças e peles intolerantes [30].

Todos os protetores solares apresentam um fator de proteção solar (FPS), que

mede a capacidade do produto em proteger dos raios UVB [35,36]. O FPS é classificado

numa escala de 6 a 50+. Para além do FPS, deve-se escolher protetores solares que

confiram proteção contra os UVA também. Neste caso, é indicado na embalagem do

produto se confere ou não proteção face a UVA [35].

Na escolha de um protetor solar deve-se ter em conta a idade do indivíduo, sendo

que para as crianças deve-se escolher o protetor com FPS mais elevado. É preciso ter

atenção ao tipo de pele e é preferível escolher um protetor que seja resistente à água

[30,35]. No entanto, como regra geral e independentemente do tipo de pele, deve-se

escolher um protetor com FPS, no mínimo, de 15 para adultos e 20 nas crianças e

pessoas com pele clara e sensível [27].

Para usar corretamente um protetor solar deve-se [27,30,35]:

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- Aplicar 20 a 30 minutos antes da exposição solar, renovando a aplicação a cada

duas horas e após banho ou transpiração;

- Aplicar generosamente nas áreas expostas, com especial cuidado nas zonas mais

sensíveis (face, orelhas, mãos, braços);

- Manter a proteção mesmo em dias nublados.

No entanto, o uso destes produtos não é suficiente [30]. Deve-se sempre

complementar com outras estratégias preventivas, nomeadamente [27,30,33,35]:

- Evitar a exposição solar entre as 11 e as 16 horas;

- Procurar áreas com sombra nas alturas de maior intensidade de radiação;

- Proteger os olhos com óculos de sol;

- Usar chapéu ou boné;

- Usar roupas que protejam da exposição, por exemplo, claras e amplas, de

materiais naturais como o algodão;

- Evitar solários;

- Aumentar a ingestão de líquidos, principalmente água, para manter a hidratação

adequada.

5. CONCLUSÃO

Com a realização deste tema, foi possível a elaboração de um folheto informativo

sobre a importância da proteção solar (anexo 4), estando disponível na Farmácia S.

Roque da Lameira. Através deste tipo de comunicação conseguiu-se alertar as pessoas

para a adoção de medidas preventivas adequadas, de forma a preservar a sua saúde e a

evitar as consequências de uma exposição solar excessiva, mas conciliando com o

desejo de obter uma pele bronzeada.

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PARTE II

Estágio em Farmácia Comunitária

3 de Março – 3 de Julho

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1. INTRODUÇÃO

O papel do farmacêutico na sociedade tem evoluído ao longo dos anos e é muito

mais que a dispensa de medicamentos num balcão de farmácia. Este profissional de

saúde integra um vasto leque de conhecimentos científicos e de experiência na área do

medicamento que o torna uma mais-valia na sociedade, tendo como principal objetivo a

promoção da saúde pública.

Na farmácia comunitária, o farmacêutico assegura a cedência de medicamentos

nas condições necessárias para minimizar os riscos do uso dos medicamentos e

possíveis problemas relacionados com os mesmos, reduzindo, dessa forma, a elevada

morbi-mortalidade associada aos medicamentos [37]. Fornece ainda a informação

necessária para o uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos, tendo sempre em

conta as necessidades individuais do utente. Mas não é só na área do medicamento que

o farmacêutico se destaca. Tendo uma posição privilegiada de aproximação ao indivíduo,

o farmacêutico desempenha um papel muito importante na educação para a saúde,

ajudando às pessoas a adotar um estilo de vida saudável e a conhecerem mais sobre a

sua saúde. Além disso, pode intervir na resolução de alguns transtornos menores,

indicando a melhor opção terapêutica ou referenciando o utente para outros cuidados de

saúde.

O estágio em farmácia comunitária surge na etapa final do percurso académico do

mestrado integrado em ciências farmacêuticas, de forma a complementar todo o

conhecimento teórico adquirido ao longo do curso e a aplicar na realidade da farmácia de

oficina. Ao longo deste relatório serão descritos alguns aspetos relativos à organização

funcional e estrutural de uma farmácia comunitária, tendo como referência a Farmácia S.

Roque da Lameira, na cidade do Porto, bem como a experiência adquirida ao longo

destes 4 meses, de 3 de Março a 3 de Julho, no exercício da atividade farmacêutica.

Durante a primeira semana de estágio realizei, essencialmente, receção de

encomendas, armazenamento, devoluções e controlo de prazos de validade dos

medicamentos e de outros produtos. Após essa primeira semana, iniciei a aprendizagem

no atendimento ao balcão da farmácia, tendo o primeiro contacto com os utentes como

farmacêutica.

Além das atividades realizadas na farmácia ao longo do estágio, tive a oportunidade

de frequentar algumas formações sobre medicamentos e outros produtos de saúde

como, por exemplo, Spiriva Respimat®, Frontline Combo® e Nutreov®. Frequentei ainda

alguns “workshops”, nomeadamente, da Roger&Gallet® e “A importância do Nutrinegócio

na Farmácia” da marca Innéov®. A participação neste tipo de formações foi muito

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importante para colmatar algumas lacunas no conhecimento, sendo uma mais-valia para

o aconselhamento e a indicação farmacêutica prestada ao longo do estágio.

2. FARMÁCIA S. ROQUE DA LAMEIRA

2.1 Localização e horário de funcionamento

A Farmácia S. Roque da Lameira situa-se na Rua S. Roque da Lameira n.º 1082,

no Porto, na freguesia de Campanhã. Nas proximidades da farmácia encontra-se o

Estádio do Dragão a 850 metros. Além disso, na mesma rua, existem mais duas

farmácias de oficina: a Farmácia da Corujeira e a Farmácia Vitória. Na área circundante

há, também, dois centros de saúde: Centro de Saúde de Campanhã e o Centro de Saúde

de S. Roque da Lameira. Nesta freguesia da cidade do Porto encontram-se vários bairros

sociais, sendo uma área com grande densidade populacional.

A Farmácia S. Roque da Lameira funciona de segunda a sexta-feira das 9h00 às

19h30 e aos sábados de manhã das 9h00 às 13h00.

2.2 Perfil dos utentes

A localização da Farmácia S. Roque da Lameira influencia o perfil de utentes que

recebe diariamente. Encontrando-se situada numa zona oriental da cidade do Porto,

caraterizada pela proximidade de alguns bairros sociais, observa-se uma afluência de um

perfil de utentes heterogéneo, desde jovens adultos a idosos. No entanto, verifica-se a

prevalência de utentes idosos, sendo clientes habituais da farmácia. Normalmente, estes

utentes têm uma maior disponibilidade e, para além da dispensa de medicação e

aconselhamento, solicitam também a realização de alguns testes, principalmente a

medição da pressão arterial. Por outro lado, durante o horário da tarde e em época

escolar, verifica-se a afluência de utentes mais jovens, casados e com filhos pequenos,

que, normalmente, apresentam pouca disponibilidade e procuram, essencialmente,

aconselhamento e indicação farmacêutica para a resolução de problemas de saúde

menores.

2.3 Espaço físico

A farmácia comunitária, como espaço destinado à prestação de cuidados de saúde,

deve possuir instalações e equipamentos que estejam adequados ao cumprimento das

suas funções e garantir a segurança e conservação dos medicamentos, bem como a

comodidade, acessibilidade e privacidade dos utentes e da equipa da farmácia [37,38].

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Como tal, a Farmácia S. Roque da Lameira, cumprindo o disposto no Decreto-Lei

n.º 307/2007 de 31 de Agosto, possui, no espaço exterior das suas instalações, a

inscrição ‘’Farmácia’’ e a cruz verde, ambos visíveis. Além disso, ainda possui uma faixa

verde com a inscrição ‘’Farmácias Portuguesas’’. A Farmácia de S. Roque dispõe de uma

porta principal que garante a acessibilidade de todos os utentes à farmácia e possui uma

montra exterior, na qual se encontra informação relativa ao horário de funcionamento do

espaço e às farmácias do município em regime de serviço permanente com a respetiva

localização e contacto. Para além disso, é através desta montra exterior que se promove

a divulgação de alguns produtos à venda na farmácia, sendo remodelada

periodicamente, de acordo com a sazonalidade e com algumas promoções pontuais. No

anexo 5 pode-se observar uma fotografia do aspeto exterior das instalações da Farmácia.

No espaço interior, a Farmácia S. Roque da Lameira dispõe de uma sala de

atendimento ao público, um armazém, um laboratório para a produção de medicamentos

manipulados, instalações sanitárias adequadas, dois gabinetes e dois escritórios. No

anexo 6 pode-se observar algumas fotografias do aspeto interior da Farmácia S. Roque

da Lameira.

A sala de atendimento é ampla e bem iluminada e dispõe de 3 balcões de

atendimento, espaçados entre si, permitindo um ambiente calmo, profissional e

garantindo a privacidade de cada atendimento. Cada posto de atendimento está

equipado com um computador associado a uma impressora e a um leitor ótico de códigos

de barras. Existe ainda um terminal de pagamentos para cartões de multibanco e um

sistema automático de pagamento em dinheiro, o ‘’Cashguard’’, comum aos três balcões.

A sala dispõe também de um sofá e de algumas cadeiras para comodidade dos utentes.

Para além do espaço de atendimento, há uma área personalizada para a realização de

testes bioquímicos. A restante área da sala de atendimento serve de zona de exposição

de vários produtos cosméticos e dermofarmacêuticos, bem como de produtos de

puericultura e de medicamentos não sujeitos a receita médica, organizados em estantes

e prateleiras, remodeladas periodicamente.

O escritório é um local amplo onde se realiza a entrada e receção de encomendas.

Além disso, serve como zona de apoio ao atendimento público, dispondo de uma

biblioteca, atualizada e organizada, equipada com diversas referências bibliográficas

como, por exemplo, o Prontuário Terapêutico 11, Simposium Terapêutico, Índice Nacional

Terapêutico, Formulário Galénico Português, Farmacopeia Portuguesa VIII e respetivos

suplementos, Direito Farmacêutico, entre outros. Neste escritório também se realizam as

reuniões com os delegados de informação médica. O segundo escritório é mais pequeno,

pertencendo à Direção Técnica.

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Os dois gabinetes disponíveis na Farmácia são utilizados para as consultas de

podologia, para a administração de vacinas não incluídas no Plano Nacional de

Vacinação (PNV) e de medicamentos injetáveis.

2.4 Recursos Humanos

A Farmácia S. Roque da Lameira é constituída por uma equipa de 4 elementos,

respeitando o disposto no Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de Agosto. A equipa integra

duas farmacêuticas e dois técnicos auxiliares de farmácia. O atendimento público é

assegurado pela Dr.ª Alda Gonçalves, Diretora Técnica da Farmácia, Dr.ª Natalina

Cardoso (farmacêutica substituta) e pelos técnicos Jaime Fernandes e José Ferreira, que

desempenham outras funções para além do atendimento público, nomeadamente,

receção e armazenamento de encomendas e processamento do receituário. Os

elementos da equipa encontram-se devidamente identificados com o nome e título

profissional e todos colaboram para um bom funcionamento da farmácia, assegurando a

qualidade dos serviços prestados [38].

2.5 Fontes de Informação

O farmacêutico desempenha um papel muito importante na cedência de informação

sobre a medicação, de modo a garantir um uso seguro e eficaz. Desse modo, a Farmácia

deve dispor de fontes de informação sobre medicamentos que auxiliem o farmacêutico

nesta função, quer seja em suporte físico, quer em suporte eletrónico [37]. Como já foi

referido anteriormente, a Farmácia S. Roque dispõe de uma biblioteca contendo um vasto

número de referências bibliográficas, incluindo as publicações obrigatórias definidas pela

Deliberação nº 414/CD/2007, de 29 de Outubro, a Farmacopeia Portuguesa e o

Prontuário Terapêutico [39].

Para além destes elementos de informação, todos os computadores da Farmácia

dispõe de ligação à internet, facilitando o acesso à informação. No entanto, este recurso

não estava a ser utilizado no seu máximo potencial, pelo que, durante o estágio, informei

a equipa sobre outros recursos disponíveis. Integrei algumas bases de dados específicas

sobre os medicamentos como o Infomed, Medscape, Epocrates Online, Drugs.com,

EudraPharm, entre outros, permitindo um rápido acesso a informações sobre

medicamentos de uso humano e de uso veterinário, principalmente sobre indicações,

posologias, interações, contraindicações e precauções. Estas ferramentas foram muito

úteis durante o meu estágio para esclarecer algumas dúvidas que surgiam ao longo do

tempo.

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3. GESTÃO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS DE SAUDE

3.1 Sistema Informático

A Farmácia S. Roque da Lameira utiliza o Sifarma 2000®, desenvolvido pela

Associação Nacional de Farmácias (ANF) e reconhecido pela Autoridade Nacional do

Medicamento e Produtos de Saúde I.P. (INFARMED). Este sistema informático permite a

realização de várias tarefas, tais como: atendimento ao público; gerar, aprovar e

rececionar encomendas; gerir ‘’stocks’’; efetuar devoluções; controlar prazos de validade;

efetuar a faturação mensal, entre outras. Uma das funcionalidades que ajudou bastante

durante o estágio foi a consulta da ficha dos medicamentos e de outros produtos de

saúde que permitiu não só relembrar alguns conceitos e informações sobre

medicamentos, mas também ajudou a conhecer alguns nomes comerciais dos

medicamentos, facilitando, desse modo, o diálogo com o utente que, muitas vezes, só

conhece o medicamento pelo nome comercial e não pela denominação comum

internacional (DCI).

Desse modo, o Sifarma 2000® é uma ferramenta de trabalho que auxilia bastante o

farmacêutico na prestação de serviços de saúde aos utentes, uma vez que possibilita,

durante o atendimento, obter informações importantes como, por exemplo,

contraindicações, reações adversas dos medicamentos, posologias, precauções e

interações medicamentosas. Torna-se, assim, num meio que otimiza a gestão da

farmácia e proporciona um atendimento com melhor qualidade.

3.2 Gestão de “stocks’’

A gestão dos ‘’stocks’’ dos medicamentos e de produtos de saúde existentes na

farmácia é uma tarefa de elevada importância para a atividade do farmacêutico, uma vez

que visa a satisfação das necessidades dos utentes [37]. É uma atividade complexa que

exige tempo e dedicação da equipa, devendo ser feita de modo a atingir-se um equilíbrio

entre o “stock” necessário para evitar rutura e o necessário para suprir as necessidades

dos utentes e garantir a sustentabilidade e rentabilidade da farmácia.

A presença de “stocks” demasiado elevados tem implicações menos favoráveis na

rentabilidade da farmácia e deve-se evitar esta situação, uma vez que, para além de se

tornarem num empate financeiro, ocupam um maior espaço no armazém e existe uma

maior probabilidade de se ultrapassar o prazo de validade (PV) dos medicamentos e

produtos de saúde. No entanto, “stocks” demasiado pequenos podem não ser suficientes

para responder aos pedidos dos utentes, levando à perda da venda e causando o

descontentamento do utente e, possivelmente, a perda da sua fidelização. Desse modo,

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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devem-se estabelecer alguns critérios de aquisição para garantir uma gestão eficaz e

rentável, servindo os objetivos da farmácia e dos utentes. Um dos critérios de aquisição

e, talvez o mais preponderante, é a procura e necessidade dos utentes. Para além disso,

deve-se ter em conta, também, a época do ano, sendo que, por exemplo, durante a

primavera e o verão aumenta a procura de medicamentos anti-histamínicos, protetores

solares, produtos para emagrecimento, entre outros. Existem ainda outros fatores que se

deve ter em conta no ato da encomenda como a capacidade de investimento da

farmácia, histórico de compras e vendas dos produtos e as condições dos fornecedores

como, por exemplo, descontos, condições de pagamentos e bonificações e campanhas

promocionais.

No entanto, mesmo com uma boa gestão de “stock”, auxiliada pelo Sifarma 2000®,

ocorrem alguns erros. Como tal, verifica-se, pontualmente, a existência de diferenças

entre os “stocks” físicos e os “stocks” informáticos que se podem dever a erros na

entrada de encomendas, erros de devoluções, erros nas reservas de produtos e na

regularização das mesmas, erros nas trocas, entre outros. Posto isto, toda a equipa deve

trabalhar no sentido de alertar sobre as incongruências detetadas para se proceder à sua

correção. Uma estratégia para minimizar este tipo de erros passa pela realização

periódica de inventários.

Durante o estágio aprendi a importância de uma boa gestão de “stocks”.

Felizmente, em alguns casos esporádicos, nos quais o “stock” não era suficiente para

suprir a necessidade do utente, era possível, através de encomendas instantâneas a

fornecedores e respetiva reserva do produto, dar resposta ao utente no mesmo dia ou no

dia seguinte. Tal é possível devido ao atual sistema de distribuição que garante um

rápido fornecimento dos produtos. No entanto, existiram sempre alguns casos em que a

rutura do produto na farmácia implicou a perda de venda e da insatisfação do utente.

3.3 Aprovisionamento e encomendas

3.3.1 Fornecedores

A aquisição de medicamentos e de outros produtos de saúde pode ser feita através

dos armazenistas ou diretamente aos laboratórios. Em ambos os casos, os produtos a

adquirir são escolhidos mediante uma série de critérios, já mencionados anteriormente.

A escolha do armazenista depende de vários fatores, tais como: os preços dos

produtos; as condições de pagamento; bonificações e campanhas promocionais; a

rapidez, segurança e eficácia da entrega e condições de devoluções. Atualmente, a

Farmácia S. Roque da Lameira tem como principais fornecedores a Alliance Healthcare e

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a Cooprofar. Também realiza, esporadicamente, encomendas para a OCP Portugal e a

Cofanor.

A Farmácia S. Roque da Lameira também efetua encomendas diretamente aos

laboratórios, quer através de formulários específicos, quer através dos delegados de

informação médica que se deslocam à farmácia. Estas encomendas diretas ao

laboratório são realizadas, essencialmente, para a aquisição de determinados

medicamentos como, por exemplo, alguns medicamentos sujeitos a receita médica

(MSRM) que se encontram esgotados nos distribuidores grossistas. Para além disso,

estes pedidos também são feitos para aquisição de alguns medicamentos não sujeitos a

receita médica (MNSRM), produtos de dermofarmácia e cosmética e dispositivos

médicos, uma vez que apresenta maiores benefícios económicos do que a encomenda

normal aos armazenistas.

3.3.2 Realização de encomendas

No Sifarma 2000® cada produto possui a sua ficha, onde constam informações

sobre o “stock” mínimo e máximo do produto em questão, definidas previamente pela

farmácia, segundo o histórico de compras e vendas, e sobre o fornecedor preferencial do

produto. Desse modo, o Sifarma 2000 torna-se uma ferramenta indispensável na

realização de encomendas. Quando o “stock” mínimo é alcançado, o sistema gera

automaticamente uma proposta de encomenda para o fornecedor preferencial indicado

na ficha do produto. Posteriormente, essa proposta de encomenda é analisada pelo

responsável de encomendas, ajustada, se necessário, aprovada e enviada diretamente

ao fornecedor. As encomendas realizadas através do Sifarma 2000® são a forma mais

rápida e comum de efetuar encomendas e facilitam muito o trabalho do farmacêutico,

uma vez que diminui erros de interpretação de encomendas.

Para além das encomendas realizadas pelo Sifarma 2000®, é possível, também,

efetuar encomendas via telefónica e via ‘’gadget’’, caso o armazenista disponha desta

ferramenta. Normalmente, este modo de encomenda é utilizado em casos em que é

necessário um produto que não se dispõe no “stock” da farmácia no momento e que já

não é possível integrar nas encomendas diárias.

Ao longo do estágio tive a oportunidade de efetuar algumas encomendas aos

principais fornecedores, aprendendo a analisar as propostas de encomenda geradas pelo

Sifarma 2000® e ajustar de acordo com as necessidades da farmácia e o histórico de

compras e vendas. Além disso, é essencial verificar se existe alguma encomenda

pendente para não haver uma duplicação do pedido e também deve-se ter em conta as

reservas efetuadas. Realizei, maioritariamente, pedidos de encomendas instantâneas

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quer pelo Sifarma 2000®, quer por telefone ou através do ‘’gadjet’’ da Cooprofar e da

Cofanor. Tive ainda a oportunidade de realizar encomendas diretas aos laboratórios,

através do preenchimento do formulário cedido pelos mesmos.

3.3.3 Receção de encomendas

Após a realização da encomenda, os produtos são entregues na farmácia

acondicionados em contentores específicos, identificados com o nome da farmácia e

acompanhados com a respetiva fatura da encomenda em duplicado e requisição de

medicamentos estupefacientes ou psicotrópicos, caso estes tenham sido encomendados.

Os produtos que necessitam de refrigeração vêm à parte da restante encomenda em

contentores térmicos, sendo colocados imediatamente no frigorífico após a sua chegada.

A receção das encomendas faz-se no Sifarma 2000®. As encomendas efetuadas

através do Sifarma 2000® ficam registadas no sistema e é-lhes atribuído

automaticamente um número de encomenda. Caso a encomenda seja feita via telefone,

‘’gadjet’’ ou diretamente ao fornecedor, antes de se proceder à receção da encomenda,

deve-se gerar, manualmente, a encomenda no Sifarma 2000® para que se possa dar

entrada dos produtos no sistema.

Após seleção da encomenda a rececionar, introduz-se o número da fatura e o valor

total da mesma. Posteriormente, os produtos são introduzidos no sistema através da

leitura ótica do código de barras ou pela introdução do seu Código Nacional de Produto

(CNP). Nesta operação deve-se ter em atenção alguns aspetos como o estado de

conservação das embalagens, os prazos de validade e o preço impresso na cartonagem.

Além disso, deve-se comparar o número de unidades encomendadas e faturadas e as

efetivamente recebidas. Outro pormenor importante passa pela verificação do Preço de

Venda à Farmácia (PVF). Antes de terminar a receção da encomenda, o Sifarma 2000®

gera automaticamente uma lista de produtos pedidos que não foram enviados, permitindo

reencaminhar os produtos para outro fornecedor, caso seja necessário. Após finalizar

esta operação, imprime-se a confirmação da receção da encomenda no verso da fatura e

arquivam-se os documentos na pasta referente ao mês a decorrer.

No decorrer da receção, caso se detete alguma inconformidade como, por exemplo,

produtos faturados e não enviados, produtos com PV curto, entre outras situações,

contacta-se o armazenista para efetuar uma reclamação. Estes registam a reclamação e

emitem uma nota de crédito e a farmácia faz a devolução do produto.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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3.3.4 Marcação de preços

O Decreto-Lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto refere que ‘’o regime de preços dos

medicamentos sujeitos a receita médica e dos medicamentos não sujeitos a receita

médica comparticipados é fixado por decreto-lei’’ [40]. Além disso, o Decreto-Lei n.º

25/2011 de 16 de Junho estabelece ‘’obrigatoriedade da indicação do preço de venda ao

público (PVP) na rotulagem dos medicamentos” [41].

Os MSRM apresentam PVP pré-estabelecido e impresso na cartonagem. Já os

MNSRM e outros produtos disponíveis na farmácia chegam ao local sem marcação do

PVP na embalagem. Como tal, após a receção da encomenda, deve-se proceder à

marcação do PVP nas embalagens dos produtos. O Sifarma 2000® facilita a tarefa,

calculando o PVP, sendo apenas necessário introduzir o PVF, o imposto sobre o valor

acrescentado (IVA) e a margem de lucro estipulada pela farmácia [41].

3.3.5 Armazenamento

Após a receção das encomendas, prossegue-se ao armazenamento dos

medicamentos e dos produtos de saúde. Este deverá ser feito de forma a garantir a

qualidade do medicamento até ao momento da dispensa e a um rápido acesso aos

produtos durante o atendimento ao público.

Na Farmácia S. Roque da Lameira os produtos são armazenados de acordo com o

princípio ‘’First expire, first out’’ (FEFO) e por ordem alfabética, encontrando-se

separados por secções de acordo com a forma farmacêutica, nomeadamente, xaropes e

suspensões orais, ampolas, injetáveis, pomadas e géis, supositórios e pós. Para além

disso existem outras secções como, por exemplo, produtos veterinários, produtos do

protocolo da diabetes (tiras-teste e lancetas), psicotrópicos e estupefacientes, entre

outros.

Os primeiros produtos a ser armazenados, mesmo antes de dar entrada da

encomenda, são os produtos que necessitam de condições especiais de conservação no

frio. Estes são mantidos no frigorífico, por ordem alfabética. Os dispositivos médicos

encontram-se, na sua maioria, armazenados num dos gabinetes e os produtos de

dermofarmácia e cosmética, MNSRM e produtos de puericultura encontram-se nos

expositores da zona de atendimento.

Ao longo do estágio reorganizei as gavetas de armazenamento dos medicamentos,

identificando-as corretamente. Desse modo, contribui para um melhor acondicionamento

dos medicamentos, otimizando o espaço disponível para armazenamento e diminuindo

possíveis erros derivados a uma incorreta colocação de medicamentos.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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3.3.6 Controlo de prazos de validade

Durante a receção de encomendas é possível atualizar o PV dos produtos quando

o “stock” físico e informático dos produtos é nulo ou quando se trata de um produto novo

na farmácia. No entanto, para garantir a qualidade dos medicamentos e dos produtos de

saúde em “stock” e não colocar a saúde do utente em risco procede-se, mensalmente, ao

controlo dos prazos de validade dos produtos em “stock”. Consultando o Sifarma 2000®,

emite-se uma listagem de produtos cujo PV se encontram a 3 meses do seu término.

Com essa lista, verificam-se todos os produtos individualmente e aqueles que se

encontram com PV a expirar são colocadas num contentor, onde permanecem até serem

feitas as devoluções para os respetivos fornecedores. Após verificação de todos os

produtos, deve-se atualizar os prazos de validade no sistema, caso seja necessário.

Os produtos com PV a terminar são devolvidos ao fornecedor com respetiva nota

de devolução, onde consta a identificação do(s) produto(s) devolvido(s) e respetiva

quantidade, motivo de devolução, fornecedor e número da fatura. A nota de devolução é

impressa em triplicado, ficando um exemplar na farmácia e o original e duplicado vão

para o fornecedor, juntamente com o produto.

Posteriormente, o fornecedor pode emitir uma nota de crédito com o valor dos

produtos devolvidos, pode substituir os produtos devolvidos por produtos iguais ou por

outros de igual valor ou pode não aceitar o pedido de devolução. Nesse caso, os

produtos retornam à farmácia, procedendo-se à quebra dos produtos.

4. PRODUTOS EXISTENTES NA FARMÁCIA

Atualmente, as farmácias dispõem de uma grande variedade de produtos, para

além dos medicamentos de uso humano. É muito importante para o farmacêutico

conhecer os produtos existentes na farmácia, de modo a permitir um aconselhamento

eficaz e satisfazer as necessidades dos utentes.

Na Farmácia S. Roque da Lameira para além dos MSRM e MNSRM, existem

também produtos cosméticos e dermofarmacêuticos, medicamentos e produtos

homeopáticos, produtos dietéticos, produtos para alimentação especial, produtos de

puericultura, produtos e medicamentos de uso veterinário e dispositivos médicos. Os

medicamentos manipulados têm sofrido um decréscimo acentuado ao longo dos anos,

sendo que não apresentam, atualmente, uma expressão significativa no volume de

trabalho da farmácia.

Ao longo do estágio fui enriquecendo o meu conhecimento sobre os produtos

disponíveis na farmácia, não só através das informações disponibilizadas pelos

delegados de informação médica, mas também através da participação em ações de

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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formação organizadas pelos laboratórios. Desse modo, foi possível melhorar o

aconselhamento dado aos utentes em resposta as suas necessidades.

5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS

A dispensa de medicamentos é uma das funções mais importantes do farmacêutico

e consiste na cedência de medicamentos mediante prescrição médica ou em regime de

automedicação ou indicação farmacêutica. Um aspeto vital da dispensa de

medicamentos é a avaliação da medicação dispensada que, feita corretamente, permite a

identificação e resolução de problemas relacionados com os medicamentos (PRM). Além

disso, a dispensa de medicamentos deve ser sempre acompanhada de toda a informação

necessária para um uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos, tendo sempre em

conta as necessidades individuais do doente [37].

5.1 Medicamentos sujeitos a receita médica

De acordo com o Estatuto do Medicamento atualmente em vigor, descrito pelo

Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto, os medicamentos são classificados, quanto à

dispensa ao público, em MSRM e MNSRM. Os medicamentos sujeitos à apresentação de

receita médica obrigatória são aqueles que: possam constituir um risco para a saúde do

doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam,

caso sejam utilizados sem vigilância médica; possam constituir um risco, direto ou

indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades

consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam; contenham substâncias, ou

preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja

indispensável aprofundar e, por fim, destinem-se a ser administrados por via parentérica

[40].

Os MSRM podem ainda ser classificados como: medicamentos de receita médica

renovável, medicamentos de receita médica especial e medicamentos de receita médica

restrita [40].

5.2 Prescrição médica e validação

Atualmente, e de acordo com a Portaria n.º 137-A/2012 de 11 de maio, a prescrição

é feita por via eletrónica, salvo nas seguintes exceções em que a prescrição pode ser

manual: a) falência do sistema informático; b) inadaptação fundamentada do prescritor; c)

prescrição ao domicílio; d) outras situações até um máximo de 40 receitas médicas por

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mês. Neste caso, o prescritor deve assinalar na receita a alínea a que corresponde a sua

situação [42].

A prescrição de um medicamento deve incluir obrigatoriamente a DCI da substância

ativa, a forma farmacêutica, a dosagem, a apresentação e a posologia. Em cada receita

podem ser prescritos até 4 medicamentos distintos, num total de 4 embalagens por

receita. No máximo, podem ser prescritas duas embalagens por medicamento. No

entanto, caso os medicamentos prescritos se apresentem sob a forma de embalagem

unitária, podem ser prescritas até quatro embalagens do mesmo medicamento [42, 43].

As receitas são válidas pelo prazo de 30 dias a contar da data da sua emissão,

exceto nas situações em que as receitas podem ser renováveis, contendo até três vias,

com a indicação ‘’1ª via’’, ‘’2ª via’’ e ‘’3ª via’’, com o prazo de validade de seis meses para

cada via, contando desde a data de prescrição. Apenas podem ser prescritos em receita

renovável, os medicamentos que se destinem a tratamentos de longa duração e os

produtos destinados ao autocontrolo da Diabetes Mellitus [43].

Por outro lado, a prescrição de medicamentos contendo uma substância

classificada como estupefaciente e psicotrópica compreendidas nas tabelas I e II anexas

ao Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, ou qualquer das substâncias referidas no n.º 1

do artigo 86.º do Decreto Regulamentar n.º 61/94, de 12 de outubro, não pode constar de

receita onde sejam prescritos outros medicamentos. Estes medicamentos têm que ser

prescritos nas receitas eletrónicas identificadas com RE – receita especial [43, 44, 45]

Como já referido anteriormente, a receita médica é prescrita pela indicação da DCI.

No entanto, a prescrição pode, em algumas exceções, incluir a denominação comercial

do medicamento, por marca ou indicação do nome do titular da Autorização de

Introdução no Mercado (AIM). Esta situação surge nos casos em que ocorre a

‘’prescrição de medicamento com substância ativa para a qual não exista medicamento

genérico comparticipado ou para o qual só exista original de marca e licenças’’ [42,43].

Pode também acontecer mediante a justificação técnica do prescritor da necessidade de

utilização de e apenas esse medicamento. Nestes casos, o prescritor deve assinalar a

exceção correspondente à sua justificação: a) margem ou índice terapêutico estreito; b)

reação adversa prévia; c) continuidade de tratamento superior a 28 dias. Perante as

exceções a) e b), o farmacêutico só pode fornecer o medicamento prescrito. Face à

exceção c), o farmacêutico pode fornecer o medicamento prescrito ou outro de preço

inferior [43].

Durante um atendimento em que o utente apresente receita médica, para que o

farmacêutico possa validar e aceitar a receita e dispensar os medicamentos nela

descritos, deve assegurar a existência dos seguintes elementos: número da receita;

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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identificação do prescritor e do local de prescrição; nome e número de utente ou de

beneficiário de subsistema; regime especial de comparticipação de medicamentos, se

aplicável; DCI da substância ativa; dosagem, forma farmacêutica, dimensão da

embalagem, número de embalagens; designação comercial do medicamento, se

aplicável; identificação do despacho que estabelece o regime especial de

comparticipação de medicamentos, se aplicável; data de prescrição e assinatura do

prescritor. As receitas podem ser rejeitadas quando não apresentam assinatura do

médico prescritor, quando estão rasuradas, quando o ser PV expirou ou quando não são

cumpridas as regras de prescrição. Além disso, no caso das receitas manuais deve-se ter

em atenção ao facto das receitas não poderem conter rasuras, caligrafias diferentes, nem

canetas diferentes [43].

Durante o estágio verifiquei que este modelo de prescrição por DCI suscita muita

confusão aos utentes, principalmente aos mais idosos, uma vez que não reconhecem o

medicamento que se encontra prescrito nas receitas. Por esse motivo, durante a

dispensa dos medicamentos procurava-se ajudar a simplificar o modo de leitura da

receita médica, ensinando os utentes a reconhecer as DCI dos medicamentos e a sua

finalidade.

5.3 Avaliação da prescrição médica e informações a fornecer

ao utente

Após a validação da receita, o farmacêutico deve proceder à avaliação

farmacoterapêutica da prescrição médica. Neste sentido, deverá ter em conta a

necessidade do medicamento e a adequação do mesmo para o utente em questão. Deve

também analisar a posologia, bem como avaliar as condições do doente para administrar

o medicamento. Deste modo, é possível detetar PRM e proceder à sua resolução que,

quando necessário, deve-se contactar o prescritor. Além disso, através da comunicação

com o utente deve-se tentar perceber se o utente já costuma fazer a medicação, de modo

a averiguar a eficácia e a segurança do mesmo. O farmacêutico deve também informar o

utente acerca dos medicamentos genéricos similares ao prescrito, disponíveis na

farmácia e o que tem o preço mais baixo disponível no mercado.

O farmacêutico deve assegurar que o utente sai da farmácia sem dúvidas

relativamente à sua medicação. Devem-se fornecer todas as informações necessárias

para um uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos, podendo reforçar a

comunicação oral com algumas indicações escritas relativamente à posologia, duração

do tratamento, possíveis reações adversas e modo de administração.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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Após todo este processo, dispensa-se os medicamentos, fazendo o seu registo no

Sifarma 2000®. Deve-se selecionar a entidade responsável pela comparticipação e, se

aplicável, a portaria ou despacho em vigor. Regista-se também o número da receita, bem

como o local de prescrição e o médico prescritor. Ao finalizar a venda dos medicamentos,

é impresso no verso da receita o ‘’Documento para faturação’’, onde se encontram

registados os dados da farmácia, o organismo responsável pela comparticipação, o nº da

receita, de lote e de série, a data de venda, a identificação dos medicamentos

dispensados, o PVP, o preço pago pelo utente e o preço ao encargo do organismo

responsável pela comparticipação. O utente deve assinar este documento e o

farmacêutico carimba, data e rubrica o mesmo.

5.4 Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes

Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes estão sujeitos a uma legislação

específica e rigorosa, uma vez que se tratam de substâncias que, apesar dos seus

benefícios terapêuticos, podem apresentar alguns riscos como, por exemplo, habituação

e até dependência, quer física, quer psíquica. O Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro e

o Decreto-Regulamentar n.º 61/94, de 12 de Outubro, estabeleceram regras apertadas de

controlo, fiscalização relativamente a estas substâncias. Como tal, a dispensa destes

medicamentos processa-se de um modo diferente dos restantes medicamentos [44,45].

Ao realizar a dispensa de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes deve-se

recolher várias informações, nomeadamente, nome do médico prescritor, nome e morada

do utente a quem foi prescrito o(s) medicamento(s), nome, morada, número e data do

bilhete de identidade ou cartão de cidadão da pessoa que adquire o medicamento. Esta

informação é, posteriormente, emitida, em duplicado, pelo Sifarma 2000® num

‘’Documento de Psicotrópicos’’, que se anexa à fotocópia da receita médica. Na Farmácia

S. Roque, através do Sifarma 2000®, criamos uma ficha do utente com as informações

pretendidas, de modo a facilitar o processo de dispensa dos medicamentos. Assim, o

preenchimento das informações é automático, sendo apenas necessário confirmar as

informações em cada atendimento.

Todos os meses, a farmácia envia ao INFARMED, até ao oitavo dia do segundo

mês a seguir à dispensa, a listagem de todas as receitas aviadas da qual constem os

dados do adquirente. Na farmácia fica arquivado, durante 3 anos, as cópias das receitas

com o ‘’Documento de Psicotrópicos’’, ordenadas por data de aviamento [43].

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5.5 Regimes de comparticipação

Atualmente, a legislação em vigor, presente no Decreto-Lei n.º 106-A/2010, de 1 de

Outubro, possibilita a comparticipação de medicamentos pelo Sistema Nacional de Saúde

(SNS) através de dois regimes [43, 46]:

- Regime geral – o estado paga uma percentagem do PVP dos medicamentos, de

acordo com os escalões A (90%), B (69%), C (37%) e D (15%), consoante a sua

classificação farmacoterapêutica.

- Regime especial – abrange os pensionistas, verificando-se um acréscimo de 5%

para o escalão A e de 15% para os restantes escalões. Aplica-se também a situações

específicas que abrangem determinadas patologias ou grupos de doentes como, por

exemplo, Lúpus e Doença de Alzheimer, entre outras. Nestes casos, as portarias e/ou

despachos têm que vir explícitos nas receitas e podem requerer ou não que o médico

seja de determinada especialidade [47].

Alguns utentes podem usufruir, ainda, de regimes de complementaridade, ao

abrigo, por exemplo, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Serviços de Assistência

Médico-Social (SAMS), entre outros. Nestes casos, durante a dispensa de

medicamentos, deve-se fotocopiar a receita, registando o número do cartão do utente da

segunda entidade que comparticipa. A receita original é faturada no organismo principal

de comparticipação (SNS) e a fotocópia é faturada no organismo complementar.

Os medicamentos manipulados mencionados no Despacho n.º 18694/2010, de 18

de Novembro, são comparticipados a 30%. Além desses medicamentos, também os

produtos destinados ao autocontrolo da Diabetes Mellitus são comparticipados, sendo

que a comparticipação é de 85% do PVP das tiras-teste e 100% das agulhas, seringas e

lancetas. Por fim, os produtos dietéticos com carácter terapêutico são comparticipados a

100%, desde que sejam prescritos no Instituto de Genética Médica Dr. Jacinto de

Magalhães (IGM) ou nos centros de tratamento dos hospitais protocolados com o referido

instituto [43,48].

5.6 Medicamentos não sujeitos a receita médica

Os MNSRM são medicamentos cuja dispensa pode ser realizada sem

apresentação de receita médica, em regime de indicação farmacêutica ou

automedicação, destinados ao tratamento de problemas menores de saúde como, por

exemplo, as listadas no Despacho n.º 17690/2007, de 23 de Julho. Estes produtos não

são comparticipados pelas entidades de saúde sendo o seu preço definido pela farmácia

[49].

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5.6.1 Automedicação

Nas situações de automedicação, o utente toma a iniciativa para instaurar um

tratamento medicamentoso e recorre à farmácia para a cedência do medicamento.

Nestes casos, o farmacêutico deve avaliar a situação e a necessidade do utente,

procurando saber o objetivo do utente, qual é o problema, sintomas, tempo de

persistência dos mesmos e já foram tomadas medidas farmacológicas. Tendo em conta

essa informação, o farmacêutico deve orientar a utilização ou não do medicamento

solicitado pelo doente, contribuindo, desse modo, para que a automedicação seja

adequada à situação, racional e eficaz [37].

5.6.2 Indicação Farmacêutica

Na Farmácia S. Roque da Lameira os casos de automedicação não são muito

recorrentes. A maior parte dos utentes recorre à farmácia à procura de aconselhamento

farmacêutico e depositam uma elevada confiança no parecer do farmacêutico, estando

dispostos a seguir as orientações dadas.

Na indicação farmacêutica, o farmacêutico é responsável pela seleção de um

MNSRM ou de medidas não farmacológicas, visando a resolução de um transtorno

menor de saúde apresentado pelo utente. Entende-se por transtorno menor, um

problema de saúde de carater não grave, de curta duração e autolimitante [37].

Tal como na automedicação, o farmacêutico deve recolher junto do utente todas as

informações indispensáveis para a avaliação do problema em questão. Só após essa

entrevista, é que terá capacidade de indicar uma opção terapêutica para tratar o

problema menor de saúde. Na dispensa do medicamento, deve sempre ter em conta a

situação fisiológica do doente, problemas de saúde já diagnosticados, medicamentos que

o utente já esteja a tomar e se apresenta algum tipo de alergia medicamentosa. Desta

forma, poderá selecionar o principio ativo, a forma farmacêutica e a posologia mais

adequada ao utente para tratar ou aliviar o problema apresentado. Caso não seja

possível a resolução do problema com ajuda de MNSRM ou medidas não farmacológicas

ou se ocorrer agravamento do estado de saúde, encaminha-se o doente ao médico ou a

outro profissional de saúde [37].

6. PROCESSAMENTO DE RECEITUÁRIO E FATURAÇÃO

Para que os diferentes organismos efetuem o reembolso monetário relativo às

comparticipações dos medicamentos é necessário realizar o processamento do

receituário mensalmente. Esta tarefa inicia-se no momento da dispensa do medicamento

e termina no envio do receituário para o organismo competente.

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41

Durante a dispensa de medicamentos com prescrição médica deve-se colocar o

organismo responsável pela comparticipação dos mesmos. Antes de terminar o

atendimento, é impresso, no verso da receita médica, o documento de faturação (anexo

7) que tem de ser assinado pelo utente. Neste documento de faturação estão incluídas

várias informações como, por exemplo, a identificação da farmácia e a identificação da

entidade de comparticipação. A cada documento de faturação é atribuído

sequencialmente um número de receita, número de lote e número de série. Após terminar

o atendimento, coloca-se a receita no local apropriado para posterior verificação.

Na Farmácia S. Roque da Lameira antes de se iniciar a verificação e correção das

receitas, vai-se organizando as receitas consoante o organismo de comparticipação e,

posteriormente, em lotes de 30 receitas, por ordem numérica.

Durante o processo de revisão do receituário deve-se verificar os seguintes

aspetos: identificação do utente; identificação do médico e respetiva assinatura, prazo de

validade (30 dias ou 6 meses), regime de comparticipação, despachos e portarias,

medicamentos prescritos e medicamentos dispensados, assinatura do utente, carimbo da

farmácia, data e assinatura do profissional que aviou a receita. Caso seja detetada

alguma inconformidade, deve-se corrigir a receita.

Quando um lote fica completo e validado, imprime-se o Verbete de Identificação de

Lote e anexa-se ao respetivo lote de receitas, carimbado e assinado.

No último dia de cada mês procede-se ao fecho dos lotes. Após este fecho, inicia-

se uma nova série e lotes de receitas, correspondentes ao mês seguinte.

Antes de proceder ao envio do receituário para o organismo competente, imprime-

se, assina-se e carimba-se o Resumo Mensal de Lotes, que engloba todos os lotes e os

valores faturados, e a fatura mensal. As receitas comparticipadas pelo SNS,

acompanhadas dos respetivos Verbetes de Identificação do Lote, Resumo de Lotes e

Fatura Mensal, são enviadas para o Centro de Conferência de Faturas da Administração

Central do Sistema de Saúde (ACSS) até ao quinto dia do mês seguinte. Aí é avaliada a

conformidade das receitas, sendo posteriormente enviadas para a Administração

Regional de Saúde (ARS). As receitas comparticipadas pelas outras entidades são

enviadas inicialmente para a ANF que, posteriormente, envia para os organismos

responsáveis.

Após verificação e validação das receitas pelas entidades competentes, estas

reembolsam o montante correspondente às comparticipações à farmácia. No entanto,

quando é detetada alguma irregularidade, as receitas são devolvidas às farmácias. Caso

seja possível a correção do erro, as receitas podem ser refaturadas. Se não aceitarem as

receitas ou não houver possibilidade de correção, a farmácia assume o prejuízo.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

42

Ao longo do estágio tive a oportunidade de ajudar nesta tarefa de verificação,

correção e organização do receituário. É uma tarefa que necessita concentração e

dedicação para não criar prejuízo para a farmácia de modo que, desde o momento da

dispensa de medicação, deve-se ter em atenção para não incorrer em erros.

7. OUTROS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS PRESTADOS

NA FARMÁCIA

Ao longo dos anos, as farmácias foram evoluindo de locais de dispensa de

medicamentos para locais de prestação de serviços de saúde, sendo reconhecidas e

solicitadas, cada vez mais, pelos utentes. A Portaria n.º 1429/2007, de 2 de Novembro

define os serviços farmacêuticos que podem ser prestados pelas farmácias [50].

Na Farmácia S. Roque da Lameira, os utentes têm à sua disposição um conjunto

de serviços de saúde que incluem: determinação de parâmetros fisiológicos e

bioquímicos; apoio domiciliário; administração de injetáveis, nomeadamente de vacinas

não incluídas no PNV e serviço de podologia. Durante o estágio elaborei um folheto sobre

os serviços disponíveis na farmácia para informação dos utentes (anexo 8).

A determinação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos é dos serviços mais

solicitados na farmácia. Na Farmácia S. Roque da Lameira realiza-se a medição da

pressão arterial, determinação da glicémia, colesterol total, triglicerídeos, índice de massa

corporal (IMC), teste de gravidez e teste de infeção urinária. A prestação destes serviços

de saúde é muito mais do que a determinação de um parâmetro. Nestes momentos,

presta-se um aconselhamento personalizado ao utente face aos resultados obtidos e aos

respetivos valores de referência e sensibiliza-se para os principais riscos de saúde

pública. Uma vez que a Farmácia S. Roque da Lameira não dispõe, de momento, de um

serviço de seguimento farmacoterapêutico, utiliza-se o tempo de determinação de alguns

destes parâmetros para avaliar a eficácia e a adesão à farmacoterapia e para rever

alguns aspetos importantes relativamente à adoção de medidas não farmacológicas.

Para além destes serviços, a Farmácia de S. Roque da Lameira participa

ativamente na Farmacovigilância, notificando o Sistema Nacional de Farmacovigilância

sempre que se identifique reações adversas a medicamentos (RAM) e é uma das

farmácias aderentes ao VALORMED®. O VALORMED® é a sociedade portuguesa

responsável pela gestão dos resíduos de embalagens e medicamentos fora de uso, tendo

como principal objetivo a recolha segura destes produtos para evitar a sua libertação para

o meio ambiente. Como tal, na Farmácia S. Roque sensibilizamos os utentes para estes

dois serviços e incentivamos a sua participação.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

43

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio em farmácia comunitária é, sem dúvida, uma mais-valia na formação de

um estudante do mestrado integrado em ciências farmacêuticas. Este contacto com a

realidade da atividade farmacêutica no contexto da farmácia de oficina aproxima-nos

mais da nossa vertente de profissional de saúde e da nossa intervenção junto à

população. Aqui, devemos dar uso a todas as competências adquiridas ao longo da

nossa formação e contribuir para a proteção e melhoramento da saúde pública.

Ao longo do estágio fui desenvolvendo a capacidade de comunicação com o utente,

adaptando-me às necessidades dos mesmos e adquiri, sobretudo, um conjunto de

valores que me fez crescer como profissional de saúde e como pessoa. Mas, para além

deste contacto com a saúde dos utentes, tive também a oportunidade de conhecer e

aprender sobre a importância da gestão de uma farmácia de oficina, bem como sobre

marketing no contexto farmacêutico.

Termino o estágio reconhecendo que o farmacêutico é um profissional polivalente,

dotado de competências teóricas e práticas e de valores humanos, que nos tornam

profissionais de saúde de excelência.

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[RELATÓRIO DE ESTÁGIO EM FARM ÁCIA COMUNITÁRIA] 2013/2014

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose”. Sociedade

Portuguesa de Aterosclerose, 2ª edição, 1-115.

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[38] Ministério da Saúde (2007), Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de Agosto,

“Regime Jurídico das Farmácias de Oficina”. Diário da República, 1ª série, n.º 168.

[39] INFARMED I.P. (2007), Deliberação n.º 414/CD/2007 de 29 de Outubro,

“Documentos Obrigatórios”.

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47

[40] Ministério da Saúde (2006), Decreto-Lei n.º 176/2006 de 30 de Agosto,

“Estatuto do Medicamento”. Diário da República, 1ª série, n.º 167.

[41] Ministério da Saúde (2011), Decreto-Lei n.º 25/2011 de 16 de Junho,

“Obrigatoriedade de indicação do preço de venda ao público na rotulagem dos

medicamentos”. Diário da República, 1ª série, n.º 115.

[42] Ministério da Saúde (2012), Portaria n.º 137-A/2012 de 11 de Maio, “Regime

Jurídico das regras de prescrição de medicamentos”. Diário da República, 1ª série, n.º 92.

[43] INFARMED I.P. (2014). “Normas relativas à dispensa de medicamentos e

produtos de saúde”, acessível em http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/

INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMANO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZA

CAO (acedido em 23 de Março de 2014)

[44] Ministério da Justiça (1993), Decreto-Lei n.º 15/93 de 22 de Janeiro, “Regime

Jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e psicotrópicos”. Diário da República, 1ª

série A, n.º 18.

[45] Ministério da Justiça (1994), Decreto Regulamentar n.º 61/94 de 12 de

Outubro, “Regime Jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e psicotrópicos”.

Diário da República, 1ª série B, n.º 236.

[46] Ministério de Saúde (2010), Decreto-Lei n.º 106-A/2010 de 1 de Outubro,

“Comparticipação de Medicamentos”. Diário da República, 1ª série, n.º 192.

[47] INFARMED I.P. (2014). “Dispensa exclusiva em Farmácia de Oficina”,

acessível em http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_

USO_HUMANO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS

_USO_AMBULATORIO/MEDICAMENTOS_COMPARTICIPADOS/Dispensa_exclusiva_e

m_Farmacia_Oficina (acedido a 23 de Março de 2014).

[48] Ministério da Saúde (2010), Despacho n.º 18694/2010 de 18 de Novembro,

“Comparticipação dos medicamentos manipulados”. Diário da República, 2ª série, n.º

242.

[49] Ministério de Saúde (2007), Despacho n.º 17690/2007 de 23 de Julho, “Lista

das situações de automedicação”. Diário da República, 2ª série, n.º 154.

[50] Ministério da Saúde (2007), Portaria n.º 1429/2007 de 2 de Novembro,

“Serviços farmacêuticos que podem ser prestados pelas farmácias”. Diário da República,

1ª série, n.º 211.

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ANEXOS

Anexo 1

Folheto informativo sobre Pé Diabético.

(Texto da parte externa)

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49

Folheto informativo sobre Pé Diabético.

(Texto da parte interna)

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50

Anexo 2

Diapositivos da apresentação sobre “Avaliação do Risco Cardiovascular Global”.

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52

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53

Anexo 3

Folheto informativo sobre Aterosclerose.

(Texto da parte externa)

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54

Folheto informativo sobre Aterosclerose.

(Texto da parte interna)

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55

Anexo 4

Folheto informativo sobre Proteção Solar.

(Texto da parte externa)

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56

Folheto informativo sobre Proteção Solar.

(Texto da parte interna)

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57

Anexo 5

Espaço exterior da Farmácia S. Roque da Lameira.

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58

Anexo 6

Sala de Atendimento.

Local de medição de alguns parâmetros fisiológicos e bioquímicos. Valormed.

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59

Local de armazenamento de medicamentos.

Gabinete destinado ao serviço de podologia e administração de vacinas não incluídas no

PNV e de outros medicamentos injetáveis.

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60

Anexo 7

Documento para faturação impresso no verso das receitas.

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61

Anexo 8

Folheto sobre os serviços disponíveis na Farmácia S. Roque da Lameira.

Folheto sobre o Serviço de Podologia disponível da Farmácia S. Roque da Lameira.

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62

7. BIBLIOGRAFIA

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Centro Hospitalar do Porto - Hospital Geral de Santo António

Diana Rute Martins Torres

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

i

FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIA S FARMACÊUTICAS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE

PARTE II – HOSPITAL GERAL DE SANTO ANTÓNIO

Janeiro de 2014 a Fevereiro de 2014

Relatório realizado no âmbito da unidade curricular de Estágio

do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Autores: Diana Rute Martins Torres | 200905759

Orientador: Drª. Teresa Almeida

________________________________________________

Tutor FFUP: Prof. Doutora Helena Vasconcelos

_________________________________________________

Março de 2014

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

ii

Declaração de integridade

Eu, Diana Rute Martins Torres, abaixo assinado, n.º 200905759, aluna do Mestrado

Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, declaro

ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste relatório de estágio.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (acto pelo qual um indivíduo, mesmo

por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele). Mais declaro

que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a outros autores foram

referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte

bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de ______________ de ______

Assinaturas:

_______________________________________________

(Diana Rute Martins Torres)

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

iii

AGRADECIMENTOS

Findo o nosso estágio no Hospital Geral e Central de Santo António, e já na reta final do

nosso percurso académico, queremos agradecer todo o apoio dado nesta fase, por todos os que

permitiram que esta aprendizagem fosse possível.

Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer à Ordem dos Farmacêuticos, à comissão de

estágios da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e à Diretora Técnica dos Serviços

Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, a Dra. Patrocínia Rocha, pela oportunidade de

estagiarmos nesta área da atividade farmacêutica. Esta foi uma experiência bastante enriquecedora,

que nos permitiu entrar em contacto com a realidade farmacêutica no hospital.

Um especial e sentido agradecimento à Dra. Teresa Almeida por todo o apoio dado ao longo

deste estágio. Obrigada pela compreensão e por nos ter orientado nesta nova etapa da nossa vida,

da qual recolhemos bons ensinamentos que certamente guardaremos na nossa memória.

Queremos também agradecer a todos os Técnicos Superiores de Saúde da equipa dos

Serviços Farmacêuticos por nos terem acolhido, durante estes dois meses, na sua equipa e por

ajudarem a completar a nossa formação.

Um agradecimento a todos os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica, aos assistentes

operacionais e aos administrativos dos Serviços Farmacêuticos pela disponibilidade e ajuda

prestada ao longo do estágio.

Terminamos este estágio gratas pela experiência. Um muito obrigada a todos!

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

iv

LISTA DE ABREVIATURAS

APF – Armazém de Produtos Farmacêuticos

CAUL – Certificado de Autorização de Utilização de Lote

CCIH – Comissão de Controlo da Infeção Hospitalar

CdM – Circuito do Medicamento

CE – Comissão de Ética

CEIC – Comissão de Ética de Investigação Clínica

CES – Comissão de Ética para a Saúde

CHP – Centro Hospitalar do Porto

CFT – Comissão de Farmácia e Terapêutica

DCI – Denominação Comum Internacional

DIDDU – Distribuição Individual Diária em Dose Unitária

EC – Ensaios Clínicos

FEFO – First Expired First Out

FH – Farmacêutico Hospitalar

FHNM – Formulário Hospitalar Nacional do Medicamento

GHAF – Gestão Hospitalar de Armazéns e Farmácia

HGSA – Hospital Geral e Central de Santo António

HJU – Hospital Joaquim Urbano

HLS – Hospital Logistic System

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, antigo Instituto

Nacional da Farmácia e do Medicamento

IT – Instrução de Trabalho

IVRS – Interactive Voice Response System

IWRS – Interactive Web Response System

ME – Medicamento Experimental

MJD – Maternidade Júlio Dinis

SAM – Sistema de Apoio ao Médico

SF – Serviços Farmacêuticos

SI_UFO – Sistema Informático da Unidade de Farmácia Oncológica

SU – Serviços de Urgência

TDT – Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica

UEC – Unidade de Ensaios Clínicos

UFA – Unidade de Farmácia do Ambulatório

UFO – Unidade de Farmácia Oncológica

USP – United States Pharmacopeia

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

v

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - EXEMPLO DE UM KANBAN. .................................................................................... 8

FIGURA 2 - LOCAL DE RECEÇÃO DAS ENCOMENDAS. ............................................................... 9

FIGURA 3 - SALA DE PREPARAÇÃO DE NÃO-ESTÉREIS. .......................................................... 11

FIGURA 4 - MÁQUINA SEMIAUTOMÁTICA DE REEMBALAMENTO DE COMPRIMIDOS. ............. 12

FIGURA 5 - PHARMAPICK E CARRO DE DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAÇÃO……………………...18

FIGURA 6 - UNIDADE DE FARMÁCIA DE AMBULATÓRIO. ....................................................... 19

FIGURA 7 - IMPRESSO PARA A PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA ENSAIO CLÍNICO. ...... 23

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[Relatório de estágio em farmácia hospitalar] 2014

vi

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................................. III

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................................................... IV

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................................... V

ÍNDICE .......................................................................................................................................................... VI

1. OBJETIVO .................................................................................................................................................. 1

2. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 1

2.1 FARMÁCIA HOSPITALAR .......................................................................................................................... 2

2.2 SERVIÇOS FARMACÊUTICOS DO CENTRO HOSPITALAR DO PORTO ........................................................... 3

2.3 FORMULÁRIO HOSPITALAR NACIONAL DO MEDICAMENTO ..................................................................... 4

2.4 GESTÃO HOSPITALAR DE ARMAZÉNS E “CIRCUITO DO MEDICAMENTO” ................................................. 4

2.5 COMISSÕES TÉCNICAS HOSPITALARES ..................................................................................................... 5

2.6 SISTEMAS DE GESTÃO DE QUALIDADE NOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS ................................................. 5

3. CIRCUITO DO MEDICAMENTO ........................................................................................................... 7

4. GESTÃO DE COMPRAS E ARMAZÉM ................................................................................................. 8

4.1 AQUISIÇÃO ............................................................................................................................................... 8

4.2 RECEÇÃO ................................................................................................................................................. 8

4.3 ARMAZENAMENTO ................................................................................................................................... 9

4.4 GESTÃO DE STOCKS................................................................................................................................ 10

5. PRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 11

5.1 PRODUÇÃO DE NÃO-ESTÉREIS ................................................................................................................ 11

5.2 PRODUÇÃO DE ESTÉREIS E BOLSAS DE NUTRIÇÃO PARENTÉRICA ............................................................ 12

5.3 UNIDADE DE FARMÁCIA ONCOLÓGICA .................................................................................................. 13

5.3.1 Validação e preparação de medicamentos citotóxicos .................................................................. 14

5.3.2 Preparação das sessões ................................................................................................................. 14

6. DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS .............................................................................................. 16

6.1 DISTRIBUIÇÃO CLÁSSICA ....................................................................................................................... 16

6.2 DISTRIBUIÇÃO INDIVIDUAL DIÁRIA EM DOSE UNITÁRIA ....................................................................... 17

6.3 DISTRIBUIÇÃO EM REGIME DE AMBULATÓRIO ....................................................................................... 19

7. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ........................................................................................ 21

7.1 CIRCUITO DO MEDICAMENTO EXPERIMENTAL ...................................................................................... 22

7.1.1 Receção da medicação do ensaio clínico ...................................................................................... 22

7.1.2 Dispensa do medicamento experimental........................................................................................ 23

7.1.3 Devoluções ..................................................................................................................................... 23

8. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................... 25

9. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 26

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1. OBJETIVO

Este estágio teve como objetivo a aquisição de conhecimentos a nível do funcionamento da

Farmácia Hospitalar, nomeadamente, a sensibilização para a estrutura orgânica-funcional do

Serviço e para a realidade hospitalar. Procurou-se também, ao longo do estágio, permitir a

aplicação do conhecimento teórico e prático já adquirido às diferentes realidades de cada serviço,

bem como complementar a formação académica referente a esta área.

2. INTRODUÇÃO

Os Serviços Farmacêuticos (SF) hospitalares constituem uma estrutura hospitalar essencial

para a qualidade dos cuidados de saúde dispensados. Aqui, a importância do farmacêutico é

incontestável, uma vez que este, não só é responsável pelos diferentes serviços realizados a nível da

Farmácia Hospitalar, mas também se encontra integrado em comissões de apoio à gestão hospitalar

[1].

Desta forma, a participação do estudante nas atividades desenvolvidas ao longo do estágio

hospitalar é uma mais-valia para a sua formação académica e contribuem para que o mesmo se

torne num melhor profissional.

O estágio nos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto (CHP) contemplou oito

semanas de formação, nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2014, sob orientação da Dra. Teresa

Almeida.

Este iniciou-se com algumas apresentações teóricas referentes a cada serviço da Farmácia

Hospitalar, as quais decorreram ao longo da primeira semana, tendo-se feito também uma visita

guiada pelos vários setores. Durante as restantes semanas percorreram-se os diferentes serviços

farmacêuticos, nomeadamente:

- Armazém de Produtos Farmacêuticos (APF);

- Produção de não-estéreis e estéreis;

- Unidade de Farmácia Oncológica (UFO);

- Distribuição individual diária em dose unitária (DIDDU);

- Unidade de Farmácia de Ambulatório (UFA);

- Ensaios Clínicos (EC).

No primeiro dia de cada semana, procedeu-se à leitura da documentação relativa a cada

serviço (matrizes de processos, instruções de trabalho), sendo que nos restantes dias os

responsáveis de cada setor se encarregaram da formação.

Ao longo do estágio foi ainda possível a participação no V curso do Grupo de Nutrição

Artificial do CHP, relativo ao suporte nutricional, e no I Congresso Internacional de Cuidados

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2

Intensivos e Unidades Intermédias do CHP, com o tema “Doente crítico: do diagnóstico à

terapêutica”. Teve-se também o privilégio de assistir, não só a duas apresentações de divulgação

científica, nomeadamente, “Golimumab: a experiência clínica” e “STELARA® (Ustecinumab) na

psoríase em placas e artropática”, mas também de acompanhar uma auditoria interna aos serviços

da Unidade de Farmácia Oncológica, Investigação e Desenvolvimento e Cuidados Farmacêuticos.

Tivemos ainda a oportunidade de participar numa campanha de recolha de medicamentos, na

qual procedemos à organização dos medicamentos recolhidos, de acordo com o seu grupo

farmacoterapêutico, após a verificação do seu estado de conservação e prazo de validade.

2.1 Farmácia Hospitalar

As atividades farmacêuticas exercidas a nível hospitalar são desempenhadas pelos Serviços

Farmacêuticos Hospitalares, os quais possuem autonomia técnica e científica e cuja direção é

assegurada, obrigatoriamente, por um farmacêutico hospitalar (FH). Estes serviços têm como

principal responsabilidade a gestão dos medicamentos e de outros produtos farmacêuticos,

assegurando, desta forma, o cumprimento da política de utilização do medicamento, tal como

descrito pelo Formulário Hospitalar Nacional do Medicamento (FHNM) e pela Comissão de

Farmácia e Terapêutica (CFT) [2].

Aos Serviços Farmacêuticos compete ainda as seguintes funções [2,3]:

- A seleção, aquisição, aprovisionamento, armazenamento e distribuição de medicamentos,

produtos farmacêuticos e dispositivos médicos;

- A produção de medicamentos, bem como a análise de matérias-primas e produtos

acabados;

- A participação em Comissões Técnicas Hospitalares;

- A prestação de cuidados farmacêuticos;

- A colaboração na elaboração de protocolos terapêuticos;

- A colaboração na formação, tanto de Técnicos Superiores de Saúde (farmacêuticos), como

de Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT);

- A participação nos Ensaios Clínicos.

Desta forma, o farmacêutico hospitalar é um profissional integrado numa equipa

multidisciplinar, estando habilitado a desempenhar as atividades em cima descritas. Estas

traduzem-se sobretudo na promoção do uso racional do medicamento a nível hospitalar,

assegurando a sua qualidade, eficácia e segurança, e na prestação de informações sobre os

medicamentos a qualquer profissional de saúde [4].

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Serviços

Farmacêuticos

Armazém de produtos farmacêuticos

Distribuição

- Ambulatório

- Clássica

- Dose individual diária

Investigação e Desenvolvimento

Farmácia Oncológica

Farmacotecnia

2.2 Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto

O CHP constitui uma Entidade Pública Empresarial dotada de autonomia administrativa,

financeira e patrimonial, e é atualmente constituído pelo Hospital Geral e Central de Santo António

(HGSA), Maternidade Júlio Dinis (MJD) e Hospital Joaquim Urbano (HJU).

Este é um hospital central e escolar, tendo funções integradas de prestação de cuidados de

saúde, de formação pré e pós-graduada e de investigação, as quais contribuem para o

desenvolvimento da ciência e tecnologia da saúde. Desta forma, o CHP assume-se como uma

unidade essencial do sistema de saúde português, visando a excelência em todas as suas atividades

numa perspetiva global e integrada de saúde [5].

Os SF do CHP encontram-se sob a direção da Dra. Patrocínia Rocha e apresentam-se quase

totalmente centralizados no HGSA, mantendo as farmácias satélites do HJU e da MJD, e

encontram-se certificados pela Norma ISO 9001, a qual implica uma melhoria contínua no rigor,

qualidade e eficiência [6].

No HGSA os SF encontram-se localizados no Edifício Neoclássico, com exceção da UFO,

que se encontra localizada no Edifício Dr. Luís de Carvalho. Este último foi construído de forma a

dar resposta às necessidades emergentes da instituição.

A farmácia central encontra-se organizada em diversos setores, como se pode observar no

esquema 1.

Esquema 1 – Estrutura orgânica-funcional dos Serviços Farmacêuticos.

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2.3 Formulário Hospitalar Nacional do Medicamento

O FHNM tem como base critérios clínicos, de qualidade de vida e critérios

farmacoeconómicos, e constitui um importante auxiliar de trabalho, uma vez que permite garantir,

não só a qualidade, eficácia e segurança da terapêutica, mas também o controlo de custos e a

racionalização da escolha de medicamentos [4].

Este contém um conjunto de informações relevantes, sobre os medicamentos de uso

frequente a nível hospitalar, servindo então como orientação na escolha do fármaco mais adequado

para cada situação abrangida pela legislação. Contudo, existem situações que não se encontram

abrangidas pela mesma, sendo assim permitida a inclusão de outros medicamentos não presentes no

FHNM, após a aprovação pelos organismos competentes como, por exemplo, a CFT, tal como se

encontra estabelecido no Despacho nº 1083/2004, (2ª série), de 1 de Dezembro de 2003, publicado

no Diário da República, 2ª série, nº14, de 17 de Janeiro de 2004 [7,8].

Desta forma, compete à CFT de cada hospital a aprovação da inclusão ou exclusão de

medicamentos numa publicação complementar ao FHNM, a adenda ao FHNM [7]. Esta abrange,

assim, os doentes que não se encontram contemplados no FHNM e procura satisfazer as suas

necessidades terapêuticas, bem como melhorar a sua qualidade de vida [2].

2.4 Gestão Hospitalar de Armazéns e “Circuito do Medicamento”

A existência de programas informáticos contribui para o bom funcionamento dos serviços

clínicos e farmacêuticos, uma vez que facilita a comunicação entre os diferentes setores e

profissionais do meio hospitalar, possibilitando uma resposta rápida e simples às exigências de

ambos os serviços.

Nesse sentido, no HGSA, é utilizado um programa informático, designado Gestão Hospitalar

de Armazéns e Farmácia (GHAF), que facilita a gestão de stock e intervém no processo de

aquisição, distribuição, débito e devolução de medicamentos e produtos farmacêuticos.

Para além deste programa informático, existe ainda o “Circuito do Medicamento” (CdM), o

qual está presente tanto nos serviços clínicos, como nos Serviços Farmacêuticos do HGSA, sendo a

plataforma onde se realiza a prescrição médica eletrónica e a validação farmacêutica. Este

programa é utilizado por todos os Serviços Farmacêuticos, tendo o Farmacêutico Hospitalar acesso

às prescrições dos doentes em regime de ambulatório, regime de internamento e hospital de dia. O

CdM possibilita ainda o registo das intervenções farmacêuticas efetuadas, sendo um importante

auxiliar na realização de cuidados farmacêuticos, o que contribui para um uso racional e seguro do

medicamento.

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A implementação do GHAF e do CdM tornou-se uma mais-valia para os Serviços

Farmacêuticos, uma vez que permitem uma otimização dos processos inerentes à gestão e circuito

do medicamento, tornando-os mais rápidos, menos falíveis e mais fáceis de monitorizar.

2.5 Comissões Técnicas Hospitalares

Como foi já referido anteriormente, uma das funções do Farmacêutico Hospitalar passa pela

participação em Comissões Técnicas, as quais são uma parte integrante da gestão hospitalar,

estando presente na CFT, na Comissão de Ética (CE) e na Comissão de Controlo da Infeção

Hospitalar (CCIH) [2].

A CFT é uma comissão especializada responsável pela definição e monitorização sistemática

da política do medicamento no hospital, que procura alcançar um maior rigor e segurança na

prescrição médica, bem como diminuir custos associados à terapêutica. Esta atua como um elo de

ligação entre os serviços clínicos e farmacêuticos, participando na elaboração de adendas e

deliberações relativas a condições de utilização de certos medicamentos, pronunciando-se sobre a

terapêutica mais adequada para os doentes e elaborando protocolos de utilização e programas de

educação [4,7].

A CE engloba a Comissão de Ética para a Saúde (CES) e a Comissão de Ética para

Investigação Clínica (CEIC), sendo que o FH encontra-se presente em ambas as comissões. Na

CEIC, o principal objetivo passa por assegurar a proteção dos direitos, da segurança e do bem-estar

dos participantes nos ensaios clínicos [9]. Já à CES compete, não só a salvaguarda da dignidade e

integridade humana, mas também a emissão de pareceres sobre questões éticas no domínio da

atividade do hospital, sobre protocolos de investigação científica envolvendo seres humanos e

sobre a realização de ensaios clínicos [10].

A CCIH tem como principal competência a vigilância a nível de infeções hospitalares e a

elaboração de estratégias no controlo da infeção [11].

2.6 Sistemas de Gestão de Qualidade nos Serviços Farmacêuticos

O CHP visa, em todas as suas atividades, a evolução no sentido da excelência,

desenvolvendo para tal projetos de melhoria contínua de forma a, não só consolidar a atuação

clínica, mas também garantir a segurança dos procedimentos para os todos os envolvidos,

nomeadamente, utentes, profissionais e visitantes. [6]

Como tal, foi criado para cada atividade uma matriz de processo, a qual nos dirige para um

conjunto de procedimentos padronizados, as instruções de trabalho, que têm como objetivo orientar

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as ações a executar. A matriz contém ainda indicação dos objetivos a atingir em cada atividade, os

quais são objetos da gestão de qualidade.

Um dos projetos de melhoria implementados no CHP é o Hospital Logistic System (HLS), o

qual tem como objetivo rentabilizar os processos através de uma melhoria contínua e inovação dos

mesmos, sendo que, para tal, os colaboradores são incentivados a desenvolverem formas mais

eficientes para a obtenção dos resultados. Esta melhoria contínua reflete-se nos processos

administrativos e na gestão do armazém que, em conjunto, conduzem a uma gestão mais eficiente

dos stocks e consequente diminuição dos mesmos.

Em termos de inovação procedeu-se também ao estudo e desenvolvimento de um novo

método de reposição a nível dos serviços, de material clínico e farmacêutico, o qual passou pela

implementação de armazéns geridos pelo sistema em dupla caixa. Neste sistema, cada caixa vazia

ou Kanban (cartão físico onde se encontra descrito o ponto de encomenda e quantidade a

encomendar), responsável pela divisão da caixa, representa uma ordem de reposição do

medicamento.

Para que o sistema HLS pudesse dar resposta às necessidades dos serviços foi necessário

introduzir algumas alterações, as quais passaram pelo desenvolvimento de rotas de abastecimento,

pela reformulação do armazém central aligeirar o picking, pelo desenvolvimento de carros de

transporte adaptados e também pela formação de operadores logísticos para execução das rotas

atribuídas. Como resultado, o sistema HLS levou a um aumento da eficiência e da eficácia, o qual

se reflete na satisfação dos profissionais de saúde, na diminuição dos stocks e na simplificação de

funções e tarefas. [12]

Da necessidade de avaliar a eficácia das ações implementadas e verificar a sua conformidade

com o que foi planeado, surgem as auditorias técnicas. Estas consistem numa avaliação sistemática

e minuciosa das atividades desenvolvidas, com a finalidade de verificar o cumprimento dos

procedimentos e objetivos e identificar oportunidades de melhoria contínua nos diversos processos.

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3. CIRCUITO DO MEDICAMENTO

Desde a entrada dos medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos no

hospital, até à sua chegada ao doente, estes atravessam diferentes áreas dos Serviços

Farmacêuticos. Normalmente, este circuito do medicamento encontra-se bem definido e controlado

ao longo de todos os processos, de forma a garantir a integridade do produto e a sua correta

utilização e gestão. No esquema 2 está representado o circuito do medicamento nos SF em

ambiente hospitalar.

Esquema 2 – Circuito do medicamento na Farmácia Hospitalar (adaptado de [2]).

Contudo, como resultado de estarem sujeitos a legislação específica, alguns medicamentos

apresentam um circuito ligeiramente diferente. Tal é o caso dos estupefacientes e psicotrópicos, das

eritropoietinas, dos medicamentos derivados do plasma e dos medicamentos experimentais, os

quais se encontram sujeitos a um controlo mais apertado [2,4].

Dentro destes grupos é importante referir que a aquisição de estupefacientes e psicotrópicos

deve de ser efetuada num impresso próprio e que a sua dispensa, tal como a dos hemoderivados,

deve de ser feita por um farmacêutico, o qual deve preencher, no ato, o respetivo impresso do

Ministério da Saúde.

Receção

Doentes

externos

Distribuição

Doentes

internos

Produção

- Não-estéreis

- Estéreis

- Citotóxicos

- Clássica

- DIDDU

- Ambulatório

Armazenamento

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4. GESTÃO DE COMPRAS E ARMAZÉM

4.1 Aquisição

O APF é o local onde se inicia o circuito do medicamento no hospital, sendo responsável

pela aquisição, requisição, armazenamento, gestão e fornecimento de produtos farmacêuticos.

A aquisição é feita, de acordo com as necessidades, em conformidade com o FHNM, adenda

ou deliberações da CFT, sendo este processo desencadeado por Kanbans (figura 1). Para tal,

coloca-se o item pretendido na lista comum através da qual o Serviço de Aprovisionamento faz a

encomenda ao fornecedor pré-definido, sendo que, para os produtos de utilização esporádica no

CHP e manipulados (cápsulas), se trata da Farmácia Lemos. No final é emitida uma nota de

encomenda, ficando o Kanban colocado junto ao local de receção até à chegada do produto.

Figura 1 - Exemplo de um Kanban.

4.2 Receção

Quando a encomenda chega à zona de receção (figura 2), deve-se proceder à conferência

qualitativa e quantitativa dos produtos e, posteriormente, comparar o que foi recebido com a guia

de remessa/fatura e com a nota de encomenda, verificando-se o lote e prazo de validade. Este

último deve ser superior a 6 meses, caso contrário apenas será aceite com a condição de garantia de

troca. No caso dos medicamentos hemoderivados, deve-se ainda verificar se estes vêm

acompanhados do respetivo certificado de autorização de utilização de lote (CAUL) da Autoridade

Nacional do Medicamento e Produtos para a Saúde (INFARMED), o qual deve de ser

informatizado.

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Figura 2 – Local de receção das encomendas.

Quanto à receção de matérias-primas, deve-se verificar o boletim de análise do lote e só

depois enviar para o responsável do sector de produção dos SF, o qual procederá à aprovação sobre

a conformidade ou não do lote.

Após a receção e validação das encomendas, envia-se os documentos para o Serviço de

Aprovisionamento, de forma a dar entrada do produto no GHAF.

4.3 Armazenamento

O armazenamento dos medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos é feito

por ordem alfabética, de acordo com a Denominação Comum Internacional (DCI), num ambiente

controlado de temperatura, humidade e luz, procurando-se garantir que estes permanecem dentro

dos limites estabelecidos.

O armazenamento é feito, no geral, por corredores, existindo um corredor específico para

colírios, pomadas oftálmicas, gotas auriculares, soluções nasais e manipulados, juntamente com os

antídotos e agentes de contraste de raio X. Da mesma forma, tanto os produtos para nutrição

artificial, como o material de penso se encontram em corredores distintos. Também a UFA possui

um corredor próprio destinado a produtos que lhe são exclusivos e que, por motivos de espaço, não

podem ser lá armazenados.

Como exceções temos os produtos de grande volume, os quais estão localizados num local

sem estantes, de forma a rentabilizar o espaço; os medicamentos de frio, que se encontram numa

arca frigorífica, com controlo de temperatura; e os estupefacientes e psicotrópicos, os quais, devido

à sua natureza e legislação, são armazenados numa sala de acesso restrito.

Quanto aos medicamentos citotóxicos, devido ao risco biológico que estes apresentam,

encontram-se armazenados diretamente na UFO.

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4.4 Gestão de stocks

A gestão de stocks é feita através da definição de um ponto de encomenda, o qual deve

cobrir o gasto médio desde que é feita a encomenda até à chegada do produto, procurando evitar a

acumulação ou rotura de stock. No caso de o stock existente não ser suficiente para cobrir este

período de tempo, pode ser necessário proceder-se a uma encomenda do produto à Farmácia Lemos

ou então fazer um pedido de empréstimo a outro hospital, o qual deve ser registado e pago assim

que for possível. Nos casos em que outro hospital necessite de um empréstimo do HGSA, é

possível ceder o produto desde que tal não afete o nível de serviço.

De modo a fazer uma melhor gestão dos stocks aplica-se o princípio do First Expired First

Out (FEFO), sendo por isso importante fazer a verificação dos prazos de validade, listando todos

os produtos que se encontrem fora do prazo de validade e os produtos cujo prazo de validade

terminará ao fim de 3 meses a contar da data da verificação.

Atividades realizadas englobadas na gestão de compras e gestão de

armazéns:

Conhecimento dos vários processos de aquisição e empréstimo de medicamentos;

Aquisição/armazenamento de medicamentos/produtos farmacêuticos;

Organização/gestão dos stocks;

Familiarização com a localização dos medicamentos/produtos farmacêuticos/reagentes;

Integração na aplicação informática CdM/GHAF;

Conhecimento de documentos, impressos e regras instituídas no APF;

Contacto com o sistema de distribuição clássica;

Conhecimento do sistema HLS e respetivo circuito de distribuição.

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5. PRODUÇÃO

A evolução dos cuidados de saúde determina uma prestação de cuidados farmacêuticos cada

vez mais dirigidos para o doente. Contudo, nem sempre a indústria farmacêutica é capaz de dar

resposta a esta situação, pelo que os Serviços Farmacêuticos Hospitalares têm necessidade de

integrar uma área de farmacotecnia, a qual permita efetuar preparações farmacêuticas utilizadas no

tratamento de certos doentes, com maior antecedência e em maior escala. Esta situação é bastante

evidente na área da pediatria, na qual se verifica um baixo número de formulações comerciais, o

que leva a que a grande maioria das preparações feitas no HGSA sejam destinadas à pediatria e

neonatologia.

O setor da produção do HGSA encontra-se destinado à preparação de formas farmacêuticas

estéreis e não estéreis, tendo cada uma delas um local próprio para a sua execução. Contudo, ambos

os processos se iniciam por uma requisição que pode chegar por via GHAF ou Kanban, seguido

pela emissão da ordem de preparação.

5.1 Produção de não-estéreis

Dentro da sala das preparações não estéreis (figura 3) são várias as formas farmacêuticas

preparadas, tais como: soluções, cremes, suspensões, emulsões, entre outros. Este processo

deve ser acompanhado da ordem de preparação na qual devem de ser registadas as

matérias-primas utilizadas, bem como o respetivo lote, laboratório e prazo de validade e,

caso seja necessário, os cálculos efetuados. Após a obtenção do manipulado deve-se

proceder ao débito das matérias-primas utilizadas, bem como à inserção no sistema da

preparação obtida com a devida composição, finalizando com a transferência para o

armazém adequado.

Figura 3 - Sala de preparação de não-estéreis.

É também neste local que se realiza o fracionamento e reembalamento de pós e comprimidos

(figura 4), sendo que deve-se ter o cuidado de atribuir os prazos de validade de acordo com a

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United States Pharmacopeia (USP), a qual recomenda a atribuição do prazo de validade de um ano

ou, caso seja menor, o do próprio medicamento.

Figura 4 – Máquina semiautomática de reembalamento de comprimidos.

Atividades realizadas na produção de não -estéreis:

Conhecimento das regras básicas de higiene;

Familiarização com a localização dos medicamentos e matérias-primas;

Colaboração na elaboração das ordens de preparação;

Conhecimento dos documentos e impressos instituídos;

Colaboração na preparação de fórmulas magistrais não estéreis;

Reembalamento e fracionamento de medicamentos.

5.2 Produção de estéreis e bolsas de nutrição parentérica

Na parte das preparações estéreis, as formas farmacêuticas preparadas são injetáveis e

colírios, bem como bolsas de nutrição parentérica. Estas preparações são feitas em ambiente

controlado, numa câmara de fluxo laminar, com recurso a técnica assética. Para tal, a área

envolvente encontra-se dividida em três zonas distintas:

- Zona negra, onde se procede à lavagem das mãos e colocação de equipamento protetor;

- Zona cinzenta, onde são colocadas as luvas;

- Zona branca, onde se preparam os produtos estéreis.

Para controlo da efetividade da técnica assética é feito, diariamente, um controlo

microbiológico das bolsas de nutrição parentérica, recolhendo, para isso, amostras da primeira

bolsa de cada sessão, bem como da última do dia.

Todas as requisições de nutrição parentérica devem passar por um processo de validação

farmacêutica, antes de se proceder à sua preparação, sendo que, de forma a garantir a correta

identificação das bolsas de nutrição parentérica procede-se também à impressão dos respetivos

rótulos, os quais devem conter a composição da bolsa a que são destinados. Esta impressão é feita

geralmente em duplicado sendo um rótulo colocado diretamente na bolsa e outro colocado sobre o

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papel de alumínio, no qual a bolsa é embrulhada como resultado da necessidade de a proteger da

luz.

Durante a preparação coloca-se primeiro os macronutrientes e, de seguida, os

micronutrientes, tendo sempre o cuidado, não só de fazer dupla verificação de cada um dos

nutrientes e da respetiva quantidade a adicionar à bolsa, mas também de espaçar a adição de

componentes que possam levar a precipitação. No final obtêm-se duas bolsas diferentes, uma

contendo os nutrientes hidrossolúveis e outra os lipossolúveis, contendo ambas um volume

ligeiramente superior ao prescrito de forma a compensar a retenção de volume na bolsa e, deste

modo, garantir que o doente recebe as quantidades que lhe foram prescritas. No final da

preparação, só se procede à aditivação das bolsas destinadas a serem administradas a adultos no

hospital de dia, sendo a aditivação das restantes feitas pelos enfermeiros.

Por fim, as bolsas contendo os nutrientes hidrófilos sofrem um controlo gravimétrico, sendo

para isso pesadas e verificando se o peso obtido se encontra num intervalo pré-determinado. Caso

estejam dentro dos limites, procede-se então ao seu embalamento, em conjunto com a bolsa que

contém os nutrientes lipófilos.

Atividades realizadas na produção de estéreis:

Conhecimento das regras básicas de higiene e assepsia;

Colaboração na elaboração das ordens de preparação;

Conhecimento dos documentos e impressos instituídos;

Colaboração na preparação de fórmulas magistrais estéreis;

Colaboração na preparação de misturas nutritivas para administração parentérica;

5.3 Unidade de Farmácia Oncológica

A UFO encontra-se localizada no Edifício Dr. Luís de Carvalho, próxima do hospital de dia

onde se faz a administração dos fármacos preparados nesta unidade. Esta proximidade traz

vantagens ao doente, uma vez que minimiza a ocorrência de potenciais erros no circuito destes

medicamentos.

Na UFO, os medicamentos citotóxicos são preparados numa dose ajustada à superfície

corporal de cada doente, calculada de acordo com a altura e o peso do respetivo doente, e tendo em

consideração a cinética individual de cada fármaco, em casos de doentes com comprometimento da

função renal ou hepática.

Neste setor são também dispensados fármacos não citotóxicos, mas que funcionam como

adjuvantes da terapêutica, tais como as imunoglobulinas, os antieméticos, entre outros.

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5.3.1 Validação e preparação de medicamentos citotóxicos

As prescrições destinadas à UFO são feitas por via eletrónica ou em papel, sendo todos os

dados validados pelo farmacêutico de serviço, o qual confirma a dose, os dados antropométricos do

doente, o diagnóstico, o protocolo usado, a diluição, o tempo de perfusão e os intervalos entre os

ciclos de quimioterapia. Contudo, esta validação só é feita após o enfermeiro dar luz verde no

Sistema de Apoio ao Médico (SAM) e GHAF/CdM, depois de ter verificado que o doente

apresenta condições para a realização do ciclo.

Após a validação da prescrição, o farmacêutico procede à emissão da ordem de preparação, à

impressão dos rótulos para a medicação e à libertação do lote correspondente, no qual deve constar

as iniciais de quem preparou e de quem validou a preparação.

A preparação é feita numa câmara com uma organização semelhante à referida anteriormente

nas preparações estéreis, apresentando no entanto pressão negativa na sala, de modo a que, quando

se abra a porta, não haja passagem de partículas para o exterior (as quais poderiam contaminar as

pessoas à sua volta) e sendo necessário a colocação de um segundo par de luvas, na zona branca.

No interior da câmara encontram-se duas pessoas, um farmacêutico e um TDT. Este último

realiza a manipulação sob a supervisão do farmacêutico, ocorrendo sempre dupla verificação.

Depois de a preparação estar pronta, é rotulada e, caso seja necessário, embrulhada em papel de

alumínio para proteger da luz, colocando-se um segundo rótulo sobre o mesmo.

Por fim, esta é embalada e colocada na janela de comunicação, onde irá ser recolhida por um

auxiliar, que a irá transportar numa caixa própria até ao local onde será administrada.

5.3.2 Preparação das sessões

Para que a UFO funcione de uma forma mais eficiente, o farmacêutico procede sempre à

preparação das sessões agendadas para o dia seguinte. Para tal imprime-se, a partir do SAM, a lista

dos doentes previstos para esse dia, sendo necessário distinguir quais os destinados à UFO. Estes

são depois agendados, de acordo com a sua hora de administração da quimioterapia, no Sistema

Informático da Unidade de Farmácia Oncológica (SI_UFO), programa desenvolvido por um dos

farmacêuticos do HGSA. Mediante esta lista, o TDT procede à preparação do material e a

medicação necessários para o dia seguinte, sendo que, caso posteriormente seja necessário algum

material extra, deverá ser registado qual o serviço a que foi destinado.

Quanto à gestão de stocks, neste setor é feita por Kanban eletrónico, sendo o pedido

despoletado quando se atinge o ponto de encomenda do medicamento.

Atividades realizadas na unidade de farmácia oncológica:

Integração na aplicação informática SI_UFO e GHAF;

Familiarização com a localização dos medicamentos;

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Conhecimento dos documentos e impressos instituídos;

Colaboração na elaboração das ordens de preparação;

Consulta dos protocolos instituídos;

Conhecimento das regras básicas de higiene e assepsia;

Observação da manipulação e reembalamento de medicamentos citotóxicos;

Colaboração na preparação da lista e do material necessário para as sessões do dia

seguinte.

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6. DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS

A distribuição de medicamentos em ambiente hospitalar é um processo fundamental do

circuito do medicamento, permitindo assegurar um uso racional, eficaz e seguro do mesmo [4].

Este setor dos Serviços Farmacêuticos tem como objetivo [2,4]:

Garantir o cumprimento da prescrição;

Diminuir erros associados à dispensa e administração do medicamento;

Melhorar a adesão terapêutica;

Racionalizar a distribuição dos medicamentos, bem como os custos associados à

terapêutica;

Diminuir o tempo de enfermaria dedicado às tarefas administrativas e à manipulação dos

medicamentos.

Monitorização da terapêutica.

Nos Serviços Farmacêuticos do HGSA, é de distinguir as seguintes áreas de distribuição de

medicamentos:

Distribuição clássica

Distribuição individual diária em dose unitária (regime de internamento)

Distribuição em regime de ambulatório

Como já foi referido anteriormente, existem medicamentos sujeitos a legislação especial, tais

como estupefacientes e psicotrópicos, eritropoietinas, medicamentos derivados do plasma e

medicamentos experimentais (ME), os quais apresentam uma distribuição distinta dos restantes

medicamentos [2,4].

6.1 Distribuição Clássica

A distribuição clássica, a qual é da responsabilidade do APF, foi o primeiro tipo de

distribuição a ser utilizado a nível hospitalar. Esta é responsável pela reposição dos stocks de

diversos serviços, de acordo com as quantidades previamente estabelecidas (stock fixo) entre os SF

e cada serviço clínico.

A reposição pode ser desencadeada por Kanbans, como ocorre, por exemplo, no caso da

UFA e da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente; por HLS, o qual foi já referido

anteriormente; ou ainda com recurso a um dispositivo semiautomático de dispensa, o Pyxis, o qual

se encontra presente nos cuidados intensivos e nos blocos operatórios, permitindo um acesso rápido

à medicação. Este dispositivo é reposto por stock nivelado, em dias fixos, de forma a garantir a

disponibilidade dos medicamentos.

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Após o pedido feito por um dado serviço se encontrar satisfeito, os medicamentos são

embalados numa caixa, identificada com o nome do serviço a que se destina, a qual contém no seu

interior, para além da medicação pedida, uma guia de remessa. As caixas são depois distribuídas

para os respetivos serviços, sendo que, de forma a rentabilizar o processo de distribuição, existem 3

circuitos para a reposição, os quais se encontram organizados de acordo com a proximidade física

dos serviços.

Atividades realizadas na distribuição clássica:

Organização/gestão dos stocks;

Familiarização com a localização dos medicamentos/produtos farmacêuticos/reagentes;

Integração na aplicação informática CdM/GHAF;

Conhecimento de documentos, impressos e regras instituídas no APF;

Contacto com o sistema de distribuição clássica;

Conhecimento do sistema HLS e respetivo circuito de distribuição.

6.2 Distribuição Individual Diária em Dose Unitária

A DIDDU foi introduzida por imposição legal pelo despacho nº23, 2ª série, em Diário da

República, a 28 de Janeiro de 1992, como forma de distribuição de medicamentos a doentes

internados, com exceção dos Serviços de Urgência (SU) e bloco operatório [13]. Este sistema de

distribuição é mais vantajoso, uma vez que se traduz num aumento da segurança do circuito do

medicamento, melhor conhecimento do perfil farmacoterapêutico do doente, redução do risco de

interações, racionalização da terapêutica, dedicação de mais tempo aos cuidados dos doentes,

atribuição mais correta dos custos e numa diminuição do desperdício.

Os medicamentos são distribuídos apenas para um período de 24 horas, devido a possíveis

alterações feitas às prescrições resultantes das visitas médicas. Contudo, ao sábado a medicação é

preparada para 48 horas, uma vez que ao domingo não ocorrem visitas médicas, estando apenas

presente um médico de urgência.

Todas as prescrições têm de ser validadas por um farmacêutico, de acordo com o FHNM, a

Adenda ao FHNM (2006), bem como as deliberações da CFT. Dentro destas, são prioritárias as que

aparecem a vermelho (prescrições urgentes), dispondo de 30 minutos para responder caso se trate

de um antídoto, as primeiras tomas de antibióticos, de medicamentos destinados ao SU que não

fazem parte do seu stock, ou faça parte da lista de medicamentos urgentes, como clemastina

2mg/2mL amp. (ampola), digoxina 0,5mg/2mL amp. entre outros.

Após a validação, a prescrição é preparada pelos TDTs, manualmente e com recurso ao

Pharmapick (figura 5), um dispositivo semiautomático de aviamento, que permite redução de erros

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e tempo das tarefas. Enquanto se preparam os carros, ocorrem alterações na medicação devido a

altas, entrada de novos doentes, transferência de serviços, entre outros, sendo necessário proceder a

ajustes na medicação enviada - diferenças.

Figura 5 – Pharmapick e carro de distribuição de medicação.

Neste sistema de distribuição de medicamentos, há reposição de stock de acordo com a sua

rotatividade, nomeadamente através do sistema HLS de dupla caixa. Quanto ao reabastecimento do

Pharmapick, este é feito com recurso ao "supermercado" no qual cada suc contém a quantidade a

repor do produto em questão.

O processo de validação permite adequar a prescrição ao doente através de um processo de

cuidados farmacêuticos, no qual se procura garantir a utilização segura e efetiva dos medicamentos.

Para tal deve-se ter em conta a necessidade e adequação do medicamento, bem com a sua posologia

e as condições do doente/medicamento, podendo ser necessário proceder-se a uma intervenção

farmacêutica. Estas são quase sempre feitas através do CdM e todos os contactos devem ser feitos

por escrito.

Atividades realizadas na distribuição em dose individual diária em

dose unitária:

Consulta do FHNM e respetiva adenda, bem como as deliberações da CFT;

Familiarização com o sistema informático e prescrição eletrónica;

Colaboração na validação de prescrições;

Conhecimento dos procedimentos a seguir na distribuição de hemoderivados, anti-

infeciosos, medicamentos não incluídos no FHNM, estupefacientes e psicotrópico

material de penso;

Familiarização com o stock geral de medicamentos e células de aviamento;

Análise de justificações de medicamentos.

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6.3 Distribuição em regime de Ambulatório

A dispensa de medicamentos a doentes em regime de ambulatório surgiu da necessidade dos

SF hospitalares vigiarem e controlarem a cedência de medicamentos autorizados para determinadas

patologias, as quais se encontram abrangidas pela legislação ou por deliberações da CFT.

Na UFA (figura 6) procede-se à dispensa gratuita de medicamentos autorizados, reduzindo

desta forma a necessidade de permanência do utente no hospital para a sua administração, o que se

traduz numa melhor gestão de recursos, com consequente diminuição dos custos e do risco de

infeções nosocomiais.

Figura 6 - Unidade de Farmácia de Ambulatório.

Esta dispensa é feita tendo em conta a data da consulta seguinte, a residência do doente e o

tipo de doença, nomeadamente:

- Para doentes com transplante renal ou hepático, a dispensa pode ser feita para um máximo

de 3 meses;

- Para os restantes doentes, a medicação pode ser dispensada para um máximo de 30 dias,

exceto quando o custo da medicação não excede os 100€ para residentes do Grande Porto ou 300€

para residentes de outros distritos.

Qualquer exceção a estas condições deve de ser autorizada pelo Conselho de Administração.

Neste setor existem alguns fármacos cuja dispensa se encontra sujeita a um maior controlo,

como é o caso da talidomida, a qual requer a apresentação de um impresso próprio, ou do

tafamidis, o qual se encontra sujeito a um controlo da data de levantamento.

Na UFA podem ainda ser fornecidos medicamentos imunomoduladores biológicos ou

anticorpos monoclonais a doentes externos à instituição, ao abrigo de despachos legais. Contudo, a

dispensa da medicação só pode ser feita caso a prescrição apresente a vinheta do médico prescritor,

o carimbo ou vinheta do local de prescrição e identificação do número de certificação na Direção

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Geral da Saúde, sendo necessário que a dispensa seja registada em base de dados própria para o

efeito.

Para além da dispensa gratuita pode também haver venda de medicamentos que estejam

esgotados, apresentando para isso o carimbo de 3 farmácias comunitárias na folha de prescrição,

sendo a venda feita ao preço de compra.

Neste setor, o farmacêutico desempenha um importante papel na altura da dispensa do

medicamento, uma vez que esclarece todas as dúvidas que o doente possa ter em relação ao

produto farmacêutico e assegura que o mesmo receba a informação relativa à conservação,

administração e posologia do medicamento.

A gestão do stock deste setor é feita com recurso ao uso de Kanbans, sendo que, quando num

dado medicamento, se atinge o respetivo Kanban despoleta a reposição do mesmo, a qual é da

responsabilidade do armazém dos produtos farmacêuticos.

Atividades realizadas na unidade de farmácia de ambulatório:

Conhecimento da legislação em vigor, identificando as patologias e os medicamentos ab

rangidos pela legislação atual e medicamentos cedidos por deliberação do conselho de a

dministração;

Organização e gestão de stocks;

Familiarização com a localização dos medicamentos;

Conhecimento das regras de prescrição, impressos e procedimentos inerentes;

Validação da prescrição médica;

Dispensa de medicação aos doentes;

Informação verbal aos doentes.

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7. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

O uso de novos fármacos acarreta, muitas vezes, alguns riscos durante a sua utilização,

tornando-se necessário a realização de ensaios clínicos e pré-clínicos como requisito essencial para

a sua aprovação pelas autoridades reguladoras [14].

Em Portugal a realização de ensaios clínicos de medicamentos para uso humano encontra-se

regulada pelo Decreto-Lei nº 46/2004, de 19 de Agosto. Este define um como: “qualquer

investigação conduzida no ser humano, destinada a descobrir ou a verificar efeitos clínicos,

farmacológicos ou os outros efeitos farmacodinâmicos de um ou mais medicamentos

experimentais, ou identificar os efeitos indesejáveis de um ou mais medicamentos experimentais,

ou a analisar a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação de um ou mais

medicamentos experimentais, a fim de apurar a respetiva segurança ou eficácia.”[9].

O Decreto-Lei nº 46/2004, de 19 de Agosto estabeleceu ainda, de forma a harmonizar os

procedimentos dos EC, a obrigatoriedade da participação dos SF no processo de investigação e

desenvolvimento, levando, assim, à criação de uma Unidade de Ensaios Clínicos (UEC) nos SF do

HGSA [9,15].

A realização de um EC pressupõe que sejam sempre garantidos, não só os direitos, a

segurança e o bem-estar dos participantes, mas também a fiabilidade dos dados. Para tal, todos os

intervenientes no ensaio devem respeitar as Boas Práticas Clínicas, sendo os principais

intervenientes o promotor, o monitor, o investigador, o farmacêutico responsável pelo

Medicamento Experimental, o auditor, as autoridades reguladoras (CEIC, INFARMED e Comissão

Nacional de Proteção de Dados), o centro de ensaio e o participante [15].

Neste sector, o FH é responsável pela gestão do circuito do ME, isto é, pela receção,

armazenamento em condições de temperatura e humidade adequadas, dispensa, registo, devolução

e gestão de stock do ME. Este integra também a equipa de investigação, participando no

planeamento e avaliação do ensaio a realizar no centro hospitalar e estando, desta forma, presente

nas visitas de pré-estudo, durante as quais se avalia se o centro reúne as condições necessárias para

a realização do estudo; nas visitas de início de centro, durante as quais se pretende formar a equipa

de investigação para o procedimento a realizar; nas visitas de monitorização, as quais decorrem

periodicamente ao longo do estudo, de forma a garantir a qualidade do EC; nas visitas de

encerramento do estudo, ficando o dossier final de estudo arquivado por um período mínimo de 5

anos (segundo a lei portuguesa) [15].

Na Unidade de Ensaios Clínicos existe um dossier de cada ensaio clínico (Dossier da

Farmácia), no qual é arquivada toda a documentação referente ao estudo, como, por exemplo,

protocolo, brochura do investigador, guias de remessa, informação referente ao ME, gestão de

stock, registos de monitorização de temperatura, entre outros documentos, sendo da

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responsabilidade do FH manter esta documentação atualizada. Este é também responsável pela

elaboração de procedimentos normalizados de trabalho (protocolos internos), os quais se baseiam

no protocolo do EC e incluem, não só os dados gerais do estudo, mas também os procedimentos da

responsabilidade do farmacêutico, permitindo uma consulta rápida sempre que seja necessário [15].

7.1 Circuito do Medicamento Experimental [15]

7.1.1 Receção da medicação do ensaio c línico

A receção inicial do ME é feita no APF, onde é preenchido um impresso de receção do

mesmo, de forma a permitir a sua rastreabilidade. Este impresso é depois encaminhado em

conjunto com o medicamento para o setor de Ensaios Clínicos.

Neste setor, a encomenda é aberta e procede-se à verificação da medicação recebida,

nomeadamente, se esta corresponde a nível qualitativo e quantitativo ao que se encontra descrito na

guia de remessa, e se a medicação não se encontra danificada. Faz-se também a confirmação dos

lotes e prazos de validades e, caso a medicação seja de frio, verifica-se ainda o controlo da

temperatura, sendo que se tiver ocorrido algum desvio de temperatura durante o transporte ou

armazenamento do ME, deve-se notificar o promotor do estudo e colocar a medicação em

quarentena, até nova indicação do promotor.

Após estes passos deve-se armazenar o ME, em separado da restante medicação, numa sala

de acesso restrito, que possui condições controladas de temperatura e humidade, das quais se faz

um controlo periódico. Este armazenamento deve de ser feito de acordo com as especificações do

mesmo, nomeadamente, entre 2º - 8ºC para medicação de frio, ou entre 15º - 25ºC para os restantes.

Posteriormente, realiza-se a confirmação da receção do produto através de um dos sistemas

pré-estabelecidos pelo protocolo, normalmente Interactive Voice Response System (IVRS) ou

Interactive Web Response System (IWRS), os quais são uma ferramenta útil não só para o FH da

UEC, mas também para toda a equipa incluída no EC. Para além de gerirem os dados dos doentes

presentes no estudo, estes sistemas facilitam a gestão de stock do ME, uma vez que permitem

desencadear a encomenda do fármaco, servem como plataforma para acusar a receção da

medicação e permitem notificar em caso de perda ou dano do material.

Por fim, todos os documentos relativos à receção do ME, como é o caso da guia de remessa,

dos certificados de análise e da folha de confirmação da receção da medicação, bem como os

registos de temperatura, devem ser arquivados no dossier do respetivo ensaio clinico e deve-se

também proceder à atualização o registo de inventário do ME no impresso indicado para o efeito.

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7.1.2 Dispensa do medicamento experimental

A prescrição do ME é feita pelo médico num impresso próprio (figura 7), sendo este

dispensado, após validação da prescrição e seleção do kit correspondente, pelo farmacêutico da

UEC.

Figura 7 - Impresso para a prescrição de medicamentos para ensaio clínico.

Este deve registar no impresso de prescrição a medicação dispensada, a quantidade, o lote, o

prazo de validade e a data da dispensa. Deve registar também a identificação do doente e a data da

dispensa na embalagem da medicação.

De acordo com o protocolo de cada ensaio clínico, deve ser feito o registo manual ou

informático das dispensas realizadas, o qual pode ser feito de duas formas, nomeadamente, através

de um registo cronológico da dispensa do medicamento e/ou de um registo cumulativo da dispensa

individualizada por doente, consoante os requisitos e formulários fornecidos pelo promotor.

7.1.3 Devoluções

O doente é informado da necessidade de devolver as embalagens vazias e as não utilizadas,

as quais, em conjunto com as caducadas e/ou sobrantes são contabilizadas, fazendo-se o registo e

devolvendo-se posteriormente ao promotor do ensaio.

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Atividades realizadas nos Ensaios Clínicos:

Leitura de documentação relativa à realização de um ensaio clínico – Dossier da

Farmácia;

Elaboração de protocolos internos;

Gestão das amostras em estudo: receção, armazenamento, dispensa, registo, devoluções

de medicação, controlo de inventário e arquivo de informações.

Participação em visitas de pré-estudo, de iniciação, de monitorização e de encerramento.

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8. CONCLUSÃO

No final do nosso período de estágio, e fazendo um balanço da nossa experiência, tivemos a

oportunidade de verificar que este contribuiu em muito para a nossa formação académica,

colmatando algumas falhas de formação na área da Farmácia Hospitalar e permitindo-nos contactar

com uma das possíveis saídas profissionais do curso.

Este estágio possibilitou-nos também um primeiro contacto com o ambiente hospitalar,

dando-nos uma noção do que significa ser farmacêutico hospitalar. Com o decorrer do estágio

conseguimo-nos inteirar sobre a orgânica e o funcionamento da Farmácia Hospitalar, bem como da

sua relação com os restantes serviços presentes no hospital.

Deparámo-nos com um grande número de medicamentos e outros produtos farmacêuticos

que nunca tinham sido abordados até ao momento, demonstrando a importância da formação

contínua para a profissão farmacêutica.

Apesar do curto período de tempo em que decorreu o estágio, foi-nos possível, com a

integração nos diferentes setores, conhecer o circuito do medicamento dentro do hospital, desde a

sua encomenda até à sua dispensa/administração ao doente. Verificamos, também que a

importância das intervenções farmacêuticas se reflete, não só ao nível da farmacoterapia, mas

também na avaliação de risco/benefício e na farmacovigilância, contribuindo para a melhoria da

prestação de cuidados de saúde. Tivemos ainda a oportunidade de colocar em prática os

conhecimentos teóricos das unidades curriculares, o que nos permitindo consolidar o conhecimento

académico adquirido ao longo do curso.

Este estágio despertou-nos para a realidade profissional e a importância do papel do

farmacêutico como profissional de saúde, contribuindo, não só para a aquisição de alguma

experiência profissional, mas também para o desenvolvimento de aptidões sociais, reforçando a

nossa formação até ao momento.

Esta foi uma experiência gratificante e um ponto de partida para nos tornarmos profissionais

de excelência, contribuindo para uma melhor prestação de cuidados de saúde no futuro.

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9. BIBLIOGRAFIA

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http://www.ordemfarmaceuticos.pt/scid//ofWebInst_09/defaultCategoryViewOne.asp?ca

tegoryId=1910 [acedido em 28 de Fevereiro de 2014]

2. Conselho Executivo da Farmácia Hospitalar (2005). “Manual de Farmácia

Hospitalar”. Ministério da Saúde, pág. 1-70

3. Decreto-Lei n.º 44 204, de 2 de Fevereiro de 1962

4. Crujeira, R.; Furtado, C.; Feio, J.; Falcão, F.; Carina, P.; Machado, F.; Ferreira, A.;

Figueiredo, A. e Lopes, J. M. (2007). “Programa do Medicamento Hospitalar”.

Ministério da Saúde, pp. 1 – 39

5. Centro hospitalar do Porto: Missão, acessível em: http://www.chporto.pt/. [acedido em

27 de Fevereiro de 2014]

6. Almeida, Teresa (2013). ‘’Manual de qualidade’’. Serviços Farmacêuticos do Centro

Hospitalar do Porto

7. Despacho n.º 1083/2004, de 1 de Dezembro de 2003, Diário da República, 2.ª série, n.º

14, 17 de Janeiro de 2004

8. INFARMED: Formulário Hospitalar Nacional dos Medicamentos. 9ª edição [versão

eletrónica], acessível em http://www.infarmed.pt/formulario/ [acedido em 26 de

Fevereiro de 2014]

9. Decreto-Lei n.º 46/2004, de 19 de Agosto, Diário da República, 1ª série A, n.º 195 – 19

de Agosto de 2004.

10. Despacho da Direção-Geral da Saúde, Diário da República n.º246, de 23 de Outubro de

1996

11. Decreto-Lei nº 97/05, de 10 de Maio, Diário da República, 1ª série A, n.º 108, 10 de

Maio de 1995

12. Centro Hospitalar do Porto: Logística, acessível em

http://www.chporto.pt/ver.php?cod=0G0H [acedido a 27 de Fevereiro de 2014]

13. Despacho Conjunto dos Gabinetes dos Secretários de Estado Adjunto do Ministro da

Saúde e da Saúde, de 30 de Dezembro de 1991, publicado no Diário da República n.º 23,

2ª série de 28 de Janeiro de 1992

14. Coordenação Nacional para a Infeção VIH/sida (2008). “Boas Práticas de Farmácia

Hospitalar no âmbito da Infeção VIH/sida”, pág. 224-235

15. Almeida, Teresa (2010). ‘’Implementação e atividade de uma Unidade de Ensaios

Clínicos nos Serviços Farmacêuticos de um hospital central universitário’. Serviços

Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto, pp. 1-35

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