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O novo agregador da advocacia 10 Abril de 2010 www.advocatus.pt Tendências A consulta aos sites das socie- dades de advogados confirma estes números. De ano para ano há mais mulheres inscritas, e é também assim nas empresas. As advogadas são mais, e vão ocu- pando com naturalidade os vários espaços da profissão, da magis- tratura às sociedades de advoga- dos. Esta evolução implica, natural- mente, alterações na vida profis- sional nos locais de trabalhos dos Feminino de advogado Em 2009, o número de advogadas em Portugal ultrapassou o de advogados. O facto é irreversível, atendendo às inscrições nas faculdades de Direito. Face à realidade social emergente, que diz que o mundo do Direito, como de outras profissões qualificadas, será, cada vez mais, das mulheres, fala-se já na necessidade de ambientes de trabalho female friendly Desde que Regina Quintanilha foi autorizada a exercer a advocacia em 1913, muito mudou no mundo das advogadas mulheres em Por- tugal. Actualmente estão inscritas na Ordem dos Advogados 13 800 mulheres, mais cem do que os homens, uma ultrapassagem pelo feminino que se verificou no final de 2009, e que todos os indicado- res – dos estágios, inscrições nas faculdades e da vida, asseguram que vai continuar. 13 800 mulheres inscritas na Ordem, mais cem que os homens advogados, ajustamentos que vão surgindo espontaneamente, com a adopção de horários mais flexíveis e esquemas de trabalho em part time, de acordo com os ritmos e percursos de vida das mulheres. No Reino Unido e nos Estados Unidos estes ajustamentos são já uma realidade, e entre as maiores sociedades de advogados surgem os chamados escritórios female friendly. Para manter as mulhe- Gettyimages

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O novo agregador da advocacia10 Abril de 2010

www.advocatus.ptTendências

A consulta aos sites das socie-dades de advogados confirma estes números. De ano para ano há mais mulheres inscritas, e é também assim nas empresas. As advogadas são mais, e vão ocu-pando com naturalidade os vários espaços da profissão, da magis-tratura às sociedades de advoga-dos.Esta evolução implica, natural-mente, alterações na vida profis-sional nos locais de trabalhos dos

Feminino de advogadoEm 2009, o número de advogadas em Portugal ultrapassou o de advogados. O facto é irreversível, atendendo às inscrições nas faculdades de Direito. Face à realidade social emergente, que diz que o mundo do Direito, como de outras profissões qualificadas, será, cada vez mais, das mulheres, fala-se já na necessidade de ambientes de trabalho female friendly

Desde que Regina Quintanilha foi autorizada a exercer a advocacia em 1913, muito mudou no mundo das advogadas mulheres em Por-tugal. Actualmente estão inscritas na Ordem dos Advogados 13 800 mulheres, mais cem do que os homens, uma ultrapassagem pelo feminino que se verificou no final de 2009, e que todos os indicado-res – dos estágios, inscrições nas faculdades e da vida, asseguram que vai continuar.

13 800mulheres inscritas na

Ordem, mais cem que os

homens

advogados, ajustamentos que vão surgindo espontaneamente, com a adopção de horários mais flexíveis e esquemas de trabalho em part time, de acordo com os ritmos e percursos de vida das mulheres. No Reino Unido e nos Estados Unidos estes ajustamentos são já uma realidade, e entre as maiores sociedades de advogados surgem os chamados escritórios female friendly. Para manter as mulhe-

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Abril de 2010 11O novo agregador da advocacia

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40%das mulheres abandona

a advocacia a meio

da carreira, de acordo

com a American Bar

Association

Nascida a 9 de Maio de 1893 em Miranda do Douro, Regi-na da Glória Pinto de Magalhães Quintanilha matriculou- -se aos 17 anos na Faculdade de Direito de Coimbra, para o ano lectivo de 1910/11. A revolução republicana, a 5 de Outubro, adiou o início das aulas e só no dia 24 do mesmo mês a primeira aluna da faculdade pode atra-vessar a porta férrea cumprindo a tradição. Concluído o curso, a jovem licenciada em Direito receberia a licen-ça para exercer, emitida pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, e no dia 14 de Novembro de 1913 praticou pela primeira vez no Tribunal da Boa-Hora em Lisboa. Apesar do caso de Regina Quintanilha, só em 1918 é que o Código Civil, feito em 1867, seria definitivamente revisto, a 17 de Julho de 1918, autorizando o exercício da advocacia às mulheres. A carreira de Regina Quintanilha fica também marcada pela passagem pelo Brasil, onde colaborou na reforma legislativa geral, e no estabelecimento de vários escritórios, tanto no Rio de Janeiro como em Nova Iorque. A primeira advogada portuguesa viria a morrer a 19 de Março de 1967, em Lisboa.

Regina Quintanilha

foi a primeira

IgUALDADEExiste uma nova visão, mais global, igualitária e humana, mais atenta aos problemas sociais. Com uma maior necessidade

de formação constante, fazendo, mas principalmente pensando no Direito

res nos escritórios são adoptados esquemas de trabalho, proporcio-nando a construção de carreiras, nomeadamente horários flexíveis e adopção de períodos de tempo de trabalho em part time.As formas de organização fema-le friendly são reveladoras de que as sociedades de advogado, e os seus clientes, estão a tomar consciência da importância das mulheres na sociedade. Nesse sentido, a tendência é para que as companhias se esforcem cada vez mais para assegurar a maior abertura às necessidades específicas das mulheres, de modo a conseguirem reter as ad-vogadas mais talentosas. Alexandra West, uma advogada norte-americana, descreve num artigo no Pittsburgh Tribune-Re-view “a surpresa agradável” que teve ao descobrir que as compa-nhias estão a começar a mudar. No artigo a advogada sublinha que a disponibilidade para tra-balhar em part time e a flexibili-dade de horários são condições críticas para conseguir manter as mulheres nas sociedades e para a

que aposta na rentabilização do tempo através da utilização das novas tecnologias”. Para as duas causídicas, estas formas de trabalho não são o re-sultado directo do género: “Não sei se correctamente poderemos indicar que estas existem por sermos mulheres. Diríamos mais por sermos humanas… Mas ana-lisando, talvez se deva ao facto de termos uma maior sensibilida-de. E essa vem, sem dúvida do facto de sermos mulheres,” ex-plicam.A par da organização do traba-lho, mais humana ou no feminino, as duas advogadas admitem a existência de uma “advocacia no feminino”: “Achamos que exis-te uma nova visão, mais global, igualitária e humana, mais atenta aos problemas sociais. Com uma maior necessidade de formação constante, fazendo, mas princi-palmente pensando no Direito. Com um exercício da advocacia mais próximo, mais preventivo e mais constante. Uma advocacia também feita por mulheres, mas não feminina”.

consequente progressão nas car-reiras. “É importante na perspective da família, mas também na perspec-tiva do escritório, porque, de ou-tro modo podem perder pessoas com qualidade”, sublinha, lem-brando que é necessário inverter um quadro em que mais de 40 por cento das mulheres abandona a advocacia a meio da carreira, de acordo com a American Bar As-sociation.A CS Associados, nascida em Braga em 2009, é uma sociedade 100 por cento feminina, constituí-da pelas duas sócias fundadoras, Cristina Crisóstomo e Bárbara Sil-va Soares, e por mais três advo-gadas, a que se junta um recém admitido advogado estagiário – a primeira pessoa do sexo masculi-no no escritório.“A assinatura feminina do pro-jecto pode ser identificada com uma maior sensibilidade à função social da advocacia”, salientam as duas fundadoras do projecto. A advocacia no feminino, subli-nham, “surge em consonância com uma nova forma de trabalho,

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O novo agregador da advocacia12 Abril de 2010

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A Cristina Crisóstomo, Bárbara Silva Soares & Associados, Sociedade de Advogados RL (CS) assume-se como um projecto cuja origem se escreve no feminino. As suas sócias funda-doras elegeram o espírito de equipa, sentido de humor e informalidade como três pilares fundamentais do ambiente de trabalho e do relaciona-mento com os profissionais que cola-boram com a Sociedade. No sentido de potenciar a procura da excelência, a CS aposta na permanente forma-ção e crescente especialização dos advogados que a integram. Esta sociedade pretende desenvolver uma advocacia de cariz preventivo, direccionada ao acompanhamento permanente da actividade dos seus clientes e assegura a prestação de serviços jurídicos na generalidade dos ramos de Direito.Outra característica é a abertura à sociedade civil, procurando colaborar com várias iniciativas associativas e estabelecer protocolos com institui-ções de solidariedade social. Exem-plo disso é o recente protocolo cele-brado entre a CS e a Cruz Vermelha Portuguesa, Delegação de Braga e a Juventude da Cruz Vermelha Portu-guesa de Braga.Pretendem as fundadoras da CS fo-mentar a partilha de experiências e de informação, através da participação activa na discussão das questões do Direito e do desenvolvimento de ac-ções formação, em colaboração com universidades e outras instituições. Têm colaboração assídua com a Re-vista SIM, de periodicidade quinzenal e distribuição gratuita na região Norte do País. A CS apresenta um novo modelo de Sociedade, baseado numa descen-tralização de serviços, abrangendo na zona Norte e na zona da Grande Lisboa. Com a sede no coração da cidade de Braga e um escritório no

Cristina Crisóstomo Bárbara Silva Soaresadvogada, mestre em direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, é

docente universitária na Universidade Autónoma de Lisboa e formadora em

várias instituições. Tem-se dedicado á investigação na área do direito bancário

e do direito europeu em especial, o Direito do consumo, é perita do

Comité Económico e Social Europeu e conferencista

advogada, pós-graduada em ciências e práticas forenses com especialização

do IDPEE da Faculdade de Direito de Coimbra em Direito penal económico.

Dedica-se ao Direito contencioso, laboral, migratório e família

CS é um farol em Braga Com sede em Braga e escritório em Lisboa, a CS é uma sociedade em que a assinatura feminina pode ser identificada na maior sensibilidade à função social da advocacia e na necessidade de partilha de experiências e informação entre os vários intervenientes na Justiça

centro de Lisboa, privilegiam a utili-zação das novas tecnologias como forma de poupar deslocações desne-cessárias, rentabilizando o tempo tão importante para todos.De acordo com as sócias, a assina-tura feminina do projecto pode ser identificada com uma maior sensibi-lidade à função social da advocacia e com a necessidade de partilha de experiencias e informação entre os vários intervenientes na Justiça. Por outro lado, a sociedade reflecte o crescimento da participação feminina na advocacia e está em consonância com uma nova forma de organização do trabalho, que aposta na rentabili-zação do tempo através da utilização das novas tecnologias. Este projecto é liderado por duas mu-lheres com percursos profissionais distintos, que alia uma carreira mais ligada ao mundo académico e da in-vestigação com uma carreira desen-volvida no mundo da advocacia. De-pois de se cruzarem na universidade,

As duas sócias fundadoras elegeram o espírito de equipa, sentido de humor e

informalidade como três pilares fundamentais do

ambiente de trabalho e do relacionamento com os profissionais que colaboram com a

Sociedade

A sociedade reflecte o crescimento da

participação feminina na advocacia e está

em consonância com uma nova forma

de organização do trabalho, que aposta na rentabilização do tempo através da utilização das

novas tecnologias

Tendências

mantiveram sempre o contacto e só mais tarde surgiu a vontade de cons-tituir a sociedade.Unidas pela amizade e pela partilha de um conjunto de valores e de ideais resolveram assumir o desafio de pôr de pé um projecto que pretende criar uma referência nacional na advocacia portuguesa, o que apenas é atingido com entusiasmo e empenho de to-dos os que desenvolvem aqui a sua actividade profissional.Em todo o seu percurso a sociedade caracteriza-se pela imparcialidade e independência, fazendo que os seus colaboradores, maioritariamente fe-mininos, actuem de forma isenta e rigorosa.Com pouco mais de seis meses de vida, este é um projecto em desen-volvimento sustentável, com um le-que de consultores reconhecidos em cada uma das áreas, fazendo que no exercício da advocacia exista uma participação englobante dos diversos ramos e áreas sociais.