felizmente há luar - análise global (blog12 12-13)

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  • 7/30/2019 felizmente h luar - anlise global (blog12 12-13)

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    Publicado em http://port12ano.blogspot.com por Prof. Antnio Alves

    PORTUGUS,12ANO PROF.ANTNIOALVES

    LUS DE STTAU MONTEIRO -FELIZMENTE H LUARO ttulo

    O ttulo da pea aparece duas vezes ao longo da pea, ora inserido nas falas de um dos

    elementos do poder - D. Miguel - ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar

    curioso e simblico o facto de o ttulo coincidir com as palavras finais da obra, o que desde

    logo lhe confere circularidade.

    Pg. 131 - D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execues, querendo que o castigode Gomes Freire se torne num exemplo;

    Pg. 140 - Matilde: na altura da execuo so proferidas palavras de coragem e estmulo,para que o povo se revolte contra a tirania.

    Num primeiro momento, o ttulo representa as trevas e o obscurantismo; num segundo

    momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.

    Como facilmente se constata a mesma frase proferida por personagens pertencentes a

    mundos completamente opostos: D. Miguel, smbolo do poder, e Matilde, smbolo da

    resistncia e do antipoder. Porm o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em

    virtude de uma afirmao dar lugar a uma eufrica exclamao.

    Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o claro da fogueira,

    isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele o fim ltimo de

    quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.

    Para Matilde, estas palavras so fruto de um sofrimento interiorizado refletido, so a

    esperana e o no conformismo nascidos aps a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que

    triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencer a escurido da noite (opresso) e todos

    podero contemplar, enfim, a injustia que est a ser praticada e tirar dela ilaes.H que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer no opresso e falta de

    liberdade, h que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.

    Paralelismo passado/condies histricas dos anos 60

    Tempo da Histria (sculo XIX - 1817)

    agitao social que levou revolta liberal de 1820 - conspiraes internas; revolta contraa presena da Corte no Brasil e influncia do exrcito britnico;

    regime absolutista e tirnico classes sociais fortemente hierarquizadas;

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    classes dominantes com medo de perder privilgios; povo oprimido e resignado; a "misria, o medo e a ignorncia"; obscurantismo, mas "felizmente h luar"; luta contra a opresso do regime absolutista; Manuel, "o mais consciente dos populares", denuncia a opresso e a misria; perseguies dos agentes de Bereford; as denncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipcritas e sem

    escrpulos, denunciam;

    censura; severa represso dos conspiradores; processos sumrios e pena de morte; execuo do General Gomes Freire.

    Tempo da escrita (sculo XX - 1961)

    agitao social dos anos 60 - conspiraes internas; principal irrupo da guerra colonial; regime ditatorial de Salazar; maior desigualdade entre abastados e pobres; classes exploradas, com reforo do seu poder; povo reprimido e explorado; misria, medo e analfabetismo; obscurantismo, mas crena nas mudanas; luta contra o regime totalitrio e ditatorial; agitao social e poltica com militares antifascistas a protestarem; perseguies da PIDE; denncias dos chamados "bufos", que surgem na sombra e se disfaram, para colher

    informaes e denunciar;

    censura imprensa; priso e duras medidas de represso e de tortura; condenao em processos sem provas.

    Tempo

    Tempo histrico: sculo XIX. Tempo da escrita: 1961, poca dos conflitos entre a oposio e o regime salazarista. Tempo da representao: 1h30m/2h. Tempo da ao dramtica: a ao est concentrada em 2 dias. Tempo da narrao: informaes respeitantes a eventos no dramatizados, ocorridos

    no passado, mas importantes para o desenrolar da ao.

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    Espao

    Espao fsico: a ao desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas noh nas indicaes cnicas referncia a cenrios diferentes.

    Espao social: meio social em que esto inseridas as personagens, havendo vriosespaos sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vesturio e pela linguagem das

    vrias personagens.

    As Personagens: Caracterizao

    Gomes Freire: homem instrudo, letrado ("um estrangeirado"), um militar que sempre lutou

    em prol da honestidade e da justia. tambm o smbolo da modernidade e do progresso,

    adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder

    institudo. Assim, quando necessrio encontrar uma vtima que simbolize uma situao de

    revolta que se adivinha, Gomes Freire a personagem ideal. Ele o smbolo da luta pela

    liberdade, da defesa intransigente dos ideais, da que a sua presena se torne incmoda no s

    para os "reis do Rossio", mas tambm para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A

    sua morte, duplamente aviltante para um militar (ele enforcado e depois queimado, quando

    a sentena para um militar seria o fuzilamento), servir de lio a todos aqueles que ousem

    afrontar o poder poltico e tambm, de certa forma, econmico, representado pela tena que

    Beresford recebe (16.000$00 anuais, uma fortuna para a poca!) e que se arriscaria a perder

    se Gomes Freire chegasse ao poder.

    Matilde de Sousa: companheira de todas as horas de Gomes Freire, ela que d voz

    injustia sofrida pelo seu homem. A suas falas, imbudas de dor e revolta, constituem tambm

    uma denncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde

    revelam uma clara lucidez e uma verdadeira coragem na anlise que faz de toda a teia que

    envolve a priso e condenao de Gomes Freire. No entanto, a conscincia da inevitabilidade

    do martrio do seu homem (e da o carcter pico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a

    para um delrio final em que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris

    (smbolo de esperana num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes Freire vivendo

    momentos de alucinao intensa e dramtica. Estes momentos finais, pelo carcter surreal quetransmitem, so tambm a denncia do absurdo a que a intolerncia e a violncia dos homens

    conduzem.

    Sousa Falco: o amigo de todas as horas, o amigo fiel em quem se pode confiar e que

    est sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. No entanto, ele prprio tem

    conscincia de que, muitas vezes, no atuou de forma consentnea com os seus ideais,

    faltando-lhe coragem para passar ao.

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    Vicente, o traidor: elemento do povo, trai os seus iguais, chegando mesmo a provoc-los,

    apenas lhe interessando a sua ascenso poltico-social. Apesar da repulsa/antipatia que as

    atitudes de Vicente possam provocar ao pblico/leitor, o que facto que no se lhe pode

    negar nem lucidez nem acuidade na anlise que faz da sua situao de origem e da fora

    corruptora do poder. Vicente uma personagem incmoda, talvez porque nos faa olhar para

    dentro de ns prprios, acordando ms conscincias adormecidas.

    Manuel, Rita: smbolos do povo oprimido e esmagado, tm conscincia da injustia em que

    vivem, sabem que so simples joguetes nas mos dos poderosos, mas sentem-se impotentes

    para alterar a situao. Veem em Gomes Freire uma espcie de Messias e da, talvez, a sua

    agressividade em relao a Matilde, aps a priso do general, quando ela lhes pede que se

    revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem. A priso de Gomes Freire uma espcie de

    traio esperana que o povo nele depositava. Podem tambm simbolizar a desesperana, a

    desiluso, a frustrao de toda uma legio de miserveis face quase impossibilidade demudana da situao opressiva em que vivem.

    Beresford: personagem cnica e controversa, aparece como algum que,

    desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, no como um imperativo nacional

    ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manuteno do seu posto e da

    sua tena anual. A sua posio face a toda a trama que envolve Gomes Freire nitidamente de

    distanciamento crtico e irnico, acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo

    caduco e ao exerccio incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa.

    D. Miguel: o prottipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso,

    insensvel injustia e misria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lgica oca e

    demaggica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os

    argumentos do "ardor patritico", da construo de "um Portugal prspero e feliz, com um

    povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos

    no Senhor", so o eco fiel do discurso poltico dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa so

    talvez as duas personagens mais execrveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia queveiculam.

    Principal Sousa: para alm da hipocrisia e da falta de valores ticos que esta personagem

    transmite, o Principal Sousa simboliza tambm o conluio entre a igreja, enquanto instituio, e

    o poder e a demisso da primeira em relao denncia das verdadeiras injustias. Nas

    palavras do Principal Sousa igualmente possvel detetar os fundamentos da poltica do

    "orgulhosamente ss" dos anos 60.

    Andrade Corvo e Morais Sarmento: so os delatores por excelncia, aqueles a quem no

    repugna trair ou abdicar dos ideais, para servirem obscuros "propsitos patriticos".

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    Carcter Apotetico

    Carcter excecional das personagens:

    Gomes Freire, pela coragem, determinao e defesa intransigente dos ideais de liberdade; Matilde de Melo, pela nobreza moral, pelo conflito que vive entre os seus "humanos"sentimentos e a progressiva consciencializao do seu dever de verdadeira patriota.

    A simplicidade da ao e o despojamento cnico.

    O desenlace final: o martrio e a morte de Gomes Freire.

    Aspetos simblicos

    A moeda de cinco ris: a moeda que Matilde pede a Rita assume, assim, um valor simblico,

    teatralmente simblico. Assinala o reencontro de personagens em busca da Histria, por um

    lado, e, por outro, o penhor de honra que Matilde, emblematicamente, usar ao peito, como

    "uma medalha".

    A fogueira no era destinada execuo de militares. No entanto, Gomes Freire, aps ser

    enforcado, foi queimado. Contudo, aquilo que inicialmente aviltante acaba por assumir um

    carcter redentor. Na verdade, o fogo simboliza tambm a purificao, a morte da "velha

    ordem" e o ponto de partida para um mundo novo e diferente.

    O ttulo: a frase "Felizmente h luar" proferida por duas personagens de "mundos"

    diferentes: por D. Miguel, smbolo do Poder (Ato II, pg. 131), e por Matilde, smbolo da

    resistncia (no final do Ato II, pg. 140). Assim, e tendo em conta a estrutura dual que

    organiza o texto, ser fcil detetar a importncia do luar para cada uma das personagens. Para

    D. Miguel, o luar permitir que o claro da fogueira atemorize todos aqueles que queiram lutar

    pela liberdade; para Matilde, o luar sublinhar a intensidade do fogo que simboliza a coragem

    e a fora de um homem, que morreu para defender a liberdade.

    Elementos simblicos

    Saia verde: encontra-se associada felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris,

    no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia uma

    pea eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado esperana de que um dia sereponha a justia. Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo

    aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperana atravs desta simples

    pea de vesturio. O verde a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera,

    associando-se fora, fertilidade e esperana.

    Ttulo: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D. Miguel, que

    salienta o efeito dissuasor das execues e por Matilde, cujas palavras remetem para um

    estmulo para que o povo se revolte).

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    A luz: como metfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e

    liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escurido da noite (opresso,

    falta de liberdade e de esclarecimento), advm quer da fogueira quer do luar. Ambas so a

    certeza de que o bem e a justia triunfaro, no obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se

    a luz se encontra associada vida, sade e felicidade, a noite e as trevas relacionam-se

    com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdio e a morte. A luz representa a esperana num

    momento trgico.

    Noite: mal, castigo, morte, smbolo do obscurantismo.

    Lua: simbolicamente, por estar privada de luz prpria, na dependncia do Sol e por atravessar

    fases, mudando de forma, representa: dependncia, periodicidade. A luz da lua, devido aos

    ciclos lunares, tambm se associa renovao. A luz do luar a fora extraordinria que

    permite o conhecimento e a lua poder simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que alis, se relaciona com a crena na vida para alm da morte.

    Luar: duas conotaes: para os opressores, mais pessoas ficaro avisadas e para os

    oprimidos, mais pessoas podero um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.

    Fogueira: D. Miguel Forjaz - ensinamento ao povo; Matilde - a chama mantm-se viva e a

    liberdade h de chegar. O fogo um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e

    regenerador, sendo a purificao pela gua complementada pela do fogo. Se no presente afogueira se relaciona com a tristeza e escurido, no futuro relacionar-se- com esperana e

    liberdade.

    Moeda de cinco reis: smbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o

    prximo, contrariando os mandamentos de Deus.

    Tambores: smbolo da represso sempre presente.

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