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CENTRO UNIVERSITÁRIO ALVES FARIA (UNIALFA) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO THIAGO LUIZ DE OLIVEIRA FATORES DETERMINANTES DA RETENÇÃO DE ESTUDANTES: ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO Goiânia 2017

FATORES DETERMINANTES DA RETENÇÃO DE … THIAGO LUIZ DE OLIVEIRA FATORES DETERMINANTES DA RETENÇÃO DE ESTUDANTES: ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO Dissertação apresentada

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CENTRO UNIVERSITRIO ALVES FARIA (UNIALFA)

PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO

THIAGO LUIZ DE OLIVEIRA

FATORES DETERMINANTES DA RETENO DE ESTUDANTES:

ESTUDO EM UMA INSTITUIO FEDERAL DE ENSINO

Goinia

2017

THIAGO LUIZ DE OLIVEIRA

FATORES DETERMINANTES DA RETENO DE ESTUDANTES:

ESTUDO EM UMA INSTITUIO FEDERAL DE ENSINO

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao - Mestrado Profissional em

Administrao do Centro Universitrio Alves Faria,

como requisito parcial para obteno do ttulo de

mestre.

Orientador: Professor Dr. Fernando de Rosa

rea:

Gesto Estratgica

Linha de Pesquisa:

Gesto Integrada de Mercados

Goinia

2017

3

Catalogao na fonte: Biblioteca UNIALFA

O49f OLIVEIRA, Thiago Luiz de.

Fatores determinantes da reteno de estudantes: estudo em uma

Instituio Federal de Ensino. / Thiago Luiz de Oliveira 2017.

146 fls.; 30 cm.

Dissertao (Mestrado) Centro Universitrio Alves Faria

(UNIALFA) Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em

Administrao - Goinia, 2017.

Orientador (a): Prof. Dr. Fernando de Rosa.

Inclui anexo e bibliografia

1. Marketing. 2. Evaso. 3. Ensino superior I. Oliveira, Thiago

Luiz de. II. UNIALFA Mestrado em Administrao. III. Ttulo.

CDU: 37:658.8

4

Thiago Luiz de Oliveira

FATORES DETERMINANTES DA RETENO DE ESTUDANTES:

ESTUDO EM UMA INSTITUIO FEDERAL DE ENSINO

Folha de aprovao da dissertao apresentada ao curso de Mestrado Profissional em

Administrao do Centro Universitrio Alves Faria como requisito parcial para a obteno do

ttulo de Mestre.

Aprovado em _______de________________de 2017.

Banca examinadora:

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Fernando de Rosa UNIALFA

Prof. Orientador

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Alcido Elenor Wander - UNIALFA

Prof. Membro

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Valter Afonso Vieira - UEM

Prof. Membro Externo

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado sade e fora para enfrentar o desafio de galgar mais um

degrau em minha formao profissional, superando as dificuldades.

Ao IF Goiano, meu empregador, pelo apoio e pela concesso de incentivo financeiro,

que possibilitou minha capacitao profissional e sua concretizao. Aproveito ainda para

agradecer aos professores Vicente Pereira de Almeida, reitor do IF Goiano, Claudecir

Gonales, pr-reitor de administrao, Fabiano Guimares Silva, pr-reitor de pesquisa e ps-

graduao, Gilberto Silvrio da Silva, diretor do Campus Morrinhos e Rodrigo Vieira da Silva,

diretor de pesquisa e ps-graduao do Campus Morrinhos. Em nome desses gestores, estendo

meus agradecimentos aos demais colegas da instituio que me incentivaram e contriburam

com a realizao deste estudo.

Agradeo ao meu orientador, professor Dr. Fernando de Rosa, pela disponibilidade,

pacincia, sugestes e incentivo.

Agradeo Suellem, minha esposa, que de forma especial e carinhosa me deu fora e

coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades e por me fazer acreditar que eu poderia ir

alm.

Aos meus familiares, em especial minha irm Juliana e meus pais Maruza e Geraldo,

pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

Por fim, agradeo aos estudantes que se dispuseram prontamente em contribuir com a

pesquisa e a todos que direta ou indiretamente fizeram parte e puderam contribuir com esta

formao. A todos vocs o meu muito obrigado!

RESUMO

Com o aumento da competio no mercado de ensino superior, as organizaes educacionais

vm trabalhando cada vez mais a gesto de relacionamento com seus estudantes em busca de

atender seus anseios e de evitar a sua evaso. Diante disso, combater o fenmeno da evaso, e

buscar a reteno de clientes, no contexto de instituies de ensino superior pblicas, tem sido

uma abordagem muito relevante para organizaes educacionais que buscam a correta

administrao e emprego de seus recursos, alm do xito da gesto. Esta pesquisa delimita-se

em estudar os fatores determinantes da reteno de clientes, em uma abordagem exploratria e

descritiva, investigando os estudantes de graduao em curso e evadidos do Instituto Federal

Goiano Campus Morrinhos. Nesse sentido, o objetivo deste estudo avaliar a relao entre os

construtos Qualidade Percebida, Confiana, Comprometimento, Lealdade e Integrao

Acadmica e Social. A pesquisa de campo foi realizada com 314 estudantes de graduao, dos

seis cursos ofertados pelo IF Goiano Campus Morrinhos e consistiu de trs fases distintas,

iniciando por pesquisa documental, e as outras duas etapas na aplicao de questionrio a

estudantes em curso e evadidos. Foi utilizado o modelo terico de Hennig-Thurau, Langer e

Hansen (2001) que busca uma conexo entre os fatores da reteno e lealdade de clientes com

fatores da reteno de estudantes do modelo de Tinto (1975, 1993). A anlise dos dados foi

feita por meio de estatstica descritiva, testes no-paramtricos e aplicao da tcnica PLS -

Partial Least Squares, que evidenciou que h provimento para 6 das 8 hipteses sugeridas na

pesquisa, fortalecendo as relaes propostas entre as variveis. Dos construtos que tiveram

maior impacto na Lealdade/reteno do estudante, destacaram-se o Comprometimento e a

Qualidade Percebida. A partir dos resultados encontrados foram discutidas implicaes

acadmicas e gerenciais.

Palavras-chave: Marketing. Evaso. Reteno de clientes. Ensino superior.

ABSTRACT

As competition in higher education market grows up, the educational organizations have been

working hard to improve customer relationships with their students in order to reach their needs

and to avoid their desertion. In addition, combat the phenomenon of evasion and seek customer

retention, in the context of higher public education institutions, has been a relevant approach to

educational organizations that follows the good principles of administration and the best

resources allocation that drive to the management success. This research sets out to investigate

the determinants of students or customer retention, in an exploratory and a descriptive

approaches, investigating current and evaded undergraduate students from the Institute Federal

Goiano - Campus Morrinhos. In this sense, the main objective of this study is to evaluate the

relationships between perceived quality, trust, commitment, loyalty and academic integration

and social. The field research was carried out with 314 undergraduate students from six courses

offered by IF Goiano - Campus Morrinhos and consisted of three distinct phases, starting with

documentary research and flowing to the other two steps in the questionnaire application to

current and evaded students. We used the theoretical model of Hennig-Thurau, Langer and

Hansen (2001) that seeks a connection between the factors of retention and customers loyalty

with factors of retention of students from Tinto (1975, 1993). The data analysis was performed

by descriptive statistics, non-parametric tests and application of technique PLS-Partial Least

Squares, which showed that 6 of 8 hypotheses suggested in research were validated,

strengthening the relationships between the variables. The constructs that had the greatest

impact on loyalty/retention of a student were commitment and perceived quality. Based on

these results, implications on academic and managerial issues were discussed.

Keywords: Marketing. Evasion. Customer retention. Higher Education.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Matrculas no ensino superior Rede particular e pblica ......................................... 25

Figura 2: Matrculas nos cursos de graduao - modalidades presencial e distncia .............. 25

Figura 3: Evoluo de matrculas na graduao presencial, por grau acadmico 2003-2014 . 27

Figura 4: ndice de evaso nas universidades pblicas e privadas do Brasil ............................. 28

Figura 5: Nveis de Evaso ......................................................................................................... 31

Figura 6: Valores empenhados para manuteno da rede federal .............................................. 45

Figura 7: Modelo de Integrao do Estudante de Tinto ............................................................. 47

Figura 8: Fatores da evaso ........................................................................................................ 48

Figura 9: Estrutura conceitual para a recuperao de clientes.................................................... 59

Figura 10: Modelo terico aplicado na pesquisa ........................................................................ 84

Figura 11: Desempenho de Trabalho Profissional ..................................................................... 91

Figura 12: Evoluo da evaso por perodo ............................................................................... 94

Figura 13: Modelo original - cargas fatoriais das variveis observadas e path coefficients .... 107

Figura 14: Modelo ajustado - cargas fatoriais das variveis observadas e path coefficients.... 113

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Nveis de Evaso ....................................................................................................... 32

Quadro 2: Categorias de evaso. ................................................................................................ 49

Quadro 3: Sntese dos fatores da evaso no ensino superior ...................................................... 51

Quadro 4: Agrupamento de fatores da evaso ............................................................................ 54

Quadro 5: Sntese da populao e amostra da pesquisa ............................................................. 78

Quadro 6: Variveis propostas no instrumento de pesquisa ....................................................... 80

Quadro 7: Hipteses a serem testadas ........................................................................................ 85

Quadro 8: Validao das hipteses do modelo terico............................................................. 116

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estatsticas Gerais da Educao Superior - categoria administrativa - Brasil. 2014 .. 24

Tabela 2: Instituies de educao superior - Brasil 2014 ...................................................... 26

Tabela 3: Evaso total de alunos - 2012 a 2015 ......................................................................... 86

Tabela 4: Evoluo da Evaso por perodo ................................................................................ 87

Tabela 5: Idade dos estudantes evadidos da populao .............................................................. 88

Tabela 6: Gnero ........................................................................................................................ 89

Tabela 7: Idade dos estudantes ................................................................................................... 90

Tabela 8: Estado civil ................................................................................................................. 90

Tabela 9: Renda familiar dos entrevistados ................................................................................ 91

Tabela 10: Situao da matrcula dos entrevistados ................................................................... 92

Tabela 11: Vinculao aos cursos de graduao ........................................................................ 93

Tabela 12: Situao dos cursos de graduao Estudantes evadidos ........................................ 93

Tabela 13: Perfil dos estudantes evadidos .................................................................................. 94

Tabela 14: Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov...................................................... 95

Tabela 15: Teste de Mann-Whitney - comparao das variveis da Qualidade Percebida ........ 97

Tabela 16: Qualidade percebida ................................................................................................. 97

Tabela 17: Teste de Mann-Whitney - comparao das variveis do construto Lealdade .......... 98

Tabela 18: Lealdade.................................................................................................................... 99

Tabela 19: Teste de Mann-Whitney - comparao das variveis da confiana .......................... 99

Tabela 20: Confiana ................................................................................................................ 100

Tabela 21: Teste de Mann-Whitney - comparao das variveis do comprometimento.......... 101

Tabela 22: Comprometimento .................................................................................................. 101

Tabela 23: Teste de Mann-Whitney - comparao das variveis da Integrao Acadmica e

Social. ....................................................................................................................................... 102

Tabela 24: Integrao Acadmica e Social ............................................................................... 103

Tabela 25: Teste do modelo terico original com todas as variveis ....................................... 105

Tabela 26: Validade discriminante dos construtos do modelo terico. .................................... 106

Tabela 27: Coeficiente de determinao - variveis dependentes do modelo terico original 106

Tabela 28: Path coefficients do modelo terico original. ......................................................... 107

Tabela 29: Teste t para o modelo terico original. ................................................................... 107

Tabela 30: Variveis do modelo original com suas respectivas cargas fatoriais...................... 109

Tabela 31: Resultados do modelo terico ajustado .................................................................. 111

Tabela 32: Validade discriminante dos construtos do modelo terico ajustado....................... 111

Tabela 33: Coeficiente de determinao - variveis dependentes do modelo terico ajustado 112

Tabela 34: Path coefficients do modelo terico ajustado. ........................................................ 112

Tabela 35: Teste t para o modelo terico ajustado. .................................................................. 112

Tabela 36: Teste Paramtrico: diferenas entre Evadidos e No-evadidos. ............................. 115

Tabela 37: Teste Welch-Satterthwait: diferenas entre Evadidos e No-evadidos. ................. 115

Tabela 38: Teste PLS-MGA: diferenas entre Evadidos e No-evadidos................................ 115

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AC Alfa de Cronbach

AMA American Marketing Association

ANDIFES Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino Superior

AVE Average Variance Extracted (Varincia Mdia Extrada)

CEFETs - Centros Federais de Educao Tecnolgica

CC Confiabilidade Composta

CEP - Comit de tica em Pesquisa

CRM - Customer Relationship Management

EaD - Ensino Distncia

Enade - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IES - Instituies de Ensino Superior

IF Goiano - Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Goiano

IFs - Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia

IGC - ndice Geral de Cursos

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

ITE - Indicador de Trajetria dos Estudantes de cursos de graduao

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educao

MEC - Ministrio da Educao

PLS Partial Least Squares (Mnimos Quadrados Parciais)

PLS-MGA - Partial Least Squares Multigroup Analysis (Anlise Multigrupos)

RQSL - Relationship Quality-based Student Loyalty

SEM Structural Equation Modeling (Modelagem de Equao Estrutural)

SRM - Student Relationship Management (Gesto de Relacionamento com o Estudante)

SESu - Secretaria de Educao Superior

SETEC - Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica

SINAES - Sistema Nacional da Educao Superior

SISTEC - Sistema Nacional de Informaes da Educao Profissional e Tecnolgica

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCU - Tribunal de Contas da Unio

VD Validade Discriminante

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................................. 14

2 DELIMITAO DO TEMA ........................................................................................... 18

2.1 Problema ..................................................................................................................... 18

2.2 Objetivo Geral ............................................................................................................ 19

2.3 Objetivos Especficos ................................................................................................. 19

2.4 Justificativa ................................................................................................................. 19

2.5 Estrutura do Trabalho .............................................................................................. 21

3 FUNDAMENTAO TERICA ................................................................................... 22

3.1 Expanso do ensino superior no Brasil .................................................................... 22

3.2 O Ensino superior no Brasil e o censo 2014 ............................................................. 24

3.3 Evaso no ensino superior ......................................................................................... 29

3.3.1 Conceitos de Evaso ............................................................................................. 29

3.3.2 Estudos sobre a evaso ......................................................................................... 34

3.3.3 Fatores da evaso e principais causas ................................................................... 46

3.4 Reteno de clientes ................................................................................................... 55

3.4.1 Qualidade Percebida ............................................................................................. 62

3.4.2 Confiana .............................................................................................................. 64

3.4.3 Comprometimento ................................................................................................ 67

3.5 Gesto das IES orientada ao cliente ......................................................................... 70

4 MTODOS E PROCEDIMENTOS ................................................................................ 75

4.1 Delineamento da Pesquisa ......................................................................................... 75

4.2 Definio e descrio da unidade de anlise, populao e amostra ...................... 77

4.2.1 Unidade de Anlise .................................................................................................... 77

4.2.2 Populao e amostra ................................................................................................... 77

4.3 Tcnicas de coletas de dados e instrumento ............................................................ 78

4.4 Tcnica de Anlise de Dados ..................................................................................... 82

4.5 Modelo conceitual ...................................................................................................... 83

5 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS .......................................................... 86

5.1 Descrio dos dados secundrios do IF Goiano Campus Morrinhos ................ 86

5.2 Perfil da Amostra ....................................................................................................... 89

5.3 Anlise dos dados ....................................................................................................... 95

5.4 Anlise do Modelo .................................................................................................... 104

5.4.1 Anlise do Modelo Conceitual Original ............................................................. 105

5.4.2 Anlise do Modelo Conceitual Ajustado ............................................................ 108

5.4.3 Anlise do Modelo Conceitual Ajustado, comparando-se os grupos de estudantes

evadidos e em curso. ......................................................................................................... 114

6 CONCLUSES ............................................................................................................... 117

6.1 Principais contribuies tericas ............................................................................ 117

6.2 Principais contribuies prticas ........................................................................... 118

6.3 Limitaes do presente estudo ................................................................................ 119

6.4 Direcionamento para trabalhos futuros ................................................................ 119

REFERNCIAS ..................................................................................................................... 121

APNDICES ........................................................................................................................... 129

APNDICE A QUESTIONRIO COM ESTUDANTES EM CURSO .............................. 129

APNDICE B QUESTIONRIO COM ESTUDANTES EVADIDOS ............................... 136

APNDICE C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 1 ................ 143

APNDICE D TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2 ............... 145

14

1 INTRODUO

A formao profissional e a conquista do diploma uma meta almejada por milhares

de brasileiros. Neste sentido, as instituies de ensino superior apresentam-se como referncia

para a garantia de um futuro promissor. No entanto, aps o ingresso e frequncia no ensino

universitrio, muitos estudantes evadem de seus cursos quando se deparam com dificuldades.

Diante disso, um dos grandes desafios dessas organizaes enfrentar o fenmeno da evaso.

Para atender a demanda por formao superior no pas, no ano de 1996, com a

promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB), iniciaram-se discusses e

propostas de expanso dessa modalidade de ensino, em nmero de instituies e cursos. Isso

s foi possvel devido s mudanas nas regras. A partir de ento, novas instituies ofertantes

foram implantadas, tanto em mbito pblico quanto privado, este ltimo em maior

quantidade, com destaque para o perodo compreendido entre 1997 e 2009.

Nesse perodo, o nmero total de instituies de ensino superior saltou de 900 para

2.314, registrando um crescimento de 257% (MEC/INEP, 2015). A partir de 2010, verifica-se

uma estabilizao no crescimento do nmero de Instituies de Ensino Superior (IES).

Corroboram-se afirmao os resultados demonstrados pelas notas estatsticas do censo do

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), que registrou

em 2014 um total de 2.368 instituies (MEC/INEP, 2015).

Em relao ao nmero de matrculas na educao superior, o INEP registrou, em 1997

aproximadamente 2 milhes de matrculas, sendo 40% destas em instituies pblicas. J em

2009, o nmero de matriculados atingiu a marca de aproximadamente 6 milhes de

matrculas, registrando acumuladamente nesses doze anos um aumento de 306%, sendo 74%

nas IES privadas e os 26% restantes em instituies pblicas. Entre 2009 e 2014, a taxa de

crescimento registrada foi de 31,4%.

De acordo com as notas estatsticas apresentadas em 2015 pelo INEP, o pas chegou

marca de 7,8 milhes de matrculas na educao superior em 2014, registrando 500 mil

matrculas a mais do que no ano anterior, um crescimento de 7,1% em relao a 2013.

15

O crescimento registrado entre 2013 e 2014 pode estar ligado ampliao do nmero

de municpios que oferecem cursos de graduao, que saltou de 282 em 2003 para 792 em

2014, um aumento de 180%. Parte dessa expanso est relacionada ao aumento das matrculas

na Rede Federal de Ensino e em sua interiorizao (MEC/INEP, 2015).

Os Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia (IFs) e os Centros Federais

de Educao Tecnolgica (CEFETs) proporcionaram um crescimento significativo de

matrculas nos ltimos dez anos, entre 2004 e 2014, passando de 35 mil matriculados para

131 mil, um crescimento de 369%. Em nvel regional, o Instituto Federal Goiano (IF Goiano)

registrou, em 2015, um total de 8.580 alunos, sendo 4.190 nos cursos de nvel mdio, 4.171

nos cursos de graduao e 219 na ps-graduao em suas 12 unidades, que esto localizadas

em municpios do interior de Gois.

De modo geral, diante dos nmeros levantados, possvel perceber que as

organizaes no tem tido grandes problemas em relao atrao de novos clientes e que o

problema tem se centrado na perda e reteno. Nesse sentido, observa-se que as taxas mdias

anuais de evaso so da ordem de 12% em instituies pblicas e 25% nas privadas

(ANDIFES, 2016; ANEC, 2015; UNIFEOB, 2015; UNIVERSIA, 2015). A perda de

estudantes um dos principais problemas para as organizaes educacionais, alm de afetar o

desenvolvimento socioeconmico do pas.

O abandono de estudantes nas instituies pblicas gera prejuzos, provoca

desperdcio de recursos pblicos em todos os aspectos e, ainda, tira a oportunidade de outras

pessoas se qualificarem de forma gratuita na educao superior. Nas instituies pblicas,

estima-se que o custo mdio investido por estudante gira em torno de R$ 15 mil ao ano

(HIPLITO, 2011).

Nas instituies privadas, evaso de estudantes um problema que pode preocupar

ainda mais, pois o fator financeiro fundamental para a sobrevivncia dessas organizaes. J

nas instituies pblicas, os investimentos e a utilizao dos recursos governamentais devem

garantir, alm da concluso do ciclo estudantil e a diplomao, um retorno social ao pas. Seja

em qualquer mbito, a evaso pode gerar ociosidade de professores, corpo tcnico, pessoal de

apoio, laboratrios, salas de aula, dentre outros. Traduzindo os desperdcios em valores,

Hiplito (2011) ressaltou que, em 2009, a evaso acadmica provocou uma perda de

16

aproximadamente R$ 9 bilhes ao pas. Cada evadido representa prejuzo tanto para a

educao, quanto para a economia, em mbito pblico e privado, s instituies e a toda

sociedade.

Diante de tal fato, os gestores das instituies enfrentam problemas que podem ser

motivados por fatores internos, ligados ao curso e instituio, e externos, relacionados ao

estudante. Para entender e enfrentar a perda de estudantes torna-se essencial a realizao de

estudos, utilizando-se das estratgias do marketing empresarial, baseadas no relacionamento,

com o foco na reteno de clientes.

Vale ressaltar que mesmo que algum tenha receio de chamar alunos de clientes

devido relao professor-aluno, isto no altera o fato de que, sem alunos, no haveria

necessidade de faculdades (FONTAINE, 2014).

Devido relevncia do assunto, o Tribunal de Contas da Unio (TCU) se manifestou a

respeito da evaso, em auditoria operacional sobre as aes da Rede Federal de Educao

Cientfica e Tecnolgica. Constataram-se como baixas as taxas de concluso dos cursos

superiores em nvel nacional, sendo 25,4% para licenciaturas; 27,5% para bacharelados e

42,8% para os tecnolgicos. Frente aos indicadores apresentados, evidenciou-se a necessidade

de se pesquisar e identificar fatores que podem estar ligados evaso nos Institutos Federais

de Educao, Cincia e Tecnologia, para subsidiar o desenvolvimento de aes e polticas

para atrao e permanncia dos estudantes, diminuindo as taxas de abandono (TCU, 2012).

Buscar identificar e compreender os principais fatores da evaso de clientes uma

necessidade para qualquer tipo de organizao empresarial, em qualquer ramo de atividade.

Nas organizaes educacionais, essa busca visa auxiliar a correta aplicao dos recursos,

atender ao propsito social e a promover o xito da gesto. Esse um dos assuntos de grande

relevncia para essas organizaes, pois os investimentos e recursos despendidos para custear

o estudante evadido no so recuperados, que se caracterizam como desperdcios de recursos

econmicos, acadmicos e sociais, e atingem todo o sistema educacional, governos e

sociedade (CUNHA et al., 2015; SILVA FILHO et al., 2007).

Diante do crescimento da concorrncia no setor educacional, Instituies Federais de

Educao, mesmo sem visar lucros, mas com a necessidade de prestao de contas, disputam

17

por estudantes com diversas outras organizaes, visto que a disponibilizao de recursos

financeiros para essas organizaes federais est atrelada ao quantitativo de estudantes.

Utilizar-se de estratgias de marketing de relacionamento para um melhor conhecimento de

seu pblico-alvo so importantes meios para alcanar suas metas, que se concentram em

atrair, manter e construir relacionamentos com a sociedade.

Uma boa gesto organizacional se consolida com a correta administrao e emprego

de seus recursos, de qualquer espcie. Nesse sentido, a permanncia de alunos (clientes)

fundamental para garantir a sustentao dessas organizaes, cumprir com seu compromisso

social e com o crescimento econmico do pas, proporcionando a melhoria na qualidade de

vida dos cidados.

A exemplo do que ocorre em organizaes empresariais de bens e de servios, a

reteno do aluno necessria tal como a reteno de clientes, pois o custo de captura de

novos clientes e a perda de receita com a desero dos atuais, alm da ociosidade, pode

fragilizar os resultados de uma companhia.

O estudo em questo foi realizado no Instituto Federal de Educao, Cincia e

Tecnologia Goiano (IF Goiano), no Campus localizado no municpio de Morrinhos, que se

encontra no interior do estado de Gois, cuja populao atual, de acordo com o censo do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE (2014) de 44.204 habitantes. A maior

vocao econmica do municpio est ligada ao agronegcio, mas tambm h uma forte

atuao na agroindstria e no processamento de alimentos, que constituem suas principais

fontes de arrecadao de recursos financeiros e de gerao de empregos.

O IF Goiano - Campus Morrinhos contribui com a formao de mo de obra

especializada nas reas de Cincias Agrrias, Alimentos, Informtica e formao de

professores, desenvolvendo o capital intelectual e qualificando cidados com o propsito de

atender s necessidades do mercado de trabalho e contribuir com o desenvolvimento

socioeconmico local, regional e nacional. Numa economia altamente competitiva, faz-se

necessrio diminuir os ndices de evaso que prejudicam a economia local no fornecimento de

mo de obra especializada. Ademais, a concluso da formao superior representa a

possibilidade de realizao pessoal e ascenso profissional, melhoria da remunerao e novas

oportunidades de vida.

18

2 DELIMITAO DO TEMA

Para delimitao do tema necessrio definir o assunto, o quanto dele se pesquisar,

sua abrangncia, bem como as contribuies para a rea estudada. Assim, importante deixar

clara a definio do problema de pesquisa, alm de seu objeto de estudo. Pode-se ainda

estabelecer alguns critrios para a delimitao do tema, como as circunstncias, o espao e o

tempo. O critrio espacial define o local onde o fenmeno estudado ocorre. Tambm se utiliza

o critrio temporal, que determina o perodo em que o fenmeno ser estudado, que pode se

dar no passado ou presente (GIL, 2008).

Quando se fala em evaso no ensino superior, deve ser levado em considerao que

existem diferentes modalidades e nveis de classificaes, encontradas na reviso realizada e

inseridas neste estudo, o qual considera a evaso a sada tanto temporria, quanto definitiva

do estudante, do seu curso de origem, sem a obteno da diplomao. Alm disso, por meio

do marketing de relacionamento, busca-se uma melhor compreenso dos fatores ligados

reteno de alunos, numa viso orientada ao cliente.

Esta pesquisa delimita-se em estudar os fatores determinantes da reteno de clientes,

investigando os estudantes de graduao em curso e evadidos, das diferentes modalidades e

cursos do IF Goiano Campus Morrinhos, localizado no interior do estado de Gois.

2.1 Problema

A evaso de estudantes no ensino superior um problema recorrente, em nvel

mundial e preocupa as instituies de ensino e seus profissionais (SILVA FILHO, et al.,

2007; FURTADO; ALVES, 2012). No Brasil, existe a preocupao de combat-la, pois ela

prejudica a administrao das instituies escolares, o desenvolvimento de polticas

educacionais e gera desperdcios de recursos econmicos, dentre outros, para governos,

profissionais, alunos evadidos e sociedade.

Neste sentido, buscar a viso mercadolgica dos fatores relacionados reteno de

clientes, discutidos pelo marketing de relacionamento, fundamental para contribuir com a

19

promoo de polticas e aes que objetivem o xito da gesto. Assim, elegeu-se como

problema a ser estudado a evaso de estudantes de graduao dos cursos presenciais do

Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Goiano, na unidade de Morrinhos, por

meio do seguinte questionamento: considerando as relaes entre estudante e IES, como se

manifestam os antecedentes da reteno de estudantes de graduao (clientes) de uma

instituio pblica federal?

2.2 Objetivo Geral

O objetivo geral refere-se a uma viso global do tema. Para essa pesquisa, tem-se

como objetivo geral avaliar a relao entre os construtos Qualidade Percebida, Confiana,

Comprometimento, Lealdade e Integrao acadmica e social, considerando a abordagem

mercadolgica de reteno de clientes.

2.3 Objetivos Especficos

Os objetivos especficos apresentam um carter mais peculiar, pois tem como funo

auxiliar o alcance do objetivo geral, para as situaes prprias e particulares. Desse modo,

elencou-se como objetivos especficos:

1. Conhecer o perfil dos estudantes que evadem do ensino superior na instituio;

2. Analisar o comportamento das variveis entre os grupos investigados (estudantes de

graduao em curso e evadidos);

3. Analisar a relao entre os construtos qualidade percebida, confiana,

comprometimento e lealdade.

2.4 Justificativa

A evaso um fenmeno que ocorre em nvel mundial, que afeta todos os sistemas

educacionais, provoca prejuzos econmicos, sociais e acadmicos (WENG; CHEONG;

CHEONG, 2010; SILVA FILHO et al., 2007). No Brasil, identifica-se tambm a

20

problemtica e preocupao com o assunto (CUNHA et al., 2015). Ressalta-se que estudar a

evaso no se restringe apenas em aferir quantos alunos ingressaram menos os que saram,

mas apurar os motivos da entrada/sada, no intuito de evitar outras perdas pelos mesmos

motivos (KOTLER; FOX, 1994), alm de possibilitar estabelecer estratgias para lidar com o

problema (AMBIEL et al., 2016).

A perda de alunos (clientes) nas organizaes educacionais pode estar relacionada a

uma diversidade de fatores ligados ao sistema educacional, instituio e ao prprio estudante.

Para compreend-la, torna-se essencial desenvolver estudos e anlises sobre o tema. Alm de

identificar os motivos, faz-se necessrio desenvolver relacionamentos de qualidade com os

clientes das IES, no intuito de buscar atender suas necessidades e expectativas, criar uma

situao de ganha-ganha para todos e minimizar o problema.

O interesse pela escolha do tema justifica-se, do ponto de vista prtico, como forma de

contribuir com a organizao para a gesto eficaz dos recursos pblicos, buscar uma melhor

orientao para o mercado, e atender o seu propsito social. Esta pesquisa permite um melhor

conhecimento da viso dos indivduos em relao a essas organizaes e subsidia escolhas e

tomada de decises estratgicas, que podero acarretar em melhoria da permanncia e na

busca de solues. Assim, este estudo uma forma de contribuio acadmica e cientfica

para essas organizaes, que pode trazer uma maior aproximao para a viso mercadolgica

da reteno de clientes, estudada no marketing de relacionamento e adotada por inmeras

empresas.

Estudar a evaso um desafio, visto a dimenso de fatores que podem ocasion-la.

Utilizar-se do marketing de relacionamento pode ser um caminho mercadolgico para

responder s evases. Ademais, dada a necessidade de se obter informaes sobre os

desertores, o acesso aos dados secundrios da instituio pesquisada pelo autor foi primordial

para este estudo, que no tem a pretenso de esgotar o tema, mas ser uma contribuio para a

continuao e o desenvolvimento de demais pesquisas sobre o assunto.

O resultado deste estudo ser til aos gestores e aos demais agentes pblicos do

Instituto Federal Goiano, possibilitando-os conhecer os principais motivos da evaso,

promover polticas para a melhoria da gesto acadmica e buscar a permanncia e satisfao

de seus clientes, ou seja, estudantes que tm como meta a concluso de seus cursos, a

21

formao profissional e a conquista do diploma. Portanto, no mbito pblico, combater a

evaso significa eficincia da administrao pblica e a otimizao dos recursos aplicados.

2.5 Estrutura do Trabalho

O trabalho est estruturado em 6 captulos. No captulo 1, faz-se uma introduo que

contempla a exposio do tema, a expanso do setor e a importncia da reteno de clientes,

no contexto das instituies de ensino superior no pas.

No captulo 2, define-se o que e quanto se pesquisar do assunto e sua abrangncia,

apresentando o problema de pesquisa, que resulta na questo norteadora, a definio dos

objetivos e a justificativa.

No captulo 3, apresenta-se a fundamentao terica com o objetivo de aprofundar a

discusso sobre o estudo da evaso no ensino superior. Tem-se o intuito de abordar as

caractersticas relacionadas ao processo de evaso nas instituies; os conceitos relacionados

ao fenmeno e apresentar alguns estudos sobre o tema encontrados na literatura. Abordar-se-

, ainda, questes relacionadas aos desafios da gesto das instituies educacionais e sobre os

antecedentes da reteno de clientes estudados pelo marketing de relacionamento.

No captulo 4, tem-se a definio dos procedimentos metodolgicos aplicados

pesquisa, definindo-se os mtodos, as tcnicas e o modelo conceitual adotado. Define-se

ainda, a populao, a amostra e as formas de coleta e anlise de dados a serem utilizadas.

No captulo 5, apresentam-se as anlises e interpretao dos dados da pesquisa

realizada. Inicia-se por uma anlise descritiva de dados secundrios dos evadidos e, por fim,

por meio de Modelagem de Equaes Estruturais Partial Least Squares (PLS) investigaram-

se os construtos antecedentes da reteno de clientes, na percepo dos estudantes de

graduao em curso e estudantes evadidos, buscando conhecer como se d a relao entre a

instituio e os estudantes.

No captulo 6, apresentam-se as concluses e consideraes finais sobre os resultados

obtidos na pesquisa. No final, encontram-se as referncias, os apndices e os anexos.

22

3 FUNDAMENTAO TERICA

Este estudo se desenvolve a partir da temtica da evaso nos cursos de graduao do

ensino superior. Inicialmente, faz-se um apanhado geral sobre a expanso do ensino superior,

demonstrando a evoluo deste segmento. Em seguida, busca-se apresentar o panorama da

educao superior perante a temtica da evaso.

Para se estudar a evaso escolar, com foco principal no ensino superior, realizada

uma reviso de teorias aplicadas em estudos sobre a evaso. Busca-se a conceituao e

definio de alguns termos ligados ao tema. Em seguida, abordar-se-, por meio de reviso

bibliogrfica, os principais fatores da evaso de estudantes em instituies de ensino superior,

alm de buscar uma melhor compreenso sobre o comportamento do consumidor, abordando

os fatores relacionados reteno de clientes, estudados pelo marketing de relacionamento.

3.1 Expanso do ensino superior no Brasil

O aumento da populao e a busca pela formao profissional no ensino superior fez

com que os governos buscassem novas formas de ampliao no acesso a essa modalidade de

ensino. No ano de 1996, por meio da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educao,

surgem novas diretrizes para o ensino, e dentre as diversas inovaes, a possibilidade de

expanso do setor.

Carneiro (2012) ratifica a ideia proposta pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e

complementa que, na reformulao da LDB e suas diretrizes, foram levados em considerao

fatores relevantes como os que envolvem o trabalho, a famlia, as instituies de ensino, a

pesquisa e as organizaes da sociedade civil que contribuem na formao do indivduo. Em

1997, por meio de decreto presidencial, foi possvel uma reorganizao das instituies de

ensino superior no pas e permitiu-se regulamentar a implantao de novas instituies

particulares com finalidade lucrativa.

O decreto presidencial n. 5.773, de 2006, o instrumento que atualmente dispe sobre

as regras para o exerccio das funes de regulamentao, superviso e avaliao de

23

instituies de educao superior e cursos superiores de graduao, utilizados para

acompanhar as novas instituies implantadas e as existentes. O artigo 3 deste decreto

discorre sobre as competncias e os respectivos rgos regulamentadores

Art. 3o As competncias para as funes de regulao, superviso e avaliao sero

exercidas pelo Ministrio da Educao, pelo Conselho Nacional de Educao -

CNE, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira -

INEP, e pela Comisso Nacional de Avaliao da Educao Superior - CONAES, na

forma deste Decreto (BRASIL, 2006).

Em relao educao superior, destacam-se fragmentos da Lei que versam sobre a

possibilidade de expanso de cursos e instituies, conforme disposto na Lei 9.394 de 1996

Art. 9 A Unio incumbir-se- de:

IX autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os

cursos das instituies de educao superior e os estabelecimentos do seu sistema de

ensino.

Art. 45 A educao superior ser ministrada em instituies de ensino superior,

pblicas ou privadas, com variados graus de abrangncia ou especializao.

Art. 46 A autorizao e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de

instituies de educao superior, tero prazos limitados, sendo renovados,

periodicamente, aps processo regular de avaliao (BRASIL, 1996).

Ainda, segundo as anlises de Carneiro (2012), o artigo 45 da LDB assegura a oferta

da educao superior em instituies pblicas e privadas. Assim, o autor faz uma anlise em

consonncia Constituio Federal de 1988.

Este artigo tem vinculao direta com os arts. 206, III, e 209 da Constituio

Federal. Por esta razo, preservando dispositivos constitucionais, assegura a

ministrao da educao superior em instituies pblicas e privadas. Neste ltimo

caso, evidente a necessidade de as instituies privadas cumprirem as normas

gerais da educao nacional (Art. 209, I da Constituio Federal). Tais instituies

funcionaro com programas de ensino de nvel e de natureza variados. Estes

programas podero estar em universidades e em instituies no universitrias

(LDB, Art. 48, 1 apud CARNEIRO, 2012, p. 379).

A LDB contempla a expanso do ensino superior, em mbito pblico e privado, alm

das diversas modalidades de instituies ofertantes. Para o acompanhamento e aferio da

qualidade da educao superior, o MEC se utiliza de trs instrumentos: as avaliaes

aplicadas pelo Sistema Nacional da Educao Superior (SINAES), que se constitui de trs

tipos de avaliaes (de cursos de graduao, institucional e o Exame Nacional de

Desempenho dos Estudantes Enade); o segundo a avaliao da Capes para cursos de ps-

24

graduao e por ltimo o ndice Geral de Cursos (IGC) para a graduao e ps-graduao

(CARNEIRO, 2012, p. 385).

Portanto, a partir da facilitao das regras, o setor da educao superior no Brasil

experimentou um movimento de franca expanso, que pode ser melhor visualizado por meio

de informaes fornecidas pelo censo da educao superior, no captulo a seguir.

3.2 O Ensino superior no Brasil e o censo 2014

Pesquisas realizadas pelo censo da educao superior do INEP/MEC so importantes

instrumentos que contribuem na gerao de informaes, elaborao de estudos e pesquisas

sobre o setor. Suas informaes demonstram o cenrio atual do ensino superior no pas, alm

de subsidiar a formulao, o monitoramento e a avaliao das polticas pblicas para gestores

educacionais, empresrios e toda a sociedade.

Por meio de resumo tcnico e das notas estatsticas publicadas em 2015, verifica-se no

ano de 2014 um total de 2.368 IES, que ofertaram 32.878 cursos. Obteve-se um total de

7.828.013 de estudantes matriculados na graduao, alm de 299.355 matriculas em cursos de

ps-graduao stricto sensu. Na Tabela 1 apresentado um resumo das estatsticas da

educao superior, por categoria administrativa.

Tabela 1: Estatsticas Gerais da Educao Superior - categoria administrativa - Brasil. 2014

Estatsticas Bsicas

Categoria Administrativa

Total

Geral

Pblica Privada

Total Federal Estadual Municipal

Nmero de Instituies 2.368 298 107 118 73 2.070

Educao Superior - Graduao

Cursos 32.878 11.036 6.177 3.781 1.078 21.842

Matrculas 7.828.013 1.961.002 1.190.068 615.849 165.085 5.867.011

Ingresso Total 3.110.848 548.542 346.991 148.616 52.935 2.562.306

Concluintes 1.027.092 241.765 128.084 89.602 24.079 785.327

Educao Superior Ps-Graduao Stricto Sensu

Matrculas 299.355 251.096 170.128 79.633 1.335 48.259

Fonte: Adaptado MEC/INEP (2015).

25

Entre 2000 e 2014, as matrculas na rede pblica cresceram 120% e nas privadas,

224% no mesmo perodo (Figura 1), conforme dados do Censo da Educao Superior de 2014

(MEC/INEP, 2015).

Figura 1: Matrculas no ensino superior Rede particular e pblica

Fonte: Elaborado a partir de dados do censo 2014 (MEC/INEP, 2015).

A Figura 2 exibe a evoluo do nmero de matrculas nos cursos de graduao

(modalidades presencial e a distncia) no Brasil, perodo entre 2003 e 2014.

Figura 2: Matrculas nos cursos de graduao - modalidades presencial e distncia

Fonte: Elaborado a partir de dados do censo 2014 (MEC/INEP, 2015).

1.2

51

.36

5

88

8.7

08

1.9

61

.00

2

1.8

07

.21

9

3.6

32

.48

7 5.8

67

.01

1

2.6

94

.24

5 4

.88

3.8

52

7.8

28

.01

3

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Rede Pblica Rede Particular Total

7.8

28

.01

3

6.4

86

.17

1

1.3

41

.84

2

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

9.000.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Presencial + EaD Presencial EaD

26

Por meio da anlise dos dados apresentados possvel observar que anualmente ocorre

um aumento, ainda que discreto, de matrculas de estudantes nos cursos de graduao no

Brasil. Os dados apresentados ratificam o crescimento da oferta de vagas e o aumento de

ingressantes no ensino superior. O aumento de matrculas se justifica, dentre os principais

fatores, pela demanda por mo de obra qualificada, aumento de vagas nas redes privadas e

pblicas, interiorizao das IES e aumento dos subsdios, nas polticas de fomento e

financiamento.

Verifica-se que, aps 11 anos, (de 2003 a 2014), o nmero total de matrculas em

cursos de graduao, considerando todas as modalidades, praticamente dobrou, saltando de

3.936.933 para 7.828.013, um aumento de 99,42%. Destes quase oito milhes, 6.486.171

matrculas em cursos presenciais, e 1.341.842 no ensino a distncia (EaD). Em relao ao

setor pblico, 89% das matrculas se concentram nas universidades e os 11% restantes nas

demais instituies, dentre elas, os Institutos Federais de Educao (IFs) e os Centros

Federais de Educao (Cefets) (MEC/INEP, 2015).

Das matrculas efetuadas, verifica-se que as universidades representam pouco mais de

8% das instituies ofertantes da educao superior, totalizando 195 instituies. Em

contrapartida, elas so responsveis por 53,2% do total de matrculas. Atualmente, 90% dos

cursos ofertados pelas universidades so na modalidade presencial. Os IFs e os Cefets, apesar

de apresentarem um nmero modesto de matrculas, so responsveis pela interiorizao do

ensino pblico federal no pas. A Tabela 2 mostra as instituies ofertantes da educao

superior no Brasil, por organizao acadmica.

Tabela 2: Instituies de educao superior - Brasil 2014

Organizao Acadmica Instituies Matrculas de Graduao

Total % Total %

Total 2.368 100,0 7.828.013 100,0

Universidades 195 8,2 4.167,059 53,2

Centros Universitrios 147 6,2 1.293.795 16,5

Faculdades 1.986 83,9 2.235.197 28,6

IFs e Cefets 40 1,7 131.962 1,7

Fonte: Elaborado a partir de dados do censo 2014 (MEC/INEP, 2015).

27

Em relao ao grau acadmico, os cursos de bacharelado predominam na educao

superior no Brasil e representam o maior nmero de matrculas, correspondendo a 67,6% do

total (Figura 3). Os cursos de licenciaturas e os tecnolgicos possuem respectivamente 18,7%

e 13,2%. Do total de matriculados, 63% estudam em perodo noturno e 37% no diurno.

Figura 3: Evoluo de matrculas na graduao presencial, por grau acadmico 2003-2014

Fonte: Elaborado a partir de dados do censo 2014 (MEC/INEP, 2015).

Nos principais resultados divulgados pelo censo do INEP (MEC/INEP, 2015), os

cursos de graduao que apresentaram o maior nmero de matrculas, ingressantes e

concluintes, foram os de administrao, direito e pedagogia, que totalizaram mais de 2,2

milhes, ou seja, 32% do total de alunos matriculados na educao superior em 2014. Juntos,

os trs cursos somam 807 mil ingressantes e, ainda, 313 mil concluintes.

O Ministrio da Educao, baseado em dados do censo da educao do INEP,

verificou uma mudana nos ndices da evaso nas IES pblicas, do patamar de 13% em 2000

para 10,5% em 2009, enquanto nas IES privadas, de 22,1% para 24,5% no mesmo perodo.

Hiplito (Portal G1, 2011) ressalta que apenas cerca de 47% dos estudantes se titularam aps

quatro anos na faculdade, e dentre os vrios fatores do abandono, encontram-se dificuldades

financeiras, suporte acadmico e pedaggico. A Figura 4 a seguir exibe os ndices de evaso

nacional nas universidades pblicas e privadas do Brasil.

Bacharelado 5.309.414

Licenciatura 1.466.635

Tecnolgico 1.029.767

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

28

Figura 4: ndice de evaso nas universidades pblicas e privadas do Brasil

Fonte: Portal G1 (2011).

Entre 2010 e 2014 houve um aumento na taxa de desistncia na trajetria discente,

segundo publicao do Portal Brasil de outubro de 2016, baseada em dados do INEP. Em

2010, 11,4% dos estudantes abandonaram o curso para o qual foram admitidos. Em 2014, esse

nmero chegou a 49%. Assim, cerca dos 8 milhes de vagas disponveis, somente 42% esto

preenchidas e 13,5% das remanescentes foram ocupadas (PORTAL BRASIL/MEC, 2016).

Os dados sobre as vagas remanescentes so de certa forma um indicativo de no

preenchimento de vagas em processos seletivos e tambm de evaso, o que indica pouca

eficincia do sistema. Conforme o INEP (MEC/INEP, 2015) verifica-se 115 mil vagas

remanescentes em instituies federais. Se considerar todas as categorias de IES pblicas, o

nmero sobe para cerca de 174 mil vagas.

Diante dos dados do INEP, verifica-se que ocorre uma expanso das organizaes do

mercado educacional. O aumento da oferta de servios provoca naturalmente uma maior

concorrncia por alunos, alm de outros desafios, como sua reteno na organizao.

O setor educacional superior no Brasil alcanou um estgio de mercado competitivo

em franca expanso em mbito pblico e, ainda mais intenso, no mbito privado. Por meio

dos dados do censo da educao superior do INEP/MEC, possvel identificar este cenrio

competitivo (BERGAMO; FARAH; GIULIANI, 2007).

29

No entanto, depois de anos em franco crescimento, comeou-se a perceber um desafio

para as organizaes que atuavam neste setor. Alm de enfrentar as aes da concorrncia que

crescia a cada ano, as escolas se depararam com a evaso dos alunos (BERGAMO; FARAH;

GIULIANI, 2007, p.1). Diante disso, buscar entender os fatores da evaso para traar

estratgias para a reteno de alunos torna-se essencial para atingir ndices satisfatrios nas

organizaes escolares, como em qualquer organizao empresarial, de qualquer segmento.

3.3 Evaso no ensino superior

A evaso um problema que se manifesta nas diversas instituies de ensino superior

em todo o mundo, com maior ou menor intensidade, e vrios pesquisadores dedicam seus

estudos para uma melhor compreenso e anlise de sua ocorrncia.

Neste sentido, busca-se neste captulo a conceituao e definio de alguns termos

ligados ao tema, alm de uma reviso bibliogrfica sobre estudos e os principais fatores da

evaso em instituies de ensino superior.

3.3.1 Conceitos de Evaso

O significado de evaso encontrado no dicionrio da lngua portuguesa como

desistncia, abandono, desligamento, fuga, sada (BECHARA, 2011). Para o Ministrio da

Educao (MEC) evaso a sada definitiva do curso de origem sem concluso, ou a

diferena entre ingressantes e concluintes, aps uma gerao completa (MEC/SESu, 1997, p.

19).

A evaso o abandono acadmico que consiste na desistncia do curso no qual se

ingressou, sem sua concluso, transferindo-se para outro curso ou abandonando de forma

definitiva a faculdade, que interpretado por Albuquerque (2008) como um insucesso

acadmico, que pode ser explicado pelo desinteresse, desmotivao e dificuldades de

absoro de conhecimentos e mtodos.

30

Para a Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso (MEC/SESu, 1997), evaso o

desligamento do estudante do curso superior em diferentes situaes. Tal comisso identificou

que h casos de evaso da instituio, quando o estudante abandona a instituio e ainda

evaso do sistema, quando h o abandono temporrio ou definitivo do ensino superior.

Verificam-se diversas definies e interpretaes para o fenmeno, as quais ainda podem

variar, de acordo com o regulamento de cada instituio.

Ribeiro (2005, p.56) definiu a evaso como o desligamento do sistema de ensino

superior, sem transferncia externa ou interna, marcado pelo desligamento de uma

universidade e o no ingresso em nenhuma outra.

Bas (2008) visualiza a evaso como o abandono do estudante da organizao, que

pode se dar por cancelamento, transferncia ou trancamento, constituindo-se em uma ameaa

ao bom funcionamento e gerenciamento de um curso especfico ou da instituio.

Numa viso geral do problema, a evaso entendida como uma perda coletiva, de

recursos e tempo, para alunos, professores, instituies e todo o pas, tanto para a educao

quanto para a economia, e constitui-se como um dos maiores problemas das organizaes de

educao superior pblicas e privadas (LOBO, 2012). Essas perdas atingem toda a sociedade,

pois os cidados pagam, direta ou indiretamente, pela sua prpria educao e de seus

familiares (CUNHA et al., 2015)

A Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica (SETEC) do Ministrio da

Educao, por meio do Sistema Nacional de Informaes da Educao Profissional e

Tecnolgica (SISTEC) classifica como evaso a situao em que o estudante abandonou o

curso, no realizando a renovao da matrcula ou formalizando o desligamento/desistncia

do curso. Para a SETEC, o estudante evadido aquele que pe fim em seus estudos sem obter

xito, classificando tal fato como insucesso (MEC/SETEC, 2014).

Por meio dos estudos da Comisso Especial, em relao evaso nas Universidades

Pblicas (MEC/SESu, 1997, p. 19), acordou-se que se no h unanimidade em relao ao

conceito, fundamental dimension-lo em funo do objeto particular ao qual est ele

referido, em cada estudo. Esse cuidado evita que o conceito se generalize e se desfigure da

realidade.

31

Diante dos diversos conceitos, percebe-se que a evaso escolar o abandono do curso,

da instituio ou do sistema educacional pelo estudante, de modo definitivo ou temporrio,

sem a concluso do ciclo estudantil. O fenmeno em muitos casos pode ser reflexo da

realidade vivenciada em nveis anteriores de ensino, e isso pode motivar de diversas formas o

estudante para o abandono de seu curso (BAGGI; LOPES, 2011).

Mesmo no existindo uma padronizao de um conceito geral de evaso, os

pesquisadores do Brasil e de outros pases concordam em dizer que reter os clientes (alunos) e

evitar sua evaso algo complexo e de difcil soluo. Essa complexidade se deve ao fato de

que o abandono est ligado a um conjunto de fatores, os quais influenciam a deciso de

permanncia ou no do estudante em seu curso. Assim, h unanimidade em dizer que ela

provoca desperdcios econmicos, acadmicos e sociais e faz com que todos percam, pois

compromete o desenvolvimento de um pas (SILVA FILHO, et al., 2007; TIGRINHO, 2008;

WENG; CHEONG; CHEONG, 2010; LOBO, 2012; AMBIEL, 2016). Diante disso, verifica-

se a importncia e a necessidade de gerenciar o relacionamento com estudantes nas

faculdades, a partir de seu contato inicial at a concluso da graduao (FONTAINE, 2014).

Quando se fala em evaso do ensino superior, alm da importncia do tema e de seu

conceito, se faz importante, ainda, caracterizar e diferenciar seus nveis e abrangncias

(Figura 5), que so evaso do curso, da instituio e do sistema (MEC/SESu, 1997;

ANDRIOLA; ANDRIOLA; MOURA, 2006).

Figura 5: Nveis de Evaso

Fonte: Adaptada de Prim e Fvero (2013).

Os nveis de evaso possuem caractersticas prprias, conceituados no Quadro 1:

32

Quadro 1: Nveis de Evaso

Evaso de curso

O estudante desliga-se do curso superior.

Situaes: abandono (deixa de matricular-se), desistncia

(oficial), transferncia ou mudana de curso, excluso por

norma institucional.

Evaso da instituio O estudante desliga-se da instituio na qual est matriculado.

Evaso do sistema O estudante abandona de forma definitiva ou temporria o

ensino superior.

Fonte: MEC/SESU (1997).

Fortalecendo os conceitos, a evaso de curso pode ser entendida como a migrao de

um curso para outro, dentro da prpria instituio, que pode estar ocasionada com a

insatisfao com a carreira escolhida ou mesmo por qualquer outra razo (PALHARINI,

2010; AMBIEL, 2016).

A evaso da instituio a perda do vnculo do estudante com a instituio de origem.

Nesta modalidade de evaso, o estudante abandona a instituio de origem e vai para outra,

para o mesmo curso ou no (ACKERMAN; SCHIBROWSKY, 2008; PALHARINI, 2010).

J a evaso do sistema a modalidade em que o estudante abandona de forma

definitiva ou temporria o sistema universitrio (MEC/SESu, 1997), no estando matriculado

e vinculado a nenhum tipo de IES (PALHARINI, 2010; AMBIEL, 2016), e pode ser

considerada a mais gravosa e de maior amplitude.

Alm da importncia de se conhecer os conceitos e os nveis de evaso, torna-se

relevante destacar algumas maneiras de se medir a evaso, encontradas na literatura. Os

departamentos de registros acadmicos e demais interessados em apresentar dados que

reflitam a realidade sobre o fluxo de matrculas relatam que difcil fazer isso com preciso,

com alto ndice de confiana, pois isso demandaria um acompanhamento individual da vida

acadmica de cada aluno.

O Instituto Lobo utiliza uma frmula para se calcular a evaso anual do conjunto dos

cursos e para analisar a evaso global, por tipo de organizao acadmica das IES, por regio

geogrfica e por rea do conhecimento, conforme dados oficiais disponibilizados pelo Censo

33

da educao superior brasileira. A frmula (1.1) no leva em conta a origem do ingressante

(processo seletivo, transferncias, dentre outras) e consiste em utilizar a taxa de permanncia

(nmero de alunos que permanecem no curso), expressa por:

[ ( ) ( )] [ ( ) ( )] ( )

P = Permanncia

M(n) = matrculas num certo ano

M (n-1) = matrculas do ano anterior a n

Eg (n-1) = egressos do ano anterior (ou seja, concluintes)

Ig (n) = novos ingressantes (no ano n)

De posse da taxa de permanncia (P), possvel obter o ndice de evaso anual pela

diferena entre a taxa de permanncia (P) em relao 100%, sendo (1.2):

( ) ( ) (1.2)

Tambm possvel se calcular a taxa de evaso utilizando a metodologia conhecida

por gerao completa, que utiliza informaes de estudantes diplomados, ou seja, os que j

concluram o curso, de evadidos e de retidos que so aqueles que se mantm matriculados

aps o tempo regular de integralizao do curso, conforme mencionado nos estudos da

comisso especial:

Por gerao completa entende-se aquela em que o nmero de diplomados (Nd), mais

o nmero de evadidos (Ne), mais o nmero de retidos (Nr) igual ao nmero de

ingressantes no ano-base (Ni), considerando o tempo mximo de integralizao do

curso, expresso por Ni = Nd + Ne + Nr (MEC/SESU, 1997, p. 21).

De posse do nmero de ingressantes, possvel levantar os ndices de evaso,

considerando-se a srie histrica de dados sobre uma gerao/turma de ingressantes e o tempo

mximo de integralizao. A Equao (2) expressa por:

( )

onde: (2)

Ni = Nmero de ingressantes

Nd = Nmero de diplomados

Nr = Nmero de retidos

34

Outra maneira simplificada de se calcular a evaso por curso a identificao de

estudantes evadidos do curso que no se diplomaram e no possuem vnculos com esse curso.

Assim, pode-se utilizar a frmula do MEC (1996) adaptada e citada por Prim e Fvero (2013),

expressa por (3):

onde: (3)

Ni o nmero de ingressantes

Ne o nmero de evadidos

3.3.2 Estudos sobre a evaso

Diversos pesquisadores em todo o mundo se propem a estudar a evaso e buscam

abord-la por meio de vrias perspectivas, dentre elas as sociais, comportamentais e

econmicas. Tm-se ainda aqueles que buscam explicar o fenmeno por meio de sistemas

computacionais e banco de dados. Ademais, alguns abordam estratgias ligadas ao marketing,

sobre o comportamento do consumidor.

Spady (1970) foi um dos primeiros pesquisadores a retratar a evaso no ensino

superior, baseando-se na teoria do suicdio de Durkheim, que ressalta que a ausncia de laos

sociais e a insuficiente integrao social leva o indivduo ao suicdio (Durkheim, 1966 apud

Spady, 1970). Assim, Spady (1970) relata que o colgio composto de um sistema social,

com valores e estruturas sociais prprias e, dessa forma, ele trata o abandono de estudantes do

sistema social escolar de maneira anloga ao suicdio que acontece na sociedade.

Ainda na dcada de 70, Tinto (1975) iniciou seu estudo sobre a reteno e o abandono

de estudantes. Desenvolveu um modelo interacionista conhecido como Modelo de Integrao

do Estudante, e com ele se tornou uma das maiores referncias sobre o tema. Este estudo

considerado um paradigma e citado por diversos pesquisadores em todo o mundo.

Em uma perspectiva longitudinal de interaes acadmicas e sociais, o modelo de

Tinto verifica que a deciso de evadir se d em funo da falta de integrao com o ambiente

acadmico e social da instituio, e esta integrao est relacionada a aspectos individuais,

expectativas para a profisso, carreira, curso e ainda pelas intenes, objetivos e

35

compromissos assumidos antes do incio do curso. Para ele, a permanncia dos estudantes se

torna elevada quando h uma boa adaptao ao ambiente universitrio e suficiente integrao

do estudante. So essas intenes que vo definir o nvel de maior ou menor

comprometimento com as metas de concluso do curso. Quanto maior o nvel de

comprometimento, maior probabilidade de concluso (TINTO, 1975; TINTO 1993 apud

VASCONCELOS et al., 2009). Embora as qualidades que os alunos trazem ao ingressar na

instituio sejam importantes, a reteno depende principalmente sobre o que acontece aps a

admisso (ACKERMAN; SCHIBROWSKY, 2008).

Em todo o mundo, a taxa de evaso no primeiro ano do curso de duas a trs vezes

maior que nos demais (TINTO, 1975). Ressalta-se ainda que a permanncia na faculdade

esteja ligada s decises individuais do estudante, analisadas em termos de custos e

benefcios. Dentro dessa perspectiva, um estudante tende a evadir-se da faculdade quando

percebe que alguma outra forma de investimento de tempo, energia e recursos podem

propiciar maiores benefcios em relao aos custos, ao longo do tempo despendido na

faculdade (TINTO, 1975).

Para Tinto, os problemas financeiros do estudante possuem relao com o abandono,

alm de refletir na insatisfao com a instituio. Para ele, estudantes satisfeitos socialmente e

academicamente na instituio, aceitam os custos financeiros e permanecem estudando, pois o

desejo de se graduar est relacionado satisfao pessoal e melhoria da qualidade de vida. A

ausncia dessa percepo pode lev-lo evaso (TINTO, 1975; TINTO 1993 apud

VASCONCELOS et al., 2009), de forma semelhante ao que ocorre com clientes insatisfeitos,

que podem quebrar o vnculo com o provedor de servios.

Ressalta-se ainda que, apesar dos alunos de instituies pblicas e privadas

manifestarem que a maior causa da evaso seja o fator financeiro, acredita-se que exista

alguma correlao, no muito significativa, com fatores socioeconmicos (TINTO, 1975;

TINTO 1993 apud VASCONCELOS et al., 2009).

Cabrera, Nora e Castaeda (1992) em seus estudos relacionaram o papel das finanas e

sua relao com a permanncia do estudante, baseando-se teoricamente nos modelos

conceituais de Tinto (1975; 1987) e Bean (1980; 1985). Os autores identificaram que mesclar

os modelos conceituais levava ao melhor entendimento em relao aos aspectos individuais,

36

institucionais e externos. Ressaltaram ainda que as finanas possuem grande influncia e

motivam o estudante na definio de metas e objetivos educacionais e na escolha da

universidade.

Os pesquisadores exploraram os efeitos diretos e indiretos das finanas sobre a

permanncia, no contexto de variveis no econmicas importantes, como influncia

significativa das pessoas, desempenhos acadmicos pr-universitrios, desempenho

universitrio e integrao social, objetivos e comprometimento institucionais, alm da

inteno de permanncia.

Cabrera, Nora e Castaeda (1992) construram um modelo quantitativo e, com ele,

realizaram um levantamento com 466 estudantes universitrios em uma universidade nos

Estados Unidos. Como resultado, verificou-se que as finanas possuem efeito direto em

relao s decises de permanncia, pois influenciam as experincias sociais e intelectuais dos

estudantes na instituio. Outra situao verificada a de que quando o estudante precisa

buscar recursos financeiros para custear seus estudos, por meio de trabalhos remunerados, por

exemplo, isto ir limitar a quantidade de tempo e energia que ele disponibilizar para gastar

em suas atividades acadmicas e, como consequncia, poder exercer um efeito sobre sua

integrao social.

Para Schargel e Smink (2002), o abandono escolar foi compreendido como um

processo sistmico, cujo incio pode se manifestar logo na escola fundamental e os acmulos

de experincias negativas podero motivar e elevar a probabilidade de dissidncia pelo

estudante, que pode se estender aos nveis mais altos de ensino.

Nesse sentido, os autores entendem que a dissidncia inicia muito antes do efetivo

abandono. Para eles, existem trs tipos de estudantes dissidentes: aqueles que esto prestes a

abandonar ou abandonaram a escola; aqueles que permanecem, mas so desinteressados e por

ltimo os excludos do sistema, aqueles que foram suspensos e expulsos.

Schargel e Smink (2002) verificaram a existncia de uma maior incidncia de certos

fatores ligados ao abandono, tidos por eles como os principais responsveis: mau desempenho

acadmico (que leva tambm permanncia prolongada), pobreza, etnia, deficincias

lingusticas (leitura e interpretao), gravidez e situao geogrfica. Os pesquisadores

37

consideram a questo do abandono escolar como um problema que s pode ser tratado de

forma eficaz por meio de uma abordagem sistmica e refora que a previso do problema

uma tarefa muito difcil, pois ningum consegue prever, com exatido, o abandono escolar de

determinados estudantes.

Fica claro para os autores que as dissidncias so inevitveis e, assim, comparam-na a

uma doena, sem gravidade aparente:

fato que as dissidncias so inevitveis. Devemos substituir esse antigo e

arraigado mito pela nova convico de que a dissidncia escolar algo inaceitvel

uma doena insidiosa que afeta no apenas estudantes, mas pais, professores e

comunidades e devemos agir com base nessa convico (SCHARGEL; SMINK,

2002, p. 272).

Os autores fazem uma reflexo de que as instituies educacionais devem ser

orientadas para o cliente, quanto qualquer empresa de sucesso. Esses clientes, fora do

ambiente escolar, so jovens dinmicos, seja nos esportes, no convvio com tecnologias da

informao, no trabalho e no lazer. Assim, as instituies escolares devem ser para eles

igualmente atraentes, interessantes e intelectualmente estimulantes (SCHARGEL; SMINK,

2002).

Ackerman e Schibrowsky (2007) buscaram explorar o conceito de relacionamento nos

negcios adaptando-o ao marketing para os desafios da reteno de estudantes universitrios.

Identificaram em sua pesquisa que as taxas de graduao nos Estados Unidos esto prximas

a 50% tanto para faculdades como para universidades. Os autores afirmam que ao se ingressar

na faculdade, o estudante passa por novas experincias. Nesse sentido, as suas intenes de

permanecer, at a concluso, ir depender alm do servio fornecido, dos relacionamentos

vividos ao longo do tempo, necessrios para a concluso deste ciclo.

Na viso de Albuquerque (2008), o fenmeno da evaso deve ser visualizado sob os

enfoques individual e institucional. Em nvel individual, o abandono de um curso pode

representar para o estudante o fracasso em atingir seus objetivos, desinteresse ou incapacidade

com compromissos acadmicos. Institucionalmente, pode estar ligado gesto acadmica,

questes curriculares e, ainda, ao prestgio da organizao (ALBUQUERQUE, 2008; TINTO,

1975).

38

Nos resultados encontrados na pesquisa de Albuquerque (2008), alguns surpreenderam

positivamente, levando a permanncia de alguns estudantes do primeiro para o segundo

semestre. Um dos principais fatores foi a interao entre os colegas de turma e entre aqueles

de anos superiores. Identificou-se ainda a influncia do bom relacionamento e acesso entre

docentes e estudantes, por meio da acessibilidade, informalidade e didtica em sala de aula.

Em relao ao curso, demonstraram apreo pelas aulas prticas logo no primeiro semestre. Os

resultados sugerem que uma boa integrao acadmica e social, foram fatores altamente

positivos ligados permanncia (ALBUQUERQUE, 2008). Do mesmo modo, empresas

orientadas ao cliente, para estabelecer relacionamentos duradouros, devem desenvolver

vnculos de confiana, familiaridade e empatia, na busca de satisfazer as necessidades, desejos

e interesses de seus consumidores (KOTLER, 2000).

Weng, Cheong e Cheong (2010) investigaram a reteno do estudante em Taiwan e

identificaram que a taxa de abandono naquele pas se encontra em 18,6%, e a incidncia do

problema mais grave em organizaes privadas do que nas pblicas. Os autores verificaram

a existncia de um declnio nas taxas de matrculas e atriburam ao fato o enfraquecimento do

mercado de trabalho. Buscaram explorar construtos da reteno de estudantes por meio do

modelo de Cabrera et al. (1993), adicionando a ele o construto da autoeficcia, que a

capacidade de cada indivduo em organizar e executar determinada ao. Para eles, quando

um indivduo ingressa na instituio, baseado em atributos psicolgicos como experincias

vividas, habilidades e autoavaliaes, isso poder afetar seus resultados individuais e

acadmicos. Nesse sentido, uma elevada autoeficcia e autoconfiana do indivduo far com

que ele desenvolva nveis mais elevados de permanncia nas IES.

Na Austrlia e nos Estados Unidos, os abandonos se deram em sua maioria nos

primeiros anos dos cursos (WENG; CHEONG; CHEONG, 2010). Os Estados Unidos um

dos pases desenvolvidos com a maior taxa de abandono, em torno de 50%, ressaltado por

Furtado e Alves (2012) que ainda complementa que, na frica do Sul, encontrou-se uma taxa

de 40% de abandono logo no primeiro ano. No continente europeu, a Irlanda e a Inglaterra

possuem as menores taxas e o Japo se destaca como o pas com a menor taxa de evaso do

mundo (FURTADO; ALVES, 2012).

Para o gerenciamento do relacionamento com o estudante, Fontaine (2014) ressalta

que inicialmente e, acima de tudo, deve-se entender quem so os estudantes, o que eles

39

querem e como possvel atend-los eficazmente e eficientemente. Ademais, observa-se

ainda que a disputa no mercado tem forado as instituies a utilizar uma filosofia mais

orientada para o cliente na prestao de seus servios, alm disso, as organizaes que

tiverem essa orientao estaro mais prximas de atingir suas metas (KOTLER; FOX, 1994).

Na Espanha, Arce, Crespo e Mguez-lvarez (2015) buscaram investigar as taxas de

abandono no ensino superior, no perodo entre 2009 e 2010. Segundo os dados encontrados, a

taxa mdia de evaso se encontra em 19%, ou seja, um em cada cinco estudantes abandonou

seus estudos. Entre as IES pblicas e privadas, verificou-se que as pblicas apresentam

maiores taxas de evaso, em torno de 19,6%, enquanto as privadas 16,3%. Identificaram que

as taxas de abandono impe um grande custo a toda a economia, cerca de 5.772 euros, por

aluno, ao ano. Caso o abandono acontea logo no primeiro ano, o impacto financeiro ainda

maior, cerca de 7.120 euros. Como estratgias e programas para aumentar a reteno de

clientes, levantaram que as universidades realizam aes voltadas informao e orientao

de futuros universitrios, e com seus clientes, aes de apoio educacional e psicolgico, em

busca de uma melhor proximidade e relacionamento, alm de trabalhar para atender s suas

necessidades e expectativas.

No Brasil, os estudos sobre evaso, em meados da dcada de 80, enfatizavam apenas

levantamentos estatsticos e estudos de caso fragmentados, realizados pelo MEC e

universidades pblicas. Uma maior preocupao com a evaso escolar no ensino superior

ocorreu na dcada de 1990, por meio de estudos e publicaes (FREITAS, 2009;

PALHARINI, 2010; MEC/SETEC, 2014). Diante disso, entende-se que a principal

preocupao at ento se concentrava na atrao de clientes e no em sua permanncia.

Verifica-se que os dados nacionais sobre evaso possuem alguma semelhana aos

internacionais e variam de acordo com a dependncia administrativa (pblica ou privada),

regio e curso (LOBO, 2012; SILVA FILHO et al., 2007).

Seja no Brasil, ou em qualquer outro pas, a evaso provoca perdas para o sistema

educacional, ocasiona desperdcios sociais, acadmicos e econmicos, que acarretam em

ociosidade de espao fsico, de professores, de funcionrios e equipamentos em todas IES.

Considerando as diferenas entre o setor pblico e o privado, o problema no deve ser tratado

do mesmo modo para todo o sistema nacional ensino. Nas privadas representa perda de

40

receitas, e nas instituies pblicas, sinnimo de desperdcios dos investimentos

governamentais, com reflexos para estudantes e todo o pas (LOBO, 2012; TONTINI;

WALTER, 2012; SILVA FILHO et al., 2007).

O ano de 1995 pode ser considerado um marco temporal dos estudos sobre evaso nas

IES pblicas brasileiras. Devido aos resultados pouco satisfatrios entre desempenho e

recursos consumidos pelas Instituies Federais, a Secretaria de Educao Superior (SESu),

em parceria com a ANDIFES e com o apoio do Ministrio da Educao (MEC), promoveu

um seminrio para tratar sobre a evaso nas universidades brasileiras, estabelecendo-a como

um indicador a ser considerado pelas instituies (MEC/SESU, 1997).

O tema entrou na pauta das polticas pblicas do Governo Federal, justificando-se

assim a proposio de um estudo coletivo promovido pela SESu, por meio de uma comisso

composta de representantes das Instituies Federais de Ensino Superior e do MEC. Como

principais resultados, obtiveram a padronizao de conceitos, metodologias e o levantamento

das principais causas da evaso. Assim, a comisso entendeu que apurar os ndices de evaso

apenas um passo inicial para se compreender este fenmeno (MEC/SESU, 1997).

A comisso finalizou seus trabalhos com a divulgao de estudos e relatrios internos

s universidades em que revelou provveis motivos da evaso. Nas propostas de

encaminhamento indicaram possveis fatores, classificando-os como internos e externos. Para

a Comisso Especial, de modo geral, os aspectos internos se referem s normas de

funcionamento dos cursos e s caractersticas de seus currculos, incluindo o regime do curso.

J os aspectos externos dizem respeito a determinantes de processos que tm reflexos internos

aos cursos, mas que no se referem estritamente a ele. Dentre eles, o mercado de trabalho, a

remunerao e o prestgio social de cada profisso. Os aspectos individuais, ligados aos

estudantes, segundo a comisso, esto fora do campo de ao das universidades, porm, elas

devem se comprometer a buscar medidas que auxiliem com a soluo ou minorao dessas

questes (MEC/SESU, 1997).

Em mbito pblico, a relevncia de se estudar e compreender a evaso,

principalmente, para as instituies federais de ensino, que o fenmeno provoca a perda do

dinheiro pblico na medida em que aumenta as vagas ociosas (PALHARINI, 2010).

41

Em estudo ocorrido na Universidade Federal do Cear, Andriola e colaboradores

investigaram sobre a evaso discente, na viso de coordenadores e docentes. Nas entrevistas,

docentes relataram sobre dificuldades acadmicas para o aprendizado, em especial de novos

ingressantes, que apresentavam deficincias de conhecimentos. Sinalizaram ser favorveis ao

resgate da funo de professor orientador para auxiliar estudantes em suas dificuldades,

contribuindo com a permanncia na instituio. Docentes ressaltaram ainda que muitos

estudantes desconheciam informaes sobre os cursos e opinaram que coordenadores

deveriam fornecer informaes relevantes e precisas sobre o curso, seu funcionamento e a

carreira, para estudantes em curso e futuros candidatos. Coordenadores e docentes foram

unssonos em ressaltar a necessidade de melhorias para as infraestruturas fsicas,

especialmente salas de aula e laboratrios, que refletem diretamente na satisfao e reteno

do estudante (ANDRIOLA; ANDRIOLA; MOURA, 2006).

Uma parcela significativa da explicao do afastamento entre os indivduos e as

instituies atribuda insatisfao e decepo deles frente s IES, ressaltado por Gouveia,

Albuquerque e Solha (1994) ao salientar que as pessoas criam expectativas sem formar uma

base slida e real e, ao ingressar no ensino superior, muitas vezes se decepcionam e se

frustram por encontrar uma realidade diferente da esperada, e esta frustrao pode se dar logo

no primeiro semestre. Percebe-se existir uma estranha relao entre atrao e rejeio

relacionada ao ingresso no ensino superior, especialmente em instituies pblicas

(ANDRIOLA; ANDRIOLA; MOURA, 2006).

Ainda nesse estudo, Andriola e colaboradores (2006) descreveram os resultados de

uma pesquisa anterior com estudantes evadidos da mesma IES em 2003. Nessa investigao,

obteve-se uma amostra de 86 universitrios evadidos entre os anos de 1999 e 2000. Aqui, os

autores elaboraram um modelo causal explicativo no qual identificava a inteno de

estudantes evadidos em cursar outra graduao. Concluram que o grau de informao dos

discentes acerca do curso universitrio e ainda da prpria instituio foi a varivel que melhor

explicou a inteno do evadido em voltar a cursar outra carreira superior. Esse mesmo aspecto

influenciou significativamente, mas de modo secundrio as percepes e opinies acerca das

limitaes do curso abandonado. (ANDRIOLA; RIBEIRO; MOURA, 2003 apud

ANDRIOLA; ANDRIOLA; MOURA, 2006).

42

Devido dimenso do problema, ao abordar a evaso e sua problemtica, necessrio

que o assunto seja discutido com todos integrantes que compem a fora de trabalho da

instituio, buscando incentivar todos aqueles envolvidos na organizao, tanto das reas

acadmicas quanto os administrativos, gestores, docentes e demais funcionrios, no intuito de

criar uma atitude de servir aos alunos, o que poder contribuir com o aumento da reteno dos

mesmos na organizao, baseado na premissa de que mais fcil, menos dispendioso e mais

rentvel manter os clientes atuais do que adquirir novos (KOTLER; FOX, 1994;

ACKERMAN; SCHIBROWSKY, 2007).

No intuito de estudar o fenmeno, Silva Filho et al., (2007) realizaram anlises de

dados nacionais e internacionais da evaso no ensino superior. Em suas constataes,

verificaram que os ndices de evaso no ensino superior brasileiro so similares aos de muitos

pases, e que a evaso um problema de mbito internacional, que acarreta em perda de

clientes e provoca prejuzos acadmicos, econmicos e sociais. Utilizando-se de dados do

INEP em suas sinopses, buscaram analisar a evaso pelo conjunto de todas as IES, por

organizao acadmica, categoria administrativa (pblica e privada), regio geogrfica, e

ainda por rea do conhecimento e cursos (SILVA FILHO et al., 2007).

IES privadas, diferentemente das pblicas, buscam o lucro e assim investem pequeno

percentual (entre 2% e 6%) em marketing para valorizar sua imagem e atrair clientes, mas no

costumam investir na reteno. Relacionar a evaso a fatores financeiros uma simplificao

do estudante, pois o fato tambm est ligado a questes acadmicas, expectativas sobre a

formao e integrao do estudante (SILVA FILHO et al., 2007)

Os pesquisadores identificaram um ndice de 22% de taxa mdia nacional de evaso

para o conjunto de todas as IES do Brasil, sendo 12% nas IES pblicas (variao entre 9 e

15%), e 26% nas privadas. Quanto s IES pblicas, as federais e estaduais possuem padro

semelhante de evaso. J as municipais mostraram um comportamento diferente,

impossibilitando realizar uma anlise por ausncia de dados.

Por fim, sintetizou-se alguns resultados do estudo, dividindo-os em (a) organizao

acadmica, (b) regies geogrficas, (c) estados da federao e (d) reas do conhecimento e

cursos (SILVA FILHO et al., 2007):

43

a) o ndice mdio de evaso nas universidades ficou em 19%, abaixo da mdia

nacional (22%). J as faculdades exibiram taxas superiores, por volta de 29%;

b) a regio norte apresentou o menor ndice, com 16%, enquanto as demais regies

estiveram semelhantes mdia nacional de evaso;

c) maiores taxas: Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Amap e

Rondnia, com ndices acima da mdia nacional. O Par registrou a menor, menos

da metade da taxa nacional, devido a alta taxa de alunos em instituies pblicas;

d) cincias, matemtica e computao registraram a maior mdia, com 28%. Dos

cursos analisados, Cincias da Computao, Marketing, Publicidade, Educao

Fsica, Matemtica e Administrao, com taxa mdia acima de 30%, superando a

mdia nacional.

Na pesquisa de Tontini e Walter (2012), os autores buscaram identificar a propenso

de estudantes de graduao evaso, alm das principais dimenses do problema na

Universidade Regional de Blume