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Crônica "Felicidade Pública", por Luísa Dal Mas
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Felicidade Pública
Um dia desses, eu estava no metrô e um senhor, na casa dos 70 anos,
sentou do meu lado. Ele tirou do bolso um IPod, colocou os fones de ouvido e
começou a cantar. Sim, cantar. Em alto e bom tom. O vagão nem estava vazio.
Já começava a encher, mas ele não parecia se importar. Não reconheci a
música, era algum tipo de samba. Com certeza era um dos favoritos do velho
artista de transporte público, pois ele sabia toda a letra. Algumas pessoas
olhavam torto, mas ele seguia cantando. Continuou seu show até eu descer na
minha estação.
Outro dia, andando pela Avenida Paulista, vi uma banda tocando na rua.
Eles eram muito bons, tocavam clássicos do rock. Quem passava acabou
formando uma plateia improvisada e eu também parei para assistir. Mais
interessante do que a banda era um homem que dançava e pulava com a
música como se estivesse em um show de rock no meio da calçada. Todo
mundo ria e filmava, achando aquilo a coisa mais estranha do mundo, mas o
dançarino nem ligava. Se divertia com a sua roda punk de um homem só.
Fiquei me perguntando o porquê de essas duas cenas nos parecerem
tão estranhas e chamarem tanta atenção. O que aconteceu com a humanidade
que fez uma demonstração pública de alegria ser considerada uma coisa tão
bizarra? Queria eu viver em um mundo onde todo mundo cantasse no metrô.
Ficamos tão preocupados com o que os outros podem pensar que acabamos
aprisionando o nosso contentamento.
Por que não mostrar para o mundo que estamos felizes? Por que não
cantar alto com a sua música preferida, rir de um livro, dançar na parada de
ônibus? Sou a favor de um mundo onde é normal ser feliz e um pouco louco às
vezes. Sou a favor da diversão espontânea, da alegria compartilhada, da
felicidade pública. Quem me acompanha?