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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO NACIONAL DA FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS O SETOR PETRÓLEO E A PETROBRÁS NO GOVERNO LULA

FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROSefeito estufa evolutivo, destruição da camada de ozônio e aquecimento planetário. Em uma tentativa de minimizar tais impactos, a sociedade mundial

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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO NACIONAL DAFEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS

O SETOR PETRÓLEOE A PETROBRÁS

NO GOVERNO LULA

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ÍNDICE

� 1 - Apresentação............................................................................................pg.03

� 2 - Panorama do Setor Petróleo no Brasil e no Mundo

2.1 Contexto Internacional................................................................................pg.04

2.2 Contexto Nacional........................................................................................pg.06

� 3 - Propo stas da categoria petroleira para o Governo Lula

3.1 Políticas públicas para o Setor Petróleo..............................................pg.11

3.2 A Petrobrás que o Brasil precisa............................................................pg.17

� 4 - Participação dos petroleiros nas mudanças propo stas...pg.27

� OrganizaçãoFederação Única dos Petroleiros

(21) 3852-5002� Secretaria de Formação

Radiovaldo Costa Santos e Sérgio Lyra� Sistematização das propo stas

Maurício França Rubem e Mozart Schmitt de Queiroz� Apoio: Assess oria de imprensa

Alessandra [email protected]

� 1 - APRESENTAÇÃO

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Convocados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), os petroleirosparticiparam nos dias 03 e 04 de dezembro de 2002, no Rio de Janeiro, doseminário nacional organizado para debater propostas para o setor petróleo e aPetrobrás no Governo Lula. O evento contou com a participação de mais de 100petroleiros de todo o país, incluindo líderes sindicais e técnicos da Petrobrás ede suas subsidiárias, além de dirigentes da Confederação Nacional do RamoQuímico (CNQ), da Associação de Engenheiros da Petrobrás (Aepet), do Clubede Engenharia do Rio de Janeiro, do Sindicato dos Trabalhadores do PóloPetroquímico do Rio Grande do Sul (Sindipolo) e do Sindicato dosTrabalhadores em Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sintramico).

Este seminário foi precedido de vários fóruns regionais que formularampropostas preparatórias do Nacional. E o seminário nacional gerou uma série depropostas amplamente debatidas que estão sintetizadas neste documento que aFUP encaminha ao novo Governo. Boa parte destas propostas reforça ecomplementa as resoluções do último congresso nacional da categoriapetroleira, realizado em junho de 2002, em Salvador, onde os trabalhadoresratificaram seu apoio à candidatura de Lula à Presidência da República eaprovaram um documento com uma série de contribuições para o seu programade governo. As propostas enfocam a preservação e a consolidação da Petrobráscomo empresa estatal e a reestruturação do setor petróleo visando aodesenvolvimento e à soberania nacional.

A Petrobrás é a maior, a mais lucrativa e a mais estratégica empresa do Brasil.Sua importância para o país pode ser medida pelo orçamento previsto para oexercício de 2003, ano em que completa cinqüenta anos: cerca de R$ 107bilhões. Para que possamos prover alternativas para implementar os grandes eurgentes projetos do novo governo, no que tange, principalmente, aodesenvolvimento econômico e social do país, é preciso uma reformulaçãocompleta na estrutura da estatal. É fundamental retomar o controle estatal daexploração, produção e transporte de petróleo e de seus subprodutos; ampliaros investimentos em atividades de pesquisa, produção, refino e distribuição,além de voltarmos a investir, também, em petroquímica e química fina, onde seencontra a faixa de maior valor agregado. É fundamental também que aPetrobrás aumente os cuidados com o meio ambiente e a segurançaoperacional.

Mas todas estas mudanças no setor petróleo só serão possíveis se houvertambém uma reformulação completa no corpo gerencial da Petrobrás e dadireção da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O seminário apontou o perfildos dirigentes que os petroleiros esperam ser nomeados para o CNPE, a ANP e,em especial, a Petrobrás. Na nova Petrobrás, não cabem dirigentes envolvidoscom corrupção, autoritarismo ou que de alguma forma tenham contribuído com oprocesso de desmantelamento da empresa, demissões injustas e perseguiçõespolíticas aos trabalhadores. A categoria espera nomes com história decompromisso com as lutas sociais de nosso país e a defesa do patrimôniopúblico. Pessoas que conheçam o setor petróleo, sejam íntegras, éticas e comabertura para ouvir e respeitar os movimentos sociais. Esperamos que este perfilseja respeitado pelo papel histórico da Petrobrás no desenvolvimentotecnológico, industrial e econômico do país, o qual, se bem gerido, poderá serampliado ainda mais.

Por fim, decidiu-se que os petroleiros deverão manter os fóruns regionaisvisando ao aprofundamento de propostas para o setor e que um novo fórumnacional também deverá ser realizado visando a avaliação dos primeiros passosdo novo governo para o setor.

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2 - PANORAMA DO SETOR PETRÓLEO NO BRASIL E NO MUNDO

O petróleo, seus derivados energéticos e não energéticos e o gás naturalocupam uma posição central e estratégica em todas as economias do planeta. Apartir do final do século XIX, o uso intensivo de petróleo determinou ocrescimento acelerado das atividades relacionadas à produção de bens e aodesenvolvimento socioeconômico de países que foram capazes de intensificar oseu consumo, diversificando o seu uso como energético e matéria prima.

Usado inicialmente para iluminação e, posteriormente, na indústria e nos meiosde transporte, o petróleo passou a ser fundamental nas sociedades e naeconomia mundial. E seu domínio, fator de desenvolvimento de grandespotências mundiais.

O custo da construção dessas potências da era petróleo tem provocado danosecológicos gigantescos, muitos deles irreversíveis, mudanças climáticas globais,efeito estufa evolutivo, destruição da camada de ozônio e aquecimentoplanetário. Em uma tentativa de minimizar tais impactos, a sociedade mundialcorre em busca de soluções, via pactos universais, como o Protocolo de Kioto.

Dependente do “ouro negro”, o mundo vive uma crise grave e duradoura, comreflexos em todo o planeta. As taxas de reposição de reservas de petróleo nãomais acompanham o consumo global anual: 80% de toda a produção mundialaté 1998 eram oriundas de campos de óleo descobertos antes de 1973 e,portanto, em vias de esgotamento. Como conseqüência, os preçosinternacionais dificilmente ficarão abaixo de US$ 20,00, o barril.

Os Estados Unidos enfrentam dependência cada vez maior das importações, jáque o país produz apenas metade do petróleo que consome, com reservas parano máximo oito anos. O Secretário de Energia norte-americano, SpencerAbraham, em relatório oficial do governo, reconhece que a crise deabastecimento terá que ser duramente administrada pelos próximos 20 anos.Por isso os Estados Unidos fazem de tudo para se apoderar das reservas depetróleo e gás dos países da Ásia e do Oriente Médio e América Latina, valendo-se, inclusive, de pretensas guerras contra o terrorismo.

O petróleo continua a mover os grandes interesses e conflitos mundiais. E oBrasil e a América Latina estão no epicentro desta geopolítica do petróleo.

2.1 CONTEXTO INTERNACIONAL

O petróleo e o gás natural, como fontes de energias primárias, mantêm suaparticipação de 39% e 24%, respectivamente, no consumo mundial, conformedados da Agência Internacional de Energia. A crise econômica e financeira dosudeste asiático - assim como as crises russa, da América Latina, do Japão e daCoréia do Sul - forçou uma queda no consumo e uma conseqüente baixa nospreços de petróleo e gás. Este fato demonstra a relação direta entre o consumode petróleo e o nível de atividade econômica. Uma recessão econômica implicaem excesso de oferta de petróleo e queda dos preços. Em 1998, o preço doBrent chegou a US$ 12,74/barril, cerca de 33% menor do que o preço de 1997.

Esse comportamento dos preços induziu a ajustes na indústria do petróleo viafusões (Exxon-Mobil, British Petroleum-Amaco), aquisições e aliançasestratégicas entre companhias, enfim, um redirecionamento de investimentosque resultou na redução dos preços dos serviços e equipamentos da indústria.

O preço internacional do petróleo continua sensível a inúmeros fatores, dentreeles os conflitos no Oriente Médio, a atividade econômica no planeta e acapacidade de união dos países exportadores, principalmente através de açõesda OPEP para definir e cumprir metas de produção. São esses fatores que

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fizeram com que o seu preço tivesse caído ao nível de US$ 11,00/barril no finaldos anos 90 e depois chegasse ao patamar atual de quase US$ 30,00. Umavariação que não encontra paralelo em qualquer outro produto tão estratégicopara a economia mundial e que não pode ser explicado simplesmente pelaelevação da demanda.

Por outro lado, a indústria de petróleo, ao lado da automobilística, foi uma dasque mais movimentou a economia mundial ao longo do século 20. O quecontinua ainda hoje. Assim sendo, tudo o que seja feito ou deixado de fazer naindústria de petróleo tem enorme repercussão para a economia de qualquerpaís.

A importância do petróleo no mundo moderno pode ser verificada ainda pelosacordos e conflitos bélicos em várias regiões. Um dos principais motivos para abusca de um acordo entre os EUA e a antiga URSS são as reservas russas depetróleo e gás. A mesma razão torna o Oriente Médio uma região tão explosiva.

Grandes Consumidores

O mundo está dividido em grandes consumidores e produtores de petróleo. Osconsumidores, países industrializados, são responsáveis por 66% do consumode toda a energia primária de petróleo do mundo, por quase dois terços do usoglobal de aço e mais de dois terços do de metais (alumínio, cobre, chumbo,níquel, estanho, zinco). Além da energia agregada no Terceiro Mundo -normalmente subsidiada - durante a produção desses bens para exportação econsumo nos países industrializados.

Das sete maiores nações industriais, conhecidas como o Grupo dos Sete (G-7),apenas duas (Canadá e Reino Unido) são auto-suficientes em petróleo. Mesmonão produzindo petróleo, o Japão, membro do G-7, ainda mantém sua própriacompanhia estatal de petróleo, para fins de política estratégica do estado. Asoutras empresas nacionais (da Itália, do Canadá, da Alemanha e da França)foram privatizadas e até se fundiram - caso da Elf-Total-Petrofina (belga) -mantendo, no entanto, um mecanismo acionário de núcleo-duro para permitir aação estratégica de decisão política dos respectivos estados.

Grandes Produtores

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP (formada pelaArábia Saudita, Irã, Iraque, Equador, Kuweit, Abu Dabi, Gabão, Catar, Nigéria,Líbia, Argélia, Venezuela e Indonésia) detém 77% das reservas provadas domundo, que respondem atualmente a 40% da produção mundial. Em termos dereservas provadas, restam 23% nos outros países, que não são membros daOPEP.

Por outro lado, 66% das reservas mundiais estão no Oriente Médio. Os paísesricos, grandes consumidores, agrupados na Organização para Cooperação eDesenvolvimento Econômico (OECDE), respondem por 24% da produção total,ora no nível de 77,40 milhões de barris/dia. Os países da esfera da Rússiarespondem por 12%. Já os países do Terceiro Mundo, não OPEP e não OECDE(Brasil e México neste grupo), respondem por 24%.

Este esboço do negócio mundial do petróleo é marcado pelo conflito permanentede interesses entre os grandes países produtores e os grandes consumidores.Os países industrializados têm usado suas companhias de petróleo comoinstrumentos de política exterior e de dominação econômica. Têm como objetivomaior a manutenção rígida de um mecanismo de duplo controle que visa a

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controlar as reservas das matérias primas estratégicas nos territórios deterceiros (nos subsolos que funcionam como armazenagem natural e barata) e acomercialização e distribuição dessas matérias primas (também a partir dopróprio território de terceiros).

2.2 - CONTEXTO NACIONAL

De 1997 a 2000, a indústria do petróleo e gás natural dobrou sua participação noProduto Interno Bruto (PIB), passando de R$ 20,2 bilhões (2,7%) para R$ 52,6bilhões (5,4%), de acordo com o Balanço Setorial do Jornal Gazeta Mercantil,superando as contribuições da indústria automobilística e das siderúrgicas de4,1% e de 2,5%, respectivamente.

Entretanto, estudos apontam para a necessidade de se investir no aumento dacapacidade de refino do país, principalmente porque o óleo pesado constitui-seem participação crescente na nossa produção para o refino, sob pena de termosde gastar em 2010 com importações de derivados, valores da ordem de US$ 10bilhões anuais, o que colocaria em risco o saldo da balança comercial e odesenvolvimento do país.

As privatizações implementadas nos anos do neoliberalismo no Brasildificultaram o poder do estado brasileiro de gerir sua política do setor petróleo,arriscando os destinos do país. Os setores estratégicos do país foramtransferidos para o controle de empresas privadas, tanto nacionais, quantoestrangeiras. Como exemplos, podemos citar os setores de telecomunicações,de exploração mineral, de siderurgia, de distribuição de energia elétrica e,particularmente, a quebra do monopólio, a entrega de campos de produção depetróleo da Petrobrás a empresas privadas e a abertura acionária da estatal.

Maior empresa do país e orgulho nacional, a Petrobrás, que em outubro de 2003fará cinqüenta anos de existência, perdeu no governo FHC o monopólio dasatividades no setor. Em agosto de 1997, o “rolo compressor governista” noCongresso aprovou a Lei 9.478, que apesar de reafirmar o caráter estatal daPetrobrás, em alguns de seus inconstitucionais artigos permite o desmonte daempresa através da criação de empresas subsidiárias sem a manifestação doCongresso Nacional e a associação com outras empresas, nacional ouinternacional, na condição de sócia minoritária.

Em seguimento a essa lei, a reestruturação da empresa promovida pelo entãopresidente Reichstul, através da criação de 40 Unidades de Negóciosautônomas (proposta apresentada ainda no governo Collor por uma consultoriainternacional), permite a preparação de ativos operacionais para privatização,como ocorreu com a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) e o Campo deProdução de Marlim – o maior do país, responsável por 40% da produçãonacional.

Hoje, depois de totalmente aberto, o setor petróleo brasileiro conta com 35novas concessionárias privadas nas atividades de E&P, as quais detêm, hoje,51,43% das áreas em estágio exploratório, com 199 contratos de exploração e307 de produção, registrados na ANP. Mas, na prática, é apenas a Petrobrásque garante a produção nacional de petróleo.

Na área de refino, alguns projetos que prevêem a construção de refinarias nonordeste e no norte-fluminense, ainda não saíram do papel em razão do desejode empresas multinacionais de ter a Petrobrás como parceiras. As duasrefinarias particulares, que mantiveram suas atividades mesmo com o monopólio

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estatal e que recentemente perderam os subsídios previsto na Lei 9.478/78,correm o risco de desaparecer em razão de suas escalas de produção.

Uma outra novidade nessa área foi a autorização para que indústriaspetroquímicas produzissem gasolina e diesel, de duvidosa qualidade. O mercadofoi considerado totalmente aberto em janeiro desse ano, com a autorização dadapela Agência Nacional de Petróleo, para a importação e exportação de gasolinapôr empresas privadas. Várias companhias de petróleo e de comércio járeceberam autorizações para a importação e exportação de petróleo ederivados. Isso não impediu porém, que o governo diante do aumento do GLP,por pressões eleitorais, controlasse o preço do produto nas refinarias daPetrobrás, contrariando o modelo acordado com os grandes conglomeradosfinanceiros e multinacionais do setor para que viessem atuar no país

O Gás Natural também vem aumentando a sua participação na matrizenergética, ainda que não no ritmo apontado pelo governo, e substituídopaulatinamente os hidrocarbonetos da fase líquida. Entretanto, o gargalo daquestão tarifária, o atrelamento do preço do produto boliviano ao dólar, além daestrutura de receita do gás boliviano para assegurar o esquema financeiropactuado com os Bancos Mundial e Interamericano e ainda a ausência de umapolítica industrial para o seu uso têm dificultado um maior crescimento daparticipação do gás em nossa matriz.

A importância da Petrobrás para o país vai muito além do p etróleo

A Petrobrás, através de seu Centro de Pesquisas, de seu Serviço de Engenhariae de outros Centros de desenvolvimento tecnológico e industrial, vem dandouma enorme contribuição ao país. Sua liderança mundial na tecnologia deprodução de petróleo em águas profundas é reconhecida internacionalmentepelo setor. Mas, a contribuição da Petrobrás ao desenvolvimento econômico etecnológico do Brasil vai muito além do setor petróleo.

Com sua infraestrutura, tecnologia e recursos financeiros, a empresa foifundamental no desenvolvimento do Proálcool e no alavancamento de trêsimportantes setores industriais do nosso país: o Petroquímico - viabilizando osquatros grandes pólos que o país possui (São Paulo, Duque de Caxias (RJ),Bahia e Região Sul) - e a área de fertilizantes, onde a Petrobrás, através de suasubsidiária Petrofértil, foi determinante na instalação e operação de váriasunidades industriais fundamentais para fornecimento de insumos baratos para anossa agricultura.

O Proálcool é talvez um dos mais importantes exemplos de como a Petrobrástambém pode contribuir para o desenvolvimento de tecnologias alternativas,voltadas para o bem estar social e econômico da população. Os investimentosda empresa (tanto em infraestrutura, quanto em recursos financeiros)e seu apoiotecnológico, foram fundamentais para o sucesso do que é hoje o maior programamundial de substituição de uma fonte líquida de energia fóssil por uma fonte deenergia renovável.

A indústria de fertilizantes brasileiros, patrocinada pela Petrobrás através daPetrofértil, foi importante fator de incentivo ao aumento da produtividade emnossa agricultura, com a difusão de técnicas de adubação. Essa difusãoviabilizou-se pelo fornecimento de fertilizantes indispensáveis a preços razoáveispara o agricultor.

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Também a cadeia Petroquímica tornou o Brasil praticamente auto-suficienteneste insumo. Isto representa domínio tecnológico e empregos industriais alémde economia de divisas.

Lamentavelmente, a Petrobrás, a partir do Governo Collor, foi praticamenteafastada de todos esses programas. Hoje, conta com uma participação acionáriamarginal em diversas empresas petroquímicas e mantém apenas duas fábricasde fertilizantes - uma na Bahia e outra em Sergipe. Em relação ao Proálcool, seupapel limita-se ao de maior cliente das usinas de álcool combustível do país(utilizado na mistura à gasolina).

BALANÇO DA ATUAÇÃO DA PETROBRÁS E DA ANP NO GOVERNO FHC

As modificações estatutárias e a Lei 9.478/97 configuram para a Petrobrás umaprofunda e brutal “reestruturação patrimonial” (troca de ativos, perda de 51,4%de áreas exploratórias para empresas privadas, avanços do capital externo emseus projetos já configurados como lucrativos - via parcerias, etc.). Uma outraconstatação é a perda massiva de mão de obra qualificada, fruto da política depessoal degradante que feriu a auto-estima de seus empregados e aterceirização/quarteirização como rotina acelerada.

A Petrobrás nos dias atuais está mais voltada para “servir ao mercado”,valorizando-o e atuando com uma transnacional do setor petróleo/energia,negando o seu papel de empresa pública. Essa política está alinhada com atransferência da base societária estatal para a privada. O governo, que emjulho/2000 detinha 60,9% da composição acionária da Petrobrás, contra 39,1%de participação privada (18,7% de brasileiros e 20,4% de estrangeiros), passoua ter em março/2002 participação minoritária de 40,6% contra 59,4% de açõesem poder privado (36,3% de estrangeiros e 23,1% de brasileiros), caracterizandoainda mais o processo de privatização da empresa. Um outro dado importante éo distanciamento da Petrobrás do seu papel alavancador da indústria nacional,como ficou demonstrado recentemente durante os polêmicos projetos deconstrução de plataformas no exterior.

Depois de reduzir a dependência externa de bens e equipamentos, chegandodos anos 60 a 80 a ter os principais projetos de investimento no setor, com altosíndices de conteúdo nacional, a Petrobrás tornou-se líder internacional naprodução de petróleo em águas profundas e uma das maiores companhiaspetrolíferas do mundo. No entanto, a partir dos anos 90, com a implementaçãomais acentuada do projeto neoliberal, houve uma mudança na política desuprimento de bens e serviços direcionada para o mercado externo,principalmente para a produção no mar. Exemplo: das 13 plataformas deprodução adquiridas nesse período, 10 foram construídas no exterior, com“conteúdo nacional” médio de apenas 5%. Este fato, combinado com a falta deencomendas para a indústria naval, levou ao fechamento da maioria dosestaleiros nacionais.

Os cas os Transpetro, Refap e Campos Maduros:privatização pelas beiradas

Ao criar a Transpetro (Petrobrás Transporte S.A) em junho de 1998, o governoFHC transferiu para a subsidiária um fabuloso e estratégico patrimônio daPetrobrás, que lhe garante boa parte de sua competitividade no mercado - 43terminais em todo o país, 23 aquaviários e 20 terrestres (com capacidade dearmazenamento de 63 milhões de barris) 9,6 mil km de dutos (6.763 km deoleodutos e 2.921 km de gasodutos) e 62 navios.

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Para se “adequar” à nova legislação do setor, a Transpetro foi obrigada a atuarcomo uma empresa independente, tornando-se fornecedora da Petrobrás e, oque é pior, compartilhando essa gigantesca infraestrutura com as empresasconcorrentes que requisitarem seus serviços. Ou seja, a lei impôs a quebra domonopó lio do petróleo e, ao mesmo tempo, retirou da Petrobrás parte desuas vantagens competitivas para obrigá-la a disputar o mercado queantes dominava.

A história se repetiu com a Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), em Canoas,no RS. Após impor a divisão da Petrobrás em 40 unidades de negócio, ogoverno FHC transformou a REFAP em mais uma subsidiária da estatal para,em seguida, efetuar uma transação comercial com a empresa hispano-argentinaRepsol/YPF. Através de uma suspeita troca de ativos realizada no final de 2000,a multinacional adquiriu da Petrobrás 30% da REFAP, 340 postos da BRDistribuidora e 10% do mega campo de produção de Albacora Leste, na Baciade Campos. Ou seja, um patrimônio calculado em US$ 3 bilhões, segundo aAEPET! Em contrapartida, a Repsol/YPF repassou à estatal uma refinaria emBaía Blanca e 700 postos da rede EG-3 (na Argentina), patrimônio total avaliadoem US$ 750 milhões, segundo a mesma fonte.

Além de extremamente lesiva para os cofres da Petrobrás, esta negociação foirealizada sem qualquer transparência quanto aos critérios de avaliação dosativos trocados. Esta foi também a primeira privatização concreta de umaunidade da Petrobrás. A reação do movimento sindical petroleiro levou a JustiçaGaúcha a suspender a troca de ativos efetuada. Mas, a REFAP continuaoperando como uma subsidiária da Petrobrás, parcialmente privatizada.

Outra tentativa de destruir a Petrobrás foi a decisão do governo FHC deprivatizar a exploração de petróleo nos chamados campos maduros - ou seja,campos já em produção há vários anos. Tal decisão partiu de argumentoseconômicos com a premissa de que a baixa produtividade desses campostornava-os antieconômicos para a Petrobrás. Essa decisão, no entanto, foitomada quando o preço mundial do petróleo estava muito baixo, próximo dos U$11,00, o barril. E nesse período, vários campos foram entregues à iniciativaprivada, principalmente na Bahia.

Em outras regiões, como no Espírito Santo, campos de produção inicialmentedestinados a esta finalidade, tiveram posteriormente sua produtividade elevadade forma significativa pelo uso de novas tecnologias para o aumento darecuperação de petróleo. Fato que, somado à retomada dos preçosinternacionais, levou a Petrobrás a diminuir o ritmo do programa.

Mas a entrega de campos de produção de petróleo continua. Atualmente estãoem processo de concessão campos no Paraná, descobertos mas ainda nãoexplorados.

Recordes de lucros e de acidentes

A Petrobrás é uma usina de números grandiosos. Não pára de bater recordes delucros, produção e de acidentes e prejuízos, também. Em 2001, o lucro líquidoconsolidado foi de R$ 9,867 bilhões, ligeiramente menor (0,75%) do que o lucrode 2000, que foi de R$ 9,942 bilhões. Em dezembro de 2001, a empresaproduziu 1.568 mil barris de petróleo por dia. Nas refinarias, a produção dederivados atingiu 1,7 milhões de barris/dia, cerca de 85% da capacidade derefino instalada no país.

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Contudo, a população brasileira em nada se beneficia desses númerosgrandiosos. Pelo contrário. Está sofrendo no bolso a política de abertura doSetor Petróleo. O alinhamento de preços de derivados ao mercado internacionalé questionável diante do fato do Brasil já produzir mais de 80% do petróleo queconsome. Mas na lógica do governo FHC, esta incoerência tem algumasexplicações: atrair operadoras estrangeiras, incentivar essas operadoras aimportar derivados e aumentar os lucros dos acionistas da Petrobrás.

Esta política de mercado vem fazendo com que a Petrobrás deixe de cumprir oseu papel social de fornecer insumos a preços justos para incentivar odesenvolvimento nacional. O que vemos é o contrário de tudo isso. A empresapassa a atuar como uma operadora privada e é nesta lógica que seus executivostentam administrá-la, fato assumido publicamente pelo presidente FranciscoGros no início do ano, em palestra nos Estados Unidos.

Essa política de preços está comprometendo a imagem da Petrobrás perante apopulação brasileira. Outros erros de gestão ainda mais graves vêm destruindoa empresa em sua estrutura interna. É a política de terceirização de atividadespermanentes, alinhada à falta de investimentos em manutenção, o que temreduzido a capacidade técnica de seu corpo funcional, aumentando os acidentesde trabalho e ambientais. Resultado: mais impacto negativo na imagem daPetrobrás, incluindo ações judiciais e punições.

Desde 1998, 125 petroleiros morreram em acidentes de trabalho na Petrobrás,dos quais 95 eram trabalhadores de empresas prestadoras de serviço. Acidentesque, além de consumirem vidas e destruírem famílias, significam prejuízos quesão omitidos nas Demonstrações anuais de Resultado Consolidado da empresa.No caso da P-36, estes prejuízos representaram cerca de US$ 2,3 bilhões porano, com o petróleo que deixa de ser produzido. Isto sem contar o reflexo nabalança comercial e suas implicações para a economia brasileira.

A insegurança operacional que impera hoje nas unidades da Petrobrás estádiretamente ligada à política de terceirização. A empresa tem hoje cerca de 120mil trabalhadores, dos quais 88 mil são terceirizados (73% da força de trabalho!).

Tão absurdo quanto a terceirização de atividades permanentes, são os contratossem licitação que se alastraram como fogo em pólvora na Petrobrás. Um doscasos mais gritantes é o da empresa de engenharia Marítima, detentora dediversas obras da estatal, inclusive a P-36 que afundou, provocando prejuízosabsurdos para o país e matando 11 trabalhadores. Outros exemplos decontratos sem licitação são as inúmeras firmas de consultoria atuando em áreasestratégicas da Petrobrás.

A serviço de quem está a ANP?

Criada para regular o mercado e defender os interesses dos consumidores, aAgência Nacional de Petróleo (ANP), assim como as demais agênciasreguladoras, vem atuando de uma forma totalmente diversa do previsto.Vendendo áreas petrolíferas descobertas pela Petrobrás a preços irrisórios oudificultando a ação da estatal e das empresas nacionais de distribuição erevenda de derivados de petróleo, a ANP se empenhou em defender osinteresses das empresas transnacionais em detrimento do país. Ao contrário doque ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, onde as agências reguladorasdefendem intransigentemente os legítimos interesses daquela sociedade.

Não restam dúvidas de que a entrega sem restrições do comando da ANP aoentão genro do presidente FHC, David Zilberstazjn, teve o claro propósito de

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acelerar o desmonte do setor petróleo no Brasil, atingindo em cheio a Petrobrás.O modelo aplicado foi o mesmo do programa de privatização: implementarmedidas contrárias aos interesses da população, fragmentá-la e então privatizar.E aí os responsáveis pela entrega das estatais se transformaram mais tarde nosprincipais executivos destas empresas (já privatizadas) ou viraram consultoresde alto padrão, especializados na “venda” de informações estratégicas.

Portanto, é inegável que a proliferação de consultores nos corredores daPetrobrás é também conseqüência da ação da ANP, que, em sua políticaagressiva de abertura do Setor Petróleo, provocou, principalmente durante osleilões de áreas exploratórias, uma desenfreada corrida por informações e dadosestratégicos que foram arrancados da estatal e “vendidos” às operadorasinteressadas.

Além de ter vendido mais de 50 áreas de exploração em leilões internacionaissem a menor análise estratégica do que isto representa para o país, a ANP nãotem cumprido o seu papel de órgão fiscalizador do setor, permitindo a ação dequadrilhas cada vez mais atuantes na adulteração de combustíveis.

3 - PROPOSTAS DA CATEGORIA PETROLEIRA PARA O GOVERNO LULA

3.1 - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SETOR PETRÓLEO

CNPE

Criado pela Lei nº 9478, que regulamentou a quebra do monopólio estatal dopetróleo, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) reuniu-sepouquíssimas vezes e, sobre o planejamento energético do País, nada decidiu.Diretamente subordinado ao presidente da República, o CNPE é integrado porministros e presidido pelo titular do Ministério das Minas e Energia, tendo esseConselho importância fundamental para o setor energético nacional. Assim sefaz necessário reorganizar o CNPE objetivando adequá-lo ao estabelecimentode políticas energéticas integradas visando à racionalização e otimização daoferta de energia de forma a melhor impulsionar a economia do País.

Propomos:

- Tornar o CNPE uma realidade que elimine as distorções atuais onde a ANPatua livre em todas as frentes como se não existissem políticas nacionais para osegmento;

- Desenvolver planos com a participação do ministério das Minas e Energia deforma a integrar o setor energético.

ANP

A ANP como órgão regulador precisa estar submetida ao governo, não podegozar da autonomia atual, sob pena de comprometer o projeto central do atualgoverno. É preciso, portanto, reorientar a Agência de acordo com a nova políticade governo para o segmento petróleo, para eliminar o tratamento diferenciado,negativo, até aqui recebido pela Petrobrás.

Faz-se, assim, necessário que a atuação da ANP seja redirecionada no sentidode priorizar suas atribuições como órgão regulador e fiscalizador do setorpetróleo, deixando ao ministério das Minas e Energia a tarefa de planejá-lo,

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organizá-lo e coordená-lo dentro das diretrizes maiores do universo energéticonacional.

Propomos ainda:

- Rever os critérios adotados pela ANP quanto ao transporte dutoviário emarítimo, com vistas a incentivar novos investimentos no setor e a evitar que opatrimônio da Petrobrás seja compartilhado com outras companhias de formapredatória para a mesma;

- Que a ANP tenha competência para definir política de preço, sem alinhamentodireto com o mercado internacional. Os preços do mercado internacional devemintegrar a composição, não podem ser o elemento definidor. É justo que opetróleo nacional seja remunerado pelo custo real, mais taxas, impostos emargem de lucros razoáveis para os produtores. Não o preço de mercadointernacional;

- Qualidade dos combustíveis vendidos nos postos - Este é um papel da ANP.Sabemos claramente que a qualidade está associada a preços. E estáamplamente divulgado que existem verdadeira quadrilhas especializadas emfraudar combustíveis no Brasil. Então é preciso uma ação combinada entre aPolícia Federal - reprimindo o comércio de produtos adulterados - e da ANP,implementando uma fiscalização efetiva. Para isto será também necessáriodesenvolver e popularizar métodos de análises rápidos, cujos aparelhosnecessários fiquem disponível para os interessados nos próprios postos deserviços;

- Que a ANP, juntamente com outros órgãos federais, fiscalize a aplicação dosrecursos de royalties destinados aos estados e municípios de forma a garantir asua aplicação, conforme determina a legislação. Ou seja, por lei, os recursos dosroyalties devem ser aplicados exc lusivamente em energia, pavimentação derodovias, abastecimento e tratamento de água, irrigação, proteção ao meioambiente e em saneamento básico;

- Que a ANP, Juntamente com o Ministério do Trabalho efetive um maiorcontrole sobre a mão-de-obra estrangeira e nacional irregularmente atuando naBacia de Campos e nas demais áreas marítimas, descumprindo livremente asleis trabalhistas brasileiras.

! ÁREAS EXPLORATÓRIAS

A venda de áreas potenciais produtoras para empresa estrangeiras, teria que teruma análise profunda por parte dos representantes do povo. A ANP vendeumais de 50 áreas em leilão internacional sem a menor análise estratégica do queisto representa para o País. Considerando-se que o artigo 26 da Lei 9478 dá apropriedade do petróleo produzido a quem produzir, esta análise se tornaassunto de Segurança Nacional.

Considerando-se que as reservas de petróleo são finitas, entende-se vital oestabelecimento de políticas visando ao alongamento das reservas dehidrocarbonetos no território nacional, em mãos da Petrobrás. Neste sentido, éimportante, também, a implementação de estudos objetivando a reformulaçãodas políticas de transporte e de geração de energia elétrica.

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Propomos ainda:

- Atender à Constituição Federal, suspendendo a participação da Petrobrás esuas subsidiárias em novos consórcios com empresas nacionais ou estrangeirase rever as associações já efetivadas para expansão das suas atividades,reunindo tecnologias e ampliando investimentos aplicados à indústria dopetróleo;

- Bloquear as ações e medidas consideradas danosas aos interesses nacionaisem andamento (retalhamento de blocos), rever a política de concessão e abrirum amplo debate com os vários segmentos da sociedade, no sentido de revisara atual lei do petróleo;

- Paralisar os processos de licitação de novas áreas de concessão exploratória,para rever e adequá-las às novas políticas do setor a serem definidas no novogoverno pelo CNPE;

- Uniformizar e tornar realistas os prazos dados à Petrobrás para os programasexploratórios e início de produção das concessões.

" LEGISLAÇÃO

É necessária uma revisão urgente das regras de transportes dutoviário emarítimo, de forma a evitar que o patrimônio da PETROBRÁS possa, atravésdas práticas de compartilhamento, ser, ainda que parcialmente, repassado paraempresas privadas. Não menos importante, é a manutenção do controle do setorpetróleo em mãos exclusivamente de brasileiros, seja através do estado (a sermantido como controlador acionário), como de acionistas, pessoas físicas oujurídicas, essencialmente brasileiras.

O artigo 26 dá “à concessionária que produzir o petróleo a propriedade dele”,contrariando o artigo 177 da Constituição. O artigo 60 permite que esseproprietário exporte o petróleo que produzir - nossas reservas (provadas,prováveis e possíveis), que montam a 19 bilhões de barris e poderiam durar 40anos, podem acabar em menos de 10 anos. O artigo 64 é o que permite àPetrobrás a criação de subsidiárias, sem autorização do Congresso Nacional, ea associação dessas subsidiárias com empresas privadas, contrariando o artigo37, incisos XIX e XX da Constituição.

Propomos, portanto:

- Restabelecer o monopólio estatal do petróleo;

- Revisão dos artigos 26, 60 e 64 da Lei 9478/97 (lei do petróleo);

- Eliminar as barreiras e entraves da legislação que impedem a Petrobrás deoxigenar o quadro de empregados;

- Regulamentar a atuação de mão-de-obra estrangeira no setor sobretudo nasáreas marítimas;

- Implementação de uma legislação específica para o trabalho offshore, cujaregulamentação deve ser amplamente debatida com as entidadesrepresentativas dos trabalhadores O ponto de partida para este debate deveser o projeto do Dep. Inácio Arruda (PCdoB-CE) em tramitação no CongressoNacional.

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# POLÍTICA DE PREÇOS

Os preços dos derivados de petróleo, sabidamente têm um enorme impacto emtoda a cadeia produtiva de qualquer país. O alinhamento do valor dos derivadosàs flutuações do preço do óleo no mercado internacional é questionável diantedo fato do Brasil estar produzindo aqui cerca de 85% das suas necessidades.Com essa política e com a estrutura de preços de derivados praticada no Brasil,quem menos ganha é a Petrobrás, que na sua atividade de refino apresenta umadas menores margens do mundo. Quem ganha é o segmento de distribuição,que apresenta as maiores margens do planeta. E com essa política, aPetrobrás deixa de cumprir o seu papel social de incentivar o desenvolvimentonacional, favorecendo ao aumento da inflação com aumentos de preços.

Propomos:

- A retomada de uma política que vise “abastecer o País aos menores custospara a sociedade”, reformulando-se as estruturas de preços de derivados depetróleo, de forma a tornar justa a remuneração de cada segmento, privilegiandoo incentivo aos investimentos, em lugar dos lucros não dirigidos à sociedadecomo um todo;

- Definir uma política tarifária de importação, exportação e refino que privilegie oPaís e sua população, com derivados não alinhados com preços internacionais,e que permita à Petrobrás manter-se no mercado como empresa competitivanacional e internacionalmente.

# POLÍTICA TRIBUTÁRIA

Um dos pontos importantes a destacar é a absoluta conveniência depadronização do ICMS, cuja alíquota sofre, de estado para estado da federação,variações de até 60%, gerando movimentações fictícias de produtos a fim depermitir sonegações milionárias. Ainda sobre o ICMS, oportuna se faz umamudança da cobrança quanto ao local determinante do fato gerador do tributo,pois o petróleo é único produto taxado no estado de consumo e não onde éproduzido. Faz-se necessário destacar que os royalties sobre o petróleo devemser cuidadosamente analisados. Se por um lado, constituem valiosíssima fontede receita para municípios e estados, por outro, são indesejáveis para empresastransnacionais que receberam concessões em águas profundas.

Portanto, propomos que o Governo:

- Incentive a unificação em todo o território nacional das alíquotas de ICMS paratodos os tipos de derivados energéticos;

- Destine parcela da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE)para financiar o subsídio a derivados de interesse social, e servir comoamortecedor das flutuações de preços do petróleo e de seus derivados nomercado internacional;

- Subsidie o botijão de 13 Kg do gás de cozinha (Gás Liquefeito de Petróleo)para famílias de estratos de renda mais baixos, tendo como base a suaparticipação nos gastos com alimentação dessas famílias, segundo dados doICV/DIEESE;

- Formule, ouvindo os segmentos da sociedade organizada, uma política deinvestimentos em pesquisa e desenvolvimento como forma de integrarexpressivos contingentes da população brasileira ao mercado. Para isso, deverá

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ser democratizada a aplicação de recursos provenientes dos royalties para apesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico aplicado ao segmento depetróleo.

$ DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA NACIONAL

O Setor Petróleo será indutor do desenvolvimento industrial e gerador decapacidade tecnológica e empregos para alcançar as metas sociais e ambientaisdo novo governo.

A atividade de petróleo deve ser desenvolvida de forma a dotar o país de auto-suficiência, e de alavancar o desenvolvimento da economia, valorizando aengenharia nacional e a tecnologia. Nesse sentido, é necessário garantir queos serviços, as contratações e compras da Petrobrás e das demais empresasque estejam operando no Brasil sejam feitas prioritariamente, no país. No casoda Petrobrás, a estatal deverá priorizar a compra de produtos e contratação deserviços no mercado nacional, estimulando a produção dos nossos estaleiros,das empresas de engenharia e dos fabricantes nacionais, além de incentivar acontratação e a qualificação da mão-de-obra local.

O novo governo deve também propiciar condições e estabelecer diretrizespolíticas que visem, não só ao desenvolvimento de alianças entre companhiasestatais de petróleo, com ênfase nas latino-americanas, como também àintegração energética no Mercosul e na América Latina como um todo,necessária ao enfrentamento dos desafios internacionais e, em particular, daALCA.

$ PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

- Que o Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e dos órgãos estaduaisdo Setor procedam de forma mais rigorosa na fiscalização, através de auditoriasindependentes, do licenciamento das operações da indústria do petróleo emtodo o território nacional e em especial das operações marítimas, minimizando,assim, o risco de danos ambientais;

- Que a Marinha do Brasil não autorize o deslocamento e a operação deembarcações em áreas de Exploração & Produção sem a devida conclusão dasobras de engenharia que possam comprometer sua navegabilidade e segurançaoperacional;

- Que a ANP, os Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, a Marinhado Brasil, a Petrobrás e as demais empresas e órgãos do Setor aumentem atransparência e a participação da sociedade na elaboração e fiscalização deseus orçamentos;

- Que o Congresso Nacional e a ANP adotem critérios de sustentabilidadeecológica/ambiental para a distribuição e uso dos recursos oriundos dos royaltiesdo petróleo;

- Que a ANP cumpra com seu papel de acordo com § 1º do artigo 53 da Lei9478/97: “A ANP estabelecerá os requisitos técnicos, econômicos e jurídicos aserem atendidos pelos proponentes e as exigências de projeto quanto àproteção ambiental e à segurança industrial e das populações”;

- Que não sejam autorizadas atividades da indústria de petróleo em instalaçõesque coloquem em risco o meio ambiente, a segurança dos trabalhadores e das

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comunidades, estabelecendo procedimentos efetivos para o cumprimento dosincisos V, VII e IX, Seção I, Capítulo IV da Lei 9.478/97, que tratam daautorização e fiscalização das atividades no setor e da preservação do meioambiente.

% FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA

O posicionamento geográfico do Brasil propicia uma inigualável incidência deradiação solar e sua imensa costa bem como as regiões de planaltos favorecemuma ventilação quase que constante. Essas condições aliadas a boadisponibilidade de água em quase todo o território nacional, potencializam emnosso país uma grande diversidade de fontes renováveis de energia.

O Proálcool viabilizado na década de 70 com apoio tecnológico da Petrobrás(em infraestrutura e tecnologia sobretudo) apesar de todos seus problemas,tornou-se hoje no maior programa mundial de substituição de energia líquidafóssil por renovável. E essa nossa tecnologia vem sendo exportada, juntamentecom equipamentos, para vários paises.

O potencial eólico do Brasil, se devidamente explorado, poderá prover deenergia limpa, bem distribuída e a custos razoáveis uma boa extensão doterritório nacional, substituindo, a médio prazo, o consumo de energia fóssil.Estima-se que o potencial a ser explorado equivale a, pelo menos, 10 usinas deItaipu. Para que se possa realizar programas com esta finalidade, fazem-senecessárias algumas providências, como financiamento do BNDES e o apoiotecnológico de centros de pesquisas nacionais como o CEPEL (da Eletrobrás) eCENPES (da Petrobrás).

O óleo diesel pode ser substituído por biodiesel. Vários países europeus estãocom programas avançados de produção de biodiesel para mistura ao diesel dopetróleo e/ou para uso puro. O Brasil possui enorme potencial agrícola deprodução de oleoginosas que poderão ser utilizadas na produção de biodísel(mamona, soja, coco de dendê, etc.). Seu cultivo para este fim teria grandeimpacto na geração de empregos agrícolas, em agroindústrias e na valorizaçãode um produto que hoje é exportado ”ïn natura”.

Um programa de produção de biodiesel - a exemplo do que foi o Proálcool -poderia, a curto prazo, ajudar a resolver a dependência do Brasil de importaçãode diesel. Tal programa deveria envolver uma ação coordenada entreUniversidades (tecnologia industrial), a Embrapa (tecnologia agrícola), aPetrobrás (tecnologia de combustíveis, tecnologia industrial, recursos einfraestrutura) e a indústria nacional (fabricantes de equipamentos).

Outra alternativa, tanto para substituição do uso de diesel, como de GLP, é aampliação do uso de Gás Natural. É bem verdade que o Gás Natural já vemsubstituindo o gás de rua em grandes cidades, mas é necessário aumentar asredes de distribuição a fim de ampliar a substituição do GLP.

Por outro lado, o uso de GNV está se ampliando principalmente em substituiçãoà gasolina. É necessário que o governo intervenha no sentido de viabilizar seuuso em substituição ao diesel. Isto traria enormes ganhos ambientais nosgrandes centros urbanos, bem como econômicos, na medida em que podereduzir a importação deste derivado.

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Propomos, também:

- Reestudo das políticas de produção e consumo do gás natural adequando-asàs diretrizes da política energética nacional, objetivando a redução dos impactosambientais de queima de combustíveis fósseis;

- Reanalisar o gasoduto Brasil-Bolívia, bem como o contrato de fornecimentodaquele produto a partir da Bolívia, altamente lesivo aos interesses nacionais;

- Elaborar um programa nacional que busque o aproveitamento de fontes deenergia renováveis, tais como a solar, a eólica e o biodíesel, considerando que oBrasil é, talvez, o país mais favorecido em todo o mundo para o aproveitamentode tais fontes.

3.2 - A PETROBRÁS QUE O BRASIL PRECISA

& O PAPEL DA ESTATAL

A Petrobrás deve atuar como uma empresa Integrada em toda a sua cadeiaprodutiva: exploração, produção, transporte, refino, importação/exportação,distribuição e petroquímica. Uma empresa ágil, rentável, competitiva e cidadã,ou seja, que respeita o meio ambiente, os direitos trabalhistas, e possui umimportante papel social. Uma empresa que deve atuar como instrumentoestratégico de aplicação das políticas energéticas nacionais, definidas peloCNPE, preservando, portanto, a soberania nacional. É imperativo que esta novaPetrobrás seja um instrumento do desenvolvimento nacional, que garanta oabastecimento em todo o país e que priorize a contratação de empresasbrasileiras, gerando empregos e implementando a inclusão social. Para isso énecessário que a aquisição de materiais, equipamentos e serviços seja feita,preferencialmente, no Brasil. É também papel da Petrobrás fomentar odesenvolvimento científico e tecnológico do país, inclusive o desenvolvimento daengenharia nacional.

Mas para atingir os objetivos acima, será necessário o resgate de valoresfundamentais, como a democracia nas relações de trabalho, a transparênciagerencial em todos os níveis, a ética nas relações internas e externas. Éessencial, portanto, democratizar e também “desprivatizar” a empresa para queela possa desempenhar o seu papel constitucional e político de servir àpopulação brasileira.

& RESPONSABILIDADE SOCIAL

A Petrobrás que o Brasil precisa deve atuar em todas as esferas públicas comresponsabilidade social. Por isso, propomos que a empresa, por exemplo,coloque à disposição de outros órgãos do governo federal a sua tecnologia,infra-estrutura e recursos humanos de forma a, por exemplo, contribuir para asolução da questão da água no Nordeste e em quaisquer outras regiões de secano país. Nesse sentido, a estatal pode, por exemplo, associar-se a AgênciaNacional de Águas (ANA) e disponibilizar a sua estrutura de perfuração de poçose conhecimento geofísico a disposição do país para localizar água e perfurarpoços visando ao combate à seca.

Propomos também que a Petrobrás:

- Invista no resgate e preservação da cultura brasileira, fomentando o florescerde todas as nossas diferenças culturais;

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- Invista em programas sociais ligados ao resgate social das parcelas maisesquecidas no nosso povo, mesclando os investimentos sociais com ofortalecimento das culturas regionais, desenvolvimento esportivo, inclusão socialde portadores de deficiências, de idosos e da mãe-trabalhadora, através dopatrocínio de creches e pré-escolas em todo o Brasil;

- Modifique radicalmente os eixos das campanhas publicitárias das empresas doSistema Petrobrás vinculando tais investimentos aos programas culturais esociais;

- Adote critérios éticos, de transparência e de sustentabilidade ecológica e socialpara o repasse e uso de recursos para ONG’s, em especial os relativos a multase compensações ambientais, bem como os oriundos de Termos de Ajustamentode Conduta (TAC).

' GERAÇÃO DE EMPREGO

A Petrobrás deve retomar a participação na produção e no mercado defertilizantes e insumos agrícolas, como agente estratégico catalisador daprodução nacional nesse setor de forma a contribuir para a redução dos custos de produtos agrícolas que hoje oneram e inviabilizam a produção, principalmentepelos médios e pequenos produtores, quase totalmente dependentes deempresas multinacionais estrangeiras. Desta forma, a empresa estará tambémcontribuindo para a geração de empregos.

Outro setor da economia do país em que a Petrobrás tem condições de fomentara geração de empregos é a indústria naval. A interrupção por alguns anos dosinvestimentos da Frota Nacional de Petroleiros (Fronape, subsidiária que foiincorporada à Transpetro) na modernização e ampliação de sua frota levou opaís a um grande déficit de embarcações. Isto implica em um grande gastoanual de divisas com afretamento de embarcações. O Brasil possuitecnologia, matéria prima e parque industrial para construção naval. E é umsetor altamente indutor de empregos.

É necessário, portanto, uma decisão política de repor a capacidade detransporte marítimo/fluvial que o país precisa e orientar os agentes financiadorespúblicos (BNDES e outros) a negociar prazos e taxas de juros que viabilizem aampliação dos investimentos no setor. Ou seja, é necessá rio que o paísinvista Reais neste setor a fim de economizar Dólares. E, sem dúvidanenhuma, a Petrobrás é a grande indutora destes negócios e pode, ela própria,adiantar recursos.

' A GESTÃO DA PETROBRÁS

É necessário alterarmos o estatuto da Petrobrás para, entre outras coisas,garantir a participação dos trabalhadores nos Conselho de Administração eFiscal, democratizando e tornando transparente a gestão da maior empresa dopaís. Há também que se pensar mudanças em seu modelo de gestão, demaneira a redirecionar o enfoque empresarial da Petrobrás, evitando excessivasubordinação a uma visão financeira voltada para a maximização dos benefíciosde curto prazo aos acionistas. Não é possível desprezar os enfoques de longoprazo que contemplem os interesses dos demais atores interessados nodesempenho da empresa, sejam eles clientes, empregados, governos (federal,estaduais e municipais) e, acima de tudo, a sociedade brasileira como um todo.

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Propomos:

- A imediata substituição dos membros do Conselho de Administração daPetrobrás, cuja totalidade se posiciona em conformidade com interessesdivorciados daqueles voltados para o bem da sociedade brasileira como umtodo;

- Promover a nomeação de um membro do Conselho de Administração deacordo com a escolha dos empregados;

- Prover as vagas do Conselho Fiscal de pessoas absolutamente independentese compromissadas apenas com o patrimônio e os interesses nacionais;

- Rever e implantar um novo código de ética;

- Rever o Plano Estratégico 2010, definido na atual gestão, adequando-o àspolíticas, às prioridades e aos rumos estabelecidos pelo novo governo;

- Rever o modelo de organização que criou mais de 40 Unidades de Negócio,instrumento de uma política de privatização branca da Petrobrás;

- Reincorporação à Petrobrás da Refap S.A, da Transpetro e da BR;

- É importante que se realize um amplo estudo sobre a conveniência deincorporação das demais subsidiárias;

- Primeirizar as atividades fim e reavaliar os processos de certificação, uma vezque as grandes tragédias aconteceram em áreas certificadas;

- Rever a política de contratação de consultoria externa, especialmente notocante aos temas de capital importância para o desenvolvimento da empresa;

- Estabelecer critérios rigorosos no sentindo de restringir ao pessoal interno oacesso e a manipulação de dados confidenciais, principalmente nas questõesligadas a assuntos de soberania nacional;

- Promover a reestruturação dos órgãos de Auditoria Interna de modo aassegurar uma atuação efetiva na melhoria do controle, transparência dosnegócios e no combate à corrupção, com a escolha de novo quadro gerencialque atenda a este perfil de atuação.

( PERFIL DA NOVA DIRETORIA

Indicada pelo Conselho de Administração da Petrobrás, a Diretoria Executiva éresponsável pela Gestão dos negócios da companhia e, portanto, precisa deuma profunda modificação em sua estrutura e dos seus dirigentes. Os novosindicados devem servir à empresa e à sociedade dentro do novo chamamentodo Governo Lula, agregando novos conceitos e diretrizes para uma novacompanhia de petróleo, nacionalista e com profunda comunhão com os legítimosinteresses estratégicos nacionais, aos quais devemos incluir a retomada docrescimento econômico.

A Petrobrás, portanto, deverá Implantar um NOVO PARADIGMA GERENCIAL,com quadros que possuam credibilidade histórica, visão de conjunto dacompanhia e vontade de criar um ambiente de trabalho que possa causar umCHOQUE DE MORALIDADE E ÉTICA. O novo quadro gerencial também deve

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atender a este perfil de atuação, dentro da nova ótica das Empresas Públicas aserviço do Brasil. É fundamental erradicarmos a prática da falta detransparência, nepotismo e do assédio moral, dentre outras que,lamentavelmente, tornaram-se rotina na companhia.

Aliar a excelência técnica dos novos diretores a uma história de vida ilibada eparticipativa na luta pela solidariedade, ,pela defesa do patrimônio público, pelosocial e pela conduta retilínea é uma meta ambiciosa e desejável para o novoperfil destes que vão tomar as rédeas da Petrobrás no Governo Lula.

Breve análise da conduta dos dirigentes da Petrobrás, quanto à po líticade RH nos governo Collor e FHC

Os valores predominantes na estrutura de poder da maior empresa do paísparecem ter sido forjados ainda nos anos da ditadura militar, pouco tendoevoluído desde então, senão no sentido da concentração de poder no corpogerencial e diluição da participação e influência dos órgãos técnicos nastomadas de decisões. Desde o Governo Collor, acentuou-se ainda a falta delealdade e de boa fé negocial nos tratos coletivos institucionais.

Sem exceção alguma, os principais últimos negociadores da empresa primarampela sistemática inobservância para com o pactuado e pelo desrespeito paracom o processo negocial, não raro dedicando aos representantes dostrabalhadores arrogância e desqualificação. São urgentes, portanto, medidas detransformação cultural que contribuam para a concreta realização material dosvalores éticos inscritos no Código editado internamente pela Empresa.

Não basta que a Petrobrás tenha um Código de Ética. É preciso respeitá-lo,tornando concretos, no cotidiano das relações internas, os valores ali inscritos.Esta transformação ética depende de dois fatores fundamentais: ser inseridacomo ponto programático prioritário na agenda da próxima administração daempresa e contar com um perfil, senão correspondente, ao menos compatível,dos próximos Presidente, Diretores e Gerentes-Gerais da Petrobrás.

PRERROGATIVAS GERENCIAIS - Longe de uniformizar um padrão deprocedimentos, a direção atual concentra poderes na figura dos gerentescontribuindo para a desestruturação política interna da empresa. De pouco vale,atualmente, um claro e bem definido sistema hierárquico, onde cada empregado,além de bem conhecer suas atribuições, saiba a quem direcionar esforços quecontribuam para o contínuo aperfeiçoamento do fazer profissional.

A isto se sobrepõe o atual sistema de relações pessoais, que entrega aosgerentes amplas prerrogativas de reconhecimento de méritos ou de exercíciospersecutórios, uns e outros arbitrariamente fundamentados em critérioscrescentemente subjetivos e personalistas. Ao não se modificar este estado decoisas, crescentemente haverá tantas "Petrobrás" quanto forem as gerências.Cada uma com uma prática de relações humanas diferenciadas. Importarepensar, com urgência, a propriedade de se delegar tanto poder às gerências,assim como deve ser revisto o atual sistema de remuneração dos cargosgerenciais.

) POLÍTICA DE RECURSOS HUMANOS

A Petrobrás deverá estabelecer uma nova política de Recursos Humanos, queresgate o respeito, a dignidade e a auto-estima dos trabalhadores. Para isso, énecessário que a nova direção da Petrobrás reconstrua as bases que a tornarama maior empresa nacional, valorizando o seu corpo técnico como detentor egerador de tecnologia, estimulando a cooperação e o trabalho de equipe edemocratizando as oportunidades de ascensão profissional.

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O primeiro passo é acabar com as práticas desagregadoras do modeloindividualista de recursos humanos que tem marcado as últimas gestões daempresa. Exemplos desta política são as diferentes formas de remuneraçãovariável que privilegiam as funções gerenciais em detrimento do restante daequipe e as terríveis discriminações contra os trabalhadores novos, osaposentados e os terceirizados.

A primeirização das atividades permanentes, com substituição gradual da mão-de-obra terceirizada, através da realização de concursos públicos para reposiçãodo efetivo é outra prioridade que deve ser assumida pela nova direção daPetrobrás.

Portanto, propomos:

- Acabar com a concessão de bônus de forma individualizada, a discriminaçãodos aposentados e dos novos empregados, a perseguição de sindicalistas ecipistas e o assédio moral como prática de gestão de RH, dentre outros abusos;

- Reintegração dos demitidos por questões políticas e fim da perseguição aosque não foram demitidos, mas tiveram suas carreiras congeladas e currículosmarcados com punições;

- Admissão dos profissionais aprovados nos concursos públicos realizadospela Petrobrás nos últimos anos;

- Implementação de um cronograma de convocação de novos concursos,visando à reposição de efetivos que garanta a substituição por trabalhadorespróprios de todas as funções em atividades permanentes que estão hojeterceirizadas. Nestes concursos, deverá ser pontuado o fator experiência,visando a aumentar a possibilidade de efetivação dos trabalhadores que jáprestam serviço para a Petrobrás;

- Revisão das normas internas de elogios, premiações, avanços de nível epromoções, para torná-las ferramentas que reforcem e estimulem o trabalhoem equipe. O plano de cargos e salários deve ser parte de uma nova políticade RH que valorize o trabalhador, recuperando o poder aquisitivo dos salários,sem discriminações;

- Revisão dos processos de certificação, buscando garantir resultados concretose não a pura e simples burocratização do trabalho;

- É preciso estabelecer programas constantes de treinamento para todos osníveis, propiciando condições para que os trabalhadores, através de seus órgãosde representação, possam colaborar com o aperfeiçoamento das normas etécnicas que agilizem o funcionamento empresarial, estimulando a cooperação eo trabalho em equipe.

* POLÍTICA DE SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE

É urgente a completa reestruturação do atual modelo de gestão na área deSegurança, Meio Ambiente e Saúde. Os seguidos e graves acidentesprotagonizados pela Petrobrás, com 125 mortes de trabalhadores nos últimosquatro anos, enormes impactos ambientais e prejuízos bilionários para aempresa, por si só já demonstram a falência deste modelo e a necessidade demudanças imediatas. A direção da empresa não pode se ater apenas a sistemaspaliativos de controle, como tratamento de efluentes e monitoramento eletrônicode dutos. Tudo isso é importante, mas o investimento de nada valerá se a

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preocupação com o homem e a sua interação com o trabalho deixar de ser ofoco principal e a diretriz dos programas de segurança industrial, com respeitoao meio ambiente e à qualidade de vida.

Propomos:

- Participação dos representantes dos trabalhadores, através das CIPAS e dasentidades sindicais, nas análises e apurações de acidentes, desde o início dasinvestigações, garantindo, posteriormente, amplo debate sobre os respectivosrelatórios;

- Reposição dos efetivos próprios nas áreas de segurança industrial, operação emanutenção, acabando com a multifunção e a terceirização;

- Implantação de programas constantes de treinamento e reciclagem para todosos trabalhadores do Sistema Petrobrás, inclusive os terceirizados;

- Valorização dos profissionais de segurança industrial, com atenção especialpara as brigadas, que precisam ser recuperadas;

- Incentivo e valorização das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes(CIPAs), garantindo a sua constituição de forma democrática em todas asunidades de terra e de mar da Petrobrás;

- Total transparência e democratização na divulgação de dados técnicos eestatísticos relacionados às questões de Segurança, Meio Ambiente e Saúde;

- Responsabilização dos dirigentes da Petrobrás quanto aos danos ao meioambiente, à segurança e a saúde dos trabalhadores nas mais diversasatividades da empresa;

- Reabertura de todos os inquéritos/comissões, etc., internos e/ou externos, queinvestigaram os acidentes com óbitos no Sistema Petrobrás desde janeiro de1998 até a presente data. Na reabertura, deverão se incorporar ao processoinvestigativo representantes da Petrobrás, um indicado da região onde ocorreu oacidente e representantes da FUP, do Ministério Público e do CongressoNacional;

- Valorização da mão de obra própria da Petrobrás e da engenharia nacional,evitando que sejam feitos no exterior os serviços referentes a projetos,construção e montagem de plataformas de petróleo, como foi o caso da P-36;

- Adoção de novos procedimentos de engenharia, desde a fase de projetos,construção e montagem de qualquer empreendimento, conformerecomendações dos relatórios do CREA-RJ e CREA-PR sobre recentesacidentes ocorridos na Petrobrás;

- Maior rigor nos processos de certificação das unidades operacionais daempresa, valorizando-se a competência dos CREA’s regionais, para se evitarnovos acidentes em unidades certificadas, como foi o caso da REDUC, emjaneiro de 2000, da REPAR, em julho de 2000, e da P-36, em março de 2001;

- Através de medidas de médio prazo, fortalecer os setores de inspeção deequipamentos para atuarem em todas as unidades operacionais e estabeleceruma política agressiva de substituição de peças, componentes e equipamentos,cuja vida útil esteja expirando, de acordo com as previsões dos fabricantes e/oudos órgãos de inspeção de equipamento da própria empresa.

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PARQUE INDUSTRIAL E SERVIÇOS

+ REFINO

- Realizar estudos de viabilidade técnico-econômica e ambiental para determinara quantidade, capacidade e localização de eventuais novas refinarias a seremconstruídas no Brasil. Com eventuais novas refinarias, é preciso ampliar eadequar o parque de refino nacional aos tipos e quantidades de óleos dosnossos campos de produção (petróleos pesados das descobertas recentes),eliminando-se as restrições para crescimento da Petrobrás nesta atividade. Valedestacar que as refinarias, desde o início de seu planejamento, são grandesgeradoras de empregos, diretos e indiretos numa ampla cadeia produtiva;

- Avaliação técnico-econômica, através do próprio corpo técnico da Petrobrás,sobre a viabilidade de adaptação do parque de refino nacional a fim de otimizara produção de GLP e Diesel, derivados que hoje são importados pelo Brasil.Este caminho poderá se constituir em uma prioridade na eventual construção denovas unidades de refino no País;

- Rever a política de contratação praticada pela Petrobrás no mercado internode derivados de petróleo, outorgando-lhe a flexibilidade necessária à priorizaçãodos interesses nacionais no sentido mais amplo possível.

+ EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

Na área de exploração de petróleo, antes da quebra do monopólio, cabia àPetrobrás a tarefa de inventariar o potencial petrolífero do Brasil e produzirhidrocarbonetos e seus derivados com menores custos. Sob a égide dacompetição com companhias privadas, o que se viu foi a estatal brasileira, aexemplo das demais empresas do setor, concentrar esforços exploratórios emáreas de menor risco, buscando auferir lucros em escala crescente. O resultadofoi o completo abandono do processo exploratório em vastas áreassedimentares brasileiras, que até 1995 eram, no mínimo, alvos secundários depesquisa da Petrobrás.

O risco de exploração de petróleo no Brasil é de fato elevado, mas ainda temosmuito óleo a descobrir. A Petrobrás deve exercer o seu papel de braço do estadona captação de investimentos em áreas de exploração, nos moldes do que érealizado pelas estatais venezuelana (PDVSA) e norueguesa (STATOIL). Aadoção desse modelo, aliado a prazos adequados para o desenvolvimento deprojetos exploratórios e uma carga fiscal que estimule o investimento de risco eas encomendas de serviços e equipamentos no Brasil, permitirá que a Petrobrásvolte a explorar áreas de nossas bacias sedimentares que vêm sendodescartadas atualmente.

+ DUTOS E TERMINAIS

- Promover a construção dos gasodutos Coari-Manaus e Coari-Porto Velho. Oprimeiro porque propiciaria sensível queda no custo de transporte de gás naturalde Urucu para Manaus, favorecendo a criação de novo pólo petroquímico bemcomo geração de energia elétrica atualmente obtida com o consumo de óleodiesel. O gasoduto reduzirá também o tráfego de barcaças no Rio Solimões, oque é causa de grande número de acidentes. O segundo eliminaria osproblemas de geração de energia elétrica em Rondônia a partir de diesel, alémde criar condições para o desenvolvimento de parque industrial com a criação degrande quantidade de empregos;

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- Reavaliar o projeto do Gasoduto Brasil-Bolívia, com vistas a ajustá-lo aosinteresses do povo brasileiro e do povo boliviano, considerando que o Brasil seconstitui no único mercado para a grande massa de gás existente na Bolívia.

, DISTRIBUIÇÃO

Grande parte dos produtos obtidos pela Petrobrás em suas refinarias érepassada para empresas distribuidoras, a maioria delas gigantes multinacionaisque revendem esses produtos aos consumidores finais, com imensas margensde lucro e sem risco.

A BR Distribuidora precisa ampliar sua participação no mercado decombustíveis, inclusive de GLP e GNV, desenvolvendo uma política maisagressiva de disputa de mercado. Isso pode ser feito, por exemplo, através daampliação de sua rede de postos e de uma política de preços que reduza suasmargens de lucro, beneficiando o consumidor final.

Hoje a população paga pelo GLP quase três vezes o preço que a Petrobrásvende para as distribuidoras. A BR deve entrar nesse mercado, contribuindopara a redução dos preços finais e aumentando a lucratividade da Petrobrás.

, PETROQUÍMICA

Para as empresas do setor petróleo, a participação em indústrias que utilizamderivados como matéria prima é uma forma de agregar valor a seus produtos,aumentando, portanto, suas rentabilidades. A Petrobrás, no entanto, a partir dogoverno Collor, foi praticamente afastada do setor petroquímico. Hoje, suaparticipação neste setor se dá por dois caminhos: através da Petroquisa,responsável pela associação da estatal com várias empresas petroquímicas, epor meio de uma outra estrutura, funcionado como área de negócios, queanalisa a participação da Petrobrás em empreendimentos do setor, como o póloGás Químico de Duque de Caxias. A futura direção da estatal precisa, portanto,unificar essas duas estruturas numa só e estudar formas de aumentar aparticipação da Petrobrás neste setor da cadeia produtiva como forma devalorizar seus próprios produtos.

A Petrobrás deverá voltar a investir no setor petroquímico e químico comoempresa integrada em toda a cadeia produtiva do setor petróleo, inclusiveatravés da implantação de um Centro de Pesquisas da Petroquisa

, PESQUISA

A Petrobrás deverá fortalecer o seu domínio tecnológico, valorizando o seuCentro de Pesquisas (CENPES), sobretudo os serviços de engenharia eproteção à propriedade intelectual, hoje bastante esvaziados. Neste sentido, aPetrobrás deve redefinir as verbas para investimentos em estudos e pesquisas,retomando a política de formação, especialização e valorização de seuscientistas. A estatal pode também desenvolver parcerias com as universidades edemais empresas brasileiras.

, ENGENHARIA

O modelo de gestão implantado por FHC na empresa conseguiu desmantelar oseu acervo tecnológico nas áreas de Exploração, Perfuração, Produção eEngenharia. Tal processo deu-se a partir de mudança discutível na estruturaorganizacional da Petrobrás, através da extinção de órgãos chaves, como o

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Serviço de Engenharia, e do deslocamento de engenheiros e especialistas parafunções meramente burocráticas, sem nenhuma correlação com sua formaçãoprofissional. Considerando como fundamental que uma empresa como aPetrobrás precisa dominar a tecnologia de petróleo de ponta a ponta, através deseus órgãos competentes, é necessária a revitalização urgente dodesenvolvimento tecnológico, resgatando, assim, o que consideramos um dosmaiores acervos da nossa estatal.

Propomos que a Petrobrás implante de imediato um novo modelo de gestão quevalorize a nossa mão-de-obra e a Engenharia Nacional, evitando que sejamfeitos no exterior os serviços referentes a projetos, construção e montagem deplataformas de petróleo, como foi o caso da P-36.

- MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

Urge a formulação de mecanismos que assegurem maior transparência nacontratação de serviços e materiais, ponto sensível no contato entre a Petrobráse a comunidade, sobre o qual incessantemente circulam maus rumores. Ocompromisso de uma nova administração com este ponto se tornaria claro commedidas imediatas, tais como a realização de auditorias específicas, em algunssetores e contratos, cujas práticas questionáveis foram denunciados pelasentidades sindicais às duas últimas administrações da empresa, e sobre osquais nenhuma providência foi tomada.

Além disso, deve-se priorizar a compra de produtos e contratação de serviçosem empresas genuinamente brasileiras, especialmente nas áreas da construçãonaval e engenharia de petróleo, desde a construção de refinarias à fabricação depeças e equipamentos, de forma a restabelecer o desenvolvimento outroraalcançado, quando o Brasil chegou a contar com cerca de 5 mil empresas dosramos citados e que atualmente estão reduzidas a um pequeno número.

- TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO

Produtos e Serviços - O foco de ação da Tecnologia de Informação (TI) seconcentra no atendimento das áreas relativas à Alta Administração, à ÁreaCorporativa, ao E&P (Exploração e Produção), ao ABAST (Abastecimento), àárea de Serviços (Materiais, P&D-CENPES, SMS – Segurança, Meio Ambiente eSaúde, Engenharia e Serviços Compartilhados), à área internacional (Braspetro,Planejamento e Serviços Internacionais, E&P Internacional, Gás, Energia eEngenharia Internacional), à área financeira (Petros, Contabilidade,Financiamento de Projetos, Administração Tributária, Finanças Corporativas eTesouraria, Relacionamento com Investidores e Planejamento Financeiro eGestão de Riscos).

Para um futuro próximo, há demanda de integração do projeto SINERGIA àestrutura da TI corporativa e à implantação do conceito da Apropriação do CustoTotal. O projeto SINERGIA tem como objetivo a implantação de um SistemaIntegrado de Gestão Empresarial (SAP) no Sistema Petrobrás. O esforço SAPfoi iniciado em junho de 1998, com a proximidade de sua implantação e ademanda crescente de integração com as aplicações existentes, o projetoSINERGIA deverá ser incorporado à TI corporativa. Percebe-se a necessidadepremente de reavaliação de quais módulos realmente são necessários para aPetrobrás melhorar o cumprimento de sua missão.

A Apropriação do Custo Total é um conceito que compreende um amploconjunto de Metodologias, modelos e ferramentas nos quais estão incluídas asgestões de investimentos, recursos humanos e materiais em TI. A implantaçãodeste conceito na TI corporativa significa que a área terá disponível o custo totalde se possuir um item de informática durante um determinado período. O uso

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deste conceito permitirá que se busque a otimização dos processos e uso dosrecursos de TI, contribuindo para a redução dos custos corporativos.

De forma a atender ao desafio de entregar produtos de maior qualidade e maiseficazes, a área de TI vem investindo na mudança de seus processosoperacionais de desenvolvimento de software, demandando forte mudançacultural. A mudança cultural está diretamente associada ao envolvimento doscolaboradores Petrobrás, seu treinamento, sua capacitação e comprometimentono uso dos processos para viabilizar as metas estabelecidas e o sucesso da TI.

O crescente desenvolvimento tecnológico do mercado demanda agilidade daárea de TI na absorção de novas tecnologias. Fato que reforça a necessidade doaprimoramento contínuo da TI naquilo que são suas ferramentas e instrumentosde trabalho, sendo esta a maneira de garantir à Petrobrás o uso de tecnologiasmodernas e a sua diferenciação no contexto da companhia.

Ao mesmo tempo em que o foco na tecnologia é mantido, a aproximação e oentendimento dos órgãos precisa ser aprimorado, assegurando o uso“inteligente” da TI com os esforços focados nas aplicações que realmenteagreguem valor a empresa.

Segurança nas informações (Sap) - Sabemos que o SAP foi caro e que tem umagrande capacidade. Só não sabemos quais as garantias de inviolabilidade dasinformações guardadas e/ou que transitarem por ele. Como é um sistema queainda está em implantação, merece uma verdadeira auditoria por parte detécnicos de absoluta confiança da nova direção da Petrobrás. O resultado destaauditoria será o ponto de partida para se reavaliar se cabe manter estesistema....

Propomos ainda que a Petrobrás reavalie a sua Política de Informática,estudando a viabilidade de implantação do “Software Livre” (Projeto GNU –Linux) para toda a área de Tecnologia de Informação, com o objetivo de alcançarmais liberdade de soluções internas, mais segurança dos sistemas e umadrástica redução de custos.

A Petrobrás pode também contribuir com os demais órgãos do estado,compartilhando informações sobre, por exemplo, Segurança, Meio Ambiente,Saúde, Gestão, entre outras.

. COMÉRCIO NACIONAL E INTERNACIONAL

Estudar a reativação da Interbrás, que ao longo de sua existência (até 1990,quando foi extinta pelo Governo Collor) funcionou como uma “trading”competente. Usando o poder de barganha da Petrobrás como o maiorcomprador individual do planeta, ela conseguiu abrir o mercado mundial paraprodutos brasileiros. Com isto, , tornando-se a maior exportadora nacional,gerando milhares de empregos, crescimento do parque industrial e aumento dearrecadação tributária, sem necessidade de elevação de alíquotas.

Faz-se necessário destacar que o Supremo Tribunal da Justiça concedeu aostrabalhadores da Interbrás o direito à anistia, determinando ao Ministério dasMinas e Energia e à direção da Petrobrás que efetue a readmissão destesprofissionais. Este fato vem sendo estudado pelo departamento jurídico daestatal, e a viabilidade da reintegração sendo discutida através de uma comissãoformada por representantes dos anistiados, da FUP e da Petrobrás.

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4 - PARTICIPAÇÃO DOS PETROLEIROS NAS MUDANÇAS PROPOSTAS

Apesar dos petroleiros terem apoiado o representante do Partido dosTrabalhadores para presidente do Brasil, a relação da categoria com a diretoriada Petrobrás deverá continuar sendo marcada pela independência. Deverá seruma relação ética, o mais democrática e transparente possível, inclusive, comtransmissão para todos os trabalhadores das reuniões de negociação dascampanhas reivindicatórias, via TV executiva.

A nova diretoria da empresa deverá buscar a iniciativa e persistência nanegociação e diálogo com os sindicatos, garantindo a participação obrigatóriados representantes dos trabalhadores nas CIPAS, comissões de investigação deacidentes, auditorias, revisões de diretrizes e normas, entre outros fórunscorporativos da empresa.

Além disso, os petroleiros, neste seminário, decidiram manter fóruns regionaisde discussão de propostas e avaliação da política do governo Lula para o SetorPetróleo. Da mesma forma, no início do próximo ano, outro seminário nacionalserá realizado com os mesmos objetivos.

Por fim, no Seminário a categoria reafirmou que seu interlocutor com o governoLula deverá ser a FUP.

Propomos, portanto:

- Que o novo governo ouça a FUP como representante do movimento sindicalpetroleiro antes de nomear os novos dirigentes para o setor Petróleo. Da mesmaforma, que a direção da Petrobrás ouça os dirigentes sindicais das unidades daempresa antes de efetuar a indicação dos novos gerentes.

- Visando a resgatar a imagem da Petrobrás, abalada durante administraçõesneoliberais, é altamente conveniente que se promova permanentementediscussão com a sociedade e com os trabalhadores.

Rio de Janeiro, dezembro de 2002

Federação Única dos PetroleirosDireção Colegiada