8
Este suplemento faz parte integrante da edição n.º 953 deste jornal e não pode ser vendido separadamente SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE O MIRANTE Gosta de estar na linha da frente para o que der e vier Depois de oito anos na protecção-civil Casimiro Serra passou a “apagar fogos” no sector das feiras e mercados 6 FEIRA DE SANTA IRIA TOMAR 2010 Quem não tem uma história passada na feira, para contar? Corrida de toiros em Tomar com três cavaleiros da região Toda a gente tem histórias passadas na Feira de Santa Iria. O MIRANTE foi ouvir pessoas de diferentes gerações que não deixam morrer um dos acontecimentos mais emblemáticos da cidade 4 O espectáculo marcado para domingo, dia 24, às 16h00, na praça de toiros José Salvador e vai ter a presença de Rui Salvador, Ana Batista e o cavaleiro amador João Domingues, natural de Tomar 2 É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita. Os espectáculos musicais com artistas como Quim Barreiros ou Mónica Sintra animam as noites mas quem quer viver o acontecimento tem que dar atenção a pormenores que se sentem mais, do que se vêm. Uma Feira de Santa Iria ao gosto popular de 15 a 24 de Outubro

FEIRA SANTA IRIA TOMAR

Embed Size (px)

DESCRIPTION

SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR | 1 É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita. É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita. Os espectáculos musicais com artistas como Quim Barreiros ou Mónica Sintra animam as noites mas quem quer viver o acontecimento tem que dar atenção a pormenores que se sentem mais, do que se vêm.

Citation preview

Page 1: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

O MIRANTE | 14 Outubro 2010 ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR | 1

Este suplemento faz parte integrante da edição n.º 953 deste jornal e não pode ser vendido separadamenteSEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE

O MIRANTE

Gosta de estar na linha da frente para o que der e vierDepois de oito anos na protecção-civil Casimiro Serra passou a “apagar fogos” no sector das feiras e mercados 6

FEIRA DE SANTA IRIA TOMAR 2010

Quem não tem uma história passada na feira, para contar?

Corrida de toiros em Tomar com três cavaleiros da região

Toda a gente tem histórias passadas na Feira de Santa Iria. O MIRANTE foi ouvir pessoas de diferentes gerações que não deixam morrer um dos acontecimentos mais emblemáticos da cidade 4

O espectáculo marcado para domingo, dia 24, às 16h00, na praça de toiros José Salvador e vai ter a presença de Rui Salvador, Ana Batista e o cavaleiro amador João Domingues, natural de Tomar 2

É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita. Os espectáculos musicais com artistas como Quim Barreiros ou Mónica Sintra animam as noites mas quem quer viver o acontecimento tem que dar atenção a pormenores que se sentem mais, do que se vêm.

É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita.

Uma Feira de Santa Iria ao gosto popular de 15 a 24 de Outubro

Page 2: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

14 Outubro 2010 | O MIRANTE2 | ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR

Corrida de toiros em Tomar com três cavaleiros da região

O cavaleiro Rui Salvador, que nasceu em Lisboa mas que se apresenta sempre como sendo de Tomar, é um dos cinco toureiros que vai actuar na corrida de toiros integrada na Feira de Santa Iria, em Tomar. Da região participa também a cavaleira de Salvaterra de Magos, Ana Batista, que está a recuperar de uma le-são num pé durante uma corrida no Re-dondo no dia 5 de Outubro. Completam o cartel os cavaleiros Gilberto Filipe, Filipe Gonçalves (o primeiro cavaleiro de alter-nativa do Algarve) e Carlos Manuel.

O espectáculo marcado para domin-go, dia 24, às 16h00, na praça de toiros José Salvador, integra ainda o cavaleiro amador João Domingues, que é natural de Tomar e que se iniciou no mundo dos toiros na época de 2007. Além de um car-tel que promete muita emoção, há ainda o atractivo de ter preços populares, a partir de dez euros.

Vão ser lidados seis toiros da ganadaria Jorge Mendes e as pe-gas estão a cargo dos grupos de forcados, os Amadores de Tomar fundados 1957 e capi-taneado por Carlos Al-berto, e Amadores da

Chamusca, cujo cabo é Nuno Marques. Curiosamente o grupo da Chamusca ac-tuou pela primeira vez numa corrida de toiros na praça de Tomar em 1974.

No site dos Amadores da Chamusca na internet conta-se até um episódio interessante. O então empresário da praça de Tomar, Manuel Faia, convida o cabo fundador do grupo, António Te-mótio, para uma corrida na praça, mas havia um problema. É que as jaquetas dos forcados ainda não estavam feitas. Valeu então a ajuda de Carlos Santos "Pemincelina" que em tempo recorde as cortou e confeccionou para que no dia 13 de Julho o grupo tivesse a sua primeira grande prova de galhardia.

Os bilhetes para esta corrida estão à venda a partir do dia 22 na bilheteira da Rua Serpa Pinto (junto à ponte ve-lha) em Tomar e no dia da corrida nas bilheteiras da praça.

foto arquivo O MIRANTE

Já não se vai de propósito à Feira de Santa Iria para comprar provisões pa-ra o Inverno, lonas para a apanha da azeitona ou cobertores ao quilo anun-ciados pelo homem da banha da cobra, mas ainda assim é encarada pela orga-nização como “um momento fulcral do ano”, não só para os tomarenses como para muita gente dos arredores. O cer-tame decorre entre 15 e 24 de Outubro na Várzea Grande, como habitualmen-te. A abertura oficial tem lugar já esta sexta-feira, pelas 17 horas. Não faltam os divertimentos, vendedores e ainda uma exposição de automóveis, motos e tractores. Simultaneamente decore mais uma vez, na Praça da República, junto ao edifício dos Paços do concelho, a Feira das Passas.

Pelo palco principal, improvisado jun-to ao edifício do Tribunal, vão passar muitos nomes da música portuguesa como José Alberto Reis, Pedro Camilo, Romana e Mónica Sintra, que actuam no sábado, 16, a partir das 21h30. Já o popular Quim Barreiros actua na quinta-feira, 21, pelas 21h30. No sábado, 23, actua a dupla brasileira Léo e Leandro. O folclore e os grupos de cantares do concelho animam a feira das passas. A tradição repete-se também no dia 20 de Outubro, dia de Santa Iria, com a pro-cissão onde participam muitas crianças das escolas do concelho. O cortejo cul-mina com o lançamento de pétalas ao

rio. E a propósito, “O dia em que cho-veu pétalas”, é o título de um livro para crianças que narra a lenda, e que vai ser editado pela Associação de Pais da Linhaceira e que será lançado a seguir á procissão, na Casa dos Cubos. As crian-ças, aliás, vão voltar a estar em destaque nesta Feira, com a realização de mais uma exposição de trabalhos escolares que abordam, de forma original, toda a temática de Santa Iria. Este ano, es-ta exposição vai estar patente na Gale-ria do Instituto Politécnico, na Avenida Cândido Madureira.

Uma Feira de Santa Iria ao gosto popular de 15 a 24 de OutubroQuim Barreiros, Mónica Sintra, José Alberto Reis e Romana cantam em Tomar

Page 3: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

O MIRANTE | 14 Outubro 2010 ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR | 3

Page 4: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

14 Outubro 2010 | O MIRANTE4 | ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR

Quem não tem uma história passada na feira, para contar? Toda a gente tem histórias passadas na feira de Santa Iria para contar. E há muitas outras histórias à espera de quem ali vai ano após ano. A Feira é um espaço de liberdade e aventura num tempo em que é tudo programado e são poucas as oportunidades de viver aventuras

inesperadas e, por isso mesmo, inesquecíveis. As que se seguem foram-nos contadas por pessoas na casa dos 30, dos 40, dos 50 e dos 60. Gerações e gerações de naturais de Tomar que não deixam morrer um dos mais emblemáticos acontecimentos da cidade.

João Patrício, 55 anos, professor e contador de estórias

“Apanhado com um macaco do circo ao ombro a contar histórias”

João Patrício chegou a Tomar no início da década de 70, para estudar e trabalhar no Colégio de Nun’Álvares (CNA). Durante o período da Feira de Santa Iria, os alunos do Colégio tinham

direito a umas saídas suplementares. Teria 15 anos quando chegou a sua vez. Até então conhecia a feira apenas das descrições feitas pelo pai, quan-do este por ali passava integrado nos “ranchos” da apanha de azeitona, vin-dos de Ansião nos idos anos 50. “ Foi um deslumbramento a minha primeira ida à feira embora estivesse preocu-pado em arranjar dinheiro para tantas solicitações”, conta recordando que era este o seu pensamento enquanto rondava os animais do circo. Foi numa altura dessas que uma macaca lhe su-biu para o ombro e tratou de lhe rou-bar uns amendoins “que guardava na mão como um tesouro”. Foi aí que teve uma ideia e foi para o meio da multidão, de boné na mão e macaco ao ombro a contar “estórias” maravilhosas do ani-mal que o adoptou como seu dono e senhor. As moedas foram muitas mas, a “brincadeira”acabou mal uma vez que alguém terá informado o dono do Circo. “Só de lá saí acompanhado pelo sau-doso Perfeito Curinhas, que me levou de volta para o colégio”, conta. O pior ainda estava para vir. “Não pude voltar a visitar a feira e não fui autorizado a sair mais nenhuma vez nesse longínquo ano de 1971”, recorda.

“O dinheiro para a feira que só chegava para os primeiros dias”

Em criança, Silvino Henriques confes-sa que aguardava todos os anos com al-guma ansiedade pela chegada da Feira de Santa Iria a Tomar, especialmente para andar nos carrosséis. “Na altura os meus pais davam-me sempre o equiva-lente a 20 euros, para gastar durante os quinze dias que durava a feira”, recor-da. Passada uma semana já o “crédito” tinha esgotado e começavam então as sessões de sensibilização dos pais pa-ra um suplemento ao subsídio inicial. E muitas vezes eles iam na cantiga, conta a sorrir. Actualmente faz questão de ir à feira com os fi lhos. “É divertido e en-graçado ver as crianças a divertirem-se como nós um dia já o fi zemos. E a feira

das passas também é muito importante para o comércio da cidade”, diz o em-presário que abriu há seis meses uma “Boutique de carnes e peixes” perto do centro histórico de Tomar.

Silvino Henriques, 41 anos, comerciante

António Rodrigues, 65 anos, presidente Junta Freguesia Santa Maria dos Olivais

O ano em que os alunos do Nun’Álvares destruíram um carrossel

Aos 65 anos, António Rodrigues, actual presidente da Junta de Freguesia de San-ta Maria dos Olivais, recorda que quando era menino vivia na Longra, a seis quiló-metros de distância, e que tinha por há-bito apanhar fi gos para secar. “O dinheiro da venda desses fi gos servia para pagar o carrossel na Feira de Santa Iria”, conta. Mas há uma história sobre a Feira de Santa Iria que o marcou especialmente. Antigo funcionário no Colégio Nun’Álvares Perei-ra, sob a direcção do carismático director

Dr. Raul Lopes, costumava acompanhar os alunos à feira. O Colégio tinha na altura entre 700 e 800 alunos internos. Um ano, que pensa ter sido 1961, alguns alunos acharam que o dono de um carrocel tinha que lhes oferecer uma volta de borla mas ele não foi na conversa. “Foi uma guerra civil que acabou com uma cena de pan-cadaria, pessoas no hospital e o carrossel completamente destruído”, conta António Rodrigues. A polícia e também a tropa que estava instalada no Convento de São Fran-cisco, junto à Várzea Grande, intervieram mas os ânimos continuaram exaltados. A ordem só regressou quando o director do colégio chegou e impôs a sua autoridade. “Sua cambada de parvalhões. Tudo à mi-nha frente”, limitou-se ele a dizer. E reinou a paz. O autarca recorda que se impressio-nou com a cena e que houve famílias que choraram ao ver o respeito que os alunos tinham ao director do colégio. “Pareciam cordeirinhos, todos em fi la”, atesta. Fica-ram todos de castigo. E conclui. “Foi um exagero. Se o dono do carrossel tivesse dado a borla tinha ganho muito dinheiro logo a seguir. Assim, naquele ano, só teve prejuízo”, refere.

Page 5: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

O MIRANTE | 14 Outubro 2010 ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR | 5

“As pessoas do campo compravam cobertores às carradas”

“Lembro-me da minha mãe ir vender os frutos secos à feira de Santa Iria. Íamos numa carroça, puxada por um macho, até à Rua dos Táxis onde es-tava muita gente a vender”, recorda Fernanda Lopes, que durante muitos anos ajudou a mãe nessa tarefa. Apa-nhavam-se os fi gos e as uvas, secavam-se e depois de secos vendiam-se. “Era uma maneira das pessoas arranjarem dinheiro, que era pouco”, refere. Res-ponsável, mesmo em criança nunca lhe deu para fugir para os carrosséis. O que de mais engraçado recorda da feira eram as carrinhas de vendedores ambulantes que vendiam cobertores ao quilo, com o vendedor de microfone pendurado ao pescoço. “As pessoas do campo compravam cobertores às car-radas já a pensar no Inverno. Tínha-mos a tradição de ir ao circo todos os anos e, quando terminava, pela uma

Andar nos carrinhos de choque mesmo sem ter idade para isso

O que Carlos Nunes recorda mais da Feira de Santa Iria da sua infância são os carrosséis e as pistolas de fulminan-tes que comprava nas barraquinhas e com as quais brincava aos cowboys. Mas também lembra-se de tentar andar nos carrinhos de choque, apesar de não ter idade para isso. “Havia sempre essa ex-pectativa. Por vezes pedíamos a alguém mais velho da família para nos acom-panhar só para experimentarmos essa emoção forte”, conta o cabeleireiro do Salão Nunes. A ida ao circo era também um momento que aguardava com bas-tante expectativa. “A primeira vez que fui ao circo foi na Feira de Santa Iria e foi bastante gratifi cante porque monta-vam as jaulas para os animais até qua-se às cadeiras da frente e ver animais ao perto que só víamos na televisão ou nos livros foi uma sensação bastante

Carlos Nunes, 38 anos, cabeleireiro

forte”, conta. Recorda ainda que a Fei-ra de Santa Iria, e também a Feira das Passas, era um lugar de culto uma vez que era nesta ocasião que se reencon-travam os amigos. “Comprávamos as botas de pele com biqueiras de aço e toda a envolvência da feira criava uma certa magia”, refere.

“Tinha boa pontaria na barraquinha dos tiros”

Vítor Luta começou a trabalhar com apenas 11 anos na extinta Grá-fica de Tomar mas mesmo assim conseguia dar um salto até à Feira de Santa Iria. Lembra-se, sobretudo, de gostar da barraquinha dos tiros e de andar nos carrinhos de choque. “Tinha boa pontaria e cheguei a ga-nhar alguns prémios como bonecos de peluche ou uma garrafa de gaso-sa”, conta lembrando que era sempre

Vítor Luta, 55 anos, empresário

Fernanda Lopes, 49 anos, empresária

da manhã, as pessoas esperavam, na fi la, pelo táxi (o único meio de trans-porte disponível para quem morava mais afastado da cidade) embrulhadas às mantas que compravam”, recorda a empresária da TemplarLuz que ain-da mantém o hábito de ir comer sar-dinhas à feira de Santa Iria.

uma emoção para uma criança agar-rar numa arma mesmo que fosse uma simples pressão de ar. Lembra ainda que aproveitava a hora de almoço, comia à pressa, para conseguir ir à feira com um grupo de amigos. Ac-tualmente já só vai à feira de passa-gem. “Já não é tão apelativa como antigamente”, confessa o empresário da Gráfica Tipomar, recordando que quando ia à feira com os pais, estes compravam-lhe sempre “um carrito ou uma camioneta” nas barracas de brinquedos.

Page 6: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

14 Outubro 2010 | O MIRANTE6 | ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR

É chefe de gabinete do vice-presidente da Câmara Municipal de Tomar. No dia-a-dia gosta de trabalhar ao lado dos funcionários e não liga a horários se há algo urgente para resolver. Em dias de festa, se não tem qualquer responsabilidade a seu cargo, afasta-se, discretamente.

Já foi responsável pela Protecção Civil de Tomar e agora é chefe de gabinete do vice-presidente, Carlos Carrão. Foi uma melhoria. Agora já não anda ao vento e à chuva?

Eu não sou homem de gabinete, em-bora esta afirmação possa parecer con-traditória num chefe de gabinete. Gos-

to de trabalhar junto dos funcionários. Tenho que estar solidário com eles até para ter a noção do que lhes custa fazer o trabalho. A maior parte das pessoas nem sabe exactamente quais são as mi-nhas funções.

Está em contacto com os funcio-nários e com a população. Como tem sido?

A maior parte das vezes é uma boa experiência.

E quando corre mal? Sou o primeiro a apanhar. Muitas ve-

zes não sou culpado de nada mas como sou eu que dou a cara é comigo que as pessoas desabafam. Se têm que insultar o político que decidiu e não o encontram, descarregam em mim.

Como é que lida com essas…des-cargas?

Respiro fundo e tento colocar-me na pele das pessoas. A maior parte das ve-

zes as pessoas desabafam e barafustam mas a seguir acalmam-se e tentam com-preender as coisas. Uma vez por outra exageram e obstinam-se. Já recebi ame-aças de morte e nem sempre aguentei. Certa vez levei uma pessoa a tribunal. Ela foi condenada mas recorreu. O caso já passou e nem quis receber nenhuma indemnização. Há muitos insultos que ignoro, faço de conta que não oiço. Na maior parte das vezes, eu já sou a par-te final que visa o cumprimento de uma legalidade.

Nasceu em Moçambique há 50 anos. Como é que veio parar a To-mar?

Os meus pais mandaram-me para To-mar em 1973, com 13 anos, para vir es-tudar para o Colégio Nun’Álvares Pereira. Vim para ficar até tirar um curso superior, tal como acontecia com muitos outros. Quando se dá o 25 de Abril, a minha fa-

mília regressa a Portugal e vem residir para Tomar. Eu continuei a estudar no colégio mais dois ou três anos. Em Mo-çambique era bom aluno mas no colé-gio conseguia ainda ter melhores notas. Fiquei até acabar o antigo 7.º ano. En-tretanto, não segui para o ensino supe-rior, por dificuldades financeiras. O meu pai tinha morrido em África, estava só com a minha mãe e comecei a trabalhar com 16 anos.

Qual foi o seu primeiro empre-go?

Foi na empresa madeireira “Freitas Lopes” em Tomar. Numa primeira fase fazia caixas de empreitada. Quantas mais caixas fazia mais dinheiro ganhava. Nu-ma segunda fase, o próprio Freitas Lopes, sócio principal da empresa, convidou-me a ficar e fiquei a trabalhar num sector que visava a inspecção e coordenação da madeira, uma vez que esta tinha que ser cortada com uma espessura rigorosa para ser exportada. Depois fui chamado para a tropa e quando regressei fui tra-balhar, de noite, para a Azambuja, para a fábrica da “General Motors”, no sector de controlo e distribuição de material pela linha de montagem. Estive lá cerca de um ano. Depois trabalhei mais um ano num gabinete de desenho de arquitectura em Cascais. Mais tarde vim para os serviços municipalizados de Tomar. Assinei um contrato de três anos, havia a possibili-dade de ficar, mas acabei por concorrer a um lugar de bancário na Caixa Geral de Depósitos.

E como é que surge a sua ligação à Câmara de Tomar?

Depois de vários anos a trabalhar como bancário, já casado e com as mi-nhas filhas pequenas, estive três anos em Moçambique, a trabalhar na direc-ção de uma rádio. A partir do momento em que se tornou numa rádio partidária da RENAMO vim-me embora. Foi nessa altura que pensei em ingressar no ensi-no superior mas, entretanto, entrei para a Câmara em 1999. Fui convidado pelo então presidente da câmara, António Pai-va, para ficar como assessor e trabalhar na protecção civil. Ressalvo que não sou funcionário da autarquia, tenho ficado por nomeação.

Quem o conhece sabe que tem uma vida profissional muito inten-sa. A família compreende essa en-trega?

Há alturas em que quase não vejo a família. E, às vezes, nem lhes atendo o telemóvel. Porque as solicitações são tan-tas que não consigo. Há dias diabólicos. Olho para o contador de chamadas e são

Casimiro Serra gosta de estar na linha da frente para o que der e vierDepois de oito anos na protecção civil passou a “apagar fogos” no sector das feiras e mercados

PERSONALIDADE. Casimiro Serra confessa que já esteve três noites sem ir à cama quando era responsável pela protecção civil de Tomar

Page 7: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

O MIRANTE | 14 Outubro 2010 ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR | 7

mais de cem. O telemóvel acaba por nos escravizar. Telemóvel à parte gosto de trabalhar com empenho e não ligo a ho-rários. Gosto de me sentir útil e de aju-dar a resolver os problemas das pessoas. Detesto aquela visão do funcionário que acha que o seu trabalho acaba quando o relógio marca a hora de saída.

É funcionário da câmara?Não. Tenho sido reconduzido através

de nomeações. O mercado foi encerrado. Não está

a ser fácil gerir esta situação?O edifício do mercado estava a neces-

sitar de obras profundas e urgentes. E não se pode fazer um investimento tão vultuoso em obras e ao mesmo tempo construir um novo edifício. Isso é esban-jar dinheiro. O que lamento é que nos últimos vinte anos não se tenham feito melhorias no mercado que poderiam ter evitado o seu encerramento. A decisão política que se tem que tomar agora é: ou se reconstrói aquele edifício ou se constrói um novo edifício a curto prazo. A tenda que está lá agora tinha que ter as condições correctas para funcionar como

se fosse um edifício defi nitivo. Para que todas as questões fossem acauteladas, sem falha alguma.

Na altura em que foi responsável pela protecção civil quais foram as situações mais graves que viveu?

Lembro-me de um incêndio muito grande, num ano que não sei precisar, na freguesia de São Pedro em que, numa tarde, arderam várias casas. Orgulho-me de dizer que foi graças ao trabalho dos bombeiros, protecção civil, populares e da junta de freguesia da altura que se conseguiram salvar algumas casas. Tam-bém recordo outro incêndio na Pedreira que pôs em perigo algumas casas e al-gumas aldeias nos arredores. Mas a si-tuação que eu recordo com maior dra-ma para Tomar foram as inundações de 2000 que afectaram maioritariamente a população de etnia cigana que mora no Bairro do Flecheiro e os comerciantes e moradores da parte histórica da cidade. Foram três dias sem ir à cama.

Tomar é a sua terra?Estou há 37 anos em Tomar e as mi-

nhas duas fi lhas nasceram cá. A minha

esposa é da Sertã mas também se sen-te tomarense. É obvio que Tomar, co-mo todas as terras, também tem as su-as qualidades e os seus defeitos. Uma das coisas que não gosto em Tomar é o diz-que-diz, a intriga. Em Tomar, há em demasia intriga e magoa um bocadinho porque se fazem muitas acusações anó-nimas e infundadas. Custa muito pedir desculpa, mas fi ca tão bem. Aqui há tempo exaltei-me com um vendedor do mercado porque pensava que me vinha falar de um assunto que a mãe já me ti-nha colocado e quando me apercebi que me precipitei, assentei os pés e pedi-lhe desculpa meia dúzia de vezes.

E as coisas boas de Tomar, quais são?

A história de Tomar é extraordinária. É das cidades que conheço talvez a mais bonita. Tem tradições muito interessan-tes. O património, cultural e arquitec-tónico, é fabuloso. A feira de Santa Iria que dá muito trabalho a organizar é um evento muito interessante.

E, este ano, pensa ir à Feira?Eu não gosto muito de confusões.

Quando não tenho responsabilidades na Feira de Santa Iria e não tenho nin-guém de família a visitar a cidade nessa altura, saio de Tomar. O mesmo acon-tece em relação à Festa dos Tabuleiros. Quando a confusão é grande, e se não tiver responsabilidades no evento, prefi -ro ausentar-me.

Um apaixonado por África e pela história da Guerra ColonialMilitante da JSD desde os 16 anos,

Casimiro Serra, nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambi-que, a 2 de Fevereiro de 1960. Com treze anos veio estudar para o Colégio Nun’Álvares Pereira (CNA), em Tomar e acabou por fi car na cidade. Casou e teve duas fi lhas, actualmente com 20 e 23 anos. Foi presidente da concelhia da JSD durante vários mandatos, da distri-tal da JSD e candidato a deputado nas eleições intercalares de 1979 pela Alian-ça Democrática. Foi o deputado mais

novo com assento na assembleia mu-nicipal de Tomar, tomando posse com 19 anos. Acumulou várias experiências profi ssionais, chegou a frequentar o 2.º ano de Direito, na Universidade Clássi-ca de Lisboa, mas as obrigações profi s-sionais e familiares levaram a que não concluísse a licenciatura. Em 1999 chega à Câmara Municipal de Tomar, a con-vite do então presidente da autarquia, o social-democrata António Paiva para coordenar a Protecção Civil.

Desde então, já “correu” quase todos os sectores da autarquia e, embora ainda seja conhecido por muitos como o ho-mem forte da protecção civil de Tomar, onde esteve oito anos, actualmente está a trabalhar como secretário do verea-dor Carlos Carrão, trabalhando, com os

sectores de Higiene e Limpeza e Feiras e Mercados. Uma área que, nos últimos meses, está a ser particularmente difícil de gerir com o encerramento do edifício do mercado diário pela ASAE e a poste-rior montagem de uma tenda para alber-gar os feirantes, que ele garante estar a poucos dias de abrir. “É esgotante, ainda não fui de férias este ano”, confessa. O pouco tempo livre que tem dedica-o ao seu passatempo preferido. Coleccionar objectos e livros relacionados com Áfri-ca e com a Guerra Colonial, contando já para cima de seis mil livros sobre Áfri-ca, entre revistas, postais e fotografi as. Um dos seus projectos pessoais, apoia-do por amigos, passa por escrever um livro que faça uma cronologia da guer-ra colonial.

Page 8: FEIRA SANTA IRIA TOMAR

14 Outubro 2010 | O MIRANTE8 | ESPECIAL FEIRA SANTA IRIA - TOMAR