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F AZENDO 6 de Maio 2010 | Quinta | Edição # 38 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuição Gratuita boletim do que por cá se faz Bem-vindo ao Zoo. Que animal és tu?

fazendo 38

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boletim do que por cá se faz

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Page 1: fazendo 38

FAZENDO6 de Maio 2010 | Quinta | Edição # 38 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuição Gratuita

boletim do que por cá se faz

Bem-vindo ao Zoo. Que animal és tu?

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Opinião

Sexta, 7 de Maio - Palestras | Auditório ESMA | 21h

“A Instrução Pública na Cidade da Horta entre a

Monarquia e a República (1853-1918)”

Mestre Carlos Lobão

Sábado, 8 de Maio - Palestras | Sala 204 | ESMA | 21h

“A inovação curricular é possível?” Doutor Francisco Sousa

“A investigação-acção como estratégia de inovação curricular” Mestre

Francisco Valadão

Segunda 10 Maio - Apresentações Área Projecto 12º ano (AP)

“Viagem à Ilha (des)conhecida” - Cátia Cunha, Pedro Lima e Susana

Pereira

Projecção dos episódios Faial e Pico do documentário “As Ilhas

Desconhecidas” de Vicente Jorge Silva

Auditório da ESMA | 21h (ver pag. 4)

Terça 11 de Maio - Projecção

Episódios São Jorge, Terceira e São Miguel do documentário “As Ilhas

(Des)conhecidas” da autoria de Vicente Jorge Silva

Palestra sobre o documentário “As Ilhas (Des)conhecidas”

com o Realizador de Cinema Vicente Jorge Silva

Auditório da ESMA | 21h (ver pag. 4)

Quarta 19 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Faial: Uma Natureza para Todos” - Cátia Escobar, Margarida Pinheiro

e Dalila Bettencourt

“Um Sítio para Pousar” - Nelson Silva e Vanessa Bettencourt

“A Influência da Internet na Vida dos Jovens” - Marcelo Figueiras e

Maria Monteiro

“Moda Artesanal” - Glória Rodrigues, Rosana Lavado e Susana Cardoso

Quinta 20 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Ciência Forense” - Gonçalo Contente, Helena Sequeira, Vera Correia

“Evolução Cronológica das Espécies Marinhas” - Joana Correia e

Natacha Serpa

“Biodiesel na ESMA” - Mónica Alberto e Paula Dias

“A Falência das Empresas” - Alexandra Araújo, Ivo Xavier, Orlanda

Simas e Susana Duarte

Sexta 21 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Buggy” - Paulo Luna

“Agricultura Biológica e Convencional ” – Ana Santos, Joana Armindo e

Patrícia Pimentel

“De 4.20 pelos Mares dos Açores” - João Morais

“A Água” - Cátia Jorge, João Gonçalves e João Nascimento

Sábado 22 Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Deixas-te Influenciar?” - Andreia Silveira e Renata Rodrigues

Painéis - Tema “Eu Aluno” - Guilherme Soares,

Patrícia Cardal, Pedro Valim, Ricardo Goulart e Sofia Frazão

Sessão de Encerramento - Pr. Eugénio Leal

Opinião

02

ficha técnica - fazendo - isento de registo na erc ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de janeiro, art. 9º, nº 2 - direcção geral: jácome armas - direcção editorial: pedro lucas - coordenadores temáticos: catarina azevedo, luís

menezes, luís pereira, pedro gaspar, ricardo serrão, rosa dart - colaboradores: ana correia, esma, fernando nunes, jorge costa pereira, pedro rosa, parque natural do faial, sara soares, tomás silva - projecto gráfico e paginação:

paulo neves, elcubu, [email protected] - capa: mark faria - propriedade: associação cultural fazendo - sede: rua rogério gonçalves, nº 18, 9900 horta - periodicidade: quinzenal - tiragem: 400 exemplares - impressão: gráfica o

telégrapho - contactos: [email protected], http://fazendofazendo.blogspot.com - distribuição gratuita

Foi já no longínquo ano de 1991, e na qualidade

de Director da extinta Casa de Cultura da Horta, que tive a

honra de dar os primeiros passos, logo apoiados pela direcção

do Núcleo Cultural da Horta, para, em parceria, lançarmos

um colóquio dedicado à investigação histórica sobre os

Açores. Não se pretendia organizar mais um evento que

concorresse com outros que até então se promoviam, mas,

antes, dar corpo a um projecto que essencialmente

contribuísse para estimular a investigação, o debate e a

divulgação de temas de natureza histórica que incidissem,

essencialmente, sobre as ilhas de Santa Maria, Graciosa, S.

Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo, aquelas que, por serem

mais periféricas no longo processo da História dos Açores,

tinham (e têm) sido objecto de menos estudos.

Pela mão da Casa de Cultura da Horta e do Núcleo Cultural da

Horta nasceu assim o Colóquio “O Faial e a Periferia Açoriana

nos séculos XV a XX”, cuja primeira edição teve lugar nas

ilhas do Faial e do Pico em 1993.

O sucesso do Colóquio e a oportunidade e especificidade da

sua temática exigiram a sua continuidade. Em 1997, realizou-

V COLÓQUIOCrónica

“O FAIAL E A PERIFERIAAÇORIANA NOS SÉCULOSXV A XX”Jorge Costa Pereira

Encontros FilosóficosEscola Secundária Manuel de Arriaga

ProgramaQuarta 12 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Captação de Energia” Janite Parmanande, Tiago Furtado, Tiago João

“Sabemos o que Comemos?” - Diogo Matos e Vanessa Romeiro

“Psicologia da Escrita” - André Ferreira, Marco Garcia e Vítor Resende

Sexta 14 de Maio

COMEMORAÇÕES DO DIA DA ESCOLA SECUNDÁRIA MANUEL DE ARRIAGA

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO - “Das 8:30 às 16:30” Take 2 - dos

alunos do Curso de Artes Visuais do Ensino Secundário

Biblioteca Pública | 16h30

Segunda 17 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“Projecto Robótica” - Hugo Sousa e Tiago Oliveira

“A Pastilha Elástica” - Joana Bulcão, Maria Menezes e Sofia Fontes

“Uma Brisa de Energia” - Catarina Sousa, Daniel Rafael e Tiago

Andrade

“A Vida numa Tela Branca” - Paulo Pinheiro, Samuel Morison e Tiago

Cheira

Terça 18 de Maio - Apres. AP | Auditório da ESMA | 21h

“O Segredo da Mente – Um Filme Pedagógico.”- Marcos Romeiro e

Nádia Cabral

“Roteiro do Artesanato Faialense” - Marta Duarte

“Uma Viagem ao Mundo Erasmus” - Pedro Silva e Sofia Rocha

“Um Olhar sobre a Educação” - Anaísa Leal e Nicole Goulart

-se nas ilhas do Faial e de S. Jorge; em 2002, nas ilhas do

Faial e das Flores e em 2006 no Faial e no Pico.

Assim, a quinta edição do Colóquio terá lugar novamente nas

ilhas do Faial e de S. Jorge, de 17 a 20 de Maio próximo.

Em relação às primeiras edições, permanece na organização

o Núcleo Cultural da Horta e ao projecto agregaram-se, desde

há duas edições, a Câmara Municipal da Horta e a

Coordenação no Faial da Direcção Regional da Cultura, numa

feliz cooperação que viabiliza a iniciativa. Este ano, foram

também decisivos os contributos do Centro de História de

Além-Mar (CHAM) e da Santa Casa da Misericórdia das Velas,

que lidera a organização do evento em S. Jorge.

Estão inscritos na edição deste ano do Colóquio, quarenta e

cinco conferencistas que abordarão as seguintes temáticas: A

República e o governo das ilhas (1910-2010); As dinâmicas do

povoamento e a criação dos municípios: no V centenário do

concelho do Topo – S. Jorge (1510-2010); Sociedade,

Comportamentos e Quotidianos; Agricultura, Comércio e

Indústria; População, Emigração e Diáspora; Religião, Poderes

e Instituições; Cultura, Artes e Património.

O Colóquio terá lugar a 17 e 18 de Maio na Sala de

Conferências do Hotel Fayal e a 19 e 20 em S. Jorge, nas

Velas e no Topo, sendo as sessões abertas a todos os que nelas

queiram participar.

A Conferência de Abertura do Colóquio será proferida pelo

Prof. Dr. Sérgio Campos de Matos e intitula-se “Manuel de

Arriaga e o republicanismo, antes e depois do 5 de Outubro”,

enquanto a Conferência de Encerramento caberá ao Prof. Dr.

Avelino Meneses, e intitula-se “A extensão do povoamento e

a criação dos municípios”.

Ao fim deste percurso, sinto, com orgulho, que o Colóquio “O

Faial e a Periferia Açoriana nos Séculos XV a XX” conseguiu

regularidade, conseguiu firmar a sua identidade, conseguir

manter a sua especificidade e conseguiu ver as suas Actas

(com os textos das comunicações) publicadas e à disposição

de todos os interessados.

Por isso, estão de parabéns as entidades que suportam e

viabilizam este evento: o Colóquio “O Faial e a Periferia

Açoriana nos séculos XV a XX” é bem merecedor desse

apoio.O

Page 3: fazendo 38

Música“Tupi or not tupi, eis a questão”

festival Isle of Wight the 1970) e no regresso os elementos

que antes caracterizavam a sua música são cada vez mais

escassos. De destacar uma versão experimental de Veloso ao

tema “Asa Branca” de uma das figuras mais importantes no

imaginário musical dos tropicalistas: o nordestino Luís

Gonzaga.

Todos os músicos do movimento seguiram carreiras de grande

sucesso, mais ou menos separadas, com excepção dos

Mutantes e Tom Zé cujos percursos seguiram mais ou menos

em modo “fade out” até ao final da década de 70, os

primeiros após várias alterações na sua formação original e o

segundo entrando cada vez mais pelos caminhos do

experimentalismo e da música tradicional. No entanto ambos

foram “ressuscitados” e têm hoje um sucesso a nível global

que nunca tiveram então. Zé foi descoberto por David Byrne

no final da década de 80 e desde aí tem editado na editora

do ex-Talking Head e tocado um pouco por todo o mundo. Os

Mutantes reuniram-se mais recentemente (2006) e é notável

o estatuto que adquiriram dentro do mundo da música indie

norte-americana: editaram em 2009 pela ANTI (a editora de

Tom Waits) e são cabeças de cartaz nos principais festivais

daquele país e não só.

À parte da sua curta duração, o movimento tropicalista,

levado a cabo por um punhado de artistas, surgiu como uma

explosão de criatividade e um desafio aos comportamentos e

mentalidades da época e foi capaz de causar tanto veneração

como repúdia por parte de público e artistas. Aparececendo

quase como um acto isolado e manifestamente como uma

forma de contra-cultura, foi capaz de reverberar pela história

e tornar-se, a par do samba e da bossa nova, num foco de

divulgação da cultura brasileira no mundo.

Quase cem anos passados do texto de Oswald Andrade e é

fácil apercebermo-nos que a antropofagia reclamada pelo

escritor para o Brasil é cada vez mais um fenónemo global.

Nunca o Tropicalismo foi tão celebrado como agora e uma

influência tão reclamada por artistas um pouco por todo o

mundo. O

publicidade ou vídeo que se relacione com aquele país).

Em tempo de proliferação da televisão os concursos emitidos

pelas várias estações rivais eram a principal plataforma de

lançamento de novos músicos, e nestes era o público de

esquerda – averso aos instrumentos eléctricos que viam como

símbolo do imperialismo americano - quem mais se fazia

ouvir. E faziam ouvir-se de facto uma vez que os apupos e

assobios, como forma de boicotar as actuações que não se

enquadravam no perfil que a esquerda desejava, eram

Música

03

A citação em subtítulo soa a William

Shakespeare mas na realidade foi roubada e apropriada pelo

brasileiro Oswald Andrade. A frase é retirada do “Manifesto

Antropofágico” (1928), texto em que o autor modernista

exalta a força do Brasil pela sua capacidade de antropofagia

– canibalismo - às diversas culturas presentes no país no pós-

-colonialismo Europeu (no mesmo texto são celebradas as

tribos Tupi, povos originários da Amazónia e anteriores à

colonização, a quem terão sido atribuídas práticas canibais).

Este manifesto irá ser um dos pilares do movimento

tropicalista que despoletou na década de 60 em terras de

Vera Cruz.

Apesar de ser sobretudo conhecido como um movimento

musical a “Tropicalia” incluíu também artistas ligados às

artes visuais e o nome surge de facto pela primeira vez numa

instalação de Hélio Oiticica. Depois de vários anos de

maturação é em 1968 que um grupo de vários músicos, na sua

maioria vindos da Baía para o Rio de Janeiro, dos quais

Caetano Veloso e Gilberto Gil eram os principais

impulsionadores e as figuras mais destacadas, editam o disco

conjunto “Tropicalia: ou Panis et Circensis”, a carta de

apresentação do movimento.

TropicaliaPedro Lucas

Gilberto Gil e os MutantesDiscografia:

“Tropicalia ou Panis et Circensis”, Vários (1968)

“Tropicália”, Caetano Veloso (1968)

“Frevo Rasgado” Gilberto Gil (1968)

“Os Mutantes”, Os Mutantes (1968)

“Não Identificado”, Gal Costa (1969)

“Jorge Ben”, Jorge Ben (1969)

“Tropicalia (SoulJazz)”, vários (2005)

Videografia:

“Brasil, Brasil – The Tropicalia Revolution”, BBC

(2007) (pode ser visto integralmente no You Tube)

“Beyond Ipanema”, Guto Barra (2009)

“É proibido proibir”, Caetano Veloso

“Quero sambar meu bem…mas não quero andar na fossa cultivando tradição embalsamada.”, Tom Zé

“As pessoas na sala de jantar estão ocupadas em nascer e morrer”, Os Mutantes

A ditadura militar começara em 1964 e o panorama musical,

mais pobre pela partida de muitos músicos para os EUA onde

a bossa-nova granjeava cada vez mais atenção, dividia-se

entre músicos apolíticos e músicos de esquerda. Os últimos

reclamavam um novo teor para a bossa nova, onde as

habituais letras sobre mar, amor e mulheres bonitas fossem

substítuidas por temas ligados ao quotidiano operário e social

e onde a própria música fosse despojada de artfícios

superficiais – numa vertente mais dylanesca do género.

Acontece que assim como o próprio Bob Dylan pôs distorção

nas guitarras e operou uma revolução na sua música que

deixou a maioria dos seus seguidores em estado de choque,

os Tropicalistas, enfastiados com o que consideravam de

conservadorismo criativo, decidem abraçar todos estes novos

sons que chegavam de fora (Hendrix, Beatles ou Janis Joplin

eram outras influências), misturá-los com a música brasileira

e criar a sua própria revolução.

Entre as vítimas da antropofagia cultural do movimento

contavam-se, para além da música rock ocidental, a mass

culture americana - simbolizada pela “Pop Art” e pela estrela

de Hollywood Carmen Miranda - e alguns artistas ligados à

música tradicional brasileira de raiz. Jorge Ben (autor de

“Mais que nada” e “País Tropical”) era neste aspecto uma

grande referência do grupo, ao qual acabou também por se

juntar. O músico surgira alguns anos antes com o tema “Mais

que Nada” onde juntava samba e “maracatu”, um ritmo do

nordeste brasileiro, com guitarras eléctricas (para a história

ficou a versão de Sérgio Mendes, o primeiro êxito pop mundial

em português que ainda hoje acompanha qualquer

bastante recorrentes. Das vítimas deste público tanto fizeram

parte o grupo munido de guitarras eléctricas, vestidos num

misto de hippie, Sargent Peppers e Carmen Miranda berrando

“Bat Macumba He He” como a, então promissora, estrela pop

Roberto Carlos.

Do reduzido grupo da Baía faziam parte também Os Mutantes,

a única verdadeira banda do movimento que tentava recriar

o que via dos Beatles pelas emissões de onda curta da BBC,

Tom Zé, músico mais velho que ainda hoje é reconhecidamente

uma das figuras mais criativas da música tradicional brasileira,

e Gal Costa, mais familiar ao público português assim como

Gil e Veloso. A necessidade de actualização, de

experimentação e de incorporação de novos elementos era

um sentimento transversal a todos os membros do grupo, e o

resultado musical apresentava-se como uma representação

do caleidóscopio cultural que é o Brasil, misturando

influências da pop anglo-saxónico contemporânea - do

psicadelismo dos Doors ao rock dos Beatles passando pela soul

de Sly & The Family Stone – e orquestrações à Hollywood de

Miranda.

Com o crescimento da opressão por parte do regime militar

os Tropicalistas, mais que os músicos conotados com a

esquerda, tornam-se um alvo a abater pelo sistema. Caetano

Veloso e Gilberto Gil são presos em 1969 e convidados a

abandonar o país posteriormente, o que, de certa forma,

ditou o fim da Tropicalia. Os músicos mudam-se para Londres

durante dois anos (onde se envolvem na cena musical

chegando a lançar alguns discos e a ter uma apresentação no

“Lá vai passando a procissão…”, Gilberto Gil

Page 4: fazendo 38

Cinema Arquitectura e Artes PlásticasTeatro e Cinema

04

Entrevista

No âmbito da disciplina de Área de Projecto,

como proposta do professor Fernando Nunes, realizamos um

trabalho escolar intitulado “Viagem à Ilha (Des) Conhecida”.

O nosso trabalho pretende dar a conhecer a viagem que Raul

Brandão efectuou ao Faial e ao arquipélago dos Açores, em

1924, perspectivando-a e comparando-a com outras visões

mais actuais. Uma outra fonte do nosso projecto foi o

documentário “As Ilhas Desconhecidas”, da autoria do

jornalista Vicente Jorge Silva. Deste modo, aproveitamos,

entretanto, esta oportunidade do Jornal Fazendo, para dar a

conhecer a entrevista que o jornalista Vicente Jorge Silva

nos concedeu, enquanto fomos elaborando o nosso projecto.

Qual foi a maior surpresa que encontrou no arquipélago

açoriano?

Vicente Jorge Silva: A única ilha dos Açores que não conhecia

até rodar a série era a Graciosa e talvez por isso a maior

surpresa tenha sido aquela praça fabulosa de Santa Cruz,

fechada sobre si própria e cuja ligação mais evidente para o

mar se faz através da rua do Degredo (do Degredo, pensem

bem no peso da palavra). Mas, globalmente, a impressão mais

forte que perdurou em mim - embora fosse uma ilha que eu

já conhecesse - foi aquela que me deixou o Pico - e penso

que isso é bastante visível e sensível na minha adaptação do

livro de Brandão (uma adaptação muito livre, que não

pretende manter qualquer fidelidade literal ao texto original

do escritor, o que, de resto, seria impossível oitenta anos

depois).

a Vicente Jorge SilvaCátia Cunha, Pedro Lima e Susana Pereira, ESMA

A sua visão assemelha-se à perspectiva que Brandão teve

da Ilha do Faial em 1924?

São duas perspectivas muito diferentes e basta vocês verem

os textos que escolho do Brandão sobre o Faial e as minhas

narrações para perceberem isso. Há diferenças óbvias, e uma

delas é que, entretanto, aconteceu o vulcão dos Capelinhos,

o que mudou completamente a vida no Faial - e a marina da

Horta, sem esquecer o mítico café Peter’s, entre outras

coisas. Mas sobre a magia azul da ilha, as hortênsias ao longo

das estradas, o confronto com o Pico, enfim, essas coisas mais

perenes, é evidente que há uma ligação profunda entre o que

Brandão viu e o que eu vi.

Quando é que começou a filmar “As Ilhas Desconhecidas”?

Filmei (ou gravei, tratando-se de vídeo, talvez seja mais

correcto) nos Açores a partir de fins de Agosto de 2007,

durante dois períodos, ao longo de Setembro e Outubro, num

total de 5 semanas, se bem me lembro. No Porto Santo e na

Madeira filmei uns 10 dias em Outubro, assim que acabaram

as filmagens nos Açores, e, como tenho casa no Funchal,

aproveitei para filmar o resto em fins de semana, terminando

a 31 de Dezembro - com o fogo de artifício do fim do ano que

fecha a série. Há ainda uma sequência do arraial do Monte,

na Madeira, que filmara anos antes, em Agosto de 2004, salvo

erro, para um documentário que não concluí mas que me

pareceu muito adequada para As Ilhas Desconhecidas (o

Brandão fala disso no livro, aliás). Os depoimentos de José

Tolentino de Mendonça e Ricardo França Jardim (episódio da

Madeira) foram filmados/gravados em Lisboa, antes do fim de

2007.

Qual foi o tempo de duração deste seu projecto?

O tempo de duração da série é de cerca de 200 minutos

(cerca de 50 minutos, mais rigorosamente 52 minutos, por

episódio). Quanto à duração do projecto na minha cabeça,

deve ter tomado forma aí em meados de 2006. Decidi avançar

quando o produtor conseguiu reunir os apoios necessários

(que eu não tivera para o tal documentário que não concluí

na Madeira e de onde aproveitei a sequência do arraial). A

série foi financiada pela RTP-1 e teve o patrocínio da

Presidência do Governo dos Açores.

O Vicente Jorge Silva é um cineasta originário da Ilha da

Madeira, este facto influenciou a sua vontade em filmar as

Ilhas dos Açores?

Sou da Madeira mas adoro os Açores, que, aliás, já conhecia

razoavelmente antes de realizar esta série. Mas agora posso

gabar-me de conhecer as ilhas todas e de ter ficado com

desejo acrescido de voltar. Penso que, como se poderá ver

nas imagens da série e no meu próprio testemunho pessoal, a

natureza e os valores ambientais estão muito mais

preservados nos Açores do que na Madeira (onde o impacto

do turismo tem sido um tanto devastador). Em todo o caso,

esse respeito nem sempre é exemplar (basta ver alguns

mostrengos urbanísticos e arquitectónicos que vão surgindo

ou, por exemplo, a praga do trânsito automóvel em Angra,

que é uma cidade belíssima e não merece ser assim

maltratada). O

O documentário “As Ilhas Desconhecidas”, da

autoria de Vicente Jorge Silva, editado no final de 2009, pela

Midas, percorre as 11 Ilhas de Açores e Madeira. É um

documento fílmico que tem como título assim como ponto de

partida a viagem empreendida pelo escritor Raul Brandão no

verão de 1924 e que deu origem a um livro editado em 1926.

A pergunta que é feita na capa deste DVD é assaz e

pertinente: “Mais de oitenta anos depois, que resta do que

Brandão descobriu e anotou sobre o mistério dos espaços

insulares?”

O documentário abre com a série dedicada às ilhas do Corvo,

Flores e Graciosa, segue-se o Faial e Pico, depois São Jorge,

Terceira e São Miguel, e, por fim, Santa Maria, Porto Santo e

Madeira. São duzentos minutos de insularidade pura que

poderão constituir uma reflexão mais ou menos “obrigatória”

sobre a vivência e os olhares à volta dos dois arquipélagos,

cada vez menos desconhecidos.

O episódio sobre a ilha do Faial começa com o acontecimento

mais marcante do século passado ocorrido nesta ilha: a

erupção do vulcão dos capelinhos entre 27 de Setembro de

1957 e 24 de Outubro de 1958. A partir desse momento

deambula pela marina da Horta, o café Peter, a caldeira, a

praia de Porto Pim e as ruas de uma baixa que resistiram e

resistem à passagem do tempo. Atenda-se com muita

curiosidade e atenção à ligação e importância que o biólogo

Filipe Porteiro faz do texto de Raul Brandão com os estudos

de Príncipe Alberto I do Mónaco, sobretudo as suas derivações,

imprecisões e até mistérios à volta dos fenómenos marinhos

açorianos tão pouco estudados naquele tempo.

Se uma das preocupações deste documentário é estabelecer

uma comparação entre os espaços insulares retratados nesse

clássico enorme da literatura de viagens e a

contemporaneidade da vida nas ilhas pode-se concluir que o

objectivo é globalmente cumprido. No entanto, não deixa de

ser curioso como estes olhares exteriores, tanto de Raul

Brandão e Vicente Jorge Silva, se tocam “natural e

esteticamente” pelo mistério que a vida insular encerra, para

além do intuito e da relevância deste documento poder

perspectivar no futuro novos cruzamentos entre a literatura

e o documentário ficcionado.

Daí que também será legítimo perguntar se essa poética

brandoniana poderá ser hoje revista e aumentada na

dissertação filosófica de Gabriela Canavilhas, actual ministra

da Cultura, ou no discurso poético de Duarte Melo, director

do Museu Carlos Machado, em São Miguel, ou ainda na

cantilena mais ou menos “melancómica” do apresentador/

escritor Luis Filipe Borges. Seja qualquer for a resposta que

queiramos dar, uma verdade ressalta de todos estes discursos,

a beleza da natureza está aí, existe, é perene, molda e

configura a vida de quem aqui vive, e nisso, parece estamos

todos de acordo. Actualizar o deslumbramento da vida nas

ilhas marca este roteiro com duzentos minutos de duração,

no fundo parece ser este o mapa de intenções deste périplo

visual de Vicente Jorge Silva, também ele cinéfilo e cineasta.

Por isso, não podemos deixar passar ao lado as imagens do

Vulcão dos Capelinhos, dos baleeiros carregados de histórias

no Pico, as praças com paragens indefinidas e sem tempo, o

horizonte contínuo do mar, as lagoas mágicas das Flores, os

estrangeiros que escolhem “o fim do mundo” para viver, o

verde sempre ou nada excessivo, a bruma permanente e

melancólica, a solidão…ou o isolamento real e imaginado.

Os textos de Raul Brandão são lidos neste documentário pelo

actor João Perry, voz vulcânica e jorrante como se quer, a

música é de Bernardo Sassetti, vibrante e equilibrada e a

imagem é de Xavier Arpino, sóbria e contemplativa. Deste

modo, acompanhemos esta série de quatro episódios que

persegue a sombra do escritor nascido na Foz do Douro,

confrontando assim as suas pinceladas carregadas de tempo

com aquilo que entretanto se alterou, ao mesmo tempo que

podemos perambular com olhar crítico e reflexivo face ao

presente insular com Vicente Jorge Silva e os que com ele

quiseram e querem pensar, num único documentário, pelas

onze ilhas, do Corvo à Madeira. O

“As ilhas desconhecidas”Actualizar o deslumbramentoFernando Nunes

Page 5: fazendo 38

Arquitectura e Artes plásticas

Entre os dias 12 e 15 de Maio

decorrerá um workshop de escultura no

Forte de São Sebastião. Esta iniciativa

visa proporcionar aos faialenses uma

oportunidade de experimentar esta

forma de expressão artística, dando

Arquitectura e Artes Plásticas

05

Workshop de EsculturaPedro Rosa

João Abel MantaAna Correia

Este artigo poderia ter sido escrito para a última

edição. Mas não foi.

Em homenagem ao já passado dia 25, aqui fica o apontamento

sobre João Abel Manta, aquele que foi um dos grandes

responsáveis pelo imaginário colectivo dos portugueses

durante o pré e o pós 25 de Abril, uma revolução marcada

pela arte, que sempre esteve presente nas mais variadas

formas, tentando sobreviver à força esmagadora do ‘lápis

azul’.

João Abel Manta nasceu em 1928, em Lisboa. Era filho dos

pintores Abel Manta e Clementina Carneiro de Moura, e

licenciou-se em arquitectura nas Belas Artes de Lisboa. Para

além de exercer nessa área, distinguiu-se também na pintura,

na cenografia e nas artes gráficas.

Muitas das suas obras feitas para serem publicadas em

revistas e jornais contemporâneos do Estado Novo ficaram

para trás por ordem da censura. Ainda assim, as resistentes

foram suficientes para irem mostrando a sua ‘rara capacidade

para traduzir interpretações em imagens poderosas’,

intervindo activamente na sociedade através do seu

inteligente poder de observação. Com a liberdade do pós

revolução, os seus desenhos saíram para as ruas e tornaram-

-se donos da sua própria vontade. O grafismo de linha simples

e grossa, marcando os contornos dos cartoons coloridos com

cor plana, fizeram da obra gráfica e política de João Abel

Manta um marco não só na história da arte nacional como

também na própria história portuguesa do século XX.

Obteve vários prémios estrangeiros e nacionais, sendo

considerado o melhor cartoonista português deste século. O

A turma de Artes Visuais do 12ºC da Escola

Secundária Manuel de Arriaga, organizou, no âmbito da

disciplina de Área de Projecto, uma exposição em que o

objectivo é mostrar os trabalhos de todos os alunos de Artes

da escola (não só do 12º ano, como também dos 10º e 11º

anos). Esta exposição decorrerá na Biblioteca Pública a partir

do dia 14 até ao dia 21 de Maio. Convida-se toda a

comunidade a comparecer na sua inauguração que será no

dia 14 de Maio a partir das 16:30h e estará aberta de segunda-

-feira a sexta-feira das 9:00h até às 17:30h e sábados das

9:00h até 13:00h. Venha ver os trabalhos dos futuros artistas

nacionais. O

Exposição Turma de Artes Visuais do 12ºC

asas à sua criatividade através da

modelação do barro. Independentemente da

experiência prévia, qualquer pessoa poderá

participar nesta formação; apenas a curiosidade e a

vontade de experimentar serão indispensáveis. A escultura,

para o artista plástico e formador João Pedro Rodrigues, é

uma forma de dar vida à matéria. É essa experiência que

gostaria de partilhar com os participantes do workshop,

ensinando os princípios básicos da manipulação do barro,

orientando cada pessoa no seu trabalho de criação e ajudando

a que as ideias ganhem vida e se materializem na forma de

esculturas.

Nascido em França (Rambouillet), João Pedro Rodrigues vive

e trabalha no Porto, onde dirige um espaço que congrega

galeria, oficina, atelier de ensino artístico e a sua própria

residência. É neste lugar que confluem o seu projecto

artístico e de vida, um espaço repleto de arte, que transpira

uma criatividade partilhada, gerada por todas as

pessoas que por lá passam e que o elegem

como ponto de encontro, de aprendizagem e

de criação. É com um forte sentido de entrega

e experimentação que o trabalho de João Pedro

Rodrigues se desenvolve, provocando e despertando

sensações fortes no observador, envolvendo-o com

as suas peças, a um tempo materiais e inalcançáveis.

Quando nos encontramos diante das suas obras somos

imediatamente impelidos a pararmos e a olharmos para elas,

num encontro repentino que nos exige um tempo confronto,

contemplação e reflexão.

Esta iniciativa é uma organização conjunta da Iris Horta e de

Pedro Rosa e conta com o apoio da Câmara Municipal da

Horta e do Albergue Estrela do Atlântico. O

Inscrições: CMH e Atelier Iris Horta. Ver Agenda, Contracapa

“Das 8:30 às 16:30”

“Um Problema difícil” de João Abel Manta

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Literatura Literatura

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Vitória e os StaveneyCatarina Azevedo

Cuidado com a língua!Catarina Azevedo

de Maria Regina de Matos Rocha e José Mário Costa

de Doris Lessing

Em tempos de acordo ortográfico e de discussões sobre a língua, um livro para pensar

Catarina AzevedoMãe, não tenho nada para ler

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Ciência e AmbienteCiencia e AmbienteÁrea Protegida do Cabeço do FogoÁrea Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies

Parque NAtural do Faial

Cabeço do Fogo, à esquerda, com o topo mais côncavo

07

Abriu a época

Page 8: fazendo 38

Fazendos fazendus

08

Agendaaté 22 de Maio Encontros Filosóficos

(ver programa próprio na pag. 2)

6 de Maio (atenção: nova data)Lançamento dos Livros

“O Regresso das Caravelas” e

“Diz que é uma espécie de democracia”

de João Paulo Guerra

Biblioteca Pública | 21h30

7 de MaioEncontro da Comunidade de Leitores

Biblioteca Pública | 18h

7 a 9 de MaioIII Intercâmbio de Sons da “SFUF”

Festejos do 113º aniversário

S.F. União Faialense

7 e 9 de MaioCinema: “Shutter Island”

de Martin Scorcese

Cine-teatro Faialense | 21h30

8 de MaioPesca Desportiva

4ª Prova de Pesca de Barco de Fundo

Baía da Horta | 14h às 20h

Gatafunhos Tomás Silva

9 de Maio (ADIADO)Teatro: “À Espera de Godot”

de Samuel Beckett

com Teatro de Giz

Casa do Povo da Praia do Norte | 20h

10 a 28 de Maio“Das 8:30 às 16:30”

II Exposição dos Trabalhos dos Alunos de Artes Visuais da ESMA

(ver pag.5)

Biblioteca Pública | das 9h às 19h

12 de MaioInauguração da Exposição

“Europa”

de Carlos No

Biblioteca Pública | 18h

12 a 15 de MaioWorkshop de Escultura

com João Pedro Rodrigues

Forte de S. Sebastião

De Quarta a Sexta-feira das 19h30 às 22h30

e no Sábado das 10h00 às 13h00

Custo de Inscrição: €60

+ Informações: 292 293 909 (ver tb pag. 5)

14 a 15 de MaioComemoração do Dia da Freguesia

Angústias

14 de MaioApresentação do Livro

“A filha de ninguém”

de Manuela Bulcão

Biblioteca Pública | 21h

15 de MaioTorneio Golfinho de Natação

Piscina da ESMA | 10h

Teatro: “Ó Zé, põe-te em pé!”

de Sérgio Luís

Companhia de Teatro Carrocel

Teatro Faialense | 21h30

16 de MaioPesca Desportiva

2ª Prova do Torneio de Abertura de Pesca de Barco

Baía da Horta | 7h às 12h

Cinema: “O Livro de Eli”

de Allen Hughes

Cine-Teatro Faialense | 21h30

17 e 18 de MaioV Colóquio

“O FAIAL - E A PERIFERIA

AÇORIANA NOS SÉCULOS XV

A XX” (ver pag. 2)

Fayal Hotel Resort | 9h30

18 de MaioLançamento do Livro

“Posturas da Câmara da Horta” (1603 - 1886)

(Inserido no V Colóquio “O FAIAL - E A PERIFERIA

AÇORIANA NOS SÉCULOS XV)

Fayal Hotel Resort

19 a 21 de MaioAtelier de Banda Desenhada

“Filactera, Meu Amor”

A Linguagem da BD como aliada na

promoção da leitura

Biblioteca Pública | 10h às 14h

“Trânsito Proibido #1” - Carlos No