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Fatos e Relatos

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Livro Fatos e Relatos, testemunhos da Comunidade Aliança de Misericórdia. O Livro Traz a Palavra do Ano (Ezequiel 42,1-12), que foi vivida pela Comunidade no ano de 2011.

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Palavra dos padres

Como poderíamos ver se o Movimento Aliança de Misericórdia é de Deus? No evangelho, Jesus nos explica que é dos frutos que se vê se a Obra é de Deus Pai. Por isto, pelos testemunhos que neste livro são relatados, compreendemos como os missionários da Aliança de Misericórdia seguem os caminhos de Deus. Tantas almas resgatadas. Tantos homens e mulheres que viviam na sarjeta juntamente com os ca-chorros, seus únicos amigos, já podem olhar para um futuro melhor e esperar. Sim, esperarem uma vida digna para serem reconhecidos como pessoas que querem lutar para criar uma família e se realizar na vida de trabalho e na vivência com as outras pessoas.

No começo de 2011, com todo o Movimento, escolhemos como Palavra chave o capítulo 47 de Ezequiel onde lemos que, da fonte do altar, no templo, brota uma água, uma pequena fonte que vai se tornar um rio imenso. De suas margens brotarão árvores com frutos abundantes. Era somente acreditar na Palavra e colocá-La em prática sem demora. Tivemos que superar tantos obstáculos durante os meses, às vezes cansaço, desânimo, fortes dificuldades... às vezes parecia que tudo se desmo-ronava e não víamos uma saída. Mas acreditando na Palavra, fomos além dos limites e dos nossos erros acreditando exclusivamente na realização dos versículos do antigo testamento. O resultado foi apresentar a Deus, hoje, o nosso trabalho deste ano e a nossa confiança ilimitada Nele e na Sua Palavra.

Os frutos são estes testemunhos. Vidas concretas nas quais os nossos missioná-rios, funcionários, voluntários, benfeitores e amigos encontraram a força para reco-meçar e acreditar... por quê? Porque alguém acreditou neles. Sim! O rio se tornou grande demais e a água do Espírito gerou vidas novas. Frutos que permanecerão não somente nesta terra, mas eternamente no paraíso. Um Padre da Igreja, no começo do Cristianismo, dizia que nunca devemos esquecer que servindo os pobres e vivendo pelos pobres, eles, um dia, nos abrirão as portas do Céu e dirão para nós “Vocês nos resgataram na terra, agora eu abro as portas do Céu que vocês me fizeram descobrir tirando-nos da podridão.”

Pe. Antonello Pe. João Henrique

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Índice

Palavra do ano5611142024303642

Nasce o novo Centro de Reinserção...

Início de nova vida...

Mais crianças acolhidas...

Em Jesus, a acolhida dos pobres...

Misericórdia além fronteiras...

Um holocausto de amor...

O fim é um recomeço...

Missão TK, anúncio da Boa Nova...

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Ez, 47, 1-121 Reconduziu-me então para a entrada do Templo e vi ali água que escorria de sob

o limiar do templo para o lado do oriente, pois a frente do Templo dava para o oriente. A água escorria de sob o lado direito do Templo, do sul do altar. 2 Em seguida, fez-

me sair pelo pórtico do norte e rodear por fora até o pórtico exterior que dá para o oriente , onde a água estava escorrendo do lado direito. 3 O homem dirigiu-se para o lado do oriente com um cordel na

mão, medindo mil côvados e me fez atra-vessar a água , que dava pelos tornozelos.

4 Tornou a medir mil côvados e fez-me atra-vessar outra vez a água, que agora dava pelos

joelhos. De novo mediu mil côvados e de novo me fez atravessar a água que agora dava pelos quadris.

5 Mediu outros mil côvados e agora era uma torrente que eu já não podia atravessar, pois a água tinha subido

tanto que formava um rio, que só se podia atravessar a nado. 6 Disse-me então: “Viste, filho do homem?” E fez-me voltar

para a margem da torrente. 7 Quando voltei, eis que havia ali na margem da torrente árvores abundantes de um lado e de outro. 8

Disse-me: “Esta água que escorre para o lado oriental desce para a Arabá vê entra no mar. Ao entrar no mar, a sua água se torna salubre. 9 Resultará

daí que em todo lugar por onde passar a torrente, os seres vivos que o povoam terão vida. Haverá abundância de peixe, já que onde quer que esta água chegue, ela levará

salubridade, de modo que haverá vida em todo lugar que a torrente atingir. 10 À sua mar-gem existirão pescadores. Desde Engadi até En-Eglaim haverá lugares para estender as redes. Os peixes serão da mesma espécie que os do Grande mar e muito abundantes. 11 Mas quanto aos seus brejos e pântanos, estes não serão salubrificados; antes, serão deixados como reservas de sal. 12 Junto à torrente, em sua margem, de um lado e do outro, encontrar-se-á toda sorte de árvores de frutos comestíveis, cujas folhas não murcharão e cujos frutos não se esgotarão; produzirão novos frutos de mês em mês, porque a sua água provém do santuário, pelo que os seus frutos servirão de alimento e as suas folhas de remédio.”

Palavra do ano

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Nasce o novo centro de Reinserção...

O sonho de ampliar o número de vagas para acolher os irmãos que diariamente nos pedem para sair da situação de rua se concretizou!

Foram meses de muito trabalho e dedicação na busca de um espaço, no empenho para a construção deste projeto em parceria com a Prefeitura, na luta por recursos para as reformas necessárias, na definição da equipe que assumiria este novo servi-ço, enfim, estamos certos de que o que no início era impossível aos olhos humanos, tornou-se realidade por meio Centro de Reinserção para Adultos em Situação de Rua João Paulo II, que acolhe até 100 pessoas na busca de sua reinserção social.

Partilhamos com você o testemunho de dois filhos recém acolhidos, bem como as palavras da Denise, responsável por este centro:

Meu nome é Marcelo, sou casado e tenho um filho de onze anos que mora com minha mãe em Caieiras. Desde quatorze anos, em 1991, fui usuário de drogas, especialmente de craque. É muito tempo! Muito tempo! Mas, conseguia trabalhar como cozinheiro, mestre de obras e vendedor até me afundar mesmo no craque. Por ser usuário de droga, minha mulher foi embora, comecei a perder tudo, vender

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tudo. Levei umas “boas cacetadas” da minha mulher que não suportava mais minha situação. Vi a Cracolândia na televisão, Sociedade Zumbi, como diz a mídia e me deu vontade de ir para lá, ficar livre para usar o craque. E fui! Fiquei lá durante dois anos, mas voltava de vez em quando para minha casa. Fiquei ao todo nove meses inteiros na Cracolândia. Me afundei mesmo no craque em 2010.

Desde que entrei na Cracolândia e vivi aquele horror que nem um “cachorro” merece, queria sair, mas não conseguia. Precisa de alguém muito forte em Deus que faça um trabalho diário lá e arranque a gente. Tem muitos usuários que também querem sair, mas não conseguem. Precisa de um trabalho social e apoio. Lá existe uma força muito grande que prende a gente. Força do demônio. Pura força do de-mônio.

Antes da Cruz da Jornada Mundial da Juventude passar na Cracolândia, no dia 19 de setembro, saí com uma faca para roubar e assaltar para comprar craque. Will me chamou para ver o movimento de pessoas. Vi a Cruz e uma porção de velas. Quando o padre jogou água em mim, larguei a faca imediatamente e comecei a cho-rar sem conseguir parar. Naquela mesma hora queria ir para a Aliança, mas quando chegamos à praça onde rezaram, já haviam ido embora.

No dia seguinte, eu e Will, meu amigo, fomos para a Casa Restaura-me. E da Restaura-me para Centro João Paulo II. Quando cheguei aqui, dormi quatro dias, tal o meu estado físico. Estava totalmente debilitado sem conseguir ficar de pé.

Por que só nós dois saímos da Cracolândia no dia que a Cruz passou por lá? Já estava decidido: Jesus foi nos buscar, tenho certeza disto.

Mas eu sei que Deus está me mostrando algo. Não sei o que é, mas sei que algo vai acontecer.

Quero ficar um ano dedicado a Deus. Por isto, pedi para ir para a Fazenda Espe-rança, pois quero ficar afastado de São Paulo onde a tentação é muito grande e tenho medo de daqui a um mês ter uma forte crise de abstinência. Quero ficar bem limpo para voltar para casa, trabalhar e cuidar do meu filho.

Quero fazer um pedido para todas as pessoas que lerem este testemunho: rezem por mim e por Will, porque se não for pela oração, recaímos.

Marcelo

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Faço parte da história de Marcelo e Marcelo da minha história. Somos amigos há muito tempo. Tenho trinta e um anos. Uso drogas desde quinze anos, com dezes-seis ou dezessete, comecei a usar craque e, desde os dezoito, tento sair.

Tenho três filhos, sou separado por causa da droga. A droga acaba com tudo! Caí e recaí várias vezes. Parece que algo não deixava eu sair daquela vida.

Fui acolhido na Aliança, no Botuquara, em 2004, mas fiquei pouco tempo. Fugi da Aliança porque a polícia foi me procurar e eu queria ser livre para a droga. Fui para a Cracolândia.

Logo depois que saí, em 2004 mesmo, tentei roubar, assaltar um carro para uso de craque, mas fui preso em flagrante. Fiquei na cadeia durante seis anos e fugi diversas vezes.

Ao sair de lá, consegui “ficar limpo” durante seis ou sete meses, sem usar drogas, morando na casa dos meus pais e tentando cuidar das crianças. Mas, conheci uma garota que era usuária de cocaína. Voltei a usar craque e ela me deixou. Nova vida no inferno: roubava da minha mãe e irmã para comprar craque.

Certo dia sentado perto da sua casa, num escadão, passou a missionária Graça e me perguntou se não queria ajuda. Ofereceu-me levar para alguma casa de acolhida no domingo, mas não aguentaria esperar ate lá. Era sexta-feira. Estava na rua há uma semana, já com deformação física. Existe uma droga na Cracolândia que é vendida como craque, mas que se chama OXI. É muito mais forte que o craque, porque vem misturada com gasolina, álcool e muitas outras coisas que não prestam. Nenhum organismo suporta. Ela mata em seis meses. É tão forte que estoura feridas no corpo como essa do meu pé e aquelas do pescoço do Marcelo. Seu pescoço estourou todo. Agora já estão “bonitas”, secas, mas quando es-touram é horrível.

Decidi ir para a Cracolândia pegar Marcelo e irmos para uma casa de recupe-ração. Exatamente na segunda-feira à tarde, dia 19 de setembro, cheguei lá, muito assustado porque vi muitos policiais e muitos helicópteros que sobrevoavam o local da Cracolândia. Escondi-me na barraca, pois tinha liberdade condicional. Falei ao

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Marcelo que seu filho precisava dele e que iríamos para uma casa de recuperação. Marcelo já queria fazer a despedida do craque adiando para quarta-feira a nossa saída. Insisti que só ficaria lá um dia, ou seja, na segunda-feira para sair na terça.

Pois não é que a Cruz passou exatamente na segunda-feira à noite! Marcelo me chamava e eu olhava aquela porção de velas e muitas pessoas rezando.

Criei coragem e saí. Vi a Cruz, as velas, as orações e água que o padre jogava em nós. Eu e Marcelo choramos muito. Tanto que dava até vergonha, pois não conse-guíamos parar. Quando chegamos na praça onde rezaram, já tinham ido embora. Na terça-feira chamei o Marcelo e fomos para a Restaura-me. Lá encontramos Marqui-nho e D. Rose que nos encaminharam para o Centro João Paulo II. Vejo os pequenos “milagres” que aconteceram naqueles dias:

Normalmente, ninguém deixa usarmos condução. Na terça-feira, conseguimos chegar à Restaura-me num ônibus que nos deixou entrar, comemos muitos salgados, todos os bares nos davam alguma coisa.

Havia uma audiência para pensão dos filhos e a mulher não compareceu. Fiquei livre durante um ano de ir preso e, ainda soube no mesmo dia que estava livre, pois a liberdade condicional tinha terminado.

Por tudo isto, quero dar um tempo para Deus e daqui a um ano voltar a trabalhar, ficar com minha família e cuidar dos meus filhos.

Como disse Marcelo, também fico me perguntando: por que somente nós dois saímos da Cracolândia no dia que a Cruz da Jornada Mundial da Juventude passou por lá?

TENHO CERTEZA DE QUE JESUS FOI NOS BUSCAR! Will

“...haverá vida em todo lugar que a torrente atingir” Ez 47, 9

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Conhecer as histórias desses irmãos que escolhem iniciar um caminho de mudança de vida é maravilhoso, pois te-mos a alegria de testemunhar o quanto Jesus vai ao encontro dos seus filhos e faz de tudo para que encontrem a Vida, e Vida em plenitude!

Conviver com eles e buscar ajudá-los em suas necessidades e expectativas, possibilitando que, aos poucos, recons-truam seus sonhos, projetos de vida, de modo que possam, de fato, concretizá-los, é uma graça particular que Deus tem nos concedido com esse trabalho.

Por isso, diante da Palavra de Deus que nos disse “... haverá vida em todo lugar que a torrente atingir” (Ez 47,9c), podemos, sim, testemunhar a vida que tem sido gerada nesse Centro desde agosto deste ano, local por onde já passa-ram mais de 120 pessoas. Podemos, sim, agradecer a Deus por toda maravilha que está realizando no meio de nós.

Denise Cristina HoCoordenadora do Centro de Reinserção para Adultos em Situação de Rua João Paulo II

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Situada no Brás, a Casa Restaura-Me é o início de nova vida para todos aqueles que desejam reintegrar-se à sociedade. Ali, as pessoas em situação de rua passam o dia e recebem os primeiros cuidados, fazem as refeições, recebem atendimento na área de assistência social, psicológica, formação humana, cultural e educacional, além de orientações jurídicas e de trabalho.

Aqueles que desejam realmente mudar de vida são encaminhados para a Casa de Reinserção onde passam de quinze a trinta dias com a responsabilidade de colaborar no cuidado com a casa. Essa disciplina é o início de uma caminhada com Deus e de uma futura reinserção na sociedade, da reconciliação familiar e de um emprego que lhes possibilite a recuperação de sua dignidade humana.

Gumercindo é um lindo fruto deste trabalho e partilha conosco sua história:

Início de Nova Vida...“...reconduziu-me então para a ent rada do Templo e vi ali água queescorria de sob o limiar do Templo para o lado do oriente...” Ez 47, 1

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Sou Gumercindo Monteiro da Silva Junior, 41 anos, natural da cidade de Diade-ma.

Como qualquer criança, tive família, uma infância normal, tudo que eu queria de bens materiais, pois meus pais me davam de tudo, mas não tinha o principal, amor e paz dentro da minha própria casa, pois meu pai tinha problema de alcoolismo, apesar de não deixar faltar nada em casa, as brigas com a minha mãe eram diárias. Em uma dessas brigas eu tinha treze anos de idade, fui separar porque eu não aguentava mais aquilo. Neste dia, meu pai me espancou, deixou meu rosto deformado e me disse que se ele soubesse que eu iria um dia entrar no meio do relacionamento deles teria deixado eu morrer, porque a “vadia” da minha mãe não tinha condições de me criar e ele, com dó, cuidava de mim.

Passei pela Fundação Casa, antiga FEBEM, várias vezes, quando maior de idade fui preso pela primeira vez aos 18 anos, por motivo de assalto, fiquei preso por três meses. Quando completei dezenove anos fui preso novamente e fiquei durante quin-ze anos em reclusão, sendo oito na Casa de Detenção de São Paulo, mas para mim o culpado de tudo isso que eu estava passando era meu pai. Tinha planos de matá-lo. No período em que fiquei preso sempre pensava em me vingar dele, mas ele era o único que ia me visitar, pois quando minha mãe faleceu, completei quatorze anos e oito meses de prisão. Chegou uma intimação na penitenciária para eu me apresentar no Fórum e eu fiquei com muito medo, quando aproximou de mim um pessoa falan-do que não precisava ter medo, pois era a minha liberdade que esta lá. Aquela frase me incomodou.

Dias depois, chegou minha liberdade e com o coração fechado, ainda com desejo de vingança, planejando tirar a vida do meu pai não fui procurar os meus familiares, mas sim os amigos e me envolvi novamente na criminalidade, usando todos os tipos de drogas e indo morar nas ruas, drogando-me , utilizando da prostituição e fazendo de tudo para sustentar o vício.

Certo dia, em plena Cracolândia, apareceu um grupo de missionários da Comu-nidade Aliança de Misericórdia gritando, pulando e rezando por muitas pessoas. Um deles se aproximou de mim e perguntou: “Posso rezar por você?”. Naquele momen-to, não deixei, pois estava sobre o efeito das drogas e não tinha força para nada, mas,

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no dia seguinte, um dos moradores de rua que estava usando droga junto comigo me convidou para descer até o Brás, disse que lá havia uma casa que dava roupa, comida e apoio à dependentes químicos. Perguntei-lhe que casa era e ele me respondeu Casa Restaura-me.

Assim que cheguei na Casa ele me apresentou para o Amilcar (Orientador Sócio-Educacional) e para a Eloisa (Missionária), eles me fizeram um monte de perguntas e a Eloisa me perguntou: “O que vocês querem nesse momento?”, eu respondi “ quero parar com as drogas” e no mesmo dia entrei para a Triagem. Dormia no al-bergue e durante o dia ajudava nos trabalhos da Casa, depois de três meses fui para o sítio em Jacareí onde fiquei um ano e dois meses para ter um acompanhamento mais particular, fui monitor por um ano e terminando meu caminho fui convidado para um voluntariado na Casa Restaura-me, auxiliando as pessoas que faziam parte da Triagem, onde fiquei por um ano. Depois desse período entrei para a Formação de Missionário, onde aprendi a perdoar, amar independentemente de qual pessoa e situação. Permaneci na Formação por um ano, depois fui para Piracicaba onde fiquei responsável por mais um ano pela Triagem no sítio Poço de Jacó.

Em janeiro de 2011, retornei para a Casa Restaura-me para cuidar da Triagem, em São Paulo, onde vive meu pai e familiares com quem retomei o laço.

Desde agosto de 2011, sou funcionário da Casa Restaura-me, onde ensino e aprendo com os conviventes, sendo testemunho vivo e diário para os mesmos, pois a minha mudança se iniciou aqui.

Agradeço a Deus por ter me dado essa oportunidade de me relacionar bem com meus familiares e pessoas que me cercam e de me curar de toda cegueira espiritual.

Gumercindo Monteiro da Silva Júnior

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Mais crianças acolhidas...

No abrigo Casa Naim, moram crianças e adolescentes que, por diversas ra-zões, encontram-se provisoriamente privados de habitar com seus pais. Em situação de risco ou de exclusão social, os acolhidos recebem uma formação que visa a uma reestruturação global do ser humano, nos níveis afetivo, psicológico e social para que possam, em tempo adequado, reintegrar-se na sociedade.

Em 2011, vencemos um novo desafio. Além das três casas que têm capacidade para atendimento de sessenta crianças, a Aliança de Misericórdia fez um convênio com a Prefeitura de São Paulo cuja verba mantém mais uma casa. O Abrigo Casa Naim ficou, a partir deste ano, com quatro casas, pois nosso objetivo é ampliar a aco-lhida de tantas crianças e adolescentes que necessitam de uma transformação pessoal para seu desenvolvimento e crescimento integrais. Leia o depoimento de algumas crianças abrigadas e da Fabiana, coordenadora do abrigo:

Não gosto de lembrar quando minha mãe batia no meu irmão com tamanco, sem ele fazer nada, porque ela bebia muito. Por isso que eu gosto de morar na Casa Naim.

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“Junto à torrente, em sua margem, de um lado e do out ro, encont rar-se-á toda sorte deárvores de frutos comestíveis, cujas folhas não

murcharão e cujos frutos não se esgotarão”Ez 47, 12

Essa flor é minha família. Cada pétala é uma pessoa. Somos dez. Caíram oito pétalas, pois estão longe de mim. Queria que minha família fosse unida, este é o desejo do meu coração.

O meu padrasto me ba-tia muito e minha mãe não fazia nada. Por isso que meu irmão e eu fu-gimos de casa.

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“A Aliança é tudo para mim. É minha família. Aqui recebo muito amor. Tive uma experiência muito forte com Maria e Jesus.

Eu era usuário de droga desde os treze anos. Vim da Fundação Casa, antiga Febem. Estava preso por tráfico e 157 - assalto à mão armada. Foi aí que co-

nheci a Aliança de Misericórdia onde conheci Deus. Meu sonho é ser professor de educação física. Do que mais gosto aqui é

participar da oficina de pipa, das Artes Marciais e da formação de jovens do Thalita Kum. Já fiz pastoral de rua e gosto de rezar pelos outros.

Gosto muito de fazer mutirão, pois vivemos como uma família arrumando nossa própria casa.

Sou muito feliz aqui. Às vezes tenho vontade de ir embora, mas alguma coisa me diz que não devo.”

* Nomes e idades das crianças e adolescentes omi-tidos, a fim de preservar sua segurança e imagem.

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Meu nome é Terezinha, sou casada e responsável pela Casa Naim Femi-nina onde convivo, há cinco anos, com crianças abrigadas. Uma das experiên-cias fortes que vivi neste ano foi a acolhida de duas irmãs que vieram de Salto, retiradas de sua mãe (busca e apreensão). Lembro-me de que chegaram apenas com a roupa do corpo e uma delas, Rafaela, a mais nova de 11 anos, chorava muito. Abracei-a durante um longo tempo, acho que mais de meia hora, até que se acalmasse e, enquanto a abraçava, tentava imaginar o sofrimento desta criança que de repente foi tirada de sua casa, de seu lar... Estou certa de que neste abraço ela experimentou o amor de mãe que gera a vida. E é isso que

quero ser para cada criança que vem morar na Casa Naim. Mãe Terezinha

Nós missionários, funcionários, voluntários e amigos da Casa Naim, temos muito a agradecer a Deus e nos alegrar por este ano, pois Ele realizou maravilhas e nos agraciou de diferentes formas.

Queremos ressaltar algumas destas Graças:- nova parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo que reabriu na Casa Maria Paola vinte vagas para crianças e adolescentes, que estão sob os nossos cuidados;- reforma do Galpão da Casa Naim em parceria com a Fundação Prada. Este espaço será utilizado para os Eventos da Casa como: oficinas para as crianças e adolescentes, espaço para formação humana e educacional, encontros com as famílias dos acolhi-dos, Missas e confraternizações;- inauguração das quatro primeiras salas de aula da Escola da Misericórdia, financiada pela Família Cavalieri, e oferecerá Educação básica de qualidade, com os princípios humanos e cristãos.

Equipe das Casas Abrigo Naim

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Em Jesus, a acolhida dos pobres...“...Resultará daí que em todo lugar por onde passar a torrente,

os seres vivos que o povoam terão vida... ” Ez 47, 9

Existem muitas casas de acolhida e recuperação com seus modos de operação e carismas específicos. Desde o iní-cio, a Comunidade Aliança de Misericórdia teve em sua his-tória a presença dos pobres que, como cremos, nos ensinam a viver o evangelho. Por isso mesmo, nossa preocupação não é oferecer recuperação para dependentes químicos, mas, mais do que isso, oferecer nossas casas, as Casas Nazaré, para que Jesus possa nascer no coração desses irmãos. Em Nazaré, o louvor dos pobres aquece o menino Jesus. Ele, que quis se fazer pobre, desce de seu trono para saborear sua glória entre os pobres, portanto nós temos que encher o céu com estes louvores.

Com alegria apresentamos dois testemunhos:

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Meu nome é Genival, tenho 27 anos e estou há sete me-ses na Comunidade Aliança de Misericórdia em Piracicaba-SP.

Num domingo, dia do Senhor, eu e dois irmãos viajávamos felizes de São Paulo para Piracicaba, quando fomos parados em uma blitz da polícia rodoviária. Fiquei preocupado, mas ao mes-mo tempo confiante no Senhor, pois estava devendo à Justiça vinte e duas assinaturas de “condicional”. Ao sermos parados, a polícia pediu documentos de todos e eu não tinha. Tivemos que descer do carro para que a polícia começasse uma revista “pente fino”. Ao consultar nossos nomes constou a minha “condicio-nal”. Neste momento, o primeiro tenente solicitou-me brava-mente um documento com foto. Meu irmão que estava comigo, sabendo da minha situação, disse: “meu irmão, estou contigo até o fim”. O tenente me mandou tirar os sapatos e as meias e,

humilhantemente, tive que sentar às margens da rodovia para vasculhar todos os meus pertences, pois queria um documento meu. Diante da situação e do nervosismo que me encontrava, o Espírito de Deus me direcionou a lhe mostrar um crachá da Aliança de Misericórdia com meu nome e uma imagem de Je-sus Cristo. Ao pegar este crachá, ele olhou para mim com um olhar de misericórdia, solicitou que eu colocasse os sapatos e que fizéssemos uma boa viagem.

Toda vez que esse policial reconhecer um filho da Aliança, ele o verá como imagem e semelhança de Deus.

Genival

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Meu nome é Agenor da Silva e tenho 62 anos. Fui criado por meus pais até os 12 anos, não tive escolaridade nenhuma e tive uma adolescência bem caseira.

Com doze anos meu pai faleceu e eu fui para uma fazenda de um amigo da família para trabalhar. Lá conheci a cachaça e o cigarro e, a partir daí, começou o meu circu-lo vicioso por quarenta e três anos. Conheci minha futura esposa, pois a família dela era nossa vizinha. O pai dela foi para São Paulo e ela teve que ir também. Não tive dúvida e fui atrás. Namorei cinco anos e depois me casei. Tive dois filhos.

Trabalhava em construção civil e um dia sofri um acidente, batendo meus olhos numa laje. Depois disso, comecei a ter uma pequena dificuldade para enxergar, mas não fui ao médico.

Causei muitos problemas a minha família por conta do alcoolismo. Sofri muito, até que me deu na cabeça de sair de casa para ficar na rua. Foram onze anos, algumas vezes fazendo trabalhos temporários, outras me ajeitando em qualquer canto, até ir morar numa casa velha com um casal de amigos. Hamilton pegava papelão comigo

enquanto Margareth lavava roupas para alguns vizinhos. Depois que Margareth fa-leceu por conta do alcoolismo, continuei morando com o Sr. Hamilton e tínhamos ajuda de um casal vizinho.

Certo dia, enquanto tomava cachaça, dois missionários se aproximaram e logo me convidaram para ir morar com eles e mudar de vida. Aceitei e eles desceram comigo para pegar as minhas coisas em casa. Quando chegamos em casa vimos que, há dois dias, Hamilton estava morto e eu nem me dei conta do que havia acontecido por causa da bebida.

Em 2004 fui para a comunidade e me levaram para o médico, quando fiquei sa-bendo que estava cego de um olho e do outro tinha apenas 20% da visão. Em 2006, após ter sido transferido para São José dos Campos, descobri que estava com câncer de próstata. Fizeram todos os encaminhamentos e fui tratado corretamente.

Em 2007, com a ajuda de uma amiga da comunidade reencontrei minha família, tive a graça de ver meu filho mais novo juntamente com minha ex-esposa e cunhadas. Ele estava com dezesseis anos e fazia quatorze anos que não os via. No final de 2007, tive a possibilidade de passar as festas de final de ano com eles e pude rever os outros que considero da minha família.

Graças à misericórdia de Deus tenho muitas amizades, sou querido por todos da casa e agradeço a Deus por me trazer aqui. Confesso que nem tenho palavras para agradecer pelas suas obras em minha vida.

Agenor Silva

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Outro bonito fruto das escolhas feitas pelos Filhos da Aliança é a Produção da Horta Orgânica na Casa Cordeiro Imolado, em Piracicaba.

Este projeto foi idealizado por Jean que, vindo da Bélgica para conhecer os trabalhos da Aliança com os mais pobres, foi se envolvendo a ponto de voltar ao seu país com o objetivo de conseguir aju-da junto a seus amigos para construir alguns proje-tos de sustentabilidade nas casas de acolhida.

De volta ao Brasil no primeiro semestre deste ano, arregaçou as mangas com os missionários e com os acolhidos, iniciando os trabalhos.

“Hoje estamos com dois mil metros de pro-dução, dez espécies de hortaliças, todas orgâni-cas, sem o uso de agrotóxicos que são utilizadas no consumo da casa e para a venda que é feita di-retamente a um distribuidor e também em uma barraca no varejão municipal, espaço cedido pela Prefeitura.”

Além da horta orgânica, estamos atualmente com 1050 galinhas. A produção é de 900 ovos por dia, também são ovos orgânicos com mais valor nutricional.

Recentemente ficou pronta a construção do chiqueiro, feita pelos próprios filhos, que inicial-mente conta com 30 porcos, destinados para o consumo da carne.

Esses trabalhos são acompanhados e supervi-sionados pela equipe dos projetos e por profissio-nais da ESALQ, mas executados pelos próprios filhos da Aliança que se sentem com sua dignidade restaurada, pois seu próprio trabalho colabora no sustento da casa. “Do pobre aprendemos a sermos senhores e a vi-vermos como servos”.Pe. João Henrique

Equipe dos Projetos de Piracicaba

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Missão TK,anúncio da Boa Nova...

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z 47, 9

Desde sua fundação, a Aliança de Misericórdia organiza uma missão chamada Thalita Kum. Esta inspiração veio pelo grande dese-jo de anunciar a todos o Amor Misericordioso de Jesus, especialmente na época do Natal, momento em que tantas pessoas se deixam levar pelo consumismo e esquecem-se do verdadeiro sentido desta festa tão especial. Desta forma, os missionários saem às ruas durante uma semana e se utili-zam de vários meios para lembrar a todos que Jesus nasceu para nos salvar. Eles vão às ruas, favelas, presídios, Fundação Casa, ônibus, metrô além de escolherem pontos específicos da cidade São Paulo para apresentação de teatro, dança e música... “Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo” (I Cor 9,22). Esta expe-riência foi tão frutuosa ao longo dos anos que diversos núcleos da Aliança decidiram realizar a Missão Thalita Kum em suas cidades também, até mesmo fora do período do Natal. Este é o caso, por exemplo, das fraternidades do Rio de Janeiro e Belo Ho-rizonte que nos meses de julho e outubro realizaram, res-pectivamente, esta experiência. Partilhamos com você alguns dos frutos:

“Parabéns, Aliança de Misericórdia, a Mis-são Thalita Kum foi uma benção para toda grande BH! Hoje, de manhã, passei lá na Praça 7 e, que maravilha, ouvir um pouco do louvor e ver uma Tenda com o Santíssimo exposto . Entrei e ado-rei Nosso Senhor, pois Sua Presença ali estava muito forte. Deixei lá meu nome, do meu marido e das minhas filhas. Quando cheguei em casa, senti uma paz que há MUITOOOOO tempo não sentia. Minhas crianças estão tranqüi-las e, se Deus quiser, meu marido vai chegar em paz também.” (Márcia – BH)

JOVEM, LEVANTA-TETHALITA KUM

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“Um irmão chamado Baiano, ao ficar sabendo que iríamos durante a Missão dor-mir com eles na rua, disse que poderíamos ir para sua maloca e que prepararia tudo para nos acolher. Porém um outro irmão disse que se nós quiséssemos fazer a expe-riência da rua, teríamos que dormir no chão frio mesmo. O Baiano ficou nervoso e na mesma hora respondeu que quando eles vêm na nossa casa (o “Maria Maria” nome que eles chamam a nossa “Restaura-me”) não lhes falta nada, tem sempre do bom e do melhor e, nesse momento em que vamos na casa deles, tinham que fazer o mes-mo, ter cobertor e comida para todo mundo!”

(equipe da evangelização de Rua - Missão TK)

“Hoje, durante a Missa na Praça 7, encontramos um homem que disse que, no ano passado, havia freqüentado a nossa casa, mas tinha ido para a rua devido ao uso das drogas, ele era policial e foi afastado por isto. Quando ouviu pregarmos sobre o Amor de Deus, questionou-se sobre sua vida e decidiu abandonar o vicio. Hoje faz quase um ano que não usa drogas, voltou a trabalhar e saiu das ruas.”

(equipe de evangelização - Missão TK)

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“Quando estávamos realizando uma festa com os irmãos de rua durante a Missão TK, um pro-fessor dos seminaristas veio conhecer o trabalho da Comunidade. Ficou encantado com tudo o que viu e ouviu de cada um, dizia a todo o momento: “nunca pensei nisso, mas como pode isso...”. Ao ir embora, disse que sua sensação era a de estar vendo anjos onde não havia nenhum peso, somente ale-gria.” (Bruno)

“Durante uma atividade com os irmãos de rua, na praça da rodoviária, a mãe de João Paulo, de apenas cinco anos, foi tomar um café conosco e sentei-me com ela. Comovida pelas condições que João Paulo chegara até lá, carequinha, muito abati-do, bem magrinho e conversando sobre sua doença (leucemia), ela me disse que teve que abandonar tudo para tratar de seu filho. Deixou sua casa no interior e veio com mais dois filhos para cá. Vendo que ela estava passando por necessidades, pergun-tei a ela do que estava precisando. Sua resposta foi: APENAS DE ALGUÉM QUE, COMO AGORA, POSSA ME ESCUTAR E EU POSSA DIVIDIR A DOR QUE ESTOU SENTINDO... Não tenho nem palavras para dizer o que senti naquele momento,

mas quero agradecer a Deus pela oportunidade de ter sido um canal da Sua misericórdia

naquele momento!” (Keila)

“A experiência que ve-nho contar é que na semana do Thalita Kum, na terça a noi-te, em missão noturna junto com os outros irmãos, vivemos algo especial, na Praça Raul Soares. Estáva-

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mos preparados para evangelizar quando começou a chover. As pessoas começaram a ir embora e ficamos pensando: e agora? Mas como Deus sabe o que faz, Ele nos guiou até um certo grupo de homossexuais, com grande coração aberto. Conversamos e sentimos compaixão por aqueles meninos. Até que uma coisa me surpreendeu. Mes-mo naquele mundo de fumo, de bebida, eles sabiam a Palavra de Deus. Um deles, Anderson, nos impressionou com suas colocações e disse uma frase que era mais ou menos assim: - Eu sei que sou pecador e sei que o que faço não agrada a Deus..., mas Ele precisa de mim. Envolvemo-nos muito com ele e com os outros que aparecerem no dia seguinte na rodoviária para nos reencontrar. E, sim ele voltou porque Jesus lhe mostrou o caminho a seguir.” (Diego Valadares)

“Eu estava lá na praça da rodoviária, quando a Elaine me chamou e mostrou-me uma moça sentada, bastante apavorada. Esfregou a comida na cara, a carne no chão e depois comeu. Ao nos aproximarmos dela, sentei-me ao seu lado e comecei a con-versar. Perguntei seu nome e o porquê estava na rua. Ela somente falou seu nome e não quis falar sobre sua vida. Diante dessa situação fiquei constrangida, pois não sabia como continuar a conversa. Fiquei um segundo em silêncio e logo veio em meu coração uma música que dizia assim: “Você tem valor, o Espírito Santo se move em você.” Conforme fui cantando a música, ela foi se acalmando e, ao segurar sua mão, percebi uma maior tranquilidade. Em seguida começou a falar um pouco de sua vida, falou que morava no Rio de Janeiro com o pai que a mandou para a mãe e que esta, por sua vez, devolveu-a ao pai por causa das drogas...

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Depois disso, perguntei se ela conhecia alguma música de louvor e ela respondeu que não, ficou um segundo em silêncio e depois, olhando para mim, começou a cantar: “hoje o meu milagre vai chegar, eu vou crer, não vou duvidar, do preço que foi pago ali na cruz e da vitória nesta hora.” Levantou-se e foi embora tranquila.

Neste momento senti meu coração disparado e me pergun-tava: “Meu Deus como uma pessoa muito doida como essa tem tanta sede de Deus e eu que estou em Deus vivo nesta aridez?!” A Luana reacendeu em mim a chama que estava apagada, pois antes de vir para a missão, estava querendo desistir de tudo. Luana foi Jesus para mim. Se pudesse, teria trazido ela comi-go.” (Simone, Escola de Evangelização RJ)

“Vivi essa experiência na quinta feira. Foi algo simples, mas que me emocionou bastante.

Estava dançando na praça e logo que acabou a música, apro-ximou-se de mim a Lorena dizendo que tinha alguém que gos-taria de me ver, mesmo não sabendo quem era, fui. Quando me aproximei desta pessoa, percebi que a conhecia de algum lugar, mas não me lembrava de onde. Ela então se apresentou novamente, era a Vanessa, e me lembrou que nos conhecemos na Cristoteca, há mais de dois anos. Fiquei muito surpresa e emocionada em revê-la. Depois ela partilhou que está afastada de Deus, mas que tem o desejo de voltar. Lembrou-se até de nossas conversas há dois anos atrás. Fiquei emocionada por ela se lembrar de mim, não por mim mesma, mas por Deus ter me usado para chegar até ela, por tê-la evangelizado e fiquei muito mais feliz pela oportunidade de estar próxima de alguém que quer voltar a caminhar. Vi que a semente lançada, brotou, mas que precisava ser regada para não morrer. É visível a sede que Vanessa tem de Deus e como Deus não faz nada por acaso, por isso me reencontrei com ela. Desejo devolver esta filha a Jesus, ser seu instrumento para voltar a Ele. Deus faz bem todas as coisas!!! Obrigada Jesus pela vida da Vanessa e por essa experi-ência.” (Gabriela, Escola de Evangelização RJ)

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“Na última noite da missão, quando nos preparávamos para dormir, passou um senhor perto de nós e se deitou no chão um pouco adiante, sem cobertor e sem papelão. Senti no coração o desejo de fazer algo, pois não poderia deixá-lo daquele jeito. Tinha o papelão e cobertor e o pior, tinha que ser para mim e não para ele. Decidi junto com as irmãs dar o meu cobertor. Quando me aproximei, meu coração se comoveu com a simplicidade do Sr. José. Ajudei-o a se enrolar no cobertor e voltei com a certeza de que Deus me pedia aquele simples gesto.

Naquela noite, eu sabia que se Deus quisesse, Ele poderia me mandar um cober-tor, senão ficaria feliz da mesma forma. Passei a noite enrolado num saco de lixo e me sentia livre, não importava o frio da madrugada... o Sr. José estava coberto e isso importava. Meu coração estava livre. No outro dia encontramos o Sr. José na rua e ele abriu um sorriso quando o chamamos de longe pelo nome. Ele então disse que estava indo dormir no albergue e que tinha dado o cobertor para um amigo seu, pois já que ele não iria precisar naquela noite, não poderia ficar com ele.”

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Misericórdia Além Fronteiras...“...eis que havia ali na margem da torrente árvores abundantes de um lado e de out ro...”

Ez 47, 7

Nesse Ano, louvamos a Deus pelas maravilhas que Ele tem realizado nas nos-sas vidas e nas vidas de tantas e tantas pessoas que, durante esse ano, de diversas formas, puderam experimentar o Amor Misericordioso de Deus. Por isso, juntos queremos celebrar o dom da sua vida e da vida de cada um que durante esse ano tornou possível a missão Aliança de Misericórdia cá em Lisboa. Em 2011 foram re-alizados vários encontros de evangelização e de formação, evangelizações nocturnas “Tu a Tu” nas zonas de diversão dos jovens, missão Porta a Porta, evangelização com os sem-abrigos, com as garotas de programa, evangelização com as crianças, grupos de oração, missões de evangelização na Polônia onde o movimento já esta presente em três cidades e onde iniciamos um período de acompanhamento para uma possível abertura de casa, na Bélgica onde temos o nosso grupo de amigos e Thalita Kum, na Itália com encontros de oração e aprofundamento e em Luxemburgo em encontros de oração. Tudo isso, só foi possível por tu acreditares, porque nos apoia com a sua amizade, com a sua ajuda, a sua oração… por isso, louvamos a Deus pela sua vida, pois, através de ti, tantas pessoas têm feito essas maravilhosas experiências como algumas que relatamos a seguir:

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Recebi um telefonema da Ana Teresa, missionária da Aliança da Misericórdia: “Olá Inês, será que dava para ir hoje visitar o Miguel que está internado na Unidade de Cuidados Intensivos, do Hospital dos Capuchos?” Hesitei, tinha umas coisas pla-nejadas para aquela tarde, no entanto, perguntei a hora da visita. Ela disse-me que ia com outra missionária, a Natália, naquela tarde e que a hora da visita era das 15h às 16h e das 19h às 21h. Esqueci-me dos planos que tinha para aquele dia e, com prontidão, aceitei acompanhá-las na visita àquele jovem.

Devo dizer-vos que, sempre que os missionários me chamam ou me pedem al-guma coisa, sinto que não devo recusar pois, com eles, vou em serviço do Senhor.

Lá fomos, como combinado e entrámos na Unidade dos Cuidados Intensivos, onde estava o Miguel. Não o conhecia, nunca o tinha visto. Os missionários ha-viam-me dito que ele era um jovem de 33 anos, sem-abrigo, travesti e soropositi-vo, que tinham conhecido na Avenida da Liberdade, em Lisboa, quando da Evan-gelização dos sem-abrigo, às sextas-feiras. Encontrava-se agora com uma infecção pulmonar e o seu estado era crítico. Tinha muita dificuldade em respirar, fizeram-lhe uma traqueotomia donde borbulhavam muitas secreções que eram aspiradas constantemente pelos enfermeiros. Não podia falar e era alimentado por tubos. Estava muito magro. Entrámos, a Ana Teresa aproximou-se da cama do Miguel e acariciou-lhe a fronte e os cabelos. Aquele olhar vazio iluminou-se, os olhos sorriram umedecidos. A missionária trouxe-lhe recomendações, da Carol e dos outros missionários, para que ele não falasse. Ele ouvia deliciado e mostrava-nos os bracinhos magros e feridos pelas agulhas que lhe tinham provocado hematomas.

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Entretanto, a Ana Teresa apresentou-me como Amiga da A.M. e ele aco-lheu-me com um sorriso cheio de ternura. Tinha uns olhos amendoados, cor de mel, brilhantes e húmidos, cheios de ternura que não deixavam de me fitar. Fiquei hipnotizada, não conseguia desviar o meu olhar do dele. Aquele olhar… aqueles olhos que me sorriam, que me penetravam, eram os olhos do meu Jesus Misericordioso. Ali fiquei quieta, só queria estar com o meu Senhor. Não sei quanto tempo fiquei absorvida por aquele Oceano de Misericórdia. Meu Deus como são insondáveis os teus caminhos!

Encontrei os olhos do Jesus Misericordioso num sem-abrigo, num travesti, num soropositivo. Chamei a Ana Teresa e disse-lhe: ”são os olhos do Jesus Mise-ricordioso“, ela riu. Foi uma festa! O Senhor estava nele, no Miguel.

Este foi o meu encontro com o meu Jesus Misericordioso que estava no olhar de um dos mais pobres de entre os pobres da nossa Lisboa. Aqui percebi a pas-sagem bíblica de Mt 25,39-40: “E quando Te vimos doente ou na prisão e fomos visitar-Te? E o Rei dir-lhes-á em resposta: Em verdade te digo: Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos pequeninos, a Mim mesmo o fizestes.”

Obrigado Senhor por te teres revelado a mim, tão pecadora. Obrigado Se-nhor pelo Miguel e pelos missionários da Aliança da Misericórdia que mais uma vez me levaram a Ti. Eis-me aqui Senhor. Faça-se em mim segundo a tua von-tade. Amém!

Maria Inês

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Com Maria Paola dizendo “Sim à V ida”Chamo-me Milosz e sou da cidade de Szczecin, Polônia. Eu pertenço a Aliança

de Misericórdia há três anos. A primeira vez que ouvi falar da Maria Paola foi um ano antes que ela ‘nascesse para o céu’. Os missionários contaram sobre a sua vida, a sua doença. Naquele tempo, eu tinha há pouco vivido a minha conversão na Igreja, o que eu acredito ter sido resultado do sofrimento de Maria Paola. Durante os maus momentos que tive, aquilo que então me atacava, eu oferecia a Deus, também por intenção dela. Neste tempo, eu não sabia que Maria Paola estava tão perto e era tão importante para mim.

Novamente eu ouvi falar sobre Maria Paola quando aprendemos no grupo de mú-sica a canção ‘Digo Sim a Vida’, em polaco. A letra da música, escrita pela Maria Pao-la no tempo da sua doença, pouco antes de sua morte... ela escreveu que o sofrimento não ‘tira a vida’ , ninguém pode tirá-la. Ela oferece sua vida aos planos de Deus, Ele é quem a preenche.

‘Digo sim à Vida’ tornou-se a minha oração. Muitas vezes, depois de cair em algum pecado, eu elevava meu pensamento e meu coração a Deus pensando sobre a vida da Maria Paola, sobre o seu sacrifício de vida.

Eu pedi a ela nas minhas orações para obter a graça da fortaleza, da pureza. Neste tempo, eu comecei a sentir a sua presença, como uma ‘amiga invisível’.

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O tempo de sua presença especial foi em junho-julho de 2011. Uma missionária que me orienta na comunidade pediu-me para remover algumas fotos do meu com-putador. Elas estavam ligadas a minha vida antes da conversão, a ‘velha imagem’, álcool e imoralidade. Eu me neguei a princípio, lutei para não fazer isso que ela me pedia. Percebi que ainda continuava escravo do meu pecado. Eu tinha medo de que se eu apagasse as fotos, eu perderia a minha ultima ligação com minha vida passada e com o pecado, com a vida velha: vida de prazer, de orgulho.

Depois de alguns dias, enquanto estava no trabalho, eu senti no meu coração uma risada alegre, maravilhosa que eu nunca havia ouvido antes. Eu pensei: ‘É algo de Deus, deve ser o Espírito Santo...’ e não me preocupei com isto. Depois eu fui assistir alguns vídeos do site da comunidade, vi Historias em Oração e assisti o programa sobre a vida e o testemunho da Maria Paola. Os padres e missionários falavam sobre isto e, no final, havia um pequeno filme em que a Maria Paola falava aos missionários, em 2006. Ela estava muito feliz, cantando a música “Que maravilha, que maravilha” e ela dava uma risada bonita, com muita alegria...

Queridos, aquela era a mesma risada, a mesma que tinha ouvido no meu coração, enquanto estava no trabalho! Fiquei muito tocado, experimentei a sua presença sen-sivelmente. Eu comecei a chorar e depois de pouco tempo, removi todas as minhas lembranças, apaguei todas as fotos, todos os contatos com os pecados do passado.

Jamais conseguiria fazer isso sem a inter-venção da Maria Paola. Eu sinto no meu cora-ção a sua voz que se volta para mim: “irmão, tenha coragem de dar um passo a mais, confie em Deus, o SEU Senhor. Ele o tirou da escuri-dão do pecado para a luz da Sua Misericórdia”.

Nos próximos meses, Maria Paola me deu muitas evidências da sua presença, por exem-plo, em uma oração de intercessão em que novamente eu ouvi a sua risada e voz caloro-sa... e gostaria de falar sobre uma experiência, acredito que a mais forte. Estava em Lisboa, durante o Misericórdia Fest. Eu tive a honra de fazer os vínculos como Amigo do Movimento. E antes do nosso momento de consagração, os padres pediram aos mais velhos para rezarem pelos jovens da Comunidade.

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Eu cai no Repouso e vi uma imagem em que estava diante de um grande portão e atrás dele havia uma escada quase sem fim. Eu passava pela fresta da porta e a mú-sica “Ele Vem” do David Quilan começou a tocar... depois, eu fiquei sabendo que esta letra vem do “Cântico dos Cânticos”, o casamento da alma com Deus... E junto comigo, muitas pessoas, de todas as idades, vestidas com túnicas brancas começaram a dançar!

Eu comecei a ficar com um pouco de medo de subir a escada, mas, então, apa-receu ao meu lado uma mulher com uma camisa de algodão, uma cruz de madeira sobre o peito... ela tinha uma saia de linho que chegava até o calcanhar... ela me pegou pela mão, deu uma risada luminosa e me encorajou a subir. Eu não podia ver seu rosto, mas tinha certeza de que era a Maria Paola. Para mim, Deus me mostrou que me deu a Maria Paola para cuidar de mim, estar próxima e interceder a Jesus por mim e pelos irmãos e irmãs da nossa Comunidade.

Gostaria de terminar meu testemunho com esta Palavra de Deus que fez parte da vida da Maria Paola. Pelas suas palavras do “Digo sim a Vida”, você me ensinou como dizer sim a Deus, como dizer sim a minha vocação, aquilo que Ele quer para mim...

Querida irmã Maria Paola, pelo seu testemunho de vida, eu quero chegar até Jesus, Meu Irmão e Senhor, e eu sei que ninguém pode tirar a minha vida: eu a ofe-recerei para que os planos de Deus sejam completos...

Ninguém me tira a vida, sou eu que a dou livremente (Jo 10,18)

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Um Holocausto de Amor...

“...seus frutos servirão de alimento e as suas folhas

de remédio...” Ez 47, 12

A Aliança de Misericórdia tem o forte de-sejo de formar para a Igreja pastores da Miseri-córdia que, à luz do Cristo Bom Pastor, estejam dispostos a lutar pela centésima ovelha que se perdeu . Os seminaristas que se preparam na Aliança de Misericórdia, segundo a formação da Igreja, para a ordenação, prestam assistência em favelas, na evangelização dos irmãos mais neces-sitados, nas casas de acolhida, na evangelização dos doentes.

Em vinte de novembro um diácono foi or-denado sacerdote, na cidade de Limeira (SP), e em dez de dezembro na cidade de São Paulo, mais dois diáconos foram ordenados padres jun-tamente com dois seminaristas que se tornaram diáconos, ampliando o trabalho de evangeliza-ção de nossa Comunidade chamada a “evangeli-zar para transformar”. A missão de evangelizar os pobres, carentes, necessitados e abandonados fica, a cada ano, mais fortalecida com o trabalho dos sacerdotes, homens escolhidos por Deus en-tre os homens para se tornarem um outro Cris-to, ministros sagrados entre os homens.

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Conduzidos pela força do Espírito, são aqueles que propõem humildade e cotidia-namente oferecem aos cristãos as palavras e os gestos de Cristo, procurando aderir a Ele com os pensamentos, sua vontade e sentimentos.

“Ser padre é ser para o outro, prolongar a presença de Cristo, diz o Diácono Pe-dro Mariano. É prolongar a presença de Cristo! Ser outro Cristo, o mesmo Cristo, o Filho de Deus vivo entre os homens.”

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Dom Odilo Cardeal Pedro Scherer

“Venho de uma família pobre, meu pai era operário, minha mãe doméstica. Aos treze anos de idade comecei a trabalhar para suprir as necessidades da família. Nesta época, afastei-me um pouco da Igreja, pois trabalhava e estudava durante a semana e nos finais de semana saía para o lazer.

Aos vinte e oito anos de idade, algo começou a mudar em minha vida. Aos pou-cos, fui voltando novamente a uma vida religiosa com mais consistência, época em que conheci as missas do Padre Antonello na igreja Santo Expedito, posteriormente fiz parte do grupo Arco-Íris, das pastorais de rua e dos encontros com o Padre Henrique na Casa Cenáculo. O chamado de Deus foi muito mais forte que tudo que

existia no mundo. Deixei tudo e vim para a Comunidade. Durante esse tempo de caminhada, num momento de oração, pude

sentir que o meu chamado foi aos sete anos de idade. Lembro-me do dia, do celebrante, do lugar que estava na igreja e de algumas pessoas íntimas que estavam comigo. Hoje, sei que esse passo do Sacerdócio é uma voca-ção que Deus me deu. Não por minha vontade, pois sempre fugi, mas pela grandiosidade de Deus que é infinita e do meu SIM que é pleno e eterno.”

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“Desde pequeno, senti o desejo de ser sacerdote. Com o passar do tempo, fui percebendo que esse desejo não se esfriava, mas gerava em meu coração uma angústia de saber o que estava acontecendo comigo. Aos dezoito anos, fiz uma experiência vocacional no seminário da Arquidiocese de São Paulo, após buscar incessantemente o verdadeiro local do exercício da minha vocação. Durante esse período, vivi um momento de crise em que senti Deus me chamando para algo mais específico. Já co-nhecia a comunidade e depois de dois anos no seminário, após discernir com o dire-tor espiritual, vim para a Comunidade Aliança de Misericórdia onde estou até hoje.

Agradeço profundamente os padres Antonello e João Henrique pela confiança na nossa vocação. Mesmo diante das nossas misérias e fraquezas, não desistiram de nós. Sou grato a eles também por poder, através de seu exemplo, entregar minha vida, como sacerdote, na Igreja de Jesus, servindo os irmãos e experimentando a grandeza da misericórdia e do amor do Pai, por meio de Seu Filho Jesus.”

Pe. Israel de Jesus Bom Pastor

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Pe. Evandro de Jesus Eucaristia“Fui crucificado junto com Cristo, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive

em mim”. (Gl, 2,19b-20).

“A vocação ao sacerdócio é um grande mistério da Misericórdia de Deus que se serve de meios frágeis para perpetuar sua presença na humanidade. Diante desta grandeza tenho a plena consciência que é graças ao Amor Misericordioso do Senhor e a colaboração de cada irmão e irmã, de cada amigo e benfeitor, que hoje posso responder a esse chamado. Sou muito grato a cada pessoa que colaborou para que chegasse este momento em minha vida, e não tendo como agradecer à tamanha ge-nerosidade, desejo ofertar a minha vida para ser crucificado com Cristo a fim de que Ele possa viver em mim.”

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“O fato que me levou a procurar Deus foi um sofrimento parti-cular: a depressão. Encontrei-me em um momento de minha vida sem forças para viver. Convidado a participar de um grupo de jo-vens chamado São Francisco, iniciei minha caminhada. Mas foi em um encontro com Jesus na Canção Nova, em 1998, que desco-bri minha vocação ao sacerdócio. Entrei em 2001 num seminário religioso onde permaneci quatro anos. Devido a muitas dúvidas quanto ao carisma, pedi um afastamento para buscar a vontade de Deus em minha vida. Já conhecia padre João Henrique desde 1997, por meio do Nivaldo. Procurei-o para que ele me ajudasse no discernimento da minha vocação. Após ter escolhido a Aliança de Misericórdia como caminho, ficava cada vez mais claro que Je-sus me chamava para dar a vida aos pobres.”

Desde criança, senti um forte desejo de servir a Deus, mas foi aos quatorze anos que tive minha primeira e verdadeira experiência com o amor de Deus. Após uma dolorosa expe-riência de morte em família, despertou-me o desejo de não apenas viver parcialmente para Deus, mas dar tudo, deixan-do família, namorada, trabalho, sonhos e planos por amor a Deus, a Igreja e aos pobres. Conheci a Comunidade através da Maria Paola e de alguns missionários. Após um período de discernimento, decidi responder ao chamado de Deus e experimentar o amor do Pai que é Misericórdia. Este sonho se concretiza dia a dia.

Fui ordenado Diácono no dia 10 de Dezembro de 2011. Por tamanho Amor e Misericórdia, louvo a Deus com a von-tade de que todo meu agir seja para “fazer tudo o que me disser Jesus” (Cf. Jo 2, 5b). Minha gratidão aos Padres An-tonello, Henrique, Luiz Fábio, Custódio, Rogério, Thales e Maria Paola (in Memorian), meus irmãos e irmãs de Comuni-dade, meus pais e familiares, padrinhos, benfeitores e amigos. Obrigado a todos.

Diác. Estevão Maria Kolbe

Diác. Pedro Mariano

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O fim é um recomeço...Ao olharmos para trás, ou seja, os onze anos de existência da Aliança de Mise-

ricórdia, é maravilhoso vermos essa obra que, de uma semente plantada pelos padres Antonello e João Henrique, que disseram seu Sim a Deus junto a um pequeno grupo de leigos que aderiram ao projeto inicial, cresceu, amadureceu e deu inúmeros frutos jamais imaginados por nós. Deus já havia preparado, desde o início, essa obra que é Sua. Bastava acolher Seu chamado.

Dentre tantas razões, essa seria a principal para escolhermos, nesse final do ano de 2011, oferecermos a você este pequeno livro, Fatos e Relatos, que contam, por meio de testemunhos, experiências marcantes que vivemos ao longo do ano e que colaboraram não somente para a ampliação da Aliança em larga escala, mas também para fortalecer nosso chamado.

Temos muitos outros testemunhos, porém nossa proposta foi a de relatar apenas algumas experiências que fossem capazes de dar a você uma visão da Aliança de Misericórdia, no final de 2011, após onze anos de trabalho com crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social e por meio das diversas evangelizações.

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Tudo isto faz parte de nosso carisma assim sintetizado por D. Gil Antonio Morei-ra, “Evangelizar para transformar cada evangelizado em evangelizador”. Não estaria aí o embrião de todo o crescimento dessa obra de Deus que já se inicia pelo projeto de transformação da sociedade, por meio da transformação de cada um, formando uma corrente de água viva, ungida pelo Espírito Santo que é a Comunidade Aliança de Misericórdia?

Agradecemos a você que esteve conosco durante mais este ano, colaborando para que essas experiências se concretizassem e desejamos-lhe um Natal com a presença de Jesus Menino que vem trazer em nossos corações e em nossas vidas a alegria de um mundo novo, transformado pelo Seu AMOR que veio ao mundo para nos salvar. Louvemos Jesus com o Anjo do Senhor e com a multidão do exército celeste:

“Glória a Deus no mais alto dos céuE paz na terra aos homens que Ele ama!”

Lc. 2, 14

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Associação Aliança de MisericórdiaO Movimento eclesial Aliança de Misericórdia é uma associação privada de fiéis,

com sede na Arquidiocese de São Paulo, capital. A sua missão é se tornar expressão viva do amor misericordioso que brota do coração de nosso Deus por meio de sua Igreja, para os mais pobres material e espiritualmente.

A família Aliança de Misericórdia acolhe e une forças de homens e mulheres, celibatários e casados, leigos e clérigos, que chamados por Deus de várias formas e níveis, tornam-se: “filhos da Misericórdia” para evangelizar “as ovelhas perdidas” (cf. Lc 15, 4-7) e, confiantes na potência do Espírito Santo, realizar todas as Obras de Misericórdia que as próprias forças permitirem. Conscientes da relação inseparável existente entre o Anúncio e o Testemunho da Caridade (cf. TG 2,14-19; I Jo 3,14-17), a Aliança de Misericórdia compromete-se a conjugar harmoniosamente evange-lização e caridade, como duas faces de uma só moeda.

Chamados a “Evangelizar para Transformar”, desejam que todo evangelizado torne-se um evangelizador de modo que testemunhe a Misericórdia. Evangelizando, querem colocar todo homem no colo de Deus, nestas entranhas de misericórdia, onde todo filho é gerado à vida nova e faz a experiência pessoal do amor de Deus, do qual se torna testemunha.

Deste modo a Aliança de Misericórdia deseja ser ponte entre pobres e ricos, cen-tro e periferia, pequenos e grandes, ação evangelizadora e promoção humana, vida de oração e de ação, porque ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar ou tão rico que não tenha algo para receber.

Os trabalhos sociais e de evangelização estão direcionados à restauração integral do ser humano, de forma especial os mais sofridos: famílias que moram em favelas, pessoas em situação de rua, presidiários, dependentes químicos, garotas de progra-ma, bem como aqueles que ainda não encontraram em Cristo o verdadeiro sentido de suas vidas.

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Alguns números

Presente em: 43 cidades no Brasil

Presente em: 4 países no exterior

21 casas de acolhida

611 vagas para acolhida

4 Centros de Assistência à População de rua

30.000 atendimentos a população de rua/mês

75.000 atendimentos a moradores de favelas/mês

60 toneladas de alimento consumidos/mês

100 alunos na Escola Padre Pio

120 jovens no Centro de Juventude

100 crianças no Núcleo Sócio Educativo

3 Creches com 340 crianças/dia

246 funcionários

+ de 800 voluntários

201.074 refeições servidas/mês

1800 acessos telecentro/mês

1000 famílias moradoras em favelas atendidas/mês

425 missionários

15 diferentes evangelizações

10.334 pessoas evangelizadas/mês

24 mil evangelizados no exterior/ano

43 grupos arco-íris

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Nossos endereçosSÃO PAULO/SPCasa Cenáculo-EmanuelR. Avanhandava, 616 - Bela Vista - São Paulo / SP / 01306-000(11) 3237-3061 / (11) 8612-9742 / [email protected]

Imaculada do Espírito Santo (Casa de Formação)R. Nilo Bruzzi, 31 - Jd. Botuquara – São Paulo / SP / 02988-080(11) 3943-3725 / (11) 8612-9687 / [email protected]

Centro João Paulo IIR. Afonso Pena, 482 – Centro / SP(11) 3208-7759 / [email protected]

Casa NaimAv. Raimundo Pereira de Magalhães, 13.658 - Jd. Botuquara - São Paulo / SP / 02938-000(11) 8612-9769 / (11) 3942-6046 / [email protected]

Casa Madre Tereza de CalcutáR. Dr. Almeida Lima, 1050 - Mooca - São Paulo / SP / 03164-000(11) 8612-9738 / (11) 3326-8805 / [email protected] Casa BelémR. Barra da Buriquioca, 40 - Pq. Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 8612-9682

Morada Nova LuzR. Helvetia, 234 - Campos Elíseos - São Paulo/ SP / 01215-010(11) 6342-8899 / [email protected]

Casa Restaura-meR. Monsenhor Andrade, 746 - Brás - São Paulo / SP / 03009-100(11) 3326-7134 / (11) 3228-6503 / (11) 8612-9784 / [email protected]

CENAFAMR. Barra da Buriquioca, 40 - Pq. Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 3945-2616 / (11) 6343-6789 / [email protected]

Creche Misericórdia IR. Barra da Buriquioca, 40 - Parque Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 3941-7904 / [email protected]

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Creche Misericórdia IITv. Antônio Inácio Torres, 18 - Parque Taipas - São Paulo / SP / 02910-000(11) 3947-1279 / [email protected]

Creche São Miguel [email protected]

Igreja Nossa Senhora da Boa Morte ou da Dormição de Nossa SenhoraFraternidade Monte HorebR. do Carmo, 202 - Centro - São Paulo / SP / 01019-020(11) 3101-6889 / (11) 8612-9682 / [email protected]

Escola de Evangelização Nossa Senhora de GuadalupeR. Nilo Bruzzi, 31 - Jd. Botuquara - São Paulo / SP / 02988-080(11) 3941-8492 / (11) 8612-9728 / [email protected]

Escritório AdministrativoR. Avanhandava, 520 - Bela Vista - São Paulo / SP / 01306-000(11) 3257-8805 / [email protected] Escola Padre PioR. Barra da Buriquioca, 40 - Pq. Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 3946-3396 / [email protected] CCA - Oratório Pe. PioR. Barra da Buriquioca, 40 - Pq. Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 3946-3396

Tele Centro Santo IzidoroR. Barra da Buriquioca, 40 - Pq. Taipas - São Paulo / SP / 02987-060(11) 3944-8956

SALTO/SPCasa NaimRua Rubi, 120 - Jd. Sontag. - Salto / SP / 13322-153(11) 4028-2505

SOROCABA/SPFraternidade BetelR. Profa. Guiomar Ribeiro Novaes, 197 - Vl. Nicanor Marques -Sorocaba/SP/18070-580(11) 8612-9780 / (15) 3032-0120 / [email protected]

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PIRACICABA/SPCasa Dom Bosco e Poço de JacóR. Zenaide Conversa Mazzero, 165 - Bom Jesus - Piracicaba /SP / 13423-174(19) 3424-1297 / [email protected]

Casa Poço de JacóR. Zenaide Conversa Mazzero, 165 - Bom Jesus - Piracicaba /SP / 13423-174(19) 3424-1297 / [email protected] Casa MariaR. Dr. João Conceição, 444 - Paulista - Piracicaba / SP / 13401-080(19) 3435-9763 / (19) 8148-0005

Sítio Maria Paola do Cordeiro ImoladoEstr. Nova Suíça, 2160 - Pau Queimado - Piracicaba/SP(19) 9610-3929 / [email protected]

RIO DAS PEDRAS/SPCasa Maria Mãe dos PobresR. Água Branca, 11 - Chácara Rancho Alegre – Rio das Pedras / SP / 13390-000(11) 8612-9725 / [email protected]

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SPCasa São JoséEstr. Antônio Sá Flor, 1050 - São José dos Campos / SP(11) 8612-9746 / (12) 3941-5576 / [email protected]

Casa Dom BoscoAv. Eng. Sebastião Gualberto, 500 - Vl. Maria - SJ. Campos / SP / 12209-320(12) 3941-5576 / (11) 8612-9746

E mais os Grupos Arco Íris de Misericórdia em:Cerquilho/SP [email protected] Cubatão/SP [email protected] Fartura/SP [email protected] Guarulhos/SP [email protected] Itapira/SP [email protected] Itu-Cidade Nova/SP [email protected] Itu/SP [email protected] Jaú/SP [email protected] Mauá/SP [email protected] Osvaldo Cruz/SP [email protected] Pedreira/SP [email protected] Piracicaba/SP [email protected]

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Ribeirão Preto/SP [email protected] Rio Claro/SP [email protected] Salto/SP [email protected] São Caetano do Sul/SP [email protected] São Lourenço da Serra/SP [email protected] São Paulo Padre Pio [email protected] São Paulo Sagrada Familia [email protected] Suzano/SP [email protected] Tatuí/SP [email protected] Tiete/SP [email protected]

RIO DE JANEIRO/RJFraternidade Pe. Pio - Casa BelémR. Manuel Ribeiro, 05 - Senador Camará - Rio de Janeiro / RJ / 21842-585(11) 8612-9698

Casa São José - Casa Cenáculo / RJR. Ana Mascarenhas, 12 - Gamboa - Rio de Janeiro / RJ / 20221-040(11) 8612-9726 / (21) 2263-3263 / (21) 8243-6062 / [email protected] www.misericordiarj.com.br

E mais o Grupos Arco Íris de Misericórdia em:Belford Roxo/RJ [email protected]

ALFENAS/MGCasa Filho Pródigo - Acolhida de Crianças e AdolescentesR. Machado de Assis, 402 - Centro - Alfenas / MG / 37130-000(35) 3291-3755 / [email protected]

Casa Rainha da Paz - Casa de AcolhidaZona Rural de Matão - Alfenas / MG / 37130-000(11) 8612-9774 / 8413-0079 / [email protected] Casa São Francisco - Casa de AcolhidaAv. São José, 1265 - Centro - Alfenas / MG / 37130-000(35) 3291-3469 / [email protected] BELO HORIZONTE/MGCasa Belém BHR. Araxá, 120 - Lagoinha - Belo Horizonte / MG / 31110-280(31) 3282-0371 / (31) 8589-0372 / [email protected] www.misericordia.com.br/blog/bh

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E mais os Grupos Arco Íris de Misericórdia em: Alfenas/MG [email protected] Barbacena/MG [email protected] Betim/MG [email protected] Divinópolis/MG [email protected] Três Corações/MG [email protected]

MANAUS/AMCasa Tupã Sy Nhade Sy - Casa CenáculoR. Santa Luzia, S/Nº, Santa Luzia - Manaus - AM / 69074-470(92) 3624-3801 / (92) 8167-2218

E mais o Grupo Arco Íris de Misericórdia em:Manaus/AM [email protected]

BARBALHA/CECasa São João Batista – Casa de AcolhidaSítio Riacho do Meio II s/n, - Barbalha-CE / 63180-000(88) 8854-0129 / [email protected]

CRATO/CEFraternidade Pe. Cícero - Casa CenáculoR. Dom Pedro II, 230Centro - Crato/CE / 63100-005(88) 3523-1614 / (88) 8848-2122 / (88) 9605-9485E mais os Grupos Arco Íris de Misericórdia em:Barbalha/CE [email protected] Crato/CE [email protected] Juazeiro/CE [email protected]

MARINGÁ/PRCasa Nossa Senhora da Anunciação - Casa de AcolhidaEstr. Pitanga, Lote 176-B - Distrito Iguatemi - Maringá / PR / 87103-000(44) 9121-2612 / (44) 3276-3822 / [email protected]

E mais os Grupos Arco Íris de Misericórdia em:Cascavel/PR [email protected] Maringá/PR [email protected]

SANTA CATARINAO Grupo Arco Íris de Misericórdia em:Criciúma/SC [email protected]

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EUROPA

PORTUGALLisboaCasa João Paulo IIRua da Casquilha, 7 Sta Cruz do Benfica - Portugal / 1500-149+351.210385509 / + 351.914638350 / [email protected]

ITÁLIAAlleanza di Misericordia OnlusSede LegaleVia Roma, 201, Sinnai (CA) - IT+ 39 393 3667360 / [email protected]

BÉLGICAO Grupo Arco Íris de Misericórdia em:Bruxelas [email protected]

POLÔNIA (Wspólnota Przymierze Milosierdzia)+ 48 508473549+ 48 789256938www.przymierzemilosierdzia.plwww.pmbuk.pl

“Os sócios são as asas que nos permitem voar”Pe. João Henrique

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