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Carlos Jaca 1 “Fazer dos Mortos Gente de Hoje” Os cinco anos que abalaram o Marquês (1777-1782) Processo e sindicância à administração pombalina. Autodefesa (“Apologia”) do ex-Ministro Carvalho e Melo Publicado no Diário do Minho em 5 e 12 de Fevereiro de 2003 Apesar de muitos juízos serenos e objectivos, o Marquês de Pombal é ainda hoje uma figura polémica, e tudo indica que jamais deixará de o ser, porquanto a sua vida presta-se a várias perspectivas de análise, desde a puramente biográfica, à sua consideração tipológica como governante do despotismo “iluminado” ou ainda ao debate sobre a sua orientação política, económica, social, diplomática e cultural. Após várias ameaças, o ataque apopléctico sofrido por D. José a 12 de Novembro de 1776 e que o viria a prostrar definitivamente, marcava o fim do poderio político do grande valido do monarca Reformador. De facto, com a enfermidade do rei iniciava-se a contagem decrescente do consulado pombalino. O ambiente no Paço ia sofrendo profundas alterações, e o agravamento ou a melhoria do estado de saúde do real enfermo funcionavam, indisfarçavelmente, como “termómetro” da credibilidade do antigo Conde de Oeiras. A 18 de Novembro o próprio rei pede os sacramentos, tendo sido o Núncio (o Patriarca falecera dias antes) a administrar-lhe a extrema-unção e a levar-lhe a benção papal. A estas cerimónias compareceram os representantes estrangeiros, entre os quais Lebzeltern, ministro da Áustria, que “na physionomia dos áulicos julgou descortinar uma secreta alegria”. Os dados estavam lançados, e não seria um reiterado pedido de demissão que iria alterar o sentido visível dos acontecimentos.

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Carlos Jaca 1

“Fazer dos Mortos Gente de Hoje”

Os cinco anos que abalaram o Marquês (1777-1782)

Processo e sindicância à administração pombalina. Autodefesa (“Apologia”) do ex-Ministro Carvalho e Melo

Publicado no Diário do Minho em 5 e 12 de Fevereiro de 2003

Apesar de muitos juízos serenos e objectivos, o Marquês de Pombal é ainda hoje uma

figura polémica, e tudo indica que jamais deixará de o ser, porquanto a sua vida presta-se a

várias perspectivas de análise, desde a puramente biográfica, à sua consideração tipológica

como governante do despotismo “iluminado” ou ainda ao debate sobre a sua orientação

política, económica, social, diplomática e cultural.

Após várias ameaças, o ataque apopléctico sofrido por D. José a 12 de Novembro de

1776 e que o viria a prostrar definitivamente, marcava o fim do poderio político do grande

valido do monarca Reformador.

De facto, com a enfermidade do rei iniciava-se a contagem decrescente do consulado

pombalino.

O ambiente no Paço ia sofrendo profundas alterações, e o agravamento ou a melhoria do

estado de saúde do real enfermo funcionavam, indisfarçavelmente, como “termómetro” da

credibilidade do antigo Conde de Oeiras.

A 18 de Novembro o próprio rei pede os sacramentos, tendo sido o Núncio (o Patriarca

falecera dias antes) a administrar-lhe a extrema-unção e a levar-lhe a benção papal. A estas

cerimónias compareceram os representantes estrangeiros, entre os quais Lebzeltern, ministro da

Áustria, que “na physionomia dos áulicos julgou descortinar uma secreta alegria”.

Os dados estavam lançados, e não seria um reiterado pedido de demissão que iria

alterar o sentido visível dos acontecimentos.

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O Marquês iria abalar para as terras de Pombal mas ... não deixaria de ser fortemente

abalado quase até ao fim dos seus últimos dias.

A morte de D. José iria desencadear os acontecimentos. Subia ao trono D. Maria I.

Era a “Viradeira”. Pombal viu que o seu tempo passara ... estava nas mãos dos

inimigos.

Regência de D. Mariana Vitória. Pombal renuncia os cargos.

Por decreto de 29 de Novembro de 1776 referendado por mim próprio, Sebastião José de

Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, em 4 do mês seguinte, a rainha D. Mariana Vitória

assumia a regência, situação que lhe não era de todo estranha visto que já a exercera quando da

tentativa de regicídio.

Embora continuando ministro por mais três meses, precisamente o tempo de vida de D.

José, a doença de meu amo marcava o fim do período que resolveram denominar de ditadura

pombalina e, nas primeiras deliberações da regência, era manifesto o começo da reacção.

Por este tempo, a maioria dos decretos era já assinada por Aires de Sá, Ministro dos

Estrangeiros, e a partir de 1 de Fevereiro de 1777 não voltam a aparecer decretos com a minha

assinatura. Praticamente o meu último acto de autoridade ocorreu a 23 de Janeiro, quando dos

incidentes da Trafaria.

Tudo convergia para me afastar do Poder com a morte do rei.

Era, então, apenas ministro nominal, sendo considerado na Corte como intruso e

importuno, e os próprios que me haviam sido lisonjeiros cortesãos nos tempos da maior

prosperidade, como o cardeal da Cunha, voltavam-me as costas com arrogância e com desdém.

Como estava ainda no Poder, não se atreviam directamente aos grandes insultos, mas à

medida que se esfumavam as esperanças de salvação de Sua Majestade segredava-se acerca dos

meus abusos, despotismo e corrupção.

Estando a vida do soberano apenas por um fio os meus

inimigos começavam a levantar cabeça, e os ódios que fermentavam

no Paço durante a longa prostração e agonia do Real Senhor não

deixariam de explodir logo que este abandonasse o mundo.

Ainda o rei não exalara os últimos suspiros apresentei uma

súplica à rainha Regente para que me escusasse de um encargo, de

que me estavam já incapacitando os achaques, os anos e as fadigas

de um longo e tormentoso ministério.

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Não tinha a menor dúvida acerca do meu futuro e, por isso, prevendo a queda eminente,

requeri em 7 de Fevereiro à rainha Regente, D. Mariana Vitória, a demissão que em diversas

ocasiões representara a D. José.

Na súplica apresentada à rainha Mãe, referia os meus quase oitenta anos e alegava

encontrar-me “rendido e quebrado” nas minhas forças naturais, afirmando que na minha

actividade ministerial levava agora mais de um dia para fazer o mesmo trabalho que antes

resolvia numa hora.

Preocupava-me e afligia-me com o facto de uma morte repentina, apanhar desprevenidos

aqueles que teriam de continuar o serviço de muitos e importantes cargos e que eu tinha a honra

de ocupar.

Assim, seria Sua Majestade servida nomear sem mais perda de tempo substitutos, aos

quais desde logo informaria dos principais

progressos e últimos estados de tudo o que

toca a todas e a cada uma das

importantíssimas repartições de que me

achava encarregado.

Insisti sem resultado. A demissão

foi-me mais uma vez recusada. Ao apresentá-la nos termos formulados os meus inimigos terão

visto, desde logo, uma forma que me possibilitaria interferir ainda no governo.

Embora compreenda que me considerem um homem obstinado pelo Poder, tinha

consciência de que a minha hora chegara e, assim, no meu pedido de demissão não deixo

transparecer qualquer esperança ou desejo de me manter em tão elevado cargo.

Para além de outros motivos, a minha avançada idade e precário estado de saúde

constituiriam razões sobrantes para refrear ou cercear a satisfação de quaisquer, e injustificadas

ambições.

Demonstrei, claramente, o desejo de libertar-me das rédeas do governo preocupando-me,

no entanto, com o facto de deixar a direcção do Estado em boas mãos.

Reconheça-se que pretendia evitar o vazio de Poder, pelo receio dos grandes prejuízos

que dessa situação podiam advir para a administração pública e para as soluções externas do

País.

Morte de D. José. Exoneração do Marquês.

Às primeiras horas da manhã do dia 24 de Fevereiro de 1777 falecia D. José e, quando

me dirigia para a câmara fúnebre, o cardeal da Cunha, querendo ganhar pela insolência o que

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perdera em dignidade, disse-me: “V.ª Ex.ª já nada aqui tem a fazer”. Um olhar de desprezo e

nojo foi a reacção possível por mim demonstrada a um homem que de obscuro religioso fora

elevado ao cardinalato por obra e graça de ... Carvalho e Melo. Este cardeal da Cunha é o mesmo

que se apoderara da baixela de prata pertencente ao Duque de Aveiro, quando este fora justiçado.

Dos mais variados quadrantes começaram a surgir vozes condenatórias da minha

actividade política, e os próprios ministros que me haviam tido como colega e obedecido

cegamente às minhas directrizes olham-me com desdém, como se não existisse, desdobrando-se

em solicitudes ante a camarilha dos fidalgos que voltava a dominar.

Não me iludia a esperança de que os meus inimigos me poupassem, nem a Rainha devota

e avassalada à vontade de um marido de curtíssimo intelecto e declarado parcial da reacção

política e religiosa, me conservasse dominante no governo.

O falecimento de D. José havia provocado a minha morte civil. Eu, Sebastião José de

Carvalho e Melo, sobrevivia, mas o poderoso ministro morrera com o rei e iria sofrer as maiores

afrontas e dissabores.

O povo, Lisboa, e a nação inteira soltava um suspiro de alívio, ao ver por terra aquele

que, diziam, fizera sentir o mais feroz despotismo que jamais se exerceu em Portugal.

Denegrindo-me, saem a público versos vexatórios, folhetos e sátiras, arranca-se o

medalhão com o meu busto colocado no pedestal da estátua equestre. Situado na “mó de baixo”,

era acusado de todas as calamidades que haviam assolado o País.

Afirmava-se ter sido devido à minha carreira maquiavélica que, eu, Marquês de Pombal,

“pusera em movimento astutas máquinas para dominar a Nação, sendo pois flagello dos Povos,

falsario ao Rey, quebrantador da imunidade da Igreja e pouco firme na Ley que professa”.

Recrudesciam os clamores no Paço e na capital acerca do meu ministério, acusando-me

de peculato, latrocínio, perfídia, arbitrariedades, sequestro e crimes de toda a casta exortando-se

a que se me desse exemplar castigo.

Cinco dias após as exéquias, a 1 de Março de 1777, apresentei requerimento à Rainha

renovando o pedido de exoneração dos cargos, manifestando o propósito, e pedindo licença, para

me recolher à Quinta da Gramela , na vila do meu marquesado.

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Neste mesmo dia enviei ao director espiritual de D. Maria I, Frei Inácio de S. Caetano,

muito valido de Sua Majestade, uma primeira e volumosa remessa de papéis referentes à decisão

dos juizes nomeados pelo Rei para o processo dos Távoras, de outros fidalgos e seus cúmplices.

Esta atitude significava já, sem dúvida, um indício da minha defesa, porquanto, era

inevitável vir a ser envolvido no referido processo como principal culpado.

Desta vez, obviamente, a Súplica foi

deferida e, três dias depois, a 4 de Março, era

publicado o decreto da minha demissão.

O decreto da demissão. A “ressalva”.

No decreto oficial a soberana, tendo em

consideração a grande e distinta estima que el-rei,

seu pai, sempre havia manifestado por mim e

atendendo aos motivos apresentados, aceitava a

demissão e concedia-me a licença pedida,

acrescentando: “E hei outro sim por bem, que

durante a sua vida fique conservando os mesmos

ordenados que tinha como Secretário de Estado dos

Negócios do Reino; e além delles lhe faço mercê,

por graça especial, da Commenda de Santiago de

Lanhoso no Arcebispado de Braga e da Ordem de Cristo”. Só que ... este decreto, era o decreto

oficial, público, destinado ao País.

No que dizia respeito ao reconhecimento de tantos serviços prestados, o decreto era

omisso, nem sequer mereci uma palavra de apreço.

D. Maria I sentia-se ao sabor das intrigas e competições palacianas, deparando-se-lhe

terrível dilema.

Os meus inimigos aguardavam uma espécie de vingança pública, não podendo aceitar que

um ministro tão odiado pudesse sair impune do governo, classificando de fraqueza a brandura

com que a Rainha me despedia. Inventariando todos os excessos, erros e crimes que me eram

atribuídos, censuravam asperamente que em vez de me impor a mais severa expiação, a Rainha

me deixasse ir para Pombal, acrescentando às rendas e mercês que já usufruía, um novo

testemunho da régia benignidade.

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Numa “Reflexão” que se fez a Sua Majestade, na ocasião em que ordenou que se fizesse

o decreto da minha demissão havia uma “Ressalva”.

Por ordem da Rainha, Martinho de Melo e Castro (que me devia a sua ascensão política)

encarregado da entrega do referido decreto da demissão, devia

igualmente ler e entregar-me pessoalmente uma comunicação por

escrito.

A comunicação escrita e assinada por Melo e Castro,

declarava que sendo o decreto para a minha demissão a primeira

resolução que se tomava, podia não ser a última tanto sobre o que

me pertencia, como sobre tudo que administrei “principalmente

sobre descaminhos da real fazenda”.

A notificação era nitidamente a porta aberta para instaurar o processo, ou sindicância, que

muitos desejavam e exigiam à minha administração mas, admito, que para D. Maria funcionasse,

apenas, como o “valium” que acalmasse os adversários mais rancorosos.

De qualquer modo, fui posto de sobreaviso, se bem que não fosse muito fácil abater-me.

Por muito ódio que pudesse inspirar a D. Maria, perseguir-me parecer-lhe-ia, certamente,

uma censura à memória de seu pai. De resto, apenas deixara de ser ministro, a minha relação

com as cortes europeias, as relações da Marquesa Daun, minha esposa, com as casas mais

distintas da Áustria e da Itália, eram uma garantia de que não me podiam prejudicar demasiado.

Acusar-me, era acusar D. José e o poder absoluto. Tudo o que eu empreendera fora confirmado

nos papeis pela mão do rei e estava aprovado pela mala dos embaixadores. Sabia muitos

segredos, o meu génio irascível era conhecido, e, se não tinha amigos, tinha inimigos que me

temiam, o que equivalia a ter amigos.

E mais, é um facto que durante os vinte e sete anos do reinado de D. José, nenhum

decreto saíra sem a assinatura do próprio rei, ainda que, como é possível, o monarca os assinasse

sem lançar a vista sobre eles. Fosse como fosse, podia alegar a sanção do soberano para todos os

actos praticados enquanto fora ministro.

Um apoio igualmente considerável, nomeadamente na primeira parte do reinado, seria a

influência exercida no espírito da rainha pelo seu confessor e director espiritual, Frei Inácio de S.

Caetano, carmelita que, eu próprio, fizera deputado da Mesa Censória e Bispo de Penafiel. A

acção do carmelita funcionando como poder moderador poderá explicar, em parte, o facto de a

nobreza palaciana e a facção jesuítica não ter dominado completamente a situação.

Porém, apesar de muitas e boas defesas não me sentia de todo invulnerável, o que viria a

comprovar-se posteriormente. Em 1779, uma acção de perdas e danos movida por Francisco José

Caldeira Soares de Mendanha iria modificar uma situação até aí de relativa estabilidade; a

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licença concedida para me retirar à minha quinta de Pombal, iria transformar-se em sentença

punitiva.

O regresso às origens. Ex-ministro arguido de extorsão e peculato.

As “Apologias”.

A 7 de Março, três dias após a demissão, acompanhado de minha esposa Leonor,

Marquesa Daun, da minha filha Maria Francisca, e protegido por escolta, abalei para a vila do

meu título.

Depois de tormentosa jornada por péssimas estradas (devo dizer que a rede viária foi

quase completamente descurada pelo meu ministério) e fustigados por chuvas torrenciais,

chegámos finalmente a Pombal no dia 15 de Março.

Ao mesmo tempo que me preocupava em adaptar o velho solar às necessidades e

costumes da família e vigiava os trabalhos agrícolas na horta de Santorum, ou na Quinta da

Gramela, mais distante e de mais vastas lavouras, ia revendo e completando os papeis políticos

referentes à minha longa e, agora, contestada administração.

O meu genro, João de Saldanha e o meu filho Henrique, haviam-me informado acerca do

que me imputavam na Corte e dos clamores públicos. Os demandistas, nobres, desembargadores,

burgueses e plebeus que nunca tinham ousado incomodar-me, movem-me, agora, violenta

campanha, todos interessados em obter qualquer proveito na eventual partilha dos bens, porque

se propalava que eu me enriquecera à custa do Estado.

Apesar dos males físicos e profundos golpes morais que me atingiam, trabalhava tão

intensamente na preparação da minha defesa, que duas semanas após ter entrado em Pombal

concluí um extenso memorial para ser presente a Sua Majestade, por intermédio do meu filho

Henrique, Conde de Oeiras, o que, de facto, veio a acontecer no dia 2 de Abril.

Em defesa de uma honra agravada empreguei todos os recursos da habilidade e saber

jurídico, adquiridos nos primeiros anos da minha juventude, quando meu pai me deixou “no

meio de um grande número de processos, entregue aos advogados e solicitadores e à vida ociosa

dos litigantes ... porque se deixasse as causas à revelia, levariam as partes o património da casa”.

O minucioso memorial, a que dei o nome “Apologias”, é um documento de 63

proposições bem discriminadas e relatadas, a que agrafei, ainda, as provas documentais.

A primeira das quinze “Apologias” tem por objectivo refutar uma das maiores acusações

que me assacavam os meus inimigos, e que consistia na aquisição de considerável fortuna

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acumulada à custa do Real Erário e dos meios que havia lançado a mão para opulentar os meus

familiares.

Apresentei uma minuciosa relação analisando a minha posição pessoal, elaborando um

“Compendioso Inventário” dos meios que tivera para haver os bens que tinha adquirido e dos

mesmos bens adquiridos de novo, especificando quais e quantos eles eram com os preços que me

tinham custado.

Começo por afirmar jamais ter recebido quaisquer ordenados para além dos que me eram

devidos como Secretário de Estado e da Casa de Bragança, nunca tendo recebido da Fazenda

Real donativo, gratificações ou ajudas de custo.

Não nego que El-Rei, após várias insistências, acrescentara os meus bens cumulando-me

de mercês, “considerando Sua Majestade que não seria decorozo ao seu caracter Regio, que a

Caza de hum Primeiro Ministro de quem tinha confiado os maiores Negócios do seu Reinado,

ficasse confundida entre os menos consideráveis de Portugal”, ao contrário do que haviam

praticado Henrique IV, Luís XIII e Luís XIV com o duque de Sully, cardeal de Richelieu e

cardeal Mazarino.

Nunca estive ligado por interesses ao comércio interno do reino e seus domínios, bem

como ao de países estrangeiros e, por conseguinte, nada entrara pela barra de Lisboa que me

pertencesse e nada despachei na Alfândega Grande ou Casa da Índia, “como nellas foi sempre e

he publico e notorio”.

Nunca ninguém me vira ostentar daquelas grandes, custosas e delicadas baixelas de prata

que sempre tiveram os ministros que ocuparam os mesmos lugares, conservando somente a que

tinha utilizado nas cortes estrangeiras, avaliada em onze mil cruzados; nas ocasiões em que era

obrigado a dar algum jantar ou ceia que excedesse o número de vinte e cinco pessoas, foi preciso

o meu Mordomo pedir porções de baixela emprestadas ao Cardeal da Cunha e Martinho de Melo

e Castro.

Nas próprias carruagens e vestuário, não havia coisa alguma que parecesse ostentação ou

luxo.

Neste aspecto a minha moderação foi, realmente, um facto, pois ao fim e ao cabo, o meu

luxo era verdadeiramente o Poder.

Referindo o que não tive e poderia ter tido se quisesse, passo a justificar com rigor de

demonstração os meios de que dispus para adquirir os bens e rendas que me acresceram depois

do meu ministério.

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Tinha o património da minha Casa com o qual ajudei à decência com que vivi nas cortes

estrangeiras, já que os reduzidos ordenados estipulados pela corte portuguesa se tornavam

insuficientes.

Outros consideráveis valores resultaram das muitas quintas, fazendas e outros bens de

raíz pertencentes aos morgados de minha Casa, os quais achando-se dispersos em diferentes

lugares e diversas províncias foram vendidos com provisões régias, dentro de uma boa e sã

economia, para empregar os preços delas em Oeiras e Lisboa.

Referencio a quantia de cinquenta e tantos mil cruzados que meu tio, o Arcebispo da

Patriarcal, Paulo de Carvalho de Ataíde, deixou vencidos na dita Igreja, e que me foram

entregues pelos seus procuradores, empregando “competente quantia” em bens de raíz.

Acrescento ainda, o dote de minha primeira mulher, D. Teresa de Noronha, que para além

dos bens de raíz importou em dinheiro na quantia de seis contos duzentos e um mil e

quatrocentos e quarenta reis, aplicados na compra feita aos viscondes de Barbacena da Quinta de

Oeiras “arruinada pelo terramoto e onde hoje se achão a Orta ajardinada e Adega”.

Registo, também, o produto anual proveniente dos alugueres das casas edificadas em

Lisboa, salientando que com os rendimentos das obras acabadas ia ajudando outras que a elas se

seguiram.

Apresento mais quarenta proposições onde, exaustiva e minuciosamente, refiro os bens

que possuí e não adquiri depois do meu ministério, em Oeiras, Sintra e Lisboa, referindo ainda

outros bens comprados e obras feitas por mim depois da morte de meus irmãos, com dinheiro

proveniente das quintas e fazendas dos seus morgados e com os meus

próprios desembolsos.

O industrial francês Jácome Ratton, meu contemporâneo,

assevera que “foi por efeito da minha estrita economia que eu pude fazer

a minha grande Casa, e não à custa do Estado, como alguns terão

pensado, regulando-se apenas pelas aparências”.

Embora não excluindo possíveis inexactidões na “Apologia” dirigida à Rainha, a

acusação feita a Carvalho e Melo de ter defraudado os cofres públicos parece, de certo modo,

inconsistente, pois não se encontram factos probatórios de latrocínio, como Camilo e outros

autores pretendem existir.

Por outro lado, é concreto e seguro Sebastião José ter-se valido do seu crédito e

autoridade como ministro, para levar proprietários à venda de bens abaixo do valor real, bem

como a esquecer o pagamento de dívidas.

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Obtinha facilidades especulando com o receio dos credores, mas também muitos deles se

tornaram generosos e fáceis com o objectivo de granjear o seu favor e protecção.

Após ter sido afastado do Poder começam as demandas, aparecendo agora sem receio

aqueles que se julgavam com direito a compensações.

O já citado e bem informado ministro da Áustria, Lebzeltern, referia que o Marquês “de

nenhum modo quer pleitos, e conciliatoriamente vai restituindo aos antigos donos as

propriedades que abaixo do justo preço havia comprado”, porém, não era ainda o termo do seu

drama.

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“Fazer dos Mortos Gente de Hoje”

Os cinco anos que abalaram o Marquês (1777-1782)

Processo e sindicância à administração pombalina. Autodefesa (“Apologia”) do ex-Ministro Carvalho e Melo

2ª Parte

Por Carlos Jaca

Prof. História – Escola Secundária de Alberto Sampaio

Pombal acusado de transferência de capitais para o Banco da Holanda

Entre as acusações que a Pombal assacavam os seus inimigos, ganha especial relevo a

de ter embolsado dinheiro do governo e de o ter depositado num Banco da Holanda.

Tomando por assunto o real erário, o contrato dos diamantes, o dos tabacos e a

Companhia do Alto-Douro, os seus adversários julgavam impossível que ele “deixasse de ter

mettido naquelles ricos cofres as mãos até aos cotovellos”.

Sob o peso de imputação tão grave, Carvalho e Melo vai refutar tais acusações

pretendendo comprovar a sua inocência, e... parece tê-lo conseguido.

Já provei por A mais B que as grandes riquezas de que me tinham arguido não eram

provenientes da fazenda real, como antes quiseram persuadir, mas que consistiam nos bens

patrimoniais da minha casa, nos bens da coroa e ordens com que D. José os honrou e aumentou,

nas aquisições e herança de meu tio, de meus irmãos, da minha primeira mulher e na minha

economia doméstica e moderação em evitar ostentação e apetites.

Viu-se tudo isto claro e manifesto, mas não se podendo já imputar aquelas grandes

riquezas e compras de bens de raíz e a obras feitas com dinheiros da Fazenda Real, inventou-se a

nova ideia de que os ditos dinheiros foram mandados para os Bancos da Holanda.

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Só por absurdo caberia em algum juízo humano que, um Ministro durante vinte e seis

anos sucessivos, procurasse “com inauditos disvelos”, exercer e praticar os meios que a

aritmética política e a economia do estado aconselham, para impedir que os estrangeiros

continuassem a extrair a moeda deste reino, o privasse nos fins da sua vida dos milhões de que se

trata para ir engrossar com eles o Banco de Amsterdão.

Tal calúnia não passava de uma “monstruosa disformidade”, porquanto, além do mais,

tive de recorrer a empréstimos e adiantamentos de verbas na ordem de milhares de cruzados a

particulares, à Misericórdia de Lisboa, Agostinhos Descalços de Santa Rita, Marianos,

Agostinhos da Graça e Colegiada de Santo Antão.

Pergunto: faria sentido que encontrando-me empenhado e vencendo juros algumas das

verbas emprestadas, possuísse “cabedaes redundantes” para mandar pôr os tais poucos de

milhões no Banco da Holanda?

E mais: aos 49 anos, por determinação médica, devido aos rigores do clima, fui obrigado

a abandonar o Norte, onde era honrado com distinta estimação pela Corte de Viena de Áustria.

Assim, não podia deixar de ser “diametralmente contraditório com toda a apparencia da

razão” que, agora perto dos oitenta anos, me fosse estabelecer na Holanda “entre estranhos e

fazer ali huma tristissima figura deixando a minha Casa e as Famílias de meus filhos, genros e

filhas abandonados no clima da minha propria Patria”.

É totalmente desprovida de fundamento a acusação de peculato e subsequente fuga de

capitais que me pretendem imputar, sendo fácil concluir que os tais milhões de cruzados nunca

poderiam ter saído do real erário. Bastaria recorrer aos Livros das Quatro Contadorias e

compará-los com o Diário da Mesa Grande e, assim, ficaria claro que todo o dinheiro que entrou,

ou saiu por Decretos para despesas do real serviço, ou ficou nos cofres em moeda corrente.

Mesmo que os supostos milhões tivessem tido existência, seria necessária a intervenção

de um grande negociante estrangeiro a quem os confiasse para guardar e remeter.

Ora, jamais tive trato algum com negociantes daquele tipo. Neste aspecto, o meu

relacionamento não ia além de David Pury, Thomas Maine, Henrique Wermeekel, Daniel Gil de

Mester e Luis Cautofer, sendo manifesto que nenhum dos ditos negociantes teve nos seus cofres

dinheiro algum meu, mas que muito pelo contrário, me socorreram sempre com o seu nos casos

ocorrentes.

Ao deixar o ministério, entreguei a meu filho Henrique, Conde de Oeiras, uma relação de

dívidas que devia ir satisfazendo consoante os recursos.

Concluindo esta refutação às acusações, posso asseverar que, não presume o direito, nem

que se impute o delito ao que não teve causa para delinquir, nem que ainda se alegue

prevaricação contra o que não teve interesse em a cometer; e nos termos acima referidos, se vê

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que eu, não tinha causa ou interesse algum no transporte dos ditos supostos milhões para a

Holanda.

Pombal acusado de irreligiosidade

Chegou a aceitar-se como ideia corrente ter sido Carvalho e Melo um declarado

adversário do catolicismo e identificado com a Maçonaria, seita a que parece nunca ter

pertencido como ressalta da opinião insuspeita e autorizada de Domingos Maurício, ordenado

sacerdote pela Universidade Gregoriana de Roma, que, em 1910, entrara na Companhia de

Jesus em Exaten, Holanda.

A acusação atribuída a Pombal de irreligiosidade, ódio às ordens monásticas e

“quebrantador da Igreja e pouco firme na Ley que professa”, parece ter sido o resultado de

uma campanha cujo centro de irradiação facilmente podia localizar-se na Companhia de Jesus.

E nada há de estranho nisso, uma vez que os Inacianos, como geralmente é reconhecido,

sofreram a hostilidade do Marquês e foram alvo das maiores perseguições.

Porém, ao lado da defesa que faz da religião católica e que dificilmente se pode pôr em

dúvida, Pombal tinha ideias extremamente regalistas (supremacia do Estado sobre a Igreja),

que pôs em prática, com a energia, decisão e falta de escrúpulos que lhe eram proverbiais.

Inicio a minha defesa, começando por afirmar que a maior ofensa feita a um homem

cristão é a de o infamarem de irreligioso, E, para se aquilatar da religião de qualquer reino e da fé

dos seus naturais, não há outro processo que não seja o de se observar o culto geral que nele se

dedica ao Supremo Senhor do Céu e da Terra, porque o mesmo culto geral se deve crer que é o

particular de todos e cada um dos indivíduos que o habitam.

Assim, considero Portugal o país da Europa onde a religião se conservou sempre mais

pura e ilibada, e mais tem resplandecido o culto divino.

Ora, nascendo aqui e tendo sido criado por pais e avós muito religiosos, não há razão

alguma para se presumir contra mim e se me imputar, que me desnaturalizei da minha própria

pátria e da educação e costumes que recebi e herdei dos meus progenitores, para me precipitar no

absurdo de ser irreligioso.

Sempre me preocupei em imitar os meus ascendentes, quanto em mim esteve, no zelo e

observância do culto divino e da religião.

Recorrendo ao “Livro das Providências sobre o Terramoto”, saliento que entre outras

grandes urgências preferenciei o restabelecimento dos Ofícios Divinos na Sé Patriarcal, e

diligenciei para que as religiosas abandonadas pelos respectivos prelados, e que se encontravam

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expostas na praça e nas ruas, fossem recolhidas em decentes clausuras como se comprova nos

registos da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

Recordo, que a primeira paróquia de Lisboa onde se renovaram os ofícios divinos foi a de

Nossa Senhora das Mercês, de que era padroeiro e juiz perpétuo da Irmandade do Santíssimo

Sacramento.

Testemunha o referido “Livro das Providências sobre o Terramoto”, que no oratório da

minha residência se praticou sempre o culto divino com o maior decoro, oficiando-se missas

todas as manhãs, Sacramentos da Confissão e da Eucaristia, não só para as pessoas da família,

mas também para as da vizinhança.

A minha fé era manifestamente comprovada pela realização do culto na capela das

minhas casas da rua Formosa e Algueirão, bem como na Granja de Sintra e Quinta de Oeiras;

nesta última diziam-se missas em horas diferentes, por via das diversas ocupações das pessoas da

vila, e todos os sábados se entoava a Ladainha de Nossa Senhora com canto de órgão.

Era, há muitos anos, ministro da Ordem Terceira de Nossa Senhora de Jesus, por efeito da

devoção que desde tenra idade tinha pela referida Ordem; contribuía com a minha jóia para

ajudar os actos de caridade que nela se exercitavam, e a que eu procurei sempre assistir aos que

eram de maior consequência, não obstante as minhas nunca interrompidas ocupações do

Ministério.

Não posso passar em claro, a decisão que tomei quando o Cardeal-Patriarca declarou a

proibição do consumo de ovos e lacticínios durante a Quaresma, apesar de não ser lícito ao

purpurado tal proibição.

Não obstante ser esta a minha opinião, não desobedeci ao Pastor de quem era ovelha,

apressando-me a executar uma apertada ordem, em cuja observância não entrou em minha casa

algum daqueles comestíveis proibidos enquanto o dito Eminentíssimo Prelado não declarou,

finalmente, que eram permitidos.

Não havia na Corte quem me excedesse na reverência com que em toda a parte tratei o

Eminentíssimo Prelado. Tomava-lhe a benção ajoelhado, e nunca deixei de confessar-me pela

desobriga da Quaresma, posto que em outras ocasiões tivesse diversos confessores.

A prova que nunca votei ódio ou desejei a abolição das ordens monásticas, foi ter sido

sempre manifesto que todos aqueles religiosos que se fizeram dignos da atenção das pessoas

sisudas, acharam em mim a mais distinta e mais sucessiva estimação até à última hora em que saí

de minha casa. Havia quase sempre em minha casa, em todas as horas do dia e em muitas da

noite, alguns Religiosos com os quais me entretinha nos intervalos das minhas fatigantes

obrigações, parecendo-me que a conversação deles era a mais inocente e instrutiva e a menos

arriscada.

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Entre outros factos que poderia ainda referir em abono da minha fidelidade à Igreja

Católica, saliento o meu excelente relacionamento com o

Papa Clemente XIV que me presenteou com preciosíssimas

relíquias de Santa Leonor, Santa Vitória, S. Búrcio e Santa

Prima, e, ainda, é a mim que o Santo Padre escreve

pessoalmente na esperança do reatamento das relações entre

Lisboa e a Santa Sé interrompidas no pontificado de Clemente

XIII.

Depois de autorizado por El-Rei, dei resposta a tão

honrosíssimo apelo, em carta autografada de 5 de Outubro de

1769, com as expressões mais humildes que me puderam

ocorrer.

Concluo a minha defesa plenamente convencido da suficiência de tudo aquilo que

referenciei, para persuadir-me que contra tantos e tão sucessivos actos positivos e de notoriedade

pública, não poderão ter feito impressão nos juízos prudentes vozes genéricas, vagas e totalmente

improváveis por sua natureza, enquanto referidas às suposições falsas para com elas se

pretextarem declarações livres e temerárias.

O Processo Mendanha. “Libelo famoso por acção de lesão enormíssima”.

Cerca de ano e meio depois do seu afastamento, estava aberta e declarada a que seria a

derradeira acusação contra Carvalho e Melo.

Os artigos difamatórios apresentados pela acusação (que nada tinham a ver com a causa

em julgado), e o carácter que a defesa assumiu, digladiando-se os litigantes em desmandos de

linguagem e atentados às prerrogativas régias, levantaram tal celeuma que D. Maria não pôde

evitar que Sebastião José se tivesse visto a braços com a instauração de um processo-crime.

Após ter escrito as “Apologias”, refutando toda a sorte de culpas que me atribuíam, ia

gozando de relativa tranquilidade neste meu “deserto” de Pombal quando de Abrantes, saiu o

mais feroz de todos os meus perseguidores. Eram acusações gravíssimas: abusara do Poder,

espoliara uma pequena quantidade de pequenos proprietários à volta de Oeiras e Carcavelos,

enriquecera-me à custa do Erário, roubo e outros tipos de fraude.

O pleito que iria seguir-se despertou enorme interesse pelo facto de ter adquirido cariz

político, razão pela qual os meus detractores se regozijavam.

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O caso particular era este: Francisco José Caldeira Soares de Mendanha, fidalgo de

Abrantes, homem de génio turbulento e de vida pouco exemplar, adquiriu a minha quinta de

Prado, em Vila Velha de Rodão por 25.000 cruzados.

O interesse na aquisição da referida quinta terá sido motivada pela mira no lucro, ou

procurando a minha cobertura a fim de garantir a impunidade em certos casos, uma vez que

Mendanha era tido por pessoa de pouco siso.

Posteriormente, dizendo sentir-se defraudado e lesado em mais de seis preços do justo

valor da propriedade vendida e, denunciando o contrato, recusa-se ao pagamento da quantia

estipulada de que já me dera uma parte.

Entregue aos tribunais é declarado infame de proceder e indigno chefe de família.

Tiraram-lhe a administração dos bens e o poder paternal. Duas filhas que tinha, foram metidas

em clausura; a um rapaz menor, deu-se-lhe tutor. Em 1775 é encarcerado na prisão de Abrantes

donde passa à de Tomar, sendo finalmente deportado para a Ilha Terceira.

Dois anos depois, beneficia do perdão da Rainha e é restituído à liberdade. Já em Lisboa,

apresenta na Correição do Cível da Corte o “Libelo famoso por acção de lesão enormíssima”,

contra mim e minha mulher, Marquesa Daun, reclamando o pagamento de perdas e danos.

O fidalgo de Abrantes, nesta acção posta em juízo, em vez de limitar-se a pedir a

anulação do antigo contrato, transforma-o num libelo político, salientando menos as alegações

particulares do que as tremendas e ferozes invectivas contra o meu longo ministério.

Saindo de um caso estritamente particular, Mendanha introduziu no “Libelo” os agravos

da Nação. Pelo abuso da autoridade do meu cargo, diz, é que eu o lesara e oprimira.

Não era a Mendanha que competia formular tal acusação, como sendo eu ministro que

houvesse lesado os interesses do Estado, mas sim ao próprio Estado.

A matéria contida no “Libelo” suscitou invulgar interesse tendo sido, desde logo,

divulgada e aplaudida, não me causando surpresa que no próprio Paço, Mendanha fosse olhado

com simpatia.

A “Contrariedade ao Libelo”

Invocando a memória do rei em abono da administração pombalina, e largamente

apoiado em matéria imprópria de conhecimento público, por via das várias incidências

políticas, Carvalho e Melo apresenta-se como o único autor de tudo o que aconteceu em

Portugal durante os 27 anos do seu Governo. O rei só é referido como desculpa para as

violências e arbitrariedades de que o acusavam, Limitara-se, dizia, a cumprir ordens régias.

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Longe de perturbar-me, antes pelo contrário, exultei, por me ser proporcionada, excelente

ocasião, para escrever mais uma “Apologia” e, desta vez, esperando ser reabilitado.

Ao processo instaurado por Soares de Mendanha, que constava de 38 artigos, contrapus

volumosa contestação aproveitando a oportunidade para traçar uma defesa igualmente política.

Retrospectivando toda a minha administração e pondo em evidência os actos mais

salientes dela, estava plenamente convencido da irrefutabilidade da minha defesa. Creio que a

minha resposta seria a “Apologia” mais completa que escrevi até agora.

Baseando-me nas diversas “Apologias” que dirigi anteriormente à Rainha, expus a minha

vida política em grande plano, testemunhando a consideração de que gozara junto dos soberanos

que servi; desde os da Inglaterra, aos da Áustria e aos de Portugal.

Depois de expurgado o rascunho dos textos inconvenientes à defesa por Lopes da Costa,

meu advogado, são mandadas tirar sete cópias, no intuito de, por este começo de publicidade,

palpar o sentimento geral e verificar se valeria a pena dar-lhe mais importância por meio do

prelo.

Considerei a acção judicial de propósito altamente ofensivo, gerada pela inveja que

sempre houvera dos ministros que os soberanos mais prezaram.

Já referi que na “Contrariedade ao Libelo”, extensa e minuciosa, reproduzo uma boa parte

das alegações apresentadas nas diversas “Apologias” dirigidas à Rainha. Porém, o tom é agora

mais enérgico e incisivo.

Rebatendo a acusação de desumanidade, deixei expresso que o Senhor Rei D. José não

teve junto de si um Primeiro Ministro que, em tantos e tão grandes desastres, o movesse para a

severidade e desumanidade, mas sim para a clemência.

Todas as prisões efectuadas durante o meu governo, haviam sido em virtude de decretos

firmados pelo punho do Rei; as sentenças capitais foram proferidas por tribunais régios.

O litígio atingiu tal dimensão, que a Rainha quis ter conhecimento directo dos

documentos. No fundo, era isso mesmo que eu desejava. Não me pesava que os autos da minha

“Contrariedade” fossem mandados ao Paço ... sempre serviriam para que aqueles que os lessem,

ficassem com as suas consciências oneradas e vissem que eu não deveria ser tratado com tantas

barbaridades.

Sindicância aos actos de Pombal. Os interrogatórios.

D. Maria I, que hesitava entre fortes pressões para castigar o Marquês e os escrúpulos

de consciência que resultavam do respeito pela memória paterna, levou a mal as “Apologias”

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pombalinas, mandou arrancá-las do processo, prender os advogados que as subscreviam, e

decidiu-se, enfim, a proceder contra o antigo ministro de D. José.

Quando referi que a minha resposta seria a “Apologia” mais completa que teria escrito até

então, nunca me passou pela cabeça que o resultado viria a ser muito diferente daquilo que eu

previa.

Acontece que o escândalo provocado pelo litígio levou a Mesa do Desembargo do Paço a

avocar a si o processo que, subindo à presença da Rainha, determina o decreto de 3 de Setembro

de 1779.

O real decreto censurava asperamente uma e outra parte: Mendanha recorrera a artigos

difamatórios que nada tinham a ver com a causa em julgado; eu era, injustamente, repreendido

por ter aproveitado a circunstância, para inspirado pelo ódio, pensavam, “revelar sem recato as

íntimas negociações do Gabinete, ofendendo a memória de D. José, e persistindo em denigrir

reputações que a soberana fizera publicamente intemeratas”.

Nas entrelinhas dos textos forenses não me foi difícil perceber que iria ser colocado sob a

alçada da justiça, porquanto, a Rainha, pressionada na sua fraqueza por vingativos conselheiros,

determinava por decreto de 25 de Setembro de 1779 “ dar providências eficazes sobre os

excessos e absurdos”, dizia, em que me tinha precipitado.

Em consequência, nomeava o Dr. José Luís de França, Deputado da Mesa da Consciência

e Ordens e o Dr. Bruno Monteiro, Desembargador da Casa da Suplicação, para me submeterem a

um interrogatório na vila de Pombal.

Determinava o real decreto que se procedesse na forma de Direito e averiguando tudo o

que conduzisse ao conhecimento da verdade, perguntando, se necessário fosse, devassamente

testemunhas sem número certo, nem limitação de tempo e interrogando-me, não só pelos delitos

que haja cometido nos mencionados papéis, mas em quaisquer outros, que me fossem

apreendidos.

Como tudo, e mais alguma coisa, serviria para me culpabilizar, tive que precaver-me. Fiz

desaparecer, através da queima, papéis e cartas cujo conteúdo fosse susceptível de me

comprometer, agravando-me a situação. Cedi a casa ao meu filho mais velho, Conde de Oeiras, e

passando parte dos bens para minha mulher e outros herdeiros, acautelava valores e propriedades

prevenindo, desse modo a possibilidade de sequestro.

Na tarde do dia 9 de Outubro apeavam-se à porta do meu velho solar da praça do

mercado, Luís de França e Bruno Monteiro, juizes nomeados para a instrução do processo,

iniciando-se os interrogatórios no dia 11 e prolongando-se até 15 de Janeiro.

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As enfermidades, que há longos anos me atormentavam, eram agravadas não só pela

minha avançada idade, mas também pelas calúnias, vexames e humilhações que me

mortificavam. Encontrava-me em tal estado de doença e decrepitude, que foram precisos os

esforços de dois criados para me tirarem da cama e conduzir-me à sala, onde era aguardado pelos

inquiridores.

Luís de França e Bruno Monteiro começaram por deitar mão a todos os papéis e

documentos que se encontravam no escritório, não só para desvendar segredos e descobrir factos

probatórios, mas também com a finalidade de me dificultar a defesa.

Com interrogatórios longos e minuciosos (cinco e até oito horas seguidas), os juizes

pareciam empenhados em revolver, de ponta a ponta, toda a minha administração, esmiuçando

factos e documentos, interessados em arrancar-me revelações de estrondo que pudessem ser

utilizadas contra o meu Governo.

Instado a revelar a verdade a respeito das prisões, execuções e daqueles que tinham

morrido no cadafalso de Belém e sucumbido nas prisões, bem como dos castigos infligidos aos

arruaceiros do Porto e incêndio da Trafaria, aleguei tratar-se de ordens de El-Rei, ciente de que

alguns deles conspiravam contra os interesses da Coroa.

Sempre obedeci às ordens de El-Rei, e se mandei algum aviso ou ordem sem instância

régia, foi porque não podia o caso padecer demora.

Tudo quanto obrei foi por ordem de meu amo e nada tenho que arrepender-me.

Acusam-me, principalmente, de ter sido cruel, mas obrigaram-me a ser rigoroso. Quando

anunciava as ordens de El-Rei e não faziam caso delas, era indispensável recorrer à força. As

prisões, os cárceres, foram os únicos meios que encontrei para dominar este povo cego e

ignorante.

Durante os longos meses que durou este penoso interrogatório, o sigilo era absoluto, nada

transpirava para o público; o andamento da inquirição era mandado para a Secretaria de Estado

dos Negócios do Reino em embalagens lacradas e confiadas a correios especiais.

Em Lisboa procedia-se a outros interrogatórios com a finalidade de confrontar

depoimentos, verificando-se contradições entre as minhas declarações e as que foram registadas

na Capital.

Apesar do máximo sigilo, consegui ser posto ao corrente de tal situação e, logo que os

juizes abandonaram a vila, escrevi a Frei Inácio de S. Caetano pedindo a sua intercessão.

Como receava que as pressões junto da Rainha me pudessem levar ao cadafalso, apenas

desejava a clemência régia para que, se Deus me permitisse ainda algum intervalo entre o leito e

sepultura, pudesse continuar a preparar-me para dar ao Tribunal Divino as contas de mais de

oitenta anos, sem ser interrompido pelas cogitações e agitações de objectos terrenos.

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Conclusão. A sentença.

Após o último dia do inquérito, 15 de Janeiro de 1780, os juizes abalaram de Pombal

dirigindo-se a Salvaterra, onde se encontrava a Corte, a fim de apresentar o relatório ao

Governo de D. Maria.

O processo instaurado a Sebastião José permaneceu largo tempo suspenso, deixando

mesmo de se falar nele, facto a que não deve ter sido estranho Frei Inácio de S. Caetano, homem

do Marquês e de poderosa influência junto da Rainha.

O retardamento em proferir sentença desfavorável jogava com o melindre de castigar

aquele que tinha sido ministro do pai de D. Maria I, com cuja reputação, por falsas que fossem

as afirmações de Pombal, se identificara o reinado do falecido monarca.

A solução ideal do problema, quer para Frei Inácio quer para D. Maria I, seria Pombal

morrer de “morte natural e oportuna” não sendo pois de rejeitar o parecer de Camilo Castelo

Branco quando sustenta que, o maior número de juizes tratava de prolongar o processo a ver se

a morte os socorria isentando-os de condenarem um octogenário a quem deviam mercês.

Como o velho estadista não desse indícios de morrer breve, tornou-se impossível à

soberana protelar por mais tempo a questão em face do exacerbamento da corrente

antipombalina, sendo necessário encontrar uma solução política que satisfizesse as “paixões

vingativas dos cortesãos, sem sancionar as fantásticas

providências de revindicta de que eles falavam”.

Finalmente, iria pronunciar-se a sentença.

Assim, por decreto de 16 de Agosto de 1781, D.

Maria I punha termo a tão celebrado processo,

declarando o Marquês de Pombal “réu e merecedor de

exemplar castigo”.

O decreto sublinhava que no decorrer do

interrogatório, Pombal “longe de se justificar, todas as

respostas e as diversas informações a que elas deram

lugar, não tiveram outro efeito senão sobrecarregá-lo

mais e pôr os seus crimes em primeiro lugar”.

Contudo, tomando em consideração a sua avançada idade e as graves enfermidades de

que padecia, e atendendo a que o Marquês lhe pedira perdão “repudiando seus excessos e seus

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atentados”, a Rainha lembrando-se mais da clemência do que da justiça perdoava-lhe as penas

corporais.

Mantinha-se-lhe apenas o desterro, obrigando-o a conservar-se afastado da Corte, pelo

menos à distância de vinte léguas, “sem prejuízo contudo dos direitos e justas pretensões do

nosso Fisco e da nossa Cúria, os quais se manterão completamente”.

Concluindo, acrescentarei que o Marquês de Rio Maior, biógrafo de Pombal, afirma

peremptoriamente não ter Carvalho e Melo confessado qualquer das faltas de que o acusavam,

nem delas pedido perdão, apelando apenas para a justiça régia no sentido de lhe ser concedida

a clemência a que se julgava com direito.

Com os pés para a cova, o “velho senhor” pouco tempo iria sobreviver ao decreto de 81.

Alguns meses depois, ao cair da tarde do dia 8 de Maio de 1782, contando 83 anos de

idade, abandonava o mundo sucumbindo “ao peso da moléstia e dos trabalhos”, o homem que

durante 27 anos encabeçara o governo mais duro que Portugal conhecera até então.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

A – MANUSCRITOS

Manuscrito N.º 916 – “Collecção de Algumas Apologias precedidas das súplicas que o Marquês

de Pombal dirigiu à Rainha D. Maria I r da cópia do Decreto da sua demissão seguidas de

uma carta familiar e das observações secretíssimas”, 77 fls., 1777. Arquivo Distrital de

Braga.

Pasta de Manuscritos N.º 477 – Collecção recondita de algumas obras Políticas do IIImo e

Ex.mo Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Mello.

Tudo fielmente copiado do seu original que posshuia Manoel Coelho de Lima Official de

Secretaria. Arquivo Distrital de Braga.

B – OBRAS IMPRESSAS

AZEVEDO, José Lúcio de – “O Marquez de Pombal e a Sua Época”. Clássica Editora, 1909. BEIRÃO, Caetano – D. Maria I. Lisboa, 1934. BESSA-Luís, Agustina – “Sebastião José”. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984.

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BRANCO, Camilo Castelo – “Perfil do Marquês de Pombal”. Porto, 1932. BRANDÃO, Zeferino – “O Marquez de Pombal”. Documentos inéditos. Lisboa, 1915. CHEKE, Marcus – “Dictator of Portugal” – A Life of the Marquis of Pombal (1699-1782).

Tradução de Álvaro Dória, 1946. LEITE, António – “A Ideologia Pombalina”, Separata da Revista “Brotéria”. MARTINS, Rocha – “O Marquês de Pombal Desterrado”. Edição da Empresa Nacional de

Publicidade. MAURÍCIO, Domingos – “Pombal e a Maçonaria”, in “Brotéria”, LXXXVIII. Lisboa, 1969. “MEMÓRIAS SECRETÍSSIMAS DO MARQUÊS DE POMBAL” – Publicações

Europa-América. MONTALVÃO MACHADO, J. T. – “Quem livrou Pombal da pena de morte”. Lisboa,

MCMLXXIX. OLIVEIRA E SOUSA, João de Saldanha – “O Marquês de Pombal, sua vida e morte cristãs”.

Lisboa, 1934. PERES, Damião – “História de Portugal”. Edição Monumental Barcelos, Vol. VI, MCMXXVIII. RATTON, Jácome – “Recordações”. Londres, 1813, (Livro raro). Biblioteca Pública de Braga,

Reservados, 323. SERRÃO, Joaquim Veríssimo – “O Marquês de Pombal, o homem, o diplomata e o estadista”.

Lisboa, 1982. SOARES, Álvaro Teixeira – “O Marquês de Pombal”. Editora Universidade Brasília, 1961.