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    AZEVEDO, F.A; NASCIMENTO, E.S; CHASIN, A. (Caderno de Meio Ambiente)

    Aspectos Atualizados dos Riscos Toxicolgicos do Mercrio. TECBAHIA R. Baiana

    Tecnol., v. 16, n. 3, p.87 a 104, 2001.

    CRA MEIO AMBIENTE

    Aspectos Atualizados dos RiscosToxicolgicos do Mercrio

    Fausto Antonio de Azevedo

    Farmacutico-bioqumico. Mestre em Anlises Toxicolgicas pela Faculdade deCincias Farmacuticas (FCF) da Universidade de So Paulo (USP).

    Diretor Geral do CRA/BA.

    Elizabeth de Souza Nascimento

    Farmacutica-bioqumica. Mestre em Anlises Toxicolgicas pela Faculdade deCincias Farmacuticas (FCF) da Universidade de So Paulo (USP). Doutor em

    Cincia dos Alimentos, rea de Bromatologia (FCF/USP). Professor Assistente Doutordo Departamento de Anlises Clnicas e Toxicolgicas e Coordenadora dos Cursos deToxicologia Bsica e Sistemas de Garantia de Qualidade da Graduao (FCF/USP).

    Alice A. da MattaChasin

    Farmacutica-bioqumica. Mestre em Anlises Toxicolgicas pela Faculdade deCincias Farmacuticas (FCF) da Universidade de So Paulo (USP). Doutor em

    Toxicologia (FCF/USP). Professor Titular de Toxicologia da Faculdade de CinciasFarmacuticas Oswaldo Cruz. Membro da The International Association of ForensicToxicologists(TIAFT) e representante da entidade no Brasil.

    RESUMONesta breve reviso, so apontados os riscos toxicolgicos decorrentes da produo e utilizao domercrio, que podem implicar tanto a exposio das diferentes formas de vida do meio ambientequanto do prprio ser humano. Alguns aspectos bsicos da dinmica ambiental e da toxicologia dometal tambm foram apontados. Fica claro seu potencial txico e a necessidade permanente da adoo

    de medidas de vigilncia ambiental e vigilncia sanitria. O intuito do estudo foi o de atualizarsubsdios para os trabalhos de pesquisadores do tema e de autoridades de sade e de gesto ambiental,que possam ser teis ao seu planejamento e decises.

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    1 INTRODUO

    A toxicidade e os riscos toxicolgicos do mercrio (Hg) tm sido extensivamenteinvestigados e debatidos. Publicaes e eventos especializados se sucedem com freqncia.Merecem destaque: a) por ser obra muito atual e brasileira, o volume (n. 1) publicado peloCentro de Recursos Ambientais da Bahia, em sua srie Cadernos de Referncia Ambiental,sob o ttulo Ecotoxicologia do Mercrio e seus Compostos (NASCIMENTO, CHASIN,2001); b) o recente encontro realizado em So Paulo, 20-21 de fevereiro de 2002, AvaliaoGlobal do Mercrio: uma Contribuio Brasileira ao Projeto Internacional, organizado

    pelo MMA/COPASQ e FISQ. No plano internacional mencione-se a IV ConfernciaInternacional sobre o Mercrio como Poluente Global, realizada em Hamburgo, em 1996.Nela, o nmero de participantes foi superior a 400, representando mais de 30 pases, entre osquais vrios em desenvolvimento e ex-integrantes do bloco sovitico, onde a contaminao

    pelo Hg ampla e disseminada (LINDBERG, 1998).

    Particularmente, durante a ltima dcada do sculo XX, cientistas, legisladores,polticos e o pblico em geral conscientizaram-se da poluio causada pelo Hg. As emissesantropognicas permitiram o aumento da contaminao por Hg em escala local, regional eglobal. O Hg o poluente txico e ubquo que est entre os mais bioacumulados metais dacadeia alimentar. Vrias agncias nacionais, internacionais e comisses o esto apontando

    para possvel controle de emisses. Este agente est presente em combustveis energticos eno lixo municipal e um dos metais que apresentam menor eficcia de reteno em processosde controle de emisso de combusto. Em diferentes momentos temos tido a oportunidade decolaborar para a discusso do tema: AZEVEDO, 1994; AZEVEDO et al., 1994; AZEVEDO,RAMOS, 1994; AZEVEDO, 1993a; AZEVEDO, 1993b; AZEVEDO, RAMOS, 1993;AZEVEDO, 1989; AZEVEDO et al., 1989; AZEVEDO et al., 1984.

    Trata-se agora do assunto, sob o ngulo dos riscos toxicolgicos decorrentes daproduo e utilizao do mercrio, que podem implicar tanto a exposio das diferentesformas de vida do meio ambiente quanto do prprio ser humano. O intuito capital destareviso subsidiar os trabalhos de pesquisadores do tema e de autoridades de sade e degesto ambiental, no sentido do planejamento e das decises que devem ser tomadas.

    2 ECOTOXICIDADE

    Est bem estabelecido o fato de que o mercrio inorgnico, ao sofrer o processo dealquilao, ganha lipossolubilidade, condio indispensvel para o fcil transporte atravs demembranas celulares e para sua bioacumulao nos tecidos de um organismo. D-se talfenmeno com invertebrados, peixes e mamferos, sendo tambm possvel ocorrer em plantasaquticas. A capacidade das espcies inorgnicas do metal (excluindo-se o mercrioelementar) e do metilmercrio de reagir com ligantes intracelulares parece explicar o alto graude acumulao desses compostos (WHO, 1989). O metilmercrio no apresenta umcomportamento ideal em relao ao coeficiente de partio leo/gua (Ko/a), que pode serentendido como um estimador da lipossolubilidade. Embora tenha um alto grau de

    acumulao em organismos aquticos, na faixa de 10 mil a 100 mil vezes sua concentrao nomeio aquoso, apresenta um baixo Ko/a. A transferncia da gua para a fase orgnica ocorre

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    principalmente na forma de pares inicos neutros (CH3HgCl e CH3HgOH) (RAND, 1995,apud BOENING, 2000).

    Toda vez que um organismo contaminado por mercrio estiver em nvel inferior numacadeia trfica, seu predador absorver aquele mercrio orgnico, mas revelar concentraescomparativamente aumentadas biomagnificao. Em estudo de avaliao da presena deHg em diversos tipos de peixes, em ambiente contaminado, observou-se que o metal seconcentrava mais intensamente medida que se evolua na cadeia trfica: os peixesvegetarianos apresentavam 6,64 ppm; os peixes que se alimentavam de invertebrados 12,4

    ppm; os onvoros 26,6 ppm; os peixes piscvoros 40,2 ppm (BOENING, 2000; OLIVERO etal., 1997; WHO, 1989).

    2.1 Toxicidade para microrganismos

    O Hg txico para microrganismos: o inorgnico lhes provoca efeitos nocivos emconcentraes de 5 g/L, em meio de cultura, e os organomercuriais, em concentraes 10vezes inferiores. Um dos fatores que afetam a toxicidade a velocidade de absoro do metal

    pelas clulas. O Hg se liga a membranas celulares dos microrganismos, aparentemente a umnmero limitado de stios de ligao. Assim, os efeitos esto relacionados densidade celulare s concentraes do Hg no substrato. Esses efeitos tendem a ser irreversveis; por isso o Hg,mesmo em baixas concentraes, representa um grave risco aos microrganismos (WHO,1989).

    WOOD (1984), citado em BOENING (2000), discute seis mecanismos de proteo emmicrorganismos, e em alguns organismos superiores, que aumentam sua resistncia aomercrio: a) bombas de efluxo que removem os ons das clulas; b) reduo enzimtica dometal para uma forma menos txica; c) quelao por polmeros enzimticos, tal como ligaocom metalotionena; d) ligao do Hg com a superfcie celular; e) precipitao de complexosinsolveis inorgnicos na superfcie celular, por exemplo, na forma de xidos e sulfetos; f)

    biometilao com transporte subseqente atravs da membrana celular por difuso(paradoxalmente, este mecanismo induz maior toxicidade para organismos superiores).

    2.2 Toxicidade para plantas e animais aquticos

    O mercrio orgnico e o inorgnico so absorvidos diretamente da gua, dos alimentos

    ou da ingesto dos sedimentos. No entanto, o metilmercrio acumula-se mais eficientementedo que o mercrio inorgnico na maioria dos organismos aquticos. A absoro e a depuraodependem da forma do metal, da fonte de exposio (gua ou alimento) e do tipo de tecidoreceptor, resultando em diferentes padres de acumulao (NOAA, 1996). Os microrganismosconvertem Hg elementar em sais de metilmercrio (CH3HgCl) e dimetilmercrio, a maior

    parte dessas reaes acontecendo em sedimentos de oceanos e rios (PRASAD et al., 2000).

    As formas de mercrio orgnico tendem a ser mais txicas que as inorgnicas para osanimais aquticos. Concentrao de 1 g/L de Hg inorgnico afeta esses organismos. Vriosso os efeitos fisiolgicos e as alteraes bioqumicas, alm de efeitos sobre a reproduo,associados s concentraes subletais de Hg. Estas alteraes so de difcil avaliao (WHO,

    1989).

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    Os organomercuriais so rapidamente absorvidos por organismos aquticos. Estes, eparticularmente os insetos, acumulam mercrio em altas concentraes. Os peixes absorvem oHg com facilidade e o acumulam em seus tecidos, principalmente na forma de metilmercrio,

    mesmo se expostos ao Hg inorgnico. A metilao bacteriana do Hg inorgnico (alm de sedar no ambiente) pode ocorrer por meio das bactrias encontradas nas guelras, superfcie ouintestinos do peixe. Poucas so as evidncias de que os peixes metilem ou desmetilem Hg(WHO, 1989). A eliminao do metilmercrio de organismos aquticos e em peixes lenta,

    podendo levar meses ou anos. A perda de Hg inorgnico mais rpida e assim a maior parte retida como metilmercrio (WHO, 1989).

    A adsoro pelo sedimento e material hmico reduz a disponibilidade do Hg para asplantas aquticas. Os organomercuriais, tais como cloreto de metil ou butilmercrio, so maistxicos para as plantas aquticas do que as formas inorgnicas (WHO, 1989). Emboraalgumas dessas plantas tenham a capacidade de absorver e acumular metais pesados, os dados

    relacionados ao Hg nem sempre so unnimes, e indicam que seu acmulo pode ocorrer maisfreqentemente nas razes do que em rizomas ou brotos. A absoro pelas plantas contribuisubstancialmente para a cadeia alimentar e pode, tambm, reciclar consideravelmente o Hgatravs de produtos de decomposio (BOENING, 2000). As plantas marinhas apresentamteores de 0,01-37 ppb (peso mido), enquanto as terrestres de 0-40 ppb (peso mido) (HSDB,2000; DUDKLA, MILLER, 1999).

    Em geral, os fatores que influem na toxicidade do Hg para os invertebrados aquticosincluem: a) quanto ao agente - sua concentrao e especiao; b) quanto ao organismo -estgio de desenvolvimento; c) quanto gua - oxignio dissolvido, temperatura, salinidade,dureza e fluxo. A toxicidade do mercrio aumenta com a temperatura e diminui com a durezada gua, e menos acentuada em sistemas estticos, como lagos, do que em rios, com fluxoconstante de gua. Os invertebrados aquticos variam muito em termos de susceptibilidade aoHg, sendo que as larvas so mais susceptveis que os adultos da mesma espcie. As CL50variam de 33 a 400 g/L para peixes de gua doce e so maiores para peixes de gua salgada.Observa-se que nveis de 1-10 g/L normalmente apresentam toxicidade aguda para a maioriadas espcies de invertebrados aquticos (BOENING, 2000; WHO, 1989).

    SFERRA et al. (1999) realizaram uma avaliao in loco da toxicidade do Hg emsedimentos do esturio do rio Calcasieu, Luiziana, EUA. Por dez dias foram realizados testesde sobrevivncia e crescimento (em termos de peso seco) de Hyalella azteca (crustceo

    anfpode de gua doce) e Leptocheirus plumulosus(crustceo anfpode de gua salgada), nascondies do esturio, cuja salinidade de 10 ppt. Trinta e duas amostras de sedimentosforam analisadas, incluindo 14 amostras do local no diludas e seis sries de diluies dosedimento. No foi observada toxicidade passvel de ser atribuda ao Hg em todas as amostrasanalisadas, indicando um limite de toxicidade do Hg total nesse local excedendo de 4,1 mg/kg(peso seco). Os fatores especficos do local que limitam a disponibilidade e toxicidade do Hgincluem os altos nveis de sulfeto encontrados. Alm disso, a possibilidade extrativa do Hgem sedimentos baixa, conforme indicado pelas anlises do metal em tal matriz.

    Em peixes, a concentrao mdia encontrada de 100-200 ngHg/g, sendo que asconcentraes em peixe comestvel no devem exceder de 0,5 ppm de Hg. O peixe conhecido

    por barrigudinho (Jenynsia lineata), de distribuio geogrfica que vai do Rio de Janeiro, noBrasil, at Baia Blanca, na Argentina, pode acumular mercrio em at 100 vezes e, por suas

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    caractersticas biolgicas e ecolgicas, parece ser um bom bioindicador da poluio poraquele metal (DE LA REZA, PEREIRA, 1982). A ostra de mangue Crassostrea rhizophorae,muito importante no litoral da Bahia, tem o seu desenvolvimento embrionrio inibido quando

    exposta concentrao mdia de 2,65 gHg/L gua (NASCIMENTO, 1982).

    Concentraes mdias de mercuriais em peixes e frutos do mar, reportadas para pasesda Amrica do Norte, foram (HSDB, 2000): nos EUA atum (principalmente enlatado), 0,24 ppm; camaro, 0,46 ppm; linguado,

    0,10 ppm; mexilho, 0,05 ppm; caranguejo/lagosta, 0,25 ppm; salmo, 0,05 ppm; ostra,0,04 ppm;truta, 0,42 ppm; sardinha, 0,06 ppm;

    no Canad caranguejo, 1,55-13,4 ppm (British Columbia), 0,19 ppm (rio Fraser), 0,14ppm (Vancouver), 0,02 ppm (Tofino), 0,41-1,94 ppm (Carpenter Lake); dogfish (EnglishBay), 1,08 ppm; linguado (Squamish), 1,00-1,42 ppm; (rio Fraser), 0,23 ppm; (estreito deHecate), 0,11 ppm; arenque (Squamish), 0,14-0,30 ppm; (Prince Rupert), 0,07 ppm;truta, 2,86 ppm (lago Pinchi); 0,04 ppm (lago Tezzeron).

    NEUMANN et al. (1997), por meio de dados coletados entre 1987 e 1994, mostraramnveis elevados de Hg em peixes de um reservatrio no Oregon, com 65% das amostrasapresentando teores de Hg total que excediam os valores considerados seguros pela instituionorte-americana EPA (Environmental Protection Agency), que so de 0,6 mg/kg; 18% dos

    peixes analisados exibiam concentraes superiores s preconizadas pelo FDA (Food andDrug Administration), que so de 1,0 mg/kg. A mdia encontrada de Hg foi de 0,75 mg/kg de

    peso mido. O tecido muscular de peixesMicropterus salmoides (de gua doce e salgada) ede bagre (Ictalurus punctatus) apresentou 0,92 e 0,82 mg/kg, respectivamente. A truta arco-

    ris (Salmo gairdneri) foi a espcie que apresentou menor teor, 0,37 mg/kg. Foi tambmobservada uma correlao positiva entre o contedo total de Hg e o tamanho das trutas.Baseando-se nestes dados, a autoridade de Sade do Oregon baixou diretriz de consumo, em1994, usando uma abordagem conservadora de risco.

    Amostras de sete espcies de peixes piscvoros, onvoros e herbvoros, de 12localidades do rio Madeira, Brasil, foram analisadas e os valores encontrados variaram de0,41 a 6,66 nmol/g dependendo da espcie considerada (DOREA et al., 1998).

    Pesquisa conduzida por MAURICE-BOURGOIN et al. (2000), em peixes da bacia dorio Madeira, em rea de minerao, mostrou que os peixes piscvoros da regio do rio Beni

    apresentaram concentrao de 0,33 a 2,30 g/g, enquanto nos onvoros e naqueles que sealimentam de lama os teores variaram de 0,02 a 0,19 g/g. O mercrio acumulado pelospeixes carnvoros encontrava-se principalmente na forma de metilmercrio e representou 73 a98% do total analisado.

    Em estudos de LACERDA et al. (1994), observou-se que as concentraes demercrio total em msculo de 12 espcies de peixes coletadas na regio mineira de Carajs,no sul do Par, estavam relacionadas com o tipo de peixe. Os carnvoros apresentavamconcentraes de Hg maiores que os herbvoros e onvoros. Os peixes carnvoros maioresapresentavam maior concentrao que os menores. O metilmercrio correspondeu cerca de91,7% do mercrio total nos peixes analisados, enquanto nos invertebrados bentnicos esse

    valor caiu para 50%. Estudos feitos para se conhecer a relao entre Hg total e metilmercrioem msculo de peixes de lagos com acidez acentuada mostraram que 99% do mercrio

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    encontravam-se na forma de metilmercrio.

    Nos EUA, um levantamento envolvendo 205 espcies de peixes, mariscos e

    crustceos, representando 95% dos peixes pescados comercialmente naquele pas, revelounveis excedendo 500 g/kg em menos de 2% dos casos, com valor mdio inferior a 300g/kg na maioria das espcies. Em outra enquete, em que foram avaliadas 32 espcies de

    peixes comestveis e moluscos, encontrou-se uma concentrao mdia de 130 g/kg parapeixes e de 50 g/kg para moluscos e crustceos (QUEIROZ, 1995).

    MASON, LAPORTE (2000), analisando dois rios do estado de Maryland, constataramque as concentraes de metilmercrio na biota aumentavam com o nvel trfico e que

    praticamente todo o mercrio encontrado estava na forma de metilmercrio em insetospredatrios e peixes carnvoros que se alimentam de insetos. J os nveis de As, Se, Cd e Hgdiminuam medida que se progredia na cadeia trfica. O metilmercrio apresentava-se

    distribudo igualmente nos rgos de pitu e de peixes, enquanto As, Se, Cd, e Hgencontravam-se em nveis maiores nos rgos de desintoxicao. Segundo os autores, atransferncia dos metais para nveis mais elevados na cadeia trfica est relacionada com ahabilidade do organismo em depurar o metal e o modo de acumulao, tanto diretamente dagua como do alimento.

    QUEIROZ (1995) analisou amostras de peixes da regio do garimpo de Graja, nomunicpio de Vizeu, no Par, e os teores encontrados variaram de < 0,014 a 0,279 g/g para ometilmercrio e de < 0,011 a 0,29 g/g para o mercrio total, todos inferiores ao limiteestabelecido para consumo humano no Brasil.

    As concentraes de Hg em peixes marinhos e de gua doce aumentam com a idade,que pode ser avaliada atravs da medida de seu comprimento. Em algumas espcies, osmachos apresentam teores maiores que as fmeas da mesma idade. A parede intestinal do

    peixe uma barreira eficaz absoro de cloreto de mercrio, porm, facilmente permevelao metilmercrio, acumulando-o preferencialmente no tecido muscular em, aproximadamente,50% da dose ingerida (WHO, 1989).

    O acmulo de mercrio nas cadeias aqutica e terrestre resulta em risco para o homem,principalmente pelo consumo de: peixe de guas contaminadas, particularmente ospredadores, como atum, peixe-espada e outros peixes de gua salgada mesmo se pescados

    distantes da regio costeira; frutos do mar como mariscos; alm de pssaros e mamferos quese alimentam de peixes e ovos de pssaros (WHO, 1976).

    IKINGURA, AKAGI (1999) estudaram a metilao do mercrio e a partio entre osedimento, gua e peixes de rios adicionados de cloreto de mercrio nas concentraes de 1, 5e 10 ppm de Hg. A concentrao mxima de produo no sedimento ocorreu durante asegunda semana de incubao, quando atingiu 45,4 ng/g de peso seco. As condies deequilbrio foram observadas em 3-4 semanas depois da contaminao do sedimento com Hg.Aps uma semana de incubao do metilmercrio, sua partio entre o sedimento e a gua

    permitiu um acmulo de 25-154 ng/L desse composto em peixes de aqurio e 0,26 ng/L nospeixes controle. Os nveis de equilbrio foram atingidos na stima semana. Observou-se que

    mais de 50% do metilmercrio encontrado na gua estavam na forma solvel ou associados apartculas coloidais com dimetros inferiores a 1 m. As concentraes de metilmercrio em

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    peixe aumentaram quase que exponencialmente de 30 ppb para uma mdia de 345 ppb em trssemanas. A captao de Hg pelos peixes variou de 10 a 18 ng/g por dia, durante a segunda e aterceira semanas. Os coeficientes de partio (K peixe-gua) entre o mercrio total e o

    metilmercrio entre peixes e gua foram de 5.000-7.000 e 10.000-22.000, respectivamente.Foram, tambm, observadas grandes diferenas na produo de metilmercrio no experimentode incubao sedimento/gua com peixes e controles. O equilbrio das concentraes demetilmercrio variou de 15 a 32 ng/g nos peixes controle. Assim, segundo tais pesquisadores,o papel desempenhado pelos peixes na metilao do mercrio deve ainda ser mais bemesclarecido, uma vez que estes no tm a capacidade de metilar o Hg in vivo.

    Os nveis de mercrio na biota aqutica variam entre as espcies de uma mesmalocalidade e para uma mesma espcie em diferentes localidades. KEHRIG et al. (1998)avaliaram as concentraes de mercrio no tecido muscular do peixe carnvoro

    Micropogonias furnieri, em trs esturios brasileiros: Baa da Guanabara, Baa de Sepetiba e

    Ilha Grande, Rio de Janeiro, e na Lagoa da Conceio, Santa Catarina, entre o vero de 1990 ea primavera de 1991. As concentraes de mercrio obtidas na musculatura dos peixesestavam abaixo do limite estabelecido pela legislao brasileira (500 ng/g de peso) ecorrelacionavam-se ao peso e tamanho do animal. Os nveis mais elevados do metal foramdetectados nos peixes da Baa de Guanabara, onde o maior aporte de efluentes industriais edomsticos, sem tratamento adequado, implica maior contaminao pelo metal.

    Os golfinhos acumulam Hg no tecido sseo e os teores encontrados esto relacionadoscom a idade, tal como tambm foi observado em peixes. Os nveis podem variar de 1,44 a1,55 mg/kg em machos e fmeas, respectivamente, com resultados semelhantes tambm parao metilmercrio (BOENING, 2000).

    Durante a ltima dcada, em cumprimento a diversos tratados internacionais enacionais para minimizao dos resduos gerados, diminuiu-se a disposio de metais pesadosno NE do Atlntico. Entretanto, a reduo na disposio no implica diretamente a rpidadiminuio dos nveis desses metais nos organismos aquticos. Utilizaram-se 36 golfinhosmarinhos, encontrados mortos na costa da Frana, como bioindicadores da variao temporal(perodo de 1977-1980 e 1984-1990) e espacial dos nveis desses poluentes. A concentraode mercrio total variou de 1 g/g (peso lquido) no msculo dos golfinhos jovens a 780 g/gno fgado de golfinhos adultos. Para o metilmercrio, as concentraes variaram de < 0,2 a 19g/g no fgado de golfinho jovem. Observou-se que a concentrao total do metal aumentou

    com a idade do animal, porm, em menor extenso para o composto orgnico, confirmando aexistncia de um lento processo de desmetilao heptico ligado formao de HgSe. Padrosemelhante foi encontrado nos rins, demonstrando que a desmetilao tambm pode aliocorrer (HOLSBEEK et al., 1998).

    Os lees marinhos apresentam enorme variao: 0,4 a 300 mg/kg na concentrao deHg total no fgado, sendo que apenas 2 a 17% esto presentes na forma metilada. Nessesanimais, o selnio tambm foi encontrado em tecido heptico, numa proporo de 1:1 com oHg. Este um dado interessante, pois existem indicaes de que o Se desempenhe papel

    protetor na exposio ao mercrio. KOEMAM et al. (1975), apud BOENING (2000), aoavaliarem os nveis de Hg no fgado de lees-marinhos e golfinhos, que variaram de 0,37 a

    326 mg/kg, observaram ali uma relao perfeita de 1:1 entre Se e Hg.

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    Os nveis de Hg em siris azuis (Callinectes sapidus), coletados nos sedimentoscontaminados da Baa de Lavaca, Texas, EUA, mostraram-se com uma ordem de magnitudemaior que os nveis em camares rosas (Penaeus duorarum), coletados na mesma rea. Os

    estudos realizados em laboratrio, usando peixe contaminado com Hg como alimento parasiris e camares, mostraram que ambos podem acumular concentraes de Hg, em 28 dias,semelhantes s encontradas no alimento. A eficincia de assimilao calculada para o siri azulfoi de 76%, enquanto para o camaro rosa foi de 72%. Posteriormente, os ensaios dedepurao do Hg em 28 dias mostraram que o primeiro no muito eficiente, enquanto osegundo alcanou nveis de 0,012/dia. A biomagnificao calculada prev fatores de duas atrs vezes o normal para ambas as espcies. interessante notar que as diferenas, em termosde concentraes, observadas ao se comparar as espcies estudadas, devem-se ao tempo de

    permanncia no sedimento e aos hbitos de alimentao (EVANS et al., 2000).

    Os valores de concentrao letal 50% CL50 96h para peixes de gua doce variam

    de 33 a 400 g/L e so superiores para peixes de gua salgada (WHO, 1989).

    2.3 Toxicidade para plantas e animais terrestres

    O mercrio e seus compostos esto naturalmente presentes, na forma de traosinferiores a 500 ppb, em plantas que crescem em solos com baixas concentraes de Hg. As

    plantas terrestres prximas de depsitos de Hg apresentam nveis de 200-30.000 ppb (pesomido) (HSDB, 2000; OECD, 1974). Os vegetais tendem a ser mais insensveis aos efeitostxicos dos compostos mercuriais. Em plantas superiores observa-se que o Hg pode interferirna fotossntese, na transpirao, na absoro de gua e na sntese de clorofila, sendo que essesefeitos podem ser atribudos mais aos danos causados s razes do que propriamente a umaao direta do metal. As ervas tendem a acumular mais metais que as gramneas e os vegetaisde folhas verdes.

    HUCKABEE et al. (1983), apud BOENING (2000), realizaram um estudo em plantas,nas proximidades de uma mina de mercrio, na Espanha. As concentraes de mercrio totalna vegetao variaram de 100 mg/kg, a menos de 500 m da mina, at 0,20 mg/kg, a 20 km.Um fato interessante foi constatar que a 25 km da mina, na direo do vento, os nveis eram10 vezes maiores que os naturalmente encontrados. Os musgos continham mais Hg do que as

    plantas herbceas. O metilmercrio no foi quantificado em nenhuma das plantas analisadas,embora algumas amostras apresentassem traos do composto, porm em concentraes

    inferiores a 10 pg/amostra.Dos animais terrestres que se contaminam com mercrio, os pssaros so os mais

    estudados. A forma como essas aves armazenam o Hg variada e depende da espcie, rgoe locais onde vivem. Os mais contaminados so os que se alimentam em esturios (WHO,1989). De modo geral, em pssaros, os rins e o fgado acumulam nveis mais elevados demercrio do que os outros rgos. Entretanto, a anlise da concentrao do metal nas penasdas aves pode ser usada na monitorizao biolgica da exposio a metilmercrio e descreverhistoricamente exposies, associadas, inclusive, a locais e padres de migrao. A deposiodo metal nas penas uma forma eficaz de eliminao. At 70% da carga corprea do Hg

    pode ser encontrada nas penas, havendo alto grau de correlao com os nveis acumulados

    em outros tecidos. A maior parte dos estudos realizados com aves tem utilizado com espciesgalinceas e predadoras que, na realidade, no so representativas de todas as espcies de

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    aves (BOENING, 2000; WHO, 1989).

    Pssaros alimentados com Hg inorgnico apresentam diminuio da ingesto de

    alimento e, conseqentemente, baixo crescimento. Efeitos mais sutis so observados sobresistemas enzimticos, funo cardiovascular, parmetros sanguneos, resposta imunolgica,estrutura e funo renal, alm de alteraes de comportamento (BOENING, 2000). Ometilmercrio mais rapidamente absorvido do que o Hg inorgnico e apresenta uma meia-vida biolgica mais longa. Dependendo da especiao do Hg, este pode depositar-sediferentemente na gema ou na clara dos ovos. Assim, o metilmercrio tende a concentrar-secom maior intensidade na clara e o inorgnico, na gema. As aves piscvoras, que tm porhabitatsistemas aquticos, normalmente apresentam nveis mais elevados de Hg do que asaves que no ingerem peixes. Aves terrestres, que vivem em locais onde o Hg foi utilizadocomo fungicida, e que se alimentam de sementes, pequenos mamferos e seus predadores,

    podem acumular Hg em altos nveis. Os nveis de Hg no fgado de aves piscvoras variam de

    0,89 a 30,9 ppm, enquanto nos rins de outras aves variam de 0,27 a 0,60 ppm (BOENING,2000; WHO, 1989).

    Existem poucos estudos que avaliam os efeitos do Hg em mamferos selvagens, e amaior parte est relacionada com o vison(espcie de marta) e com o Microtus ochrogaster.

    Nestes animais o metilmercrio mostrou-se mais txico que as espcies inorgnicas do Hg.

    Ao avaliar os efeitos do mercrio em animais de experimentao, observa-se suatoxicidade para os organismos terrestres e aquticos em larga faixa de concentrao, pormnesses estudos as doses utilizadas so elevadssimas e no se aproximam, em absoluto, dasconcentraes encontradas no ambiente. Estes protocolos experimentais, de fato, utilizamdoses elevadas para se poder observar uma porcentagem significativa de resposta numnmero reduzido de animais (WHO, 1991; WHO, 1990; WHO, 1978). Caso contrrio, serianecessria a utilizao de um nmero muito elevado de animais, o que tornaria o ensaioinvivel. Os efeitos agudos observados em plantas e animais de laboratrio no soobservados em plantas terrestres e animais em seu habitat, exceto em situaes de usoexcessivo de fungicidas mercuriais (BOENING, 2000).

    3 RISCO DA EXPOSIO DE POPULAES HUMANAS

    Populaes com maiores probabilidades de exposio a nveis perigosos do mercrioou as portadoras de condies biolgicas ou patolgicas que podem exacerbar os efeitos daintoxicao pelo agente, so aquelas de risco de intoxicao. Entre tais grupos populacionaisesto: a) trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercrio; b) populaes gerais vizinhasa fontes de poluio por mercrio (minas, indstrias); c) populaes de regies comcontaminao por mercrio. Nas situaes em que ocorra tal contaminao, principalmentedas guas, todos os habitantes locais que se alimentam da fauna regional tm riscosignificativo de desenvolver intoxicao crnica; d) pessoas que se alimentam

    preferencialmente de pescados e outros produtos aquticos; e) pessoas que usamprolongadamente medicamentos mercuriais; f) doentes do Sistema Nervoso Central, doentesrenais crnicos, doentes broncopulmonares crnicos; g) gestantes e crianas pequenas.

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    A exposio ambiental da populao geral ao mercrio estimada em,aproximadamente, 1 g/dia pelo ar; at 2 g/dia pela gua e 20 g/dia atravs dos alimentos,

    podendo, neste caso, atingir at 75 g/dia, conforme a quantidade de peixes da dieta

    (GOYER, 1995).

    Com relao aos riscos da exposio ocupacional, um comit de especialistasdistinguiu duas principais classes de compostos mercuriais: orgnicos e inorgnicos. Osltimos incluem a forma metlica, os sais de mercrio I e II e aqueles complexos nos quais omercrio II est reversivelmente unido a ligantes tissulares, como grupos tiis de protenas.Os compostos, nos quais o mercrio figura diretamente unido ao carbono por meio de ligaocovalente, foram classificados como orgnicos (MAC, 1969). Esta distino de valorlimitado porque as propriedades txicas do vapor de mercrio elementar distinguem-sedaquelas dos sais inorgnicos e, ademais, os alquilmercuriais de cadeia curta diferem,notavelmente, dos outros compostos tambm enquadrados na definio de orgnicos (WHO,1978). Do ponto de vista de risco sade humana, as mais importantes formas do mercrioso: os vapores de mercrio elementar e os alquilmercuriais de cadeia curta (WHO, 1978),nos quais o mercrio pode estar ligado a um tomo de carbono de um grupo metila, etila ou

    propila. Na verdade, de acordo com as diferentes toxicidades, propriedades fsico-qumicas eriscos de dano sade humana e do ambiente, pode-se estabelecer quatro categorias demercrio: o elementar, os compostos inorgnicos, os alquilmercuriais e os demais compostosorgnicos.

    A toxicidade dos diferentes sais de mercrio deve-se ao prprio ction do metal. Poroutro lado, a solubilidade, outras propriedades fsico-qumicas, e mesmo a distribuio e a

    biotransformao no organismo animal podem ser influenciadas pelo estado de valncia domercrio e pelo nion associado. J para os compostos organometlicos as propriedadestoxicolgicas dependem fundamentalmente do grupamento orgnico ligado (CLARKSON,1997; BERLIN, 1983; CLARKSON, 1981; SUZUKI, 1977; PRASAD, OBERLEAS, 1976).

    A toxicidade de sais mercurosos, o calomelano por exemplo, pode ser muitoaumentada pela presena simultnea de agentes alcalinos, tais como o bicarbonato de sdio.

    Nesta condio pode ocorrer a passagem do on mercuroso a mercrico.

    Os derivados alquilados tm, geralmente, maior volatilidade que os derivados ariladose alcoxialquilados. Assim, ainda que a toxicidade intrnseca destas trs classes de derivados

    mercuriais (DL 50 por via intraperitoneal) no seja muito diferente, os derivados alquiladospodem penetrar mais facilmente no organismo por inalao e so muito mais perigosos. Elesso, igualmente, mais estveis no organismo (LAUWERYS, 1972).

    Intoxicaes de carter criminoso com compostos de mercrio no so usuais, porqueeles possuem sabor metlico pronunciando e desagradvel. Mesmo assim, sais como o cloretomercrico, o cianeto e o oxicianeto de mercrio (este, mistura de 34% do xido e 66% docianeto) tm sido empregados por suicidas (SALGADO et al., 1987) e, pelo incio do sculoXX, o uso do cloreto mercrico era um dos mtodos mais comuns de suicdio (KNIGHT,1975). TROEN et al. (1951), apud WHO (1991), descrevem 18 casos, sendo nove fatais, deingesto de cloreto mercrico em doses nicas que variaram de 29 a 50 mg/kg. Nesses

    indivduos, a necrpsia revelou leses gastrintestinais, observando-se desde gastrite ulcerao necrtica da mucosa, alm de leses renais responsveis pela falncia do rgo. A

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    auto-injeo intravenosa de mercrio metlico foi e parece ainda ser outra tcnica adotada porsuicidas (OLIVER et al., 1987; VAS et al., 1980; UMBER, 1923). Do incio do sculo XX atos anos 80, cerca de quarenta casos de intoxicao por mercrio metlico foram relatados,

    envolvendo ingesto, aspirao e injeo (OLIVER et al., 1987).

    Quanto s intoxicaes no intencionais por mercrio, elas, com certeza, acontecemdesde h muito tempo e pelos caminhos mais diversos, envolvendo um indivduoisoladamente, ou comunidades. Duas ocorrncias com carter epidmico so relatadas nosculo XIX (WHO, 1978). Em 1803, em Idrija, Iugoslvia, um incndio numa mina demercrio produziu inmeros casos de intoxicao entre os habitantes e animais dasvizinhanas, com o surgimento de tremores nas pessoas atingidas. Em 1810, a quebra derecipientes contendo mercrio, ocorrida num navio britnico, resultou na morte de todos os

    pssaros e gado a bordo, e 200 pessoas apresentaram manifestaes da intoxicao, com odesfecho de trs mortes (KNIGHT, 1975).

    Fato bizarro de intoxicao por mercrio registrou-se em Paris. Duas pessoasproprietrias de um estabelecimento de tiro, onde diariamente se disparavam de 3 mil a 5 milbalas, evidenciaram intoxicao mercurial perfeitamente caracterizada em conseqncia inalao dos vapores resultantes da exploso do fulminato de mercrio (FABRE, TRUHAUT,1971). Outro caso inusitado de intoxicao mercurial, com pneumonite intersticial, foi de umhomem de 40 anos que se exps ao mercrio metlico ao fundir, em seu prprio fogo, umamistura de mercrio, chumbo, cobre e solda para preparar pesos de pesca (GORE,HARDING, 1987).

    A intoxicao por mercrio, principalmente aquela a longo prazo, pode ocorrer entre

    trabalhadores em qualquer tipo de atividade ou indstria em que se utilize o mercrio, sejanuma etapa intermediria de um dado processo, seja na obteno de compostos derivados. Jna antigidade, nas minas romanas, apareciam intoxicaes causadas pelo sulfeto demercrio.

    Em locais de trabalho onde se emprega o mercrio metlico, altas concentraes deseu vapor podem ocorrer no ar ambiente, em conseqncia de sua volatilidade, o que se podeconstituir em srio risco de mercurialismo. Muitas vezes laboratrios qumicos, fsicos egabinetes odontolgicos chegam a apresentar concentraes de mercrio no ar superiores aolimite recomendado (SALGADO et al., 1986). A possvel contaminao de dentistas pelo

    preparo do amlgama para obturao tem sido repetidamente demonstrada (ENWONWU,

    1987; GUTENMANN, 1973). Na Sucia, entretanto, constatou-se que o nvel de exposiodestes profissionais baixo, em funo dos mtodos de preparo do amlgama inserido e daevacuao do ar durante a perfurao e polimento (LANGWORTH et al., 1997). Emtrabalhadores prolongadamente expostos a baixas concentraes de mercrio inorgnico, de0,24 a 0,27 mg/m3, j se encontram nervosismo, insnia e tremores (MILLER et al., 1975).

    Intoxicaes no intencionais tambm foram notadas quando do largo uso dosmercuriais anti-sifilticos e de mercuriais diurticos. Casos de toxicidade por mercrio notratamento da sfilis so descritos desde os sculos XVI e XVII.

    Dos princpios medicamentosos de mercrio, os antisspticos tm causado muitas

    intoxicaes. ROHYANS et al. (1984) descreveram o caso de uma menina de 18 meses que,aps utilizao por cerca de um ms de merthiolate aquoso para tratamento de otite,

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    apresentou evidncias de intoxicao e foi a bito. DE BONT et al. (1986) reportaram aocorrncia de intoxicao por mercrio em menino de quatro meses submetido aplicaocutnea repetida de pomada de xido mercrico amarelo para tratamento de eczema. Em

    virtude disso e por outras complicaes a criana faleceu. Mesmo o Mercurucromo(Merbromin) tem sido associado a casos de intoxicao (CLARK et al., 1982).

    Nada justifica o uso do mercrio como afrodisaco e em alguns casos de contaminaopessoal pelo agente j se suspeitou deste consumo imprprio (GROUNDS, 1984). Utilizaototalmente inadequada e condenvel, representando outro risco de exposio, a que severifica em algumas comunidades de negros, nos pases desenvolvidos e nos do terceiromundo, com cremes para despigmentao que possuem sais inorgnicos de mercrio(JOVANOVIC et al., 1997a, 1997b; SAINIO et al., 1996; ENWONWU, 1987). A respeitodeste assunto foi realizado, na Arbia Saudita, um estudo em 38 amostras de diferentesmarcas de creme de beleza e os resultados foram alarmantes: aproximadamente 45% das

    amostras continham mercrio em concentraes maiores que o limite admitido pela agnciaamericana FDA, que de 1 ppm (Al-SALEH, Al-DOUSH, 1997). O Creme de Belleza,contendo calomelano-cloreto de mercrio na concentrao de 6-8%, produzido ecomercializado no Mxico, foi o causador de mltiplos casos de intoxicao por mercrio nafronteira daquele pas com os EUA (QUEIROZ, 1995). Prosseguindo neste rosrio de usosexticos e de risco toxicolgico, que bem do a dimenso da estupidez a que a humanidadeainda est sujeita, conta-se aquele feito por alguns boxeadores latino-americanos, que se auto-administram intravenosamente mercrio metlico supostamente para estimularem seus socos(CELI, KAHN, 1976).

    E o risco toxicolgico parece estar em toda parte, mesmo nas situaes maisinusitadas. Por exemplo, ALTERMAN et al. (1981) examinando 207 crianas que tiveramcontato com acetato de fenilmercrio, por intermdio de fraldas contaminadas, encontraramem 56% delas (116), ao exame radiogrfico de ossos, linhas de deteno de crescimento.

    Outro fator de risco que tem sido destacado por especialistas o representado pelarestaurao dentria com amlgama de mercrio, j que esta via pode significar umimportante aporte de mercrio inorgnico ou orgnico, comparvel s quantidades queingressam por intermdio dos alimentos e da gua. Este fator, contudo, questionado porvrios autores, gerando-se extensa controvrsia na literatura concernente liberao e toxicidade do mercrio por este meio (BJORKMAN et al., 1997; BRATEL et al., 1997a,1997b; ELEY, 1997a-1997g; HERRSTROM et al., 1997; HLADIKOVA, URSINYOVA,1997; ISACSSON et al., 1997; MAREK, 1997; VIMY et al., 1997; BERGLUND, MOLIN,1996; CHIEN et al., 1996; LUBBE, WUTHRICH, 1996; MULLER-MINY et al, 1996;SALLSTEN et al., 1996; ENESTROM, HULTMAN, 1995). O amlgama convencional

    preparado pela mistura de mercrio com uma liga prata-estanho, o que produz uma massaplstica de rpida fixao na cavidade dentria (PHILIPS, R. W. Skinner's science of dentalmaterials. 8th ed. Philadelphia, London: W.B. Saunders, 1982. p. 302-316 In: COX, ELEY,1986). O amlgama pode, eventualmente, ficar incrustado nos tecidos moles da boca, seja soba forma de fragmentos slidos, seja como finas partculas o mais comum resultantes douso do motor de alta rotao na restaurao. COX, ELEY (1986), implantandosubcutaneamente amlgama dentrio em cobaias, observaram elevao dos nveis de mercrio

    no sangue, bile, rins, fgado, bao e pulmes; as maiores concentraes sendo notadas notecido renal, sem, contudo, haver leso tubular. Uma pequena porcentagem de pessoas parece

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    experimentar reao alrgica ao mercrio, caracterizada normalmente por dermatite ouerupes cutneas (American Dental Association. In: FISHER, 1985). Esta hipersensibilidadeao mercrio do chamado tipo IV (intermediada celularmente e tardia) (MACKERT, 1985) e

    j determinou a remoo de amlgamas dentrios de pacientes dela portadores (DUXBURYet al., 1982). Por conta desta remota, mas existente possibilidade, a ADA (American DentalAssociation) recomenda que os dentistas mantenham uma histrico mdico completo de cada

    paciente e se ele mostrar tal alergia, o dentista deve escolher algum outro material restauradorque no o amlgama. Existe no mercado um kit (merc-kit) para deteco de pessoashipersensveis ao mercrio, sugerido para ser usado pelos dentistas antes da aplicao doamlgama, mas que no encontra plena aceitao da ADA. ENWONW (1987), em sua citadaexcelente reviso sobre o risco potencial para a sade decorrente do uso do mercrio emodontologia, conclui que ainda faltam melhores provas de uma relao causal entre aliberao de vapor de mercrio de restauraes dentrias e quaisquer problemas de sadehumana.

    H que se considerar tambm os muitos casos de acidentes em que ocorre derrame demercrio para o ambiente. O Centre Canadien d'Hygiene et de Securit au Travail(CHEMINFO, 2000) descreve vrios acidentes txicos associados ao Hg, que vo desde aquebra de termmetros em hospitais e lares at a contaminao de lagos e rios por atividadesindustriais, principalmente de indstrias de cloro-lcali. No municpio de Mairinque, a 62quilmetros de So Paulo, houve vazamento de mercrio em uma subestao de energia dalinha frrea administrada pela Ferroban, que contaminou dez adolescentes, idades entre 13 e17 anos, alunos da Escola Estadual Professora Maria de Oliveira Lellis Ito. O mercriovazara de um reator eltrico desativado, avariado por saqueadores de sucata de cobre. Asubestao e seus equipamentos pertenciam Rede Ferroviria Federal. Os estudantes

    encontraram o mercrio no cho e o colocaram em vidros, levando-o para a escola. Osprofessores observaram o risco e entraram em contato com a prefeitura (TOMAZELA, 2001).

    Os compostos de mercrio que tm provocado o maior nmero de intoxicaes, emdiferentes populaes, so o metil e o etilmercrio. Em virtude do consumo de pescados emariscos contaminados por metilmercrio ou de po preparado com sementes tratadas comfungicidas mercuriais (principalmente metil e metilderivados) muitos episdios deintoxicaes coletivas j aconteceram.

    3.1 Risco pela ingesto de peixes e mariscos contaminados caso Minamata

    Neste episdio de Minamata, a maior indstria de plsticos do Japo (a ChissoQumica, daquela cidade, Prefeitura de Kumameto, costa sudoeste da ilha de Kyuschu),operando entre 1920 e 1960 na produo de acetaldedo e cloreto de vinila, aumentou afabricao de seu principal produto, o cloreto de vinila, na qual eram empregados sais demercrio no eletrodo das clulas eltrolticas: cloreto mercrico (MAILMAN, 1980;RAMADE, 1977), sulfato mercrico (OTTAWAY, 1982). O mercrio, incluindometilmercrio e xido de mercrio, era lanado nas guas da baa de Minamata, como resduo

    presente nos efluentes industriais (GOYER, 1995; D'ITRI, 1990, apud QUEIROZ, 1995; DIX,1981; LAUWERYS, 1972; FISHBEIN, 1971). A fbrica funcionava de maneira muitoineficiente (alis, apenas a partir das dcadas de 80 e 90, e somente nos pases desenvolvidos,como Alemanha, a Avaliao Tecnolgica de Processos Technology Assessment ganha

    peso no licenciamento ambiental de atividades impactantes (CLAR et al., 1996) e estimou-seque tenha lanado ao mar 600 toneladas de mercrio (OTTAWAY, 1982). Nos sedimentos da

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    baa a concentrao de mercrio, naquela poca, alcanou nveis de at 2.010 mg/kg (pesoseco), na confluncia do canal de descarga da Chisso. Esta poluio das guas da baa deMinamata resultou, e tambm pela colaborao de bactrias metanognicas, em pesada

    contaminao dos moluscos e peixes locais por metilmercrio, sendo o destinatrio final omorador da regio que os ingeria (HARADA, 1995).

    Assim, de 1953 a 1956 surgiram numerosos casos de uma doena neurolgicaincomum numa comunidade de pescadores situada na localidade denominada de Baa deMinamata, em rea litornea do mar de Yatsushiro (McALPINE, SHUKURO, 1958). O malse notabilizou como Doena de Minamata. Em maio de 1956, quatro trabalhadores foramhospitalizados apresentando dano cerebral, inicialmente considerado como sendo de etiologiainfecciosa. Outros casos surgiram com sintomatologia semelhante e foram, tambm,erroneamente diagnosticados (HARADA, 1995). Em agosto de 1956, a Doena de Minamatafoi, finalmente, esclarecida como intoxicao por metais pesados oriundos dos efluentes

    industriais. Em outubro de 1959, ficou demonstrado que o agente causal era o metilmercrioe, em 1960, a fbrica foi pressionada a modificar seus mtodos de descarte. Infelizmente,

    prosseguiu o lanamento de mercrio inorgnico dissolvido (no mais, portanto, ometilmercrio) na Baa de Minamata at 1968, e a atividade pesqueira s foi interrompida em1965. O resultado final deste desastre ecolgico foi de aproximadamente 150 toneladas demercrio lanadas na Baa de Minamata durante quatro dcadas (600 toneladas, segundoOTTAWAY, 1982). Seja como for, ambos os valores sinalizam um impacto inadmissvel,cujo significado foi inicialmente pouco compreendido, pois na poca a capacidade domercrio em ultrapassar as barreiras placentria e hematenceflica no era muito conhecida.

    Nos anos 60 e 70, danos cerebrais crnicos, retardo mental, distrbios no desenvolvimento,danos hepticos, hipertenso e distrbios metablicos foram cada vez mais observados em

    filhos de mes que ingeriam peixes contaminados. As crianas expostas durante o perodoembrionrio e fetal apresentavam tambm ataxia, tremores e convulses. Posteriormente, umasegunda epidemia da Doena de Minamata ocorreu devido ainda aos compostos mercuriais(GRAEME, POLLOCK, 1998; HARADA, 1995).

    Fato semelhante ao de Minamata aconteceu, em 1965, ainda no Japo, desta vezenvolvendo guas doces, do rio Agano, em Niigata, no norte do pas. Estes dois episdiosdeixaram um saldo negativo de muitas intoxicaes. Para Minamata, os dados variamsegundo as fontes; registraram-se de 111 a 121 intoxicaes (MANAHAN, 1975;McALPINE, SHUKURO, 1958), com dezenas de mortes, de 43 a 46 (DIX, 1981;MANAHAN, 1975; McALPINE, SHUKURO, 1958) e vrios casos de invalidez e de crianasque nasceram portadoras de deficincia fsica e mental, 19 (MANAHAN, 1975).

    Uma quantificao bastante crvel a de que no fim de 1983 existiam 1.612 casosconfirmados da doena de Minamata na Prefeitura de Kumamoto, incluindo 527 mortes(TAMASHIRO et al., 1986). At 1984 haviam sido oficialmente documentados 2.578 casosde doena pelo Japo, com 656 mortes (TAMASHIRO et al., 1984). A primeira morteaconteceu em 1954, com um pico de incidncia em 1956. Aps 1972, o nmero de mortestornou a aumentar rapidamente, com um segundo pico de incidncia em 1976 (TAMASHIROet al., 1984). O episdio de Minamata foi to importante na histria da sade pblica no Japoque ensejou a criao, naquela cidade, Prefeitura de Kumamoto, do Instituto Nacional para aDoena de Minamata. Em 1969, a companhia responsvel pela poluio foi obrigada pelaJustia a pagar indenizao a 138 pessoas afetadas pela doena de Minamata.

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    A concentrao de mercrio total no pescado da Baa de Minamata, no momento daepidemia, era de 11 mg/kg, base mida, e no caso do rio Agano era de 10 mg/kg(HAMMOND, BELILES, 1980; WHO, 1976) e foi calculado que a ingesto diria de

    mercrio pela populao exposta de Minamata foi de 5 a 100 g/kg, por perodos de mesesat anos (IRUKAYAMA, 1977).

    O pescado uma das mais importantes vias de transferncia de metilmercrio doambiente para o homem. Destacam-se, especialmente, as grandes espcies carnvoras como otubaro, o peixe-espada, o atum e a arraia, que, por se situarem no topo da cadeia alimentar,apresentam naturalmente concentraes elevadas de mercrio.

    Outros casos de ingesto de peixes contaminados aconteceram em diversos pases,como Canad e EUA. No primeiro foram apontados nveis elevados de metilmercrio emgrupos indgenas (CHARLEBOIS, 1978), com significativa associao entre anormalidades

    neurolgicas em adultos e nvel de exposio atravs da ingesto de peixes contaminados(McKEOWN-EYSSEN, RUEDY, 1983), com algum comprometimento neurolgico,inclusive de crianas que sofreram exposio pr-natal (McKEOWN-EYSSEN et al., 1983).Pesquisa na regio dos Grandes Lagos (EUA) mostrou que pessoas de regime ictifago, emrelao s demais, tinham nveis anormalmente elevados de mercrio (RAMADE, 1977).

    Em 1995, em Honda Bay, nas Filipinas, foi realizada uma avaliao toxicolgica egeoqumica integrada, relacionada contaminao ambiental e humana por mercrio depoisque um relatrio foi amplamente divulgado, assustando a populao. Um cais foi construdousando-se um milho de toneladas de veios e lixo beneficiado de uma mina de cinbrio. Osresultados obtidos foram consideravelmente menores do que se esperava. As concentraesno sedimento estavam dentro dos limites globais das naturalmente encontradas (< 60 g/kg).As concentraes mdias e medianas de Hg, observadas em tecidos de seis espcies de peixesda baa, estavam dentro dos limites estabelecidos pela EPA para peixes comestveis. Asanlises geoqumicas da baa confirmaram a prevalncia de Hg concentrado no sedimento emcerca de 340 mg/kg. A especiao do Hg, no entanto, era dominantemente de xidossecundrios de baixa biodisponibilidade. Os valores de Hg no cabelo dos residentes locais(4,41 mg/kg) foram semelhantes aos observados na populao costeira no impactada pelosdejetos da mina. Assim, o fator de exposio para a populao do entorno era negligencivel.

    Nveis relativamente altos no cabelo, consistentes com a absoro de metilmercrio associada ingesto diria de peixe, foram encontrados na populao costeira (WILLIAMS, 1999).

    3.2 Risco pela ingesto de gros tratados com fungicidas mercuriais os casos doIraque

    Inmeros casos de intoxicaes, s vezes com caratersticas epidmicas, atribudos contaminao de produtos alimentcios outros, alm de peixes e animais aquticos, tambm jse registraram. Foram devidos ao uso de fungicidas mercuriais empregados no tratamento desementes que se destinavam ao plantio, portanto no aptas para o consumo humano, mas queinadvertidamente foram transformadas em alimentos. Assim, a partir dos anos 50, ocorreram,em distintas partes do mundo, episdios de intoxicao coletiva por mercrio, entre osmaiores j registrados, como resultado da ingesto de sementes de trigo e outros cereais

    tratados com praguicidas organomercuriais.

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    Dos mais conhecidos, destacam-se os do Iraque. Neste pas, os mercuriais orgnicospassaram a ser usados como desinfetantes de sementes em 1955 e j no perodo 1955-59ocorreram 200 casos de intoxicao. Um surto mais claramente definido foi verificado em

    1960, acarretando cerca de mil internaes hospitalares (DAMLUJI, 1976). Estes episdiosforam causados pela sulfonanilida do etilmercrio-p-tolueno (JALALI, ABBASI, 1961). Noperodo de dezembro de 1971 a maro de 1972 (inverno), uma ocorrncia muito grave deintoxicaes por organomercuriais, na verdade uma epidemia, voltou a castigar o Iraque.Desta feita houve admisso hospitalar de 6.530 casos, dos quais 459 evoluram a bito(TIKRITI, MUFTI, 1976; BAKIR et al., 1973). O agente txico ento responsvel foi ometilmercrio contido no fungicida. Mais uma vez, o mecanismo das intoxicaes foi oconsumo de po feito de gros (73.201 toneladas de trigo e 22.262 toneladas de cevada)tratados com o fungicida, os quais, enfatize-se, deveriam ser utilizados apenas para plantio.Contudo, as famlias que os receberam usaram parte dos mesmos na produo direta de pes eoutros alimentos. O perodo de latncia de at 60 dias entre o incio da exposio e o

    surgimento dos sintomas foi, provavelmente, o principal fator contribuinte para a dimenso daepidemia. No se verificaram diferenas quanto idade ou ao sexo na populao atingida(TIKRITI, MUFTI, 1976). Um estudo de avaliao das condies de 15 crianas expostasinutero demonstrou anomalias semelhantes s encontradas em Minamata (WHO, 1991;TIKRITI, MUFTI, 1976).

    Previamente ao grande episdio de 1971/72 no Iraque, outros pases tambmamargaram situaes semelhantes, como Guatemala (ORDONEZ, J. V. et al. Bol. of. Sanit.Panam., v. 60, n. 510, 1966. Citados em WHO, 1978) e Paquisto (HAQ, I. M. Br. Med. J.,v. 5335, n. 1579, 1963. Citados em WHO, 1978). Posteriormente ao ocorrido no Iraque,houve um caso em Gana (DERBAN, 1974).

    Todos esses fatos levaram a Organizao Mundial da Sade a promover no Iraque, nacidade de Bagdad, de 9 a 13 de setembro de 1974, uma Conferncia sobre as Intoxicaesdevidas ao Tratamento de Sementes por Compostos Alquilmercuriais. Os respectivos Anais

    publicados pela Organizao Mundial da Sade, em 1976 (WHO, 1976), contm excelentestrabalhos sobre os aspectos epidemiolgicos, clnicos, de tratamento e laboratoriais relativos intoxicao por alquilmercuriais. Sua leitura recomendvel aos interessados pelo assunto.Excelente sumrio sobre os mais importantes achados e concluses daquela conferncia encontrado em SKERFVING, COPPLESTONE (1976).

    Em 1969, no Novo Mxico, foi relatado um caso de intoxicao de uma famlia que se

    havia alimentado de um porco, cuja rao continha gros tratados com fungicida mercurial(QUEIROZ, 1995).

    Na TABELA 1 so transcritos nveis tissulares de mercrio em animais de vidasilvestre ou de uso no comum em laboratrio que morreram intoxicados por metilmercrio,segundo informaes de WREN (1986).

    TABELA 1 Nveis tissulares mdios de mercrio em animais mortos intoxicados pormetilmercrio (MeHg)

    Espcie Tecido Concentrao mdia final (g Hg/g) Condies

    fgado 39,0 (2,3)*gatorim 31,0 (1,4)

    experimentais,alimentao de

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    msculo 27,0 (1,3)

    crebro 18,0 (0,62)

    hemcias 55,0 -

    plasma 0,7 -

    dieta de peixecontendo 6,0 gMeHg/g

    fgado 40,2 (0,51)

    rim 21,6 (0,35)

    crtex cerebral 10,4 (0,07)

    cerebelo 12,3 (0,04)

    msculo 15,0 (0,66)

    corao 8,9 (0,12)

    pulmo 10,8 (0,13)

    experimentais,administrao decpsulas de cloretode MeHgequivalente a0,25 mg/kg/dia

    gato

    citico 2,0 (0,11)fgado 67,1 -

    rim 13,4 -

    crebro 16,4 -

    gato

    plos 392,0 -

    vivendo em reservaindgena em Ontrio

    fgado 53,7 (1,8)

    rim 69,0 (2,7)

    msculo 34,2 (0,9)

    furo

    crebro 26,7 (0,4)

    experimentais,alimentao dedieta contendo5-7 g MeHg/g

    (continua)

    (continuao)

    Espcie Tecido Concentrao mdia final (

    g Hg/g) Condies

    fgado 55,6 (0,28)

    rim 37,7 (0,68)

    msculo 25,2 (0,05)

    bao 24,8 (0,24)

    crebro 19,9 (0,22)

    vison

    plo 1,2 (1,13)

    experimentais,alimentao dedieta contendo5,0 g MeHg/g

    Fgado 24,3 (0,45)

    rim 23,1 (0,75)

    msculo 16,0 (0,20)

    crebro 11,9 (0,10)

    vison

    plo 1,5 (0,90)

    experimentais,alimentao dedietas com1,1-15,0 g clo-reto de MeHg/g

    fgado 58,2 -

    rim 31,9 -

    msculo 15,2 -

    vison

    crebro 13,4 -

    naturais,encontradoagonizante

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    plo 34,9 -

    fgado 39,0 (1,8)

    rim 33,0 (2,1)

    msculo 16,0 (0,9)

    lontra

    crebro 18,0 (10,38)

    experimentais,alimentao de

    dietas com 2-8 gmetal Hg/g

    fgado 96,0 -

    rim 58,0 -

    msculo 36,0 -

    pele e plo 47,0 -

    bao 41,0 -

    lontra

    crebro 30,0 -

    naturais,encontradamorta

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