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Fórum6 Cidadania nº 09

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Permitam-me que me manifeste acerca do

tema eliminação da Mutilação Genital Feminina

(MGF).

Conhecida por excisão dos genitais femininos,

operação sunna, circuncisão feminina, corte dos

genitais femininos, fanado, excisão, circuncisão

faraónica, prática tradicional nefasta, ou seja,

consiste na realização de diferentes tipos de

cortes da vagina da menina, rapariga e/ou mul-

her, motivados pela religião, tradição e/ou cul-

tura que lhes estão associadas.

Não quis ter vontade de conhecer esta transpar-

ente realidade. Não quis pensar ser possível a

sua existência.

Melindrou-me ouvir de viva voz testemunhos densos, sofridos, ensombrados,

acabrunhados, testemunhos denunciando uma tragédia pessoal, com acento tónico

no género feminino, e quem me dera que o número fosse singular. Quem me dera

ainda que a poesia da gramática fosse um adjectivo comparativo de igualdade e

deixasse para trás superioridades e inferioridades, sem superlativos ocos.

140 milhões de mulheres por todo o mundo retraem-se, submetem-se a práticas

seculares, a rituais intempestivos, subversivos, sem que a Carta dos Direitos Huma-

nos seja tida em conta. Possivelmente, se lhes chegasse às mãos, também não a

saberiam interpretar, quiçá por não a saberem ler.

Prosperam os monossílabos, tipificam-se as atrocidades, encolhe-se a perversidade

das tenras idades, desprotegendo desde cedo as meninas mulheres. Prolongam-se

práticas nefastas à saúde da mulher, bem como da criança.

Preciso de substantivos colectivos neste manifesto, adiando para sempre os irri-

tantemente comuns, sem utopias concretas, absolutistas, quero substantivos deriva-

dos do esforço e dedicação pela erradicação deste flagelo humano.

Exijo pronomes possessivos, na tomada de posição pessoal. Pouco importa se os

artigos são definidos ou indefinidos, se os sujeitos são determinados ou indetermi-

nados, se os verbos são impessoais… Basta que existam.

Defendo a tolerância zero. Basta de reticências, impõem-se os pontos finais, sem

admirações, sem prolongamentos e sem interrogações. Há que fraccionar os núme-

ros, em numerais multiplicativos de vontades de assistir… apoiar… auxiliar… e de-

nunciar…

Em Portugal, segundo o Código Penal – Artigo 144.º - Ofensa à Integridade Física

Grave, é crime.

A mutilação genital feminina é uma ofensa punida pela lei portuguesa, com a par-

ticularidade de o ser mesmo quando praticada fora do território nacional. Há que

proteger destes perigos, há que denunciar numa sensibilização veloz e altamente

altruísta.

Não importa o dialecto, o credo ou prática. Se é uma questão de formação, apenas

importa o fim à sua privação.

Sou mulher. Sou jornalista. E deixo desta forma aqui o meu grito de indignação, o

meu mero contributo. Não se trata de recusar origens, mas de acabar com o sofri-

mento nefasto. Se ser-se feminista é proclamar o fim desta injustiça, assim seja, mas

salvem-se estas mulheres de cicatrizes surreais de um qualquer imaginário…

Elda Lopes Ferreira

Ficha Técnica

Propriedade, Redacção e Direcção: NewsCoop - Informação

e Comunicação CRL Rua António Ramalho 600E

Apartado 60244461-801 Senhora da Hora Matosinhos

Publicação periódica mensal registada na E.R.C.

com o número 125 565Tiragem: 12 000 exemplares

Contactos: Tel./Fax: 22 9537144www.newscoop.pt

Director: Sérgio OliveiraEditor: António Sérgio

Jornalistas: Elda Lopes FerreiraAntónio Sérgio

Produção Gráfica: Ana Oliveira

Impressão: Ginocar - Produções, S.A.

Editorial ...........................................3

Especial XII Congresso Nacional da ANAFRE

Armando Vieira ...............................4

Aníbal Cavaco Silva ........................6

Cândido Moreira ............................8

Fernando Amaral ............................9

José Augusto Tunes e Luís Ramalho .............................10

Rosa do Egipto .............................11

Órgãos Sociais 2010|2013 ............12

Pedro Silva Pereira ........................14

Reflexão e Debate .........................16

Conclusões das Moções ...............17

JF Sra. da Hora .............................18

Benéfica e Previdente....................20

CIG Protocolo CM Barcelos .................21

Protocolo CM Mangualde .............22

Seminário Mutilação Genital Feminina............................24

Soroptimist International ................26

Índice Tolerância Zero às tragédias dos rituais seculares sobre as mulheres

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1500 Congressistas no

XII Congresso Nacional da AnafreO XII Congresso Nacional da ANAFRE, realizado nos dias 22, 23 e 24 de Janeiro de 2010, em Lisboa, foi participado por 1154 Delegados e cerca de 300 Observadores Eleitos, em representação de Juntas e Assembleias das Freguesias associadas da ANAFRE. Contou com a honrosa presença do Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, do Ministro da Presidência Pedro Silva Pereira e ainda do Secretário de Estado da Administração Local, José Junqueiro. Constituiu um momento político nacional marcante, prestigiando uma das principais conquistas alcançadas com a Revolução de Abril de 1974 – o Poder Local Democrático. Os Delegados ao Congresso, representantes das Freguesias, analisaram a actividade desenvolvida pela Associação no mandato de 2006 | 2009. Sob o lema: «Mais Competências, Melhor Poder Local», o Congresso debateu, de forma muito participada, os problemas com que as Freguesias são confrontadas, apontando soluções para melhor responderem às necessidades e interesses das populações. Foram apresentadas e debatidas 13 Moções sobre diversas matérias da vida política das Freguesias. Tendo sido retirada uma delas pelo seu subscritor, o Congresso aprovou 12 moções cujos conteúdos fazem parte integrante das conclusões do XII Congresso. O evento reforçou a vitalidade deste nível do poder local, legitimando a força reivindicativa da Associação de forma a prosseguir o seu trabalho no sentido da dignificação das

Freguesias e dos seus Eleitos.

Anafre

Por Amor a Portugal!

“Distingo especialmente a presença de Sua Excelência o Senhor Presiden-te da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, a quem, nesta hora, respeitosamente, cumprimento, agradecendo ter aceitado partilhar com os Autarcas de Freguesia este acontecimento que é, para todos, de grande res-ponsabilidade; mais ainda pelo momento que passa. Honra-nos, igualmente, a presença dos Senhores Convidados, altas autoridades do Estado e da De-mocracia Portuguesa.A todos exorto para a partilha das ideias de que este encontro se reveste e nos concedam algum tempo para a percepção desta realidade nacional: AS FREGUESIAS PORTUGUESAS!Dirijo-me, também, aos Senhores Congressistas, Autarcas das Juntas e As-sembleias de Freguesia que acorreram, de todos os pontos do país, a esta magnífica cidade capital: LISBOA. São mais de 1500 os que quiseram estar connosco, nesta magna reunião das Freguesias.

Seremos capazes de, em consciente reflexão, debatermos o que nos é co-mum, partilhar o que nos enriquece, dirimir o que nos divide, delinear estra-tégias, decidir e convergir, tendo sempre presente, o interesse superior das Comunidades que servirmos, de Portugal e dos Portugueses. Falaremos do que perspectivamos para o futuro; das ideias que traçámos e do que visa-mos alcançar; dos meios e recursos para as concretizar; do reconhecimento do papel singular das Freguesias; dos princípios legais, sociais e éticos que sustentam a honorabilidade destas autarquias, base do sistema democrático; das Competências, como chave, causa, premissa, princípio, meio e legitima-ção de toda a sua actividade. A descentralização de COMPETÊNCIAS é um princípio consolidado nas nos-sas convicções, agora fortemente sustentado no estudo académico que, on-tem mesmo, foi dado à estampa, com apresentação pública na Universidade Lusíada que o implementou e desenvolveu.Os nossos agradecimentos ao Grupo de Trabalho da Universidade Lusíada, na pessoa do Senhor Professor Assis Lopes, aqui presente.Sob o título: «TRABALHO DA FREGUESIA, ANÁLISE E RESULTADO», o

Discurso de abertura do Presidente CD da ANAFRE – Armando Vieira

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Estudo registou os dados recolhidos que foram cientificamente tratados, concluindo-se que, na actividade das Freguesias, a relação custo/benefício é, de facto, imbatível perante qualquer outro nível da Administração a quem compete gerir recursos financeiros públicos. Era nossa forte convicção!É, agora, uma fundamentada certeza!Conhecedores do terreno, beneficiando da posição privilegiada que desig-namos “proximidade”, causa e razão de sucesso na relação com as popula-ções, este TRABALHO veio confirmar o tantas vezes demonstrado na prática: que as Freguesias são o garante de autênticos investimentos reprodutivos, multiplicadores de recursos; que, sem desprestígio para outras instituições de maior escala, são verdadeiramente executantes, promotoras e potenciadoras de majoração desses mesmos recursos; que o trabalho das Freguesias se inscreve numa tabela aritmética em que, em várias áreas, a relação é de um para quatro, na análise comparativa dos valores de investimento.Não é sem razão que as Freguesias, através da sua Associação Nacional, vêm de Mandato em Mandato, de Congresso em Congresso, de Plano em Plano, inscrevendo as Competências nas suas propostas, reescrevendo as Competências nas suas Conclusões, descrevendo as Competências nos seus Programas, como sua definição prioritária, como seu objectivo essencial, como sua preocupação sempre presente e sempre constante.Mas… Que poder democrático é este que minimiza as Freguesias e as obriga a esperar infinitamente?!A descentralização implica o alargamento e transmissão de competências dos níveis de poder mais elevados para os que, na construção piramidal da Administração Pública, se aproximam da base, a sustentam e equili-bram.Potenciadoras de comprovada prestação na execução e concretização do mundo das pequenas coisas, tão significativas na vida das Pessoas, as Freguesias asseguram alta cotação na bolsa da opinião pública nacional, como o Trabalho, já referido, sustentadamente comprovou.Acabámos de assistir à exibição de um documentário, necessariamente sucinto, sobre grande parte da actividade deste nível do Poder Local.Muitas mais são as tarefas por ele executadas, algumas inimagináveis para o comum dos cidadãos menos familiarizados com os problemas da sociedade.Actividades Culturais, Balcão Sénior, Banco do Tempo, Bibliotecas, Práti-cas Administrativas diversificadas, Serviço de Ambulâncias, Cantinas Es-colares, Centros de Dia, Colónias de Férias, Cooperação Transfronteiriça, Cozinhas Sociais, Refeitórios e Banco Alimentar, Serviço de Correios, Cui-dados de Saúde, Promoção de Emprego, Mercados e Feiras, Gabinetes de Inserção Profissional, Dinamização de Grupos Sénior, Infantários/ATL, Entrega de Declarações de Rendimentos, Espaços Verdes, Lavandarias e Balneários Sociais, Limpeza e Obras nas Escolas, Muros e Passeios (construção e reconstrução), Oficinas, Parques Desportivos, Pavimenta-ções, Piscinas, Praias Fluviais, Promoção Social, Recuperação de Cami-nhos, RVCC, Transporte de crianças para as Escolas, Universidades Sé-nior, Gestão de Cemitérios, Dinamização de Investimentos, etc. …Actividades desenvolvidas pelas Freguesias, cada uma segundo os seus recursos, a sua dinâmica e criatividade, face às necessidades dos seus contextos humano e geográfico.É essencialmente notável a sua intervenção no mundo do social, área para a qual estão especialmente vocacionadas e para a qual a sua intervenção é permanentemente solicitada. A conjuntura sócio/económica presente, impõe a sua valorização nesta área.As Autarquias Locais, como órgãos de poder mais próximos dos cidadãos, têm uma especial responsabilidade de, no limite das suas competências e capacidades, serem socialmente solidárias. A Freguesia, porque a mais próxima das próximas, tem-na de forma exponencialmente evidente. Diria mais: tem o dever moral de transcender aqueles limites, confrontada com a realidade crua das necessidades que observa.Como figura administrativa de base na organização político-administrativa portuguesa, legalmente estruturada e funcionalmente preenchida, tem competências próprias, previstas na lei.Quanto à área social e citando a norma legal, compete-lhe «Aprovar ou comparticipar, pelos meios adequados, no apoio a actividade de interesse da Freguesia de natureza social, cultural, desportiva, recreativa ou outra».Apesar da exiguidade das suas competências legais de carácter social, no âmbito do nosso ordenamento jurídico, elas decorrem da prática ditada por uma exigência de intervenção, qual «usos e costumes» que a necessi-dade impõe, a lei das leis consagra e o Quadro Normativo dispõe, embora

de forma incipiente e inadequada à realidade prestativa actual.Mas, se não dispõe ou se dispõe de forma tímida, também a não conde-na. E, se mais actuantes não forem, resolvendo as situações com a celeridade que se lhes reconhece, podem as Juntas de Freguesia sinalizar os casos socialmente débeis, encaminhando-os para as estruturas especializadas.Norteada pelo lema do Congresso: «MAIS COMPETÊNCIAS, Melhor Po-der Local», a temática das Competências vai merecer a nossa reflexão esclarecida.Afirmamos não reivindicar “competências pelas competências”.Queremos, tão só, desenvolver aquelas que já executamos de forma dele-gada ou contratualizada e que, comprovada e reconhecidamente, desem-penhamos com maior eficiência e eficácia.Este é - pode ser - o nosso contributo para a diminuição da despesa pú-blica, sem que se ponha em causa a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos.Só o debate sereno e objectivado nos conduzirá à avaliação e conjugação das ideias individuais num todo colectivo, à definição clara dos objectivos do debate que se identificam no espírito dos princípios legalmente con-sagrados:- A descentralização administrativa assegura a concretização do princípio da subsidiariedade.- A transferência de novas atribuições para as Freguesias exercita o prin-cípio da racionalidade e da subsidiariedade. - A contratualização de outras com os Municípios, reforça os princípios da solidariedade e da complementaridade na acção.- A descentralização de competências, directamente do Poder Central para as Freguesias, através de Protocolos, não é, já, um acto inovador e faz jus às preocupações do legislador constitucional e às orientações da Carta Europeia da Autonomia Local.Estas operações descentralizadoras não podem deixar de se articular com a redistribuição dos meios financeiros compatíveis, de forma justa e pro-porcional, sustentada na já referida ideia de que o nível da administração mais próxima dos cidadãos está melhor colocado para as prosseguir com eficácia, racionalidade e economia de meios. Ainda que o processo da Re-forma Administrativa e das Autarquias Locais venha a ser uma evidência, não podem as Freguesias continuar constrangidas na sua capacidade de ser e desenvolver tarefas, em nome duma reforma que tarda e que não se mostra fácil nem imediata. A definição de competências universais para as Freguesias. A dignificação do exercício do mandato dos titulares dos seus órgãos.O reforço das transferências financeiras através do Orçamento de Estado.São imperativos de ética no reconhecimento dos que se dão ao serviço públi-co e de justiça com retorno certo, na distribuição dos recursos. São medidas urgentes que se não compadecem com paliativos, que não po-dem esperar por discussões inconsequentes de paradigmas cujos contornos se desconhecem mas que se adivinham morosos na esperada controvérsia que desencadeiam.Para as Freguesias, o paradigma chama-se PESSOA HUMANA; constrói-se com GENTE; destina-se ao CIDADÃO; tem ROSTO; quer ser VIDA e BEM-ESTAR;Por tudo isto, não podemos continuar a esperar. Não calaremos a voz que reclama. Rejeitamos o último lugar na fila de atendimento. É urgente abrir portas, rasgar horizontes, agitar consciências, olhar a terra, ouvir o povo, estar com o povo, ser e servir o povo!Este Congresso vai contribuir, de forma irreversível, para que a sua VOZ se faça ouvir. Aqui estamos com espírito de missão. Missão que cumprimos com nobreza por um PODER LOCAL conscientemente exercido, prestativo e prestigiado.Por um MELHOR PODER LOCAL!

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Anafre

“Aceitei, com muito gosto, estar hoje presente nesta Sessão Solene

de Abertura do XII Congresso da ANAFRE, a associação que repre-

senta as freguesias do nosso país.

As Freguesias são, como todos sabemos, as autarquias que mais per-

to estão do cidadão.

Significa isto que, para vós, a realidade não se resume a estatísticas.

Para vós, o sofrimento tem um rosto e a esperança tem um olhar.

Para quantos dos presentes o nascimento de uma criança na fregue-

sia é uma alegria pessoalmente sentida? Estou convencido, até, de

que alguns conhecerão todos os eleitores pelo nome.

Quantos milhares de portugueses não terão encontrado no Presidente

da Junta de Freguesia a mão amiga e solidária de que precisaram em

momentos difíceis da vida?

Podemos então dizer que a Democracia começa na Freguesia, no

contacto quotidiano e directo do autarca com o cidadão, contacto

que encontra a sua raiz histórica numa original associação de proxi-

midade entre vizinhos.

Por isso, a freguesia é uma excelente escola de cidadania. Aí, quase

não se nota a tendência que adivinhamos na nossa sociedade para

distinguir entre “nós”, os cidadãos, e “eles”, os políticos. O autarca de

freguesia é um de “nós”, cidadãos.

Como sabeis melhor que ninguém, os autarcas de freguesia são, para

muitos, o rosto visível da Administração. E são também aqueles a

quem, em primeiro lugar, se bate à porta é se pede contas.

Mas aqueles que encontram no trabalho autárquico um modo de ser-

vir o outro retiram da sua dedicação à causa pública a alegria de poder

resolver problemas concretos de pessoas reais.

Ser autarca de freguesia é um bom tirocínio para todo o jovem portu-

guês que encara a vida pública como um serviço.

Não se julgue, porém, que o trabalho na autarquia que corresponde à

menor divisão administrativa do território é menos complexo ou pouco

exigente.

A nossa experiência do poder local em democracia tem sido muito

frutuosa. As freguesias, em particular, têm assumido funções cada

vez mais amplas, quer por consagração legal, quer por delegação do

município, quer ainda, por contratualização. E, inclusivamente, por

simples exigência dos cidadãos.

De entre os portugueses que nunca desempenharam funções autár-

quicas, poucos eram aqueles, principalmente nos grandes centros

urbanos, que têm uma noção precisa das funções que as freguesias

têm desempenhado.

Considero que as freguesias devem ser encaradas como agentes pri-

vilegiados do desenvolvimento social, da requalificação urbanística,

da defesa do ambiente e dos recursos naturais.

A sua proximidade em relação às pessoas permite-lhes promover a

coesão social de um modo muito especial: estão presentes, sobre-

tudo, nas fases de maior fragilidade, fazendo parte da vida diária de

tantas crianças e de tantos idosos, em creches e jardins-de-infância,

em lares e centros de dia.

As freguesias têm sabido, além do mais, corresponder a novos desa-

fios: por exemplo, integrando preocupações como a gestão da quali-

dade aplicada à administração autárquica, participando, à sua dimen-

são, no planeamento territorial, ou contribuindo para a aproximação

dos cidadãos às novas tecnologias de informação.

As Freguesias têm sabido

corresponder aos novos desafiosSessão Solene de Abertura,

Presidente da República

Aníbal Cavaco Silva

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Estando na presença das mulheres e dos homens que assim contri-

buem para mudar o País e para tornar melhor a vida dos Portugueses,

quero louvar, com justiça, a dedicação e o empenho com que se en-

tregam a uma verdadeira missão, tantas vezes em prejuízo das suas

actividades profissionais e, mesmo, da sua vida familiar.

As competências das autarquias são uma sempiterna questão. Sabe-

mos da consagração, aliás constitucional, do princípio da subsidia-

riedade. Defendemos que aquilo que um ente menor pode fazer não

deve ser atribuição de um ente maior. Sendo que aquele a quem é

entregue a competência deve dispor dos meios para a exercer.

Está pois estabelecido, no plano dos princípios, que a cada nível da

administração pública deve caber aquilo que aí se pode realizar com

mais eficiência. Mais árdua é a questão de apurar, em concreto, da

aplicação do princípio.

Por isso, saúdo com especial ênfase a iniciativa da ANAFRE de avaliar

a qualidade dos serviços que os seus associados prestam a cidadãos,

empresas e instituições, através de um estudo de que já pude tomar

conhecimento.

No nosso país, discutimos com frequência a atribuição de compe-

tências e os financiamentos que lhes devem ser associados. Quantas

vezes o fazemos, porém, sem antes proceder a uma análise cuidada,

designadamente da relação custo/benefício que deve informar qual-

quer medida de fundo.

As decisões têm de ser pensadas. As mudanças legislativas devem

ser maduramente ponderadas. E quando se reflecte, quando se es-

tuda cientificamente e, por fim, se apresentam resultados credíveis,

estes não deverão ser ignorados.

Sobretudo no momento histórico que vivemos, espera-se dos respon-

sáveis do poder político um especial cuidado na utilização dos meios

e recursos de que dispomos.

Teremos de ir ao ponto de perguntar: um euro aplicado neste nível de

administração quanto rende? E quanto renderá aplicado além?

Não será esse, por certo, o critério exclusivo a ter conta quando se

toma uma decisão. Mas aquelas perguntas terão de ser formuladas. E

devidamente respondidas.

O cometimento legal de novas competências, de modo uniforme, a

todas as freguesias é, porém, questão que necessita de um aprofun-

damento específico. Verificamos, desde logo, que a realidade é mui-

tíssimo variada.

Temos freguesias urbanas, semi-urbanas e rurais. Temos grandes fre-

guesias rurais, maiores do que alguns concelhos. E pequeníssimas

freguesias urbanas. As características sociais e económicas de cada

unidade territorial são profundamente díspares. Temos, por exemplo,

graves problemas de despovoamento, quer nas zonas rurais, quer no

centro de grandes cidades. Mas também encontramos, sobretudo no

litoral, freguesias muito densamente povoadas.

Há freguesias com poucas dezenas de habitantes mas já a maior, no

concelho de Sintra, tem mais de cem mil pessoas. Não estaremos,

seguramente, a falar de realidades comparáveis.

Perante tal diversidade, terá de se avaliar com cuidado qual o caminho

mais favorável para realizar o interesse nacional e local: se o da consa-

gração legal de novas competências, se o de continuar a permitir que

essa avaliação seja feita e negociada localmente.

Uma coisa é certa: às freguesias tem sido facultado o exercício de um

número acrescido de funções por via da delegação e da contratuali-

zação. Essa situação decerto que se fica a dever ao facto de se ter

concluído, ao nível local, que a freguesia é o patamar mais adequado,

ou seja, mais rentável para o desempenho dessas funções, assim se

comprovando a existência de uma capacidade de parceria com os

municípios para melhor servir a comunidade.

Estou seguro de que, quando se discutir uma reforma do sistema de

repartição de competências entre os diversos níveis da administração

pública, as freguesias não deixarão de ser ouvidas e, por elas, a voz

abalizada da ANAFRE.

Senhoras e Senhores,

As associações existem para a associar, isto é, para agregar múltiplas

vontades numa única força. Quanto mais unidos fordes, mais fortes

sereis. Não posso deixar de acrescentar que a vossa voz será es-

cutada ainda com maior atenção por todo o País e junto de todas

as entidades se, daqui mesmo, desta sala e destes delegados, partir

a iniciativa de uma reflexão séria sobre a questão da dimensão das

freguesias e, porventura, sobre a conveniência do seu redimensiona-

mento e da sua reorganização territorial. Ao que acrescentaria, ainda,

uma reflexão fundamentada sobre o papel e a conveniência das asso-

ciações de freguesias.

Felicito a ANAFRE pelo seu XII Congresso, revelador da vitalidade do

movimento autárquico e do poder local em Portugal, o que é bem

vincado pela presença, em tão grande número, de representantes das

freguesias de todo o País. Formulo votos de que os vossos trabalhos

tenham o desejado e merecido sucesso.

São ainda recentes as últimas eleições autárquicas, em que os Portu-

gueses, livremente, expressavam a sua confiança em cada um de vós.

Estou certo de que o vosso desempenho é da maior importância para

o bem-estar das pessoas de cada uma das vossas freguesias.

No início deste ano de 2010, desejo a cada um de vós e às popula-

ções que representais as maiores felicidades.”

Anafre

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Anafre

Na sua opinião qual o ponto alto deste XII Congresso?

O ponto mais alto do XII Congresso é sempre o debate dos congres-sistas e as votações das moções. No entanto, considero de extrema relevância a presença do Sr. Presidente da República neste Congres-so. Gostei imenso do seu discurso, cuja intervenção foi no sentido de dar visibilidade às preocupações das freguesias. Acredito que nada ficará na mesma depois desta sua intervenção alinhada em certa me-dida com as preocupações da ANAFRE. Estes foram de facto, na mi-nha opinião, os dois grandes momentos do Congresso.

Como se encontra neste momento a Freguesia de Padronelo da

qual é presidente de Assembleia?

É uma freguesia semi-urbana, pois encontra-se junto ao grande centro urbano do concelho de Amarante. Esta é uma pequena freguesia com

as dinâmicas próprias que as freguesias têm junto aos centros urba-nos, onde se apresenta um variado conjunto de serviços prestados à população.

As Freguesias sempre foram consideradas por excelência como o

lugar da democracia. Acha que o deixaram de ser ou esse objecti-

vo está cada vez mais distante?

Freguesia – lugar da democracia, foi o lema do nosso último congres-so. Evidentemente que os temas e os lemas são sempre linhas fortes

e elementos agregadores de discussão em que os congressistas de-vem concentrar as suas preocupações. Naquele momento pretendia-se dar mais visibilidade ao espaço de boas práticas de democracia

que é a freguesia. Que os senhores congressistas demonstrassem as

suas preocupações e os seus pensamentos em torno de um valor fundamental de vivencia em sociedade. Neste momento continua a ser um propósito dos autarcas mas, não esquecendo aquele referen-te, pretende-se mais uma vez dar visibilidade às questões dos meios para lá chegar – mais competências e meios financeiros.

Neste Congresso reclamam-se mais competências, mais pode-

res, estas ideias acabam por estar subjacentes a todos os con-

gressos que ficaram para trás, não vai acabar por cansar quem

está nesta luta?

Estas questões são recorrentes. Novas competências para as fregue-

sias. Duma forma ou doutra, o tema tem feito parte das discussões em congressos. Convenhamos que há um ditado popular que diz: “água

mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Essa a razão da per-sistência das freguesias falar sobre o tema, tentando demonstrar que, com mais competências é possível um melhor poder local.

O tamanho das freguesias foi um dos temas do debate. A extinção

de algumas delas seria uma via?

A ANAFRE defende que, enquanto houver um cidadão em determi-nado local, não se deve extinguir o órgão administrativo. Ou seja, não deve ser extinta a organização ou a extensão do poder, naquele local. Não é importante saber, agora, se o órgão de poder vai ser tal qual hoje se conhece, ou outro. Acho que poderemos evoluir. Agora há

uma questão que a ANAFRE tem bem presente que é a seguinte: en-quanto houver gente numa terra, numa localidade, essas pessoas não

devem ser abandonadas. Entendemos ainda que, por essa via e com políticas diferentes é possível contrariar a desertificação. Naturalmen-te que essas políticas não dependem directamente da ANAFRE. Pes-soalmente, considero que só será possível contrariar a desertificação

através do desenvolvimento da agricultura e da floresta. Só é possível

que as pessoas se fixem no interior se tiverem bens económicos de

subsistência no local. Só é possível que as pessoas se fixem numa

terra se tiverem um espaço onde possam viver com dignidade. Muito tem sido feito no desenvolvimento de meios de comunicação. Falta o outro passo: políticas integradas de atracção para o retorno à terra.

Para quando a Associação Nacional de Freguesias com todas as

juntas existentes no país representadas?

Essa é uma vontade que não depende de nós. Depende mais da cons-ciencialização política e sentido solidário dos autarcas.

Que conclusões se poderão extrair deste congresso?

Este foi um dos melhores congressos a que assisti nos últimos tem-pos. Ao nível da discussão e apresentação de moções e ao nível dos meios e de organização. A adesão foi excelente e, do ponto de vista político correu optimamente com a intervenção do senhor Presidente

da República e com aprovação das conclusões que nortearão a acção política da Anafre a partir de amanhã. Para os órgãos sociais da ANA-FRE existirá apenas uma lista conjunta de todos os partidos. Houve

muito esforço por parte dos partidos para abdicar de algumas ques-tões que nos dividiam. Valorizou-se a unidade em torno das freguesias e dos seus problemas em detrimento de questões programáticas ou

pessoais. Quando assim é o País sai a ganhar.

Cândido Moreira – Vice-Presidente

do Conselho Directivo da ANAFRE

Presidente da Assembleia de Freguesia de Padronelo

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Anafre

O Presidente constituiu a mesa do congresso, como foi a

perspectiva do ‘palco’ para a ‘plateia’?

Foi um congresso bastante participado em que se debateram problemas com que a sociedade, neste caso, os autarcas de freguesia vivem. São problemas difíceis que carecem de soluções que não são fáceis de encontrar, as freguesias são bastante heterogéneas e debatemos neste congresso os problemas diferenciais de cada uma delas. As moções apresentadas trataram as disparidades entre freguesias rurais e urbanas e, prevemos reunir esforços para reduzir essas assimetrias. Necessariamente não vão ser encontradas já as respostas, isto obriga a uma profunda remodelação da lei autárquica, mas enquanto isto não acontece, há que “remediar” estas situações.

Mas julga que a extinção ou a agregação das mais pequenas

numa só serão vias plausíveis?

Mais cedo ou mais tarde vai trilhar-se esse rumo, justamente com os cuidados necessários porque não se pode fechar as juntas de freguesia pois são elas as que estão mais juntas da população. Enquanto não existirem soluções que venham de encontro às necessidades das populações, há que manter todas as juntas de freguesia. Todas elas sã necessárias.

Na Moção 3, Campanhã junta-se a Rio Tinto e Baguim do Monte

reclamando mais autonomia financeira, para quando isso será

uma realidade?

Com a alteração que houve no ano transacto, ao não estarem contempladas nas verbas os presidentes de junta e, já que os problemas que as juntas têm financeiramente são muito grandes

porque cada vez elas têm que ter em conta os problemas sociais que este país atravessa, e há freguesias mais críticas neste acervo, tem que haver verbas que venham ao encontro dessas mesmas necessidades. Parece-me que a Assembleia da República tem que verificar se essa necessidade se resolve melhor através da junta de

freguesia de uma forma que é mais económica e que financeiramente

traz menos encargos e que de alguma forma vai colmatar problemas que mais cedo ou mais tarde a sociedade tem que enfrentar e, se as juntas não fizerem, a violência poderia vir a ser uma consequência o

que seria muito mau para o país. Os autarcas quando são eleitos sabem os problemas que enfrentam, mas têm que ser ajudados porque ninguém está incólume numa situação de crise, há que criar formas de ajudar as populações e se existirem menos verbas, o investimento na actividade social, cultural, desportiva vai diminuir. Portanto, tudo isto tem que estar integrado e tem que haver dinheiro para responder a essas situações.

Neste congresso exigem-se mais competências para um melhor

poder local, tema que está sempre subjacente aos trabalhos

da ANAFRE. Na sua opinião estas reivindicações algum dia irão

cansar?

Não. A ANAFRE já tem muitos anos de existência. E tem vindo a ganhar no sentido de criar melhores condições para os autarcas e populações. O país atravessa um momento difícil, mas considero que a associação trabalhará sempre com esses fins. Este Congresso

é exactamente isso, com a nova lei vai haver uma vaga nova e é importante que estes autarcas que deixam dentro de 3, 4 anos a vida autárquica criem as bases de sustentação para que os autarcas vindouros tenham condições para melhor servirem as populações.

A participação na sessão de abertura do Presidente da República,

a apresentação das Moções, com o debate e reflexão e por fim,

a eleição dos novos órgãos sociais. Que conclusões se podem

aferir deste XII Congresso?

A eleição dos novos órgãos é extremamente importante. Penso que

com a boa vontade dos elementos dos órgãos directivos muito fará pelos órgãos autárquicos e pelas juntas de freguesia. O Presidente Armando Vieira juntamente com toda a sua equipa conseguirá junto do Governo e da Assembleia da República encontrar uma solução que venham de encontro às expectativas que os autarcas de freguesia têm.Estes são sempre congressos electivos. Para os novos dirigentes, é de salutar a participação de muita juventude e face à nova lei da paridade, muitas mulheres também estiveram presentes e a sua intervenção é fundamental nos problemas da sociedade. Faço um apelo a todas as juntas de freguesia que ainda não são associadas para que se associem porque é importante todos trabalharmos para que a associação tenha força suficiente e, quanto

maior o número de associados, naturalmente que melhor será a qualidade, a responsabilidade e a força que uma associação tem que ter. Todos temos responsabilidades e estamos aqui para defender os interesses dos autarcas de freguesia.

Para quando o pleno das mais de quatro mil Juntas de Freguesia,

juntas, passe o pleonasmo, na Associação Nacional de

Freguesias?

É muito difícil.

E Campanhã como se encontra por esta altura? A parte Oriental

da cidade Invicta continua esquecida?

Campanhã à semelhança de toda a cidade do Porto é uma freguesia heterogénea. Aliás, com o investimento feito por altura do Euro 2004, que proporcionou zonas novas com também novas aberturas, ficamos com equipamentos efectivamente de grande valor. Contudo,

ainda temos uma zona rural e muitos bairros sociais com todos os problemas que isso acarreta. Mas estamos a fazer face a isso com a criação de um projecto que incide sobre os bairros críticos. Esperamos que a Câmara Municipal do Porto nos ajude, porque está previsto um investimento forte para aquela área.

Sendo o último mandato de Rui Rio será que Campanhã está na

lista de prioridades?

Acho que sim. A própria câmara terá o bom senso de perceber que quanto melhor for a situação da zona oriental do Porto, melhor será o concelho e o Porto só ganhará com isso.

Fernando Amaral, membro da mesa do Conselho Geral da Anafre

e Presidente da JF Campanhã

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Anafre

José Augusto Vilela Tunes, membro do

Conselho Geral da Anafre e Presidente

da JF Custóias

Um balanço a este congresso, não só ao nível da participação da

Junta de Freguesia de Custóias, a qual representa, mas também dos

demais intervenientes durante estes 3 dias?

O balanço é positivo. Primeiro porque teve uma grande adesão por parte dos presidentes de junta, como se pode constatar pela sala que esteve sempre cheia. Já assisti a vários Congressos da ANAFRE e este está a ser muito participado, o que quer dizer que cada vez mais os presidentes de junta estão muito mais abertos e com o espírito muito mais aberto para participar dos problemas que a ANAFRE vai colocando e vai tendo, dado que reivindicam aqui novas e melhores competências, o que quer dizer que os presidentes de junta querem ter mais competências, querem servir as populações cada vez mais e melhor. Por isso, este congresso foi tão vivo na discussão.

E que mais competências reivindica para Custóias?

Particularmente, para Custóias não peço mais nenhuma, porque tenho a felicidade de estar num concelho em que o presidente da câmara, há 16 anos foi pioneiro e autor da ideia das delegações de competências que ainda hoje está em vigor em todo o concelho de Matosinhos. E, portanto, todos os presidentes de junta não têm razão de queixa nesta questão, porque aquilo que queremos ter do Governo directamente são precisa-mente as competências que o presidente da câmara de Matosinhos nos delega. Logo, o concelho de Matosinhos, daquilo que conheço, não rei-vindica mais competências.

De todo este Congresso qual foi o momento alto, o próprio debate

ou a presença do Presidente da República?

A presença do Presidente da República, que é o mais alto representante do Estado. A sua presença acabou por valorizar o próprio Congresso. Ouvir a sua intervenção foi reforçar a importância que os presidentes da junta têm hoje no Estado português. Ter estado aqui foi importantíssimo.

A participação nestas iniciativas da ANAFRE é importante para a ele-

vação do poder local?

Estou no meu último mandato por isso vou apenas participar em mais um congresso dentro de 2 anos, mas vou continuar a acompanhar a evolução da ANAFRE, pois quando ela foi criada eu já fazia parte da fre-guesia, embora não fosse ainda presidente de junta. Tenho assistido ao caminho que ela tem percorrido, como é vulgo dizer tem feito “o cami-nho caminhando”. E acho que é uma associação de futuro, que cada vez vai ser mais influente no poder local e os próprios presidentes das

câmaras, representada pela Associação Nacional de Municípios Portu-gueses (ANMP), que na minha opinião é a principal barreira para que as competências sejam delegadas nas juntas. Não é do Governo que vem o impedimento, é da ANMP que não quer perder as competências para poder manipular melhor ou tentar manipular as vontades dos presidentes de junta, daí essas competências não serem delegadas.

Luís Ramalho – JF Ermesinde

Com que problemas se debate neste momento a Freguesia de

Ermesinde?

Precisávamos melhorar as acessibilidades. Temos a grande vantagem que acaba por ser uma desvantagem, que é a proximidade à cidade do Porto, o que faz com que a população de Ermesinde trabalhe na ci-dade do Porto. Logo, de manhã e à noite, as vias disponíveis não são capazes de escoar o trânsito de forma eficaz, e importa arrancar com

a obra de alargamento da A4 e também de melhorar o escoamento da auto-estrada, permitindo assim uma maior fluidez do trânsito.

Ermesinde está a sofrer muito neste momento com o flagelo do de-semprego. Sendo uma freguesia muito urbana, sobrevive muito com os serviços, assim há uma maior despesa do pessoal, porque não significam mão-de-obra, não produzem e isso faz com que a taxa de

desemprego suba drasticamente e haja uma carência social muito maior. A nossa aposta é também na área social, temos um gabine-te de atendimento social disponível à população que funciona até às 20h, uma vez por semana, permitindo assim a quem trabalha, que são os pobres invisíveis, não tenham que faltar ao emprego para poder re-correr aos nossos serviços. O banco do tempo é um bom exemplo de uma troca directa ou indirecta de serviços que pode muita das vezes minimizar os encargos familiares.

O que destaca deste Congresso, os debates, a presença do Sr.

Presidente da República, do Ministro da Presidência…?

A presença do Presidente da República é meramente simbólica, veio para fazer a sessão de abertura e, Pedro Silva Pereira veio fazer a sessão de encerramento. Mas no dia em que se realiza a reflexão e o

debate dos reais problemas, não vemos cá ninguém. Ou seja, no mo-mento em que as freguesias espelham as suas dificuldades e mostram

as suas fragilidades não temos cá ninguém com poder de decisão para que possa ajudar a encontrar uma solução. Há uma grande difi-culdade que temos que vencer, e que referi na minha intervenção, que é termos que deixar de ser o parente pobre ou o político de segunda. É importante cá estar para aprender com os colegas, ouvir as res-pectivas dificuldades e trocar experiências para assim melhorarmos a

forma de governar a nossa freguesia.

Não tendo mais competências considera que eventualmente as

juntas correm o risco de algum dia fechar a porta? Poderá che-

gar-se a esse extremo?

A lei é muito clara. As juntas de freguesia têm competências em inú-meras áreas, ou seja, em quase tudo. O único senão é o facto de o financiamento não ser suficiente para que possamos trabalhar todas

essas áreas. Compete-nos também arranjar formas de financiamen-to alternativos, financiamento próprio, revendo as taxas porque au-mentar as taxas não é nenhum crime desde que a população sinta o retorno. Aumentar por aumentar não é metodologia. Tenciono aplicar o dinheiro que arrecado da forma mais eficaz, fazendo de Ermesinde

uma cidade melhor.

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Anafre

Que balanço pode ser feito deste Congresso?O balanço é positivo. Tivemos uma cerimónia da sessão solene de abertura do Congresso que considero de grande significado. Os con-gressistas corresponderam com a sua presença, a sala estava cheia. E portanto, a presença do presidente da república acho que é para o Congresso da ANAFRE, o momento mais marcante. Para além da ses-são solene de abertura, os delegados debateram os problemas reais das freguesias, uns de uma forma mais abrangente, outros localizando mais a sua freguesia, mas no fundo todos sabemos as reais dificulda-des das freguesias, anseios e aspirações dos presidentes de junta, no sentido de levarem a bom porto os seus planos de actividades. É isto que está em debate e espero que este documento seja votado maio-ritariamente, para que se sinta de nossa parte a vontade de união das freguesias portuguesas, no sentido de termos como o próprio lema do Congresso, melhores competências e melhor poder local é isso que pretendemos, não só reivindicar por reivindicar, mas sim termos meios enquanto autarcas de freguesia de cumprir com aquilo que são as nossas promessas junto de quem nos elegeu e melhorar a qualidade de vida das populações onde exercemos o nosso mandato.

É pena que a ANAFRE não consiga reunir todas as freguesias do nosso País?É evidente que sim. A ANAFRE é uma associação ainda jovem, o es-forço tem sido feito, pois tem cerca de 57 por cento de freguesias inscritas, o que representa um salto qualitativo bastante importante, agora reconhecemos também que há freguesias que têm dificuldades

financeiras nos seus orçamentos, para que possam de alguma forma

pagar a cotização que está estipulada nos estatutos da ANAFRE, e há, de facto, outras que não sentem vontade de se associarem. Lamento que assim seja, era para nós importante que a ANAFRE tivesse no seu seio todas as freguesias inscritas, daríamos um sinal de grande vitalidade e grande força, mas reconheço que mesmo assim, quase 60 por cento das freguesias é um número considerável, para aquilo que é a vida da Associação.

Ao nível das competências, que tanto são reclamadas neste Con-gresso, acha que as juntas correrão o risco de fechar a porta?Essa questão nunca se pôs. Temos por vezes algum desânimo e algum desalento, neste congresso tivemos a oportunidade de ouvir várias vozes mais derrotistas, mas no fundo a maior parte das com-petências a que apelamos, são competências que já exercemos de forma abnegada e sendo assim, a questão que se tem posto não só neste congresso, como nos anteriores, é porque essas competências abnegadas, não passam a ser competências próprias das freguesias e competências universais. Entendo que o nosso maior “inimigo” ou o nosso concorrente mais sério, não seja o poder central e legislativo, não seja o Governo ou a Assembleia da República, mas talvez as câ-maras municipais. É evidente que se as câmaras delegassem compe-tências nas juntas ficariam desprovidas de alguns meios financeiros,

não fazia sentido transferir para as câmaras, verbas, que as câmaras não iriam exercer. Portanto, esta é uma questão de fundo, mas tam-bém não exigimos mais competências por exigir, fazemo-lo porque os autarcas de freguesia por muito que se possa dizer o contrário, ainda são os que estão mais próximos das populações, são aqueles que

conhecem os seus reais problemas e os que de uma forma mais céle-re e exigente poderão dar resposta a esses anseios das populações. E, enquanto o poder estiver centralizado, e estivermos à espera das boas simpatias do presidente de câmara, e sabemos que em alguns concelhos essa simpatia é inexistente, logo, quem realmente sai a per-der nessa luta são as populações. Portanto, o lema que nos anima é termos mais competências, melhor poder local, meios e recursos para servir as populações e não para servir os autarcas de freguesia.

Acabamos por ter Norte e Sul, Interior e Litoral, Ilhas e estão to-dos representados no Congresso, acha que cada vez faz mais sentido uma regionalização, uma reforma administrativa?Somos um país pequeno com todas essas especificidades. Defendo

uma reforma administrativa e também a regionalização. É algo que tem que vir para a agenda política, porque como o país está dividido administrativamente acho que é difícil o progresso. E no processo de regionalização, a questão tem que ser debatida. Esta reorganização é um imperativo urgente mas, tudo depende da vontade política.

José Manuel Rosa do Egipto – Presidente da Mesa do XII Congresso da ANAFRE

Presidente da Mesa do Conselho Fiscal

JF Santa Maria dos Olivais

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Órgãos Sociais da ANAFRE – Mandato 2010/2013

Membros do Conselho DirectivoNome Freguesia

1 Armando Manuel Dinis Vieira Oliveirinha2 Joaquim Cândido Leite Moreira Padronelo3 Paulo Alexandre da Silva Quaresma Carnide4 Maria Elisabete Ferreira Correia Matos Torgueda5 Maria Irene dos Santos Lopes Santa Catarina6 Fernando Lopes Vieira Mafamude7 Manuel António Gomes Pinto Arentim8 Maria de Lurdes de Jesus Pinheiro Santo Estêvão9 Nelson Pinto Antunes São Sebastião da

Pedreira10 José Francisco dos Santos Montijo11 João José da Costa Pires São José de São

Lázaro12 Jorge Manuel Lebre da Costa Veloso Ribeira de Frades13 Francisco Manuel Firmino de Jesus Castelo14 José Maria Gaspar Barroca Taveiro15 José Gabriel Pimentel da Silva Nossa Senhora da

Conceição16 Jorge Simplício Pereira Pestana Imaculado Coração

de Maria17 Jorge Manuel Vieira Neves Castelo Branco18 António Joaquim da Silva Danado Nossa Senhora

da Vila19 Luís Félix Castelhano Benedita20 Joaquim Eduardo Gonçalves Teixeira Sé21 Rui Pedro Miranda Pinto Mira Sintra

Suplentes1 Manuel Malícia da Trindade Fundão2 Inês de Drumond Ludovice Mendes Gomes Benfica

3 Mara Andreia Gonçalves Figueiredo Laranjeiro4 Paulo Jorge Almendra Xavier Sé5 Vítor Manuel Gonçalves Arcos Aldoar6 Palmira Manuela Valverde Guerreiro Vila Verde de

Ficalho7 Manuel António Botelho Soares Rosto do Cão

(Livramento)

Membros do Conselho FiscalNome Freguesia

1 Manuel Nobre Rodrigues Rosa Ervidel2 Manuel dos Santos do Cabo Algueirão – M.

Martins3 António Toledo Alves Posto Santo4 Joaquim dos Santos Viana Lomba5 Marco André dos Santos Martins Lopes Rio Tinto

Suplentes1 Manuel Joaquim Fernandes Lagarto Pinhal Novo2 Cecília Bela de Oliveira Costa Santos São Pedro da

Cova3 Américo Paulo da Silva Ribeiro Capelos

Membros da Mesa do Conselho GeralNome Freguesia

1 José Manuel Rosa do Egipto Santa Maria dos

Olivais2 Vasco da Cruz Antunes de Oliveira Nossa Senhora do

Pópulo3 João Manuel Horta Rodrigues Torre de Coelheiros4 José Fernando Machado dos Santos

Amaral

Campanhã

5 Laura Maria Santos Sousa Esperança Leiria6 Francisco Marques de Oliveira Lamas7 António José Pinho Gaspar Neves Costa da Caparica

Suplentes1 Fernando Jorge Amoreiras Fernandes Charneca da

Caparica2 Maria Albertina de Carvalho Simões Ferreira Ameixoeira3 Salomé Gonçalves Vieira Pernes

Anafre

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Anafre

Membros do Conselho Geral

Nome Freguesia1 Maria de Fátima Vieira Cristelo Campos Monte Abraão2 João Luís de Mariz Rozeira Nevogilde3 António Eduardo Guerreiro da Silva Colos4 Firmino José Rodrigues Marques São Victor5 Fernanda Nunes de Oliveira Gaspar Alhos Vedros6 Maria Romana Alves Cunha Esgueira7 Paulo Manuel Bernardes Moreira São Mamede8 Alberto Francisco Bento Mercês9 Manuel Joaquim Baptista Cardoso Gião10 Daniel Filipe Oliveira Vieira São Pedro da Cova11 Ana Paula Laureano Noivo Mira de Aire12 Jorge Manuel de Sousa Mota Abraveses13 Ana Maria Chapeleira F. Figueiredo Santos Portimão14 Maria Madalena Lança Marques Alcaria Ruiva15 Jorge Manuel Esteves de Oliveira Novo Santa Maria16 João Luís Costa Nunes Loures17 Fátima Fernanda Silva Borges Pimentel

MoreiraSão Sebastião

18 João Albertino da Rocha Fernandes São Dinis19 José António Marques Antunes Alto do Seixalinho20 João José Pimenta de Sousa São Martinho21 Armando José Ribeiro da Cunha Sátão22 Teresa Maria Ferreira dos Reis Martins São João Baptista23 Joaquim Gonçalves Banha Santana do Mato24 Jorge Espírito Santo Mendes Ameal25 Rui Fernando Moreira Magalhães Mirandela26 Arménio Manuel Nabo Ferraz Brasfemes27 Luís Barroso Batista Rio Torto28 Fernando Serrelha Carita Marquês Espírito Santo29 Luís Alberto Ferreira Couço30 Eduardo Alexandre Ribeiro Gonçalves Darque31 José Augusto Vilela Tunes Custóias32 Artur Jorge de Almeida da Cunha Ferreira Trouxemil33 Pedro Filipe Figueira Machado Ruas Azinheira de Barros34 João José Pina Prata São Miguel da

Guarda35 Rui Manuel Martins Torres Espinho36 Pedro Manuel Marques Margarido Lourinhã37 Armindo Pires Fernando Caneças38 José Mário Ribeiro da Silva Fafe39 José Fernando Carmo Ferreira Nandufe40 Elisabete Frade Lopes Viana Arão41 Baltazar João Avó Damas Horta das Figueiras42 Manuel Faria Oliveira Paradela43 Avelino Perestrelo da Conceição Água de Pena44 José Manuel Machado de Magalhães Carcavelos45 Manuel João Vicente da Silva Vendas Novas46 João Paulo Gonçalves Pinto Paião47 Maria José Dinis Pereira Alvo de Marquez

FilipeBenedita

48 Jorge Alberto Matos Leal Roriz48 Arlindo José Paulino de Passos Santa Maria do

Castelo50 Manuel Higino de Sousa Teles Câmara de Lobos51 Joaquim Aniceto Bernardes Martins Lara Campos52 Ricardo Luís Morais Rodrigues Torre de Vilela53 Sérgio Francisco dos Santos Baptista Seixezelo54 Henrique Ferreira dos Reis Chancelaria55 Luís Alberto Bandarra dos Reis Odiáxere56 Indaleta Maria Ribeiro da Ponte Cabrita Olhos de água57 Marco paulo Sanches Marques Orca58 Jorge Manuel da Conceição Nunes Alfornelos59 José Costa Melo Relva60 José Gabriel Rodrigues Opanashchuk

Lourenço Vila Nova de Milfontes

Suplentes1 José Gonçalves de Araújo Silva Alvito (São Pedro)2 José Fernando Conceição Ferreira Crestuma3 Eduardo Manuel Brito Rosa Corroios4 Ângelo Miguel dos Santos Nobre Conceição5 Francisco José Barata Gonçalves Ameixoeira6 Ernesto Adriano Ferrão da Costa Santa Iria de Azóia7 João Manuel Silveira Bettencourt Conceição8 Emanuel Ricardo Franco Sousa Machico9 Ângela Maria Jesus Matias Santo André10 José António Teles Chaves Lousã11 Mauro Daniel Rodrigues Carpinteiro Lorvão12 Carlos Alberto Miranda de Oliveira Polvoreira13 José Augusto Gomes Silva Simão Santa Clara14 Jorge Nuno Vieira da Silva Ribeiro Póvoa de Santa Iria15 João Manuel Gomes Mendonça Carvalhal16 Jorge Martins Cortes Borlinhas Alcórrego17 Maria de Lourdes Firmino Piriquito Aveiras de Baixo18 Manuel José Matos Cortês Sobral

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“Começo por agradecer, em nome do Governo, o honroso convite

para estar presente na Sessão de Encerramento do XII Congresso

da ANAFRE. Faço-o em representação do Senhor Primeiro-Ministro e

do Governo mas, igualmente, como Ministro, agora, responsável pela

área das autarquias locais – tarefa em que conto, como todos sabem,

com a colaboração conhecedora e atenta do Senhor Secretário de

Estado da Administração Local, que me acompanha nesta Sessão e

que teve oportunidade de representar o Governo também na Sessão

de Abertura deste Congresso.

Mas estou aqui, sobretudo, com a satisfação de quem aprecia e reco-

nhece o contributo decisivo dos muitos milhares de autarcas das nos-

sas freguesias para o desenvolvimento do País e para a consolidação

e o fortalecimento da nossa democracia, ao serviço das populações.

As freguesias são um elemento singular, que marca o quadro da nossa

organização político-administrativa e que nos distingue profundamen-

te da realidade dos 8 mil municípios espanhóis ou das 36 mil comunas

francesas. O nosso modelo – com os seus 308 municípios e 4259 fre-

guesias - contém, em si mesmo, uma complexidade de estruturação

que visa responder de modo diferenciado aos diferentes desafios e às diferentes tarefas que estão cometidas ao poder local.

A experiência confirma, sem dúvida alguma, que as freguesias são um factor de mais-valia do poder local democrático. Se em demo-

cracia todos podem aspirar ao exercício de qualquer função pública, as freguesias permitem essa experiência em termos absolutamente

ímpares. Hoje, cerca de 35 mil portugueses exercem funções nas mais

de 4 mil Assembleias de Freguesia; e mais de 10 mil prestam servi-

ço público nos executivos das respectivas Juntas. Estamos a falar, portanto, de quase 45 mil pessoas. Em 30 anos, esta experiência de

participação permitiu a meio milhão de portugueses exercer funções

políticas locais, com base na confiança democrática e sujeitos a ava-

liação através do voto popular no final dos seus mandatos. Esta é, de facto, uma realidade inigualável, que desempenha um papel crucial

no funcionamento da nossa democracia – mas também na pedagogia

cívica e democrática que lhe está associada.

Por outro lado, enquanto nível de poder político mais próximo dos

cidadãos e dos seus problemas, as freguesias proporcionam o ter-

reno mais favorável para que possamos enfrentar com êxito o sério

problema do divórcio entre os cidadãos e o poder político, que hoje

atravessa as democracias modernas.

Devemos, por isso, reconhecer e valorizar o papel das freguesias na

nossa democracia e na prestação do serviço público à escala local – e

é partindo daí que devemos analisar o seu presente e equacionar o

seu futuro.

Senhor Presidente, caros Autarcas

Este Congresso foi, sem dúvida, um momento de grande afirmação para as freguesias e para a Associação que as representa. Um espaço

de debate, de confronto de opiniões e de livre expressão de expecta-

tivas, ao serviço das populações e do reforço do poder local.

O Governo, pela sua parte, não quer deixar de trazer a este Congresso

uma reflexão sobre alguns dos desafios que se colocam às Freguesias no momento presente.

Em primeiro lugar, a questão central deste Congresso: a questão da

descentralização de competências. Esse é um processo em curso,

em particular no que se refere aos municípios – e passos significativos foram finalmente dados em áreas-chave, como é o caso da educação. Mas o entendimento do Governo é que este processo de descentrali-

zação não deve ficar só pelos municípios. É importante que a descen-

tralização chegue também às freguesias. Por isso, o Programa do Governo, e a sua proposta de Grandes Op-

ções do Plano, preconizam a revisão do estatuto e, sobretudo, a con-

solidação das novas competências das freguesias, com especial des-

taque para as áreas sociais e para a gestão do espaço público, hoje asseguradas de forma precária por muitas freguesias, em resultado de

processos de delegação municipal.

É verdade que a dimensão das freguesias, as implicações da sua in-

serção geográfica, as necessidades locais, a sua própria capacidade de resposta é muito diferenciada - e tudo isso, sem dúvida, deve ser considerado. Mas também é preciso enfrentar o problema do desajus-

tamento entre processos precários – mas intensos e recorrentes - de

transferência efectiva de competências e responsabilidades, enquan-

to se mantêm insuficiências estruturais de meios e de capacidade de resposta, que se vão justificando com essa precariedade da transfe-

rência de competências, num ciclo vicioso que parece não ter fim. A consolidação desses processos de delegação de competências é, por

isso, uma condição necessária para que se verifique e se garanta o reforço das estruturas das freguesias, de modo a estarem à altura das novas responsabilidades que lhes são confiadas.Por outro lado, o Governo preconiza, também, a criação, com a ne-

cessária prudência, de um quadro de competências adequado às di-ferentes especificidades próprias das freguesias urbanas, rurais e em zonas de baixa densidade, orientado para promover a sua vocação de

pólos de prestação de serviços de apoio às populações. Esta é, sem

XII Congresso: momento de grande afirmação para as Freguesias e para a Associação que as representa

Anafre

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Anafre

dúvida, uma tarefa de grande complexidade, que exige uma profunda reflexão e uma avaliação concreta do custo-benefício das decisões que venham a ser tomadas.

Mas este é o ponto de partida do XVIII Governo Constitucional, que

há poucos meses iniciou funções. É esta a nossa intenção, a nossa vontade política para uma descentralização mais efectiva, que reforce

efectivamente o papel das freguesias, ao serviço das populações.

E que ninguém se engane. Este é um tema controverso. E nessa

controvérsia, há aqueles que vêm a esta discussão para pôr água na

fervura e para moderar ímpetos e vontades; e há aqueles, como o

Governo, que estão do lado das freguesias na manifestação de uma

clara vontade política em favor de uma efectiva descentralização de

competências. Mas quero deixar claro que o Governo pretende que

este processo seja desenvolvido conjuntamente, em diálogo e parce-

ria, com a participação activa dos municípios e das freguesias, através

das suas associações representativas – a ANMP e a ANAFRE. Breve-

mente, o senhor Secretário de Estado da Administração Local desen-

volverá as diligências necessárias à realização de reuniões de trabalho com ambas as associações, para dar seguimento a esta vertente do

processo de descentralização. O Governo deseja, ainda, retomar o

processo para uma nova lei eleitoral e para um novo modelo de go-

verno autárquico – que pode bem ir mais longe do que a proposta

já conhecida, nomeadamente através do aprofundamento dos meca-

nismos de participação específica das freguesias na vida municipal. Também nesta matéria, o Governo não deixará de promover o diálogo

e o trabalho conjunto com a ANAFRE e a ANMP.

Como Ministro também com a tutela da modernização administrativa,

quero, igualmente, aproveitar esta oportunidade para convidar as fre-

guesias a associarem-se, de forma ainda mais efectiva, ao movimento

de modernização e simplificação administrativa desencadeado com o Programa Simplex. O Simplex Autárquico está em curso e envolve já

mais de 60 municípios, contando, só este ano, 289 medidas de sim-

plificação e modernização dos serviços autárquicos. Ora, o quadro de referência do Simplex Autárquico inclui um segmento específico de iniciativas próprias das freguesias – e desejo, por isso, convidá-los a

todos a participar nesse movimento, de modo a proporcionar, tam-

bém ao nível das freguesias, uma qualificação dos serviços públicos prestados aos cidadãos. Esta é uma oportunidade que não deve ser

perdida. O Programa Simplex é um programa de reconhecido sucesso

na nossa administração pública e as freguesias deve também partilhar os benefícios deste sucesso.

Mas não deixo de sublinhar, com satisfação, o relevante contributo

que muitas freguesias já estão a dar para a boa execução de diver-

sas medidas relacionadas com o governo electrónico – por exemplo,

ajudando as pessoas menos habilitadas a tirar o melhor partido das

novas tecnologias de informação -, bem como para a boa aplicação

de medidas emblemáticas do Simplex. É o caso do projecto “A Minha Rua”, que se destina a facilitar aos cidadãos a participação activa na

gestão da sua rua ou do seu bairro, reportando problemas e apresen-

tando sugestões de melhoria: a falta de iluminação ou de limpeza;

os buracos nos passeios ou na estrada; as viaturas abandonadas; a

ausência de sinalização; as dificuldades de estacionamento - eis al-guns dos exemplos das mais de 700 ocorrências já registadas neste

serviço, desenvolvido no âmbito do programa Simplex.

Em fase experimental, em 3 freguesias, está também o Balcão Sé-

nior, que agrega serviços de proximidade de especial interesse para

os idosos, nomeadamente no domínio social. Uma vez avaliada esta

experiência, o Balcão Sénior será alargado a outras freguesias que

estejam interessadas na sua instalação.

Aproveito, também, esta oportunidade para recordar a todos que no

primeiro semestre de 2011 será realizado em Portugal o XV Recensea-

mento Geral da População e o V Recenseamento Geral da Habitação,

conhecidos de forma breve como os Censos 2011. A ANAFRE tem

participado, de forma muito activa, no programa destes recenseamen-

tos, no âmbito do Conselho Superior de Estatística. E quero agrade-

cer esse contributo. Trata-se de uma operação da responsabilidade do

Instituto Nacional de Estatística, mas também das autarquias locais e

das juntas de freguesia, que desempenham um papel determinante

na organização e apoio local a estas operações censitárias, que são,

como é sabido, da maior importância, para obter um retrato fiel do País e de cada uma das suas freguesias. Pela primeira vez, os Censos

vão possibilitar respostas através da Internet, o que reduzirá a carga

burocrática – mas obrigará o INE a uma cooperação com as fregue-

sias para que possa ser prestado o apoio necessário às pessoas que queiram usar os meios electrónicos e precisem de assistência neste

domínio, na linha do que em muitos casos já sucede com a entrega

de declarações electrónicas em matéria fiscal. Quero, finalmente, dar conta da disponibilidade do Governo para conferir um novo impulso

às iniciativas para a qualificação dos dirigentes e funcionários do po-

der local e, em especial, das freguesias. Para isso, a ANAFRE integra,

de pleno direito, o Conselho de Administração do CEFA e passará

a dispor aí de um vogal executivo; a que isto acrescem os três lu-

gares que já detêm no Conselho Geral, reforçando assim a sua voz

nas decisões que a futura Fundação deverá assumir no sentido de

proporcionar formação permanente aos recursos humanos das fre-

guesias. Nesta linha, o Governo desenvolverá todos os esforços para

proporcionar o acesso ao quadro comunitário, de modo a reforçar os

recursos financeiros afectos a este processo de qualificação. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores autarcas,

A vontade política do Governo é convergente com muitas das princi-

pais conclusões deste Congresso - em particular no tema central da

descentralização de competências.

Não deixaremos de prestar a devida atenção aos resultados dos tra-

balhos deste Congresso, na certeza de que constituem contributos

sérios para a afirmação do poder local. Os desafios estão aí – e queremos enfrentá-los em diálogo e em par-ceria convosco. E, de modo especial, em parceria com a ANAFRE.

Estou certo de que partilhamos o que é essencial: uma visão positiva

sobre o papel das freguesias e um projecto de ambição para o seu

fortalecimento e para o seu futuro, ao serviço das populações.

Fazê-lo é também uma forma de levar mais longe e mais fundo a co-

memoração do Centenário da República, que agora se inicia, com os olhos postos no futuro e no reforço da cidadania e do poder local

democrático.”

Sessão de Encerramento,

Ministro da Presidência Pedro Silva Pereira

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Anafre

Reflexão e Debate

a limitação dos mandatos; o peso tão forte do

presidente de junta para determinadas situações

e a sua insignificância noutras; as cores partidá-

rias a condicionarem as decisões dos autarcas municipais com os das freguesias; a questão do

desaparecimento dos postos de correio, enquan-

to instituição pública em pequenas freguesias. O estudo realizado pela Universidade Lusíada para

a ANAFRE indica os postos de correio como fac-

tor de referência na vida de uma freguesia, com uma taxa de aprovação de 93% dos inquiridos. A ANAFRE promete ser mais firme nesta matéria, alterando a atitude para com a actual adminis-

tração dos CTT, uma vez que estes não podem continuar a tratar alguns autarcas de freguesia que se sacrificam para ter aquele serviço impor-tante disponível para as populações das respec-

tivas freguesias; as delegações da ANAFRE nem

sempre funcionam bem, mas há que reconhecer que há as que funcionam bem e outras menos bem. Devem ser construídas novas dinâmicas nas delegações, se bem que é precisa ajuda de todos as freguesias associadas nesses sentido; para quem lamentou e criticou o filme exibido na sessão de abertura que mostrava apenas as

boas práticas nas juntas de freguesia, há que re-

ferir que há que discriminar e actuar de forma po-

sitiva, valorizando o que é valorizável; a ANAFRE

defende todas as freguesias associadas, sejam de pequena ou grande dimensão. Nas freguesias associadas (57% das existentes) residem cerca de 85% dos cidadãos, o que representa um in-

dicador importantíssimo. Muitas das reuniões feitas pelo país, há muitas ausências, o que sig-

nifica um problema de cultura. É preciso mudar a cultura e a alternativa, se necessário, será mudar os seus agentes; o Governo desconhece os valo-

res realmente atribuídos às freguesias. Num teste feito com altos responsáveis, tomando por refe-

rência o orçamento de Estado 2009, os respon-

sáveis faziam variar entre os 3 e os 5%, quando na verdade as freguesias conseguiam 0,12%. O espanto foi geral, pois não tinham noção deste reduzido valor relativo. A mudança deste para-

digma impõe-se. Apesar da via ser estreita, há muitos adversários a todos os níveis. A presença do Sr. Presidente da República no XII Congresso poderá alertar esses mesmos responsáveis, para que seja dada a meritória atenção. É esse o ca-

minho da associação de freguesias; a proposta

de alteração do quadro legal é uma das ban-

deiras da associação em todos os debates de Orçamento de Estado. A ronda negocial com os partidos com assento parlamentar já começou, faltando apenas os dois grandes partidos, para que se debata a matéria do Orçamento de Es-

tado. Posteriormente irão à audição parlamentar, debater com os senhores deputados. Se ouvis-

sem as reivindicações da associação acertariam muito mais e no fim da linha existiria mais racio-

nalidade nas despesas, mais resultados e mais eficácia, como demonstra o estudo; autarcas de

freguesia e freguesias, sujeitos a discriminação; aquando da anunciada intenção de extinguir fre-

guesias, a primeira atitude da ANAFRE foi dizer ao Sr. Ministro de então que não tinha sido bem aconselhado. Obviamente que recuaram porque as realidades são diversas e não pode ser tratado

por igual, aquilo que o não é; acabar com o condi-cionamento dos presidentes de junta perante os presidentes de câmara nas Assembleias Munici-pais. Há que se ser respeitado como não se tem sido. Há que ser-se mais autocrítico, há que ter essa coragem, mudar atitudes, há que transmitir ao sr. presidente de câmara que a legitimidade dos presidentes de junta é exactamente igual à deles, simplesmente dispõem de mais compe-

tências e mais recursos. O caminho é o respeito mútuo e a articulação de vontades; Não! Ao des-

virtuamento das votações nas Assembleias Mu-

nicipais. Lutar pelos interesses e desenvolvimen-

to dos municípios não se pode coadunar com o bloqueio da acção dos presidentes de junta, uma vez que se estará a bloquear também a acção do município. Não se pode por em causa a legi-timidade da reivindicação de um presidente de junta face à satisfação das necessidades básicas da sua população. Há que reflectir maduramente sobre investimentos de duvidosa prioridade e as-

segurar as necessidades básicas dos cidadãos. Não é imperativa a submissão às vontades dos presidentes de câmara, eles não são nossos adversários. Caso o conselho directivo aprove, a ANAFRE, prioritariamente vai pedir: audiência à Associação Nacional de Municípios Portugue-

ses para apresentação de cumprimentos. Há que dar dignidade ao relacionamento institucional. É esta a diferenciadora atitude e postura da ANA-

FRE; com os protocolos do IRS, as juntas serão um mini balcão do cidadão. É o que a popula-

ção precisa, há que a acompanhar. Segundo o estudo, nesta matéria, a taxa de satisfação foi de 90%. De salientar que Portugal estava nos últimos lugares na submissão de declarações de rendimento por via electrónica. Com a partici-pação das freguesias, passou do penúltimo lugar para o quarto em termos europeus; a participa-

ção na audiência com os técnicos da Comissão Europeia, onde Armando Vieira foi inquirido sobre várias matérias, inclusive sobre os fundos comu-

nitários que a ANAFRE tem gerido na formação e que já mereceu elogios. O caminho da asso-

ciação passa pela valorização pela qualidade; a

ausência de alguns deputados da Comissão de Poder Local é de lamentar, uma vez que, vivendo a ambiência forte própria de um Congresso da ANAFRE, mudariam de opinião e estariam mais atentos às preocupações das freguesias; quan-

to à organização interna da ANAFRE, está a ser trabalhada com uma universidade do Porto, a reformulação total da plataforma informática da associação das freguesias. A arquitectura já está concluída promovendo e facilitando a comuni-cação institucional faltando apenas negociar o alojamento. Vão dispor de internet, intranet e ex-

tranet. Como também há a vontade de criar um endereço ANAFRE para todas as freguesias. Se houver acordo, será criado esse endereço elec-

trónico; as juntas de freguesia não contribuem para o descontrolo das finanças públicas. Ao diminuírem os recursos das Freguesias «Pou-

pam no farelo e estragam na farinha» – (adágio popular usado por Armando Vieira para concre-

tizar a ideia referida acima); apesar do Governo

ter anunciado o voto electrónico, a associação de freguesias já havia defendido no documento em debate a E-Democracia. Os municípios ain-

da não se manifestaram acerca deste assunto. Na Europa há 3 países a praticá-lo e o objectivo é que seja implementado em todos os estados membro da União Europeia; o modelo das tipo-

logias das áreas urbanas (TAU) não correspon-

dem, na prática, à realidade do País. O modelo é disfuncional, como ficou confirmado pelo estu-

do desenvolvido pela Universidade Lusíada sob

orientação do Professos Doutor Assis Lopes, já referido, apontando para uma caracterização mais detalhada, ao arrumar as Freguesias em 8 tipologias, sendo 4 rurais e 4 urbanas, daí re-

sultando uma caracterização mais consentânea com a realidade; a ostracização no plano das decisões, que conferem prática à actuação dos autarcas de freguesia não é uma verdade absolu-

ta, segundo a opinião pública do mesmo estudo. Neste âmbito, em Dezembro de 2008 foi publi-cado uma sondagem à opinião pública sobre a credibilidade dos detentores de cargos políticos. O resultado foi como era previsível, que a pessoa mais credível era o Sr. Presidente da República e logo de seguida, o Presidente da Junta de Fre-

guesia. O que deverá encher de orgulho todos os autarcas de Freguesia.

Após a exposição dos congressistas e delegados dos seus problemas e reivindicações, quer no plano local, quer nacional, o Presidente do Conselho Directivo da ANAFRE, Armando Vieira, enfatizou algumas dessas preocupa-ções, argumentando o enriquecimento da diversidade de opiniões sobre os mais variados temas, nesse sentido discorreu algumas respostas e alertou para os assuntos mais pertinentes durante as 8 longas horas de debate, mostrando-se disponível para qualquer esclarecimento adicional. Sintetizando-os:

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Anafre

Aprovando a Moção de Estratégia «DEBATE

E REFLEXÃO», o Congresso fixou as linhas de orientação do trabalho da ANAFRE para o mandato 2009 | 2013, prosseguindo as se-

guintes conclusões:

- Clarificar e definir as atribuições e competências das Freguesias

pondo fim à sobreposição, actualmente existente, entre atribui-

ções e competências das Freguesias e dos Municípios;

- Converter as competências delegáveis em competências pró-

prias e universais;

- Converter as competências contratualizáveis em competências

próprias das Freguesias que demonstrem ter capacidade para as

exercer, como forma de racionalizar recursos que a proximidade

propicia;

- Garantir novas competências com os respectivos meios finan-

ceiros;

- Garantir a dignificação do mandato dos titulares dos órgãos das

Freguesias, para o exercício das actuais e novas competências;

- Proceder à revisão do regime do exercício dos cargos dos mem-

bros das Juntas de Freguesia, para corresponder aos objectivos

atrás referidos;

- Alargar a atribuição do subsídio de despesas de representação

dos eleitos em regime de permanência a tempo inteiro também ao

exercício dos eleitos em regime de permanência a tempo inteiro

também ao exercício dos eleitos em regime de meio tempo, nas

devidas proporções;

- Garantir que seja integralmente cumprida a Lei nº 11/96, no que

diz respeito às verbas necessárias ao exercício do Regime de Per-

manência;

- Garantir que sejam reforçados os valores das compensações

para encargos dos Eleitos em regime de não permanência;

- Alargar o regime de crédito de horas dos eleitos de Freguesia

destinado ao exercício da actividade da Autarquia;

- Proceder à revisão dos valores das senhas de presença dos

membros das Assembleias de Freguesia, estabelecendo critérios

idênticos aos que foram considerados para os membros das As-

sembleias Municipais;

- Garantir o reforço das verbas do FFF para as Freguesias;

- Garantir uma verba mínima assegurada pelo FFF para o funciona-

mento digno de qualquer Freguesia;

- Permitir o acesso ao crédito de médio e longo prazo, em condi-

ções semelhantes às concedidas aos Municípios;

- Garantir a restituição do IVA suportado pelas Freguesias, para os

serviços sociais, à semelhança do regime para IPSS e Comunida-

des Religiosas;

- Garantir respeito pela vontade própria das Freguesias e suas

populações, designadamente, no que se relaciona com criação,

extinção e fusão de Freguesias;

- Garantir acordos com a ADSE e Segurança Social, para assistên-

cia aos funcionários das Freguesias, tendo em conta a exiguidade

do orçamento destas;

- Rever os critérios da tipologia das Freguesias, no sentido de se

atingir uma aproximação tanto quanto possível da realidade popu-

lacional e, consequentemente, de maior actualidade;

- Garantir que a organização administrativa dê primazia ao desen-

volvimento regional, potenciando a articulação entre as soluções

apontadas e as necessidades reais das populações.

Balanço ao XII CongressoArmando Vieira

Um congresso muito participado, o debate, a presença do Sr. Pre-

sidente da República também acabou por valorizá-lo, o que falta

dizer?

Foi um congresso muito participado, a sala estava repleta. Estamos sa-

tisfeitos. Estou muito feliz pelos resultados e pelo reconhecimento, em o

Sr. Presidente da República nos honrar com a sua presença, com o seu

discurso que foi muito importante para nós. Acho que nada ficará como

antes. Obviamente, que reconheço também o discurso do Sr. Ministro

da Presidência Silva Pereira, que pôs o enfoque, finalmente, na clarifica-

ção das competências. Desta forma, ficou demonstrado que começam a

ser entendidas as nossas razões. O estudo elaborado pela Universidade

Lusíada veio confirmar aquilo que eram as nossas convicções. Os resul-

tados não podiam ser mais clarificadores, 93% aprovam o trabalho das

freguesias, 90% dos portugueses valorizam a existência das freguesias e

o seu trabalho de proximidade, nomeadamente nas parcerias que desen-

volvemos com os CTT, com o Ministério das Finanças, com o IEFP, entre

outros. Os delegados fizeram intervenções que, na esmagadora maioria

dos casos, coincidem com aquilo que são as nossas principais preocu-

pações e linha de acção. As conclusões foram as que esperávamos, o

que confirma e resulta da análise e acerto dos temas do documento de

reflexão e debate. Estamos muito satisfeitos pelo trabalho realizado.

As moções apresentadas também foram pertinentes?

Sim. Sem dúvida. Houve votações díspares, moções não aprovadas,

moções de uma sensibilidade política aprovadas… Enfim, todas têm um

objectivo, obviamente que o caminho não é fácil como referiu o Ministro

Silva Pereira, mas o caminho constrói-se caminhando.

Pena foi a ausência do Sr. Primeiro-Ministro como estava previsto no

Programa do Congresso, razões estatutárias se elevaram…

Compreendemos a ausência do Sr. Primeiro-Ministro, percebemos que

ele não podia estar presente dadas as negociações em curso sobre o

Orçamento de Estado. Ficamos muito satisfeitos com a presença do Mi-

nistro Silva Pereira que, no plano pessoal, muito aprecio.

Quanto à primeira medida, referiu no discurso após o debate e re-

flexão, a audiência com os técnicos da Comissão Europeia sobre os

fundos comunitários que a ANAFRE tem gerido. Em que vai consistir

esta audiência? Quais vão ser as prioridades?

A primeira preocupação vai ser estudar o dossier, tendo em vista a audi-

ência. Portugal para ser inquirido pelos técnicos respondendo a questões

que me queiram colocar no sentido de esclarecer as dúvidas que possam

persistir quanto ao trabalho realizado pela ANAFRE, em matéria de for-

mação no País.

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“Este ano vai ser de muita contenção, mas vai ser o ano chave”

Junta de Freguesia

Senhora da Hora

Estava à espera que lhe fosse deixada uma herança tão pesada na

Junta de Freguesia da Sra. da Hora?

Valentim Campos (VC) – Não estava à espera destas dificuldades. Quando chegamos a 30 de Outubro fizemos o diagnóstico à situa-ção financeira ficamos alarmados, pois não tínhamos dinheiro para o pagamento dos ordenados dos funcionários. Entretanto, registamos várias facturas em atraso, o que é de facto uma herança muito pesa-da. Depois do diagnóstico feito concluímos que precisaríamos de 100 mil euros para resolvermos todos os problemas. O anterior executivo justificava-se com os 80 mil euros que a junta recebe a partir das re-ceitas da feira. Só que o dinheiro da feira é recebido em Dezembro e destina-se a fazer a gestão durante o semestre seguinte, pois as taxas são pagas pelos feirantes antecipadamente. Contudo, uma feira tem muitos gastos, desde a segurança, à fiscalização, à luz, à água, que são as despesas correntes, ou seja, a feira acaba por não ser tão lucrativa quanto se imagina. Poderá haver um lucro que ronde apenas os 25 por cento desse valor. Fazemos ainda a gestão do pavilhão que está entregue à escola, que nos dá um saldo negativo de 1800 euros por mês. Na parte cultural e desportiva passa-se o mesmo, com o parque Manuel Pinto de Azevedo, cuja gestão não é também lucrati-va. Há que perceber que esta é uma junta muito grande e abrangente em termos de serviços prestados à comunidade, o que naturalmente acarreta custos muito avultados.

O que destaca ao nível de infra-estruturas do programa eleitoral que

o elegeu?

VC – Está prevista a construção de um ou 2 pavilhões novos, isto porque reabilitar o existente custa mais que fazer de novo, para além de que du-rante o processo de reabilitação as colectividades e as escolas não pode-riam desenvolver as respectivas actividades desportivas. Portanto, a ideia é manter o existente, ir fazendo os pavilhões de raiz e quando estiverem em funcionamento, o outro será demolido, sendo que o terreno será utilizado para outros fins. Inclusive, há já o compromisso entre a câmara municipal, a junta de freguesia e os senhorenses para que a obra prossiga.Relativamente a outras obras estamos com grandes expectativas e o pro-cesso encontra-se bem encaminhado, para a construção de um novo pólo para o Museu de Serralves, que vai ser na antiga EFANOR. Vai ser uma infra-estrutura extraordinária, que vai trazer milhares de pessoas ao longo do ano à Sra. da Hora e que era de uma riqueza enorme para Matosinhos e parte do Porto, dada a proximidade. Existe também um compromisso irreversível e penso que durante este mandato serão dados passos de-cisivos para uma obra que vai transformar a Sra. da Hora, que é a nova estação de Metro, cuja localização vai ser entre o Centro de Saúde e a Fonte do Cuco. O conforto e a higiene vão predominar nesta nova esta-ção, isto porque considero que foi um erro tremendo da Metro, o facto de não ter acautelado as condições básicas numa estação com um tráfego tremendo. Vamos tentar que seja ali colocada uma cobertura, porque nos dias de chuva, de frio, aquela estação é terrivelmente desconfortável. Na minha óptica, as autoridades da câmara deveriam pressionar a Metro da necessidade de serem criadas melhores condições para a actual estação da Sra. da Hora. Outra proposta que vai transformar completamente a ci-dade é a intervenção na A28, na estrada que liga Leça a Matosinhos. Logo, as cidades e vilas que estão à volta e que pertencem à zona de influência do Hospital Pedro Hispano terão melhores e mais eficazes acessibilidades. Se estas grandes obras do mandato forem realidade durante este ou no início do próximo mandato, se bem que tudo indica que será já durante estes 4 anos, penso que se transforma completamente a Sra. da Hora. A própria intervenção do Museu de Serralves beneficiará as acessibilidades e a entrada na cidade, que ficará mais aprazível.A Escola Básica de 1º Ciclo de S. Gens, que já vem sendo reivindicada

há muito tempo pelos pais, pois não tinha condições nenhumas para os alunos e, finalmente foi adjudicada a obra. É uma obra que vai ser cons-truída de raiz, aguarda-se apenas o bom tempo para serem colocados os contentores no terreno que já está devidamente preparado para o efeito. Actualmente, construir uma escola é rápido. No próximo ano vamos avan-çar com a construção de um novo lar para a Sra. da Hora. Vai ser uma obra gerida pela igreja com o apoio da câmara municipal, na cedência do terreno. Tudo isto cria-nos motivos para podermos ter uma cidade cada vez mais bonita e mais aprazível para quem nos visita, mas também para quem cá habita.

De que forma a crise económica tem afectado os senhorenses?

VC – A crise de facto existe. A confirmá-lo, o número de desempregados que diariamente nos bate à porta, para o atendimento quinzenal. Devemos ter mais de mil desempregados na Sra. da Hora o que representa um nú-mero impressionante. Acho que a crise tem sido alimentada. Há muito tra-balho, as pessoas acomodam-se um pouco, se bem que nem sempre se-jam os trabalhos mais adequados para as expectativas das pessoas, mas compreendo que as pessoas precisam sentir-se bem naquilo que fazem.

Ao nível de segurança é uma freguesia segura?

VC – Muito se tem reivindicado uma nova esquadra, mas existe uma pe-quena, é evidente que psicologicamente as pessoas gostam de ver uma esquadra, só que Matosinhos tem várias e umas abrangem campos das

Valentim Campos, Presidente da

Junta de Freguesia da Sra. da Hora

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outras freguesias. Fora que a estrutura de uma esquadra implica gastos supérfluos, pois tem que haver guardas a vigiar a esquadra e o que é ver-dadeiramente necessário é aumentar o contingente na rua. Por isso a nível de segurança, a Sra. da Hora não está mal, mas podia estar melhor, se bem que o ideal não existe. Portanto, isto passa por uma reestruturação das forças de segurança no terreno e isso passa pelo Ministério da Admi-nistração Interna. Já tivemos uma reunião com o comandante da polícia de Matosinhos e assegurou-nos que estão a ser tomadas medidas para o au-mento do contingente na rua, que a escola possa ser mais segura do que aquilo que é, que haja muito mais intervenção. O ideal é que naturalmente a polícia não fosse necessária.

Se voltasse atrás, a saber o que sabe hoje, aceitaria o desafio de estar

à frente desta junta?

VC – Provavelmente com mais força e com mais garra ainda. Sou incapaz de abandonar as coisas só porque elas são difíceis. Gosto de desafios e sou corajoso, por isso vou em frente. É evidente que dou muito do meu tempo e esforço, pois sou presidente a tempo inteiro, as dimensões desta junta exigem e precisam. É impossível uma gestão diferente.

O que faz falta à sua freguesia ao nível de competências e qual a rela-

ção existente entre a câmara municipal e a junta de freguesia?

VC – Visto que ambas são Socialistas, só tem que haver boas re-lações, não pode ser doutra forma. Embora entenda que as juntas poderiam ter um pouco mais de liberdade, de intervenção no terreno.

Essa é uma luta que poderá ter no futuro algum tipo de intervenção. Em termos de rigor económico, uma vez que há uma maior proximi-dade entre juntas e câmaras talvez seja mais interessante a câmara fazer a pedido das juntas a intervir, é preciso é que as juntas estejam atentas aos problemas da cidade e possam informar a câmara mu-nicipal para que intervenham no terreno. É mais fácil desta maneira, do que propriamente cada junta ter a sua própria estrutura, porque isso tem custos tremendos. Actualmente não faz sentido que câma-ras ou juntas tenham estruturas fixas, à espera que os problemas aconteçam, com gastos fixos. Há que haver um grande rigor ao nível da gestão dos dinheiros públicos.

A Regionalização seria uma via para o país?

VC – Eu voto a favor da Regionalização. Agora há que repensar o modelo, simplesmente há que reflectir bem sobre os grandes projec-tos que queremos para o país. Há que amadurecer bem os nossos modelos. Somos um povo diferente dos outros, por isso não de-víamos de cair no erro de estar constantemente a copiar modelos duvidosos.

Nestes primeiros meses de mandato, qual o pior e o melhor mo-

mento?

VC – Infelizmente ainda não há muito bons momentos. O bom mo-mento foi quando os senhorenses votaram e acreditaram no nosso projecto para os servir. Foi gratificante receber a confiança de to-dos os senhorenses. O ponto mais negativo, foi quando chegamos à junta, queria pagar os ordenados, as contas correntes e não tinha dinheiro. Foi frustrante e muito difícil para mim.

Este primeiro ano será, portanto, essencial para equilibrar as

contas?

VC – Este ano vai ser de muita contenção, mas vai ser o ano chave. É um desafio tremendo. O máximo que conseguirmos será em be-nefício de todos.

O que é certo é que os seus fregueses podem contar consigo?

VC – Os senhorenses podem contar comigo porque todos os dias estou na junta.

Gosto de desafios e sou corajo-so, por isso vou em frente. É evi-

dente que dou muito do meu tempo e esforço, pois sou presidente a tem-po inteiro, as dimensões desta junta

exigem e precisam. É impossível uma gestão diferente.

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À conquista da Estabilidade e da Solidez!

Benéfica e Previdente

Triénio 2010/2012

Inovação centrada nas respostas mutualistas“Pretendemos manter uma estratégia organizacional virada para a inovação das respostas mutualistas, para a eficácia dos serviços e

para o combate à exclusão dos associados. Queremos manter a bus-ca contínua da satisfação das necessidades e expectativas dos as-sociados, parceiros e entidades tutelares, consolidando os projectos iniciados no mandato anterior, nomeadamente no alargamento dos serviços de saúde (Clínica Médica), apoio à educação, formação e à criação de emprego, apoio a associados temporariamente dependen-tes (residências de apoio temporário), novas modalidades de seguros

e poupança, entre outros incentivos inovadores. Por outro lado, as-piramos ultrapassar os problemas de ordem financeira sentidos nos

últimos anos, através do controlo dos custos internos mais rigorosos e pela execução de políticas que assegurem maior rentabilidade das poupanças. Para o efeito, no próximo mandato, queremos apelar a uma participação mais activa dos associados nas assembleias-gerais, colaborando na resolução dos problemas da associação e permitin-do que as políticas da Administração sejam validadas e consolidadas pela maioria dos seus associados. Consideramos que os associados são parceiros neste projecto centenário e queremos, de forma clara e

inequívoca, transmitir que desejamos ver reforçada e integrada a opi-nião e participação do associado, na política de gestão deste projecto que é comum a todos, e que terá que manter estável, duradouro, co-eso e inovador. A nossa orientação estratégica mantém-se orientada para o reconhecimento da importância do movimento associativo e para os princípios mutualistas e humanitários que nos inspiram desde

o nosso início e que determinam as linhas de actuação do programa 2010/2012.São estas as linhas estratégicas e direccionadas para um crescimento sustentável, assente numa conduta transparente e solidária, investin-do na qualidade dos serviços e na qualificação do pessoal.”

Um trabalho de continuidade“Implementámos acções numa perspectiva de modernização e melho-ria dos nossos serviços, concretizando assim os objectivos propostos, permitindo uma criação de valor à Associação, nomeadamente através da consolidação de novos acordos com o Instituto da Segurança Social para o alargamento das respostas de apoio ao Idoso (Centro de Convívio e alargamento do SAD para 70 idosos) e centro comunitário para comba-te à exclusão de crianças, jovens e adultos; do deferimento de projectos financiados para o alargamento das respostas (nas valências de creche e

pré-escolar) do infantário; da oferta de formação profissional financiada

pelo POPH a cerca de 400 trabalhadores do 3º sector; do investimento organizacional para a Qualificação Escolar e Profissional dos colaborado-res, para obtenção da escolaridade mínima na monitorização de 6000 ho-ras de formação profissional; da realização de parcerias e protocolos de

cooperação, para promoção dos nossos serviços, em especial, acordos comerciais no serviço de SHST – Segurança, Higiene e Saúde no Traba-lho, cuja actividade vimos ser autorizada pela ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho.”

O Futuro“O futuro da Benéfica e Previdente vai ser construído com os seus asso-ciados. Consegui-lo-emos, na Promoção e Comercialização de Subscri-ções de Planos de Saúde e de Poupança, materializando-se no aumento

do número de associados; na adequação de novas modalidades mutu-alistas às necessidades dos Associados e familiares de acordo com a conjuntura social e económica; e no desenvolvimento e promoção do Mutualismo e do Associativismo.”

Linhas de acção: Cooperação e Solidariedade

Criando redes de parcerias e protocolos para o aumento da oferta de serviços aos associados e crescimento económico da associação; Definindo estratégias comuns com os parceiros numa óptica de renta-bilização dos recursos organizacionais e respostas complementares; Partilhando diferentes esferas dos saberes “ser” e “fazer” promovendo

o conhecimento mútuo e gerando atitudes mutualistas.

Fidelização e Transparência

Promovendo as relações com os associados, utentes/clientes e par-ceiros; Estabelecendo compromissos sustentáveis e do interesse dos

associados; Agindo com transparência e responsabilidade social.

Qualidade e Inovação

Desenvolvendo acções para ao aumento da eficiência dos colabora-dores e da qualidade dos serviços; Criando modalidades e incentivos de apoio à saúde e ao emprego dos associados; Desenvolvendo res-postas sociais dirigidas aos associados desfavorecidos e/ou sem reta-guarda familiar (equipamentos de apoio à criança, jovens e idosos).

Carlos Salgueiral“É com agrado que assumo este compromisso. Pretendemos dar con-tinuidade ao trabalho que temos vindo a desenvolver nas práticas e nas

políticas. Queremos dar continuidade aos projectos que iniciamos. O últi-mo mandato foi de facto ambicioso. Pusemos em prática alguns projectos

e é altura de consolidá-los. Este vai ser um mandato muito direccionado

para uma aproximação cada vez maior ao associado, de modo a que associados, tendo em conta as nossas novas valências e projectos que implementamos, conheçam na totalidade todas estas potencialidades e as aproveitem e usufruam, porque até aqui têm sido projectos mais vo-cacionados à comunidade e menos para os associados. Queremos que os nossos associados também beneficiem destes mesmos projectos.

Este é um objectivo a aprofundar. Vamos tentar ainda criar mecanismos

de forma a estarmos mais próximos dos nossos associados através das novas tecnologias. Depois, há aspectos a consolidar sobretudo no que

respeita às qualificações e competências dos 85 colaboradores que estão

connosco, no que respeita à certificação e qualificação dos nossos ser-viços, concretamente no apoio domiciliário e no apoio à infância, que são

áreas muito mais voltadas para as competências para irmos de encon-tro e satisfazer melhor os nossos utentes. Temos alguns projectos já em

mente há algum tempo e, uma vez que temos disponibilidade ao nível de

terrenos, esperamos pôr em prática um equipamento para o acolhimento

de idosos, a altura não é a ideal para o investimento, mas vamos estar atentos às oportunidades que nos surjam. Esta tomada de posse é um

incentivo para continuar com a missão que todos temos traçado.”

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CIG

Protocolo CM Barcelos

Empreendedorismo feminino e planos

para a igualdade nas empresasas mulheres desempregadas poderão ter para saírem da crise, é algo que gostaríamos de desenhar numa zona que foi mais atingida pelo fenómeno da crise e onde o desemprego se faz sentir com particular incidência, so-bretudo junto das mulheres.

A criação, por parte do actual Governo Constitucional, de uma Secre-

taria de Estado destinada especificamente à igualdade significa que Portugal é hoje um país mais igualitário e homogeneizado em termos de género?EP – Significa que Portugal é um país mais moderno porque promover

a igualdade é promover a modernidade. Mas também significa que há

muito trabalho a fazer e que Portugal está na via do desenvolvimento. Ao

promover a igualdade também estamos a promover o desenvolvimento do

potencial humano das pessoas. Avalia-se o crescimento de um país não

só pela capacidade de construir riqueza objectiva mas também pela ca-pacidade de motivar as pessoas que a constroem. E, portanto, apostar no

desenvolvimento humano e promover a igualdade de género é contribuir

para o desenvolvimento de um país. Já o Governo anterior teve essa visão,

que agora, num trabalho de continuidade, concretizou com a criação de uma Secretaria de Estado, um nível político mais elevado na assunção

destas responsabilidades e decisões. Como tal, estou muito feliz por o meu país ter feito esta boa opção.

Como tem sido o desafio ao serviço da Secretaria de Estado da Igual-dade?EP – Tem sido um desafio enorme e ainda agora está no início… Trata-se

de um trabalho de equipa e a minha equipa já diz que não sabe o que aí

vem porque o que está a acontecer actualmente ao nível do trabalho que

têm que fazer é, de facto, muito. Estamos a fazer aquilo que se designa

por mainstreaming de género em todos os domínios de política. Por vezes,

sinto-me a rendilhar com os vários ministérios aquilo que cada um pode

fazer pela igualdade de género.

É um trabalho interministerial?EP – Sem dúvida! E que tem grandes momentos de especificidade, como

foi a aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como

vai ser a resolução para a definição do cargo de conselheiros ou conse-lheiras na administração local; vamos ter uma função de conselho de mi-nistros que define o estatuto dos conselheiros ou conselheiras na adminis-tração local para se juntar ao estatuto das conselheiras na administração central e também se associará esse mesmo estatuto para as conselheiras

nas empresas para, em conjunto, se criarem profissões mais qualificadas

para a implementação destes projectos nos vários locais. As autarquias

são locais por excelência para desenvolver a cidadania e a igualdade de

género porque estão próximas das pessoas. Fazer cidadania é lidar com

as pessoas e criar um novo olhar de solidariedade de uns com os outros.

Trata-se de um trabalho árduo, difícil, com muitas dificuldades mas tam-bém super estimulante, sobretudo como, no caso, quando se tem uma equipa que vive o projecto com uma força muito grande e com energia

suficiente para se motivar face a qualquer tipo de dificuldade.

O Salão Nobre da Câmara Municipal de Barcelos acolheu, no passado dia

22 de Janeiro a cerimónia de assinatura dos Contratos aprovados no âm-bito do 2.º Concurso para financiamento de projectos de Empreendedoris-mo Feminino, enquadrados no Eixo 7 – Igualdade de Género, do Programa

Operacional do Potencial Humano (POPH). Estes projectos visam promo-ver estratégias de apoio ao empreendedorismo das mulheres, incentivar

o associativismo e a criação de redes, favorecendo o auto emprego, a

capacidade empresarial e a qualidade da participação feminina na vida

activa. Estas iniciativas permitem ainda dar visibilidade à implementação

de planos para a igualdade no contexto das associações empresariais,

reforçando a sensibilização das empresas na área da Responsabilidade

Social em termos de políticas para a igualdade. No âmbito da medida 7.6 do POPH - Apoio ao empreendedorismo, associativismo e criação de

redes empresariais de actividades económicas geridas por mulheres, fo-ram aprovados 53 projectos, representando um investimento na ordem

dos 7 200 000 euros. Os projectos têm a duração máxima de 36 meses.

Na medida 7.2 do POPH - Planos para a Igualdade, foram aprovados 15

projectos, representando um investimento na ordem dos 1 300 000 euros,

tendo os projectos a duração máxima de 24 meses. A cerimónia contou

com a presença da Secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, do Se-cretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, Valter Lemos,

do Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Miguel Costa Gomes,

do Governador Civil de Braga, Fernando Moniz, do Vice-Presidente da

Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, Manuel Albano, e

das várias Associações apoiadas. F&C esteve presente e entrevistou a

Secretária de Estado Elza Pais.

O que representa para a Secretaria de Estado da Igualdade a assina-

tura destes protocolos?Elza Pais (EP) – Trata-se de um momento de grande felicidade porque representa uma grande oportunidade de promovermos o empreendedo-rismo feminino. Ao fazê-lo, estamos a reforçar a competitividade do nosso

país porque o recurso humano que as mulheres detêm e que pode ser desenvolvido a partir de projectos como estes adquire assim a possibilida-de de se poder concretizar. É, de facto, muito bom as mulheres poderem também contribuir, através do seu trabalho e empreendedorismo, para a

melhoria económica do nosso país num momento de crise. Estou muito

feliz com a assinatura destes termos de aceitação de 53 projectos que

vão ser desenvolvidos por muitas associações e vão chegar a milhares

de mulheres.

Apesar de estes projectos garantirem uma cobertura quase total do território nacional, a cerimónia decorre em Barcelos, numa zona onde o desemprego é bastante presente. Tem algum significado especial a escolha deste local?EP – Sim, tem… Escolhemos o Norte porque aqui as mulheres foram mui-to atingidas pelo desemprego. A oportunidade que, com estes projectos,

Elza Pais

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Um concelho pela

Igualdade de Género

CIG

Protocolo CM Mangualde

Tendo como objectivo promover a igualdade de género, a Câmara Municipal de Mangualde procedeu, no dia 15 de Janeiro, no Salão Nobre da Autarquia, à assinatura de um protocolo de cooperação com a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Estiveram presentes nesta cerimónia o Vice-Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Manuel Albano, o Presidente da Câmara Municipal, João Azevedo e a Secretária de Estado para a Igualdade, Elza Pais.De acordo com João Azevedo, com a assinatura deste protocolo, Mangualde deu um passo fundamental para promover a igualdade de género no Concelho, responsabilizando a Autarquia e todos os mangualdenses. Por outro lado a Secretária de Estado para a Igualdade defendeu que Mangualde está, desta forma, colocada na rota do desenvolvimento, estando também melhor posicionada no que concerne a candidaturas para fundos do QREN. Mangualde está, depois da assinatura deste protocolo, entre as 25 Autarquias do País que integram uma rede europeia para a promoção da igualdade de género e não discriminação, promovendo assim mais justiça social, mais oportuni-dades e mais desenvolvimento.

João Azevedo – Presidente da Câmara Municipal de Mangualde

Com a assinatura deste protocolo que vantagens é que o concelho pode tirar?Antes de mais é um protocolo que dá um impulso importante para a igualdade ao nível da

intervenção, pois o desenvolvimento não se faz apenas de betão, nem de alcatrão, faz-se

também através de medidas preventivas e da promoção destes projectos. E é com grande

prazer que tendo a Dra. Elza Pais como Secretária de Estado da Igualdade promovemos este

acordo de forma a que as mulheres, principalmente as mulheres, não sejam tão prejudicadas

na sua acção diária. Isto é um projecto de igualdade, mas vamos evitar a discriminação das

mulheres, também dos homens, mas o que quero é que isto sirva de impulso para tornarmos

este concelho mais igual.

É um projecto de um ano que se espera que seja renovado…O projecto tem a duração de um ano, depois vai ter a comissão de acompanhamento deste

projecto. A Dra. Elza Pais vai acompanhar este projecto de forma muito afectiva e carinhosa,

para que este projecto se traduza em casos práticos, na formação das pessoas, na formação das instituições, na formação daqueles que hoje trabalham em

redor do município para que todos o ajudem. Por isso lanço um repto a todas as instituições de Mangualde, para que aproveitem esta oportunidade e para

que nela atentem, como referiu a Secretária de Estado há muito dinheiro no Quadro de Referência, de forma a ser trazido para Mangualde e por isso quero

que em Mangualde se fale num concelho piloto de forma a que estas medidas e este programa governativo seja aplicado de uma forma absoluta junto das

mulheres e dos homens deste concelho.

Ao abrigo deste protocolo, o Município de Mangualde promoverá o desen-

volvimento integrado da perspectiva de género e de igualdade de oportuni-

dades nas políticas municipais como forma de aprofundar a efectiva igual-

dade entre mulheres e homens, através das seguintes medidas:

- Adopção de um Plano Municipal para a Igualdade entre Mulheres e Ho-

mens que integre a perspectiva de género enquanto estratégia no quadro da

definição, execução e avaliação das políticas e acções desenvolvidas pelo

Município de Mangualde;

- Consolidar uma estrutura e/ou mecanismo de suporte à promoção da

Igualdade de Género e de Oportunidades, dotando-os com os recursos

necessários à execução das acções destinadas à implementação de me-

didas;

- Sensibilizar os funcionários/as e agentes da autarquia para as

consequências que os seus procedimentos e práticas têm sobre as mulhe-

res e os homens a que as mesmas são destinadas, com vista a encorajar e

fomentar a mudança;

- Facilitar e/ou promover acções de formação e de sensibilização dirigidas

aos funcionários/as e agentes municipais, munícipes e entidades parceiras

de forma a capacitá-los/as e em ponderá-los/as na promoção da igualdade

de género e de oportunidades;

- Analisar as políticas implementadas pelo Município de Mangualde em

função do seu impacto sobre cada sexo;

- Sensibilizar interna e externamente para a representação equilibrada dos

dois sexos na designação para todos os cargos e funções organizacionais;

- Promover o esclarecimento e sensibilização das populações e das entida-

des locais sobre a Igualdade de Género e de Oportunidades, nomeadamen-

te, através integração desta perspectiva nas suas actividades;

- Criar condições para a prestação de informação e para o encaminhamento

de pessoas vítimas de violência doméstica e de género;

- Reforçar nos textos e nas imagens que veiculem uma representação equi-

librada dos dois sexos utilizados pelo Município a nível interno e na relação

com os /as munícipes e entidades locais;

- Promover acções para a conciliação da vida profissional e pessoal de mu-

lheres e homens que residam e/ou trabalhem no concelho de Mangualde;

- Manter contactos regulares e permanentes com a Comissão para a Cida-

dania e para a Igualdade de Género sobre as actividades referidas acima.

- O protocolo tem a duração de um ano, sendo renovado automaticamente

por iguais e sucessivos períodos. Será criada uma Comissão de acompa-

nhamento com o objectivo de, no prazo de 30 dias após assinatura do do-

cumento, acompanhar a execução do mesmo.

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Elza Pais – Secretária de Estado da Igualdade

Quais as principais directivas deste protocolo de cooperação no âmbito da Igualdade de

Género com a Câmara Municipal de Mangualde?

Através deste protocolo vamos estabelecer parcerias com organizações não governamentais, com

outros departamentos de Estado para se promover a Igualdade de Género neste concelho, que

é o mesmo que dizer, para promovermos a conciliação entre vida pessoal, a vida profissional e

a vida familiar, há que promover o empreendedorismo feminino, o reforço de competências em-

preendedoras das mulheres (por exemplo) na política, combater a violência doméstica que é um

flagelo muito grande, pois através de protocolos poderemos articular trabalhos com as escolas,

no sentido de levar de uma forma mais esquematizada a campanha contra a violência no namoro

nas escolas secundárias deste município e finalmente, o protocolo propõe-se a contribuir para

uma representação equilibrada de homens e mulheres nos cargos de decisão ao nível da orgânica

interna da autarquia, que também é um factor de reforço da competitividade, uma vez que é do

conhecimento público que equipas mistas são equipas mais bem preparadas para enfrentar os desafios. Com este protocolo, a autarquia está mais bem preparada

para se candidatar (se bem que já tem trabalho desenvolvido), aos fundos estruturais a integrar. Como foi anunciado, a medida foi pioneira para Mangualde, que

será uma das 25 autarquias a integrar uma rede europeia de promoção da igualdade e de combate à discriminação, apoiada pela Comissão Europeia. Portanto,

há toda uma dinâmica de construção de novos valores como o respeito pelo outro, de uma participação cívica e de um exercício de cidadania muito mais activo

que este protocolo proporcionará. Assim, debruçar-se-á ao nível das ideias, dos valores que se traduzirão em competitividade nas empresas, nas organizações não

governamentais e reforço das redes de parceria que a autarquia tem que fazer com os vários organismos que estão assentes neste município.

Em relação ao distrito de Viseu qual o nível de adesão a esta iniciativa?

Já temos alguns municípios em Viseu, que estão com esta iniciativa que estão a ser apoiados pelos fundos estruturais, já está a ser construída uma rede em Viseu. Ao

nível da promoção da Igualdade de Género dispomos de uma verba em execução que ronda 1 275 000 euros nas mais diversas actividades de promoção do empre-

endedorismo feminino de planos para a igualdade como está a ser desenvolvido na empresa Patinter S.A. há pouco mais de um ano e, cujos resultados já são visíveis,

a empresa está mais humana e estando mais humana, faz com que as pessoas estejam mais felizes e ao estarem mais felizes também se reforça a competitividade da

própria empresa, isto é, ao trabalharmos os valores, trabalhamos também a competitividade e contribuímos para o desenvolvimento do nosso país. Ora, Viseu, tal como

os demais distritos já estão integrados nesta rede e com protocolos destes, o objectivo é impulsionar a promoção da Igualdade de Género em todo o país.

Manuel Albano – Vice-presidente da CIG

Este protocolo é uma das manifestações do malogrado esquecimento a que o interior do

país tem estado sujeito no campo da Igualdade de Género?

Este protocolo visa promover a Igualdade de Género também na interioridade e no interior do

país. E, interioridade não significa propriamente que as pessoas não sejam desenvolvidas ou,

o nível de desenvolvimento não se mede pela localização das suas populações, mas sim por

aquilo que elas potenciam. E efectivamente este protocolo tem potenciado um desenvolvimento

sustentável, não apenas como referiu a Secretária de Estado ao nível da construção de estradas

ou equipamentos, mas sim no crescimento e na potenciação do desenvolvimento humano. E

isto é algo que está na agenda da Câmara Municipal de Mangualde. A assinatura deste protocolo

vem claramente rectificar isso do ponto de vista duma aposta clara e inequívoca também no

desenvolvimento humano.

Ao nível da CIG quais são os próximos projectos? Avançar com novos protocolos?

Essas questões estão sempre em cima da mesa. Há que trabalhar cada vez mais e melhor e mais perto de quem está no terreno e as autarquias são o elo de

ligação mais próximo das populações, quer sejam as câmaras municipais ou as juntas de freguesia. São um elo importantíssimo e potenciador deste desenvol-

vimento humano. Assim, se elas próprias tiverem nos seus quadros toda a formação no âmbito da Igualdade de Género, se os seus recursos humanos estiverem

formados, eles próprios vão ser replicadores para as populações que abrangem do ponto de vista deste conhecimento e deste desenvolvimento. Aí, certamente

teremos pessoas mais felizes, municípios mais alegres e municípios mais desenvolvidos também por essa via.

Todo o investimento é importante, portanto?

Todo. Sem dúvida. Seja ele financeiro ou não.

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Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina

CIG

Seminário Mutilação Genital Feminina

Fatumata Djau BaldéMais do que um rosto é uma voz que se agasta no contraditório uni-verso da MGF. Neste seminário pela eliminação da MGF, Fatumata Djau Baldé* pela primeira vez contou a sua história que se cruza com as horrendas tradições culturais inerentes à sua infância. Nascida na Guiné-Bissau, vivia com a sua mãe, uma das cinco espo-sas de seu pai, que só deu à luz meninas e por essa razão muito foi discriminada. Nascer mulher, portanto, não foi de todo uma dádiva, piorou quando chegou à altura do ritual do “fanado” ou corte. Há várias maneiras de fazer o acto de excisão, no caso concreto de Fatumata, o ritual cumpria-se após o corte do clítoris da rapariga, por uma velha senhora (a “fanateca”), cujo instrumento de corte era o mesmo, ritual após ritual, todo ensanguentado, sem qualquer cui-

dado sanitário. Aos 9 anos de idade foi a vez de Fatumata, o corte não era o mais doloroso, talvez nessa idade não se apercebesse do simbolismo e significado, apenas do medo. No fundo, desconhe-cia as consequências daquele terrorífico acto. Da primeira vez, não foi possível o corte, submetida pela segunda vez, não conseguiram novamente cumprir a tradição, a sua mãe, discriminada por ter ap-enas filhas, ficaria afamada de ter uma filha feiticeira, isto porque, suspeitava-se que tivesse ‘poderes’ que a faziam “engolir” o clítoris na altura do corte. Houve uma terceira e última tentativa, que tam-bém não surtiu efeito. Quando contou a história a seu pai depois de procurá-lo, ele proibiu que se tentasse novamente. Na altura as dúvi-das assombravam-na, queria respostas e apenas a formação que conseguiu ter a fez desculpar a ignorância do país. É na educação, que estas dúvidas se dissipam como salientou: “apesar da pobreza em que se vivia, consegui ter acesso à formação. E pergunto-me inúmeras vezes para quando o abandono desta prática? Porque é que a minha mãe não a tentou abandonar? Encontrei a resposta. – Porque não tinha formação. Eu fui educada e por isso defendo o fim à mutilação genital feminina, pois é prejudicial à saúde humana. E há que incutir também na mentalidade dos homens esta erradicação.” Relembra ainda que é prática comum na UE dado que as comuni-dades imigrantes não abandonam os seus rituais, mesmo fora do país de origem.

* Activista social na defesa dos direitos das mulheres e das crianças,

actualmente é Presidente do Comité Nacional para o Abandono das

Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança da Guiné-Bissau.

Elza Pais – Secretária de Estado para a Igualdade“O trabalho iniciou-se há um ano, é um trabalho inovador no contexto da União Europeia, no qual somos tidos como um país de referência face ao plano de acção lançado há um ano e que se integra no Plano Nacional para a Igualdade. E, nesta iniciativa em que 5 países da UE se juntam para lançar uma campanha em conjunto contra a MGF dá conta justamente desse carácter inovador e pioneiro de Portugal no combate a um flagelo que mutila 140 milhões de mulheres em todo o mundo. É preciso dizê-lo bem alto para condenarmos o fenómeno, mas mais do que o condenar, sob o ponto de vista da punição legal, há sobretudo que estabelecer uma ponte, um diálogo com as culturas que o praticam, no sentido de levar as mulheres que cometem esta atrocidade a alterar práticas nefastas, porque não há nenhuma cul-tura que se preserve, mutilando as pessoas. E, é fundamental que este tipo de comportamentos seja alterado com vontade das próprias populações. Daí que a campanha estrategicamente se dirija à sensibilização, por um lado dos profissionais de saúde, por outro lado dos profissionais de educação e também ao desenvolvimento estratégico da cooperação com países africanos para que esta ponte, com as pessoas que noutras culturas praticam isto, à luz da preservação dessa mesma cultura, para que tenham consciência, de que assim não se preserva qualquer cultura. Portanto, os limites do entendimen-to e da preservação das culturas para nós acabam, quando os direitos humanos são violados. Temos conhecimento de casos em Portugal, como acontece nos demais países da UE, pessoas que residem no nosso país e trouxeram esse hábito cultural com elas. Os casos não registados existem, porque é uma realidade muito oculta e é muito difícil a sua identificação, contudo, este trabalho é para irmos desocultando no sentido de a podermos combater, e sobretudo sensibilizarmos as pessoas para a abandonarem e, é isso que estamos a fazer quer junto dos profissionais de saú-de, de educação, quer com as associações que nas comunidades imigrantes nos possam ajudar a estabelecer estas pontes com as pessoas, para elas abandonarem esta prática nefasta e gravíssima sobre a vida das mulheres.”

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Jorge Lacão – Ministro dos Assuntos

Parlamentares“Não tenho qualquer dúvida em sublinhar a importância no conceito: tole-rância zero. A sociedade portuguesa é uma sociedade aberta, disponível para o acolhimento de muitas comunidades imigrantes. Está confrontada com um duplo desafio, por um lado saber acolher com respeito e consi-deração as tradições culturais dos povos, a multiculturalidade, a intercul-turalidade na vida quotidiana e fazer disto também uma boa prática de cidadania, saber respeitar a diferença do outro é uma forma de sublinhar nele a nossa própria dignidade. Mas há a outra perspectiva que com esta tem que se saber conciliar, a perspectiva de que a dignidade segue inde-pendente do quadrante geográfico, da origem, das convicções políticas,

religiosas, culturais ou outras, assenta num padrão de referências que devemos ter como fundamental, que é precisamente o critério dos direi-tos fundamentais da pessoa humana. A Constituição Portuguesa fala do

direito ao desenvolvimento da personalidade, que é algo da maior importância no quadro de uma sociedade aberta e de uma civilização democrática. E por isso há que saber conciliar a interculturalidade. Nessa dignidade está de facto o direito à autodeterminação da personalidade autodeterminação da vontade e consequentemente o direito que assiste a cada pessoa, em particular às mulheres nesta temática da MGF, à integridade e à inviolabilidade do seu próprio corpo. Escutei uma vítima de MGF em Bruxelas, que referiu que era um dever de todos nós não tolerar, não fingir que não acontece, porque

esse sendo um problema de muitas mulheres, em muitos ambientes tradicionais, só através do direito à dignidade pessoal seremos capazes de contribuir para erradicar práticas nefastas à dignidade da pessoa humana. Temos feito algum avanço nesse sentido. O Código Penal português veio criminalizar este tipo de comportamento. Esta norma é sobretudo a afirmação de um valor ético-jurídico que entregamos no nosso padrão referencial, valor esse que

passa precisamente pela noção que a autodeterminação da vontade e a integridade física são um valor fundamental a preservar. Mas sabemos que um problema como este não se resolve na lógica da repressão criminal, mas na lógica da consciência cívica, dos valores em que acreditamos, e é por isso que campanhas do fim à MGF no quadro europeu, e português fazem todo o sentido. E, é também por isso que pudemos dar apoio em sede governamental

a uma iniciativa da maior importância da nossa sociedade civil, em relação à qual várias pessoas se empenharam profundamente, para que pudéssemos ter estabelecido um programa de acção para a eliminação da MGF, programa esse que se enquadrou nas medidas do terceiro plano nacional para a igualdade, e que consequentemente permite que possamos ter aprofundado dispositivos de acção visando a prevenção deste tipo de comportamentos. É nisto que todos nos continuaremos a empenhar, e é no desenvolvimento deste tipo de medidas, que quer os poderes públicos, quer as organizações da sociedade civil podem concorrer entre si para potenciar o mais possível os seus resultados. Sabemos tentar superar esta desigualdade que tem vários séculos de história: a desigualdade entre os homens e as mulheres. Vivemos num tempo, pelo menos num quadro de legislação democrática em que é intolerável admitir-se uma desigualdade consagrada nos costumes em relação ao estatuto dos homens e das mulheres na sociedade. Se há diferenças de género há sobretudo um grande princípio de igualdade da pessoa humana e é em nome dele que perante este problema, temos todo o mesmo dever, respeitar a identidade do outro, mas sobretudo de respeitar a dignidade de todos.”

Osvaldo de Castro

Lisa Vicente

Manuel Albano

Alanna Armitage

Ifrah Ahmed Salim

Manuel Correia

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“Mudar de vida não é impossível!”

Soroptimist International

«O melhor para as Mulheres» é a interpretação mais fiel de um dos mais antigos movimentos de mulheres no mundo o Soroptimist International. Proveniente do latim, das palavras “Soror” (irmã) e “Optima” (melhor), pode-mos estreitar uma interpretação ainda mais vinculativa, ou seja, um conjunto de ‘irmãs’ cujo fim é proporcionar um mundo mais consciente e condizente para com as mulheres que não tenham coragem para mudar de vida.Personificando este conjunto de mulheres (irmãs) que se unem para auxiliar elos mais fracos, no distrito do Porto existe há cinco anos uma Casa de Abrigo. Encontrar no-vos portos de abrigo precisa-se, assim como espreitar o trabalho feito na vizinha Espanha, que dispõe do Instituto da Mulher, com várias delegações pelo país… O desejo de Teresa Rosmaninho, presidente do Clube, no Porto, é a abertura de um centro feminino de cidadania no Porto, ideia que gostaria de ver replicada por todo o país, en-quanto conceito de serviço de apoio à mulher. Sem filiação política e religiosa, esta organização não go-vernamental, com estatuto consultivo nas Nações Unidas e representação no Conselho da Europa, segue o lema in-ternacional «Compreender, Defender e Empreender», que apesar de parecer utópico, não é mais que uma vontade que parte da sensibilidade feminina, quiçá maternal de uma intervenção urgente e necessária nas mais diversas áreas sociais em benefício do cumprimento dos direitos humanos, dos direitos das mulheres.

Considera que apenas a sensibilidade feminina é capaz de se unir

para elevar os direitos das mulheres?

Teresa Rosmaninho (TR) – A sensibilidade das mulheres é muito im-

portante para defender as outras mulheres, mas não o podem fazer

se não tiverem homens sensíveis e democratas ao lado delas, pois o

poder tem estado historicamente nas mãos dos homens. Precisamos

de todos, homens e mulheres, para lutarem pelos direitos das mulheres,

pelos direitos humanos.

A própria lei da paridade acabou por trazer mais-valias à demo-

cracia…

TR – Considero que sim. Sou absolutamente a favor da questão das

quotas porque acho que só dessa forma é que conseguimos que um

poder que está instituído há muitos anos, que é um poder claramente

masculino dê algum espaço às mulheres nos lugares de eleição.

Em breves palavras como caracteriza a Soroptimist e o que as dis-

tingue das demais?

TR – O Soroptimist International é um movimento mundial. O facto de

ser um movimento global, mas de, simultaneamente, estarmos presen-

tes a nível local, através dos diferentes clubes que se organizam nas

cidades, dá-nos um poder de influência vasto. Por outro lado, por estar-

mos representadas nos vários órgãos internacionais e por agruparmos

mulheres que são profissionais, mulheres que acederam ao mercado

de trabalho e que têm competências profissionais em variadas áreas,

por sermos apartidárias e não termos posições religiosas, podemos

desenvolver um trabalho no Porto com várias autarquias e instituições

de todo o tipo. Enfim, o que nos distingue é sobretudo sermos um mo-

vimento internacional muito antigo, senão o mais antigo no mundo de

mulheres. Intervimos localmente e, a composição dos nossos clubes é

sempre constituída por mulheres profissionais, o que representa uma

mais-valia.

Teresa Rosmaninho

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Enquanto presidente fundadora da Soroptimist do Porto, que re-trato nos faz do desenvolvimento do movimento, ou seja, como foi introduzir e como se move neste momento?TR – No Porto temos uma boa associação, todas nós temos competências e somos amigas, o que é muito importante. Penso que fizemos muito bem

em agarrarmos um único projecto, um projecto ambicioso e ousado, que foi a Casa Abrigo, porque todas nos focalizamos e concentramos nesta questão em vez de estarmos a dispersar as nossas energias em pequenos projectos. No passado dia 25 de Novembro fizemos a apresentação dos

cinco anos de funcionamento da Casa Abrigo, um trabalho que temos vin-do a desenvolver. É um trabalho de proximidade, próximo das mulheres e das crianças que foram vítimas de violência. Já ajudamos muitas famílias, muitas mulheres e crianças. Cumprimos os nossos objectivos. Como as restantes casas abrigo temos um financiamento da Segurança Social, que

gerimos rigorosamente. E com a colaboração da nossa equipa técnica te-mos conseguido que as mulheres e crianças que vão para a Casa Abrigo tenham um novo projecto de vida e escapem à violência.

No entanto, as casas abrigo existentes em Portugal são ainda in-suficientes…

TR – Acho que deveriam existir mais casas de abrigo, com uma melhor localização e distribuição no país. É muito duro e complicado trabalhar com uma mulher ou crianças que estejam muito afastadas geografica-mente. Felizmente temos casos de sucesso. Não obstante, acho que deveria existir uma distribuição mais equilibrada. As assimetrias ainda são muito grandes entre litoral e interior. E talvez seja necessário es-pecializar algumas casas, por exemplo, era importante que existissem algumas casas de alta segurança.

No distrito do Porto os casos de violência doméstica têm aumenta-do ou tem-se contrariado esta tendência através da denúncia?TR – Não penso que tenham aumentado, mas por certo tem havido mais denúncias. E isso é muito bom, porque quer dizer que as pessoas só denunciam porque confiam no sistema, por acham que vale a pena

denunciar. Apercebem-se da existência de serviços de apoio, da exis-tência de casas abrigo, do direito a indemnizações, do direito privilegia-do à formação profissional. Quando as pessoas sabem disso, ganham

mais coragem para mudar, para por fim à violência. Aliás, entre marido e

mulher toda a gente deve meter a colher, porque a violência doméstica é um crime público. Por isso, toda a sociedade é responsável por não permitir que uma mulher e seus filhos vivam situações de violência.

É da opinião que os meios de comunicação acabam por desem-penhar um papel determinante, na divulgação das denúncias de casos de violência doméstica?TR – Sim. É um trabalho fundamental. Representam pilares fortes de uma democracia, enquanto veículo de divulgação de meios para as pessoas conhecerem os seus direitos. E se são muito importantes na divulgação das questões políticas são-no também na promoção e defesa dos direitos das pessoas e na divulgação dos novos direitos. Portanto, são fundamentais para a informação das vítimas, dos seus familiares e amigos. A Comunicação Social tem um enorme impacto na comunidade, ao alertar as pessoas para os seus direitos nos casos de violência doméstica.

A nova Secretaria de Estado da Igualdade atribuída à Dra. Elza Pais acaba por ser uma mais-valia no combate a este flagelo social?

TR – Termos essa Secretaria de Estado é muito bom para Portugal. E o lugar está preenchido por uma pessoa competente e que já deu provas, a Dra. Elza Pais. Portanto, estão a ser construídos instrumentos de me-lhoria da nossa democracia, de melhor qualidade de vida. A Dra. Elza Pais, com um poder político de influência transversal, pode contribuir

ainda mais para agilizar a máquina do Estado ao serviço das mulheres. Pode igualmente realçar e incentivar o papel das próprias autarquias, que precisam ainda de alguns impulsos. Têm que perceber que não podem estar alheios à sua comunidade, às situações de violência do-méstica que ocorrem nos seus municípios.

Mas cada vez mais incentivam os projectos de acção social desti-nados à ajuda das próprias famílias… TR – Há que incluir formalmente a questão da violência doméstica nas políticas autárquicas. Esta intervenção directa pode ser muito importan-te, não só a intervenção dos técnicos, como a do próprio poder local que poderá tratar melhor estas questões… E criar respostas locais que envolvam diferentes parceiros, instituições da comunidade, do Estado e não governamentais.

Qual é a relação entre a CIG e a Soroptimist International?TR – A nossa relação faz parte da nossa missão enquanto organiza-ção não governamental. É uma relação de colaboração em todos os desafios que o Estado, através da CIG, lança para as associações de

mulheres que queiram trabalhar na área da promoção dos direitos hu-manos e da promoção dos direitos da mulher. Temo-nos candidatado a vários projectos, financiados por fundos comunitários, mas sempre

geridos pela CIG e pensamos ter dado um contributo positivo para a

prossecução das políticas públicas na área da Igualdade de Género e

do combate à Violência Doméstica.

Quais vão ser os próximos passos da organização?TR – Apresentamos uma nova candidatura de levantamento, ponto de situação e análise das casas de abrigo. E gostaria que pudéssemos colaborar num Centro Distrital de Apoio às Mulheres… penso que se-ria muito importante que conseguíssemos para o distrito do Porto um centro pioneiro para as mulheres. Um centro que abrangesse de tudo, contribuísse para mulheres melhor informadas, tratasse das questões de violência doméstica, promovesse o empreendedorismo feminino. No fundo, uma espécie de loja da cidadã, um centro feminino de cidadania. Sabemos que o distrito do Porto é afectado pelo desemprego, pela po-breza. Quem é sempre mais afectado pela pobreza e pelo desemprego?

São as mulheres. Por isso este centro pioneiro em Portugal poderia dar um contributo positivo para todas as mulheres.

Qual o papel da mulher na sociedade actual?TR – Na minha perspectiva há muitas sociedades e muitas mulheres. O trabalho de uma mulher muçulmana em luta pelos direitos das mu-lheres, deve ser uma coisa que nada tem a ver com a nossa realidade europeia de democracia.

Como vê a instituição dentro de uma década? Vai continuar a acompanhá-la?TR – Sim. Este ano vamos tentar conquistar mais jovens para a asso-ciação, pessoas que tenham alguma disponibilidade para nos ajudar a manter a Casa de Abrigo, que é o nosso grande projecto.

Imaginemos na hipótese de uma vítima de violência doméstica ler esta entrevista, que mensagem lhe dirigiria?TR – Primeiramente essa pessoa deveria ligar para a linha telefónica gratuita da CIG (800202148), para se informar. E gostaria de passar uma

mensagem de confiança porque ‘ninguém merece perder o sorriso’,

como acontece a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. Dizer-lhes que têm o direito à felicidade. Por fim, salientar que o ca-samento é uma ligação afectiva, íntima, algo de prazer, de bem-estar, de felicidade e não um quotidiano de inferno. Se for isso, como dizia o António Variações, o melhor mesmo é «Mudar de Vida»! E não é impos-sível. Temos casos de pessoas que passaram na Casa Abrigo e que de facto têm uma enorme qualidade de vida neste momento. Dormem tranquilas à noite, sabem sorrir, dão-se bem com os filhos, as crianças

passaram a ir à escola e a ter sucesso escolar. Algumas delas já encon-traram outros homens bons, porque o mundo não está feito apenas de homens maus.

O vosso lema «Compreender, Defender e Empreender» será segu-ramente um objectivo mundial a cumprir. Há ainda lugar para as mulheres em todas as áreas? TR – Há imensos lugares para as mulheres, é preciso conquistá-los.

Teresa Rosmaninho

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