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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DISCIPLINA: INT5162 ESTÁGIO SUPERVISIONADO II FRANCINE TEREZINHA DE SOUZA MAYARA COSTA GARCIA PÂMELLA PRISCILLA DA SILVA RANGEL FATORES DE RISCO À SEGURANÇA DO PACIENTE PEDIÁTRICO: A PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FLORIANÓPOLIS 2012

Fatores de risco à segurança do paciente pediátrico: a percepção

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

CURSO DE GRADUAO EM ENFERMAGEM

DISCIPLINA: INT5162 ESTGIO SUPERVISIONADO II

FRANCINE TEREZINHA DE SOUZA

MAYARA COSTA GARCIA

PMELLA PRISCILLA DA SILVA RANGEL

FATORES DE RISCO SEGURANA DO PACIENTE PEDITRICO:

A PERCEPO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

FLORIANPOLIS

2012

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FRANCINE TEREZINHA DE SOUZA

MAYARA COSTA GARCIA

PMELLA PRISCILLA DA SILVA RANGEL

FATORES DE RISCO SEGURANA DO PACIENTE PEDITRICO:

A PERCEPO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

Trabalho de concluso de curso, referente

disciplina: Estgio Supervisionado II (INT5162)

do Curso de Graduao em Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientador(a): Dra. Patrcia Kuerten Rocha.

FLORIANPOLIS

2012

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A todos os profissionais que se dedicam diariamente sade das

crianas e todas as famlias que, em algum momento da vida,

j precisaram da assistncia da Enfermagem.

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Agradecimentos

Da Fran

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, meu maior porto seguro, pelo dom da vida e amor infinito. Com a ajuda dele, tive foras para ultrapassar barreiras, seguir em frente e alcanar meus objetivos.

Aos meus pais, Terezinha e Osni, meus maiores exemplos de vida, ambos responsveis pela determinao e luta em minha formao acadmica, por cada sucesso obtido, cada degrau avanado. Obrigada pela pacincia nos momentos em que estive ausente, me dedicando ao futuro prximo. Aos meus irmos Fabrcio e Fernando pelo carinho.

Ao meu namorado Rodrigo, por todo amor, incentivo e compreenso que tem me dedicado.

Da May

Agradeo aos meus pais, Ralf e Luciane, e aos meus avs, Alcio e Judith, por terem acreditado em mim, me apoiado e me ajudado em tudo que precisei e em todos os momentos da minha vida.

Ao Rafael, com quem h 6 anos compartilho bons e maus momentos, e que me ensinou lies maravilhosas ao longo desse tempo... Por todos os conselhos, todo carinho, cumplicidade e compreenso, especialmente nos momentos em que estive ausente.

Ao meu filho Ian, por ter sempre me enxido de amor e alegria e renovado minhas foras para que eu no desistisse.

Aos avs e aos tios paternos do Ian, por todos os momentos de cuidado e ateno dedicados ao Ian enquanto estive em funo dos estudos.

A todos os meus amigos, que em muitos momentos aturaram minhas lamentaes, reclamaes e minha ausncia, mas sempre estiveram por perto, me fazendo rir e me incentivando.

Da Pam

Primeiramente a Deus por me dar a chance de seguir o que escolhi e confiar a mim o cuidado do ser humano.

minha famlia que sempre esteve presente nos momentos mais difceis e felizes dessa caminhada; Principalmente a minha me Nina que sempre me ensinou o ser enfermeira que no pode ser

encontrado nos livros, apenas no corao; E junto dela, os meus irmos Nizinho, Micheline, Francisco e Scheila, que foram tambm meus pais, sempre me apoiando e fazendo de tudo para que eu pudesse seguir meu sonho;

Aos que encontrei durante o caminho, mas no menos importante; Seu Rubens, meu pai Joo, minha nova famlia, e meu namorado Rafael por todo carinho, companheirismo, e compreenso nos momentos de ausncia e de tenso.

A todos que de alguma forma participaram e ajudaram na minha formao.

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Do Trio

Agradecemos nossa professora orientadora Dra. Patrcia Kuerten Rocha, por toda a dedicao e

exigncia com o nosso aprendizado e por todo o impossvel que fez para conseguir estar sempre presente e nos

orientar nessa jornada.

Professora Flvia, por todo o trabalho e preocupao que despende oitava fase em nome da

nossa formao.

Equipe de Enfermagem e aos demais profissionais da UIP, por terem nos recebido to bem e nos

tratado com tanto amor e respeito. Obrigada pela confiana, pelas risadas e por todos os preciosos

ensinamentos.

Aos pais e crianas que passaram pela Unidade de Internao, que choraram, riram e brincaram

conosco... Pela confiana depositada e pelo carinho ao se referirem ao nosso trabalho.

A todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para que este trabalho fosse concludo

com sucesso.

Muito obrigada!

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Fonte: http://espacoeducar-liza.blogspot.com.br/2009/10/300-passatempos-turma-da-monica.html

"Ser criana acreditar que tudo possvel.

ser inesquecivelmente feliz com muito pouco.

se tornar gigante diante de gigantescos pequenos obstculos.

Ser criana fazer amigos antes mesmo de saber o nome deles.

conseguir perdoar muito mais fcil do que brigar.

Ser criana ter o dia mais feliz da vida, todos os dias.

Ser criana o que a gente nunca deveria deixar de ser."

[Gilberto dos Reis]

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RESUMO

Estudo de natureza qualitativa, exploratrio-descritiva, que teve como objetivo conhecer a

percepo da Equipe de Enfermagem sobre os fatores de risco que podem interferir na

segurana do paciente peditrico durante sua hospitalizao em uma unidade de internao

peditrica e os mtodos de barreiras para minimizar. A pesquisa foi desenvolvida em um

Hospital Universitrio da regio Sul do Brasil, tendo como participantes a equipe de

enfermagem. Os critrios de incluso dos participantes no estudo foram atuar na equipe de

enfermagem da unidade de internao h no mnimo um ano, estar trabalhando no perodo da

coleta e aceitar assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critrios de excluso

foram ser funcionrio da unidade h menos de um ano, estar de frias, atestado ou licena no

perodo da realizao das entrevistas e recusar-se a assinar o termo de consentimento. Os

dados foram coletados nos meses de setebro e outubro de 2012, por meio de entrevista semi-

estruturada. Anteriormente ao incio das entrevistas foi realizado um pr-teste do questionrio

com dois enfermeiros e um tcnico de enfermagem, para que posteriormente o instrumento

fosse aprimorado. As entrevistas foram agendadas previamente com os participantes e

gravadas com o consentimento dos mesmos. Cabe ressaltar que o anonimato dos participantes

foi respeitado, utilizando-se letras e nmeros para as entrevistas. Aps a transcrio das

gravaes, os dados foram analisados por meio do Modo Operativo de Minayo (2010),

seguindo as seguintes etapas: pr-anlise, explorao do material, tratamento dos resultados

obtidos e interpretao. A categorizao das entrevistas possibilitou que elas fossem

classificadas dentro das reas abordadas no Summary of the Evidence on Patient Safety:

Implications for Research (2008). O estudo foi aprovado pelo Comit de tica da

Universidade Federal de Santa Catarina, sob parecer n 108.551. Os resultados foram obtidos

atravs de dois manuscritos. O primeiro trata-se da percepo da equipe de enfermagem a

cerca dos fatores de risco que podem comprometer a segurana do paciente peditrico e

mtodos de barreira para minimiz-los. O segundo manuscrito busca relacionar as percepes

da equipe de enfermagem com as prioridades de pesquisa em segurana do paciente trazidas

pela OMS em 2008 na publicao Summary of the Evidence on Patient Safety: Implications

for Research. Conclui-se que os profissionais percebem apenas fatores de risco

constantemente presentes em seu cotidiano. As categorias de fatores de risco que a equipe de

Enfermagem mais percebe so a terapia medicamentosa, a identificao do paciente, as

competncias profissionais e o ambiente fsico. A capacitao dos profissionais,

principalmente em relao medicao, e a conferncia dos cinco certos so os mtodos de

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barreira mais citados. Estabeleceu-se uma relao entre as categorias reconhecidas como

fatores de risco e as reas de prioridade em pesquisa da publicao da OMS. Recomenda-se a

aplicao deste estudo em outras instituies, para uma viso amplificada das percepes dos

profissionais de enfermagem sobre os fatores de risco segurana do paciente peditrico e

validao dos resultados.

Descritores: Enfermagem Peditrica, Segurana do Paciente, Fatores de Risco, Equipe de

Enfermagem.

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

ECA Estatuto da Criana e do Adolescente

ICPS International Classification for Patient Safety

JCI Joint Comission Internacional

NPSF - National Patient Safety Foundation

OMS Organizao Mundial da Sade

REBRAENSP - Rede Brasileira de Enfermagem e Segurana do Paciente

SEPAESC Polo de Segurana do Paciente em Santa Catarina

TJC The Joint Comission

UIP Unidade de Internao Peditrica

USA- United States of America

UTI Unidade de Tratamento Intensivo

WHO World Health Organization

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LISTA DE FIGURAS / QUADROS

FIGURA 01 - Conceptual Framework for the Internacional Classification on Patient Safet.20

QUADRO 01- Classificao Internacional para a Segurana do Paciente.............................. 21

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SUMRIO

1 INTRODUO.....................................................................................................................13

2 OBJETIVO GERAL..............................................................................................................18

3 REVISO DE LITERATURA..............................................................................................19

3.1 SEGURANA DO PACIENTE.........................................................................................19

3.2 CULTURA DE SEGURANA DO PACIENTE...............................................................25

3.3 O PACIENTE PEDITRICO E A UNIDADE DE INTERNAO.................................27

4 MARCO REFERENCIAL.....................................................................................................30

4.1 CONCEITOS......................................................................................................................30

4.2 SUMMARY OF THE EVIDENCE ON PATIENT SAFETY: IMPLICATIONS FOR

RESEARCH...............................................................................................................................33

4.3 PRESSUPOSTOS...............................................................................................................36

5 METODOLOGIA..................................................................................................................38

6 RESULTADOS.....................................................................................................................42

6.1 MANUSCRITO 01: Percepo da Equipe de Enfermagem sobre os Fatores de Risco que

Envolvem a Criana Hospitalizada...........................................................................................43

6.2 MANUSCRITO 02: A relao entre a percepo da equipe de Enfermagem sobre os

fatores de risco segurana do paciente peditrico e as prioridades de pesquisa propostas pela

OMS...........................................................................................................................................64

CONSIDERAES FINAIS....................................................................................................84

REFERNCIAS........................................................................................................................85

APNDICES.............................................................................................................................91

APNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................................92

APNDICE B: Instrumento de Pesquisa Pr-teste..........................................................93

APNDICE C: Instrumento de pesquisa Apromorado...................................................94

ANEXOS..................................................................................................................................95

ANEXO I: Parecer Final do Orientador..........................................................................96

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1 INTRODUO

A assistncia ao paciente, principalmente no ambiente hospitalar, oferece inmeros

riscos. As inovaes tecnolgicas, o ambiente propenso distrao, a alta demanda de

pacientes, a carga de trabalho elevada e o tempo restrito para a realizao das atividades

favorecem o aumento da probabilidade de ocorrncia de falhas e acidentes, que podem

acarretar em prejuzo ao paciente assistido (RALSTON; LARSON, 2005).

Prezar a segurana do paciente reduzir os riscos e suavizar atos que sejam

considerados no seguros dentro do sistema de assistncia sade, assim como alcanar bons

resultados frente situao clnica do paciente por meio de um cuidado qualificado e

humanizado (NETO, 2006). O risco pode ser definido como a probabilidade de um incidente

ocorrer, podendo ou no acarretar em resultados adversos (LIMA, 2008).

O desafio de reduzir os riscos associados ao processo de hospitalizao vem desde a

poca do mdico hngaro Semmelweis (1847), que, aps longos estudos, identificou o

principal motivo da alta taxa de mortalidade materna-fetal em uma Clnica Obsttrica do

Allgemeine Krankenhaus. O mdico atribuiu as mortes infeco provocada por

microorganismos transmitidos pelas mos dos profissionais que atendiam as parturientes,

sendo assim, implantou a higienizao das mos com cido clrico para todos, sem exceo,

entre o atendimento de cada paciente. Com os resultados obtidos aps a implantao desta

norma, foi observada a reduo significativa na taxa de mortalidade do grupo investigado.

(OLIVEIRA e FERNANDEZ, 2007)

No mbito da Enfermagem, em paralelo, Florence Nigthingale (1820-1910), com sua

viso a frente de seu tempo, priorizava o fornecimento de um ambiente limpo, estimulador

para a promoo e a recuperao da sade, acreditando que esse fator seria o diferencial em

seu trabalho (HADDAD e SANTOS, 2011). Nigthingale adotou critrios inovadores na rea

da higiene hospitalar, com a introduo do uso de desinfetantes e isolamento de pacientes de

acordo com o tipo de ferida e etiologia, prevenindo a causa mais comum de mortes na poca e

promovendo um ambiente teraputico seguro ao paciente (SEIFFERT et al., 2011).

Em 1999, a publicao pelo Institute of Medicine, nos Estados Unidos da Amrica

(USA), de To Err is Human (Errar Humano), revelou que no pas ocorriam de 44.000 a

98.000 mortes anuais decorrentes de erros do sistema de sade e, que, as injrias provocadas

pelos eventos adversos prevenveis movimentavam entre 17 e 29 bilhes de dlares todos os

anos. A partir disto, o termo segurana do paciente tornou-se mundialmente conhecido e

almejado (WHO, 2010). A qualidade do atendimento, prezada pelos usurios e

14

consequentemente pelos gestores, est relacionada diretamente segurana da assistncia

oferecida. Por este motivo, o tema entrou para as pesquisas internacionais e nacionais e tem

sido vastamente defendido e explorado (GHANDI; KAUSHAL et al., 2004)

Em 2004, a Organizao Mundial de Sade (OMS) criou a Aliana Mundial para a

Segurana do Paciente. Dentro dela, procurou elaborar programas que tem como foco

sensibilizar e mobilizar os profissionais de sade e a populao para a busca de solues que

promovam a segurana do paciente (OMS, 2009). Junto The Joint Comission e sua

representante Joint Comission International, em 2008, elaborou um plano com seis metas que

tem como propsito promover melhorias em reas prioritrias do atendimento em sade,

como: identificar os pacientes corretamente; melhorar a efetividade da comunicao entre os

profissionais da assistncia; melhorar a segurana de medicaes de alta vigilncia; assegurar

cirurgias com local de interveno correto e paciente correto; reduzir os riscos de infeces

associadas aos cuidados de sade; e reduzir o risco de leses ao paciente decorrentes de

quedas (TJC; 2012).

Assim, a Aliana Internacional para a Segurana do Paciente, junto OMS, realizou

estudos que visavam identificar quais reas eram prioritrias em Segurana do Paciente, e que

necessitavam de mais pesquisas e desenvolvimento de aes para o alcance de melhorias,

tanto em pases desenvolvidos quanto nos com a economia em transio ou em

desenvolvimento. Com os resultados destas pesquisas lanou, no incio de 2008, um

documento intitulado Summary of the Evidence on Patient Safety: Implications for

Research (Sumrio das Evidncias em Segurana do Paciente: Implicaes para a Pesquisa),

que apresentou 23 tpicos abordados dentro da classificao em 3 sesses: resultados dos

sistemas de sade no seguros; fatores estruturais que contribuem para um cuidado no seguro

e processos que contribuem para um cuidado no seguro, que, de acordo com os expertises

que participaram das pesquisas, necessitavam ainda de ateno e desenvolvimento de

pesquisas e estratgias em seus campos, afim de promover a segurana do paciente em nvel

mundial (WHO, 2008).

No Brasil, em 2007, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) elaborou

uma proposta que visa a melhoria da qualidade no atendimento hospitalar, nos moldes do

projeto da Aliana da OMS (ANVISA, 2008).

Em maio de 2008, surge a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurana do Paciente

REBRAENSP, que visa fortalecer a assistncia de enfermagem segura e com qualidade no

pas. O trabalho da Rede foi difundido por meio dos plos estaduais e municipais, sendo um

em Santa Catarina (SEPAESC), com a funo de divulgar os conceitos de segurana do

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paciente, incentivar a criao e participao de enfermeiros em comits de segurana do

paciente e a instituir atitudes e iniciativas para promover a segurana do paciente

(CASSIANI, 2010).

Em 2010, atentando para a importncia do tema e seu impacto no pas, o Conselho

Regional de Enfermagem de So Paulo elaborou uma cartilha, intitulada "10 Passos para a

Segurana do Paciente", onde aborda as reas crticas do atendimento ao paciente e formas de

como diminuir os riscos durante a realizao dos trabalhos (COREN-SP, 2010).

As aes para a Segurana do Paciente na assistncia em sade so importantes, pois

reduzem a incidncia de erros e danos, diminuem o tempo de tratamento e hospitalizao,

melhoram ou mantm o status funcional do paciente, alm de aumentarem sua sensao de

bem-estar (POTTER e PERRY, 2007).

Os erros ou incidentes so falhas no intencionais que podem ocorrer por omisso,

ou seja, a no realizao de uma ao correta, ou por comisso, que a prtica de uma ao

incorreta (OMS, 2009). So caracterizados como eventos ou circunstncias que podem

acarretar em dano desnecessrio ao paciente (NETO, 2006). Quando provocam danos, so

chamados eventos adversos, que podem ser definidos como "injrias no intencionais

decorrentes da ateno sade, no relacionadas evoluo natural da doena de base, que

ocasionam leses mensurveis nos pacientes afetados e/ou prolongamento do tempo de

internao e/ou bito" (ZAMBOM e GALOTTI, 2011).

Os incidentes, e em especial os eventos adversos, sinalizam a presena de falhas

relacionadas segurana do paciente, dimensionando a magnitude dos problemas referentes

qualidade da ateno nos diferentes servios, e fornecem valiosas informaes, que devem ser

estudadas para a construo de um sistema de sade mais seguro (ZAMBOM; GALOTTI,

2011).

Estudos internacionais envolvendo pacientes internados mostraram que os eventos

adversos acometem de 2,9 a 16,6% das internaes hospitalares. Quando se fala em

incidentes, revelaram taxas ainda maiores, podendo atingir at 60% das admisses

hospitalares. Destes, os passveis de preveno, ou seja, decorrentes de erros evitveis,

corresponderam a aproximadamente metade dos episdios. A maior parte dos eventos

adversos acarretou incapacidades leves, entretanto, 4,9 a 13,6% destes eventos contriburam

para a morte dos pacientes (DAUD-GALLOTI; NOVAES et al., 2005; DAUD-GALLOTI;

NOVAES et al., 2006)

16

Estima-se que a probabilidade de ocorrncia de erros com potencial para causar

danos seja trs vezes maior em crianas hospitalizadas do que adultos na mesma situao,

devido a diferenas fisiolgicas e metablicas do organismo. (KAUSHAL; BATES, 2001).

A American Academy of Pediatrics, em parceria a Agency for Healthcare Research

and Quality, realizou o estudo "The Learning from Errors in Ambulatory Pediatrics", e

encontrou 147 erros decorrentes de 14 prticas do atendimento em sade em um perodo de 3

meses. Os erros mais comuns foram relacionados ao tratamento mdico (37%), seguidos por

erros na identificao dos pacientes (22%) e erros em cuidados preventivos, como:

imunizaes (15%); testes diagnsticos (13%); comunicao (8%); e outras causas menos

frequentes. Dentre os erros de tratamento mdico, 85% foram erros de medicao,

relacionados prescrio incorreta, a no prescrio, administrao, transcrio e

dispensao do medicamento (MOHR et al., 2004).

Estudo realizado em hospitais dos Estados do Colorado e Utah, nos Estados Unidos,

analisou 3.719 pronturios de pessoas com idade entre 0 e 20 anos, hospitalizadas no ano de

1992. Nos resultados, expuseram que 1% das crianas foram vtimas de eventos adversos

durante a hospitalizao, sendo 0,6% desses eventos prevenveis. Como concluso,

apresentou que partindo do princpio que 7 milhes de crianas so hospitalizadas por ano nos

Estados Unidos, 70.000 experienciam erros na assistncia hospitalar, e que aproximadamente

42.000 desses erros poderiam ser de alguma forma prevenidos. Relata ainda, que no ano de

1992, entre 1.200 e 2.100 crianas tiveram seu tempo de internao prolongado ou algum

dficit de sade devido aos erros (WOODS et al., 2005).

No Brasil, pesquisa realizada por Harada et al. (2003) em uma Unidade de Cuidados

Intensivos Peditricos de um Hospital Universitrio em So Paulo, identificou 113

ocorrncias de eventos adversos, com 38 pacientes, entre 0 e 17 anos; sendo a mdia de 2,9

ocorrncias por criana. A pesquisa detalhou ainda que aproximadamente 23 das 38 crianas

foram vtimas de um a trs erros durante a assistncia hospitalar; sendo que 6 crianas

sofreram de quatro a seis erros, 2 mais de seis e uma das crianas passou por onze eventos.

Diante do exposto, a abordagem da temtica relevante por possibilitar a percepo

dos profissionais de enfermagem sobre os fatores de risco existentes, como tambm, as

possveis barreiras que podem ser implantadas no intuito de promover a segurana do paciente

peditrico e sua famlia no processo de hospitalizao.

A partir disto, a questo norteadora deste estudo foi:

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Qual a percepo da equipe de enfermagem quanto aos fatores de risco que podem

interferir na segurana do paciente peditrico durante o perodo de hospitalizao em uma

unidade de internao peditrica de um Hospital Universitrio da regio sul do Brasil?

18

2 OBJETIVO GERAL

Conhecer a percepo da Equipe de Enfermagem sobre os fatores de risco que

podem interferir na segurana do paciente peditrico durante sua hospitalizao em uma

unidade de internao peditrica e os mtodos de barreira para minimiz-los.

19

3 REVISO DE LITERATURA

Os subsdios tericos sobre o tema foram levantados por meio das bases de dados

Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Base de Dados de Enfermagem (Bdenf),

Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (Lilacs), Publicaes Mdicas

(Pubmed) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (Cinahl), utilizando-se

as seguintes palavras-chave: risco, evento adverso, segurana do paciente e segurana do

paciente peditrico. Alm dos artigos, livros tambm foram consultados.

3.1 Segurana do Paciente

As aes em segurana do paciente visam minimizar os riscos que possam prejudicar

o paciente durante o atendimento em sade (OMS, 2009).

No ano de 1999, ao publicar To err is human: Building a Safer Health System, o

Instituto de Medicina dos Estados Unidos provocou a reflexo mundial sobre o tema

segurana, e mostrou a necessidade que os sistemas de sade tm de repensar sobre suas

prticas de assistncia (OMS, 2009). Durante a Assemblia Mundial em Sade, em 2002, a

OMS comeou sua mobilizao para a segurana do paciente e a melhora da qualidade da

assistncia. Em 2004 criou a World Alliance for Patient Safety (Aliana Mundial para

Segurana do Paciente), voltada para o desenvolvimento de polticas e prticas para promover

a segurana do paciente em todos os pases membros da OMS (OMS, 2009).

A criao da Aliana Mundial pela Segurana do Paciente foi um importante passo

na busca dos pases desenvolvidos para melhorar a segurana dos cuidados em sade. Na

poca, eram escassos os financiamentos para pesquisas dentro dessa proposta, inicialmente

vista como uma ameaa aos prestadores de servios em sade. Os objetivos iniciais do

programa basearam-se em deliberaes discutidas em eventos importantes do ramo de sade

realizados nos anos de 2003 e 2004 em Londres e Dublin, que definiram seis reas focais de

atuao: tornar a segurana do paciente foco de preocupao a nvel mundial; envolver os

pacientes e os consumidores do servio na prpria segurana; desenvolver uma taxonomia

especfica para segurana do paciente; incentivar pesquisas na rea; elaborar solues para

diminuir os riscos oferecidos pelo servio e melhorar a segurana do paciente; e incentivar a

notificao, transformando-a em aprendizado para aumentar o conhecimento e

consequentemente a segurana dos pacientes (WHO, 2005).

20

Em 2008 a WHO lana um documento intitulado Summary of the Evidence on

Patient Safety: implications for research, que veio a cumprir uma das reas focais da aliana,

que era a de incentivar pesquisas na rea.

Em 2009, por meio de um grupo de especialistas em segurana do paciente (Drafting

Group), divulgou resultados que contemplaram mais uma das reas focais da Aliana, a

publicao intitulada The Conceptual Framework for the Internacional Classification for

Patient Safety (Estrutura Conceitual para a Classificao Internacional para a Segurana do

Paciente).

Figura 01: Conceptual Framework for the Internacional Clasification for Patient Safety Fonte: http://www.who.int/patientsafety/implementation/taxonomy/conceptual_framework/

A estrutura serviu como base para a criao de uma taxonomia prpria para a

temtica e padronizou os conceitos e registros em segurana do paciente. Foram criadas 10

classes, envolvendo 48 fatos chaves essenciais para facilitar o entendimento e a transferncia

de informaes relevantes sobre erros ocorridos em sade. A Classificao Internacional para

a Segurana do Paciente (ICPS) visa proporcionar uma compreenso razovel do mundo da

21

segurana do paciente e de seus principais conceitos, para que as classificaes regionalistas

possam ser relacionadas (OMS, 2009; BOHOMOL e DENSER, 2010).

Quadro 1. Classificao Internacional para a Segurana do Paciente

Classificao Internacional para a Segurana do Paciente (ICPS)

1. Tipos de Incidente

Administrao clnica

Processo clnico/ Procedimentos

Documentao

Infeco hospitalar

Medicao/ Fludos endovenosos

Hemoderivados

Nutrio

Gases/ Oxignio

Equipamento mdico

Comportamento

Acidentes com o paciente

Estrutura

Gerenciamento de recursos/ Organizacional

2. Resultados do Paciente

Tipo de Dano

Impacto Social/Econmico

Grau de Dano

3. Caracteristicas do paciente

Danos demogrficos do paciente

Razes para admisso

Outros diagnsticos/procedimentos

4. Caractersticas do Incidente

Origem do incidente

Descoberta do incidente

Registro/notificao do incidente

5. Fatores Contribuintes/Perigos

Ateno Primria

Instituiao de assistncia a comunidade

Sade Mental

Reabilitao

Casa de repouso

Hospital geral

Farmacia Comunitria

Cuidado domiciliar

Servios de Remoo

Dentista

Outros

6. Resultados Organizacionais

Fatores Humanos

Fatores do paciente

Fatores ocupacionais/ambientais

Fatores organizacionais/servios

Fatores externos

Outros

7. Deteco 8. Fatores mitigantes

22

Pessoas envolvidas

Processo

Dirigido ao paciente

Dirigidos ao staff

Dirigidos a organizao

Dirigidos a um agente

Outros

9. Aes de melhora/Conteo

Realacionadas ao paciente

Relacionadas a organizao

10. Aes adotadas para reduo do risco

Fatores relacionados ao paciente

Fatores relacionados ao staff

Fatores organizacionais/ambientais

Fatores relacionados ao agente-equipamento

Fonte: http://www.who.int/patientsafety/implementation/taxonomy/en/

Ainda em 2009, a WHO tambm atualizou e validou suas nove solues para ajudar

a minimizar os riscos do atendimento em sade, publicadas em 2007 e em teste at ento. As

solues, elaboradas pela WHO e seu Centro Colaborador, foram divulgadas em vrios sites

relacionados sade para alcanarem visibilidade (WHO, 2011).

Com resultados alarmantes de pequisas revelando as inmeras mortes de gestantes,

parturientes e rescm nascidos (287.000 mulheres morreram durante a gestao ou durante o

parto em 2010) o ltimo lanamento da WHO, divulgado em Novembro de 2012, foi o Safe

Childbirth Checklist (Checklist para o Nascimento Seguro). A edio piloto do estudo

iniciou na ndia, para dar suporte assistncia das necessidades essenciais das parturientes do

pas. O instrumento foi desenvolvido seguindo uma metodologia rigorosa e testado em 10

pases da frica e da sia. Ele contm 29 itens, que enfocam as maiores causas de morte

materna (hemorragias, infeces, distrbios hipertensivos), problemas durante o parto

(assistncia inadequada) e mortes neonatais (asfixia, infeces e complicaes relacionadas

imaturidade dos sistemas orgnicos). Estima-se que o estudo seja finalizado em 2016, quando

for aplicado em pelo menos 100 hospitais da ndia (WHO, 2012).

As atividades da WHO em prol da segurana do paciente repercutem tambm no

Brasil. Em 2007, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) elaborou uma

proposta que visa a melhoria da qualidade do atendimento hospitalar, nos moldes do projeto

da Aliana da OMS (ANVISA, 2008).

No ano seguinte, grupos de enfermeiros brasileiros uniram-se para criar a Rede

Brasileira de Enfermagem e Segurana do Paciente REBRAENSP, estratgia adotada para

desenvolver a articulao e a cooperao entre instituies de sade e educao, com o

objetivo de fortalecer a assistncia de enfermagem segura e com qualidade no pas. O trabalho

23

da Rede foi difundido atravs dos plos estaduais e municipais (CASSIANI, 2010). O Plo de

Segurana do Paciente em Santa Catarina (SEPAESC) promove a cultura de segurana do

paciente no estado, por meio de cursos e eventos. Visa tambm, a promoo de estratgias e o

desenvolvimento de aes para medida e melhoria de processos nos ambientes da assistncia

em sade, como indicadores de segurana, nas instituies catarinenses. O plo SEPAESC

segue os encaminhamentos da REBRAENSP e tambm as diretrizes da OMS (UFSC, 2011).

Em 2010, o Conselho Regional de Enfermagem do Estado de So Paulo, visando

promover uma campanha pela segurana do paciente e esclarecer a categoria quanto

identificao de falhas possveis de gerar erros no processo de trabalho, elaborou uma

cartilha, intitulada 10 Passos para a Segurana do Paciente, que contempla os principais

pontos que tem impacto direto na prtica assistencial de Enfermagem no Brasil, e elenca

medidas capazes de serem implantadas em diversos ambientes de cuidados para diminuir a

incidncia dos erros. Os assuntos abordados no manual so a identificao do paciente, a

higienizao das mos - o cuidado limpo e cuidado seguro, as conexes corretas de cateteres e

sondas, a cirurgia segura, a administrao degura de sangue e hemocomponentes, o paciente

envolvido com sua prpria segurana, a comunicao efetiva, a preveno de queda, a

preveno de lcera por presso e a segurana na utilizao de tecnologias (COREN-SP,

2010).

Outra iniciativa tomou como referncia as solues para a segurana do paciente

elaboradas pela WHO e divulgou aes de hospitais brasileiros para promover a segurana do

paciente, bastante semelhantes s recomendadas internacionalmente. O Instituto Proqualis,

Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurana do Paciente, vinculado ao

Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade (Icict) da

Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) uniu e divulgou um documento onde encontram-se 13

solues, seguidas no pas, para minimizar os fatores de risco no processo de assistncia ao

paciente. So elas: gerenciar medicamentos com aparncia ou nome parecidos; identificar o

paciente (ao menos duas formas); promover comunicao adequada durante a transferncia de

responsabilidade do paciente; realizar o procedimento correto na parte correta do corpo;

controlar as solues eletrolticas concentradas; garantir a adequao da medicao em todo o

processo de cuidado; evitar conexo errada de cateter e de tubo endotraqueal; usar uma nica

vez dispositivo para injeo; melhorar a higiene das mos para prevenir infeces associadas

ao cuidado de sade; prevenir queda do paciente; prevenir lcera por presso; responder

deteriorizao do quadro do paciente; comunicar resultados crticos de exames e prevenir

infeco da corrente sangunea associada a cateterismo central (PROQUALIS, 2012).

24

Apesar de alguns hospitais promoverem aes visando a segurana do paciente,

estudos nas instituies do pas mostram que a ocorrncia de eventos adversos nesses locais

constante. Como o caso de pesquisa realizada em uma Unidade de Tratamento Intensivo,

Unidades de Cuidados Semi-intensivos e Unidades de Internao de um Hospital privado de

So Paulo, em 2006, que objetivou quantificar os nmeros de eventos adversos ocorridos

nesses locais, caracteriz-los quanto a natureza e local, alm de identificar as intervenes

realizadas pelos enfermeiros aps o evento. Foi notificado o total de 229 eventos adversos;

predominaram os relacionados sondagem nasogstrica (SNG) (57,6%), seguidos por queda

(16,6%) e administrao de medicamentos (14,8%). As intervenes de enfermagem foram

recolocao da SNG (83,3 %) e comunicao da ocorrncia ao mdico nos casos de erros de

medicao (47,6%) e queda (55,2%) (NASCIMENTO; TOFFOLETO et al., 2008).

Pesquisa observacional, prospectiva, para determinar a incidncia de eventos

adversos (EAs) em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, identificou que dos 218 recm-

nascidos, 183 (84%) apresentaram eventos adversos, correspondendo a 2,6 EA/paciente. Os

distrbios mais frequentes foram os da termorregulao, em 29% dos casos; da glicemia, em

17,1%; e Infeco Relacionada Assistncia Sade (IRAS) de origem hospitalar,

representando 13,5% dos eventos. Alguns EAs apresentaram associao com peso de

nascimento (p < 0,05). O percentual de IRAS e a extubao no programada foi diretamente

proporcional ao tempo de internamento. (VENTURA; ALVES, et al., 2012).

A qualidade uma das ncoras na assistncia de enfermagem, o que reflete a

importncia de se priorizar o tema segurana do paciente e o gerenciamento de riscos.

Propiciar a exposio do paciente a situaes de risco pode acarretar em aumento do tempo de

hospitalizao, em incapacidades funcionais temporrias ou permanentes e, em casos mais

graves, at em sua morte (RADUNZ e HOFFMANN, 2008).

No Brasil, hoje, programas de acreditao que abrangem principalmente a rede

particular de sade, como o Programa Brasileiro de Segurana do Paciente , promovem a

sensibilizao dos gestores e trabalhadores para o tema, possibilitando a troca de informaes

sobre indicadores e erros entre os hospitais participantes, bem como o registro, em um banco

de dados nico, dos incidentes ocorridos nas prticas assistenciais. Novo, esse sistema de

registro dos dados parece uma esperana para que futuramente o pas tenha acesso a maior

quantidade de resultados concretos da sua assistncia sade e consiga caminhar em direo

a uma cultura de segurana (PBSP, 2012).

25

3.2 Cultura de Segurana do Paciente

A cultura de segurana uma cultura de aprendizagem atravs da retroalimentao

de informaes, onde a segurana de uma organizao prioridade. A organizao deve focar

em recolher o mximo de informao possvel a respeito dos erros que permeiam seu

desenvolmento, sem expor, acusar ou punir quem erra, e sim fornecendo subsdios para que

essas pessoas aprendam por meio dos erros (REASON, 1997).

Estudo realizado com a equipe de enfermagem em diferentes hospitais da rede

pblica e privada, no estado do Rio de Janeiro, apontou a falta de conhecimento sobre o

significado de eventos adversos, alm da no identificao e a ausncia de notificao de suas

ocorrncias, como fatores que podem encobrir as verdadeiras taxas de ocorrncia de eventos

adversos nas instituies (SILVA et al., 2011). Sem notificao, torna-se invivel um trabalho

de aprendizagem com os erros como prev a cultura de segurana.

Como meio de deteco de erros e eventos adversos, o sistema de notificao

necessrio, pois permite que o profissional relate detalhadamente as circunstncias que

envolveram o evento. A identificao de eventos que resultaram em prejuzos ao paciente

durante a prestao de servios hospitalares relevante, pois acarreta em melhora na

qualidade do atendimento e segurana aos pacientes atravs da reviso constante das tcnicas

e prticas profissionais pelos rgos reguladores da profisso (BELELA et al., 2010).

Diversos fatores podem ser apontados para a no notificao de eventos adversos

pela equipe de enfermagem durante a sua prestao de servio, como: dificuldade em

identificar os incidentes e/ou eventos adversos como sendo prejudiciais ao paciente; a no

incorporao da notificao como rotina de trabalho; cultura de punio frente ao erro

cometido, existente nas instituies, e decorrente tendncia a omisso dos fatos (PAIVA e

BERTI, 2010).

A responsabilidade pelos erros no deve ser projetada diretamente nos profissionais,

mas sim no sistema em que esto inseridos. Para que o ambiente de trabalho preze pela

segurana do paciente, a instituio deve incentivar a educao permanente de seu pessoal,

por meio de programas de atualizao; implementao da cultura de segurana; padronizao

de processos e introduo da avaliao constante da equipe de sade, com o objetivo de

identificar possveis erros antes que prejudiquem o paciente. Os erros so resultado de um

sistema de sade deficitrio, e como preveno as estratgias devem ser focadas nas fraquezas

do sistema e no nos trabalhadores (CASSIANI et al., 2009).

26

Assim, em acordo Cultura de Segurana, a ocorrncia de erros deve ser interpretada

como decorrente de falhas dos sistemas relacionados ateno sade. So as

vulnerabilidades presentes nos sistemas que favorecem a prtica de erros pelos indivduos

envolvidos com o cuidado. Uma vez que os seres humanos cometem erros em qualquer tipo

de atividade, os sistemas devem ser reformulados para tornar mais difcil a realizao de

aes errneas e mais fcil adoo de atitudes corretas (ZAMBON e GALOTTI, 2011).

Em 2008, contemplando uma das reas focais da Aliana, a WHO lanou o

documento Summary of the Evidence on Patient Safety: Implications for Research (Sumrio

das Evidncias em Segurana do Paciente Implicaes para a Pesquisa), resultado de buscas

e trabalhos extensos que visaram identificar a carncia de informaes em determinadas reas

do conhecimento em segurana do paciente para incentivar pesquisas, e o desenvolvimento de

mtodos que aprimorassem os trabalhos e aumentassem a segurana em sade (WHO, 2008).

Para entender os problemas enfrentados pelos gestores, pediu a um grupo de experts

que levantassem prioridades de pesquisa na rea de segurana do paciente. Como a segurana

do paciente frequentemente descrita como um pr-requisito para a alta qualidade do servio

em sade, o grupo usou um quadro composto por trs componentes de qualidade (estrutura,

processo e resultados) para elencar os problemas da temtica, compatveis a cada uma das trs

esferas, que fossem relevantes (WHO, 2008).

Com pesquisas na literarura o grupo identificou 23 reas com lacunas de

conhecimento e pesquisa, e descreveu como cada uma delas tem impacto sobre a segurana

do paciente. As reas foram divididas conforme os trs componentes de qualidade: I -

Resultados de um cuidado inseguro; II - Fatores estruturais que contribuem para um cuidado

inseguro e III - Processos que contribuem para um cuidado inseguro (WHO, 2008).

A Agncia de Pesquisa e Qualidade do Cuidado em Sade dos Estados Unidos da

Amrica define 'resultados' como os resultados das consequncias das atividades/intervenes

clnicas realizadas pelos profissionais de sade; 'estrutura' como os recursos disponveis e os

arranjos organizacionais para promover a sade, e 'processo' como as atividades de cuidado

em sade desenvolvidas pelos profissionais. Dentro dessa definio, como exemplo podemos

tomar que as consequncias especficas, como infeces hospitalares ou eventos adversos por

medicao, podem ser categorizados como resultado da assistncia insegura; mecanismos

como falhas na organizao estrutural e de material so caractersticos da falha estrutural da

instituio; e a comunicao insuficiente entre os profissionais reflete a falha no processo de

trabalho.

27

A agncia relata ainda que h uma lacuna de falta de informaes sobre a prevalncia

e ocorrncia dos erros em sade, bem como seus efeitos. Sendo assim, seria impossvel

delinear sistemas e protocolos eficientes para reduo de erros, uma vez que precisamos saber

primeiro onde e porque tais erros esto ocorrendo. Os indicadores utilizados pelos gestores de

sade ainda possuem limitaes de confiabilidade e validao, limitando sua eficincia no

rastreamento de eventos adversos ou entendimentos dos mecanismos que contribuem para um

cuidado inseguro ao paciente (WHO, 2008).

Os achados dos estudos realizados pela WHO sugerem que a assistncia no segura

ao paciente est associada a uma significativa morbidade e mortalidade em todo o mundo, e

grande parte disso pode e deve ser evitada/prevenida. Eles indicam que o problema deve ser

tratado de forma processual e generalista, e no focada em tpicos individuais, uma vez que

se combatido individualmente geraria um efeito apenas imediato, e no em longo prazo

(WHO, 2008).

3.3 O Paciente Peditrico e a Unidade de Internao

O desenvolvimento infantil um processo complexo que envolve as diferenas

individuais e especficas de cada perodo, como mudanas nas caractersticas, nos

comportamentos, nas possibilidades e nas limitaes de cada fase da vida (VALLADARES E

SILVA, 2011).

O adoecimento nas crianas promove alteraes em todos os mbitos, que podem,

muitas vezes, desequilibrar seu organismo interna e externamente, e, em consequncia disso,

bloquear seu processo de desenvolvimento saudvel, especialmente se a doena for duradoura

(VALLADARES E SILVA, 2011).

A internao hospitalar pode desencadear uma srie de rupturas para a criana ou o

adolescente e sua famlia. Fatores fsicos, sociais e psicolgicos so envolvidos e podem levar

a criana a srios traumas referentes hospitalizao, que podem ser irreversveis.

Estudo de reviso teve como objetivo identificar as aes de enfermagem para

estmulo ao desenvolvimento infantil, no perodo de 2000 a 2009. Os resultados apontaram o

ldico como essencial ao desenvolvimento da criana, devendo ser explorado pela

enfermagem durante a hospitalizao por meio da arte, msica, brinquedos e teatro, afim de

amenizar o impacto da situao para o desenvolvimento. Orientar e intervir nos

28

relacionamentos entre as crianas em igual situao so aes de enfermagem sugeridas para

o desenvolvimento social e comportamental infantil (PERES, 2012).

Com a ajuda de outros profissionais da sade e grupos de voluntrios, a Unidade de

Internao Peditrica onde foi desenvolvido este este estudo mantm em funcionamento, e

aberta a todas as crianas internadas no local, uma sala de brinquedos, que conta com

brinquedos para todas as faixas-etrias, alm de mesinhas infantis, lpis de cor, papel, jogos,

gibis, sof e televiso, contribuindo tambm para amenizar o impacto da mudana de

ambiente para criana e acompanhante.

Alm do apoio da equipe de Enfermagem, a presena dos pais e familiares

acompanhando a criana durante o processo da hospitalizao ajuda a diminuir as

dificuldades de adaptao e a manter o vnculo com os familiares. Para as crianas a

internao hospitalar se revela uma experincia bastante difcil, o que acarreta em ansiedade

devido exposio a um ambiente estressante, e onde o apoio para o enfrentamento destes

sentimentos bastante restrito, de tal forma que, uma das nicas fontes de segurana

representada pela presena dos pais (FRAQUINELLO, HIGARASHI & MARCON, 2007).

Estudo realizado com 56 crianas em um hospital peditrico do Cear, que se props

a identificar as reaes fsicas e emocionais das crianas de 1 a 5 anos frente hospitalizao,

identificou que o grupo de crianas que tiveram acompanhantes durante a hospitalizao

apresentou menor freqncia de reaes fsicas (choro, vmitos, diarria, taquicardia,

inapetncia, insnia) e emocionais (indiferena, medo, apatia, agressividade e irritabilidade)

do que o grupo de crianas, sem acompanhantes, durante a internao (OLIVEIRA;

DANTAS; FONSECA, 2004) .

O Brasil somente obteve avano em relao humanizao da assistncia criana,

aps a publicao da Lei N 8.069, em 1990, regulamentando o Estatuto da Criana e do

Adolescente, que em seu Artigo 12 preconiza que os estabelecimentos de sade devero

proporcionar condies para a permanncia de um dos pais ou responsvel, em tempo

integral, nos casos de internao de criana ou adolescente (MS, 1991).

A permanncia do acompanhante em pediatria tambm fator importante para a

promoo da segurana do paciente. Como a criana, antes de certa idade, incapaz de

confirmar sua identidade ou realizar questionamentos consistentes sobre procedimentos

assistenciais, o envolvimento do acompanhante primordial para garantir a identificao

correta da criana. ele quem ir responder pela criana e questionar quando perceber

inconsistncias durante o processo assistencial.

29

Pesquisa observacional, realizada em unidade de internao peditrica, com o

objetivo de avaliar se a identificao do paciente, antes da administrao de medicamentos e

fluidos por profissionais de enfermagem, segue as diretrizes estabelecidas pela OMS em

2007, evidenciou que os profissionais, em muitas situaes, perguntam ao acompanhante a

identificao da criana (seja s pelo primeiro nome ou pelo nome completo) antes de realizar

a medicao, e concluiu que os acompanhantes devem sim ser includos no processo de

identificao dos pacientes, pois so agentes ativos e acompanham as crianas, participando

ativamente durante a hospitalizao (PORTO; ROCHA, et al., 2011).

Outro estudo visou descrever os eventos adversos identificados pelo acompanhante

em uma Unidade de Tratamento Intensivo Peditrico (UTIP). Muitos dos eventos adversos

relatados pelos acompanhantes foram relacionados equipe de enfermagem, principalmente

na prtica assistencial e pelo pouco conhecimento cientfico para realizao de alguns

procedimentos. Em relao equipe mdica, verificou-se que a falta de informao sobre o

estado de sade da criana hospitalizada uma negligncia bastante importante. Identificou-

se ainda que o acompanhante reconhece estratgias que podem representar a segurana da

criana na UTIP, como: a presena de vrios profissionais, a tecnologia avanada e a

existncia de profissionais de grande excelncia em seu atendimento ofertando um cuidado

integral s crianas. A pesquisa referiu tambm a importncia desenvolver mais estudos

abordando a assistncia da criana sob a tica do acompanhante, possibilitando conhecer

novos indicadores de segurana no cuidado criana enferma (SILVA; WEGNER; PEDRO,

2012).

Sendo assim, destaca-se a importncia de a Enfermagem atuar, junto ao

acompanhante, provendo formas de amenizar o sofrimento da criana hospitalizada e

favorecer seu desenvolvimento, atravs da oferta de brinquedos ou distraes adequados

idade e de uma assistncia que priorize a segurana do paciente peditrico.

30

4 MARCO REFERENCIAL

O referencial pode ser definido como uma estrutura de conceitos e proposies,

significativamente interligados, que resultam em uma configurao expressiva. Permeia todo

o contedo do estudo, do planejamento concluso, sendo os resultados confrontados com o

referencial adotado. Ele possibilita ao pesquisador conhecer vrias vises de mundo,

conforme sua percepo, sua experincia e sua capacitao. O referencial adotado permite que

o pesquisador utilize dos conceitos e crenas de um ou de mais autores para a aplicao

prtica de outro, o qual poder interpret-los e fazer as devidas ligaes com sua viso de

mundo e seu contexto (FAWCETT, 1984; WALL, 2008).

Como instrumentalizao para anlise dos dados, utilizamos um marco referencial

composto por conceitos embasados nas publicaes da OMS/WHO, nos 23 tpicos do

Summary of the Evidence on Patient Safety: Implications for Research (WHO, 2008) e nos

pressupostos. Sendo que os pressupostos foram elaborados a partir do conhecimento prvio,

crenas e valores das pesquisadoras.

4.1. Conceitos:

Paciente Peditrico

Define-se paciente como a pessoa que recebe assistncia em sade (OMS, 2009). A

Pediatria compreende uma especialidade que atende crianas e adolescentes, compreendidos

entre os 0 e os 18 anos, em acordo ao Estatuto da Criana e do Adolescente (BRASIL; ECA,

1990). Para este estudo, sero considerados pacientes peditricos as crianas e os adolescentes

entre 0 e 18 anos, que recebem assistncia em sade.

As caractersticas fisiolgicas das crianas so variveis, principalmente na primeira

dcada de vida, acarretando mudanas na funcionalidade de cada rgo. Durante as fases de

crescimento, as crianas esto em contnuo desenvolvimento, quando diferenas e processos

de maturao no so matematicamente graduais ou previsveis (SILVA, 2006). Devido

maturao dos rgos, h diferenas entre crianas e adultos no tempo de absoro e excreo

de alimentos e frmacos, fator relevante que pode ser vital em caso de ocorrncia de erros,

como com medicaes, durante o perodo da hospitalizao (JOHNSON, 2003).

31

Segurana do Paciente

A OMS define segurana do paciente como a reduo de riscos ou danos potenciais

associados com a assistncia, que se passa no conjunto de elementos estruturais, processos,

instrumentos e metodologias, baseada em evidncias cientificamente provadas, com o

objetivo de minimizar o risco de ocorrncia de um evento adverso no processo de ateno em

sade ou de mitigar suas consequncias (OMS; 2009). A segurana do paciente uma

condio inerente e o principal compromisso do sistema de sade. Os sistemas de sade so

sistemas humanos que desenrolam-se em contextos ambientais e culturais, portanto

vulnerveis e sujeitos a variaes do meio ambiente e do comportamento individual e social

(MALVAREZ, 2010).

Cultura de Segurana do Paciente

Cultura de Segurana um termo da cultura organizacional geral, e definida como

o produto de valores, atitudes, competncias e padres de comportamento individuais e de

grupo, que determinam o compromisso, o estilo e a proficincia da administrao de uma

organizao saudvel e segura (HSC, 1993).

Dentro do sistema de sade, compreende os seguintes atributos: onde todos

trabalhadores da sade (incluindo administradores) aceitam a responsabilidade pela segurana

de si mesmos, seus colegas de trabalho, pacientes e visitantes; que priorize a segurana acima

das finanas e metas operacionais; que incentive e premie a identificao, a comunicao e a

resoluo de questes de segurana; que preveja, a nvel organizacional, aprender com os

acidentes; que fornea recursos adequados e estrutura para manter a segurana eficaz nas

instituies de sade. Deve permear os sistemas de gesto em sade e contar com o esforo

dos profissionais para sua operacionalizao atravs de sua implementao nas organizaes

(NPSF, 2001).

Fator de Risco

Define-se fator de risco como algo (uma situao ou objeto) que oferece a

probabilidade da ocorrncia de um incidente durante a assistncia em sade (OMS, 2009).

32

Incidente e/ou Evento Adverso

Incidentes sem danos so eventos que ocorrem a pacientes e no resultam em

prejuzo a ele. Eventos adversos so definidos como incidentes que prejudicam o paciente.

Leses causadas por prticas assistenciais, e no pelo processo da doena base (OMS, 2009).

Os incidentes quanto segurana do paciente so eventos ou circunstncias que

poderiam resultar, ou resultaram, em dano desnecessrio ao paciente. Quando so de fato

causadores de dano, tornam-se eventos adversos, definidos como injrias no intencionais

decorrentes da ateno sade, no relacionadas evoluo natural da doena de base, que

provocam leses nos pacientes afetados, prolongamento do tempo de internao e/ou bito

(ZAMBON e GALOTTI, 2011).

Erro

a falha na finalizao de uma ao planejada ou aplicao de um plano incorreto.

Os erros no so intencionais podem ocorrer por omisso (no realizao de uma ao

correta) ou por comisso (praticar a ao incorreta) (OMS, 2009).

Podem ser derivados de violaes, que so desvios deliberados de normas ou regras

para qualquer ato na assistncia. Quando decorrentes de erros ou violaes so considerados

evitveis. Entretanto, deve-se salientar que nem todos os incidentes so passveis de

preveno (ZAMBON e GALOTTI, 2011).

Barreiras de Segurana

So aes que visam minimizar os fatores que risco que envolvem o processo de

assistncia em sade, realizadas na tentativa de impedir a ocorrncia de eventos adversos. Na

literatura so exploradas como medidas preventivas dos erros e incidentes (SANTANA, et al.,

2012).

4.2. Summary of the Evidence on Patient Safety: Implications for Research (WHO, 2008):

33

Sesso I Resultados do cuidado mdico inseguro

1. Eventos adversos devido ao tratamento medicamentoso: inclui os erros por

comisso e os erros por omisso. O documento indica que so necessrias mais pesquisas

sobre a preveno dos eventos adversos em reas ambulatoriais e em populaes especficas,

como em idosos e crianas, pouco descritos na literatura.

2. Eventos adversos e injrias devido a dispositivos mdicos: podem ser divididos em

erros de fabricao, de uso do dispositivo ou de design. A WHO sugere que os eventos

adversos talvez sejam um problema maior nos pases em desenvolvimento, onde o

equipamento mdico frequentemente inutilizvel por falta de recursos. So necessrios

programas efetivos de vigilncia para detectar esses eventos adversos.

3. Injrias provocadas por cirurgias e erros de anestesia: podem ser atribudas a

falhas de estrutura e processo.

4. Infecces associadas ao cuidado em sade: so infeces que tem ligao com a

assistncia de sade. Elementos essenciais em um programa de controle de infeces incluem

educao dos trabalhadores de sade, sistema de vigilncia e segurana bem organizados,

legislao apropriada e implementao consistente de medidas bsicas de controle, como a

higiene das mos. A pesquisa nessa rea deve focar em pesquisar a resistncia microbiana aos

antibiticos e como se disseminam os microorganismos multirresistentes.

5. Prticas injetveis inseguras: Mudar as crenas dos trabalhadores e assegurar o

fornecimento de equipamentos e materiais poderia aumentar significantemente a segurana da

aplicao de injees. Futuras pesquisas devem ser direcionadas em validar o impacto destas

estratgias e atividades sobre a transmisso das doenas atravs da reutilizao, bem como

seus custos, em termos de advertncia para as infeces.

6. Sangue e hemoderivados no seguros: Importantes lacunas de conhecimento nessa

rea incluem a falta de informao sobre as infeces evitadas por estratgias especficas em

segurana na transfuso de sangue, fatores de risco confiveis sobre os doadores de sangue e

os riscos residuais das transfuses quando no h programas de rastreamento local.

7. Segurana da gestante e do recm-nascido: um ponto crtico para reduzir as taxas

de morbidade e mortalidade durante o trabalho de parto em mulheres e RNs.

8. Segurana do idoso: idosos so afetados principalmente pelos eventos adversos como

as medicaes

9. Injrias devido queda durante a internao hopitalar: a injria mais comum e

geralmente agrava a situao do paciente, provocando leses, prolongamento da

34

hospitalizao e processo por irresponsabilidade legal da instituio. As pesquisas nessa rea

deveriam ser voltadas para identificar novos meios de preveno de quedas, que no

conteno ou sedao, e para validar a eficcia das tcnicas conhecidas para minimizar a

incidncia e a morbidade da situao.

10. lcera de decbito: os fatores de risco para o desenvolvimento de lceras de decbito

so a imobilizao, frico, incontinncia, comprometimento cognitivo e um baixo estado

nutricional. Como sugesto da WHO, seria necessrio determinar novas intervenes para

prevenir as lceras e os custos efetivos desse problema para os pases.

Sesso II Fatores Estruturais que Contribuem para o Cuidado Inseguro

11. Determinantes organizacionais e falhas latentes: os chamados acidentes

organizacionais se originam de fatores advindos de diferentes nveis do sistema e podem

envolver vrios processos, falhas latentes ou pouca superviso. Ainda h necessidade de

buscar mais caractersticas e formas de aprimorar os sistemas que no incluem as notificaes

e cultuam a cultura punitiva no mbito organizacional.

12. Reponsabilidade estrutural - o uso da acreditao e regulao para garantir a

segurana do paciente: a acreditao tornou-se o principal mtodo para alcanar a segurana

do paciente. Organizaes acreditadoras existem em ao menos 39 pases, e espera-se que o

nmero cresa. Futuras reas de pesquisa podem incluir a determinao de como os padres

de acreditao e regulao colaboram para a segurana do paciente, os custo efetivos dessas

atividades e como podem ser coordenados os mltiplos esforos para conseguir acreditao.

13. Cultura de Segurana: compreende o compartilhamento de atitudes, valores e

normas relacionados segurana do paciente. Atributos como: comunicao aberta sobre

problemas de segurana; trabalho em equipe efetivo e o suporte de lderes locais e

organizacionais fazem da segurana prioridade e caracterizam uma cultura de segurana do

paciente positiva. Intervenes elaboradas para melhorar apectos da cultura de segurana

incluem a realizao de rondas e exerccios de treinaento em trabalho em equipe. Uma

exigncia para medir e reportar a cultura de segurana com instrumentos padronizados pode

melhorar a qualidade da segurana nas instituies.

14. Treinamento, educao e recursos humanos: as principais ameaas para a

segurana do paciente so os nmeros insuficientes de trabalhadores de sade qualificados e a

falta de conhecimento sobre segurana do paciente. Prevenir o desgaste dos trabalhadores e

proporcionar treinamento adequado pode ajudar a reduzir os dficits na fora de trabalho de

35

sade. Pouco se sabe nos pases desenvolvidos sobre os nveis apropriados de pessoal nos

diferentes contextos clnicos que minimizariam a ocorrncia de eventos adversos, e pouco se

sabe sobre o treinamento e pessoal necessrio para otimizar a segurana do paciente em nvel

ambulatorial. As lacunas no conhecimento sobre o poder do treinamento do pessoal so ainda

mais substanciais em outros pases. Enquanto h um compilado de evidncias que

treinamento inadequado e falta de pessoal qualificado provavelmente so importantes

componentes de uma assistncia segura, pouco se sabe sobre a magnitude desses riscos para a

segurana do paciente.

15. Stress e fadiga: turnos prolongados aumentam os riscos que mdicos e enfermeiros

errem e enfrentem problemas trabalhistas. Estudos so necessrios sobre como otimizar a

continuidade da assistncia e da educao, enquanto se reduz as horas de trabalho dos

profissionais para nveis seguros.

16. Presso de produo: ocorre quando a capacidade do sistema de sade ou de um

trabalhador excedida. difcil quantificar o quanto essa presso influencia nos resultados do

sistema de sade, alguns estudos em andamento tentam analisar a queda nas taxas de quedas,

infeces de trato urinrio e lceras de decbito em relao ao nmero de enfermeiros

trabalhando.

17. Falta de conhecimento apropriado e transferncia de informaes: a existncia de

diferentes nveis de conhecimento afeta no modo de como ele transferido. H pouco treino

para capacitar os trabalhadores para uma comunicao efetiva e o trabalho em equipe. Se faz

necessrio pesquisas que respondam como a comunicao pode melhorar a segurana do

paciente.

18. Dispositivos e procedimentos sem fatores humanos: a engenharia um importante

meio de entender os riscos do cuidado em sade e como reduz-los. importante identificar

modos mais efetivos de investigar a segurana dos dispositivos e riscos associados.

Sesso III Processos que Contribuem para o Cuidado Inseguro:

19. Erros de diagnstico: um enorme e no explorado campo da segurana do paciente,

com grandes taxas de atrasos e diagnsticos errados. A falta de conhecimento no assunto se

d pela dificuldade em estudar o problema, suas causas e consequncias. Alguns modos de

diminuir o problema seriam prover melhor estrutura para o aprendizado, instituir uma cultura

de aprendizado pelo erro identificado e elaborar processos que diminuam os impactos desses

erros e seus atrasos.

36

20. Carncia dos exames de acompanhamento: a taxa de exames de acompanhamento

para realizao de diagnsticos permanecem abaixo do esperado nos pases em

desenvolvimento. Pesquisas so necesrias para melhorar a comunicao entre laboratrio e

paciente e delinear a comunicao remota de resultados de testes para pacientes que

realizaram apenas o teste rpido de diagnstico.

21. Drogas falsificadas e de baixo padro: podem conter substncias diferentes das

desejadas, ou doses menores que as necessrias para o tratamento. Significam um srio risco

para a sade, seu uso repetido pode resultar em falha teraputica, resistncia droga ou at

mesmo a morte.

22. Medidas inadequadas em segurana do paciente: medidas confiveis em segurana

do paciente poderiam ser utilizadas para quantificar e melhorar o cuidado em sade,

fornecendo aos gestores noes de como est o servio oferecido e possveis reas de atuao

para melhorias. As medidas de segurana podem ser classificadas, em acordo a Donabedian,

entre estrutura, processo e resultados. Deveriam ser criados e validados mais instrumentos, e

mtodos existentes deveriam ser refinados e atualizados para melhorar a segurana do

paciente nas organizaes.

23. Falta de envolvimento dos pacientes na prpria segurana: paciente e

acompanhante devem se envolver na segurana do paciente no s para promover um cuidado

mais seguro mas tambm para evitar futuros eventos. O foco para melhorar a segurana do

paciente tem estado apenas em nveis institucionais, e as informaes sobre as consequncias

dos eventos adversos no tem sido compartilhadas publicamente. Envolver os pacientes no

cuidado e na prpria segurana talvez traga novos meios de reduzir eventos considerados

prevenveis. Pesquisas nessa rea poderiam ser realizadas para determinar os efeitos da

assistncia centrada no paciente, na famlia e na segurana do paciente, elucidando as

percepes dos acompanhantes sobre segurana e qualidade.

4.3. Pressupostos

Os pacientes peditricos so seres diferenciados, que necessitam de ateno e

assistncia especial, como: superviso contnua e doses farmacolgicas reduzidas;

A assistncia da Enfermagem influencia na qualidade do cuidado prestado ao paciente

peditrico e sua famlia;

37

Os fatores de risco esto presentes e acompanham todas as etapas da hospitalizao da

criana;

O sistema de sade formado por seres humanos e todos os seres humanos so

passveis de erro, bem como de aprender com eles;

responsabilidade do profissional de sade registrar a ocorrncia de erros e notific-la

para instncias superiores ou em sistemas especficos da instituio;

importante disseminar a idia de uma da cultura no punitiva e que transforme dados

estatsticos em conhecimento e capacitaes para os trabalhadores.

38

5 METODOLOGIA

5.1 Tipo de Estudo

Pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratrio-descritiva. O objetivo de uma

pesquisa exploratria a familiarizao com um assunto ainda pouco explorado. Este tipo de

pesquisa depende da intuio do pesquisador. J a pesquisa descritiva possui como objetivo a

descrio das caractersticas de uma populao, fenmeno ou de experincias, e pode

estabelecer relaes entre variveis, normalmente proporcionando novas vises sobre uma

realidade j conhecida (GIL, 2008).

5.2 Local

Este estudo foi desenvolvido na Unidade de Internao Peditrica (UIP) do Hospital

Universitrio Polydoro Ernani de So Thiago no perodo de setembro e outubro de 2012.

A UIP foi inaugurada em 09 de julho de 1980 e reformada em 31 de janeiro de 2007;

est localizada no segundo andar do prdio, que possui 4 andares, e tem capacidade para

atender 35 crianas.

Sua estrutura fsica conta com uma sala de recreao; uma sala de observao com um

quarto para cuidados especiais (onde atualmente funciona a UTI neonatal, que est com suas

instalaes oficiais em reforma); trs quartos para cuidados especiais com quatro leitos;

quatro quartos para escolares com oito leitos; dois quartos para pr-escolares atendendo uma

capacidade de dez leitos e dois quartos para lactentes atendendo quatro leitos. Alm disso,

possui tambm rouparia, sala de procedimentos e outros ambientes necessrios para seu

funcionamento dentro das normas estabelecidas.

5.3 Participantes

Os participantes da pesquisa foram os profissionais de enfermagem da referida

Unidade que atendessem os seguintes critrios de incluso: atuar h no mnimo um ano no

local, estar em pleno exerccio profissional no perodo da coleta e aceitar assinar o termo de

consentimento livre e esclarecido (APNDICE A). E que no estivessem dentre os critrios

39

de exclusao, que foram: estar na unidade h menos de um ano, estar em frias, de atestado ou

em licena no perodo da coleta e no aceitar assinar o termo de consentimento.

5.4 Etapas da Pesquisa

O estudo foi realizado em sete etapas, sendo as mesmas exploradas abaixo:

1a

Etapa: elaborao do projeto de pesquisa do trabalho de concluso de curso e

encaminhamento do mesmo ao Comit de tica.

2a

Etapa: realizao do pr-teste da entrevista (APNDICE B). O pr-teste foi

realizado com duas enfermeiras e uma tcnica de Enfermagem, cabe ressaltar que estes

profissionais no entraram para a amostra estudada. Aps a anlise do pr-teste, o

questionrio da entrevista foi aprimorado (APNDICE C)

3a Etapa: apresentao do projeto unidade. O projeto foi apresentado Unidade em

diferentes momentos, nos turnos manh, tarde e noite, com o intuito de abranger o maior

nmero de funcionrios e convid-los a participar da pesquisa.

4 Etapa: coleta dos dados. A coleta de dados foi realizada no perodo de setembro e

outubro de 2012, por meio de entrevista semi-estruturada, sendo agendada antecipadamente

com os participantes. A entrevista foi realizada no local de trabalho dos mesmos em sala

reservada e gravada com um gravador digital, aps o consentimento do profissional. O

anonimato do profissional foi assegurado, sendo o mesmo identificado por letras e nmeros,

ou seja, para identificar a categoria profissional foi utilizado letras como: E para enfermeiros,

T para tcnicos e A para auxiliares de enfermagem; e, para se identificar a entrevista foi

acrescido o nmero da mesma.

5a

Etapa: transcrio e anlise das entrevistas. O processo de anlise est descrito

abaixo.

6 Etapa: elaborao dos manuscritos.

7 Etapa: elaborao final do trabalho de concluso de curso.

5.6 Anlise dos dados

Os dados obtidos por meio das entrevistas foram tratados de acordo com o Modo

Operativo de Minayo (2010). O Modo Operativo para anlise de dados qualitativos desdobra-

40

se em trs (03) momentos, a pr-anlise, a explorao do material e o tratamento dos

resultados obtidos e interpretao, que sero descritos abaixo (MINAYO, 2010).

A fase pr-analtica envolve a organizao que objetiva a operacionalizao e

sistematizao das idias que conduziro o desenvolvimento da pesquisa. So escolhidos os

documentos a serem analisados e retomadas as hipteses e os objetivos iniciais do estudo.

Esse momento decompe-se em trs etapas que so: a Leitura Flutuante, onde ocorre um

contato intenso com o material de campo, impregnando-se por seu contedo; a Constituio

do Corpus, onde depois de organizados os dados, busca-se a validao de algumas normas

como a exaustividade do material, a sua representatividade contemplando as caractersticas

do universo pretendido, a homogeneidade, obedecendo aos temas de forma precisa e, a

pertinncia onde verifica-se a adequabilidade dos documentos frente aos objetivos do

trabalho; e, a Formulao e reformulao de Hipteses e Objetivos, que consiste na retomada

da etapa exploratria, realizando leituras exaustivas do material. Devem-se valorizar os

procedimentos exploratrios, visando que a riqueza dos dados coletados no seja ofuscada

pelo tecnicismo. Nesta fase, so determinadas as unidades de registro (palavras-chave; frases),

unidades de contexto, os recortes e suas formas de categorizao e codificao, e os conceitos

tericos mais gerais que guiaro a anlise.

Na fase exploratria o pesquisador busca encontrar expresses e palavras

significativas pelas quais, posteriormente, classificar o contedo, com vistas a atingir a

compreenso dos textos a partir das categorias desveladas.

No ltimo momento, que consiste no tratamento dos dados, as informaes

relevantes oriundas das categorias sofrem inferncias e interpretaes dos pesquisadores

conforme previstas em seu quadro inicial e/ou abrem um leque para novas dimenses tericas

ou de possibilidades interpretativas. Para Ferreira (2010), as inferncias trazem as dedues

lgicas, causas e consequncias. Na interpretao preciso voltar atentamente aos conceitos,

pertinentes investigao, pois eles do o embasamento e as perspectivas significativas para o

estudo. A relao entre os dados obtidos e a fundamentao terica, que dar sentido

interpretao.

5.7 Consideraes ticas

As questes ticas foram contempladas respeitando as normas e diretrizes

regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, definidas na Resoluo 196/96 do

41

Conselho Nacional de Sade Ministrio da Sade, utilizando um Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, com total liberdade de adeso, assegurando o direito do profissional

pesquisado a suspender sua participao no estudo em qualquer momento da coleta de dados

garantindo inclusive a segurana e proteo dos dados em todas as fases do estudo.

Este termo foi fornecido em duas vias para assinatura, sendo que uma ficou com o

pesquisador e a outra com o participante, que foi previamente esclarecido quanto a

metodologia, os objetivos e as finalidades do estudo em questo. O estudo trouxe grau de

risco mnimo aos participantes e nenhum tipo de custo. Como benefcio sustenta a

possibilidade dos mesmos divulgarem seu trabalho, e caso necessrio, receberm futuramente

orientaes adequadas para o aprimoramento de seu conhecimento no intuito de oferecer um

cuidado seguro.

O estudo foi aprovado pelo Comit de tica da Universidade Federal de Santa

Catarina, sob parecer n 108.551.

42

6 RESULTADOS

De acordo com as especificaes da Universidade Federal de Santa Catarina, os

resultados dos estudos devem ser apresentados em forma de manuscritos. Assim, neste estudo

foram elaborados dois manuscritos, que so:

Manuscrito 01: Percepo da equipe de enfermagem sobre os fatores de risco que envolvem

a criana hospitalizada.

Pretende-se enviar este manuscrito para a Revista Anna Nery, da escola de Enfermagem Anna

Nery, RJ.

Manuscrito 02: A relao entre a percepo da equipe de Enfermagem sobre os fatores de

risco segurana do paciente peditrico e as prioridades de pesquisa propostas pela OMS.

Pretende-se enviar este manuscrito para a Revista Enfermagem em Foco, do COFEN-BR.

43

Manuscrito 01

Percepo da equipe de enfermagem sobre os fatores de risco que envolvem a criana

hospitalizada.

RESUMO: Estudo de natureza qualitativa, do tipo exploratrio-descritiva, teve como

objetivo conhecer a percepo da equipe de Enfermagem sobre os fatores de risco que podem

interferir na segurana do paciente peditrico durante sua hospitalizao. Pesquisa

desenvolvida em um Hospital Universitrio do Sul do Brasil. Os dados foram coletados entre

Setembro e Outubro de 2012, por meio de entrevista semi-estruturada com 18 profissionais da

equipe de enfermagem, seguindo critrios de incluso e excluso. Os dados foram analisados

utilizando-se o Modo Operativo de Minayo (2010). As categorias encontradas, mais citadas

durante as entrevistas, foram: definies de fatores de risco, terapia medicamentosa,

identificao do paciente, ambiente fsico e mtodos de barreira. Os resultados mostram que

os membros da equipe de enfermagem convergem em suas percepes, expressando situaes

do cotidiano como fatores de risco, alm de citarem possveis mtodos de barreiras. Assim, a

equipe de enfermagem identifica alguns fatores de risco, s vezes evidenciados pelo

cotidiano, mas no interligando o conceito ao da OMS, principalmente quanto segurana do

paciente. Ressalta-se a necessidade de sensibilizao dos trabalhadores para o

desenvolvimento de estratgias que amplifiquem os olhares sobre os fatores de risco e a

segurana do paciente, e para a implantao de barreiras de segurana.

Descritores: Fatores de Risco. Segurana do Paciente. Enfermagem Peditrica.

44

INTRODUO

O ambiente hospitalar, com sua macrocomplexidade, oferece inmeros riscos,

que so chances da ocorrncia de eventos adversos que podem resultar em efeitos

negativos aos pacientes (SILVA, L. D., 2012). Com isso a assistncia ao paciente

constantemente ameaada pelos fatores de risco, definidos como a probabilidade da

ocorrncia de um incidente durante a assistncia em sade (OMS, 2009).

Resultados internacionais evidenciam o aumento significativo da frequncia de

ocorrncia de eventos adversos durante a assistncia, que repercutem no aumento da

morbimortalidade hospitalar, prolongam o tempo de hospitalizao e aumentam os

custos dos tratamentos (VENTURA, ALVES & MENESES, 2012) (SANTOS, et. al,

2010).

O tema Segurana do Paciente ganhou visibilidade aps os Estados Unidos da

Amrica divulgarem, em 1999, resultados de sade alarmantes. Em To Err is Human

o pas revelou que por l ocorriam de 44.000 a 98.000 mortes anuais decorrentes de

erros do sistema de sade, e que as injrias provocadas pelos eventos adversos

prevenveis movimentavam entre 17 e 29 bilhes de dlares todos os anos (WHO,

2010).

Desde ento, muitos programas foram criados, tanto internacional quanto

nacionalmente, com a finalidade de incentivar as pesquisas e sensibilizar os

profissionais para o problema.

O termo Segurana do Paciente pode ser definido como a reduo do risco e de

danos desnecessrios associados assistncia em sade (OMS, 2010), e protegido e

disseminado dentro da Cultura de Segurana, que uma cultura de aprendizagem

atravs das notificaes dos resultados, onde a segurana de uma organizao

prioridade. A organizao deve focar em recolher o mximo de informao possvel a

respeito dos erros que permeiam seu desenvolvimento, sem expor, acusar ou punir

quem erra, e sim fornecendo subsdios para que essas pessoas aprendam por meio dos

erros (WHO, 2008).

Na tentativa de estabelecer um ambiente seguro e evitar a ocorrncia de erros, a

Cultura de Segurana do Paciente preconiza que os incidentes ocorridos sejam relatados

e notificados, possibilitando posterior anlise dos resultados assistenciais pelos gestores

para que as instituies possam adotar prticas preventivas e educacionais

45

fundamentadas (CORBELLINI, et al, 2011). Para que a notificao do acontecimento

ocorra, recomendvel que o mtodo de punio frente ao erro seja abolido, uma vez

que o medo perante a represso dificulta que os trabalhadores assumam tais

acontecimentos (PAIVA & BERTI, 2010).

Vrios estudos dentro da temtica Segurana do Paciente so realizados

anualmente. Muitos deles evidenciam a fragilidade que o pblico peditrico possui

frente assistncia em sade, como o caso de estudo realizado na Inglaterra, entre

2007 e 2008, com o objetivo de analisar os incidentes que acometem medicao, que

identificou que a faixa etria mais acometida foi a de zero a quatro anos de idade e os

erros de dose e/ou concentrao corresponderam a 23% dos eventos envolvendo

crianas e neonatos. O segundo tipo de erro mais relatado foi o erro de omisso e o

terceiro o erro de administrao (NATIONAL PATIENT SAFETY AGENCY, 2009).

Estudo realizado em uma Unidade de Cuidados Intensivos Peditricos para

atendimento de pacientes oncolgicos registrou 71 notificaes de 110 erros de

medicao, representando uma ocorrncia de 227 erros por 1000 pacientes/dia

(BELELA; PETERLINI; PEDREIRA, 2010).

Nesse contexto, ressalta-se que a populao peditrica, possui risco de dano

trs vezes maior do que adultos na mesma situao (KAUSHAL & BATES, 2001).

Quanto se trata de hospitalizao infantil, muitos fatores esto envolvido para sua

segurana, devido suas especificidades quanto ao seu estgio de desenvolvimento, peso,

idade, rea corporal e condies clnicas. O zelo no cuidado com o paciente peditrico

exige dominar os erros e analisar quais fatores levaram a ele, botando em risco a

segurana da criana, para que seja implementado medidas para melhorar estes fatores,

diminuindo, assim, que cheguem a ser erros (YAMAMOTO; PETERLINI;

BOHOMOL, 2011).

Assim, relevante levantar a percepo da equipe de Enfermagem sobre os

fatores de risco que podem levar os profissionais a cometerem erros no intuito de

promover uma assistncia segura.

A partir disto, o presente estudo teve como objetivo conhecer a percepo da

equipe de enfermagem sobre os fatores de risco que podem interferir na segurana do

paciente peditrico durante sua hospitalizao.

46

MTODO

Estudo de abordagem qualitativa, do tipo exploratrio-descritiva, realizado

com a equipe de Enfermagem de uma unidade de internao peditrica de um Hospital

Universitrio da Regio Sul do Brasil.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro e outubro de 2012, por

meio de entrevista semi-estruturada, aplicada individualmente e no local de trabalho dos

participantes, com agendamento prvio; sendo que as mesmas foram gravadas com o

consentimento dos participantes. A unidade conta atualmente com oito enfermeiros, 26

tcnicos de enfermagem e cinco auxiliares de enfermagem. Cabe ressaltar que os

participantes estavam dentro dos critrios de incluso e excluso do estudo. Os critrios

de incluso foram: ter no mnimo seis meses de atuao no cenrio da pesquisa, estar

em exerccio profissional no perodo da coleta e aceitar participar do estudo, assinando

o termo de consentimento livre e esclarecido. E os de excluso foram: no aceitar

participar da pesquisa, estar afastado, em licena sade ou frias no perodo do estudo.

Realizado antes das entrevistas, o pr-teste do questionrio semi-estruturado com duas

enfermeiras e um tcnico em enfermagem, sendo estes excludos da amostra do estudo.

A partir disto, o questionrio foi reformulado e aplicado aos participantes.

A entrevista semi-estruturada realizada com os participantes do estudo

compreendeu cinco questes, porm neste artigo sero exploradas quatro, pertinentes ao

objetivo proposto, que so: O que voc entende por fatores de risco segurana do

paciente peditrico? Quais os fatores de risco que voc percebe na unidade? Quais

geram intercorrncia com maior frequncia? O que voc faria para que no existissem

esses fatores de risco?

O anonimato do profissional foi assegurado, sendo o mesmo identificado por

letras e nmeros, ou seja, para identificar a categoria profissional foi utilizado letras

como: E para enfermeiros, T para tcnicos e A para auxiliares de enfermagem; e, para

se identificar a entrevista foi acrescido o nmero da mesma.

Aps a transcrio das gravaes os dados obtidos por meio das entrevistas

foram analisados de acordo com o Modo Operativo de Minayo (2010), seguindo as

seguintes etapas: pr-anlise, explorao do material e tratamento dos resultados

obtidos e interpretao.

47

O projeto foi aprovado pelo Comit de tica da Universidade Federal de Santa

Catarina, sob parecer n 108.551, em conformidade com os princpios da resoluo

196/96 do Conselho Nacional de Sade/Ministrio da Sade. Durante a pesquisa, todos

os preceitos ticos foram respeitados.

RESULTADOS E DISCUSSO

Participaram do estudo 18 profissionais da enfermagem, sendo seis

enfermeiras, 11 tcnicos de enfermagem e um auxiliar de enfermagem. Destes, 17 so

do sexo feminino e um do sexo masculino, e atuam na referida unidade em mdia oito

anos. Sete dos profissionais mantm ainda um segundo vnculo empregatcio com outra

instituio.

Aps a anlise e a categorizao das informaes levantadas, foram

identificadas 14 categorias referentes s quatro questes propostas, que foram:

definies de de fatores de risco; procedimentos de enfermagem; identificao do

paciente; terapia medicamentosa; competncias profissionais; ambiente fsico;

transferncia de informaes em frente aos pacientes e entre os profissionais;

diagnstico mdico; imaturidade infantil; higienizao das mos e profissional como

vetor; material permanente e tecnologia; rotatividade dos acompanhantes; dficits no

nmero de profissionais; erro e mtodos de barreiras. Sendo que destas, cinco sero

exploradas neste artigo por terem respondido o objetivo proposto, e terem sido destaque

nas respostas dos profissionais pelo grande nmero de informaes levantadas, que so:

fatores de risco, terapia medicamentosa, identificao do paciente, ambiente fsico e

mtodos de barreira.

Definies de fatores de risco

Os participantes tiveram diferentes formas de expressar o que entendiam sobre

fatores de risco, havendo uma diferena significativa na forma com que os mesmos

responderam. Cinco, dos seis Enfermeiros, responderam com definies tericas,

formando conceitos; e, oito dos doze tcnicos de Enfermagem, responderam com

definies concluindo com exemplos, os outros quatro tcninos responderam citando

exemplos do cotidiano. Esta diferena se ilustra nas seguintes falas:

48

Eu acho que fatores de risco so as situaes a que o paciente est

exposto quando est internado, aqui no nosso caso, quando est internado

aqui na pediatria, que possa trazer algum prejuzo pra ele, que possa

interferir na sade dele, que possa estar causando algum risco. (E 1)

Eu acredito que seja tudo que pode comprometer a sade da criana,

que pode levar a uma falha. Alguma falha que acarrete no

comprometimento na sade da criana. (E. 5)

(...) est relacionada atividade de enfermagem e de outras reas

tambm aqui da unidade, outras equipes de profissionais. Dentistas,

mdicos, psiclogos, at mesmo a limpeza.. para mim cada um tem sua

parcela (...) (T. 12)

(...) fator de risco tudo que pe em risco o cuidado, a sade e a

vida da criana. E na pediatria, ns enquanto profissionais, desdo banho,

medicao, brinquedo... tudo pode ser fator de risco (...) (T. 7)

Comparando-se as respostas com a definio de fator de risco da OMS,

percebe-se que estes profissionais de enfermagem definem o significado de fatores de

risco com as mesmas caractersticas da OMS, mas no realizam essa interligao. Sendo

a definio da OMS fator de risco a probabilidade da ocorrncia de um incidente

durante a assistncia em sade (OMS, 2009).

Os profissionais ainda ressaltam que os fatores