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FAZENDO 97 o boletim do que por cá se faz matando uns, salvando outros gratuito fevereiro 2015

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FAZENDO 97o boletim do que por cá se faz

matando uns, salvando outros

gratuito fevereiro 2015

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Sumário Ficha Técnica

CrónicaVeni Vidi Vici entrevista ao outdórico.9504

IntervençãoNos Açores com Raúl Brandão por paulo lisboa.9506

Música Muma, Música em Marçopor miguel machete.9511

CinemaExtensão do festival Cine’Ecopor carla dâmaso.9517

CiênciaA Vida dos Cachalotes por claudia oliveira.9518

DançaQuem Dança é Mais Felizpor teresa cerqueira.9520

Artes PlásticasEm Concretopor carlos bessa.9522

Directoresaurora ribeiro

tomás melo

Coordenadoresfernando nunes

rita mendesmelina álvaro

silvia lino

Colaboradoresagnes juten

ana lúcia almeidacarlos bessa

claudia oliveiradieter ludwigisabel mateus

miguel machetepaulo lisboa

pedro afonsorenato pinheiro

rogério sousasara soares

teresa cerqueira

Revisãocarla dâmaso

Capadieter ludwig

Paginaçãotomás melo

Projecto GráficoilhasCook

p r o p r i e d a d e assoc cultural fazendos e d e rua conselheiro medeiros nº 19

9900 hortap e r i o d i c i d a d e mensal

t i r a g e m 500 exemplaresi m p r e s s ã o o telégrapho

registado na erc com o nº125988

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CapaDieter Ludwig

1997É o ano da criação na cidade da Horta, Ilha do Faial, do Conselho Mundial das Casas dos Açores formado pelas diver-sas Casas dos Açores disseminadas pelo mundo, criadas com o intuito de servir as comunidades em que se encontram e cooperar com as diversas entidades açorianas no sentido de promover os valores e a cultura da Região Autónoma dos Açores. Dá-se, na Primavera, a erup-ção submarina no banco D. João de Cas-tro, entre o mar da Ilha Terceira e a Ilha de São Miguel e, em Outubro, ocorre o trágico escorregamento de terras na Ri-beira Quente, na encosta do Outeiro das Freiras. O Instituto Açoriano de Cultura publica a obra “Gravura” de Humberto Marçal. Executa-se o restauro de todas as imagens existentes nas várias cape-las da Sé Catedral de Angra, Angra do Heroísmo, que retomam os seus lugares anteriores. João Leal torna público o tra-balho “Açorianidade: literatura, política, etnografia (1880 – 1940) ”. Zeca Medei-ros grava “Encontros” com João Loio.

Não me consigo lembrar do cheiro. Ami-gos meus dizem-me que era horrível. Que não podias respirar o ar pungente, era impossível. Não me recordo que fos-se assim. Muito ténue, nas traseiras da minha memória há um cheiro de como quando se entra num talho numa tarde quente. Mas não tenho a certeza abso-luta.

E então: o som do partir da espinha, de-capitando a besta. A cabeça do gigante perto do corpo que desaparece deva-gar. Dentro da caveira, o maior cérebro do planeta. Pele preta a envolver um toucinho cremoso, feixes de músculos vermelho-escuro, o coração, o fígado, as entranhas. Cortados por homens ocupa-

Fernando Nunes

FAZENDO 97

ilustração: Pedro Valim

O poeta Emanuel Félix publica o livro de poemas “Habitação das Chuvas”, que contém o poema “As raparigas lá de Casa”- (“Como eu amei as raparigas lá de casa/discretas fabricantes da penum-bra.”). Mário Mendes realiza o telefilme A Viagem, contando com o argumento de Armando Medeiros, reconhecido ci-néfilo micaelense. É criado o Instituto Português de Arqueologia. No cinema nacional, Pedro Costa apresenta o fil-me “Ossos” no Festival Internacional de Veneza. Morre, aos 87 anos, o maior oceanógrafo e divulgador do fundo dos mares: Jacques Yves Cousteau. O poeta português Al Berto desaparece do nosso convívio, tornando-se imortal com a sua poesia, ao legar-nos versos como estes: “há-de flutuar uma cidade no crepús-culo da vida /pensava eu...como seriam felizes as mulheres /à beira mar debru-çadas para a luz caiada/remendando o pano das velas espiando o mar /e a lon-gitude do amor embarcado”.

dos a trabalhar contra o tempo e o apo-drecimento no meio de uma carne ain-da morna, a fumegar no sol da manhã.

Tornozelos que se afundam no sangue e na gordura. A arrastar os despojos para os panelões de cozedura, para o calor que derrete a baleia em óleo precioso, em cinzas polvorentas.

O whale watching era diferente nessa altura. Podia ver-se a baleia uma vez, depois ela desaparecia da nossa vista para regressar como vitaminas, óleos, farinhas e adubos.

Nada era desperdiçado. Nada, excepto a vida da baleia.

Nada era desperdiçado. Nada,excepto a vida da baleia.

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VerEstranhasFormasa PensarAgnes Juten irá expor, a partir do dia 20 de Fevereiro até 10 de Abril, esculturas e desenhos na Casa Manuel de Arriaga, na cidade da Horta, Ilha do Faial. São desenhos e esculturas muito recentes, alguns trabalhos realizados para o efei-to, intitulados de “Novas Obras”, que a artista elaborou, imaginou e concebeu no seu atelier da rua de Santana, nº7. Há quase meio século que o seu gesto escultórico se repete, confirmando e re-novando o seu percurso de artista visual a partir de objetos que quotidianamente cria, (re) inventa e constrói. Agnes Juten é uma artista plástica, holandesa, radi-cada na Horta, com um longo percurso e pergaminhos, os quais mais uma vez teremos a oportunidade de apreciar neste conjunto considerável da sua vas-ta obra.

Numa sala algo minúscula, amontoada de materiais de outras exposições ou ob-jetos, provavelmente à espera de serem usados, ela vai também desenhando, realizando esboços e outras intenções que se concretizarão enquanto combi-nação de materiais e formatos, ou sim-

plesmente desenhando traços, revelan-do as figuras e formas de um conjunto de objetos à espera da arte final ou tra-balho conceptual. Este trabalho diário de agregar técnicas e moldar objetos faz com que sejam vários os objetos que se disponibilizam às suas mãos, se subme-tam à sua inventividade, à curiosidade, e ainda ao enorme rigor criativo envol-vido da sua parte. Desta relação com os materiais constam essencialmente o fer-ro, a madeira, o arame, alguns invólu-cros de produtos, pegões e afins. Agnes ousa assim romper com a normalidade, com o frágil equilíbrio que nos susten-ta, daí que cada vez que usa um nome para um objeto, atira-nos com nomes como “Suporte”, “Movimento”, “Deita-do”, “Declive”, “Avalanche”, “Pegão” ou outras estruturas sujeitas a limites como “Linha Vermelha” ou mesmo “Ilha”. Permiti-se mesmo iluminar a escuridão por detrás de si, interrogando os cami-nhos da arte, do seu tempo, evidencian-do num primeiro risco ou traço, um pri-mevo olhar sobre a forma e os objetos, fruto de uma revelação interior.

Agnes Juten vai, no entanto, deleitando--se com as pequenas narrativas que ou-tros seres fazem acerca destes objectos artísticos depois de usados em exposi-ções, muito embora para si tenham o condão de ser duradouros, dado o ape-go e pertença que ainda hoje por estes manifesta, tem consciência do carácter efémero e volátil que estes simbolizam para o público espectador. Ironiza, in-clusive, com a necessidade alheia de

utilizar as suas esculturas para repre-sentar qualquer situação ou objecto do mundo real. Agnes Juten sabe que ali está a representação do seu próprio mundo, o seu pensamento, o escultó-rico gesto que vibra com o desenrolar do tempo e da vida (quase meio século dedicada à escultura e ao desenho). E o que fazer dessa necessidade permanen-te em “satisfazer” o desafio de criar ima-gens, representações, significados, sem pensar na utilidade da arte?

Na verdade, as esculturas de Agnes Ju-ten respiram sobriedade, leveza for-mal, assentam no pendor criativo na ilustração dos vários estados de alma que percorrem qualquer ser pensan-te. São esculturas que se dão trabalho ao pensar, à estranheza que convida e cultiva a introspeção, que imploram à interioridade, ao recolhimento. Do mesmo lado, os seus desenhos evocam simples gestos, movimentos, cruza-mentos, clausura, os nós e os laços que estabelecemos enquanto o silêncio vai esculpindo a “persona” de que somos feitos. Estamos, portanto, perante uma sensibilidade inquieta, inabitual modo sereno de nos fazer cogitar, essa curiosi-dade permanente pelos opostos existen-ciais. Que luzes ou sombras, que caos ou o mundo harmonioso nos sustenta este equilíbrio que julgamos habitar? Dessa hospitaleira resposta aqui fica o convite ao desassossego formal, à estranheza e, essencialmente, ao prazer de poder ver novamente os seus trabalhos expostos. Inquietemo-nos.

Fernando Nunes

a Esculturae os Desenhosde Agnes Juten

até 10 de Abril Casa Manuel de Arriaga

terça a sexta 9 - 12.30 e 14 - 17.30

escultura

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crónicaVeniVidiVici

Olá Outdórico, estás in?Ainda estou a aterrar.

De onde vens?Venho da China.

Porque é que vieste aqui parar? Sabes que vais apanhar muito salitre? Contrataram-me para emitir imagens e informar a população. Por isso é que estou perto do mar, na avenida mais movimentada da cidade.

És uma árvore? Um salgueiro?Não. Sou muito mais moderno do que isso. Muito melhor e muito mais à frente do que uma árvore.

Qual é o teu lema?Passa passa passageiro, Passo imagens sem parar, Já viste que coisa mais linda? Ainda te vais estampar.

Como é que vieste aqui parar?Eu ia a caminho de Lloret del Mar, mas o avião foi desviado.

O que é que comeste ao pequeno almoço?Duas torradas de pão bimbo com manteiga e um galão de pacote antes de embarcar.

Gostas de estar aqui, o que achas das vistas?Sim, é excelente, uma natureza deslumbrante, acho até que para a semana vou começar a passar imagens do Pico. Só para as pessoas que passam de carro não terem que olhar para o lado.

E anuncios da Salsiçor?Isso são segredos a desvendar num futuro próximo. Não estou autorizado a revelar.

Os “Outdóricos” chegaram ao Faial

e o Fazendo foi entrevistar o

“Outdórico Dabneyda”

Ah, *%$#”$%%, já perdi a lancha para o Pico. Espera aí, eu tenho aqui os horários! Mas estou programado para os passar só daqui a uma hora, depois destas magníficas imagens azuis da baía que está entre as 35 mais belas do mundo. Ai não é baías, é cidades-baías, desculpa enganei-me.

E também fazes chamadas? Skype? Compras pela net?Não, não, não. Eu não sou smart. Eu é que vim salvar o comércio local.

Mas também estás programado para passares filmes?Sim, tipo aqueles que passam nas TVs dos aviões, com o Mister Bean. Dá jeito porque ele é mudo e eu não tenho som. Sempre dá para rir. Também gostava de passar uns apanhados.

Ficas até quando?Por mim ficava só até à semana do mar. Mas já fui requisitado para o dia das montras e aproveito para passar o natal com os meus primos semáforos que moram lá para os lados do hospital.

Sabes que se te quiseres ir embora, podes aproveitar as promoções low cost.Pois, mas isto por alturas do Ano Novo, já terei estatuto de endémico e ninguém dará por mim.

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Tal como muitos, tenho viajado pelo arquipélago com As Ilhas Desconhecidas na mochila e no pensamento. Em 1924, quando Raul Brandão visitou os Açores, as ilhas eram marcadas pelo isolamento ancestral e pela difícil condição humana. Por exem-plo, no Corvo, contavam-se histórias de fome, o retrato social era caracterizado por homens descalços e de pau na mão, resignados perante o destino, o vento e a solidão, que aguardavam do Estado uma bateria para comunicar com o mundo. Actualmente, o panorama é muito dife-rente. Não se vêem sinais evidentes de pobreza, existem diversos equipamen-tos públicos, há transportes regulares e comunicações eficientes, o trabalho do quotidiano convive com o prazer mun-dano. Toda a gente se conhece, mas, à cautela, colocam-se fechaduras e, por vezes, cães pouco simpáticos à porta. Não fosse a geografia determinar-lhe a singularidade, a vila seria igual a outra localidade do interior do continente. No final do capítulo dedicado à ilha, Raul Brandão questionava: “qual de nós não queria reduzir a vida material, com os seus progressos, para aumentar a vida moral e espiritual e possuir a vida in-

terior desta gente rude?”. Hoje, ninguém. Nem mesmo os corvinos. O Corvo continua a não ter peso no mundo, mas não deixa de ser seu reflexo. Nos últimos anos, com a melhoria dos padrões de vida, a sociedade corvina já não é tão fechada e imutável como an-tigamente nem está imune ao contágio de alguns comportamentos de gosto du-vidoso da modernidade. Da mesma ma-neira que, no Minimercado Cabral, se sentem os efeitos da globalização, quan-do se compram kiwis da Nova Zelândia e laranjas da África do Sul, também é possível observar uma carrinha que sobe a meia dúzia de quilómetros da estrada do Caldeirão, como se estivesse numa prova automobi-lística, e deixa um lastro sonoro desagradável que incomoda até as vacas que pastam tranquila-mente… E afinal, para quê tanta pressa se o espaço é reduzido e tempo não falta?

Alterados os contextos e o modo de vida das comunidades agrícolas e piscatórias pelo progresso, como é que um livro de

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v i a -gens, pu-

blicado em 1926, continua a ganhar

leitores cada vez mais distantes no tempo e a servir

de guia a muitos que viajam nos Açores? A resposta estará, talvez,

no fulgor com que o autor pintou com palavras a paisagem açoriana,

um paraíso que mantém válida toda a frescura das suas impressões. Neste sentido, o apelo ao desconhecido e o deslumbramento perante um cenário de princípio do mundo continuam vi-vos e em linha com o nosso tempo.

Se Raul Brandão viesse aos Açores neste início de século, seria novamente perse-guido pela ideia de morte. Em vez do cas-co do navio, teria a fuselagem do avião para atormentá-lo junto à fronteira psi-cológica do medo. No seu tempo lamen-tava o fim da navegação à vela, tal como hoje muitos recordam com nostalgia o fim do navio a vapor. O avião matou o romantismo, mas as viagens de barco inter-ilhas permitem ainda uma apro-ximação à brandoniana, “uma gene-síaca sensação de redescoberta”, como referiu o Prof. António Machado Pires, no prefácio da minha edição d´As Ilhas Desconhecidas (Editorial Comunicação, 1988). De todas, a travessia das ilhas do mau tempo do canal continua a ter um efeito emocional em mim como se fosse uma experiência iniciática.

Em terra, uma das formas de entrar em contacto com a natureza açoriana é através do pedestrianismo. A contem-plação da paisagem, a fruição do silên-cio, a atração pela quietude do mundo rural levam-nos a percorrer caminhos antigos, construídos pela necessidade de ultrapassar as dificuldades impostas pelo relevo acidentado e de romper o isolamento. A pé tudo ganha outra di-mensão e esmaga a frase batida “a ilha vê-se num só dia”. Paradoxalmente, a pé permite-nos ir mais longe, onde mui-tas vezes as rodas não chegam. Alguns dos mais belos trilhos açorianos, como

o percurso do Farol de Albarnaz até à Fajã Grande ou a descida da Serra do Topo até à Fajã da Caldei-ra do Santo Cristo permanecem intactos, entregues à vertigem dos penhascos e aos rumores do Atlântico. Para conhecê-los, é preciso abandonar o automóvel e entregarmo-nos à nature-za bravia e ao ritmo lento.Raul Brandão deixou-nos muitas pá-ginas com admiráveis e emotivas pa-lavras sobre a paisagem açoriana, que podemos confirmar in loco e de livro aberto, como se estivéssemos em diálo-go com o autor. Surpreendentemente, é no Pico, uma ilha que, no início, não lhe causa entusiasmo, em que tudo lhe parecia medonho e desolador, que Raul Brandão redige as mais sublimes des-crições paisagísticas e conclui que “é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores.” Não deixa de ser irónico, que um homem com enorme sensibili-dade à cor se tenha rendido ao negrume do Pico. Aos meus olhos, hei-de conti-nuar a preferir os verdes e os roxos das Flores e a considerar a Cuada o meu lu-gar de eleição.A melhor homenagem que podemos fazer ao espírito d`As Ilhas Desconheci-das é preservar a paisagem, protegê-la do betão e de infra-estruturas desne-cessárias. As companhias de baixo cus-to poderão revolucionar o mercado da aviação, trazer mais turistas, mas não creio que o arquipélago passe a ser um destino de massas. A falta da luz e do Sol de outras latitudes dão-lhe alguma protecção, contudo não há isenção de riscos. Acredito que o turismo nos Aço-res será sempre destinado a diferentes nichos de amantes da natureza, a via-jantes sem pressa e pacientes perante os humores atmosféricos. Espero que As Ilhas Desconhecidas nunca venham a ser lidas pelas futuras gerações como um lamento por um éden que se per-deu.

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O que é que pequeno-almoçaste?Restos. (risos) Comemos alguns restos de um pão. Um amigo que esteve em nossa casa fez pão alemão e sobrou. Ele foi ontem para a Alemanha para ir num cruzeiro até às horriveis Caraíbas.

Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o levarias?Para lhe resolvermos o problema... a uma igreja! Ou se tiver muita fome à Câmara Municipal, porque a padaria não serve as coisas certas.

NomeAgnes Juten

Dieter Ludwig

Idade7276

Profissão Artista Plástica

Designer Gráfico

Entrevista com o Morcego

Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial?Não há muitas... são ambas ilhas.Uma é a ilha azul... outra é a ilha negra... mas o Faial é espectacular por ter o Pico ali. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?Viemos para aqui porque na Holanda chove muito e faz muito mais frio. Os Invernos lá são mesmo rigorosos, algo assim aqui, só no topo do Pico.

Na escola que outra “disciplina” de-veria ser obrigatória?Arte, é necessária para viver. Não técnicas para conceber arte, mas para a perceber, num sentido filosófico. A Arte pode mudar a tua visão sobre a vida

Porque é que tens alguns projectos na gaveta?Por falta de tempo, na nossa idade temos de escolher muito bem os pro-jectos que queremos realizar porque já não temos muito tempo.

Tomás Melo

Viemos para aqui porquena Holanda chove muito e faz muito mais frio. Os Invernos lá são mesmo rigorosos,algo assim aqui, só no topo do Pico.

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Pedro Afonso

O que é que odeias na internet?A lavagem da alma no Facebook.Onde todos depositam a sua alma.

Que forma de arte é que te aguça os caninos?Todos os tipos, mas tem de ter qualida-de.

O que é que gostavas de ter nascido?(Agnes) Nasci o que nasci, sou o que sou e até agora estou satisfeita.

Gostavas de ir morrer longe?Este é o sítio longe, e como esperamos ficar aqui até morrer...

Viemos para aqui porquena Holanda chove muito e faz muito mais frio. Os Invernos lá são mesmo rigorosos,algo assim aqui, só no topo do Pico.

FazendoTeatroO Teatro de Giz vai organizar de 9 a 14 de Março um workshop em teatro, mi-nistrado pelo actor e encenador Daniel Pinto. O workshop, que vai decorrer na Horta das 19.00 ás 22:00 (de 9 a 13 Março) e durante todo o dia 14 Março, visa desenvolver ferramentas de cons-trução de personagens e dramaturgia. Como sempre, o Teatro de Giz abre este workshop à comunidade e a quem nele queira participar, devendo enviar um email para [email protected] até dia 4 de Março com o assunto ‘WS Tea-tro’ e informação breve com o nome, idade, experiência em teatro e motiva-ção para o workshop. As inscrições são limitadas!

teatro

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artes plásticas

Fala-se de Arte no MAHAna Lúcia Almeida

A programação do Museu de Angra do Heroísmo para 2015 carateriza-se por uma forte componente artística, com destaque para a figura de António Dacosta, cuja obra motiva duas exposições: António Dacosta (1914/1990)/Um Pintor do Século XX, organizada pela Direção Regional da Cultura e com curadoria de Francisco Pedroso de Lima, técnico-superior deste Museu, e Dacosta 1914-2014, de que é curador José Luís Porfírio e organizador o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

A par destas exposições, as Salas Dacosta e do Capítulo acolhem ainda, de fevereiro a junho, mostras de arte contemporânea dos pintores terceirenses Rui Melo e Carolina Rocha, cujas obras, ainda que não figurativas e recorrendo a técnicas que exploram o efeito estético do inesperado, são marcadas por um forte pendor telúrico, indexando-se quer em termos de tons, quer em termos de texturas e manchas, a cenários magmáticos e marítimos.

Consciente da necessidade de alertar os terceirenses para o valor artístico da obra do seu conterrâneo António Dacosta, em termos do panorama artístico nacional e internacional, e do imperativo de contribuir para a formação dos públicos em termos de perceção e apreciação da estética da arte contemporânea, o Museu de Angra do Heroísmo leva a efeito no corrente ano o projeto FalARTE protagonizado por Maria Assunção Melo que assenta em quatro sessões expositivas complementadas por visitas orientadas a diferentes núcleos expositivos da instituição exemplificativos das temáticas abordadas.

Assim, a 31 de janeiro, decorreu a sessão Falarte de Dacosta, em que foi abordada a coerência do discurso expositivo deste artista terceirense e explicitados elementos iconográficos recorrentemente representados nas suas obras, tais como as lembranças da ilha e o culto do Espírito Santo, numa abordagem que partiu de dados biográficos para clarificar opções temáticas expressas a nível da pintura.

A 7 de março, será feita uma abordagem diacrónica do retrato e figurações femininas, seguida, a 21 de março, por uma sessão centrada nos conceitos de arte e de estética. Finalmente, em abril, serão desenvolvidos temas como o papel das vanguardas e da crítica, o ético e o

abjeto, o object trouvé e o ready made, a instalação e a performance, de forma a facultar um melhor entendimento e fruição da arte contemporânea.

Paralelamente, o Serviço Educativo mantém visitas orientadas direcionadas para público-escolar que fazem a exploração dos conteúdos das diferentes exposições patentes na instituição e complementados por ateliês pedagógicos de expressão plástica. Oficinas de gravura e pintura, coordenadas por artistas locais, bem como um ateliê associado a técnicas d tradicionais de preparação de telas e pigmentos, complementam o programa de formação artística do Museu de Angra do Heroísmo no presente ano.

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música

Múma Mês deMúsica emMarçoJá era vontade antiga da Associação Cultural Música Vadia (MV) organizar uma festival ou temporada com nomes Portugueses que viessem ao Faial mostrar o que se faz na música ligeira e popular no nosso país. A vontade foi crescendo, porque cada vez mais nos apercebemos que no panorama cultural da ilha e da cidade da Horta, ou se investia e se tentava encontrar forma de concretizar uma iniciativa desta natureza ou quem aqui vive e/ou nos visita, não teria forma de poder assistir a estas outras realidades que existem (mas só do lado de lá do mar). A possibilidade de presenciar um espectáculo que representa a diversidade da nossa cultura faz parte da dinâmica de qualquer urbe ou localidade mais desenvolvida. No que diz respeito à música, os poucos espectáculos que acontecem nos auditórios e salas de espectáculo da ilha não se enquadram no contexto anteriormente descrito (embora seja de notar no início de 2015 algum investimento do colectivo camarário na apresentação de concertos de projectos musicais regionais) e aqueles a que podemos assistir nas conhecidas festas de Verão, são assumidamente mais comerciais e ordinários não espelhando, no nosso entender, a diversidade e qualidade do que se faz em Portugal.

Miguel Machete

Assim, imaginámos uma temporada de música de autores Portugueses, num ambiente informal e de tertúlia, que propiciasse a proximidade com os projectos e as pessoas. A MÚMA é a materialização dessa ideia: uma temporada de música que irá ocorrer nos fins-de-semana do mês Março, numa casa mítica da cidade – o Sporting Club da Horta - e que promove a apresentação da multiplicidade do que melhor se faz na música Portuguesa.

A MV tem-se dedicado à promoção da música, das suas raízes populares e da sua revisitação. Neste âmbito promovemos e produzimos ou co-produzimos vários espectáculos (A NAIFA, Zeca Medeiros e bANdARRA no Teatro Faialense), oficinas (oficina de construção de instrumentos e de introdução à viola da terra), filmes (“Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu” sobre a chamarrita do Faial e Pico, realizado por Tiago Pereira) e eventos (Semana cultural no Banco de Artistas, durante a Semana do Mar). Desta vez, com o intuito de envolver as Associações, as entidades locais e as regionais na construção de um evento que se prolonga no tempo (todos os fins-de-semana do mês de Março acontece um espectáculo), estabelecemos uma parceria com o

Sporting Club da Horta, que possui um espaço no centro da cidade, com as condições necessárias para criar um ambiente propício aos concertos que se anteveem, isto é, um local de partilha, de convívio, descontraído mas ao mesmo tempo acolhedor e atento, próprio para receber os concertos de quatro projectos distintos da música nacional que têm acumulado elogios pela crítica e pelo público. Para edificar a iniciativa e levá-la até ao espaço escolhido, contamos com a co-produção e imagem da Associação cutlural FAZENDO e com a divulgação da Cooperativa cultural IAIC/Tribuna das ILhas e com a ANTENA 1, que se encarregará de fazer a cobertura do evento. Os patrocínios chegam de entidades privadas como a NOS e a Superbock e da Direcção Regional do Turismo que assumiu esta aposta numa primeira edição de um novo projecto cultural consistente e necessário. Contamos ainda com a colaboração da PRO-AUDIO – empresa de som local que se encarrega de dotar o espaço dos concertos dos equipamentos necessários aos concertos.

Os nomes para a primeira edição da MÚMA já estão confirmados e visitam a ilha no formato mais essencial dos projectos, isto é, a solo ou em duo:

os nomes para a primeira ediçãoda MÚMA já estão confirmados

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JP S

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28 de FevereiroHorta - Faial - Açores

7 de Março

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3h

Sába

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JP Simões, nome incontornável da música ligeira contemporânea Portuguesa, passou pelos projectos Pop Dell’Arte, Belle Chase Hotel e Quinteto Tati. Tem 4 discos editados em nome próprio tendo o último – Roma - chegado ao público em 2013. Os seus concertos a solo são peculiares com conversas mordazes e irónicas a intervalar as suas belas canções.“«Roma» pode ser o álbum determinante para que JP Simões se fixe entre o Olimpo dos grandes escritores portugueses de canções. Um disco de compromisso raro entre piscar de olhos ao contexto político e as mulheres de mini-saia” in Disco digital

Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo formam os Virgem suta. Oriundos de Beja, têm dois discos de originais editados e espera-se um terceiro para breve. Correram o país de lés a lés nos últimos anos com as suas canções. No formato duo apresentam-se assim: dois homens, meia dúzia de instrumentos, uma mão cheia de canções, e um excelente vinho alentejano…

“…a banda de Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo, caso assinalável de sucesso transversal, andou a percorrer o país, conhecendo mais, procurando mais, alargando as vistas que a sua música alcança” Mario Lopes in Ipsilon

música

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PZ

Horta - Faial - Açores

7 de Março

21 de Março

14 de Março

Este duo explosivo é formado por Gonçalo Tocha e Dídio Pestana. A dupla mistura uma dose de humor peculiar com um universo de referências musicais que vão desde a electrónica dos anos 70, ao hard rock e techno dos 80 e 90 não deixando o encontro com a música popular portuguesa. “Música moderna” é o seu primeiro trabalho discográfico.

“O olhar curioso e fascinado perante a cultura popular foi sugado pelo objecto da observação. Um disco electrizante.” Gonçalo Frota in Ipsilon

PZ é Paulo Zé Pimenta, oriundo do Porto e mestre das “máquinas de fazer sons”. Começou a fazer música no seu quarto com um computador, um sampler, e um ou dois sintetizadores quando tinha 16 anos. Desde aí desenvolveu uma sonoridade própria que tomou outra dimensão com o modo como expõe as suas ideias através das suas letras e voz. Tem 2 discos editados. Recentemente, os singles “cara de chewbacca” e “és a minha gaja” alcançaram em poucos dias ½ milhão de visualizações no youtube.

“PZ é um extra-terrestre na galáxia pop portuguesa como Reininho nos anos 80 ou António Olaio (e Reportér Estrábico) nos anos 90, consciente que sem «Croquetes» não há almoços grátis. Nitidamente, não é esse o seu intento; por agora, ficamos com as provocações inteligentes de alguém que sabe muito bem o que está a fazer” in Disco Digital.

Toch

aPes

tana

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Onde SãoPara Tios Açores

Que tipo de pessoas pensas que vivem nos Açores?Obviamente pessoas educadas. Nativos do país e dessa região. Pessoas trabalha-doras e com capacidade de adaptação ao ambiente. Provavelmente são sem-pre as mesmas famílias com as suas no-vas gerações. Não muitos visitantes.

Como é que achas que as pessoas vi-vem nos Açores?Vivem da agricultura e como estão ro-deados de água imagino que da biologia marinha. Não é um país grande mas eu diria que devem fazer algo específico deles, como algum vinho. Como estão no meio devem fazer um produto que possa ser exportado para os dois lados. Toda a gente tem algo que os outros que-rem.

E o que pensas que as pessoas fazem nos Açores?Se eu vivesse aí desfrutaria do nascer do sol tomando um sumo de algum fruto local, talvez a ler o jornal. Tenho a cer-teza que devem haver alguns salões de beleza para as mulheres. Talvez fazem trocas de serviços, como para fazer as unhas. Deve haver snorkeling e surf. E depois se és agricultor ou biólogo fazes investigação. Ou se és escritor ou educa-dor ensinarias crianças ou até mesmo adultos. Sendo um sítio pequeno posso vê-lo com grandes aspirações.

Que língua falam os Açorianos?Está perto de Portugal, devem falar por-tuguês, provavelmente Espanhol tam-bém e até talvez estudem Inglês.

Como será o clima nos Açores?Devem ter estações do ano. Eu diria que devem ter a sua escolha de tempo mo-lhado e seco e até furacões e tsunamis.

algures no mundoalguém é convidado a fazerum retrato das nossas ilhas.um projecto fundado

por alunos daEscola SecundáriaManuel de Arriaga

Sara Soares

Renato PinheiroAnimeFest

O animefest é um projecto fundado por alunos da Escola Secundária Manuel de Arriaga que se uniram como for-ma de poderem divulgar uma cultura distinta pela qual demonstram interesse. Este projecto trata-se apenas de divulgar a cultura japone-sa, em concreto o seu estilo de desenho, o anime. Consi-deramos muito interessante a cultura japonesa em geral, no entanto apenas conseguimos divulgar os seus géneros musicais, o seu estilo de desenho, a sua gastronomia e um pouco do seu idioma, algumas palavras em específico.O animefest não tem fins lucrativos porque apenas temos o objetivo de transmitir algo que para nós é cativante. Os nossos principais objectivos são dar a conhecer à popula-ção do faial a cultura japonesa e o anime, de modo a verem do que se trata realmente e não a discriminar. No entanto ainda temos muitos obstáculos a ultrapassar, como por exemplo o público-alvo, ainda só conseguimos apresentar o nosso trabalho aos estudantes da ESMA. Também, por sermos ainda estudantes e não possuirmos rendimentos próprios, está a ser muito difícil reunir o ma-terial necessário (projector, microfones, entre outros) para os eventos que organizamos e por isso tentamos ao máxi-mo arranjar apoios para conseguirmos realizar os eventos como o planeado.Durante os eventos existem diversas atividades para en-volver melhor os “espectadores”, algumas delas são o ka-raoke, a barraquinha de doces (com duplo intuito – anga-riar dinheiro para os materiais e promover a gastronomia japonesa) e os trailers de diversos animes de géneros dis-tintos (terror, comédia, ação, romance, entre outros).

culturas

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Onde SãoPara Tios Açores

Consigo imaginá-los a serem atingidos por tempestades.

Que animais imaginas que se podem ver nos Açores?Cavalos, provavelmente raça espanho-la, são lindos! Não devem ser animais muito grandes porque têm que estar adaptados ao sítio.Cobras, iguanas, macacos e muitas aves coloridas.

Que transportes se usam nos Açores?Bicicletas. E devem andar muito a pé e usar ocasionalmente algum veículo mas só para coisas específicas. Eu andaria a cavalo ou em carroças puxadas por ca-valos.

O pensas que poderia ser feito nos Açores?Fariam um magnífico resort para cru-zeiros. Provavelmente é mesmo isto que já estão fazendo. Resorts trazem muitas coisas indesejáveis mas talvez se os vi-sitantes fossem acolhidos pelas famílias locais poderia ser interessante. Para que pudessem tomar um duche, levá-los a jantar e mostrar-lhes o sítio.

Qual achas que é a comida Açoriana mais estranha?Qualquer coisa com cabra. Cozinhada de alguma forma diferente ou talvez um queijo de cabra. As cabras prosperam em qualquer sítio. E também deve ha-ver algo do mar, talvez búzios ou algum marisco cozinhado de forma diferente.

assinala no mapa onde são os Açoresantes de responder às perguntas foi-lhe indicada a correcta localização dos Açores

algures no mundoalguém é convidado a fazerum retrato das nossas ilhas.

DonnaEstados Unidos

Cobras, iguanas, macacos e muitas aves coloridas.

Que tipo de productos pensas que se exportam?Tem de ser algo relacionado com a vida marinha porque não há muita terra para cultivar aí, a não ser que tenham algum fruto especial que não exista em nenhum outro lugar. Talvez tenham alguma coisa que possa ser exportada sem ocupar muito espaço, alguma es-peciaria. Provavelmente devem haver lagostas e esponjas marinhas que pude-riam ir para Nova Iorque num instante e vender à grande, quero dizer se é que têm aí barcos contentores.

Poderias viver nos Açores?Eu sinto que já estou vivendo no meio do nada mas sou aventureira por isso penso que poderia viver aí por algum tempo. Até que veja a primeira época de furacões.

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Wave JazzEnsembleOs Wave Jazz Ensemble actuam no pró-ximo dia 28 de fevereiro, às 21h30, no Teatro Faialense. É o primeiro concerto na cidade da Horta deste agrupamento musical terceirense, resultante do pro-jecto pedagógico da orquestra Angra-jazz, na Ilha Terceira. A banda, que se ocupa essencialmente de um reportório de “standards” do jazz, é composta por Rui Melo (saxofone), Márcio Cota (trom-pete), Antonella Barletta (piano), Paulo Cunha (Contrabaixo) e Nuno Pinheiro (bateria). O tema “Sol”, de José da Lata, numa versão jazzística e que abriu a 15º edição festival Angrajazz, há dois anos, é um dos temas chamariz para o concer-to que aí vem.

Em que fase é que o Wave Jazz Ensem-ble se encontram, isto é, o que é que têm feito e o que pensam fazer?A banda, tendo nascido em 2010, par-tindo da vontade de uma exploração da linguagem jazzística em combo, no sen-tido de permitir uma abordagem mais livre dos temas, privilegiando o desen-volvimento da improvisação, continua a fazer esse trabalho no sentido de uma evolução em termos de conjunto e tam-bém individual.

O que está a ser preparado para o concerto no Teatro Faialense neste final do mês de Fevereiro?Para o concerto do Teatro Faialense, o Wave preparou um repertório de de-zasseis temas, que conta com três te-mas originais (“Elipse” de Paulo Cunha; “Wave Blues” e “Una Bella Giornata” de Antonella Barletta) e um arranjo origi-nal da banda para o tema tradicional “O Sol”, mais conhecido na versão do pas-tor terceirense, José da Lata. Para além destes a banda, irá também estrear a sua interpretação dos standards “Song For My Father” de Horace Silver e “Dig” de Miles Davis. O restante repertório será composto por clássicos de autores como Donald Byrd, Herbie Hankock, Charles Mingus, DukeEllington e Lee Morgan. O concerto será

música

acompanhado de uma projeção mul-timédia que fará um breve enquadra-mento histórico dos temas.

O que é que pensam sobre a vinda do Wave ao Faial, pensam fazer o mes-mo a outras ilhas?O concerto do Wave Jazz Ensemble no Teatro Faialense é a materialização de uma ideia que a banda anseia, no sen-tido de poder tocar para outros públi-cos não restritos à ilha Terceira. Desta forma esta atuação é para nós, motivo de grande satisfação, pelo que, desde já agradecemos a sensibilidade e recetivi-dade do Departamento Cultural da Câ-mara Municipal da Horta.É, de facto, nossa intenção tocar noutras ilhas. O facto de não o termos ainda con-seguido, na medida das nossas espetati-

Fernando Nunes

vas, não dependeu de nós.A geografia dos Açores e o seu sistema de transportes e de incentivos, não aju-da à deslocação e produção de projetos culturais, sobretudo musicais. Desta for-ma, é sempre um parto difícil conseguir deslocar uma banda de uma ilha para outra. Pensamos também que algum preconceito sobre o que é realmente o Jazz, poderá não ajudar nesse sentido.Contudo, o nosso trabalho é, dentro das nossas possibilidades, contribuir para mudar essa perspetiva das coisas, no que se refere a este estilo de música. No entanto, como não somos dados a de-sistências continuaremos a trabalhar nesse sentido e sempre, incontornavel-mente, com muito swing.

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cinema

Carla Dâmaso

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O Cine’Eco | Seia – Festival Internacio-nal de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, é o único festival de cinema, em Portugal, dedicado à temática am-biental, no seu sentido mais abrangen-te. Realiza-se em Seia anualmente, em Outubro, e de forma ininterrupta des-de 1995, por iniciativa do Município de Seia. O Festival, que em 2014 completou 2 décadas de existência, procura promo-ver novas ideias e acções através do au-diovisual, para fazer reflectir o público sobre as questões ambientais.

Numa iniciativa conjunta do Observató-rio do Mar dos Açores (OMA), e do Festi-val Cine’Eco|Seia, com a colaboração da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça (BPARJJG) e do Fazen-do, e à semelhança de 2013 e 2014, ar-ranca no Faial, no dia 12 de Março, a ex-tensão da edição de 2014 deste Festival nos Açores, com a exibição do filme ven-cedor do Grande Prémio Ambiente 2014 – Última Chamada. O Que Ainda Não Foi Contado Sobre a Crise Global (Last Call — the untold reasons of the global crisis), de Enrico Cerasuolo, Itália, 2014. Depois deste arranque estão agendadas sessões semanais, com entrada livre, à quinta-feira, pelas 21:30h, no auditório da BPARJJG, até ao dia 4 de Junho.

Mas não decorrerá apenas no Faial esta extensão do Cine’Eco|Seia. A programa-ção será apresentada em simultâneo na Terceira e em São Miguel. Na Terceira, em Angra do Heroísmo, em colabora-ção com o Cineclube da Ilha Terceira, o Observatório do Ambiente dos Açores, o grupo de Teatro “O Alpendre”, a Asso-ciação Cultural Burra de Milho e a Ofi-cina d’Angra, com as sessões repartidas pelos espaços destes três últimos parcei-ros. Em São Miguel as sessões dividem--se entre a Lagoa, no auditório do Expo-Lab, e Ponta Delgada, no Cine Solmar, numa parceria com o 9500 Cineclube e o Expolab.A programação detalhada para todas as ilhas está disponível em www.oma.pt.

Cine’EcoProgramação Março

Faial 12 de Março – 21:30h Auditório da BPARJJG Dança das Luzes, Filippo Rivetti, Austrália, 2014, 4’Última Chamada. O Que Ainda Não Foi Contado Sobre a Crise Global, Enrico Cerasuolo, Itália, 2014, 90’

19 de Março – 21:30hAuditório da BPARJJGA Balada do Saco Plástico, Jonas Benarroch, Espa-nha, 2013, 2’Costa da Morte, Lois Patiño, Espanha, 2013, 84’

26 de Março - 21:30hAuditório da BPARJJGVigia, Marcel Barelli, Suíça/França, 2013, 7’45’’Love Thy Nature, Sylvie Rokab, EUA, 2014, 76’

Terceira 12 de Março - 21h30Alpendre - Grupo de TeatroDança das Luzes, Filippo Rivetti, Austrália, 2014, 4’Última Chamada. O Que Ainda Não Foi Contado Sobre a Crise Global, Enrico Cerasuolo, Itália, 2014, 90’Com a presença de Mário Branquinho, Diretor do Festival Internacional de Cinema Ambiental Cine’Eco | Seia

19 de Março – 21h30 Alpendre - Grupo de TeatroA Balada do Saco Plástico, Jonas Benarroch, Espa-nha, 2013, 2’Costa da Morte, Lois Patiño, Espanha, 2013, 84’

26 de Março - 21h30Alpendre - Grupo de TeatroVigia, Marcel Barelli, Suíça/França, 2013, 7’45’’Love Thy Nature, Sylvie Rokab, EUA, 2014, 76’

S.Miguel 13 de Março – 21:30h 9500 Cineclube Dança das Luzes, Filippo Rivetti, Austrália, 2014, 4’Última Chamada. O Que Ainda Não Foi Contado Sobre a Crise Global, Enrico Cerasuolo, Itália, 2014, 90’

20 de Março – 21:30h ExpolabA Balada do Saco Plástico (La Balada de la Bolsa de Plástico), Jonas Benarroch, Espanha, 2013, 2’Costa da Morte, Lois Patiño, Espanha, 2013, 84’

27 de Março - 21:30h 9500 CineclubeVigia, Marcel Barelli, Suíça/França, 2013, 7’45’’Love Thy Nature, Sylvie Rokab, EUA, 2014, 76’

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ciência

A vida dos cachalotesno Atlântico Norte

Os cachalotes nascem em zonas tem-peradas ou tropicais, como os Açores, onde crescem em unidades familiares com fêmeas, juvenis e crias de ambos os sexos. À medida que vão crescen-do e sendo desmamados, começam a explorar outras fontes de alimento, tal como lulas de grande profundidade. Os Açores são uma área de alimentação importante no Atlântico Norte onde os cachalotes efectuam mergulhos de ali-mentação de 35 a 50 min entre os 700 e 1200 m de profundidade. A detecção e captura de alimento é feita pela emissão e recepção de cliques (ecolocalização). Num trabalho em que se marcaram ca-chalotes nos Açores percebeu-se que em cada mergulho eles produzem cerca de 14 “buzzes” (cliques de ecolocalização de curto alcance), que poderão corres-ponder a 14 presas capturadas com su-cesso, despendendo, em média, 34 min à procura de alimento.

Os períodos de socialização e repou-so surgem entre os de alimentação. As codas (padrões de cliques emitidos para comunicação entre membros das unidades familiares) são geralmente detectadas quando os animais estão a socializar. Alguns tipos de codas contêm informação individual, nos intervalos entre cliques e nas características dos próprios cliques que estão relacionadas com o tamanho do animal. Além disto, a produção dos diferentes tipos de codas parece estar relacionada com o contex-to ambiental/profundidade onde são produzidas.

Durante a socialização é frequente ob-servar cachalotes a mostrar as barbata-nas peitorais, caudais e também a fazer saltos fora de água. Antes de saltarem (as chamadas “brichas” nos Açores), os cachalotes mergulham até aos 11-41m durante 13 a 31s. Para descerem, os cachalotes fazem uma média de 3 bati-mentos caudais fortes, mas a subida é fruto da velocidade atingida na descida e da flutuabilidade positiva dos seus corpos.

Nos períodos de repouso os cachalotes descansam em posição vertical (com a cabeça para cima ou para baixo) ou em posição horizontal. Nos Açores, esse pe-ríodos foram registados nos cachalotes marcados, ocorrendo entre as 21:00 e 07:00.

Quando os machos juvenis têm entre 3 e 15 anos de idade, começam a formar grupos que se movem gradualmente para águas mais frias, perto do polo Norte. Nestas áreas os machos passam a maior parte do seu tempo em alimen-tação e repouso. Apesar do seu grau de socialização ser reduzido, eles comu-nicam através de “slow clicks” (cliques emitidos somente por machos) que po-derão conter informação sobre a sua identidade ou comportamento.Quando os machos atingem a maturida-de sexual, começam a migrar sazonal-mente para águas mais quentes, para se reproduzirem. Quinze a dezasseis meses depois de um acasalamento bem sucedido, um novo cachalote nasce nas unidades familiares, iniciando um novo ciclo.

Este texto baseou-se em vários trabalhos científicos publicados e na tese de doutoramento de Cláudia Oliveira “Behavioural ecology of the sperm wha-le (Physeter macrocephalus) in the North Atlantic Ocean”- Universidade dos Açores, 2014.

Quem é esta cientista?Cláudia Oliveira, nasceu no Porto, em 1977. É doutorada em Ciências do Mar, na especialidade Ecologia Marinha pela Universidade dos Açores. O seu primeiro trabalho como cientista foi sobre a ecolo-gia alimentar da andorinha-do-mar-anã, na Universidade de Aveiro. Depois de uma primeira visita turística aos Açores, em 2001, fica fascinada pelas ilhas e pela sua natureza. Em 2003 regressa para tra-balhar na foto-identificação de golfinhos. Actualmente prossegue os trabalhos de investigação de cetáceos no Instituto do Mar/Departamento de Oceanografia e Pescas no âmbito do projecto MAPCET (“Integrating cetaceans into marine spa-tial management in the Azores”).

Cláudia Oliveira

o que já sesabiae o que ainda não se sabia

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cinema

A vida dos cachalotesno Atlântico Norte

BrancoOu preto – seja qual for na verdade, se-rão sempre antípodas. O sim e o não. Es-tar e estar ausente. Ser ou não ser. E no meio? A abstenção. É disto que nos fala o filme “Branco”, de Luís Alves, exibido no passado dia 20 de Dezembro de 2014 pelo Cine-Clube da ilha Terceira, inte-grado na celebração do “Dia Mais Cur-to”. Realizada por Luís Alves, a curta--metragem conta com as prestações de Nuno Melo, Joaquim Nicolau, Rita Lello, Fernando Ferrão e Augusto Portela.

Conta-nos a breve história de Branco, um homem que irá fazer toda a diferen-ça. Nem que seja contra todos. Sozinho, sente a dor do mundo que pretende li-bertar por força da sua vontade. Terá ele a vontade? Ou será a vontade mero desespero inconsequente?

Estas e outras questões foram debatidas, após a exibição, à volta de uma mesa de ceia no Alpendre, que permitiu aos pre-sentes – que são sempre menos do que o que esperamos e melhores do que pen-sámos – prolongar um pouco mais a ex-periência cinematográfica, e transportá--la para lá do ecrã.

“O Dia Mais Curto” é uma iniciativa da Agência da Curta Metragem, que es-treou em Portugal em 2013 e à qual o Cine-Clube da Ilha Terceira se associou, que pretende celebrar o solstício de In-verno através de exibições de curtas--metragens em várias cidades do país. Na Terceira foi exibida a curta-metra-gem “Branco”.

A exibição foi uma iniciativa conjun-ta entre o Cine-Clube da Ilha Terceira e o Alpendre – Grupo de Teatro, com o apoio da Agência da Curta Metragem e da Associação Cultural Burra de Milho.

Rogério Sousa

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dança

Quem dançaé mais felizRicardo Ferreira é lisboeta e dá aulas de dança em Lisboa, na Academia Danças do Mundo, Dance Factory e Steps.

Entre os dias 1 e 9 de Março estará nos Açores, onde irá conciliar uma visita ao arquipélago com actividades que envolvem a dança, na ilha do Faial.

Teresa Cerqueira entrevista Ricardo Ferreira Como te aproximaste da dança?A aproximação à dança é algo natural em todos os seres humanos. Existem duas coisas que fazemos, seja numa cidade ou numa tribo africana, essas duas coisas são Dançar e Cantar. Estão presentes nos mais importantes rituais religiosos e culturais de muitos povos.Quando era pequeno punha-me a abanar o rabo (e a fralda) em frente à televisão. É este o primeiro contacto com a dança, na nossa cultura. Na adolescência dançava ao som de musica electrónica... Nada faria prever que algum dia iria dançar “bem”, e claro muito menos que daria aulas de dança.

O que significa “dançar” para ti?Dançar é perder o peso, brincar com os desequilíbrios, flutuar com leves toques no solo, de preferência com os olhos fechados. Danço principalmente porque além de ser divertido e de estar num meio social bastante enriquecedor, há momentos em que dançamos com uma pessoa e que a dança se torna numa verdadeira meditação a dois. É algo que sabe tão bem, que nos sentimos preenchidos com o outro.

Qual foi o teu primeiro contacto com o forró?É incrível porque estive no Brasil durante 2 meses no período de 2 anos, 2006 e 2007, e nunca me conseguiram levar a uma festa de Forró (na altura, eu era DJ de música electrónica e estava em tournée)! Passados 2 anos fui ao festival Andanças e convenceram-me (contrariado) a experimentar o Forró. Foi paixão à primeira vista! Como é que dançavas ao som de música electrónica?Já não me lembro muito bem como dançava música electrónica... Hoje em dia, mal dou um passinho ao som de qualquer música, é com certeza uma variante de um passo de Forró! Para mim, sem dúvida que dançar com alegria, paixão, sensualidade e muita brincadeira só no Forró!

O que há de comum entre o forró e a musica electrónica?Como música nada. O Forró é música a “sério”, bastante mais complexa harmónica e instrumentalmente. E o facto de ser a pares torna-nos menos fechados e individualistas. Como processo de nos transcender podem ter algumas semelhanças. No Forró existe uma vertente muito popular (“brega” na minha opinião) que é o Forró electrónico. Basicamente é o que se encontra no youtube ao pesquisar “Forró”, é a razão principal pela qual eu e muitas pessoas tem aversão ao Forró antes de o conhecerem. O movimento/estilo Pé de Serra e Universitário é o que tem uma essência mais “cultural” e que me apaixona musicalmente. A que se deve o actual Boom de forró em Portugal? Há alguma lacuna nas danças tradicionais portuguesas e/ou nas danças “importadas” existentes em Portugal?A meu ver, as danças tradicionais Portuguesas são menos apelativas no âmbito social, ficaram estagnadas no tempo. O Português é como o Macgyver, mas ainda está longe de saber segmentar e vender um produto seu... Outra questão tem a ver com as danças que são sensuais, as danças tradicionais Portuguesas não tem nada de sensual (que eu conheça). Penso que a sensualidade é um grande factor de sucesso do Forró, da Kizomba, da Salsa, Bachata etc. O Forró que se dança hoje nas metrópoles do Brasil e na Europa foi criado/adaptado nos anos 90. Duvido que se tivesse ficado inalterado desde a sua criação, que haveria tanta gente a aderir ao Forró na Europa... Uma palavra para os tímidos...Se eu consigo dançar todos vocês conseguem! Têm é de querer...

O Ricardo Ferreira irá

dar um workshop

de forró, para to

dos os n

íveis, nos

próximos d

ias 6, 7 e 8 de Março na

Fábrica da Baleia de Porto Pim, no Faial.

Interessados e

m participar poderão

inscrever-se por email r

astape.fa

ial@

gmail.com ou pelo telefone 964125025.

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poesia

O Ricardo Ferreira irá

dar um workshop

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ias 6, 7 e 8 de Março na

Fábrica da Baleia de Porto Pim, no Faial.

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O Montanha Pico Festival aconteceu em janeiro na ilha do Pico. O projeto da Mi-ratecArts apresentou 20 programas de temática montanha, desde workshops, sessões de filmes, aventuras, perfor-mances de música e dança e apresen-tações de livros incluindo o trabalho da escritora Isabel Mateus. O festival ins-pirou a escritora portuguesa, radicada na Inglaterra, a deixar com a associa-ção um poema intitulado “Guardião da Montanha”.

Daqui a longos anos...Quando o Guardião da Montanha,Em momento de descanso merecido,Puder reclinar a cabeçaSob a abundante copa do dragoeiro,Chegará outra Madalena à ilhaPara lhe inebriar os sentidosNas currelatas de vinhaCom a alquimia decantadaAo doce abrigo de pedras negras, queimadas.

Daqui a longos anos...Quando o Guardião da MontanhaEstiver ainda enlevadoDebaixo da abadia de tal drago,Correrá por aquela estradaMuito, muito apressada MadalenaPro Pico.

Daqui a longos anos...Farás tu MadalenaDurante essa íngrime escaladaA mesma inocente descobertaDe que há uma manta verde onduladaDesde as entranhas encrespadaA destecer a negrura do vulcânico legado?

Quando o Guardião da Montanha acordar,Daqui a longos anos,Diz lhe MadalenaQue a MIRATECA fica na Candelária,Que é preciso estar sempre de atalaia,Que é preciso ter cuidado,Que o Pico é universal,Que os Outros Contos da Montanha

Isabel Mateus

foto de Davide Sousa Guardião da Montanhapor Rocio Matosas

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artes plásticas

Exposição de Rui Melono Museu de Angra do Heroísmode 21 de Fevereiro a 7 de Junho

Carlos Bessa

Em Concreto

Começo pelo humor ou pelo gosto de associar ideias que, primeiro, se afiguram inconciliá-veis e, portanto, distantes, dando, depois, lu-gar a uma transição repentina que defrauda a expectativa inicial e nos prepara para uma diferente percepção dessas mesmas ideias. E faço-o pelo modo como Rui Melo invoca, no título desta sua nova exposição, o duplo sen-tido de concreto, parodiando o significado co-mum do termo (real, palpável, sólido, ob-jectivo) com o que ele tomou nas artes plásticas, por via do concretismo, ou seja, o de materialização visual de conceitos intelectuais através de formas visuais em movimento, pondo de lado a represen-tação figurativa do real. Desde logo pelo salutar princípio de que a pintura tam-bém pode reflectir a vocação lúdica de desconstruir o que parece comummente aceite. E depois por entender que leva mais longe o jogo de baralhar incertezas, arqui-tectando um itinerário interior que plasma momentos particulares, indexados por ve-zes a cenários naturais, onde os gestos, os movimentos, as pequenas notas cromáticas narram (inclusive pelo modo caligráfico dos detalhes) múltiplos fluxos e refluxos – líqui-dos, magmáticos, aéreos – que sustêm um trajecto de breves mas intensos e luminosos instantes.

Servindo-se de uma paleta concisa e eficaz, que se expande radialmente num apuramento lúdico e lírico, Rui Melo evidencia habilidade para contrabalançar o estático e o dinâmico,

através de uma gramática pessoal que particulariza paisagens e pontos de vistas, envolvendo-os numa iluminação encenada que conduz o olhar de quem vê até às bordas do abismo ou daquilo que fica, qual trecho emotivo, a percutir dentro do espectador. E o gravitar dessas incertas pegadas e dessas inquietações amplifica-se nas obras onde o branco se multiplica e expande, como

se almejasse uma espécie de absoluto.

Os materiais (supor-tes e tintas) são, aqui, indissociáveis desse labor de exploração do inesperado, confi-gurando um assom-bro afim do depois do derrame, quando ao excesso magmáti-co sucede a tranquila e etérea suavidade do azul. Atente-se no cuidado com que em qualquer das obras se ambiciona o pre-cário equilíbrio da tensão. Tensão entre

o que se expande e o que se contrai, entre o excesso e a contenção. Duplicidade e equi-líbrio sustentam, pois, uma espécie de ma-peamento da leveza. Essa mesma que alguns experienciam diante das paisagens insulares, com as suas nuances próprias, num cúmulo de manchas e tons que se condensam e sedi-mentam, apurando um estratigrama íntimo que Rui Melo parece transcrever para os seus quadros, cristalizando neles um pouco do ful-gor que nos oferece o mundo natural. Como se buscasse a ciência última de todas as coi-sas, que transbordam e vivificam, deixando testemunho individual de um instante, de um pormenor.

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ciência

recortare

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António Piedade

Março no Faial

2015 vai termais um segundoSabemos que a Terra tem um movimento de rotação em torno do seu eixo. Temos a ideia de que um dia é o intervalo de tempo para a Terra dar uma volta completa. Mas o que porventura nem todos saibamos é que a velocidade de rotação da Terra está a diminuir. E que a duração do dia solar não é a mesma ao longo do ano. Estes factos obrigam a correcções na chamada Hora Civil.A Hora Civil, em qualquer país, determina-se em relação à posição média do sol no céu local. Mas como a duração do dia solar não é constante durante o ano, há diferenças entre a hora solar verdadeira e a Hora Civil que tem uma progressão uniforme. Historicamente, definiu-se a escala de tempo UT1 baseada na duração média da rotação da Terra que, actualmente, é medida em relação às posições celestes dos quasares mais distantes. A rotação da Terra é estudada com rigor e medida com precisão atómica, desde 1972, pelo Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (sigla IERS, do inglês International Earth Rotation Service), do Observatório de Paris. A introdução de uma rede de relógios atómicos para medir com maior precisão a passagem do tempo e definir a escala do Tempo Atómico Internacional (TAI), verificou existir uma diferença de

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ForróWorkshop de Teatro

Exposição de Escultura de Agnes Juten na Casa Manuel de Arriaga

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dezenas de segundos para com a hora então usada (UT1). Desde então, efectuam-se correcções regulares para tentar acertar os relógios astronómicos com os atómicos. O último acerto foi em 2012.

De facto, a necessidade de coordenação entre as escalas do Tempo Atómico, definido pelos relógios atómicos, e do Tempo Astronómico (escala UT1 definida pela rotação real da Terra)

conduz ocasionalmente à introdução de “segundos intercalares” no Tempo Universal Coordenado (UTC), para que a diferença entre ambas (UT1-UTC) permaneça inferior a 1 segundo. Para manter esta proximidade temporal, o IERS determinou ser necessária a introdução de um “segundo intercalar” no UTC, que define actualmente a Hora Legal Civil, no final de Junho de 2015.Assim, e em Portugal continental, e em termos práticos, será necessário “parar”

os relógios durante um segundo quando forem 00h 59m 59s do dia 1 de Julho.Diga-se ainda que a necessidade deste acerto provém ainda do facto da duração do “segundo” no Sistema Internacional de Unidades (ligado à escala TAI) ser mais curta do que a duração actual do “segundo

UT1′′ da rotação da Terra. Ou seja, a rotação completa da Terra dura cada

vez mais tempo na escala TAI. O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) é a instituição que tem a incumbência legal de manter e distribuir a Hora Legal em Portugal.Para acertar o seu relógio, e o do seu computador, com a hora certa e acompanhar a introdução do segundo intercalar, siga as instruções indicadas no sítio na Internet do OAL: http://oal.ul.pt/hora-legal/como-acertar/

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FAZENDO 97o boletim do que por cá se faz fevereiro 2015

este jornal comunitário, não lucrativo e independente está a ser financiado pela comunidade de leitores colaboradores e parceiros

[email protected] fazendofazendo.blogspot.com

texto: Pedro Gaspar desenhos: Joseph Lewin

tirilha

rebus

Letras e imagens são usados para formar uma nova palavra ou frase. Deve ser lido da esquerda para a direita.Os algarismos entre parêntesis indicam quantas palavras compõem o enigma e o número de letras de cada uma.

As letras fornecidas devem ser compostas com o nome das imagens para formar novas palavras.Quando uma letra surge entre parêntesis deve ser subtraída da palavra da imagem correspondente.

( 4 + 1 + 6 + 4 + 3 + 8 + 3 )

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