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8/14/2019 Fatores Que Influenciam Mastite
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Revista da FZVAUruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002.
SUSCEPTIBILIDADE MASTITE: FATORES QUE A INFLUENCIAM - UMA
REVISO
FACTORS AFFECTING MASTITIS SUSCEPTIBILITY: A REVISION
Danvia Santos Prestes 1; Andreane Filappi1; Marcelo Cecim2
RESUMO
A mastite, clnica e subclnica, so consideradas como um problema potencial em
criaes com finalidade de produo leiteira. O presente artigo de reviso apresentado com
intuito de abordar os fatores determinantes associados ocorrncia de mastite. Odesencadeamento desta enfermidade est vinculado complexa trade: animal (hospedeiro),
agente etiolgico e/ou meio ambiente. A preveno e controle da mastite dependem do
conhecimento dos padres de ocorrncia da doena, que s se torna possvel, atravs de um
estudo epidemiolgico da situao. Em concluso, os fatores determinantes que influenciam
na susceptibilidade mastite incluem: resistncia natural da glndula mamria; estgio da
lactao; hereditariedade; idade do animal; espcie, infectividade e patogenicidade do agente
etiolgico; ordenha; manejo; clima e nutrio.
Palavras-chave: susceptibilidade, mastite.
ABSTRACT
The objective of the present paper is to review the present body of knowledge about
the factors affecting susceptibility to mastitis. Herd incidence of mastitis depends of a
complex relation between host, agent and environment. The risk factors associated with
mastitis incidence include: natural resistance of the mammary gland, stage of lactation, age,
species and pathogenicity of the etiological agent, management, climate and nutrition. Such
factors should be analyzed as a whole, and are the major target points to which diagnostic,
control and preventative measures must aim.
Key words: susceptibility, mastitis.
1. Md. Vet. Mestranda em Clnica Mdica, UFSM. E-mail: [email protected]. Md. Vet. PhD. Prof. Adjunto, Departamento de Clnica de Grandes Animais, UFSM.
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INTRODUO
A glndula mamria um rgo
singular, sob o ponto de vista de sua
complexidade fisiolgica, biofsica e
anatmica (CUNNINGHAN, 1999). As
infeces intramamrias (IIMs) ocorrem
quando um agente (infeccioso, qumico,
mecnico ou trmico) agride a glndula
mamria, produzindo uma reaoinflamatria e danos ao epitlio glandular,
caracterizando o quadro de mastite
(CULLOR et al., 1993). Para BARKEMA
et al. (1999a), essa enfermidade
considerada como um problema potencial
envolvido com perdas econmicas em
criaes com finalidade de produoleiteira.
Nas IIMs, a extenso da resposta
inflamatria varia de acordo com a natureza
do estmulo e a capacidade de reao do
animal. Reaes brandas, sem alteraes
macroscpicas detectveis, porm, com
alteraes qumicas e microbiolgicas do
leite evidenciam a mastite subclnica.
Respostas inflamatrias mais severas,
mastite clnica, resultam em mudanas no
aspecto da secreo lctea, incluindo as
alteraes verificadas na forma subclnica,
contudo, h visveis mudanas no tecido
mamrio e, alguns efeitos sistmicos, como
hipertermia, prostao e tremores
musculares, podem estar presentes
conforme menciona HILLERTON (1996).
O desencadeamento da mastite est
vinculado complexa trade: animal
(hospedeiro), ao agente etiolgico e/ou ao
meio ambiente, fazendo desta uma
enfermidade multifatorial (HURLEY &
MORIN, 2001). Como tal, a sua preveno
e controle dependem do conhecimento dos
padres de ocorrncia da doena, que s setorna possvel, atravs de um estudo
epidemiolgico da situao. Neste contexto,
o presente artigo de reviso apresentado
com intuito de abordar os fatores
determinantes associados ocorrncia de
mastite.
FATORES LIGADOS AO
HOSPEDEIRO
Resistncia natural
Uma glndula mamria normal
protegida por uma variedade de
mecanismos de defesa naturais frente s
infeces. Esses mecanismos podem ser
no imunolgicos (inespecficos) ou
imunolgicos (GIRAUDO, 1996). O
primeiro deles, est constitudo por uma
barreira fsica que inclui canal e esfncter da
teta, os quais possuem propriedades
defensivas como um mecanismo de ocluso
relativamente eficiente, a roseta deFurtenbergs e ainda, protenas
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bactericidas (NICKERSON, 1985;
HILLERTON, 1996). HURLEY & MORIN
(2001) mencionaram que aps a ordenha o
canal da teta torna-se dilatado e permanece
assim por aproximadamente duas a quatro
horas e, neste caso, o dimetro e
comprimento do canal da teta influenciam
na susceptibilidade mastite, pois um canal
curto facilita a sada de fludos, porm
diminui a resistncia s IIMs.
Um mecanismo adicional de defesada teta citado por NICKERSON (1985) e
HILLERTON (1996), o seu revestimento
por uma camada de queratina (composta
por clulas epiteliais descamadas, cidos
graxos e protenas catinicas). Os autores
comentaram que h evidncias de que a
queratina tenha funo de adsorver asbactrias, prendendo-as e removendo-as
juntamente com parte da camada de
queratina durante o processo de ordenha.
Os cidos graxos queratinizados (lurico,
mirstico e palminoleico) esto associados
resistncia as IIMs, agem como bactericidas
e bacteriostticos, todavia, os cidosesterico, olico e linolico favorecem a
susceptibilidade mastite. Aos cidos
graxos queratinizados esto ligadas
protenas que causam lise em algumas
clulas bacterianas Gram positivas. Fatores
que afetam a integridade da camada de
queratina podem, portanto, afetar a
susceptibilidade s IIMs.
A segunda linha de defesa
glandular, segundo GIRAUDO (1996),
SURIYASATHAPORN et al. (2000) e
HURLEY & MORIN (2001), est
constituda pelo sistema imunolgico, o
qual envolve imunidade celular e humoral.
A primeira conferida pelos leuccitos que
so clulas efetoras do sistema imune. Os
tipos leucocitrios incluem:
Granulcitos (neutrfilos
polimorfonucleares - PMN, basfilos eeosinfilos): fagcitos que ingerem e
destroem materiais estranhos; contm
enzimas hidrolticas e outras
antibacterianas.
Linfcitos (clulas T e clulas B): as
clulas T possuem em sua superfcie uma
estrutura de reconhecimento capaz dedistinguir determinantes antignicos.
Existem dois tipos de linfcitos T, os
indutores e os citotxicos. Os linfcitos T
indutores participam na resposta
inflamatria por produzir citocinas, em
resposta ao estmulo antignico e induzem a
diferenciao dos linfcitos B. As clulas Batuam na sntese local de imunoglobulinas
(GIRAUDO, 1996);
Moncitos (mononucleados):
tambm denominados de macrfagos. So
importantes na iniciao de respostas
imunes celulares e humorais, alm de
atuarem na fagocitose de clulas estranhas
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(GIRAUDO, 1996; HURLEY & MORIN,
2001).
A fagocitose um processo
complexo, atravs do qual os PMN
produzem, quando estimulados, interleucina
(IL-1) e mediadores lipdicos, sendo
estrategicamente posicionados nos locais de
defesa primrios, como os ductos
alveolares. Os agentes estimulatrios
envolvem microrganismos, toxinas
microbianas, agentes inflamatrios,complexos antgeno-anticorpo, entre outros.
O circuito de defesa dos PMN promovido
por eventos que envolvem liberao de
substncias quimiotticas (HURLEY &
MORIN, 2001). SURIYASATHAPORN et
al. (2000) citaram que a presena desses
fagcitos no leite, como clulas somticas(constitudas por leuccitos e clulas
epiteliais), aumenta prontamente seguindo-
se a invaso bacteriana, quando agem
reconhecendo, ingerindo e destruindo o
material estranho. Contudo, segundo
VEIGA (1998), fisiologicamente as clulas
somticas tambm podem estar elevadasdurante a involuo glandular e ainda em
condies de estresse (ps-parto),
colostrognese ou incio da lactao.
NICKERSON (1985) mencionou que em
casos de mastite, o crescimento bacteriano
ainda inibido pela produo local de
fatores solveis (lactoperoxidase, lisozima e
lactoferrina).
A resposta imune humoral envolve
um antgeno, constitudo por um material
estranho que estimula uma resposta imune
especfica e um anticorpo, constitudo por
uma protena especial sintetizada pelos
linfcitos B e clulas plasmticas, capaz de
se combinar ao antgeno especfico
(HURLEY & MORIN, 2001). Os
anticorpos so divididos em classes de
protenas denominadas de imunoglobulinas
(IgG, IgM, IgA, IgD e IgE), cuja funo formar complexos antgeno-anticorpo, com
intensificao da fagocitose, neutralizao
do antgeno e ativao do sistema de
complemento. Esse ltimo composto por
uma srie de protenas sangneas, com
interao de uma cascata enzimtica que
funciona integrando as respostasinflamatrias em casos agudos (GIRAUDO,
1996). SANTOS (2001a) mencionou que,
atualmente, so conhecidos dois tipos de
vacinas contra mastite que
comprovadamente apresentam efeito
positivo (J5 contra mastite causada por
coliformes e uma vacina baseada emantgeno capsular de Staphylococcus
aureus), ambas tm sido eficazes na
diminuio da severidade dos casos clnicos
e aumento da taxa de cura espontnea.
Estgio de lactao
Segundo HOGAN & SMITH
(2001a), as IIMs podem suceder-se em
diferentes etapas da vida do animal. Parto,
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lactognese e perodo seco constituem
eventos reprodutivos que influenciam na
susceptibilidade mastite (ELBERS et al.,
1998). Durante o perodo seco a glndula
mamria passa por uma involuo ativa,
principalmente nas duas semanas seguintes
secagem da vaca (WALDNER, 2001). De
acordo com ANDERSON & CT (2001),
estudos demonstraram que 35 % de todas as
novas infeces ocorrem durante esse
perodo. HURLEY & MORIN (2001)mencionaram que nessa fase a glndula
continua a secretar leite com o mximo
acmulo ocorrendo dois a trs dias depois
de suspensa a remoo do leite; a presso
originada na glndula promove dilatao do
canal da teta, predispondo entrada de
microrganismos para o interior do rgo.As bactrias no so mais removidas pela
ordenha, o processo de fagocitose no
eficiente em remover os materiais estranhos
e a desinfeco da teta j no realizada;
fatores que favorecem a instalao de IIMs.
Conforme ANDERSON & CT (2001),
nesse perodo h outra fase crtica, as duasltimas semanas que antecedem ao parto,
quando ocorre a colostrognese, processo
que acomete alguns mecanismos de defesa;
no incio da lactao tambm h
susceptibilidade devido ao estresse sofrido
no parto (glicocorticides contribuem para
menor resposta das clulas de defesa).
BRADLEY & GREEN (2000)
mencionaram que enterobactrias,
causadoras de infeces durante o perodo
seco, tm habilidade em se manterem
quiescentes na glndula mamria at o
parto, subseqentemente, causando mastite
clnica durante fase inicial da lactao.
Na lactao e no processo de
ordenha em si h maior susceptibilidade de
difuso de mastite contagiosa, j no perodo
seco e intervalos entre ordenhas a
susceptibilidade recai sobre mastitesambientais.
Hereditariedade e idade
A seleo gentica visando
incremento na produo de leite foi
acompanhada por aumento a
susceptibilidade s IIMs. A conformao da
glndula mamria e tetas constituem uma
caracterstica moderada a altamente
herdvel; tetas planas e cilndricas so mais
susceptveis a infeco do que as tetas de
formato cnico (mais resistentes)
(HURLEY & MORIN, 2001).
WANNER et al. (1998) concluram
em um estudo que a hereditariedade de
IIMs no primeiro parto parece ser
moderada, variando substancialmente a
incidncia de IIMs entre famlias; nesse
mesmo estudo ainda concluiu que vacas
Holstein portadoras de deficincia de
adeso leucocitria, uma condio
autossomal recessiva, no diferem de vacas
no portadoras frente susceptibilidade as
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IIMs. NICKERSON (2001a) em
investigaes sobre mastite em novilhas
verificou uma maior prevalncia das IIMs
em animais da raa Jersey (67,7%), quando
comparado raa Holstein (35%).
Quanto idade dos animais,
LADEIRA (1998) cita que fmeas mais
velhas (sete a nove anos) so mais
susceptveis s IIMs, devido a leses
internas e desgaste sofrido pelo esfncter da
teta e pela glndula em si. Contudo,OLIVER et al. (2001) mencionaram que a
ocorrncia das IIMs em novilhas com a
idade de acasalamento ou gestantes pode
assumir grau significativo e persistir por
longos perodos de tempo, estando
associada elevada contagem de clulas
somticas (CCS) e reduo substancial daproduo ps-parto. JONES & BAILEY Jr
(2001) comentaram que a transmisso entre
animais pode ocorrer ainda na puberdade,
por meio de amamentao cruzada.
WAAGE et al. (2001) mencionaram que
em novilhas, a presena, antes do parto, de
edema de bere, edema de teta, sangue noleite ou vazamento de leite pelas tetas, est
associada com aumento do risco de
ocorrncia de mastite clnica ps-parto.
Fatores ligados ao agente
A epidemiologia da mastite varia
consideravelmente dependendo da espcie,
quantidade, patogenicidade e infectividade
do agente envolvido e h evidncias de que
os fatores de risco diferem conforme essas
caractersticas. Os microrganismos que
comumente causam mastite podem ser
divididos em dois grupos, baseados na sua
origem: patgenos contagiosos e patgenos
ambientais (PEELER et al., 2000).
BODMAN & RICE (2001)
mencionaram que o grupo dos
microrganismos contagiosos assume
importncia, compreendendo
Staphylococcus aureus, Streptococcus
agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e
uma srie de patgenos menores
envolvidos geralmente em infeces
subclnicas de menor severidade. Os
Staphylococcus freqentemente causam
mastite e so encontrados colonizando a
pele da glndula mamria, tetas e lesesnessas reas, porm, quartos mamrios
infectados so o principal reservatrio
desses microrganismos, sendo transmitido
por qualquer forma de contato. Esse
patgeno foi considerado por PARDO et al.
(1998), como o agente isolado com maior
freqncia na etiologia de IIMs em vacasprimparas no perodo ps-parto (64% das
amostras positivas no exame
bacteriolgico). Segundo HILLERTON
(1996), os Streptococcus agalactiae so os
microrganismos melhor adaptados
glndula mamria, raramente so
encontrados fora dela; geralmente esto
envolvidos em doenas clnicas agudas e
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infeces subclnicas persistentes. Os
Streptococcus dysgalactiae esto
envolvidos com leso nas tetas, sendo
comumente associado mastite no perodo
seco.
O ambiente definido por HOGAN
& SMITH (2001a) como a associao de
condies fsicas externas que afetam e
influenciam no crescimento,
desenvolvimento e sobrevivncia de um
organismo ou grupo de organismos e, noambiente que se origina o segundo grupo de
patgenos envolvidos nas IIMs, incluindo
Escherichia coli, Klebsiella sp.,
Streptococcus uberis, Enterobacter sp. e
outros patgenos predominantemente
oportunistas (Pseudomonas sp., Prototheca
sp., Nocardia sp., etc), que adentram aglndula mamria quando os mecanismos
de defesa esto comprometidos. Esses
microrganismos requerem materiais
orgnicos como alimento, nestas condies
alguns materiais utilizados como cama para
os animais promove um ambiente propcio
para propagao. A populao bacterianatende a estacionar seu crescimento em torno
de sete a dez dias, quando h um declnio
por exausto dos nutrientes na cama.
Conforme HOGAN & SMITH (2001b),
esses tipos de patgenos no sobrevivem
por longos perodos de tempo na pele das
tetas. Os mesmos autores ainda citaram que
colonizao por um grande nmero de
microrganismos reflete a exposio alta
contaminao ambiental, pois
Streptococcus uberis tem sido isolado da
cama, solo, fezes e urina. A fonte de gua
tambm pode contribuir para disseminao
de mastite, principalmente causada por
coliformes, pela contaminao por matria
fecal.
As IIMs causadas por patgenos
ambientais, segundo BRADLEY &
GREEN (2000), so mais freqentes noperodo seco em relao ao perodo
lactacional, podendo alguns animais
desenvolver mastite crnica, agindo como
reservatrio de patgenos. PEELER et al.
(2000) citaram que agentes da espcie
Arcanobacter (Actinomyces) pyogenespodem estar ligados a infeces agudasnesse perodo e sua importncia reside em
levar a danos e perda de tecido secretrio.
Para BODMAN & RICE (2001), as IIMs
por microrganismos contagiosos resultam
em elevao da contagem de clulas
somticas (CCS), por vezes de longa
durao; em contraste, a resposta eminfeces causadas por microorganismos
ambientais varivel, devido as diferentes
respostas do sistema imune, conforme a
caracterstica patognica de agentes
especficos.
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FATORES LIGADOS AO MEIO
AMBIENTE
OrdenhaDe acordo com RASMUSSEN &
MADSEN (2000), o equipamento de
ordenha e o ato em si, seja mecnico ou
manual, pode influenciar direta ou
indiretamente na sade da glndula
mamria. Os aspectos negativos envolvidos
nesse processo e que podem influenciar nasusceptibilidade mastite compreendem:
1. Facilidade de transmisso de patgenosentre vacas e no mesmo animal pela
inadequada preparao da glndula para
a ordenha (lavagem e secagem) e da
ordenhadeira (copos coletores com
superfcie interna contaminada agemdifundindo os patgenos entre os
animais);
2. Pelas possveis flutuaes no sistema devcuo da ordenhadeira que
proporcionam o movimento de leite
entre os copos coletores (teteiras),
facilitando a difuso de microrganismos
entre os quartos mamrios;
incrementam a penetrao de
microrganismos no canal da teta devido
ao mecanismo de impacto, no qual h
movimento reverso do leite, gerado
pelas flutuaes no sistema de vcuo,
impulsionando os microrganismos para
o interior da teta (SAINSBURY, 1998);
o vcuo excessivo pode levar ao
deslizamento dos copos coletores,
ocasionando traumas nas tetas e/ou
ordenha incompleta, favorecendo a
penetrao e colonizao da glndula
por patgenos. A sobreordenha
influencia no risco de infeco, pois
pode agravar o mecanismo de
impacto (KRUZE, 1998);
3. Propenso exposio do orifcio ecanal da teta aos patgenos, uma vezque pode modificar as condies da teta
(everso do orifcio, microleses e
vesculas hemorrgicas), favorecendo a
instalao das IIMs (SHEARER, 2001);
4. Modificao na teta e ambienteintramamrio, pois pode haver perda da
integridade da membrana derevestimento do canal da teta,
proporcionando um meio favorvel
colonizao e multiplicao microbiana.
A dor associada a esses casos conduz a
respostas neurohormonais, com
supresso da funo imune e aumento
na probabilidade de instalao demolstias. A eficincia nos mecanismos
de defesa locais e sistmicos pode ser
enfraquecida logo aps a ordenha com
altos nveis de vcuo (RASMUSSEN &
MADSEN, 2000).
A questo de interao entre a teta e
os produtos germicidas utilizados em pr-
imerso e ps-imerso deve ser considerada
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excelente suprimento para os
microorganismos ambientais, como j
comentado. Sistemas como free-stall
quando mal projetados, deficientes em
ventilao e drenagem, tm conseqncias
danosas sade da glndula mamria;
nessas instalaes a higiene assume
importncia primordial. Para NICKERSON
(2001a), ateno deve ser dispensada ao
combate aos insetos, uma vez que podem
atuar traumatizando as tetas, bem comoagindo como vetores para agentes
contaminantes, difundindo as infeces.
Vacas mantidas a pasto, geralmente, tm
risco reduzido de contrarem mastite
quando comparadas a animais confinados,
entretanto, algumas condies na pastagem,
por exemplo, reas baixas e alagadias e/ousombreadas, forragem grosseira e reas de
aglomerao de animais, favorecem o
desenvolvimento de microrganismos
ambientais e, conseqentemente, a
probabilidade de contaminaes. Ateno
deve ser dispensada aos episdios de
retroamamentao e amamentao cruzadaem fmeas jovens, hbitos que contribuem
para o futuro estabelecimento da mastite.
PEELER et al. (2000) ainda
comentaram sobre a aquisio de animais
que, eventualmente, podem ser portadores
de infeces. Essas fmeas constituem um
fator de risco frente ao rebanho, pois podem
agir como difusoras de patgenos e
requerem um manejo diferenciado.
O clima, segundo RADOSTITS et
al. (1994), assume importncia em funo
das mudanas de temperatura e umidade
que podem influenciar indiretamente na
trade de fatores determinantes (hospedeiro,
agente e/ou meio ambiente) que afetam a
susceptibilidade mastite.
Nutrio
HOGAN & SMITH (2001c)
mencionaram que a dieta de uma vaca de
leite influencia na ocorrncia de IIMs. De
acordo com NICKERSON (2001a), certos
nutrientes afetam diferentes mecanismos de
resistncia, incluindo funo leucocitria,
transporte de anticorpos e integridade do
tecido mamrio. HOGAN & SMITH
(2001c) comentam que componentes
especficos da dieta tm demonstrado valor
como as vitaminas E e A, -caroteno e
microminerais (selnio, cobre e zinco).
Evidncias de importncia recai
sobre a vitamina E e o selnio, os quais
influenciam na funo das clulas
fagocitrias (funcionam como
antioxidantes). Logo, os animais com
deficincia desses elementos tm risco de
contrarem mastite, com maior durao e
sinais clnicos mais severos. A funo
primria do cobre, segundo MANITOBA
(2001), refere-se imunidade, um
componente da enzima superxido
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