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DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO ANO XVIII • NÚMERO 49 • jANEIRO / juNhO • 2010 • Decretos • aprovação • pág. 11 Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano • Documentos • Orientações Pastorais • pág. 26 Celebrações da Eucaristia Dominical • Teologia/Pastoral • Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos • pág. 99 Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida • história • Saul Gomes • pág. 109 Diocese de Leiria – contributos documentais • Destaque • Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana • pág. 63 Fé na beleza espiritual e moral da vida

Fé na beleza espiritual e moral da vida · D. António Marto preside à celebração festiva na Batalha: “Oásis espiritual no deserto do mundo” - Entrevista à Superiora do

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DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DOCUM

ANO XVIII • NÚMERO 49 • jANEIRO / juNhO • 2010

• Decretos • aprovação • pág. 11

Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano

• Documentos • Orientações Pastorais • pág. 26

Celebrações da Eucaristia Dominical

• Teologia/Pastoral • Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos • pág. 99

Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida

• história • Saul Gomes • pág. 109

Diocese de Leiria – contributos documentais

• Destaque • Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana • pág. 63

Fé na belezaespiritual e moralda vida

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Leiria-FátimaÓrgão Oficial da Diocese

ANO XVIII • NÚMERO 49 • JANEIRO / JUNHO • 2010

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| Luís Inácio joão

| Luís Miguel Ferraz

| henrique Dias da Silva

| Belmira de Sousa, jorge Guarda, Luciano Cristino,Manuel Melquíades, Saul Gomes

| Luís Miguel Ferraz

| Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais

| Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 LeiriaTel.: 244832760 • Fax: 244821102Correio Elec.: [email protected]

| Semestral

| 330 exemplares

| 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)

| Tipografia de Fátima

| 64587/93

Director

Chefe de Redacção

Administrador

Conselho de Redacção

Capa/Grafismo

Propriedade/Editor

Sede

Periodicidade

Tiragem

Preço

Impressão

Depósito Legal

Ficha Técnica|

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Índice

. editorial . Rumoaodigital 5

Documentos••• . decretos . Nomeaçõesepiscopais•ComissãoDiocesanaJustiçaePaz 9 Nomeaçõesepiscopais•CáritasDiocesanadeLeiria 10 DecretodeAprovaçãodosEstatutos•ConselhoPastoralDiocesano 11 Nomeaçãoepiscopal•PárocodaOrtigosa 19 Decretodenomeaçãoparaotriénio2010/2013•ConselhoPastoralDiocesano 19

. documentos pastorais . MensagemdosBisposdasDiocesesdoCentro•AnoSacerdotal-Quaresmade2010 21 Mensagemquaresmal•QuaresmaEcológica 23 OrientaçõesPastorais•CelebraçõesdaEucaristiaDominical 26

. escritos episcopais . HomiliadeAnoNovo•Cuidardacriação,caminhoparaapaz 29HomilianasexéquiasdeMonsenhorHenriqueFernandesdaFonseca•Homemdeféepastorexemplar 33 Discursonatomadadeposse•ComissãoDiocesanaJustiçaePazeCáritasDiocesana 36 ApelodoBispodiocesano•PeregrinaçãodoSantoPadreaFátima 39 HomiliadaMissaCrismal•Presbitérioemcomunhãoeaoserviçodacomunhão 40 VisitaPapalaoSantuáriodeFátima•SaudaçãodoBispodeLeiria-Fátima 45 FestadaFé•Discursoinaugural 46 FestadaFé•AcolhimentodaVirgemPeregrina 49 Homilia•SantíssimoCorpoeSanguedeCristo 51

. diversos . ComunicadodaDiocese•SantoPadrenomeiaMonsenhorManuelGonçalvesJaneiro 53 ComunicadodaDiocese•PiaUniãodasEscravasdoDivinoCoraçãodeJesus 55 ComunicadodaDiocese•P.MarcinStrachanowski 57 ComunicadodaDiocese•Nomeaçõesepiscopais 58 ComunicadodoConselhoPresbiteral•Anodedicadoaoserviçoàpessoa 60

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Índice

Vida Eclesial•••. destaque .

DiocesedeLeiria-Fátimamobilizou-separaafesta•Fénabelezaespiritualemoraldavida 63 Falecimento•MonsenhorHenriquedaFonseca 67

. especial . VisitaPastoraldoBispoàDiocese•PelavigarariadeOurém… 69

. serviços e movimentos . 25anosdasuafundação•EscoladeFormaçãoTeológicadeLeigos 79 CentrodeFormaçãoeCulturaeEscolaDiocesanaRazõesdaEsperança 86 ServiçoDiocesanodePastoraldaSaúde 87 ServiçoDiocesanodeCatequese 87 GrupoMissionárioOndjoyetu 88 MovimentodosCursosdeCristandade 89 ConvíviosFraternosDiocesanos 91 MovimentodasEquipasdeNossaSenhora 92

. entrevistas .EntrevistaaodiáconoMiguelSottomayor

“EsperoqueaminhavidasejaumaconstanteentregaaCristo” 93

Reflexões•••. teologia/pastoral .

EntregaaDeus,nahumildadeesimplicidadedevida 99OrdemdaVisitaçãofoifundadahá4séculos-

Visita“guiada”aointeriordoConventodaBatalha:Opesodaidade,alevezadeDeus-D.AntónioMartopresideàcelebraçãofestivanaBatalha:“Oásisespiritualnodesertodomundo”-

EntrevistaàSuperioradoConventodaBatalha:“FazersubiratéaotronodeDeuso«aromadasvirtudes»”-

. história . DiocesedeLeiria–contributosdocumentaisparaasuahistória 109 NovoseantigoselementosparaahistóriadocastelodeLeiria 141

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Editorial

Rumo ao digital

Tal como anunciado anteriormente, este será o último ano da publicação em papel da revista “Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese”. A justifica-ção foi já apresentada na nossa edição número 47, de Janeiro/Junho de 2009, e prende-se, sobretudo, com a optimização de recursos materiais e rapidez de resposta que nos é, actualmente, permitida pelo formato das edições digitais.

A edição presente, relativa ao primeiro semestre de 2010, apresenta-se já com algumas opções editoriais condicionadas por essa perspectiva de altera-ção de formatos.

Assim, na secção Documentos registamos, como usual, a documentação oficial da Diocese, os escritos episcopais e outros documentos de relevância pastoral.

Quanto à Vida Eclesial, inclui-se ainda algum conteúdo noticioso, pen-sando sobretudo em deixar o registo histórico desse grande acontecimento que foi a “Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”. Publicam-se também as entrevistas aos párocos das comunidades onde o Bispo diocesano passou em Visita Pastoral, dando seguimento ao trabalho iniciado anteriormente nesta rubrica, bem como as informações enviadas pelos vários serviços e movimentos diocesanos. Mas não se apresentam já as notícias do resumo do semestre na Diocese e no Santuário de Fátima, tanto pelo desfasamento temporal entretanto registado, como pelo facto de existirem outros meios de fácil acesso a essas informações.

Finalmente, na secção Reflexões, publica-se um trabalho de fundo relativo aos 400 anos da fundação da Ordem da Visitação e dois artigos de divulgação de documentação histórica da Diocese.

O número respeitante ao segundo semestre de 2010 está já na fase final de produção, pelo que, em breve, se dará por concluído este projecto no modelo até agora disponibilizado aos leitores. Nessa altura, divulgaremos a forma e as condições do novo projecto editorial do Órgão Oficial da Diocese.

A Redacção

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Editorial

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Documentos. decretos . documentos pastorais .

. escritos episcopais . diversos .

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Nomeações episcopaisComissão Diocesana Justiça e Paz

António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:

Sendo necessário constituir uma nova Comissão Diocesana Justiça e Paz para o triénio 2010-2012, havemos por bem nomear as seguintes pessoas para a integrar: Doutor Eugénio Pereira Lucas (Presidente), Dr.ª Mavíldia Carreira da Costa Frazão, Dr.ª Maria Ana Carvalho de Castro Barradas Toledo Rolla, Dr. Carlos Magalhães de Carvalho, Ambrósio Jorge dos Santos, P. Dr. Luís Inácio João.

Esta Comissão é um organismo laical da Igreja diocesana com os seguin-tes objectivos: sensibilizar a comunidade diocesana e a sociedade para os problemas de justiça nela sentidos; promover e defender os valores da justiça e da paz, numa reflexão de inspiração cristã; reflectir e divulgar a Doutrina Social da Igreja; incentivar o compromisso dos cristãos na construção da so-ciedade, da política e da economia; promover uma análise crítica, inspirada no humanismo cristão, dos fenómenos sociais. Na sua acção deverá ter em conta as orientações do Magistério da Igreja, nomeadamente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, procurando agir em coordenação com a Comissão Nacional Justiça e Paz.

Fazemos votos de que esta Comissão possa dar um bom contributo para a realização destes objectivos.

Leiria, 2 de Fevereiro de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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. decretos .

Nomeações episcopaisCáritas Diocesana de Leiria

António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:

Sendo necessário constituir novos corpos sociais da Cáritas Diocesana de Leiria, para o triénio 2010-2012, nomeamos os seguintes elementos:

DirecçãoPresidente: Dr. Júlio Coelho MartinsVice-Presidente: Dr.ª Margarida Maria Oliveira Faria Marques RamosSecretário: Dr. Lúcio Manuel Santos Ribeiro AlvesTesoureiro: Dr. Pedro Manuel de Melo Nogueira SantosVogais: Joaquim Madaíl Brilhante PedrosaDr.ª Luciana Margarida Lopes Almeida dos SantosDr. Manuel Nogueira Gonçalves dos SantosNuno Miguel Vieira dos SantosPedro José Grasina BarrosEng.º Pedro Nuno Carreira AscensoConselho FiscalPresidente: Dr.ª Rosa Maria de Sousa Brilhante PedrosaVogais: Carlos Pereira MendesHenrique Dias da SilvaAssistente: P. Dr. Luís Inácio João Estes cargos devem ser exercidos de acordo com os Estatutos, respeitando

as normas diocesanas e as orientações do Bispo diocesano.Leiria, 2 de Fevereiro de 2010

† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Decreto de Aprovação dos Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano

Dom António Augusto dos Santos Marto, bispo de Leiria-Fátima, faz sa-ber quanto segue:

Tendo sido oportuna e cuidadosamente revisto, em sede própria e de acordo com as normas canónicas em vigor, o texto dos Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano aprovado pelo meu predecessor em 1 de Agosto de 1997, de modo a torná-lo um instrumento mais adequado às actuais exigências e necessidades pastorais da nossa Diocese, havemos por bem, por meio deste Decreto:

1. Aprovar e promulgar os presentes Estatutos do CONSELHO PASTO-RAL DIOCESANO de Leiria-Fátima, que entrarão de imediato em vigor;

2. Mandar que se proceda, de acordo com as disposições estatutárias, às respectivas eleições previstas nos artigos 9-10, e que os resultados consigna-dos em acta nos sejam comunicados.

Leiria, 26 de Fevereiro de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

ESTATUTOS

PREÂMBULO1. São Paulo, ao escrever aos cristãos de Éfeso a propósito do papel dos

carismas e ministérios na edificação e organização da Igreja como corpo vi-sível de Cristo, recorda-lhes: “A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. (...) E foi Ele que a uns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. (...) É por Ele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de todas as junturas, opera o seu crescimento orgânico segundo a actividade de cada uma das partes, a fim de se edificar na caridade” (Ef 4, 7.11-13.15).

2. O decreto sobre O Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja (Christus Do-minus), do Concílio Vaticano II, reconhecendo os Bispos como legítimos sucessores dos Apóstolos, exorta-os a serem para os seus fiéis, no exercício do seu múnus, “bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos como verdadeiros pais (...), de tal modo que todos, conscientes

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dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16). E, para que possam desempenhar com solicitude esta missão que lhes foi con-fiada por instituição divina, o mesmo documento aconselha-os a conhecerem bem as necessidades dos seus fiéis, dentro das circunstâncias sociais em que vivem, mostrando interesse por todos, reconhecendo-lhes a obrigação e o di-reito de colaborarem activamente na edificação do Corpo místico de Cristo e favorecendo as várias formas de apostolado em toda a diocese e em cada uma das suas partes, coordenando a união de todas as obras apostólicas (cf Idem), de maneira que – sublinha – “todas as iniciativas e instituições de carácter ca-tequético, missionário, caritativo, social, familiar ou escolar, e qualquer outro trabalho com finalidade pastoral, tenham um desenvolvimento harmónico, o que ao mesmo tempo fará sobressair mais a unidade da diocese” (CD 17).

3. Acolhendo a referida doutrina eclesiológica de São Paulo, o mesmo decreto conciliar recomenda aos Bispos que em todas as dioceses se estabe-leça um Conselho pastoral, presidido pelo Bispo diocesano e formado por clérigos, religiosos e leigos (cf CD 27), definindo como sua principal missão “investigar e apreciar tudo o que diz respeito às actividades pastorais e for-mular conclusões práticas” (ibidem). Esta recomendação foi acolhida pelo Código de Direito Canónico, sob a forma de lei universal para toda a Igreja, nos cânones 511-514, os quais sublinham o seu carácter necessário como órgão consultivo do Bispo.

4. Assim, podemos definir o Conselho Pastoral Diocesano (CPD) como um órgão significativo de ajuda ao Bispo, no desempenho do seu ministério apostólico, no qual, a participação eclesial de todos os fiéis (que é um direito e dever de todos os baptizados), através do aconselhamento na Igreja, não só é necessária como fundamental, em vista a um discernimento para o serviço do Evangelho que deve ser preocupação comum. De facto, em virtude da sua incorporação na Igreja pelo Baptismo, todos os fiéis – leigos, clérigos e reli-giosos – estão habilitados a participar realmente e a construir, dia-a-dia, a co-munidade diocesana, pelo que o seu contributo é precioso e imprescindível.

5. O CPD tem pois, um duplo significado na vida e organização da Igreja: por um lado, representa a imagem da fraternidade e da comunhão da Igreja diocesana, da qual é expressão na variedade dos seus membros; por outro lado, e apesar do carácter consultivo que o caracteriza, o CPD deve ser um instrumento privilegiado da comum decisão pastoral, onde o ministério da cabeça, próprio do Bispo - no desempenho da presidência -, e a co-responsa-bilidade de todos os seus membros, devem encontrar a sua síntese, de modo que, todos “vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16).

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Capítulo INatureza

Artigo 1.°O Conselho Pastoral Diocesano (CPD) é um órgão consultivo auxiliar do

Bispo, que a ele preside, como expressão da co-responsabilidade apostólica de todos os baptizados na comunhão eclesial.

Artigo 2.°O CPD rege-se pelo Direito e demais orientações universais da Igreja,

por estes Estatutos e outras normas que vierem a ser estabelecidas pelo Bispo diocesano.

Artigo 3.°O CPD tem voto consultivo. Pode, porém, o Bispo diocesano atribuir-lhe

força deliberativa, comunicando previamente ao Conselho essa sua decisão.

Artigo 4.°O CPD tem a sua sede no Seminário Diocesano de Leiria.

Capítulo IICompetências e funções

Artigo 5.ºÉ da competência do CPD estudar e apreciar o que diz respeito às princi-

pais orientações e actividades pastorais na Diocese, em ordem a tornar mais adequado e frutuoso o cumprimento da missão eclesial em favor das pessoas (cf cân. 511).

Artigo 6.°São funções do CPD:a) Ajudar o Bispo diocesano a definir as orientações pastorais comuns a

todos, mediante o projecto pastoral e outros instrumentos.b) Promover o discernimento da realidade da Diocese, tirar conclusões

práticas sobre ela e indicar os caminhos pastorais a seguir.c) Possibilitar a partilha de experiências, projectos e preocupações dos di-

versos grupos ou agentes da pastoral profética, litúrgica e sócio-caritativa.

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d) Dar parecer sobre o programa anual de acção pastoral da Diocese.e) Avaliar periodicamente os resultados das orientações definidas, dos

programas e das actividades realizadas.

Artigo 7.°No exercício das suas funções, o CPD contará com o apoio e colaboração

de todas as estruturas do Povo de Deus, públicas ou privadas, podendo mes-mo constituir comissões especiais.

Capítulo IIIConstituição

Artigo 8.ºO CPD é constituído por leigos, clérigos e membros dos Institutos de Vida

Consagrada, de modo a retratar a variedade do Povo de Deus na Diocese, segundo as condições sociais, culturais e de apostolado, e as diferentes zonas (cf cân. 512).

§ único. Só devem ser escolhidos fiéis que estejam em plena comunhão com a Igreja Católica e se distingam pela firmeza de fé, bons costumes e prudência (cf cân. 512 § 3).

Artigo 9.°São membros do CPD:§ 1. Em função do seu cargo:

a) Vigário Geral. b) Vigário judicial.b) Reitor do Seminário.c) Reitor do Santuário de Fátima.

§ 2. Por eleição:a) Um representante do Conselho Presbiteral. b) Um representante dos Vigários da vara.c) Um representante do Conselho de Coordenação Pastoral.d) Um leigo representante de cada vigararia, eleito em assembleia

constituída pelos conselhos pastorais paroquiais, presidida pelo res-pectivo vigário.

e) Um representante de cada um dos seguintes departamentos dioce-sanos, indicados pelos respectivos directores: educação cristã, pas-

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toral juvenil e escolar, pastoral familiar, liturgia, vocações cristãs e pastoral social.

f) Um representante dos institutos de vida consagrada masculinos, ou-tro dos femininos e outro dos seculares, indicados pela respectiva conferência diocesana (CIRP) ou equivalente.

g) Três representantes das associações de fiéis, movimentos apostó-licos e novas comunidades, eleitos em assembleia de responsáveis, convocada e presidida pelo director do departamento diocesano das vocações cristãs.

§ 3. Por nomeação:Os que o Bispo diocesano queira designar, sendo desejável que o seu

número não ultrapasse um décimo do total e que as pessoas escolhi-das provenham de áreas não abrangidas pelo § 2.

Artigo 10.º§ 1. De cada uma das eleições a que se refere o § 2 do artigo 9.º, deve-

rá lavrar-se uma acta, assinada pelo presidente ou pelo secretário, na qual devem constar os resultados do escrutínio, com a indicação do número de presenças e ausências, nome dos eleitos, sua data de nascimento, profissão, endereço postal e electrónico e número de telefone e/ou de telemóvel. O pre-sidente providenciará pelo envio, o mais rápido possível, dessa acta à Secre-taria episcopal.

§ 2. As eleições serão feitas por sufrágio directo, escrito e secreto.§ 3. Todos os membros eleitos deverão ser confirmados pelo Bispo Dio-

cesano.

Artigo 11.º§ 1. O CPD é constituído pelo prazo de três anos.§ 2. Os membros do CPD podem sempre ser nomeados de novo ou reeleitos.§3. Ao vagar a Sede Episcopal, o CPD cessa as suas funções (cf cân. 513 § 2).

Artigo 12.º§ 1. Os membros do CPD cessam o mandato:

a) Por demissão ou por renúncia aceite pelo Bispo diocesano;b) Por cessação do respectivo cargo, os membros natos;c) Por deixarem de pertencer ao grupo que os elegeu.

§ 2. As vagas serão preenchidas da mesma forma da anterior designação, mas apenas para completar o mandato.

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Capítulo IVOrganização

Artigo 13.ºSão órgãos constitutivos do CPD:a) O Presidente.b) O Secretariado Permanente. c) O Plenário.

Artigo 14.ºCompete ao Presidente, que é sempre o Bispo Diocesano:a) Aprovar e promulgar os Estatutos.b) Confirmar os membros a que se refere o artigo 9.º § 2.c) Designar os membros da sua escolha, conforme o artigo 9.° § 3.d) Nomear o Secretário.e) Convocar as reuniões do Plenário e aprovar a agenda de trabalhos.f) Presidir, por si, por seus vigários ou delegados, a essas reuniões.g) Aprovar e tornar públicas as conclusões tomadas nas reuniões plenárias.h) Coordenar superiormente toda a actividade do CPD.

Artigo 15.ºO Secretariado Permanente é constituído pelo Secretário e mais dois

membros do CPD, eleitos pelo Plenário na sua primeira reunião ordinária; o mais votado será o Secretário-Adjunto.

Artigo 16.ºCompete ao Secretariado Permanente:a) Recolher as manifestações e desejos, opiniões e pareceres dos diocesa-

nos, através dos membros do CPD e por outros meios legítimos.b) Preparar as reuniões, incluindo a agenda, tendo em conta os elementos

recolhidos segundo a sua importância e urgência.c) Colaborar, segundo as suas competências, na execução das decisões

tomadas nas reuniões plenárias.d) Dar parecer ao Presidente, sempre que solicitado, disponibilizando-se

para todas as formas de colaboração pastoral.§ único. O Secretariado Permanente reunir-se-á de acordo com as neces-

sidades para o cumprimento das tarefas que lhe incumbem.

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Artigo 17.ºCompete ao Secretário do CPD:a) Moderar as reuniões plenárias do CPD e do Secretariado Permanente.b) Orientar a preparação da agenda de trabalhos das reuniões ordinárias

do Plenário e submetê-la à aprovação do Presidente, em conformidade com os artigos 15.º e) e 16.º b).

c) Convocar as reuniões do Secretariado Permanente e fixar a agenda de trabalhos.

d) Dinamizar o trabalho, quer do Plenário, quer do Secretariado Perma-nente, em ordem a ao funcionamento eficiente do CPD.

Artigo 18.ºCompete ao Secretário-Adjunto:a) Auxiliar o Secretário em tudo o que lhe for solicitado e substituí-lo em

caso de impedimento.b) Redigir as actas das reuniões do Secretariado Permanente e do Plená-

rio.c) Enviar as convocatórias e demais correspondência.d) Ordenar e guardar os documentos na sede do CPD, nomeadamente

relatórios, informações e correspondência.e) Assinar com o Presidente e o Secretário as actas do Plenário e com o

Secretário as actas do Secretariado Permanente, rubricando todos os documentos do Conselho.

Artigo 19.ºCompete ao Plenário:a) Fornecer a mais completa informação sobre as necessidades, desejos,

problemas e opiniões (cf LG 37) relativos à agenda de trabalhos.b) Colaborar no estudo e programação de projectos e acções pastorais e

propor iniciativas.c) Pronunciar-se sobre o trabalho e projectos de comissões eventuais, se-

gundo o artigo 7.°.d) Debater propostas e formular conclusões práticas, através de votação

ou outra forma adequada (cf LG 37; CD 27).

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Capítulo VFuncionamento

Artigo 20.ºO CPD reunir-se-á, ordinariamente, duas vezes por ano, e, extraordinaria-

mente, sempre que necessário.

Artigo 21.ºA reunião ordinária do CPD deverá ser convocada com um mínimo de

um mês de antecedência, devendo, nessa ocasião, ser enviada a agenda de trabalho.

§ único. No caso de julgar insuficiente a documentação sobre os temas da agenda, cada membro poderá requerer ao Secretariado Permanente as infor-mações que lhe parecerem necessárias para estudar os assuntos a debater. O Secretariado Permanente ajuizará da oportunidade de as facultar.

Artigo 22.ºCada membro do CPD procurará actuar com eficácia e de modo respon-

sável, quer tomando parte activa nas reuniões, quer enviando ao Secretariado Permanente propostas, notas escritas, relatórios, comunicação de experiên-cias, resultados de inquéritos e entrevistas, quer por outros meios legítimos.

Capítulo VIDisposições finais

Artigo 23.ºEstes Estatutos entram em vigor após a promulgação pelo Bispo Diocesa-

no e serão revistos sempre que for julgado necessário.

Artigo 24.ºNos casos omissos ou duvidosos destes Estatutos, compete ao Bispo dio-

cesano o esclarecimento dos mesmos.

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Nomeação episcopalPároco da Ortigosa

D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:

Tendo em consideração o pedido de dispensa, por motivos de saúde, que nos foi apresentado pelo Rev.º Padre Fernando Pereira Ferreira, dispensamo-lo do múnus de pároco da Paróquia de Ortigosa e nomeamos o Rev.º Padre Isidro da Piedade Alberto como administrador paroquial da referida paróquia, de acordo com os cân. 539 e 540 do C.I.C..

Esta nomeação tem efeitos a partir da presente data e é válida até à tomada de posse do novo pároco.

Leiria, 28 de Março de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Decreto de nomeação para o triénio 2010/2013 Conselho Pastoral Diocesano

António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue:

Tendo em conta que a comunhão eclesial, para poder ser uma realidade viva, orgânica e articulada, deve dispor de instrumentos de participação; sa-bendo que o Bispo da Diocese exerce o ministério da síntese ou da comunhão e não a síntese dos ministérios, havemos por bem, de acordo com os cân. 511 e 512 do C.I.C., constituir um novo Conselho Pastoral Diocesano, por ter cessado o mandato do anterior. De acordo com o Art.º 9.º dos Estatutos deste órgão, nomeio os seguintes elementos para o integrarem:

Em função do seu cargo:P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda (Vigário Geral)P. Dr. Fernando Clemente Varela (Vigário Judicial)P. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro (Seminário Diocesano)P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes (Reitor do Santuário de Fátima)

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. decretos .

Membros eleitos:P. Dr. Rui Acácio Amado RibeiroP. Dr. Orlandino Barbeiro BomP. Dr. José Henrique Domingues PedrosaGonçalo Nuno Caetano da SilvaJoaquim Carrasqueiro de SousaDr.ª Isabel Maria de Bastos ReisMaria Idalina Costa dos Santos GasparJoaquim Oliveira da SilvaAbílio Teixeira da CruzManuel Alexandre GameiroAntónio Araújo MonteiroMaria Vitória Cordeiro Ferreira SilvaIr.ª Maria Alzira Martins da CostaDr. Diogo Carvalho AlvesP. Dr. José Augusto Pereira RodriguesP. Doutor Carlos Manuel Pedrosa CabecinhasSérgio Manuel dos SantosDr. Júlio Coelho MartinsP. José Augusto LeitãoIr.ª Maria da Trindade MachadoLucinda de Lurdes Gonçalves TeixeiraCristóvão Conceição GinjaJoaquim Manuel de Magalhães Mexia AlvesFernanda de Jesus Ferreira PedrosaMembros designados pelo Bispo:Doutor Eugénio Pereira LucasAmbrósio Jorge dos SantosDr.ª Maria de Fátima dos Santos SismeiroO Conselho Pastoral Diocesano funcionará de acordo com os cân. 513 e

514 do C.I.C e segundo os seus Estatutos em vigor. Entrará em funções na primeira sessão, para a qual serão convocados todos os membros.

Esta nomeação é válida pelo período de três anos.Leiria, 29 de Junho de 2010.

† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem dos Bispos das Dioceses do Centroaos Padres das suas Dioceses

Ano Sacerdotal - Quaresma de 2010 Como sabeis, nós, os Bispos das vossas Dioceses, como expressão de

comunhão entre nós, reunimo-nos todo os meses, indo a cada diocese, para rezar, conviver, partilhar e reflectir os problemas pastorais comuns, sentidos e vividos no dia-a-dia.

Como estamos no Ano Sacerdotal e a iniciar o tempo da Quaresma, decidi-mos, numa das nossas últimas reuniões, dirigir-vos uma mensagem fraterna e amiga, como expressão de estima e de gratidão pela vossa colaboração diária e, ao mesmo tempo, como palavra de estímulo para o trabalho pastoral acrescido que a todos é pedido neste tempo quaresmal, rumo à Páscoa do Senhor.

A Quaresma é para vós tempo de maior esforço e ajuda mútua, porque sois agora especialmente chamados a celebrar o sacramento da Reconcilia-ção, com todo o significado que ele tem para a Igreja, para cada um de nós e para os cristãos em geral.

Parte essencial do exercício do ministério sacerdotal, tal como a cele-bração da Eucaristia, a celebração da Reconciliação convida-nos, não só a deixarmo-nos penetrar de entranhas de misericórdia para os que procuram o perdão de Deus, mas, também, ao exercer tão maravilhoso serviço pastoral, a procurar a nossa própria santificação.

Falando aos confessores da diocese de Roma (20.3.1989), João Paulo disse-lhes: “Ao comunicarmos aos fiéis a graça e o perdão no sacramento da Penitência, realizamos a acção cimeira do nosso sacerdócio, depois da cele-bração da Eucaristia… Eu diria que o sacerdote, ao perdoar os pecados, vai de certo modo para além do já sublime ofício de embaixador de Cristo, uma vez que quase alcança uma identificação mística com Cristo”. Esta palavra é também para todos nós, ministros do perdão de Deus.

O exemplo do Santo Cura de Ars é, particularmente neste campo, mui-to estimulante. Para além do cumprimento dos outros deveres pastorais, ele tornou-se, como confessor, ponto de encontro com Deus de todos os peniten-tes que, idos de muitos lados, o procuravam atraídos pela sua santidade. Ele sabia traduzir, de modo simples, um profundo sentido de Deus, rico em mise-

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ricórdia, proporcionando aos penitentes acolhimento fraterno, compreensão paciente e orientação segura para as suas vidas.

Estamos conscientes, apesar das dificuldades pastorais sentidas neste minis-tério, em razão de uma tradição pouco esclarecida, bem como da crescente insen-sibilidade ao pecado, que a confissão sacramental é sempre um acontecimento de graça para os que procuram a graça do perdão e da reconciliação com Deus.

Sede, caríssimos padres, diligentes e generosos, não só no tempo qua-resmal, mas ao longo do ano pastoral, proporcionando aos cristãos tempos adequados, frequentes e com horários acessíveis para que se possam abeirar do sacramento da Reconciliação.

Se procurarmos nós próprios ser fiéis à celebração pessoal da Reconcilia-ção, a misericórdia de Deus, pela experiência espiritual vivida, molda o nosso coração e, à imitação de Cristo para com os pecadores, conduz-nos à maior compreensão dos penitentes e ao acolhimento fraterno. Todos temos experi-ência da alegria pessoal sentida, ao vermos um pecador que se converte e en-contra paz interior no perdão recebido e no amor reencontrado. Quantos frutos produz este apostolado silencioso do confessionário! Nem nós, mediadores de Deus, Pai rico em misericórdia, o saberemos alguma vez por completo.

Este apelo à generosidade e prontidão na celebração da Reconciliação pretende, também, ajudar a fidelidade de cada um ao dom recebido na or-denação sacerdotal. Se na celebração sacramental se experimenta ao vivo a fidelidade de Jesus Cristo, Redentor do homem pecador, não pode este seu gesto ser senão mais um estímulo à nossa fidelidade a Deus e aos irmãos.

A dignificação do Sacramento da Penitência, em relação ao qual se vai sentindo menor apreço por parte de muitos cristãos, não se poderá operar sem o contributo pessoal e colectivo dos ministros da Igreja que nele operam, como mediadores necessários do perdão de Deus.

Preparai-vos espiritualmente para cada celebração, ajudai também os pe-nitentes a prepararem-se para sentirem, em verdade, a dor pelos pecados co-metidos e o propósito de conversão, e fazei que cresça em todos a confiança na misericórdia de Deus, nosso Pai.

Desejamos que a Páscoa que se aproxima aumente em vós a alegria do vosso sacerdócio e, a exemplo de Cristo, a contínua e generosa dedicação aos irmãos.

Unidos ao Senhor e procurando ser fiéis ao seu projecto de salvação uni-versal, vos saudamos com a expressão da nossa estima fraterna.

16 de Fevereiro de 2010Os Bispos, diocesanos e eméritos, de Aveiro, Coimbra, Guarda,

Leiria-Fátima, Portalegre e Castelo Branco e Viseu

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Mensagem quaresmal

Quaresma Ecológica1. Para uma ecologia espiritual

Na Quarta-feira de Cinzas, nós, os cristãos entramos em Quaresma. É um tempo de interioridade de 40 dias que prepara a festa da Páscoa, a celebrar de coração purificado e renovado.

Reveste a forma de um retiro, pessoal e comunitário, de um itinerário es-piritual para pôr ordem na confusão, para estabelecer relações transparentes, justas e fraternas, para saborear o repouso e o silêncio meditativos afinando os critérios de vida pelo Evangelho. Numa palavra, para experimentar a exis-tência autêntica que nos dá a felicidade.

Assim entendida, a Quaresma adquire a tonalidade de uma verdadeira ecologia do espírito. Como diz o Santo Padre Bento XVI: “ Tal como existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim existe uma poluição do coração e do espírito que mortifica e envenena a exis-tência espiritual”. Nós e o nosso mundo temos necessidade de uma ecologia espiritual para regenerar as nossas energias espirituais e morais.

Para isso, a pedagogia da Quaresma sugere-nos três exercícios espirituais clássicos: a oração, como escuta de Deus; o jejum, como sobriedade de vida e de consumo; e a esmola, como partilha fraterna. São três palavras-atitudes a gravar no nosso coração, como verdadeiro caminho para uma ecologia espi-ritual que nos permita respirar o ar puro do espírito, que é o amor na verdade, e crescer na abertura a Deus e aos outros.

2. “Viver em comunhão na Igreja”: retiro espiritual do povo de DeusPorém, é na escuta mais frequente da Palavra de Deus que melhor se

exprime o espírito da Quaresma. Com efeito, a Palavra desperta a fé, suscita a vontade de conversão, propõe o significado do mistério pascal de Cristo para nós hoje, provoca o diálogo da oração, gera a comunhão na Igreja e no mundo.

O presente Ano Pastoral é dedicado a descobrir a beleza da Igreja de Jesus como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens

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entre si e a promover a comunhão e a corresponsabilidade em cada comuni-dade cristã. Para isso é necessário, antes de mais, cultivar a espiritualidade da comunhão como dom de Deus que purifica e liberta todas as nossas relações do egoísmo e do individualismo, da indiferença e da divisão, e nos abre o coração à universalidade do amor e do serviço.

Neste sentido, continuamos a propor o “retiro do Povo de Deus”, in-titulado “Viver em comunhão na Igreja”, sob a forma da leitura orante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina) em pequenos grupos. Peço aos párocos o melhor empenho na sua preparação e promoção. E faço votos de uma participação cada vez maior.

Este retiro contribui para a ecologia das relações interpessoais, familiares e comunitárias.

3. Fraternidade e entreajuda: a renúncia quaresmalO Santo Padre lembra-nos uma outra dimensão da Quaresma na sua men-

sagem para este ano, sobre a justiça, o amor e a reconciliação. Aí afirma: “Fortalecido por esta experiência (do Amor que recebe de Deus), o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a dignidade própria da pessoa humana e onde a justiça é vivificada pelo amor”.

É um chamamento à justiça como virtude pessoal e social. Mas não basta a justiça para construir uma sociedade fraterna. Torna-se necessária a gratui-dade do dom, do amor, da partilha, da entreajuda. Este aspecto dá uma maior actualidade à Quaresma cristã neste “Ano de combate à pobreza e à exclusão social”.

Assim, por decisão do conselho presbiteral, a colecta da renúncia quares-mal é destinada à reconstrução do povo e da Igreja do Haiti, devastados pela catástrofe do recente terramoto.

Também este gesto é expressão da ecologia espiritual da justiça e da fra-ternidade.

4. Peregrinação da esperança: acolher o Papa peregrino de FátimaUm outro gesto da caminhada quaresmal é a tradicional Peregrinação

Diocesana a Fátima, no próximo dia 21 de Março. Uma peregrinação é uma longa oração feita porventura a pé e com os

pés. Mas é sobretudo uma experiência espiritual no mais profundo de nós

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mesmos. É-se peregrino antes de mais com a mente e com o coração em or-dem a um encontro libertador com Deus. Na peregrinação, tudo começa por um pôr-se a caminho, por um despertar espiritual em resposta a um apelo ou impulso divino.

A peregrinação diocesana é uma marcha solidária de um povo de pere-grinos que caminham juntos ao encontro da Mãe do Bom Conselho para com ela renovarem a sua fé, fazerem a revisão de vida, saborearem a experiência viva daquela comunhão que constitui o coração da Igreja.

Em Maio será o próprio Papa que virá em peregrinação a Fátima, como Sucessor do Apóstolo S. Pedro, que preside à caridade e à comunhão da Igre-ja universal.

“Quando o Papa se faz peregrino, na qualidade de Pastor universal da Igreja, é toda a Igreja que peregrina com ele. Por isso, esta sua peregrinação reveste um grande significado pastoral, doutrinal e espiritual”, afirmam os bispos em nota pastoral. A este aspecto acresce a feliz coincidência com o décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e o centésimo aniversário do nascimento da beata Jacinta.

Nós, diocesanos de Leiria-Fátima, somos os primeiros anfitriões de tão ilustre e estimado peregrino. Queremos pois acolhê-lo com alegria, entusias-mo e devoção filial. O melhor testemunho do nosso afecto e acolhimento será a participação nas celebrações de 12 e 13 de Maio, dando assim expressão viva ao lema escolhido para a visita do Papa a Portugal: “Contigo, cami-nhamos na esperança”.

Vamos colocar, desde já, o feliz êxito desta peregrinação do Santo Padre na nossa oração pessoal e na oração universal dos fiéis em cada domingo: “Para que a próxima peregrinação do Santo Padre a Fátima ajude a reavivar a fé, a animar a esperança, a dinamizar a caridade e a fortalecer a nossa comu-nhão, oremos ao Senhor”.

Nossa Senhora de Fátima, Mãe da confiança e Estrela de esperança, nos acompanhe no caminho da conversão quaresmal!

Leiria, 17 de Fevereiro de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Orientações Pastorais

Celebrações da Eucaristia DominicalAos sacerdotes diocesanos,Aos sacerdotes religiosos, Às religiosas,Aos conselhos pastorais paroquiais

Jesus, quando realizou a Última Ceia, ordenou aos seus discípulos: “Fa-zei isto em memória de Mim” (Lc 22,19; 1 Cor 11,25). A Igreja, sob a orienta-ção do Espírito Santo, obedecendo àquele mandado, deu continuidade ao acto e ao dom de Jesus com a celebração da Eucaristia. Nela, cada comunidade de fiéis encontra-se com o seu Senhor, recebe o dom que Ele faz de si mesmo e acolhe, na fé, a revelação do amor infinito de Deus por cada pessoa.

A Eucaristia é assim, para os fiéis católicos, expressão e alimento da fé, memorial de Cristo vivo e acto de louvor a Deus, fonte de vida segundo Deus e de testemunho do seu amor no mundo (cf. Bento XVI, Sacramento da Caridade).

Reconhecendo nela um preciosíssimo dom espiritual, a Igreja, sob a pre-sidência de um sacerdote, celebra-a em cada dia e, de modo mais festivo, em todos os domingos e solenidades.

Ao Domingo, efectivamente, por ser o dia da Ressurreição do Senhor, é importante que os fiéis cristãos se reúnam para a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio deles e ainda para exprimir a própria identidade eclesial como “assembleia convocada pelo Senhor ressuscitado”. A Eucaris-tia, a que se chama também Missa, é, na verdade, a “alma do Domingo” (cf. João Paulo II, O Dia do Senhor). Por isso, nesse dia, todo o cristão deverá fazer o possível para participar na celebração eucarística.

Ao longo do tempo, multiplicaram-se os lugares onde os fiéis se reúnem “no amor de Cristo”, para a Santa Missa. Presentemente, todavia, deparamo-nos, por um lado, com uma maior exigência de qualidade litúrgica e espiritual em relação às celebrações e, por outro, com uma diminuição da frequência das celebrações litúrgicas por parte de muitos católicos, bem como com a diminuição acentuada do número de sacerdotes. Tudo isto aconselha a que na Diocese se revejam as condições em que se realizam celebrações dominicais

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da Eucaristia e se proceda à reorganização deste serviço litúrgico em cada paróquia.

O princípio a seguir, tanto por parte dos sacerdotes e seus colaboradores como pelos restantes fiéis, será o de, se necessário for, celebrar menor quan-tidade de Missas para celebrar melhor. O objectivo a atingir será o de asse-gurar o bem espiritual de todos os fiéis e, ao mesmo tempo, salvaguardar a saúde física e espiritual dos próprios sacerdotes. É que, além de presidirem à liturgia, eles deverão ter tempo e capacidade para se dedicarem pessoalmente à oração e ao cuidado da própria vida espiritual, e ainda para desenvolverem a evangelização e a vida cristã das pessoas, grupos, comunidades e movi-mentos.

Ano após ano, há padres idosos ou doentes que deixam os serviços pasto-rais, as novas vocações sacerdotais são insuficientes para as necessidades e, em múltiplos lugares, diminui o número de pessoas que frequentam a Missa dominical. Acontece então haver igrejas com poucos fiéis e, não distante dali, encontrar-se outra onde também se celebra a Eucaristia. Juntando as duas comunidades poderia até conseguir-se uma melhor qualidade da celebração. Assim, nas circunstâncias actuais, não será possível continuar a manter a ce-lebração dominical da Santa Missa em todos os lugares em que ela acontecia.

Tendo em consideração o que foi dito e as sugestões dos próprios sacer-dotes, dou as seguintes orientações e critérios para as opções, quanto aos lugares, onde se deverá manter ou não a celebração da Eucaristia dominical:

1. No processo de discernimento para a decisão de reorganizar o serviço litúrgico dominical, os párocos deverão solicitar o contributo dos res-pectivos conselhos pastorais e dos outros párocos da sua vigararia. Nes-te sentido, em espírito de colaboração fraterna e de co-responsabilidade na missão eclesial, os presbíteros ajudem-se mutuamente para o melhor bem dos fiéis. A decisão pastoral do pároco deve estar suportada no parecer favorável de ambas as instâncias mencionadas.

2. Na igreja paroquial, deverá assegurar-se, quanto possível sempre, a celebração eucarística.

3. Nas outras igrejas (capelas), dar-se-á prioridade aos lugares onde funciona um centro de catequese. Considera-se centro de catequese, normalmente, onde houver a frequência de, pelo menos, 50 crianças e adolescentes.

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4. Nos casos de assembleias dominicais reduzidas, havendo uma ou mais igrejas a curta distância, os fiéis serão convidados a congregarem-se na igreja que reúna melhores condições para nela se celebrar a Santa Missa. Se tal for oportuno, pode admitir-se a alternância ou rotatividade anual dos lugares de celebração.

5. Sem prejuízo da obrigação que compete aos familiares, nas comunida-des paroquiais onde for necessário e possível, organize-se um serviço de transportes para as pessoas que tenham dificuldades de deslocação e que desejam participar na celebração da Santa Missa.

6. Onde se justificar, por impossibilidade de haver a Santa Missa ou de as pessoas se deslocarem a outra igreja, os párocos podem promover a realização da “celebração dominical na ausência de sacerdote”, condu-zida por um ministro leigo competente (cf. Bento XVI, Sacramento da Caridade, 75). Esta solução, no entanto, deve ter sempre um carácter extraordinário, e só se há-de recorrer a ela quando estiverem esgotadas as outras possibilidades e exclusivamente nos lugares onde as distân-cias entre as igrejas (ou capelas) forem de facto consideráveis. Confio ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica a missão de cuidar da formação e credenciação dos ministros para presidirem a tais celebrações. No desempenho de tal missão, os ministros devem reger-se por quanto está estabelecido no Directório para as celebrações dominicais na ausên-cia do presbítero (1988) e no livro litúrgico para a Celebração dominical na ausência do Presbítero, da Conferência Episcopal Portuguesa.Os párocos apresentarão ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica os nomes dos candidatos a ministros das celebrações dominicais na au-sência de presbítero, que só poderão ser nomeados após completarem a formação específica.

7. As comunidades religiosas com Eucaristia dominical que possam par-ticipar na Santa Missa com a comunidade local mais próxima, libertem os sacerdotes, mesmo religiosos, “para irem servir a Igreja nos lugares onde houver necessidade, sem olhar a sacrifícios” (cf. Bento XVI, Sa-cramento da Caridade, 25).

Leiria, 26 de Fevereiro de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia de Ano Novo

Cuidar da criação, caminho para a pazA “carícia” de Deus, bênção para o novo anoNo início do Ano Novo, a liturgia da Palavra convida-nos a começar o

nosso caminho e a prossegui-lo, dia após dia, com a bênção do Senhor: “O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça resplandecer sobre ti o seu rosto e te seja favorável”.

Estas palavras são como uma “carícia” que Deus reserva para todos e cada um de nós: é-nos comunicada no rosto terno do Menino em Belém e no rosto materno de Maria, cuja Maternidade Divina hoje celebramos. Sim, uma carícia de Deus que testemunha o seu amor terno, a sua proximidade de Pai e Amigo, o seu tomar-nos pela mão e acompanhar-nos, passo a passo, na vida, a sua resposta solícita às nossas invocações, o seu conforto nas dificuldades, a sua consolação nos momentos de provação e de solidão, a sua misericórdia sem limites para com as nossas infidelidades... Uma carícia que tem uma for-ça extraordinária de nos impulsionar a viver o novo ano na fé e na caridade, no amor verdadeiro.

À bênção do Senhor pertencem ainda estas palavras: “O Senhor volte para ti o seu olhar e te conceda a paz”. Também este “voltar o olhar” – que só pode ser olhar de amor – é expressão da carícia de Deus. Só dela nos pode chegar o grande dom da paz.

Neste Dia Mundial da Paz, o Santo Padre convida-nos a reflectir sobre um tema que interpela toda a humanidade: “Se queres cultivar a paz, guarda a criação”. É um apelo à nossa responsabilidade ecológica pela salvaguarda do ambiente e de toda a criação perante as ameaças que afligem o mundo.

Emergência ecológica e a causa da pazNão podemos esquecer que a nossa geração é talvez a primeira na história

a estar consciente de que a vida e a morte dos seres do nosso planeta e, por conseguinte, da humanidade, dependem das opções que forem tomadas no presente. Esta consciência deriva de evidências que se impõem: ar viciado,

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águas poluídas, solo explorado e degradado, desertificação que avança pro-gressivamente, alterações climáticas, recursos naturais e matérias-primas a esgotarem-se, novas doenças que surgem...

Os atentados ao ambiente são tão preocupantes como as guerras, os actos terroristas e as violações dos direitos humanos, afirma Bento XVI. Trata-se de uma verdadeira crise ecológica, de dimensão planetária, que põe em causa o presente e o futuro da criação e da humanidade. Por este caminho, o homem corre o risco de ser engolido pelo produto da sua obra ou de estar a cavar o túmulo debaixo dos seus pés. Não podemos fechar os olhos perante os sinais de alarme.

Reflectir sobre a crise ecológica obriga-nos, antes de mais, a repensar a relação íntima do homem com a natureza. Esta é maltratada porque é mal amada. O grande risco é olhar a natureza apenas com critérios de utilidade, produtividade e lucro; olhá-la como mero armazém de material, como “um montão de resíduos espalhados ao acaso” a usar e consumir sem limites e sem regras. O respeito pela natureza requer um novo olhar.

Os cristãos, frente ao “deserto que avança”, anunciado por Nietzsche, e perante a terra cada vez mais desolada, deveriam aprender a descobrir na profundidade da criação “a escritura das coisas”, as suas lágrimas e os seus louvores.

O jardim da criação: dom de Deus, promessa de vida e casa comum À luz da fé cristã no mistério da criação, a natureza não é fruto do acaso

caprichoso ou do caos. É dom do amor de Deus; é promessa de vida; é casa comum dos homens e, por isso, motivo de contemplação, de louvor, de acção de graças e de responsabilidade.

A Bíblia apresenta-a com a bela imagem do jardim, onde Deus coloca o homem para o cultivar e guardar. O jardim é uma grande metáfora da in-teligência e do amor de Deus. Esta inteligência de amor cuida da terra, mas esta é destinada aos humanos. No jardim, o homem descobre os traços de um cuidado amoroso que o precedeu.

O jardim mostra que a terra não é um mero depósito de matérias-primas. É um habitat para a circulação das pessoas, do pensamento, da inteligência, dos afectos; é uma morada a partilhar em paz, no equilíbrio entre o trabalho e o recreio, entre os bens a consumir e a beleza a salvaguardar na sua biodi-versidade.

Os homens que não cuidam e não têm paixão pela guarda do jardim tor-nam inabitável e inóspita a terra inteira. A mensagem do Papa contém uma

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expressão maravilhosa e penetrante a este respeito: “Há uma espécie de reci-procidade: cuidando da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós”.

Quanto mais olharmos a natureza como dom de Deus, tanto maior é a sua preciosidade e maior a nossa responsabilidade. O homem como criatura entre as criaturas é chamado a viver na solidariedade, numa comunhão amorosa e de respeito com toda a criação.

Todos responsáveis pela criação: para uma nova cultura ecológica“Todos somos, pois, responsáveis pela protecção e pelo cuidado da cria-

ção”. A ciência e a técnica, por si sós, não resolvem a crise ecológica. Ela tem raízes culturais e éticas profundas. A falta de respeito pela natureza mostra que o homem não desenvolveu plenamente a sua própria humanidade.

A humanidade global tem necessidade de uma profunda renovação cultu-ral e ética. É indispensável uma mudança cultural, de mentalidade, de crité-rios, de estilos de vida, que vá à raiz do problema ecológico como problema moral.

Com efeito, trata-se de uma responsabilidade individual e colectiva. Pro-teger e defender o ambiente não pode ser deixado só à boa vontade dos in-divíduos.

Assim, esta crise pode ser uma “oportunidade histórica de discernimento e projectação de novos caminhos”(n. 5). Inspirando-nos na mensagem do Santo Padre podemos indicar, sumariamente, alguns pontos concretos para uma consciência ecológica correcta, madura e responsável, como caminho para paz:

- viver a fraternidade, como atitude fundamental, a relação amorosa com todos os seres da natureza, à boa maneira de S. Francisco;

- recuperar a consciência da interdependência entre homem e natureza, a solidariedade com toda a criação, “inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum”;

- mudar o nosso modelo de desenvolvimento que, muitas vezes, tem em vista míopes interesses económicos a qualquer custo, de modo a que economia e tecnologia fiquem enriquecidas com a componente ecoló-gica;

- considerar a natureza como casa comum de todos os homens e de todas as gerações, que implica a solidariedade com as gerações vindouras de tal modo que não lancemos hipotecas sobre elas nem lhes leguemos em herança um deserto em vez de um jardim;

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- promover uma educação ecológica, uma pedagogia do ambiente, atra-vés duma aliança entre família, escola, universidade, organizações não governamentais e meios de comunicação social;

- adoptar novos estilos de vida mais sóbrios “nos quais a busca do ver-dadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento”(n. 11). O compor-tamento de cada pessoa tem sempre um peso e uma consequência. Se a pessoa se deixa cair no laxismo em numerosas formas de poluição ou desperdício, mesmo aparentemente insignificantes, contribui para uma atitude inconsciente, para o vandalismo ambiental, para a tolerância da destruição ou degradação;

- cuidar e proteger, igualmente, a ecologia humana, afirmando o respeito pela vida humana em todas as suas fases, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família fundada no casamento entre um ho-mem e uma mulher. “Quando a ecologia humana é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental”(n. 12). Como pedir o respeito pela vida ambiental se não se respeita a vida humana?

O testemunho de S. FranciscoNeste ano de 2010 ocorre o 30º aniversário da proclamação de S. Fran-

cisco de Assis como Padroeiro dos cultores da ecologia, que nos deixou o belíssimo e inspirado Cântico das Criaturas. Contemplando o seu exemplo aprendemos a amar a criação e a descobrir nela o espelho do amor infinito do Criador: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas; Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo Teu amor; louvai e bendizei o meu Senhor e dai-lhe graças e servi-O com grande humildade”!

Com estes sentimentos desejo a todos vós e às vossas famílias um aben-çoado Ano Novo!

Leiria, 1 de Janeiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia nas exéquias deMonsenhor Henrique Fernandes da Fonseca

Homem de fé e pastor exemplar

Surpreendendo a nossa expectativa humana, fomos abalados pela notícia dolorosa da morte tão célere do nosso caro Monsenhor Henrique da Fonseca. Foi como se um muro de silêncio caísse sobre nós tal como diz o salmista: “Estou perturbado; falta-me a palavra”(Sl 77,5).

É humano sentir e dar expressão à dor pela separação de um sacerdote tão querido e estimado por toda a diocese e colaborador próximo, precioso e apreciado do bispo. Creio que o podemos fazer com as palavras de S. Bernar-do na morte do seu irmão, S. Gerardo:

“Bem sabeis, meus filhos, quão razoável é a minha dor, quão digna de lágrimas é a perda que acabo de sofrer, pois compreendeis que fiel amigo foi afastado do meu lado. Vós conhecestes como era a sua atenção pelo dever, a sua diligência pelo trabalho, a sua doçura e amabilidade de disposição... Estimámo-nos em vida; porque fomos pois separados pela morte?”.

No entanto, depois deste grito do coração ferido, S. Bernardo confia-se ao mistério santo e amoroso de Deus, dizendo: “Todavia, não esquecerei ne-nhuma das palavras do Santo... Deus é caridade e quanto mais se está unido a Deus, mais se está cheio de caridade. Porque a caridade nunca acaba. Tu (meu irmão) não me esquecerás”.

Com estes sentimentos de fé quero expressar as nossas condolências, em nome da Diocese e no meu pessoal, à irmã do Monsenhor Henrique, à auxi-liar doméstica, a Gracinda, que o acompanhou e assistiu durante tantos anos e aos outros familiares.

Com estes sentimentos de fé e de esperança queremos fazer memória, viva e cheia de gratidão, de Monsenhor Henrique junto do altar do Senhor, em comunhão de santos na eucaristia.

Homem de fé e Pastor exemplarA leitura do livro do Deuteronómio apresenta-nos a figura de Moisés,

chamado pelo Senhor a conduzir o longo e difícil caminho do povo de Deus,

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no qual empenhou toda a sua existência até à morte, incutindo-lhe coragem e levando-o às fontes da vida.

Como Moisés, Monsenhor Henrique foi um grande crente, um grande ho-mem de fé, sólida, amadurecida e alimentada na sarça ardente do ministério pastoral nas várias mansões em que serviu.

Como Moisés, foi um pastor generoso e exemplar. O seu serviço sa-cerdotal passou por múltiplas experiências do ministério - desde pároco nos Pousos, na Marinha Grande, em Mira d’Aire e na Ortigosa até professor no Seminário, secretário episcopal, ecónomo diocesano, assistente da LOC e do movimento de casais, coordenador do Serviço de apoio ao clero e Vigário Geral durante dezanove anos – com disponibilidade permanente, sempre pronto, a todo o momento, a acudir, animar e encorajar, atento a pôr de parte o que divide e a valorizar o que une.

Foi verdadeiramente intenso o caminho que o Senhor o chamou a percor-rer nos 56 anos de sacerdócio ao serviço da nossa diocese que ele calcorreou e conheceu como ninguém e sempre ao lado dos seus bispos. Foi um traba-lhador incansável da vinha do Senhor! Só a falta de saúde o obrigou a retirar-se da actividade paroquial.

Sobre a morte de Moisés, o livro do Deuteronómio refere: “Moisés, ser-vo do Senhor, morreu ali, na terra de Moab, segundo a disposição do Se-nhor”(34,5). São Gregório de Nisa comenta, esplendidamente, estas palavras sublinhando que o grande “amigo de Deus” é chamado “servo” precisamente no momento supremo da vida quando já cumprira a missão que o Senhor lhe confiara. Servo é a palavra que resume toda a sua missão.

Também Monsenhor Henrique procurou viver a sua missão como servo e serviço humilde, discreto e desprendido, sem olhar a honras e a títulos. Assim o deixou escrito: “Desejo assumir o ministério com todo o empenho e dedi-cação como servo e irmão no meio de uma comunidade que possa olhar-me como testemunha de serviço e amor”.

Impelido pela caridade pastoralA leitura da segunda Carta aos Coríntios abre, precisamente, com uma

expressão que, neste nosso contexto, assume um significado particular: “O amor de Cristo impele-nos”.

Trata-se do amor que habita, penetra, possui e plasma a vida dos sacerdo-tes e faz deles “embaixadores de Cristo” e do seu mistério de amor e recon-ciliação. Envolve-nos e impele-nos a viver não para nós mesmos mas para os outros. É a caridade pastoral.

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O amor recebido de Cristo é restituído aos irmãos e toma as várias formas dos dons do Espírito Santo, a saber, “amor, alegria, paz, paciência, benevo-lência, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” – dons que caracteriza-ram o estilo e o ministério sacerdotais de Monsenhor Henrique.

A caridade pastoral levava-o a fazer-se próximo e acessível a todos, a olhar a vida concreta da sua gente, com uma comunicação que conquistava os fiéis até os mais pequeninos. É significativa a presença aqui dos acólitos da Ortigosa para lhe manifestarem a sua ternura. É também digno de registo o testemunho de D. Alberto Cosme do Amaral: “Monsenhor Henrique serviu a Igreja com raro espírito de dedicação e entrega e num total esquecimento de si próprio. As missões oficiais não o impediram de se dedicar ao trabalho escondido do confessionário e da direcção espiritual”.

Desejaria ainda sublinhar o seu amor ao presbitério, a especial dedicação aos irmãos sacerdotes como amigo, irmão e conselheiro atento e atencioso para com todos, preocupado para que não faltassem as condições humanas e espirituais para o bom desempenho do ministério.

Testemunho de paz e de alegriaO Evangelho de S. João refere as palavras do Ressuscitado repetidas duas

vezes: “A paz esteja convosco”. E depois fala da alegria dos discípulos ao verem Jesus ressuscitado.

Paz e alegria foram dons que Monsenhor Henrique espalhou à sua volta. Era homem de paz que irradiou alegria serena. A sua presença foi sempre presença de paz. Irradiava alegria e bom humor com espontaneidade e creio que agora viva na plenitude da paz e da alegria ao contemplar o rosto de Jesus ressuscitado.

Que ele peça para nós ao Pai aquela serenidade própria de quem confia vida e morte, presente e futuro nas mãos do Deus da paz e da alegria.

Obrigado, caro padre Henrique! Toda a diocese te está agradecida na hora da despedida!

Que a tua partida não nos faça esquecer o dom de termos tido a tua pre-sença, a tua companhia, o teu testemunho de sacerdote. Bendito seja Deus pelo seu servo!

Catedral de Leiria, 23 de Janeiro de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Discurso na tomada de posse

Comissão Diocesana Justiça e Paze Cáritas Diocesana

Congrega-nos aqui a solene tomada de posse das novas direcções da Co-missão Diocesana Justiça e Paz e da Caritas Diocesana. Neste momento sig-nificativo da “passagem de testemunho” quero exprimir, antes de mais, em nome da Diocese e no meu pessoal, o mais vivo e sentido reconhecimento às direcções cessantes, na pessoa dos seus presidentes, Senhor Dr. Tomás Oliveira Dias e Senhor Ambrósio Jorge dos Santos, pela dedicação, com-petência e sentido eclesial com que desempenharam o seu mandato e a sua missão, não se tendo poupado a esforços e sacrifícios. Asseguro-lhes a minha sincera e constante estima pessoal e a fraterna comunhão. Que o Senhor os recompense, os conforte e os acompanhe com as melhores bênçãos.

Aos novos empossados, na pessoa dos respectivos presidentes, Senhor Prof. Doutor Eugénio Lucas e Senhor Dr. Júlio Martins, agradeço a disponi-bilidade manifestada para este serviço à Igreja, endereço-lhes as mais cordiais felicitações e faço votos de um fecundo trabalho. Quero ainda expressar-lhes a minha alegria em tê-los como meus colaboradores próximos e assegurar-lhes toda a minha confiança e colaboração.

A presente circunstância é também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar e da missão da Comissão Diocesana Justiça e Paz e da Caritas Diocesana na Igreja e no mundo. Quisemos propositadamente que a tomada de posse fosse simultânea porque são dois órgãos ao serviço da missão da Igreja no mundo: dão-lhe o rosto social, são dois braços sociais e fundamentais para a operatividade da missão.

De facto, a Igreja vive no mundo e na história com a consciência de que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as dos discípulos de Cristo e nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração”(GS 1).

No desempenho da sua missão no mundo e no serviço às pessoas desfa-vorecidas ou carenciadas, a Igreja é movida unicamente pelo testemunho do Evangelho do Amor. Tem a consciência de que “evangelizando humaniza e humanizando evangeliza”. A sua missão não é de ordem política. Não se

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substitui ao Estado. Não é um partido político nem um força política. Respei-tando as competências próprias do Estado esforça-se para que seja garantido a cada ser humano a sua própria dignidade e uma vida condigna.

No fundamento da missão e da acção social da Igreja está a convicção de que “a caridade na verdade que Jesus Cristo testemunhou... é a força propul-sora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da huma-nidade inteira. O amor é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz”(CV 1), por conseguinte, a empenharem-se na construção de um futuro digno do homem, na realização de uma sociedade mais justa e fraterna.

A caridade “é o princípio não só das microrrelações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorrelações so-ciais, económicas, politicas”(CV 2).

Este empenho torna-se cada vez mais urgente no mundo globalizado onde parece prevalecer a lógica do lucro e do próprio interesse. Com efeito, “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos mas não nos faz irmãos”(CV n. 19). Vivemos num mundo cheio de contradições e contrastes. Hoje a injustiça, a pobreza, a fome e a exclusão social são uma grande inter-pelação humana e cristã que brada aos céus.

A situação que temos diante de nós é clara e arrepiante: mais de mil mi-lhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; 20% da população mundial absorve 82% dos recursos mundiais enquanto 80% da população dispõe apenas de 18%; mais de 200 multinacionais controlam 27% da econo-mia e da finança mundiais. Segundo dados da FAO, morrem, por dia, 36.500 crianças no mundo à fome ou por doença: o silencioso sacrifício de 13 mi-lhões de inocentes por ano! A tudo isto junta-se a crise ecológica, de dimen-são planetária, que põe em causa o presente e o futuro da humanidade.

Entre nós e à nossa porta temos as vítimas da crise económica, financei-ra e social com as consequências dramáticas de desemprego e pobreza em contrate escandaloso e gritante com o ordenado de alguns gestores de 2,5 milhões de euros por ano! A Igreja “não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela jus-tiça...Toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando pela abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem comum”(DC est n. 28). É nesta vertente que se insere a Doutrina Social da Igreja como “proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade” (CV n.5). Assim se entende a missão dos fiéis leigos no mundo em ordem a contribuir para a formação de sociedades justas. É também neste sentido que se desenvolve a

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acção da Comissão Diocesana Justiça e Paz em ordem a promover o conhe-cimento da doutrina social e a sua aplicação concreta aos vários âmbitos da vida social, tendo como horizonte o desenvolvimento integral do homem, contribuindo para um despertar de forças morais e espirituais para esse efeito.

A justiça, porém, nunca pode tornar supérfluo o amor de proximidade, na linha do apoio concreto, do serviço, da partilha, do acolhimento e da conso-lação ao próximo carecido de ajuda, àquele que sofre, sobretudo os pobres, os humilhados, os desprotegidos. A caridade cumpre e transcende a justiça. Num mundo tão ferido como o experimentamos nos nossos dias não há ne-cessidade de demonstrar o que acabamos de dizer.

O mundo espera o testemunho do amor cristão que nos é inspirado pela fé. Por isso, “a Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade en-quanto actividade organizada dos crentes, como aliás nunca haverá situação onde não seja precisa a caridade de cada cristão, porque o homem além da justiça, tem e terá sempre necessidade do amor” (DC est n.29). Eis o campo da missão da Caritas diocesana, enquanto expressão da actividade caritati-va organizada da nossa Igreja, actuando com todo o coração e com toda a inteligência, em ordem a promover a fraternidade e a solidariedade cristãs, sensibilizando e dinamizando as paróquias e colaborando com as instituições civis para uma resposta mais eficaz.

Como podemos verificar, os campos de acção da Comissão Justiça e Paz e da Cáritas diocesana cruzam-se, tornado possível uma cooperação em pro-jectos comuns. O próximo biénio do projecto pastoral diocesano oferece uma boa oportunidade para isso, pois centrar-se-á na pastoral sócio-caritativa e no testemunho dos cristãos no mundo.

Concluo citando um texto muito belo do Papa Bento XVI que poderá servir como motivação de fundo e inspiração permanente do vosso empenho : “A caridade é o distintivo dos cristãos. É a síntese de toda a sua vida: do que crê e do que faz. É a luz que dá bondade e beleza à existência de cada homem. É o comportamento de quem responde ao amor de Deus e faz da própria vida um dom de si a Deus e ao próximo. É o caminho da santidade. A vida dos san-tos, de cada santo, é um hino à caridade, um cântico vivo ao amor de Deus”!

Nossa Senhora, Virgem e Mãe, no canto do Magnificat mostra-nos o que são o amor e a justiça e donde têm a sua origem e recebem a sua força. À sua intercessão confio a vossa missão ao serviço da justiça, do amor e da paz na nossa querida Diocese. Muito obrigado!

Leiria, 20 de Fevereiro de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Apelo do Bispo diocesano

Peregrinação do Santo Padre a Fátima

Caros irmãos e irmãs:Venho mais uma vez lembrar-vos a próxima visita do Santo Padre a Por-

tugal. Ele vem sobretudo como peregrino do Santuário de Fátima tão querido ao nosso povo e a todo o mundo católico. Aqui somos nós, os diocesanos de Leiria-Fátima, os primeiros anfitriões a receber tão ilustre e amado peregrino na sua qualidade de Sucessor do Apóstolo S. Pedro e Pastor universal da Igreja.

Queremos corresponder à honra da sua visita acolhendo-o com júbilo, entusiasmo e afecto e unindo-nos em oração às suas intenções pela Igreja e pelos anseios da humanidade. É importante, nesta hora, darmos testemunho da Igreja unida ao Papa e solidária com ele.

Por isso, apelo do coração à vossa presença e participação pessoal nas celebrações de 12 e 13 de Maio, em Fátima, presididas pelo Santo Padre. Não vos deixeis seduzir pelo comodismo de ver apenas pela televisão.

Grato pela vossa atenção a este meu apelo, envio a todos uma saudação cordial e amiga.

Leiria, 28 de Abril de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia da Missa Crismal

Presbitério em comunhãoe ao serviço da comunhão

É um verdadeiro momento de graça este que nos é dado viver juntos nesta liturgia da Missa Crismal, verdadeira festa da unidade da Igreja diocesana reunida à volta do seu Pastor.

Nesta Quinta Feira Santa encontramo-nos recolhidos na nossa catedral para celebrar a Eucaristia em que se benzem os santos óleos dos catecúme-nos, do crisma e dos enfermos.

Em Cristo, todos nós fomos consagrados com o óleo da unção e unidos numa comunhão que é mais forte do que todo o laço humano. É a comunhão de todo povo de Deus, que nos leva a exclamar com o salmista: “Vede como é bom e agradável viver unidos como irmãos: é como o óleo perfumado der-ramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba de Aarão até à orla das suas vestes” (Sl 133, 1-2).

O óleo perfumado é o símbolo da força do Espírito, do perfume do amor e da santidade divina que Cristo derrama sobre a cabeça, o coração e os mem-bros de todos os fiéis baptizados e crismados e os torna morada de Deus; o perfume de Cristo que inunda de amor a Igreja inteira e faz dela a Casa da Comunhão entre Deus e os homens e dos homens entre si.

Com este óleo são consagradas as mãos dos sacerdotes para oferecerem, em nome de Cristo, os dons da Palavra de Deus e dos Sacramentos da Graça que alimentam a comunhão do Povo de Deus. Por isso, hoje é o dia sacerdo-tal, por excelência.

Sacerdote como vós há trinta e oito anos e bispo no meio de vós há quase quatro, sinto este momento com o coração trepidante de emoção e de res-ponsabilidade. Neste Ano Sacerdotal, em meu nome e no de toda a Diocese, quero expressar-vos o afecto e a estima do bispo e de todo o povo de Deus, agradecer-vos e encorajar-vos pelo precioso serviço que ofereceis à Diocese, pelo zelo que vos move no ministério, por todo o bem que fazeis. Não percais o ânimo neste momento doloroso em que pesa sobre nós o sofrimento e a vergonha por crimes hediondos de alguns sacerdotes e a suspeição genera-

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lizada resultante da exploração mediática de tais casos. O pecado de alguns não ofusca a abnegação e a fidelidade de que a imensa maioria dos sacerdotes e religiosos dá prova quotidiana e que as nossas comunidades testemunham e reconhecem. Coragem! Acolhamos o apelo à santidade de vida e à purifi-cação da Igreja.

Apraz-me fazer ecoar aqui, nesta hora, as palavras do Cardeal Montini (futuro Papa Paulo VI) em 1957: “Quinta Feira Santa! É o nosso dia, como sabeis. Se não o comemoramos nós sacerdotes, quem o pode fazer mais dig-namente? E se não nos encontramos neste dia, qual será outro dia mais pro-pício? E se não o dizemos uns aos outros, como teremos plena consciência disto?”.

Hoje é dia de acção de graças pelo dom do sacerdócio e, em particular, por quantos, neste ano, comemoram os 25 ou 50 anos da sua ordenação, com quem nos congratulamos.

Lembramos também, com ânimo grato, aqueles que ao longo do ano nos deixaram para voltarem à casa eterna do Pai. E ainda os que, por motivo de doença ou outro, não puderam marcar presença.

A memória da nossa ordenação neste dia confirma e corrobora a nossa pertença ao único presbitério diocesano, como nossa segunda e verdadeira família.

Atendendo ao tema do Ano Pastoral quero oferecer-vos uma reflexão so-bre “O presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão”.

Fisionomia do presbitério-comunhãoO ministério apostólico é, antes de mais, um dom de Deus para o serviço

do mistério de comunhão que constitui a Igreja e para ser realizado e vivido em comunhão, precisamente enquanto membros de um presbitério. Este rosto da Igreja passa, em grande parte, pelo rosto do nosso presbitério e ministério.

O presbitério não é uma mera categoria sociológica que designa a soma de todos os padres à disposição do bispo para as diversos cargos. É antes um cor-po de ministros, em comunhão de graça e de missão, ao serviço de uma Igreja particular, que está junto do bispo e nele encontra o seu princípio de unidade. “Na sua verdade plena, o presbitério é um mistério, quer dizer, uma realidade sobrenatural porque radica no sacramento da Ordem. Este é a sua fonte e a sua origem. É o lugar do seu nascimento e do seu crescimento”(PDV 74).

Daqui resulta a sua fisionomia própria: “a de uma verdadeira família, de uma fraternidade, cujos laços não são da carne e do sangue, mas da graça da Ordem: uma graça que assume e eleva as relações humanas, psicológicas,

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afectivas e espirituais entre os sacerdotes; uma graça que se expande, penetra e se revela e concretiza nas mais variadas formas de ajuda recíproca”(PDV 74), espiritual e material, pastoral e pessoal, nas reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e de caridade (cf LG 28).

Eis um programa de trabalho a desenvolver e pôr em prática! Ser bons padres individualmente, não faz automaticamente um bom presbitério.

A nova situação social do padre já não lhe possibilita viver num contexto familiar protector como outrora, nem encontrar sempre um acolhimento pa-roquial confortável e confortador. Isto pode gerar uma solidão institucional e um desamparo afectivo por vezes graves.

É necessário, pois, construir uma consciência de família sacerdotal dentro da qual cada sacerdote saiba e experimente que é alguém: acolhido, reconhe-cido e valorizado. Não se trata de restaurar um “corporativismo clerical”, mas de reavivar uma fraternidade que ajude cada um a viver com aquela confian-ça, dignidade humana e espiritual e brio intelectual, que são necessários para a missão evangelizadora.

Esta fraternidade brota da paixão interior pelo mesmo dom recebido, pelo mesmo ideal comungado, pela mesma missão partilhada.

A gramática da comunhão: implicações e aplicaçõesA comunhão presbiteral não é espontânea e nem sempre é fácil. Não se

impõe por decreto; é necessário construí-la juntos. Requer conversão espiri-tual e elaboração de uma gramática da comunhão para a pôr em prática.

Em primeiro lugar, somos chamados a cultivar, com amor paciente e ge-neroso, relações pessoais verdadeiramente genuínas, de respeito, de estima e atenção recíprocas, de delicadeza, de confiança mútua, de conhecimento e diálogo entre as diversas gerações e sensibilidades, capazes de eliminar a suspeita, a inveja e o distanciamento, tão inúteis como prejudiciais.

Em segundo lugar, somos chamados a realizar a comunhão na missão, isto é, a partilhar intenções e projectos pastorais no trabalho em equipa. Para isso são necessárias algumas atitudes e disposições humanas e espirituais: a participação interessada nas reuniões, a liberdade de uma escuta sem pre-conceitos, a franqueza para exprimir o próprio pensamento, o discernimento pastoral capaz de enuclear o bem comum e possível, a disponibilidade para assumir tarefas, a decisão sincera de acolher e ser fiel aos critérios pastorais e às decisões elaborados e tomados em conjunto para o serviço do Evangelho. Neste aspecto, a vigararia deve ser um lugar fundamental de referência como espelho de comunhão entre os padres e entre as paróquias. Lembro aqui o

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provérbio africano: “Se queres ir depressa, corre sozinho; se queres chegar longe, caminha com os outros”.

Outro aspecto fundamental é a comunicação da fé e na fé entre os presbí-teros. O presbitério não se torna lugar de fraternidade sacramental onde não se privilegiam as relações de fé ao serviço do ministério. De outro modo, as reuniões do clero podem assemelhar-se a assembleias empresariais, lugares para fazer funcionar a empresa, espaço para distribuição de encargos.

A capacidade de partilhar a fé é o princípio de todo o bom trabalho em comum. Esta partilha realiza-se na oração em conjunto, na lectio divina par-tilhada, na preparação da homilia em grupo e de iniciativas pastorais, nos momentos fraternos de convivialidade, na coragem humilde da correcção fraterna...

Para alcançar os objectivos da comunhão é ainda necessária uma autênti-ca ascese ou disciplina em ordem a combater e eliminar os modos de pensar e os comportamentos que a impedem ou destroem.

Antes de mais, é preciso vigiar perante algumas tentações que podem afectar ou desagregar esta comunhão: o isolamento do “orgulhosamente só” (eu faço sozinho e por minha conta); o espírito de indiferença (que me im-porta os outros?); a atitude de auto-suficiência (não preciso dos outros para nada); o narcisismo de quem põe o “ego” no centro de tudo; e o neoclerica-lismo derivado da sede de protagonismo ou da fragilidade da personalidade.

Alem disso, é aconselhável uma “regra de vida “ pessoal que torne pos-sível um estilo de vida saudável e ordenada com método de trabalho e dis-ciplina.

Ao serviço da comunhão na comunidade cristãA comunhão no presbitério está ao serviço da comunhão eclesial que é

mais vasta. Com efeito, o ministério é para a comunidade. Esta é o lugar nor-mal da comunhão do presbítero com os fiéis e onde é chamado a ser o “pivot” da comunhão em todas as dimensões.

“O padre deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar na unidade todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe con-fiou, ajudando-o a superar as divisões, a reconciliar as roturas, a aplanar os contrastes e as incompreensões, a perdoar as ofensas” (Bento XVI).

O serviço da comunhão leva o padre também a promover a corresponsa-bilidade, suscitando colaborações, valorizando e integrando os diversos ca-rismas, serviços e ministérios para a edificação da comunidade.

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Testemunho da comunhão e promoção vocacionalTudo isto assume um relevo particular na promoção vocacional. Nenhum

jovem poderá sentir um chamamento se os seus olhos não contemplam na vida fraterna dos padres e das comunidades algum vestígio da beleza do Se-nhor e do sacerdócio, capaz de reunir os irmãos e alimentar a comunhão.

“Se os jovens vêem padres isolados e tristes, não se sentem certamente encorajados a seguir o seu exemplo. Ficam perplexos se são levados a pensar que é este o futuro do padre. É importante pois realizar a comunhão de vida que lhes revele a beleza do sacerdócio. Então o jovem dirá: “Este pode ser um futuro também para mim; assim, pode-se viver” (Bento XVI).

Concluindo, o futuro da Igreja passa através da comunhão autêntica a todos os níveis. Nela está a força da missão mesmo quando as estruturas são pobres e débeis. Um presbitério em comunhão é um reflexo da beleza de Deus-Amor Trinitário e da Igreja-Comunhão!

Renovando agora as nossas promessas de fidelidade a Cristo e à Igreja peçamos por intercessão da Virgem Mãe e do Santo Cura d’Ars: “Senhor, aceita-nos como somos e ajuda-nos a ser como Tu nos desejas” (João Paulo I)! Ámen! Aleluia!

Catedral de Leiria, 1 de Abril de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Visita Papal ao Santuário de Fátima

Saudação do Bispo de Leiria-FátimaSanto Padre,É com imensa alegria e profunda emoção que, como bispo de Leiria-Fá-

tima, dou as boas vindas a tão ilustre e amado peregrino, o nosso Papa Bento XVI. Saúdo-o e agradeço-lhe, de todo o coração, em nome pessoal e de todo este povo aqui reunido, em multidão, no Santuário de Fátima, como num ce-náculo a céu aberto, onde pulsa o coração materno de Portugal. Bem-vindo, Santo Padre!

Muito obrigado porque quis visitar este Santuário tão querido ao nosso povo e ao mundo católico, onde, no dizer de Vossa Santidade, “Maria ergueu a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar” e onde nos “pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo”.

Muito obrigado pela oferta da Rosa de Ouro com que quis distinguir o nosso Santuário, sinal do seu particular afecto.

Muito obrigado por nos proporcionar esta extraordinária experiência de be-leza da comunhão que constitui a Igreja unida à volta do seu Pastor universal.

Muito obrigado, por fim e de modo especial, porque vem confirmar-nos na fé, de acordo com o seu ministério de Sucessor de Pedro.

A sua peregrinação ocorre, por feliz coincidência, no décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e no centésimo do nascimento da pequena Jacinta. São conhecidos o carinho, a oração e os sacrifícios dos pastorinhos pela pessoa do Santo Padre e pelos seus sofrimentos.

Neste momento quero também assegurar-lhe, Santo Padre, a profunda co-munhão e o sincero afecto de todo o nosso povo católico pela sua pessoa e pelo seu ministério na Igreja e na humanidade. Conte com a nossa oração, a nossa docilidade na fé e o nosso afecto filial.

Dispomo-nos a escutar a sua palavra que ilumina a mente e fala ao co-ração, que confirma na fé e conforta no amor, que é portadora de esperança.

Que o Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima – “Nossa Se-nhora dos tempos difíceis” (S. João Bosco) – e dos beatos Francisco e Jacinta, lhe dê força, coragem e fecundidade no seu ministério apostólico.

Santuário de Fátima, 13 de Maio de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Festa da Fé

Discurso inaugural

1. Ao cair da noite deste dia 21 de Maio, véspera do aniversário da criação da nossa Diocese e da nossa cidade de Leiria, é-me dada a feliz ocasião e o grato prazer de inaugurar esta “exposição” sui generis “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana”.

Saúdo com viva simpatia e cordial afecto o Senhor D. Serafim, o Senhor Governador Civil, o Senhor Presidente da Câmara de Leiria bem como to-dos os outros Senhores Presidentes das Câmaras e das Juntas de Freguesia e demais autoridades civis, académicas e militares que nos dão a honra da sua presença.

Saúdo ainda, afectuosamente, todos vós, caros amigos, irmãos e irmãs, que participais neste momento de alegria e de festa.

Devo confessar que este era para mim um momento muito esperado. Tra-ta-se de um evento que culmina o Ano Pastoral da Diocese, dedicado a “ir ao coração da Igreja”, à profundidade do mistério de amor que a habita, a anima e a configura no seu rosto visível: o rosto de um povo em comunhão com Deus, com os homens irmãos, com o mundo em que vive.

O nosso rosto é sempre novo e diverso, nas diversas idades e estações da vida e, contudo, é sempre o mesmo e único. Assim a Igreja de Deus no mundo tem um rosto único formado de tantos rostos quantos são os seus membros, as suas comunidades, os seus movimentos e serviços nos lugares onde habitam e trabalham.

A Igreja somos nós, os vários rostos da Igreja: dos fiéis leigos aos sacer-dotes e religiosos(as), das crianças aos idosos, dos jovens aos adultos, dos solteiros aos casados e viúvos, dos sãos aos doentes, da vida contemplati-va nos mosteiros à vida activa numa multiplicidade de serviços do anúncio do Evangelho, da celebração da fé e do testemunho da caridade fraterna, da paróquia à missão, à descoberta de um vasto mundo, todos animados pela mesma fé, levando uma mensagem de alegria, de comunhão, de fraternidade, de paz. Todos e cada um deles são como as peças preciosas de um mosaico muito belo que Deus, como um grande artista, concebe dia após dia com o contributo de cada um.

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Por isso, esta exposição procura dar visibilidade à riqueza e à beleza, tan-tas vezes escondida, do dinamismo da vida eclesial nas suas várias vertentes: espiritual, orante e celebrativa, cultural e lúdico-festiva. É uma verdadeira festa da alegria, da fé, da esperança e da fraternidade para a Igreja e para as pessoas da cidade.

Eis o rosto da nossa Igreja diocesana em exposição, nos seus múltiplos reflexos, uma Igreja viva, que não tem complexos e se quer dar a conhecer aos de dentro e aos de fora.

Para organizar e estruturar esta festa foi necessário um longo percurso de muito trabalho, dedicação e conjugação de boas vontades, por parte de inúmera gente envolvida. Contámos com a parceria da Câmara (que desde o primeiro momento ofereceu toda a colaboração), da Junta de freguesia, da Arquivo Distrital, do Posto de Turismo, da Cruz Vermelha, do Santuário de Fátima, da Paróquia da Sé e de tantos voluntários das várias comunidades. A todos, concretamente à Comissão Organizadora, expresso a profunda grati-dão pelo empenho, pelo entusiasmo e pela paixão que puseram na organiza-ção da festa e no seu êxito. Que Deus lhes pague!

2.Foi uma feliz coincidência a realização desta Festa da Fé com o Dia da cidade de Leiria. A cidade pode assim viver uma experiência singular e original entre nós, uma calorosa experiência de comunhão que traz às suas ruas a alegria, a convivialidade e a fraternidade características da fé cristã. Uma experiência que ajuda a cidade a redescobrir e reencontrar o seu rosto e a sua alma.

Um grande presidente da câmara, filósofo, teórico e poeta da cidade, G. La Pira, presidente da câmara da cidade de Florença, em Itália, em 1954 es-crevia este texto lindo sobre a cidade: “As cidades têm um rosto próprio, têm por assim dizer uma alma e um destino próprios. Não são meros armazéns de pedra; são misteriosas habitações dos homens e mais ainda, de certo modo, misteriosas habitações de Deus”.

De facto, a cidade tem uma arquitectura, uma urbanística, uma geografia, uma sociologia e uma psicologia: uma cidade tem as ruas, as praças, as ca-sas, os edifícios públicos, os lugares de culto, de reunião e de divertimento. Cada cidade tem os seus centros de poder cívico, politico, económico; tem a possibilidade de uma subsistência económica, de sustentabilidade e de segu-rança estrutural. Mas o que é que mantém unidos tantos fios de uma tão rica e multiforme complexidade?

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O centro e a alma natural da cidade são as pessoas e a comunhão entre elas. A cidade é para o homem; não o homem para a cidade. À volta das pessoas constrói-se a cidade e os seus lugares simbólicos onde se enraíza a sua vida: o templo para a sua união com Deus e a sua vida espiritual; a casa para a sua vida de família; a oficina e a empresa para a sua vida de trabalho; a escola para a sua vida intelectual e cultural; o hospital para a sua vida física saudável; o mercado para o intercâmbio de bens; as praças para a sua vida de lazer e de convívio.

São os lugares simbólicos que exprimem a vida espiritual, a vida familiar, a vida económica, a vida cultural, a vida convivial, social e lúdica da cidade. É isto que dá alma à cidade. Portanto, convida-nos a olhar para a cidade, não apenas como lugar onde dispomos de serviços e de estruturas que oferecem bem-estar à nossa vida, mas sobretudo como lugar e espaço onde se realiza a vida dos homens nas suas várias dimensões.

A Festa da fé, como evento espiritual e cultural, é também um valor acrescentado para a humanização da cidade trazendo para o seu centro a convivialidade e a fraternidade do amor, sem o qual o coração humano e a cidade dos homens se transformam num deserto espiritual.

Faz bem ao nosso coração e ao nosso espírito passear pelos “corredores” desta exposição, parar em atitude de silêncio e contemplação, participar nos vários eventos para viver a alegria e a beleza da comunhão.

Boa Festa! Muito obrigado a todos!Leiria, 21.05.2010

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Acolhimento da Virgem Peregrina

Salve, Santa Maria, humilde serva do Senhor, Mãe gloriosa de Cristo e nossa celeste Padroeira! Tu vens à nossa cidade visitar-nos como Mãe espiri-tual, Mãe na fé e nossa protectora; e nós vimos ao teu encontro para te receber como filhos e confiarmo-nos a ti! É toda a Igreja diocesana de Leiria-Fátima com o seu bispo, os seus presbíteros, os religiosos e religiosas, e os fiéis lei-gos que hoje te acolhe na cidade de Leiria e te saúda jubilosamente.

Sabes, ó Mãe querida, quanto desejei esta tua visita à cidade e à Sé de Leiria para invocar a tua especial protecção sobre esta cidade, para te agra-decer as inúmeras graças que tens alcançado para o meu ministério e para consagrar a diocese ao teu Imaculado Coração!

O que diz Maria à cidade dos homens? O que recorda a todos a sua pre-sença?

Recorda a presença da Mãe que vela pelos seus filhos. Com o seu estilo discreto dá a todos paz e esperança nos momentos alegres e tristes da exis-tência.

Ela é a Mãe Imaculada que repete aos homens do nosso tempo o que disse em Fátima à pastorinha Lúcia: “Não tenhas medo! Eu nunca te deixarei só. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.

Como um filho levanta os olhos para o rosto da mãe e, vendo-o sorridente, esquece todo o medo e toda a dor, assim nós, voltando o olhar para Maria, reconhecemos nela o “sorriso” de Deus, reencontramos nela uma nova con-fiança mesmo no meio dos problemas e dramas da vida e do mundo.

Sim, Maria dá-nos olhos e coração para contemplar o rosto de Deus, o seu Amor misericordioso como força e limite ao poder do mal que avassala o mundo. Como temos necessidade desta bela notícia!

Com a sua presença, Maria fala-nos de Deus, recorda-nos a beleza e gran-deza do Seu Amor. E fala-nos da Igreja que nasce deste Amor e da qual ela é Mãe e modelo. Chama-nos a vivermos na fé a Palavra de Deus, a testemu-nharmos a caridade no serviço ao próximo e a mantermos vigorosa a esperan-ça mesmo no meio das tribulações.

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Mas a cidade dos homens é feita de rostos. Maria, como Mãe cheia de ter-nura para com todos, ajuda-nos a descobrir o rosto dos outros, a profundidade das pessoas, a olhar os outros com o olhar de Deus: a partir do coração, quer dizer, a olhá-los com amor, ternura, misericórdia, especialmente os mais sós, esquecidos, abandonados, explorados.

Ela diz a cada um: onde abundou o pecado, possa superabundar a graça a partir do teu coração e da tua vida. E a cidade tornar-se-á mais humana, mais bela e mais cristã.

Obrigado, Mãe santa, por esta tua mensagem de beleza e de esperança.Obrigado, pela tua silenciosa mas eloquente presença no coração da

nossa cidade e da nossa e tua querida diocese. Virgem Imaculada, reza por nós, reza connosco. Nós também queremos caminhar e rezar contigo.

A procissão de velas que acompanha a imagem de Nossa Senhora de Fá-tima exprime aos nossos olhos o dinamismo da Igreja peregrina que caminha em direcção a Cristo, iluminada pela fé, sob a protecção da Mãe de Deus.

Este acto de caminhar na noite, com a vela na mão, fala ao mais íntimo de nós mesmos, toca o nosso coração e diz mais do que qualquer palavra. Este gesto resume por si só a nossa condição de cristãos a caminho, que temos necessidade de luz e somos chamados a tornarmo-nos luz.

As velas que iluminam o caminho na espessura desta noite significam a fé em Jesus Cristo, Luz do mundo, que ilumina a nossa vida e não permite que sejamos envolvidos nas trevas do pecado e do mal. “É preciso acreditar na luz durante a noite; é preciso forçar a chegada da aurora” (Rostand).

As velas, erguidas em louvor e adoração, significam também a conversão de cada um e a sua passagem a uma nova existência iluminada por Jesus Cris-to, cujo mistério contemplamos com Maria na oração do Rosário.

Que a Virgem Mãe nos ajude a viver como filhos da Luz para testemu-nharmos, cada dia, que Cristo é a nossa luz, a nossa esperança e a nossa vida! Ámen!

Leiria, 21 de Maio de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia

Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Terra exulta de alegria,Louva teu pastor e guia,Com teus hinos, tua voz.

Quanto possas tanto ouses, Em louvá-lo não repouses;Sempre excede o teu louvor.

Hoje a Igreja te convida:O pão vivo que dá vida Vem com ela celebrar.

1. Hoje professamos, com grande júbilo, a nossa fé no mistério da euca-ristia, que constitui o coração da Igreja: é o dom que Jesus faz de si mesmo a nós, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada um.

Por isso, a festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é uma festa singular e constitui um encontro de fé e louvor para cada comunidade cristã. Nasceu com a finalidade precisa de afirmar, abertamente, a fé do povo de Deus em Jesus Cristo vivo e presente no Sacramento da Eucaristia. Uma fes-ta instituída para adorar, louvar e agradecer publicamente ao Senhor que no “sacramento eucarístico continua a amar-nos até ao extremo”, até ao dom do seu corpo entregue e do seu sangue derramado.

2. A celebração eucarística desta tarde reconduz-nos ao ambiente espiri-tual de Quinta feira Santa em que Jesus institui a Eucaristia na intimidade da última ceia.

A festa de hoje quer pôr em evidência que esse dom é destinado a todos, ao mundo inteiro. É Jesus ressuscitado que vem ao nosso encontro e nos assegura como o fez à multidão na multiplicação dos pães: “Eu sou o pão da vida, o pão vivo descido do céu; quem come deste pão viverá eternamente”.

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Sim, Ele é o alimento indispensável que nos sustenta através do deserto árido deste mundo, onde domina mais a lógica do poder e do ter do que a do amor, da partilha e do serviço.

Comungá-Lo é ser renovado e curado pela força do seu amor. Por isso, a Eucaristia é também convite à doação de nós mesmos, a sermos como Jesus pão partido e partilhado para a vida do mundo.

3. No termo da celebração unir-nos-emos em procissão para levar ideal-mente o Senhor Jesus por todas as ruas da cidade e do mundo. Levá-lo-emos ao quotidiano da nossa vida para que Ele caminhe por onde nós caminhamos, para que Ele viva onde nós vivemos. A sua passagem entre as casas e pelas ruas é uma oferta de alegria, de vida verdadeira, divina e fraterna, de paz e de amor.

Nós caminhamos pelas ruas da cidade, do mundo, sabendo que o temos a nosso lado, que Ele é a nossa esperança.

Jesus passa e faz ouvir a sua voz como no livro do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém me escuta e me abre a porta, eu entrarei e cearei com ele e ele comigo”(3,20). Acolhamo-Lo, de todo o coração, com a invocação da liturgia:

Bom Pastor, pão da verdade, Tende de nós piedade.Conservai-nos na unidade,Extingui nossa orfandadeE conduzi-nos ao Pai.

Aos mortais dando comida,Dais também o pão da vida:Que a família assim nutridaSeja um dia reunidaAos convivas lá do Céu.

Leiria, 3 de Junho de 2010† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Comunicado da Diocese de Leiria-Fátima

Santo Padre nomeiaMonsenhor Manuel Gonçalves Janeiro

Chegou, ao Bispo diocesano, a comunicação oficial de que o Padre Dr. Manuel Gonçalves Janeiro, desta Diocese de Leiria-Fátima, foi nomeado Monsenhor pelo Santo Padre Bento XVI.

O Senhor Bispo de Leiria-Fátima e todo o Presbitério diocesano congra-tulam-se com esta nomeação do Santo Padre, que representa um merecido re-conhecimento pelo trabalho que este presbítero tem desenvolvido ao serviço da Igreja portuguesa e alemã.

Mons. Dr. Manuel Janeiro é o Delegado da Conferência Episcopal alemã para coordenar a assistência pastoral às comunidades de língua portuguesa, tendo, assim, a responsabilidade de coordenar os párocos e os diversos agen-tes de assistência pastoral das paróquias de língua portuguesa na Alemanha, e de exercer a necessária mediação entre os bispos portugueses e alemães.

Os anos de trabalho neste campo pastoral, bem como os estudos e a re-flexão que tem desenvolvido nesta área, permitem considerar Mons. Janeiro como uma das personalidades que melhor conhece os problemas das comu-nidades migrantes na Alemanha. É, por isso, convidado frequente para con-ferências e debates, e solicitado como consultor pela conferência episcopal alemã e outras entidades públicas.

Nos últimos anos, as suas intervenções têm sido sobretudo sobre temáti-cas das suas áreas de especialização: integração social, socialização, identi-dade social, multiculturalidade, família e juventude em contexto de migra-ção, sociologia da religião, doutrina social da Igreja.

Mons. Dr. Manuel Janeiro, tem 68 anos de idade e é padre há 44 anos.No Seminário Diocesano de Leiria, fez o curso de humanidades, de filo-

sofia e de teologia.Fez especialização em teologia dogmática, na Universidade Gregoriana,

em Roma.Posteriormente, na mesma universidade fez o curso de sociologia.

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De 1971 a 1977, na Universidade de Constança, na Alemanha, fez estu-dos de especialização em sociologia da religião, sociologia do conhecimento, antropologia e investigação sociológica.

Fez ainda uma especialização em teorias da comunicação e filosofia da ciência, na Universidade de Innsbruck, na Áustria.

Nesta Diocese foi professor no Seminário diocesano e exerceu as funções de prefeito no mesmo seminário.

Desde 1978 que se encontra na Alemanha ao serviço da pastoral dos mi-grantes de língua portuguesa.

Desde essa data que é pároco da comunidade de Singen.Desde 1991 é Delegado da Conferência Episcopal alemã para coordenar

a assistência pastoral às comunidades de língua portuguesa.Desde 1994 é Director e Redactor do jornal “Diálogo Europeu”.Em 2004 foi nomeado “cónego honorário” da diocese de Freiburgo.O Senhor D. António Marto felicita Mons. Manuel Janeiro, manifesta-lhe

a sua estima pessoal e a comunhão de todo o Presbitério diocesano, que se sente muito honrado com esta nomeação.

Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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Comunicado da Diocese de Leiria-Fátima

Pia União das Escravasdo Divino Coração de Jesus

Na sua edição de 19 de Março, o semanário “Sol”, sob o título “Igreja e 4 freiras disputam milhões”, publica uma notícia relativa ao conflito jurídico entre a Pia União das Escravas do Divino Coração e as Dioceses de Leiria-Fátima e de Angra do Heroísmo. Sobre a questão, a Diocese de Leiria-Fátima esclarece o seguinte.

1. Na sua missão de governo da diocese, segundo as leis da Igreja Católi-ca, o Bispo tem o dever de zelar para que, nas associações de fiéis diocesanas, públicas e privadas, se viva rectamente a fé cristã, não se introduzam abusos no seu modo de vida religiosa e “os bens sejam utilizados para os fins da associação” (ver cânones 305 e 325 do Código de Direito Canónico). Tem, por isso, o dever de exercer vigilância sobre as associações que estejam sob a sua tutela.

2. A associação de fiéis denominada Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, com sede em Aljustrel, Fátima, foi instituída pelo Bispo de Leiria, actualmente Leiria-Fátima, em 1959, estando, por isso, sujeita à sua autoridade. Nos seus estatutos tem como fins: “a santificação individual pelo cumprimento dos preceitos e conselhos evangélicos e as normas da Igreja”, e “a evangelização dos pobres pelo exemplo e prática das obras de misericór-dia” (art. 2.º).

3. A actual Superiora Geral foi eleita a primeira vez em 22 de Junho de 1990 e sucessivamente reeleita por diversos triénios, sempre com a confir-mação do Bispo de Leiria-Fátima, excepto em 2005, cuja eleição foi comu-nicada, mas não consta ter sido confirmada, como exigem os Estatutos (art. 16.º). Segundo estes, a Superiora “nunca poderá ser eleita por mais de dois mandatos sucessivos” (art.18.º). O último mandato da Superiora Geral termi-nou em 11 de Junho de 2008.

4. Tendo em conta a idade avançada das irmãs, a Superiora Geral, com a ajuda de um seu familiar, advogado, criou, em 2006, a “Fundação Divino Coração de Jesus”, instituição particular de solidariedade social, para “ga-rantir, no futuro, a permanência do espírito que presidiu à organização e fins

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da Pia União, bem como assegurar a continuidade da sua acção social junto das comunidades locais”. Confiando na boa fé da iniciativa, o bispo de então assinou as credenciais que possibilitassem a legalização civil da Fundação.

5. Entretanto, tendo conhecido e examinado atentamente os estatutos da Fundação criada, o actual Bispo de Leiria-Fátima verificou que ela não asse-gura efectivamente a continuidade de uma instituição canónica, como é a Pia União, nem assegura as suas finalidades religiosas, apostólicas e de prática das obras de misericórdia, por se tratar de uma instituição meramente civil, sem qualquer vínculo canónico à Igreja. Segundo a nova situação criada, to-dos os bens doados à Pia União para os fins indicados ficariam à disposição de uma entidade civil autónoma e inteiramente dependente do mesmo fami-liar que criou a referida Fundação.

Além disso, houve conhecimento de várias irregularidades na administra-ção da Pia União e surgiram algumas dúvidas sobre a recém-criada Funda-ção. O familiar da Superiora Geral, na qualidade de procurador, passou a agir como administrador, registando bens e começando a afectá-los à Fundação. Recebeu em doação para si próprio um prédio da Pia União. Entrou em con-flito judicial com a Diocese de Angra, por causa dos bens que pertenciam ao extinto Instituto Rainha dos Apóstolos, ligado desde a sua existência à Pia União, procurando registá-los em nome da Pia União ou da Fundação. Pôs à venda prédios sem a devida licença para essa alienação extraordinária.

6. Perante estes dados, considerando estar em risco a perda dos bens de elevado valor da Pia União em favor da Fundação meramente civil, controla-da pelo sobrinho da Superiora Geral, o Bispo de Leiria-Fátima, exercendo o dever de vigilância sobre os bens eclesiásticos, de acordo com o cânone 1276 do C.D.C. e as Normas Gerais das Associações de Fiéis da Conferência Epis-copal Portuguesa, nomeou um comissário e um comissário adjunto, para ad-ministrarem a Pia União, a título extraordinário, a fim de salvaguardar que os bens se mantenham na posse da sua legítima proprietária, que é a Pia União.

7. À Diocese de Leiria-Fátima não movem outros interesses senão o de zelar para que os bens da Pia União sejam usados para as finalidades próprias, religiosas e caritativas, para as quais foram doados. No caso de extinção da Pia União, quanto ao destino dos seus bens, o Bispo de Leiria-Fátima respei-tará inteiramente a finalidade que orientou a actividade desta entidade religio-sa, conforme as determinações do Direito Canónico.

Leiria, 19 de Março de 2010.Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

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P. Marcin StrachanowskiFoi com grande surpresa e profunda consternação que a Diocese de Lei-

ria-Fátima tomou conhecimento, pelos meios de comunicação social, dos factos de que é acusado o P. Marcin Strachanowski, ocorridos no Brasil, na região de Rio de Janeiro.

Marcin Strachanowski esteve ao serviço desta Diocese desde 21 de Junho de 2007 até 1 de Junho de 2008. Por nomeação do Bispo diocesano exerceu funções de capelão no Santuário de Fátima, prestando assistência religiosa aos peregrinos de língua polaca e portuguesa. Durante o tempo da sua permanência nesta Diocese não houve queixas relativamente ao seu comportamento, nem suspeitas ou indícios relacionados com a situação agora vinda a público. Tam-bém não era do conhecimento dos responsáveis diocesanos que no seu passado tivesse havido situações do género das que tomamos agora conhecimento.

O primeiro pensamento do Bispo de Leiria-Fátima e dos responsáveis pe-los sectores em que o P. Marcin prestou serviço dirige-se antes de mais para aqueles que tenham sido vítimas deste seu comportamento absolutamente inaceitável e sem qualquer desculpa, e para todos os que se sentem desiludi-dos pela sua conduta. Esperamos que tanto no foro civil como eclesiástico se possa conhecer a verdade dos factos, devendo o próprio ser responsabilizado pelos actos de que for considerado culpado. Desejamos ainda que Marcin Strachanowski tenha uma oportunidade para recompor a sua vida pessoal, en-contre o necessário equilíbrio psíquico e a coerência com os valores cristãos.

Marcin Strachanowski é um presbítero da diocese de Cracóvia (Polónia), que desde 1997 presta serviço pastoral na arquidiocese do Rio de Janeiro (no Brasil). Em carta datada de 7 de Março de 2007, solicitou ao Bispo de Leiria-Fátima autorização para trabalhar pastoralmente nesta diocese, de preferência no Santuário de Fátima. Depois de recolhidas as devidas informações dos Arcebispos de Rio de Janeiro e de Cracóvia, perante diversos atestados de idoneidade e recomendações favoráveis, o Bispo diocesano admitiu-o para o trabalho pastoral em Fátima. Em Maio de 2008, o próprio comunica ao bispo desta diocese que, com autorização do seu bispo de origem, regressaria no mês seguinte ao Brasil, para aí exercer novamente o ministério sacerdotal.

Leiria, 28 de Maio de 2010.Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete do Bispo Diocesano

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Nomeações episcopaisPor mandato do Senhor Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, são torna-

das públicas as seguintes nomeações:O P. José Augusto Pereira Rodrigues é nomeado Director do Departamento

de Pastoral Familiar, Director do Serviço de Pastoral da Saúde e Vigário Paro-quial das Paróquias de Leiria e Cruz da Areia.

O P. André Antunes Batista é nomeado Prefeito do Seminário Diocesano. Mantém as funções de Director do Pré-Seminário. Deixa o serviço nas capelanias militares e no Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real.

O P. Manuel Henrique Gameiro de Jesus é nomeado Director do Serviço Dio-cesano de Pastoral Juvenil e indigitado para Capelão das capelanias militares da Base Aérea de Monte Real e do Regimento de Artilharia de Leiria. Assume ainda o serviço de capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real, e mantém as funções de Assistente Diocesano do Movimento dos Convívios Fraternos. Deixa o serviço paroquial na Marinha Grande.

O P. João Pereira Feliciano é nomeado Adjunto do Chanceler e, para o Tri-bunal Eclesiástico, Defensor do Vínculo e Promotor de Justiça. Continua como Pároco de Colmeias.

O P. Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas é nomeado Capelão do Santuário de Fátima. Mantém as funções de Director do Departamento de Liturgia, membro do Secretariado Nacional de Liturgia, Docente no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra e na Universidade Católica Portuguesa. Deixa as funções de Prefeito do Seminário Maior de Coimbra. Passará a integrar o Colégio de Consultores.

O P. Adelino Filipe Guarda é nomeado Coordenador do Serviço de Apoio ao Clero. Deixa o Serviço de Pastoral da Saúde e mantém os restantes serviços: Director do Centro de Formação e Cultura, Director do Gabinete de Apoio aos Serviços Pas-torais, Defensor do Vínculo no Tribunal Eclesiástico, Coordenador do Serviço para o Diaconado Permanente, Assistente Religioso da Escola de Formação Social Rural de Leiria, Docente no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra e Docente no Seminário Diocesano de Leiria. Passará a integrar o Colégio de Consultores.

O P. Vítor Manuel Leitão Coutinho assume a responsabilidade do Gabinete de Imprensa da Diocese. Mantém os serviços que já desempenha e passa a inte-grar também o Serviço de Apoio ao Clero.

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O P. Gonçalo Corrêa Mendes Teixeira Diniz é nomeado Pároco de Leiria e Cruz da Areia. Mantém as funções de Director do Departamento de Pastoral Juvenil e Escolar e continua como Docente no Instituto Superior de Estudos Te-ológicos de Coimbra e no Centro de Formação e Cultura. Deixa o Serviço Dio-cesano de Pastoral Juvenil.

O P. Armindo Castelão Ferreira é nomeado Pároco da Marinha Grande. Dei-xa a paroquialidade de Ourém e as funções de Vigário da Vara desta Vigararia.

O P. Alcides Rocha dos Santos Neves é nomeado Pároco da Ortigosa. Deixa o serviço paroquial na Marinha Grande.

O P. Pedro Manuel Jorge Ferreira é nomeado Pároco de Nossa Senhora das Misericórdias, em Ourém. Deixa o serviço paroquial na Caranguejeira.

O P. Joaquim de Almeida Baptista é nomeado Pároco de Caranguejeira. Dei-xa a paroquialidade de Leiria e as funções de Vigário da Vara desta Vigararia.

O P. Rui Acácio Amado Ribeiro é nomeado Pároco da Barreira. Continua como Pároco das Cortes e mantém as funções de Director do Jornal “O Men-sageiro” e Director do Serviço Pastoral da Comunicação Social. Deixa a paro-quialidade da Cruz da Areia e a coordenação do Gabinete de Imprensa. Passará a integrar o Colégio de Consultores.

O P. João Carlos Roma Leite Rodrigues e o P. Jovanete Paulo Vieira, da Con-gregação dos Marianos da Imaculada Conceição, são nomeados Párocos «in soli-dum» de São Mamede. O P. João Carlos Rodrigues assume a tarefa de moderador do serviço pastoral e deixa o serviço paroquial na Maceira.

O P. Pedro Miguel Ferreira Viva é nomeado Vigário Paroquial da Marinha Grande. Passa a integrar também o Serviço de Apoio ao Clero. Deixa os serviços no Seminário Diocesano.

O P. Filipe da Fonseca Lopes é nomeado por mais um ano Administrador Paroquial do Fárrio.

O P. Leonel Vieira Baptista é dispensado de todos os serviços que desempe-nha na Diocese, para frequentar um programa de formação contínua durante o próximo ano pastoral.

O Diácono Miguel Sottomayor prestará serviço pastoral nas paróquias de Leiria e Cruz da Areia.

O P. António Ramos é dispensado, a seu pedido, por motivos de saúde, da pa-roquialidade de São Mamede. Deixa as funções de Vigário da Vara desta Vigararia.

O Serviço de Apoio ao Clero passará a ser constituído pelos seguintes ele-mentos: P. Adelino Filipe Guarda, Mons. Luciano Gomes Paulo Guerra, P. Ma-nuel Pedrosa Melquíades, P. Pedro Miguel Ferreira Viva, P. Vítor Manuel Leitão Coutinho e P. Clemente Dotti.

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. diversos .

O Colégio de Consultores passará a ser constituído pelos seguintes elementos: P. Jorge Manuel Faria Guarda, P. Virgílio do Nascimento Antunes, Mons. Lucia-no Gomes Paulo Guerra, P. Manuel Armindo Pereira Janeiro, P. Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas, P. Adelino Filipe Guarda, P. Rui Acácio Amado Ribeiro.

14 de Junho de 2010Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal

Comunicado do Conselho Presbiteral

Ano dedicado ao serviço à pessoaPor convocação do Sr. D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, esteve

reunido, no dia 8 de Junho, o Conselho Presbiteral da diocese.O primeiro ponto da agenda, de carácter urgente, tratou da questão da

continuidade do Seminário Maior em Coimbra e frequência do ISET. Os con-selheiros foram inteirados da actual situação e manifestaram o seu parecer ao bispo diocesano. O Conselho manifestou publicamente a sua alegria e congratulação pela recente visita do Papa Bento XVI ao nosso país e à dioce-se. De igual modo comunga da alegria de D. António que durante esta visita acompanhou de modo próximo Sua Santidade.

No quadro de avaliação do ano pastoral que agora termina, o Conselho con-gratulou-se com a realização da Festa da Fé, reconheceu o seu êxito, e manifestou regozijo pela participação dos fiéis, que compareceram de forma participativa e alegre, ao mesmo tempo que endereçou um agradecimento aos organizadores pelo seu trabalho e empenho. Da análise feita pelos conselheiros, destacam-se algumas acções que marcaram o ano pastoral, a saber: o retiro popular, os encon-tros vicariais com os conselhos pastorais e económicos, a peregrinação diocesana a Fátima, as visitas pastorais e a carta de comunhão dos sacerdotes.

Este Conselho elegeu ainda a Comissão para aplicação do Estatuto Eco-nómico do Clero, composta pelo padre João Feliciano, padre José Alves e padre Carlos Cabecinhas, e indicou como seu representante ao Conselho Pas-toral Diocesano o padre Rui Ribeiro.

Em clima de fraternidade sacerdotal e comunhão eclesial, os conselheiros apresentaram um conjunto de propostas e sugestões a ter em conta na elabo-ração do programa pastoral diocesano para o próximo ano, de acordo com o tema geral “serviço à pessoa, caminho da Igreja”.

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Vida Eclesial. destaque . notícias .

. serviços e movimentos . entrevistas .

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. destaque .LMFerraz

Diocese de Leiria-Fátima mobilizou-se para a festa

Fé na beleza espiritual e moral da vidaLuísMiguelFerraz

O Bispo diocesano lançou o desafio, motivou estruturas, procurou par-cerias, apelou à participação alargada. O programa para os dias 21, 22 e 23 de Maio prometia variedade de iniciativas, multiplicidade de sensibilidades, diversidade de vivências, desde o recolhimento na oração até à explosão fes-tiva dos concertos juvenis. Pelo meio, quase como fio condutor, a presença da imagem de Nossa Senhora de Fátima, Padroeira desta Igreja particular, numa das suas raras saídas (a 11.ª) da Capelinha das Aparições.

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. destaque .

Os diocesanos corresponderam, encheram a cidade de vida e alegria, de celebração e manifestação pública de fé, mostraram-se nas suas varia-das comunidades, movimentos e serviços. Desde as multidões de abertura e encerramento, pontos altos do acolhimento e despedida da imagem maria-na de Fátima, até aos mais pequenos apontamentos de cultura, celebração e espectáculo, podemos dizer que esta primeira “Festa da Fé” da diocese de Leiria-Fátima foi um sucesso pela mobilização de gente, pela forma como se apresentou na cidade, pela riqueza de conteúdos e expressões, pela reve-lação do(s) rosto(s) desta Igreja: rosto de Deus, que a fundou e é sua cabeça, e rostos de cada um de nós, que somos o seu corpo. Também por isso, um rosto belo, mas que não é perfeito. Podia ter sido melhor, na medida em que cada cristão tivesse dado mais de si para a construção do quadro comum. Um trabalho que não perdeu a oportunidade, pois deverá ser feito todos os dias, a cada momento.

O sorriso comovido de D. António Marto nos momentos finais deste gran-de fim-de-semana foi bem expressivo. Grato a Deus, a Nossa Senhora e a todos os cristãos que contribuíram para este evento, o prelado não destacou momentos, não lamentou falhas, não enalteceu particulares… apenas afirmou a sua alegria por pertencer a esta Igreja, manifestada nestes dias em toda a diversidade dos dons do Espírito Santo que a anima.

Nossa Senhora de FátimaA chegada da imagem de Nossa Senhora de Fátima, ao final da tarde de 21

de Maio, foi saudada por alguns milhares de fiéis, vindos de toda a Diocese. Momentos antes, D. António tinha feito a abertura solene da festa. Depois, incorporou a imensa procissão até ao palco da praça Paulo VI, onde se fez o acolhimento à Padroeira que seria conduzida até à igreja Catedral, onde per-maneceu durante estes dias. Foi uma presença permanente de fiéis, que pere-grinaram constantemente ao local para momentos de oração, de celebração da Penitência e da Eucaristia, de concertos de louvor. Um fio condutor, até ao final, onde nova multidão acompanhou a imagem em procissão de regresso à praça Paulo VI, para a celebração eucarística de encerramento.

Mensagem de confiançaNa homilia, D. António manifestou o seu contentamento pela forma como

toda a festa tinha decorrido e agradeceu aos vários intervenientes o empenho e dedicação. “A festa é vossa, fostes vós que a fizestes”, afirmou D. António, dirigindo-se aos milhares de fiéis que enchiam o recinto e os espaços anexos

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do jardim Luís de Camões. Salientando a forma entusiástica como o evento foi recebido pela “cidade dos homens”, justificou: “porque sentia necessidade desta festa”. Recordando a recente visita do Papa, que trouxe “uma dose de espiritualidade e de esperança” a uma sociedade “que vive um certo desen-canto, um certo estado de depressão de quem perdeu a confiança na vida”, exprimiu o desejo e a convicção de essa espiritualidade é bem recebida, por-que “é o que mais precisa o coração de uma pessoa, o que mais precisa uma família, o que mais precisa a sociedade”.

A mensagem do prelado, com voz viva e apelativa, centrou-se no “re-despertar da confiança” como lição a retirar desta organização: “No coração de cada um existe mais capacidade e potencialidade de bem do que de mal; temos de acreditar nesta beleza espiritual e moral da vida que o Espírito Santo nos oferece”. Uma “vida bela” que é sinónimo da “santidade a que todos so-mos chamados, não como turistas do espiritual que admiram a santidade nos outros, mas como chamados a ser santos neste século XXI”, afirmou o Bispo.

Santos para o século XXIE terminou com a oferta do “decálogo da santidade popular para o sécu-

lo XXI”, que pode resumir-se em “ser santos por opção e escolha pessoal”, “santos em cada momento da vida quotidiana”, “santos no contexto concreto do nosso tempo”, “santos na gratuidade e na doação e serviço aos outros”, “santos que se deixam habitar pelo mistério do amor e da santidade de Deus”, “santos em família e em comunidade cristã, uns com os outros e uns pelos outros”, “santos humildes e penitentes, conscientes da fragilidade humana, mas também de que Deus é maior do que as nossas fraquezas”, “santos hu-manos, com uma humanidade exemplarmente assumida e vivida”, “santos do amor puro, verdadeiro, casto, fiel, alegre, verdadeiro e sorridente”, “santos da alegria, do bom humor e da esperança, que ajudam a descobrir as belezas do caminho e as possibilidades de vida nova”.

Uma mensagem que, com certeza, encheu os corações dos que, novamen-te em procissão, acompanharam a Senhora de Fátima até à igreja de Santo Agostinho, outro padroeiro da Diocese, em cujas palavras se baseou a oração de despedida.

Adeus como promessaMuito se poderia escrever sobre este fim-de-semana e nunca seria sufi-

ciente para relatar cada pormenor, cada realização, cada momento de cultura, de festa, de actividade de rua. Nem para descrever o conteúdo de cada uma

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das tendas de exposição das nove vigararias, dos movimentos, serviços, co-munidades religiosas... Sobretudo, não daria para transmitir a vida que en-cheu as ruas, com especial destaque para as crianças da catequese e os jovens que fizeram do sábado um dia de cor, alegria e movimento.

Diremos apenas que os lenços brancos, na mão do Bispo e de cada um dos fiéis, no momento da despedida da imagem de Nossa Senhora de Fátima, não significaram tanto um adeus a quem parte, mas uma promessa a quem fica. Porque a Mãe continuará a acompanhar esta Igreja, tanto nos momentos de festa como de trabalho, nas alegrias e nas dificuldades. E porque quem viveu estes dias não os sentiu como tarefa acabada, mas como promessa de que mais e melhor se fará no futuro. Com confiança e um sorriso no(s) rosto(s), como nos pede D. António.

LMFerraz

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Falecimento

MonsenhorHenrique da Fonseca

Uma vida de serviço e dedicaçãoFaleceu no dia 21 de Janeiro o Monsenhor Henrique Fernandes da

Fonseca, no Hospital de Abrantes.A celebração exequial realizou-se no sábado, dia 23, na Sé Catedral

de Leiria, presidida pelo nosso Bispo, D. António Marto. No final da ce-lebração, o funeral dirigiu-se para o cemitério do Olival, onde o corpo foi sepultado.

Nas palavras de D. Alberto Cosme do Amaral, “Monsenhor Henrique da Fonseca serviu a Igreja com raro espírito de dedicação e entrega, e num total esquecimento de si próprio”. A Deus agradecemos o dom da sua vida e tudo o que ele pôde realizar em favor da Igreja de Leiria-Fátima.

Dados Biográficos• Nasceu a 7.03.1931, em Aldeia Nova, freguesia do Olival, filho de

Carlos Ribeiro da Fonseca e de Laura Rodrigues Fernandes.• Entrou no Seminário de Leiria em Outubro de 1941, e terminou o

curso em Julho de 1953.• Ordenado Diácono a 12.07.1953, na Catedral de Leiria.• Ordenado Presbítero a 19.09.1953, na Catedral de Leiria.• Auxiliar da Câmara Eclesiástica, de 01.10.1953 até 30.03.1954.• Pároco interino dos Pousos, de 02.01.1954 até 30.03.1954, data em

que foi nomeado Coadjutor da Marinha Grande.• Assistente Diocesano da LOC (Liga Operária Católica).• A 28.12.1956 foi nomeado Pároco de Mira de Aire.

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• A 05.08.1965 foi nomeado Prefeito e Professor do Seminário Dioce-sano de Leiria (onde leccinou História Universal, História de Portugal e História da Civilização), funções que desempenhou até 26.12.1972.

• A 17.10.1970 foi nomeado Ajudante do Ecónomo do Seminário, mantendo os cargos que exercia nessa data.

• A 26.12.1972 foi nomeado Secretário Episcopal.• A 04.08.1979 foi nomeado Vigário Geral da Diocese, cargo que ocu-

pou até 20.06.1998.• Nomeado Cónego da Sé Catedral a 18.06.1981, nomeado Monse-

nhor, com o título de Capelão de Sua Santidade, a 14.01.1983.• Membro do Conselho de Administração da Gráfica de Leiria des-

de 04.08.1984, membro do Conselho Económico Diocesano desde 31.12.1984, membro da Comissão do Inventário Artístico da Diocese desde 12.10.1993, membro do Conselho de Administração do Santuário de Fátima desde 25.07.1994.

• Ecónomo Diocesano de 31.12.1984 a 9.06.1994.• Pároco de Ortigosa desde 30.09.2000, foi dispensado deste serviço a

29.06.2009, por motivos de saúde.• A 13.07.2007 foi nomeado Coordenador do Serviço de Apoio ao

Clero, cargo que exerceu até ao final da vida.

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Visita Pastoral do Bispo à Diocese

Pela vigararia de Ourém…Continuando em Visita Pastoral pela vigararia de Ourém, D. António

Marto esteve nas paróquias de Ribeira do Fárrio (7 a 10 de Janeiro), Gonde-maria e Cercal (13 a 17 de Janeiro), Caxarias (10 a 14 de Fevereiro), Olival (24 a 28 de Fevereiro), Casal dos Bernardos e Urqueira (10 a 14 de Março).

Apresentamos nesta edição uma entrevista aos respectivos párocos, como tem sido hábito em cada caso, sempre com as mesmas perguntas:

1. Que pensa da iniciativa do Bispo diocesano de fazer uma visita pastoral a todas as paróquias?

2. Como se preparou a comunidade para receber o seu Bispo?3. Qual foi o critério na elaboração do programa?4. De forma geral, como decorreu a visita?5. Houve algum momento especial que queira destacar?6. Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto?7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral e que priori-

dades pastorais se adivinham em ordem à renovação da dinâmica pa-roquial?

Padre Filipe LopesRibeira do Fárrio

1 - É, no meu entender, certamente a forma mais rápida e melhor para sentir o pulsar do co-ração da Igreja diocesana. O mundo de hoje, mais do que palavras, necessita de testemunhos que to-quem o interior do ser humano. A visita de D. An-tónio é por si um testemunho de amor a Deus, aos homens e à Igreja.

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As comunidades paroquiais necessitam também de conhecer, acolher e amar aquele que tem a missão de as orientar. A Diocese ganhou um novo fô-lego com a sua vinda. As suas Cartas Pastorais são testemunho disso mesmo. Mas é necessário que a comunidade “aperte a mão” daquele que estimam.

Outro motivo é o futuro da Diocese. O senhor D. António fica a conhecer as comunidades, o espaço geográfico e o trabalho dos sacerdotes, e poderá conduzir melhor o seu povo.

2 – A preparação foi cuidada. Fizeram-se reuniões por sectores pastorais, formaram-se grupos de Lectio Divina a partir das propostas apresentadas e, em cada Eucaristia havia uma prece pela visita.

3 – Na elaboração do programa, sabendo que a visita seria de apenas qua-tro dias e tive como principal objectivo o encontro com todos, na perspectiva da animação da vida cristã na paróquia.

O senhor Bispo teve um serão só com casais, marido e esposa, e encontros com os jovens, com as crianças da catequese, com os confirmandos e com os idosos. O mais participativo foi o do Conselho Paroquial, que juntou todos os intervenientes na vida pastoral da paróquia.

4 – A visita correu muito bem. As pessoas estavam animadas e entusias-madas com este acontecimento. Foi a primeira vez que o Bispo da Diocese se deslocou a esta paróquia.

5 - Todos os momentos foram especiais, mas destaco mesmo assim, a Eu-caristia de encerramento. Ouvia-se com frequência “nunca vimos coisa assim”.

6- Ficam em nós verdadeiras marcas. Recordo a mensagem que uma pa-roquiana dirigiu a D. António, no final da eucaristia:

Foi com muita alegria e muito carinho que acolhemos a notícia desta Visita Pastoral.

Foi com elevada estima, consideração e reconhecimento que, final-mente, colocámos os nossos olhos nos olhos de D. António Marto, o nos-so coração no coração deste nosso irmão. Ao longo destes quatro dias de Visita Pastoral, pudemos contemplar, através do testemunho do nosso Pastor, quão bela e alegre é a Fé em Jesus Cristo. Guardamos as suas palavras de coragem e incentivo para continuarmos, na nossa paróquia, o grande projecto de Jesus Cristo. Hoje, neste dia de festa e dia tão espe-

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cial para esta comunidade, agradecemos sentidamente a sua presença no meio de nós. E, desta forma, queremos assumir um compromisso: a pa-róquia da Ribeira do Fárrio vai formar uma verdadeira família que vive em comunhão, sem vergonha e sem medo de testemunhar a Fé, alegre e participativa na vida da Igreja. Reunidos, assim, à mesma mesa, não ha-verá espaço para situações de conflito, pois esta visita fomentou em nós um espírito de unidade.

Após o falecimento do nosso querido Padre Jorge e, agora, com a graça de podermos continuar a ter entre nós a presença do sacerdote, nas pessoas do P. Filipe e do P. Ferreira, estamos em tempo de relança-mento. O nosso coração está aberto para acolher o sentido de família, comunhão e fraternidade. Se somos homens e mulheres que partilhamos a mesma fé pelo Baptismo, sejamos os mesmos homens e mulheres capa-zes de partilhar e promover uma espiritualidade de comunhão.

Num dos encontros, D. António disse-nos que cada um de nós era o rosto da graça de Deus na terra. Assim sendo, hoje queremos também dizer que D. António Marto é para nós esse rosto. Bem-haja!

7 - No fim da mensagem que foi dirigida em nome da comunidade, en-contram-se alguns propósitos. Finda a sua leitura, o povo aplaudiu de pé e largamente, demonstrando assim o seu empenhamento. Esta mensagem vai ser colocada em painel na frontaria da igreja paroquial.

Padre Manuel Santos LopesGondemaria e Cercal

1 - Considero que a Visita Pastoral que está em curso na Diocese é uma iniciativa não apenas lou-vável mas necessária fundamentalmente para toda a comunidade paroquial.

2 - A Visita Pastoral às paróquias da Gonde-maria e do Cercal foi anunciada com alguma an-

tecedência. Além disso, fez-se a distribuição a crianças, jovens e adultos de pagelas alusivas à Visita Pastoral e um convite à oração para que a presença do Bispo se tornasse “verdadeiro tempo de graça e momento especial para o encontro e o diálogo do Bispo com os fiéis”.

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Mais tarde, espalharam-se ainda catálogos de mobilização, em diversos locais das paróquias, de forma a sensibilizar as pessoas para este grande acontecimento, de carácter espiritual e pastoral.

3 - O programa foi elaborado pelos diversos movimentos das paróquias e, por fim, sujeito à aprovação do Bispo.

4 - A Visita Pastoral às paróquias excedeu todas as expectativas. A parti-cipação e o entusiasmo na recepção surpreenderam-me, tanto mais que parte da Visita Pastoral foi feita durante a semana, portanto, em dias de trabalho.

5 - Os momentos especiais ocorreram no sábado e no domingo, pois a Eucaristia e os encontros realizados contaram com uma afluência muito sig-nificativa das crianças, jovens e adultos.

6 - O que de mais importante se registou da passagem do nosso Bispo pe-las paróquias terá sido a Palavra de Deus, que, de forma convicta e cativante, nos confiou.

Na oportunidade, não deixámos de o registar e agradecer publicamente.

7 – Quanto a expectativas, é demasiado prematuro anteciparmos quais-quer resultados da Visita Pastoral, uma vez que ainda não nos reunimos com os diversos movimentos apostólicos das paróquias.

Padre Bertolino VieiraCaxarias e Olival

1 – A Visita pastoral é uma excelente iniciativa que proporciona o encontro pessoal do Pastor da Igreja Diocesana com os fiéis de cada paróquia. Permite aferir da sensibilidade cristã das Paró-quias, da sua vida e iniciativas concretas, da vita-lidade e consciência da situação actual, com todos os desafios que se lançam à Igreja e às paróquias.

Permite ainda, no contacto directo com o Povo de Deus, verificar as vivências pessoais e sociais.

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Apesar do limite temporal, por se reduzir a poucos dias ou tardes e noites, permite ao bispo diocesano celebrar, conversar, confirmar na fé, desafiar, es-timular e incentivar as comunidades cristãs, e sentir a proximidade do Povo de Deus. Os fiéis, por seu lado, também animam e estimulam o próprio bispo. Em suma, é uma valorização da comunhão eclesial entre o Pastor e o reba-nho, usando a imagem evangélica de São João.

2 – Em Caxarias, a preparação, que teve diversos momentos, começou pela consciencialização dos objectivos e proposta de programa elaborada pelo Con-selho Pastoral, e prosseguiu com a apresentação e reajustamento dessa proposta em diálogo com o Senhor Bispo. Por fim, realizou-se uma assembleia paroquial para distribuição de tarefas e verificação do trabalho já feito.

Depois, iniciou-se a preparação dos sectores pastorais e Comunidades. Prepararam-se as celebrações eucarísticas, a Confirmação dos adolescentes, os encontros com a Catequese, crianças, adolescentes, jovens e pais, e com os principais membros da pastoral paroquial. Tentou-se também dar realce ao contacto com os Bombeiros Voluntários, instituição estimada e relevante da comunidade local. Por dificuldades de agenda, não foi possível o contacto com a comunidade escolar.

Fez-se a Lectio Divina algumas vezes, na igreja paroquial (não em gru-pos), para rezar a Palavra de Deus e ajudar os cristãos a reconhecerem-se melhor na Comunidade Paroquial e na Igreja que são, e a compreenderem a sua inserção na Igreja Diocesana, bem como a missão do Bispo e dos pastores na vida eclesial.

No Olival, houve várias reuniões de preparação: Conselho Pastoral, uma assembleia paroquial e a oração bíblica na igreja paroquial feita nos moldes da Lectio Divina. Além disso, os sectores da Pastoral Paroquial organizaram-se para preparar os diversos momentos de encontro com o nosso bispo. Foi ainda coordenada pela Junta de Freguesia, a quem agradeço em nome da Paróquia, um encontro com as diversas associações sócio-culturais.

3 – A elaboração do programa obedeceu aos objectivos traçados pelo nos-so Bispo: o conhecimento da realidade eclesial, antes de mais, e da realidade social onde se insere a paróquia. Assim, privilegiou-se o contacto com os diversos agentes pastorais e os fiéis, procurando a maior mobilização e par-ticipação da paróquia.

Tentámos que o Senhor Bispo pudesse conhecer as pessoas que se reú-nem nos diversos centros de culto, a maior parte sem Eucaristia dominical.

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O objectivo foi entendido e bem conseguido, pois houve uma participação interessada e numerosa que é de louvar, apesar da complexidade dos horários laborais. Houve um esforço notório para marcar a presença.

4 – A visita foi acontecendo de forma normal, com bom acolhimento ao Senhor Bispo e marcada pela sua proximidade afectiva, que é claramente seu timbre. Quer nas celebrações e reuniões, quer nos convívios e refeições, a comunidade pôde manifestar o seu carinho ao seu Pastor, correspondendo, de forma espontânea, ao seu modo tão agradável e marcante de estar com todos.

5 – Em Caxarias, de todas as celebrações, destacaria a Eucaristia domi-nical, acção central da visita, em que o senhor bispo lançou alguns desafios à vida de fé, em termos de afirmação dos valores morais e de participação co-responsável na paróquia, na família e na sociedade. Foi-lhe oferecido um cabaz com diversos produtos da zona, sinal material da partilha da Paróquia com o Pastor diocesano. Na mesma celebração foram crismados 11 jovens e fizeram o seu juramento os membros do novo Conselho Pastoral Paroquial. Foi uma celebração festiva e solene, simples e de comunhão eclesial.

Foi ainda significativo o encontro com os membros activos da Pastoral Paroquial. Além de uma panorâmica geral da vida social e paroquial, o Se-nhor Bispo dirigiu uma palavra específica a todos os sectores, serviços e mo-vimentos, de incentivo e responsabilização pela sua missão concreta.

No Olival, destacaria, em primeiro lugar, a celebração e o encontro com os seniores (idosos) e doentes no Centro de Apoio Social do Olival (CASO), que foi marcante pela comunicação próxima do senhor bispo com os mais velhos, com todo o apreço, estima e atenção que lhes dedica.

Foram importantes também a assembleia paroquial, para conectar o nos-so bispo com a realidade eclesial e social local, os diversos encontros por sectores, com realce para a catequese e pais, os convívios com partilha das refeição, e todas as celebrações eucarísticas, particularmente a de sábado, animada pela Catequese e Escuteiros, e a do Domingo, com a administração do Crisma a 14 jovens.

6 – Como referi, o Senhor Bispo marca pelo seu modo próximo, simples e afectivo e pela fé profunda, que não deixam ninguém indiferente. A grande mensagem é o seu desejo de renovação e formação dos cristãos, essencial para que o testemunho de vida e a transmissão da fé sejam efectivos, com-petentes e sérios. Ficou ainda o desafio à implementação de alguns serviços,

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sobretudo na área da acção sócio-caritativa e da saúde. Além disso, interpelou as paróquias a viverem uma maior corresponsabilidade e coordenação pas-toral, a partir do Conselho Pastoral, diante das dificuldades que o mundo e a Igreja hoje atravessam, designadamente no que se refere ao compromisso e testemunho destemido da fé.

7 – Procurando corresponder às expectativas, em Caxarias vamos reunir brevemente o Conselho Pastoral para avaliar, discernir e tomar algumas de-cisões em ordem à renovação, tendo em conta o que atrás se disse e que vem sendo também reflectido na comunidade. Esperamos poder contar com mais cristãos disponíveis para as tarefas e missão da paróquia, dispostos a formar-se e a dar o melhor de si mesmos para o bem de toda a comunidade.

No Olival, há neste momento interesse em renovar os órgãos mais re-presentativos da Paróquia, o Conselho Pastoral e o Conselho Económico. Sente-se a necessidade de renovar alguns sectores e serviços e de estudar em comum as formas de revitalizar a comunidade paroquial e cada uma das suas pequenas comunidades, face à dispersão e ao risco persistente de quebra do sentido de comunhão paroquial. As prioridades serão definidas em Conselho Pastoral, naturalmente.

Padre Vitor MiraCasal dos Bernardos e Urqueira

1 – A Visita Pastoral é uma iniciativa é muito boa. Permite ao Sr. Bispo ficar a conhecer melhor a diocese e suas comunidades, com suas dificulda-des e esperanças. Mas também é muito bom para as paróquias sentirem que não estão esquecidas, vendo que o Bispo, como bom pastor, se interessa por elas e as visita.

Outra vantagem é que a visita, com tudo o que implica de organização e preparação, leva à mobilização de muita gente da comunidade o que também ajuda a criar novas dinâmicas.

Via-se a alegria das pessoas em receberem o Sr. Bispo. Em dois locais até se colocaram lápides como memorial da visita, por iniciativa das próprias pessoas.

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2 – Tendo em conta que cheguei a estas comunidades em Outubro passa-do, a primeira preocupação foi levar as pessoas a ler a carta pastoral do Sr. Bispo para este ano. A experiência foi boa e ajudou a preparar a fase seguinte.

Cerca de dois meses antes da visita fizemos uma assembleia paroquial em cada uma das paróquias em que demos a conhecer a carta do Sr. Bispo a anunciar a visita. Nessa mesma assembleia fizemos trabalho de grupos so-bre a referida carta e as principais questões que envolviam a visita. Foram assembleias razoavelmente participadas e que deram um grande impulso à preparação.

A partir daí foram distribuídas pagelas com a oração pela visita, que pas-sou a ser rezada também nas missas dominicais.

Após as assembleias paroquias, houve um encontro de formação de lí-deres que teve como objectivo ajudá-los a orientar os encontros da “Lectio Divina”. Depois formaram-se os grupos que meditaram e rezaram sobre os cinco temas propostos. Como eram vários grupos, nós, os padres ao serviço das comunidades, procurámos passar pelo menos uma vez por cada um.

A caminhada dos grupos foi boa e enriqueceu muito as pessoas. Para mui-ta gente foi a primeira vez que tiveram a oportunidade de rezar deste modo.

3 – Tendo em conta que a visita se faria, em simultâneo, nas duas paró-quias que têm ao seu serviço os mesmos dois padres, formou-se uma equipa inter-paroquial que organizou todo o programa.

O principal objectivo foi levar o Sr. Bispo a encontrar-se com os vários grupos das paróquias, quer nos âmbitos próprios da Igreja, quer naqueles em que as pessoas se encontram no seu dia-a-dia, como sejam os locais de traba-lho. Neste sentido, várias empresas foram contempladas com a visita. Todos os centros de culto foram visitados e todas as pessoas tiveram a oportunidade de se encontrar com o Sr. Bispo. Podemos dizer, em relação a algumas, que foi ele que foi ao encontro delas.

Também houve momentos de convívio e de cariz mais cultural para que o Sr. Bispo ficasse a conhecer melhor a realidade histórica e sociocultural de cada paróquia.

4 – A visita correu muito bem e até o tempo ajudou. Parou nas vésperas e deixou o lugar a belos dias de primavera.

Inicialmente, estava prevista a visita a só duas ou três empresas. Mas, ape-nas se soube, os pedidos surgiram de todos os lados e o Senhor Bispo acabou por visitar oito. Em todas foi muito bem acolhido, com gestos muito simpáti-

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cos e de grande cordialidade. Numa empresa, já fora da hora de laboração, os empregados esperaram e, à chegada do Senhor Bispo, puseram as máquinas a trabalhar para que pudesse ver como era o seu trabalho.

Também com os idosos o encontro foi muito bonito. À noite, as assembleias contaram com elevado número de participantes.

As celebrações da Eucaristia foram muito bem preparadas e as pessoas dos vários centros de culto não se pouparam a esforços para preparar tudo da melhor maneira possível.

De assinalar, ainda, os encontros com os jovens e as crianças e adoles-centes da catequese constituíram uma experiência marcante: nunca tinham sentido tanto a proximidade do seu Bispo.

Em sinal da sua alegria e gratidão, as pessoas apresentavam espontanea-mente as suas ofertas em bens da terra e outros, além dos ofertórios entregues para ajuda das obras do Seminário Diocesano.

5 – Podemos destacar dois momentos, principalmente pelo que significa-ram de comunhão entre as comunidades.

No sábado houve apenas uma missa para as duas paróquias, à tarde, no Casal dos Bernardos, com administração do Crisma a 55 adolescentes. No domingo, as duas paróquias voltaram a reunir-se, desta vez em Urqueira, para uma só Eucaristia de encerramento da visita. Foram dois momentos impor-tantes que muita gente percebeu e aos quais correspondeu, na vivência do que fora o motivo profundo de toda a visita: comunhão e co-responsabilidade, não apenas dentro das paróquias, mas também entre elas e no sei da Igreja.

6 – Uma das imagens mais fortes do Sr. D. António é da proximidade. Espanta e surpreende muita gente a forma atenta e simpática como cumpri-menta as pessoas e como se faz próximo, sempre atento a todos.

A sua presença também foi um forte convite à renovação da fé, das comu-nidades e da sua vivência. Também convidou insistentemente a não ter medo nem vergonha de ter fé e de seguir a pessoa de Cristo.

7 – Agora estamos na fase de avaliação, fazendo reuniões com vários grupos das comunidades. No Domingo de Ramos teremos uma assembleia paroquial em cada uma das comunidades, com trabalhos de grupo, a fim de tirar consequências práticas da visita e, a partir delas, definir linhas de reno-vação em ordem a um melhor testemunho e vivência da fé.

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Escola de Formação Teológica de Leigos

25 anos da sua fundação No dia 10 de Janeiro, a diocese de Leiria-Fátima comemorou os 25 anos

da abertura solene da Escola de Formação Teológica de Leigos (EFTL), actu-almente integrada no Centro de Formação e Cultura (CFC).

Criada por decreto do Senhor Dom Alberto, bispo de Leiria-Fátima, em 28 de Agosto de 1984, a abertura da mesma aconteceu em sessão solene rea-lizada na igreja do Seminário de Leiria, apresentando como objectivo formar cristãos mais amadurecidos na sua fé, “onde os leigos estejam mais presentes e activos… e cresçam no conhecimento de Cristo e do seu Evangelho, na ade-são profunda a Ele em toda a sua vida e na vontade de O servir, colaborando na sua obra salvífica”, como disse na ocasião o padre Rogério Oliveira, seu primeiro director.

A sessão comemorativa, no Seminário de Leiria, contou com o testemu-nho de três antigos alunos e a conferência “A Formação Teológica de Leigos na Diocese: passado, presente e futuro”, pelo padre Adelino Guarda, actual director do CFC. Após este momento mais formal, as dezenas de antigos alunos que vieram participar no evento fizeram uma visita à zona remode-lada do Seminário, guiada pelo reitor da instituição, padre Armindo Janeiro, seguindo-se a celebração de Vésperas, presidida pelo Bispo diocesano, D. António Marto, e um lanche partilhado entre todos.

Na sua intervenção, o padre Adelino Guarda acentuou a tónica no futuro, sempre com a meta da formação: “Esta escola é de pessoas e para pessoas”. Defendendo que “os leigos não podem contentar-se com a formação que re-ceberam por altura da catequese”, este responsável desafiou os presentes a apostarem na formação da sua fé, usando as palavras de João Paulo II, na en-cíclica Ecclesia in Europa: “a nossa sociedade exige cristãos adultos na fé”.

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E um dos antigos alunos, que deu testemunho disso mesmo, foi António Ribeiro, leigo de 75 anos, actualmente Ministro Extraordinário da Comu-nhão, confessando que “a catequese começou realmente” para si em 1976, com os Cursilhos de Cristandade, e consolidou-se com a vinda para a EFTL em 1986, então com 54 anos. Também muitas religiosas aproveitaram esta formação ao longo dos anos, como testemunhou a irmã Conceição Silva, das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, lembrando “a alegria com que, no final do trabalho, rumava ao seminário para as aulas”.

Experiência de comunhão ao serviço da comunhãoAs grandes obras têm sempre na sua base um alicerce forte e robusto,

capaz de as suster e, ao mesmo tempo, capaz de ser desafio e motor em cada tempo e em cada época. É esse alicerce que está na génese e, ao mesmo tem-po, esconde em si o objectivo ou o fim dessas obras. Ao falarmos da EFTL, ou do actual CFC, quisemos procurar as raízes desta instituição. Socorremo-nos de alguns textos apresentados por ocasião da abertura de diferentes anos lectivos e que foram redigidos pelo seu primeiro director, o padre Rogério de Oliveira.

Uma ideia perpassa todos esses textos e, de alguma forma, resume bem a “personalidade” desta escola. Trata-se da comunhão. No ano em que a Dioce-se vive o desafio da comunhão, relembremos o que então se disse.

Logo no primeiro discurso de abertura (10 de Janeiro de 1985), o padre Rogério começava por lembrar os desafios trazidos pelo Concílio Vaticano II, para neles fundamentar a existência da Escola: “Numa primeira fase, durante o Concílio e no pós-Concílio, foi a descoberta de que a Igreja não é só a sua hierarquia, mas todo o Povo de Deus: que todos quantos foram chamados por Cristo, aderiram a Ele pela fé e foram consagrados para participarem da sua função sacerdotal, profética e pastoral ou real, formam a Igreja, com funções diferentes mas com igual dignidade. Nesse período era de facto novidade que somos todos Igreja, igualmente membros, igualmente consagrados, igual-mente responsáveis. Hoje, repetir esta verdade é dizer o que todos sabem, embora continue a haver muitos cristãos que ainda não compreenderam isto: que são Igreja, membros do Corpo de Cristo presente no mundo para o salvar. Para a maioria, porém, trata-se de uma verdade sabida, que já não lhes diz nada de novo. Creio que todos vós estais nesta situação”.

E continuava incentivando a que esta verdade sabida por todos passasse à prática: “No entanto, uma coisa é saber esta verdade e outra conhecê-la,

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isto é, senti-la, amá-la e vivê-la ou como diz S. João, fazer a verdade. Fazer a verdade, neste caso, implica aderir a ela de alma e coração, amá-la como algo muito importante para nós, sentir alegria por sermos membros da Igreja, estar empenhado nesta adesão a Cristo e na preocupação de O servir”.

O discurso continua, depois, com uma aplicação concreta à diocese de Leiria-Fátima, afirmando o director: “Para que a nossa Diocese seja mais co-munitária, onde todos participem de acordo com a sua função própria… onde os leigos estejam mais presentes e activos, é necessário que se desenvolvam espiritualmente: que cresçam no conhecimento de Cristo e do seu Evangelho, na adesão profunda a Ele em toda a sua vida e na vontade de O servir, colabo-rando na sua obra salvífica. Para que os leigos, os padres e o Bispo duma Dio-cese se possam completar mutuamente e formar um corpo vivo e harmonioso de Cristo é preciso que todos os membros estejam plenamente desenvolvidos sem hipertrofias de uns ou hipotrofia de outros, sem que uns fiquem abafados pela superioridade dos outros. (...) A nossa opção por uma Diocese renovada, mais comunitária e participativa exige membros renovados, preparados espi-ritual e doutrinalmente, empenhados, etc.”

É ainda no contexto de comunhão e complementaridade que termina o seu discurso, fazendo compreender a importância da EFTL, a par com a forma-ção teológica do Seminário, direccionada para os candidatos ao sacerdócio.

É a mesma preocupação e o mesmo alicerce de comunhão que volta a ser referido no discurso de abertura do ano lectivo de 1986/87, agora na sequên-cia do então terminado Sínodo dos Bispos, celebrado em Roma, para celebrar os 20 anos do Concílio Vaticano II. No seu “relatório final” exprime, entre outras, a seguinte conclusão: “A ideia central e fundamental dos documentos conciliares é a eclesiologia de comunhão. Isto significa que a Igreja nasce da comum participação de todos os seus membros do mesmo amor trinitário, da mesma Palavra, incarnada em Jesus de Nazaré, do mesmo Espírito que opera tudo em todos, do mesmo Baptismo, do mesmo Pão eucarístico, etc. É a comum participação desta vida divina e destes mistérios que nos congrega em Igreja, comunhão, comunidade, Povo de Deus, Corpo de Cristo. Como Igreja, temos uma mesma missão a desempenhar neste mundo que Deus ama e quer salvar; temos um sacrifício e um ministério comum, que depois se di-versifica, pois dentro desta missão comum cada um tem a sua função própria e complementar como os membros dum só corpo. O corpo é um só e na sua unidade tem uma presença, um relacionamento e uma missão no mundo mas dentro do corpo há membros e tarefas diferentes e complementares: todos igualmente precisos e igualmente dignos; todos recebem dos outros e dão aos

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outros em ordem à edificação comum, para que o corpo possa desempenhar a missão que Deus lhe confiou” .

E, tal como havia afirmado no ano anterior, o padre Rogério insiste para que os cristãos não se fiquem pelas ideias bonitas, mas que se decidam por acções concretas: “Não basta, por isso, que tenhamos retomado consciência desta verdade teológica. É necessário que os leigos retomem efectivamen-te o seu lugar… o lugar específico que lhes compete como direito e como dever. Mas, como serão membros efectivos da Igreja se não participarem profundamente da fonte da vida que gera a Igreja-Comunhão? Isto é, se não desenvolverem profundamente a sua espiritualidade? Se forem membros en-fraquecidos e com pouca vida? Como serão membros efectivos da Igreja se, ao nível da fé e da sua formação bíblica, teológica e pastoral estiverem num estado de menoridade e de subdesenvolvimento? Se se sentirem inferiores e dependentes de alguns que têm o monopólio do saber teológico-pastoral, como poderão ocupar de modo activo, digno e competente o seu lugar na Assembleia Santa dos fiéis? Se uns só dão e outros só recebem, onde está a Igreja-comunhão, a «edificação comum», a dependência e a «obediência mú-tua» de que fala S. Paulo? Nesse caso, temos alguns membros empobrecidos – os leigos – que não podem enriquecer os outros – os ministros – que as-sim ficam também empobrecidos. É o tal corpo desequilibrado e defeituoso! Para bem de todos, para bem da Igreja e bom desempenho da sua missão no mundo precisamos que os leigos cresçam espiritualmente e na sua formação teológica. Sem um laicado adulto, temos uma Igreja defeituosa”.

Mas, mais do que incentivar à comunhão, ele mesmo se fazia protagonista desta ideia e desta convicção, ao terminar o seu discurso desse ano pedindo a todos que apresentassem os seus pedidos para que “esta Escola possa res-ponder melhor às vossas necessidades”. E explicava: “Deveis ser realistas, tendo em conta as nossas limitações, mas também deveis manifestar uma santa ousadia. É o bem da Igreja-Comunhão, que queremos ser, que o exige”.

Aqui se vê o verdadeiro espírito que anima a Escola desde o seu início. O alicerce é a comunhão entre todos, como forma de prestar assim um melhor serviço à própria Igreja. Por isso, a forma magnífica com que termina este discurso: “Creio poder afirmar que a principal mola que tem impulsionado esta Escola a continuar tem sido o vosso grande interesse por ela. O sacrifí-cio, que muitos de vós têm feito para não faltarem, apesar da distância, do cansaço, da chuva e do frio, tem sido uma graça para a Escola; uma fonte de energia que nos anima a todos a continuar com alegria. É assim que a Igreja se constrói: o interesse, o empenho e o sacrifício de cada um estimula e ajuda

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os outros. É isto que nos ajudará a ir ainda mais longe. Há paróquias e grupos de leigos que ainda não têm notícia da Escola; que ainda não foram avisados e convidados a virem a esta sua Escola. Confio sobretudo em vós. Sois vós leigos que deveis assumir com entusiasmo esta tarefa de acordar e dinamizar o laicado para que ocupe o lugar que lhe compete na Igreja. Agradeço-vos também as vossas sugestões para que esta Escola seja cada vez mais vossa e responda às vossas necessidades, de acordo com a missão que tendes na Igre-ja e no mundo. Saúdo, particularmente, os que estão entre nós pela primeira vez. Desejo que vos sintais sempre bem, entre irmãos que partilham a mesma fé e as mesmas preocupações. Desejo também que a Escola responda às vos-sas necessidades e que possais dizer: valeu a pena. Eu e toda a direcção da Escola estamos ao vosso dispor. Anima-nos a vontade de fazer desta Escola uma instituição diocesana que marque positivamente o futuro da Diocese e desse modo contribua para termos uma Igreja mais viva, mais participativa e mais eficaz no serviço da salvação do mundo que nos foi entregue”.

Ao serviço da Igreja, entendida esta como verdadeiro espaço de comu-nhão, assim foi desde o seu início este espaço de formação que agora celebra as suas bodas de prata. Estamos certos que a formação que já ofereceu a muitos leigos da nossa Diocese tem sido um verdadeiro motor para que cada vez mais tomemos consciência da realidade que somos. O Projecto Dioce-sano agora em curso, talvez não fosse possível sem este alicerce e sem esta experiência de 25 anos.

Os passos da EFTL…Com esta motivação, D. Alberto Cosme do Amaral dava o mote para a

constituição da EFTL, no dia 28 de Agosto de 1984. Em Dezembro do mes-mo ano, nomeava a direcção, composta então pelo padre Rogério (director), o padre Luís Inácio, e os leigos Emília Lourenço, Belmira de Sousa, José António e Paulo Felício. Desde o primeiro momento, é finalidade da Esco-la dar aos leigos “uma sólida formação espiritual e doutrinal, que há-de ser permanente e estar ao alcance de todos” (Decreto de criação da EFTL, 28 de Agosto de 1984).

A maneira como foi acolhida, durante os primeiros quatro anos, demons-tra, à evidência, que ela corresponde a uma necessidade, sentida já por muitos leigos da Diocese... “para poderem ser testemunhas da Ressurreição do Se-nhor, sinais do Deus vivo, dar as razões da sua esperança, alimentar o mundo

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com frutos espirituais e ser perante os homens e no meio das realidades terre-nas e temporais aquilo que a alma é no corpo”.

A 30 de Setembro de 1988, D. Alberto, procurando aliviar o padre Rogé-rio do trabalho excessivo que estava a cumular, nomeou Director da Escola o Padre Luís Inácio João, que viria a desempenhar esse cargo durante 12 anos e passou a liderar uma Direcção composta ainda pelo padre Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, o padre Jorge Manuel Faria Guarda e os leigos Emília Almeida Lourenço, Jacinta de Jesus Santos, José António Ferreira e Joaquim Luís Fernandes.

No ano lectivo de 1991-1992, abriu o Curso Básico de Ciências Religio-sas, com componente científica e componente pedagógica, para complemen-to de habilitação para Professores de Educação Moral e Religiosa Católica.

Em 1993, D. Serafim Ferreira e Silva criou o cargo de vice-director da Escola e nomeou para o lugar Emília de Almeida Lourenço.

Entre 1994 e 1999, para além dos cursos teológicos, funcionou um curso de Formação Musical e Litúrgica.

Em 1998, na 2.ª sessão do Sínodo Diocesano, a Assembleia Sinodal pro-pôs ao Bispo da Diocese a criação do CFC e, por provisão de 9 de Junho de 2000, D. Serafim nomeou o padre Armindo Janeiro como “primeiro res-ponsável de uma comissão promotora e instaladora do Centro Diocesano de Formação e Cultura proposto pela Assembleia Sinodal”. De imediato se pro-cedeu à reformulação dos cursos, que apostavam em 3 dimensões:

a) Formação – dinamização em 3 níveis de acção: diocesano, paroquial, vicarial – curso Pensar a Fé;

b) Cultura – propostas dentro e fora do espaço eclesial... participação nos projectos de outros agentes;

c) Espiritualidade – propostas váriasUm novo passo foi depois dado pela Comissão Episcopal da Educação

Cristã que, a pedido do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso nas Es-colas, reconheceu os cursos da EFTL para os efeitos previstos no 3.º e 4.º es-calões das habilitações próprias para a leccionação da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.

A 11 Outubro de 2005, D. Serafim nomeou director do CFC o padre Vítor Coutinho, que procedeu a nova reestruturação do Curso Geral de Teologia. É acrescentado um Curso de Formação Complementar e outro de Iniciação Teológica para Noviciados.

Em 2006, o novo Bispo diocesano, D. António Marto, nomeou director do CFC o padre Adelino Guarda. É criada a Escola Diocesana “Razões da

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Esperança”, que persegue vários objectivos e integra várias formações em relação com outros departamentos e serviços da cúria diocesana, bem como com movimentos e associações eclesiais.

De 1985 a 2009, inscreveram-se na EFTL 1251 pessoas, que frequenta-ram as várias propostas de formação: Curso Geral de Teologia, Formação Complementar e Curso Pensar a Fé.

As palavras de D. António Marto são agora o farol dos caminhos que, no momento presente, a Escola vai traçando: “A situação cultural e religiosa actual da Europa exige a presença de católicos adultos na fé e de comuni-dades cristãs missionárias que testemunhem a caridade de Deus a todos os homens. Urge passar de uma fé apoiada na tradição social a uma fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta. A Igreja constrói-se como comunhão de homens e mulheres, adultos e responsáveis na fé e no dinamismo da vida comunitária”. Mais uma vez, como sempre, a comunhão é fundamento e ob-jectivo desta instituição formativa, no contexto da pastoral global da Igreja particular de Leiria-Fátima.

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Centro de Formação e Cultura eEscola Diocesana Razões da EsperançaPrograma do segundo semestre

A Escola Diocesana já tem disponível o programa, datas e outros deta-lhes sobre os vários cursos do 2º semestre no Centro de Formação e Cultura (CFC) e na Escola Razões da Esperança.

Na Escola Razões da Esperança, que funciona às terças-feiras, das 21h00 às 23h00, as aulas já se iniciaram no dia 2 e prosseguem ao ritmo quinzenal, nas seguintes datas: 23 de Fevereiro, 9 e 23 de Março, 13 e 27 de Abril, 11 e 25 de Maio. O encerramento será no dia 1 de Junho. As disciplinas deste 2º Semestre são, na primeira hora, 21h00 – 21h50, “Cristo: Deus e homem” (pa-dre Vítor Coutinho – Coordenador) e “As Celebrações da fé” (padre Carlos Cabecinhas). Na segunda hora, 22h00 – 23h00, Curso de Iniciação de cate-quistas; Curso Geral de Catequistas / Pedagogia (Ir. Helena); Lectio Divina; Grupos litúrgicos; Acção Sócio-caritativa; Formação para dirigentes CNE – S. Tiago; Movimento dos Cursos de Cristandade e Animação vocacional.

Quanto ao Centro de Formação e Cultura, as aulas serão no Seminário de Leiria, à segunda-feira das 19h00 às 20h30, nos seguintes dias: 22 de Feve-reiro; 1, 8, 15, 22 de Março; 19, 26 de Abril; 3, 10, 17, 24, 31 de Maio e 7, 14 e 21 de Junho. O tema será “A Igreja em Portugal: do Marquês de Pombal à III República” (Doutor António de Jesus Ramos), Disciplina da Formação Complementar, à quinta-feira, nos dias 11, 18, 25 de Fevereiro; 4, 11, 18, 25 de Março; 15, 22, 29 de Abril; 6, 13, 20, 27 de Maio e 17 de Junho.

Das 19h00 às 20h30: Novo Testamento (Dr. Gonçalo Diniz), Disciplina do Curso geral de Teologia. Das 21h00 até 22h30: Cristologia (Dr. Luís Iná-cio João), Disciplina do Curso geral de Teologia.

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Serviço Diocesano de Pastoral da SaúdeDia do Doente 2010

Para assinalar o Dia Mundial do Doente, o Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde de Leiria-Fátima e o Centro Voluntários do Sofrimento convidaram todas as pessoas interessadas em participar na celebração da Eucaristia, no dia 11 de Fevereiro, quinta-feira, às 16h00, na Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima.

Desde 1993, por iniciativa de João Paulo II, poucos anos após a institui-ção da Comissão Pontifícia para o Apostolado dos Profissionais de Saúde, a Igreja propõe a celebração do Dia Mundial do Doente.2010 é um ano especial, por nele se comemorar o 25.º Aniversário da ins-tituição da Pastoral da Saúde. O tema da mensagem que o Papa Bento XVI enviou a toda a Igreja, refere esta efeméride e pede que a “Igreja esteja ao serviço do Amor pelos enfermos e por todos os que sofrem”.

Serviço Diocesano de Catequese Campanha para a Quaresma 2010

À semelhança do que aconteceu no Advento, o Serviço Diocesano de Ca-tequese elaborou uma proposta de campanha para a Quaresma 2010, procu-rando incentivar a vivência familiar da caminhada para a Páscoa, com a cons-trução de um “canto de oração” em casa, e a proposta de um breve momento de oração em família. Sugeria-se também uma acção por semana.

Com uma referência constante ao Baptismo, a proposta procurava refor-çar a consciência baptismal e ajudar a viver a dimensão de “igreja familiar” a que cada família é convidada na Carta Pastoral deste ano: “Família, reaviva o dom da comunhão que está em ti! Cultiva a espiritualidade da comunhão!” (D. António Marto). Nesse sentido, a campanha incluía ainda um momento de oração familiar para o dia de Páscoa.

No “canto de oração”, em cada semana deveria ser colocado um novo sinal, tendo como ponto de partida e ponto de chagada a cruz, a mesma cruz que poderia ser utilizada no momento da bênção da família, na Visita Pascal.

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Grupo Missionário OndjoyetuCurso de Missiologia

O Grupo Missionário Ondjoyetu, da diocese de Leiria-Fátima, promoveu um Curso de Missiologia, aberto a todos, às sextas-feiras, de 26 de Fevereiro a 28 de Maio de 2011.

Com um total de 24 horas, a formação abordou os seguintes temas: “Mo-tivação Pessoal Missionária”, “Perfil do Voluntário Missionário”, “Vivência em Grupo”, “A Missão da Igreja no Mundo”, “Fé e Inculturação”, “Espiritu-alidade Missionária”, “A Realidade de Angola”, “A Realidade Sociocultural do Sumbe e do Gungo”, “A Vivência no Grupo Ondjoyetu”, “Trabalhos e Projectos que se desenvolvem no Gungo”.

Os temas foram orientados por missionários voluntários do Grupo Ond-joyetu (Sónia Cruz, Sara Moniz, Maria Angélica Filipe, Armando Franco, Ana Sofia Pereira, Celina Pedro) e ainda pelo Dr. Horácio Lopes, a Irmã Guadalupe Rivera e os padres Vítor Mira, José Antunes, Segunda Miguel e Tony Neves.

Os destinatários foram pessoas que quisessem aprofundar os seus conhe-cimentos sobre a Missão e sobre o trabalho que o Grupo Missionário Ond-joyetu realiza no Gungo (Sumbe, Angola).

A iniciativa constituiu uma oportunidade de formação para pessoas que esperam um dia poder partir em Missão integrando o Grupo Ondjoyetu e para quantos desejam crescer no discernimento da sua vocação missionária.

Há mais de três anos que a nossa diocese tem uma presença permanente junto do povo do Gungo. Graças aos voluntários leigos que se têm disponibi-lizado este projecto tem seguido o seu percurso e dado os seus frutos.

Queira Deus que o exemplo e testemunho destas pessoas desperte noutras o mesmo desejo de dar um tempo da sua vida à Missão da Igreja em latitudes mais distantes. Deus continua a chamar!

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Movimento dos Cursos de Cristandade

Simpósio Cursilhista “MCC – 50 Anos”Apesar da participação dos cursilhistas da diocese de Leiria-Fátima ter

ficado aquém do desejado, foi com alegria e entusiasmo que os presentes no Simpósio Cursilhista “MCC – 50 Anos”, que decorreu em Fátima, nos dias 23 e 24 de Janeiro, testemunharam, na Escola do dia 26, tudo o que viveram e sentiram naqueles dois dias. Leigos, sacerdotes e bispos não deixaram de dar o seu contributo para a conclusão de que a realização deste Simpósio foi um excelente arranque das Comemorações dos 50 Anos do primeiro cursilho em Portugal.

Ficou claro para quem esteve presente no Simpósio:- que “a vida é bela e uma aventura fascinante que vale a pena viver com

garra e com coragem, mas a vida sem Deus é uma festa incompleta” (padre João Braz);

- o que se quer é um “movimento vivo e em mudança” (padre Senra);- que o “mundo dos Homens precisa que Cristo viva no mundo” (Mário

Bastos – Setúbal);- que “aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar Deus a

quem não vê” (Lucília Miguéns – Portalegre/C.Branco);- que “somos Igreja, o que significa que temos que gastar a vida e sujar

as mãos na transformação dos Homens e das Mulheres” (padre Cruz);- que “há muitos cristãos a meias” (D. João Alves);- que “cada encontro é sempre o reencontro com Cristo” (Jorge – Porto);- que “os cursilhos são o segredo de vivermos acordados” (Jaime Custó-

dio - SN);- que “temos que fazer exame de consciência e ver que cursilhistas temos

sido” (padre Cruz)Foram dois dias de vivência e convivência fantásticas, de partilha de tes-

temunhos marcantes, de reflexão sobre o que esperamos e queremos para o movimento, mas sobretudo de grande alegria e amizade entre todos os que, integrando esta família cursilhista, saíram determinados e convictos de que há muito trabalho a fazer, muito ambiente para transformar, muita barreira a ultrapassar, com a certeza, contudo, de que “também Eduardo Bonnim foi sofredor pela sua fidelidade ao carisma fundacional do MCC” (padre Senra).

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95º Cursilho de SenhorasDias antes, de 14 a 17 de Janeiro, tinha decorrido, também em Fátima, o

95.º Cursilho de Senhoras da diocese de Leiria-Fátima.Foram 15 as que viveram este encontro pessoal com Cristo, numa experi-

ência que, a avaliar pelos seus testemunhos no dia do encerramento, transfor-mará os seus ambientes, pessoais familiares e profissionais. Ao encerramento deste cursilho, deu-nos a honra de presidir o Bispo diocesano, D. António Marto.

A alicerçar a preparação destas irmãs para o seu quarto dia esteve uma equipa liderada pela reitora Célia Alexandre, com a direcção espiritual do padre Alcides Rocha e composta por um total de sete dirigentes.

Como habitual, na diocese de Leiria-Fátima, sempre que decorre um novo cursilho, reuniram-se os cursilhistas da Diocese em intendência, no dia 15 de Janeiro, junto à Igreja da Santíssima Trindade. Seguiram em procissão, reci-tando o terço, até aos Valinhos, sob a responsabilidade da paróquia de Amor, onde se deu continuidade à intendência com a Via-Sacra, esta da responsa-bilidade da paróquia da Batalha, e terminando com a eucaristia na capela do Calvário Húngaro, sob a orientação da paróquia de Minde, com os padres Francisco Pereira e Albino Carreira, respectivamente, director espiritual do movimento na diocese e pároco de Minde.

Apesar do mau tempo que se fazia sentir, foram muitos os que não hesita-ram em marcar presença nesta noite de oração pelas novas irmãs, sendo a ca-pela pequena para todos os que se associaram a este momento de intendência.

Que a alegria deste renascer na fé e no amor de Cristo marque o quarto dia destas mulheres, na certeza de que, como dizia Eduardo Bonnin, “A melhor forma de prestarmos culto a Deus é simplesmente ser feliz”.

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Convívios Fraternos DiocesanosReforçar os laços que os unem

A equipa do Movimento dos Convívios Fraternos organizou um Conví-vio Diocesano, nos dias 22 e 23 de Maio de 2010, “uma oportunidade de ver reunidos os convivas da nossa diocese e reforçar os laços que os unem, bem como de recentrar no essencial do movimento”. A iniciativa, inserida na grande Festa da Fé, que a diocese de Leiria-Fátima realizou por estes dias, foi apresentada pelos elementos da equipa diocesana numa Missa celebrada em várias paróquias, e teve o seguinte calendário:

- Dia 28 de Fevereiro, em Monte Real, às 11h30, para as paróquias de Monte Real, Souto da Carpalhosa, Vieira, Carvide, Monte Redondo e Bajouca.

- Dia 7 de Março, na Golpilheira, às 09h30, para as paróquias de Bata-lha, Calvaria, Porto de Mós, Juncal, Azóia e Maceira. Nas Cortes, às 10h30, para as paróquias de Cortes, Pousos, Arrabal e Cruz da Areia. Em Amor, às 11h30, para as paróquias de Amor, Marinha, Ortigosa, Barosa e Leiria.

- Dia 14 de Março, nas Chãs, às 11h00, para as paróquias de Milagres, Marrazes, Regueira de Pontes e Santa Eufémia. Em Minde, às 11h30, para as paróquias de Minde, Arrimal e Mendiga. Em Santa Catarina, às 11h30, para as paróquias de Santa Catarina, Cercal, Fátima, Ourém, Caranguejeira, Matas e Olival.

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Movimento das Equipas de Nossa SenhoraRetiro anual para casais

Os sectores de Leiria das Equipas de Nossa Senhora promoveram o seu retiro anual, nos dias 26 e 27 de Fevereiro, no Centro de Espiritualidade “Francisco e Jacinta Marto”, em Fátima, orientado pelo padre Emanuel Ma-tos Silva, com tema “Viviam unidos e punham tudo em comum” (Act 2, 44).

Como se refere no Guia das ENS, o retiro é um tempo privilegiado de paragem, de escuta e de oração, e uma oportunidade de renovação espiritual. É também um tempo forte para entrar dentro de si mesmo e fazer uma revisão geral de vida, sobretudo quanto ao seu caminho de crescimento. É também e sempre uma possibilidade de melhorar o conhecimento do desígnio de Deus, entendido habitualmente de uma maneira fragmentada e sumária, nas leituras da Palavra e na vida do dia a dia.

Assim, ainda segundo o mesmo Guia, “os casais das Equipas de Nossa Senhora são encorajados a tirar proveito da atmosfera especial dos retiros para se renovarem. São convidados a deixar os locais onde vivem e onde trabalham para que possam escutar Deus e entender o plano que Ele tem para o casal”.

No dia seguinte ao retiro, as Equipas de Nossa Senhora, juntamente com a Equipa da Pastoral Familiar, promoveram uma reunião de informação, na igreja paroquial dos Marrazes, destinada a todos os casais, especialmente aos que desejassem “aprofundar a vivência do seu matrimónio, crescer no amor ao outro, aos filhos e aos outros, integrando um pequeno grupo (equipa) de casais”.

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Entrevista ao diácono Miguel Sottomayor

“Espero que a minha vida sejauma constante entrega a Cristo”

No dia 25 de Abril, Dia das Vocações, foi ordenado um novo diácono para a diocese de Leiria-Fátima. Trata-se do jovem Miguel Sottomayor, actualmente a estagiar na pa-róquia de Nossa Senhora das Misericórdias, Ourém.

Miguel Azevedo Santiago Sottomayor tem 36 anos de idade e é natural de Vila do Conde. Proveniente de uma família católica marcada por uma intensa e genuína vida de fé, vivida juntamente com os 8 irmãos, o Miguel dei-xou de estudar muito cedo. O percurso escolar foi o normal durante a escolaridade obriga-tória. Quando chegou a altura de fazer opções, tirou o curso de formação bancária. Aos 19 anos de idade foi trabalhar na área que mais o fascinava, a economia. Com esse objectivo integrou o quadro do BCP. O percurso profissional aconteceu de forma normal, graças ao entusiasmo e à vontade com que se agarrou desde o início. No entanto sempre foi perse-guido pela ideia de ingressar no seminário e seguir a vida sacerdotal. Não conseguindo calar essa voz, aos 30 anos, ganhou coragem, deixou tudo e ingressou no Seminário. Durante os anos seguintes fez parte de um grupo de

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leigos (grupo Imaculada), cuja missão era levar a todo o mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. A passagem por este grupo mais intensificou o desejo de ser padre. No ano de 2004 a vocação ao sacerdócio tornou-se clara. Depois de uma passagem por Roma, onde terminou o curso de Teologia e, devido ao relacionamento próximo com D. António Marto, acabaria por vir para a Diocese de Leiria-Fátima, a fim de terminar o tempo de preparação para a ordenação. No presente ano pastoral colabora com o pároco de Ourém (Nossa Senhora das Misericórdias) ao mesmo tempo que termina algumas cadeiras pastorais no ISET, em Coimbra.

Para conhecermos melhor o Miguel, fomos ao seu encontro nas vésperas da ordenação.

O Miguel não pertence à diocese de Leiria-Fátima, mas foi aqui acolhido e vai ser ordenado para esta Igreja particular. Como foi acolhido pelo clero diocesano?

Senti que era muito bem acolhido e tenho recebido, desde que cá estou, muitas provas de apoio e estima. Na diversidade que a enriquece, sinto a universalidade da Igreja.

Que razões estão na base das profundas mudanças que fez no seu percur-so de vida? Por que deixar tudo para ser padre?

Jesus disse aos seus apóstolos “Não foste vós que Me escolheste, mas Eu que vos escolhi”. Esta é a primeira e essencial razão.

Senti que Jesus me chamava ao sacerdócio. É claro que poderia dizer que não. Infelizmente, penso que é o que se passa com muitos jovens que não prestam ouvidos a Jesus que os chama. Mas tive a graça de crescer numa família e num ambiente que nos ensinava e incentivava a cumprir sempre a vontade de Deus. Hoje percebo melhor a força com que nos incutiam este princípio. Só cumprindo a vontade de Deus, seguindo o exemplo de humilda-de e obediência de Maria – “faça-se em mim…” – o homem encontra a sua plena realização.

Neste momento tão importante da caminhada, que sentimentos vive in-teriormente?

Grande alegria e, ao mesmo tempo, profundo e pesado sentimento de res-ponsabilidade com o passo que se avizinha. Posso mesmo dizer que, não fora a completa confiança e abandono à misericórdia divina e à protecção mater-nal de Maria, o peso dessa responsabilidade poderia ser demasiado. Contudo,

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penso que o sentimento que brota mais naturalmente do meu coração é o de acção de graças.

Estamos a atravessar uma época em que se fazem ouvir muitas críticas e ataques à Igreja e aos sacerdotes. Isso não lhe mete medo? Como vê toda esta campanha?

Medo? “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edi-ficarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” Mt 16,18.

Na igreja, sempre houve e sempre haverá pecadores. Reconhecê-lo é con-dição necessária para podermos receber o perdão de Deus. Esta é sempre a atitude da Igreja. Só ela renova e salva. Em relação aos ataques à Igreja, compete-nos a nós ser sal da terra e luz do mundo. Falar da Verdade que é Jesus Cristo, com os olhos postos no sucessor de Pedro, é a melhor resposta a esta campanha.

Como imagina o seu futuro como padre?Bem, esta é uma daquelas perguntas a que dificilmente poderemos res-

ponder de forma precisa. Espero que a minha vida seja uma constante entrega a Cristo, que viva sempre com profundo amor os sacramentos que irei ser chamado a celebrar e que tudo se traduza no bem dos outros. Ser sinal de esperança e alegria para com todos aqueles com quem vier a conviver. Numa palavra: peço a Deus que eu seja, em todas as circunstâncias, um sinal visível da presença de Cristo no meio dos homens.

A um jovem que esteja a interrogar-se sobre o seu futuro, que palavras diria para o encorajar?

Em primeiro lugar e, independentemente do caminho que esse jovem ve-nha a escolher, dir-lhe-ia que procure ser sempre simples, sincero e verdadei-ro no seu coração. Que a felicidade das coisas do mundo é sempre passagei-ra, dura só aquele momento. Só há verdadeira felicidade quando se vence a morte e, com a Ressurreição de Cristo, podemos viver já na esperança dessa felicidade. Incentivava-o a não ter medo de abraçar com toda a coragem e alegria, o caminho e a missão a que Deus, Supremo Bem, o chamar.

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Reflexões. teologia / pastoral . história .

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Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos

Entrega a Deus,na humildade e simplicidade de vidaPorLuísMiguelFerraz

Fundada a 6 de Junho de 1610, em Annecy (França), por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal, a Ordem da Visitação de Santa Maria celebra agora os seus 400 anos de existência.

Na mente do fundador estava uma congregação feminina que se dedicasse ao serviço dos pobres e dos doentes, sem a austeridade que marcava as muitas ordens religiosas da época, todas elas de clausura. Mas a presença das irmãs nas ruas causou alguma perplexidade às autoridades eclesiásticas, nomea-damente ao Cardeal Arcebispo de Lyon, cidade onde havia sido fundado o segundo mosteiro da Visitação, em 1616. Este Bispo pediu a Francisco de Sales que transformasse a Congregação em Ordem e a dedicasse à clausura, o que ele aceitou como sinal da vontade divina: “Eu não fiz o que queria, fiz o que não queria”. E a co-fundadora completaria: “Deus deu às nossas

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Irmãs um espírito de inteira submissão à sua Divina Vontade; da sua bondade recebemos grande disposição e atractivo para viver em clausura, com inteira consolação para as nossas almas”.

Ainda assim, os fundadores mantiveram a sua intenção original de não seguir regras tão austeras como as que adoptavam outras ordens religiosas, permitindo que nela ingressassem irmãs de todos os géneros e condições, mesmo que de fraca compleição física, idosas ou doentes. Único objectivo, segundo o fundador: “Dar a Deus almas tão interiores que sejam julgadas dig-nas de O adorar em espírito e verdade”. As suas virtudes de referência seriam a humildade perante Deus e a simplicidade para com o próximo.

Expansão mundial e presença em PortugalA Ordem rapidamente se expandiu. À data da morte de Francisco de Sales

(1622) existiam já 11 mosteiros, e quando morreu Joana de Chantal (1641) o número de casas era já de 87.

Ao longo da sua história, muitas das suas Irmãs foram exemplos de san-tidade, como Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), talvez a mais famosa das Visitandinas, pelas revelações recebidas sobre a consagração e o amor ao Sagrado Coração de Jesus. Mas o “apagamento” característico do modo de vida destas religiosas faz com que poucos conheçam esses exemplos e mesmo a própria Ordem. Ainda assim, quatro séculos depois da sua funda-ção, a Visitação está presente em quatro continentes do mundo, com cerca de 3000 irmãs em 168 mosteiros.

A Ordem chegou a Portugal em 1784, com a fundação do mosteiro de Lisboa. Em 1879 foi fundado o mosteiro do Porto. Com as perseguições de 1910, pelo regime da I República, as religiosas dispersaram-se por vários mosteiros europeus, acabando por se juntarem no primeiro mosteiro de Ma-drid, onde permaneceram até à Guerra Civil de Espanha.

Voltaram a formar uma comunidade no nosso país em 1924, num mos-teiro em Guilhufe (Penafiel) e fixaram-se, finalmente, na Batalha, em 1936. A vinda para a diocese de Leiria ficou a dever-se à intercessão do Dr. Carlos Mendes e à generosidade do Bispo D. José Alves Correia da Silva, que lhes cedeu a Quinta do Casal (Faniqueira, Batalha), que havia sido deixada à Dio-cese por Júlia Charters Crespo, com a condição de as irmãs dedicarem as suas orações ao Seminário Diocesano.

Hoje existem três mosteiros da Visitação em Portugal, situados em Braga, Vila das Aves e Batalha.

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Visita “guiada” ao interior do Convento da BatalhaO peso da idade, a leveza de Deus

Para conhecermos mais profundamente estes 400 anos de história e, so-bretudo o presente da Ordem da Visitação, fomos visitar o convento da Ba-talha, na diocese de Leiria-Fátima. A irmã Maria de Lourdes da Conceição Mendes (73 anos), superiora desta comunidade, abriu-nos as portas e condu-ziu-nos amavelmente num “passeio” pela casa.

A igreja é o espaço público por excelência, sobretudo na celebração do-minical em que participam muitas pessoas da localidade. Colada a ela, a área residencial e de serviços tem no coração um jardim interno, rodeado de claustros, em cujo centro domina uma estátua do Sagrado Coração de Jesus. A decoração é sóbria mas colorida, onde as flores imperam, juntamente às imagens e quadros de cariz religioso. Muitas das peças são feitas pelas irmãs, como é o caso dos vasos em materiais reciclados, antigos potes de azeite ou outros recipientes, panos bordados, obras de tapeçaria, etc. O ambiente é leve, arejado, com numerosas janelas e portadas a comunicar com os jardins e os espaços agrícolas da quinta.

Terminadas as orações da manhã e o pequeno-almoço, pelas 10h00, algu-mas irmãs circulam por ali. A “Mãe”, tratamento carinhoso dedicado à supe-riora, explica a presença do jornalista de O Mensageiro, que veio para reco-lher imagens e informações, numa reportagem para dar a conhecer a Ordem e o dia-a-dia da comunidade visitandina. O acolhimento é numa boa-dispo-sição contagiante. “É bom que se dê a conhecer a nossa vida, porque muitas pessoas, mesmo vizinhas, não fazem ideia de existirmos e do que fazemos”, adianta a irmã Joana Margarida Maia, que foi muitos anos a superiora deste convento. É uma das mais idosas, com 92 anos, mas com um impressionante sorriso permanente e um olhar azul claro e límpido.

Aos poucos, a curiosidade da “estranha” presença vai concentrando as atenções. Lanço o convite a uma foto de grupo. A superiora manda tocar o sino para a reunião e em poucos minutos todas comparecem no jardim. Es-colhido o local, frente a um dos altares dos claustros, alinham-se por alturas. “Eu dantes ficava na fila de trás, mas a idade já me tirou altura, agora já posso ficar à frente”, comenta com bom humor uma das irmãs. Mas foi fácil organi-zar o grupo e mantê-lo durante alguns minutos para várias fotografias. São 17 ao todo, mas ali só estão 15, pois as irmãs Maria Florinda Ribeiro (81 anos) e Maria Helena Mota (80 anos) estão acamadas.

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A média de idades é elevada, mas pelo movimento não parece, mesmo das duas ou três que já precisam da cadeira de rodas para se deslocarem. É o caso da irmã Maria Leonor Ferreira (88 anos), uma das que segue pelas vá-rias salas, dando sugestões para fotos e comentando com alegria o trabalho a que algumas se dedicam, como a irmã Maria Bernardete Amaro (78 anos) na cozinha a preparar a refeição, a irmã Maria Margarida Jesus (64 anos) na sala de convívio a bordar, a irmã Maria Jacinta Marques (78 anos) na rouparia a passar a ferro, a irmã Maria Pia Cruz (75 anos) no refeitório a preparar as me-sas para o almoço. No serviço exterior, a irmã Maria Augusta Jesus (83 anos) está na portaria, enquanto a irmã Maria Clara Gomes (77 anos) vai tratar dos perus, galinhas e outros animais de capoeira.

“Já não fazemos tudo o que fazíamos há uns anos, porque a idade da maioria já não o permite”, explica a superiora, apresentado algumas das pes-soas que foram contratadas para ajudar nas lides domésticas e no trabalho do campo. Mas ainda asseguram grande parte do serviço, “acumulando tarefas conforme podemos”, como refere a irmã Maria Paula Valente (81 anos), que é assistente, arquivista e trata do economato. Outras apenas dão uma pequena ajuda nas tarefas comuns, como a irmã Maria Florinda Saraiva (87 anos), que foi sapateira muitos anos, mas agora só faz os “Bentinhos do Sagrado Coração”, pequeno corações que oferecem como lembrança. Ou a irmã Maria Armanda de Moura (81 anos), a quem a doença de Alzheimer limita muito as capacidades de trabalho.

A mais nova é a noviça Rita Maria Sousa, de 37 anos, que tem à sua responsabilidade a enfermaria e os trabalhos informáticos no escritório. É ela que faz a ligação das irmãs às novas tecnologias, sobretudo pela Internet, uma ferramenta de divulgação que as irmãs acreditam ser muito útil para a evangelização de hoje em dia. “Estamos a preparar um site actualizado dos mosteiros portugueses”, lembra a irmã Maria de Lourdes, confiante de que será uma forma de levar ao público mais jovem a informação sobre esta vo-cação específica. A outra noviça é Sílvia Maria, de 74 anos, que teve já uma experiência de vida consagrada activa e decidiu agora recolher à clausura.

A mais idosa, irmã Maria Nadir Faria, de 97 anos, é ainda a organista de serviço. Foi ela que compôs a letra e música do Hino da Visitação apresen-tado, no dia da festa, pelos Arautos do Evangelho. Faz questão de ir até à capela das irmãs para uma fotografia na sua “função”, que desempenha com desenvoltura. Refiro a minha admiração pela facilidade com que os dedos percorrem os teclados. “É um dom de Deus, para eu continuar a louvá-l’O com o som do órgão”, responde.

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É na capela que me despeço das irmãs, após a oração da Hora Intermé-dia. São 12h00, hora de almoço. Foram duas horas de agradável companhia, simpatia e simplicidade no trato. As irmãs acumulam muitos anos de vida, mas a sua vitalidade e energia são uma lufada de ar fresco e jovialidade. Sem dúvida, sente-se que Deus está presente em cada espaço e, sobretudo, em cada coração.

Os sorrisos da despedida são acompanhados pelos votos de “bom traba-lho”, para que a reportagem venha a ser “em honra de Deus e para o bom serviço às pessoas”.

D. António Marto preside à celebração festiva na Batalha“Oásis espiritual no deserto do mundo”

De modo simples, mas “na Acção de Graças por excelência que é a Santa Missa”, a efeméride foi ali comemorada, no passado dia 11 de Junho, festa do Sagrado Coração de Jesus, numa celebração presidida pelo Bispo diocesano, D. António Marto. Participou ainda D. Augusto César, Bispo Emérito de Por-talegre/Castelo Branco, bem como diversos sacerdotes da Diocese de Leiria, algumas autoridades autárquicas locais e cerca de duas centenas de pessoas, entre as quais muitos familiares e amigos das irmãs visitandinas.

Afirmando associar-se com muita alegria a esta festa, “na proximidade, afecto e gratidão pelo testemunho e pela oração destas irmãs por todos nós e pelo mundo”, D. António Marto lembrou a intenção do fundador, São Fran-cisco de Sales, de que fossem “violetas entre outras flores, pequeninas e de cor menos brilhante, mas que dão ao Criador todo o seu perfume”.

A propósito do ícone escolhido pela Ordem, o Sagrado Coração de Jesus trespassado por duas lanças, cuja devoção muito se deve à visitandina Santa Margarida Maria Alacoque, o Bispo afirmou que este é símbolo da “festa do amor divino num sinal humano, que se manifesta em carinho, amizade e amor, mas também em misericórdia e compaixão”. “O amor de Deus não é um conceito, uma abstracção, mas um coração que leva o nosso a palpitar ao mesmo ritmo”, referiu D. António, apontando o exemplo do Evangelho desta Eucaristia, em que o Bom Pastor deixou o rebanho todo para ir à procura da ovelha perdida. “Por isso esta festa é tão querida ao povo cristão, porque usa a linguagem do coração, que o povo entende e à qual adere facilmente”, afirmou ainda o prelado. “A raiz da nossa fé não é um ideal grandioso nem

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um código de leis, mas um encontro com Deus, pelo coração de Cristo”, acrescentou.

Desta realidade resulta o “convite a reconhecer o primado de Deus e do seu amor”, pois “quando se esquece Deus, fica-se mais triste e abandonado, perde-se o sentido da vida e o calor para vencer as dificuldades do caminho”. Referindo-se a uma actual “escuridão pelo eclipse dos valores na sociedade”, o Bispo diocesano apontou a Ordem da Visitação como “exemplo vivido, oásis espiritual no deserto do mundo e estrela de esperança”, que testemunha esse amor divino e incita ao amor aos irmãos, já que “no coração de Jesus Cristo estão todos os seres humanos e nele somos chamados a amar todos os irmãos”.

História e convívioNo final da celebração, António Monteiro, um dos “vizinhos” e amigos

deste mosteiro, fez um breve resumo histórico dos 400 anos da Ordem da Visitação, “uma semente que cresceu e veio a tornar-se uma grande árvore”. Lembrando, sobretudo, a sua presença em Portugal, a partir de 1784, após uma viagem atribulada de cinco irmãs desde o mosteiro de Annecy, e a expul-são da ordem em 1910, António Monteiro frisou o papel de Carlos Mendes e do Bispo D. José Alves Correia da Silva para a fundação do Mosteiro da Visitação na Batalha, aquando do seu regresso em 1933. Para isso, muito contribuiu também a doação da Quinta do Casal que Júlia Charters Crespo havia feito à diocese de Leiria. E, sem dúvida, a ligação de várias das perso-nalidades envolvidas ao nascente Santuário de Fátima, pelo que, concluiu o orador, “tinha sido na Cova da Iria que germinou esta promissora semente e de certo por obra e graça da Senhora de Fátima que a tempo e horas não se esquecera de também ser a Senhora da Visitação”.

Já no exterior da igreja, foi descerrada uma placa evocativa desta efe-méride, após o canto do Hino da Visitação pelo grupo coral dos Arautos do Evangelho, que animara também a liturgia da celebração eucarística.

Após esse último acto comemorativo, todos os presentes foram convida-dos para um lauto lanche oferecido pelas irmãs no rústico espaço do celeiro da sua Quinta do Casal da Faniqueira.

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Entrevista à Superiora do Convento da Batalha

“Fazer subir até ao trono de Deuso «aroma das virtudes»”

A irmã Maria de Lurdes, de 73 anos de idade, natural de Lisboa, en-trou na Ordem da Visitação a 25 de Outubro de 1975 e professou a 21 de Janeiro de 1979. Antes disso, esteve 20 anos – de 2 de Fevereiro de 1955 a 25 de Outubro de 1975 – na Congre-gação das Irmãs do Amor de Deus, 16 dos quais foram passados em Angola (Carmona e Vila Nova de Seles).

Este é o terceiro mandato como superiora deste convento, tendo com-pletado já dois triénios e sido eleita há um ano para este, que é o segundo consecutivo.

Fomos perguntar-lhe como é, mais concretamente, o dia-a-dia das irmãs e como entende o papel desta Ordem no contexto da missão salvífica da Igreja. Ao mesmo tempo, partindo do seu testemunho pessoal, quisemos saber que leitura apresenta desta proposta de vida, no contexto de “crise” que marca todas as vocações na Igreja dos nossos dias.

Fundada num contexto de “combate às heresias”, nomeadamente ao Calvinismo, a Ordem da Visitação pretendia ser um exemplo de vida em oração e entrega a Deus, ajudando dessa forma à salvação dos homens e à renovação da Igreja. Quatro séculos depois, que leitura faz da sua história, nomeadamente em Portugal?

Nestes 400 anos, a nossa Ordem passou por graves perseguições em Fran-ça, Espanha e Portugal, chegando mesmo a ter Irmãs Mártires. O principal contributo contra as heresias passadas e actuais tem sido a nossa fidelidade ao Santo Padre e à doutrina da Igreja, pela nossa oração e vida de penitência.

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Sente que esse ideal fundador está presente hoje?Sim. Hoje, como no passado, as Irmãs esforçam-se por ser fiéis ao que

os Santos Fundadores tanto desejaram, ajudando com a sua vida escondida, com a sua vida de oração e sacrifício, a Santa Igreja e a salvação do próximo.

Inicialmente pensada com uma missão externa de serviço aos pobres e doentes, depressa se converteu em Ordem de clausura. A vida contem-plativa nem sempre foi bem entendida e é muitas vezes criticada por não ser “produtiva” ou estar “desligada” do mundo. O que significa, afinal, esta opção de clausura?

É verdade que há muitas pessoas e até mesmo sacerdotes que não com-preendem a vida religiosa em Clausura, mas o facto é que ela continua a ser de grande auxílio para a Igreja, porque dela continua a subir até ao trono de Deus o “aroma das virtudes”, tocando assim o Coração de Deus e atraindo para a Igreja e para todo o mundo as bênçãos divinas. O Papa João Paulo II assim o compreendeu quando fundou no Vaticano o Mosteiro Mater Eccle-siae para ajuda espiritual ao Papa e a toda a Igreja. Presentemente, estão lá as visitandinas.

A opção pela humildade, simplicidade de vida e “apagamento” perante o mundo não terá prejudicado, de alguma forma, a expansão e o conhe-cimento da Ordem da Visitação por parte da sociedade e dos próprios cristãos?

Aparentemente, sim, somos pouco conhecidas. No entanto, a Ordem está espalhada por 4 continentes, o que significa que o Senhor continua a chamar e há correspondência a esse chamamento.

Reconhecendo-se hoje uma “crise” de vocações, nomeadamente, para a vida consagrada, de que forma essa realidade tem afectado a instituição?

Temos sentido esta “crise” como todas as congregações. No entanto, ain-da temos duas noviças no nosso Noviciado.

Quantas visitandinas existem actualmente em Portugal e, concretamen-te, no convento da Batalha? E qual a média de idades?

Em Portugal (Batalha, Braga e Vila das Aves) somos 56 Irmãs, sendo 17 neste Mosteiro. A nossa média etária é de 77,4 anos! Mas os nossos Mosteiros do Norte têm Irmãs mais novas.

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Falou na riqueza eclesial da vocação contemplativa. De que forma con-creta ela se exprime? Como é o dia-a-dia normal das irmãs deste con-vento?

Exprime-se pela nossa entrega total ao Senhor. O nosso dia é muito simples, marcado sobretudo pela oração, com destaque para a Santa Missa, a Liturgia das Horas cantada e o terço. Mas também com tempos de trabalho e recreio.

Levantamo-nos às 06h25, fazemos oração mental das 07h00 às 08h00, seguindo com oração de Laudes, Missa e Hora Tércia. Às 09h30 tomamos o pequeno-almoço, após o que nos dedicamos aos vários trabalhos. Pelas 11h40 rezamos a Hora Intermédia e almoçamos às 12h00, seguindo-se o re-creio até às 14h00, altura da oração do Ofício de Leitura, Hora Noa e Terço. Às 16h00 fazemos meia hora de leitura espiritual individual, até à merenda, pelas 16h30. Depois fazemos a chamada “assembleia”, em que nos juntamos para uma leitura comunitária, feita por uma das irmãs enquanto as outras fazem os seus trabalhos manuais, havendo no final uma partilha de comen-tários. Pelas 18h00 é a oração de Vésperas, seguida de meia hora de oração com o Santíssimo Sacramento exposto. O jantar é às 19h30, com recreio até às 21h30, para a oração de Completas. O deitar é entre as 22h00 e as 22h30.

Aos fins-de-semana os horários variam ligeiramente, mas esta é a nossa rotina diária mais comum.

A vossa Regra refere que podem aceitar pessoas que queiram fazer apenas um retiro espiritual temporário. Costumam ter pedidos dessa natureza?

Só aceitamos na clausura meninas ou senhoras, solteiras ou viúvas, que pretendam fazer uma experiência vocacional. Na mente do Fundador estava essa possibilidade de acolher senhoras em retiro, pois não havia casas com esse tipo de serviço, mas actualmente não o fazemos. Tem a ver sobretudo com a falta de estruturas e pessoas para acompanharem essas pessoas.

Num campo mais pessoal, como sentiu o seu chamamento a uma vida de consagração deste tipo?

Estive 20 anos numa congregação missionária. Um dia, ao ler a vida de Frei Maria Rafael, senti que o Senhor me queria também num convento de Clausura. A princípio não liguei. Falei a um sacerdote com quem mantinha correspondência e ele não aprovou. No entanto, quando veio a este Mosteiro acompanhar uma pretendente, falou em mim e disse-me depois que se eu quisesse poderia corresponder-me com uma Irmã para ter mais conhecimento sobre a vida contemplativa.

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Primeiro tentei entrar nas religiosas Cistercienses em Espanha, mas não me aceitaram. Eram outros os desígnios de Deus. Comecei então a escrever para este Mosteiro (eu estava em Angola) e, ao fim de mais ou menos um ano, escrevi à Superiora, pedindo-lhe a minha admissão. A sua resposta foi nega-tiva, só que essa carta... nunca chegou às minhas mãos. Foi a 1ª carta que se perdeu nos vinte anos em Angola. Vim então a Portugal e falei pessoalmente. Fiz aqui um retiro de 10 dias e, poucos meses depois, entrei.

O que encontrou no convento correspondeu às suas expectativas, ou “aprendeu” só depois o que significava ser religiosa contemplativa?

A religiosa que me escrevia explicou-me bem como era a vida no convento e como eu já tinha uma vida comunitária não me foi muito difícil a adaptação.

É feliz nesse despojamento voluntário? Não sente saudades de algumas coisas que deixou para trás?

Sim, sinto-me feliz, o que não quer dizer que algumas vezes não sinta sau-dades da “minha querida Angola”. Ainda “sonhei” com uma fundação nesse país, mas já perdi as esperanças, pela falta de vocações.

Acha que actualmente é mais difícil optar por um caminho de consagração, do que era quando tomou essa decisão ou noutras épocas mais remotas?

Certamente. As jovens de hoje, com todas as liberdades que têm, com o ambiente barulhento em que vivem, não têm tempo para fazer silêncio e escutar o Senhor que fala baixinho ao coração.

Finalmente, o que diria hoje a uma jovem à procura de respostas para o seu futuro, para lhe mostrar que a Ordem da Visitação pode ser uma dessas respostas para uma vida feliz, apesar de completamente divergente dos ideias de felicidade que a sociedade quase nos impõe como universais?

Dir-lhe-ia que não tivesse medo de se entregar totalmente ao Senhor e que na nossa Ordem ela poderia ser inteiramente feliz, porque a felicidade con-siste na correspondência ao chamamento de Deus. A nossa Ordem tem uma particularidade que a diferencia das outras: não tem “austeras austeridades”, porque o nosso Santo Fundador, São Francisco de Sales, dizia que “onde falta o rigor da mortificação corporal aí deve haver mais perfeição de espírito”. E isto porque a Ordem podia receber jovens e senhoras de saúde fraca ou com defeitos físicos, que não podiam praticar as austeridades naquele tempo exi-gidas noutras congregações.

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Diocese de Leiria– contributos documentais para a sua história

PorSaulAntónioGomes

A perda dos arquivos antigos da Diocese de Leiria, particularmente na sequência e como consequência dos acontecimentos infaustos de Oitocentos, entre eles as Invasões Francesas, mas também os acontecimentos de 1832-1834 que levaram à exclaustração dos conventuais, a que se somaram in-cúrias humanas e acidentes naturais, é uma realidade que limita os níveis de aprofundamento de uma investigação em torno da história eclesiástica e religiosa leiriense.

Deveremos referir que a existência do conhecido Couseiro, cujos conte-údos têm vindo a seduzir os investigadores que mais se dedicam ao passado diocesano, mau grado a sua riqueza informativa, em especial para o período sensivelmente da centúria de entre 1550 e 1650, não é suficiente para conhe-cer e detectar de forma totalmente rigorosa os contornos dessa história1. É certo que sobreviveram, em arquivos locais leirienses, alguns tombos docu-mentais relativos ao património da mitra diocesana, assim como registos ori-ginais ou em cópia, de constituições, estatutos e visitações, mas essas fontes carecem de edição e estudo.

Todavia, nos arquivos públicos centrais, em especial na Torre do Tombo, encontram-se fundos e coleções de documentos que constituem uma impor-tante reserva de informação acerca do passado leiriense, quer o eclesiástico,

1 Merecendo uma recente edição, que deve preferir-se a todas as anteriores, da responsabilidade editorial de Carlos Fernandes e Ricardo Charters d’Azevedo: Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria. Transcrição da 2ª edição de 1898, Leiria, Ed. Textiverso, 2011.

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quer o civil. As chancelarias régias e as das Ordens Militares (hoje Mesa da Consciência e Ordens), o Desembargo do Paço, os documentos inquisitoriais (em especial do Tribunal de Lisboa), os acervos de Sés (como a de Coimbra) e de mosteiros e outros institutos religiosos (Santa Cruz de Coimbra, Alcoba-ça ou Batalha, por exemplo), entre alguns outros, permitem que o historiador leiriense aceda a informação relevante para conhecer a história de Leiria e da sua região.

Deveremos valorizar, por outro lado, a bibliografia mais especificamente de história da diocese leiriense em que sobressaem nomes de investigadores como Afonso Zúquete, Luciano Justo Ramos, Alfredo de Matos, João Ca-bral, João Madeira Martins, António Rodrigues Baptista, Jacinto Gil, Lucia-no Coelho Cristino, Luís Inácio João, Virgolino Jorge, Vítor Serrão, Selma Pousão Smith, Hermínio de Freitas Nunes, Jacinto Gil, Ricardo Charters d’Azevedo e Carlos Fernandes, sem ignorar os estudos documentados que eu próprio tenho vindo a levar a cabo e a publicar2, para além de outros contri-butos3, de que devemos destacar os de Mário Rui Rodrigues4.

Neste estudo procedemos à publicação de documentação quinhentista di-versa que elucida o passado de Leiria e da sua região e referencia numerosos diocesanos, clérigos e leigos, que nela nasceram ou que com ela se relaciona-ram. Têm particular significado os documentos das décadas de 1540 e 1550, em virtude de iluminarem mais focadamente a vida eclesiástica nas vésperas da criação da diocese, em 1545, quando Leiria, pertencente, no eclesiástico, ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, era governada pelos prelados deste cenóbio, geralmente priores-mores comendatários, infantes filhos e irmãos de reis, como se sabe, e os primeiros anos de vida episcopal na mesma, em especial os do brevíssimo episcopado de D. Sancho de Noronha, eleito mas não confirmado, e os problemas de administração do bispado na vacância aberta com o seu inesperado falecimento.

2 Um apanhado de alguns estudos que dediquei a este assunto pode ler-se em “D. Frei Brás de Barros: elementos sobre os eue spicopado leiriense”, in Leiria-Fátima. Órgão Oficial da Dio-cese, Ano XVI, Nº 47, Janeiro-Junho de 2009, pp. 185-248: 193, nota 37.

3 Não cumpre, aqui, elencar toda a bibliografia recente da historiografia eclesiástica e religiosa dedicada a Leiria. Remetemos, tdoavia, para obras de síntese, conjunto e balanço como Catedral de Leiria. História e Arte (Coord. Virgolino F. Jorge), Leiria, Diocese de leiria-Fátima, 2005.

4 Veja-se, deste investigador, o importante estudo intitulado O Diário “perdido” da viagem de José Cornide por Espanha e Portugal em 1772. Descrição da passagem por Pombal, Leiria, Marinha Grande, Batalha, São Jorge, Alcobaça, Caldas da Rainha e Óbidos, Batalha, Ed. CEPAE, 2010.

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Integramos neste artigo, ainda, documentos alusivos à Batalha e ao seu Mosteiro, no qual se confirma a adoção neste claustro, por pressão do rei D. Manuel I, dos princípios reformadores observantes por volta de 1513-1514. É um assunto, todavia, a precisar de estudo mais aprofundado. D. Manuel, aliás, interveio ainda na reforma dos estatutos da vigararia de Santa Maria da Pena, de Leiria, como se esclarece na documentação aqui reunida, impondo mestre de estudos nesta igreja matriz do Priorado de Leiria.

Nesse contexto reformador e modernizador da vida eclesial no território do priorado leiriense, que foi berço fundador da diocese, se integra o estabe-lecimento, em 1524, de uma capelania permanente, como se de uma quase-paróquia se tratasse, na ermida de Santa Maria da Maceira, por subvenção e “concerto” do Licenciado Sebastião da Fonseca, homem rico e ilustre, in-fluente no Desembargo do Paço, que obteve a adesão de D. Fr. Brás de Barros, então reformador do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ao seu projeto de engrandecimento da ermida maceirense e de garantias de um serviço pastoral mais cómodo para os moradores da Maceira e terras mais circunvizinhas.

Deixamos aqui arquivados e publicados os documentos que elucidam os factos e acontecimentos enunciados, como outros igualmente possuidores de interesse para o conhecimento do passado histórico da atual Diocese de Leiria-Fátima, a qual, como referimos, não é particularmente pródiga neste tipo de informação.

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Doc. 11514 SETEMBRO, 8, Lisboa – D. Manuel determina ao provedor do Hospital de

Todos os Santos, de Lisboa, que entregue, em cada ano, 4 arrobas de açúcar aos Mos-teiros de S. Domingos de Lisboa e da Batalha, os quais se “fizeram da observância”.

Torre do Tombo – Hospital de S. José, A-D-A, 004-940, fl. 66v.

Terlado d’alvara del Rey nosso senhor per que manda dar d’esmolla em cada huum anno quatro aRovas d’açucar ao Moesteiro de Sam Domingos desta cidade de Lixboa e outras quatro arrovas ao Moesteiro da Batalha que ora se fezeram d’oservancia.

Reverendo Bispo provedor amigo. Avemos por bem que façaes dar aos frades do Moesteiro de Sam Domingos desta cidade quatro arrovas d’açucar. E outras quatro aRovas <aos frades> do Moesteiro da Batalha de que lhe fazemos esmola. E man-dareys assentar as ditãs casas no livro que he feyto honde esta assentado ho açucar que cada huum ano mandamos dar as confrarias da misericordia e outros moesteiros do Regno pera ho averem em cada huum anno porquanto lhe fazemos a ditã esmola cad’ano, asy como as outras cassas a que ho também mandamos dar.

Fecto em Lixboa a biij dias de Setembro. Damiam Dyaz ho fez de 1514.Nam seja duvyda n’antrelinha onde diz aos frades que asy he verdade.Terladado e concertado com ho próprio por mim Bertolameu Rodriguez esprivam.

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Doc. 21529 JUNHO, 6, Coimbra – Traslado do compromisso estabelecido, em 29 de

Novembro de 1524, Évora, entre o Licenciado Sebastião da Fonseca, comendador da Ordem de Cristo, e o Cardeal D. Afonso, comendatário do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sobre a administração da ermida de Santa Maria da Maceira, mormente quanto à apresentação de um capelão que nela celebrasse os sacramentos divinos.

TT – Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorporação, Maço 13, Documento com a cota antiga: “Alm. 28, Mº 2, Nº 16”.

+Saibham quamtos este estrumento dado em publica forma com ho trelado de

huum concerto vyrem como em os seis dias do mês de Junho do anno do nascimento de Nosso Sennhor Jhesuu de mil e quinhentos e vymte e nove anos, em a cidade de Coimbra, demtro no Moesteiro de Samta Crruz estamdo hy ho muyto reverendo pa-dre Frey Bras de Bragua da Hordem de São Jeronimo, que por especial mandado del Rey nosso sennhor e comisam do senhor Iffamte Dom Amrrique comendataryo em perpetuum do dito Mosteiro estaa por guovernador delle em ho esprituall e temporall etc. Loguo pelo dito padre foy apresemtado huum concerto feyto por esprito o qual parecya ser feyto per Afonso Diaz sacretaryo do senhor Iffamte Cardeall e asynado ao pee do sygnal do dito senhor Cardeal Iffamte e pelo Licenciado Bastiam da Fonsequa e per Frrancisco de Moura, cleriguo de misa morador [sic] e apresentado como dito hee requereo a mym esprivam publico ao diamte nomeado que eu lhe desse o trellado do dito comcerto em huum publico estrumento pera o ter em o cartoreo do dito Mos-teiro, a que o dyto comcerto tocava. E por pertemcer a meu hoficio eu o trelladey aquy. E o teor delle he ho seguimte de verbo a verbuum.

§ Dom Afomsso per graça de Deus e da Samta Igreja de Roma cardeal do titollo de Samta Luzia en septem soliis, iffamte de Portugall, perpetuo administrador do Ar-cebispado de Lixboa e dos Bispados d’Evora e Viseu e Moesteiros de Samta Cruz de Coimbra e d’Alcobaça etcª. Fazemos saber a vos Diogo Diaz nosso vigairo da villa de Leyria e ao cabido e beneficiados da nossa ygreja de Samta Maria da Pena da dita villa e a outros quãesquer vygairos que na dita villa pelo tempo forem, que hos dias passa-dos del Rey <meu senhor> e padre que samta gloria aja passou certos mandados // [Fl. 1v] em nosso nome pelos quaes hordenou e mandou que na hermida de Samta Maria de Maceira, termo da dita villa, por estar mais de legoa della e da igreja de Samto Estevam da dita villa em cuja parrochia a dita hermida de Maceira estaa se posese pya de baptizar e se disese misa aos domingos e festas por huum capelão que hos fregue-ses paguariam aa sua custa com dous mil e quinhentos reais que lhe mandava dar aa custa das remdas do prellado do dito Moesteiro de Samta Cruz que pelo tempo fosse e mais a metade das ofertas que aa dita ygreja fosem que pertencem ao dito prellado de Samcta Cruuz, todo esto para ajuda de paguarem o dito capellam o qual lhe menistrase os samtos sacramentos etc. Sobre a qual cousa os beneficiados e cabido dessa villa se agravaram dizendo que poer-se na dita igreja de Maceira outro algum capelão que

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nam fosse beneficiado na dita villa de Leirea lhe era feyto agravo porque lhe tiravam muytas beneses dos que poderiam aver daquellas pessoas que avyam de ser curadas na dita ygreja de Maceira porque eram seus fregueses e nam obriguados a hyr ouvir misa aa dita sua parrochia de Samto Estevam e nella receber os samtos sacramentos etc. Dizemdo e alegando ho Licenciado Bastiam da Fomsequa do Desenbargo do dyto senhor, comendador da Ordem de Christus, que junto da dita irmida tem certa fazemda, que por elle ora reformar a dita hermida e a fazer de novo e a dotar de certas goyas em que guastara muyto de sua fazemda com outras bemfeitorias que na dita hermida fezera, elle devia de poor nella o capelão quejamdo ho elle escolhesse semdo ydoneo pera que na dita ygreja dissesse misa e ministrasse os samtos sacramentos. Sobre os quães dictos nos pasamos outro mandado per que mandávamos que ho dito Bastiam da Fonsseca com a moor parte dos fregueses que na dita irmida avyam de ouvir misa e receber os samtos sacramentos // [Fl. 2] posese o capellam nella. E que se os ditos beneficiados a ello tivessem embarguos que os vyesem alleguar peramte nos a certo tempo. Os quães semdo-lhe o dito nosso mamdado publicado disseram que tinham legítimos embarguos a se comprir. E enviaram seu procurador perante nos pera o aver d’alleguar. E semdo o dito neguocio nesta corte ho dyto Licenciado Bastiam da Fomseca e Frrancisco de Moura beneficiado na dyta nossa ygreja de Samcta Maria da Penna, procurador do dyto cabido, peramte o Licenciado Christovão Estevez do dezembarguo do dyto senhor Rey e nosso procurador, comendador da Hordem de Christos, se vyeram a comcertar nesta maneira que se segue por se apartarem de ode-os, trabalhos e despesas e esto de nosso comsemtimento, scilicet,

que elle Licenciado Bastiam da Fonsseca e seus herdeiros que pelo tempo forem da dyta sua fazemda que tem jumto da dyta hermida de Maceira escolham de todollos beneficiados da dita vylla de Leyrya cleriguos de misa, tiramdo os quatro cleriguos que forem cursas das quatro ygrejas della, e asy ho beneficiado que camtar huuma capella que estaa em São Martinho da dyta villa, scilicet,

huum beneficiado pera dizer misa na dyta ygreja de Maceira e menystrar os sa-mtos sacramentos aas pessoas que hos nella ouverem de receber e se este beneficiado que elle assy escolher nom quiser aceptar o dyto carreguo ho dyto Licenciado escolhe-ra outro dos dos [sic] beneficiados. E se este segundo ho nam quiser aceptar escolhera outro e outro atee quatro. E se cada huum destes quatro nom quiser aceptar a dyta capelania em tal caso elle Bastiam da Fomsequa ou seus herdeiros da dyta fazenda poderá tomaar huum capellão de fora quem elle quiser pera ter a cura da dita ygreja de Maceira. O qual sera exsaminado pelo vigairo da dyta villa e achamdo-o auto e sofeciemte // [Fl. 2v] pera ter a dita cura, lha cometera e lhe dará della carta em forma, em cada huum anno, atee tres anos se tamtos ho dyto Bastiam da Fomsequa ho quiser ter. Os quaes tres anos acabados ou o tempo que ho asy quiser ter atee os ditos tres anos ho dito Licenciado Bastiam da Fomsequa ou seus herdeiros da dita fazenda se-ram obriguados a tomaar e escolher outra vez capelão pera a dita igreja beneficiado na dita villa de Leiria, escolhendo-o na maneira sobredita. E asy se fara dahy em diamte pera sempre.

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O qual capelão quamdo for beneficiado da dita villa nom sera removido da dita capella atee tres [anos] se nell hy tamto quiser estar salvo fazemdo elle cousa tal ou leyxamdo de fazer o que deve por que seja rezam de ser removido porque em tall caso os fregueses ou ell Licenciado ou seus herdeiros apomtaram ao vigairo da dita villa as causas ou rezões porque ho dyto capelão deve ser removido e ho dito vigairo se emformara do caso sumariamente sem outra mais demamda nem comthemda. E achamdo causa tal per que deve ser removido o removera damdo desto apellaçom e agravo pera o dito nosso Mosteiro de Samta Cruz e se porá outro capellão dos dytos beneficiados escolhido na forma e maneira sobredita e declarada.

E que hao dito capelão beneficiado de Leirya que ha cura da dita ygreja tiver sera dado pera soportamento de sua vida pelo dyto Bastyam da Fomsequa e seus herdeiros e pelos outros fregueses da dita ygreja em cada huum anno cem alqueires de triguo de receber e huuma pipa de vinho de xxb almudes no novo. E quamdo for esterellidade que nom aja na terra vinho lhe paguarão por almude a vymte reais como valll nos anos em que ahy há abastamça de vinho e asy lhe seram dados os ii- vc reais aa custa das remdas do prellado de Samta Cruz // [Fl. 3] como se ora dam ao capelão que na dita ygreja serve. E asy avera a metade das ofertas da dita hermida e do pee do altar que ao prellado do dito Moesteiro pertemce aver porque a outra metade hee dos beneficiados de Leirya.

Item que o capellão que tiver a cura da dita ygreja de Maceira sera obriguado a ministrar todos os samtos sacramentos a todallas pessoas que delle ouverem de ser curadas. E asy a dizer misa todos hos dominguos e festas do anno primcipães de Nos-so Senhor e de Nosa Senhora, tiramdo dias de Corpo de Deus que os fregueses da dita hermida seram obriguados de hyrem ouvir misa a dita igreja de Samto Estevam sua matriz pera em todo tempo se saber que sam da sua parrochya e freguesia, posto que tenham capelão que lhe aja de administrar hos samtos sacramentos na dita hermida.

E asy lhe dira mais ho dito capelão misa todollos dias dos Apostollos e allem das ditas festas primcipães e dias d’Apostollos ho dyto capelão sera obriguado a dizer pella somana tres misas que seram dos fregueses, scilicet, a terça feirra e quarta e quinta. E hos outros tres dias, scilicet, segumda, sesta e sabado fiquaram ysemtos ao dito capelão pera dizer nelles misa a quem elle quiser salvo se em cada huum dos dytos tres dias de segumda, sesta e sábado cair alguma festa primcipall ou dia d’Apostollo porque em tall caso a misa sera dos fregueses e nam do capelão.

E acomtecemdo que ho dito capelão nam dygua misa em algum dos dias das festas principães ou dia d’Apostollo per sy ou per outro cleriguo, que em tal caso perca por ella huum alqueire de triguo do seu salairo. E se leyxar por dizer misa das da somana que sam dos fregueses que nom seja dia de festa principall ou d’apostollo pode-lla-ha emtreguar em outro dia daquela somana e nam há emtreguamdo na dyta somana que perca por ella huum alqueire de trigo. // [Fl. 3v]

E semdo caso que venha ha dita ygreja corpo de finado em dia d’Apostollo que aquella misa que naquele dia diser pelo finado posa della receber sua esmola sem ser obriguado a emtreguar outra por <ela>. E semdo caso que hos outros fregueses da dita

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ygreja nom queyram paguar mais pera o dito capellão daquilo que hora paguam por lhe dizer misa dominguos e festas em tal caso elle Licenciado e seus herdeiros seram obriguados a perfazerem de sua fazemda todo o pam dos cem alqueires e pipa de vinho imteiramente. E seram suas as tres misas da somana que em cima dizemos que ham de ser de todollos fregueses. E ho dito Licenciado sera obriguado a dar casa ao capellão em que vyva porque ha-de ser obriguado a viver na freguesia da dita hermida contynuadamente e esto atee o capellão com os fregueses fazer casa em que viva na dita freguesia.

Item porquamto ho dyto Licenciado nos dyse que tynha em vomtade de allarguar e acrecemtar a dita ygreja de Maceira por ser ora pequena, per esta presemte lhe da-mos pera ello licença.

Item as pessoas que ora vam ouvir misa há dita ygreja de Maceira sam as destes lugares seguintes, scilicet,

Os PisoõesItem Porto do Carro.Item A de Barbas.Item Mellva.Item a Marinha.Item a Ribeira de Maceira.Item as Porcariças.Item Lemgulhe5.Item Cavalynhos.Item Vall da Guynha.Item Mamguas.Item o Casall do Salgueiro.Item o Arnall com hos Moynhos.Item o Moynho de Gonçalo Rodriguez.Item hos de Cima de Maceira.Nos quaes lugares todos ao presemte são acerqua de oytenta fregueses que ma-

mdamos que sejam sempre obrigados a hyr ouvir misa e receber os samtos sacramen-tos aa dita ygreja de Maceira.

Item ho dito Licenciado nem seus herdeiros se nam chamaram padroeyros da dita ygreja de Maceira em tempo algum porque na verdade ho nam são amtes ho he o prior e Mosteiro sobredyto // [Fl. 4] de Samta Cruz por ser fumdada no termho da dita villa de Leyria, assy como ho sam e devem ser todallas ygrejas fumdadas e fumdandas na dita villa de Leiria de Leiria e em seu termo quamto se estemde a jurdição episcopal que ho dito Moesteiro de Samta Cruuz tem na dita villa e seu termho, das quães lhe pertemce aver todollos dízimos e oblações segumdo mais compridamente se comtem nas composições e sentenças feitas e dadas amtre o dito Mosteiro e hos bispos de Coimbra.

5 Sic, por Alcogulhe (?).

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E esta graça que hora asy fazemos ao dyto Lecemceado de escolher este capellão como em cima dito he lha fazemos pelas dytas bemfeytorias e obras que na dyta ygre-ja tem feytas e joyas que lhe asy tem dadas. E porem vos mandamos que ho façães asy daqui em diamte comprir e guardar como se nesta nossa carta contem muy imteira-mente sem outra duvida nem embargo que nella seja posto.

Dada em a nobre cidade d’Evora, sob nosso synall e sello aos xxix dias do mês de Novembro. O secretario Afonso Diaz a fez. Anno de Nosso Sennhor Jesuu Christo de mil e quinhemtos e vymte e quatro.

O qual comcerto eu Amrrique de Parada por autoridade real publico esprivam das esprituras prazos e cousas tocantes ao dyto Moesteiro trelladey em este publico estrumento por mandado do dito padre e com o próprio oreginall o concertey com Griguorio Lourenço, vedor do dyto Mosteiro e o asyney de meu publico synall que tal he, em hos seis dias de Junho de 52 com digo vymte e nove.

Nom seja duvida as amtrelynhas que dizem, meu senhor, ella, nem omde dizia Leiria porque ao comcerto com o próprio se fez verdade.

(Assinado) Comcertado com o próprio, Gregorio Lourenço (sinal).

Doc. 31542 MARÇO, 24, Lisboa - D. João III dá a Diogo Gomes, sobrinho de Henrique

da Mota, escrivão da câmara real, o ofício de escrivão dante o vigário de Leiria, em virtude do falecimento de João Lopes, que trazia esse ofício.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros nº 7, Livro 5, fls. 52v-53.

Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa senhor de Guimee e da conquista navegação e comercio d’Ethiopia, Arabia, Persia e da India.

A quantos esta minha carta virem faço saber que confiando eu de Diogo Gomez sobrinho d’AnRique da Mota meu stprivão da camara que nisto servira bem e como deve e querendo-lhe fazer graça e merce tenho por bem e lhe faço merce em nome de Dom Duarte meu filho do officio d’estprivão dante o vigairo da vila de Leiria que ora estaa vago per falecimento de Joam Lopez. Notefico-o asy e mando ao dito vigairo que o meta em pose do dito oficio e lho leixe servir e dele usar e aver da stpritura que fezer o que he ordenado aos stprivães do judicial e[m] meus Reinos segundo forma de minhas ordenações. E bem asy aver a mais com o dito oficio ha custa dos rendeyros das rendas que o Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na dita vila dezaseis alquei-res de triguo em cada hum anno se per costume e pose antigua os ouve sempre com o mesmo oficio o dito Joam Lopez per cujo falecimento vagou. E o dito Diogo Gomez jurara na chancelaria de Dom Duarte meu filho que bem e como deve sirva o dito oficio guardando o serviço ao dito Dom Duarte meu filho e has partes seu direito. E pera firmeza diso lhe mandey dar esta carta per mim asinada e pasada pela dita chan-celaria. Antonio Ramos a fez em Lixboa, a vinte e quatro dias do mes de Março // [Fl.

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53] do ano do nacimento de Noso Sennhor Jhesu Christo de j- bc Rij anos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever.

E ey por bem que esta carta pase pela chancelaria posto que o tempo em que ou-vera de pasar seja pasado e pagara chancelaria dereita somente.

Em Almeirim a xxx de Janeiro de j- bc Riij.

Doc. 41542 JUNHO, 5, Lisboa - O rei D. João III manda a Diogo Leitão, recebedor das

rendas do Priorado de Leiria, do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que arremate em conjunto as rendas das miunças do dito Priorado, assim como se fazia na arrecadação dos vinhos.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros nº 7, Livro 5, fls. 22v-23v.

Eu el Rey faço saber a vos recebedor Diogo Leitão recebedor das rendas que o Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na vila de Leiria e aos que ao diante forem que eu hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que en todo tempo que daquy em diante se aRendarem as meuças que o dito Priorado tem na dita vila se aRende misticamente com as duas partes do prelado [e] a terça parte dos beneficiados da dita vila, estando sempre presente aos aRendamentos o prioste do cabido como sempre se costumou. E porem quando se asy as ditas meuças aRendarem mistica-mente a dinheiro a somo do que // [Fl. 23] montar na terça parte das ordinarias que os rendeiros paguarem se fara ao dito cabido de maneira que en tudo iguoalmente aja sua terça sem quebra e deminuição alguma. E sendo caso que os ditos beneficiados queiram aRecadar a sua terça parte das ditas miuças pera despesa somente de suas casas sem outra cautela alguma, ey por bem que o posão fazer contanto que depois d’aRendadas as duas partes do prelado se faça repartição nas freiguesias asy e da ma-neira que se agora faz na aRecadação do vinho. A qual repartição das meuças se fara antre o recebedor do prelado ou seus rendeiros e o prioste do dito cabido do dia que as duas partes do prelado forem aRendadas a vinte dias primeiros seguintes. E nam se concertando no dito termo ey por bem e mando o corregedor que ora he e ao diante for na comarca da dita vila e ao juiz de fora quando o corregedor for ausente ou inpidido pro qualquer maneira pera o nom poder fazer que sem apelação e agravo detremine as ditas duvidas e se cumpra o que por cada hum deles neste caso for detreminado e mandado. E pera se saber o verdadeiro rendimento das duas partes do prelado e pera milhor aRecadação da terça do cabido nenhum dos ditos beneficiados nem prioste recebera cousa alguma nam sendo asentada primeiro em livro. O qual oo seu stprivão fara em cada hum anno e nele asentara decraradamente em titolos apartados todalas cousas que vier da terça parte do cabido. E pasara certidam quando for requerida pelo recebedor do dito prelado da soma das cousas que tiver asentadas. O qual recebedor seraa // [Fl. 23v] obrigado a lha pedir em cada hum anno e mandar ao stprivão de seu

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cargo que faça declaração das ditas certidões em seu livro e as mostrar ao tempo que lhe for tomada conta, pera se saber a delygencia que nisto fez. E este alvara seraa registado nos livros do dito recebedor e prioste pelos stprivães de seus cargos pera se saber e comprir o que nisto hey por bem emquanto nam mandar o contrairo.

Gaspar de Figueiroa a fez em Lixboa, a cinco dias do mes de Junho de j- bc corenta e dous anos.

Doc. 51542 JULHO, 5, Lisboa - Alvará de D. João III para que o Dr. Luís de Alarcão,

ouvidor no espiritual do Priorado de Santa Cruz de Coimbra, recebesse a renuncia de Gil Coelho a um benefício simples na igreja de Santa Maria da Pena, de Leiria, e o conferisse a Gregório Couceiro.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros nº 7, Livro 5, fl. 23v.

Eu el Rey faço saber a quantos este meu alvara virem que eu hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que o doutor Luis de Lharcão ouvidor no es-pritual do Priorado de Santa Cruz de Coimbra posa receber renunciação do beneficio cimprez que Gil Coelho tem na igreja de Santa Maria da Pena da vila de Leiria. E posa conferir e confirmar no dito beneficio a Gregorio Couceiro clerigo d’ordens menores filho de Jorge Anes meirinho na comarca da dita vila. E na carta da dita confirmação e colação ira o trelado deste alvara. Antonio Ramos o fez em Lixboa, a cinco do mes de Julho de 1542 anos. Gaspar de Figueiroa o fiz stprever.

Doc. 61542 JULHO, 18, Lisboa - O Dr. Luís de Alarcão, ouvidor eclesiástico do Priora-

do de Santa Cruz de Coimbra, confere a posse a Gregório Couceiro, por procurador deste, de um benefício na igreja de Santa Maria da Pena, de Leiria, o qual fora renun-ciado por Gil Coelho.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, Livro 5, fls. 25v-27.

Titulo das confirmações dos beneficios cimprez e curados do Priorado de Santa Cruz.

O doutor Luis de Larcão ouvidor na jurisdição eclesiastica do Priorado e Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, polo senhor Dom Duarte, filho del Rey noso senhor etc. Faço saber a quantos esta minha carta de confirmação virem que por parte de Gregorio Couceiro clerigo d’ordens menores, filho de Jorge Annes, meirinho na comarca da vila de Leiria, me foy apresentado hum alvara del Rey noso senhor, asinado e pasado pela chancelaria, cujo teor he o que se segue // [Fl. 26]

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Eu el Rey faço saber a quantos este meu alvara virem que eu hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que o doutor Luis de Lharcão ouvidor no es-pritual do Priorado de Santa Cruz de Coimbra posa receber renunciação do beneficio cimprez que Gil Coelho tem na igreja de Santa Maria da Pena da vila de Leiria. E posa conferir e confirmar no dito beneficio a Gregorio Couceiro clerigo d’ordens menores filho de Jorge Anes meirinho na comarca da dita vila. E na carta da dita confirmação e colação ira o trelado deste alvara. Antonio Ramos o fez em Lixboa, a cinco do mes de Julho de 1542 anos. Gaspar de Figueiroa o fiz stprever.

Pedindo-me que pois o dito beneficio era renunciado e eu tinha recebido a renun-ciação que o dito Gil Coelho do dito beneficio fizera per via de premudação com outro beneficio que ele dito Grigorio Couceiro tinha em Nosa Senhora da vila da Pena, que ja tinha renunciado, e o dito Gil Coelho estava ja de posse, o quisese confirmar neste de Nosa Senhora da Pena, da vila de Leiria, conforme a provisão de Sua Alteza. E eu visto o que me asy pediam por me constar por hum estromento de premudação que antre eles Gil Coelho e Grigorio Couceiro fora feito dos ditos beneficios, o dito Gil Coelho renunciar o dito seu beneficio, o qual estormento era feito por Gaspar Antu-nez, cleriguo de misa beneficiado na dita igreja de Nosa Senhora da Pena, notairo apostolico, aos oito dias do mes de Maio da presente Era de 1542, com testemunhas nomeadas // [Fl.26v], scilicet, Gaspar Diãz e Joam Nunez, tabaliães moradores na dita vila, e eu ter ja recebido a renunciação e por virtude da provisão e alvara de Sua Alteza e renunciação confirmo no dito beneficio ao dito Grigorio Couceiro em beneficiado e raçoeiro na dita igreja de Nosa Senhora da Pena, no dito beneficio cimprez que o dito Gil Coelho renunciou per imposição de meu baRete que em nome do dito Grigorio Couceiro pus na cabeça de Domingos Diaz stprivão do tesouro da senhora infante Dona Isabel seu soficiente procurador como vy por sua procuração feita na dita vila de Leiria, por Gaspar Antunez, clerigo notairo apostolico, aos oito dias do mes de Maio do presente anno com testemunhas nomeadas Gaspar Diãz e Joam Nunez, tabaliães moradores na dita vila.

Do qual beneficio hey o dito Grigorio Couceiro por provido e confirmo nele em pessoa do dito seu procurador e lhe cometo o regimento e governança dele no espri-tual e temporal. E ele seu procurador aceitou a dita confirmação e jurou em minhas mãos em hum livro dos Santos Avangelhos em nome do dito Grigorio Couceiro que comprira o que se contem no capitolo. Ego, N. de jure jurando, que lhe per mim foy lido e declarado. Pelo qual mando e virtude d’obidiencia ao vigairo da dita vila de Leiria e aos beneficiados da dita igreja de Nosa Senhora e aos priostes dela que ajam daquy em diante e recebam // [Fl. 27] o dito Grigorio Couceiro por verdadeiro beneficiado e raçoeiro da dita igreja no dito beneficio e lhe dem a posse dele e asento em coro e em cabido e lugar em precição e lhe acudam e fação acudir com os fruitos foros rendas dereitos que ao dito beneficio e ao verdadeiro beneficiado dele dereita-mente pertence, segundo forma dos estatutos e laudaves custumes da dita igreja. E mando a qualquer notairo apostolico ou tabaliam da dita vila de Leiria, sob pena de excomunham, que sendo-lhe com esta requerido meta em posse do dito beneficio de

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Nosa Senhora da Pena ao dito Grigorio Couceiro pelos autos acostumados e diso lhe pasem seu estormento.

Gabriel de Moura a fez, em Lixboa, a xbiij de Julho anno de 1542, que com o emendado que diz o qual e com as antrelinhas que dizem, confirmar, dos Santos Avangelhos.

Doc. 71542 AGOSTO, 11, Lisboa — Carta pela qual D. João III estabeleceu a Maria

Boa, viúva de Pero Dias, a tença de quarenta alqueires de trigo nas rendas de Stª Cruz de Coimbra, em Leiria, conquanto ela tivesse a guarda das casas do infante D. Duarte nesta vila.

TT — Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros n.º 7, Livro 5, fls. 6vº-7vº.

Registo da carta de Maria Boa dos Rtª alqueires de triguo que tem per carta geral em Leiria nas Rendas de Santa Cruz emquanto tiver a guarda das casas que hy tem o senhor Dom Duarte filho del Rey noso senhor. // [Fl. 7]

Dom Joam per graça de Deus Rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem maar em Africa senhor de Guinee e da conquista navegação e comerçio d’Ethiopia Arabia Persia e da India.

A quantos esta minha Carta virem faço saber que eu ey por bem e me praz que emquanto Maria Boa viuva mulher que foy de Pero Diaz estiver nas casas que dom Duarte meu filho tem na vila de Leiria e servir bem e como deve na guarda delas aja em cada hum anno d’esmola do primeiro dia de Janeiro deste anno presente de mil e quinhentos e corenta e dous em diante emquanto o eu ouver por bem e nam mandar o contrairo corenta alqueires de triguo pelas rendas que o Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na dita vila, que he outro tanto como tinha per alvara do Ifante dom Duarte meu irmão que santa gloria aja que foy roto ao asinar desta carta.

Notefico-o asy e mando aos oficiaes da fazenda do dito Dom Duarte meu filho que lhe asentem nos livros dela os ditos corenta alqueires de triguo e ao recebedor que ora he e ao diante for das rendas do dito priorado em Leiria que por esta soo carta geral lhos pague em cada hum anno ao tempo e da maneira que os atee agora ouve. E polo trelado <da> dicta6 carta polo scprivão de seu cargo no livro de sua despesa e conheçimento da dita Maria Boa lhe serão levados em conta em cada hum anno emquanto o eu ouver por bem e não mandar o contrairo como dito he. E pera firmeza diso lhe mandey daar esta carta per mim sinada e pasada // [Fl. 7vº] pela chancelaria do dito Dom Duarte meu filho e Antonio Ramos a fez em Lixboa a onze dias do mes d’Agosto do ano do nacimento de Noso Senhor Jehsu Christo de mil e bc e corenta e dous anos. Gaspar de Figueiroa a fez scprever.

6 Corrigiu “dicta” de “desta.”

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Doc. 81542 OUTUBRO, 5, Lisboa — D. João III confirma a decisão de seu pai, D. Ma-

nuel, pela qual se determinava que houvesse um mestre de Gramática em Santa Maria da Pena de Leiria. Determina, também, que o salário desse mestre fosse aumentado em cinco mil reais, conforme a alvará real datado de 23 de Março de 1528.

TT — Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros n.º 7, Livro 5, fls. 40-42.

Carta do Mestre da Gramatica.Dom Joam per graça de Deus Rey de Portugal e dos Al // [Fl. 40vº] garves daquem

e dalem maar em Africa Senhor de Guinee e da conquista navegaçam e comercio d’Ethiopia Arabia Persia e da India ct. <A quantos esta minha carta virem> faço saber que por parte dos beneficiados da vila de Leiria me foy apresentado hum alvara do Iffante dom Duarte meu irmão que santa gloria aja do qual o trelado he o seguinte:

O Ifante dom Duarte Duque de Guimarães perpetuu administrador do Priorado de Santa Cruz de Coimbra ct. Faço saber a vos almoxarife das rendas do dito Priorado na villa de Leiria que ora sois e ao diante forem que por parte dos beneficiados da dicta vila me foy apresentado hum alvara del Rey meu senhor de que o trelado he o que se segue,

Eu el Rey faço saber a vos almoxarife ou recebedor das rendas do Priorado do Moesteiro de Santa Cruz em a vila de Leiria que ora sois e ao diante fordes que el Rey meu senhor e padre que santa gloria aja, ordenou, que ha dita vila de Leiria ouvese mestre de gramatica pera insinar os beneficiados e asy outros que fosem autos pera aprender. E mandou que pera seu mantimento se apartase huma das corenta reções dos ditos beneficiados e porque segundo que ora foy çerteficado per Diogo Diãs vigairo da dita vila o dito mestre se nam acha pera asy ensinar de gramatica por o mantimento da dita reção ser muy pouco ey por bem e me praz que o dito mestre que na dita vila de Leiria ensinar de gramatica aja mais alem da dita reção cinco mil rreais a custa das rendas do Ifante // [Fl. 41] Dom AnRique meu muito amado e preçado irmão comen-datario do dito Moesteiro emquanto o ouver por bem. Notefico-vo- lo asy e vos mando que das ditas rendas paguees ao dito mestre que na dita villa ensinar de gramatica os ditos b— reais em cada hum anno que quero que mais aja, alem da dita reção contanto que ele ensine aquelas pessoas en aquela maneira que el Rey meu senhor ordenou que ensynase. E pelo trelado deste alvara que voso stprivão em cada hum anno asentara, em seu livro e seu conhecimento com certidão do vigairo da dita vila de como ensina de gramatica e guarda o regimento del Rey meu senhor vos serão levados em conta. Jorge Rodriguez o fez em Almeirim a xxiij digo xxiij de Março de 1528.

Pedindo-me por merce digo pedindo-me que ouvese por bem de lhe confirmar o dito alvara o qual hey por bem de confirmar como nele he contheudo e vos mando que emquanto ouver por bem pageis ao dito mestre que ensinar de gramatica na dita vila os ditos b— reais em cada hum anno e pelo trelado deste que o stprivão de voso cargo treladara em seu livro e certidão do vigairo da dita vila como emsina de gramatica e

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guarda o regimento contheudo no dito alvara e seu conhecimento vos serão levados em conta e este hey por bem que nam pase pela chancelaria. Joam Videira o fez em Lixboa // [Fl. 41vº] a xiij d Agosto de j— bc R. Vasco da Mota sostprevy.

Pedindo me por merçe que alem da reção que tem o mestre que emsina de grama-tica na dita vila ouvese por bem de lhe mandar dar <mais> em cada hum anno os cinco mil reais asy e da maneira que se contem no trelado do alvara do dito Iffante de que acima vay o trelado. E eu visto seu Requerimento hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho eleito arcebispo e senhor de Bragua comendatario perpetum do Moesteiro de Santa Cruz de Coimbra ctª que o mestre que ensinar de gramatica na dita vila aja alem da dita reção no trelado do dito alvara acima decrarada b— reais em cada hum ano pelas rendas que o Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na vila de Leiria emquanto o eu ouver por bem.

Notefico-o asy aos ofiçiaes da fazenda do dito Dom Duarte meu filho que lhos asentem nos livros dela e ao recebedor que ora he e ao diante for das rendas que o dito Priorado tem na dita vila que per esta soo carta geral lhes pague aos quarteis do primeiro dia de Janeiro deste anno presente de j— bc Rij em diante. E pelo trelado dela pelo stprivão de seu cargo no livro de sua despesa e seu conhecimento e certidão do vigairo da dita vila, como ensina de gramatica e guarda o regimento contheudo no dito alvara, serão levados em cada hum anno em conta ao dito recebedor emquanto o eu ouver por bem como dito he. E pera firmeza diso lhe // [Fl. 42] mandey dar esta carta per mim asinada e pasada pela chancelaria do dito Dom Duarte meu filho. E o alvara do dito Ifante de que acima nesta carta vay o trelado foy roto ao asinar dela. Antonio Ramos a fez em Lixboa, aos çinco dias do mes d’Outubro do anno do nacimento de Noso Senhor Jehsu Christo de mil e bc Rij anos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever. Nam faça duvida as antrelinha<s> que diz huma, a quantos esta minha carta virem, e outra, mais.

Doc. 91542 AGOSTO, 11, Lisboa - D. João III confirma a Sebastião Luís, cónego dos

antigos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a tença de dez mil reais, impostos no Priorado de Leiria, enquanto não fosse provido de alguma igreja ou vigararia.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Maços de Livros nº 7, livro 5, fls. 39-40.

Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa, senhor de Guinee e da conquista, navegação e comercio d’Ethiopia, Arabia, Persia e da India.

A quantos esta minha carta virem faço saber que por parte de Bastiam Luis, co-nego dos antigos do Moesteiro de Santa Cruz de Coimbra, me foy apresentado hum alvara do Iffante Dom Duarte meu irmão que santa gloria aja, do qual o trelado he o que se segue:

O Ifante Dom Duarte faço saber a vos Alvaro Botelho, cavaleiro fidalgo da casa

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del rey, meu senhor, que roa tendes cargo <de meu> almoxarife das rendas do Prio-rado de Santa Cruz na vila de Leiria, e aos que ao diante forem, que eu ey por bem e me praz que Bastiam Luis, conego dos antigos do dito Moesteiro tenha // [Fl. 39v] e aja pera sue mantimento dez mil reais em cada hum anno de Sam Joham que pasou de bc xxxix em diante asy e pela maneira que os atee quy ouve per provisão del Rey meu senhor, os quães lhe seram pagoas aos quarteis do anno e pelo trelado deste que o stprivão de voso cargo treladara em seu livro. E per este e seu conhecimento vos seram levados em conta os dinheiros que lhe asy pagardes. E sito enquanto o nam prover de alguma igreja ou vigararia. E este hey por bem que valha como carta e que nam pase pela chancelaria. Joam da Videira o fez, em Lixboa, a xix de Maio de bc R. Vasco daa Mota o sostprevy.

Pedindo me por merce que por ora ser o Priorado de Santa Cruz de Coimbra de Dom Duarte meu filho lhe mandase dar os ditos dez mil reais asy e da maneira que os atee quy ouve pelo alvara do dito Iffante meu irmão de que asima vay o trelado. E eu visto seu requerimento e querendo lhe fazer graça e merce hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que emquanto o dito Bastiam Luis nam for provido d’igreja ou vigararia e estever na obediencia do dito Dom Duarte meu filho, tenha e aja de dia de Sam Joam deste anno em cada hum anno per esta soo carta geral // [Fl. 40] que he outro tanto como tinha pelo alvara do Ifante meu irmão de que acima vay o trelado que foy roto ao asinar desta carta. Notefico-o asy e mando aos oficiaes da fa-zenda do dito Dom Duarte, meu filho, que lhos asentem nos livros dela e ao recebedor que ora he e ao diante for das rendas que o dito Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na vila de Leiria que do dito dia de Sam Joam que ora pasou deste anno presente de j- bc Rij em diante lhe paguem em cada huum anno aos quarteis os ditos x- reais por esta soo carta geral e pelo trelado dela pelo stprivão de seu cargo no livro de sua despesa e conhecimento do dito Bastiam Luis lhe sera7 levado em conta o que lhe asy pagar na maneira acima decrarada enquanto nam for provido d’igreja ou vigararia e estever na obediencia do dito Dom Duarte meu filho como dito he.

E pera firmeza diso lhe mandey dar esta carta per mim asinada e pasada pela chan-celaria do dito Dom Duarte meu filho. Amtonio Ramos a fez em Lixboa, a xj dias do mes d’Agosto do anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de j- bc Rij anos. Gaspar de Figueiroa que a fiz stprever.

Nam faça duvida antrelinha que diz, de meu.

Doc. 101542 AGOSTO, 11, Lisboa - D. João III determina que Fr. Luís de Morais, frade

leigo de Santa Cruz de Coimbra e tesoureiro da igreja de Santiago de Leiria, aufira de 8100 reais em cada ano. a título de seu mantimento.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maço de Livros nº 7, Livro 5, fls. 45v-46.

7 Emendado de: “serão”.

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Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa Sennhor de Guinee e da conquista // [Fl. 46] navegação e comercio d’Ethiopia, Arabia, Persia e da India etc.

A quantos esta minha carta virem faço saber que eu hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que emquanto Frey Luis de Morães, frade leigo, es-tever na obediencia do vigairo da vila de Leiria, tenha e aja des <dia de> Sam Joam deste anno presente de j- bc Rij em diante pera seu mantimento em cada hum anno oito mil e cem reais que he outro tanto como tinha per provisão do Ifante Dom Duarte meu irmão que santa gloria aja, que foy rota ao asinar desta carta. E bem asy as ofertas da igreja de Santiago na dita vila honde ele he tesoureiro asy e da maneira que pertencem ao dito Dom Duarte meu filho e como as o dito Frey Luis atee quy ouve per provisão do dito Ifante que foy rota ao asinar desta como dito he. Notefico-o asy e mando aos oficiaes da fazenda do dito Dom Duarte meu filho que o asentes asy nos livros dela. E ao recebedor que ora he e ao diante for das rendas que o Priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na dita vila que des dia de Sam Joam que ora pasou deste anno presente de j- bc Rij em diante lhe pague em cada hum anno aso quarteis os ditos biij- e cem reais per esta soo carta gerall e pelo trelado dela pelo stprivão de seu cargo no livro de sua despesa e conhecimento do dito Frey Luis lhe seraa levada em conta o que lhe asy pagar em cada hum anno na maneira acima decrarado. E pera firmeza diso lhe mandey daar esta carta per mim asinada e pasada pela chancelaria do dito Dom Duarte meu filho. Antonio Ramos a fez, em Lixboa a xj dias do mes d’Agosto, anno do Nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de j- bc Rij anos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever.

Doc. 111542 AGOSTO, 11, Lisboa - D. João III manda que se pague a João Álvares de

Lemos, capelão da igreja de Colmeias (Leiria) e cónego dos antigos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o mantimento anual de seis mil reais.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, Livro 5, fls. 66-66v.

Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa Sennhor de Guinee e da conquista navegação e comercio d’Ethiopia, Arabia, Persia e da India etc.

A quantos esta minha carta virem faço saber que eu hey por bem e me praz em nome de Dom Duarte meu filho que emquanto Joam Alvarez de Lemos coneguo dos antiguos do Moesteiro de Santa Cruz que ora estaa por capelão na igreja das Colmeas nam for provido d’igreja ou vigararia e estever na obediencia do dito Dom Duarte meu filho tenha e aja de São Joam que ora pasou deste anno presente de mil quinhentos e corenta e dous em diante, em cada hum anno, seis mil reais que he outro tanto como ti-nha per provisão do Ifante Dom Duarte meu irmão que santa gloria aja, que foy rota ao asinar desta carta. Notefico-o asy e mando aos oficiaes da fazenda do dito Dom Duarte

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meu filho que asentem nos livros dela os ditos seis mil reais e ao recebedor que roa he e ao diante for das rendas que o priorado do dito Moesteiro tem na vila de Leiria que lhos paguem em cada hum anno aos quarteis, per esta soo carta geral enquanto nam for provido d’igreja e ou vigararia e estever na obediencia do dito Dom Duarte meu filho como dito he. E pelo trelado desta carta pelo // [Fl. 66v] stprivão de seu cargo no livro de sua despesa e conhecimento do dito Joam Alvarez de Lemos lhe seraa em cada hum anno levado em conta o que lhe asy pagar na maneira acima decrarada. E pera firmeza diso lhe mandey dar esta carta per mim asinada e pasada pela chancelaria de Dom Duarte meu filho.

Antonio Ramos a fez em Lixboa, a onze d’Agosto do anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de j- bc Rij annos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever.

Doc. 121542 AGOSTO, 21, Lisboa - D. João III nomeia António Gonçalves, clérigo de

missa morador em Pombal, cura da igreja de S. Simão [de Litém], termo de Leiria, por um ano.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, Livro 5, fl. 24v.

Alvara d’apresentação de capelão em Sam Siman.Eu el Rey faço saber a quantos este meu alvara virem que eu hey por bem e me

praz em nome de Dom Duarte meu filho, avendo respeito a boa enformação que tenho d’Antonio Ferrnandez clerigo de misa, morador na vila de Pombal, de o apresentar por cura por hum anno somente da igreja de Sam Simão, no termo da vila de Leiria, a qual igreja he do Priorado de Santa Cruz de Coimbra. Notefico-o asy e encomendo ao reverendo bispo de Coimbra que o confirme pelo dito anno somente, na cura da dita igreja. E na carta da dita cura fara menção como foy o dito Antonio Fernamdez nela confirmado a minha apresentação em nome do dito Dom Duarte meu filho.

Antonio Ramos a fez, em Lixboa a vinte e hum dias do mes d’Agosto de mil e quinhentos e corenta e dous anos. Gaspar de Figueiroa o fez stprever.

E tinha este alvara huma postilla que dezia asy:Posto que em cima digua que o cleriguo que apresento por cura da igreja de Sam

Simam se chama Antonio Fernandez, chama-se Antonio Gonçalvez.E esta postila era outra vez asinada por el Rey noso senhor.

Doc. 131542 OUTUBRO, 25, Lisboa - D. João III confirma a Simão Pires, capelão da

igreja matriz da Batalha, a tença de 17 mil reais em cada ano, conforme lhe tinha sido consignado, pelo infante D. Duarte, por alvará de 14 de Agosto de 1539, Lisboa.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, Livro 5, fls. 44-45.

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. história .

Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa Sennhor de Guinee e da conquista navegação e comercio d’Ethiopia, Ara-bia, Persia e da India etc. A quantos esta minha carta virem faço saber que por parte de Simam Pirez, coneguo dos antiguos que esta por capelão na igreja da Batalha, me foy apresentado hum alvara do Ifante Dom Duarte, meu irmão, que santa gloria aja do qual o trelado he o que se segue:

O Ifante Dom Duarte etcª. Faço saber a vos almoxarife que ora sois e aos que ao diante forem das rendas que o Priorado de Santa Cruz tem na vila de Leiria que eu hey por bem e me praz que Simam Pirez, conego dos antiguos, que esta por capelão da igreja da Batalha, tenha e aja dezasete mil reais em cada hum anno de Sam Joam que pasou de bc trinta e nove em diante. os quaes lhe paguareis aos quarteis do anno e pelo trelado deste que o stprivão de voso cargo treladara em seu livro //[Fl. 44v] e conhecimento do dito Simão Pirez vos seram levados em conta os ditos dezasete mil reais e isto emquanto o eu ouver por bem e nam mandar o contrairo. E esto hey por bem que valha como carta e que nam pase pela chancelaria. Joam da Videira o fiz, em Lixboa a doze d’Agosto de 1540. Vasco da Mota o sobstprevy.

Pedindo-me por merce que por ora ser o Priorado de Santa Cruz de Coimbra de Dom Duarte meu filho lhe mandase dar os ditos dezasete mil reais asy e da maneira que o atee quy ouve pelo alvara do dito Ifante meu irmão de que acima vay o trelado. E eu visto seu requerimento e querendo-lhe fazer graça e merce hey por bem e me apraz em nome de Dom Duarte meu filho eleito arcebispo e senhor de Bragua que emquanto o dito Simão Pirez nam for provido d’igreja ou vigararia e estever na obe-diencia do dito Dom Duarte meu filho e o eu ouver por bem e nam mandar o contrairo tenha e aja de dia de Sam Joam deste anno per esta soo carta geral que he outro tanto como tinha pelo alvara do dito Infante meu irmão de que acima vay o trelado e o pro-pio foy roto ao asinar desta carta.

Notefico asy e mando aos oficiaes da fazenda do dito om Duarte meu filho que lhos asentem // [Fl. 45] nos livros dela e ao recebedor que ora he e ao diante for das rendas que o dito priorado de Santa Cruz de Coimbra tem na vila de Leiria que do dito dia de Sam Joam que ora pasou deste anno presente de 1542 em diante lhe pague em cada hum anno aos quarteis os ditos dezasete mil reais per esta soo carta geral e pelo trelado desta pelo stprivão de seu cargo no livro de sua despesa e conhecimento do dito Simão Perez lhe seraa levado em conta o que lhe asy paguar na maneira acima decrarada enquanto não for provido d’igreja ou vigairia [sic] e estever na obediencia do dito Dom Duarte meu filho e o eu ouver por bem e nam mandar o contrairo como dito he. E pera firmeza diso lhe mandey dar esta carta per mim asinada e pasada pela chancelaria do dito Dom Duarte meu filho. Antonio Ramos o fez, em Lixboa aos vinte e cinco dias do mes d’Outubro do anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mil e quinhentos corenta e dous annos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever.

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Doc. 141543 FEVEREIRO, 26, Almeirim - O rei D. João III confirma António Velho,

cavaleiro da casa do Infante D. Henrique, no ofício de prioste das dízimas e das rendas que Santa Cruz de Coimbra tinha no Priorado de Leiria, bem como para o cargo de caseiro das casas do Mosteiro nesta vila, conforme à nomeação que recebera, desse ofício, por carta de D. Duarte, irmão do rei, datada de 24 de Setembro de 1539.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, Livro 5, fls. 68v-70v.

Dom Joam per graça de Deus rey de Portugal e dos Algarves daquem e dalem mar em Africa Sennhor de Guinee e da conquista // [Fl. 46] navegação e comercio d’Ethiopia, Arabia, Persia e da India etc. Em nome de Dom Duarte meu filho eleito arcebispo e senhor da cidade de Bragua primas etc. A quantos esta minha carta virem faço saber que por parte d’Antonio Velho, cavaleiro da casa do Ifante Dom AnRique, meu muito amado e preçado irmão, me foy apresentada huma carta do Ifante Dom Duarte, meu irmão, que santa gloria aja, da qual o trelado he o seguinte: // [Fl. 69]

O Ifante Dom Duarte, duque de Guimarães, perpetum administrador do Moes-teiro de Santa Cruz etc. Faço saber aos que esta minha carta virem que confiando eu d’Antonio Velho, cavaleiro da casa do ifante Dom AmRique, meu irmão, que me servira bem e fielmente ey por bem e me praz de lhe fazer merce do oficio de prioste dos dizimos e rendas que a mim pertencem na dita vila de Leiria e sua comarca asy e pela maneira que o ele deve ser e o atee quy foy per carta do dito senhor Ifante. E isto emquanto for minha merce e com o qual oficio avera outro tanto mantimento como tem o prioste do cabido. O qual Antonio Velho tera huma chave do celeiro do pão que tenho na dita vila. Notefico asy aos meus oficiaes da dita vila e ao vigairo dela ao qual mando que lhe dem a pose do dito oficio e lho leixem servir e dele usar e aver o man-timento prões e precalços ao dito oficio ordenados asy e pela maneira que o ele atee quy ouve e milhor se com direito o ele milhor poder aver. E mando ao dito vigairo e aos ditos oficiaes que en todo cumprão e fação cumprir esta minha carta como se nela contem sem lhe porem duvida nem embarguo algum. O qual mantimento se metera por ordinarias do anno que vem de bc R em diante aos rendeiros quando se as rendas da dita vila aRendarem. E este ano presente de bc xxxix lhe pagara o meu almoxarife. // [Fl. 69v]

E bem asy me praz dar ao dito Antonio Velho por caseiro e guarda das casas que tenho na dita vila pera que tenha delas carguo e as faça repairar e concertar quando comprir. E mando aos ditos meus oficiaes que sendo requeridos pelo dito Antonio Velho metam em pose das ditas casas, pumar e orta e pertences delas por que as tenha todas de sua mão. E fação despejar quãesquer pesoas que nelas viverem. E somente daram huma casa no dito apousentamento a Maria Boa em que se recolha. A qual avera o mantimento conforme a huma provisão que de mim tem. Joam da Videira o fez, em Lixboa a xxiiijº de Setembro, anno de j- bc xxxix. Vasco da Mota o sostprevy.

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E avera juramento em minha chancelaria.Pedindo-me por merce que por ora ser o Priorado de Santa Cruz de Coimbra do

dito Dom Duarte, meu filho, lhe fizese em seu nome merce do dito oficio com o man-timento a ele ordenado asy como o tinha pela carta do dito Ifante Dom Duarte, da qual acima nesta vay o trelado.

E eu visto seu requerimento e querendo-lhe fazer graça e merce hey por bem e o dou em nome do dito Dom Duarte meu filho por prioste dos dizimos e rendas que o dito om Duarte meu filho pertencem aver na dita vila de Leiria e sua comarca asy e pela maneira que o ele deve ser e o atee quy foy per virtude da carta do dito Ifante Dom Duarte emquanto for minha merce. // [Fl. 70] Com o qual oficio avera da feitura desta carta em diante outro tanto mantimento como tem o prioste do cabido e tera huma chave do celeiro do pão que o dito Dom Duarte meu filho tem na dita vila. Notefico-o asy e mando ao vigairo e oficiaes do dito Priorado na mesma vila de Leiria que lhe dem a pose do dito oficio e lho leixem servir e dele usar e aver o mantimento ao dito oficio ordenado. O qual lhe seraa sempre paguo a custa dos rendeiros como se acima contem no trelado da carta do dito Ifante que foy rota ao asinar desta.

E o dito Antonio Velho jurara na chancelaria do dito Dom Duarte, meu filho, que bem e verdadeiramente sirva o dito oficio, guardando-lhe em todo seu serviço e as partes seu direito. E mando aos oficiaes da fazenda do dito Dom Duarte meu filho que o asentem asy nos livros dela. Antonio Ramos a fez, em Almeirim, aos xxbj dias do mes de Fevereiro do anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mil e bc Riij annos. Gaspar de Figueiroa a fiz stprever.

E o dito Antonio Velho avera de mantimento com o dito oficio tanto digo outro tanto como leva hum beneficiado de todo o pão, legumes e destrebuições em dinheiro e como o ele atee quy ouve e como tem o prioste do dito cabido segundo vy per duas certidões feitas per Francisco Caçapo stprivão das rendas do dito Priorado // [Fl. 70v] em Leiria, que foram rotas ao asinar desta carta. E o dito mantimento lhe seraa sempre paguo a custa dos rendeiros comos e lhe ora pagua segundo vy pelas ditas certidões e emquanto for minha merce como dito he.

Doc. 151543 AGOSTO, 1, Sintra – D. João III perdoa a Antão Boutaca, natural da vila da

Batalha e estudante na Universidade de Coimbra, a prisão a que fora sujeito por, em Coimbra, ter sido apanhado com uma espada dois dedos mais comprida do que era autorizado pela Lei.

Torre do Tombo – Chancelaria de D. João III, Livro 13, fl. 273.

Dom Joham etc. A todollos corregedores ouvidores juízes e justiças officiaes e pessoas de meus Reinos e senhorios a que esta minha carta de perdam for mostrada e o conhecimento dela com direito pertemcer, saude. Faço-vos saber que por parte de Amtão Boutaca me foy apresemtado huum meu allvara por mym asynado e passado

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por minha chancelaria de que o trelado de verbo a verbo he o seguinte:§ Desembargadores do Paço, amiguos. Antão Butaca estudamte em a Universyda-

de de Coimbra que sábado sete dias do sem de Julho querendo-se hyr pera a villa da Batalha donde he natural por causa das vocações por não ter espada que levar pera ho caminho comprara huma a huum barbeyro já velha e ho dominguo a noyte amtes do syno se correr que foram oyto do dito mês hyndo-se espedir de hum Damião Luis mestre na dita Universydade levando a espada na mão encontrara com elle huum João Gomçallvez que ora serve de alcaide, ho levara preso ao corregedor que era con-servador e se achara a dita espada passar dous dedos da marca pelo qual fora preso, pedindo-me lhe perdoasse livremente a penna que pelo dito caso emcorria. E visto seu requerimento e por alguns respeyctos que me a isso movem ey por bem e me apraz lhe perdoar lyvrememte a dita penna. E mando que se por outra cousa não for preso seja loguo solto. Notefficovo-llo asy e mando que lhe pases do dito caso perdam em forma livrememte. E ho allcaide fiquara resgua[r]dado sua justiça se emtemder que a tem comtra o dito Antão Boutaca. Joham de Castilho o fez em Symtra a xxbiijº de Julho de bc Riij.

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Emvyando-me elle sopricante pedir por merce que lhe perdoasse a culpa que tinha no caso comtheudo no dito allvara, se me a delle em alguma guysa ou maneyra hera theudo e obriguado. E eu vendo o que me elle sopricante asy dizer e pedir emvyou visto o dito meu allvara. E querendo-lhe fazer graça e merce tenho por bem e me apraz de lhe perdoar livremente ao dito Antão Boutaca sopricamte. E portamto vos mando que solteys ao dito Antão Boutaca se elle por all não for preso. E daquy em dyamte ho não prendãis nem mandes prender nem lhe façãees nem consymtãees ser-lhe feito mal nem outro algum desaguysado quanto he por rezão do comtheudo em sua pityçam em esta minha carta declarado porque minha merce e vomtade he de lhe asy perdoar pela guysa que dito he, o que asy cumpry e all não façãees.

Dada em Symtra ao primeiro dia do mês d’Agosto. Ell Rey ho mandou pelos dou-tores Luis Eannes e João Momteiro ambos do seu conselho e seus desembargadores do paço e pitiçõees. Lopo de Valladares a fez. Anno do nacymento de Nosso Senhor Jhesuu Christo de j- bc Riij anos.

Doc. 161543 SETEMBRO, 7, [Lisboa] - Confirmação de Sebastião Ferreira, clérigo de

missa, por determinação régia, num benefício da igreja de Nossa Senhora da Pena de Leiria, vago por morte de António Fernandes.

TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Maços de Livros nº 7, livro 5, fls. 27-28vº.

Dioguo Fernandez Fremoso, capelão del Rey noso senhor e mestre’scola na See da cidade de Lixboa etc. A quantos esta minha carta de confirmação virem faço saber que por Sebastião Ferreyra, cleriguo d’ordens de misa, natural da vila de Leiria, me foy apresentado hum alvara de Sua Alteza, cujo teor he o seguinte:

Eu el Rey em nome de Dom Duarte meu filho // [Fl. 27v] eleito arcebispo e senhor de Bragua, comendatario do Moesteiro de Santa Cruz de Coimbra, cometo a vos Dio-go Fernamdez, meu capelão, que confirmeis Sebastiam FeReira, cleriguo d’ordens de misa, na reção da igreja de Nosa Senhora de Leiria, por virtude da eleição nestes autos atras contheuda. E lhe pasay carta de confirmação em forma em nome do dito Dom Duarte, meu filho. Comprio asy posto que este nam pase pela chancelaria. AnRique da Mota o fez, em Lixboa, a vinte e tres d’Agosto de 1543. E este meu alvara seraa treladado na carta de confirmação que lhe pasardes.

E bem asy me apresentou o estormento da eleição de que no alvara de Sua Alteza faz menção que parecia ser feito e asinado por Diogo Fernamdez clerigo de misa e beneficiado em a dita igreja de Nosa Senhora de Leiria e notairo apostolico, aos nove dias do mes d’Agosto do anno de 1543. E asy hera sinado por Dom Diogo Diãz, conigo do Moesteiro de Santa Cruz e vigairo na dita vila de Leiria. E por vinte e quatro beneficiados segundo por ele parece. Em o qual se continha que o dito vigairo e beneficiados asinados em cabido por som de campã tangida segundos eu costume

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e tomando primeiramente dos //[Fl. 28] Santos Avangelhos conforme ao regimento que tem del rey Dom Manuel, que santa gloria aja, em nome do Cardeal Ifante, que Deus aja, sendo prior do dito Moesteiro de Santa Cruz confirmado por el Rey noso senhor, emlegeram o dito Sebastiam FeReira por beneficiado no beneficio e reção da dita igreja de Nosa Senhora da Pena de Leiria, que vagou per morte e falecimento d’Antonio Fernandez, cleriguo de misa, segundo esto e outras cousas se contem no dito estormento e eleição etc. pedindo-me o dito Sebastiam FeReira que o confirmase no dito beneficio e reção.

E eu visto o dito estormento de eleição e alvara de Sua Alteza, em nome do senhor Dom Duarte, seu filho, per que em cometeo que confirme o dito Sebastiam FeReira no dito beneficio e reção per virtude dele, confirmo o dito o dito [sic] Sebastiam FeReira no dito beneficio e reção da dita igreja de Nosa Senhora de Leiria que vagou per morte e falecimento de Antonio Ferrnandez, ultimo posuidor, por imposisão de baRete que em sua cabeça pus. E hey o dito Sebastiam FeReira por provido do dito beneficio e lhe cometo o regimento e governança dele no stpritual e temporal sendo no stpritual eleito pelo vigairo. E ele Sebastiam FeReira aceitou a dita confirmação e jurou em minhas mãos, em hum livro dos Santos Avangelhos, que compriria o que se contem no capitolo, Ego nomem de jure jurando, que lhe per mim foy lido. Pelo qual mando em vertude de obediencia e sob pena de excomunham ao vigairo // [Fl. 28v] da dita vila de Leiria e aos priostes e beneficiados da dita igreja de Nosa Senhora da Pena da dita {vila] de Leiria que roa são e ao diante forem que ajam ao dito Sebastião FeReira por beneficiado e raçoeiro na dita igreja de Nosa Senhora do dito beneficio que vagou per morte e falecimento do dito Antonio Ferrnandez. E lhe dem pose dela e asento em coro e cabido e lugar em procisão e lhe acudam e fação acudir com os fruitos, foros, beneses e rendas que ao dito beneficio pertencem dereitamente como a verda-deiro beneficiado, segundo forma dos estatutos e laudaves costumes da dita igreja. E mando a qualquer notairo apostolico ou tabaliam da dita vila de Leiria, sob pena de excomunham, que sendo com esta requerido meta em posse do dito beneficio de Nosa Senhora da Pena de Leiria ao dito Sebastiam FeReira pelos autos acostumados. E diso lhe pase seu estormento. Gabriel de Moura a fez, a sete dias do mes de Setembro de mil e quinhentos e corenta e tres.

Doc. 171553 FEVEREIRO, sem dia, Lisboa - Minuta da carta régia para o Bispo de Leiria

acerca dos decretos conciliares de Trento e da necessidade de reforma eclesiástica no Reino.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 6, fls. 343-344.

Para o Bispo de Leiria.Reverendo Bispo, amiguo. Eu el Rey vos envio muito saudar. As cousas conteudas nos decretos deste sagrado

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Comsilio Tridentino sam tam obrigatorias de sy e tam devidas que nam somente pela obrigaçam que todos os christaãos them de a sguardarem polo asy mamdar o sagrado concilio, mas tambem por serem tam necessarias aa reforma de toda a Republica christãa. E do estado eclesiastico primcipalmente, todos as devem guardar e com-prir. E os prelados mays imteiramente, que como na obrigaçam precedem os subditos asy no exemplo devem ser os primeiros. E posto que eu asy o comfio guardareys e fareys guardar ymteiramente tudo o comteudo e mandado nos ditos decretos como soes obrigado. Todavia pola gramde obrigaçam que tenho aas cousas dos erviço de Noso Sennhor. E a esta primcipalmente em que comsiste a reformaçam do estado eclesiastico de meus Regnos e senhorios, obra que eu tamto desejo favorecer e ajudar. Pareceo-me que vo-lo devia d’escrever e emcomendar para que alem de therdes a yso tamta obrigaçam sabemdo o comtentamento que receberey de fazerdes o que soeys obrigado, o façaes mays perfectamente. E nam somemte guardeys e façaes publicar em toda vosa prelazia o sagrado comcilio, mas tambem procureys todas as cousas que vos parecerem que comvem para milhor guardae observancia dele.

Eu vos mamdo com esta alguumas lembramças de cousas em que podereys fazer muito serviço a Noso Sennhor e comprir milhor com vosas obrigações agradecer-vos-ey muito por delas loguo todas em obra. E se tiverdes alguumas lembranças de cousas que poderam aproveitar a outras // [Fl. 343v] prelazias ou d’alguuma cousa que se deva ememdar ou se posa milhor fazer. Muito vos emcomemdo que mo escrevaes e de tudo me mamdeys voso parecer porque como esta obra seja de tamto serviço de Deus e eu tenha tamta rezam de a ajudar e deseje tamto ver o fructo dela, devo nam somente ajuda-la e favorece-la muito, mas tambem saber muito em certo o que cada huum dos prelados faz e trabalha nela para asy lho agradecer ou estranhar, segundo vyr que cada huum o faz no proseguimemto e effecto dela.

Scripta em Lisboa a de Fevereiro. Pamtaliam Rebello a fez de 1553.

Doc. 181556 JULHO, sem dia, Lisboa - D. João III nomeia Álvaro Botelho recebedor das

rendas do Bispado de Leiria, enquanto a Sé deste estivesse vacante.TT - Coleção de S. Vicente, Livro 9, fl. 140.

Alvaro Botelho. Eu el Rey vos emvio muito saudar. Eu screvo ao cabido de Leiria pola comfiança que de vos tenho que vos emcarregue de recebedor das rendas desse Bispado emquanto estaa a See vacamte. Pelo que vos emcomemdo muito que acepteys o ditto careguo e o sirvaes como de vos comfio porque me averey niso por servido de vos.

Escripta em Lixboa a de Julho. Pamtaliam Rebelo a fez, de 1556.(Assinado) Rey +.

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Doc. 191556 JULHO, sem dia, Lisboa - D. João III informa o Cabido e Dignidades da Sé

de Leiria, sede vacante por morte de D Sancho de Noronha, que nomeia o Dr. Manuel de Almada, do seu desembargo, para administrador do mesmo até que tivesse novo prelado.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 9, fl. 154.

Dayam, dignidades, coniguos e cabido da See da cidade de Leiria. Eu el rey vos emvio muito saudar.

Por falescimento de Dom Sancho de Noronha que tinha apresentado a Sua Sancti-dade a ese Bispado a renunciaçam que dele fez o bispo Dom Bras de Barros aceptada por Sua Sanctidade, o dito Bispado ficou vaguo. E posto que eu detremine de breve-mente apresemtar a ele a pesoa que convenha para bem das almas do dicto Bispado. Todavia por aver muitos dias que nam foy vesitado pola absemcia e emfermidade do dito bispo e aver necesidade de remedio presemte vos agradecerey muito emcarregar-des da governança do ditto Bispado a See vacante ao Doctor Manuel d’Almada do meu desembarguo para que no speritual e temporal o proveja e administre emquanto nam for provido de pastor propio. E lhe paseys para iso vossa comisam. pelo que vos encomendo muito que a façaes em forma ampla e imteira de todo poder e jurdiçam que os cabidos them a see vacante. E que em tudo o que comprir aa boõa governança e administraçam do dito Bispado deys ao dito Doctor todo favor e ajuda, o que rece-berey de vos em muito prazer. E asy em emcaregardes a Alvaro Botelho do oficio e careguo de recebedor das rendas dese Bispado por ser pesoa que bem e fielmente fara o que compre a serviço de Nosso Sennhor e bem do ditto Bispado.

Escripta em Lixboa, a de Julho. Pamtaliam Rebello a fez, de 1556.(Assinado) Rey +.

Doc. 201556 JULHO, 13, Lisboa - Notícia do mandado de D. João III para que fosse in-

formado o antigo bispo de Leiria, D. Fr. Brás de Barros, da aceitação da sua renúncia ao Bispado e da morte de D. Sancho de Noronha, proposto para o mesmo, ficando como administrador dele o Dr. Manuel de Almada.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 9, fl. 243.

Mamda el Rey nosso senhor que se faça carta para Dom Bras de Barros antiguo bispo de Leiria, em que Sua Alteza lhe notifica como per sua renunciação foy aceyta-da, per Sua Sanctidade, em consistorio, e o Bispado de Leiria ficou vaguo por falecer Dom Sancho de Noronha que Sua Alteza tinha presemtado para o dito Bispado. E que por ora assim estar vaguo, pera que a See vaguante fosse milhor regido e guovernado, posto que determina de apresemtar ao dicto Bispado, brevemente mãodava encomen-

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dar ao cabido que fizesse comisão ao Doctor Manoel d’Almada dos eu desenbarguo pera que enquanto ao dicto Bispado não era provida a pessoa que Sua Alteza queria presemtar tivese carguo da administração do dito Bispado a Séé vagante no spiritual e tenporal, o que lhe dira mays larguamente o Padre Frey Baltesar Curado, a quem lhe aguardecera dar credito no que acerca desta materia lhe diser da parte de Sua Alteza, em Lixboa a 13 de Julho de 1556 annos.

(Assinado) Antonio Pinheiro.

Doc. 211556 SETEMBRO, 21, Lisboa - Registo das missivas que D. João III mandou

enviar ao Cabido da Sé de Leiria, a Luís de Araújo, chantre, e a Luís Machado, te-soureiro, do mesmo Cabido, em ordem a que uma parte das rendas da mesa capitular fosse aplicada à mesa episcopal.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 9, fls. 71-72.

Manda el Rey nosso senhor que se faça carta pera o cabido da See da cidade de Leiria, en que lhe rogua que queira dar consentimento pera que as rendas da vigairaria e colheitas, que pollas palavras da bulla da creiação do Bispado parece que devião de ficar com o cabido e aplicar-se a mesa capitular fiquem com o bispo e sejão da mesa capitular episcopal as que agora o são e com a fabrica as que pera ella são ordenadas e apartadas, como o Sua Alteza de novo manda suplicar e decrara, porquanto Sua Alteza ha assi por serviço de nosso senhor e mayor quietação do dito cabido pera que cessem as diferenças que com o prelado podião ter e porque assi per essa separação das ditas rendas como por não poderem aver effecto, algumas outras rendas do cabido da See de Coymbra e do Moesteiro de Santa Cruz que ainda ao presente tem dentro nos limites do dito Bispado de Leiria, quanto pello papa forão aplicadas a mesa // [Fl. 71v] capitular do dicto cabido de Leiria, a massa das rendas de que se o dicto cabido deve sostentar fica em notavel diminuição pollo que as pessoas capitulares se não podem tam decentemente sostentar como convem a Sua Alteza tera lembrança de lhes fazer merce e acrecentar-lhes as rendas da mesa da capitular pello milhor modo que se oferecer. E que lhes agradecera mandarem-lhe logo o consenso em forma pera o poder levar este correo.

Em Lixboa, a 21 de Septembro de 1556.(Assinado) Antonio Pinheiro.

Hão-se de fazer duas cartas particulares huma pera o chantre Luys d’Araujo en que lhe Sua Alteza da conta do que se escreve ao cabido. E que lhe encarrega muito a concrusão a reposta breve. E que poys tudo esta nelle e o cabido lhe tem o respeito que lhe sejão por sua pessoa e letras e lhe agradecera concruir se o negocio logo e com a brevidade que convem. Outra pera o thezoureiro // [Fl. 72] Luys Machado, en que lhe encomenda o negocio e a concrusão delle.

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Em Lixboa a 21 de Septembro de 1556.(Assinado) Antonio Pinheiro.

E assi agradeça ao chantre Luys d’Araujo o cuydado que tomou d’emprovisar e vigiar e prove-llo sem salario algum. E o que fez com os curas e que ouve disto con-tentamento. E lhe encomenda que o faça assi ate aver prelado confirmado.

Em Lisboa, 21 de Septembro.(Assinado) Antonio Pinheiro.

Doc. 221556 JULHO, Lisboa - D. João III recomenda ao Cabido da Sé Leiria que promo-

vesse o culto da Rainha Santa Isabel, uma vez que se alcançara licença pontifícia para se poderem erguer capelas altas com imagem de vulto da dita Rainha em todo o Reino.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 9, fl. 349.

Dayam, dignidades, coniguos e cabido da See de Leiria. Eu el Rey vos emvio muito saudar.

Eu ouve do Sancto Padre huuma bulla pera se poder rezar em todos meus Reg-nos da Rainha Sancta Isabel que estaa sepultada em o Mosteiro de Sancta Clara de Coimbra e asy dela poder aver em todas as igrejas e mosteiros destes Regnos capela alta e imagem da dita Rainha como vereys pelo treslado da bulla que com esta vos emvio. pelo que vos encomendo muito que a façaes notefiquar e guardar em todo ese Bispado. E porque nesta cidade se fez jaa o oficio da ditta Rainha Sancta por ordem do Arcebispo dela, a qual me pareceo booa, mandey ao Doctor Amtonio Pinheiro que vo-la screvese para saberdes a maneira que se nisso teve e vos comformardes com ela, o que vos muito agradecerey.

Scripta em Lixboa, a de Julho. Pamtaliam Rebelo a fez, de 1556.

Doc. 231558 AGOSTO, 30, Lisboa - Notícia da carta mandada escrever por D. João III a

D. Fr. Brás de Barros, bispo que foi de Leiria, acerca das inquietações que o cabido da Sé daquela cidade movia contra ele, informando-o de que mandara cessar tais procedimentos.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 10, fl. 397.+Manda el Rey nosso senhor que se faça carta pera Dom Bras de Barros, bispo

de Leiria, em que lhe Sua Alteza escreva que vio sua carta sobre a inquietação que o cabido de Leiria lhe dava, na renovação das demandas e duvidas que lhe moveram. E porque em tudo deseja sua quietação e folgua de elle estar consolado o mandou estra-nhar ao dito cabido. O qual se lhe mandou desculpar por nam capitular e lhe escrever

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que em tudo se conformaria com o que lhe Sua Alteza encomendace e que não fallaria mays em as ditas duvidas, o que lhe Sua Alteza por outra sua carta agardeceo e assi lho tornou a encomendar e tem por certo que se lhe não dara mays sobre as ditas duvidas desconsolação nem inquietação alguma. E que lho quis a elle escrever pera que visse a vontade com que Sua Alteza a iso acudio e pera que estivesse no dito caso quieto e seguro. E se podesse milhor encomendar a Deus e olhar por sua saude.

Em Lixboa, a 30 d’Agosto de 1558.(Assinado) Antonio Pinheiro.

Doc. 241559 MAIO, sem dia, Lisboa - Minuta da carta enviada, por el-rei, ao Bispo de

Leiria, a propósito do casamento contraído por D. Antónia da Silveira com um João Vaz, tendo ela parentesco com Pêro Carvalho, do conselho régio, e com o Dr. Rui Gago.

TT - Coleção de S. Vicente, Livro 10, fl. 347.

Para o Bispo de Leiria.Reverendo Bispo, amiguo. Eu el Rei vos emvio muito saudar. Eu vos screvi como

thereis visto que mandaseis chamar Donna Antonia da Silveira, filha de Dioguo Bo-telho e lhe fizeseis pregunta se era casada com Joam Vaz. E dizendo que sy lha entre-gaseis loguo. E porque a ese tempo me nam diseram o parentesco que a ditta Donna Amtonia tinha com Pero Carvalho do meu consselho e com o Doctor Ruy Gaguo <outrosi do meu conselho e juiz dos feitos da minha fazenda> e sam imformado que o dicto Dioguo Botelho pretende requerer e aleguar de sua justiça, vos agradecerey muito nam comsentirdes que se lhe faça alguum agravo, antes lhe façaes justiça imtei-ramente comforme ao que o direito manda.

Scripta em Lixboa, a de Mayo de 15598.

Doc. 251585 AGOSTO, 26, Monção – Registo da missiva real, enviada ao Bispo de Lei-

ria, D. Pedro de Castilho, dando-lhe indicações de como proceder no caso do cárcere do Bispo da Guarda e em matéria de integração das vilas de Ourém e de Porto de Mós no Bispado de Leiria.

Torre do Tombo – Casa Forte, Ms. 71, fls. 5-5v.

8 No fólio 348, do mesmo códice, lemos o seguinte excerto de uma carta endereçada a uma “madre prioresa”, eventualmente a prelada do Mosteiro de Santa Ana de Leiria, nos seguintes termos: “(...) Madre prioresa etc. Eu soube como recolhereis nese mosteiro Dona Antonia da Sylveira, filha de Diogo Botelho, do que recebi contentamento asy por a calidade da sua pessoa, como por ser o caso pera iso. E porque eu o terei grande em a terdes nese mosteiro ate se o dito caso detreminar, vos emcomendo muito que o façaes asy e muito vo-lo agradecerei.”

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Bispo de Leirea.Reverendo Bispo amiguo. Eu El Rey vos envio muito saudar- Recebi a carta que

me escrevestes sobre o carcere do Bispo da Guoarda E confiscação dos bes de seus bens da igreja. E tudo o que me nella dezeis me pareceo muito bem E aplicação dos reditos do bispado. E parece-me que o luguar do cacere deve ser o Convento de Ca-latrava no Reyno de Toledo. E que os ditos bens sendo /// [Fl. 5v] pouca quantidade se apliquem as obras da Sé. E sendo muita se repartão <também com a> também por pera a redenção dos cativos. Tudo por as rezões que apontais que me parecerom muito boas.

Ao que toca a anexação das villas de Ourem e Porto de Mos ao Bispado de Leirea vos tenho respondido. Ho Cardeal Archiduque meu sobrinho e irmão vos terá já dito o que nisso ouve por bem, em que allem das outras rezões que me a isso moverom tive também respeito a vos mo pedirdes.

Escrita em Monção, a 26 d’Aguosto 85.

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Doc. 25, fl. 5.

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Doc. 25, fl. 5v.

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Novos e antigos elementospara a história do castelo de LeiriaSaulAntónioGomes

O castelo de Leiria, levantado a partir de 1135, sintetiza a história qua-se nove vezes centenária de Leiria. Erguido num rochedo alto e formoso, começou por ser uma fortaleza de apropriação de um espaço de fronteira entre cristãos e muçulmanos. Consolidou o domínio dos portucalenses sobre a costa atlântica a sul do Mondego e de Montemor-o-Velho e tornou-se numa plataforma estratégica para empreendimentos mais audaciosos como a con-quista de Santarém.

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A vila medieval aninhou-se à sua sombra, primeiro protegida pela gran-de muralha, levantada antes de 1156, que rodeava a plataforma mais baixa do morro, a que se acedia pelas Portas do Sol (Sul) e do Norte (Coimbrã ou Castelinhos), depois, sobretudo a partir do último terço do século XII, estendendo-se rapidamente pelos rossios ribeirinhos ao Lis. Em 1211, Leiria contava cinco paróquias urbanas, a saber, Santa Maria da Pena, S. Pedro, S. Tiago, Santo Estêvão e S. Martinho.

O castelo era o espaço real por excelência. Em torno da torre de mena-gem, protegida por vários círculos de muralhas, concentrava-se a guarnição militar. Quase encostada a ela, levantou-se a igreja, quase ermida, de Nossa Senhora da Pena, paredes-meias com a torre que se chamará da “Buçaquei-ra”. No lado oposto, a poente, abria-se a Porta da Traição. A fortaleza foi ampliada com novos recintos amuralhados dentro dos quais se concentravam grandes celeiros, infraestruturas de guarda de animais e outros cómodos para acolhimento de gentes em caso de ataques ou razias dos inimigos.

Entre os anos de 1135 e 1195, Leiria sofreu várias razias inimigas, algu-mas delas, aliás, extremamente destrutivas. Isso sucedeu, por exemplo, em 1144, num poderoso ataque que, arrasando Leiria, atingiria os campos de Soure. Muitos dos cavaleiros leirienses foram mortos ou feitos prisioneiros. A retomada da vila por D. Afonso Henriques, seguramente com o apoio de cavaleiros templários, deu origem a algumas lendas em que se perpetuou o eco desses terríveis acontecimentos.

Uma dessas lendas explica a associação dos corvos, elementos benfazejos em ambientes moçárabes e mediterrânicos, à história da cidade e a sua inclu-são, mais tarde, no brasão municipal. Em 1195, D. Sancho, ao outorgar novo foral aos leirienses, recorda que acabara de “restituir Leiria ao culto divino”. Sabe-se que toda a região, por volta de 1190-1195, foi nova e fortemente acossada por combatentes muçulmanos.

O Mosteiro de Alcobaça, por exemplo, foi duramente atingido e alguns dos seus monges mortos. Essa terá sido, aliás, uma das razões por que os cis-tercienses fizeram levantar, pouco depois, um castelo no monte sobranceiro à abadia. Com ele fechava-se a rede de fortalezas levantadas para consolidação do domínio português desta região. Integravam essa rede os castelos, para além do de Leiria, os castros de Pombal, Ourém e Porto de Mós. Um conjunto de torres/celeiros pontilhava e complementava a estrutura defensiva deste es-paço. Mais a sul, destacavam-se os grandes castelos de Torres Novas, Tomar, Alfeizerão e Óbidos.

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O castelo de Leiria manteria uma vocação predominantemente militar até meados do século XIV. Foi nas suas imediações, e envolvendo também a sua posse, que, entre 1245 e 1248, se travaram duros combates entre o exército de D. Sancho II e o de seu irmão, o Conde de Bolonha, depois rei D. Afonso III. Mais tarde, entre 1319 e 1322, o castelo voltou a ser uma peça decisiva na guerra que opôs D. Dinis a seu filho e sucessor, o Infante D. Afonso. O Infante granjeara muitas fidelidades e simpatias entre os leirienses, que o apoiaram, obrigando D. Dinis a retomar a fortaleza pela força das armas. Muitos desses leirienses, perseguidos pelo rei, refugiaram-se na abadia de Alcobaça, onde esperavam conseguir salvar as suas vidas, posto que sem su-cesso. Os soldados de D. Dinis arrancaram-nos à força da igreja dos monges e executaram-nos.

Leiria, entretanto, tornara-se uma vila gótica aprazível. Situada numa re-gião abundante para a caça e outras actividades de lazer (D. Dinis, por exem-plo, tinha paços à beira-mar na povoação de Paredes), central nas ligações atlântico-litorais entre o Norte e o Sul de Portugal, reconhecida e apetecida pela fertilidade dos seus campos, abundância de pescas e riqueza das suas florestas, Leiria viu reforçada a sua capacidade de atracção, como terra de estar, junto da família real. D. Pedro I tinha, na vila, uma das suas concubinas preferidas: D. Beatriz Dias. D. Fernando I, seu sucessor, reuniu cortes aqui por duas vezes (1372 e 1376) e a sua mulher, rainha D. Leonor, guardava nos paços reais, junto à igreja de S. Pedro, uma boa parte das suas jóias e baixela.

O castelo era cada vez menos uma fortaleza reservada ao exercício da guerra para se tornar num espaço palatino. A grande Batalha Real de Alju-barrota não se travou já em torno do castelo de Leiria, mas bem mais a sul, no planalto de S. Jorge. A nova dinastia de Avis levantou em Leiria um dos seus mais formosos palácios reais: os paços novos ou da alcáçova. O castelo sofreu, então, uma profunda remodelação. Sobre a muralha voltada à cidade levantou-se o novo palácio, dotado de uma galeria de estar caracterizada tan-to pela sua graciosidade arquitectónica quanto pelo aparato real. Além disso, a velha igreja de Santa Maria foi transformada em capela palatina. Reforma-da no reinado de D. João I, viria a ser ampliada pouco depois, encontrando-se em obras, ainda, em 1458.

O Rei da Boa-Memória, ele próprio grande amante de montarias e jogos de cortesia e lazer, tinha nestes paços de Leiria um exemplo perfeito do tipo de palácio que entendia necessário a uma boa governação: aquela que, pres-tigiando o rei no exercício da sua missão, engrandecesse sobretudo o Reino.

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Eis algumas considerações deste monarca sobre este mesmo problema:

“Depois deste alevantarom joguo de solaz e de prazer, e este foi o de dançar e o de tanger, e este joguo he muy pertencente pera os reys, ca muyto está bem aos reys serem ledos, que quando os homeens veem seu senhor ledo, muyto folgam por ello, e os de fora que estrangeiros som, sempre o am a bem, e milhor se agasalham com elle. (…) E outrosi quan-do os reys fazem suas festas nom podem tam bem mostrar o prazer que am, como por este joguo que a todos parece bem, quando bem feito he, e que os gestos e cousas que am de fazer os cavaleiros e os escudeiros, que o de fazer am, demostrem a ledice de seu senhor, ca muyto está mal aos cavaleiros e escudeiros, quando as cousas que seu senhor faz com ledice, e por honrrar sua casa, vierem a ellas tristemente. Porem devem os cava-leiros e escudeiros, quando a estes joguos vierem (…) que alguas vezes fazem os reys em suas casas pollas honrrar, que venham a ellas ledos, e com bõas vontades. E isto por duas cousas: a primeira por se mostrarem que som homeens, que sabem o que am de fazer, ca muyto está bem aos que am de andar em paaço, saberem bem, o que ham de fazer pera honrrar seu senhor (…) segundo as maneiras que aos boons convem teer (…). E a segunda que se os cavaleiros e escudeiros servem por receber bem, muy sem siso seriam, se nom trabalhassem de fazer as cousas, em que ouverem de servir, que sejam a vontade de seu senhor (…).”

D. João I, Livro da Montaria, Capº 2

“Este joguo [dançar] lhes daa folgança, ca se os olhos dam cansaço ao entender em veer muytas petiçoões, quem duvida, que nom perca o cansaço em veer a sala muy bem guarnida de muy ricos panos, e outrosi veer muytas donas e donzellas muy ricamente vestidas, e tambem cava-leiros como escudeiros, que todos nom parasem mentes senom em tomar prazer. Quem duvida que o entender com tam bõas cousas como estas nom perdesse o anojamento que recebesse por as cousas sobreditas. E se o entender cansa em ouvir cousas nojosas de muytos que com elle querem desembargar, bem parece que se devia alegrar em ouvir os muy doces tangeres que fazem os instrumentos. Se o tocar daa nojo ao entender do-mandoo polla maão dizendolhe que lhe dee audiencias, e outrosi dandolhe petiçoões, quem cuydaria que nom perdesse tal enfadamento e nojo em tomar huã fermosa dona ou donzella polla maão e dançar com ella.”

D. João I, Livro da Montaria, Cap 2.

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“E porque o estado e honrra dos reys nom está senom nos boons de sua terra, porem muyto se devem de guardar, que por nenhum sabor do mundo nom perdessem so boons talantes delles. E este apartamento lhes faz ainda de se bem nom tragerem tambem a elles, como aos seus, assi em os corpos, como em suas casas: ca os que sempre andam por matos, que sabor averam em se bem trager. E assi meesmo teremos veedores discretos que saibam [trazer] as salas ricamente apostadas, e que saibam mandar fazer estranhos manjares, e todallas cousas que pera casa de hum rey, que honrradamente ouvesse de manteer seu estado (…) [cumprem].”

D. João I, Livro da Montaria, Capº 7.

O palácio de D. João I, no alto do castelo leiriense, foi frequentemente ha-bitado por ele. Em 1400, contratualizou-se aqui o casamento do futuro Duque de Bragança com a filha de D. Nuno Álvares Pereira. Os “Ínclitos Infantes”, rei D. Duarte e Infante D. Pedro, sobremodo, contam-se entre os que mais tempo habitaram estes paços. Também D. Afonso V aqui passou largas tem-poradas da sua vida. Este rei, mecenas e amante das artes e da cultura, entre-gou os direitos reais sobre Leiria aos Vila Real, em 1463. Alguns anos depois, em 1475, cedeu ao Conde D. Pedro de Meneses os paços novos, reservando para si os paços junto a S. Pedro. Os Vila Real habitarão o palácio real da alcáçova por mais de cem anos. Cerca de 1580, ainda aí tinham morada.

Já nesse tempo, estes velhos paços apresentariam problemas e dificulda-des que tornavam desaconselhável habitá-los. A Leiria do Renascimento e dos séculos modernos viu o seu castelo entrar numa lenta letargia e agonia. Francisco Rodrigues Lobo dá nota, na sua obra, do arruinamento do monu-mento. Na década de 1640, os procuradores de Leiria às Cortes procuraram sensibilizar o novo monarca para a necessidade de se recuperar o velho cas-tro. Debalde. No Século XVIII, o castelo tornara-se numa ruína impressiva para artistas e curiosos viajantes, numa pedreira para os leirienses que a ele recorriam para colheita de pedraria para as suas construções.

Francisco Rodrigues Lobo, no canto 19º do seu poema épico, “O Condes-tabre de Portugal”, situa no castelo de Leiria os episódios maravilhosos em que se revela, por mágica aparição, a descendência real de D. Nuno Álvares Pereira. O poeta leiriense conjuga lendas locais sobre o castelo com o seu génio poético. Os episódios remontam a 1400, ano em que se tratou, em Leiria, do casamento entre D. Afonso, filho bastardo de D. João I e futuro duque de Bragança, com a filha de D. Nuno Álvares Pereira. Hesitante, vagueando pelo interior do castelo leiriense, D. Nuno Álvares Pereira é alvo de uma revelação misteriosa.

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“Mas pouco tempo em tais obras reparte, / Que apressado del Rey chega hum correyo, / Que quer jurar por Pincepe a Duarte. / Que tem de alta esperança o reyno cheyo: / Para Leyria alegre o Conde parte, / Donde o Rey fica, e lhe esta carta veyo, / A Villa chega, e pondo os olhos nella, / Vio que nunca antes vira outra mais bella. /

Vio aquelle edificio levantado, / Sobre o profundo vão de altos roche-dos, / De dous tam claros rios rodeado, / Povoados de soutos e arvoredos, / De flores naturaes vestido o prado, / Que aos descuidados olhos fazem ledos, / Engraçados outeyros, frescos montes. /

O doce Patria minha desejada, / Que nunca esquecida em meu verso amoroso, / Que quanto sois mais bella e celebrada, / tanto sempre de vós sou mais queyxoso; / Se amor que he natural respeyta a nada, / Mais que a seu fim, que he ser mais generoso / Bem pago estou do muyto que vos quero, / Pois nem temo a ventura, nem na espero. /

(…)Está ao pé dos paços do Castello, / Sobre aquella alta rocha alevanta-

do, / Hum sumptuoso Templo altivo e bello, / Que a Senhora da Pena he nomeado; / Nos pilares, columnas, e modelo, / Naquelle tempo ilustre, e celebrado, / Com os antigos despojos que ficárão, / Das pedras que a Colipo hum tempo honrarão.

Alli depois que orou, mais satisfeyto, / De seu desejo andando se de-tinha, / A passada de hum muro ja desfeyto, / Que com huma torre antiga ajuntar vinha, / Por hum portal escuro muyto estreyto, / Que ao fundo de huns penedos encaminha, / Hum vulto vio que entrava; e por seu nome, / Chamando a D. Nun’alvares se lhe some.

Por ser o passo escuro e desusado, / Entre enredadas eras escondido, / Foy tras delle seguindo o Conde ousado, / Com a espada apunhada, e sem ruido, / Num corredor se achou muy bem lavrado, / Sobre columnas Goticas erguido, / Aonde huma estreyta escada lhe apparece, / Que mal pode julgar para onde dece.

Mas vendo aquella entrada tam segura, / Desceo por ella ao escon-dido centro, / Por ver que gente estranha, ou que aventura, / Podia haver naquella cova dentro, /Quero ver se isto he casa, ou sepultura, / Razoava entre si por onde eu entro, / Quem della me chamou, se gente humana / Se he sombra que me busca, ou que me engana.

Desceo a escada em voltas rodeada, / Até parar num quadro onde cahia, / E alli achou huma porta alevantada, / Que em elle alli chegando se lhe abria, / Patente, e livre mostra a larga entrada, / E tal o interior lhe

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apparecia, / Que bem dava aos olhos claro indicio, / Que era de encanta-mentos o edificio.

E deyxando o seu preço tam vistoso, / Que aos sentidos mais livres as-sombrárão, / Entrou na sala o Conde valeroso, / Que invisiveis ministros fabricárão: / E qual se a vira o Sol claro e formoso, / ou seus rayos con-tinuo nella entrárão, / Estava tam fermosa, alegre e clara, / Que o mesmo Sol a luz della invejára.

Atravessando a casa huma donzella, / Para elle veyo alegre, e come-dida, / Do rosto tam modesta, humilde, e bella, / Como ayrosa, galante, e bem vestida, / Do mesmo traje algumas vem com ella, / Mas por senhora he logo conhecida, / Saudando cortês ao bom Pereyra, / Lhe começa a fallar desta maneyra,

Não vos altere a estranha novidade, / Alto senhor, que a quem a este aposento, / Voz traz deveis ha muyto huma vontade, / Que ante vós deve ter merecimento. / Outrem a ha de pagar, e em outra idade, / terá fim desta obra o fundamento, / Com o soberano fim d’huma aventura, / Que o tem-po esconde em esta sepultura.

Neta sou de hum muy nobre Cavalleyro, / Cuja historia he muy larga, eu serey breve, / Que no tempo de Affonso o rey primeyro, / Este Castello em guarda hum tempo teve, / Ainda do sangue antigo, e verdadeyro, / A que esse nome vosso origem deve, / Que agora sem primeyro, e sem se-gundo, / Mais claro inda ha de ser que o Sol no mundo,

Pelo roubo que fez de huma donzela, / Que escondida a seu rey trouxe consigo, / Para poder goza-la, e defende-lla, / E atalhar sua morte, e seu castigo, / Guiado da ventura, ou da cautella, / De hum Mouro se valeo seu grande amigo, / Que de mortal afronta elle salvára, / Quando a bella Leyria o Rey tomára.

Era este Mouro astuto e poderoso, / Sobre espritos immundos, e profa-nos, / Magico encantador maravilhoso, / Famoso entre os Numidas Afri-canos, / De dar a troca a vida cobiçoso, / A quem guardára a sua em iguais dannos, / Em esta cova occulta, e não pisada, / Fabricou novamente outra morada.

Com elle aqui viveo sempre encerrado, / Té que chegando a ultima partida, / tendo hum filho do amigo doutrinado, / Na arte de espritos va-rios aprendida: / Deyxando este lugar todo encantado, / E a sepultura aos olhos escondida, / De ambos se despedio, e em tempo breve, / Traz elle o charo amigo a morte teve.

Viveo depois Arminio, que este era / O nome de meu pay, que a força,

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e rogo, / Tambem por outro engano aqui trouxera, / A que dando-me a vida a perdeo logo: / Tam sabedor na arte que aprendera, / Que escurecia o Sol, qualhava o fogo, / E formava no ar confusamente, / Machinas, edi-ficios, guerra e gente.

Deu por fruto de sua larga idade, / E da arte que sabia feya e escura, / Hum livro de alto preço, e de bondade, / Onde escrita ficou minha ventu-ra: / Onde ja desde grande antiguidade, / Té a idade presente e a futura, / Retratados estão por varios annos, / Os Varões singulares Lusitanos.

Encantadas as folhas por tal arte, / Que o Heroe que entrasse esta mo-rada, / Só podesse chegar té aquella parte, / Que dos fados aqui lhe está guardada: / E porque vós invicto, e novo Marte! Em quem a fama está sempre occupada, / Ereis fim principal, e o melhor meyo, / Desta prisão que eu passo, e deste enleyo.

Tempos muyto compridos, differentes, / Té ver-vos esperou com grão desejo, / deyxando-me estas horas tam contentes, / Em que o principio a meu remedio vejo: / Elle vos dera as armas excellentes, / Que na terra aonde mais se espalha o Tejo, / Por vos armas, novel se hião buscando, / reynando com Leonora o rey Fernando.

Elle em habito humilde, e perigrino, / Vos temperou a espada lumino-sa, / Que o barbeyro sagaz, da paga indino, / Vos deu com a nova então bem duvidosa: / A cujo aço luzente, e corte fino, / Nenhuma alheya força he poderosa, / E pelo que esta vinda me importava, / A vosso pay fallou quando caçava.

Tratou de vosso illustre casamento, / De cujo fruto Europa toda es-pera, / Eterna fama, eterno vencimento, / E o desterro da ley barbara, e fera, / E porque neste meu raro aposento, / Vós não podeis estar quanto eu quisera, / Vamos vereis a estranha maravilha, / Do Varão singular de que sou filha.

A isto o Conde está como espantado, / Lembrando-lhe os sinais do que dizia, / E a donzela cortes, brando, inclinado, / Com muy brandas razões se offerecia: / Mostrando-se queyxoso, e magoado, / Do tempo que inda o fado differia, / Do seu antigo, e injusto cativeyro, / Desejando ser elle o Cavalleyro.

Depois da nova offerta cobiçoso, / A outro aposento o leva de cristal, / Em cuja porta hum drago riguroso, / preso hum escudo tem de Portugal; / E por cima de hum globo luminoso, / Doutro mais claro, e lucido metal, / Estava o livro estranho, e grão thesouro, / Brochas de diamante, e pastas d’ouro.

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Com respeyto muy grande, e cortesia, / Qual mostrou a donzella com que veyo, / Sobindo alguns degraos que ante elle havia, / O livro abrio de maravilhas cheyo; / Abrindo o proprio seu retrato via, / Tam natural que era hum vivo enleyo, / E a filha desejada illustre, e bella, / E o que hum letreyro diz, lia a donzella.

D. Nun’alvares Pereyra, em sua idade / A de ouro a Portugal restituida, / Dará ao Reyno além, da liberdade, / Esta filha famosa, e bem nascida; / Da qual ha de ser toda a Christandade, / Sameada de Heroes cuja vida, / Com mór gloria do sexo feminino, / occupárão o assento cristalino.

[Segue-se a enunciação da descendência de D. Nuno Álvares Pereira]Deste nasce Maria, que consorte, / De Felippe serà segundo Hispano,

/ A quem rouba primeyro a dura morte, / Outra do mesmo nome em nosso danno; / Outra Rainha nasce altiva e forte / A quem seu pertinaz, e falso engano, / Faz borrar deste livro, e desta historia, / E outros indignos ja de honra, e memoria.

Aqui fazia fim esta escritura, / E o Conde ir adiante pretendia / A outra folha voltando, em sombra escura / O livro, a casa, e tudo se encobria, / O Drago que na porta em grande altura, / Com os escudo luzente appare-cia, / Para elle vem voando, e a donzella, / Nem a vio mais, nem soube o Conde della.

Levou a mão ligeyro á forte espada, / E em tocando o Dragão com hum golpe duro / Desaparece a machina encantada, / E acha esperando os seus junto do muro; / Do que lhe aconteceo não contou nada, / Ficando-lhe na mente o caso escuro, / E no proprio lugar grande aventura / Que alguma hora vereis noutra escritura.”

Francisco Rodrigues Lobo, “O Condestabre de Portugal D. Nuno Alvares Pereyra”, Canto XIX, in Obras Politicas, Moraes e Metricas do Insigne Portugues Francisco Rodrigues Lobo, natural da Cudade

de Leyria. Lisboa Oriental, Officina Fereyriana, 1723, p. 588-593.

No Século XIX, romântico e saudoso de perdidas Idades de Ouro, como a medieval, tempo de virtuosos cavaleiros da Távola Redonda, de “castelos no ar”, de príncipes e princesas, o castelo de Leiria tornou-se foco de atenções e de sonhos. Por entre as suas ruínas, passeavam-se, em frescos entardeceres, os modestos burgueses leirienses. Espectáculos de teatro e fogos-de-artifício davam vida fugaz a este cenário de silêncio e de assombro a quem nenhum forasteiro ficava indiferente.

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A chegada a Leiria de Ernesto Korrodi vai provocar uma revolução nesta letargia. O sonho leiriense é acordado pela acção, inteligência verdadeira-mente genial e persistência deste grande espírito artístico e filantropo que foi Ernesto Korrodi. A edição dos seus Estudos de Reconstrucção do Castelo de Leiria, em 1898, marca a mudança decisiva na atitude da cidade e do país para com este castelo.

A investigação arquivística tem permitido complementar a informação histórica disponível sobre o passado do monumento, permitindo detectar da-dos inéditos, precisar contextos históricos e ampliar as cronologias pertinen-tes.

Já depois da segunda edição do nosso livro Introdução à História do Castelo de Leiria, pela Câmara Municipal de Leiria, em 2004, foi possível (re)descobrir, por exemplo, novos dados acerca de alguns alcaides-mores do castelo. Também nas obras de Selma Pousão Smith e Mafalda de Noronha se encontram importantes referências para a história das elites dirigentes de Leiria, algumas delas com residência nos paços castelãos.

Para além dos registos literários, como se viu, o estudo do castelo de Lei-ria beneficia de outro tipo de fontes, sobretudo visuais. Quadros de artistas com despectivas da cidade e do castelo, posto que muito raros para o período anterior ao século XVIII, e, já desde finais do século XIX, fotografias, per-mitem revisitar, de modo mais rigoroso e mesmo arqueológico, a história do monumento.

Na década de 1890, Eugène Lefèvre-Pontalis, professor de história da arte e de arqueologia medievais, em Paris, deslocou-se a Portugal, tendo feito numerosas fotografias de vários monumentos. Entre eles, o castelo de Leiria, mas também os Mosteiros da Batalha e de Alcobaça. As suas preciosas fotos têm um elevado valor informativo uma vez que mostram o estado de ruína do monumento nos finais daquela centúria. O arquivo onde se conservam estas fotos é o da Société Française d’Archéologie / Ministère de la Culture (França). Podem consultar-se a partir do site Europeana. O arquivo da anti-ga Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais guarda numerosas imagens antigas do monumento. Algumas anteriores às campanhas de restau-ro, outras documentando estas mesmas campanhas.

Durante longos anos, o acesso a estas fontes visuais era restrito e a repro-dução, das mesmas, difícil e dispendiosa. Hoje, consegue-se consultar on line o acervo em causa, constituído por mais de um milhar de fotos.

Em 1850, deu entrada no British Museum, por compra, um lote de 21 plantas e mapas de lugares e fortificações portuguesas, os quais haviam per-

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tencido a Lorde Wellington, o famoso comandante dos exércitos anglo-lusos que derrotaram as armas napoleónicas em solo português e espanhol.

Lord Beresford, duque de Wellington, conheceu bem Leiria e a sua re-gião. Vários oficiais ingleses, e mesmo franceses, deixaram, nos seus diários e nas suas cartas, alusões preciosas ao castelo e à cidade. Foi no contexto destas campanhas de Wellington, em Portugal, que lhe chegou a planta do castelo de Leiria, que hoje se revela. Levada para Inglaterra, viria a ser refe-rida no Catalogo dos manuscriptos portuguezes existentes no Museu Britan-nico, de Frederico Francisco de la Figanière, Lisboa 1853. Primitivamente integrado na secção de “Addenda” (Nº 18 208), do British Museum, viria a ser transferido, mais recentemente, para a National Library de Londres, onde se encontra. Deixamos, nestas páginas, uma reprodução dessa preciosa planta que tanta informação relevante traz acerca do mais importante monumento da cidade de Leiria.

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