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entenário das A parições de F átima Fátima é o trono real de Maria ao qual acorrem, de todo o mundo, multidões em oração. E é deste trono que a “Rainha de Portugal” estende a toda a nação o seu patrocínio celeste. C P equena história Pouco há em Fátima que atraia a atenção do turista. É uma humilde aldeia a oeste de Portugal situada numa região que não se distingue pela beleza da sua paisagem. A terra que a rodeia é pobre, a vida dura e os habitantes tão simples como os que se podem encontrar em qualquer outra parte do mundo. Todavia durante meio século, peregrinos, contados por milhões, têm percorrido as estradas de áspero macadame que, em curvas sinuosas, levam até este pequeno lugar que não parece ser o término de uma viagem, mas antes um sítio para ser ultrapassado sem se dar por isso, de caminho para qualquer outro lado. A importância de Fátima é estritamente religiosa. Os que lá vão não o fazem para olhar mas para rezar, atraídos por uma misteriosa presença somente visível pela fé. A aldeia, umas sessenta milhas ao norte da encantadora cidade de Lisboa, tirou o seu nome de uma lenda e a sua fama de uma aparição. O seu nome é o de uma donzela muçulmana dos tempos passados que, segundo dizem, um valente cavaleiro cristão tomou como esposa. Mas a sua fama reside na crença de que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor, apareceu ali com uma mensagem. Fátima é hoje conhecida e venerada no mundo inteiro e lugar de encontro de todas as raças, cores e nações. Foi Maria quem a escolheu e a tornou conhecida no mundo inteiro. Dali dirigiu à Humanidade uma mensagem, por meio de três crianças a quem ela apareceu. A escolha não podia ter sido mais acertada: «O nome Cova da Iria é um termo que deriva do vocábulo grego eirene, que significa paz. Pode-se assim, de certa forma, asseverar que Nossa Senhora apareceu, durante a Primeira Guerra Mundial, na Cova da Paz». Isto reveste-se de tanto significado se tiver em conta que a primeira aparição se deu exatamente oito dias antes de o papa Bento XV ordenar que se acresentasse à ladainha lauretana a invocação Regina Pacis, ora pro nobis. 1 1 DEM, Ibidem. Sobre o mandato de Bento XV a que se alude no texto (cf. AAAS9 (1917), p.266). Fátima Especial

Fátima Especial - cidadedoimaculado.com · No mês de maio e no das Almas, como na Quaresma, recitava o terço com a família todos os dias, à lareira ... Isto não quer dizer que

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entenário das Aparições de Fátima

Fátima é o trono real de Maria ao qual acorrem, de todo o mundo,multidões em oração. E é deste trono que a “Rainha de Portugal” estende a toda a nação o seu patrocínio celeste.

C

Pequena história

Pouco há em Fátima que atraia a atenção do turista. É uma humilde aldeia a oeste de Portugal situada numa região que não se distingue pela beleza da sua paisagem. A terra que a rodeia é pobre, a vida dura e os habitantes tão simples como os que se podem encontrar em qualquer outra parte do mundo. Todavia durante meio século, peregrinos, contados por milhões, têm percorrido as estradas de áspero macadame que, em curvas sinuosas, levam até este pequeno lugar que não parece ser o término de uma viagem, mas antes um sítio para ser ultrapassado sem se dar por isso, de caminho para qualquer outro lado. A importância de Fátima é estritamente religiosa. Os que lá vão não o fazem para olhar mas para rezar, atraídos por uma misteriosa presença somente visível pela fé.

A aldeia, umas sessenta milhas ao norte da encantadora cidade de Lisboa, tirou o seu nome de uma lenda e a sua fama de uma aparição. O seu nome é o de uma donzela muçulmana dos tempos passados que, segundo dizem, um valente cavaleiro cristão tomou como esposa. Mas a sua fama reside na crença de que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor, apareceu ali com uma mensagem.

Fátima é hoje conhecida e venerada no mundo inteiro e lugar de encontro de todas as raças, cores e nações. Foi Maria quem a escolheu e a tornou conhecida no mundo inteiro. Dali dirigiu à Humanidade uma mensagem, por meio de três crianças a quem ela apareceu.

A escolha não podia ter sido mais acertada: «O nome Cova da Iria é um termo que deriva do vocábulo grego eirene, que significa paz. Pode-se assim, de certa forma, asseverar que Nossa Senhora apareceu, durante a Primeira Guerra Mundial, na Cova da Paz». Isto reveste-se de tanto significado se tiver em conta que a primeira aparição se deu exatamente oito dias antes de o papa Bento XV ordenar que se acresentasse à ladainha lauretana a invocação Regina Pacis, ora pro nobis.1

1 DEM, Ibidem. Sobre o mandato de Bento XV a que se alude no texto (cf. AAAS9 (1917), p.266).

Fátima Especial

A CIDADE maio de 2017 página 2

Os Protagonistas do Milagre

Na serra escalvada e pedregosa encontram-se, aqui e além, uns bocadinhos verdejantes onde as casas pequeninas e humildes, se aconchegam.

Assim era há meio século o lugarejo de Aljustrel, bem mais rústico do que hoje.

Ora numa destas casitas vivia o Sr. António dos Santos, por alcunha o «Abóbora», com sua mulher, a Sra. Maria Rosa, e um rancho de filhos, dos quais a mais nova, Lúcia, de nove anos.

A Lúcia não era de feições delicadas. O único atrativo do seu rosto moreno e arredondado, um tudo nada carrancudo, provinha de dois grandes olhos pretos que brilhavam sob essas sobrancelhas. O cabelo forte, negro, dividido a meio sobre a testa curta, saía um pouco do lenço que caía nos ombros. O nariz um pouco achatado e os lábios grossos, a boca larga: qualquer fisionomista ter-lhe-ia atribuído certamente um caráter grosseiro, se não perverso.

Mas a Lúcia não era nada disso. Pelo contrário, possuía um génio excelente, uma disposição de ânimo particularmente feliz.

Era muito amiguinha de crianças e todas morriam por ela. Às vezes juntavam-se no pátio da casa oito, dez, doze, e ela, contente, enfeitava as mais pequenitas com flores, com heras; fazia procissões com santinhos, prantava andores, tronos e, como se estivesse na igreja, cantava versos a Nossa Senhora.

Nos jogos ninguém a apanhava. Era às escondidas, ao regougou. Umas por baixo das figueiras, outra por detrás das silvas, outras metiam-se debaixo das camas, em toda a banda onde pudesse haver um esconderijo.

Jogavam ao botão, às pedrinhas, às prendas... e quando tudo estava enfadado de jogar, sentavam-se debaixo das figueiras, e a Lúcia, no meio da roda, começava a contar histórias que nunca mais tinham fim. Umas que ouvia contar, e outras que, se calhar, ela inventava.

Como todas as moçoilas da serra, a Lúcia gostava de se adornar nas ocasiões das festas, com cordões de oiro, com grandes arrecadas que caíam até aos ombros, e um gracioso chapelinho guarnecido de contas doiradas e penas de várias cores.

«Nos arredores – confessa ela – não havia outra rapariga tão enfeitada e as minhas irmãs e a madrinha Teresa pavoneavam-se de me ver tão bonita. As outras pequenas rodeavam-me em numerosos grupos, admirando a beleza de tantos atavios: eu impava destas atenções. Na verdade, a vaidade era o meu pior ornamento. Todos mostravam simpatia e estima por mim, exceptuada uma orfãzita que a madrinha Teresa tinha tomado consigo à morte da mãe. Parecia temer que eu roubasse parte da herança que ela esperava, e de certo não se teria enganado, se Nosso Senhor não me tivesse destinado herança bem mais preciosa».

No mês de maio e no das Almas, como na Quaresma, recitava o terço com a família todos os dias, à lareira ou na sala. E quando saía com o gado levava sempre no bolso as contas que rezava antes de merendar. E nunca se esquecia também de dizer uns Pai-Nosso a Santo António para não perder o gado.

A Lúcia

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Carinha redonda, bochechuda, um tanto morena, boca pequena, lábios breves, mento polpudo. Na cor dos olhos, saía mais para a mãe.

Tal qual os outros rapazitos - o Francisco apreciava muito a brincadeira, mas com a diferença de que brincava indistintamente com qualquer e não questionava com nenhum.

Quando, porém, via ou ouvia alguma coisa que não lhe agradava, retirava-se do jogo. Se lhe perguntavam porque se ia embora, respondia: - Porque vocês não são bons - ou então, simplesmente: - Porque não quero brincar mais.

Também aos outros - apesar de o Francisco ser tão bonzinho - lhes não agradava às vezes jogar com ele. É que lhes aborrecia o facto de o Francisco sempre perder pelo pouco empenho que tinha em ganhar. Quando, pelo contrário, ele ganhava e outro teimava em lhe negar os direitos, dizia sossegadamente: - Julgas que fostes tu que ganhastes? Pois seja! A mim pouco se me dá!

Se algum se aproveitava da sua mansidão para lhe tirar alguma coisa, dizia: - Deixá-lo lá ; pouco me ralo.

Todos os anos a madrinha Teresa ia à praia e voltando trazia sempre prendas para os afilhados que, mal ela chegava, se apressavam interesseiramente a visitá-la.

Em certa ocasião, a prenda para o Francisco foi um lencinho com a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, que ele todo satisfeito foi mostrar aos companheiros.

Ora, o lencinho, a certa altura, desapareceu. E quando lhe disseram que estava em poder de outro pequeno que teimava que era dele, não fez força para o readquirir:

- Que fique com ele, a mim pouco me importa o lenço. - disse com indiferença.

Isto não quer dizer que o Francisco fosse um rapaz sem energia, fraco de vontade. Pelo contario.

Ia de noite sozinho a qualquer sítio escuro sem mostrar receio. Brincava com os lagartos e as cobras que encontrava no caminho: fazia-as enrolar em volta do seu pauzito e dava-lhes a beber nos buracos das pedras o leite das ovelhas. Andava à cata das lebres, das raposas e das toupeiras. Corria atrás das sardaniscas e trazia-as para casa.

Era tão mexido que parecia um bezerro - dizia o Sr. Manuel Marto, pai do Francisco e da Jacinta.

Possuía um carácter cristalino que não sabia fingir. - Vai hoje para o Oiteirinho da madrinha Teresa que não está em casa, foi à Aldeia - disse-lhe um dia a mãe,

enquanto ele com a Jacinta saíam com o gado para a pastagem.

E logo a responder: Ah, isso e que não faço!- Então é a minha mãe que me está a ensinar a

roubar? - protestou o pequeno. A sua alma expandia-se perante as belezas que a

mão do Criador espalhou pela serra. Não acabava de admirar o céu imenso e as estrelas: as lâmpadas que Nossa Senhora e os Anjos acendiam para afugentar as trevas da noite.

Maravilhava-o o Sol que via surgir além da colina de Nossa Senhora da Ortiga e ficava tempos infinitos na sua contemplação, à tarde, quando o astro-rei parecia morrer num fantástico mar de sangue por detrás do cabeço.

Amava a música e com o pífaro de cana passava horas e horas sentado numa pedra, a maior parte do tempo acompanhado da Jacinta e da Lúcia, que cantavam e dançavam.

Gostava de imitar o gorjeio das avezinhas; nem podia suportar que as tirassem dos ninhos.

Certo dia viu um seu companheiro com um passarinho na mão.

-Solta-o!-pediu-lhe, compadecido e triste, o pequenito.

E como o outro se recusasse, Francisco deu-lhe um vintém para o convencer. Deixou então voar o passarito, dizendo-lhe:

-Toma cuidado! Não te deixes apanhar outra vez!

O Francisco

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À semelhança do seu irmãozito Francisco, a Jacinta tinha um rostozinho bonito: olhos límpidos, vivos, boca pequena, figura airosa.

Um casaquinho claro, uma saia de chita escura, uns sapatos grosseiros com cardas, para resistirem às pedras da serra, eis o seu trajar.

Tal como a Lúcia, a Jacinta era a mais novinha dos irmãos - dos nove filhos da Sr. Olímpia Marto. Nascera a onze de Março de 1910.

Possuía uma alma extraordináriamente sensível. Ainda de cinco anos, mais ou menos, ao ouvir narrar os sofrimentos de Nosso Divino Redentor, enternecia-se e chorava. - Coitadinho de Nosso Senhor! - repetia - eu não hei de fazer nunca nenhum pecado, não quero que Jesus sofra mais! - Vocês não devem dizer palavras feias, porque são pecados e fazem sofrer o Menino Jesus - dizia a Sra. Olímpia aos seus filhinhos.

A Jacinta então, cuidadosamente, não só não pronunciava nenhuma dessas palavras, mas fugia até de todas aquelas crianças que não se envergonhavam de as dizer.

Uma grande amizade a unia a sua prima Lúcia. Só lhe sabia bem brincar com ela e o dia que passasse longe da prima era dia de tristeza, um dia perdido. Jacinta queria-a toda e exclusivamente para si, de maneira que quando

a Lúcia, encarregada da vigilância dos pequenos que as mães entregavam às suas irmãs, não podia retirar-se com ela e com Francisco para junto do poço a brincar sozinhos, a Jacinta só com pesar se resignava a tomar parte nas brincadeiras.

«Desde um dia – conta a Lúcia – em que fora com a mãe a uma festa de comunhão solene e os seus olhitos se tinham fixado nos anjinhos que deitavam flores a Jesus, de vez em quando afastava-se de nós, quando brincávamos, colhia uma arregaçada de flores e vinha atirar-me com elas.

- Jacinta, por que fazes isto? – perguntava-lhe.- Faço como os anjinhos, deito-te flores».Uma qualidade que a caraterizava, era o amor à verdade. Diz o Sr. Marto «quando a mãe a enganava, dizendo,

por exemplo, que ia às couves e ia para longe, a Jacinta não deixava de lhe dar a sua piadazita: então a mãe mentiu-me? Disse que ia aqui e foi para acolá?... Isso de mentir é feio!

Como o seu irmão Francisco e talvez mais do que ele, a Jacinta possuía uma alma requintada,cheia de finíssimos sentimentos.

Amava as ovelhas e designava cada uma delas pelo seu nome. Havia a pomba, a estrela, a mansa, a branquinha – os nomes mais lindos do seu vocabulário. Os cordeiritos brancos eram o seu enlevo.

«Sentava-se com eles ao colo – diz a Lúcia – abraçava-os, beijava-os e, à noite, trazia-os ao colo para casa, para que não se cansassem e para fazer como o Bom Pastor que ela tinha visto numa pequena estampa que lhe tinha sido oferecida»

Amava as flores. À beira da sua casa havia apenas uma grande margaceira, cujas flores brancas muito apreciava, mas na serra que fartura, que riqueza, especialmente na Primavera! Colhia-as, enfeitava-se com elas e tecia grinaldas para enfeitar a prima. Era um alvoroço quando descobria as primeiras rosas albardeiras. A flor aberta apresenta uma espécie de crista e ela então, alvissareira, corria a clamar:

Adivinha, adivinha, Quantos galos tem a minha galinha!

A Jacinta

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Oessencial da Mensagem de Fátima

O essencial da Mensagem de Fátima, proclamada nas seis aparições de Nossa Senhora em 1917, preparada pelas aparições do anjo em 1916 e continuada pelas revelações pessoais a Lúcia, pode resumir-se no apelo à conversão e à adoração. A oração pela conversão dos pecadores e os sacrifícios pela salvação do mundo é o pedido que, continuamente, é feito às três crianças e, através delas, a toda a Igreja. Desde o início das aparições, os três pastorinhos de Fátima entenderam ser esta a vocação que lhes é destinada por Deus através do Anjo e de Nossa Senhora. "Orai, orai muito. Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios", recomenda o Anjo no verão de 1916 (Memórias de Lúcia, pág.156).

Apresentado numa linguagem própria para a cultura religiosa da época e de acordo com a capacidade de compreensão das três crianças, este apelo contém o núcleo do Evangelho e o passo fundamental para a renovação da vida cristã de cada um dos fiéis e da Igreja na sua globalidade.

As três crianças, apesar da tenra idade, manifestam uma convicção profunda de que Nossa Senhora lhes confia uma tarefa capital para a salvação de todos os homens. Sentem-se diretamente chamadas a colaborar na missão da Igreja, unindo o sacrifício das suas vidas ao sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Só através da conversão se pode entrar no caminho da salvação. Por isso, respondem de forma heroica ao pedido do anjo e de Nossa Senhora para fazerem oração e penitência pelos pecadores, que somos todos nós, e no número dos quais também eles se incluem. Como nos refere a Lúcia nas suas memórias, a Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores que não deixava escapar ocasião alguma. Do mesmo modo, o Francisco se recolhia frequentemente em oração e meditação em lugar isolado ou na Igreja junto do sacrário, onde estava Jesus escondido (Memórias, pág. 31; 140/141).

A conversão começa por ser experimentada pelos próprios pastorinhos. Deus, a Sua presença, a Sua vontade, a consolação que poderiam dar-Lhe, a visita de Nossa Senhora, tornaram-se tão importantes, despertaram neles tanto gozo interior e atração, que tudo o resto se tornou secundário. A Lúcia procura traduzir esta alegria interior, comparando a visita do Anjo com as de Nossa Senhora, nas seguintes palavras: "A paz e a felicidade que sentíamos (na presença de Deus através da aparição

do anjo), era grande mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico que nos prostrava era também grande. Não sei porquê, as aparições de Nossa Senhora produziam em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma paz e felicidade, mas, em vez desse abatimento físico, uma certa agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina presença, um exultar de alegria" (Memórias, pág. 160, 126).

Este encontro com o sobrenatural transformou a vida das três crianças. Perderam o gosto pelos atrativos do mundo, como confessa a Lúcia. O amor imenso de Deus relativizou os outros amores e levou-os a uma concentração total no serviço a Deus e ao próximo. A coragem e a fortaleza de ânimo que demonstraram daí em diante, face às enormes provações que tiveram de suportar, dão provas desta conversão total a Deus que só uma intervenção celeste poderia provocar.

A Jacinta

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N úcleo da mensagem de Fátima idêntico ao do Evangelho

"Convertei-vos (ou fazei penitência) e acreditai no Evangelho" é a expressão em que S. Marcos condensa a mensagem de Jesus (Mc.1,15). A conversão é o primeiro passo no itinerário da fé e o grande objectivo a atingir com a pregação do Evangelho. Sendo assim, devemos concluir que o núcleo da mensagem de Fátima é idêntico ao núcleo do Evangelho. Nossa Senhora veio exortar os pastorinhos, e através deles a Igreja, a reconhecer a prioridade absoluta de Jesus Cristo como único Salvador, o mesmo ontem hoje e sempre, e a reorientar todas as realidades em volta deste centro da fé. Esse é o sentido profundo da conversão.

Na sua primeira visita a Fátima, em 13 de Maio de 1982, o Papa João Paulo II lembrou este acordo profundo da mensagem de Fátima com o Evangelho

quanto ao essencial da fé. Na homilia afirmou: "Se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima é sobretudo porque esta mensagem contém uma realidade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho. "Convertei-vos (fazei penitência) e acreditai no Evangelho (Mc. 1,15), são estas as primeiras palavras do Messias dirigidas à humanidade. E a mensagem de Fátima no seu núcleo fundamental é o chamamento à conversão e à penitência como no Evangelho. Este chamamento foi feito no início do século vinte e, portanto, dirigido de modo particular a este mesmo século. A Senhora da mensagem parecia ler com uma perspicácia especial os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo" (Discursos do Papa João Paulo II em Portugal, CEP 1982, pág.70).

entido da penitência ou conversão SA palavra conversão, que o Novo Testamento, na versão grega, chama "metanóia" e em latim se traduz por

penitência, significa uma mudança profunda interior que se manifesta também nas atitudes e comportamentos. Esta transformação é provocada pela descoberta do amor de Deus em Jesus Cristo e através do Espírito e pelo acolhimento da Salvação que nos oferece. Tudo o resto se orienta a partir desta descoberta. Assim compreendemos que o Novo Testamento, ao narrar a presença de Deus no meio de nós, através de Jesus Cristo, que vem instaurar o Reino de Deus, exorte constantemente à penitência, como atitude necessária para reconhecer e acolher a prioridade do Reino: "Convertei-vos. O Reino de Deus está próximo" (proclama João Baptista em ordem a preparar os caminhos do Senhor, Mt.3,2). A fé em Jesus Cristo, a adesão ao Seu projeto de vida, provocam uma nova maneira de ver e de pensar (segundo os critérios do evangelho e não segundo os critérios humanos) e esta mudança de perspectiva conduz a uma orientação diferente da existência e a uma mudança de comportamento. É uma nova vida que tem início e exige naturalmente uma ruptura com a vida anterior.

Concluímos, deste modo, que a conversão ou penitência não se reduz aos sacrifícios exteriores mas consiste fundamentalmente numa transformação interior da mente e do coração. Embora se manifeste ou seja incentivada pelo comportamento exterior. Apresenta-se, portanto, como um itinerário com vários elementos. Podemos verificar estes vários elementos na conversão dos primeiros crentes que entraram na Igreja por meio da pregação de Pedro no Pentecostes (cf. Act.2, 14-36).

a) No início do processo vem a proclamação de Jesus Cristo como Senhor, como realização do desígnio de salvação de Deus (Act. 2,14-47)

b) Ao ouvir a pregação, ficaram comovidos e com o desejo de aderir: "com o coração trespassado disseram a Pedro e aos Apóstolos: Irmãos que havemos de fazer?" (Act. 2,37). É o início da fé e da conversão;

do egoísmo, da vaidade. Por outro lado, a conversão apresenta-se também como uma mudança sobretudo interior da mente e do coração - que naturalmente se reflecte nas atitudes e no comportamento. É uma nova orientação de vida que se traduz e é preparada e apoiada por gestos exteriores de conversão (tradicionalmente chamados sacrifícios) que ajudam a cultivar o desprendimento de si mesmo e dos vícios pessoais em ordem a superar as resistências e alcançar uma configuração mais plena com Jesus Cristo.

Concluímos ainda que a conversão é um processo jamais concluído, pois tem em vista a estatura de Cristo em plenitude. Mas tem uma fase inicial que é decisiva: a primeira descoberta da salvação de Deus em Jesus Cristo que provoca o desejo de mudança ou de uma nova orientação da vida em ruptura com a situação anterior. É a primeira conversão e o início da fé. Normalmente a conversão inicial é despertada pela proclamação do Kerigma o essencial da fé - ou pelo testemunho dos crentes ou ainda pela intervenção directa de Deus, como no caso de S. Paulo.

A conversão inicial é continuada e aprofundada pela conversão permanente em que se alcança uma compreensão mais detalhada do caminho cristão em confronto com as realidades quotidianas, de modo a tomar consciência das resistências e dificuldades e poder assim, aderir de forma mais consciente a Deus e renunciar mais radicalmente ao pecado.

Da Conferência de D. Manuel Pelino Domingos Congresso Internacional da Fenomenologia Fátima 1998.

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c) Depois então celebram o Baptismo como sinal de conversão a Jesus Cristo e união sacramental com o mistério pascal “arrependei-vos e cada um de vós se faça baptizar em nome do Senhor Jesus para a remissão dos pecados” (v.38)

d) O reconhecimento de Jesus como Senhor, selado no Baptismo, conduz a uma nova existência em ruptura com a situação anterior “salvai-vos desta geração perdida, encoraja o Apóstolo Pedro” (v.40);

e) Como conclusão da nova existência em Jesus Cristo, vem a agregação à comunidade dos discípulos em que o processo de conversão se aprofunda em ordem à plena configuração com o mistério pascal, à plena estatura de Cristo. Neste sentido, mostravam-se assíduos ao ensino dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações (v.42).

Este processo de conversão é narrado em muitos outros textos do Novo Testamento e designado com algumas expressões que manifestam uma mudança profunda: "passar da morte à vida"; "abandonar os ídolos e voltar para o Deus vivo"; "passar das trevas à luz"; "morrer com Cristo e ressuscitar com Ele para uma vida nova", etc.

Nas várias referências do Novo Testamento à conversão podemos alcançar as seguintes conclusões: A Igreja de Jesus Cristo é uma Igreja não apenas de baptizados mas de convertidos e baptizados, ou seja, formada por discípulos que se convertem ao evangelho de Jesus e, configurados com o mistério pascal de Cristo pelos sacramentos, rompem com a anterior situação de pecado para aderir à vida nova no Senhor. A conversão ou penitência tem um significado predominantemente positivo: é a adesão ao caminho do Senhor, caminho de vida, de luz, de paz, de alegria; para seguir o caminho do Senhor é indispensável abandonar o caminho das trevas,

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É um livro pequeno, de linguagem simples para ser compreendido por todos. Não tem como fundamento a imaginação ou a sabedoria humana. Procurar conhecer, tanto quanto possível em toda a sua extensão, as várias mensagens e avisos maternais de Nossa Senhora em la Salette, em Lurdes, em Fátima em Akita, no Japão. Todas elas têm o selo da aprovação da Igreja.São a voz da Mãe clementíssima a chamar-nos à pratica da fé e à emenda de nossos pecados e defeitos.Não é o anúncio de calamidades e terror, mas é a voz do Coração de boa Mãe que a todos quer em paz e em boa preparação para a vida da glória eterna.Nossa Senhora está a pedir almas generosas para aceitarem a cruz do sacrifício e que, com o coração em chamas de oração reparadora e suplicante, implorem, em comunhão com Ela, o perdão e a misericórdia de Deus para os pecadores.

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