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Vol.8 Nº72 ADEZEMBRO DE 2013 Director: Mário Carvalho Feliz Natal

Feliz Natal - Jornal O Açoriano · neste maravilhoso país que é o Canada! Feliz Natal e um próspero Ano Novo 2014 a to-dos! ... A vida é como a água de um rio, nasce de nada,

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Vol.8

Nº7

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director: mário Carvalho

Feliz Natal

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O Açoriano2

EditorialEDIÇÕES MAR

4231-B, Boul. St-LaurentMontréal, Québec

H2W 1Z4Tel.: (514) 284-1813Fax: (514) [email protected]

PRESIDENTE: Sandy Martins

VICE-PRESIDENTE: Nancy Martins

DIRECTOR: Mario Carvalho

DIRECTOR ADJUNTO: Antero Branco

REDACÇÃO: Sandy Martins

COLABORADORES: Debby MartinsMaria Calisto

Natércia Rodrigues

CORRESPONDENTES:Açores

Alamo OliveiraEdite MiguelJorge Rocha

Roberto Medeiros

FOTOGRAFIA: Anthony NunesRicardo Santos

AçoresHumberto Tibúrcio

INFOGRAFIA: Sylvio Martins

CORRECTOR ORTOGRáFICONatércia Rodrigues

Envie o seu pedido para Assinantes O Açoriano

4231-B, Bl. St-LaurentMontréal, Québec

H2W 1Z4

O Açoriano

O tempo é como o vento, bate na gente sem que o possamos ver, é tempo que voa que

nem uma gaivota, muitas vezes sem rumo nem destino, é tão rápido como se fosse um sonho uma viagem em que não demos pelo tempo que passou!Eis que o ano 2013 está a chegar ao fim! Parece

que foi ontem que começou e que ainda mal co-meçou já acabou, porque vivemos de uma forma louca, mais depressa que os ponteiros do relógio e os dias do calendário. Ainda o dia não acabou, já estamos a planear o dia seguinte, ainda não acabámos de jantar, já se pergunta o que vamos comer amanhã, vivemos fora do tempo que mar-ca o relógio.Mas, na verdade é o relógio que cronometra a

nossa vida!Este ano que comemorámos os 60 anos da emi-

gração portuguesa no Canada, foi tempo de pa-rar e recordar o passado, foi tempo de percorrer tempos passados, recordar homens e mulheres que corajosamente se atiraram de olhos fecha-dos para esta aventura, de vir viver para a terra desconhecida.Todos nos devemos orgulhar da comunidade

que somos, de onde viemos, aonde chegámos e que certamente, iremos chegar, muito mais lon-ge, porque as novas gerações irão ser verdadei-ros embaixadores de Portugal, campeões nas suas actividades profissionais.Os que emigraram durante estes 60 anos, na

maioria, eram gente do povo, gente humilde e honesta, povo que trabalhava a terra desbrava-va o mar, de pouca instrução escolar, mas em vez de lamentar o destino foram à luta, emigraram à procura de um futuro melhor para si e para os seus.Hoje podemos ver que a comunidade está a

evoluir, muitos dos filhos e netos dos pioneiros, instruiram-se e formaram-se nas mais variadas profissões, actuários, engenheiros, médicos, con-

Feliz Natal e umpróspero Ano 2014

tabilistas, enfermeiros, bancários, professores, notários etc.Mas não nos devemos esquecer que nem tudo

foi bem-sucedido, falhámos como comunidade e sociedade, ao não fazer com que os filhos que nasceram em Portugal e vieram para o Canada ainda crianças, não adequerissem a nacionali-dade Canadiana e em muitos casos não os ensi-nassem a falar português.Como é sabido, muitos chegaram ao Canada

ainda muito jovens e nem sempre escolheram a melhor escola da vida, envergando pelo cami-nho do crime, roubo e tráfico de droga, e em cer-tos casos por consumo de álcool e brigas.As leis do Canada foram-se modificando ao

longo dos anos, e, certamente que para o fu-turo virão a ser mais rigorosas, para com os emigrantes que só têm o estatuto de residência permanente, neste país. O Canadá e os Esta-dos Unidos até 2012, deportaram para os Aço-res 1.175 emigrantes portugueses, apesar dos fluxos de emigração açoriana terem estado a diminuir desde finais da década de 80, a “inten-sidade da deportação” tem vindo a aumentar. Muitas vezes o deportado não sabe falar por-tuguês, deixa atrás mulher, filhos pais e até ir-mãos. O maior drama da história da comunida-de Açoriana no Canada foi sem dúvida alguma, a deportação de muitos dos seus filhos, por não terem adquirido a cidadania canadiana, muitos mais açorianos serão expulsos no futuro se não adquirirem a cidadania canadiana.Deportação é sinónima de exclusão social, se-

paração de família e do mundo que os viu cres-cer. Que um dos grandes objectivos para a nos-sa comunidade neste novo ano de 2014 seja que todos se inscrevam e que adquiram a cidadania canadiana para assim garantirem o seu futuro neste maravilhoso país que é o Canada!Feliz Natal e um próspero Ano Novo 2014 a to-

dos!

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3O Açoriano

MáriO CArvAlHO

Gente da TerraHaja saúde, meu velho!

Não sei se estou cansado ou simplesmente a sofrer da síndro-ma da velhice, este ano de 2013, começou mal, mas como diz o ditado antigo, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe...Por vezes, um dia é tão doloroso a passar, mas, um ano passa tão

depressa e a vida nem se fala porque sabemos quando começou, mas não temos a mínima ideia quando acaba, não existe um calen-dário da vida, por isso é necessário saber viver o presente, sabendo meter no seu devido lugar as coisas mais importantes da vida, não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje, nem nos deixarmos contaminar por ideias negativas e conflituosas, nunca se deve na-dar contra a corrente, porque nos cansamos e no fim voltamos ao mesmo lugar com uma diferença: muito mais cansados!

Dois amigos ao sair da fábrica aonde trabalhavam viram que es-tava a chover, nenhum deles tinha guarda-chuva, um começou a correr para a paragem do autocarro que ficava a uma centena de metros, o outro continuou a caminhar pausadamente sem se preo-cupar com a chuva, ao chegar à paragem do autocarro o amigo es-tava preocupado com a atitude do colega e perguntou! Porque não correste? ‘’Não corri porque não valia a pena, se corresse como tu, chegava molhado e cansado, como tu, assim, só estou molhado’’ caros leitores e amigos do açoriano quantas vezes na nossa vida, corremos para nada, sem saber por que razão levamos a vida a correr, uma coisa é certa, todos um dia, iremos ter um fim, assim como cada hora, dia, semana, mês e ano chegam ao fim!A vida é como a água de um rio, nasce de nada, vai crescendo,

conforme vai descendo sem nunca parar, vai contornando obstá-culos, bate aqui bate ali, e ao rio outras águas vão se juntando misturando-se com as águas iniciais, depois as águas vão se ausen-tando umas das outras muitas vezes para bermas contrárias, muitas nunca mais se encontram mesmo que se voltem a cruzar nunca mais as mesmas águas serão como eram no inicio da nascente, outras vão se perdendo sem terem a felicidade de chegar ao destino marcado, até que serenamente vão desaguar ao mar desaparecendo no infinito do oceano. Assim é a nossa vida, nascemos de um nada,

crescemos modelados à imagem dos nossos pais, somos uma pe-quena família, depois outras pessoas entram nas nossas vidas, cada uma com a sua maneira de ser e de pensar, opiniões diferentes, e assim a família vai aumentando e ao mesmo tempo nos vamos ausentando uns dos outros no percurso das nossas vidas.Feliz daquele que consegue viver o fim da vida serenamente !Na vida, devemos saber pôr cada coisa no seu devido lugar, de

maneira a dar prioridade às coisas mais importantes porque só as-sim podemos alcançar a verdadeira felicidade.Um professor numa aula descreveu aos alunos a vida da seguinte

maneira:Em cima da mesa depositou um vaso, em seguida deu aos alunos

pequenas rochas para depositar no interior do vaso, a certa altura os alunos disseram: - O vaso está cheio não cabe mais, o professor disse: - Agora ireis

tentar meter areia no interior, e, assim fizeram, a areia foi desli-zando por entre as rochas e lá conseguiram, os alunos disseram ao senhor professor, agora é que já não cabe mais nada, o vaso está completamente cheio, o professor disse: - Ainda cabe mais uma coisa, experimentem deitar água no interior do vaso. E realmente conseguiram!Os alunos preguntaram o que tinha isto a ver com a vida?Explicou o professor:- As rochas; representam a saúde, que é a coisa mais importante

na vida e a família;A areia: educação e trabalho que ocupa grande parte das nossas

vidas, o ganha-pão para o nosso sustento e vestuário;A água: dinheiro, casa, carro, viagens e todos os outros luxos;A lição que devemos tirar é que devemos respeitar esta ordem da

importância das coisas nas nossas vidas: primeiro “Saúde e Traba-lho”, segundo “Educação e Trabalho”, terceiro “Dinheiro e tudo o que podemos comprar”!Todos os três são importantes na vida, mas devem respeitar a

ordem, para alcançar a felicidade, porque se assim não for nada conseguimos, se fizermos o inverso, meter a água em primeiro lu-gar, não haverá espaço para mais nada, se o trabalho passar a ser a coisa mais importante na nossa vida, perdemos a saúde, não há lugar para a família.Quantas vezes perdem a saúde e a família porque o trabalho e a

ganância do dinheiro se torna a coisa mais importante nas nossas vidas!Muitas vezes, perdem a saúde por causa do dinheiro, depois que-

rem recuperar a saúde com o dinheiro, mas isso não é possível, tarde de mais!O Tempo e a saúde perdidos nunca mais se podem recuperar!Sem saúde e família não somos nada, só quando as perdemos é

que se dá o real valor!Sem saúde não podemos trabalhar, não somos felizes, Sem traba-

lho não há dinheiro, Sem dinheiro, não há pão para comer, roupa para vestir, nem casa para morar!Haja Saúde para todos, e que cada um tenha um trabalho e uma

casa para morar!Desejar saúde nunca é demais, Haja Saúde, Feliz Natal e um

Bom Ano 2014.

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Homem da TerraMeu companheiro de tantos anosNATÉrCiA rODriGUES

A morte é sempre uma senhora que não é bem recebida. Há mortes e mortes. Quantos anos de convivência respeitosa,

carinhosa… quanta cumplicidade, quantas lutas que juntos galhardamente empreendemos, quantos planos traçados e rea-lizados, quantas paisagens que juntos contemplamos, quanta noites à cabeceira dos filhos e de nossos pais, quantos pesos que carregamos juntos, sempre juntos, quantas conversas, quantas diferenças e tantas semelhanças.

Respiramos juntos os mesmos ares, divertimo-nos em festas co-muns, enxugamos as lágrimas dos olhos um do outro.Juntos buscamos a Deus, juntos saboreamos os salmos, juntos

acolhemos os filhos, juntos fizemos com que eles fossem meninos de pé, juntos fizemos com que eles tivessem coragem para irem pelo mundo afora com asas fortes. Fomos amigos, fomos amantes, fomos companheiros, fomos dis-

cípulos de Cristo, fomos claridade para tantos que passaram por nós e cruzaram nossos caminhos.Estivemos fielmente juntos, até agora há pouco.Diante da tua foto só tenho uma coisa a fazer: agradecer a Deus

tua vida, teu carinho, tua força, tua pessoa e tudo o que foste. Esta semana fazias anos e não me posso esquecer disso meu compa-nheiro, meu esposo, pai de meus filhos e avô de meus netos. Que Deus te tenha recebido nas mansões celestes. Um dia nos

reveremos.Deves saber que este ano, uma vez mais fui à Povoa de S. Miguel,

lá no “nosso” Alentejo. Como tu adoravas aquele lugar…morreste a falar naquele paraíso. Sabes, o nosso quintal está muito bonito e o casão novo que foi feito o ano passado, aquele que já nem tu nem a minha mãe chegaram a ver,está mesmo lindo. Olha este ano a festa de S. Miguel foi bonita

mas choveu. Na vacada fez bom tempo mas na tourada também chuviscou. Sentei-me no quintal à noite como tu tanta vez o fizeste

e amostrei à nossa Leila todas as estrelas que se podiam ver e ela estava admirada.Percorremos as ruas da aldeia de uma ponta à outra e até nos fo-

mos sentar ao pé da igreja para apreciarmos o pôr-do-sol. Ai tantas fotografias que tu tiraste ao pôr-do-sol e dizias que ali era o melhor lugar para o apreciarmos.Percorremos os campos secos, vimos as cabrinhas, as ovelhas, os

porcos, as vacas, as andorinhas e outros pássaros.Agora fazem os ninhos das cegonhas nos postos da eletricidade

para ver se elas regressam. Enfim tudo isto é caminho… caminhada…A vida não é estática.É movimento, mudança, percurso, trajeto e insegurança quase

sempre elementos constituintes destas caminhadas.Na vida individual tal fenômeno também é percetível: cada pes-

soa experimenta na própria história os efeitos do caminho em-preendido. Relações, decisões, alegrias, deceções e dúvidas dão a tônica desta caminhada, até o dia em que, às vezes lenta, às ve-zes abruptamente, ela chega ao fim. A certeza da finitude funciona como uma espécie de bússola ou, mais modernamente falando, de um GPS que orienta as escolhas e opções de cada um. Lidar com a partida daquele que se ama é tarefa inadiável e intransferível, é o preço que se paga por se viver relacionalmente.Não achei que iria chorar ao partir da Póvoa,mas desta vez en-

ganei-me.

Chorei quando abalei e deixei para trás aquela aldeia, aquela gente, aquela casa que tu e a minha mãe tanto amavam e pensei: será que vou voltar outra vez? A nossa menina adorou também aquela gente e andou sempre muito contente. Ela aprendeu a gostar de outras comi-das e fiquei admirada como ela aprendeu a falar a nossa língua muito melhor. É que chorar assim é mais que derramar lágrimas: é verter a alma junto, é desaguar-se num mar de sentimentos entrelaçados, misturados, intensos, imensos, inescapáveis...Tive muitas saudades de vocês! Olha sweetie a vida continua e

tento ser forte pois há os filhos que têm sido admiráveis comigo e os netos…meu Deus como tu terias orgulho neles! O dia dos teus anos seria esta semana e vou-te pôr uma flor ao pé do teu retrato, porque pouco mais posso fazer. restam as cartas, as fotos, as lembranças, os momentos que

insistem em voltar, e voltam como punhais mas fazem com que eu nunca me esqueça de ti.

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CrónicaPortugal longe daqui JOSÉ GABriEl ávilAJornalista c.p. 536

Já na véspera, zunia o vento tocado a chuva persistente. Lançaram o aviso amarelo, como se algo de grave estivesse a

abater-se sobre os penedos negros do atlântico, mas as espetativas alarmistas dissiparam-se na noite. Um negrume espesso abafava a luz da manhã, mas os habitantes

destas “ilhas de bruma” habituados a dias assim, moldaram hábi-tos, trabalhos e empresas. O nosso insulamento amarra-nos à ilha, e quando temos de partir

perguntamos inquietos: o avião vem? não vem? e só no aeroporto descansamos, fiados na vontade de Deus. A chuva e o vento não amansavam. Ponta Delgada reergueu-se

para um novo dia marcado pelos efeitos da crise. Homens e mulhe-res, os poucos que a crise se encarregou de selecionar, enfrentam de cara molhada o vento agreste e cor-rem pressurosos para os empregos que ainda sobram. Nem olham as montras, que as magras poupanças não dão para devaneios. As crises aqui chegam mais tarde e

persistem tempo demais, quando lá fora surgem raios de esperança...Lá fora, é longe: duas horas de viagem,

tarifas pesadas para quase todos. Há um mundo diferente nas nossas vivências moldadas por séculos de povoamento com gentes da moirama, das Beiras, do Minho, de Trás-os-montes, do Alentejo e do Algarve. Conservamos a língua, a religião e a cultura e a nossa vida enre-da-se em vulcões, sismos, mar, chuvas e ventos.A nossa identidade fez-nos donos das

ilhas. Daí não admitirmos que estranhos venham ditar o que devemos ou não fa-zer, nem explorar as nossas propriedades. Mesmo que seja o estado ou serviços dele dependentes.Aeroporto de Ponta DelgadaCusta-me a aceitar as imposições da ANA, no aeroporto de Ponta

Delgada, corroboradas impiedosamente pela PSP, e o aparente de-sinteresse do Governo pelas elevadas taxas cobradas nos espaços públicos regionais e na redução dos parques gratuitos. Continuar a abdicar da administração desses terrenos (ao contrário do que fez a Madeira) esquecendo-nos que foi a Região que investiu naquela estrutura, é abrir mão de equipamentos essenciais ao desenvolvi-mento dos Açores. Deste modo, arriscamo-nos a que a entidade concessionária da exploração do aeroporto, no intuito de rentabi-lizar, a qualquer preço, os espaços, escape à supervisão das auto-ridades regionais competentes. E isso não devemos permitir. Nem entendo como é que esta situação nunca foi nem explicada nem inquirida.Todos os açorianos residentes têm experiências de vida que com-

provam o desinteresse e, nalguns casos, o desprezo de entidades estatais e de empresas continentais.Chegados ao aeroporto de Lisboa, ou somos tratados como pas-

sageiros de voos internacionais, ou esperamos pela bagagem cer-ca de uma hora, como sucedeu esta semana com uma dezena de pessoas. O mais implicante é que os passageiros estão, para ali, revoltados mas calados, sem que haja ninguém a quem reclamar ou pedir ajuda. Abandono absoluto, pese embora as taxas aeropor-tuárias e de segurança a que nos obrigam.País de mercadoresQuando saio, levo comigo uma ancora que me agarra à ilha. Con-

frontado com as adversidades impostas por sociedades ditas mais desenvolvidas, gera-se, dentro de mim, um sufoco, uma revolta, um protesto que me transforma em cidadão de outro país que não deste Portugal, porta escancarada a raças e etnias, a mão-de-obra barata, e a mercadores do oriente e do ocidente.

Os mais novos, procuram os aeroportos rumo a novos mundos, onde concretizem seus sonhos. Os mais idosos passeiam os corpos por ruas e praças, tapam o frio com agasalhos muito usados e en-cobrem as dificuldades da vida.Portugal é um país desnorteado, desgovernado, sem projeto e sem

futuro. Enquanto o povo continuar desmobilizado, entristecido e desempregado, há espaço para mercadores e piratas que nos suga-rão, alegremente, o pão que nos resta. Muitos vieram do oriente, do ocidente e das áfricas, montaram tendas no centro da capital e ostentam a sua riqueza no Martim Moniz – esse fidalgo que tomou o Castelo de Lisboa aos mouros acompanhado do Rei Fundador.Quem se pode orgulhar deste destino inglório em que Portugal

mergulhou? Os Açorianos não, apesar de há muito, terem rumado a “califórnias perdidas de abundância”, onde afirmam a sua iden-tidade e constroem um mundo novo. E os que ficámos, temos o direito de pugnar pela “livre administração dos Açores, pelos aço-rianos”, para não sucumbirmos com a pátria.

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60 anos de imigraçãoComemorações dos 60 anos deimigração portuguesa no CanadáMiGUEl FÉliX

No ambiente das comemorações dos 60 anos da comunidade por-tuguesa no Canadá, o jornal A Voz de Portugal, o mais antigo jor-nal de língua portuguesa, quiz dar a sua contribuição.Manuel de Sequeira Rodrigues, diretor deste semanário, foi o

grande impulsionador deste grandioso projeto, ajudado por mui-tos.A vaga dos primeiros portugueses, na vaga de 1953 traziam com

eles, roupas, as mãos para trabalharem, grande fé, esperança num futuro melhor, mas também uma língua. A língua portuguesa foi e continua hoje, bem presente e bem viva. As celebrações dos 60 anos, são um bom momento de reflexão sobre o valor cultural e económico no mundo, em 2013, em Montreal da língua portugue-sa. As celebrações foram divididas em três pontos importantes.• ConfErênCiA sobrE o VAlor CulturAl E EConómiCo dA línguA PortuguEsA no mundo

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7O Açoriano

Jantar de gala de A Voz de Portugal

Lançamento do livro

60 anos de imigração

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O Açoriano8

Fé de um PovoGrandiosa festa em honra de São Paulo

SYlviO MArTiNS

são Paulo, apóstolo da fé, padroeiro da ribeira Quente, foi festejado, em grande, pelos sócios e amigos da Associação Sau-dades da Terra Quebequente, no passado sábado dia 5 de Ou-tubro.A Associação Saudades da Terra Quebequente, fundada a 15 de

Janeiro de 1997, organiza anualmente, entre outras atividades, a festa do chicharro, na Primavera, e a festa do seu Padroeiro em Setembro.Ao entrar na sala de Saint-Enfant-de-Jesus, deu para perceber que

a organização da festa era composta por gente trabalhadora e uni-da. A sala estava muito bonita, iluminada e decorada de branco e vermelho. Os benévolos devem ter trabalhado horas sem fim. Vê-se que é gente “prezada”.Todos os anos, a Associação Saudades da Terra Quebequente

surpreende todos os que participam nesta festa, em honra de São Paulo da Ribeira Quente.

A noite iniciou-se com as boas-vindas, proferidas por Mário Car-valho, que ao mesmo tempo apresentou a equipa que serviria du-rante a noite. Esta noite memorável brilhou com o seu espetacular efeito visual, graças à decoração do salão, assaz elegante nas suas cores de vermelho e de branco. Luz, alegria, boa gente, etc., tudo a módico preço para esta magnífica festa. O elenco artístico abriu com o talentoso Eddy Sousa e DJ XMen,

que fez delirar a mocidade.Nunca vi o Eddy Sousa a cantar assim, foi uma verdadeira joia

para todos.E, foi finalmente anunciado, Mário Marinho para desgastar ainda

mais calorias.Ele fez um grande espetáculo e também convidou uma cantora,

Veneranda, que alegrou todos.Habitualmente, a Associação Saudades da Terra Quebequente

homenageia anualmente homens e mulheres que ajudaram a fazer desta festa um sucesso, ou de qualquer modo ajudaram a desenvol-ver a comunidade.Este ano foram: Roberto Carvalho, Mário Marinho, Veneranda,

e o novo organismo comunitário, os amigos da Ribeira Quente de Ontário os homenageados, com uma placa comemorativa.À comissão organizadora são José Cabral, José Gafanhoto, Mário

Carvalho, Gerry Arruda, António Chico, Tito Carvalho, Roberto Abarrota, João Branco, João Linhares e Alex Tiburcio, chefiados por Roberto Carvalho, muitos parabéns, não só pela excelente or-ganização, mas também pela capacidade de motivarem inúmeros

de jovens a participar na festa. Domingo serviu certamente de dia de descanso para os organizadores, que trabalharam muito, e tal-vez até para algumas pessoas que dançaram muito.A Associação Saudades da Terra Quebequente agradece a todas

as pessoas que se implicaram durante a preparação deste grandioso evento. Por meu lado, agradeço aos organizadores pelo seu empe-nho e dedicação durante todos estes anos, e viva a Ribeira Quente!

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Fé de um PovoAmigos de Rabo de Peixe Foium grande sucesso para todoso serão foi animado pelo dJ Jeff gouveia do night Produc-

tions que fez o povo bailar sem parar, um povo muito alegre e muito bem divertido. Parabéns ao Circulo dos Amigos de rabo de Peixe do Quebeque por mais este sucesso.ViVA A VilA dE rAbo dE PEiXE

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Nossa Cultura35 anos da Filármónica do Divino Espírito Santo de Lavalincorporado no Jubileu dos 25 anos da fundação da Missão e

paróquia de Nossa Senhora de Fátima de laval, o mês de Ou-tubro foi dedicado à Orquestra Filármónica do Divino Espírito Santo de laval que celebra este ano 35 anos de existência.A Sala Terra Nostra teve aberta ao público durante todo o mês,

para que todos os interessados, através de comentários, fotos e contactos pessoais com os membros da Filarmónica, aprendessem a história destes dedicados musicos através dos anos e sobretudo para atraír os mais jovens a se interessarem por esta valiosa ativi-dade, pois deles depende a sobrevivência desta filarmónica.Domingo dia 27 para concluir este mês que lhes foi dedicado, to-

dos os membros da Filarmónica participaram na missa solene das 11h30, tocando várias peças do seu repertório, muito apropriadas para a ocasião. A igreja completamente repleta aplaudiu calorosamente, mos-

trando assim a sua gratidão a este grupo de músicos que desde a sua fundação muito têem contribuído para o sucesso de todas as festas comunitárias, não só em Laval, mas também por todo este grande Canadá, Estados Unidos e Açores. Antes do fim da missa, o Sr. padre Carlos, fez menção,em seu nome pessoal assim como em nome de todos os paroquiantes de Laval, de agradecer à direção

atual, por todo o contributo que têem prestado à comunidade.Um a um todos os membros da direção foram chamados ao al-

tar para aí receberem uma lembrança, em signal de apreciação e gratitude. Cerimónia simples, mas cheia de emoção, à qual todos os presentes, de pé, ovacionaram longamente. O atual presiden-te, Sr. Vitor Faria, tomou a palavra para agradecer esta simbólica homenagem e convidou todos para a sala Terra Nostra, onde bolo e champanhe, iria ser servido, para celebrar o 35 aniversário da Filarmónica Fundada em 1977, mas oficialmente registrada em 1978, pelos Srs. Olimpio Teixeira, António dos Reis e Viriato Pa-checo, que imediatamente convidaram o Sr. Gilberto Pavão para dirigir os destinos desta nova banda musical.Nascido em 1947, na freguesia dos Mosteiros, em São Miguel,

Gilberto Pavão de muito novo mostrou não só o seu interesse, como também o seu talento para a música. Aos 14 anos tocava saxofone na banda da freguesia. Aos 18, jun-

ta-se à banda militar dos

Açores. Aí passou a tocar flautim, inovação para ele, pois até ali, tal instrumento lhe era totalmente desconhecido.E foi também nesta banda que atingiu o posto de maestro. Emi-

grou para o Canadá em 1971 e desde 1978 este co-fundador nunca mais abandonou o barco. Tem havido muitas mudanças na equipa que ele dirige, mas sente-se muito orgulhoso por ter conseguido

manter o interesse e motivação sempre bem vivos no seio da equi-pa. Prova do que afirma, é o facto de um dos músicos originais, Sr. João Resendes ainda fazer parte da turma atualmente, ter dirigido 3 gerações de músicos ao mesmo tempo (pai, filho eneto) e de contar atualmente com um grupo de músicos dos quais

15 não atingiram ainda os vinte anos de idade.Resta-nos agradecer ao Sr. Pavão o fantástico trabalho que tem

executado, esperar que possa continuar ainda por muitos anos na direção musical desta prestigiosa banda, para divertimento e pra-zer dos seus numerosos adeptos.

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Nossa GenteAssociação do Espírito Santofestejando mais um aniversário

Homenagem ao José Álamo

SYlviO MArTiNSA Associação Portuguesa do Espírito santo (Hochelaga) fes-

tejou o seu trigésimo aniversário, no dia 16 de novembro. A comemoração teve lugar na grande sala desta Associação.O ambiente acolhedor de cerca de trezentas e tal pessoas pre-

sentes tornou-se... familía, com jovialidade verdadeiramente por-tuguesa. Uma festa comemorando um evento desta envergadura deve contar com grandes artistas. E lá estavam!

O DJ Mário Silva esteve em grande força, Sylvie Pimentel fez um espectáculo bastante agradável para todos com uma energia in-cansável, e também, a grandiosa artista/fadista Jordelina Benfeito

a nossa “Cotovia Açoriana” fez um espetáculo muito emociantee mesmo o povo pedia por mais.O presidente da associação Artur Couto que se dedicou durante

vários anos (ao menos 12 anos como presidente e vários outros anos ajudando diretamente e indirectamente) a este organismo co-munitário. Ele esteve muito emocionado durante toda a noite.“Posso dizer uma coisa, isto são pessoas que eu admiro. Há tantas

pessoas que fazem tanto para as associações e que se dedicaram a fazer das associações uma porta cultural e familiar. Estas pessoas merecem muito respeito. Artur Couto e a sua mulher, tal comotoda a sua equipa fizeram muito para esta associação e merecem

todos os nossos agradecimentos”. O jantar foi uma delícia e o ser-viço foi fantástico.

ANTErO BrANCOo jantar dos “Amigos”, na Associação Portuguesa do Espíri-

to santo (APEs), teve lugar no passado sábado, com o propó-sito de homenagear o saudoso José álamo.

A festa dos amigos, iniciada na década dos noventa pelo amigo José Álamo, com este evento, ele conseguia reagrupar todos os seus amigos e também os da Associação, numa ambiência de confrater-nização e de boa disposição. Quando adoeceu, aos poucos foram-lhe faltando as forças e deixou de realizar este encontro e mais ninguém

tomou a iniciativa de lhe dar continuidade.José Álamo deixou e deixa saudade. Era amigo dos amigos. Um

homem do povo, mas com um talento fora do comum para o tea-tro de comédia. Interpretou vários papeis em danças e bailinhos de carnaval, em peças de teatro e comédias. Sempre ou quase sempre interpretando papéis cómicos. Quando subia ao palco, mesmo sem pronunciar uma só sílaba, a assistência já se ria. Era também um excelente dançarino, tanto na dança folclórica, como na social. Ra-ramente vi o José triste. Estava sempre bem disposto e tinha sempre uma palavra amiga e risonha quando cumprimentava alguém.O novo presidente da APES, Décio Cardoso, depois de ter apre-

sentado oficialmente o seu conselho de administração, pediu ao Francisco Rocha, que foi seu companheiro nas andanças do teatro popular terceirense, para dirigir umas palavras aos presentes, uma forma de recordar e de prestar uma homenagem ao homem de gran-de valor, que foi o José Álamo. O seu testemunho emocionou, não só a Ivone, viúva do José e toda a sua família presente, mas toda a assembleia que de uma maneira ou de outra era ligada a ele.Um gesto de generosidade que surpreendeu a todos. Muitos para-

béns ao Décio por esta louvável iniciativa e de dar de novo à APES, uma ambiência de frescura e de juventude.

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FestejandoCasa dos Açores, 35 anosa servir a comunidadeJOrGE MATOS E FOTOS DE TElMO BArBOSA

Sexta-feira dia 25 de Outubro de 2013 foi celebrada na Casa dos Açores do Quebeque a semana cultural desta simpática co-letividade, que infelizmente teve de se reduzir a um simples fim-de-semana.A sala de honra desta casa, muito bem decorada para o efeito,

a entrada com lindas peças de artesanato e vários espécimes de faiança e utensílios em cobre.Ao canto da sala foi montada uma cozinha tipicamente açoriana,

não se dava conta de faltar qualquer elemento próprio, até as res-petivas morcelas e chouriços ao fomeiro. Para muitos presentes foi como um retorno ao torrão natal, comtemplar tal simplicidade.

Na parede contígua estavam retratadas várias fases da vida desta instituição. Lindas fotografias acompanhadas de lindas poesias de vários autores, entre os quais José Saramago. À direita da entrada podíam-se admirar uns lindos quadros de pintura artística. Note-se que a Casa dos Açores tem uma escola de pintura na sua sede, uma galeria de arte executada por artistas da nossa comunidade.O Presidente, Sr. Benjamin Moniz deu as boas vindas, tendo fri-

sado a razão porque este ano não se pode celebrar a semana como de costume, devido a burocracias da Câmara Municipal de Mon-treal, à qual a Casa dos Açores teve de pagar uma avultada quantia em taxas que até eram indevidas, mas o Sr. Presidente explicou que está a tratar para que haja um retorno dessa quantia. Anunciou também que o governo dos Açores fez um donativo de oito mil euros para os festejos, foi uma ajudinha. O serão prosseguiu com a filarmónica do Divino Espírito Santo de Laval que entoaram os hinos do Canadá e de Portugal, e depois tocaram alguns trechos musicais do seu CD lançado no dia 26 de Março deste ano. Uma música agradável a escutar com interpretes bem ensaiados pela batuta do seu maestro Sr. Gilberto Pavão, pessoa com longa expe-riência na música. Esta filarmónica está de parabéns pois comple-

tou trinta e cinco anos de existência.Num serão cultural não podia faltar o nosso

folklore tão emblemático das nossas gentes e para isso tivemos a atuação do Rancho Folcló-rico, Ilhas de Encanto da Casa dos Açores. Foi mesmo um encanto ver aqueles jovens dançar várias danças tradicionais das nossas ilhas. Des-taco por exemplo, a “moda do pézinho”, a qual foi muito aplaudida.O fado esteve presente porque faz parte da

cultura, e foi interpretado pelo fadista Manuel Luís, sendoacompanhado à viola e à guitarra por Manuel

Travassos e Antonio Melo e o fadista também acompanhou à guitarra alguns dos seus fados.Seguiu-se um lanche com uma mesa bem re-

cheada, vários doces e um arroz doce que era uma delícia. No sábado, dia 26 foi o jantar de gala com cerca de cento e cinquenta pessoas, cuja ementa constou de um prato de Terra e Mar, sobremesa e café. Foi uma festa bastante animada. É de salientar o magnífico trabalho da

administração constituída pelo Sr. Benjamin Moniz, Presidente; Sra. Etelvina Pereira, Vice-Presidente; Sr. Emanuel Martins, Te-soureiro; Sra. Alice Macedo, Sr. José Domingos e Sra. Teresa Do-mingos, Diretores. A Casa dos Açores do Quebeque agradece todas as pessoas que

de longe ou de perto ajudaram a levar a efeito esta festa. Até uma próxima atividade.

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ComunidadeSou dos Açores. De onde?!...MArGAriDA BErNArDOCientista na área de biologia do cancro no Departamento de Patologia da faculdade de medicina da Wayne state universi-ty natural de s. miguel, residente em detroit, EuA

De umas ilhas no Atlântico NorteEm “primeiros” encontros casuais, quando abro a boca para falar,

em Detroit, cidade onde me radiquei nos Estados Unidos há mais de vinte anos, o comentário que invariavelmente se segue é: “Que sotaque interessante, de onde é que é?”, a que invariavelmente se segue a resposta: “Sou dos Açores”. “De onde?”, perguntam curiosos. “De umas ilhas portuguesas no

Atlântico Norte”, explico eu. “A que distância de Portugal?”, pros-seguem. “Duas horas de avião”. “Assim tão distante?”. “Sim, fi-cam aproximadamente a 2/3 da América e a 1/3 da Europa”. “Que língua fala?”. “Português, mas com um sotaque muito acentuado, quase um dialecto”. Em encontros com estranhos, normalmente a conversa fica por

aqui. No entanto, com aqueles que se tornam conhecidos e/ou ami-gos, os comentários sobre as minhas origens prosseguem inexora-velmente. Com uma colega de trabalho, cuja amizade se tem mantido du-

rante anos, compartilhei detalhes da minha existência contínua em S. Miguel até aos dezassete anos. Não podia ignorar a expressão incrédula dela quando, a pé de conversa, me referia a lições de música no Conservatório, aulas de ballet e a concertos de solistas afamados, como o filho do Stravinski, no Teatro Micaelense. “Como assim?”, comentava ela, “se os Açores são pontos no

meio do Atlântico?” A verdade é que precisei de mais do que uma vila, mas de uma ilha para me “criar”. Relembrando a minha infância e adolescência em S. Miguel,

sinto-me cada vez mais estupefacta com a sorte que tive por ter nascido “num cantinho do céu”, como diz o meu pai, e por estar rodeada de pessoas, a começar pela minha família em geral e pelos

meus extraordinários pais em particular, que sempre me apoiaram, encorajaram e tão generosamente me dispensaram tempo e atenção quase ilimitados. Lembro-me de não saber ler, mas de estar sempre rodeada de

livros, e a confusão que me fazia ver o meu pai ler horas a fio, serenamente, sem articular uma palavra que fosse. “Como é possí-vel?”, pensava eu incrédula. Fingia que lia, rezando baixinho, mas articulando as palavras uma

por uma. Queria tanto aprender a ler, mas para isso tinha de esperar até ter sete anos feitos para ingressar na escola primária. Foi por essa altura, com cinco anos mal feitos, que comecei a no-

tar um movimento desusado na casa do lado de cima, para onde se tinha mudado uma família com três filhos crescidos. Reparei que várias crianças da vizinhança entravam e saíam de lá com cadernos e livros debaixo do braço, durante a tarde, depois da escola. Resolvi pedir a minha mãe que me comprasse uma mala de es-

cola, cadernos e lápis e que pedisse à vizinha para me dar “expli-cações”. Por incrível que pareça, a menina Ana Maria, a única filha do

casal, uma competentíssima professora primária, acedeu, embora todos os outros explicandos já soubessem ler fluentemente. Tive dificuldade, no princípio, e pensei que nunca fosse capaz; no en-tanto, de um dia para o outro, como por milagre, comecei a ler, e até hoje não parei. Prestei provas da primeira classe, o que me permitiu ir directa-

mente para a segunda classe, com sete anos feitos, quase oito, na escola primária da Vitória. Depois da primária, seguiu-se a secun-dária, no então Liceu Antero de Quental, a Universidade, no Porto, onde me licenciei, e o doutoramento nos Estados Unidos, como bolseira da Fulbright, e algumas descobertas científicas interessan-tes. Devo isso e muito mais às minhas origens, numas ilhas perdi-das no meio do Atlântico, e é com enorme gratidão e orgulho que digo: “Sou dos Açores”.

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RecordandoNatal FrioNasceu o homem para amar

E não para fazer guerraQuando isto vai mudarSe há ódio sobre a terra

No rosto de uma criançaSe esquece todo o mal

Com ela reina a esperançaDe cada dia ser o Natal

Desculpar o nosso inimigoDar a mão a quem necessita

De todos ser bom amigoPorque o mundo bem precisa

Jesus nasceu um diaEm humildes condiçõesPara trazer paz e alegriaPara todos os corações

Que por fim venha a pazLibertar o mundo inteiroPorque quem a guerra faz

Faz a sempre pelo dinheiro

Da prisão ao hospitalAonde sofre velho e novo

Para todos feliz NatalE prospero ano Novo

Mário Carvalho

Mãe Te Amo

Mãe Rosa sem espinhoPerfumada a toda a hora

És a guia do meu caminhoMãe Mulher e Senhora

És presença mesmo distanteMar que não tem maresias

Calor a todo o instanteFlor viçosa todos os dias

Teu amor é uma cobertaDe amizade bela e puraTeu coração porta abertaQue não tem fechadura

No teu seio fui geradoCom Amor tao profundoCom firmeza fui educadoPara viver neste Mundo

Teu corpo é um jardimQue cultiva cravo e rosaTeu Amor não tem fim

Mãe Rainha Maravilhosa

Em cada quadra vai uma florRegadas pelo meu prantoEm cada rima vai o Amor

Para a mãe do meu encanto

Amor de mãe é uma nascenteQue nunca deixa de correr

Seu filho esta sempre presentePor nada o deixa morrer

Quanta mãe é esquecidaE pelos filhos abandonada

Morre ainda com vidaPorque deixou de ser amada

Mario Carvalho

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Gastronomia

iNGrEDiENTES:

PrEPArAção:

iNGrEDiENTES:

PrEPArAção:

Bacalhau assado noforno com batatinhas

• 1 posta de bacalhau P.P.• Cebola• Alho• Azeite

• Batatinhas para assar• Pimentão doce• Sal

Coza as batatas com sal. Num tabuleiro faça uma cama com a ce-bola. Coloque, por cima, as postas de bacalhau. Junte alhos pica-dos , um pouco de pimentão doce e junte as batatinhas já cozidas.Regue com azeite e leve ao forno até o bacalhau estar assado.

5 Ovos (só a clara)4 xícaras de acúcar1 limão (aqueles bem verdes e grandes)

Faça a sua neve com as claras de ovos, dei-xando as bem consis-tentes. Junte na batedeira

acresentando o açúcar em pouco em pouco, bote em uma refratá-ria de vidro (ou algo assim) e rale um pou-co de casquinha de limão só para dar o toquinho final.Leve ao forno a

100ºC. Fique cuidan-do pois não me recordo quanto tempo fica nele, mas uns 10 minu-tos e se não crescer pode aumentar para uns 15 minutos.

Suspiro caseiro

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Quem são eles?