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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 15/8/2011 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A5 RELIGIÃO Devotos do candomblé e catolicismo lotaram missa realizada ontem na Igreja de São Lázaro Fé em Omolu marca tradicional festa em homenagem a São Roque VERENA PARANHOS Apesar da tradicional festa de São Roque/Omolu estar mar- cada para amanhã, devotos do santo lotaram ontem a missa realizada na Igreja de São Lázaro, na Federação. As festividades seguem hoje, com missas às 7, 9, 16 e 18 horas e amanhã a programa- ção é intensa com missas às 7, 9, 11 e 15 horas, além de uma procissão às 16 horas. A Festa de São Roque é uma das tradições compartilhadas nas diversas regiões do En- genho Velho da Federação e Federação. A missa em home- nagem ao santo, segundo pa- droeiro da Igreja de São Lá- zaro, é de origem católica, mas é forte a participação do candomblé, que homenageia Omolu com lavagem da es- cadaria da Igreja de São Lá- zaro, velas acesas, além de ba- nho de pipoca. Sentado sob o sol forte, ves- tido de branco, Gilcimar San- tos, 30, aguardava o final da missa ao lado de dois balaios de pipoca e com uma pomba branca nas mãos. “Segunda e terça é muito cheio. Não dá para fazer as oferendas como a gente gosta”, justifica o ra- paz que veio com cerca de 20 pessoas do seu terreiro. Crenças “Viemos à missa para refor- çar. Escutar primeiro as pa- lavras de Deus, que sem Ele não somos nada, depois te- mos nossa crença nos orixás”, conta o homem que desde os 5 anos participa das comemo- rações ao santo. Maria José Conceição, de- vota de São Lázaro e São Ro- que, todo ano dá uma feijoada em agradecimento por ter so- brevivido e se livrado da ame- ça de ter as pernas cortadas em um acidente de carro há 41 anos. Após algumas preces, ela foi a encumbida de dar o tradicional banho de pipoca na porta da igreja. A agente comunitária de saúde, Soraia Marques, vem todas as segundas-feiras à missa reverenciar o santo pa- ra curar um mal que tem des- de a adolescência. “É um alí- vio espiritual. Quando inicia o mês de agosto, meus pés abrem em ferida. Nenhum dermatologista sabe o que é. A única coisa que mantém as feridas fechadas é a fé”, diz a filha de Iemanjá e Omolu. Este ano, a católica Valde- lice de Jesus veio de Conceição de Almeida para assistir à missa na capital. “Como me mudei há alguns anos, tenho cumprido a promessa onde moro. Mas o importante é que não deixo de fazer”, explica a devota que foi curada de uma coceira que os médicos não sabiam explicar. “A devoção é tanta que co- loquei o nome de um filho Roque, mesmo tendo nascido em março. E deu certo: ele trabalha com construção, já sofreu acidentes, mas São Ro- que sempre o protege”. Conta-se que São Roque nasceu no século XIII na Fran- ça e era filho do governador. Estudou nas melhores escolas e cursou medicina. Após per- der os pais, decide seguir as palavras de Jesus ao invés de administrar o patrimônio da família. Mais tarde, distribui seus bens e vai cuidar dos doentes da peste negra. Erik Salles / Ag. A TARDE Homenagem a Omolu conta com lavagem da escadaria, velas e banho de pipoca Procissão encerra os festejos a São Domingos Na manhã de ontem foram encerrados os festejos a São Domingos, com uma missa festiva na Capela da Igreja Or- dem de Terceira de São Do- mingos de Gusmão, no Largo do Pelourinho, seguida de uma procissão pelas ruas do Centro Histórico. “A festa é sempre um mo- mento de renovação e apro- fundamento dos valores de São Domingos que os irmãos devem levar”, afirma Monse- nhor Ademar Dantas dos San- tos, pároco da Sé e assistente eclesiástico de São Domingos, que conduziu as atividades na manhã de ontem. Na opinião de Denilson Santos de Jesus, membro da Ordem há 12 anos e devoto do santo, as celebrações, além de importância religiosa, são fundamentais para chamar a atenção das autoridades para um centro histórico. Centro “Infelizmente esse espaço es- tá marcado pela droga e pelo fechamento de estabeleci- mentos comerciais. Esse é o momento da Igreja fazer a parte dela, orar por essas pes- soas, atrair fiéis e mostrar que o centro está vivo”, afirma De- nilson Santos. Ordem Terceira do padroeiro foi criada na Bahia no ano de 1723 São Domingos, o santo fun- dador da Ordem dos Domi- nicanos, é tido como um dos grandes pregadores da Igreja Católica. “Ele era devoto de Nossa Senhora e passou a di- fundir a devoção ao rosário, que viria a ser um dos sím- bolos do catolicismo. É um santo pouco conhecido, mas tem uma irmandade muito forte, presente desde a Idade Média”, informa Júlio César Soares, da Ordem do Rosário dos Pretos. Embora os frades domini- canos só tenham se estabe- lecido no Brasil em 1881, a Ordem Terceira de São Do- mingos foi fundada na Bahia em 1723 pelo missionário do- minicano português frei Ga- briel Batista. “Atualmente te- mos 18 grupos em vários es- tados. São muitas pessoas en- gajadas nas pastorais e ati- vidades sociais”, diz o frei Ma- riano Foralosso, dominicano de São Paulo, responsável pe- la assistência espiritual a to- das as ordens do Brasil. A missa marcou ainda a en- trada de três novos membros na Ordem dos Dominicanos, que passa a ter 28 integrantes. Da procissão participaram também membros da Vene- rável Ordem Terceira de Nos- sa Senhora do Carmo e da Or- dem do Rosário dos Pretos. VERENA PARANHOS São Domingos foi o santo fundador da Ordem dos Dominicanos MISSAS ACONTECEM HOJE E AMANHÃ As homenagens a São Roque seguem hoje, com missas às 7, 9, 16 e 18 horas, e amanhã, com missas às 7, 9, 11 e 15 horas, além de uma procissão às 16 horas

Fé em Omolu marca tradicional festa em homenagem a São Roque

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Matéria os preparativos para as festividades do santoSalvador, Jornal A Tarde, 15 de agosto de 2011

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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 15/8/2011 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A5

RELIGIÃO Devotos do candomblé e catolicismo lotaram missa realizada ontem na Igreja de São Lázaro

Fé em Omolu marca tradicionalfesta em homenagem a São RoqueVERENA PARANHOS

Apesar da tradicional festa deSão Roque/Omolu estar mar-cada para amanhã, devotosdo santo lotaram ontem amissa realizada na Igreja deSão Lázaro, na Federação. Asfestividades seguem hoje,com missas às 7, 9, 16 e 18horas e amanhã a programa-ção é intensa com missas às 7,9, 11 e 15 horas, além de umaprocissão às 16 horas.

A Festa de São Roque é umadas tradições compartilhadasnas diversas regiões do En-genho Velho da Federação eFederação. A missa em home-nagem ao santo, segundo pa-droeiro da Igreja de São Lá-zaro, é de origem católica,mas é forte a participação docandomblé, que homenageiaOmolu com lavagem da es-cadaria da Igreja de São Lá-zaro, velas acesas, além de ba-nho de pipoca.

Sentado sob o sol forte, ves-tido de branco, Gilcimar San-tos, 30, aguardava o final damissa ao lado de dois balaiosde pipoca e com uma pombabranca nas mãos. “Segunda eterça é muito cheio. Não dápara fazer as oferendas comoa gente gosta”, justifica o ra-paz que veio com cerca de 20pessoas do seu terreiro.

Crenças“Viemos à missa para refor-çar. Escutar primeiro as pa-lavras de Deus, que sem Elenão somos nada, depois te-mos nossa crença nos orixás”,conta o homem que desde os5 anos participa das comemo-rações ao santo.

Maria José Conceição, de-vota de São Lázaro e São Ro-

que, todo ano dá uma feijoadaem agradecimento por ter so-brevivido e se livrado da ame-ça de ter as pernas cortadasem um acidente de carro há 41anos. Após algumas preces,ela foi a encumbida de dar otradicional banho de pipocana porta da igreja.

A agente comunitária desaúde, Soraia Marques, vemtodas as segundas-feiras àmissa reverenciar o santo pa-ra curar um mal que tem des-de a adolescência. “É um alí-vio espiritual. Quando iniciao mês de agosto, meus pésabrem em ferida. Nenhumdermatologista sabe o que é.A única coisa que mantém asferidas fechadas é a fé”, diz afilha de Iemanjá e Omolu.

Este ano, a católica Valde-lice de Jesus veio de Conceiçãode Almeida para assistir àmissa na capital. “Como memudei há alguns anos, tenhocumprido a promessa ondemoro. Mas o importante é quenão deixo de fazer”, explica adevota que foi curada de umacoceira que os médicos nãosabiam explicar.

“A devoção é tanta que co-loquei o nome de um filhoRoque, mesmo tendo nascidoem março. E deu certo: eletrabalha com construção, jásofreu acidentes, mas São Ro-que sempre o protege”.

Conta-se que São Roquenasceu no século XIII na Fran-ça e era filho do governador.Estudounasmelhoresescolase cursou medicina. Após per-der os pais, decide seguir aspalavras de Jesus ao invés deadministrar o patrimônio dafamília. Mais tarde, distribuiseus bens e vai cuidar dosdoentes da peste negra.

Erik Salles / Ag. A TARDE

Homenagem a Omolu conta com lavagem da escadaria, velas e banho de pipoca

Procissão encerra osfestejos a São DomingosNa manhã de ontem foramencerrados os festejos a SãoDomingos, com uma missafestiva na Capela da Igreja Or-dem de Terceira de São Do-mingos de Gusmão, no Largodo Pelourinho, seguida deuma procissão pelas ruas doCentro Histórico.

“A festa é sempre um mo-mento de renovação e apro-fundamento dos valores deSão Domingos que os irmãosdevem levar”, afirma Monse-nhor Ademar Dantas dos San-tos, pároco da Sé e assistenteeclesiásticodeSãoDomingos,queconduziuasatividadesnamanhã de ontem.

Na opinião de DenilsonSantos de Jesus, membro daOrdem há 12 anos e devoto dosanto, as celebrações, além deimportância religiosa, sãofundamentais para chamar aatenção das autoridades paraum centro histórico.

Centro“Infelizmente esse espaço es-tá marcado pela droga e pelofechamento de estabeleci-mentos comerciais. Esse é omomento da Igreja fazer aparte dela, orar por essas pes-soas, atrair fiéis e mostrar queo centro está vivo”, afirma De-nilson Santos.

Ordem Terceirado padroeiro foicriada na Bahiano ano de 1723

São Domingos, o santo fun-dador da Ordem dos Domi-nicanos, é tido como um dosgrandes pregadores da IgrejaCatólica. “Ele era devoto deNossa Senhora e passou a di-fundir a devoção ao rosário,que viria a ser um dos sím-bolos do catolicismo. É umsanto pouco conhecido, mastem uma irmandade muitoforte, presente desde a IdadeMédia”, informa Júlio CésarSoares, da Ordem do Rosáriodos Pretos.

Embora os frades domini-canos só tenham se estabe-lecido no Brasil em 1881, aOrdem Terceira de São Do-mingos foi fundada na Bahiaem 1723 pelo missionário do-minicano português frei Ga-briel Batista. “Atualmente te-mos 18 grupos em vários es-tados. São muitas pessoas en-gajadas nas pastorais e ati-vidades sociais”, diz o frei Ma-riano Foralosso, dominicanode São Paulo, responsável pe-la assistência espiritual a to-das as ordens do Brasil.

A missa marcou ainda a en-trada de três novos membrosna Ordem dos Dominicanos,que passa a ter 28 integrantes.Da procissão participaramtambém membros da Vene-rável Ordem Terceira de Nos-sa Senhora do Carmo e da Or-dem do Rosário dos Pretos.

VERENA PARANHOS

São Domingosfoi o santofundador daOrdem dosDominicanos

MISSAS ACONTECEMHOJE E AMANHÃ

As homenagens a SãoRoque seguem hoje, commissas às 7, 9, 16 e 18horas, e amanhã, commissas às 7, 9, 11 e 15horas, além de umaprocissão às 16 horas