Fatores Que Influenciam Mastite

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    Revista da FZVAUruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002.

    SUSCEPTIBILIDADE MASTITE: FATORES QUE A INFLUENCIAM - UMA

    REVISO

    FACTORS AFFECTING MASTITIS SUSCEPTIBILITY: A REVISION

    Danvia Santos Prestes 1; Andreane Filappi1; Marcelo Cecim2

    RESUMO

    A mastite, clnica e subclnica, so consideradas como um problema potencial em

    criaes com finalidade de produo leiteira. O presente artigo de reviso apresentado com

    intuito de abordar os fatores determinantes associados ocorrncia de mastite. Odesencadeamento desta enfermidade est vinculado complexa trade: animal (hospedeiro),

    agente etiolgico e/ou meio ambiente. A preveno e controle da mastite dependem do

    conhecimento dos padres de ocorrncia da doena, que s se torna possvel, atravs de um

    estudo epidemiolgico da situao. Em concluso, os fatores determinantes que influenciam

    na susceptibilidade mastite incluem: resistncia natural da glndula mamria; estgio da

    lactao; hereditariedade; idade do animal; espcie, infectividade e patogenicidade do agente

    etiolgico; ordenha; manejo; clima e nutrio.

    Palavras-chave: susceptibilidade, mastite.

    ABSTRACT

    The objective of the present paper is to review the present body of knowledge about

    the factors affecting susceptibility to mastitis. Herd incidence of mastitis depends of a

    complex relation between host, agent and environment. The risk factors associated with

    mastitis incidence include: natural resistance of the mammary gland, stage of lactation, age,

    species and pathogenicity of the etiological agent, management, climate and nutrition. Such

    factors should be analyzed as a whole, and are the major target points to which diagnostic,

    control and preventative measures must aim.

    Key words: susceptibility, mastitis.

    1. Md. Vet. Mestranda em Clnica Mdica, UFSM. E-mail: [email protected]. Md. Vet. PhD. Prof. Adjunto, Departamento de Clnica de Grandes Animais, UFSM.

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    INTRODUO

    A glndula mamria um rgo

    singular, sob o ponto de vista de sua

    complexidade fisiolgica, biofsica e

    anatmica (CUNNINGHAN, 1999). As

    infeces intramamrias (IIMs) ocorrem

    quando um agente (infeccioso, qumico,

    mecnico ou trmico) agride a glndula

    mamria, produzindo uma reaoinflamatria e danos ao epitlio glandular,

    caracterizando o quadro de mastite

    (CULLOR et al., 1993). Para BARKEMA

    et al. (1999a), essa enfermidade

    considerada como um problema potencial

    envolvido com perdas econmicas em

    criaes com finalidade de produoleiteira.

    Nas IIMs, a extenso da resposta

    inflamatria varia de acordo com a natureza

    do estmulo e a capacidade de reao do

    animal. Reaes brandas, sem alteraes

    macroscpicas detectveis, porm, com

    alteraes qumicas e microbiolgicas do

    leite evidenciam a mastite subclnica.

    Respostas inflamatrias mais severas,

    mastite clnica, resultam em mudanas no

    aspecto da secreo lctea, incluindo as

    alteraes verificadas na forma subclnica,

    contudo, h visveis mudanas no tecido

    mamrio e, alguns efeitos sistmicos, como

    hipertermia, prostao e tremores

    musculares, podem estar presentes

    conforme menciona HILLERTON (1996).

    O desencadeamento da mastite est

    vinculado complexa trade: animal

    (hospedeiro), ao agente etiolgico e/ou ao

    meio ambiente, fazendo desta uma

    enfermidade multifatorial (HURLEY &

    MORIN, 2001). Como tal, a sua preveno

    e controle dependem do conhecimento dos

    padres de ocorrncia da doena, que s setorna possvel, atravs de um estudo

    epidemiolgico da situao. Neste contexto,

    o presente artigo de reviso apresentado

    com intuito de abordar os fatores

    determinantes associados ocorrncia de

    mastite.

    FATORES LIGADOS AO

    HOSPEDEIRO

    Resistncia natural

    Uma glndula mamria normal

    protegida por uma variedade de

    mecanismos de defesa naturais frente s

    infeces. Esses mecanismos podem ser

    no imunolgicos (inespecficos) ou

    imunolgicos (GIRAUDO, 1996). O

    primeiro deles, est constitudo por uma

    barreira fsica que inclui canal e esfncter da

    teta, os quais possuem propriedades

    defensivas como um mecanismo de ocluso

    relativamente eficiente, a roseta deFurtenbergs e ainda, protenas

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    bactericidas (NICKERSON, 1985;

    HILLERTON, 1996). HURLEY & MORIN

    (2001) mencionaram que aps a ordenha o

    canal da teta torna-se dilatado e permanece

    assim por aproximadamente duas a quatro

    horas e, neste caso, o dimetro e

    comprimento do canal da teta influenciam

    na susceptibilidade mastite, pois um canal

    curto facilita a sada de fludos, porm

    diminui a resistncia s IIMs.

    Um mecanismo adicional de defesada teta citado por NICKERSON (1985) e

    HILLERTON (1996), o seu revestimento

    por uma camada de queratina (composta

    por clulas epiteliais descamadas, cidos

    graxos e protenas catinicas). Os autores

    comentaram que h evidncias de que a

    queratina tenha funo de adsorver asbactrias, prendendo-as e removendo-as

    juntamente com parte da camada de

    queratina durante o processo de ordenha.

    Os cidos graxos queratinizados (lurico,

    mirstico e palminoleico) esto associados

    resistncia as IIMs, agem como bactericidas

    e bacteriostticos, todavia, os cidosesterico, olico e linolico favorecem a

    susceptibilidade mastite. Aos cidos

    graxos queratinizados esto ligadas

    protenas que causam lise em algumas

    clulas bacterianas Gram positivas. Fatores

    que afetam a integridade da camada de

    queratina podem, portanto, afetar a

    susceptibilidade s IIMs.

    A segunda linha de defesa

    glandular, segundo GIRAUDO (1996),

    SURIYASATHAPORN et al. (2000) e

    HURLEY & MORIN (2001), est

    constituda pelo sistema imunolgico, o

    qual envolve imunidade celular e humoral.

    A primeira conferida pelos leuccitos que

    so clulas efetoras do sistema imune. Os

    tipos leucocitrios incluem:

    Granulcitos (neutrfilos

    polimorfonucleares - PMN, basfilos eeosinfilos): fagcitos que ingerem e

    destroem materiais estranhos; contm

    enzimas hidrolticas e outras

    antibacterianas.

    Linfcitos (clulas T e clulas B): as

    clulas T possuem em sua superfcie uma

    estrutura de reconhecimento capaz dedistinguir determinantes antignicos.

    Existem dois tipos de linfcitos T, os

    indutores e os citotxicos. Os linfcitos T

    indutores participam na resposta

    inflamatria por produzir citocinas, em

    resposta ao estmulo antignico e induzem a

    diferenciao dos linfcitos B. As clulas Batuam na sntese local de imunoglobulinas

    (GIRAUDO, 1996);

    Moncitos (mononucleados):

    tambm denominados de macrfagos. So

    importantes na iniciao de respostas

    imunes celulares e humorais, alm de

    atuarem na fagocitose de clulas estranhas

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    (GIRAUDO, 1996; HURLEY & MORIN,

    2001).

    A fagocitose um processo

    complexo, atravs do qual os PMN

    produzem, quando estimulados, interleucina

    (IL-1) e mediadores lipdicos, sendo

    estrategicamente posicionados nos locais de

    defesa primrios, como os ductos

    alveolares. Os agentes estimulatrios

    envolvem microrganismos, toxinas

    microbianas, agentes inflamatrios,complexos antgeno-anticorpo, entre outros.

    O circuito de defesa dos PMN promovido

    por eventos que envolvem liberao de

    substncias quimiotticas (HURLEY &

    MORIN, 2001). SURIYASATHAPORN et

    al. (2000) citaram que a presena desses

    fagcitos no leite, como clulas somticas(constitudas por leuccitos e clulas

    epiteliais), aumenta prontamente seguindo-

    se a invaso bacteriana, quando agem

    reconhecendo, ingerindo e destruindo o

    material estranho. Contudo, segundo

    VEIGA (1998), fisiologicamente as clulas

    somticas tambm podem estar elevadasdurante a involuo glandular e ainda em

    condies de estresse (ps-parto),

    colostrognese ou incio da lactao.

    NICKERSON (1985) mencionou que em

    casos de mastite, o crescimento bacteriano

    ainda inibido pela produo local de

    fatores solveis (lactoperoxidase, lisozima e

    lactoferrina).

    A resposta imune humoral envolve

    um antgeno, constitudo por um material

    estranho que estimula uma resposta imune

    especfica e um anticorpo, constitudo por

    uma protena especial sintetizada pelos

    linfcitos B e clulas plasmticas, capaz de

    se combinar ao antgeno especfico

    (HURLEY & MORIN, 2001). Os

    anticorpos so divididos em classes de

    protenas denominadas de imunoglobulinas

    (IgG, IgM, IgA, IgD e IgE), cuja funo formar complexos antgeno-anticorpo, com

    intensificao da fagocitose, neutralizao

    do antgeno e ativao do sistema de

    complemento. Esse ltimo composto por

    uma srie de protenas sangneas, com

    interao de uma cascata enzimtica que

    funciona integrando as respostasinflamatrias em casos agudos (GIRAUDO,

    1996). SANTOS (2001a) mencionou que,

    atualmente, so conhecidos dois tipos de

    vacinas contra mastite que

    comprovadamente apresentam efeito

    positivo (J5 contra mastite causada por

    coliformes e uma vacina baseada emantgeno capsular de Staphylococcus

    aureus), ambas tm sido eficazes na

    diminuio da severidade dos casos clnicos

    e aumento da taxa de cura espontnea.

    Estgio de lactao

    Segundo HOGAN & SMITH

    (2001a), as IIMs podem suceder-se em

    diferentes etapas da vida do animal. Parto,

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    lactognese e perodo seco constituem

    eventos reprodutivos que influenciam na

    susceptibilidade mastite (ELBERS et al.,

    1998). Durante o perodo seco a glndula

    mamria passa por uma involuo ativa,

    principalmente nas duas semanas seguintes

    secagem da vaca (WALDNER, 2001). De

    acordo com ANDERSON & CT (2001),

    estudos demonstraram que 35 % de todas as

    novas infeces ocorrem durante esse

    perodo. HURLEY & MORIN (2001)mencionaram que nessa fase a glndula

    continua a secretar leite com o mximo

    acmulo ocorrendo dois a trs dias depois

    de suspensa a remoo do leite; a presso

    originada na glndula promove dilatao do

    canal da teta, predispondo entrada de

    microrganismos para o interior do rgo.As bactrias no so mais removidas pela

    ordenha, o processo de fagocitose no

    eficiente em remover os materiais estranhos

    e a desinfeco da teta j no realizada;

    fatores que favorecem a instalao de IIMs.

    Conforme ANDERSON & CT (2001),

    nesse perodo h outra fase crtica, as duasltimas semanas que antecedem ao parto,

    quando ocorre a colostrognese, processo

    que acomete alguns mecanismos de defesa;

    no incio da lactao tambm h

    susceptibilidade devido ao estresse sofrido

    no parto (glicocorticides contribuem para

    menor resposta das clulas de defesa).

    BRADLEY & GREEN (2000)

    mencionaram que enterobactrias,

    causadoras de infeces durante o perodo

    seco, tm habilidade em se manterem

    quiescentes na glndula mamria at o

    parto, subseqentemente, causando mastite

    clnica durante fase inicial da lactao.

    Na lactao e no processo de

    ordenha em si h maior susceptibilidade de

    difuso de mastite contagiosa, j no perodo

    seco e intervalos entre ordenhas a

    susceptibilidade recai sobre mastitesambientais.

    Hereditariedade e idade

    A seleo gentica visando

    incremento na produo de leite foi

    acompanhada por aumento a

    susceptibilidade s IIMs. A conformao da

    glndula mamria e tetas constituem uma

    caracterstica moderada a altamente

    herdvel; tetas planas e cilndricas so mais

    susceptveis a infeco do que as tetas de

    formato cnico (mais resistentes)

    (HURLEY & MORIN, 2001).

    WANNER et al. (1998) concluram

    em um estudo que a hereditariedade de

    IIMs no primeiro parto parece ser

    moderada, variando substancialmente a

    incidncia de IIMs entre famlias; nesse

    mesmo estudo ainda concluiu que vacas

    Holstein portadoras de deficincia de

    adeso leucocitria, uma condio

    autossomal recessiva, no diferem de vacas

    no portadoras frente susceptibilidade as

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    IIMs. NICKERSON (2001a) em

    investigaes sobre mastite em novilhas

    verificou uma maior prevalncia das IIMs

    em animais da raa Jersey (67,7%), quando

    comparado raa Holstein (35%).

    Quanto idade dos animais,

    LADEIRA (1998) cita que fmeas mais

    velhas (sete a nove anos) so mais

    susceptveis s IIMs, devido a leses

    internas e desgaste sofrido pelo esfncter da

    teta e pela glndula em si. Contudo,OLIVER et al. (2001) mencionaram que a

    ocorrncia das IIMs em novilhas com a

    idade de acasalamento ou gestantes pode

    assumir grau significativo e persistir por

    longos perodos de tempo, estando

    associada elevada contagem de clulas

    somticas (CCS) e reduo substancial daproduo ps-parto. JONES & BAILEY Jr

    (2001) comentaram que a transmisso entre

    animais pode ocorrer ainda na puberdade,

    por meio de amamentao cruzada.

    WAAGE et al. (2001) mencionaram que

    em novilhas, a presena, antes do parto, de

    edema de bere, edema de teta, sangue noleite ou vazamento de leite pelas tetas, est

    associada com aumento do risco de

    ocorrncia de mastite clnica ps-parto.

    Fatores ligados ao agente

    A epidemiologia da mastite varia

    consideravelmente dependendo da espcie,

    quantidade, patogenicidade e infectividade

    do agente envolvido e h evidncias de que

    os fatores de risco diferem conforme essas

    caractersticas. Os microrganismos que

    comumente causam mastite podem ser

    divididos em dois grupos, baseados na sua

    origem: patgenos contagiosos e patgenos

    ambientais (PEELER et al., 2000).

    BODMAN & RICE (2001)

    mencionaram que o grupo dos

    microrganismos contagiosos assume

    importncia, compreendendo

    Staphylococcus aureus, Streptococcus

    agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e

    uma srie de patgenos menores

    envolvidos geralmente em infeces

    subclnicas de menor severidade. Os

    Staphylococcus freqentemente causam

    mastite e so encontrados colonizando a

    pele da glndula mamria, tetas e lesesnessas reas, porm, quartos mamrios

    infectados so o principal reservatrio

    desses microrganismos, sendo transmitido

    por qualquer forma de contato. Esse

    patgeno foi considerado por PARDO et al.

    (1998), como o agente isolado com maior

    freqncia na etiologia de IIMs em vacasprimparas no perodo ps-parto (64% das

    amostras positivas no exame

    bacteriolgico). Segundo HILLERTON

    (1996), os Streptococcus agalactiae so os

    microrganismos melhor adaptados

    glndula mamria, raramente so

    encontrados fora dela; geralmente esto

    envolvidos em doenas clnicas agudas e

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    infeces subclnicas persistentes. Os

    Streptococcus dysgalactiae esto

    envolvidos com leso nas tetas, sendo

    comumente associado mastite no perodo

    seco.

    O ambiente definido por HOGAN

    & SMITH (2001a) como a associao de

    condies fsicas externas que afetam e

    influenciam no crescimento,

    desenvolvimento e sobrevivncia de um

    organismo ou grupo de organismos e, noambiente que se origina o segundo grupo de

    patgenos envolvidos nas IIMs, incluindo

    Escherichia coli, Klebsiella sp.,

    Streptococcus uberis, Enterobacter sp. e

    outros patgenos predominantemente

    oportunistas (Pseudomonas sp., Prototheca

    sp., Nocardia sp., etc), que adentram aglndula mamria quando os mecanismos

    de defesa esto comprometidos. Esses

    microrganismos requerem materiais

    orgnicos como alimento, nestas condies

    alguns materiais utilizados como cama para

    os animais promove um ambiente propcio

    para propagao. A populao bacterianatende a estacionar seu crescimento em torno

    de sete a dez dias, quando h um declnio

    por exausto dos nutrientes na cama.

    Conforme HOGAN & SMITH (2001b),

    esses tipos de patgenos no sobrevivem

    por longos perodos de tempo na pele das

    tetas. Os mesmos autores ainda citaram que

    colonizao por um grande nmero de

    microrganismos reflete a exposio alta

    contaminao ambiental, pois

    Streptococcus uberis tem sido isolado da

    cama, solo, fezes e urina. A fonte de gua

    tambm pode contribuir para disseminao

    de mastite, principalmente causada por

    coliformes, pela contaminao por matria

    fecal.

    As IIMs causadas por patgenos

    ambientais, segundo BRADLEY &

    GREEN (2000), so mais freqentes noperodo seco em relao ao perodo

    lactacional, podendo alguns animais

    desenvolver mastite crnica, agindo como

    reservatrio de patgenos. PEELER et al.

    (2000) citaram que agentes da espcie

    Arcanobacter (Actinomyces) pyogenespodem estar ligados a infeces agudasnesse perodo e sua importncia reside em

    levar a danos e perda de tecido secretrio.

    Para BODMAN & RICE (2001), as IIMs

    por microrganismos contagiosos resultam

    em elevao da contagem de clulas

    somticas (CCS), por vezes de longa

    durao; em contraste, a resposta eminfeces causadas por microorganismos

    ambientais varivel, devido as diferentes

    respostas do sistema imune, conforme a

    caracterstica patognica de agentes

    especficos.

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    FATORES LIGADOS AO MEIO

    AMBIENTE

    OrdenhaDe acordo com RASMUSSEN &

    MADSEN (2000), o equipamento de

    ordenha e o ato em si, seja mecnico ou

    manual, pode influenciar direta ou

    indiretamente na sade da glndula

    mamria. Os aspectos negativos envolvidos

    nesse processo e que podem influenciar nasusceptibilidade mastite compreendem:

    1. Facilidade de transmisso de patgenosentre vacas e no mesmo animal pela

    inadequada preparao da glndula para

    a ordenha (lavagem e secagem) e da

    ordenhadeira (copos coletores com

    superfcie interna contaminada agemdifundindo os patgenos entre os

    animais);

    2. Pelas possveis flutuaes no sistema devcuo da ordenhadeira que

    proporcionam o movimento de leite

    entre os copos coletores (teteiras),

    facilitando a difuso de microrganismos

    entre os quartos mamrios;

    incrementam a penetrao de

    microrganismos no canal da teta devido

    ao mecanismo de impacto, no qual h

    movimento reverso do leite, gerado

    pelas flutuaes no sistema de vcuo,

    impulsionando os microrganismos para

    o interior da teta (SAINSBURY, 1998);

    o vcuo excessivo pode levar ao

    deslizamento dos copos coletores,

    ocasionando traumas nas tetas e/ou

    ordenha incompleta, favorecendo a

    penetrao e colonizao da glndula

    por patgenos. A sobreordenha

    influencia no risco de infeco, pois

    pode agravar o mecanismo de

    impacto (KRUZE, 1998);

    3. Propenso exposio do orifcio ecanal da teta aos patgenos, uma vezque pode modificar as condies da teta

    (everso do orifcio, microleses e

    vesculas hemorrgicas), favorecendo a

    instalao das IIMs (SHEARER, 2001);

    4. Modificao na teta e ambienteintramamrio, pois pode haver perda da

    integridade da membrana derevestimento do canal da teta,

    proporcionando um meio favorvel

    colonizao e multiplicao microbiana.

    A dor associada a esses casos conduz a

    respostas neurohormonais, com

    supresso da funo imune e aumento

    na probabilidade de instalao demolstias. A eficincia nos mecanismos

    de defesa locais e sistmicos pode ser

    enfraquecida logo aps a ordenha com

    altos nveis de vcuo (RASMUSSEN &

    MADSEN, 2000).

    A questo de interao entre a teta e

    os produtos germicidas utilizados em pr-

    imerso e ps-imerso deve ser considerada

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    excelente suprimento para os

    microorganismos ambientais, como j

    comentado. Sistemas como free-stall

    quando mal projetados, deficientes em

    ventilao e drenagem, tm conseqncias

    danosas sade da glndula mamria;

    nessas instalaes a higiene assume

    importncia primordial. Para NICKERSON

    (2001a), ateno deve ser dispensada ao

    combate aos insetos, uma vez que podem

    atuar traumatizando as tetas, bem comoagindo como vetores para agentes

    contaminantes, difundindo as infeces.

    Vacas mantidas a pasto, geralmente, tm

    risco reduzido de contrarem mastite

    quando comparadas a animais confinados,

    entretanto, algumas condies na pastagem,

    por exemplo, reas baixas e alagadias e/ousombreadas, forragem grosseira e reas de

    aglomerao de animais, favorecem o

    desenvolvimento de microrganismos

    ambientais e, conseqentemente, a

    probabilidade de contaminaes. Ateno

    deve ser dispensada aos episdios de

    retroamamentao e amamentao cruzadaem fmeas jovens, hbitos que contribuem

    para o futuro estabelecimento da mastite.

    PEELER et al. (2000) ainda

    comentaram sobre a aquisio de animais

    que, eventualmente, podem ser portadores

    de infeces. Essas fmeas constituem um

    fator de risco frente ao rebanho, pois podem

    agir como difusoras de patgenos e

    requerem um manejo diferenciado.

    O clima, segundo RADOSTITS et

    al. (1994), assume importncia em funo

    das mudanas de temperatura e umidade

    que podem influenciar indiretamente na

    trade de fatores determinantes (hospedeiro,

    agente e/ou meio ambiente) que afetam a

    susceptibilidade mastite.

    Nutrio

    HOGAN & SMITH (2001c)

    mencionaram que a dieta de uma vaca de

    leite influencia na ocorrncia de IIMs. De

    acordo com NICKERSON (2001a), certos

    nutrientes afetam diferentes mecanismos de

    resistncia, incluindo funo leucocitria,

    transporte de anticorpos e integridade do

    tecido mamrio. HOGAN & SMITH

    (2001c) comentam que componentes

    especficos da dieta tm demonstrado valor

    como as vitaminas E e A, -caroteno e

    microminerais (selnio, cobre e zinco).

    Evidncias de importncia recai

    sobre a vitamina E e o selnio, os quais

    influenciam na funo das clulas

    fagocitrias (funcionam como

    antioxidantes). Logo, os animais com

    deficincia desses elementos tm risco de

    contrarem mastite, com maior durao e

    sinais clnicos mais severos. A funo

    primria do cobre, segundo MANITOBA

    (2001), refere-se imunidade, um

    componente da enzima superxido

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